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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS NACIONAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, REPÚBLICA E MOVIMENTOS SOCIAIS A Legitimidade da Representação da Sociedade Civil no Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro Autor: Carlos André Osório Carneiro Orientador: José Maurício Castro Domingues da Silva Co-orientadora: Áurea Cristina Mota UFMG – 2010.1 BELO HORIZONTE

Legitimidade da Representa o da Sociedade Civil no CONSEM Andre... · Diante disso, a proposta dessa monografia é trazer a tona à configuração dessa arena em ... MEIO AMBIENTE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS NACIONAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, REPÚBLICA E MOVIMENTOS SO CIAIS

A Legitimidade da Representação da Sociedade Civil no Conselho Municipal de Meio Ambiente

do Rio de Janeiro

Autor: Carlos André Osório Carneiro

Orientador: José Maurício Castro Domingues da Silva Co-orientadora: Áurea Cristina Mota

UFMG – 2010.1 BELO HORIZONTE

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Carlos André Osório Carneiro

A Legitimidade da Representação da Sociedade Civil

no Conselho Municipal de Meio Ambiente

do Rio de Janeiro

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em

Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais

da Universidade Federal de Minas Gerais

Orientador: José Maurício Castro Domingues da Silva

Co-orientadora: Áurea Cristina Mota

BELO HORIZONTE 2010

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Ao meu filhão Luis Felipe, a luz da minha vida,

pela inspiração proporcionada ao combate

as minhas indignações sociais na busca

dum mundo melhor às novas gerações.

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AGRADECIMENTOS

Este projeto jamais sairia se não fossem as contribuições indiretas de

diversas pessoas, que de alguma forma, passam quase anônimas em nossas vidas e

que, muitas vezes, esquecemos de reconhecer a importância delas no repertório

individual. Então, agradeço aos cidadãos brasileiros que, como eu, acordo todos os

dias com esperança de um Brasil com mais justiça social.

Não poderia deixar de fazer referência ao grupo de amigos que compõem a

ONG Bicuda Ecológica e a Rádio Comunitária Bicuda FM 98,7. A confiança

dispensada de um grupo ímpar representa um orgulho muito especial para mim.

Contudo, sem diminuir os não citados, não poderia deixar de agradecer eternamente

a amigos tão fiéis, como: Celso Brites, Jovanir Gonçalves, Ricardo Finotti,

Vanderlei Giarola, Walney Brites e Wilson Norberto. O primeiro passo para o

sucesso de um ser é o outro acreditar nele. Esse é a receita do meu sucesso pessoal.

Da mesma forma, não posso deixar de fazer referência a familiares e parentes

que contribuem para minha perseverança e estabilidade psicológica. Assim, registro

meus agradecimentos aos meus pais: Alcindo e Maria, meu irmão querido

Fernando Luís e minhas tias: Deolinda, Rosália, Rosa e Maria de Lourdes.

Necessito assinalar tamanho esforço empenhado pelo Sr. Nassim Boukai,

funcionário da Prefeitura do Rio de Janeiro, que durante anos esteve a frente da

Secretaria Executiva do CONSEMAC, e tem demonstrado grande interesse em

estimular a sociedade civil em ocupar o seu espaço dentro desse conselho. Com seu

conhecimento, paixão e comprometimento pelo que faz, por diversas vezes o

procurei para dirimir dúvidas e propor indicações sobre como deveria prosseguir

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nesta pesquisa monográfica. Em nome da sociedade civil presto meus

agradecimentos ao Sr. Nassim Boukai.

Agradeço a equipe de coordenação deste curso, pela presteza em atender as

demandas dos alunos sempre de forma cordial e menos burocrático possível. Em

especial, deixo os mais nobres agradecimentos à tutora doutoranda Áurea Motta

por sua dedicação aos alunos e palavras otimistas durante todo curso. Posso afirmar

sem titubear que tivemos a honra de tê-la como tutora e amiga.

Por fim, não poderia deixar de reconhecer a grandiosidade para o sistema

democrático participativo brasileiro e, principalmente, ao povo brasileiro pela

criação e realização do Curso de Formação de Conselheiros Nacionais. Portanto,

expresso em palavras curtas, porém carregadas de simbolismo meus

agradecimentos à Secretaria da Presidência da República Federativa do Brasil.

Tenho certeza de que as sementes foram lançadas em terreno fértil. A partir de

agora, cada um dos alunos desse curso deve ter um compromisso firmado com o

nosso povo, tão sofrido, mas feliz e rico na sua essência.

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EPÍGRAFE

Vem, vamos embora

Que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer...

(Pra Não Dizer que Não falei das Flores – Geraldo Vandré)

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RESUMO

O Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (CONSEMAC) é um

resultado da promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Após sua criação e implantação, a

sociedade civil sempre teve representação simétrica com o poder público. Apesar disso indicar os

primeiros passos na formação de uma instituição híbrida, não é suficiente para garantir a

legitimidade e a efetividade da representação da sociedade civil.

Existem diversos cientistas sociais que abordam essa questão de forma a colaborar não só

com o enriquecimento do debate filosófico, mas em proporcionar alternativa para que a sociedade

civil possa se apropriar efetivamente de espaços de discussão e deliberação da gestão de políticas

públicas locais, como é o caso do CONSEMAC.

Diante disso, a proposta dessa monografia é trazer a tona à configuração dessa arena em

comparação com a contribuição dos teóricos envolvidos com as seguintes temáticas:

legitimidade, efetividade, arranjo institucional, fóruns deliberativos e mobilização utilizando a

rede virtual. Como contribuição, será feita uma breve apresentação do Conselho Nacional de

Meio Ambiente (CONAMA) e do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA). Aquele

com algumas contribuições acerca de experiências que podem ser implementadas na esfera

municipal e com referência teórica para embasar essas alterações com intuito de tornar o

CONSEMAC mais democrático e inclusivo, dando oportunidade para que novas instituições

participem da gestão de políticas públicas ambientais.

A expectativa deste ensaio é transformar os debates suscitados na academia, combinadas

com experiências em outros conselhos, em propostas pragmáticas a serem implementadas num

futuro próximo na expectativa de dar empoderamento aos cidadãos de seus direitos e deveres;

além de melhorar a legitimidade e efetividade às representações da sociedade civil no

CONSEMAC.

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LISTA DE SIGLAS

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

APEDEMA-

RJ

Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente

do Estado do Rio de Janeiro

APEFERJ Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Estado do

Rio de Janeiro

CIPAM Comitê de Integração de Políticas Ambientais

CNEA Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas

CODEMAN Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CONEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro

CONSEMAC Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro

CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura

CRQ Conselho Regional de Química

CUT Central Única dos Trabalhadores

FAFERJ Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro

FAMERJ Federação de Moradores do Estado do Rio de Janeiro

FAM-RIO Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro

FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

GAE Grupo de Ação Ecológica

GRUDE Grupo de Defesa Ecológica

IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

ONG Organização Não-Governamental

PNMA Política Nacional de Meio Ambiente

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

REARJ Rede de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro

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SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

SAIC Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania

SENAI/RJ Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENGE-RJ Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro

SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de

Janeiro

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

SMAC Secretaria de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro

SOBEMA Sociedade Brasileira de Empresas e Indústrias de Tecnologia em

Meio Ambiente

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SUMÁRIO

Lista de Siglas 09

INTRODUÇÃO

13

CAPÍTULO I - A CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS DELIBERATIVOS E

A IDÉIA DE REPRESENTATIVADE DA SOCIEDADE CIVIL NAS

ARENAS PARTICIPATIVAS

16

1.1 - Concepção dos Espaços Deliberativos 16

1.2 - Legitimidade da Representação da Sociedade Civil

19

CAPÍTULO 02 - A CRIAÇÃO DOS FÓRUNS PARTICIPATIVOS D E

MEIO AMBIENTE NO BRASIL

27

2.1 – Criação do CONSEMAC, estrutura representativa e funcionamento 30

2.2 - Câmaras Setoriais, Câmaras Técnicas e Comissões Temáticas no

CONSEMAC

36

CAPÍTULO 03 - EFETIVIDADE DA REPRESENTAÇÃO NO

CONSEMAC

39

3.1 – Determinantes no CONSEMAC

44

CONSIDERAÇÕES FINAIS 51

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 56

Hemerografia

58

ANEXOS

Anexo I - Lei Nº 2.390, de 01 de Dezembro de 1995 59

Anexo II - RESOLUÇÃO CONSEMAC Nº 1, de 23 de janeiro de 1998 63

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Anexo III - Lei Nº 1.214, de 4 de Abril de 1988 73

Anexo IV - Lei Complementar n° 16, de 04 de junho de 1992 75

Anexo V – RESOLUÇÃO CONAMA Nº 292, de 21 de março de 2002 77

Anexo VI - RESOLUÇÃO CONAMA N.º 006, de 15 de junho de 1989 81

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INTRODUÇÃO

As alterações constitucionais de 1988 representaram a possibilidade de criação de

instituições híbridas para discussão da Gestão das Políticas Públicas Locais. A partir da

descentralização da tomada de decisões, os governos sub-nacionais estão tendo uma importância

estratégica cada vez maior na implementação da agenda de políticas públicas no país.

Na área ambiental, não poderia ser diferente. Segundo a Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de

1981, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), os municípios assumiram no

interior do arranjo federativo com relação à execução e à gestão de políticas públicas em

conseqüência do movimento descentralizante ocorrido nas últimas décadas, desde que não entrem

em conflito com as de âmbito federal e estadual, e poderão exercer, na sua jurisdição, controle e

fiscalização das atividades capazes de provocar a degradação ambiental (Art. 6º).

