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Guilherme Correa Luz Motta JORNALISMO ESPORTIVO E FUTEBOL: A REPRESENTAÇÃO DO GOLEIRO NO JORNAL ZERO HORA Santa Maria, RS. 2017

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Guilherme Correa Luz Motta

JORNALISMO ESPORTIVO E FUTEBOL:

A REPRESENTAÇÃO DO GOLEIRO NO JORNAL ZERO HORA

Santa Maria, RS.

2017

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Guilherme Correa Luz Motta

JORNALISMO ESPORTIVO E FUTEBOL:

A REPRESENTAÇÃO DO GOLEIRO NO JORNAL ZERO HORA

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Jornalismo, da área de Ciências

Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para a obtenção de grau

de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Gilson Luiz Piber da Silva

Santa Maria,RS

2017

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Guilherme Correa Luz Motta

JORNALISMO ESPORTIVO E FUTEBOL:

A REPRESENTAÇÃO DO GOLEIRO NO JORNAL ZERO HORA

Trabalho Final de Graduação (TFG) apresentado ao Curso de Jornalismo – Área de Ciências

Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Jornalismo.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Dr. Gilson Luiz Piber da Silva

___________________________________________

Prof. Dr. Maicon Elias Kroth

___________________________________________

Prof. Me. Alexandre Maccari Ferreira

Aprovado em ....... de ..............................de 2017

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho final de graduação aos meus pais, irmã e cunhado e cachorros.

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AGRADECIMENTOS

Admito que entrei no curso de jornalismo com a mente muito pequena, não via as

minorias e era, muitas vezes, preconceituoso e arrogante com meus colegas. Falando em

colegas, muitos passaram pela minha vida, porém poucos marcaram. Os que entraram em

2013 junto comigo são os que mais guardo carinho. Laíz, que desde a época de cursinho já

conhecia, porém foi na faculdade que veio a se tornar uma das pessoas mais importantes

dentro do curso, mesmo que com algumas brigas, sempre tentou me ajudar. Como não falar

do cara de coração gigante e imensa inteligência, Pedro, o cara mais espalhafatoso da Unifra,

mas que com o passar dos anos se tornou um grande amigo que pretendo levar para fora da

vida acadêmica. Além disso, descobri um primo escondido pelos corredores do sétimo andar.

Cursava um curso diferente do meu, mas o Francesco foi e é um cara muito importante, na

maioria das vezes, minha ida ao laboratório era para conversar futebol e falar bobagem, mas a

amizade se criou facilmente. Iuri Patias, mais um dos que merecem ser citados por mim. É

daquelas pessoas sempre de bom humor, além de muito inteligente, me fez ser uma pessoa

diferente, me ajudando no crescimento como pessoa. O pequeno grande homem, Lorenzo, que

escapou de tomar um laço um dia e se tornou um grande amigo. Júlia, Miojo, Helena e toda

uma galera que foi muito importante para mim ao longo desta vida acadêmica.

Agora a vez de agradecer aqueles de fora da faculdade, os manos Bruno orelha,

Wilson, Dudu, Dois e Balão, este que sempre esteve junto nas horas boas e ruins. Tenho que

agradecer também a amizade de anos da Leti, que desde o Cilon me perturba e me atura,

mesmo com as minhas loucuras diárias. Falar de amigos é sempre lembrar daqueles da antiga,

Bruno Vieira, o cara que nunca deixei de ter contato, passou por poucas e boas e agora colhe

os frutos de muito suor e dedicação, tu merece tudo de bom, mano. Por fim, agradecer ao

amigo que sempre me apoiou e sempre quis ver meu crescimento profissional e pessoal,

Henrique Schwanck Saraiva, o Xuenki, bom mano, não tenho palavras para descrever o tão

importante tu é pra mim, muito obrigado pela tua amizade de sempre.

Por fim, falar da importância da base de tudo, a família, meus pais Glênio e Soneide,

pelo apoio e amor incondicional, relevando muitas vezes meus erros. Além deles minha irmã,

a pessoa que mais admiro nesse mundo e que sempre me ajudou com qualquer coisa que eu

precisei. Meu cunhado Léo, que assim como minha irmã, sempre se dispôs a me ajudar da

melhor maneira.

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“O futebol não é uma questão de vida ou de morte.

É muito mais importante que isso...”

Bill Shankly

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RESUMO

O assunto mais falado pelos brasileiros em conversas informais e um dos maiores

investimentos do país, o futebol foi o tema escolhido para esta pesquisa. A posição “mais

ingrata de todas”, a de goleiro, aquela que pode determinar o resultado de uma partida, tanto

com uma defesa ou uma falha, este foi o objeto analisado. Este trabalho procurou analisar a

representatividade do goleiro no Jornal Zero Hora. Através da análise de reportagens,

buscamos saber se a forma de representar o goleiro se parece com o restante das posições

futebolísticas, por meio de expressões e frases contidas nos títulos, subtítulos e trechos dos

materiais da editoria esportiva de ZH. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve como

técnica a Análise de Conteúdo. Os materiais analisados que continham o tema central goleiro

foram selecionados entre janeiro de 2016 e outubro de 2017. Obtivemos a conclusão de que

das 15 publicações analisadas, 11 continham elogios ao goleiro, 1 continha crítica e as

restantes não possuíam elogios ou críticas em relação ao goleiro.

Palavras-Chave: Jornalismo Esportivo, Jornal Zero Hora, Futebol, Goleiro, Jornalismo

Impresso.

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ABSTRACT:

The most talked subject by brazilians in informal conversations and one of biggest

investments in the country, soccer was the chosen theme for this research. The most

ungrateful position of all, that which can determine the outcome of a match, either with a

defense or a fault, this is the analyzed object. This work sought to analyze the

representativeness of the goalkeeper in Jornal Zero Hora. Through reports analysis, stories

and interviews, to determine how the represented form of the goalkeeper looks like to the rest

of the soccer positions, through expressions and phrases contained in the titles, subtitles and

stretchs of the materials. This is a qualitative research that has the Content Analysis as a

technique. The materials analyzed that contained the goalkeeper central theme were selected

between January 2016 and October 2017.

Key Words: Sports Jornalism, Zero Hora, Soccer, Goalkepper, Printed Jornalism

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Título reportagem Keiller................................................................................... 28

Figura 2 – Subtítulo reportagem Keiller.............................................................................. 28

Figura 3 – Título reportagem Lúcio..................................................................................... 30

Figura 4 – Subtítulo reportagem Lúcio................................................................................ 30

Figura 5 – Título reportagem Luiz....................................................................................... 32

Figura 6 – Título reportagem goleiros Internacional............................................................ 33

Figura 7 - Título Reportagem Fábio...................................................................................... 34

Figura 8 - Título reportagem Paulo Victor............................................................................. 35

Figura 9 – Subtítulo reportagem Paulo Victor........................................................................ 35

Figura 10 – Box da reportagem Paulo Victor......................................................................... 35

Figura 11 – Título reportagem Danilo Fernandes.................................................................. 37

Figura 12 – Subtítulo reportagem Danilo Fernandes............................................................. 37

Figura 13 – Título entrevista Alisson..................................................................................... 39

Figura 14 – Abertura entrevista Alisson................................................................................. 39

Figura 15 – Subtítulo entrevista Alisson................................................................................ 39

Figura 16 – Título reportagem Grohe x Atlético-PR............................................................. 40

Figura 17 – Subtítulo reportagem Grohe x Atlético-PR......................................................... 40

Figura 18 – Título reportagem Leo......................................................................................... 41

Figura 19 – Subtítulo reportagem Leo.................................................................................... 41

Figura 20 – Título entrevista Magrão..................................................................................... 42

Figura 21 – Abertura entrevista Magrão............................................................................... 42

Figura 22 – Título reportagem Grohe Brasileirão................................................................... 44

Figura 23 - Título reportagem Grohe Brasileirão................................................................... 44

Figura 24 – Abertura reportagem Grohe Brasileirão............................................................. 44

Figura 25 - Abertura reportagem Grohe Brasileirão............................................................... 44

Figura 26 – Título reportagem Matheus x Inter..................................................................... 46

Figura 27 – Título reportagem Matheus x Inter..................................................................... 46

Figura 28 – Subtítulo reportagem Matheus x Inter................................................................. 46

Figura 29 – Título reportagem Paulo Victor II....................................................................... 47

Figura 30 – Título reportagem defesa Grohe.......................................................................... 48

Figura 31 – Subtítulo reportagem defesa Grohe..................................................................... 48

Figura 32 – Box reportagem defesa Grohe............................................................................. 48

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO A – Entrevista feita com o editor de Esportes do Jornal Zero Hora Diego

Araújo.................................................................................................................................. 53

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11

2 O JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL........................................................... 13

