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JulhoAgosto_2009

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SIMPontifícias Obras MissionáriasCx. Postal, 0367070084-970Brasília - DFTel: (61) 3340.4494 Fax:(61) 3340.8660

MISSÕESMissionários(as)da ConsolataRua Dom Domingos de Silos, 11002526-030São Paulo - SPTel: (11) 2256.8820

MISSãO JOvEMMissionáriosdo PIMECx. Postal, 321188010-970Florianópolis - SCTel: (48) 3222.9572Fax: (48) 3222.9967

MundO E MISSãOMissionários do PIMERua JoaquimTávora, 68604015-011São Paulo - SPTel: (11) 5549.7295 Fax:(11) 5549.7257

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Os subsídios produzidos pela Comissão respon-sável pelo Projeto “O Brasil na Missão Con-tinental”, encontram-se

disponíveis para download em pági-na eletrônica criada especialmente para divulgar o Projeto. Para baixar conteúdos como a explicação do Tríptico (Capelinha Missionária), a Apresentação do Projeto Nacional de Evangelização, vídeos, artigos e fotos, basta acessar a página:http://www.revistamissoes.org.br/missaocontinental/home.htm

Comunidades, paróquias, dio-ceses, grupos e organismos podem utilizar o material em eventos e pro-gramas de formação e animação missionária.

O site recebe e divulga produções, notícias, artigos e experiências no contexto da Missão Continental em curso no Brasil. Contribuições podem ser enviadas para a assessoria de imprensa.

Pe. Jaime C. PatiasComunicação Missioná[email protected]

Subsídios MissionáriosO Brasil na Missão Continental

Sites:www.alemfronteiras.org.brwww.missiologia.org.brwww.ccm.org.br

www.pimenet.org.brwww.cimi.org.brwww.catolicanet.com

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3- Julho/Agosto 2009

SUMÁRIOjulho/agoSto 2009/06

Mural ----------------------------------------------------04 Cartas OPINIÃO -------------------------------------------------05 O Ano Paulino Maria Antônia Marques

ÁfrIca ---------------------------------------------------06 A família e a evangelização Michael Mutinda

PrÓ-VOcaÇÕES ---------------------------------------07 Vocação X Profissão Rosa Clara Franzoi

VOlTa aO MuNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo Cimi / Fides / revista Missões

ESPIrITualIDaDE ---------------------------------------10 Tobias: história de família Patrick Gomes Silva

TESTEMuNHO ------------------------------------------12 Colaboradores de Deus Giacomo Mazzotti

fÉ E POlÍTIca ------------------------------------------14 Fragilidade da democracia Humberto Dantas

fOrMaÇÃO MISSIONÁrIa --------------------------15 A Criação no coração da Missão Arlindo Pereira Dias

JuVENTuDE MISSIONÁrIa ---------------------------19 É preciso se posicionar frente às escolhas da vida Vanessa Ramos e Jonathan Constantino DESTaQuE DO MÊS ----------------------------------20 Consequências da opção profética Lírio Girardi

ESPEcIal ------------------------------------------------22 Consolata Peregrina Rosa Clara Franzoi

IGrEJa ---------------------------------------------------23 Oficializada a grilagem da Amazônia Comissão Pastoral da Terra

INfâNcIa MISSIONÁrIa -----------------------------24 Você não é daqui, é?! Roseane de Araújo Silva

ENTrEVISTa aNGÉlIcO BErNarDINO -------------26 O Verbo se fez carne Jaime Carlos Patias e Karla Maria

aTualIDaDE ---------------------------------------------28 Pastoral Afro busca caminhos de inclusão Maria José de Deus

VOlTa aO BraSIl --------------------------------------30 CNBB / COMINA / 12º Intereclesial das CEBs

E D I T O R I A L

FeRMentO dO ReInO

1 - Padre Néo Monteiro, imc,na Missão de Maúa, Moçambique.

Foto: Arquivo Pessoal

2 - Dom Angélico Sândalo Bernardino.Foto: Jaime C. Patias

ois acontecimentos significativos marcarão a vida da Igreja no mês de julho: o Mutirão Latino-Americano e Caribenho de Comunicação (Porto Alegre, dias 12 a 17) e o 12º Intereclesial das CEBs - Comunidades Eclesiais de Base (Porto Velho, dias 21 a 25). O Mutirão busca promover diálogos sobre processos de comunicação à luz da cultura

solidária, e o Intereclesial, escutando o grito da Amazônia, refletirá sobre Ecologia e Missão. Ambos os eventos buscam caminhos para uma sociedade mais justa e comprometida com a liberdade e a paz. A revista Missões estará presente nos dois encontros. As CEBs nasceram há dois mil anos com a Boa Notícia da Ressurreição de Jesus reacendendo em todos os corações a chama da esperança. Deus se comunica com a humanidade gerando transformação numa cultura solidária. Os primeiros cristãos “eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (At 2, 42). Por isso, a casa aparece como espaço importante de encontro da família e da comunidade – Igreja. Os Evangelhos mostram Jesus e seus discípulos passando pelos lares. Os Atos dos Apóstolos falam de casas acolhedoras, a serviço da evangelização: a casa de Tabita, de Cornélio, de Lídia, de Priscila e Áquila... Também Paulo, hóspede de tantas habitações, recordará a acolhida recebida nas igrejas reunidas nos lares. A Igreja nasce com características da família, nas casas. Nelas os primeiros cristãos eram abastecidos na fé e encorajados a sair para a Missão. Não faltavam problemas e conflitos internos e externos, marcados sobretudo pela perseguição do Império Romano descrita no livro do Apocalipse.

Com o passar do tempo, sobretudo a partir do século IV depois de Cristo, com o imperador Constantino, a Igreja que antes se reunia nas casas ou mesmo nas catacumbas, com liberdade religiosa, cede lugar

à Igreja dos grandes templos e das liturgias pomposas. Não faltaram vozes proféticas como São Francisco de Assis, Santa Clara, Santo Antônio e tantos outros, determinados a reconstruir a Igreja. Este período irá até o século XX, quando se realizou o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). “A Igreja está com cheiro de mofo. Precisamos abrir

suas portas e janelas para que ela entre de ar novo no mundo”, dizia o papa João XXIII preocupado em retomar a fidelidade ao projeto de Jesus. É aqui que renascem as CEBs, grupos de pessoas simples que voltam a se reunir para pensar juntos a sua realidade à luz da Palavra de Deus. As CEBs “converteram-se em centros de evan-gelização e em motores de libertação e desenvolvimento” (Puebla, 96). Hoje, este velho e sempre novo modo de ser Igreja continua mais vivo e necessário do que nunca, justamente porque a Igreja segue carregando o peso de algumas estruturas caducas que já não favorecem a transmissão da fé. Preocupada com a conversão pastoral e renovação missionária, a Conferência de Aparecida propõe fazer das paróquias “comunidades de comunidades” (cf. 309, 517 e 179) e transformá-las de comunidades de manutenção em “centros de irradiação missionária em seus próprios territórios” e “lugares de formação permanente”. Na busca de soluções, Aparecida reconhece a importância das CEBs, um modo de ser Igreja do passado, do pre-sente e do futuro. Nesse sentido, o Mutirão de Comunicação e o 12º Intereclesial são momentos de graça para reafirmar o compromisso com o projeto de Deus na história. A comunicação da Boa Notícia de Jesus Ressuscitado continua ecoando nas comunidades como fermento na construção do Reino.

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Ano XXXVI - Nº 06 Julho/Agosto 2009

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São PauloFone/Fax: (11) 2256.8820Site: www.revistamissoes.org.brE-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: Patrick Gomes Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César Caldeira, Mário de Carli eMichael Mutinda

Colaboradores: José Tolfo, Vitor Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva, Humberto Dantas, Karla Maria, Dirceu Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo Castro e Cecília Soares de Paiva

Agências: Adital, Adista, CIMI,CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência Notícias do Planalto e Vaticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Luiz Andriolo

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições LoyolaFone: (11) 2914.1922

Colaboração anual: R$ 50,00BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2Instituto Missões Consolata(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários e Missionárias da ConsolataFone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP (11) 2231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Julho/Agosto 2009 -

Mural do Leitor

Pentecostes em Boa Vista“Unidos em tuas mãos construindo a

paz” foi o lema que convocou as comunida-des cristãs para a grande festa que reuniu cerca de duas mil pessoas no Ginásio Totosão em Boa Vista, Roraima, no dia 31 de maio, solenidade de Pentecostes. A festa contou com danças, momentos celebrativos como os 60 anos da presença em Roraima das missionárias da Conso-lata, que chegaram um ano depois dos missionários, sendo que com elas chegou também o padre Bindo Meldolesi, que ainda se encontra em Boa Vista.

Sugestiva foi a composição do mapa do estado e da diocese visualizando as diferentes áreas, paróquias e comunidades. Cobrindo com terra trazida das serras o espaço da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o ato quis significar a realização de um sonho e o começo de uma nova história para os primeiros habitantes desta região.

Nas palavras do bispo de Roraima, dom Roque Paloschi, por um lado o agra-decimento a Deus pelo trabalho generoso, abnegado de tantos missionários, mis-sionárias, leigos e leigas engajados no anúncio do projeto do Reino. Por outro lado, o convite forte e vibrante para que as comunidades cristãs não percam aquela ação profética que o Espírito Santo tem consignado à sua Igreja no dia de Pen-tecostes. Continuando sua fala, o bispo lembrou o grande esforço de construir uma ação pastoral comum na diversidade de presenças humanas e missionárias, e nesse sentido a necessidade de abraçar e acatar as diretrizes do Plano Diocesano de Pastoral, fruto da Assembleia Dioce-sana realizada no mês de dezembro do ano passado, que em consonância com

o Documento de Aparecida e com as diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos convida a sermos discípulos missionários.

Após uma longa celebração vivida com intensidade, realizou-se o grande envio para a nossa Igreja que, concluindo o seu centenário se coloca agora a caminho de novos tempos, com a chegada de vários reforços e com a esperança que o tes-temunho de missionários e missionárias continue a fazer dela aquele sinal luminoso e profético onde os pobres, os excluídos e os marginalizados de nosso tempo possam encontrar a sua esperança para com eles cantar: “há cem anos aqui foi plantado o Evangelho de Cristo que chama, nesta terra de nossos avós, Macuxi, Yanomami, Wapixana. Nossa Igreja no seu centenário da floresta quer vida e calor, ergue a ti o seu canto festivo de louvor gratidão, ó Senhor. Em Roraima, pelo Rio Branco banhada, recebemos a fé e a missão, de anunciar o Evangelho da vida abraçando as culturas irmãs”.

Os votos são de que estas palavras se tornem e continuem a ser o rumo e o caminho de nossa Igreja.

Pe. Gianfranco Graziola, imc,Assessor das Pastorais Sociais, diocese de Boa Vista, RR.

Vocação missionáriaParabéns à equipe de “Missões” pelo

trabalho. Vejam o discurso de uma família quando um jovem manifesta o desejo de ir para o Seminário: “O quê!? Entrar no Seminário com o intuito de ser missioná-rio?!... Tá doido, não tem nada melhor pra fazer não?” Este é um dos discursos que ouvimos hoje. Todos querem ter padre para realizar as mais diversas atividades na Igreja, mas ninguém quer dar um filho para desempenhar estas atividades. Foi assim comigo e é assim com a maioria dos jovens que se sentem chamados a seguir a vocação sacerdotal, religiosa ou missionária. Os próprios pais quase sempre dizem: “Não! Meu filho não!” Não é fácil ser seminarista. É preciso, às vezes, contrariar a vontade das pessoas que mais amamos para fazer a vontade Daquele que ama a todos nós, Jesus Cristo. Amigos e amigas, permitam-se uma oportunidade, façam uma experiência vocacional!

Luiz Antonio de BritoSeminarista postulante imc, Curitiba, PR.

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período entre 28 de junho de 2008 e 29 de junho de 2009 foi proclamado por Bento XVI como o Ano Paulino, para celebrar os dois mil anos do nascimento do apóstolo Paulo. Um tempo para retomar seus ensinamentos, sua paixão por Jesus Cristo e suas estratégias missionárias.

A partir de suas cartas, ficamos conhecendo as primeiras comunidades e as pessoas que colaboraram intensamente com ele no anúncio do Evangelho. Reler esses documentos e refazer o caminho do apóstolo e das primeiras comunidades é um forte apelo à conversão e nos traz inspiração para viver nossa missão nos dias de hoje.

A proclamação do Ano Paulino foi acolhida com grande entusiasmo. As iniciativas para estudar as cartas de Paulo se multiplicaram. Em muitas regiões do país foram realizados congressos, colóquios, seminários, conferências, semanas teo lógicas, tríduos de formação, celebrações litúrgicas, cursos e diversos encontros. As editoras publicaram muitos livros sobre o apóstolo. Tudo isso contribuiu para a reflexão, o estudo e a oração. Mais: com Paulo aprendemos que para ser missionários precisamos de liberdade de ação e mística, “Tudo posso naquele que me dá forças” (Fl 4, 13).

Em 2008, o mês da Bíblia teve como texto de estudo a Primeira Carta aos Coríntios. Foram publicados muitos subsídios para as comunidades. A equipe do Centro Bíblico Verbo assessorou vários grupos em São Paulo e outras regiões do país. Ouvimos muitas pessoas expressarem sua alegria por ver que suas pró-prias experiências se espelhavam nas comunidades de Corinto. Com essas pessoas redescobrimos Paulo, um homem de carne e osso que viveu uma profunda experiência de encontro com Jesus crucificado e ressuscitado, e aprendeu a ser missionário no contato com as comunidades.

