KAFKA 3 Contos Mini

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  • 7/25/2019 KAFKA 3 Contos Mini

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    KAFKA 3 contos mini

    A PERGUNTAS a nossa noo de tempo nos faz pensar em Juzo Final, quando de justia sumria

    que se trata.

    O suicida como o prisioneiro que, vendo armar-se uma forca no ptio, imagina que para elefoge de sua cela, noite, desce ao ptio e pendura-se ao barao.

    Os mrtires no menosprezam o corpo, apenas fazem-no pregar cruz: no que esto

    de acordo com seus adversrios.

    As portas so inumerveis, a sada uma s, mas as possibilidades de sada so to

    numerosas quanto as portas. H um propsito e nenhum caminho: o que denominamos

    caminho no passa de vacilao.

    Os leopardos invadem o Templo e esvaziam os vasos sagrados O fato no cessa de

    reproduzir-se; at que se chega a prever o momento exato e isso entra a fazer parte do

    ritual.

    Os bons vo a passo certo; os outros, ignorando-os inteiramente, danam volta deles a

    coreografia da hora que passa.Outrora eu no podia compreender que minhas perguntas no obtivessem resposta; hoje

    em dia no compreendo que jamais tivesse admitido a hiptese de formular perguntas

    Bem, eu no acreditava ento em coisa algumas fazia perguntar.

    Franz Kafka, nascido no dia 03 de julho de

    1883.

    O PIOUm filsofo costumava circular onde brincavam crianas. E se via um menino que tinha

    um pio j ficava espreita. Mal o pio comeava a rodar, o filsofo o perseguia com a

    inteno de agarr-lo. No o preocupava que as crianas fizessem o maior barulho e

    tentassem impedi-lo de entrar na brincadeira; se ele pegava o pio enquanto este ainda

    irava, ficava feliz, mas s por um instante, depois atirava-o ao cho e ia embora. Na

    verdade, acreditava que o conhecimento de qualquer insignificncia, por exemplo, o de

    um pio que girava, era suficiente ao conhecimento do geral. Por isso no se ocupava

    dos grandes problemasera algo que lhe parecia antieconmico. Se a menor de todas as

    ninharias fosse realmente conhecida, ento tudo estava conhecido; sendo assim s se

    ocupava do pio rodando. E sempre que se realizavam preparativos para fazer o pio

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    girar, ele tinha esperana de que agora ia conseguir; e se o pio girava, a esperana se

    transformava em certeza enquanto corria at perder o flego atrs dele. Mas quando

    depois retinha na mo o estpido pedao de madeira, ele se sentia mal e a gritaria das

    crianasque ele at ento no havia escutado e agora de repente penetrava nos seus

    ouvidosafugentava-o dali e ele cambaleava como um pio lanado com um golpe sem

    jeito da fieira.

    A PONTEEu era rgido e frio, eu era uma ponte; estendido sobre um precipcio eu estava. Aqum

    estavam as pontas dos ps, alm, as mos, encravadas; no lodo quebradio mordi,

    firmando-me. As pontas da minha casaca ondeavam aos meus lados. No fundo

    rumorejava o gelado arroio das trutas. Nenhum turista se extraviava at estas alturas

    intransitveis, a ponte no figurava ainda nos mapas. Assim jazia eu e esperava; devia

    esperar. Nenhuma ponte que tenha sido construda alguma vez, pode deixar de ser ponte

    sem destruir-me. Foi certa vez, para o entardecerse foi o primeiro, se foi o milsimo,

    no o seimeus pensamentos andavam sempre confusos, giravam, sempre em crculo.

    Para o entardecer, no vero, obscuramente murmurava o arroio, quando ouvi o passo deum homem. A mim, a mim. Estira-te, ponte, coloca-te em posio, viga rf de

    balastres, sustm aquele que te foi confiado. Nivela imperceptivelmente a incerteza de

    seu passo, mas se cambaleia, d-te a conhecer e, como um deus da montanha, atira-o

    terra firme. Veio, golpeou-me com a ponta frrea de seu basto, depois ergueu com ela

    as pontas de minha casaca e arrumou-as sobre mim. Com a ponta andou entre meu

    cabelo emaranhado e a deixou longo tempo ali dentro, olhando provavelmente com

    olhos selvagens ao seu redor. Mas entoquando eu sonhava atrs dele sobre

    montanhas e valessaltou, caindo com ambos os ps na metade de meu corpo.

    Estremeci-me em meio da dor selvagem, ignorante de tudo o mais. Quem era? Uma

    criana? Um sonho? Um assaltante de estrada? Um suicida? Um tentador? Um

    destruidor? E voltei-me para v-lo. A ponta de volta! No me voltara ainda, e j me

    precipitava, precipitava-me e j estava dilacerado e varado nos pontiagudos calhaus que

    sempre me tinham olhado to aprazivelmente da gua veloz.