3 O FUTEBOL COMO FENÔMENO SOCIAL........................................................... 15

4 A VIDA DE GOLEIRO................................................................................................. 17

5 O ESPORTE NO JORNAL ZERO HORA................................................................. 21

6 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO ESPORTE........................................................... 23

7 PERCURSO METODOLÓGICO............................................................................... 25

7.1 PESQUISA DO OBJETO......................................................................................... 26

8 ANÁLISE........................................................................................................................ 28

8.1 KEILLER SEGURA O SONHO DO HEPTA.......................................................... 28

8.2 DUREZA NOS TREINOS, DIVERSÃO NOS JOGOS........................................... 30

8.3 SÃO LUIZ................................................................................................................. 32

8.4 A MALDIÇÃO DA CAMISA 1............................................................................... 33

8.5 FALHA, ABANDONO E FIM DE PAPO PARA O GOLEIRO............................. 34

8.6 PAULO VITOR, UMA SOMBRA PARA GROHE................................................ 35

8.7 A VOLTA DO GOLEIRO VALENTE.................................................................... 37

8.8 “ESTA FOI UMA TEMPORADA PARA EXERCITAR A PACIÊNCIA”............. 39

8.9 NAS QUARTAS, MAS COM MUITO DRAMA..................................................... 40

8.10 A MAIOR CHANCE DE LEO PODE SURGIR NO CLÁSSICO......................... 41

8.11 UM GOLEIRO INTERMINÁVEL......................................................................... 42

8.12 SENHOR BRASILEIRÃO...................................................................................... 44

8.13 “FIQUEI A NOITE DE SEXTA VENDO PÊNALTIS DO INTER”...................... 46

8.14 “FIZ DE TUDO PARA VIR PARA O GRÊMIO.................................................... 47

8.15 A DEFESA QUE GANHOU O MUNDO................................................................ 48

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 52

ANEXO.................................................................................................................................. 53

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1 INTRODUÇÃO

O futebol... amado por muitos e odiado por poucos, o esporte criado oficialmente

pelos ingleses, durante o século XIX, atualmente é a modalidade mais popular do mundo. No

Brasil, a discrepância entre o futebol e qualquer outro esporte é maior do que no restante do

mundo. O brasileiro aprende a viver o futebol desde criança. Seja por influência familiar ou

de amigos, muitos dos jovens hoje em dia sonham em ser jogador de futebol.

Por inúmeros motivos, o futebol é a paixão do brasileiro, seja pela sua popularidade ou

pela importância criada ao longo do tempo, contudo, o esporte não é unanimidade entre a

população. As maiores críticas sobre o futebol giram em torno da quantidade de dinheiro

envolvida e da violência. A expressão mais ouvida por quem não é simpatizante do esporte é

“são só 22 homens correndo atrás de uma bola”. Porém, quem é fã do futebol, não concorda

nem um pouco com isso. A paixão pelo esporte é tanta, que William Shankly, mais conhecido

como Bill Shankly, jogador e treinador escocês foi autor de uma das frases mais impactantes

sobre futebol: “Algumas pessoas acreditam que futebol é questão de vida ou morte. Fico

muito decepcionado com essa atitude. Eu posso assegurar que futebol é muito, muito mais

importante”.

Adepto ou não do futebol, é inegável que tudo que acontece no âmbito deste esporte

mobiliza multidões e consegue parar cidades. Temos como exemplo a Copa do Mundo

realizada no Brasil em 2014. A importância dada ao evento era tanta, que pessoas eram

liberadas mais cedo do trabalho, instituições paralisavam as aulas e liberavam seus alunos,

muitas cidades fechavam seu comércio mais cedo, tudo isso para assistir a um jogo de futebol.

A mobilização não aconteceu apenas no país-sede. A final da Copa do Mundo realizada no

Brasil foi vista por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, de acordo com a FIFA.

O futebol no Brasil ainda mantém muitas peculiaridades que a sociedade traz há

muitas décadas. O preconceito racial e sexual e o machismo ainda prevalecem neste esporte

majoritariamente masculino. Devido a sua popularidade, estudiosos e leigos no assunto

analisam a posição de maior dificuldade dentro do futebol, e a resposta geralmente é a

mesma: o goleiro. Desde sua foi introdução no futebol, é ele quem mais sofre com as críticas

e com treinamentos. Além disso, durante os jogos, vimos o goleiro parado e, de repente, surge

uma bola e ele acaba sofrendo o gol, ou seja, pode passar um jogo inteiro sem fazer nada e,

em uma jogada, sair como o vilão do time. Já vimos goleiros crucificados por apenas um

lance, goleiros consagrados errando e sendo tachados de ruins.

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Com toda dificuldade que existe em ser goleiro e com a desvalorização da mídia

acerca disso, foi decidido analisar como a posição mais ingrata do futebol é representada em

um dos maiores jornais do RS. A pergunta central é “Como as reportagens esportivas do

jornal Zero Hora abordam a representação do goleiro de futebol”?

A decisão por esse tema é de fácil entendimento. Além do fato de que sou goleiro

desde minha infância e de que até hoje jogo, sou fã e atento observador de futebol, leio,

assisto e converso com amigos sobre tudo que é relacionado com o esporte. Mesmo com o

avanço da tecnologia e o aumento das reportagens on-line, decidi analisar o jornal impresso

Zero Hora, pois, além de ser o maior do Rio Grande do Sul e contar com profissionais

gabaritados, foi o primeiro meio de comunicação que utilizei para me informar sobre futebol.

O trabalho tem como objetivo geral analisar títulos e subtítulos de reportagens,

matérias e entrevistas que tenham como tema o goleiro. Para isso, foram selecionados alguns

textos das páginas esportivas do jornal Zero Hora de 2016 e 2017, para que seja possível a

análise do objeto em questão.

Para melhor detalhamento e aprofundamento do assunto, o trabalho foi dividido

através de capítulos, nos quais trazemos uma breve explicação de como funciona o jornalismo

esportivo no Brasil, o futebol como parte da sociedade, além da vida do goleiro e informações

sobre a editoria esportiva no jornal Zero Hora. Depois, vêm a análise dos materiais

selecionados e as considerações finais.

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2 O JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL

Com o crescimento do esporte, tornando-se cada vez mais global e envolvendo mais e

mais dinheiro, as empresas midiáticas se sentiram na obrigação de investir mais na área do

Jornalismo Esportivo. Para Silveira (2009), o interesse da imprensa pelo esporte é algo

recente e que o preconceito e a desvalorização acontecem por parte dos próprios jornalistas.

De acordo com a autora, o que mais prejudica o trabalho dos jornalistas esportivos é o fato de

o esporte ser algo que envolva um senso comum, ou seja, que todo torcedor é um técnico ou

especialista. Silveira (2009) defende o esporte, por envolver diversas modalidades, cada uma

com suas gírias e regulamentos. Ela observa que só existiria um modo de definir o Jornalismo

Esportivo, que é superespecializado. Sobre a dificuldade com a linguagem, Silveira (2009,

p.2) explica:

Outra complexidade do mundo esportivo é a sua linguagem própria. Linguagem essa

que, tamanha popularidade, algumas expressões são usadas no dia-a-dia, [...]

Algumas, entretanto, continuam específicas da modalidade. O jornalista precisa

saber o que é, por exemplo, um ippon, golpe de judô (SILVEIRA, 2009, p.2).

O jornalismo esportivo no Brasil teve início através do jornal esportivo O Atleta, no

ano de 1856, embora seu conteúdo com foco no condicionamento físico. Depois, alguns

jornais esportivos tiveram passagem na vida do brasileiro, entre eles, O Sport e O Sportsman.

Porém, o formato conhecido do jornalismo esportivo, foi adaptado no início do século

XX, no Rio de Janeiro, onde os jogos dos quatro grandes times do estado ganhavam evidência

nas páginas dos jornais. Em 1930, surge o primeiro jornal diário sobre esporte: o Jornal dos

Sports, que tinha todas suas publicações dedicadas ao esporte, porém, o já citado preconceito

era enfrentado com bravura, pois investir no jornalismo esportivo não era importante para

quem lidava com o jornalismo.

Até os dias de hoje o jornalismo esportivo é tratado de maneira diferente, tanto pela

população, ou até mesmo pela própria mídia. De acordo com Oliveira (2009, p.26) “as

publicações dedicadas inteiramente ao esporte nunca foram de grande força no jornalismo

esportivo impresso no Brasil. A maioria dos leitores prefere as editorias de esporte dos

principais jornais do país”.

O jornalismo nos seus tempos primórdios possui divisões para tratar de suas diferentes

demandas. Como o futebol é um assunto de interesse da população e com o passar dos anos

foi se revelando um negócio rentável, as empresas passaram a tratar o futebol de maneira

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diferente. O que seria de interesse apenas dos envolvidos diretamente, como jogadores,

treinadores, dirigentes e jornalistas, passou a ser de interesse geral da população. Com a maior

proximidade dos meios de comunicação com o futebol, a popularidade no país fez com que as

transmissões aumentassem e o esporte fosse tratado como prioridade nas empresas.