Importância da BíbliaO impulso dado pela celebração do Ano Paulino possibi-

litou uma vivência mais intensa do mês da Bíblia. E a grande mensagem que permanece da Carta de Paulo às comunidades de Corinto é esta: o único dom que torna possível a vivência fraterna é o amor (1Cor 13,1-13). Uma mensagem universal e válida para todos os tempos. A celebração do Ano Paulino foi um incentivo importante, mas o conhecimento da experiência de Paulo e das primeiras comunidades deve continuar sem-pre. A Igreja do Brasil terá essa oportunidade com o estudo da Carta de Paulo aos Filipenses, texto proposto pela CNBB e pelas Instituições Bíblicas para o mês da Bíblia de 2009. É uma Carta escrita com o coração, revelando uma comunidade solidária e terna, pessoas abertas às necessidades do próprio Paulo e de outras comunidades pobres. Em Filipos, como em toda a parte, também havia diferenças sociais que provocavam conflitos e disputas. Diante dessa realidade, Paulo oferece o exemplo de Cristo que assume a condição de servo (Fl 2,

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O Ano Paulino“... Esquecendo o caminho percorrido e ansiando com todas as

forças pelo que está à frente”. (Fl 3, 13)

de Maria Antônia Marques

6-11). A vivência cristã é seguir Jesus crucificado. É viver a solidariedade e a misericórdia.

As realizações do Ano Paulino foram muitas, o que se pode comprovar pela leitura de diversos informativos e sites das dio-ceses e dos institutos e faculdades de Teologia. Além desses eventos externos, porém, pode-se intuir que a ação do Espírito de Deus nas pessoas foi muito maior, permitindo que no dia a dia a adesão ao projeto de Jesus se tornasse realidade. Tudo isso é motivo para uma grande ação de graças a Deus.

Mas não podemos parar por aí... É preciso continuar crian-do novas possibilidades para que mais pessoas possam se aproximar dos ensinamentos de Paulo. Para que possamos, como o apóstolo, trazer o ensinamento de Jesus crucificado e ressuscitado para nossos dias, na certeza de que “a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5).

Maria Antônia Marques é assessora do Centro Bíblico Verbo e professora da área bíblica da Escola Dominicana de Teologia e da Faculdade Dehoniana.

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Mulher em Marandallah, Costa do Marfim.

6 Julho/Agosto 2009 -

futuro da humanidade é a família. A família é a célula fundamental da sociedade”, dizia o papa João Paulo II. Na África, a família e a evangelização são questões emergentes, assim como em todo o mundo. É justamente para refletir sobre esse desafio que nos dias 11 e 15 de julho celebramos, respectivamente, o Dia Internacional da Família e o Dia Mundial da População.

a família africanaNa África, a imagem da Igreja como família é fundada na

imagem de Deus como Pai, destacando valores fundamentais vividos nas culturas africanas, como solidariedade, partilha, res-peito, hospitalidade e união. Este modelo de Igreja abriu corações e os preparou para dialogar com os desafios da evangelização no continente, ainda que com muitas dificuldades. O conceito de família africana é muito amplo. É entendido de diversas ma-neiras, dependendo da geografia, história, religião, influência do colonialismo, migrações, estruturas sociais e outras diversidades do povo. Por isso, nesse contexto, torna-se bastante complexo lidar com a questão do casamento e da geração de filhos. Na família africana, em geral, gerar filhos é um valor incontestável. Por isso, a mulher que tem filhos é muito valorizada. Ainda que

de Michael Mutinda

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seus filhos tenham falecido, ela será mais feliz do que a mulher que nunca gerou. Os filhos são o fruto da união e este é um dos principais objetivos do casamento na África. O núcleo familiar é muito mais do que pai, mãe e filhos, incluindo avós, tios, primos e sobrinhos. Com isso podemos entender porque a esterilidade é considerada uma desgraça. O homem estéril automaticamente não garante o futuro que herdou dos ancestrais. Imaginem então as dificuldades para se entender o celibato na Igreja. A poligamia (um homem que se casa com várias mulheres) no passado era o sistema de matrimônio mais comum em diversas culturas da África. Este sistema seria considerado necessário para garantir a continuação da sociedade. A mulher solteira era vista com humilha-ção na sociedade e a responsabilidade do homem era medida de acordo com o número das mulheres e filhos que possuía. Quanto maior o número, mais prestígio recebia.

Novas categoriasHoje, a África conta com um grande número de homens e

mulheres na vida religiosa e consagrada e com milhares de sa-cerdotes diocesanos. Isto mostra o despontar de uma nova cultura e a aceitação de maneiras diferentes de viver, em especial dos jovens, sem perder a identidade da cultura africana. A cultura é dinâmica e por isso está em constante transformação. Ao mesmo tempo em que muitas culturas e o cristianismo não aceitam a poligamia, o islamismo a acolhe e promove, não só como uma prática, mas como um símbolo africano. Neste sentido, ele está florescendo como a ‘religião africana’ e a religião perfeita para os africanos. Na sociedade contemporânea africana, desponta uma nova cultura que muda os comportamentos e concepções. O capitalismo toma conta das famílias e o individualismo aumenta na sociedade. As famílias que outrora seguiam valores comunitários e coletivos hoje estão trabalhando cada vez mais isoladas e se tornando mais independentes, afetando o sistema comunitário. A união parece não mais uma característica indispensável da família. Ao mesmo tempo, a Igreja parece não ser mais identificada com a família, mas com a hierarquia. Torna-se cada vez mais difícil defender a vida humana, e considerar a família como a origem da evangelização é uma questão a ser pensada.

Michael Mutinda é seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP, Ipiranga, São Paulo.

CuriosidadeExistem dois tipos de poligamia: poliginia (que é comum na África), na qual um homem pode ser casado com mais de uma mulher ao mesmo tempo e poliandria, na qual uma mulher pode ter simultaneamente dois ou mais maridos. Cultura designa todo o complexo das práticas e ações sociais que um povo tem e que seguem um padrão determinado no espaço. São as crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade; que explicam e dão sentido à cosmologia social; que identificam um grupo humano em um território e num determinado período. Islamismo é uma religião monoteísta, baseada nos ensinamentos de Maomé (570-632 d.C.), chamado ‘O profeta’, contidos no livro sagrado islâmico, o Alcorão. O islamismo exige submissão à lei e à vontade de Alá. O muçulmano é o seguidor de Maomé, e significa aquele que se submete a Deus.

ÁfricaA família e a evangelização

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Quer ser um missionário/a?Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SPTel. (11) 2231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes SilvaRua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SPTel. (11) 2232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - padre César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AMTel. (92) 3624-3044 - E-mail: [email protected]

de Rosa Clara Franzoi

á é tradição na Igreja do Brasil propor para agosto - mês vocacional - uma reflexão sobre o tema vocação, aquela palavrinha que responde uma das perguntas que todos nos fazemos quando jovens, ao olhar para o futuro: “o que eu quero ser e fazer da minha vida?”.Você deve estar lembrado que há tempos, nesta

página, vimos trabalhando os diferentes aspectos da vida e da personalidade do ser humano, dificuldades, motivações, escolhas... Tudo está muito ligado ao nosso futuro. Embora vivamos cercados de fatos, notícias, que apregoam a nulidade da vida, nós continuaremos repetindo que ela é o valor mais precioso que Deus nos deu. Sendo assim, a pergunta é óbvia: o que queremos fazer com esta preciosidade? O Criador espera de cada um de nós uma resposta, porque todos somos seus vocacionados.

Somos seres inacabadosVamos iniciar com a premissa que todos já conhecemos:

ao vir ao mundo somos inacabados; porém, com muitos “in-gredientes” em potencial para a formação da nossa persona-lidade. É bom lembrar que nada nos é dado de ‘mão beijada’; tudo é conquistado. Mas, é um lutar, uma busca cuja meta traz muita alegria e satisfação. Nesse trabalho de realização pessoal, vem nos ajudar dois elementos que fazem parte do processo: vocação e profissão. Para muitos, vocação e profissão são a mesma coisa. Na realidade, porém, elas têm conotações diferentes, também se há relação entre elas, às vezes até se juntam.

Características de cada umaA vocação está na linha do ser. Ser o quê? Ser pai, ser

mãe, ser religioso/a, sacerdote, assumir algum ministério para o bem da comunidade... É um chamado de Deus e uma resposta da pessoa, para um determinado ‘estado de vida’. Já a profissão está na linha do fazer. Fazer o quê? Fazer uma

ação como professor, médico, agricultor, cientista, faxineiro, técnico etc. As profissões são muitíssimas, ao passo que as vocações, como estado de vida, são poucas. A vocação é um chamado de Deus para uma missão específica; é uma resposta pessoal consciente e livre. A profissão é uma atividade que a pessoa escolhe de acordo com as aptidões e possibilidades. A profissão é fonte de renda, de dignidade e que dá direito a uma aposentadoria. A vocação é doação gratuita e permanente. A profissão não é única; a pessoa pode ter mais do que uma e pode também mudar quando não estiver satisfeita. A vocação é única e definitiva. Na profissão se trabalha determinadas horas; na vocação, a dedicação é de 24 horas por dia, como acontece com pai, mãe, padre, pastor, religioso... Porém, ambas precisam de muita dedicação e amor. Trabalhar só pelo dinheiro pode até trazer muito sucesso, mas no fundo fica o vazio. A pessoa que descobre a sua vocação e consegue fazer uma escolha certa da profissão é uma pessoa feliz, realizada. Muitas vezes vemos pessoas bem sucedidas profissionalmente, mas não satisfeitas. De repente percebem que o que lhes falta é uma vocação, um estado de vida estável. Neste caso a realização se torna completa.

Nas próximas edições desenvolveremos mais a fundo o tema vocação. Todos somos vocacionados, chamados a dar nossa resposta quanto à nossa vida.

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

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Comprometidos com Deus e com a vida.Vocação X Profissão

Para refletir:1. Se de fato acreditamos que a vida é um presente que rece-

bemos do Criador, que atitudes devemos ter em relação a ela no nosso dia a dia?

2. Ser um vocacionado é uma predileção de Deus que chama, que escolhe. Como deverá ser a nossa resposta?

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África do SulTrês novos missionários e um bispo

A África do Sul foi abençoada com três padres mis-sionários e um bispo, todos missionários da Consolata. Padres Josephat Mweu Mwanzia e Daniel Mutonye Kivuw’a, ambos quenianos, chegaram nos meses de abril e maio respectivamente, e padre Pendawazima, da mesma nacionalidade, chegará nos próximos meses. Dom José Luís Ponce de León, argentino há muitos anos na África do Sul, foi secretário geral do Instituto Missões Consolata e tomou posse como bispo de Igwavuma no dia 18 de abril. Josephat fez os estudos de Filosofia e Noviciado no seu país natal. Em 2002 começou a estudar Teologia em São Paulo, Brasil. Terminou em 2006 os seus estudos no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP). No dia 7 de dezembro do mesmo ano foi para Cascavel - paróquia São Paulo - onde ajudou no serviço missionário por um ano. Em dezembro de 2007 fez seus votos perpétuos e foi ordenado diácono, prestando serviços ainda na mesma paróquia por dez meses. No dia 21 de novembro de 2008 foi ordenado sacerdote no Quênia, e depois partiu para sua missão na África do Sul. Padre Josephat foi recebido pelo superior da delegação, padre José Fernandes Martins, que o levou em visita às missões de Daveyton em Johannesburgo, Waverley, em Preto-ria, Madadeni e Osizweni, em Dundee. Em Osizweni tiveram a visita do novo bispo da diocese de Igwavuma, dom José Luís, imc. Ver e ouvir o bispo argentino e o padre português José Martins falando e pregando na língua zulu fluentemente, serviu de grande incentivo para padre Josephat no momento em que estuda zulu em Mtubatuba, diocese de Igwavuma.

ChinaEvangelização após o Ano Paulino

Continuar o caminho do Ano Paulino, testemunhar com coragem o Evangelho, manter sempre alta a chama da evangelização: estes são os motivos principais do Congresso da Partilha da Evangelização, realizado quase no encerramento do Ano Paulino, em 6 de junho, organizado pela catedral da diocese de Taiwan. Mais de mil fiéis de várias paróquias guiados por seus párocos participaram do Congresso junto com os seminaristas do Seminário Provincial de Shan Xi e cerca de 30 sacerdotes e religiosas. Fontes: Cimi, Fides, revista Missões.

Estados unidosMissão e imigração

Os imigrantes que do México conseguem chegar aos Estados Unidos se tornam prisioneiros daqueles que os fizeram chegar até lá, e enquanto não pagam sua dívida, não podem pensar em voltar para casa. Devem trabalhar e suar quando conseguem encontrar trabalho, em condições de escravidão e se privando de tudo, para economizar dinheiro necessário para pagar a dívida. Este testemunho de Luca De Mata, mexicana, mostra a trágica situação em que vivem: “Foi muito difícil para mim chegar até aqui. E agora estamos muito preocupados, porque o trabalho terminou e nós ainda não terminamos de pagar a dívida. Agora não sabemos como pagar. Devemos economizar na alimentação para pagar a dívida, esperamos que al-guém nos possa ajudar. Uma pessoa deixa o próprio país para viver numa situação ainda mais difícil, se trabalha muito, mas se ganha realmente pouco, muito pouco. Chegamos aqui com o desejo de ganhar e certamente ganhamos um pouco mais que em nosso país. Meu marido pode trabalhar quando tem trabalho nos campos. O dia todo debaixo do sol, desde as quatro da manhã, e não dão a ele comida, somente água. Ele trabalha oito horas e recebe 50 dólares. Mas não tem outro trabalho para nós. Eu sei que quem dá emprego é mexicano. É uma situação muito difícil nos Estados Unidos. No momento, não podemos voltar atrás porque temos ainda a dívida para pagar. Talvez mais adiante... se chega outro período de trabalho e podemos ganhar ainda mais um pouco de dinheiro, então pensaremos em voltar para casa. Mas agora devemos pagar a dívida. Pagar tudo”.

