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DBORA ANTUNES
A RETRICA NO JORNALISMO OPINATIVO:
UMA ANLISE DA ARGUMENTAO DE
HLIO SCHWARTSMAN
Viosa - MG
Curso de Comunicao Social/Jornalismo da UFV
2009
I
DBORA ANTUNES
A RETRICA NO JORNALISMO OPINATIVO:
UMA ANLISE DA ARGUMENTAO DE
HLIO SCHWARTSMAN
Monografia apresentada ao Curso de Comunicao
Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Viosa,
como requisito parcial para obteno do ttulo de
Bacharel em Comunicao Social.
Orientadora: Mariana Ramalho Procpio
Viosa - MG
Curso de Comunicao Social/Jornalismo da UFV
2009
II
Universidade Federal de Viosa
Departamento de Comunicao Social
Curso de Comunicao Social/Jornalismo
Monografia intitulada A retrica no jornalismo opinativo: uma anlise da argumentao de
Hlio Schwartsman, de autoria da estudante Dbora Antunes, aprovada pela banca examinadora
constituda pelos seguintes membros:
____________________________________________________
Profa. Mestra Mariana Ramalho Procpio (orientadora)
Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Prof. Mestre Ricardo Gomes Duarte da Silva
Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV
_____________________________________________________
Profa. Doutora Mnica Santos de Souza Melo
Curso de Letras da UFV
VIOSA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009
III
AGRADECIMENTOS
O espao destinado aos agradecimentos pequeno para citar todas as pessoas que
estiveram comigo durante estes anos. Lembro dos professores, que desde a infncia me guiaram
na busca do conhecimento. Dos amigos e colegas que ficaram pelo caminho, mas que
contriburam muito para meu amadurecimento. Dos familiares que incentivaram meus passos e
estiveram presentes durante todos os anos de minha vida.
Ainda menores ficam estas linhas quando falo dos meus pais, Rita e Itamar, que tanto
batalharam para dar mais oportunidades do que tiveram para mim e para o meu irmo. Para eles
dedico meu eterno agradecimento e meu amor incondicional. Agradeo-os por todos os meus
mritos, que s foram possveis por eles; por todas as minhas alegrias, que sempre
compartilharam e tambm me deixarem saber que sempre poderia contar com eles em momentos
menos prsperos.
Ao meu irmo, Diogo, agradeo pelas horas de risadas durante a madrugada, por ter me
feito esquecer esta monografia quando j estava cansada dela. Pela infncia e adolescncia
divididas, pelas brigas e pela amizade. Tambm como parte da famlia, agradeo ao pequeno
Whisky, meu cachorrinho que chegou tomando espao e que alegra meus dias nos ltimos
tempos.
Com carinho especial tambm agradeo aos amigos de Viosa. Manuella, amiga to
cheia de defeitos como eu: que no liga nas frias, que se irrita e que se cansa do mundo. Mas
que sabe que mesmo assim somos amigas e esta amizade s deu certo por conta dos tantos
defeitos compartilhados. Marianna, pela amizade e por me fazer ver que todos tm seus
momentos e seu lado meigo, delicado e cheio de frescuras, no bom sentido, claro. Ao Tim,
Felipe, Aramis, Ana Paula, Dbora, Ana Terra, Sabrina e Jos Tarcsio, pelas risadas, pela
amizade, pelos trabalhos e por compartilharem comigo um pedao de suas vidas.
Agradeo tambm professora Bia, responsvel por parte da minha educao quando eu
ainda era uma criana, e que gentilmente fez a correo deste trabalho. Ao amigo Rafael, que me
ajudou na etapa final deste trabalho e que sempre me fez rir com seu mau humor to tpico. E,
finalmente, professora e orientadora Mariana, que s no se tornou uma amiga pela falta de
tempo e incompatibilidade de espao, mas que sempre se mostrou to gentil quanto inteligente. A
ela tambm agradeo por ter me feito acreditar mais nos caminhos do conhecimento.
IV
RESUMO
Este trabalho pretende mostrar como um dos gneros opinativos, o artigo, ainda figura na
sociedade atravs do articulista Hlio Schwartsman. Para tanto, selecionamos sete artigos que
sero analisados no s quanto ao gnero, mas tambm pelo vis da Nova Retrica.
Esta teoria foi proposta por Chaim Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) no sculo XIX e
corresponde a uma atualizao dos preceitos da antiga retrica. A adaptao feita possibilita a
aplicao destes estudos a auditrios miditicos.
PALAVRAS-CHAVES
Jornalismo opinativo; artigo; nova retrica; argumentao
ABSTRACT
This paper intends to demonstrate how one of opinative genres, the article, still figures in
society through the article-writer Hlio Schwartsman. For this purpose, we selected seven articles
that are going to be analyzed not only in respect to genre, but also through the New Rethoric
perspective.
This theory was proposed by Chaim Perelman & Olbrechts-Tyteca in the XIX century and
corresponds to a modernization of the precepts of ancient rhetorics. Such adaptation turns the
aplication of these studies possible to midiatic audiences.
KEY-WORDS
Opinative journalism, article, new rethoric, argumentation.
V
LISTA DE GRADES
GRADE 1 Exemplo de argumentos quase-lgicos .................................................... 27
GRADE 2 Exemplo de argumentos baseados na estrutura do real ............................ 30
GRADE 3 Exemplo de argumentos que fundam a estrutura do real ......................... 32
GRADE 4 Exemplo de argumento de dissociao .................................................... 33
GRADE 5 Apresentao do corpus ........................................................................... 37
GRADE 6 Levantamento quantitativo dos argumentos ............................................ 50
VI
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................ 08
CAPTULO 1 O JORNALISMO OPINATIVO E CONSIDERAES SOBRE
SEUS GNEROS ......................................................................................................... 11
1.0 Consideraes inicias ................................................................................................ 11
1.1 O jornalismo opinativo .............................................................................................. 12
1.2 Os gneros opinativos no Brasil ................................................................................ 14
1.3 Especificidades do gnero artigo .............................................................................. 17
1.4 Os artigos opinativos como discurso ........................................................................ 18
1.5 Consideraes finais ................................................................................................. 20
CAPTULO 2 RETRICA E TEORIAS DA ARGUMENTAO .................. 21
2.0 Consideraes iniciais .............................................................................................. 21
2.1 Conceitos bsicos da Nova Retrica ........................................................................ 22
2.2 Aspectos relevantes para a argumentao ................................................................ 23
2.3 Tcnicas argumentativas e classificao dos argumentos ........................................ 24
2.3.1 Os argumentos quase lgicos .................................................................... 25
2.3.2 Os argumentos baseados na estrutura do real ........................................... 28
2.3.3 Os argumentos que fundam a estrutura do real ........................................ 31
2.3.4 Os argumentos de dissociao .................................................................. 33
2.4 A interao dos argumentos .................................................................................... 33
2.5 Consideraes finais ................................................................................................ 35
CAPTULO 3 OS ARTIGOS DE HLIO SCHWARTSMAN SOB A LUZ DA
NOVA RETRICA ................................................................................................... 36
3.0 Consideraes iniciais ............................................................................................ 36
VII
3.1 Apresentao do corpus ....................................................................................... 37
3.2 Aplicao das teorias da argumentao ................................................................. 39
3.2.1 Cincia sob ataque .................................................................................. 39
3.2.2 F na cincia ........................................................................................... 41
3.2.3 Tudo relativo ........................................................................................ 42
3.2.4 O prazer de perdoar ................................................................................ 44
3.2.5 Clima de guerra ...................................................................................... 46
3.2.6 O caso Isabella ....................................................................................... 47
3.2.7 O no to livre arbtrio ........................................................................... 48
3.3 Consideraes finais ............................................................................................. 50
CONCLUSO ......................................................................................................... 52
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 56
ANEXOS ................................................................................................................. 58
Anexo 1 - Cincia sob ataque ................................................................................... 58
Anexo 2 - F na cincia ............................................................................................ 61
Anexo 3 - Tudo relativo ......................................................................................... 65
Anexo 4 - O prazer de perdoar ................................................................................. 68
Anexo 5 - Clima de guerra ....................................................................................... 71
Anexo 6 - O caso Isabella ........................................................................................ 74
Anexo 7 - O no to livre arbtrio ............................................................................ 77
8
INTRODUO
Lead, pirmide invertida, objetividade e simplicidade. Estes so os elementos do atual
padro do jornalismo informativo, to difundido na prtica cotidiana e na academia. As formas de
construo textuais livres destes padres so relegadas a um segundo plano e ganham pouco
espao nas instituies que praticam ou ensinam a profisso.
Desejamos, com este trabalho, sair do ponto deste ponto de vista informativo e estudar o
jornalismo opinativo. Pois acreditamos que o jornalismo tambm deve apresentar pontos de vista
e conceitos capazes de aprimorar a cultura da sociedade, incitando o questionamento entre os
cidados. Desta forma, no queremos desmerecer o jornalismo informativo, mas sim valorizar o
jornalismo opinativo na imprensa contempornea, cuja presena se encontra reduzida.
A carncia do jornalismo opinativo mostrada por Melo (2003):
Se, no passado, o espao aberto para a colaborao dos intelectuais era maior, na
imprensa brasileira, hoje ele se reduz pela prpria tendncia que assume o
jornalismo impresso de se pautar por modelos industriais de eficincia e
profissionalismo. (MELO 2003:129)
Embora a constatao tenha sido feita com base na mdia impressa, pode-se estend-la
tambm para os outros meios quando se fala de jornais tradicionais. Na web, por exemplo, os
jornais ainda seguem os modelos impressos, destinando poucas sees ao contedo opinativo.
Dentre os produtos opinativos no webjornalismo brasileiro, temos o caderno Pensata do
Folha Online, um webjornal que trata de assuntos de todo o Brasil e que mantido em parceira
pelo grupo Folha e o provedor de internet Universo Online. Este caderno, o Pensata1, composto
por colunas de diversos autores, tratando de economia, msica, atualidades, poltica entre outros.
Um destes colaboradores Hlio Sschwartsman2, que trata das temticas voltadas para
atualidades em geral, e cuja produo servir como objeto de estudo desta pesquisa.