A divisão nas editorias dentro dos jornais impressos também é diferente quando o

tema é esporte. Comparado com as principais editorias, o espaço destinado ao esporte é bem

maior, além disso, a localização da editoria no jornal também demonstra sua importância,

geralmente localizada no fim do jornal, onde juntamente com as páginas iniciais, são

consideradas as mais importantes.

Mesmo com a obrigação dos jornalistas de seguirem com as regras básicas do

jornalismo, como a consulta a fontes, seguir o lead e manter um texto claro e objetivo, o

jornalista esportivo tem a possibilidade de usar sua criatividade, pois as regras de elaboração

de texto não são tão duras. Além disso, o esporte não está envolvido apenas no acontecimento

em si, como por exemplo, a cobertura de um jogo, existe o pré-jogo, o pós-jogo, além da

cobertura durante a semana, dando ênfase aos fatos de uma partida.

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3 O FUTEBOL COMO FENÔMENO SOCIAL

O futebol envolve a sociedade ao seu redor, ou seja, a cada campeonato disputado,

milhares de pessoas são movidas pelos mesmos sentimentos, de união e força. Por exemplo,

nas Copas do Mundo, a população brasileira se mobiliza em prol do mesmo objetivo, vencer.

Movimentar massas e criar a energia torcedora é um dos motivos que faz com que o futebol

seja a paixão número do Brasil. Segundo DAMATTA (1994, p.3), o futebol trouxe senso de

coletividade ao esporte brasileiro.

No Brasil o esporte como um domínio associado à competição e ao uso desinibido

do corpo teve no futebol um veículo de notável popularidade. Talvez porque o

futebol seja jogado em equipe, o que permite retomar no nível simbólico a ideia de

coletividade exclusiva, como a de uma casa de família [...] (DAMATTA, 1994, p3).

Nas questões de representação do futebol brasileiro, o autor destaca que “deste modo,

fala-se do brasileiro como esperto e malandro – aquele que sabe viver e “tirar vantagem de

tudo”- como a pessoa que tem “jogo de cintura”. Expressão que se aplica tanto a um político

populista, quanto ao bom jogador de futebol e o próprio estilo de praticar tal esporte no Brasil.

Quando se trata das dramatizações do futebol, DAMATTA (1994, p.5) diz:

É certamente por tudo isso (no caso, as representações), que o futebol tem servido

como um instrumento privilegiado de dramatização da sociedade brasileira. Primeiro

porque ele é um formidável código de interação social. De fato, o futebol ajuda uma

coletividade altamente dividida internamente a afirmar-se como uma coletividade

capaz de atuar de modo coordenado, corporadamente e de eventualmente vencer

(DAMATTA, 1994, p.5).

Ou seja, o futebol une a população, é claro que em alguns casos ocorrem brigas e

desavenças, mas o intuito desse esporte é aproximar o público que gosta da mesma

modalidade. Muitas vezes, por conta de um jogo ou de uma comemoração, desavenças e

problemas são suprimidos pelo sentimento de amor a um clube.

Outro motivo que faz com que o futebol seja a paixão nacional é o de trazer à

sociedade o sentimento de justiça, ou seja, que lá dentro do campo, todos são iguais e devem

obedecer a mesma regra, o que determina a vitória de alguma equipe é o treinamento e o

talento. “Que a aliança entre talento e desempenho pode conduzir a vitória inconteste. E, o

melhor que tudo, que as regras valem pra todos. Para os times campeões e para os times

comuns, para ricos e pobres, para negros e brancos, e para os sãos e os doentes", observa

Damatta (1994, p.17).

Ao terminar sua fala sobre dramatização, o autor explica que, indiscutivelmente

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através do futebol, que a população brasileira pode juntar os símbolos do Estado Nacional, ou

seja, o Hino e a bandeira, elementos que sempre foram praticamente restritos aos militares.

Que ainda é o futebol que traz o patriotismo para o povo. Além disso, o autor salienta que

“foi, portanto, só com o futebol que conseguimos, no Brasil, somar Estado Nacional e

sociedade” (DAMATTA,1994, p.7).

A população brasileira ainda encara o futebol de maneira violenta, tratando muitas

vezes seu rival como inimigo, levando a morte de muitas pessoas a cada clássico espalhado

pelo país.

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4 A VIDA DE GOLEIRO

Para alguns, apenas uma posição existente no futebol, para outros, uma pessoa que

pode decidir um jogo a seu favor ou contra. Todos conhecem a expressão “do céu ao inferno”,

pois bem, uma frase que evidencia a vida de quem joga embaixo das traves. O popular goleiro

é considerado por muitos que vivem no meio do futebol a posição mais ingrata para se

exercer. O valor do goleiro dentro de um time de futebol não deveria ser o mesmo de qualquer

outro jogador, pelo simples fato de que o gol é feito na goleira e quem é o encarregado de ser

seu guardião, é o goleiro.

Nas peladas de ruas, o pior jogador quase sempre acaba indo para o gol. Em outra

hipótese, os mais gordinhos também são colocados embaixo das traves. Isso acontece porque

quando pequena, a criança só pensa em poder driblar, chutar e fazer gol. Raramente ao ser

questionada, uma criança responderá que sonha em ser goleiro de futebol.

Para quem acha que é fácil ser goleiro, está muito enganado. O arqueiro é o primeiro a

chegar para o treino e possivelmente o último a sair. Realiza o treinamento físico da mesma

maneira que qualquer atleta e ainda são somados no seu dia-a-dia treinamentos específicos de

velocidade, agilidade, saltos e cruzamentos, tudo feito de forma exaustiva e intensa. Para se

ter a real noção da importância de treinamentos especiais aos goleiros, em 1973 surgiu o

primeiro preparador de goleiros do mundo, e foi no Brasil. Valdir Joaquim de Moraes

começou no Palmeiras e chegou a ser o preparador de goleiros da seleção brasileira.

Ter o título de posição ingrata também tem seus benefícios, como o dia do goleiro.

Criado pelos professores da Escola de Educação Física do Exército Reginaldo Pontes

Bielinski e Raul Carlesso, o dia é celebrado em 26 de abril e tem essa data escolhida para

homenagear um dos mais consagrados goleiros da história do Brasil, Ailton Correa Arruda,

mais conhecido como Manga, goleiro da seleção brasileira e de times como Grêmio,

Internacional, Sport, Botafogo e Coritiba.

Quando perguntamos a alguma pessoa que ao menos conheça o futebol e já possui

mais de 70 anos, qual o maior vilão brasileiro nas histórias das Copas do Mundo? Com

certeza a maioria esmagadora de votos seria para o goleiro Barbosa na Copa do Mundo de

1950.

O ano era 1950, o jogo entre Brasil e Uruguai marcava a final da primeira Copa do

Mundo realizada no Brasil. Aproximadamente duzentas mil lotaram o Maracanã, seu público

recorde até hoje, com a certeza da vitória da seleção brasileira. A campanha perfeita

decorrente de goleadas nas seleções da Espanha e Suécia levava à população e à imprensa a

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garantia do título. A certeza da vitória era tamanha, que instantes antes do jogo, o então

prefeito do Rio de Janeiro, Ângelo Mendes de Morais, entoou as seguintes palavras: “Vós

brasileiros, a quem eu considero os vencedores do campeonato mundial; vós brasileiros que a

menos de poucas horas sereis aclamados campeões por milhares de compatriotas; vós que não

possuis rivais em todo o hemisfério; vós que superais qualquer outro competidor; vós que eu

já saúdo como vencedores!”. O que todos esqueceram era que se tratava de futebol,

responsável por viradas e vitórias inimagináveis.

Faltando onze minutos para o fim do jogo o placar era 1 a 1. No gol da seleção

Brasileira, Moacir Barbosa, até então incontestável na Copa.

Após o cruzamento, a bola já estava agarrada junto ao seu peito. Mas, de repente, ele

sentira um vazio em seu corpo. Faltava-lhe a bola. Numa fração de segundos a

redonda havia escapulido de suas mãos, indo parar dentro da sua meta. Uma meta

que ele defendera tantas vezes, de modo arrojado e incansável, mas que por

intermédio de suas próprias mãos era invadida. Não havia como negar. Tratava-se de

um frango histórico, tomado quando faltavam poucos minutos para terminar a

partida e a torcida já gritava “é campeão!”. Até aquele momento, sua atuação ao

longo do jogo vinha garantindo o resultado que daria o título do campeonato ao seu

clube. Porém, ele mesmo sabia que isso de nada valeria, porque após aquele lance

estranho, ganharia fama de frangueiro. Em questão de segundos ele atravessara a

ponte que separa o herói do vilão no futebol. E pouco valeriam suas ótimas atuações

anteriores, assim como as difíceis defesas praticadas naquele mesmo jogo. A face

ingrata do futebol lhe era revelada de modo bastante cruel: “se aquela última bola

não entrasse, eles diriam que eu era o melhor goleiro do Brasil, mas a bola entrou e

eles dirão que sou um frangueiro (SANT’ANNA, 2005, 145 apud COSTA,Leda,

2008, p. 82).