Diante disso, o poder legislativo da Cidade do Rio de Janeiro criou o Conselho Municipal

de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (CONSEMAC), através da Lei 2.390, em 01 de dezembro

de 1995, para debater e deliberar sobre as questões ambientais da Cidade. O Conselho tem

formação paritária perfazendo um total de vinte membros, nos quais dez representam a sociedade

civil.

O presente estudo monográfico visa avaliar a legitimidade dessa representação no

CONSEMAC a partir da exposição sobre as concepções teóricas dos espaços deliberativos e

participativos. Nesse primeiro momento, são abordadas as modificações acerca da centralidade

do poder local em detrimento do poder nacional e o ingresso do cidadão no controle das políticas

públicas, em busca pela legitimação da soberania popular a partir da participação nos espaços

democráticos e participativos.

Nesta análise, a legitimidade da representação da sociedade civil é questionada à medida

que os membros representantes desse segmento são indicados pelo Poder Executivo. Nesse

sentido, aborda-se a ameaça da tendência clientelista, segundo Neves (2005); perpassando por

aspectos apresentados por Fedozzi (1997) onde ele assinala que existem dois problemas com as

formas tradicionais de representação democrática: uma, é sua corrupção, na forma de regressão a

modalidades personalistas ou patrimonialistas de poder, que está relacionado a uma democracia

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pouco consolidada; outra é a dificuldade inerente ao próprio modelo político de representação

democrática, ligada às limitações do próprio sistema democrático (ou da democracia "burguesa").

Ao pontuar algumas representações, percebe-se que essa ameaça é latente.

Após um considerável desgaste do sistema representativo tradicional, esta pesquisa busca

avaliar essa possibilidade de participação da sociedade civil na gestão das políticas públicas

locais, tendo como pano de fundo a legitimação dessa representação a partir da visão de alguns

teóricos contemporâneos, na expectativa de vislumbrar opções para tornar a autorização dos

representantes da sociedade civil no CONSEMAC mais democrática e inclusiva.

Para elucidar as diversas formas de participação institucionalizada na área ambiental no

Brasil, será apresentado desde a esfera federal, passando pela estadual até alcançar o objeto deste

estudo, a estrutura municipal. Em se tratando dessa última, haverá um detalhamento mais

aprofundado no intuito de fornecer informações mais precisas sobre a criação do CONSEMAC, a

estrutura representativa e o funcionamento.

Outra condicionante importantíssima é a efetividade dessa representação. Ela pode ser

determinada mediante análise da legislação que regulamenta a estrutura e funcionamento do

CONSEMAC. Durante essa abordagem, perceberemos que uma avaliação positiva da atuação

nesse espaço deliberativo vai além das letras frias da lei. A efetividade dependerá de diversos

fatores além da sinergia entre estado e sociedade civil.

De acordo com Faria (2007, p. 01), existem cinco variáveis que determinam o perfil do

município na efetividade democrática do CONSEMAC. São elas: perfil associativo dos

municípios; capacidade financeira do município; o tipo de política pública envolvida;

envolvimento político do gestor; e o formato institucional - determinam e impulsionam a

efetividade democrática dos conselhos de gestão de políticas públicas. Tendo essa variável como

norte analisaremos alguns importantes aspectos que se referem a efetividade deliberativa no

CONSEMAC. Nesse momento, será mostrado uma série de determinantes que podem

comprometer a participação da sociedade civil no CONSEMAC a partir de sugestões apresentada

pela autora.

Por último, serão indicados algumas ações que podem proporcionar a retomada do

processo de legitimidade da representação da sociedade civil no CONSEMAC, além de torná-lo

mais democrático e estimulando a participação de um maior número de atores sociais e

instituição na gestão da política ambiental da cidade do Rio de Janeiro.

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No final deste trabalho monográfico, pretende-se aglutinar pontos de vista de alguns

teóricos que afunilam ao fortalecimento do processo democrático participativo com a experiência

exitosa da eleição dos representantes das ONGs ambientalistas no Conselho Nacional de Meio

Ambiente (CONAMA), além de criar novos laços entre representantes e representados no intuito

de aprimorar a soberania popular.

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CAPÍTULO 01

A CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS DELIBERATIVOS E A IDÉIA DE

REPRESENTATIVADE DA SOCIEDADE CIVIL NAS ARENAS PART ICIPATIVAS

1.1. Concepção dos Espaços Deliberativos

A Constituição de 1988 representou alterações significativas nas práticas das políticas

públicas e principalmente na relação pragmática entre sociedade civil e Estado. Ela trouxe em seu

bojo, crenças que vinculam o fortalecimento da democracia à consolidação das instâncias

tradicionais de participação – o voto, as eleições e os partidos –, como também tornar mais amplo

os novos canais de participação dos movimentos sociais na formulação e no controle das decisões

coletivas.

Com a aprovação dessa Carta Magma, uma nova legislação participativa foi

implementada, possibilitando a criação de novos canais institucionais de participação. Os

Conselhos Gestores de Políticas Públicas (Conselhos de Meio Ambiente, Saúde, Criança e

Adolescente, Assistência Social, entre outros) institucionalizados foram surgindo por todo Brasil

e é a grande demonstração da consolidação dessa política. Ela previu a criação de órgãos

colegiados que viabilizassem a inclusão política de diferentes segmentos sociais na formulação,

gestão e controle das mesmas.

Neste momento, assistimos à implantação de uma série de requisitos institucionais para dar prosseguimento ao processo de descentralização política e a formação de instâncias colegiadas cuja função é auxiliar na formulação, no controle e na execução das políticas setoriais. (...) Consolidaram-se as formas híbridas de participação, como os Conselhos Gestores de Políticas Públicas e de Direitos e os Orçamentos Participativos. As ONGs se multiplicaram e assumiram novas responsabilidades. Enfim, a questão da institucionalização da participação passou a ser um. fato explorado tanto na prática, quanto analiticamente. (FARIA, 2008, p. 03)

Após a promulgação da Carta, assiste-se o fortalecimento da democratização, da

descentralização política e econômica e da reforma do Estado, fazendo que os atores públicos e

privados acompanhem essas esferas participativas de discussão e deliberação. Com isso, as

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políticas públicas ficam mais complexas e preconiza um novo agir político, onde as instituições

tornam-se híbridas e as ações sociais são debatidas e negociadas com participação dos cidadãos.

Essas alterações comportamentais da sociedade e estruturais são frutos de três características:

territorialização, a centralidade do poder local e a deliberação pública (AVRITZER e

DOLABELA, 2005).

Essa nova organização dá maior autonomia aos municípios em detrimento do caráter

hierárquicos anterior, abrindo espaço para mobilizações das comunidades locais em torno de

questões específicas e abandonando, em partes, as políticas centralizadas. Nesse novo cenário, as

representações da sociedade civil passam a participar nos espaços de co-produção das políticas

públicas, tendo contato diretamente nos processos deliberativos.

No que diz respeito à democracia participativa, o seu questionamento acerca do caráter instrumental, individualista e competitivo da democracia representativa, mediante a redução da política ao mecanismo eleitoral, está ancorado, e guarda íntima centralidade, na recuperação da articulação entre cidadania e soberania popular por meio da participação dos cidadãos nos processos de discussão e de decisão política (LÜCHMANN, 2007, p.142)

Segundo Lüchmann (2007, p. 143), “a democracia deliberativa vai dar centralidade à

questão da participação com base em uma nova concepção acerca da legitimidade política”. Esta

tendência estriba-se no fato da democracia representativa estar preponderantemente reduzida ao

processo eleitoral, enquanto o outro modelo justifica em seu favor que a legitimação das decisões

políticas sucede de processos de debates que, são ministrados pelos princípios da igualdade

participativa, da pluralidade social e cultural, inclusivos, da autonomia e do bem-comum.

A participação da sociedade civil compactuando com o Estado na gestão das políticas

públicas apresentam um critério de legitimidade fundamentada na ideia de que as decisões

políticas devem ser tomadas por aqueles que estarão submetidas a elas por meio do debate

público. Isso não só nos remete ao conceito abordado acima de descentralização política, mas

estimula e incorpora a participação da sociedade no processo de discussão e de tomada de

decisões políticas regionais. Além do mais, essas práticas de participação social fortalecem o

controle público, diante de problemas e carências sociais existentes nas localidades.

Faria (2000), ao comentar sobre a organização do poder político e da legitimidade desse

poder nas sociedades complexas e contrapondo-se a teoria democrática hegemônica, afirma que

as decisões coletivas são necessárias para dar legitimidade aos governos democráticos.

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Sem abrir mão dos procedimentos próprios da organização do poder dessas sociedades – regra da maioria, eleições periódicas e divisão de poderes – a teoria democrática deliberativa afirma que o processo de decisão do governo tem de ser sustentado por meio da deliberação dos indivíduos racionais em fóruns amplos de debate e negociação. Essa deliberação não resulta de um processo agregativo das preferências fixas e individuais, mas de um processo de comunicação, em espaços públicos, que antecedem e auxilia a própria formação da vontade dos cidadãos. (FARIA, 2000, p. 47)

Essa afirmação tem como base, a ideia de que as decisões políticas devem ser tomadas

por aqueles que estarão submetidas a elas por meio do debate público em oposição aos modelos

representativos tradicionais. Pois, estas não conseguem resolver problemas de exclusão e de

desigualdades sociais, segundo afirma Dagnino (2002).