Formado em filosofia, mas atuando como jornalista e articulista no Grupo Folha, o autor,
que possui 44 anos, procura tratar de temas cotidianos sob uma tica opinativa, defendendo seu
posicionamento frente aos assuntos abordados e dialogando com o leitor, quando isto se torna
necessrio. Ele mantm uma publicao semanal no peridico online e faz contribuies
1 O caderno virtual pode ser acessado atravs do endereo http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/.
2 Os artigos do autor esto listados em http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/.
9
espordicas para o jornal impresso Folha de So Paulo. Alm disso, autor do livro Aquilae
Titicans O segredo de Avicena Uma aventura no Afeganisto.
Entre os artigos apresentados por Hlio Schwartsman selecionamos o corpus atravs de
trs etapas: primeiro os artigos foram separados de acordo com sua data de publicao, sendo que
o primeiro semestre de 2008 foi o escolhido para a prxima etapa, pois havia uma publicao
mais regular por parte do autor. Na etapa seguinte foram analisados os artigos que apresentavam
uma argumentao de vis mais nitidamente filosfico, por ser esta uma caracterstica que torna
diferente o discurso de Hlio Schwarstman e tambm uma das cincias que mais se utiliza da
retrica como forma de argumentao. Dentre os artigos selecionados foram escolhidos como
corpus final aqueles que partiam de uma premissa factual para incitar as discusses sobre
determinado tema. Assim, obtivemos sete artigos: Cincia sob ataque, A f na cincia, Tudo
relativo, O prazer de perdoar, Clima de guerra, O caso Isabella e O no to livre arbtrio.
Tendo em vista que tais artigos so marcados por estratgias argumentativas, pretende-se
compreender a seguinte questo: como se manifesta a formao argumentativa no discurso do
articulista Hlio Schwartsman?
Com isto, este trabalho tem como objetivo analisar a argumentao dentro do jornalismo
opinativo. Para tanto faremos uso das definies dos gneros jornalsticos opinativos propostas
por Melo (2003) e Beltro (1980) e da retrica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005. Desta
forma poderemos proporcionar um intercmbio entre os estudos da comunicao e do discurso
para o aprofundamento dos estudos jornalsticos.
Embora os estudos sobre a retrica tenham sido menosprezados durante muitos sculos
(desde o seu surgimento na Grcia Antiga), no sculo XIX, Chaim Perelman trouxe a luz uma
nova viso desta arte. Denominada Nova Retrica, sua aplicao foi ampliada a auditrios
miditicos e foram aperfeioados os conhecimentos j alcanados.
Com base nesta proposta alguns trabalhos j esto aplicando a retrica ao fazer
jornalstico. Pesquisas como as de Pereira & Rocha (2007) e Freitas (2002) contribuem para um
maior questionamento da prtica argumentativa, associada ao jornalismo, no meio acadmico. No
entanto, ambos os trabalhos detiveram-se sobre gneros ou pontos especficos, o que abre espao
para novas discusses sobre o tema, adicionando conhecimento comunidade cientfica.
Desta forma, tendo em vista que o discurso opinativo de Hlio Schwartsman marcado
por estratgias de argumentao, objetivamos tambm compreender como esta formao
10
argumentativa se manifesta no discurso deste articulista. Para tanto procuraremos verificar
primeiramente de que forma seu discurso se encaixa no gnero artigo, incluindo suas tipificaes
e, depois, como o autor se apropria dos modelos argumentativos propostos pela Nova Retrica.
Iniciamos nossas pesquisas com base em trs hipteses centrais: A primeira tem em mente
que o autor baseia grande parte de seus artigos em argumentos de autoridade. A segunda hiptese
prev a ampla utilizao dos argumentos quase-lgicos, descritos por Perelman & Olbrecths-
Tyteca, os quais abordaremos no captulo apropriado. Como terceira hiptese temos a
possibilidade da ampla interao argumentativa no discurso do articulista.
Para realizar nossa pesquisa, optamos pela diviso em trs partes. Na primeira
estudaremos o jornalismo opinativo e seus gneros, segundo as vertentes de Melo (2003) e
Beltro (1980). Nesta etapa daremos uma ateno especial ao gnero artigo, por se tratar do
modelo utilizado para a anlise do corpus.
No segundo captulo trataremos das teorias relacionadas argumentao sob o ponto de
vista da retrica. Aqui veremos como os argumentos se fazem presente no discurso e as
classificaes que recebem. Salientamos que neste captulo teremos grande parte do aporte
terico e metodolgico de nossa pesquisa. Portanto, requer uma maior ateno do leitor,
principalmente no que tange a distino entre os diferentes tipos de argumentos.
Por fim, no terceiro captulo partiremos para a anlise do corpus selecionado.
Primeiramente analisaremos o discurso de Hlio Schwartsman de um modo geral, para que
possamos compreender porque estes se classificam dentro do gnero artigo. Em seguida,
forneceremos um panorama sobre os artigos escolhidos. Aps isto, partiremos para a anlise
levando em conta as teorias expostas no primeiro e segundo captulos. Ao final desta pesquisa,
encontram-se disponveis, em anexo, os artigos que fazem parte do corpus.
Com este trabalho esperamos contribuir para a disseminao do jornalismo opinativo e
dos estudos da retrica, procurando fazer com que os futuros profissionais (e tambm aqueles que
j exercem a profisso), ao refletirem sobre estes temas, os levem para seus locais de trabalho.
Alm disso, ao unir a retrica ao fazer jornalstico, objetivamos tambm aprimorar as
discusses tericas a respeito do jornalismo, pois a integrao entre estas cincias permite que se
adquiram novas perspectivas para o tratamento do gnero opinativo artigo no meio acadmico,
incorporando teorias que podem formar profissionais mais capacitados intelectualmente.
11
CAPTULO 1 O JORNALISMO OPINATIVO E CONSIDERAES
SOBRE OS SEUS GNEROS
1.0 Consideraes iniciais
Neste primeiro captulo iremos abordar as perspectivas do jornalismo opinativo e de seus
gneros, salientando as particularidades do artigo. No entanto, antes disto faz-se necessrio uma
breve explicao sobre os caminhos das pesquisas em jornalismo que levaram as classificaes
utilizadas e porque elas so necessrias para a rea.
Os estudos sobre gneros esto presentes no pensamento mundial desde a Grcia Antiga,
sendo estabelecidos atravs da presena de algumas caractersticas nas unidades textuais
analisadas. Na contemporaneidade, os gneros servem, de acordo com Pereira e Rocha (2006),
como um instrumento que permite aos produtores e receptores codificar e decodificar seus textos.
Marcushi (2003) define os gneros da seguinte forma:
Trata-se de textos orais ou escritos materializados em situaes comunicativas recorrentes. Os gneros textuais so os textos que encontramos em nossa vida
diria com padres scio-comunicativos caractersticos definidos por sua
composio, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizados por foras
histricas, sociais, institucionais e tecnolgicas. (MARCUSHI, 2003:4)
Devido a sua funo de guia, os estudos dos gneros ganham importncia dentro das
pesquisas miditicas, j que servem tanto para orientar os jornalistas quanto os leitores. As
pesquisas neste campo esto em constante atualizao j que h uma evoluo nos gneros, e
isso permitido pelas transformaes da sociedade, porque o gnero est vinculado s
caractersticas de espao/tempo (PEREIRA & ROCHA, 2006:46).
O estudo constante e realizado por diferentes sociedades trouxeram uma grande
quantidade de classificaes distintas para os gneros jornalsticos. Porm, optamos por estudar
dois tericos nacionais, Luiz Beltro (1980) e Jos Marques de Melo (2003), pois suas
classificaes na rea do jornalismo opinativo, apesar de seguirem metodologias diferentes de
anlise, possuem pontos semelhantes e complementares, divergindo em alguns poucos aspectos
no que tange a descrio dos gneros. Alm disso, por se tratarem de pesquisadores brasileiros,
acreditamos que nossa realidade estar melhor retratada em suas obras.
12
Antes de tabular os gneros propriamente ditos, ambos os autores fizeram divises quanto
s categorias de jornalismo. Melo (2003) prope apenas duas: o jornalismo informativo e o
jornalismo opinativo. Estas concluses foram obtidas com base na intencionalidade do relato
jornalstico.
J Beltro (1980), estabelece a seguinte diviso: jornalismo informativo, jornalismo
interpretativo e jornalismo opinativo. O critrio adotado por este autor a funo do jornalismo
junto ao pblico, ou seja, informar, explicar e orientar. Mas Melo (2003) optou por excluir a
funo interpretativa por achar que esta pode ser abarcada pelo jornalismo informativo.
Para esta pesquisa vamos nos deter na anlise da categoria jornalismo opinativo. Marshal
(2003, apud Pereira & Rocha, 2006) conceitua esta rea como fonte de forte apelo ideolgico,
servindo de palco para lutas e mobilizaes, defendendo e atacando ideias.
No entanto, no devemos esquecer que, embora estas manifestaes sejam mais explcitas
no jornalismo opinativo, tambm aparecem em outras categorias, visto que os produtos
miditicos so produzidos por pessoas que no esto isentas de valores e que os deixam
transparecer mesmo que de modo implcito.
Partiremos agora para os estudos do jornalismo opinativo, para que conheamos um
pouco melhor suas caractersticas e um pouco da sua histria no contexto nacional, onde a rea
destinada opinio sofre uma grande carncia.
Em seguida, aps compreender o cenrio do jornalismo opinativo, seus gneros e as
especificidades do gnero artigo, faremos uma pequena anlise sobre os artigos opinativos como
texto e discurso. Esta abordagem ser feita, pois o presente trabalho pretende estudar os artigos,
pelo vis da retrica, como discurso e, portanto, necessrio saber o que isto representa.
1.1 O jornalismo opinativo
O jornalismo opinativo caracterizado pela clara tomada de posio, seja ela do
jornalista, do editor, do colaborador ou mesmo do leitor de uma determinada mdia. No entanto,
nem todo assunto digno de expresso opinativa dentro da imprensa, como afirma Beltro
(1980).