PeruAlan Garcia e o processo genocida

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi – lançou nota em 7 de junho, protestando contra o assassinato de mais de 60 pessoas, dentre elas 30 indígenas do povo Awajun, que vive na Amazônia peruana. Os indígenas foram assassinados durante mobilizações contra o Tratado do Livre Comércio – TLC – do Peru com os Estados Unidos, que possibilitará a invasão de terras indígenas e a exploração indiscriminada dos recursos ambientais. O governo do presidente Alan Garcia desrespeitou a Convenção n.169 da Or-ganização Internacional do Trabalho ao aprovar leis para o Tratado sem consultar os Povos Indígenas. Em protesto, os indígenas organizaram uma passeata numa estrada, e foram violentamente reprimidos. Esse fato é uma demonstração inequívoca do processo de criminalização e violência a que estão sendo subme-tidos a maior parte dos Povos Indígenas nas Améri-cas. Trata-se de uma afronta às leis peruanas e aos acordos internacionais que garantem a esses povos suas terras e o usufruto dos recursos naturais. O Cimi se compromete a lutar para que esse genocídio seja julgado em fóruns internacionais. Nesse sentido, reforça a denúncia nos organismos internacionais e solicita, em especial à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos – OEA – que tome as providências cabíveis em relação a mais esse atentado contra à vida dos Povos Indígenas.

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violência foi e é, uma realidade muito conhecida dos cristãos. No passado, foram muitas as situações em que eles tiveram que testemunhar sua fé enfrentando a violência. Os primeiros cristãos viveram esse contexto em primeira pessoa. Acreditar em Cristo significava muitas vezes ser excluído de sua própria família, discriminado,

perseguido e mesmo morto por causa da fé. Infelizmente essa realidade ainda hoje existe, alguns cristãos continuam tendo que testemunhar sua fé em situações de violência. Apesar da liberdade religiosa estar contemplada na Declaração dos Direitos Humanos, em alguns países tal não acontece e, assim, muitos continuam sofrendo, tendo que testemunhar sua fé em meio à violência. Tais pessoas contam com a solidariedade de outros cristãos que podem testemunhar sua fé livremente.

Como podemos ser solidários? Antes de mais nada, conhe-

Intenção Missionária

Agosto: Os cristãos perseguidos.Para que os cristãos, que em muitos

países são discriminados e perseguidos por causa do nome de Cristo, tenham

reconhecidos seus direitos humanos, a igualdade e a liberdade religiosa, de

modo que possam viver e professar livremente a sua fé.

de Vitor Hugo Gerhard

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As últimas famílias de não-índios que permaneciam na terra indígena Raposa Serra do Sol, localizada no estado de Roraima, terminaram de ser retiradas da área no dia 15 de junho. Em março deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a área fosse de posse exclusiva dos quase 19 mil indígenas que vivem na região. Desde então, a Polícia Federal (PF) realizou a desocupação de 50 famílias que permaneciam no território. A luta pelo reconhecimento de Raposa Serra do Sol enquanto área indígena durou mais de 30 anos. Em 2005, o governo federal sinalizava que a área deveria ser destinada aos indígenas. A decisão do STF, quatro anos depois, reafirmou a área enquanto reserva destes povos. Com a retirada dos não-índios da

reserva, a PF continuará no local por mais 60 dias, para que os procedimentos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) sejam cumpridos.

Os fazendeiros, também chamados de arrozeiros e que mantinham a área invadida, foram os que mais apresentaram resistência durante a efetivação da terra enquanto reserva indígena. Uma assembleia com todos os povos da reserva foi realizada no final do mês de junho para discutir a reor-ganização da área. Os indígenas vão elaborar projetos de ações a serem desenvolvidas no território.

Fonte: Radioagência NP

PF conclui retirada de não-índios da Raposa Serra do Sol

Julho: A humanidade reconciliada e unida.Para que a Igreja seja núcleo e semente da humanidade reconciliada e unida como única família de Deus, através do testemunho de todos os fiéis nas diversas nações do mundo.

cendo essas realidades. Não podemos ser indiferentes, fazer de conta que tais situações não existem. A Campanha da Fraternidade 2009 com o tema “Fraternidade e Segurança Pública” declara que tem por finalidade: “colaborar na criação de condições para que o Evangelho seja mais bem vivido em nossa sociedade por meio da promoção de uma cultura de paz, fundamentada na justiça social”. É necessário e urgente criar tais condições no mundo inteiro. Devemos também estar prontos para uma solidariedade mais concreta. O apóstolo Paulo nos deu o exemplo, vendo que algumas das suas comunidades precisavam de ajuda, organizou uma grande coleta naquelas que estavam em melhor situação. Esta partilha sempre fez parte da vida dos cristãos. Em tempos de crise como estes que estamos vivendo, sempre se diminui na ajuda aos outros, o que é compreensível, e percebemos mais uma vez que quem mais sofre com estas crises provocadas pelos mais ricos, são sempre os mais pobres. Sejamos solidários com os necessitados.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote diocesano de Novo Hamburgo e trabalha na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Canela, RS.

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Celebração em Pinhal Grande, RS.

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A família, patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais valiosos da sociedade.

cada ano se celebra, no mês de agosto, a Semana Nacional da Família, um espaço especial para salientar sua importância. A Igreja na sua sabedoria, sabe que é fundamental um olhar atento

à família, patrimônio da humanidade, que deve ser considerada “um dos eixos trans-versais de toda a ação evangelizadora” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2008-2010, n. 128). O objetivo é mobilizar a sociedade brasileira no sentido de refletir, redescobrir e pro-mover os verdadeiros valores humanos e cristãos da família.

É notório que o conceito de família tem sido alterado nos últimos tempos e que sua forma tradicional enfrenta hoje vários

Ade Patrick Gomes Silva

Tobias:história de família

e complexos desafios. Alguns estudos têm apontado que os membros das famílias que rezam unidos têm mais chances de ultrapassar as dificuldades que a vida em conjunto lhes proporciona. Saber rezar e falar de Deus em família é fundamental para alcançar a felicidade. A palavra de Deus é essencial nesta partilha e talvez a maneira mais simples para facilitar este diálogo. Assim, nesta edição propomos a leitura orante do livro de Tobias, capítulo 10, versículos de 10 a 13.

livro de tobiasO livro de Tobias é a história de uma

família. Tobit, um piedoso, observante e caridoso judeu residente em Nínive, fica cego. Raguel, seu parente, residente em Ecbátana, tem uma filha de nome Sara, que viu morrer sete dos seus maridos na

noite do matrimônio. Tobit e Sara em suas orações pedem a Deus que lhes tire a vida, pois viver daquele jeito, não faz mais sentido. Porém, desses dois infortúnios e dessas duas petições, Deus irá realizar algo de extraordinário: enviará seu anjo Rafael (Deus cura), que conduzirá Tobias, filho de Tobit, à casa de Raguel para es-posar Sara, e ainda dará o remédio que curará Tobit da sua cegueira. Trata-se de uma história edificante, na qual se pode destacar o espírito de família, desenvol-vendo uma bela noção do matrimônio. Ela recorda também os deveres para com os mortos e o conselho de dar esmola. O anjo Rafael, instrumento de Deus, manifesta e ao mesmo tempo esconde a ação do Senhor. É essa providência cotidiana, essa proximidade de um Deus benévolo, que o livro convida a reconhecer.

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Tobias pedindo Sara, filha de Raguel, em casamento.

Família alargada em Timor Leste.

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Família, lar onde a vida humana

nasce, é acolhida e se desenvolve. A primeira escola de

fé e educação.

Contexto de tobiasO capítulo 9 descreve a celebração

das bodas. Os jovens Tobias e Sara se casam e após as festas, que duram 14 dias, Tobias pede ao sogro que lhe permita regressar à sua casa, pois sente que seus pais já estarão preocupados com a sua demora. Apesar de Raguel, num momento inicial, tentar demover Tobias de suas intenções, acaba aceitando o pedido e dando-lhe autorização para regressar à sua casa para ver os pais. Antes de dar início à viagem de regresso, os dois esposos, recebem as últimas “instruções/conselhos” de Raguel e Edna.

Conselhos de RaguelPara tobias - Raguel começa por

desejar a Tobias felicidades e o desejo de que a sua viagem de regresso à casa de seus pais decorra da melhor forma. Implora a Deus que acompanhe Tobias e sua filha, Sara, no seu caminho, desejando que seja o bom caminho. Isto é, o desejo de Raguel, vai muito além de um simples desejar que tudo corra bem, mas é um desejo de que a presença de Deus ilumine os dois esposos na caminhada, em outras palavras, no caminho da felicidade. Raguel reconhece que só Deus pode dar a luz para que eles alcancem esta felicidade. Manifesta também o desejo de poder ver os seus netos antes de morrer, desejo que será também partilhado pela esposa.

Para Sara - Raguel entrega Sara, sua filha, aos seus novos “pais”, seus sogros, convidando-a a respeitá-los da mesma forma que respeitara seus pais. Na verdade, Raguel coloca os sogros ao mesmo nível dos pais “doravante eles são teus pais, como os que te deram vida” (10, 12). Espera que sua filha esteja à altura da missão, esperando e desejando receber boas notícias relativas a ela.

Conselhos de EdnaPara tobias - Edna trata Tobias como

filho e como irmão, colocando-o em pé de igualdade. Também ela deseja ver os seus netos antes de morrer, algo bastante natural e sinal de vida. Tobias está agora

encarregado de “tutelar” pela sua filha. A “entrega” é feita na presença do Senhor, que é testemunha de tal ato. Tobias deverá fazer tudo para não lhe causar tristezas, isto durante toda a sua vida, para assim torná-la uma mulher feliz. Despedindo-se o envia na paz, o tradicional “shalom” hebraico, que vai muito além de nosso entendimento do que é a paz, com ausên-cia de conflito, mas que expressa toda a bênção de Deus. Tobias com o casamento ganhou uma “nova” mãe e uma nova “irmã” que agora zelam por ele também.

Passos da Leitura Orante da PalavraDisposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento e a escuta da Palavra de Deus.

1. Invocação ao Espírito SantoPeça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar” a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor, o teu Espírito”.

2. leitura (o que a Palavra diz em si) Objetivo: Conhecer bem o texto• Ler devagar e sem pressa!• Sublinhar o que achar importante• Ler os comentários presentes na Bíblia• Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil Algumas perguntas podem ajudar:Quais são as personagens? Onde decorre a ação?Quando acontece? O que fazem as personagens?

3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim)Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem!Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - MemorizarConfrontar a sua vida atual com a Palavra escutada:a. Sua vida com Deusb. Sua vida com os outrosc. Sua vida consigo mesmo

4. oração (o que a Palavra me faz dizer)Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas:1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e opera em sua vida3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom do Espírito Santo.

5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus)Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio. Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença.

6. Missão e ação (a Palavra me leva aos outros)A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deus tem a dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos e irmãs e de se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

ConclusãoApós os conselhos, abraços, beijos

e a bênção de Raguel e Edna, os novos esposos partem em direção a Nínive, onde uma família os aguarda já quase em deses-pero. Como despedida, Tobias manifesta o empenho de honrar seus “novos pais” todos os dias. A alegria de Tobias é grande, louvando a Deus por todas as maravilhas que realizou em seu favor.

Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.

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Paróquia Mater Dei, Kinshasa, R. D. Congo.

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de Giacomo Mazzotti

icamos um bom tempo privados da internet, e por isso, sem no-tícias do mundo. Agora, depois de muitas tentativas, parece que a coisa começa a funcionar; po-rém, sempre com o perigo de,

a qualquer momento ficarmos na mão novamente. Imaginem vocês a dificuldade, para quem – como eu – é acostumado a ter as notícias em linha direta na Itália.

F

Colaboradores de DeusPadre Giacomo Mazzotti, por muitos anos diretor da revista “Amico” na Itália, conhecido por sua simpatia contagiante, escreve da periferia de Kinshasa - República Democrática do Congo, onde é missionário e pároco da IgrejaMater Dei.

vamos a algumas, relativas à missão. Que aventura: ser pároco aqui no coração da África, a poucos passos da capital do Con-go, Kinshasa! Além da paróquia, a alguns quilômetros daqui, temos três centros sociais. Logo na primeira vez que me dirigi a um deles, me deparei com o problema de sempre: estradas impraticáveis. Fiquei atolado e levei mais de meia hora para sair e me livrar do barro pegajoso. Pas-sados alguns meses precisei dar início à elaboração do Plano de Pastoral para o novo ano, que intitulamos assim: “cola-boradores no campo que Deus mesmo cultiva”. Num pequeno fascículo, anotamos algumas indicações, muito simples, para o novo período, entre outras, a escolha da “pastoral do possível” e o calendário das diversas comissões, comunidades de base e movimentos. Assim iniciamos, apostando na boa vontade de todos. De minha parte me propus a motivar o mais possível e depois, confiar na ajuda do bom Deus, pela minha pouca experiência neste campo. Este tipo de aventura lança logo a gente em alto mar e se é obrigado

Mas, vejam, a missão se encarrega de ensinar a sermos pacientes, a moderar os nossos desejos, mesmo que sejam bons, lícitos e às vezes até necessários, como é o de dar e receber notícias... E então,

Padre Giacomo saúda as mães na paróquia Mater Dei em Kinshasa.

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Confissão durante visita pastoral.

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a navegar entre “as provas do mundo e as consolações de Deus”.

Meus companheirosPadre Nestor Nkulu, congolês, realmen-

te uma “bela inteligência...” Ele é professor de Filosofia, além de secretário do Instituto Filosófico de Santo Agostinho. Depois, o pa-dre Tarcisio Crestani, fundador da paróquia, que continua sendo o nkoko que significa “o vovô”, sobretudo das crianças. Estas, quando o veem de longe, com sua longa barba branca, o cumprimentam batendo três vezes o pé no chão, gritando: Nsai, nsai, nsai que significa: alegria, alegria, alegria! Ele é o responsável dos legionários/as de todo o decanato e preenche o tempo confeccionando terços. Orgulha-se de ter já feito mais de 30 mil.

Obviamente aqui trabalho não falta, pelo contrário, sendo eu também o ecônomo devo pensar em mil e uma coisas, atender a isso e aquilo, assinar e carimbar... Correr atrás do necessário para a manutenção das estruturas da comunidade e... às vezes até perder a paciência porque as coisas não saem bem como eu gostaria.