Diante de um cenário no qual aparece a ineficiência ou incompletude do sistema

representativo com as limitações suscitadas da implementação de princípios da descentralização

do poder político e econômico e a busca pela legitimação da soberania popular a partir da

participação nos espaços democráticos e participativos, surgiu uma forte demanda pela

institucionalização desses espaços na expectativa de requerer soluções para os problemas que não

fazem parte da agenda pública. Avritzer e Dolabela (2005) definem essas políticas locais como:

(...) o espaço público local como os múltiplos processos de concertação e os engajamentos mútuos de parceiros de direito público e privado, tais como grupos de habitantes, organismos profissionais, ONGs, empresas e órgãos de administração pública municipais, estaduais e federais. Através deles, podemos ampliar a elaboração conjunta de certas políticas locais, incorporando às práticas de gestão das políticas públicas urbanas um processo de acordos negociados. (p. 05, destaque dos autores)

A abertura de canais de tomadas de decisões na base promove alterações significativas no

cenário de políticas públicas, deixando de ser hierárquico e bipolar para uma organização de

diversos níveis de institucionais e numa multipolaridade de centros de decisão. Essa nova

realidade do espectro da gestão das políticas públicas coloca o indivíduo e os movimentos sociais

como protagonistas nesses espaços democráticos participativos. Conforme afirmam Avritzer e

Dolabela (2005, p. 05)

(...) estes assumem, concomitantemente, o papel de atores e agentes das novas formas de ação coletivas reivindicativas e de representantes nas

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formas ampliadas de participação, como membros de espaços públicos e híbridos de discussão e deliberação tais como conselhos, orçamento participativo, fóruns, planos integrados e participativos de reabilitação e preservação do patrimônio urbano e ambiental, entre outros.

Apesar da institucionalização dos espaços de gestão das políticas públicas terem como

referência a Constituição de 1988, houve algumas exceções, nas quais foram criadas instituições

híbridas, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Lei 6.938/81, em pleno

regime ditatorial (1964-1985). No segundo capítulo, serão abordados os espaços democráticos

participativos, delineando brevemente a conjuntura federal e estadual, até chegar ao objeto deste

estudo que é o Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (CONSEMAC), que é

alvo principal do debate empreendido nesta monografia. Porém, antes de abordarmos essas

questões, é importante discutir um pouco algumas questões que cercam a temática da

representação e da legitimidade da mesma nas instituições participativas criadas no Brasil

contemporâneo.

1.2. Legitimidade da Representação da Sociedade Civil

Um dos questionamentos que vem ganhando visibilidade e relevância é a legitimidade da

representação da sociedade civil nos Conselhos de Gestão de Políticas Públicas. Cada vez mais,

cidadãos ou grupos propõem-se como representantes ou funcionarem com capacidade

representativa. “(...) existem mais conselheiros no Brasil do que vereadores e, em alguns casos,

como o do orçamento participativo, a participação em alguns anos alcançou a marca de quase 180

mil pessoas” (AVRITZER, 2007, p. 443).

Diferentemente do sistema representativo convencional, ou seja, o Parlamento, essa

representação não tem requisitos explícitos de autorização, como também, “não há estrutura de

monopólio territorial na representação realizada por atores da sociedade civil, assim como não há

o suposto de uma igualdade matemática entre os indivíduos que dão origem à representação”

(idem, p. 444). Segundo o autor, essa representação é diversificada e, mesmo quando coincidem

com um território determinado por instituições híbridas, os Conselhos, ela também superpõe a

outras formas de tomadas de decisões vinculantes em relação ao mesmo tema.

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Segundo Almeida e Cunha (2009), o maior interesse pelo modelo de representação em

espaços de discussão da gestão de políticas públicas é proveniente da crise do modelo eleitoral de

democracia, especialmente no que diz respeito ao déficit democrático dessas experiências.

Algumas evidências dessa crise são o declínio no comparecimento eleitoral, a desconfiança dos

cidadãos com relação às instituições políticas e o esvaziamento dos partidos políticos. Esses

fenômenos estão presentes em toda a parte, atingindo novas e velhas democracias eleitorais,

embora possua intensidades diferentes (Miguel, 2003 apud ALMEIDA e CUNHA, 2009, p. 04).

Para Urbinati, a concentração do conceito de representação em torno de questões como a

autorização e accountability

(…) deixou de ser satisfatória devido a transformações na política doméstica e internacional. Cada vez mais atores internacionais, transnacionais e não-governamentais desempenham um papel importante na implementação de políticas públicas a favor dos cidadãos. Neste sentido, eles agem como representantes. Esses atores ‘falam por’, ‘agem por’ e ‘defendem posições em nome de’ indivíduos no interior do Estado nacional. (Urbinati, 2006b apud AVRITZER, 2007, p. 452).

A teoria política mostra os limites da forma como a representação opera nos sistemas

democráticos contemporâneos. Dentre algumas tentativas de propor uma nova concepção de

representação, utilizaremos a oferecida por Nádia Urbanati, cuja representação vai além da

dimensão eleitoral, e a feita por John Dryzek, onde há dimensão discursiva ignorada pelo

constitucionalismo liberal que precisa ser elaborada em separado. Ambas as concepções foram

discutidas por Avritzer (2007) no intuito de compreender as questões que a temática da

representatividade da sociedade civil nas instituições participativas criadas no Brasil. Para o

autor, seria necessário um desenho da dimensão discursiva que, para além das eleições, fosse

capaz de contemplar novas formas de discurso não necessariamente expressas pela via eleitoral.

Para Urbinati (apud AVRITZER, 2007), a eleição é uma entre múltiplas dimensões da

representação e da relação entre Estado e sociedade civil. E vai além, afirmando que o processo

eleitoral tornou-se indispensável e solene da legitimação política.

No momento em que as eleições se tornaram um requisito indispensável e solene da legitimação política e da designação de magistrados, Estado e sociedade civil não puderam mais ser separados, e o desenho das fronteiras separando e conectando as suas esferas de ação tornou-se uma questão a ser

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permanentemente negociada e reajustada. (Urbinati, 2006b apud AVRITZER, p. 452)

Diante disso, Avritzer afirma que

Urbinati dá um passo à frente nesse debate ao mostrar que o problema da representação contemporânea está ligado à evolução das práticas políticas que tornam sua modalidade eleitoral uma maneira relevante, mas incapaz de dar conta da totalidade das relações de representação entre os atores sociais e o Estado. (idem, p. 452).

Segundo Avritzer (2007), a preocupação inicial da obra de Dryzek é separar a dimensão

discursiva da dimensão eleitoral e pensar novos desenhos institucionais, denominados pelo

teórico de câmara de discursos, que a pluralidade discursiva é capaz de gerar. A solução de

Dryzek é pensar a possibilidade de criação de uma câmara de discursos que exista ao lado das

formas de representação dos indivíduos. Seria necessário identificar um conjunto de discursos

diferentes e dar a eles vazão em uma câmara onde estivessem em oposição uns contra os outros.

Essa câmara seria uma tentativa de institucionalizar novas formas do discurso.

Assim, tanto a contribuição de Urbinati, quanto a de Dryzek corroboram ao

fortalecimento da criação de instituições híbridas para gestão de políticas públicas locais e,

principalmente, a legitimação da representação da sociedade civil nessa esfera. Contudo, é

necessário ir além para explicar a dimensão não-eleitoral da representação.

Conforme abordaremos a seguir, o CONSEMAC é uma instituição cujas deliberações

superpõe a outras formas de tomadas de decisões vinculantes em relação à área de meio ambiente

na Cidade do Rio de Janeiro. Nesse espaço democrático participativo, as instituições que

representam a sociedade civil ocupam as vagas destinadas a esse segmento a partir da

especialização temática e experiência. As organizações não-governamentais acompanham

durante longa data um determinado tema na área de políticas sociais e acabam assumindo a

função de representante da sociedade civil.

As associações representadas no CONSEMAC, que discutiremos melhor nos capítulos

seguintes, fazem partes de grupos segmentados, porém possui uma representação quase coletiva.

A Lei 2.390 de 01 de dezembro de 1995, que cria o CONSEMAC, assegura esse pluralismo no

Art. 3º, parágrafo II, no qual contempla três representantes de entidades de defesa e proteção do

meio ambiente, três representantes de associações empresariais, dois representantes de

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associações profissionais e entidades técnico científicas, um representante de entidade

comunitária e um representante de entidade sindical.

Segundo Avritzer (2007), o importante em relação a essa forma de representação é que ela

tem sua origem em uma escolha entre atores da sociedade civil, decidida frequentemente no

interior de associações civis. Estas exercem o papel de criar afinidades intermediárias, isso é, elas

agregam solidariedades e interesses parciais. A representação por afinidade se legitima em uma

identidade ou solidariedade parcial desempenhada outrora. A pragmática da legitimação é

diferente, na medida em que a legitimação se dá pela relação com o tema. É ela que gera a

legitimidade e não o contrário, como na representação eleitoral (Warren, 2001 apud AVRITZER,

2007, p. 458).

Contudo, de acordo com Almeida e Cunha (2009), a legitimidade da representação que se

dá pela afinidade e relação com o tema não garante a qualidade do relacionamento representativo,

sugerindo mecanismos formais de accountability.