13
Para este autor, um fato s se torna opinvel quando a sociedade o considera passvel de
discusso, ou seja, ele no um tabu e capaz de oferecer s pessoas diversas abordagens que
merecem passar por argumentaes e discusses diante do pblico.
Podemos entender a opinio como um estado pessoal ou coletivo que vai contra ou a
favor de uma idia. Sendo que esta idia no possui argumentos sustentados pela lgica formal
que levem a existncia de uma verdade possivelmente nica, possibilitando a tomada de
mltiplos posicionamentos. Assim, a opinio depende, com efeito, de um clculo de
probabilidade, que leva o sujeito a tomar uma atitude intelectiva de aceitao ou no da
verossimilhana. (CHARAUDEAU, 2006:121) e esta pode ser entendida como uma atitude
subjetiva.
A presena opinativa era constante no perodo em que a imprensa mundial se
desenvolveu. No entanto, esta manifestao opinativa no satisfazia os detentores do poder, que
logo conseguiram criar mecanismos para controlar a opinio nos jornais.
E os caminhos so eficazes. A instituio de taxas, impostos e controles fiscais, atacava o flanco da sobrevivncia econmica. A decretao de limites
liberdade de imprensa Daca conta do cerceamento poltico, estabelecendo o
mecanismo da censura a posteriori, ou seja, a punio dos excessos cometidos,
nos termos da legislao vigente. (MELO, 2003:23)
No contexto nacional, temos os primeiros jornais marcados pela sua produo monoltica,
ou seja, apenas uma pessoa confeccionava todo o produto, o que gerava a disseminao de uma
nica opinio em todo o veculo. Melo (2003) cita como exemplo o Correio Braziliense, de
Hiplito da Costa, e o Sentinela, de Cipriano Barata.
A fase predominantemente opinativa da imprensa brasileira durou, segundo Beltro
(1980), desde o perodo regencial at a dcada de XIX. Neste perodo ocorre a Revoluo
Industrial e o jornal passou a ser visto como um produto empresarial, adotando os padres norte-
americanos de agilidade, eficcia e objetividade. E estes padres no condizem com a expresso
opinativa, j que esta requer mais tempo e preparo do jornalista para a elaborao da matria.
Embora a fase urea da imprensa opinativa tenha acabado, ainda h nos jornais
contemporneos espaos dedicados a manifestao da opinio. Hoje, diferentemente da poca de
Hiplito da Costa, a opinio no jornalismo encontra, no jornalismo, uma diversidade de idias,
devido ao modo de produo das grandes empresas miditicas. Porm, ainda h as limitaes da
linha editorial de cada veculo, ou seja, um conjunto de noes que a empresa jornalstica toma
14
como base. Uma explicao para esta diversidade de que As condies de produo do
jornalismo atual exigem a participao de equipes numerosas, donde a impossibilidade de
controle total do que se vai divulgar (MELO, 2003:101)
Atualmente, os gneros opinativos tm a internet como um meio frtil para sua
propagao. Instituies jornalsticas, como a Abril, j hospedam blogs de seus colaboradores.
Nestes meios a opinio pessoal do autor que controla o contedo.
Os jornais tradicionais tambm possuem sua verso online e neste meio o jornalismo
opinativo pode agir com mais liberdade, pois, h espao para uma abundncia de dados (no h
o constrangimento das limitaes fsicas) (BERTOCCHI, 2005:9). Alm disso, Bertocchi (2005)
tambm afirma que o processo webjornalstico marcado pela intercomunicao de muitos para
muitos, o que cria um contato mais direto com o pblico, que tambm pode deixar sua opinio e
assim criar um dilogo entre colaborador e leitores, contribuindo para a diversidade de ideias.
Apesar da constante mutao que o jornalismo, e consequentemente o modelo opinativo,
sofre a cada ano e, principalmente com o advento da internet, o estudo dos gneros virtuais ainda
no encontrou uma teoria prpria. Portanto, os produtos deste meio so analisados sob o vis dos
gneros opinativos impressos, pois estamos de acordo com a seguinte afirmao:
Acreditamos que os formatos do ciberjornalismo tendem a ser formar a partir dos modelos do jornalismo impresso, num primeiro momento. Isso acontece
porque o jornalismo nasce vinculado ao meio papel e no jornalismo impresso
que existem as referncias tericas e prticas mais consolidadas. (BERTOCCHI, 2005:10)
Aps estas explanaes podemos partir para os estudos dos gneros jornalsticos
opinativos, desenvolvidos no Brasil, pelos tericos Luiz Beltro (1980) e Jos Marques de Melo
(2003).
1.2 Os gneros opinativos no Brasil
A classificao dos produtos em gneros obedece a critrios sociais e culturais, sendo
assim, cada poca e cada sociedade possui uma classificao prpria. Na contemporaneidade a
tipificao dos gneros jornalsticos mais prxima da realidade brasileira a proposta por Melo
(2003), responsvel pela atualizao da classificao de Beltro (1980) e com o qual compartilha
algumas especificaes.
15
Para classificar os gneros opinativos Melo (op. cit.) observou a estrutura dos relatos dos
textos miditicos:
No nos referimos especificamente estrutura do relato do texto ou das imagens e sons que representam e reproduzem a realidade. Tomamos em
considerao a articulao que existem do ponto de vista processual entre os
acontecimentos (real), sua expresso jornalstica (relato) e a apreenso pela
coletividade (leitura). (MELO, 2003:64)
Assim, o autor define oito formatos: editorial, comentrio, resenha/crtica, artigo, crnica,
coluna, caricatura e carta. J a classificao de Beltro (1980) guia-se pelo senso comum que rege
a profisso do jornalista, obtendo os gneros: editorial, artigo, crnica, opinio ilustrada e opinio
do leitor.
Entre os gneros propostos por Melo (op. cit.) para o jornalismo opinativo temos as
seguintes semelhanas aos de Beltro (op. cit.): editorial, artigo, crnica, carta e caricatura. No
entanto, os dois ltimos recebem nomes diferentes na classificao de Beltro, chamando-se,
respectivamente, opinio ilustrada, que engloba outros elementos alm da charge, e opinio do
leitor, tambm mais amplo do que a carta. Desta forma, podemos observar que os gneros
resenha, coluna e comentrio esto presentes apenas na obra de Melo (op. cit.).
Embora este trabalho tenha como objetivo se deter no gnero artigo, uma breve
explanao sobre os outros gneros torna-se importante, pois, como afirma Bonini (2003), as
anlises de gnero no campo jornalstico so feitas atravs da oposio entre os demais. Portanto,
passemos ao estudo dos gneros editorial, crnica, caricatura (e opinio ilustrada), carta (e
opinio do leitor), resenha, coluna e comentrio; para depois iniciar as explanaes acerca do
gnero opinativo artigo.
O gnero editorial recebe caractersticas semelhantes nas duas obras verificadas e
observado como a matria, normalmente no assinada, que expressa a opinio oficial da empresa
jornalstica sobre certo assunto. Isto no significa que a opinio do proprietrio do jornal ser
colocada no editorial, mas sim o que pensa o consenso responsvel pela organizao da mdia em
questo.
J a crnica vista como o mais literrio dos gneros jornalsticos. Seu surgimento
encontra-se ligado as publicaes peridicas de poetas e ficcionistas que viam na imprensa uma
forma de se manter financeiramente e de divulgar suas obras. Assim, a crnica vista como um
16
relato da atualidade feito de forma mais sensvel, situando-se em uma fronteira entre o jornalismo
e a literatura.
Apresentando-se de forma diferente dos gneros anteriores, temos a caricatura e a opinio
ilustrada, que a crtica feita atravs de desenhos ou fotografias, estas ltimas no caso especfico
da opinio ilustrada, podendo ou no figurar ao lado de textos.
Aparecendo tambm na obra dos dois autores, temos os gneros prprios para a expresso
da opinio do leitor. Melo (2003) opta por denomin-lo de carta, enquanto Beltro (1980) prefere
a nomenclatura genrica de opinio do leitor. A diferena entre ambos encontra-se no fato de que
Beltro (1980) tambm considera como espao do leitor as modalidades de entrevista, enquete e
depoimento. Enquanto Melo (2003) v estas situaes como captadoras de informao e no
como meios para difuso de opinio.
Quanto aos gneros presentes apenas na obra de Melo (2003) temos a resenha, a coluna e
o comentrio. A primeira a manifestao crtica a respeito de produtos da indstria cultural, ela
feita de modo mais informal do que um ensaio acadmico, mas exigindo do jornalista
conhecimentos especficos sobre os produtos dos quais deseja falar.
Enquanto isso, a coluna representa o espao destinado a uma miscelnea de informaes,
sendo comum a presena de notcias recentes que ainda no passaram por uma checagem mais
aprofundada. Melo (2003:140) usa a seguinte definio para este gnero: Trata-se, portanto, de
um mosaico, estruturado por unidades curtssimas de informao e de opinio, caracterizando-se
pela agilidade e pela abrangncia. Na verdade, a coluna cumpre hoje uma funo que foi peculiar
ao jornalismo impresso antes do aparecimento do rdio e da televiso: o furo.
J o comentrio encontra-se ligado a uma notcia e procura explic-la, fornecendo
detalhes sobre suas causas, consequncias e alcance. Melo (2003) caracteriza o comentarista
como um jornalista especializado em determinado assunto e com boa carga cultural, o que o
permite expressar a sua opinio, porm esta nem sempre explcita.
O ltimo gnero a ser discutido ser o artigo. No entanto, como suas especificaes
requerem uma abordagem mais detalhada para esta pesquisa, ser o objeto de estudo da prxima
etapa, onde sero abordados, de forma mais abrangente, aspectos discutidos tanto por Melo
(2003) quanto por Beltro (1980) para este gnero.
17
1.3 Especificidades do gnero artigo
Para a anlise do corpus desta pesquisa ser utilizada a descrio do gnero jornalstico
opinativo artigo. A definio de artigo aqui utilizada ser a estabelecida como um gnero
especfico, uma forma de expresso verbal. Trata-se de uma matria jornalstica onde algum
(jornalista ou no) desenvolve uma ideia e apresenta sua opinio. (MELO, 2003:121).