O conto de Sérgio Sant’Anna nos dá uma dimensão do que se passou naquele lance,

como uma bola acabou com a carreira de um goleiro. Barbosa teria razão na sua frase de duas

maneiras, se a bola realmente não tivesse entrado ou se o Brasil tivesse conseguido virar o

jogo, porque nesse caso, sua falha seria apenas uma falha e não o transformaria no vilão.

Infelizmente Barbosa não é o único e não será o último goleiro tachado como o responsável

pela derrota de seu time. Mesmo após duras críticas e a falta de poio, sua carreira durou mais

12 anos, porém o fatídico Maracanaço o assombrava todos os dias.

A autora Leda Maria da Costa é firme ao responsabilizar Barbosa não apenas por um

gol, mas pelo sofrimento de uma nação:

E ainda dizem que o Brasil é um país sem memória. Entretanto, mais de cinqüenta

anos se passaram e poucos esqueceram daquele gol de Ghiggia que tirou do Brasil a

chance de erguer pela primeira vez a taça Jules Rimet em pleno Maracanã. Nesse

estádio, construído especialmente para abrigar os jogos da IV Copa do Mundo, havia

um público estimado de duzentas mil pessoas. O Brasil contava com uma população

de 52 milhões de habitantes, mas o número de brasileiros que carregaram na

memória a história daquele 16 de julho de 1950 foi multiplicado. Memórias vividas

e imaginadas misturam-se, mas a grande maioria delas se concentra num

personagem principal: o goleiro Barbosa. Aquele que na época era considerado o

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melhor arqueiro do país ficou marcado como o maior responsável pela derrota da

seleção (SANT’ANNA, 2005, 145 apud COSTA,Leda, 2008, p. 82).

Muitos anos após o pior dia da carreira de Barbosa, tivemos também a falha do goleiro

Colombiano René Higuita. Conhecido pela sua maneira extrovertida de atuar, como por

exemplo, ao sair driblando seus adversários e realizando defesas acrobáticas e até mesmo se

aventurando na cobranças de faltas. Assim como o goleiro brasileiro, arqueiro colombiano

teve seu pior momento da carreira também em uma Copa do Mundo. A diferença é que o jogo

em questão não se tratava de uma final em seu país. Higuita disputava as oitavas de final da

Copa do Mundo de 1990 contra Camarões, quando, em mais uma de suas loucuras, tentou sair

driblando o time adversário e acabou cedendo a Roger Milla o primeiro gol de seu país no

jogo.

Outro ponto que diferencia os lances em questão é o fato de que o gol “entregado”

pelo goleiro não foi o que determinou a vitória, pois o jogo terminou com o placar de 2 a 1 em

favor de Camarões. Higuita foi ameaçado e duramente criticado pela imprensa de seu país,

porém tudo não passou de boatos e o goleiro seguiu normalmente sua carreira, vindo a

encerrá-la somente em 2010, aos 43 anos.

O caso mais recente ocorreu na Copa do Mundo de 2010, em que, o então goleiro da

seleção Brasileira Júlio Cesar acabou falhando no primeiro gol no duelo válido pelas quartas-

de-finais contra a seleção da Holanda. Obviamente a proporção desta falha foi infinitamente

menor que a de Barbosa em 1950, mas mesmo assim a carreira do goleiro ficou manchada

após esse dia, tanto que depois da Copa de 2010, não conseguiu se firmar mais em nenhuma

equipe de ponta. Antes considerado um dos melhores do mundo, após a derrota, viu sua

carreira e seus dias como bom goleiro indo embora.

No ano de 2017 presenciamos também a contratação de um assassino por um clube do

país. Em fevereiro, o Boa Esporte Clube contratou o goleiro Bruno, preso desde 2010.

Condenado a 22 anos e 3 meses por participação no sequestro e assassinato de Eliza Samudio,

Após 7 anos preso, Bruno obteve através da justiça, um habeas corpus. Especula-se através da

imprensa mineira que o salário do atleta girava em torno de 6 mil reais. O que chamou

atenção de forma negativa foi a recepção por parte de alguns torcedores em geral. Selfies e

retratos posados com o ex-presidiário foram alvos de ataques da mídia e da população através

das redes sociais. É difícil de aceitar, que um réu confesso de um assassinado brutal seja

idolatrado por uma grande parcela do público. Porém sua passagem pelo clube de Minas

Gerais durou pouco mais de dois meses. Dia 25 de Abril, o Supremo Tribunal Federal decidiu

20

que Bruno voltaria à prisão para cumprir o restante de sua pena. Como goleiro, não tenho

dúvida sobre sua qualidade. Quando foi preso, estava em alta no Flamengo, sendo cogitado

para ir a seleção. Atuou em cinco jogos pelo Boa Esporte sofreu quatro gols, obtendo duas

vitórias, dois empates e uma derrota.

21

5 O ESPORTE NO JORNAL ZERO HORA

A Zero Hora, popularmente conhecida como ZH, é o maior jornal em circulação no

Rio Grande do Sul e um dos maiores do Brasil. Entre os jornais brasileiros se equipara a

Folha de São Paulo e ao O Globo.É controlado pelo Grupo RBS, sua edição é feita em Porto

Alegre e conta com 17 cadernos, mais de 200 jornalistas e 100 colunistas, além de possuir

uma matriz em Brasília, onde conta com correspondentes diariamente. O Jornal mantém

atualizações minuto a minuto nas redes sociais por meio do Facebook, Instagram e Twitter.

Fundado em 4 de maio 1964 pelo jornalista Ary de Carvalho, o Jornal Zero Hora

possuiu duas outras sedes até ser controlado pelo grupo RBS. A primeira delas era localizada

na Rua 7 de Setembro, já em 1968 foi inaugurada a sede na Avenida Ipiranga, no bairro da

Azenha. Inicialmente o jornal abrangia apenas a Região de Porto Alegre. Porém em 1975 o

jornal passou a adquirir espaço estadual e tornando-se em 1984 o quinto jornal mais lido do

Brasil, superando os três milhões de exemplares vendidos ao longo do mês.

Com seus primeiros exemplares custando Cr$ 35,00 e em formato tablóide, o nome

Zero Hora teve sua inspiração através do extinto Jornal chamado Última Hora. A partir de

1970 seu controle ficou a cargo de Maurício Sirotsky Sobrinho.

Um ano após sua fundação o jornal já inovou e criou novidades na área dos cadernos.

Lazer e variedades foram incluídas no caderno 2 e a parceria com a Rádio Gaúcha e a

Televisão Gaúcha foi aumentada, garantindo maiores coberturas e novas promoções.

No ano de 1979 a ZH investe na prestação de serviços e cria um caderno especial

destinado às compras, vendas, aluguéis e ofertas de produtos, o ZH Classificados. Com a sua

criação, a população tinha a possibilidade de publicar anúncios por telefone e em pontos de

venda espalhados pela cidade.

Em 1988 a produção deixou de ser artesanal e passou a ser padronizada, além disso no

mesmo ano foi criado o Clube do Assinante ZH, que possibilitava aos assinantes descontos

em diversos estabelecimentos do estado. Em 1995 o primeiro site da Zero Hora foi pro ar e no

ano seguinte toda a produção passou a ser digitalizada. O ano de 2007 marcou o início do

website ZeroHora.com, com notícias 24 horas por dia. Serviço que passou a ser cobrado a

partir do ano de 2010.

De acordo com Oliveira (2009, p.32):

O ideário da RBS, a linha editorial da Zero Hora se resume da seguinte forma:

responsabilidade empresarial, compromisso social e comunitário, ética e integridade,

defesa da democracia, da liberdade (em todos os níveis) e da igualdade, combate a

22

preconceitos, defesa da economia de mercado, da livre iniciativa, da propriedade

privada, tendo como limite o interesse social, vinculação comunitária, postura

independente, isenta e liberal, separação entre as áreas editorial e comercial e

pluralismo de opiniões. (OLIVEIRA, 2009, p.32)

O setor destinado ao esporte do Jornal é composto por 18 profissionais, entre eles 12

repórteres e seis editores. Com exceção da segunda-feira, em todos os outros dias o caderno

fica localizado ao final da edição. O caderno de esportes possui uma média de doze páginas

para a edição de segunda feira, oito páginas entre terça-feira e sexta-feira e por volta de

quinze páginas na edição conjunta de final de semana, que agrega sábado e domingo.