O desafio da pobrezaUma coisa que chega a causar muito

sofrimento é escutar as pessoas, que se aproximam com humildade e esperança em busca de uma resposta para seus problemas; um verdadeiro rio de tristeza. A pobreza é, sem dúvida, um dos maiores problemas; e nem sempre se pode dar respostas e infundir esperança. Os nossos meios aqui são muito limitados diante de necessidades tão grandes e numerosas.

de receio. Graças a Deus, tudo foi concluí-do na calma e tranquilidade; apesar de alguns casos de desordem e problemas de manipulação, sobretudo, nas cidades maiores. Agora temos o presidente e es-peramos que as autoridades se decidam a responder positivamente, às múltiplas expectativas da população, já cansada de tanto sofrer. Foi muito o trabalho de conscientização que a Igreja se propôs nos meses que antecederam ao pleito eleitoral. Foi uma verdadeira mobilização, feita sobretudo, com as comunidades de base para informar, discutir e fazer en-tender que a escolha necessitava de um pouco mais de conhecimento. Debates simples, mas vivazes, eram sustentados por pessoas um pouco mais preparadas e que conseguiram envolver os nossos cristãos num momento tão significativo e importante da história social, como cidadãos congoleses.

Veio depois o Natal, o primeiro - após tantos anos na Itália - vivido com uma preparação intensa, as celebrações muito sentidas, com sinais pequenos e modestos, mas, que ajudavam a indicar uma festa tão grande. Os “amigos da Consolata” prepararam um almoço para uma centena de crianças, num dos nossos vilarejos, junta-mente com alguns pequenos presentes para aumentar a alegria dos pequenos. Também os pobres não foram esquecidos. Cada um recebeu o presente, em sal, sabão, peixe e alguma peça de roupa, fruto da partilha de todos os cristãos da paróquia.

a alegria de estar juntoNo dia seguinte ao Natal foi a vez de

partilhar as alegrias natalinas com os cole-gas missionários na Casa Provincial. E foi tão bom que acabou ficando quase como uma regra. Agora, nos reunimos todas as segundas-feiras, para um pouco de descan-so, informação e oração. Aproveitamos para o retiro mensal, encontro com o Superior e troca fraterna de experiências. Apesar dos muitos empenhos procuramos manter-nos fiéis a esta prática para não perder esta ocasião semanal, que ajuda a refazer as forças físicas e nos aproxima como irmãos em nosso trabalho missionário. Assim, volta-mos à cotidianidade das nossas ocupações, felizes, por estar trabalhando e servindo o povo que o Senhor colocou ao nosso lado; pois, apesar das nossas limitações, temos no coração o grande desejo de fazer ‘bem’ o que devemos fazer, como nos ensina o nosso Fundador, o Bem-aventurado José Allamano, e agradecidos a todos quantos nos apoiam e torcem para que a nossa missão seja frutuosa.

Giacomo Mazzotti, imc, italiano, missionário em Kinshasa - República Democrática do Congo.

Nestes momentos, a gente sente a nossa grande impotência e sofre com eles. Muitas vezes a paróquia é mesmo a “última praia” para muitos que já não sabem mais onde bater a cabeça, sobretudo aqueles que vêm de longe e se encontram desprovidos de tudo. Como quase todas as paróquias de Kinshasa, também a nossa procura estar atenta ao processo de formação cristã: a pastoral juvenil, por exemplo, que compreen-de as crianças, os adolescentes e os jovens, tem as etapas formativas de acordo com a idade. Além disso, as comunidades de base precisam ser bem acompanhadas, porque elas são a coluna mestra que sustenta toda a vida da paróquia. Todas as quartas-feiras elas se reúnem e eu procuro estar sempre presente, para entender como as pessoas vivem, como pensam, como partilham e como rezam. São as comunidades de base, por exemplo, que se ocupam dos pobres, das famílias e dos doentes. Esta é realmente, uma experiência interessante que se costuma vivenciar no Advento e que se repete também na Quaresma: a missa è concelebrada por vários padres, em todas as comunidades, muitas vezes debaixo de uma árvore, ao pôr do sol. Na celebração se faz a partilha da Palavra de Deus - e esta parte emociona. O encontro é concluído com um pouco de amendoim e uma laranjada.

Conscientização políticaHá pouco tempo tivemos as eleições

presidenciais, depois de tantos anos de ditadura. Era a primeira experiência de democracia. Foi preparada, sonhada, mas também aguardada com um pouco

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Fragilidade da democraciafantasma dos golpes e da fragilidade de nossa cultura política. Os brasileiros, ou parte significativa deles, definitivamente não conseguem enxergar o significado de valorizarmos as leis. Nossas satisfações pessoais, e as crenças em salvadores, colocam em xeque o mais essencial valor em uma democracia: a estabilidade jurídica e institucional. Pessoas são menos importantes que leis. Isso pode parecer muito estranho para quem não está acostumado com a realidade jurídica, mas lembre-se que o sonho de todo cidadão é ver a lei sendo aplicada com o mesmo peso para ricos e pobres, brancos e negros etc. E na política não pode ser diferente, ou seja: a despeito do presidente, do governador e do prefeito existe um tempo exato para o cumprimento de mandatos e compromissos. Isso não pode ser movido por paixões, e sim pela razão.

Assim, não importa que Lula seja um bom presidente, ou que FHC tenha ofertado estabilidade econômica ao caos inflacionário. Pessoas passam, regras ficam, e mesmo que o povo se entenda como sábio o suficiente para mudá-las a todo o momento, precisa ser capaz de enxergar que alterações constantes representam incertezas que por vezes podem nos vitimar.

Eleições 2010A despeito de tais valores, faltando pouco mais de um ano

para as eleições presidenciais do ano que vem, estamos às vol-tas com nova rodada de incertezas acerca de nossos processos eleitorais. Primeiramente motivados por uma reforma política que só encontra consenso nos temas mais fisiológicos, retratando o interesse pragmático dos parlamentares. Deputados discutem e acordam que o poder público deve despejar um bilhão de reais nas campanhas, como se já não investisse muito no que chama-mos de horário eleitoral gratuito, que todos sabem é pago com dinheiro público na forma de abatimento fiscal das empresas de comunicação. Além disso, discutem a melhor forma de driblar a fidelidade partidária, abrindo janelas para a troca calculista de legenda às vésperas das disputas.

Mas a tese mais preocupante levaria Lula a um terceiro man-dato. A fórmula é complexa: o Congresso aprovaria a realização de um plebiscito realizado em setembro desse ano, passando à população a responsabilidade de o atual presidente participar das próximas eleições. Em caso de vitória ele seria candidato. E com cerca de 80% de popularidade, os defensores da mirabolante ideia entendem a vitória como certa. Pois fica o lembrete: esta-ríamos diante de mais um golpe em nossa frágil democracia. E mais, mancharíamos a bela história do homem que soube perder três eleições, vencer duas e deveria ser maduro suficiente para transmitir o poder ao próximo, respeitando o princípio democrático da alternância. Por último, é bom ainda lembrar que o mercado mundial valoriza a posição econômica do Brasil, mas em nenhum relatório deixa de destacar que uma de nossas principais virtudes é a estabilidade política. Além disso, Lula é respeitado como um dos maiores líderes políticos do mundo, e sua posição tem relação direta com a democracia. Por último, em 2014, ele poderia voltar a disputar uma eleição sob o signo de quem colocou o Brasil em posição privilegiada, como o presidente que se orgulha em dizer que nunca antes na história desse país...

Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio.

oucos se lembram, ou enxergam dessa forma, mas em 1997 o Brasil sofreu um golpe político. Em meio aos mandatos de 27 governadores e do presidente da Re-pública, o Congresso Nacional aprovou a reeleição. Ela não vigoraria a partir de 2002, mas sim imediatamente, nos pleitos de 1998, o que representou a reeleição de

alguns chefes estaduais e do presidente Fernando Henrique Car-doso, que haviam sido eleitos para apenas, e tão somente apenas quatro anos, em 1994.

Em 2002, recordemos, rumores davam conta de um novo atentado à democracia: por medo da instabilidade econômica gerada por uma possível vitória de Lula, o país seria alçado ao parlamentarismo, FHC seria eleito deputado federal e o plenário o levaria à condição de primeiro-ministro. Tudo não passou de mera especulação. Lula ganhou as eleições, acalmou os mercados e diante de uma sucessão politicamente tranquila, parecíamos próximos da estabilidade democrática.

Mas infelizmente nem todos acreditam nesse valor absolutamente essencial. E em pleno ano de 2009 passamos a conviver com o

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Um terceiro mandato para o presidente Lula seria um atentado à democracia.

Lula durante cerimônia de assinatura de protocolo para contratação de obras de drenagem do Programa de Aceleração do Crescimento, Brasília, DF.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

ntre os dias 12 e 16 de maio a cidade de Assis, na Itália, foi palco de um importante seminário que teve por tema “A Criação no coração da Mis-são”. O evento, organizado por

SEDOS (Centro de Documentação e Estudos sobre a Missão) e a Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Cria-ção (JPIC) da USG/UISG (União dos Superiores e das Superioras Gerais dos Institutos Religiosos) teve como enfoque principal a Teologia da Criação. Eram 230 líderes religiosos e alguns leigos de mais de 50 países, representando 82 institutos religiosos internacionais preocupados com o futuro do planeta. O fato de ter sido organizado na cidade de Assis, terra de Francisco e Clara, figuras universais por sua relação de proximidade e carinho para com a Criação, deu ao evento um significado muito especial.

a Criação e a MissãoUm dos expositores, o columbano

Sean McDonagh discorreu sobre “A história e evolução do universo” desde o Big Bang, há 13.700 bilhões de anos até nossos dias. O missionário recordou que os próximos 15 anos serão fundamentais na tomada de decisão e que a “história da Criação deveria estar no coração da Missão da Igreja e revelar o poder criador de Deus em e através de cada pessoa e cada ser”. Sean mencionou que o Atlas para a População e Meio Ambiente produzido pela Associação

Ede Arlindo Pereira Dias

pelo Avanço Científico (AAAS) mos-tra em que medida a tecnologia está transformando o mundo. “Esta nova era científica deu origem às tecnologias revolucionárias. Na medida em que estas se tornaram sofisticadas, os seres humanos adquiriram mais capacidade de transformar o mundo da natureza com meios extraordinários. Uma boa parte desta transformação aconteceu debaixo da pressão e do sistema capitalista e liberal”, explicou. “Um grande número dessas mudanças provoca danos enor-mes à estrutura da terra. Dois terços dos rios do mundo estão condenados em função da eletricidade e da irrigação. O desafio do século XXI consiste em desenvolver tecnologias que atuem de acordo com o processo da terra. Nós mudamos a química e a geologia do planeta. Os humanos precisam mudar substancialmente sua forma de ver e de considerar a terra, bem como o modo

de se relacionar com ela”, reiterou. Ao citar a obra The Great Work de Thomas Berry, Sean ressaltou que “os humanos estão chamados a realizar uma transição do período da devastação humana da terra a um período em que estabeleça uma relação de fortalecimento mútuo com o planeta. Responder a este grito da terra e ao grito dos pobres deveria estar no centro do seguimento de Cristo e da sua Missão”.

Eucaristia e EcologiaO professor da Universidade de

Flinders, padre diocesano e teólogo Denis Edwards, centrou sua aborda-gem nos temas “Conversão ecológica”, “Eucaristia e ecologia” e a “Deificação da Criação”. Ao comentar a encarnação do Verbo, Edwards afirmou que “em um mundo onde inúmeras formas de vida foram destruídas e muitas outras estão ameaçadas, necessitamos uma

A Criação nocoração da Missão“Comunhão com Deus é sempre profunda comunhão com toda a Criação”.

Grupo de trabalho durante seminário sobre "A Criação no coração da Missão" em Assis, Itália.

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apropriação mais profunda do signi-ficado do Deus conosco em Cristo. Necessitamos pensar a partir de um Deus conosco no sentido de um Deus com todas as coisas vivas. Quando o Verbo se fez carne, Deus abraçou a Criação no seu todo, inter-relacionando a história de vida em toda a sua com-plexidade e diversidade. A encarnação é Deus conosco no verdadeiro tecido da vida biológica”. Para Edwards, Jesus através de suas parábolas, se mostrou profundamente sensível ao ambiente que o cercava e, com suas histórias, foi capaz de comunicar aos mais sim-ples a noção de uma nova Criação, fato que motiva e dá sentido ao nosso grito urgente de “salvar o planeta”. O teólogo salientou a necessidade de se desenvolver uma teologia da redenção que leve em conta os êxitos e fracas-sos do processo evolutivo como nova matéria de base para uma “recriação” transformante.

Ao falar sobre “Eucaristia e ecolo-gia”, Edwards afirmou que a Eucaristia “indica e antecipa a divinização do universo em Cristo. Aquele que encon-tramos como sacramento na Eucaristia é Aquele por quem todas as coisas foram criadas e em quem tudo será transfigurado. A ação humana, que é uma expressão de amor e respeito pelas criaturas vivas, a atmosfera, os mares e a terra, deve ser considerada não so-mente em continuidade com o trabalho do Cristo Eucarístico, mas também, de algum modo como parte dela. Contribuir intencionalmente para a destruição

das espécies, ou aumentar cada vez mais o nível de dióxido de carbono na atmosfera, não poderia deixar de ser visto como uma negação do próprio Cristo. É uma negação do significado de tudo o que celebramos quando nos reunimos para a Eucaristia”, advertiu o autor. Denis proclamou a relação inse-parável entre Eucaristia e superação das injustiças sociais ao declarar que “a Eucaristia, memória viva de todos os que sofrem, convoca a comunidade cristã a uma nova solidariedade tanto com todas as vítimas humanas como com os animais e as plantas que são destruídos ou ameaçados. A solida-

riedade implica em um compromisso pessoal e político com as duas estra-tégias identificadas como resposta às mudanças climáticas: a atenuação dos efeitos e a adaptação”.