Este se caracteriza por dois elementos principais: a atualidade e a opinio. No entanto, a
atualidade no se refere apenas ao cotidiano e sim ao momento histrico vivido, sendo este fator
o diferencial do artigo em relao ao comentrio, pois, enquanto este analisa os fatos em quanto
eles ocorrem, os artigos procuram captar os aspectos mais duradouros dos acontecimentos.
Quanto opinio, o produtor do artigo deve manifest-la durante a argumentao e no
deix-la implcita, pois no artigo o autor tem a liberdade (e o dever) de expressar sua prpria voz.
Melo (2003) destaca que esta a maior caracterstica do gnero: o ponto de vista exposto por
algum.
O perfil dos articulistas discutido por Beltro (1980), ele prope que os autores de
artigos costumam ser intelectuais, escritores que se especializam em algumas reas e que
possuem credibilidade junto empresa jornalstica e tambm sociedade. Alm disso, suas ideias
e opinies devem interessar ao pblico e tambm aos objetivos desejados pelo editor.
Melo (2003) destaca duas formas de se subdividir os artigos. O artigo propriamente dito e
o ensaio, a diferena entre ambos visvel pela extenso, sendo a do ensaio superior a do artigo.
Mas suas diferenciaes mais relevantes devem-se ao tratamento dado ao tema e a forma de
argumentao.
No artigo, a subdiviso, o tratamento mais provisrio, pois o assunto abordado
enquanto ainda est ocorrendo. Alm disso, sua argumentao baseada no conhecimento e na
sensibilidade do articulista. J no ensaio tem-se uma escrita posterior ao fato, possibilitando uma
abordagem definitiva do tema. Quanto argumentao nota-se o apoio em fontes de alta
credibilidade e a legitimao da opinio por meio destas.
A segunda forma de subdiviso coloca os artigos, o gnero, em duas categorias, os de
divulgao cientfica e os doutrinrios. O artigo de divulgao cientfica procura mostrar
descobertas relacionadas s cincias ou educar o leitor a respeito de novas formas de
18
conhecimento. Enquanto os doutrinrios abordam uma questo da atualidade sugerindo uma
forma de analis-la.
Melo (2003) no faz nenhuma meno quanto periodicidade destas contribuies,
dizendo apenas que elas podem ser espordicas, mas sem negar a hiptese de uma presena
constante de um articulista. Desta forma, no vai contra a produo de artigos peridicos citada
na obra de Beltro (1980).
Embora possua subdivises, o processo para a elaborao de um artigo sempre o
mesmo. Ele passa sempre por trs etapas: busca de um assunto que motive e proporcione uma
argumentao; ordenao das ideias e a elocuo, ou seja, o ato de escrever aquilo que j se
pensou. Todas as etapas so formuladas de acordo com a opinio e a forma de argumentao
almejada pelo articulista.
Ainda que este tipo de opinio seja to precioso para a imprensa, Melo (2003:129) destaca
que se, no passado, o espao aberto para a colaborao dos intelectuais era maior, na imprensa
brasileira, hoje ele se reduz pela prpria tendncia que assume o jornalismo impresso de se pautar
por modelos industriais de eficincia e profissionalismo.
Desta forma, as pesquisas neste campo podem vir a contribuir para a disseminao deste
formato dentro do meio acadmico e, consequentemente, na retomada dos artigos dentro da
prtica jornalstica, pois os novos profissionais, quando devidamente instrudos pelas
universidades, so capazes de modificar os padres da imprensa.
Ao atingir o meio social, os artigos no podem ser vistos como simples textos, pois
compreendem, alm de meras palavras, um aporte social e ser dotado de sentido de acordo com
os eventos scio-histricos que se ligam a ele. Desta forma, ele pode ser compreendido como
discurso. Veremos a seguir o que isto significa.
1.4 Os artigos opinativos como discurso
Os artigos opinativos podem ser vistos sob duas ticas: como textos e como discurso. No
primeiro caso temos um objeto lingustico, ou seja, um lugar onde se manifesta a linguagem, mas
que pode ser analisado de forma distanciada de seu contexto social. J ao se estudar o discurso,
temos como base a definio proposta por Marcushi (2003) que entende o discurso como uma
produo lingustica ligada ao seu papel scio-histrico.
19
Desta forma, o discurso compreende:
O texto como a interao, reenviando a um objeto emprico, selecionado ou transcrito para a anlise, indissocivel do contexto que ele contribuiu para forjar,
e caracterizado no pelas determinaes exteriores mas pelas dimenses que o
prprio discurso marca reflexivamente como pertinentes. O discurso o lugar da
observabilidade da lngua em sua atualizao num contexto emprico. (MONDADA, 1994 apud MARCUSHI, 2003:4)
Assim, observamos que a linguagem, ao se manifestar em um discurso, no apenas um
veculo que carrega palavras desprovidas de intenes. Ela torna-se um meio para a transmisso
de pontos de vistas, de conceitos e ideias que se formam a partir da interao e a interpretao da
sociedade. Ou seja, atravs do discurso o autor pode disseminar na sociedade aquilo que deseja,
para isto s precisa analisar quais as melhores estratgias para convencer o seu pblico.
Tendo em vista esta distino entre texto e discurso, podemos concluir que o estudo do
discurso para a interpretao dos produtos miditicos, que sofre forte influncia social, so mais
vantajosos para que se chegue a concluses mais prximas da realidade e no a dados sem
sustentao no real.
Associando os estudos do discurso aos gneros temos o fato de que esta prpria forma de
se classificar um produto do estudo do discurso, pois, como define Bakhtin (1997 apud Perles,
2006), os gneros so caracterizados de acordo com a esfera social na qual existem, ou seja, os
fatores sociais e histricos so levados em considerao ao se fazer tal classificao. Este fator
considerado tanto por Melo (2003) quanto por Beltro (1980), j que ambos rejeitam as
classificaes estrangeiras para estabelecer um estudo ligado sociedade brasileira.
Ao se tomar os artigos opinativos como discurso, seu estudo exige uma anlise da
realidade na qual ele foi elaborado, suas condies de produo, informaes sobre o autor, do
pblico alvo que se quer atingir e tambm do contexto scio-histrico que deu origem aos
artigos.
Alm disso, por se tratarem de produtos miditicos pautados pela atualidade, necessrio
um estudo sobre o que ocorria na imprensa durante o perodo no qual foram escritos. Pois os
artigos, normalmente, repercutem informaes que esto presentes na mdia, mas sob um ponto
de vista explicitamente crtico.
20
1.5 Consideraes finais
Ao se analisar os diferentes gneros jornalsticos, devemos ter em mente as dificuldades
de se classificar um produto, pois, como ressalta Melo (2003) um mesmo texto pode conter
estruturas presentes em mais de um gnero. Alm disso, o mesmo autor lembra o processo
dinmico que move a imprensa e altera a cada dia suas formas de produo de contedo,
enquanto as pesquisas tericas tm sempre um ritmo mais lento.
Portanto, embora o aporte terico deste trabalho se sustente no gnero artigo, ressalvas
sero feitas quando e se necessrias, principalmente por se tratar de uma adaptao de gneros
impressos para a imprensa eletrnica.
Quanto ao gnero estudado a principal caracterstica a ser destacada a emisso de uma
opinio extra-oficial, ou seja, no necessariamente compartilhada pela empresa jornalstica,
marcada pela argumentao e pelo aporte terico, seja acadmico ou emprico, necessrio para a
construo de um artigo.
Os artigos so capazes de democratizar a opinio, como ressalta Melo (2003) trazendo
novas formas de se ver um determinado acontecimento. devido a isto e a sua forte presena
argumentativa que este gnero opinativo foi escolhido, pois supera as limitaes do jornalismo
tradicional e trazem importantes contribuies para a imprensa na nacional.
Para estudar os artigos, o vis escolhido foi o da nova retrica de Chaim Perelman (1996).
Assim, partiremos para a discusso a respeito das teorias da argumentao ligadas nova retrica
para que possamos analisar como a opinio colocada no discurso miditico, quais os artifcios
so utilizados, que tipos de argumentos so utilizados e como se d a construo argumentativa
nos artigos.
21
CAPTULO 2 RETRICA E TEORIAS DA ARGUMENTAO
2.0 Consideraes iniciais
O surgimento dos estudos em retrica veio para se contrapor exatido das cincias
lgicas, consideradas como nicas detentoras da razo. Nestas, os argumentos podem ser
verificados e comprovados e aqueles que no seguem este padro so relegados a um segundo
plano e no considerados como indignos de uma discusso norteada pela razo. Na categoria de
excludos encontram-se os valores e ideias subjetivas.
Amparando estes conceitos sem deixar de ser considerada racional, surge ento a retrica.
Suas primeiras concepes remontam Grcia Clssica e devem-se aos estudos platnicos e
aristotlicos, que deram a esta arte, de acordo com Meyer (2007) dois significados distintos. Os
primeiros a classificam como uma manipulao do auditrio, ou seja, coloca a retrica como
marcada pela emoo e no pela razo, diferenciando-se drasticamente da idia adotada na
contemporaneidade.
A idia em vigor na atualidade encontra-se ligada aos estudos aristotlicos da retrica,
que a definem como a exposio de argumentos destinados a persuadir determinado pblico.
Estes estudos serviram como base para a criao de um pensamento adaptado sociedade
moderna, chamado de Nova Retrica, que servir como teoria e metodologia para esta pesquisa.
Embora outras teorias a respeito da retrica tenham sido cunhadas na modernidade, como
as de Plebe & Emanuele e de Tollumin, consideramos que a Nova Retrica, proposta por Chaim
Perelman & Obrechts-Tyteca (2005), servir melhor aos fins deste trabalho. Isto se d porque
esta vertente se ocupa de um ramo especfico da retrica: as teorias da argumentao, que ser
tambm o ponto discutido por ns.
Para iniciar nossos estudos, iremos expor os conceitos bsicos da Nova Retrica, para que
assim possamos compreender melhor a classificao e os modelos adotados por Perelman &
Olbrechts -Tyteca (2005) para os argumentos.
