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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 858.506 - DF (2006/0121252-4) RELATOR : MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR RECORRENTE : A L DE M ADVOGADO : EDUARDO VIDAL XAVIER E OUTRO(S) RECORRIDO : P DA C M (MENOR) REPR. POR : P DA C T ADVOGADO : ALICE RAMOS DE MORAES REGO EMENTA CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO DA IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAÇÃO PELO PAI PERANTE A INSTÂNCIA RECURSAL ORDINÁRIA. VALOR DOS ALIMENTOS. REVISÕES QUE DEPENDEM DE INCURSÃO NA MATÉRIA FÁTICA DA LIDE (SÚMULA 7 DO STJ). I. Nos termos da jurisprudência consolidada do STJ, a responsabilidade dos avós em prestar alimentos é sucessiva e complementar. II. Tendo a corte local reconhecido a impossibilidade do pai em prover os alimentos, rever o referido posicionamento quanto à sua capacidade impõe reexame da matéria fática da lide, o que é vedado em sede de recurso especial, conforme o enunciado nº 7 da Súmula do STJ. III. A revisão do valor dos alimentos fixado pelas instâncias ordinárias esbarra, igualmente, no reexame de matéria fática da lide (Súmula 7/STJ). IV. Recurso especial não conhecido. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão, Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF Região) e Fernando Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 20 de novembro de 2008(Data do Julgamento) MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR Relator Documento: 841407 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/12/2008 Página 1 de 7

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RECURSO ESPECIAL Nº 858.506 - DF (2006/0121252-4)

RELATOR : MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIORRECORRENTE : A L DE M ADVOGADO : EDUARDO VIDAL XAVIER E OUTRO(S)RECORRIDO : P DA C M (MENOR)REPR. POR : P DA C T ADVOGADO : ALICE RAMOS DE MORAES REGO

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO DA IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAÇÃO PELO PAI PERANTE A INSTÂNCIA RECURSAL ORDINÁRIA. VALOR DOS ALIMENTOS. REVISÕES QUE DEPENDEM DE INCURSÃO NA MATÉRIA FÁTICA DA LIDE (SÚMULA 7 DO STJ).

I. Nos termos da jurisprudência consolidada do STJ, a responsabilidade dos avós em prestar alimentos é sucessiva e complementar.

II. Tendo a corte local reconhecido a impossibilidade do pai em prover os alimentos, rever o referido posicionamento quanto à sua capacidade impõe reexame da matéria fática da lide, o que é vedado em sede de recurso especial, conforme o enunciado nº 7 da Súmula do STJ.

III. A revisão do valor dos alimentos fixado pelas instâncias ordinárias esbarra, igualmente, no reexame de matéria fática da lide (Súmula 7/STJ).

IV. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão, Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região) e Fernando Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 20 de novembro de 2008(Data do Julgamento)

MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 858.506 - DF (2006/0121252-4)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Trata-se

de recurso especial interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e Territórios - TJDFT, cuja ementa encontra-se lavrada nos seguintes

termos (fl. 134):

"CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL E AGRAVO RETIDO. AÇÃO DE ALIMENTOS. AVÔ PATERNO. OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA. VALOR DA PENSÃO. REDUÇÃO.

I - O avô tem legitimidade para figurar no pólo passivo de ação de alimentos, tendo em vista que sua responsabilidade pelo pagamento é subsidiária, na hipótese do genitor do menor arcar com obrigação alimentar, nos termos dos arts. 1.696 e 1.698 do Código Civil.

II - No que tange ao valor fixado, no caso em análise, esse deve se limitar a 8% da renda do alimentante, tendo em vista a sua condição financeira.

III - Agravo retido e apelação parcialmente providos."

O recorrente alega que houve ofensa aos arts. 333 do CPC e 1.696 e

1.698 do Código Civil.

Afirma que o que se busca no recurso especial é a manutenção do pai

do recorrido no pólo passivo da ação e sua condenação direta a prestar alimentos a seu

filho, e a responsabilização subsidiária do recorrente.