O editor de Esportes do Jornal Zero Hora Diego Araújo respondeu algumas perguntas que

detalham melhor como funciona esse setor da empresa. O material está em anexo no trabalho.

23

6 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO ESPORTE

Em seu início no Brasil, o futebol foi tratado como um simples esporte marginalizado,

Segundo Roberto Ramos, em seu livro Futebol: ideologia do poder (1984), a modalidade

surgiu como massa de manobra alienante, ou seja, que o futebol seria um modo de esconder o

que acontecia no país. Porém com o aumento da popularização através da mídia, com os

veículos de massa criando uma proximidade entre o futebol e a população em geral, o futebol

supera os problemas que não fazem respeito ao esporte. “As injustiças sociais são

minimizadas em um estádio. [...] Os salários altíssimos dos jogadores, dos grandes times,

legitimam e avalizam a ascendência social do sistema. Com isso o capitalismo se torna uma

ordem natural dentro de uma visão positivista”. ( Acker, Ana, 2010 apud RAMOS, 1984, p.

34).

O conceito de representação social tem origem européia e sua primeira aparição no

cenário literário brasileiro foi através do francês Serge Moscovici, feito em 1978 com o título

de A representação social da Psicanálise. Segundo Gama, dos Santos e Fofonca, a obra de

Moscovici diz:

A representação social refere-se ao posicionamento e localização da consciência

subjetiva nos espaços sociais, com o sentido de constituir percepções por parte dos

indivíduos. Nesse sentido, as representações de um objeto social passam por um

processo de formação entendido como um encadeamento de fenômenos interativos,

fruto dos processos sociais no cotidiano do mundo moderno. Desse modo,

Moscovici analisou os processos através dos quais os indivíduos elaboraram

explicações sobre questões sociais e como isso de alguma forma relaciona-se com a

difusão das mensagens pelos veículos de comunicação, dos comportamentos e

organização social. Nesse aspecto, o conceito de representação social trabalha com

uma gama de elementos que envolvem teorias científicas, ideologias e experiências

vivenciadas no cotidiano e também com questões ligadas à Psicologia, à Psicanálise,

à Comunicação e à Sociologia.

O futebol, por exemplo, sua representação com a população teve o seu maior

crescimento através da mídia e seus avanços. Inicialmente com a televisão e o rádio e

atualmente com a internet e o crescimento dos canais pagos de televisão, podemos analisar o

que é a representação e como sua relação com o povo pode crescer.

Marcos Alexandre em O papel das mídias na difusão das representações sociais define

que, “A comunicação, sob a perspectiva da representação social, é o fenômeno pelo qual uma

pessoa influencia ou esclarece outra que, por sua vez, pode fazer o mesmo em relação à

primeira.” O papel da comunicação na representação social é de suma importância pois é

através dos veículos midiáticos que o reflexo aparece na representação. Os elementos básicos

24

existentes na comunicação são o emissor, o receptor, a mensagem, o veículo e o código. A

facilidade na compreensão por parte das pessoas atualmente faz com que a eficiência na

recepção, interpretação e divulgação das mensagens aumente.

Temos como exemplo histórias contadas pelas pessoas mais velhas, antigamente os

meios para propagação de alguma informação eram lentos e sem a possibilidade de pesquisa.

Já atualmente temos a opção de nos informarmos sobre qualquer assunto através da internet. É

praticamente impossível no mundo de hoje, compartilhar algo sobre um determinado assunto

sem ter a chance de ter o menor conhecimento sobre ele.

25

7 PERCURSO METODOLÓGICO

A referente pesquisa será de cunho qualitativo, e para isso, será utilizado como recurso

metodológico a Análise de Conteúdo (AC). No trabalho, foram analisados títulos e subtítulos

de matérias e reportagens publicadas nas páginas da Editoria de Esportes do jornal gaúcho

Zero Hora.

A Análise de Conteúdo tomou evidência no ano de 1977, por meio da obra L’analyse

de contenu, de Laurence Bardin. De acordo com Bardin (2011, p.15), “a análise do conteúdo é

um conjunto de instrumentos de cunho metodológico em constante aperfeiçoamento, que se

aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”.

Consequentemente, a autora caracteriza a análise de conteúdo como uma associação de

métodos de análise que se utiliza de recursos organizados e diretos de descrição do conteúdo

das mensagens. A proposta de Bardin constitui-se de algumas etapas para a consecução da

análise de conteúdo, organizadas em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3)

tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A primeira fase, a pré-analise, se trata da definição e organização do material que será

posteriormente analisado, para deixar o trabalho mais prático e funcional para o autor. Já a

segunda fase, que a autora denomina como exploração do material, é marcada pela análise dos

elementos textuais dos objetos em questão, realizando a identificação de palavras-chaves,

temas ou frases que podem ajudar na interpretação. A terceira e última fase é a de tratamento

dos resultados, inferência e interpretação. Nesta etapa, ocorrem a filtragem e a definição das

informações para análise, resultando nas interpretações. De acordo com a autora, é nessa hora

que vem à tona a intuição, a análise reflexiva e a crítica.

Para Moraes (1999) a análise de conteúdo é um método de pesquisa usado para

descrever e interpretar qualquer tipo de documento.

A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e

interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise,

conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a

reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num

nível que vai além de uma leitura comum (MORAES, 1999, p. 9).

Segundo o autor, é possível utilizar a técnica de pesquisa não somente na

comunicação, mas em qualquer nicho de estudo que envolva análise de texto, imagem, ou

texto e imagem.

26

Entendemos que a análise de conteúdo é o modo que melhor se encaixa na nossa linha

de pesquisa e no tipo de resultados que procuramos. Essa metodologia de pesquisa faz parte

de uma busca teórica e prática, com um significado especial no campo das investigações

sociais. Constitui-se em uma análise de dados que representa uma abordagem metodológica

com características e possibilidades próprias isto porque, por mais que haja um método

teórico a ser seguido, a interpretação é individual.

Embora a percepção do objeto seja subjetiva, existem maneiras de se estudar

minuciosamente o conteúdo informativo de cada matéria, neste caso, manchete de jornal.

Moraes (1999) explica que a análise de conteúdo é uma ferramenta antiga de pesquisa, mas

que ela consegue ser utilizada nos dias atuais, pois o estudo pode ser feito em diferentes vias,

mídias, setores e grupos.

As categorias de análise foram separadas entre três: elogios ao goleiro, que analisou

qualquer palavra ou expressão que qualifique ou elogie o goleiro, elevando sua imagem

perante os leitores;2, críticas ao goleiro, que a partir do que foi analisado, identificar qualquer

expressão, palavra ou alguma frase que subjetive algo negativo sobre o referido goleiro, como

alguma falha, má atuação ou uma carreira não muito qualificada; o goleiro fala, que cita e

explica quando o goleiro fala durante o material escolhido, geralmente essa categoria é mais

vista nas entrevistas e raramente em algo que apenas apresente o goleiro aos leitores e

torcedores.

7.1 PESQUISA DO OBJETO

O estudo dos títulos e subtítulos da Zero Hora durou entre janeiro de 2016 e outubro

de 2017. Com base nos conteúdos que o jornal impresso trazia, foi feita uma seleção de

manchetes, títulos e subtítulos que traziam os goleiros como protagonistas. A escolha de um

jogador da defesa, já foi justificada no decorrer do trabalho, mas ela é ratificada pelo fato de

que, achamos apenas cerca de 30 matérias que falavam exclusivamente do tema goleiro,

sendo que desse número foram selecionadas 15 principais. Desta forma, a análise parte então

de como o jornal mostra o goleiro.

A presente pesquisa aconteceu diariamente, por meio da leitura do caderno de

esportes. Os conteúdos escolhidos obedeceram a um único critério: trazer o goleiro como

referência na matéria, não importando se a matéria é positiva ou negativa para o atleta. Por

meio do referencial teórico do estudo, foi possível desenvolver melhor a análise. Buscar como

27

é feito o esporte no Brasil, a vaidade do goleiro e percorrer esse caminho foi de suma

importância para que pudéssemos escolher a análise de conteúdo como metodologia de

pesquisa.

A partir das técnicas e conceitos referenciados pelos autores escolhidos, queremos

tornar possível a análise das palavras, termos ou frases encontradas nos materiais escolhidos

previamente e, assim, poder determinar de que maneira ocorre a representação do goleiro no

jornal Zero Hora, seja ele de maneira branda e de acordo com a realidade, ou de maneira

exacerbada e abusivamente crítica.

28

8. ANÁLISE

8.1

Figura 1 - Título reportagem Keiller

Figura 2 - Subtítulo reportagem Keiller

29

Edição: Zero Hora, segunda-feira, dia 24 de Abril de 2017.