22
2.1 Conceitos bsicos da nova retrica
As teorias da Nova Retrica tratam mais aprofundadamente de um ramo especfico desta
arte: a argumentao. Embora este seja um dos vrtices mais importantes, vale lembrar que
Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) no se preocupam em fornecer longos conceitos para as
relaes entre ethos, pathos e logos3, que so tratados por outros tericos. Assim, nos deteremos
em abordar os aspectos discutidos pela Nova Retrica, sabendo de suas limitaes.
Alm desta limitao, os autores falam que nosso tratado s versar sobre recursos
discursivos para se obter a adeso dos espritos (PERELMAN & OBRECHTS-TYTECA
2005:8). Assim, so rejeitadas provas coercivas, experimentais e analticas, pois elas se
extinguem em si prprias ao estabelecer suas verdades atravs da fora ou de juzos concretos.
Partindo deste ponto de vista, temos que o discurso retrico apresenta-se como uma
sequncia de argumentos que visam comprovar uma determinada opinio que no suscetvel de
provas analticas, devido ao seu teor subjetivo. O autor coloca a seguinte definio:
A retrica, em nosso sentido da palavra, difere da lgica pelo fato de se ocupar no com a verdade abstrata, categrica ou hipottica, mas com a adeso. Sua
meta produzir ou aumentar a adeso de um determinado auditrio a certas
teses seu ponto inicial ser a adeso desse auditrio a outras teses. (PERELMAN, 2007:70)
Perelman (2005) expe que os argumentos utilizados na retrica so da categoria do
opinvel e no do verossmil, atravs deles o locutor procura ganhar a adeso de seu auditrio.
Para isto, o orador deve sempre interagir com o pblico, buscando captar suas peculiaridades e
assim, moldar seus argumentos. Alm disso, o orador tambm deve ser bem quisto pelo pblico
que deseja atingir, pois desta forma suas ideias sero aceitas com mais facilidade.
A Nova Retrica enfatiza de forma veemente a importncia do auditrio, pois todo o
trabalho do locutor deve ser feito em funo deste. No entanto, no caso dos discursos escritos,
torna-se difcil delimitar um pblico especfico4, pois se trata de uma situao onde emissor e
receptor no compartilham o mesmo tempo e espao, sendo difcil a utilizao de adaptaes para
3 De acordo com Meyer (2003) Ethos refere-se ao modo como o orador se coloca no discurso, Pathos diz respeito a
emoo envolvida durante uma explanao e Logos demonstra o aspecto racional colocado em questo. 4 Apesar da dificuldade em se limitar o pblico, possvel fazer uma suposio atravs da anlise do discurso do
autor. No caso de Hlio Schwartsman podemos projetar que o pblico-alvo composto por pessoas da classe A e B
e com maior formao intelectual e cultural.
23
cada leitor. Nestas situaes, a criao de um pblico-alvo indispensvel e, para tanto, o locutor
pode se utilizar de diferentes pontos, como classe social e escolaridade.
2.2 Aspectos relevantes para a argumentao
Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) definem alguns elementos que podem auxiliar na
elaborao de um discurso argumentativo e que, portanto, devem ser verificados quando os
tomamos como objeto de pesquisa. Estes elementos so chamados de premissas para a
argumentao e estud-los pode auxiliar na compreenso das estratgias adotadas pelo locutor
durante sua argumentao. Portanto, analisaremos brevemente os pontos considerados mais
importantes para este trabalho.
Antes de iniciar a elaborao da argumentao, o locutor deve levar em conta as opinies
adotadas pelo seu auditrio, assim, Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) postulam seis itens que,
se devidamente observados, podem auxiliar na persuaso5 do pblico. Eles so divididos em:
relativos ao real e relativo ao prefervel.
As premissas relativas ao real so usadas quando o pblico levado em considerao
abrangente, sendo chamado de auditrio universal; elas so: os fatos, as verdades, as presunes.
J as relativas ao prefervel podem ser utilizadas quando se trata de um auditrio especializado,
elas so os valores, a hierarquia e os lugares.
Os fatos so compreendidos como um dado ou acontecimento que o auditrio aceita como
inegvel. Compartilhando deste mesmo conceito temos a noo de verdade. No entanto, ela se
diferencia dos fatos por ser mais complexa do que estes ao se constituir como uma teoria aceita
que pode ser utilizada para a comprovao ou determinao de algo.
Facilmente confundida com os fatos temos tambm a noo de presunes. Elas so
opinies partilhadas pelo senso comum, consideradas normais, e que podem ser tomadas como
base de um discurso. Entretanto, diferentemente dos fatos, requerem uma argumentao posterior
que as reforce. Ao se tratar das presunes, o locutor deve ter em mente que o normal um
conceito varivel e pode no ser aceito por todos os auditrios.
5 Alguns estudos na retrica tomam como diferentes as noes de persuadir e convencer, colocando que persuadir
levar a fazer alguma coisa, mesmo que no a considere correta, enquanto convencer fazer com que algum tome
partido de uma idia. No entanto, os conceitos da Nova Retrica tomam as duas noes como idnticas e as definem
o ato de aderir uma idia ou argumento.
24
Valendo-se da ideia de que o normal costuma ser aceito com mais facilidade, os autores
destacam a importncia de sua utilizao, pois:
O mais das vezes, entretanto, o orador s pode contar para suas presunes, com a inrcia psquica e social, que, nas conscincias e nas sociedades,
corresponde inrcia na fsica. Pode-se presumir, at prova em contrrio, que a
atitude adotada anteriormente opinio expressa, conduta preferida continuar no futuro, seja por desejo de coerncia, seja em virtude da fora do hbito. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005:119).
Desta afirmao tambm se pode concluir que o preceito da no negao vlido tanto
para a postura adotada pelo auditrio como pelo locutor, ou seja, o locutor pode se pautar no
conceito de que o auditrio no vai mudar facilmente seu senso comum sem que antes seja
conduzido por uma boa argumentao. Mas tambm deve ter em mente ele, o locutor, ao assumir
uma premissa no poder neg-la posteriormente sem o risco de ser desacreditado.
J os valores representam condutas e posicionamentos que so aceitos ou negados por um
grupo. Servindo a eles temos a hierarquia, que se constitui na elaborao de uma escala que
define o que considerado mais ou menos importante. Todavia, preciso ressaltar que a
hierarquizao tambm pode ser adotada por outros elementos alm dos valores, como
acontecimentos, modelos, entre outros, que podem ser colocados em uma ordem de importncia.
Ao tomar como base os elementos que o locutor pode considerar na argumentao cria-se
um conjunto de dados que deve ser escolhido e organizado previamente de modo a facilitar a
persuaso. Alm disso, os dados selecionados devem ser apresentados sob o ponto de vista
desejado de forma que no suscitem muitas interpretaes diferentes da planejada.
Assim, os vrios elementos escolhidos pelo locutor para a elaborao do discurso
interagem entre si formando diferentes formas de argumentos que, de acordo com a situao,
visam produzir determinados efeitos. Estudaremos a classificao dos argumentos no prximo
tpico.
2.3 Tcnicas argumentativas e classificao dos argumentos
Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) dividem os argumentos em dois grupos de tcnicas:
as de ligao e as de dissociao. Nos argumentos de ligao, elementos distintos so
aproximados visando uma melhor estruturao ou valorizao de um pelo outro. J no processo
25
de dissociao os elementos que antes faziam parte de um todo so separados, modificando o que
havia sido dito atravs da reconstituio dos elementos chave de determinado discurso.
A partir destes esquemas tem-se a formao de quatro tipos argumentativos, os
argumentos quase-lgicos, os baseados na estrutura do real, os argumentos que fundam a
estrutura do real - todos pertencentes ao grupo das tcnicas de ligao - e os argumentos de
dissociao - caracterizados pela tcnica homnima. Dentro de cada um destes grupos h vrios
tipos de argumentos, estudaremos agora cada um deles separadamente para compreendermos
seus elementos. Forneceremos ao final de cada grupo uma grade6 com exemplos e, quando
necessrio, tambm os utilizaremos no decorrer da explicao.
2.3.1 Os argumentos quase-lgicos
Os argumentos quase-lgicos tm esse nome por serem semelhantes s estruturas do
raciocnio lgico. No entanto, utilizam uma linguagem mais comum e um raciocnio sem base
emprica real, causando mais interpretaes do que quando se usa a linguagem formal. Dentro
desta modalidade veremos os seguintes tipos de argumentos: de contradio, de comparao,
ridculos, pelo sacrifcio, de reciprocidade, de definies, de transitividade, de incluso da parte
no todo, de justia e de probabilidade.
No primeiro caso temos como argumento a apresentao, atravs de duas ou mais
afirmaes diferentes, de uma contradio dentro de um sistema, tornando-o incoerente e levando
a escolha de uma posio ou renncia de todas. J o argumento de comparao utilizado para
comparar dados tomando um em relao ao outro, visando oposio, quantificao e
ordenamento.
Os argumentos ridculos podem ser comparados noo do absurdo na lgica clssica, ou
seja, uma afirmao completamente incompatvel com o que aceito pelo auditrio. Sua
principal utilizao se d atravs da ironia.
No argumento de sacrifcio h uma avaliao sobre as consequncias daquilo que se pensa
em executar. Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) citam como exemplo o caso de um alpinista
6 Todos os exemplos utilizados sero retirados do livro Tratado de Argumentao, de Chaim Perelman & Olbrechts-
Tyteca, publicado em 2005, pela editora Martins Fontes. Pedimos ateno do leitor, pois, para no exceder os limites
do trabalho no podemos colocar todo o contexto que envolve os argumentos. Portanto, alguns exemplos requerem
um pouco mais de ateno para a sua compreenso.
26
que ao se deparar com uma montanha procura lembrar o esforo que ter de fazer para escal-la.
Neste tipo de argumentao o valor do sacrifcio de grande importncia para a fora do
argumento.
Quando se usa os argumentos de reciprocidade pretende-se estabelecer um mesmo parecer
sobre situaes parecidas. As utilizaes destes argumentos resultam de uma apreciao sobre a
importncia dos elementos que distinguem situaes, julgadas, entretanto, simtricas num
determinado ponto de vista. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005:257).