(...) na representação da sociedade civil que ocorre nos conselhos e em outros organismos de formulação de políticas públicas, a legitimidade da representação se dá pela afinidade e relação com o tema e os representantes são autorizados por possuírem tais afinidades. Essa proposta, porém, precisa ser complementada para incluir a preocupação com a accountability, uma vez que assim como as eleições não garantem a responsividade dos representantes, pode-se dizer que o fato de o conselheiro ter experiência com o tema não garante a qualidade do relacionamento representativo. (ALMEIDA, CUNHA, 2009, p. 08)

As autoras sugerem “processos de seleção mais inclusivos – presença de eleição e a

abertura para diferentes entidades comporem o conselho – podem gerar espaços inclusivos do

ponto de vista de incluir a variedade de associações ligadas ao tema na cidade” (idem, p. 08).

Para Almeida e Cunha a combinação da experiência com o tema e um método de seleção desses

conselheiros pode ajudar a diferenciar os conselhos do ponto de vista de uma autorização mais

democrática e inclusiva.

Sorj (2005) comenta a representação das ONGs nos Conselhos. Para ele, essas

organizações apresentam especificidades dadas pelo fato de se constituírem num “ator sem

mandato direto de sua base de referência” (Sorj, 2005 apud LÜCHMANN, 2007, p. 154).

Lüchmann vai além afirmando que muitas organizações são escolhidas muito mais em função de

seu grau de competência e qualificação do que em virtude de seu vínculo com as bases, altera-se

sobremaneira o debate acerca das exigências de prestação de contas, responsividade e sanção.

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Com isso, ela sugere que esses conselheiros tenham perfis que, de acordo com Santos

Junior et all constituem uma espécie de elite de referência, ou de uma comunidade cívica (Santos

Junior et all apud LÜCHMANN, 2007, p. 154)) portadora de uma cultura associativa

caracterizada por um perfil socioeconômico superior e por maior grau de informação e de

capacitação técnica e política se comparada à média da população em geral. De certa forma, essas

ponderações apresentadas por Lüchmann (2007) acabam inibindo a ampliação da participação

popular nessas esferas deliberativas e participativas, gerando um “novo elitismo democrático

deliberativo participativo”.

Nesse sentido, o procedimento de ingresso das ONGs ambientalistas no CONAMA

corrobora com esse processo, na medida em que a partir da Resolução CONAMA Nº 292, de 21

de março de 2002, regulamenta a participação através de processo eleitoral entre as organizações

cadastradas no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA). Para fazer parte do

cadastro a instituição tem que ter no mínimo um ano de existência e comprovar atuação na

proteção e conservação do meio ambiente.

O CNEA foi criado pela Resolução CONAMA Nº 006, de 15 de junho de 1989, com o

objetivo de manter em banco de dados o registro das Entidades Ambientalistas não

governamentais atuantes no país, cuja finalidade principal seja a defesa do meio ambiente. Esse

cadastro é gerido pelas próprias instituições eleitas.

Diante do exposto, segundo Lüchmann a noção de esfera pública - na perspectiva

habermasiana (Habermas, 1997 apud LÜCHMANN, 2007, p. 165) - parece central, na medida

em que diz respeito à constituição de espaços de interação e discussão em que “os indivíduos

interagem uns com os outros, debatem as decisões tomadas pelas autoridades políticas, discutem

o conteúdo moral das diferentes relações existentes no nível da sociedade e apresentam demandas

ao Estado” (Avritzer, 2000 apud LÜCHMANN, 2007, p.165).

Essa representação se legitima a partir de uma participação ativa dos cidadãos, grupos e

organizações sociais. Lüchmann recorre a Young (2006), trazendo a ideia de que uma

representação legítima e inclusiva impõe responsabilidades tanto para os representantes como

para os cidadãos

estes precisam estar dispostos e aptos a mobilizar uns aos outros para participar ativamente tanto do processo de autorização quanto do de prestação de contas. Os representantes devem ouvir essas discussões públicas e as diversas

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demandas, permanecer conectados com os eleitores e expor as razões de suas ações e avaliações em termos que retomem aquelas discussões. Essa mobilização e essa conectividade podem ser promovidas ou obstadas pelo desenho das instituições representativas. (Young, 2006 apud LÜCHMANN , 2007, p. 166).

Assim, a qualidade e a legitimidade da representação vão depender do grau de articulação

e organização da sociedade civil, ou seja, da participação.

Esse grau de articulação pode ser de certa forma mais ou menos consistente, dependendo

dos procedimentos formais de relacionamento e encontros periódicos, como também a criação de

um movimento de rede coletivo. Neste caso, Cohen (apud SCHERER-WARREN, 2008, p. 511)

afirma que a

(...) rede será forte se incluir uma história que persuade e integra seus membros; se abranger estratégias e métodos colaborativos baseados em uma doutrina bem definida; se utilizar sistemas avançados de comunicação e apoiar-se em vínculos sociais e pessoais fortes.

Segundo Scherer-Warren (2008), as novas tecnologias, especialmente a internet e as

rádios comunitárias, são um elemento facilitador na difusão das narrativas e ideários em

construção pelos sujeitos, nós das redes, mas geralmente não são o único ou principal elemento

mobilizador na geração de uma rede de movimento social. Todavia, esse sistema de rede deve

estar integrado a outros sistemas de interação com objetivo de manter como instrumento de

mobilização e capacitação da sociedade civil (SCHERER-WARREN, 2008, p. 513).

Na abordagem da autora, ainda existe outro elemento fundamental para animação dessa

rede, são eles: “os vínculos sociais e pessoais e sua capacidade de gerar mensagens de conexão,

mobilização e empoderamento (SCHERER-WARREN, 2008, p. 514). O meio virtual é utilizado

para os membros se relacionarem e para gerar informações. Contudo, Scherer-Warren garante

que há um amplo esforço para atingir as bases de referência dos fóruns, pois se considera que a

relação interindividual e interorganizacional é necessária na construção do coletivo e da

identidade dos movimentos. Ela afirma que, no caso da comunicação virtual, tem sido feito um

esforço institucional para disponibilizar meios eletrônicos (acesso à internet e a e-mails nas sedes

de ONGs ou de associações filiadas). (idem)

Outra contribuição que deve ser levada em consideração, é a ponderação realizada por

Boaventura Santos (2008 apud SCHERER-WARREN, 2008, p. 508). Segundo ele, a concepção

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emancipatória dos direitos humanos não deveria recorrer a falsos universalismos, mas deveria se

organizar como uma constelação de sentidos locais mutuamente inteligíveis que, assim, poderia

vir a se constituir em redes de referências normativas capacitantes.

No contexto proposto, onde estão inseridas no mesmo contexto, ou seja, representação da

sociedade civil, temos ONGs ambientalistas, associação de moradores, sindicatos, entre outros; a

sugestão de Boaventura Santos (idem) busca dirimir possíveis diferenças pertinentes a uma

coletividade abrangente e diversificada.

Nesse sentido, Scherer-Warren acrescenta que o autor afirma que “o potencial

antissistêmico ou contra-hegemônico de qualquer movimento social reside na sua capacidade de

articulação com outros movimentos, com as suas formas de organização e os seus objetivos.

Portanto, para que essa articulação seja possível, é necessário que os movimentos sejam

reciprocamente inteligíveis”. Para ela, tal inteligibilidade pode ser conseguida, segundo a autora

(2008a), através do trabalho de tradução que

(...) visa a esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles. Dado que não há uma prática social ou um sujeito coletivo privilegiado em abstrato para conferir sentido e direção à história, o trabalho de tradução é decisivo para definir, em concreto, em cada momento e contexto histórico, quais as constelações de práticas com maior potencial contrahegemônico. (SCHERER-WARREN, 2008, p. 508)

Mais uma vez, expõe se a luz desse tema, a experiência das ONGs ambientalistas no

CONAMA. Por se tratar de um Cadastro Nacional, a utilização da rede virtual torna-se

indispensável como veículo de comunicação e mobilização entre os membros. Como instrumento

regulador, a bancada eleita ao biênio 2006–2008 elaborou uma Carta de Princípios das Entidades

Ambientalistas no CNEA em Órgãos Colegiados. Nessa Carta foi formulado um conjunto de

princípios para nortear a ação dos representantes das entidades registradas no Cadastro que

possuem assento nos órgãos colegiados de caráter ambiental instituídos pelos poderes públicos

federal, estaduais e municipais (44ª Reunião da Comissão Permanente do CNEA – CP CNEA,

realizada em 05 de julho de 2007, em Brasília).

Essa discussão ficará mais nítida a partir da análise que empreenderemos a seguir, por

hora é importante frisar que a busca pela legitimidade da representação no CONSEMAC

induziria uma participação ativa da sociedade civil nos Conselhos de Gestão de Políticas Públicas

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Locais, além de estimular a formação de opiniões e preferências ao longo do processo dessa

conquista. Nessa linha, é indubitável a aproximação e educação política desses cidadãos tendo

como horizonte reivindicações mais articuladas e inteligíveis na expectativa de satisfazer suas

demandas como população brasileira.

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CAPÍTULO 02

A CRIAÇÃO DOS FÓRUNS PARTICIPATIVOS DE MEIO AMBIENT E NO BRASIL

A questão do meio ambiente tem ganhado peso nas gestões locais ao longo das últimas

décadas. Um importante marco deste processo foi a Constituição Federal (CF), que destacou a

questão ambiental com um artigo específico (nº 225), e foi uma referência essencial na inclusão

da temática ambiental nas Constituições Estaduais e nos Planos Diretores Municipais.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Art. 225 da Constituição Federal de 1988)

Segundo Assis et al (2005), com o aumento do debate sobre a preservação do meio

ambiente e com a propagação de organizações não-governamentais preocupadas com esta

questão, muitos Conselhos Municipais dedicados aos problemas ambientais foram criados no

país. A tendência dos estados e municípios foi seguir o modelo de gestão ambiental adotado pelo

governo federal no âmbito da Política Nacional de Meio Ambiente, onde há um conselho como

órgão consultivo e deliberativo - Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) -

trabalhando junto com um órgão central (Ministério do Meio Ambiente) e um órgão executivo -

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

A Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional de Meio

Ambiente (PNMA), explicita que os municípios poderão elaborar normas ambientais, desde que

não entrem em conflito com as de âmbito federal e estadual, e poderão exercer, na sua jurisdição,

controle e fiscalização das atividades capazes de provocar a degradação ambiental (Art. 6º).