Os participantes puderam interatuar em grupos por idioma e nos plenários. A partilha de experiências práticas deste ministério do cuidado das coisas criadas enriqueceu o plenário através de depoimentos e apresentações das religiosas Esther Shebi, da Nigéria, Frances Orchard, de Roma e Araceli Castano, da Colômbia que socializaram os projetos desenvolvidos por duas congregações.

O dominicano Carlos Rodriguez, diretor do SEDOS, uma das entidades responsáveis pelo evento avaliou que “o fato de ter trabalhado juntos em um grupo tão grande” foi positivo, mas “perdeu-se a oportunidade de se apro-fundar a importância de se ter JPIC e o cuidado da Criação como centro da missão” devido ao tempo dedicado à elaboração da carta dirigida às coor-denações das congregações religiosas presentes. O texto pede urgência nos compromissos concretos que forcem os governos a ações imediatas. Para a brasileira Terezinha Cecchin, Superiora Geral das Religiosas do Coração de Maria o seminário trouxe “uma temática muito séria e atual com uma abertura de visão, uma releitura da criação e da Eucaristia. Um novo passo a ser dado seria abordar a ecologia na perspectiva da economia e da política”, acrescentou.

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Participantes do seminário sobre "A Criação no coração da Missão" em Assis, Itália.

Um outro mundo é possível. Fórum Social Mundial 2009, Belém, PA.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Quais as consequências para os cristãos professarem que Deus é o Criador?

Nós dependemos de Deus em tudo. Somos sustentados por Ele. Sua pre-sença amorosa nos envolve a cada momento. Tudo o que nos circunda: as árvores, os pássaros que cantam, nos unem no amor do mesmo Deus. Eles e elas são nossos companheiros e companheiras, nossos irmãos e irmãs na Criação. Isso evoca o reinado da Criação e nossa pertença comum com as outras criaturas.

Que conexão se pode fazer entre a encarnação do Verbo e ecologia?

Existe uma profunda conexão. Na tradição cristã Deus cria através da Palavra no Espírito Santo. Tudo vem à vida através da Palavra. Em Jesus temos a Palavra feita carne. Neste evento Deus tornou-se partícipe, não apenas através da natureza humana em Jesus, mas de toda a Criação através da evolução do universo e dos sistemas que nos mantém unidos nesta rede ecológica que interage em nosso planeta. Assim, como gerador

Entrevista comDenis Edwards

vem à celebração representando todos os seres criados. Também fazemos memória de Jesus, sua vida, sua morte e ressurreição. Recordamos tudo o que Deus faz por nós num contexto mais amplo. Deus, que criou todo o universo, este universo que trazemos conosco, vem a nós através da Palavra feita carne. Ele, que está presente na morte e ressurreição de Jesus, abre o futuro para nós na celebração da Eucaristia. Toda a Criação participa conosco. Deus no seu grande amor salvífico, presente na Eucaristia, nos envolve em todos os momentos com toda a Criação. A comunhão que expe-rimentamos quando recebemos o pão e o vinho na Eucaristia é naturalmente a comunhão com Jesus, com a Divina Trindade tomada da vida de Deus que nos envolve numa comunhão com todos aqueles que vieram antes de nós e nos engaja em toda a Criação. Nossa profunda comunhão com Deus é sempre profunda comunhão com toda a Criação. A Eucaristia nos traz esta comunhão e nos compromete com o cuidado de toda a Criação e de cada coisa criada.

de vida, Deus se compromete e nos transforma, juntamente com o resto da Criação, para nos conduzir a um novo momento, a uma nova Criação.

O que você poderia nos dizer em relação à celebração da Eucaristia e o cuidado da Criação?

Nós fundamentalmente trazemos ao altar pão e vinho, fruto da terra e do trabalho das mãos humanas e invocamos o Espírito sobre eles para que se tornem Cristo. Também nós nos tornamos outros “Cristos”. Quando levamos estes frutos à mesa, trazemos toda a Criação. Nós nos juntamos, trazemos os frutos e louvamos a Deus em nome de toda a Criação. Somos a Criação que adquire consciência e

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A Eucaristia nos traz comunhão e nos

compromete com o cuidado de toda a Criação

e de cada coisa criada.

A comunhão com Deus é sempre profunda comunhão com toda a Criação.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Julho/Agosto 2009 -

Nós, um grupo de cerca de 230 mu-lheres e homens de diferentes Institutos Religiosos e também leigos, estivemos reunidos no Seminário “A Criação no coração da Missão”, organizado pelo SEDOS, pela comissão JPIC (Justiça e Paz e Integridade da Criação) da USG/UISG (União das Superioras e Superiores Gerais) partilhamos nossa preocupação acerca da destruição crescente dos sistemas de vida em nosso planeta. Um tema recordado durante a reunião foi a convocação do papa João Paulo II, no ano 2001, de todas as pessoas, mas de modo especial os cristãos, a uma conversão ecológica.

Na preparação da Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas que se realizará em Copenhagen de 7 a 18 de dezembro de 2009, convi-

damos nossas comunidades a exercer diversas formas de pressão e moni-toramento em relação aos governos nacionais em torno do problema das mudanças climáticas. Muitos países, especialmente do Hemisfério Sul, estão sofrendo consequências sérias como as inundações e as secas, resultado das mudanças climáticas provocadas pelo ser humano. Recomendamos a vocês intervenções junto a seus governos para que se comprometam a:

Reduzir a emissão de gases de efeitos invernais entre 25 a 40% até o ano 2020, e entre 80 e 90% até o ano 2050, e incluir o compromisso nas legislações dos países.

Assumir um maior compromisso financeiro com o Fundo de Adaptação como uma questão de Justiça e Paz, apesar da crise econômica atual (o fundo de Adaptação foi criado pela ONU para ajudar os países pobres a adaptar-se às consequências das mudanças climáticas).

Promover uma justiça social global,

como caminho para diminuir os efeitos das mudanças climáticas sobre os mais pobres.

Vocês podem encontrar maiores informações sobre as mudanças climá-ticas em diversas páginas da Internet, particularmente no Painel Intergover-namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) http://www.ipcc.ch ou nas ONGs confiáveis de seu próprio país. Também podem participar das iniciativas de ação promovidas pelos grupos de Igreja e pelas ONGs, em torno da questão das mudanças climáticas. Todos es ta mos convidados a nos envolvermos nestes e em outros problemas ecológicos ur-gentes, como a destruição acelerada da biodiversidade (Criação de Deus) e a crescente escassez de água potável.

Fraternalmente, em Cristo,As(os) participantes do SeminárioAssis, 16 de maio de 2009.

Arlindo Pereira Dias, SVD, é jornalista. Membro do Conselho Geral dos missionários do Verbo Divino, Roma, Itália.

Mudanças climáticasConvite a uma intervenção junto aos governos

densidade das refle-xões dos palestrantes e a urgência do tema para a Missão da Igre-ja e da vida religiosa

no século XXI despertaram nos participantes o desejo de partilhar as preocupações e a necessidade de um compro-misso mais efetivo de todos em busca de soluções. A carta às comunidades religiosas é resultado deste esforço dos participantes.

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Conferência durante seminário sobre "A Criação no coração da Missão" em Assis, Itália.

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1919- Julho/Agosto 2009

Para refletir:1. O que observo de minha vida: família, trabalho, escola, igreja, espiritualidade,

comunidade, afetividade e militância? 2. Tenho pretensões em mudar algo em minha vida? Por quê?3. Que ações e ideias podem me levar a isso?

de Vanessa Ramos e Jonathan Constantino

maginemos um jovem pobre que em ritmo gradual se insere no mercado de trabalho pela exclusão, a chamada informalidade da economia. Suponhamos que esse jovem trabalhe como camelô e, ao tentar se inserir no mercado de trabalho formal sofra preconceitos por ser morador de favela. Expulso das ruas pelos “rapas” (guardas

civis metropolitanos que repreendem os camelôs), aceita trabalhar para traficantes, como servo involuntário da indiferença para garantir a sobre-vivência de sua família.

Se descêssemos ao âmago dos objetivos desse jovem e perguntásse-mos sobre seu projeto de vida, que respostas teríamos? E se, ao contrário, questionássemos um outro jovem de maior poder aquisitivo, cuja inserção no mundo do trabalho e o choque com as contradições da realidade fosse relativizada por sua família, por pais que suprissem suas necessidades básicas e consumistas do dia a dia? O que ele responderia?

Esses pequenos exemplos têm a intenção de despertar uma reflexão sobre o que seria um projeto de vida. Seria um livro de páginas todas escritas? Um caderno em branco? Um presente que recebemos ou uma construção histórica?

PosicionamentosÉ urgente para a juventude pensar sobre a construção de seu

projeto de vida como fruto de um processo de aprendizado que refle-tirá na sua construção enquanto sujeito histórico. É preciso entender que, por vivermos em uma sociedade globalizada, ações efetuadas em locais distantes interferem no modo como nossa comunidade local se estrutura. Some-se a isso que, muitas vezes pela falta de formação política, social e cultural, os jovens têm dificuldades na hora de tomar decisões. Não é simples traçar um projeto de vida, pois significa escolher um caminho a seguir e, a escolha demanda posicionamento, o que implica deixar coisas de lado. O posiciona-mento contrapõe-se à neutralidade. Jesus Cristo, por exemplo, devido à opção de vida que fez, sofreu perseguições políticas e foi torturado e assassinado. Isso ocorreu porque sua escolha ia contra os interesses de uma elite e em favor daqueles que sofriam. Nos dias atuais, com quem ele estaria? Ele seria criminalizado ou censurado por suas opções de vida?

E assim...Debater sobre projeto de vida não é algo que pode, em

si mesmo, encerrar a discussão. A dinâmica que esse projeto sofre ao longo do tempo, na medida em que se depara com as contradições, cobra novas reflexões. A questão central não são essas adequações, mas perceber se o projeto feito é fechado em si próprio ou pode ser realizado coletivamente.

Instigar esse questionamento é emergencial.

Vanessa Ramos é do Cimi-SP e colaboradora das revistas Missões, Mundo e Missão, dos jornais Brasil de Fato e Porantim. Jonathan Constantino é professor e colaborador das revistas Missões, Mundo e Missão e do jornal Brasil de Fato.

I

Roteiro de EncontroTema do mês: Refletindo as escolhasa) Acolhidab) Oração do Pai-nossoc) Dinâmicad) Apresentação do tema, questionamentos e debatese) Divididos em grupo: reflexões de caminhos possíveis

para se construir um projeto de vida (aspectos político, econômico, social, cultural e eclesial)

f ) Apresentação de propostas, a partir dos gruposg) Oração conclusivaFoto: Jaime C. Patias

Ato no Dia 1º de Maio, Praça da Sé, SP.

É preciso seposicionar frente

às escolhas da vida

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20 Julho/Agosto 2009 -

Texto e fotos de Lírio Girardi

opção a favor dos Povos Indí-genas, feita pelos missionários da Consolata em 1974 e, em seguida, pela diocese de Rorai-ma em 1978, é uma das páginas mais significativas da história da Igreja missionária no estado. A

leitura da realidade, iluminada pelas luzes do Concílio Vaticano II, dos Documentos de Medellín e Puebla, e a escuta do grito sofrido das lideranças indígenas foram determinantes para chegar a esta escolha. No artigo anterior (edição maio 2009, pp. 20-21), acenei os marcos decisivos que balizaram este longo e sofrido caminho de libertação. É necessário agora perguntar: quais as consequências desta opção? O que significou para os envolvidos?

os indígenasPara a maioria, foi como uma semente

que gerou ânimo, coragem, vontade de lutar e, principalmente, união. Muita união. As comunidades indígenas começaram a se unir ao redor de suas lideranças: Tuxaua (cacique), capatazes, professores, catequistas, vaqueiros etc.

Um feixe de varas de dois metros, firmemente amarrado, passou a ser o símbolo da união e da luta: cada vara simbolizava uma comunidade. Unidas venceriam. Nenhum invasor as dobraria. E os feixes foram se espalhando pelas regiões do estado, semeando união, trabalho, e muita coragem para lutar na construção do projeto libertador: defesa da terra e da própria cultura. Foi esta a origem do Conselho Indígena de Rorai-

A

Consequências da opção profética“Põe a semente na terra... Plantas para o irmão”Publicamos a segunda

parte do artigo “A Conversão da Igreja”

na sua caminhada com os Povos

Indígenas em Roraima.

ma – CIR, o motor da organização e da caminhada da libertação.

Por outro lado, esta opção criou ten-são e sofrimento. A reação por parte de fazendeiros, políticos e do próprio governo de Roraima foi violenta: ameaças, proi-bições de criar rebanhos, acusações de roubo de gado, perseguições, calúnias, prisões de lideranças e até mortes. Tudo para espalhar medo e divisão entre os índios.

Uma minoria de lideranças, infeliz-mente, deixou-se manipular e fechou com o opressor. Este é o aspecto mais doloroso desta luta. A liberdade tem preço. O caminho nem sempre está definido. Faz-se caminhando...

os missionáriosEstes também arcaram com as con-

sequências desta opção. Até que o índio abaixava a cabeça e a Igreja “abençoava”, reinava a paz (aquela dos cemitérios!). A opção preferencial da Igreja pelos indígenas e, principalmente, o renasci-mento destes desencadeou uma longa, sistemática e sórdida campanha contra

os missionários, contra a diocese de Roraima e contra todos os aliados dos índios: perseguições, calúnias de toda a espécie, inquéritos policiais, proibições de trabalhar em área indígena, expulsão dos missionários da Missão Catrimani. Não faltaram atentados à vida.

A paciência dos indígenas (um símbolo do povo Macuxi é o jabuti que caminha devagar, mas para frente); diria, a resis-tência até cansar o adversário, ajudou muito os missionários a entender o ritmo do processo e a construção do caminho, rumo à liberdade. Esta foi uma rica expe-riência de inculturação para eles.

Por outro lado, a escolha preferencial pelos índios, exigiu dos missionários e da Igreja, uma série de mudanças, nem sempre fáceis e pacíficas, seja para o indivíduo, como para o grupo:

- Foi necessária uma mudança geo-gráfica: deslocamento da cidade para o interior, da sede da fazenda, para a comunidade indígena. Muda o ponto de apoio. O missionário passa a morar na comunidade indígena.

