16
PESQUISA TRANSLACIONAL DESENVOLVIMENTO Vários grupos em todo mundo Chagas DD Consortium GSK Tres Cantos EU-FP7 Consortia - PDE4NPD DDU Biomarcadores Celgene LOAUS-LOUS-LOLA Séries de vários parceiros e fontes - Abbvie - GSK “Chagas” Box - Sanofi - Celgene - others Fexinida- zole benzni- dazol adulto (ELEA/ Chemo) BENDITA LSHTM STPH LMPH IPK Dundee Eskitis GNF Eisai/Broad GSK DDU BERENICE Nifurtimox pediátrico (Bayer) benzni- dazol pediátrico CHICAMOCHA 2 CHICAMOCHA 3 CHICO ATTACH Pfizer UCSD SAR114137 CENÁRIO DE P & D PARA CHAGAS lacunaS de pesquisa INFORMATIVO Plataforma de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas N o . 7 A Plataforma de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas foi criada em 2009, no centenário da descoberta da enfermidade. O principal objetivo da Plataforma é promover apoios específicos na superação dos desafios envolvendo a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para Chagas, através de uma rede flexível voltada a atender às necessidades de saúde, possibilitando o diagnóstico e o tratamento da infecção causada pelo T. cruzi. Assim, a Plataforma segue buscando mecanismos e sinergias que possibilitem novos medicamentos e ferramentas para a doença de Chagas. Criando um ambiente aberto, inovador, colaborativo e voltado às necessidades dos pacientes, a Plataforma promove reuniões anuais, treinamentos, estandardização de protocolos, aspectos regulatórios e integração de princípios éticos. A Plataforma pretende proporcionar um fórum para discussões técnicas e intercâmbio de informações relacionadas à doença de Chagas, também tendo em vista a utilização dos recursos de maneira eficiente, evitando a duplicação. Atualmente, a rede reúne mais de 370 membros de 23 países endêmicos e não- endêmicos. Representando mais de 90 instituições, esses indivíduos vêm de diferentes contextos, como pesquisadores, acadêmicos, representantes de governos, organizações internacionais e nacionais e associações de pacientes. Os novos conhecimentos adquiridos e o aumento do número de pesquisas e iniciativas sobre a doença de Chagas são motivos para renovar o otimismo e enfatizar a necessidade de manter uma colaboração aberta e um intercâmbio de informação fluido. Buscando a cooperação entre as iniciativas de P&D, a Plataforma Chagas segue facilitando a pesquisa clínica, promovendo capacitação profissional e fortalecendo as estruturas e capacidades institucionais, tendo em vista medicamentos acessíveis e mais fáceis de administrar, assim como novas ferramentas de diagnóstico e seguimento da doença. AVANçOS E DESAFIOS NOS 8 ANOS DA PLATAFORMA DE CHAGAS PESQUISA DE DESEMPENHO DA PLATAFORMA DE CHAGAS, 2016 A ATUALIDADE DA DOENçA DE CHAGAS EM 2017 ENTREVISTA ASOCHAGAS - ASSOCIAçãO DE PACIENTES DA COLOMBIA A COALIZãO GLOBAL DE CHAGAS NA CúPULA DAS DTN EM GENEBRA, ABRIL DE 2017 A DESCOBERTA DE MEDICAMENTOS EM áREAS ENDêMICAS: ATUALIZAçõES DO CONSóRCIO LEAD OPTIMIZATION LATIN AMERICA (LOLA) DA DNDi BIOMARCADORES DA DOENçA DE CHAGAS: EM BUSCA DE UMA ESTRATéGIA PARA COMBATER UMA DOENçA TROPICAL NEGLIGENCIADA DESENVOLVENDO UMA FORMULAçãO PEDIáTRICA DO NIFURTIMOX - ESTUDO CHICO ATUALIZAçãO DO ESTUDO BENDITA AVANçOS EM ENSAIOS CLíNICOS PARA A DOENçA DE CHAGAS NA COLôMBIA ATUALIZAçãO BERENICE A DOENçA DE CHAGAS NOS ESTADOS UNIDOS: NOVOS RUMOS, NOVAS AMEAçAS O PANORAMA ATUAL DA DOENçA DE CHAGAS NOS ESTADOS UNIDOS ATENçãO INTEGRAL à DOENçA DE CHAGAS ACESSO A MEDICAMENTOS ANTICHAGáSICOS – A IMPORTâNCIA DE SE ESTIMAR A DEMANDA 2 3 4 5 6 7 8 9 10 10 11 12 13 14 15 SUMáRIO RIO DE JANEIRO, maio de 2017

INFORMATIVO 7 - dndi.org · Uma Fase I foi realizada para avaliar a segurança de uma combinação e foram finalizados dois ensaios clínicos em Fase II, havendo atualmente dois novos

Embed Size (px)

Citation preview

PESQUISA TRANSLACIONAL DESENVOLVIMENTOVrios

grupos em todo mundo

Chagas DD Consortium

GSKTres

Cantos

EU-FP7 Consortia - PDE4NPD

DDU Biomarcadores

Celgene

LOAUS-LOUS-LOLASries de vrios

parceiros e fontes - Abbvie - GSK Chagas Box - Sanofi - Celgene - others

Fexinida-zole

benzni-dazol

adulto(ELEA/Chemo)

BENDITA

LSHTMSTPHLMPH

IPKDundeeEskitis

GNFEisai/Broad

GSKDDU

BERENICE

Nifurtimox peditrico

(Bayer)

benzni-dazol

peditrico

CHICAMOCHA 2

CHICAMOCHA 3

CHICO

ATTACH

Pfizer

UCSDSAR114137

C E N R I O D E P & D P A R A C H A G A S

l a c u n a S d e p e s q u i s a

INFORMATIVOP l a t a f o r m a d e P e s q u i s a C l n i c a e m D o e n a d e C h a g a s

No. 7

A Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas foi criada em 2009, no centenrio da descoberta da enfermidade. O principal objetivo da Plataforma promover apoios especficos na superao dos desafios envolvendo a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para Chagas, atravs de uma rede flexvel voltada a atender s necessidades de sade, possibilitando o diagnstico e o tratamento da infeco causada pelo T. cruzi.

Assim, a Plataforma segue buscando mecanismos e sinergias que possibilitem novos medicamentos e ferramentas para a doena de Chagas. Criando um ambiente aberto, inovador, colaborativo e voltado s

necessidades dos pacientes, a Plataforma promove reunies anuais, treinamentos, estandardizao de protocolos, aspectos regulatrios e integrao de princpios ticos. A Plataforma pretende proporcionar um frum para discusses tcnicas e intercmbio de informaes relacionadas doena de Chagas, tambm tendo em vista a utilizao dos recursos de maneira eficiente, evitando a duplicao.

Atualmente, a rede rene mais de 370 membros de 23 pases endmicos e no-endmicos. Representando mais de 90 instituies, esses indivduos vm de diferentes contextos, como pesquisadores, acadmicos, representantes de governos, organizaes internacionais

e nacionais e associaes de pacientes.

Os novos conhecimentos adquiridos e o aumento do nmero de pesquisas e iniciativas sobre a doena de Chagas so motivos para renovar o otimismo e enfatizar a necessidade de manter uma colaborao aberta e um intercmbio de informao fluido. Buscando a cooperao entre as iniciativas de P&D, a Plataforma Chagas segue facilitando a pesquisa clnica, promovendo capacitao profissional e fortalecendo as estruturas e capacidades institucionais, tendo em vista medicamentos acessveis e mais fceis de administrar, assim como novas ferramentas de diagnstico e seguimento da doena.