Ainda de acordo com Assis et al (2005), há motivação de ordem econômica para que os

municípios criem Conselhos de Meio Ambiente. Para as prefeituras exercerem atividades de

licenciamento ambiental, por exemplo, (previstas na Resolução CONAMA nº 237, de 19 de

dezembro de 1997, Art. 6º), e pelas quais podem cobrar taxas, desde que regulamentadas, deve

estar implantado este tipo de Conselho, "com caráter deliberativo e participação social e, ainda,

possuir em seus quadros ou à sua disposição, profissionais legalmente habilitados" (Art. 20 da

referida resolução).

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Apesar de a Constituição de 1988, constituir um marco na democratização das políticas

públicas do país, concedendo o direito da realização de referendos, plebiscitos, leis a partir de

iniciativas populares, audiências públicas e criação de conselhos de políticas ou temáticas e

orçamentos participativos em plena ditadura militar, de 1964 a 1985, foi criado o CONAMA.

O CONAMA é um órgão normativo, consultivo e deliberativo instituído pela Lei

6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, e regulamentado pelo Decreto

99.274/90. Ele faz parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e é um colegiado

representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial

e sociedade civil. O Conselho é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e composto por:

Plenário, Comitê de Integração de Políticas Ambientais (CIPAM), Grupos Assessores, Câmaras

Técnicas e Grupos de Trabalhos.

No momento de sua criação, ele era composto de 14 representantes de ministérios, um

representante do Ministério Público Federal, um representante da Sociedade Brasileira para o

Progresso da Ciência – SBPC, três representantes do Poder Legislativo Federal e cinco cidadãos

brasileiros indicados pelo conjunto das entidades ambientalistas não-governamentais, perfazendo

um total de 23 conselheiros.

Nos dias atuais, essa composição sofreu uma drástica modificação, mas não deixou de

atender seu caráter híbrido. Ele é composto pela Presidência (Ministro de Meio Ambiente e sua

Secretaria-Executiva), Entidades de Trabalhadores e da Sociedade Civil (22 representantes),

Entidades Empresariais (08 membros), Governos Municipais (08 indicações), Governos

Estaduais (27 representações, sendo 26 estaduais e um distrital), Governo Federal (38

representantes), um membro honorário e três conselheiros sem direito a voto (Comissão de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, Ministério Público Federal

e Ministérios Públicos Estaduais).

Na esfera estadual, um ano antes de aprovar a nova Carta Constitucional

Brasileira, foi criado o Conselho Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (CONEMA),

através do Decreto Nº 9.991, de 05 de junho de 1987. Com representação paritária de

representantes do poder público e da sociedade civil, ele é um órgão deliberativo e normativo

encarregado de estabelecer as diretrizes da Política Estadual de Controle Ambiental e de orientar

o Governo do Estado na defesa do meio ambiente, na preservação dos bens naturais e na

formulação de providências para melhoria da qualidade de vida da população.

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O Decreto de criação nomeia o governado do Rio de Janeiro como presidente, indicando o

secretário de meio ambiente em sua ausência. Na composição têm: 14 representantes do poder

público e 14 membros da sociedade civil1.

Em 2007, o CONEMA foi reestruturado e surgir uma nova composição plenária. A partir

do Decreto N° 40.744, de 25 de abril de 2007, o CONEMA estabeleceu novas regras para seu

funcionamento, de modo a viabilizar a realização de reuniões periódicas. Ele é um órgão

colegiado, deliberativo e consultivo, instituído no âmbito da Secretaria de Estado do Ambiente,

que tem por finalidade deliberar sobre as diretrizes da Política Estadual de Meio Ambiente e sua

aplicação pela Secretaria de Estado do Ambiente e demais instituições nele representadas, bem

como orientar o Governo do Estado na gestão do meio ambiente.

Já nessa nova roupagem, a presidência do Conselho será exercida pelo secretário de meio

ambiente, tendo o plenário como instância superior de deliberação e as Câmaras Técnicas que são

órgãos encarregados de analisar temas, propor medidas, planejar e coordenar projetos e ações

específicas de meio ambiente. O CONEMA é composto por: 15 integrantes do poder público e 17

representantes de instituições da sociedade civil (Rede de ONG´s da Mata Atlântica, Comitê

Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Rede de Educação Ambiental do Estado do

Rio de Janeiro - REARJ, Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do

Estado do Rio de Janeiro - APEDEMA/RJ, Federação de Moradores do Estado do Rio de Janeiro

- FAMERJ, Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro - FAFERJ, três Universidades

Fluminenses indicadas pelo Fórum de Reitores, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e

Ambiental - ABES, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura – CREA, Federação das

Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN, Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB,

Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, Central Única dos Trabalhadores - CUT, Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI/RJ e Conselho Regional de Química - CRQ - 3ª

Região).

________________________ 1 Sendo eles: Federação das Industrias do Estado do Rio de Janeiro – FIRJAN, Associação Fluminense de Pequenas e Medias Empresas – FLUPEME, Federação da Agricultura do Rio de Janeiro, Federação dos Trabalhadores da Agricultura – FETAG, Federação das Associações Fluminenses de Defesa do Meio Ambiente – FAMA, Campanha Popular em Defesa da Natureza – CPDN, Associação dos Amigos de Petrópolis – APANDE, Fundação Brasileira para a Conservação de Natureza – FBCN, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental - ABES, Seção Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Clube de Engenharia, Associação de Biólogos do Estado do Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC e Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-RJ.

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Segundo Avritzer e Dolabela (2005, p. 16), “no que diz respeito ao hibridismo, o tipo de

atores que irão participar dos conselhos varia amplamente de acordo com a autoria da legislação

sobre eles e de acordo também com o tipo de atores interessados no tema e/ou disponíveis a nível

local”. Essa condicionante varia de estado para estado, como também, nas estruturas municipais.

Algumas vezes, é possível encontrar instituições representando o setor empresarial privado ou

movimentos sociais nas três esferas ou até em dois conselhos, como poderá ser identificado a

seguir quando for apresentado o Conselho Municipal de Meio Ambiente. Pode-se citar como

exemplo a ABES, a FIRJAN, o CREA, a OAB, entre outros.

A gestão da política ambiental na Cidade do Rio de Janeiro começa a ter um tratamento

diferenciado a partir de 1988, a partir da lei municipal 1.214 com a criação do Conselho

Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMAN), “órgão consultivo e de assessoramento

da Prefeitura Municipal, em questões referentes à utilização do meio ambiente e ao combate à

poluição ambiental”. Essa Lei dizia que os membros seriam indicados pelo prefeito e seriam:

“representantes do Poder Executivo, representantes de instituições do ensino superior, do ensino

básico, da classe universitária, dos sindicatos e das instituições ligadas aos objetivos do

Conselho”.

2.1 – Criação do CONSEMAC, estrutura representativa e funcionamento

Todavia, é em 1995, através da Lei Nº 2.390 de 01 de dezembro deste ano, que o

Codeman passa a se denominar Conselho de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro

(CONSEMAC) e com atribuições deliberativas, normativas e fiscalizadoras, tendo como

atribuição opinar sobre todos os assuntos que permeiam as políticas públicas ambientais na

cidade do Rio de Janeiro e suas decisões são publicadas no Diário Oficial do Município.

Apesar disso, somente dois anos depois (em 1997), começou a atuar efetivamente com

realização de reuniões. A primeira reunião ordinária do Conselho ocorreu em 30 de outubro de

1997, tendo a partir desse momento, continuidade de suas reuniões ordinárias, que passaram a

acontecer de forma periódica, com intervalos de dois meses cada, durante o período de dois anos

ininterruptos (até 19 de dezembro de 2000), e com registro em atas de ocorrências de seis

reuniões extraordinárias nesse período. Já no ano de 2001, segundo dados do site do

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CONSEMAC (www.rio.rj.gov.br/consemac), não foram realizadas reuniões ordinárias, sendo

essas retomadas apenas em 2002, ano em que apenas uma reunião ocorreu. No início de 2003 (04

de fevereiro de 2003), as reuniões ordinárias voltaram a serem realizadas com periodicidade (com

intervalos de dois meses) e até o momento, vêm acontecendo sem interrupções. Também consta a

ocorrência em atas da realização de três reuniões extraordinárias no Conselho.

Desde maio de 1997, o CONSEMAC já passou por seis mandatos. Mandatos são poderes

delegados a determinados representantes que lhes conferem autorização em praticar em seu

nome, certos atos e tomar decisões. O primeiro data de maio de 1997 até julho de 2000; o

segundo, de julho de 2000 até janeiro de 2003; o terceiro, ocorreu no período que vai de janeiro

de 2003 até janeiro de 2005; o quarto, entre janeiro de 2005 até janeiro de 2007, o quinto teve

início em janeiro de 2007 até janeiro de 2009 e o sexto mandato entre janeiro de 2009 e pretende

ocorrer até janeiro de 2011.