- Com isso, a comunidade indígena

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Dom Pedro Casaldáliga visita a área indígena RSS, com líder Davi Yanomami (de colar) e padre Lírio Girardi.

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21- Julho/Agosto 2009

passa a ser o centro das atenções e das atividades sociais e religiosas do missionário. Seu interlocutor, agora, é o Tuxaua, o líder da comunidade indígena e com ele e com as demais lideranças, vai programando, executando e ava-liando sua presença e todos os passos e atividades.

- Mas foi necessária uma mudança mais profunda, na cabeça e no coração do missionário, diria uma mudança teológi-ca: o índio e sua comunidade tornam-se o “lugar teológico”. Deus está aí e aí Ele se revela. A partir daí, acontece a evan-gelização. Os “sinais” (sacramentos), agora, acontecem na pessoa do índio e na comunidade. Estas mudanças exi-gem reflexão, partilha e principalmente conversão... e tempo.

ConcluindoO caminho de libertação dos Povos

Indígenas de Roraima foi e continua sen-do um caminho sofrido, paciente, digno, participado, tendo os índios como atores principais. O projeto indígena de Roraima é um projeto vitorioso. Prova disso são os nove milhões de hectares de terra demarcados e homologados, para o povo Yanomami e um milhão e setecentos mil hectares, homologados pelo presidente da República e, recentemente, reconhecidos

em lamento, choro e revolta das lideranças indígenas, e a leitura atenta da realidade, iluminada pela Palavra, foram pontos de partida para a conversão da Igreja.

A opção preferencial evangélica pelos índios, envolvendo um grupo de missio-nários da Consolata, e, depois, a Igreja de Roraima, foi o coração da caminhada. A causa indígena, feita opção amorosa, transformou-se em energia para superar as fraquezas e divisões internas e a ven-cer o medo das ameaças e provocações externas.

A elaboração conjunta de um projeto de libertação, envolvendo missionários, missionárias e lideranças indígenas (CIR), com programação, execução e avaliações constantes, foi o instrumento que possi-bilitou a valorização das potencialidades e a superação das divergências, em vista de um objetivo comum.

Finalmente, foi a decisão firme e cora-josa dos Povos Indígenas de assumir seu destino, sua resistência histórica, paciente para esperar e sábia para avançar, que possibilitou esta vitória, vitória da vida sobre a morte, da união fraterna sobre o egoísmo dominador, da partilha solidária sobre a ganância acumuladora, vitória da justiça sobre a violência.

Celebrar é preciso. Povo Indígena de Paabba, Anikê e Inskiran sorria, cante, dance Parixara e Areruya. Celebre o Caxiri da união e da vitória.Um povo que sabe o que quer, luta pela sua liberdade e tem futuro.

Creio que a Igreja pode e deve con-tinuar sua caminhada com os Povos Indígenas, agora, com uma presença diferente. O “como” deve ser discernido na reflexão e no diálogo, com as lideranças indígenas e suas organizações e com os verdadeiros aliados dos índios, apoiando e favorecendo aqueles valores autênticos e perenes da cultura indígena.

Lírio Girardi, imc, é superior provincial do Instituto Missões Consolata no Brasil.

também pelo Supremo Tribunal Federal para os povos Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepan e Patamona.

A participação da Igreja, nesse projeto foi ampla, corajosa, decisiva, sofrida e profética. Não faltaram dúvidas, temores e contradições, próprios dos colaborado-res do Reino. Mas a graça do Senhor, a força do Cristo superou a fraqueza (2 Cor.12,7-9).

Essa participação foi solidária: sempre contou com o apoio qualificado e constante do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, através do Regional de Manaus, e do Nacional. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB esteve sempre muito presente, com suas orientações e encorajamentos. Verdadeiramente proféti-cas foram duas visitas à Igreja de Roraima por parte de dom Luciano Mendes de Almeida, então presidente da CNBB: por ocasião da expulsão dos missionários da Missão Catrimani (1988) e para presidir uma celebração eucarística campal, por ocasião da ameaça de morte a dom Aldo Mongiano, bispo de Roraima.

A escuta do grito do povo, traduzido

A escolha preferencial pelos índios exigiu

dos missionários e da Igreja uma verdadeira

conversão.

Crianças Macuxi ralando mandioca para fazer a farinha e o beiju.

Tuxaua Jacir de Souza utiliza um feixe de varas para explicar aos parentes Yanomamis a importância da união.

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22 Julho/Agosto 2009 -

Consolata Peregrina“Façam tudo o que Ele vos disser”. (Jo 2, 5)

de Rosa Clara Franzoi

m preparação ao centenário do Instituto em 2010, também nós, missionárias da Consolata no Brasil, ade-rimos a uma iniciativa proposta pelo Conselho Geral: um quadro de Nossa Senhora saiu, qual Peregrina, do santuário de Turim, Itália, para percorrer todas as partes do mundo onde estiverem presentes as missionárias,

para visitá-las, bem como todas as pessoas e comunidades onde elas atuam. Em nosso país, o quadro chegou a São Paulo em 25 de agosto de 2007, trazido da Itália por Ir. Edite Cobalchini, superiora regional.

o itinerário da peregrinaçãoNo dia 27 de agosto foi realizada a abertura oficial da pe-

regrinação e apresentado o itinerário que a Mãe Consolata iria percorrer. Foi aquele um momento muito especial de unidade, no qual nos sentimos parte viva da história centenária do Instituto. Após algumas palavras de exortação, pronunciadas por Ir. Edite, a Mãe Consolata dirigiu-se a São Miguel Paulista, SP. A primeira parada, e com muita razão, foi junto às nossas irmãs idosas e doentes e ao povo daquela região. No percurso, alternavam-se cantos e orações de louvor, ação de graças e petições das mais variadas, pelas necessidades materiais e espirituais dos membros dos nossos dois Institutos e de todos os que a Mãe Consolata iria encontrar pelo caminho.

uma solene e digna recepçãoA chegada foi emocionante. Com as irmãs, um numeroso

grupo de pessoas, amigos, vizinhos e convidados acolheram a Consolata peregrina, com arcos de palmeiras, bandeirinhas coloridas e fogos. Bela e digna recepção! Seguiu-se uma bre-

Eve celebração Mariana e as misssionárias da Casa Regional entregaram o precioso tesouro às irmãs da Comunidade José Allamano e ao povo ali presente. Durante a celebração, Ir. Rosita Crippa, 96 anos, saudou e conferiu o “Envio” à Mãe Consolata peregrina, nestes termos: “Querida Mãe, sê muito bem-vinda em nossa casa e em nossa cidade. Estamos felizes em receber-te. Estás hoje, iniciando uma caminhada longa e significativa. Tu irás encontrar todas as tuas filhas missionárias por este Brasil afora, que com gratidão, estão preparando a celebração dos Cem Anos de Fundação do Instituto, do qual és padroeira e, segundo o Bem-aventurado José Allamano, também Fundadora. Vai, tuas filhas te aguardam ansiosas, junto com todo o povo que com elas partilha a vida missionária e que tanto te ama. Verás de perto os caminhos por onde passa a doação generosa delas; os caminhos que percorrem para partilharem com os necessitados a Palavra de Deus, na busca da promoção humana, educativa social e espiritual. Sentirás em teu coração de Mãe, os anseios do povo que elas acompanham. Todos esperam ver-te chegar com as mãos cheias de bênçãos, graças e, sobretudo de muita consolação. Ouvirás muitas preces e pedidos. Todos te aguardam com uma grande certeza no coração: que a tua visita deixe a marca de um momento especial, também para a Igreja local, onde tua presença será uma chuva de graças abundantes, que fecundarão as sementes do Evangelho lançadas com persistência, perseverança e amor. Todos esperam de ti uma atenção especial para com os que sofrem e os que travam duras batalhas contra a doença e a pobreza. Acolhe no teu coração de Mãe os seus louvores, atende os seus pedidos e mostra-lhes o teu Jesus, lembrando a todos aquele programa de vida que pro-puseste nas Bodas de Caná, para todos aqueles e aquelas que querem ser discípulos missionários de Jesus: “Façam tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). No momento, a Consolata peregrina está no estado do Paraná.

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

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Casa de Repouso e Recuperação José Allamano, São Miguel Paulista, SP.

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23- Julho/Agosto 2009

Oficializada a grilagem da AmazôniaA medida provisória - MP 458/2009, da forma como foi aprovada pelo

Senado Federal traz riscos para a Amazônia e suas comunidades.

Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra - CPT, se junta ao clamor nacional diante de mais uma agressão ao patrimônio público, ao meio ambiente e à reforma agrária. No dia 4 de junho, o Senado Federal aprovou a MP 458/2009, já aprovada com alterações pela Câmara dos Deputados, e que agora vai à san-

ção presidencial. É a promoção da “farra da grilagem”, como se tem falado com muita propriedade. Com o subterfúgio de regularização de áreas de posseiros, prevista na Constituição Federal, o governo federal, em 11 de fevereiro baixou a MP 458/2009 propondo a “regularização fundiária” das ocupações de terras públicas da União, na Amazônia Legal, até o limite de 1.500 hectares. Esta regularização abrange 67,4 milhões de hectares de terras públicas da União, ou seja, terras devolutas já arrecadadas pelo Estado e matriculadas nos registros públi-cos como terras públicas e que pela Constituição deveriam ser destinadas aos programas de reforma agrária. Desta forma a Medida Provisória 458, agora às vésperas de ser transformada em lei, regulariza posses ilegais. Beneficia, sobretudo, pessoas que deveriam ser criminalmente processadas por usurparem áreas da reforma agrária, pois, de acordo com a Constituição, somente 7% da área ocupada por pequenas propriedades de até 100 hectares (55% do total das propriedades) seriam pas-síveis de regularização. Os movimentos sociais propuseram que a MP fosse retirada e em seu lugar se apresentasse um Projeto de Lei para que se pudesse ter tempo para um debate em profundidade do tema, levando em conta a função social da propriedade da terra. O governo, entretanto, descartou qualquer discussão com os representantes dos trabalhadores do campo e da floresta.

Esta oficialização da grilagem da Amazônia está chamando a atenção de muitos pela semelhança com o momento histórico da nefasta Lei de Terras de 1850, elaborada pela elite latifundiária do Congresso do Império, sancionada por dom Pedro, privati-zando as terras ocupadas. Hoje é um presidente republicano e ex-operário quem privatiza e entrega as terras da Amazônia às mesmas mãos que se tinham apoderado delas de forma ilegal e até criminosa.

Esta proposta de lei, que vai para a sanção do presidente Lula, pavimenta o espaço para a expansão do latifúndio e do agronegócio na Amazônia, bem ao gosto dos ruralistas. Por isto não foi sem sentido a redução aprovada pela Câmara dos Deputados de dez para três anos no tempo em que as terras regularizadas não poderiam ser vendidas e a regularização de áreas para quem já possui outras propriedades e para pes soas jurídicas. Daqui a três anos nada impede que uma mesma pessoa ou empresa adquira novas propriedades, acumulando áreas sem qualquer limite de tamanho. Foi assim que aconteceu com as imensas propriedades que se formaram na Amazônia,

Aalgumas com mais de um milhão de hectares, beneficiadas com os projetos da Sudam.

Ironia do destino, Lula, que em 1998 afirmou que “se for eleito, resolverei o problema da reforma agrária, com uma canetada”, ao invés de executar a reforma agrária prometida, acabou com uma canetada propondo a legalização de 67 milhões de hectares de terras griladas na Amazônia, um bioma que no atual momento de crise climática mundial aguda, grita por preservação para garantir a sobrevivência do planeta.

O mesmo presidente que, em entrevista à revista Caros Amigos, em novembro de 2002 dizia: “Não se justifica num país, por maior que seja, ter alguém com 30 mil alqueires de terra! Dois milhões de hectares de terra! Isso não tem justificativa em lugar nenhum do mundo! Só no Brasil. Porque temos um pre-sidente covarde, que fica na dependência de contemplar uma bancada ruralista a troco de alguns votos” acabou sendo o refém desta bancada, pior ainda, recorreu à senadora Kátia Abreu, baluarte da bancada ruralista, inimiga número um da reforma agrária, para a aprovação da medida no Senado. Já cedera à pressão dos ruralistas aprovando a Lei dos Transgênicos. Não atualizou os índices de produtividade estabelecidos há mais de 30 anos, o que poderia possibilitar o acesso a novas áreas para reforma agrária. Não se empenhou na aprovação da proposta de emenda constitucional PEC 438/01 que expropria as áreas onde se flagre a exploração de trabalho escravo. Além disso, promoveu à condição de “heróis nacionais” os usineiros e definiu como empecilhos ao progresso as comunidades tradicionais, os ambientalistas e seus defensores.

Lula que, com o Programa Fome Zero, teve a oportunidade de realizar um amplo processo de reforma agrária, transformou-o, porém, em um cartão do Bolsa Família que a cada mês dá umas migalhas a quem poderia estar produzindo seu próprio alimento e contribuindo para alimentar a nação.

Os movimentos sociais do campo, inclusive a CPT, vem de-fendendo há anos, por uma questão de sabedoria e bom senso, um limite para a propriedade da terra em nosso país. Mas o que vemos é exatamente o contrário. Cresce a concentração de terras, enquanto que milhares de famílias continuam acampadas às margens das rodovias à espera de um assentamento que lhes dê dignidade e cidadania, pois, como bem afirmaram os bispos e pastores sinodais que subscreveram o documento: os pobres possuirão a terra. “A política oficial do país subordina-se aos ditames implacáveis do sistema capitalista e apoia e estimula abertamente o agronegócio”.

Goiânia, 9 de junho de 2009.