Reportagem assinada por Leandro Behs

Elogios ao goleiro: Nesta reportagem pós-vitória do Internacional contra o Caxias pelo

campeonato Gaúcho 2017, o jovem goleiro Keiller é enaltecido no título e também no

subtítulo. As palavras “Segura”, utilizada no titulo, e “garantiu”, presente no subtítulo, dão a

noção exata do que aconteceu, no caso, o arqueiro colorado defendeu 2 pênaltis e garantiu a

classificação para a final.

Criticas ao goleiro: Nenhuma

O goleiro fala: Sim, durante a reportagem, Keiller ressalta a oportunidade de entrar na vaga do

lesionado Marcelo Lomba, lamentando a lesão do amigo. Além disso, critica o fato de não ser

possível inscrever outro goleiro para as finais.

Esta reportagem evidencia o poder de decisão de um goleiro, além da pressão exercida

sobre um jovem. Keiller, de 20 anos entrou durante o jogo na vaga de Marcelo Lomba, que já

substituía o lesionado Danilo Fernandes, e se saiu muito bem, foi fundamental no resultado de

sua equipe.

30

8.2

Figura 3 - Título reportagem Lúcio

Edição: Zero Hora, quinta-feira, dia 20 de Abril de 2017.

Reportagem assinada por Cristiano Daros

Elogios ao goleiro: Sim. Mesmo se tratando de uma reportagem sobre o dia-a-dia do goleiro

Lúcio, do Caxias, onde a prioridade não são as criticas e os elogios, a sua qualidade de

defensor de pênaltis é evidenciada pelo repórter, assim como sua liderança no time, tendo

como característica orientar muito sua defesa.

Criticas ao goleiro: Não foram feitas avaliações acerca da qualidade do goleiro, assim como

prováveis boas e más atuações, a reportagem se concentrou apenas em passar informações

sobre o goleiro.

O goleiro fala: Sim, em duas ocasiões, na primeira, Lúcio brinca que durante a semana é que

ocorre a parte séria, que no caso seriam os treinamentos, já os jogos seriam a parte da

Figura 4 - Subtítulo reportagem Lúcio

31

diversão. O segundo momento é quando o repórter cita uma característica sua, defesas de

pênaltis. Aqui o goleiro explica que esta “qualidade” dele, é muito fruto de seu trabalho

diário.

A reportagem feita com o goleiro Lúcio do Caxias, mostra um pouco do arqueiro para

os leitores. Na época, o jogo entre Inter x Caxias, válido pelo campeonato gaúcho, foi

disputado no final de semana e o goleiro estava substituindo o suspenso Marcelo Pitol. Trata-

se de uma reportagem informativa, mas mesmo assim podemos ver que o goleiro é exaltado

de certa maneira, com elogios a sua liderança e bom histórico de defesa de pênaltis.

32

8.3

Edição: Zero Hora, sábado e domingo, 8 e 9 de julho de 2017

Reportagem assinada por Luis Zini Pires

Elogios ao goleiro: O próprio título já dimensiona o teor da reportagem. Luiz, goleiro do

Criciúma é enaltecido de várias maneiras, não só nos títulos e subtítulos presentes nessa

reportagem. Chamado de santo pela sua torcida, os elogios começam antes mesmo do assunto

futebol. O Subtítulo “Homem de família” mostra um pouco sobre a vida do goleiro fora dos

campos, citando as palavras “séria e honesta”, usadas para caracterizar a vida do goleiro.

Referência em campo, este é o termo utilizado pelo repórter para definir o goleiro Luiz dentro

das quatro linhas. O capitão do time é respeitado e admirado por todos no clube e mostra que

sua experiência pode ajudar a todos, através de concelhos e dicas.

Criticas ao goleiro: Nenhuma.

O goleiro fala: Sim, várias vezes. Primeiramente cita suas inspirações, Rogério Ceni (ex São

Paulo), Marcos (ex-palmeiras) e Fábio (Cruzeiro), exemplos que, segundo o goleiro, vem

através da identificação que os mesmo possuem com seu clube. Quando o assunto foi seu

comportamento, Luiz fala sobre sua postura, sempre tentando ser um atleta tranquilo, calmo,

mas que luta muito dentro de campo, motivando sua torcida. Sobre ser uma referência dentro

Figura 5 - Título reportagem Luiz

33

de campo, o arqueiro também argumenta, contando um pouco sobre como foi ficar 12 anos

em seu ex-clube, o São Caetano, antes de vir para o Criciúma.

Reportagem que contém uma folha inteira falando bem sobre o goleiro, suas

características dentro e fora de campo. Luiz pode não ser um goleiro de fama no Brasil, mas

quem leu tudo que foi escrito sobre sua carreira, com certeza passou a admirar o goleiro.

8.4

Figura 6 - Título reportagem goleiros Internacional

Edição: Zero Hora, terça-feira, 2 de maio de 2017

Reportagem assinada por Leandro Behs

Elogios ao goleiro: Não

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Os citados na matéria não. Porém alguns ex-goleiros do Internacional dão seus

depoimentos ilustrando a situação inusitada que ocorreu.

A reportagem tem um título bem dramático e de certa forma, forte. Após as séries de

lesões ocorridas pelos goleiros do Internacional no campeonato gaúcho, primeiro Danilo

Fernandes, depois Marcelo Lomba e posteriormente Keiller, fizeram com que até zagueiros

treinassem na posição. A tona vem à questão, como é importante o goleiro, pois mesmo com

34

um time superior e favorito, a imprensa tratou como assunto de vida ou morte o goleiro

colorado.

A palavra “maldição” dimensiona de maneira correta a situação em que o clube se

encontrava. Final de campeonato e sem nenhum goleiro com 100% de condições físicas, pois

o regulamento não permite a inscrição de um quarto goleiro.

8.5

Figura 7 - Título Reportagem Fábio

Edição: Zero Hora, quarta-feira, 31 de maio de 2017

Reportagem assinada por Lucas Balduino

Elogios ao goleiro: Não

Criticas ao goleiro: Sim, a palavra “falha”, no início do título, caracteriza a crítica do repórter

ao goleiro Fábio.

O goleiro fala: Sim, o goleiro conta que já falhou em alguns lances em outras equipes e

porque tomou a decisão de sair. Em outro momento, pede desculpas e assume toda

responsabilidade pela derrota. No último momento, ao ser questionado sobre uma possível

aposentadoria, o atleta admite dar uma refrescada na cabeça.

Fábio, de 38 anos fazia sua estreia no gol do Figueirense contra o Boa Esporte, pela

série B do campeonato brasileiro, porém após uma falha gritante no primeiro gol do

adversário, o arqueiro viu seu psicológico ir por água a baixo e fez com que sua passagem

pelo clube tivesse seu início e seu fim na mesma noite. No intervalo da partida, Fábio pediu

ao técnico para ser substituído, seu pedido foi atendido e na mesma hora o goleiro pegou um

táxi e voltou para perto de sua família.

35

A cobertura midiática da falha do goleiro foi feita de maneira correta, mostrou a falha

e deu a oportunidade do goleiro se defender e explicar o que aconteceu.

8.6

Figura 8 - Título reportagem Paulo Victor

Edição: Zero Hora, terça-feira, 11 de julho de 2017.

Reportagem assinada por Adriano de Carvalho

Elogios ao goleiro: Especificamente no título e subtítulos, não. Mas durante a reportagem, sua

velocidade, técnica e qualidade para sair jogando com os pés, foram algumas das

características elogiadas pelo repórter. Além disso, elogios quanto a presença do goleiro no

grupo gremista foram vistos ao decorrer da reportagem.

Criticas ao goleiro: Não.

Figura 9 - Box da reportagem Paulo Victor Figura 10 - Subtítulo reportagem Paulo Victor

36

O goleiro fala: Não

Adriano de Carvalho produziu uma reportagem sobre a contratação tricolor para o gol.

Paulo Victor foi contratado para fazer a famosa “sombra” para o goleiro titular Marcelo

Grohe.

Como o objetivo da reportagem era apresentar a nova contratação, não possuem

criticas ao atleta. Já as qualidades foram evidenciadas, não só pelo repórter que produziu, mas

através de depoimentos de ex-técnicos do goleiro nos seus antigos clubes. A Zero Hora tem

como hábito em suas reportagens de apresentação, exaltar o atleta para seus leitores, tentando

criar uma identificação inicial.

37

8.7

Figura 11 - Título reportagem Danilo Fernandes

Figura 12 - Subtítulo reportagem Danilo Fernandes

Edição: Zero Hora, sábado e domingo, 27 e 28 de maio de 2017

Reportagem assinada por Leandro Behs

Elogios ao goleiro: Sim, “valente” foi usado no título para mostrar a garra e força de vontade

que fizeram com que o goleiro Danilo Fernandes jogasse a final do campeonato gaúcho,

mesmo sem condições de jogo.