AvAnOs e DesAfiOs nOs 8 AnOs DA PlAtAfORmA De ChAgAs

PesquisA De DesemPenhO DA PlAtAfORmA De ChAgAs, 2016

A AtuAliDADe DA DOenA De ChAgAs em 2017

entRevistA AsOChAgAs - AssOCiAO De PACientes DA COlOmBiA

A COAlizO glOBAl De ChAgAs nA CPulA DAs Dtn em geneBRA, ABRil De 2017

A DesCOBeRtA De meDiCAmentOs em ReAs enDmiCAs: AtuAlizAes DO COnsRCiO leAD OPtimizAtiOn lAtin AmeRiCA (lOlA) DA DnDi

BiOmARCADORes DA DOenA De ChAgAs: em BusCA De umA estRAtgiA PARA COmBAteR umA DOenA tROPiCAl negligenCiADA

DesenvOlvenDO umA fORmulAO PeDitRiCA DO nifuRtimOx - estuDO ChiCO

AtuAlizAO DO estuDO BenDitA

AvAnOs em ensAiOs ClniCOs PARA A DOenA De ChAgAs nA COlmBiA

AtuAlizAO BeReniCe

A DOenA De ChAgAs nOs estADOs uniDOs: nOvOs RumOs, nOvAs AmeAAs

O PAnORAmA AtuAl DA DOenA De ChAgAs nOs estADOs uniDOs

AtenO integRAl DOenA De ChAgAs

ACessO A meDiCAmentOs AntiChAgsiCOs A imPORtnCiA De se estimAR A DemAnDA

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10

11

12

13

14

15

SUMRIO

RIO DE JANEIRO, maio de 2017

2 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

EditorialAvanos e desafios nos 8 anos da Plataforma de ChagasIsabela Ribeiro e Sergio Sosa-Estani, dndi

Em 2005, a DNDi lanou sua agenda para a doena de Chagas com o objetivo de desenvolver uma formulao peditrica de tripanocidas e um portflio de pesquisas sobre alternativas teraputicas para o tratamento da doena de Chagas crnica. Isso foi o preldio daquilo que logo se converteria na Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas, lanada em 2009 e hoje com mais de 300 pesquisadores dos setores pblico e privado, representantes de pacientes e servios de sade.

Entre os avanos mais significativos, podemos destacar que a Plataforma:

Definiu um perfil de produto alvo para um novo tratamento da doena de Chagas, definido em 2010 e revisado periodicamente (a ltima vez em maro de 2015);

Liderou o processo que permitiu alcanar um consenso na comunidade cientfica sobre a conduo de um ensaio clnico randomizado para avaliar a resposta a novos tratamentos tripanocidas no prazo mximo de dois anos, desenho este utilizado por vrios grupos para a avaliao dos compostos triazlicos;

Ofereceu um espao para uma produtiva discusso sobre modelos de ensaios pr-clnicos;

Atuou como facilitadora da padronizao e otimizao da reao em cadeia da polimerase (PCR) no diagnstico e avaliao do impacto do tratamento da doena de Chagas;

Prestou contribuies significativas investigao de biomarcadores da resposta teraputica, principalmente no uso da PCR, e na anlise protemica, ensaios multiplex e antgenos recombinantes, promovendo a criao da Rede NHEPACHA;

Se rv iu pa ra a re f l exo i n i c i a l pa ra pos te r io r concretizao e evoluo das associaes de pessoas

afetadas, das quais participam beneficirios e servidores;

A DNDi e a Plataforma apoiaram a assessoria tcnica do registro das apresentaes peditricas do Benznidazol no Brasil, Argentina e outros pases na Amrica Latina, apoiando atualmente o registro mais amplo do medicamento e promovendo planos de acesso para otimizar o uso dos tripanocidas Benznidazol e Nifurtimox.

Toda essa oferta de cincia e estmulo trouxe DNDi sua orientao estratgica, que permitiu a concretizao de uma formulao peditrica para o Benznidazol em 2011, a triagem de milhares de compostos e a definio de passos para a otimizao de novos compostos candidatos. Uma Fase I foi realizada para avaliar a segurana de uma combinao e foram finalizados dois ensaios clnicos em Fase II, havendo atualmente dois novos estudos em curso. O atual plano estratgico da DNDi contempla a finalizao dos dois estudos clnicos em Fase II nos quais se estudam nove braos alternativos de tratamento, que aportaro opes para serem ensaiadas em Fase III, alm da validao de biomarcadores.

Na Plataforma, trabalharemos para buscar coerncia e eficincia nas pesquisas clnicas e pr-clnicas em Chagas, para avanar e preencher lacunas no conhecimento para o desenvolvimento de novas ferramentas. Todas essas pesquisas so realizadas enquanto se promove o acesso aos medicamentos tripanocidas atualmente disponveis com os esquemas vigentes.

Em meio a isso, concebemos a Plataforma enquanto um espao dinmico que presta servio junto a parceiros estratgicos da comunidade cientfica e acadmica e da indstria, atuando como facilitadora junto a outros atores sociais como a Coalizo de Chagas, Ministrios da Sade e OPAS-OMS, em programas de acesso que permitam que os cuidados para as pessoas com Chagas sejam cada vez mais uma realidade com impacto factvel neste caminho para a eliminao da doena de Chagas como problema de sade pblica.

Oficina de movimentos sociais realizada durante Reunio Anual da Plataforma Chagas de 2016

3INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

Desde 2009, a Plataforma de Pesquisa

Clnica em Doena de Chagas tem apoiado o

desenvolvimento de uma rede flexvel, centrada nos pacientes. Ao fomentar uma estratgia de P&D

e iniciativas estruturadas para a doena de Chagas,

a Plataforma busca transformar o diagnstico e

o tratamento dentro do paradigma de Chagas e

aumentar a capacitao e cooperao nos pases

endmicos e no-endmicos.

A Plataforma de Chagas vem se ampliando e consolidando

atravs de uma rede colaborativa de diferentes atores.

O nmero de pessoas envolvidas nessas atividades

cresce constantemente, alcanando 378 membros de

23 pases no Web Frum em abril de 2017. A Reunio

Anual de 2016 atraiu mais de 270 participantes,

superando as reunies anteriores em termos de nmero

de participantes e atividades.

Em 2016, a Pesquisa de Desempenho foi realizada

entre os membros da Plataforma de Chagas, tendo

recebido contribuies altamente positivas na forma

de 86 respostas. Foi possvel acessar os perfis dos

membros mais ativos dessa iniciativa. De acordo com

os resultados, a maioria desses membros representa

instituies de P&D (38,1%), havendo tambm uma

participao importante de Programas Nacionais de

Sade (21,4%), instituies de ensino (19%) e ONGs

(15,5%). Embora a maioria (50%) dos pesquisadores

esteja trabalhando atualmente em projetos clnicos,

muitos tambm se dedicam a questes de acesso

(19,2%). A maioria dos membros que participaram da

pesquisa do sexo feminino (59%), e 41% j fizeram

mestrado e 40%, doutorado. A grande maioria dos

participantes trabalha na Amrica do Sul (73%), com

outros 12% cada na Europa e Amrica do Norte.

Para concluir, destacamos que 43% das respostas indicaram

que os membros haviam iniciado parcerias cooperativas,

resultando em projetos especficos graas s atividades da

Plataforma. Alm disso, 95,3% das respostas afirmavam

que a Plataforma havia influenciado seu trabalho ou o

desempenho de sua organizao, levando a impacto

indireto ou direto nas atividades. Portanto, oito anos

depois de sua criao, a Plataforma de Chagas , cada

vez mais, uma ferramenta fundamental para a troca de

conhecimentos, cooperao e debates regulares em torno

das ltimas atualizaes cientficas e polticas em Chagas,

ampliando a participao comunitria e fortalecendo a

capacitao dos parceiros.

plataforma

Pesquisa de Desempenho da Plataforma de Chagas, 2016Marina Certo, dndi Amrica Latina

avaliao das atividades da Plataforma Chagas

Reuniesanuais

Relatriosanuais

Reunies tcnicas

Web Frum

Workshops / treinamentos

Excelente PssimoRuimRegularBom

10

20

30

40

50

60

plataforma de chagas e seu impacto sobre o trabalho de seus membros

ou desempenho de suas organizaes

Impacto direto Impacto indireto Sem impacto

37,2%58,1%

4,7%

4 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

vozes

A atualidade da doena de Chagas em 2017

Desde a descr io em 1909 pelo genia l Car los Chagas , a doena de Chagas ou t r ipanossomase amer icana passou por d iversos momentos ep idemio lg icos , po l t i cos ,

soc ia i s , econmicos , cu l tura i s e a t tcn ico-

c ient f i cos nas soc iedades la t ino-amer icanas

a fetadas pe la doena de manei ra endmica ,

c rn ica e s i lenc iosa .