J atravs dos argumentos de definies pretende-se identificar os vrios elementos que
esto presentes no discurso. Os quatro tipos de definies para a retrica so: as normativas (diz a
forma na qual uma palavra usada), as descritivas (prega o sentido conferido a uma palavra em
determinado meio e momento), as de condensao (usadas para indicar os elementos essenciais
da definio descritiva) e as complexas (que combinam elementos das trs outras espcies).
Deve-se ainda observar que as definies podem tanto servir como argumentos quanto serem
justificadas atravs deles.
Os argumentos de transitividade permitem que se faam sequncias de relaes entre
dados. Tomemos como exemplo os dados A, B, C e D; se h uma relao entre os termos A e B e
esta mesma relao opera entre C e D, o argumento de transitividade faz uso disto para concluir
que entre A e D tambm existe esta relao. Estes argumentos so facilmente contestveis e
podem operar em relaes de igualdade, superioridade, ascendncia e incluso.
No argumento de incluso da parte no todo, podemos observar a formao de um
conjunto a partir de determinados elementos ou ainda a incluso de um elemento dentro de um
conjunto j pressuposto.
Quando se d um tratamento idntico a seres idnticos, temos a aplicao do argumento
de justia. No entanto, os objetos nunca so totalmente idnticos, portanto, o grande problema
deste argumento verificar se as diferenas existentes so ou no relevantes para cada caso.
Por fim, os argumentos de probabilidade pautam-se pelo provvel. Neste caso, o locutor
faz um suposto clculo de probabilidade e assim define se um dado vlido ou no. Este tipo de
argumentao parece fornecer um carter emprico ao discurso. No entanto, exige que uma srie
de acordos sejam firmados entre locutor e auditrio para que se torne vlido.
Para melhor compreenso podemos observar os exemplos:
27
Grade 1 Exemplos de argumentos quase-lgicos
De contradio ... os qualificativos imediata e honrosa tornam-se ento
incompatveis. Devemos nesse caso escolher um dos termos da
alternativa; se adotamos a moo, no podemos ter uma paz
imediata e honrosa. Pitt
De comparao o mesmo crime roubar o Estado ou praticar larguezas contrrias
ao interesse pblico. - Ccero
Pelo ridculo ... neutralidade que foi to bem sucedida por duas vezes na
Blgica. - Reynauld ao ironizar a postura de neutralidade da
Blgica que, na realidade, no trouxe benefcio algum ao pas.
Pelo sacrifcio H provavelmente um fim e somente um, para o qual o uso da
violncia por um governo benfazejo, e o de diminuir o
montante total da violncia no mundo. - Russell
De reciprocidade Pouca coisa nos consola, porque pouca coisa nos aflige. - Pascal
De definies ... aquilo cuja essncia envolve a existncia, ou aquilo cuja
natureza s pode ser conhecida como existente. - Spinoza
definindo seu conceito de causa de si.
De transitividade Os amigos de nossos amigos so nossos amigos. Ditado
popular
De incluso da
parte no todo
Nada do que permitido pela lei a toda Igreja, pode, por algum
direito eclesistico, tornar-se ilegal para algum de seus membros.
- Locke
De justia Essas fraes de homens, que no tm mais do que pedaos de
carne, recebem a mesma quantidade de alimentos que os
prisioneiros em perfeita posse de seus corpos. uma grande
injustia. Proponho que esses prisioneiros recebam raes
alimentares proporcionais quantidade de corpo que ainda
possuem. - Gheorghiu
De probabilidade Se h apenas uma verdade, um caminho para ir ao cu, que
28
esperana haver de que mais pessoas a ele sero conduzidas, se
no tm outra regra alm da religio do prncipe e -lhes imposta a
obrigao de abandonar a luz de suas prprias razes... o estreito
caminho ficaria muito apertado; um nico pas teria a verdade...
Locke.
Estudaremos agora o conjunto de argumentos baseados na estrutura do real.
2.3.2 Os argumentos baseados na estrutura do real
Os argumentos baseados sobre a estrutura do real so aqueles que se utilizam da realidade
para criar vnculos entre dados admitidos e os que se quer justificar. Para agir desta forma, criam-
se ligaes de sucesso (causa e efeito) ou de coexistncia entre certos elementos permitindo que
se sustente sobre eles uma argumentao. Os argumentos que estudaremos nesta categoria so: de
vnculo causal, de desperdcio, de direo, de superao, pragmtico, de autoridade, de hierarquia
dupla e de diferena entre grau e ordem. Falaremos brevemente de cada um deles.
Temos trs formas principais de manifestao do argumento de vnculo causal. A primeira
diz respeito relao entre dois acontecimentos, a segunda quando se pode argumentar a partir da
causa de um fato e a terceira quando se faz o mesmo a partir do efeito. Este tipo de argumento
guiado pela racionalidade dos atos humanos, assim, opera com reaes, causas e efeitos
esperados pelo racional.
Os argumentos de desperdcio postulam que mais vantajoso terminar algo que j se
comeou, neste sentindo, o argumento pode referir-se no somente ao que uma pessoa iniciou,
mas sim ao ato que j vem sendo praticado pela sociedade, cabendo a cada um apenas dar
continuidade.
J nos argumentos de direo temos um caminho a ser seguido para a busca de um
objetivo. Desta forma, se desejamos chegar de A a C, devemos levar em conta B, que o
caminho pelo qual devemos passar para facilitar a concluso C. Atravs deste argumento
podemos decompor um fim em pequenas metas que levaro a ele.
Enquanto isso, o argumento de superao insiste que se deve ir cada vez mais longe. Um
exemplo para este argumento a expresso popular quanto mais, melhor. Neste tipo de
29
argumentao a importncia maior est menos na direo final do que se aponta e mais nos
valores que ela pode dar aos temas que realmente interessam ao debate.
A utilizao dos argumentos pragmticos feita para valorizao ou desvalorizao de
um ato de acordo com suas consequncias. Temos para estes argumentos as exemplificaes, a
desvalorizao de uma norma, ao mostrar que ela deriva de um costume primitivo do homem,
porque ele descende dos animais; a valorizao dos filhos, em razo da nobreza dos pais.
(PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005: 302).
Nos argumentos de autoridade h a utilizao de atos ou dizeres de uma pessoa ou meio,
que pode ser tomado como modelo, para justificar outros procedimentos. Freitas (2002) coloca
que este tipo de argumento normalmente utilizado para complementar uma argumentao e que
uma mesma autoridade pode ser valorizada ou desvalorizada de acordo com a opinio do locutor.
Apesar de fazer parte dos acordos que norteiam o discurso, as hierarquias tambm servem
como forma de argumentao. Assim, atravs dos argumentos de hierarquia dupla o locutor
questiona o posicionamento dos termos dentro de uma escala. Estes argumentos so mais
importantes quando os elementos da hierarquia no podem ser mensurados de maneira exata.
A ltima forma de argumentao baseada na estrutura do real que estudaremos a dos
argumentos que apresentam a diferena entre grau e ordem dentro de uma hierarquia. Antes de
explic-lo vamos entender os dois conceitos expostos: no caso da ordem temos uma situao na
qual h uma ruptura entre um estado atual para o outro; j o grau trata de termos pertencentes a
uma mesma ordem com diferentes posies em termos de escala.
Quando estes termos se relacionam temos uma argumentao que pode ser explicada da
seguinte maneira:
A introduo de consideraes relativas ordem, resultem elas de oposio entre uma diferena de grau e uma diferena de natureza, ou entre uma diferena
de modalidade e uma diferena de princpio, tem o efeito de minimizar as
diferenas de grau, de igualar mais ou menos os termos que s diferem entre si
pela intensidade e de acentuar o que os separa de termos de outra ordem. Em
contrapartida, a transformao de diferenas de ordem em diferenas de grau
produz o efeito inverso; ela aproxima, uns dos outros, termos que pareciam
separados por uma barreira intransponvel e ressalta a distncia entre os graus. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005:392).
30
Desta forma, podemos misturar concepes de ordem e de grau, buscando uma concluso
diferente, como exemplos temos a mistura entre a ordem do espiritual e do material, em que se
colocam itens destes grupos dentro de um mesmo conjunto, mas com graus diferentes.
A seguir temos a grade de exemplos:
Grade 2 Exemplos de argumentos baseados na estrutura do real
De vnculo causal ... uma metade de Roma pretende que Guido Franceschini estava
dormindo no momento da partida da sua mulher, porque esta o
havia drogado; a outra metade de Roma sugere que Guido
simulava o sono, para no ter de intervir. Perelman & Olbrechts-
Tyteca sobre a utilizao dos argumentos no livro The ring and the
book, de R. Browning.
De desperdcio ... porque nos lembramos que isso proporciona satisfao e prazer
ao Senhor do jardim... - Santa Teresa lembrando os benefcios da
orao, para afirmar que as pessoas devem continuar a rezar
mesmo nas dificuldades.
De direo Devemos dizer ento que as reflexes do agente sobre a maneira
inteligente de comportar-se exigem que ele reflita primeiro na
melhor maneira de refletir sobre o modo de agir? G. Ryle
De superao Que estejamos em maior segurana hoje, no s eu admito, mas
at pretendo que as perspectivas melhoram dia a dia, e que essa
segurana est cada vez mais garantida. Pitt
Pragmtico Jamais se poder estabelecer ou salvaguardar nem a paz, nem a
segurana, nem sequer a simples amizade entre homens, enquanto
prevalecer a opinio de que o poder fundamentado sobre a Graa
e de que a religio deve ser propagada pela fora das armas.
Locke
De autoridade Mas ela sabe ler, no ? Est em todos os jornais. Fun Fare.
De hierarquia
dupla
Enquanto apraz aos brbaros viver sem se preocupar com o
amanh, os nossos desgnios devem considerar a eternidade dos
31
sculos. Ccero
De diferena entre
grau e ordem
H animais intermedirios entre as plantas e os animais com as
esponjas marinhas, fixas como as plantas, porm sensveis,
maneira dos animais. H o macaco, que no se sabe se bicho ou
homem; h a alma intelectiva intermediria entre o temporal e o
eterno. Pomponazzi
2.3.3 Os argumentos que fundam a estrutura do real
Os elementos que fundam a estrutura do real so aqueles nos quais se parte de um caso
especfico para se criar uma premissa que ser tomada como vlida para todas as situaes.
