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Ilustração: Bruno Algarve I magine morar em uma casa, mas não dispor de endereço. Não poder receber uma carta, conta ou produto comprado pela Internet. Como você se sentiria? Sila Vieira, 43 anos, sentiu-se inconformado ao se colocar no lugar dos moradores da Rocinha, no Rio de Janeiro, que viviam essa realidade. E decidiu criar uma empresa para tentar solucionar o problema. O ano era 2000. Enquanto trabalhava como recenseador do IBGE, Vieira percebeu que muitas pessoas não tinham endereço porque suas casas, construídas em locais de difícil acesso, não eram mapeadas pelos Correios. Conversando com os colegas Carlos Pedro, 43 anos, e Elaine Ramos, 40 anos, surgiu a ideia de criar a Carteiro Amigo para receber e entregar correspondências onde os Correios não conseguiam chegar. Os três abriram o negócio poucos meses depois. “Tentamos tirar a ideia do papel do jeito que dava. Começamos do zero, ao longo dos anos fomos fazendo cursos sobre como gerir um negócio, atender o cliente, treinar o funcionário… sem isso a empresa dificilmente iria pra frente”, conta Vieira, nascido e criado na Rocinha. Para usar o endereço da Carteiro Amigo e receber encomendas na porta de casa os moradores pagam uma taxa mensal de R$ 14. “Nós devolvemos cidadania para estas pessoas, o direito delas de receber desde a carta de NOVEMBRO/2013 – SEBRAE.COM.BR – 0800 570 0800 NEGÓCIOS COM CAUSA Empreendedores criam empresas lucrativas para solucionar problemas sociais e transformar a realidade de comunidades de baixa renda.

Informe Empreender - Revista PEGN - Novembro 2013

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Tema: Negócios com causa

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Ilustração: Bruno Algarve

Imagine morar em uma casa, mas não dispor de endereço. Não poder receber uma carta, conta ou produto comprado pela Internet. Como você se sentiria? Sila Vieira, 43 anos, sentiu-se inconformado ao se colocar no lugar dos moradores

da Rocinha, no Rio de Janeiro, que viviam essa realidade. E decidiu criar uma empresa para tentar solucionar o problema.

O ano era 2000. Enquanto trabalhava como recenseador do IBGE, Vieira percebeu que muitas pessoas não tinham endereço porque suas casas, construídas em locais de difícil acesso, não eram mapeadas pelos Correios. Conversando com os colegas Carlos Pedro, 43 anos, e Elaine Ramos, 40 anos, surgiu a ideia de criar a

Carteiro Amigo para receber e entregar correspondências onde os Correios não conseguiam chegar. Os três abriram o negócio poucos meses depois. “Tentamos tirar a ideia do papel do jeito que dava. Começamos do zero, ao longo dos anos fomos fazendo cursos sobre como gerir um negócio, atender o cliente, treinar o funcionário… sem isso a empresa dificilmente iria pra frente”, conta Vieira, nascido e criado na Rocinha.

Para usar o endereço da Carteiro Amigo e receber encomendas na porta de casa os moradores pagam uma taxa mensal de R$ 14. “Nós devolvemos cidadania para estas pessoas, o direito delas de receber desde a carta de

NOVEMBRO/2013 – SEBRAE.COM.BR – 0800 570 0800

NEGÓCIOS COM CAUSAEmpreendedores criam empresas lucrativas para solucionar problemas sociais e transformar a realidade de comunidades de baixa renda.

EMPREENDER sebrae.com.br facebook.com/sebrae twitter.com/sebrae youtube.com/tvsebrae plus.google.com/sebrae

Sila Vieira criou o Carteiro Amigo para resolver o problema dos moradores da Rocinha que não recebiam cartas, hoje atua em mais oito comunidades

INFORME SEBRAE. Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Roberto Simões. Diretor-Presidente: Luiz Barretto. Diretor-Técnico: Carlos Alberto dos Santos. Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos. Gerente de Marketing e Comunicação: Cândida Bittencourt. Edição: Ana Canêdo, Antônio Viegas. Fone: (61) 3348-7494

2 3NOVEMBRO DE 2013

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

um parente do Ceará até um par de tênis comprado online. Havia gente esperando há anos uma carta do INSS para poder dar entrada na aposentadoria”, afirma Vieira, que hoje atende cerca de 20% das resi-dências da Rocinha. Além das entregas, a Carteiro Amigo também faz pesquisas de mercado para empresas de dentro e de fora da comunidade, a maioria interessada em lançar produtos para as classes C e D.