Enquanto doena negl igenciada, nunca teve

prior idade nem destaque nas decises pol t icas

e pol t ico-sanitr ias na maior ia dos pases

endmicos. Doena regional , rural e prpria

de populaes rurais e peri fr icas com pouco

peso decisr io no panorama local ou nacional ,

tem persist ido e sobreviv ido aos esforos de

preveno, controle e ateno que os pases

empreenderam nas lt imas trs dcadas.

Embora vr ios pases j t ivessem desenvolvido

seus prprios programas nacionais de preveno

e controle, a resposta mais contundente da

regio frente a essa parasitose surgiu no

inc io dos anos 90 quando os pases decidiram

transformar a cooperao tcnica horizontal Sul-

Sul em uma ferramenta contra essa patologia.

Surgiram ento as Inic iat ivas Sub-Regionais de

Preveno, Controle e Ateno em Doena de

Chagas para o Cone Sul ( INCOSUR/Chagas) ,

Amrica Central e Mxico (IPCAM/Chagas), Regio

Andina (IPA/Chagas) e Amaznia (AMCHA/Chagas) ,

todas com Secretaria Tcnica na OPAS.

P a r a o x i t o d e s s a s I n i c i a t i v a s S u b -

re g i o n a i s d e p a s e s , f o r a m f u n d a m e n t a i s

o apoio, incentivo e part ic ipao decis iva da

comunidade tcnico-cientfica latino-americana

em doena de Chagas .

Roberto Salvatella e Luis Gerardo Castellanos, OPAS/OMS

Interromper a transmisso domiciliar

de Trypanosoma cruzi pelas

principais espcies de triatomneos,

parcial ou totalmente, nas reas

endmicas de 17 pases;

Eliminar vetores alctones enquanto

problema de sade pblica em

vrios desses pases;

Triagem universal para Chagas entre

doadores em bancos de sangue

pblicos nos pases endmicos;

Hierarquizar de maneira gradual,

progressiva e ainda incipiente uma

melhora na cobertura e qualidade

da ateno que recebem os

pacientes afetados pela doena.

HojE o trAbAlHo Dos PAsEs Est

Em ANDAmENto, E j CoNsEguiu:

rEfErNCiAs

1 schofield,C.j.; jannin,j.; salvatella,r.: the future of Chagas disease control. trends Parasitol. 2006 Dec;22(12):583-8. Epub 2006 oct 16.

2 Pinto Dias,j.C.: tendencias sociales de la enfermedad de Chagas para las prximas dcadas. salud Colectiva vol.8 suppl.1 lans Nov. 2012.

3 salvatella,r.; irabedra,P.; snchez,D.; Castellanos,l.g.; Espinal,m: south-south cooperation for Chagas disease. lancet.382(9890):395-6. Aug 2013.

4 salvatella,r.; irabedra,P.; Castellanos,l.g.: interruption of vector transmission by native vectors and the art of the possible. mem inst oswaldo Cruz.;109(1):122-30. feb 2014.

Resta muito mais a fazer, e o panorama vem

mudando, revelando novas e desafiantes situaes

de risco, de transmisso efetiva e de doena,

que exigem o mesmo nvel de ferramentas,

estratgias e metodologias novas e desaf iadoras

para que a Regio alcance novos sucessos e

avanos contra a doena, protegendo a sade

dos povos das Amricas.

5INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

1 . Q u a l o o b j e t i v o d a a s s o c i a o ? V o c s p o d e r i a m n o s c o n ta r u m p o u c o

s o b r e a t r a j e t r i a d e v o c s ? C o m o o g r u p o c o m e o u s u a s at i v i d a d e s ?

A AsOChAgAs procura ajudar os pacientes de Chagas, no de maneira individual, mas coletiva. nosso grande objetivo que o estado, como entidade mxima responsvel pela sade dos colombianos, conhea a real situao dos pacientes com respeito ao entorno, famlia, aos cuidadores e sociedade em geral, e que avalie o servio pblico e tome as medidas necessrias para que um servio de qualidade seja prestado.

A associao nasceu a partir da necessidade de dar continuidade ao excelente trabalho de liderana que vinha realizando Reynaldo Bohrquez, quem faleceu por esta doena e ainda em vida sugeriu que se continuasse sua luta pelos pacientes de Chagas. Retomamos as bandeiras da organizao, informamos s instituies e comeamos a colaborar com

algumas delas.

2 . C o m o v o c s d e s c r e v e r i a m a s i t u a o d a s p e s s o a s c o m C h a g a s n a C o l m b i a?

so pessoas que sofrem porque, na realidade, no tm acesso ao tratamento, seguimento ou controle. isso se d por diferentes fatores, principalmente o desconhecimento dos seus direitos e deveres e a ineficincia do estado, que no garante um servio de qualidade.

3 . C o m o v o c s a j u d a m o s m e m b r o s a s e a d a p ta r e m v i d a c o m a d o e n a?

eles se sentem teis trabalhando por outros pacientes. na medida do possvel, fazemos um acompanhamento psicolgico e ensinamos aos pacientes e familiares que o paciente pode

morrer com a doena, mas no devido doena, desde que leve um estilo vida saudvel.

4 . Q u a i s s o a s p r i n c i p a i s c o n q u i s ta s d a a s s o c i a o at o m o m e n t o ?

ter assento na diretoria da finDeChAgAs e reivindicar para que o estado colombiano veja

o paciente de maneira mais integrada.

5 . Q u a l s u a v i s o d o f u t u r o p a r a o s p a c i e n t e s d e C h a g a s ?

Q u e c o n t e x t o v o c s g o s ta r i a m d e t e r d a q u i a a l g u n s a n o s ?

que os pacientes sejam bem tratados, tanto pela comunidade mdica como pela sociedade, com conhecimento amplo da sua doena e de como preveni-la.

Entrevista ASOCHAGAS - associao de pacientes da ColombiaMarina Certo, dndi Amrica Latina

6 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

A Coalizao global de Chagas esteve pre-

sente na Cpula sobre Doenas tropicais

Negligenciadas (NTDs, na sigla em ingls) em

Genebra, entre 20 e 22 de abril. A reunio foi

realizada um dia depois do Global Partners Meeting

on Neglected Tropical Diseases da OMS, onde foi

apresentado o relatrio de progresso no controle

das doenas negligenciadas em relao aos objetivos

previstos. Nos dias 20 e 21 de abril, a Cpula Uniting

to Combat NTDs celebrou os cinco anos desde a

Declarao de Londres e fez uma reviso dos desafios

de 10 doenas negligenciadas, incluindo Chagas.

Consideramos que a cpula sobre NTDs representou

um marco na reflexo sobre os desafios atuais no

controle da doena de Chagas, alertando para a

urgncia de aumentar o acesso ao diagnstico e

A Coalizo Global de Chagas na Cpula das DTN em Genebra, Abril de 2017Silvia Moriana, Coalizo Global de Chagas

Inc idencia polt ica tratamento e reforando a presena da doena de Chagas na agenda de sade global. Durante a

reunio, a Coalizo coordenou as sesses especficas

sobre doena de Chagas, concentrada em: 1) refletir

sobre os desafios atuais e perspectivas para o futuro

em relao ao acesso ao diagnstico e tratamento;

2) aprender sobre os modelos operacionais que

demonstraram a possibilidade de integrar os cuidados

para Chagas no sistema de sade e 3) identificar as

prioridades de Pesquisa e Desenvolvimento para

ampliar o acesso. Contamos com a contribuio de

diferentes perspectivas, desde a dos pases afetados

at a dos pacientes, passando tambm pela OMS,

especialistas, indstria, ONGs, etc.

A cpula tambm representou uma oportunidade para

os atores que trabalham em Chagas unirem foras com

outras comunidades de doenas negligenciadas que

possuem uma longa trajetria de trabalho conjunto

em torno das metas acordadas consensualmente. Os

desafios das diferentes doenas no diferem tanto

entre si, e cabe-nos combinar esforos e ter uma voz

comum sobre a importncia de continuar investindo

para melhorar o progresso. Alm do mais, existem

estratgias integradas que podem fomentar avanos

no controle dessas doenas negligenciadas. No final

da cpula, nossas contribuies foram refletidas

no manifesto de todas as comunidades de NTDs,

entregue nova direo da OMS.