Perelman & Olbrechts-Tyteca (op. cit.) colocam como argumentos que fundam a estrutura do
real: o exemplo, a ilustrao, o modelo e a analogia.
Os argumentos que fazem uso do exemplo permitem que se estabeleam comparaes
entre dados, ou seja, generalizaes. Assim, os exemplos so encarregados de fundamentar certo
conceito. Sua utilizao feita a partir da mostra de vrios casos particulares que podem servir
para que se faa uma deduo do caso que se deseja comprovar.
A ilustrao tambm se liga aos casos particulares, mas serve para reforar uma regra que
j conhecida pelo auditrio, ela age fornecendo casos particulares que esclarecem o enunciado
geral, mostram o interesse deste atravs da variedade das aplicaes possveis, aumentam-lhe a
presena na conscincia. (PERELMAN & OLBRECHS-TYTECA, 2005:407).
J os modelos constituem-se em condutas dignas de imitao. Podem servir como
modelos: pessoas, grupos e pocas. Tais entidades esto sujeitas ao controle e, se fogem das
regras tidas como aceitas pela sociedade, podem ser condenadas por esta. O conceito de modelos
tambm origina o antimodelo, que vem a ser aquilo que no deve ser imitado. Rauen (2008)
lembra que podem ocorrer problemas quando o modelo apresenta pontos errneos e o antimodelo
possui virtudes; o que quase sempre ocorre quando se trabalha com o meio social.
Tambm pertencente categoria dos argumentos que fundam a estrutura do real, temos a
analogia. Ela se refere ao emprego de semelhanas estrutural entre dados de forma que o dado A
esta para o B assim como C est para D. Para melhor compreender estes argumentos utilizaremos
32
o argumento aristotlico: Assim como os olhos do morcego so ofuscados pela luz do dia, a
inteligncia da nossa alma ofuscada pelas coisas mais naturalmente evidentes.
Partindo deste exemplo podemos evidenciar os elementos que formam a analogia: o tema
e o foro. O tema o conjunto no qual se encontra a concluso e, no exemplo, eles so
inteligncia da alma e evidncia; j o foro so os termos que servem para dar base ao
raciocnio, sendo olhos do morcego e luz do dia. Desta forma podemos observar que o foro
serve como ponto de partida para a concluso tirada sobre o tema.
Vejamos agora mais exemplos para os argumentos que fundam a estrutura do real:
Grade 3 Exemplos de argumentos que fundam a estrutura do real
Exemplo Assim como a nica maneira de demonstrar respeito por aquele
que sofre de fome dar-lhe de comer, assim tambm o nico meio
de demonstrar respeito por aquele que se ps fora da lei reintegr-
lo lei submetendo-o ao castigo que ela lhe prescreve. S. Weil
Ilustrao As dificuldades que revelam os homens. Assim, quando
sobrevm uma dificuldade, lembra-te de que Deus, como um
professor de ginsio, fez-te enfrentar um jovem e rude parceiro.
Epicteto
Modelo O macaco imita o homem, que ele teme, no imita os animais, que
despreza; julga bom o que feito por um ser melhor que ele.
Rousseau
Analogia O homem, comparado a divindade, to pueril quanto a criana
comparada ao homem. Herclito
Ao finalizar a discusso sobre os argumentos que fundam a estrutura do real, acabamos as
tcnicas pertencentes categoria de ligao. Portanto, no prximo tpico estudaremos a nica
tcnica pertencente categoria de dissociao e que recebe o mesmo nome desta.
33
2.3.4 Os argumentos de dissociao
O ltimo caso a ser apresentado so as tcnicas de dissociao que consistem em negar
alguma coisa tomando como base sua incompatibilidade com outras circunstncias utilizando o
mtodo da distino e diferenciao entre pares, como por exemplo, meio e fim, ocasio e causa,
relativo e absoluto e, principalmente o par realidade e aparncia. Como exemplo desta forma,
tem-se a seguinte explicao:
O basto, parcialmente mergulhado na gua, parece curvo, quando o olhamos, e
reto, quanto o tocamos, mas, na realidade, ele no pode ser simultaneamente
curvo e reto. Enquanto as aparncias podem opor-se, o real coerente: sua
elaborao ter como efeito dissociar, entre as aparncias, as que so enganosas
das que correspondem ao real. (PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA,
1996:472)
Este exemplo mostra que alguns pares podem ser confundidos, cabendo ao locutor
encontrar uma argumentao que os dissocie e assim chegue concluso almejada. Os casos de
dissociao exigem sempre a presena de dois meios que podem levar a relao de inverso de
valores ou fazer com que haja a valorizao de um caso em relao ao outro.
Segue abaixo a tabela com outro exemplo para os argumentos de dissociao:
Grade 4 Exemplo de argumento de dissociao
Dissociao ... tratar a afirmao de um ideal como uma descrio de fatos e
interpretar relatrios sobre situaes reais como se elas fossem o
ideal a ser buscado. McKeon
Com isto acabamos a explanao sobre as tcnicas argumentativas e os tipos de
argumento. Portanto, passaremos ao estudo dos modos atravs dos quais estes argumentos podem
se interagir em um discurso.
2.4 A interao dos argumentos no discurso
As formas argumentativas estudadas podem ser utilizadas em conjunto dentro de um
mesmo discurso, no que Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) denominam interao de
34
argumentos. Segundo este ponto de vista, uma argumentao deve agir de acordo com o
auditrio, ou seja, verificar quais os argumentos causam mais impacto sobre eles, pois aqueles
considerados bons por uma plateia pode no satisfazer outra.
A partir deste pressuposto, o locutor pode orientar sua combinao de argumentos,
segundo o que se denomina fora dos argumentos e esta certamente vinculada, de um lado,
intensidade de adeso do ouvinte s premissas, inclusive s ligaes utilizadas, de outro,
relevncia dos argumentos do debate em curso. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA,
2005:524).
Os autores afirmam ainda que um argumento s forte se for eficaz, assim, mentiras
podem ser usadas para justificar ideias se elas forem eficazes para aquele grupo; ou o locutor
pode usar argumentos nos quais nem ele acredita se estes forem teis para persuadir o auditrio.
Ainda sobre a interao dos argumentos temos duas posturas que merecem ser detalhadas:
a convergncia de argumentos e a amplitude da argumentao. A convergncia ocorre quando um
grande nmero de argumentos de diferentes categorias utilizado para comprovar uma mesma
afirmao, esta atitude fortalece a argumentao. No entanto, a convergncia demasiada de
argumentos pode gerar desconfiana no auditrio.
O mesmo pode ocorrer com a amplitude da argumentao. Neste caso, o locutor deve
prestar ateno extenso de seu discurso, pois quanto maior, maiores so as chances de se
cometer um erro. Os paliativos para este perigo so: renncia ao argumento fraco, uso de
reticncias, o anncio inconclusivo do argumento, declarao de solidariedade, uso de concesses
ao adversrio e negao. (RAUEN, 2008)7.
Para finalizar este tpico veremos brevemente os modos pelos quais os argumentos
podem se ordenar, de acordo com Perelman & Olbrechts-Tyteca (op. cit.) eles so: a de fora
crescente, na qual se comea com argumentos fracos que vo progredindo, mas que pode indispor
o auditrio; a de fora decrescente, que comea com argumentos fortes e vai caminhando para os
fracos, podendo causar uma impresso final negativa; e a ordem nestoriana, na qual se comea e
se acaba com argumentos fortes, sendo considerada a mais adequada.
7 Artigo extrado de http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/00_tratado_argumentacao.php, sem a utilizao de
numerao nas pginas. Acessado em 7 jul. 2009.
35
2.5 Consideraes finais
A partir desta base terica e metodolgica poderemos aplicar os conceitos da teoria da
argumentao no jornalismo opinativo. Tal aplicao j vem sendo desenvolvida por outros
pesquisadores tanto da rea da lingustica quanto da comunicao, como exemplo podemos citar
os trabalhos de Freitas (2002) e Pereira & Rocha (2005)
Gostaramos antes de alertar para o fato de que esta explanao no pretende esgotar
todos os conceitos desenvolvidos pelos autores. Assim, optamos ainda por no desenvolver
algumas formas de argumentao, por serem pouco utilizadas e requerem uma anlise mais
aprofundada, fugindo do grau de complexidade deste trabalho. Deste modo, privilegiamos os
pontos que consideramos mais viveis para a anlise do gnero jornalstico opinativo.
Embora a teoria estudada possa fornecer bons critrios de anlise, devemos ressaltar que,
como afirmam Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005), h inmeras dificuldades em se analisar os
esquemas argumentativos de um discurso, visto que as palavras do orador podem estar sujeitas a
vrias interpretaes. Alm disso, Pereira & Rocha (2006) lembram que a argumentao vai alm
do prprio discurso, pois ao receber as informaes passadas pelo locutor, o auditrio elabora em
sua mente outros argumentos.
No entanto, nos deteremos neste trabalho ao estudo do discurso em si e no na recepo
dos argumentos por parte do auditrio. Portanto, apesar das dificultadas citadas por Perelman &
Olbrechts-Tyteca (2005), tentaremos, da melhor forma possvel, compreender as situaes
argumentativas no discurso dos artigos do jornalismo opinativo. Como no ser feito um estudo
de recepo, ser impossvel estabelecer quais argumentos so fortes e fracos, portanto, no
julgaremos os artigos quanto ordem da argumentao, deixaremos este caminho em aberto para
futuras pesquisas que trabalhem mais com o pblico-alvo dos artigos.
Em posse do material podemos seguir para o prximo captulo, no qual faremos a anlise
do corpus, tanto do ponto de vista das categorias do gnero jornalstico opinativo quanto das
teorias da argumentao. Desta forma, procuraremos contribuir para o aprofundamento das
pesquisas na rea e para a melhor compreenso jornalismo opinativo dentro da imprensa
brasileira.