Sustenta que esta providência é necessária para que o pai do recorrido

sinta-se mais responsável pelo sustento de seu filho (fl. 168).

Acrescenta que em nenhum momento quis se isentar de colaborar para

a manutenção de seu neto, mas que só quer que o pai do recorrido seja responsável e

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também colabore.

Aduz que era ônus do recorrido comprovar a impossibilidade do

obrigado direto em sustentá-lo, para só então optar pelo avô, e não intentar a ação

contra este em primeiro lugar.

Assevera que o desemprego não deve ser considerado como

impossibilidade do pai em prestar alimentos, por se tratar de uma situação temporária.

Por fim, argumenta ainda que o binômio necessidade/possibilidade

estatuído no § 1º do art. 1.694 do Código Civil deve ser respeitado, devendo ser

reduzido o percentual estabelecido pelo tribunal local, uma vez que prejudica o

sustento da família.

Postula reforma do acórdão.

Parecer do Ministério Público Federal pelo não conhecimento do

apelo extremo (fls. 196/197).

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR (Relator):

Em que pese o esforço do ora recorrente, não merece prosperar a irresignação.

No que toca à questão do dever dos avós em prestar alimentos aos

netos, a orientação jurisprudencial desta Corte superior é a de que a responsabilidade é

subsidiária, porém ela há de ser aferida concomitantemente com a suficiência ou não

da prestação alimentar oferecida pelos pais, ou seja, há que se identificar se ela está ou

não sendo prestada, e, ainda que o esteja, se ela é bastante ou não para o atendimento

das necessidades do alimentando. Se ela já é oferecida e é suficiente, não há falar-se

em complementação pelos avós. Se ela é oferecida e não atende integralmente às

necessidades do menor, mas já alcança o limite de suportabilidade dos pais, então é

possível a suplementação pelos avós.

Neste sentido:

“CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE ALIMENTOS MOVIDA CONTRA PAI E AVÓ PATERNA DO MENOR. REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS. ADVOCACIA DA MÃE DO MENOR AUTOR EM SUA DEFESA. REGULARIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. CC ANTIGO, ART. 397. EXEGESE.I. Regular a defesa do menor por sua mãe, advogada, que atua diretamente nos autos, mesmo que existam, ainda, outros causídicos já constituídos.II. Há possibilidade jurídica no pedido alimentar direcionado concomitantemente contra o pai do menor e sua avó, se a exordial justifica o pleito esclarecendo que os valores que o genitor paga não são suficientes às necessidades do alimentando, e a capacidade em supri-los é muito duvidosa, eles podem, em tese, ser complementados pela segunda ré, cabendo à segunda instância examinar o mérito da postulação quanto aos provisionais, deferidos que foram pelo juízo singular.III. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.”(REsp 373004/RJ, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ 07/05/2007 p. 327)- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - “REGIMENTAL. PENSÃO ALIMENTÍCIA. AVÔ PATERNO.