Coalizo Chagas durante o ntD summit

7INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

o caminho desde a identificao de um com-posto ativo contra trypanosoma cruzi at o desenvolvimento clnico para uso na doena de Chagas longo e cheio de obstculos. Sem

dvida, o conhecimento acumulado sobre a doena

e o parasita, tem se refletido na implementao

de novos modelos in vitro e in vivo, auxiliando os pesquisadores que trabalham com novas entidades

qumicas. No entanto, ainda existe uma grande

necessidade de novas abordagens colaborativas

e multidisciplinares, nas quais os pesquisadores

colaboram para a descoberta e desenvolvimento de

novos medicamentos experimentais.

A p a r t i r d e s s a p e r s p e c t i v a , e m 2 0 1 3 a D N D i lanou suas atividades de descoberta e otimizao

de frmacos para a doena de Chagas na Amrica

Latina. A criao do consrcio Lead Optimization

Latin America (LOLA) est alinhada com um dos trs

pilares bsicos da misso da DNDi: a c a p a c i t a o c o n t i n u a d a e m re a s e n d m i c a s . N o c a s o , o

A descoberta de medicamentos em reas endmicas: atualizaes do consrcio Lead Optimization Latin America (LOLA) da DNDiJadel Mller Kratz, dndi Amrica Latina

Panorama

equipe da universidade de so Paulo em so Carlos, liderada pelo Prof. Adriano Andricopulo

consrcio est construindo uma rede de pesquisa em qumica medicinal. A equipe (10-12 cientistas) j est estruturada, com os dois parceiros oficiais no Brasil o grupo de sntese orgnica na UNICAMP, Campinas/SP, liderado pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Dias, e o grupo de qumica medicinal e computacional na Universidade de So Paulo (USP) em So Carlos/SP (foto), liderado pelos Profs. Drs. Adriano Andricopulo e Glaucius Oliva. As equipes so apoiadas pelos parceiros internacionais da DNDi na academia e indstria (p.ex. AbbVie, Universidade de Anturpia, Instituto de Sade Tropical e Pblica da Sua, London School of Hygiene and Tropical Medicine), alm de consultoria de qumicos medicinais com extensa experincia no desenvolvimento de novas frmacos experimentais. Atualmente o principal financiamento do consrcio vem do BNDES em parceria com a Fiocruz (com apoio estratgico complementar da DNDi e contribuies

em espcie dos parceiros). As atividades atuais

incluem (mas no so limitam) a otimizao de 3

sries qumicas e a validao interna de uma cascata

de triagem in vitro implementada na USP.

Apesar desses avanos, ainda persistem muitos

desafios at a nominao formal de candidatos pr-

clnicos. O compromisso e envolvimento de novos

parceiros latino-americanos esto sendo buscados

com o intuito de promover a incluso, no consrcio,

de estudos de prova-de-conceito in vivo e de

atividades suplementares de farmacocintica. De

fato, a interao com mltiplos grupos de descoberta

altamente desejvel, independentemente do nvel

de engajamento (p.ex. acordos formais colaborao,

consultoria, contratos fee-for-service etc.). Essa

interao permite a troca de experincias e

recursos, e evita a redundncia de esforos na

busca de medicamentos novos e accessveis para

a doena de Chagas.

8 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

sempre desanimador para um clnico ter diante de si um paciente com infeco pelo T. cruzi com a possibilidade de iniciar um tratamento anti-parastico (que nem sempre bem tolerado), e que pergunta o seguinte: quero iniciar o tratamento para doena de Chagas, e confio que ser eficaz, mas quando saberemos o resultado? A falta de marcadores prognsticos e de progresso para a doena de Chagas crnica representa uma limitao tambm para o teste de medicamentos novos e mais bem tolerados no tratamento dessa doena negligenciada.

Para responder essas indagaes dos pacientes e dispor

de uma ferramenta para avaliar a eficcia anti-parastica

do medicamento logo aps a concluso do tratamento,

diversos grupos de pesquisa tm trabalhado no

desenvolvimento de biomarcadores prognsticos e de

progresso nas ltimas dcadas. Entre os biomarcadores

mais promissores, as tcnicas de amplificao do cido

nuclico tiveram desenvolvimento exponencial nos

ltimos anos. At agora, o principal uso das tcnicas de

PCR tem sido para a avaliao da falha teraputica, mas

em funo da sensibilidade crescente das tcnicas de RT-

qPCR, hoje em dia as tcnicas de amplificao do cido

nuclico so consideradas a principal ferramenta para o

diagnstico da doena de Chagas congnita, alm de

ser uma ferramenta valiosa para o manejo de pacientes

em condies de imunossupresso. Esse grupo tambm

inclui o uso de ligantes de RNA (aptmeros).

Quanto a outros biomarcadores relacionados ao prprio

parasita, diversas protenas e glicoprotenas isoladas do

parasita (p. ex., protena F29), assim como, protenas

recombinantes e grupos de protenas purificadas a

partir de diferentes formas do parasita (KMP11, PFR2,

BIOMARCADORES DA DOENA DE CHAGAS: EM BUSCA DE UMA ESTRATGIA PARA COMBATER UMA DOENA TROPICAL NEGLIGENCIADA

Panorama de P&D

Maria Jesus Pinazo, Hospital das Clnicas de Barcelona. ISGlobal.

Tgp63, HSP70) j provaram ser bons marcadores

prognsticos e que atendem a critrios definidos por

um perfil de produto-alvo desenhado para avaliar

potenciais biomarcadores de resposta teraputica.

Entre eles, as glicoprotenas derivadas do parasita e

os neoglicoconjugados so molculas particularmente

interessantes, sendo utilizadas atualmente no

desenvolvimento de uma vacina preventiva e teraputica

baseada em glicano.

Os grupos de biomarcadores relacionados resposta

do hospedeiro ao parasita tambm so muito

interessantes. Os biomarcadores bioqumicos tais

com a apolipoprotena, fragmentos de fibronectina e

marcadores de hipercoagulabilidade j foram testados

logo aps tratamentos especficos em pacientes com

diferentes estgios da doena de Chagas. As citocinas

e os marcadores de superfcie tambm so molculas

promissoras que podem ser utilizadas para caracterizar as

respostas celulares do hospedeiro, mas so necessrios

mais estudos sobre o desenvolvimento do seu papel no

diagnstico e prognstico da infeco pelo T. cruzi, assim

como, enquanto biomarcador da resposta ao tratamento.

O uso e desenvolvimento dos biomarcadores permitiro

melhorar as opes teraputicas para pessoas que

sofrem dessa doena negligenciada.

rEfErNCiAs

1 Cura Ci, Duffy t, lucero rH et al. 2015. multiplex real-time PCr Assay using taqman Probes for the identification of trypanosoma cruzi Dtus in biological and Clinical samples. Plos Negl trop Dis. 2015 may 19;9(5):e0003765.

2 Nagarkatti r, de Arajo ff, gupta C, Debrabant A 2014. Aptamer based non-PCr non-serological detection of Chagas disease biomarkers in trypanosoma cruzi infected mice. Plos Negl trop Dis 8: e2650.

3 fabbro D, Velazquez E, bizai ml, Denner s, olivera V, Arias E, Pravia C, ruiz Am 2013. Evaluation of the ElisA-f29 test as an early marker of therapeutic efficacy in adults with chronic Chagas disease. rev inst med trop sao Paulo 55: pii: s0036-46652013000300167.

4 Cooley g, Etheridge rD, boehlke C, bundy b, Weatherly Db, minning t, Haney m, Postan m, laucella s, tarleton rl 2008. High throughput selection of effective serodiagnostics for trypanosoma cruzi infection. Plos Negl trop Dis 2: e316.

5 fernndez-Villegas A, Pinazo mj, maran C, thomas mC, Posada E, Carrilero b, segovia m, gascon j, lpez mC 2011. short-term follow-up of Chagasic patients after benznidazole treatment using multiple serological markers. bmC infect Dis 11: 206.