36
CAPTULO 3 OS ARTIGOS DE HLIO SCHWARTSMAN SOB A
LUZ DA NOVA RETRICA
3.0 Consideraes iniciais
Antes de iniciarmos a anlise do discurso de Hlio Schwartsman com base nos preceitos
da Nova Retrica, cabe fazer algumas consideraes sobre a adoo do gnero artigo para este
corpus. Os textos do autor, publicados no caderno online Pensata, so assinados e refletem uma
opinio pessoal sobre assuntos que interessam ao momento histrico em que vivemos. Desta
forma, observamos em seus textos as duas principais caractersticas dos artigos, que so a
atualidade e a opinio pessoal.
No entanto, estas tambm podem ser vistas em outros gneros. Portanto, citaremos
brevemente os motivos que levam o corpus a no se encaixar dentro destas outras formas.
Comearemos pelo editorial, ele o mais prximo do artigo,no entanto, feito anonimamente e
reflete a opinio de uma empresa e no de uma pessoa, o que no ocorre em nosso corpus.
A primeira vista tambm podemos eliminar os gneros carta (ou opinio do leitor) e
caricatura (ou opinio ilustrada), visto que os textos so puramente lingusticos e escritos por uma
pessoa ligada mdia em questo. Tambm no figura no discurso de Hlio Schwartsman o vis
literrio tpico da crnica e nem a anlise de produtos culturais, como acontece na resenha.
Restam-nos os gneros coluna e comentrio. O termo coluna o que desperta mais
dvidas quando tomado na noo cotidiana. Porm, devemos lembrar que seguimos os conceitos
elaboradores por Melo (2003), que a define como um espao destinado ao lanamento de notas
sobre fatos recentes que ainda no foram devidamente especulados, o que a diferencia do corpus.
J o comentrio eliminado pelo fato de no possuir uma opinio explcita. Alm disso,
ele deve ser associado a uma notcia, o que nem sempre ocorre nos textos de Schwarstman.
Embora o autor tome como premissa, em alguns artigos, dados factuais, estes ensejam discusses
que se encontram mais ligadas a concepo de atualidade do artigo do que a de notcia.
Com esta explanao satisfazemos o critrio de eliminao para as classificaes quanto
aos gneros, restando-nos apenas o artigo. Podemos agora refletir sobre quais modalidades de
artigos esto presentes no nosso corpus: se de divulgao cientfica ou doutrinrios e se ensaios
37
ou artigos (subdiviso do gnero que homnima a ele). Faremos isto no prximo tpico, aps
apresentarmos sinteticamente o assunto de cada um dos artigos que compe o corpus.
3.1 Apresentao do corpus
Para que possamos conhecer melhor os artigos a serem estudados, falaremos brevemente
sobre o assunto abordado por cada um deles, situando-os dentro do contexto scio-histrico no
qual foram publicados.
Na primeira coluna apresentamos o ttulo e a data de publicao dos artigos, enquanto na
segunda podemos encontrar a temtica associada e o contexto na qual se desenvolve.
Grade 5 Apresentao do Corpus
Cincia sob ataque
31/01/2008
Temtica: defesa de pesquisas cientficas atravs da
distino entre cincia e religio.
Contexto: o artigo divide-se em duas situaes, a defesa do
ensino do criacionismo, feita pela ministra Marina Silva; e a
proibio de um estudo que visa rastrear o crebro de
criminosos, buscando marcas que levem violncia.
A f na cincia
07/02/2008
Temtica: distino entre cincia e religio.
Contexto: elaborado devido s crticas recebidas pelo artigo
anterior (Cincia sob ataque).
Tudo relativo
21/02/2008
Temtica: origens do relativismo das opinies, tomando
com exemplo casos do Oriente Mdio.
Contexto: o artigo parte das declaraes feitas sobre Imad
Mughniyah, proclamado mrtir pelos xiitas e terrorista pelos
norte-americanos, para ento comentar sobre como as
pessoas podem adotar opinies diversas.
O prazer de perdoar
05/03/2008
Temtica: crtica sobre a postura da igreja diante de
determinadas pesquisas cientficas.
Contexto: os embates sobre a constitucionalidade ou no
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das pesquisas com clula-tronco do origem ao artigo que
parte tambm para questes como o aborto e a noo de vida
adotada pela igreja.
Clima de Guerra
13/03/2008
Temtica: o artigo discute ideias relativas linguagem,
como a hiptese de Sapir-Whorf.
Contexto: o mote para o artigo o uso da linguagem nas
discusses entre governos latino-americanos. No entanto,
este pretexto no ganha importncia no decorrer do texto, s
servindo mesmo para iniciar a discusso.
O caso Isabella
17/04/2008
Temtica: o autor trata dos motivos que levam uma criana
a ser mais comovente que um adulto.
Contexto: desejo das pessoas em saber sobre o assassinato
da menina Isabella Nardoni, que causa mais revolta do que o
assassinato de um adulto.
O no to livre arbtrio
01/05/2008
Temtica: consideraes acerca dos fatores que podem
influenciar as decises humanas, fazendo com que estas no
sejam tomadas to livremente quanto se pensa.
Contexto: para este artigo o autor no parte de nenhum
dado factual, apenas questiona se o homem ou no livre.
De um modo geral os artigos analisados apresentam inicialmente uma breve explanao
sobre o assunto a ser discutido, seguido por uma argumentao, de acordo com os ideais do autor,
que enseja um posicionamento final para a concluso.
Observando a tabela apresentada e a estrutura dos artigos, podemos verificar que, na
maioria dos casos, eles partem de premissas factuais para abrir discusses que ainda vigoram na
sociedade. Assim, os dados no so vistos sob uma tica do passado, o que no nos fornece uma
abordagem definitiva do tema. Isto seria necessrio para a classificao do gnero artigo em
ensaio. Alm disso, a extenso dos artigos pequena para que os categorizemos como ensaios.
Desta forma, definimo-los como artigos (a subdiviso), onde o discurso marcado por
uma menor extenso em relao ao ensaio e se pauta mais pela opinio, o conhecimento e a
sensibilidade do articulista.
39
Quanto esquematizao entre doutrinrios e cientficos, podemos observar que, apesar
do lao com a cincia mostrado em alguns dos artigos, todos eles tratam de uma questo atual
mostrando um ponto de vista sobre elas, o que os pe na categoria dos doutrinrios. No entanto,
os artigos Cincia sob ataque e o Prazer de perdoar apresentam fortes traos de divulgao
cientfica, pois abordam tcnicas cientficas consideradas atuais, colocando ao leitor um modo de
pensar sobre elas.
Tendo em mos estes dados e tambm lembrando que os artigos se encontram disponveis
ao final desta pesquisa, podemos dar incio anlise da argumentao presente praticada nos
artigos de Hlio Schwartsman.
3.2 Aplicao das teorias da argumentao
Para a anlise do corpus optamos pela subdiviso em artigos e no em teorias. Este
procedimento foi adotado para que pudssemos analisar separadamente as especificidades de
cada artigo e, ao final, pudssemos comparar os elementos mais marcantes no discurso de um
modo geral. Lembramos que para a anlise sero utilizadas apenas as teorias j descritas e que,
por isso, nem todos os pontos de uma anlise retrica da argumentao podero ser cobertos.
Assim, dentro de cada item deste captulo, que receber o nome do artigo do qual ir
tratar, estudaremos a utilizao da teoria da argumentao de Perelman & Olbrechts-Tyteca
(2005), conforme apresentada no corpo deste trabalho. Somente teremos como exceo o estudo
da interao argumentativa, pois optamos por trat-lo na concluso, j que esta teoria requer uma
verificao dos dados obtidos na anlise e oferece um meio de interpretao dos artigos.
3.2.1 Cincia sob ataque8
O artigo possui dois caminhos de argumentao: no primeiro, o autor busca defender a
realizao de um experimento cientfico gacho, que visa rastrear o crebro de criminosos para
detectar variaes que determinam o carter do indivduo. J no segundo, procura-se mostrar que
investidas a favor do ensino do criacionismo vo contra a cincia e so at mesmo
inconstitucionais. Os dois casos tm como inteno comum a defesa da cincia.
8 O artigo refere-se ao Anexo 1 e encontra-se na pgina 58.
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Como premissa para iniciar a argumentao, podemos citar a presuno de que a cincia
til para a sociedade e os fatos de que determinados agentes sociais posicionam-se contra alguns
avanos na rea cientfica, no caso, a ministra Marina Silva e o grupo que contra o experimento
neurolgico. Ambas encontram-se na categoria das premissas relativas ao real, o que pode ser
compreendido pela dimenso universal do auditrio de Hlio Schwartsman.
Quanto aos argumentos utilizados para a defesa do experimento gacho, podemos notar
quatro pontos centrais. No primeiro temos o argumento pelo sacrifcio, pois o autor avalia as
consequncias do experimento e as toma como positiva. Este caso pode ser observado na seguinte
amostra:
E, por mais intransigentes que possamos ser na defesa da vida e da pluralidade humanas, nada justifica deixar de realizar um estudo cujos
protocolos ticos se mostrem adequados (...). Ele no implica nenhum risco
pondervel para as "cobaias" e s ocorrer se os pesquisadores obtiverem o
consentimento esclarecido dos jovens (...) ou responsveis e tambm a
autorizao da Justia.
Em seguida vemos um argumento de superao, isto ocorre quando o autor critica toda
pessoa que se oponha realizao de um experimento capaz de ampliar nosso conhecimento,
ou seja, deve-se buscar cada vez mais sabedoria e o bloqueio desta superao algo condenvel.
No prximo argumento a postura daqueles que vo contra o experimento criticada
abertamente, pois se afirma que a pesquisa deve ser criticada aps seu resultado, segundo o
mtodo cientfico, e no antes de sua execuo. Desta forma, temos um argumento de hierarquia,
pois o rigor cientfico colocado em uma escala superior as outras formas de crtica. O que
podemos ver na frase que critiquem, como convm ao mtodo cientfico, os resultados do
experimento, no sua realizao.
No ltimo caso temos uma argumentao atravs do antimodelo, nesta situao o autor
diz q