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COMPLEMENTAÇÃO. POSSIBILIDADE. JULGAMENTO EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA.- Os avós podem ser chamados a complementar os alimentos dos netos, na ausência ou impossibilidade de o pai fazê-lo. A obrigação não é solidária.- Não há julgamento extra petita se a lide é decidida dentro dos limites em que foi proposta.”(AgRg no REsp 514356/SP, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ 18/12/2006 p. 362)- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - “CIVIL E PROCESSO CIVIL – RECURSO ESPECIAL – AÇÃO DE ALIMENTOS – POSSIBILIDADE ECONÔMICA DOS PAIS PARA O SUSTENTO INTEGRAL DOS FILHOS RECONHECIDA PELO TRIBUNAL LOCAL – ALEGAÇÃO DE NECESSIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO COMPLEMENTAR DA AVÓ PATERNA – IMPOSSIBILIDADE DE VERIFICAÇÃO – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA 07/STJ – RECURSO NÃO CONHECIDO.1 – A teor da jurisprudência desta Corte, “a responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos não é apenas sucessiva, mas também complementar, quando demonstrada a insuficiência de recursos do genitor.” (Resp 579.385/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJ de 04/10/2004).2 – Reconhecido pelo Tribunal local a possibilidade econômica dos pais para o sustento integral dos menores, de modo a dispensar a complementação pela avó paterna, inviável a modificação da conclusão do acórdão recorrido, pois ensejaria o reexame do conjuntoprobatório acostado aos autos (Súmula 07/STJ).3 – Recurso não conhecido.”(REsp 804150/DF, Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ 22/05/2006 p. 217)- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - “CIVIL. ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE DOS AVÓS. OBRIGAÇÃO COMPLEMENTAR E SUCESSIVA. LITISCONSÓRCIO. SOLIDARIEDADE. AUSÊNCIA.1 - A obrigação alimentar não tem caráter de solidariedade, no sentido que "sendo várias pessoas obrigadas a prestar alimentos todos devem concorrer na proporção dos respectivos recursos."2 - O demandado, no entanto, terá direito de chamar ao processo os co-responsáveis da obrigação alimentar, caso não consiga suportar sozinho o encargo, para que se defina quanto caberá a cada um contribuir de acordo com as suas possibilidades financeiras.3 - Neste contexto, à luz do novo Código Civil, frustrada a obrigação alimentar principal, de responsabilidade dos pais, a obrigação subsidiária deve ser diluída entre os avós paternos e maternos na medida de seus recursos, diante de sua divisibilidade e possibilidade de fracionamento. A necessidade alimentar não deve ser pautada por quem paga, mas sim por quem recebe, representando para o alimentado maior provisionamento tantos quantos coobrigados houver no pólo passivo da demanda.4 - Recurso especial conhecido e provido.”(REsp 658139/RS, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, DJ 13/03/2006

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p. 326)- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -“Recurso especial. Direito civil. Família. Alimentos. Responsabilidade dos avós. Complementar. Reexame de provas.- A responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos não é apenas sucessiva, mas também complementar, quando demonstrada a insuficiência de recursos do genitor.- Tendo o Tribunal de origem reconhecido a possibilidade econômica do avô e a insuficiência de recursos do genitor, inviável a modificação da conclusão do acórdão recorrido, pois implicaria em revolvimento do conjunto fático-probatório.Recurso especial não conhecido.”(REsp 579385/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJ 04/10/2004 p. 291)

In casu, as instâncias ordinárias afirmaram expressamente que o pai

do alimentando não tem condições de prover os alimentos (fls. 143 e 145) e que os

demais avós já vêm contribuindo para a manutenção do requerente (fl. 83).

Desconstituir o julgado somente se faz possível por meio de incursão

pormenorizada no conjunto fático-probatório da demanda, o que encontra óbice na

Súmula n. 7 do STJ.

Do mesmo modo, rever o valor relativo à prestação de alimentos,

impõe incontornável revisão do binômio necessidade do alimentando e possibilidade

do alimentante, o que é de índole essencialmente fático-probatória, inacessível à

natureza do recurso especial, conforme a já mencionada Súmula 7 desta Corte

Superior.

Nestes termos, não conheço do recurso especial.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMA

Número Registro: 2006/0121252-4 REsp 858506 / DF

Números Origem: 20030110526056 200600675813 20060070021065

PAUTA: 20/11/2008 JULGADO: 20/11/2008SEGREDO DE JUSTIÇA

RelatorExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE MACEDO

SecretáriaBela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : A L DE MADVOGADO : EDUARDO VIDAL XAVIER E OUTRO(S)RECORRIDO : P DA C M (MENOR)REPR. POR : P DA C TADVOGADO : ALICE RAMOS DE MORAES REGO

ASSUNTO: Civil - Família - Alimentos

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão, Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região) e Fernando Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 20 de novembro de 2008

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVISecretária

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