6 Pinazo mj, thomas mC, bua j, Perrone A, schijman Ag, Viotti rj, ramsey jm, ribeiro i, sosa-Estani s, lpez mC, gascon j 2014. biological markers for evaluating therapeutic efficacy in Chagas disease, a systematic review. Expert rev Anti infect ther 12: 479-496.

7 Almeida iC 2014. lytic anti-alpha-galactosyl antibodies as reliable biomarkers for the follow-up of Chagas disease chemotherapy. rev Esp salud Pblica 88: 9-16.

8 santamaria C, Chatelain E, jackson Y, miao Q, Ward bj, Chappuis f, Ndao m 2014. serum biomarkers predictive of cure in Chagas disease patients after nifurtimox treatment. bmC infect Dis 14: 302.

9 Pinazo mj, Posada Ede j, izquierdo l, tassies D, marques Af, de lazzari E, Aldasoro E, muoz j, Abras A, tebar s, gallego m, de Almeida iC, reverter jC, gascon j. Plos Negl trop Dis. 2016 jan 4;10(1):e0004269.

9INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

As evidncias clnicas acumuladas apontam para a eficcia e segurana de uma terapia medicamentosa para a doena de Chagas. Entretanto, poucos ensaios clnicos foram realizados na

populao peditrica. Nos ltimos anos, um estudo no

Hospital de Nios Dr. Ricardo Gutirrez em Buenos Aires,

Argentina, criou a base para o desenvolvimento de uma

formulao peditrica. O nifurtimox, j amplamente

utilizado na Argentina, s estava disponvel numa

nica formulao: comprimidos de 120 mg produzidos

para uso em adultos. Devido a essa limitao, os

comprimidos tinham que ser divididos. Isso complicava

a administrao, e era difcil definir a posologia

apropriada para o medicamento, principalmente

em crianas pequenas. At agora faltavam dados

publicados sobre a farmacocintica em crianas. Essa

informao essencial para a definio adequada das

doses e da durao do tratamento em crianas, que

at ento eram deduzidos empiricamente a partir da

experincia em adultos. Essa lacuna no conhecimento

sobre as propriedades farmacocinticas do nifurtimox

na populao peditrica motivou o planejamento e a

realizao de um estudo que preenchesse essa falha

e que fornecesse a informao necessria para ajustar

as doses e os esquemas teraputicos peditricos, com

base no conhecimento gerado especificamente em

ensaios que envolvessem crianas.

A empresa farmacutica Bayer comeou a desenvolver

uma formulao peditrica solvel de 30 mg e planejou

os ensaios necessrios para validar o conhecimento

existente sobre esse frmaco, com o objetivo de

registr-lo junto ao FDA. O primeiro ensaio estudou

a equivalncia entre a formulao disponvel de

120 mg e uma nova formulao peditrica solvel

de 30 mg em 24 voluntrios adultos com doena de

Chagas (NCT01927224). Foram estudadas tambm as

propriedades farmacocinticas do comprimido de 30

DESENVOLVENDO UMA FORMULAO PEDITRICA DO NIFURTIMOX ESTUDO CHICOJaime Altcheh, Hospital de Nios Dr. Ricardo Gutirrez

mg administrado diretamente e depois da dissoluo

em 2 ml de gua, em 12 pacientes. Foi adotado um

desenho cross-over, de rtulo aberto, randomizado,

de dose nica. O ensaio mostrou equivalncia

farmacocintica adequada entre as duas formulaes.

Os eventos adversos relatados foram leves e de

localizao gastrointestinal.

O nifurtimox mostra baixa solubilidade e alta

permeabilidade, e sua absoro pode ser afetada pela

ingesto junto com alimentos, embora essa caracterstica

no tenha sido avaliada adequadamente. Foi realizado

um estudo de fase I que comparou as propriedades

farmacocinticas do frmaco quando administrado com

o estmago vazio e depois da ingesto de alimentos, em

36 adultos com doena de Chagas (NCT02606864). Os

parmetros farmacocinticos mostraram um aumento

na absoro do nifurtimox na presena de alimento.

O estudo confirmou a orientao usual, quando o

tratamento indicado em crianas, de que o nifurtimox

deve ser ingerido junto com alimento.

Ao mesmo tempo foi montado um estudo de fase 3 que

envolveu o aumento da capacidade do recrutamento

de pacientes no contexto de um estudo clnico

multicntrico que atendia os padres mais elevados de

cuidados, prtica clnica e pesquisa (NCT02625974).

A rede multicntrica PedChagas foi criada com o

apoio da Bayer para o estudo da doena de Chagas

em crianas. A rede consiste em especialistas em

pediatria, farmacologia e pesquisa clnica com

interesse na doena de Chagas, com 15 centros na

Argentina, 3 na Bolvia e 3 na Colmbia. Atualmente,

o estudo j alcanou uma taxa adequada de

recrutamento de crianas e adolescentes de 0 a 18

anos de idade em todos os centros participantes, e a

taxa de eventos adversos no supera a taxa histrica.

Espera-se que o estudo fornea dados no curto prazo

sobre eficcia e segurana que permitam o registro

do produto. A ttulo de inovao, ser comparada a

eficcia de 30 vs. 60 dias de tratamento.

O desenvolvimento de uma formulao peditrica nova

ir melhorar a disponibilidade e o acesso ao tratamento

dos pacientes chagsicos, particularmente os da faixa

etria peditrica.

10 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

o estudo bENDitA (BEnznidazol New Doses Improved Treatment and Associations) um estudo de fase 2 cujo objetivo identificar um melhor tratamento para os pacientes adultos com doena de

Chagas crnica indeterminada. Para a otimizao do perfil

de segurana do benznidazol (BZN), so avaliados regimes

com menor durao (300 mg por 4 e 2 semanas) e menor

dose (150 mg por 4 semanas).

Para a melhora na eficcia, associou-se o BZN com

o E1224, um antifngico de largo espectro. Espera-

se que a combinao impacte tambm na tolerncia

ao tratamento e na reduo de desenvolvimento de

resistncia. A combinao ser avaliada com dois

regimes distintos de BZN, (150 mg por 4 semanas e 300

mg em doses intermitentes semanais).

A pesquisa iniciou em novembro de 2016 em trs

centros de estudo, localizados nas Plataformas de

Ateno Integral aos pacientes com doena de Chagas,

em Cochabamba, Tarija e Sucre, na Bolvia. Na Argentina

haver a participao de dois novos centros assim que a

aprovao regulatria for emitida.

Apesar das dificuldades de mobilizao de pacientes nos

meses de frias e perodo de festas, os centros seguiram

o recrutamento esperado. Estima-se que o total de 210

sujeitos seja includo em meados de 2017. No primeiro

semestre sero conduzidas anlises interinas para

monitoramento de segurana e eficcia

Todos os pacientes sero seguidos por 12 meses.

Contudo, aos 6 meses sero avaliados os critrios

primrios de segurana e eficcia. A eficcia ser

determinada por negativao continuada medida por

PCR seriado e a segurana ser avaliada pela incidncia

e severidade dos eventos adversos.

O estudo tambm avaliar a farmacocintica populacional,

assim como a relao farmacocintica-farmacodinmica

e a resposta de outros biomar-cadores. Esses dados

secundrios so valiosos para o desenvolvimento de novos

tratamentos para a doena. Ao fim dessa pesquisa, espera-

se identificar regimes especficos para a avaliao em um

estudo de fase 3 multicntrico em diferentes pases.

Atualizao do estudo BENDITAFabiana Barreira e Bethania Blum, dndi Amrica Latina

temos o prazer de relatar os avanos com os novos estudos na Colmbia, patrocinados pela Colciencias.

CHiCAmoCHA 3 - Equivalence of usual interventions for

trypanosomiasis (EQuitY). Tem como objetivo avaliar o

efeito tripanocida e a segurana, em adultos soropositivos

sem evidncia clnica de cardiomiopatia, do tratamento

com benznidazole versus nifurtimox (2 esquemas

teraputicos em cada caso, com a dose convencional por

60 dias ou a metade da dose pelo dobro do tempo) versus

placebo/no tratamento. O desfecho primrio a deteco

de Trypanosoma cruzi por PCR (3 testes repetidos em

semanas diferentes) no ms 12 aps incio do tratamento.