Impacto social Em 2012 a Carteiro Amigo começou um trabalho junto ao Sebrae do Rio de Janeiro para transformar o modelo de negócio em franquia. O processo foi concluído em junho deste ano e, até o momento, oito franquias foram abertas em diferentes comunidades cariocas - a expectativa é chegar ao final do ano com 12. Os franqueados pagam uma

taxa inicial de R$ 8 mil, mais 10% do fatu-ramento mensal. “Espero poder atender a todas as pessoas que vivem em lugares onde essa realidade ainda existe, não só no Rio, mas em todo o Brasil e até em outros países. Eu sonho grande”, diz Vieira.

Vieira faz parte de um número crescen-te de empreendedores que querem fazer o bem. “Temos percebido um aumento de pessoas interessadas em tocar empresas que têm um modelo híbrido para atender a diferentes questões sociais com uma visão de mercado”, diz Krishna Aum de Faria, gestor nacional da carteira de negócios sociais do Sebrae. Mas é bom lembrar que quem está a frente de um negócio social tem as mesmas necessidades de outros empreendedores. “O empresário preci-sa entender sobre a gestão do negócio, deve ter acesso a crédito, conhecimento

SAIBA MAIS: Entenda o que são negócios sociais.

EM 2014, O SEBRAE VAI TER PROJETOS ESPECÍFICOS PARA ATENDER OS NEGÓCIOS SOCIAIS EM SETE ESTADOS BRASILEIROS: RIO DE JANEIRO, MINAS GERAIS, MATO GROSSO DO SUL, GOIÁS, MARANHÃO, TOCANTINS E PARÁ.

de vendas e marketing, saber controlar o fluxo de caixa. Só assim a empresa pode ser rentável, ter vida longa e gerar maior impacto na sociedade”, diz Faria.

MaratonaO Sebrae aposta alto nesse novo tipo de empresas. Tanto que criou a primeira Ma-ratona de Negócios Sociais, realizada entre os dias 28 de novembro e 1 de dezembro em meio à Feira do Empreendedor do RJ para apoiar indivíduos e organizações cariocas que queiram fazer decolar suas ideias de negócios sociais.

Os participantes selecionados serão submetidos a um programa que inclui módulos de capacitação, consultoria de especialistas e mentoria de empreende-dores sociais experientes. O programa termina com a apresentação (pitch) de seus modelos de negócio para uma banca de avaliadores composta por investidores, financiadores, aceleradoras e incubadoras. Segundo Faria, a Maratona deve ser re-plicada em outros Estados nos próximos anos. Mais detalhes no site www.marato-nadenegociossociais.com.br.

Vista privilegiadaO Favela Inn é outro exemplo bem sucedi-

do de negócio social. Localizado no Chapéu Mangueira, o hostel recebe turistas do mun-do inteiro que buscam a experiência de viver como os moradores de uma comunidade. São três quartos, cada um equipado com seis camas e banheiro privativo. Os hóspedes têm acesso à TV, internet e rede wifi, além da vista privilegiada do Rio. A diária varia entre R$ 45 e R$ 55. Além da hospedagem, a empresa também vende tours guiados dentro da comunidade seguidos de almo-ços na laje do hostel. “Os turistas adoram, servimos feijoada acompanhada de samba e damos aulas de percussão e de como fazer caipirinha”, conta Cristiane Oliveira, 42 anos, que está a frente do negócio familiar.

O faturamento mensal do Favela Inn gira em torno de R$ 5 mil, mas Cristiane já sonha alto: “No futuro pensamos em abrir unidades do hostel em outras comunidades pacificadas”. O negócio movimenta toda a favela. Peças de artesanato produzidas por moradoras são vendidas como souvenir, bares e pizzarias da comunidade são indi-cados aos turistas. “Mas o maior impacto do nosso trabalho é mostrar que é possível fazer algo bacana mesmo dentro da favela. Nos tornamos um exemplo, os moradores nos procuram pra contar ideias de negócio e pedir conselhos sobre como começar”. E

Cristiane Oliveira, do Favela Inn: inspiração para os moradores do Chapéu Mangueira

Fotos: Marcelo Correa

Sudeste

50%Nordeste

26%Sul

4%Norte

6%Centro-Oeste

4%DISTRIBUICÃO GEOGRÁFICA DOS NEGÓCIOS SOCIAIS

• Experiência empreendedora anterior• Planejamento da independência financeira• Foco no impacto social desde o início

• Apoio técnico e desenvolvimento contínuo• Benefício à população da base da piramide• Medição de resultados e impacto

FATORES DO SUCESSO