Após a reunião ordinária é lavrada uma ata, que é assinada pelo (a) presidente do

CONSEMAC e pelo (a) secretário executivo e após ter sua minuta aprovada na reunião posterior,

ou seja, dois meses depois, é publicada no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro e torna-

se disponível no site do Conselho.

Outros aspectos concernentes ao funcionamento do Conselho, tais como infra-estrutura

adequada e condições básicas, estão previstas na lei que dispõe sobre o CONSEMAC. De acordo

com o Art, 7º, da Lei 2.390, de 1995, “as Secretarias Municipais e demais órgãos do Poder

Executivo, assim como as entidades de administração pública descentralizada, prestarão ao

Conselho o apoio administrativo, institucional, material e técnico que se fizer necessário”.

O CONSEMAC foi criado com composição partidária de membros do Poder Executivo e

da sociedade civil, perfazendo um total de vinte integrantes, com mandato de dois anos, indicados

pelo prefeito; além de dois convidados (um de órgão federal e um de órgão estadual) sem direito

a voto.

Os representantes da sociedade civil são: três representantes de entidades da defesa e

proteção do meio ambiente; três representantes de associação empresariais; dois representantes de

associações profissionais e entidades técnico-científicas; um representante de entidade

comunitária; e um representante de entidade sindical.

A estrutura desse Conselho é constituída de uma Presidência – secretário de meio

ambiente -, uma Secretaria-Executiva, o Plenário, Câmaras Setoriais Permanentes e Temporais

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(12 Câmaras Técnicas). As reuniões ordinárias são bimestrais e as Câmaras Setoriais

Permanentes são reguladas pelos coordenadores. As reuniões ordinárias são públicas no auditório

da Prefeitura. Os encontros das Câmaras Técnicas não necessariamente ocorrem nas

dependências da mesma, porém a maioria é realizada no prédio da administração municipal.

Quando o conselho foi criado, seus membros tinham mandato de três anos. Com a revisão

da lei, este passou para dois anos. Em 1988, tinha seis finalidades, destas apenas duas não

permaneceram na nova Lei. Entendemos que, em 1995, estas finalidades ganharam a

denominação de atribuições e passaram a ser 15 (quinze). São elas:

“ I - VETADO;

II - opinar sobre as diretrizes e a implementação da política de educação ambiental na rede formal de ensino e fora dela, dando igualmente apoio às iniciativas das comunidades e as campanhas nos meios de comunicação ou em outros instrumentos de divulgação;

III - fiscalizar e avaliar a realização e a regularidade dos processos de avaliação de impacto ambiental e de vizinhança para o controle das obras, atividades ou instalações potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente natural e cultural, bem como formular exigências suplementares julgadas necessárias;

IV - deliberar, supletivamente, sobre a paralisação ou o embargo de obras e atividades que estejam causando, ou possam causar, danos ao meio ambiente ou que desrespeitem à legislação em vigor;

V - incentivar a implantação, regulamentação e as formas de gestão e a manutenção de reservas, parques, áreas de preservação permanente e demais unidades de conservação;

VI - zelar, no âmbito de sua competência, pela manutenção das unidades de conservação sob tutela estadual e federal;

VII - indicar e propor ao Poder Executivo a declaração de áreas de Especial Interesse Ambiental e programas de recuperação ambiental;

VIII - fixar diretrizes prioritárias ou emergenciais para aplicação de recursos do Fundo de Conservação Ambiental;

IX - cadastrar entidades ambientalistas e indicar aquelas aptas para propor o credenciamento, junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, de voluntários para atividades de apoio à fiscalização ambiental;

X - fixar normas referentes a padrões ambientais para o Município;

XI - desenvolver instâncias de negociações entre partes interessadas para a mediação e elaboração de propostas de solução de conflitos envolvendo o meio ambiente;

XII - promover supletivamente, a realização de audiências públicas;

XIII - fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos relativos à defesa do meio ambiente, à indústria, ao comércio, à agropecuária e à comunidade;

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XIV - colaborar em campanhas educacionais relativas a problemas de saneamento básico, poluição das águas, do ar e do solo, combate a vetores e proteção da fauna e da flora;

XV - manter intercâmbio com entidades oficiais e privadas de pesquisas e de atividades ligadas à defesa do meio ambiente” (Art. 2º - Lei 2.390 de 11/04/1996).

Atualmente, o CONSEMAC é um dos componentes da estrutura básica da Secretaria

Municipal do Meio Ambiente (SMAC) do Rio de Janeiro (Lei nº 2.138, de 11 de maio de 1994 –

Art. 3º). Cabe à Secretaria e seus órgãos vinculados, darem apoio administrativo e técnico ao

funcionamento do Conselho Municipal de Meio Ambiente, previsto no Art. 129 da Lei Orgânica

do Município. (Art.12). Essa questão é reforçada na Lei 2.390 que cria o Conselho,

acrescentando-se o apoio institucional e material que se fizer necessário ao seu pleno

funcionamento (Art.7º).

Fica explícito, portanto, que cabe ao CONSEMAC, atribuições de deliberação sobre a

política de Meio Ambiente do Município do Rio de Janeiro. Dessa forma, reafirma-se a Lei Nº

2.390, de 1º de dezembro de 1995, na qual consta também, que esse órgão da política pública,

não seria entregue somente ao controle do Estado, mas teria que contar, legalmente, com a

participação da “sociedade civil organizada”.

O CONSEMAC possui representação paritária de membros dos órgãos do Poder Público

e membros da Sociedade Civil. Como foi dito anteriormente, os membros do Conselho são

nomeados pelo Prefeito, garantindo dessa forma, a participação dos vários segmentos da

população. Segundo a Lei Nº 2.390/1995, que dispõe sobre o CONSEMAC, cabe ao Prefeito

nomear todos os membros, tanto os membros dos órgãos do Poder Público, quanto os membros

da Sociedade Civil.

Ainda de acordo com a Lei 2.390, no Art. 3º, é previsto mandato de dois anos para os

membros do Conselho Municipal de Meio Ambiente, sendo permitida a reeleição. Sua

constituição é de vinte membros efetivos, com direito a voto, e dois convidados sem direito a

voto.

Dentre os dez membros dos órgãos do Poder Público, cujo trabalho deve estar relacionado

à gestão ambiental da cidade, se incluem representantes das Secretarias Municipais de Meio

Ambiente, Urbanismo, Habitat, Educação, Saúde, Obras e Transportes. E também a Companhia

Municipal de Limpeza Urbana, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro e a Procuradoria Geral do

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Município. Os dez membros da sociedade civil estão assim distribuídos: três representantes de

entidades da defesa e proteção do meio ambiente (Grupo de Ação Ecológica (GAE), Bicuda

Ecológica e Grupo de Defesa Ecológica (GRUDE)); três representantes de associações

empresariais (Sociedade Brasileira de Empresas e Indústrias de Tecnologia em Meio Ambiente

(SOBEMA), Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e Sindicato da

Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (SINDUSCON)); dois representantes

de associações profissionais e entidades técnico-científicas (Associação Profissional dos

Engenheiros Florestais do Estado do Rio de Janeiro (APEFERJ) e Associação Brasileira de

Engenharia Sanitária – Setorial do Rio de Janeiro (ABES-RIO); um representante de entidade

comunitária (Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro (FAM-RIO); um

representante de entidade sindical (Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro

(SENGE-RJ); um convidado de órgão federal (Instituto Chico Mendes) e um convidado de órgão

estadual (Instituto Estadual do Ambiente).

A participação da sociedade civil nas câmaras está disposta da seguinte maneira: as

representantes de entidades da defesa e proteção do meio ambiente participam de duas câmaras

cada instituição; a SOBEMA e a FIRJAN participam de três cada uma e o SINDUSCON

participa de duas câmaras, representando as associações empresariais; a APEFERJ e a ABES-

RIO, representantes de associações profissionais e entidades técnico científicas, estão em 04 e 05

câmaras concomitantemente; a FAM-RIO participa de 04 câmaras e a SENGE-RJ em duas.

A participação de instituições do poder público dá-se da seguinte forma: Secretaria

Municipal de Meio Ambiente está presente em todas as câmaras; Secretaria de Urbanismo tem

oito representações; em terceiro lugar, vem a Secretaria de Obras com cinco membros; depois

tem a Companhia de Limpeza Urbana da Cidade do Rio de Janeiro (COMLURB) com quatro

representantes; a Câmara Municipal do Rio de Janeiro participa de três câmaras; as secretarias de

Habitação, Educação e Ordem Pública participam de apenas uma câmara e apenas duas não têm

representação em câmaras técnicas, são elas: Procuradoria Geral do Município e Secretaria de

Trabalho e Renda.

A constituição dos membros efetivos do CONSEMAC é apresentada também no Art. 13

da Resolução CONSEMAC Nº 1, de 23 de janeiro de 1998, que dispõe sobre o Regimento

Interno do Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro.

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Como já foi apresentado, a nomeação dos membros do CONSEMAC é feita pelo Prefeito.

Todo final de mandato, instituições se manifestam - através de um ofício encaminhado à

Secretaria-Executiva e à Presidência do Conselho pela instituição interessada, ao final de cada

mandato de dois anos para fazer parte deste Conselho, porém sua indicação está diretamente

relacionada com a desistência de uma organização conselheira. Caso contrário, dificilmente há

alternância de participação.