Criticas ao goleiro: Não.

38

O goleiro fala: Sim, Danilo conta que o jogo contra o Novo Hamburgo foi o mais difícil da

sua vida e como encarou um jogo decisivo sem condições físicas. O goleiro ainda argumenta

que foi muito prejudicado por sua condição física, que o impediu de certos movimentos, lhe

causou indecisão em algumas saídas de bola e o afetou na decisão por pênaltis.

A situação era complicada para o Internacional. Seus três goleiros estavam

machucados para a disputa da final do campeonato gaúcho. Danilo Fernandes, que havia

fraturado o dedo mínimo do pé direito, entra em campo, mesmo sem condições. A exaltação

do jornal quanto a Danilo foi muito merecida e te extrema felicidade na escolha do termo

“valente”.

39

8.8

Figura 13 - Título entrevista Alisson

Figura 14 - Abertura entrevista Alisson

Figura 15 - Subtítulo entrevista Alisson

40

Edição: Zero Hora, segunda-feira, 15 de maio de 2017.

Entrevista assinada por Rodrigo Oliveira

Elogios ao goleiro: Não

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Sim, pois se trata de uma entrevista direta, pergunta e resposta.

A entrevista com o ex-goleiro colorado e atual titular na seleção de Tite mostra muito

bem como está à vida do arqueiro após a saída do Inter. Por se tratar de uma entrevista, a

opinião do repórter não está explícita nas suas frases, porém é perceptível a vontade do autor

em mostrar o potencial de Alisson, que na época era goleiro reserva de seu time na Itália.

8.9

Figura 16 - Título reportagem Grohe x Atlético-PR

Figura 17 - Subtítulo reportagem Grohe x Atlético-PR

Edição: Zero Hora, quinta-feira, 22 de setembro de 2016.

Reportagem assinada por Luís Henrique Benfica.

Elogios ao goleiro: Sim, no subtítulo o repórter define Marcelo Grohe como personagem do

jogo, pois defendeu três cobranças de pênaltis.

41

Criticas ao goleiro: No título e subtítulo não, porem durante a reportagem sim, já que o gol

que levou o jogo para os pênaltis tinha vindo através de uma falha de Grohe, que rebateu um

chute fraco para frente, dando o gol para André Lima.

O goleiro fala: Não.

Jogo emblemático para Grohe. Com certeza quem assiste e conhece futebol já ouviu a

expressão “do céu ao inferno”. Foi exatamente isso que aconteceu com o goleiro tricolor nas

oitavas de final da Copa do Brasil de 2016. Durante o tempo normal, Marcelo falhou no gol

do Atlético Paranaense, deixando o resultado em 1 a 0 e levando o jogo para os pênaltis. Foi

na decisão que Grohe apareceu, com três defesas, foi o herói da vaga para as quartas de final.

É claro que o jornal não se esqueceu de exaltar o goleiro, porém com tudo que

aconteceu naquele dia, poderia ter dado mais destaque no título, com algo que elevasse o

goleiro, podendo assim até mesmo o criticar nas entrelinhas, para dar ênfase sobre sua

participação.

8.10

Figura 18 - Título reportagem Leo

Figura 19 - Subtítulo reportagem Leo

Edição: Zero Hora, sexta-feira, 21 de outubro de 2016.

Reportagem assinada por Marco Souza.

Elogios ao goleiro: No título não, porém na reportagem há vários elogios, principalmente

sobre sua saída de gol, qualidade técnica e regularidade, pontos que contribuíram para sua

subida ao profissional.

Criticas ao goleiro: Não

42

O goleiro fala: Sim, o goleiro Léo comenta sobre a possibilidade de jogar o clássico e se diz

pronto e preparado.

O jovem goleiro gremista recebe a notícia de que sua maior chance na carreira poderia

vir, jogar um clássico grenal. Importante, por parte da mídia, fazer a cobertura e uma

reportagem especificamente sobre isso, abordando a trajetória de Leo e suas qualidades,

fazendo com que a torcida possa conhecer o candidato a titularidade momentânea do gol

gremista.

8.11

Figura 20 - Título entrevista Magrão

Figura 21 - Abertura entrevista Magrão

Edição: Zero Hora, sexta-feira, 1 de Setembro de 2017

Entrevista assinada por (neste caso, não possui assinatura, pois se trata apenas de uma

entrevista por telefone).

Elogios ao goleiro: Sim, no próprio título a palavra “interminável” já dimensiona o teor da

entrevista e uma das qualidades do goleiro.

43

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Por se tratar de uma entrevista, o goleiro responde as perguntas feitas pelo

repórter.

São seis perguntas feitas ao goleiro Alessandro Rosa, o popular Magrão, um dos

goleiros mais velhos em atividade no futebol brasileiro. Como a reportagem foi feita na

véspera de um jogo do Sport contra o Grêmio, duas perguntas foram feitas sobre o jogo e

sobre a situação do time na tabela. Já as outras quatro falam da carreira do goleiro, que

mesmo aos 40 anos não pensa em parar. É muito importante que sejam feitas matérias que

exaltem os atletas exemplos, já que o arqueiro sempre se mostrou um profissional modelo aos

seus companheiros.

44

8.12

Figura 22 - Título reportagem Grohe Brasileirão

Figura 23 - Título reportagem Grohe Brasileirão

Figura 24 - Abertura reportagem Grohe Brasileirão

Figura 25 - Abertura reportagem Grohe Brasileirão

45

Edição: Zero Hora, Sábado e Domingo, 13 e 14 de maio de 2017

Reportagem assinada por Luís Henrique Benfica e Marco Souza

Elogios ao goleiro: Sim, no título e na introdução da reportagem é visível os elogios ao

goleiro. No título, “senhor” da uma referência a experiência de Marcelo Grohe em

campeonatos brasileiros. Já na introdução, o repórter faz referência aos prêmios de melhor

goleiro do campeonato nos anos de 2014 e 2015.

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Sim, por se tratar de uma entrevista, muitas perguntas diretas foram feitas ao

goleiro.

A reportagem feita com o goleiro gremista Marcelo Grohe serve para mostrar a

identidade do arqueiro com o time. “Senhor brasileirão” faz referência ao número alto de

edições do campeonato que Marcelo participou.

46

8.13

Figura 26 - Título reportagem Matheus x Inter

Figura 27 - Título reportagem Matheus x Inter

Figura 28 - Subtítulo reportagem Matheus x Inter

Edição: Zero Hora, segunda-feira, 8 de maio de 2017

Reportagem assinada por Rodrigo Oliveira

Elogios ao goleiro: Sim, o repórter destaca que novamente o goleiro foi importante para o

time na vitória por pênaltis ao defender a cobrança de Nico Lopez, atacante do Internacional.

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Sim, uma série de perguntas que o goleiro responde em relação ao jogo, sua

rotina de treinamento e seu futuro no futebol.

47

A reportagem de Rodrigo Oliveira detalha um pouco sobre a rotina e como foi para o

goleiro Matheus, do Novo Hamburgo, ganhar o título estadual em cima do Internacional. Por

ironia, o goleiro de 30 anos foi revelado pelo colorado, teve passagem pelo Grêmio e foi se

destacar com idade mais elevada.

8.14

Figura 29 - Título reportagem Paulo Vitor II

Edição: Zero Hora, segunda-feira, 9 de outubro 2017

Reportagem assinada por Adriano de Carvalho

Elogios ao goleiro: Não

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Sim Paulo Vitor conta um pouco sobre como recusou um salário mais alto para

poder vir jogar no Grêmio. Além disso, falou sobre como é ser reserva de Marcelo Grohe e

tudo sobre sua carreira, desde o Flamengo até sua para a Turquia e a volta ao Brasil. A

entrevista visa salientar a importância do goleiro, que mesmo reserva, mantém sua

concentração e vontade de ajudar a equipe, goleiro sempre tem a possibilidade de atuar,

portanto Paulo Vitor mantém sua rotina de treinamentos para aproveitar as chances. Sua vinda

para o Grêmio fez com que Grohe crescesse, pois sua sombra fez com que o titular voltasse

com as boas atuações, deixando a desconfiança da torcida de lado.