Estado atual: em 06 de maro de 2017, 204 participantes

haviam sido recrutados em dois centros colombianos. O

plano de ampliar o estudo para incluir participantes de

outros centros fora da Colmbia e completar uma amostra

total de pelo menos 500 participantes (ClinicalTrials.

gov Identifier: NCT02369978, instituio responsvel:

Universidad Autnoma de Bucaramanga).

A trial testing Amiodarone for Chagas disease (AttACH).

O objetivo avaliar, em pessoas soropositivas com sinais

clnicos (evidncia de dano estrutural e alteraes do ritmo

cardaco ou da conduo elctrica cardaca), o efeito clnico

e tripanocida do tratamento com amiodarona durante

pelo menos 6 meses e at 24 meses, versus placebo/no

tratamento. O desfecho clnico primrio a deteco,

durante o seguimento, de algum entre uma combinao

de eventos cardiovasculares, e o desfecho parasitolgico

a presena de Trypanosoma cruzi de acordo com PCR

(semelhante CHICAMOCHA 3). O recrutamento comea

no primeiro trimestre de 2017. O plano de ampliar

o estudo para incluir participantes de outros centros

da Colmbia e de outros pases para completar uma

amostra total de pelo menos 500 participantes (instituio

responsvel, Fundacin Cardioinfantil Instituto de

Cardiologa, Bogot).

Esperamos que a prxima reunio da plataforma

Chagas permita convocar mais pesquisadores clnicos

interessados em contribuir para responder a essas

perguntas importantes.

AVANOS EM ENSAIOS CLNICOS PARA A DOENA DE CHAGAS NA COLMBIAJuan Carlos Villar, Universidad Autnoma de Bucaramanga

Panorama de P&D

11INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

o consrcio do projeto berenice, financiado pela Comisso Europeia, entra na etapa final com o lanamento de um ensaio clnico: o estudo MULTIBENZ. Depois de quatro anos de trabalho

multidisciplinar, chegou a hora de colocar em prtica

tudo aquilo que foi aprendido at agora.

O projeto Berenice foi criado com a finalidade de

obter uma alternativa mais eficaz, segura e barata

ao tratamento atual para a doena de Chagas. Com

este objetivo no horizonte, um grupo formado por

bilogos, qumicos, farmacuticos, biotcnicos e

clnicos colocou mos obra para transformar essa

ideia em algo tangvel e que pudesse beneficiar os

pacientes. Os caminhos da cincia sempre esto cheios

de desafios a serem enfrentados: esse projeto no

esteve livre de contratempos. Esses quatro anos, que

podem parecer muito tempo, significaram uma corrida

contra o relgio para respeitar os tempos, prazos e

oramentos. Finalmente, como fruto de um trabalho

colaborativo altamente enriquecedor, obtivemos

suficientes evidncias cientficas para serem colocadas

em prtica no ensaio clnico MULTIBENZ. Os dados

obtidos atravs dos estudos pr-clnicos in vitro e in vivo

indicam que as doses atuais de benznidazole podem

ser optimizadas, propondo esquemas teraputicos

com menor quantidade do medicamento. Em paralelo,

obtivemos os primeiros dados que indicam que a

toxicidade pode representar um substrato gentico que

predispe os pacientes a reaes adversas. Ambos os

resultados esto sendo avaliados atravs de um ensaio

clnico multicntrico internacional, no qual participam

pacientes do Brasil, Colmbia, Argentina e Espanha.

Alm disso, nosso estudo incorpora novos candidatos de

biomarcadores de cura para oferecer uma alternativa aos

mtodos atuais de avaliao. Caso nossas hipteses se

confirmem, podero servir de base para reformular os

esquemas teraputicos atuais e promover uma terapia

cada vez mais individualizada.

Em paralelo, novos medicamentos com efeito tripanocida

tem sido avaliadas com resultados muito promissores.

Por motivos basicamente oramentrios, essas drogas

ainda no atingirem a fase do desenvolvimento clnico;

porm, no h dvida de que o conhecimento adquirido

levanta um novo desafio para o consrcio culminar todo

esse esforo em um novo ensaio clnico.

Atualizao Berenice Israel Molina, Instituto Cataln de la Salud

Nosso ensa io c l n i co p re tende tambm busca r

complementariedade com outros estudos em

andamento, como o estudo Chicamocha, liderado

pela Universidade de Bucaramanga, e o estudo

Bendita, promovido pela DNDi. Os resultados

obtidos em todos os estudos permitiro uma viso

muito mais global da doena, levando em conta suas

peculiaridades geogrficas.

Em breve esperamos poder compartilhar os primeiros

resultados desse ensaio clnico.

12 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

Panorama Estados Unidos

Em 2016, conseguimos aprofundar nossa compreenso da epidemiologia da doena de Chagas nos Estados unidos. Segundo um estudo da OMS com base em dados de imigrao e taxas de prevalncia de Chagas,1 no ano de 2010 havia entre 326.00 e 347.000 casos da doena na populao de indivduos nascidos na Amrica Latina vivendo nos Estados Unidos.2 Existe tambm um nmero indeterminado de casos na populao nascida nos Estados Unidos devido s formas de transmisso congnita e autctone. O Centro de Excelncia em Doena de Chagas (CECD, em ingls) um dos poucos centros dedicados ao tratamento de Chagas nos Estados Unidos. H 10 anos o CECD vem realizando triagem gratuita na comunidade latina de Los Angeles, onde encontrou uma prevalncia de 1,24%, representando mais de 30.000 casos apenas naquela cidade.3

A Doena de Chagas nos Estados Unidos: Novos Rumos, Novas AmeaasColin Forsyth, dndi Amrica do Norte/UCLA

Infelizmente, no h triagem de rotina para Chagas fora dos bancos de sangue e menos de 1% dos casos estimados j foram diagnosticados e tratados.4 Como em outros pases, mltiplos fatores dificultam o tratamento de Chagas nos Estados Unidos. Nossos estudos indicam que problemas de transporte, diferenas de idioma entre pacientes e profissionais de sade e falta de conhecimento entre os agentes de sade agem como barreiras relevantes para a expanso do acesso ao tratamento da doena de Chagas. Os medicamentos tripanossomicidas s podem ser adquiridos atravs dos Centers for Disease Control (CDC), o que aumenta a complexidade burocrtica do processo teraputico no pas, onde falta um suprimento estvel do medicamento benznidazol.

A doena de Chagas apenas um entre muitos desafios enfrentados pelos pacientes do CECD nascidos na Amrica Latina; 63,4% tm renda abaixo da linha de pobreza definida pelo governo federal americano, e 72,3% dependem de cuidados de sade subsidiados. A situao dos portadores da doena tende a piorar com o governo recm-empossado, que prope cortes grandes no financiamento da sade pblica e da cobertura de seguros, enquanto promove tticas agressivas de deportao, dificultando a busca de cuidados mdicos por pacientes sem documentos. Os a fetados por Chagas f requentemente expressam ansiedade e temor em relao sua sade, e sofrem forte estigma enquanto imigrantes portadores dessa doena. H poucos programas e recursos para ajudar os pacientes de Chagas a lidar com a carga emocional e social da doena.

Apesar desses desafios, o acesso poder ser ampliado de maneira significativa se a triagem e o tratamento forem transferidos para a assistncia primria, alm de simplificar o processo de aquisio dos medicamentos. Isso, junto com a incluso do tratamento de Chagas no currculo das faculdades de medicina e a ampliao dos esforos de marketing social para informar o pblico sobre a enfermidade podem finalmente tirar a doena de Chagas da sombra da negligncia.

rEfErENCiAs

1 Chagas disease in Latin America: An epidemiological update based on 2010

estimates. World Health Organization; 2015 February 6. Contract No.: 90.

2 Manne-Goehler J, Umeh CA, Montgomery SP, Wirtz VJ. Estimating the Burden

of Chagas Disease in the United States. PLOS Neglected Tropical Diseases.

2016;10(11):e0005033.