A forma como o membro do Conselho é escolhido pode reforçar a ideia de favorecimento

de interesses do governo. Fuks (2002) contribui com esse debate acrescentando que os conselhos

lembram formas tradicionais de relação entre Estado e a sociedade civil, e que

O controle social sobre o Estado representa, na verdade, o desenvolvimento de uma elite societária que se articula com a burocracia de Estado e o estabelecimento de pactos nas diferentes esferas governamentais entre os grupos de interesses relevantes à política setorial. (Ribeiro, 1997 apud FUKS, 2002, p. 253)

Fuks no texto supracitado oferece uma forma de ler a relação de poder existente no

CONSEMAC. O interesse político em se manter nesse espaço é notório em alguns casos. As

bases não pressionam para uma nova composição ou simplesmente ignoram a possibilidade de

fazer parte do Conselho. Após inúmeras tentativas, algumas organizações acabam desistindo de

participar das reuniões mesmo como convidadas. Na cidade do Rio de Janeiro, apesar de terem

inúmeras organizações não-governamentais ambientalistas, poucas representações compõem os

espaços de liderança política no movimento ambientalista. Elas ocuparam os espaços políticos e

participativos e não saem ou promovem um rodízio. Com isso, gerou-se uma desmobilização

acentuada do movimento ambientalista na Cidade.

Segundo Avritzer (1996), na explicação de Anthony Downs sobre a racionalidade

individual, ele contribui com esse episódio na composição das representações da sociedade civil

nesse Conselho quando diz que: “(...) cada indivíduo dá preferência a sua própria felicidade

quando essa entra em conflito com a felicidade dos demais indivíduos (...)” (Down, 1956 apud

AVRITZER, 1996, p. 111)

Com essa afirmação, pode-se interpretar que o interesse em se apresentar socialmente

como conselheiro municipal de meio ambiente, sobrepuja em demasia as reais questões de

integração do movimento social.

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Nesse sentido, a melhor experiência mesmo com seus acertos e tropeços, é observada no

CONAMA. Neste, as instituições representantes do movimento ambiental, duas por região e uma

de nível nacional – totalizando onze ONGs -, são eleitas a partir do Cadastro Nacional das

Entidades Ambientais (CNEA). Para se candidatar, as instituições devem abrir processo de

cadastramento um ano antes da eleição, tendo direito de se reeleger apenas uma vez.

A atualização e atividades burocráticas desse cadastro são de atribuição de instâncias do

Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania (SAIC).

Todavia, o credenciamento é feito a partir de diretrizes estabelecidas na Resolução CONAMA Nº

292, de 21 de março de 2002, e de inteira responsabilidade da Comissão Permanente do CNEA.

As mesmas eleitas para o biênio mandatário.

Com esse procedimento, a participação sofre um processo eleitoral onde as instituições

adquirem legitimidade para representar as bases regionais do movimento ambientalista brasileiro.

Ao contrário do que ocorre hoje no CONSEMAC, onde as instituições são indicadas pelo prefeito

e com um rodízio desprezível de instituições representando a sociedade civil da cidade do Rio de

Janeiro.

2.2 - Câmaras Setoriais, Câmaras Técnicas e Comissões Temáticas no CONSEMAC

No Art. 4º da Lei 2.390/95, ficou estabelecido que o Conselho poderia criar Comissões

Temáticas e Câmaras Técnicas ou Setoriais, sem ônus para o Município, para subsidiá-lo em

assuntos da natureza técnica ou específica, ou seja, essas Câmaras e Comissões são criadas

quando é detectada a ocorrência de um assunto que necessita ser debatido, a partir de uma

necessidade apresentada, com uma finalidade específica.

O Regimento Interno do Conselho – Resolução CONSEMAC Nº 1, de 23 de Janeiro de

1998 – especifica nos Arts. 21 e 30, como são compostas e constituídas as Comissões e Câmaras.

A criação dessas pode ser proposta pelo Presidente do CONSEMAC ou por qualquer conselheiro,

sempre que for necessário para auxiliar os trabalhos do Conselho em assuntos de natureza técnica

ou específica, e submetida à aprovação do Plenário.

As Comissões e Câmaras são então constituídas através de Resolução, que contenha: a

finalidade, a matéria a ser examinada, o prazo de duração e a nomeação dos seus membros.

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Quando uma Câmara é criada, seus membros têm o prazo de dez dias para fornecer os dados de

seus representantes titulares e suplentes à Secretaria Executiva do Conselho e a deliberação é

publicada no Diário Oficial do Município. Na realização da primeira reunião, é feita a eleição da

Coordenação e da Relatoria da Câmara.

O CONSEMAC poderá constituir quantas Câmaras e Comissões forem necessárias. Cada

Câmara poderá ter no mínimo cinco e no máximo nove membros e as Comissões no mínimo três

e no máximo cinco membros. Deverão ser indicados pelos membros do CONSEMAC, pelo

menos três representantes para as Câmaras e dois representantes para as Comissões, sendo esses,

não necessariamente os conselheiros que ocupam cargos de titulares ou suplentes no Conselho.

Os outros componentes das Câmaras e Comissões poderão ser formados por convidados, sendo

que cada entidade participante do CONSEMAC (membros) está restrita à participação em, no

máximo, de três Câmaras Técnicas.

No caso de impossibilidade de comparecimento do representante titular, é necessária a

presença do suplente ou representante credenciado. As faltas podem ser justificadas, através de

comunicação ao respectivo coordenador da Câmara que controla a presença dos membros.

Quando há excesso de faltas dos representantes das Entidades nas reuniões das Câmaras ou

Comissões, é realizada a substituição dos membros faltosos.

As Câmaras e Comissões manifestam-se no CONSEMAC através de seus pareceres, que

consistem no pronunciamento oficial sobre matéria sujeita a sua análise, a serem apresentados e

submetidos à discussão e votação pelo Plenário. Previamente a sua apreciação no plenário, os

pareceres são encaminhados à Secretaria Executiva e enviados aos membros do CONSEMAC

para que estes possam se posicionar sobre o tema em questão.

O Conselho possui, atualmente, oito Câmaras Setoriais Permanentes, são elas: Unidade de

Conservação Ambiental; Direito Ambiental; Política Ambiental; Fundo de Conservação

Ambiental; Educação Ambiental; Gestão de Resíduo Licenciamento e Fiscalização Ambiental e

Monitoramento Ambiental. As Câmaras Técnicas que têm atividades no Conselho são: Políticas

Ambientais; Bacia Drenante à Baía de Guanabara; Bacia Drenante à Baía de Sepetiba, e Bacia

Drenante às Lagoas Costeiras. Há também uma Câmara Setorial Temporária, Rio 2016 para

acompanhar as obras às Olimpíadas de 2016.

As Câmaras Setoriais têm caráter permanente ou temporário e tratam de matérias técnicas

setoriais de atribuição do CONSEMAC. Já as Comissões Temáticas têm caráter temporário, com

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o objetivo de tratar de assuntos específicos e pontuais. Contudo, os prazos de duração das

Câmaras Setoriais temporárias e das Comissões Temáticas poderão ser prorrogados por quantas

vezes se fizer necessário, sob apresentação de justificativas de seu coordenador ao Plenário.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem representação em todas as Câmaras e

Comissões com o intuito de colaborar com as informações e apoio técnico necessários. Assim, o

Sub-Secretário Executivo do Conselho participa dessas reuniões, com o intuito de dar apoio,

assessorar e orientar os membros participantes; não tendo direito a voto, pois vota apenas quem é

membro da Câmara ou Comissão.

No próximo capítulo, procederemos a uma análise crítica da estrutura representativa

existente no CONSEMAC à luz das idéias-chave sobre democracia participativa trabalhadas no

primeiro capítulo. Por enquanto é importante frisar que, embora a composição do conselho seja

muito semelhante à maioria dos de mesmo tipo existentes pelo Brasil, acreditamos que existem

alguns problemas específicos que no CONSEMAC que precisam ser mais trabalhados.

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CAPÍTULO 03

EFETIVIDADE DA REPRESENTAÇÃO NO CONSEMAC

Existem vários fatores que podem interferir na participação efetiva da sociedade civil nos

espaços de gestão de políticas públicas, comprometendo o empenho do controle público nesses

locais. São a partir da legislação de criação desses espaços democráticos participativos que vão se

engendrar as delimitações de ação dos mesmos, tornando-os mais ou menos participativos. Isso

está diretamente ligado ao contexto partidário, como também, a ideologia burocrático-

administrativa da liderança do Poder Executivo.

Detivemos-nos na discussão sobre o arranjo institucional do CONSEMAC no capítulo

anterior, pois acreditamos que esse campo pode indicar as verdadeiras inclinações democráticas e

intenções em tornar um conselho de políticas públicas mais ou menos aberto a ingerência da

sociedade civil.

O processo de descentralização das políticas públicas permanece em estágio de

implantação ou aprimoramento – como ocorreu no CONEMA e está ocorrendo no CONAMA e

no CONSEMAC onde os regimentos internos estão sendo modificados - por todo país, na

expectativa de auxiliar na formulação, no controle e na execução das políticas setoriais. Porém, a

capacidade de maior ou menor interferência depende de uma série de nuances que devem ser

apreciadas separadamente.

Conforme afirma Faria (2000), existe uma variedade de fatores que podem determinar a

institucionalização da participação híbrida nesses espaços. Apesar disso, não existem garantias de

que a sociedade civil vem ocupando adequadamente os mesmos. Inclusive sendo objeto de

estudos no campo das ciências sociais. Segundo a autora

O potencial deliberativo dos novos formatos participativos, sua representatividade, a capacidade e a autonomia de ação dos atores no interior destes formatos, a existência das assimetrias organizacionais, informacionais e/ou econômicas entre seus atores, seus diferentes padrões de ação, bem como os diferentes padrões de ação dos representantes do Estado são questões que ainda persistem, mostrando que se o potencial participativo da década anterior se traduziu em ganhos institucionais, isso não pressupõe, naturalmente, uma sinergia positiva entre estado e sociedade civil. (FARIA, 2000, p. 04)

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A simples abertura de novas frentes de atuação não significa uma representação adequada

dos movimentos sociais nos espaços de gestão de políticas públicas. A ausência de isonomia

organizacional, informacional e econômica compromete os resultados esperados com a criação

dos mesmos.