Dom Ladislau BiernaskiPresidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Nota da Comissão Pastoral da Terra - CPT

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InfânciaMissionáriaInfânciaMissionária

24 Julho/Agosto 2009 -

de Roseane de Araújo Silva

Sugestão para o grupoacolhida (destacar nesse mês a riqueza cultural dos cinco conti-nentes, preparar o ambiente com os símbolos missionários, Bíblia e imagens de crianças).Motivação (objetivo): refletir com o grupo as dificuldades de relacionamento e a intolerância entre os povos.Oração espontânea pelas crianças e adolescentes dos cinco continentes.Partilha dos compromissos semanaisleitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros):Realidade Missionária: João 4, 1-15. Na conversa com a sama-ritana, Jesus nos dá o exemplo de superação dos preconceitos e incentiva a buscar a água viva corrente, fazendo com que a fonte brote dentro de cada um. Na partilha do grupo, apresentar exemplos de discriminação que presenciamos em nossa vida.Espiritualidade Missionária: Marcos 7, 24-30. A missão que Jesus apresenta não é privilégio de poucos, mas é para todos os que acreditam nEle e constroem o Reino do Pai aqui na terra. Ele veio unir as pessoas a Deus e ao mundo novo.Compromisso missionário: Mateus 28, 16-20. Jesus nos convida a levar a Boa Nova a todas as nações, com a promessa de estar em nosso meio todos os dias. Construir o Reino do Pai a partir da nossa comunidade é o primeiro passo da nossa missão. Neste mês faremos o sacrifício pelas crianças e adolescentes do Norte e Nordeste, atingidas pelas enchentes.Vida de grupo: João 9, 1-12. O cego de nascença representa o povo oprimido que não enxerga sua verdadeira condição huma-na. Jesus nos mostra através do gesto concreto que é possível reverter esta situação. Onde for possível, marcar uma visita à Pastoral do Migrante para conhecer seu trabalho ou participar da celebração da Eucaristia.Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a partir do tema e da reflexão do Evangelho).Canto e despedida.

ou te fazer uma pergunta: como é que você convive com uma pessoa que pensa diferente de você, ou ainda, com uma cultura diferente da sua? É fácil esta convivência? Engraçado como quase não paramos para pensar nessas coisas e aos poucos nos distanciamos, ou criamos barreiras invisíveis entre nós e o nosso vizinho, por exemplo. Há

alguns dias assisti um filme que mostrava um professor e sua difícil relação com estudantes adolescentes, com costumes e visões de mundo diferentes da sua, obviamente. Este filme apresenta uma breve e atual síntese do subúrbio parisiense, suas diferenças étnicas e sociais. Isso me fez parar e refletir como ocorrem as relações entre pessoas diferentes ou relativamente parecidas. Ao longo da história, fatos significativos ocorreram, demonstrando que nem sempre foi pacífica a relação entre os seres humanos, principalmente quando uma expressiva diferença cultural se revela (basta lembrar o que aconteceu com os judeus na Segunda Guerra Mundial). É sempre o diferente que incomoda.

As diferentes etnias que formam o povo brasileiro não chegam a ser um problema de aceitação, mas a desigualdade social nas regiões brasileiras é percebida e sentida, principalmente entre os menos favorecidos. A implantação de políticas de distribuição de

renda e implantação de políticas afirmativas faz-se necessária ainda por um tempo. Ao contrário do que existe em nosso país, há na Europa Oriental um país chamado Romênia, cuja capital é Bucareste e seu idioma, assim como o português, origina-se do latim, das chamadas línguas latinas. Os romenos que migram para outros países da União Européia são discriminados e enfrentam uma xenofobia clássica. Além dos comentários vulgares, xingamen-tos desnecessários e até manifestação pública de agressão por imigrantes em semelhante situação. O fenômeno da migração é comum em muitos lugares, tendo em vista as políticas econômicas globalizadas que atingem de forma negativa, principalmente os mais pobres. É a lei do mercado que se sobressai à vida humana.

No tempo de Jesus, havia também grupos com diferentes cos-tumes, níveis sociais, políticos e religiosos diferenciados. Também naquela época existiam grupos “mal vistos”: eram os samaritanos. Eles não pertenciam ao judaísmo tradicional e eram considerados pelos judeus como raça impura, porque eram de população misturada com estrangeiros. A atitude de Jesus com a samaritana é recebida com surpresa até por ela mesma (Jo 4, 1-15) e é esse exemplo de superação e atitude nova, que devemos imitar em nossa caminhada missionária. O fato de ser diferente não torna as pessoas melhores ou piores que as outras, apenas ressalta suas características. Um dos Compromissos da IAM é “reconhecer o que é bom da vida e da cultura dos outros povos, respeitando-os e valorizando-os”, porque somos obra das mãos do Deus Pai e parte da mesma família. De todas as crianças do mundo – sempre amigas!

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

Você não é daqui, é?!

V“E eu vou por aí com meu canto,

abrindo estradas, quebrando encantos (...) rasgando mentiras e ilusão!” (Zé Vicente)

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Crianças ciganas em Carapicuíba, SP.

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25- Julho/Agosto 2009

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26 Julho/Agosto 2009 -

nos atrás eu tive um enfarte e sempre que faço radiografia do tórax aparece o povo querido no coração”, revela emocio-nado dom Angélico Sândalo Bernardino, em entrevista à

revista Missões, no seu novo endereço em São Paulo. O telefone não para de tocar. “Tenho sido muito solicitado para encontros, palestras, conferências e re-tiros espirituais”, explica o bispo emérito de Blumenau, SC, diocese a que serviu nos últimos nove anos. “Angélico” no

de Jaime Carlos Patias e Karla Maria

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trato com as pessoas e firme em suas convicções, tira lições profundas do coti-diano. Na parede do escritório, que serve também como capela e biblioteca, fotos com dom Hélder Câmara. Sua mesa de trabalho exibe uma foto de Huyra, índia Guajá que acaba de amamentar o filho Tamataí e agora aleita um filhote de porco do mato. Noutra foto, uma mãe indiana amamenta o bebê e, ao mesmo tempo, um macaquinho. Sobre a foto lê-se: “O Verbo se fez carne...”, um ato de fé que parece explicar seu lema episcopal: “Deus é amor”. Na legenda: “Só quem é pobre procede com tanta generosidade...”. Dom Angélico nasceu em Saltinho, em 1933, e estudou em São Carlos e Sorocaba, SP. Cursou Filosofia na Faculdade Assunção, Ipiranga, SP e Teologia em Viamão, RS. Foi ordenado padre em 12 de julho de 1959, celebrando este ano seu jubileu sacerdotal. Poeta e jornalista, trabalhou em diversos meios de comunicação e pastorais. Bispo desde 1975, atuou nas regiões Belém e Brasilândia da arquidiocese de São Paulo e na diocese de São Miguel Paulista. Hoje é membro da subcomissão dos bispos eméritos da CNBB.

Dom Angélico, temos no Brasil atual-mente 144 bispos eméritos, dentre os quais quatro cardeais. Como são acompanhados esses bispos e qual é a sua missão?

O bispo emérito é uma bênção para a Igreja. Quando fazemos 75 anos apre-sentamos o pedido de renúncia e temos a alegria de receber o nosso sucessor na diocese. A medida é altamente saudável, porque pessoas mais jovens assumem o cargo. Aliás, essa medida deveria atingir a todos na Igreja (padres, patriarcas e cardeais). O papa é meu pai, eu o acho intocável, não quero nem fazer conside-ração a este respeito. A razão é que, com o passar dos anos, as forças físicas e psicológicas decrescem e isso vale para todos os filhos de Deus. O cardeal continua com um cargo de alta responsabilidade, a eleição do papa, por exemplo. Ser emé-

“O nosso compromisso evangélico com a justiça é parte fundamental da

evangelização”.

rito não significa estar aposentado. Nós podemos e devemos continuar a rezar intensamente pela diocese.

Tem algum documento ou orienta-ções sobre o bispo emérito na Igreja?

Há um estudo da Congregação para os bispos, sob a responsabilidade do cardeal Giovanni Batistta Ré, muito importante. Na minha opinião, nós caminhamos muito no aspecto jurídico e pouco ainda no sagrado e na comunhão. Por exemplo, este estudo ressalta que o bispo emérito continua a pertencer ao colégio episcopal e pode ser convocado para um Concílio Ecumênico, pode também ser eleito para o Sínodo Episcopal, com voto deliberativo, mas pelo fato de ser emérito, ele deixa de pertencer à Conferência Episcopal. Eu acho esta medida discriminatória. Dom Antônio Mucciolo, arcebispo emérito de Botucatu, SP, apresentou ao cardeal Ré, a sugestão de organizarmos uma associação, mas a iniciativa foi descartada. Leigos podem se associar, bispos eméritos não devem se associar. Na última Assembleia da CNBB eu pedi que os bispos na visita ad limina apresentem ao papa e à Congregação para os bispos, o pedido para que o bispo emérito continue a pertencer à Conferência Episcopal, com poderes limitados. Há um encaminhamento para que teólogos apro-veitem do bispo emérito e a CNBB nomeou uma subcomissão para acompanhá-los.

O Verbose fez carne

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morreu na cama, mas morreu crucificado e foi pego pelas autoridades religiosas, políti-cas, econômicas e sociais do seu tempo.

E o que dizer da comunicação na Igreja?

Gostaria que a nossa Igreja acordasse para a presença nos meios de comunicação e valorizasse os nossos meios. Precisamos investir muito mais. “É tempo de investir não em torres de igreja, mas em torres de rádio e televisão”, já me dizia um bispo tempos atrás, mas a gente ainda continua investindo em torre de igreja onde as corujas fazem seus ninhos. Eu acho que a CNBB tem que dar alguns passos neste sentido e nós podemos investir mais nos nossos meios.

Como o senhor vê a resistência tão grande, em se fazer cumprir o direito dos Povos Indígenas no Brasil?

A história do Brasil coincide com a história de genocídio dos índios, isto é uma vergonha. Há dois mil anos Jesus Cristo já dizia, que não é possível coexistir o Reino com o dinheiro enquanto objeto de exploração. É tempo de o Brasil criar vergonha e ser realmente uma nação pluricultural, de muitos povos. O governo precisa continuar firme. Parabéns à Raposa Serra do Sol. Medidas semelhantes devem ser adotadas em todos os cantos do Brasil. Nós temos uma dívida social imensa com índios e afrodescendentes, todo o trabalho de Igreja, do Cimi, da Pastoral Afro e de outras entidades a favor da dignidade e da preservação da cultura destes povos, tem que encontrar, na Igreja, uma voz profética. Alguns deputados, senadores e fazendeiros são muito atrasados, porque os direitos dos índios são anteriores.

O Brasil tem ainda outra dívida para com a população afrodescendente...

O negro em geral recebeu a inde-pendência, mas não no aspecto social e econômico. Foi política e por pressão, inclusive da Inglaterra e de outros países. A conquista social é uma constante. Eu sou favorável a todas as medidas que fa-voreçam a ascensão dos pobres e negros. Contabilize a população negra no Brasil e conte quantos são os doutores que estão na universidade. Na Igreja também, são 500 anos de evangelização e quantos são os padres e bispos negros no país? A Igreja também tem que se converter neste ponto. Nós estamos dando passos, mas estamos atrasados. Nós não estamos fazendo um favor, estamos saldando uma dívida.

Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.Karla Maria, LMC, estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões.

alimenta. Precisamos realmente rezar e refletir seriamente sobre a ordenação, para que, unidos ao bispo, aos padres celibatários, tenhamos também, homens provados na comunidade e na família, que possam ser ordenados presbíteros e diáconos agindo na comunidade eclesial. Eu acredito em uma Igreja explosivamente ministerial para que a paróquia realmente se converta numa rede articulada de co-munidades, (CEBs).

A última Assembleia da CNBB re-visou as Diretrizes da Formação dos Presbíteros à luz de Aparecida. Há alguma novidade sobre o padre do futuro?

Nós estamos vivendo numa nova época de globalização e crise do capitalismo, uma nova época em que os meios de comuni-cação estão revolucionando o modo das pessoas tomarem contato com o mundo. As pastorais sociais, na década de 70 eram a voz de Deus e a voz do povo, em tempos de perseguição. Hoje parece que não há o que enfrentar, mas os problemas básicos da população continuam e nós temos uma dificuldade para nos adaptar ao novo contexto. Na Igreja é muito mais fácil se aburguesar do que se comprometer com a causa da justiça. É muito mais fácil participar numa reunião de culto sem com-promisso, preocupado com edifícios que muitas vezes causa um consolo espiritual, do que realmente ir à luta pela causa da justiça. Não nos esqueçamos de que a Igreja será bem-aventurada na medida em que, a exemplo de Jesus, proclamar bem-aventurados os pobres de espírito. Nós somos discípulos de alguém que não

A subcomissão já lançou uma consulta a respeito da vida e do ministério do bispo emérito. Um dos pedidos foi que se reali-zem encontros. A comissão pediu também que cada regional da CNBB escolha um bispo referencial e marcamos um encontro com estes bispos em Aparecida, de 31 de agosto a 3 de setembro.

O senhor participou de duas Con-ferências do CELAM, Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007) e foi também delegado no Sínodo dos Bispos para a América (1997). Como entender a conversão pastoral e renovação mis-sionária da Igreja?

Aparecida foi uma bênção onde nós acolhemos o Espírito Santo, para que sejamos livres em Cristo. Este sentido de liberdade tem que crescer na Igreja. Nós temos que criar espaços de diálogo na cari-dade. O enunciado da Conferência para que sejamos uma Igreja discípula missionária é realmente urgente porque precisamos de uma séria purificação. Colocar Jesus Cristo no centro nos leva ao Pai e nos abre à Missão. Eu sinto que a Igreja está sendo beijada pelo Espírito Santo, ela está passan-do de uma pastoral de conservação para uma pastoral autenticamente missionária. Este é o momento de convocação geral, de formação e de investir nos leigos e leigas, em um reconhecimento do batismo, mas é preciso que eles exerçam seu ministé-rio e que sejam apoiados. Ser presbítero celibatário é um dom, é um carisma. Mas defendo também que nós não devemos continuar com comunidades de católicos abandonadas, que têm fome da Eucaristia. Fazer somente a comunhão espiritual não

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Caminhada pela paz em Heliópolis, São Paulo, SP.