3 Meymandi SK, Forsyth CJ, Soverow J, Hernandez S, Sanchez D, Montgomery S,

et al. Prevalence of Chagas Disease in the Latin American-born Population of Los

Angeles. Clinical Infectious Diseases. 2017.

4 Manne-Goehler J, Reich MR, Wirtz VJ. Access to Care for Chagas Disease in

the United States: A Health Systems Analysis. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene. 2015;93(1):108-13.

Atendimento de Chagas em feira de sade em los Angeles

13INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

Nossa compreenso da doena de Chagas nos Estados unidos mudou dramaticamente nos ltimos cinco anos devido ao ressurgimento de interesse entre os profissionais da sade pblica, pesquisadores e clnicos. Os pacientes de Chagas nos Estados Unidos representam uma ampla gama de nveis socioeconmicos, fontes de transmisso e manifestaes clnicas. Os Estados Unidos apresentam tanto casos importados quanto autctones, com grande variao nas caractersticas clnicas. Diversos estudos/testes soro-epidemiolgicos j confirmaram a presena de casos de Chagas com cardiomiopatia dilatada nos Estados Unidos adquirida na Amrica Latina1, 2, 3; entretanto, infelizmente a maioria dos casos s foi identificada graas pesquisa soro-epidemiolgica dedicada. Embora esses estudos tenham revelado a verdadeira dimenso da cardiomiopatia chagsica entre pacientes nascidos na Amrica Latina, erros no diagnstico ainda so frequentes, em razo do total desconhecimento da doena entre os mdicos americanos4,5. Alm disso, menos de 1% dos casos identificados recebem tratamento, devido a toda uma srie de barreiras6.

O erro diagnstico, que resulta em tratamentos errados, agravado por lacunas importantes no conhecimento sobre os perfis epidemiolgicos dos casos da doena de Chagas, especificamente aqueles casos adquiridos dentro dos Estados Unidos. Os vetores triatomneos esto presentes em 27 dos 48 estados continentais dos Estados Unidos, dos quais 16 tiveram ciclos de transmisso em mamferos silvestres7 documentados. Enquanto a transmisso silvestre tem sido bem documentada e amplamente aceita pela comunidade cientfica, as implicaes exatas para a transmisso humana nos Estados Unidos ainda esto em debate. Relatos de casos humanos autctones remontam dcada de 1950, mas o Sul dos Estados Unidos ainda visto como regio no-endmica para a transmisso humana. Nossas pesquisas no Texas j identificaram o maior foco de casos humanos adquiridos localmente8,9, e esses achados representam apenas a ponta do iceberg. Em grande medida, graas implementao da triagem dos doadores de sangue em nvel nacional que estamos identificando casos contemporneos em regies geogrficas e em populaes de pacientes no relatadas at ento10, 11, 12. Militares, caadores, moradores das zonas rurais e outros indivduos em

O panorama atual da doena de Chagas nos Estados UnidosMelissa Nolan Garcia, Baylor College of Medicine

contato com os habitats naturais dos triatomneos vm sendo identificados como populao de alto risco para novas infeces devido maior exposio ao vetor. Em acordo com observaes na Amrica Latina, a doena de Chagas nos Estados Unidos no se restringe aos moradores pobres das reas rurais. O perfil dos pacientes nos Estados Unidos inclui indivduos de alto nvel socioeconmico, e nossas pesquisas em andamento comprovam que os habitats dos vetores triatomneos so abundantes em grandes centros urbanos americanos.

Enquanto a tragdia da doena de Chagas continuar se desenrolando nos Estados Unidos ao longo dos prximos anos, veremos novos casos autctones em regies que nunca tinham sido reconhecidas como endmicas para a transmisso humana. Se tudo correr bem, a sade pblica estar preparada para reagir altura e, ao reagir, mudar o paradigma do manejo clnico dessa doena tropical negligenciada nos Estados Unidos.

rEfErENCiAs

1 Kapelusznik L, Varela D, Montgomery SP, Shah AN, Steurer FJ, Rubinstein D,

Caplivski D, Pinney SP, Turker D, Factor SH, 2013. Chagas disease in Latin American

immigrants with dilated cardiomyopathy in New York City. Clin Infect Dis 57: e7.

2 Traina MI, Sanchez DR, Hernandez S, Bradfield JS, Labedi MR, Ngab TA, Steurer

F, Montgomery SP, Meymandi SK, 2015. Prevalence and Impact of Chagas Disease

Among Latin American Immigrants With Nonischemic Cardiomyopathy in Los

Angeles, California. Circ Heart Fail 8: 938-43.

3 Garcia MNA, D.; Misra, A.; Bozkurt, B.; Gunter, S. M.; Gorchakov, R.; Murray, K.

O., 2016. Prevalence of Trypanosoma cruzi among Non-Ischemic Cardiomyopathy

Patients Presenting for Clinical Management at Three Medical Facilities in

Southeastern Texas, USA. American Society of Tropical Medicine and Hygiene.

Atlanta, Georgia, USA.

4 Stimpert KK, Montgomery SP, 2010. Physician awareness of Chagas disease, USA.

Emerg Infect Dis 16: 871-2.

5 Amstutz-Szalay S, 2016. Physician Knowledge of Chagas Disease in Hispanic

Immigrants Living in Appalachian Ohio. J Racial Ethn Health Disparities.

6 Manne-Goehler J, Reich MR, Wirtz VJ, 2015. Access to Care for Chagas Disease

in the United States: A Health Systems Analysis. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene 93: 108-113.

7 Bern C, Kjos S, Yabsley MJ, Montgomery SP, 2011. Trypanosoma cruzi and

Chagas Disease in the United States. Clin Microbiol Rev 24: 655-81.

8 Garcia MN, Aguilar D, Gorchakov R, Rossmann SN, Montgomery SP, Rivera H,

Woc-Colburn L, Hotez PJ, Murray KO, 2014. Evidence of Autochthonous Chagas

Disease in Southeastern Texas. Am J Trop Med Hyg.

9 Gunter SM, Murray KO, Gorchakov R, Beddard R, Rossmann SN, Montgomery SP,

Rivera H, Brown EL, Aguilar D, Widman LE, Garcia MN, 2017. Likely Autochthonous

Transmission of Trypanosoma cruzi to Humans, South Central Texas, USA. Emerg

Infect Dis 23: 500-503.

10 Hernandez S, Flores CA, Viana GM, Sanchez DR, Traina MI, Meymandi SK, 2016.

Autochthonous Transmission of Trypanosoma Cruzi in Southern California. Open

Forum Infect Dis 3: ofw227.

11 Harris NW-C, L.; Gunter, S.M.; Gorchakov, R.; Murray, K.O.; Rossmann, S.; Garcia,

M.N., 2017. Autochthonous Chagas Disease in the Southern United States: A Case

Report of Suspected Residential and Military Exposures. Zoonoses Public Health.

12 Garcia MN MS, Gross A, Wagner J, Murray KO, 2015. Knowledge, attitudes, and

practices of Texas hunters: a potentially high-risk population for exposure to the

parasite that causes Chagas disease. Parasit Vectors 8.

14 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

Panorama mundial

A Ateno integral tem surgido como tema recorrente nos ltimos fruns de discusso de doena de Chagas. Integralidade o conjunto de todas as aes que promovem sade, desde

medidas preventivas (ampliando diagnsticos e

identificando riscos), at a assistncia em si, todas

integradas a aes de recuperao ou reabilitao,

devendo ocorrer em todos os nveis hierrquicos,

principalmente na ateno bsica da sade.

O cuidado integral deve compreender o contexto

social em que os indivduos esto inseridos, de forma a

atender suas demandas e necessidades. Uma prescrio

mdica incompreensvel para o paciente ou com drogas

indisponveis no significa promoo de cuidado, nem

mesmo tratamento. Por muitos anos a medicina se voltou

para este modelo biolgico de doena, preocupando-

se unicamente com a cura por meio de medicamentos.

Principalmente nas condies sociais adversas como que

trabalhamos no caso da doena de Chagas, esse um

modelo falacioso, pois os medicamentos so geralmente

inacessveis ou incompreendidos, e os indivduos

apresentam muitas outras demandas que no sero,

assim, atendidas.