48

8.15

Figura 30 - Título reportagem defesa Grohe

Figura 31 - Subtítulo reportagem defesa Grohe

Figura 32 - Box reportagem defesa Grohe

Edição: Zero Hora, sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Reportagem assinada por Adriano de Carvalho e Luís Henrique Benfica

Elogios ao goleiro: Sim, o próprio título já enaltece a defesa feita por Marcelo Grohe contra o

Barcelona-EQU

Criticas ao goleiro: Não

O goleiro fala: Não

49

A defesa que ganhou o mundo, o título escolhido pelos repórteres é totalmente justo com

Marcelo Grohe. Contra o Barcelona-EQU em jogo válido pela semifinal da Copa Libertadores

2017, Grohe realizou uma das defesas mais bonitas da história do futebol, dito por

especialistas. O jornal inglês “The Sun” classificou o lance como “mão de Deus”, já o jornal

argentino Olé destacou a jogada como “a defesa do ano”. Nada mais justo por parte da

editoria de esportes da ZH em dar duas páginas sobre a defesa que correu jornais e programas

esportivos pelo mundo inteiro. Senti falta de alguma declaração do goleiro na reportagem,

visto que o jornal pegou falas de ex-goleiros do Grêmio, mas do principal personagem da

reportagem, nada.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste Trabalho Final de Graduação (TFG), tivemos como objetivo principal analisar

os elementos textuais presentes nos títulos, subtítulos e trechos de reportagens que

identificavam o modo com que o goleiro de futebol era representado na editoria de esportes

do Jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS). Para atingir o objetivo proposto, foram analisadas

quinze reportagens publicadas entre janeiro de 2016 e outubro de 2017 e que tinham, como

tema central, o goleiro.

Não foram encontradas, ao longo do trabalho, outras pesquisas que tratassem do

mesmo tema, visto que, na nossa ótica, tal análise se trata de um assunto de suma importância

no meio do futebol. O fato de ser goleiro e ter a curiosidade de obter algumas respostas

aguçaram meu interesse no tema e creio que, a partir deste trabalho, muitos outros goleiros e

curiosos futebolísticos possam se basear para um aprofundamento maior. O tratamento

diferenciado por parte da imprensa em relação aos goleiros sempre me chamou atenção,

porém, não tinha tido a oportunidade de realizar algo mais intenso.

Através da análise de conteúdo, definimos três categorias para que fossem

identificados termos, expressões ou frases que caracterizassem a positividade, a negatividade

ou a neutralidade na produção do material analisado, feito pelo repórter. As categorias foram

as seguintes: elogios ao goleiro, que tratava de qualquer fala feita pelo repórter que exaltasse

o foco principal da pesquisa; críticas ao goleiro, que como o próprio nome explica, analisa

toda e qualquer expressão que negative o goleiro de alguma forma, sendo uma falha

individual, uma carreira conturbada etc; o goleiro fala, que no caso, dava a oportunidade de o

goleiro poder explicar algo citado pelo repórter, falar de sua carreira ou simplesmente

conversar sobre sua vida.

Por meio de tal análise, foi possível identificar a maneira como o goleiro é

representado pelos repórteres do Jornal Zero Hora, tanto em materiais que envolvam os

goleiros que jogam em times do Rio Grande do Sul ou quando envolve os goleiros que atuam

no restante do país e até mesmo os arqueiros da seleção brasileira.

Quando se fala em elogios ao goleiro, ou seja, com relação a comentários positivos

por parte do repórter, podemos analisar que isso ocorreu em 11 dos 15 materiais analisados

por nós. Os elogios mais frequentes foram em relação a características exclusivas de cada

goleiro, como saída de gol e velocidade, por exemplo. A falta de elogios em relação às

atuações dos goleiros em jogos chamou a atenção. Nas entrevistas, os repórteres se

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concentraram mais em tratar do goleiro de maneira quase sempre isenta. Em 3 dos materiais

não foram encontrados críticas ou elogios ao goleiro.

A negatividade em relação ao goleiro, ou seja, críticas foram vistas em apenas 1 dos

materiais analisados, e mesmo assim, as críticas feitas foram apenas para a sua falha

individual em um jogo, que no caso, sua falha no jogo resultou na derrota do time. Além

disso, o goleiro pediu para sair no intervalo do jogo e foi direto embora da cidade.

Ponto positivo nesta análise foi o fato de o jornal dar muita voz ao goleiro, deixando

com que o mesmo contasse seu lado ou até mesmo mostrando um pouco de sua carreira

através do relato de experiências próprias, tanto no lado profissional ou até mesmo na questão

pessoal.

A construção do referencial teórico foi, talvez, a parte mais difícil deste trabalho, pois

o assunto não possui muitas referências específicas do assunto, dificultando sua escrita.

Porém, mesmo com a escassez de material, pôde se fazer, através até mesmo de referências

próprias do autor, um referencial teórico pequeno, porém, que abrangeu todos os pontos

propostos inicialmente.

Como nosso objeto analisado foi o goleiro no jornal Zero Hora, vale ressaltar que a

maneira com que o mesmo é tratado no jornal nos surpreendeu positivamente. Quando

proposto esse tema, tinha-se a ideia de que a discrepância entre a avaliação feita pelos

repórteres na produção de matérias referentes a goleiro era, de alguma maneira, diferente das

posições restantes no futebol, mas não. O que foi visto é que, mesmo com uma frequência

menor em relação as outras posições, a qualidade do material e a ética ao falar do goleiro

foram a mesma em relação ao restante. Salientando também que no jornal não foram

encontradas matérias apenas sobre os goleiros da dupla Gre-Nal ou do Rio Grande do Sul.

Foram encontrados e analisados diversos materiais que explanavam um pouco sobre goleiros

do restante do Brasil e até mesmo de alguns que já não atuam mais no país.

Julgamos ter alcançado os objetivos propostos inicialmente neste Trabalho Final de

Graduação, podendo ajudar posteriormente para pesquisas que abordem esse tema e mostre ao

leitor do jornal Zero Hora a maneira com que o goleiro é representado.

O objetivo é seguir com esta pesquisa posteriormente em um mestrado, com o intuito

de continuar avaliando a representatividade do goleiro, podendo ser em algum jornal do eixo

central do país, ou até mesmo em outra plataforma de comunicação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lisboa: Edições 70. 2006 (Obra original publicada em 1977) .

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2008.

DAOLIO, Jocimar. As contradições do futebol brasileiro. Faculdade de Educação Física -

Universidade Estadual de Campinas. 1998.

DAMATTA, Roberto. Antropologia do Óbvio. Notas em torno do significado social do

futebol frasileiro. USP. 1994.

FOFONCA, Eduardo; GAMA, Adriana Ferreira; SANTOS, Aline Renée Benigno dos. Teoria

das representações sociais: uma análise crítica da comunicação de massa e da mídia.

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HENNIG, Andressa. Et al. Análise de conteúdo: fazemos o que dizemos? Um

levantamento de estudos que dizem adotar a técnica. Brasília. 2013.

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RAMOS, ROBERTO. Futebol, ideologia do poder. Editora Vozes. 1984

SILVEIRA, Nathália E. da. Jornalismo Esportivo: Conceitos e práticas. Universidade

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o drama de Barbosa, o goleiro da Copa de 50. Salvador /BA. 2002.

WITTER, S. José. Futebol. Um fenômeno universal do século XX. Revista USP, São Paulo,

n.58, p. 161-168, junho/agosto 2003.

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ANEXOS

ANEXO A:

● Como são selecionadas as pautas? R:Com base nos calendários de competições e

nos critérios de noticiabilidade comuns a outras áreas do jornal.

● Como funciona a distribuição de pautas entre os repórteres? R:Existe um grupo de

seis repórteres focados em dupla Gre-Nal. Os outros seis fazem as pautas

encaminhadas por editores ou pensadas por eles próprios.

● Em reportagens que envolvem goleiros, o critério se mantém o mesmo em relação aos

demais jogadores? R: Exatamente o mesmo.

● Quanto a fotografia, existe uma equipe própria de fotógrafos? R:Sim.

● São os próprios fotógrafos que editam as fotos? R:Quando estão no jogo, mandam o

material bruto a ser editado pelo coordenador da foto, na redação.

● Sugestões dos leitores geralmente são usadas na construção de pautas? Como os

leitores podem sugerir pautas? Quais os canais de comunicação? R:Sim, Os e-mails

dos editores estão nas páginas e o serviço de relacionamento do leitor é acessível

por fone e e-mail.

● Quanto ao tempo para a execução das pautas, como funciona? Existem pautas de

maior prazo para produção? R:Existem pautas para o dia, que entram no site

quando estão prontas, pautas mais trabalhadas para o final de semana e outras

mais especiais que podem levar até um mês para serem publicadas.

● Em relação aos gráficos e charges, eles são feitos por uma equipe interna ou por

freelancers? R:Equipe interna.

● Nas matérias de outras modalidades que não sejam o futebol, qual é a prioridade na

escolha e porque? R:Procuramos obedecer ao gancho jornalístico, aos

campeonatos que estão ocorrendo.

● Qual o espaço destinado ao esporte do interior do estado? R:Temos um espaço

específico para o futebol do Interior chamado de Entrevero. Acompanhamos jogo

a jogo os clubes da série b, c e d, primeira divisão, segundona e terceirona.

Também nas copinhas do segundo semestre. Acompanhamos os clubes do

Interior que jogam as principais competições, como voleisul de canoas e bento no

vôlei e caxias no basquete.