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VI Congresso Nacional das Entidades Negras Católicas - CONENC - à luz das Conferências de Medellín e Aparecida.

m um colégio estadual localizado na região central de São Paulo, adolescentes e jovens aprendem nos Ensinos Fundamental e Mé-dio sobre a história da África, a luta dos negros no Brasil e sua

participação na construção da nação brasileira. Uma atividade pedagógica até bem pouco tempo difícil de se imaginar em sala de aula, e que hoje só é possível graças à implantação da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre His-tória e Cultura Afro-Brasileira em escolas públicas e particulares.

Estas e outras conquistas, como o Dia Nacional da Consciência Negra; ações afirmativas, como o sistema de cotas para negros nas universidades e o reconheci-mento e adoção de outras políticas públicas em resposta aos direitos dos afrodescen-dentes, só foram alcançadas por conta de muita mobilização e luta do movimento negro dentro e fora da Igreja.

Um desses movimentos com signifi-cativa repercussão e poder de articulação nacional é a Pastoral Afro-Brasileira, que em 2008 completou 20 anos de caminhada.

O organismo da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reúne vários grupos de reflexão, tendo à frente dom João Alves dos Santos, e outros dois importantes líderes: dom José Maria Pires, bispo emérito da Paraíba e dom Gílio Felício, bispo de Bagé, RS, que há anos trabalham com o objetivo de resgatar a cultura do negro e inseri-la na Igreja Católica.

“A Pastoral Afro-Brasileira nasceu da necessidade de aprofundar o atendimento à população negra que professa a fé católica, como um gesto concreto da Campanha da Fraternidade de 1988 que trazia como tema: “Fraternidade e o negro” e lema

de Maria José de Deus

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Pastoral Afrobusca caminhos de inclusão

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“Ouvi o clamor deste povo”. Contudo, o processo já vinha de anos antes e esta caminhada ajudou a despertar a sensi-bilidade da Igreja. Fruto do processo de conscientização e militância dos negros que buscam assumir a sua pertença e missão na Igreja Católica”, diz o padre Ari Antonio dos Reis, assessor da Pastoral Afro na CNBB.

Além de outros grupos estão integra-dos à Pastoral Afro: o Instituto Mariama de Articulação de padres, bispos e diáconos negros (IMA); Agentes de Pastoral Negros (APNs); Grupo de Reflexão Negro e Indí-gena da Conferência dos Religiosos do Brasil (Greni) e o Grupo Atabaque - Cultura Negra e Teologia, ecumênico, formado por teólogos e outros intelectuais.

De Medellín à aparecidaO fórum de encontro, debate e reflexão

das questões pastorais, teológicas e de cidadania, que envolve estes grupos, é o CONENC (Congresso Nacional das Entidades Negras Católicas), que é reali-zado a cada dois anos. O VI CONENC se realizará de 8 a 11 de julho, em São Luís, MA. O tema é: A Pastoral Afro-Brasileira de Medellín à Aparecida.

“Desejamos fazer uma retomada da

caminhada da Pastoral Afro nestes 20 anos, que de fato foi rica e construtiva, apesar das dificuldades. Neste caminhar fomos iluminados por uma teologia que fortaleceu nossas ações. Pela prática e reflexão ajudamos a fortalecer este referencial teológico. No Congresso, es-taremos vendo isso. Por outro lado, os processos sociais que se estabelecem trazem novas demandas para o trabalho e estes desafios também serão discutidos”, esclarece o padre Ari.

Com relação à retrospectiva de Me-dellín à Aparecida, como propõe o tema, o padre Jurandyr Azevedo Araújo, sale-siano, do Grupo de Reflexão Teológica da Pastoral Afro-Brasileira, secretário do Instituto Mariama e membro do SEPAFRO - Secretariado de Pastoral Afro-Americana junto ao CELAM - Conferência do Epis-copado Latino-Americano, explica que: “a Conferência de Medellín (1968) foi importante no sentido da concretização de uma Igreja com rosto e identidade próprios, a emergência do pobre nas reflexões, o incentivo às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e uma interação mais profunda com a realidade do povo. Por isso, foi um paradigma na eclesiologia latino-americana”.

No que diz respeito ao Documento de Aparecida, resultado da V Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, ocorrida em maio de 2007, em Apareci-da, SP, o padre Jurandyr observa que o Documento pode ser compreendido como um grande alento para os agentes de pastoral negros. “Olhando o passado da Igreja no continente, vemos que está em sintonia com as intuições das Con-ferências de Medellín (1968), Colômbia e Puebla (1979), México. Reconhece o protagonismo dos afro-americanos e assume a disposição de um diálogo en-riquecedor. Lembra que os negros não são apenas pobres, permanecem, ainda, como os mais pobres, o que é motivo de uma preocupação especial por parte da Igreja. Contudo são também sujeitos em uma Igreja que nasceu marcada pela diversidade cultural”.

Diálogo ecumênicoDe acordo com as informações di-

vulgadas, o texto-base do VI CONENC - Refletindo o rosto negro da Igreja de Medellín à Aparecida - já foi publicado e fala sobre as Conferências Episcopais da América Latina e Caribe, formação presbiteral e vida religiosa, prática litúr-gica, diálogo inter-religioso, ação política, social e cidadania. Questões que depois de amplo debate puderam virar realidade na arquidiocese de Salvador, BA. Além de intenso trabalho de evangelização e

Encontro da Pastoral Afro-Americana

De 3 a 7 de agosto, se realizará na Cidade do Panamá, Panamá o XI EPA - Encontro de Pastoral Afro-Americana com o objetivo de construir à luz de encontros anteriores novos caminhos e perspectivas de inclusão e solidariedade na América Latina e no Caribe. O tema é “A Pastoral Afro-Americana gestora de novas perspectivas de inclusão e solidariedade”.

da Igreja com os cultos afro-baianos, com a comunidade judaica e com outras igrejas cristãs.

Outros desafios apontados pelo mis-sionário são a liturgia inculturada e o sincretismo religioso. “Devido ao uso dos atabaques, das vestes, canto, dança e ali-mentos utilizados para a partilha, as missas inculturadas muitas vezes são associadas ao candomblé. As pessoas que pensam assim desrespeitam a missa inculturada católica, que tem como base o rito romano; e o candomblé, que tem sua própria liturgia e merece respeito. Não utilizamos nas celebrações os símbolos do candomblé. Utilizamos os elementos pertencentes à cultura dos afrodescendentes”.

Quanto ao sincretismo religioso, o padre Stephen orienta: “Devido à falta de formação, e por uma questão de fé, há pessoas que não conseguem fazer distinção entre os santos católicos e os orixás do candomblé, e celebram os dois como se fosse um só. Outras, até sabem a diferença, mas mantêm a dupla identidade religiosa (dupla pertença), e vivem sua fé sob as duas dimensões, ora numa, ora noutra, sem problema algum”.

Maria José de Deus é jornalista.

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Celebração da Páscoa Afro, Salvador, BA

Bispos referenciais da Pastoral Afro.

formação dos leigos por meio de cursos de Bíblia e Negritude; a Pastoral Afro instalada em diferentes paróquias da capital baiana, investe também em Educação mantendo cursos pré-vestibular, de idiomas, formação para a cidadania e capacitação para o mercado de trabalho. “Estamos também inseridos em duas importantes linhas de atuação: a dimensão ecumênica e o diálogo inter-religioso”, conta o padre queniano Stephen Murungi, missionário da Consolata e responsável pelos projetos missionários da congregação em São Brás de Plataforma, periferia da capital baiana. Ele destaca que a importância do diálogo inter-religioso e ecumênico começa com dom Gílio Felício, que enquanto esteve em Salvador, procurou estreitar a convivência

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Brasília - DFNotícias do COMINA

“Anunciar o Evangelho e educar para a consciência missionária: eis a nossa vocação! Que a Igreja seja toda ela imbuída do espírito da missão permanente e que resplandeça no coração de cada batizado a me-mória de que um dia ele se banhou na Pia Batismal. E que, consequentemente, pastores e rebanho possam vibrar com as pastorais e movimentos, percebendo-os como verdadeiras atitudes missionárias”. Estas são palavras da última carta enviada pelo padre José Altevir da Silva, CSSp, Assessor da Comissão Mis-sionária – CNBB e Secretário Executivo do COMINA – Conselho Missionário Nacional. “Falar de missão é falar ao coração do ser humano. A fala do coração acontece a partir de pequenos gestos, das surpresas de Deus em nossa vida”, dizia a carta ao comunicar que o COMINA tem agora sua sede no edifício do CCM – Centro Cultural Missionário, ao lado das POM, em Brasília. Segundo padre Altevir, “isto contribuirá para uma melhor organização e comunicação com os Regionais e com toda a dimensão missionária da Igreja no Brasil”. A equipe executiva do COMI-NA está assim constituída: presidente, dom Sérgio Castriani, bispo da Prelazia de Tefé, AM, secretário-executivo, padre José Altevir da Silva, tesoureira e representante dos leigos missionários, Aparecida Severo (Cida), representantes dos coordenadores dos Comires, Robson Ferreira do Comire Sul 1 e Suyapa Sauceda do Comire Norte 1. Fazem parte ainda da equipe, Irmã Márian Ambrósio, presidente da CRB (Conferência dos Religiosos no Brasil), padre Paulo Suess, representante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Ir. Maria do Carmo, representante da PBE (Pastoral dos Brasileiros no Exterior), padre Daniel Langi, diretor das POM e padre Estêvão Raschietti, secretário executivo do CCM. Outra notícia dada pelo padre Altevir, é que em breve o COMINA terá um site próprio: www.animaçãomissionaria.org.br, onde serão hospedadas notícias e subsídios produzidos pela organização da Ação Missionária da Igreja no Brasil, inclusive o portal missionário.

Porto Velho - Ro12º Intereclesial das CEBs

O bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga e a ex-ministra e senadora Marina Silva, (PT-AC) confirmaram presença em Porto Velho no dia 24 de julho, ocasião em que participam do 12º Intereclesial das CEBs, evento que será realizado na capital entre os dias 21 e 25 de julho. Embora ainda sem confirmação, está prevista também a participação da

líder indígena guatemalteca Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz de 1992. A informação é do secreta-riado do 12º Intereclesial de Porto Velho, acrescentando que, entre outras ações, a programação prevê essas pessoas como protagonistas da atividade “Testemunho de Pessoas Proféticas”. De acordo com a coordenação do 12º Intereclesial, por se

tratar de três vidas comprometidas com a defesa do meio ambiente e com as lutas por soluções de alguns dos mais agudos e aflitivos problemas da região ama-zônica, a confirmação destas presenças se reveste de grande importância para enriquecer e assegurar a autenticidade do encontro, uma vez que nesta sua 12ª versão o evento terá como tema: "CEBs: Ecologia e Missão" e como lema: "Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia".

Belém - PaCPI da Pedofilia no Pará

A decisão foi anunciada no dia 5 de junho, durante entrevista coletiva com o bispo da prelazia do Marajó, PA, dom José Luiz Azcona, o bispo da diocese de Castanhal, PA e secretário-geral do Regional Norte 2 da CNBB, Amapá e Pará, dom Carlos Verzeletti e o bispo de Abaetetuba, PA, dom Flávio Giovenalle. Os bispos reforçaram sentir que o trabalho de combate à pedofilia tem total apoio e comunhão dos demais bispos da CNBB. “A problemática é grave, pois vemos hoje um desprezo ao Evangelho de Jesus Cristo. A sociedade paraense parece ter perdido o seu referencial. E, em cada criança abusada, vemos o próprio rosto de Cristo”, disse dom José Azcona, um dos primeiros a denunciar a rede de exploração sexual de crianças e adolescentes na região do Marajó. Ele aproveitou a coletiva para fazer duras críticas ao sistema estadual de proteção a crianças e ao Judiciário paraense. “O Judiciário estadual é conhecido internacionalmente por sua ineficácia e nos dói muito ver esse descrédito”, concluiu. O bispo do Marajó protocolou na Assembleia Legislativa do Pará um documento com a solicitação de prorrogação da CPI da Pedofilia. Ele aguarda a decisão, já que o pedido terá que passar pela apro-vação do plenário.

Curitiba – PRComire tem nova coordenação

No dia 1º de junho, irmã Dirce Gomes da Silva foi nomeada Coordenadora do Conselho Missionário Regional (COMIRE) do Regional Sul 2 da CNBB – Paraná. Ela recebeu a nomeação em Curitiba, pelo representante episcopal do COMIRE, dom Sérgio Arthur Braschi e pelo secretario executivo do Regional, padre Carlos Chiquim. As responsabilidades atribuí-das à irmã, dentro do COMIRE, serão de articular e animar atividades, projetos, organismos e institutos missionários do Regional. Irmã Dirce explicou que sente um grande desafio, pois é a primeira mulher nomeada para o cargo que antes era ocupado ape-nas por sacerdotes. Ela acredita que sua escolha se deve ao trabalho missionário realizado na diocese de Humaitá, AM, onde esteve de fevereiro de 2007 até março de 2008, sendo reconhecido pelo bispo local, dom Francisco Meinrad Merkel, como traba-lho missionário de grande êxito, recebendo vários pedidos do mesmo para que voltasse para lá. Irmã Dirce é religiosa da Congregação das Irmãs de Cristo Pastor há 27 anos. Atualmente ela é coordenadora do Conselho Missionário da Província Eclesiástica de Maringá, PR, além de coordenar o Projeto 3: Igreja Missionária Solidária com outras Igrejas Locais.

Fontes: CNBB, COMINA, 12º Intereclesial das CEBs.

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Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de refletir e entender a realidade.Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas pelos valores do Evangelho.A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais• Espiritualidade e temas pastorais• Articulação de projetos sociais e ambientais• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja• Subsídios para uma pastoral missionária• Testemunhos de vida e de experiência• Reflexões para a juventude• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores a olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras eclesiais, culturais e geográficas.A solidariedade em vista do bem comum é fruto da participação de todos. Faça parte desse projeto!

Tenha o mundoem suas mãos!

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