Para promover o cuidado integral doena de Chagas

precisamos acolher o indivduo acometido, com suas

dificuldades de acesso, seu entendimento da doena e de

seu tratamento (medicamentoso ou no), suas ansiedades

relacionadas s limitaes e ao temor do diagnstico e

suas comorbidades, estimulando mudanas em seu

estilo de vida, mas mantendo sempre que possvel sua

atividade laboral e promovendo sua reinsero social.

Isso s possvel com um trabalho multiprofissional,

depositando o protagonismo no na doena em si, mas

no sujeito acometido, que deve ser acolhido de forma

intersubjetiva por profissionais de enfermagem, mdicos,

nutricionistas, farmacuticos, assistentes sociais,

psiclogos e fisioterapeutas ou profissionais do exerccio

que, conjuntamente, promovem sade, qualidade de

vida e reabilitao, atravs de projetos teraputicos

individualizados. Drogas que tratam doenas podem ser

generalizadas, cuidado integral s real se individualizado,

pois somos nicos em nossas necessidades.

Ateno Integral doena de ChagasAndrea Silvestre, Fundao Oswaldo Cruz

15INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

ACESSO

Assegurar o acesso a medicamentos para doenas negligenciadas, como a doena de Chagas, depende de uma cadeia de iniciativas cujos elos podem ser frgeis. Pelo lado dos sistemas de sade, a simples aquisio e a disponibilidade do medicamento sero insuficientes se o tratamento no estiver inserido num contexto de aes de diagnstico e de cuidado.

Pelo lado da oferta, as doenas negligenciadas tm sido marcadas pela existncia limitada de tecnologias adequadas s necessidades das populaes afetadas. Mesmo quando essas tecnologias existem, h desafios importantes para sua oferta oportuna, pois muitos medicamentos possuem apenas um nico produtor ou nmero limitado de produtores, desafiando o planejamento da produo para uma oferta constante, num cenrio de demanda incerta e irregular.

Estimar a demanda no tarefa fcil. Para tal, utiliza-se a programao de medicamentos, etapa chave do chamado Ciclo da Assistncia Farmacutica, que visa estimar o quanto de medicamento ser necessrio para atender uma demanda especfica de um servio em sade ou de uma populao durante um perodo especfico de

Acesso a medicamentos antichagsicos - a importncia de se estimar a demandaGabriela Costa Chaves, Fundao Oswaldo Cruz

tempo. H uma srie de mtodos para se programar medicamentos (perfil epidemiolgico, consumo histrico, consumo ajustado). Programar visa tanto assegurar oferta oportuna e evitar desabastecimentos, como tambm evitar desperdcios.

Em 2010, OPAS, DNDi e Mdicos Sem Fronteiras uniram esforos para desenvolver uma ferramenta de estimativa de demanda de medicamentos antichagsicos. Revisada e atualizada pelo menos duas vezes, ela foi aplicada a um grupo de pases da Amrica Latina em 2012, trazendo importantes lies. Entre elas, esto a importncia do exerccio coletivo facilitador de processos de compras conjuntas; o valor de se fortalecer sistemas de informao para a gerao de dados confiveis; e, por fim, a distncia entre a demanda de tratamentos quando comparada s necessidades de tratamentos baseadas na prevalncia da doena nos pases.

Quando um medicamento tem um nmero limitado de produtores, estimar sua demanda se torna pea que tambm contribui para o planejamento da produo. Nesse sentido, o esforo coletivo dos atores governamentais e no governamentais na gerao de informaes confiveis sobre a demanda agenda permanente para uma resposta abrangente de ampliao do acesso a aes para diagnstico e tratamento para doenas negligenciadas.

bibliogrAfiA

Costa Chaves G, Abi-Saab Arrieche M, Rode J, Mechali D, Ouverney Reis P, Vieira

Alves R, et al. Estimacin de la demanda de medicamentos antichagsicos: una con-

tribucin para el acceso en Amrica Latina. Rev Panam Salud Publica. 2017;41:e45.

[Forthcoming]

Guerra-Jnior AA, Camuzi RC. Logstica Farmacutica. In: Claudia Garcia Serpa Oso-

rio-de-Castro; Vera Lcia Luiza; Selma Rodrigues de Castilho; Maria Auxiliadora Olivei-

ra; Nelly Marin. (Org.). Assistncia Farmacutica: gesto e prtica para profissionais de

sade. 1ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2014, v. 1, p. 89-118.

Gabriela Costa Chaves farmacutica, mestre e doutora em sade pblica, pesqui-

sadora do Departamento de Polticas de Medicamentos e Assistncia Farmacutica

(NAF), Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz.

Entrada de dados: populao total

Classificao de reas endmicas e no endmicas

Estimativa de predomnio por faixa etria

Resultado obtido: estimativa da populao infectada

Entrada de dados: estimativa da populao infectada

Capacidade de diagnstico

Resultado obtido: potencial de diagnsticos

Entrada de dados: populao total

Classificao de reas endmicas e no endmicas

Estimativa de predomnio por faixa etria

Entrada de dados: potencial de tratar

Demanda de comprimidos de acordo com produto selecionado

P r o c e s s o s e n v o lv i d o s n a e s t i m a o d e d e m a n d a e s e u r e s p e c t i v o c l c u l o

POPulAO DiAgnstiCO tRAtAmentOs COmPRimiDOs

Costa Chaves G, Abi-Saab Arrieche M, Rode J, Mechali D, Ouverney Reis P, Vieira Alves R, et al. Estimacin de la demanda de medicamentos antichagsicos: una contribucin para el acceso en Amrica Latina. Rev Panam Salud Publica. 2017;41:e45

16 INFORMATIVO no 7 Plataforma de Pesquisa Clnica em Doena de Chagas

APOIO:

Caminhos do Vento - Eduardo GaleanoHomenagem a Rodolfo Viotti , que faleceu enquanto escrevia seu artigo de colaborao para esta edio

Tomara que sejamos dignos da sua desesperada esperana.

Tomara que possamos ter a coragem de ficar ss e a valentia de arriscarmos a ficar juntos,

porque de nada serve um dente fora da boca, nem um dedo fora da mo.

Tomara que possamos ser desobedientes cada vez que recebamos ordens que humilham

nossa conscincia ou violam nosso bom senso.

Tomara que possamos merecer que nos chamem de loucos, como haviam sido chamadas de loucas

as Mes da Praa de Maio, por cometer a loucura de nos negarmos a esquecer em tempos

de amnsia obrigatria.

Tomara que possamos ser suficientemente obstinados para continuar a acreditar,

contra toda evidncia, que a condio humana vale a pena, porque fomos mal feitos,

mas no estamos terminados.

Tomara que possamos ser capazes de seguir caminhando pelos caminhos do vento,

apesar das quedas e as traies e as derrotas, porque a histria continua para alm de ns mesmos

e quando ela diz adeus, est dizendo: at logo.

Tomara que possamos manter viva a certeza de que possvel ser compatriota e contemporneo

de todo aquele que vive animado pela vontade de justia e a vontade da beleza, nasa onde nasa

e viva quando viva, porque no existem fronteiras para os mapas da alma nem do tempo.

Publicado pela Iniciativa Medicamentos para Doenas Negligenciadas (DNDi) com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) e da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz)

DNDi Amrica Latina Rua Santa Heloisa, 5Rio de Janeiro - RJ, Brasil 22460-080Tel: +55 21 2215-2941 www.dndial.org

DNDi Genebra 15 Chemin Louis-Dunant 1202 Geneva SwitzerlandTel: +41 22 906 9230 www.dndi.org

Conselho Editorial:marina Certosrgio sosa-estani

organizao e produo: Julia Alapenhamarina Certo

fotos:P.2: mariana Abdalla/DnDi;

P.6: Coalicin global de Chagas; P.7: usP; P.11: fbio nascimento/DnDi; P.12: Betina moura/DnDi; P.14: Joo Roberto Ripper/DnDi

traduo:Alicia de Choch AsseoChristopher Peterson

reviso:Colin forsythJulia Alapenhamarcela Dobarromarina Certo

Desenho grfico:Bruno silva