INTERESSES DIFUSOS

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  • 8/6/2019 INTERESSES DIFUSOS

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    INTERESSES DIFUSOS1

    ARTIGO:

    O DIREITO DE ACO POPULAR NA CONSTITUIO DA REPBLICAPORTUGUESA

    (MARIANA SOTTO MAIOR, Tcnica Superior do Gabinete de Documentao e

    Direito Comparado da Procuradoria -Geral da Repblica)

    Antes da reviso constitucional de 1989

    As matrias em que o direito de aco popular foi consagrado, em legislao

    ordinria, relacionam-se directamente com a proteco de interesses difusos e

    colectivos , sendo de referir o artigo 59. da Lei do Patrimnio Cultural2 e aalnea b) do n. 1 do artigo 6. da Lei que garante os direitos das associaes de

    mulheres3, que dispe terem esta legitimidade para exercer o direito de aco

    popular, em defesa dos seus direitos.

    Em ambos os casos, o exerccio deste direito exercido nos termos do artigo

    52. da Constituio da Repblica Portuguesa, pelo que, estando dependente

    da sua regulamentao, ainda no tiveram aplicao prtica.

    1Os apontamentos apresentados foram recolhidos em aulas tericas de Direito Administrativo I,

    ministradas pela Exmo. Prof. Doutor Lus Filipe Colao Antunes, na Faculdade de Direito da Universidade

    do Porto (FDUP), no ano lectivo 2010/2011.2

    Lei n. 13/85, de 6 de Julho, que dispe: qualquer cidado no uso dos seus direitos civis, bem como

    qualquer associao de defesa do patrimnio legalmente constituda tem, nos casos e termos definidos

    na lei, o direito de aco popular em defesa do patrimnio cultural.3

    Lei n. 95/88, de 17 de Agosto.

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    Depois da Reviso Constitucional de 1989

    Com a reviso constitucional de 1989, o n. 3 do artigo 52. reuniu num nico

    preceito as hipteses em que, de uma forma dispersa, era aflorado no texto

    anterior, o direito de aco popular, eliminando as disposies especficas dos

    n.os 3 dos artigos 66. e 78., relativos a matria ambiental e patrimniocultural. De acordo com a nova redaco deste preceito constitucional

    conferido a todos, pessoalmente ou atravs de associaes de defesa dosinteresses em causa, o direito de aco popular nos casos e termos previstosna lei, nomeadamente o direito de promover a preveno, a cessao ou a

    perseguio judicial das infraces contra a sade pblica, a degradao doambiente e a qualidade de vida ou a degradao do patrimnio cultural, bemcomo de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnizao. O novo regime do artigo 52., ampliando consideravelmente o mbito do

    direito de aco popular, faz aparecer sob a qualificao unitria de aco

    popular, duas figuras de recorte distinto. Por um lado, subsiste o tradicionalinstituto da aco popular, referenciado actividade da Administrao, oracomo meio de suprir a sua inrcia, ora como reaco prtica de actosilegais. O direito de aco popular tambm consagrado como instrumentode tutela dos interesses colectivos e difusos. A Constituio introduz, na opinio do Dr. Colao Antunes, uma aco popular

    especial que no se confunde com a aco popular tradicional, configurando

    uma nova aco para a tutela dos interesses plurindividuais, designada por

    aco popular de massas.4

    As precises introduzidas no novo texto constitucional tiveram como propsito

    aprofundar e desenvolver as condies de acesso justia e reforar a tutela de

    interesses difusos. Estas opes foram determinadas pelo aco rdo poltico de

    reviso celebrado entre o Partido Social-Democrata e o Partido Socialista, em

    14 de Outubro de 1988, no qual os dois partidos assumiram o compromisso de

    consagrao do direito de aco popular em defesa dos direitos dosconsumidores, proteco do ambiente, qualidade de vida e patrimniocultural, a exercer nos termos da lei.

    4Na regulamentao deste direito, a legitimao principal deveria caber s associaes e entes

    intermdios que tenham como fim estatutrio a defesa dos interesses difusos, sem prejuzo da

    legitimidade de todo e qualquer particular, como acontece com as class actions do direito norte-

    americano. A legitimidade principal no deveria caber ao Ministrio Pblico que, pela sua colocao no

    mbito da Magistratura no pode assumir, como necessrio, uma posio de protagonismo cvico. A

    nvel processual, devia ser criado um processo padro, que garanta a inexistncia de fraudes ou

    extorses baseadas no poder legal que este direito confere, como o controlo da representao adequado

    do proponente, com normas processuais especficas, nomeadamente no que se refere aos poderes do

    juiz, nus da prova e eficcia erga omnes do caso julgado. Cfr. Colao Antunes, Para uma tutela

    jurisdicional dos interesses difusos e A tutela dos interesses difusos e o acesso ao direito e justia.