A autora é mais enfática em sua afirmativa ao situar historicamente, fazendo referência à

campanha neoliberal da década de 1990 no Brasil. A profunda alteração na ordem política e

econômica brasileira prejudicou ainda mais esse processo de implantação de espaços

deliberativos com participação dos movimentos sociais. Ela afirma que

O modelo de desenvolvimento imposto naquele momento dificultou ainda mais a inserção destes grupos na vida pública, na medida em que se passou a avaliar o dinamismo societário ora de forma instrumental, repassando aos atores da sociedade civil responsabilidades próprias ao Estado, ora como entrave às necessidades de reestruturar o país mediante os desafios colocados pela sua inserção em uma ordem globalizada. (Dagnino, 2004; Nogueira, 2004 apud FARIA, 2.000, p. 04)

O modelo do neoliberalismo visava à abertura da economia ao processo de globalização

que vinha ocorrendo no mundo todo. O período de implantação desse projeto trouxe inúmeras

consequências, sendo uma das principais a Reforma do Estado, que por sua vez traduziu-se em

menor investimento Estatal nas políticas sociais.

No início da década de 1990, ocorreu uma crise social, que foi reflexo das

transformações sucedidas no sistema capitalista. Em 1995, os representantes do grande capital

passam a ocupar as instâncias de decisão política e assim a cultura e práticas neoliberais se

disseminam na sociedade. (Paulo Neto, 1999 apud BARBOSA e BITTAR, 2005, p. 246). O

neoliberalismo,

(...) em nome da racionalização, da modernidade e dos valores do Primeiro Mundo promove a liquidação dos direitos sociais (apontados como privilégios), a privatização do Estado, o sucateamento dos serviços públicos e a sistemática implementação de uma política macroeconômica lesiva à população.

A realidade brasileira, na conjuntura neoliberal, apresenta-se de forma contraditória. Uma

vez que o processo iniciado na década de 1980, de democratização da sociedade, inicia a

construção de um padrão legal de política social. (SOUZA FILHO, 2007)

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A expansão de espaços como os Conselhos Gestores, de participação da sociedade civil

na partilha do poder e decisões públicas com o Estado, aconteceu no governo Collor de Mello, ao

final de 1980 e início da década de 1990. Essas experiências participativas da população

ganharam notoriedade junto com a implementação do projeto neoliberal

De um lado, o redirecionamento, a despolitização e a desmobilização da ação foram às marcas do processo neoliberal, enquanto, de outro, assistiu-se a um boom de experiências de gestão democrática e participativa por parte dos governos democrático-populares. (NEVES, 2005, p. 207)

Ainda de acordo com Neves (2005, p. 204), instrumentos como os Conselhos Gestores se

constituem em um incentivo à participação nos municípios, entretanto, não garantem por si só, o

processo de democracia. As leis que permitem um maior controle social das funções do Estado

esbarram na cultura política dominante. A hegemonia liberal-conservadora e as mudanças

ocorridas em âmbito mundial impõem limites ao desenvolvimento imediato das conquistas da

democracia formal.

O modelo que sobressai é o neoliberal, que impõe a subordinação do social a uma política

econômica monetária ortodoxa; a desresponsabilização do Estado no que se refere às expressões

da “questão social”, por meio de ações fragmentadas, privatizadas e focalistas, responsabilizando

a sociedade pelo sucesso das ações (SOUZA FILHO, 2007). Em outras palavras, apesar do

avanço conquistado através da abertura desses espaços de co-gestão de poder entre sociedade

civil e Estado, o incentivo à participação da sociedade sob a influência do projeto neoliberal, põe

em risco o campo democrático popular.

Apesar disso, percebe-se uma melhora nesse cenário sombrio da evolução do projeto

democrático participativo averbado na Constituição de 88. Contudo, “se quisermos estabelecer

uma sinergia positiva entre estado e sociedade civil é necessário que precisemos as variáveis

envolvidas na implantação e no desenvolvimento dos novos formatos participativos, para que eles

induzam um processo efetivo de inclusão política”. (FARIA, 2008, p. 06)

Diante do exposto, a autora Claudia Faria sugere algumas alterações, objetivando o

caráter inclusivo e democratizante das experiências de gestão de políticas públicas, a saber: “(1) a

descentralização das decisões públicas, a (2) introdução de fóruns públicos de discussão e

deliberação, (3) o incentivo institucional à participação dos atores organizacional e

economicamente menos favorecidos e o (4) comprometimento dos gestores públicos com o

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desenvolvimento virtuoso da modalidade de gestão pública em questão” (idem) A consolidação

dessas variáveis tornaria esses espaços menos hegemônicos, possibilitando a participação mais

igualitária de setores desprovidos, principalmente, social e economicamente da sociedade

brasileira. Como exemplo, Faria (idem) diz que essas variáveis mostram que alguns Orçamentos

Participativos são mais bem-sucedidos do que outros.

Esses fatores coadunam com a colocação de Putman (1996; apud Faria, 2008,p. 01), na

qual afirma que “quando os cidadãos adquirem capacidades para agirem coletivamente, eles

passam a monitorar, participar e pressionar os governos, tornando-os mais democráticos. A

participação em associações civis de diversos tipos pode apresentar, portanto, efeitos

democráticos, fato que fortalece os mecanismos representativos e induz o cultivo das habilidades

organizacionais e das virtudes cívicas”. Partindo desse pressuposto, os cidadãos iniciam um

processo de educação pública na expectativa de desenvolver uma consciência cívica.

Com essas ações, os membros de uma sociedade deixam seus interesses individuais e

passam a praticar virtudes societárias, praticando ações mais generalizantes e realizam tarefas que

dificilmente fariam sozinhas. Assim FARIA (2008, p. 01) baseada em uma ideia de democracia

discutida a partir de Tocqueville afirma que “a qualidade da democracia liberal constitucional

está intrinsecamente vinculada à qualidade da sociedade na qual ela está inserida, especialmente

do cultivo das virtudes cívicas oriundas dos vínculos associativos nela estabelecida”.

Faria (2007) sugeriu cinco variáveis para tornar a participação social uma ferramenta

democratizante e inclusiva nas sociedades modernas. Segundo ela, essas alternativas não se

esgotam, mas podem proporcionar contribuições ao processo de democratização da sociedade.

Então, Feres afirma que o perfil associativo dos municípios; tipo de política pública envolvida; a

vontade e/ou envolvimento político do gestor e o formato institucional que tais inovações

assumem.

Quando analisamos essas variáveis destacadas por Feres a luz da estrutura representativa

que observamos no CONSEMAC, podemos encontrar uma situação preocupante quanto a

legitimidade da mesma. Todas as variáveis trabalhadas pela autora indicam uma melhor ou piora

na efetividade da participação da sociedade civil. Apesar do CONSEMAC ter sido criado em

1995, somente dois anos depois que foram convocadas às reuniões. O atual prefeito da Cidade do

Rio de Janeiro, Eduardo Paes, secretário de meio ambiente da Cidade entre 2001-2004, também

não convocou o Conselho. Diante da suposta ameaça, os conselheiros na septuagésima sétima

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reunião ordinária, realizada em nove de dezembro de 2008, antes da tomada de posse do prefeito,

em janeiro de 2009, convocaram o plenário para uma reunião ordinária para 13 de janeiro de

2009, tendo como pauta a apresentação ao CONSEMAC da proposta política do novo governo

municipal para área de meio ambiente.

Outro fator que chama atenção é a ameaça constante sofrida pela sociedade civil. O

projeto de uma sociedade democrática pode sofrer influência do contexto sócio-político e da

cultura dominante, correndo o risco de ser limitado em suas ações e direcionamentos,

principalmente se o espaço de gestão de políticas públicas for exercido em sua plenitude, ou seja,

com poder deliberativo, normativo e fiscalizador.

Para Neves (2005), a sociedade civil, após o neoliberalismo, passa a ser vista como

associada ao mercado, sendo seu caráter democratizador ocultado. A participação da sociedade

civil é associada à solidariedade, confiança, associativismo, capital social, aspectos de

contradição, disputas de poder e conflitos existentes na sociedade, enquanto o conceito de

participação é apropriado por projetos societários diferentes e práticas políticas antagônicas

(NEVES, 2005).

Segundo o mesmo autor (NEVES, 2005, p. 214), a participação social e coletiva corre

risco ao se defrontar com práticas políticas que causam impedimentos ao processo de construção

democrática, principalmente onde a prática clientelista é uma tendência. Nesse cenário, é preciso

atenção para que a prática não se torne assistencialista e negociada, no fortalecimento de uma

cultura direcionada a interesses individuais, na qual o clientelismo tem presença marcante nos

diversos contextos locais e onde a cultura que predomina é a menos democrática.

A prática clientelista é mais latente nos conselhos de gestão de políticas públicas na área

de meio ambiente, devido ao caráter deliberativo, normativo e fiscalizador que têm esses espaços.

No CONSEMAC, por exemplo, a Câmara Setorial Permanente de Licenciamento e Fiscalização

Ambiental é coordenada pela SOBEMA e relator é o presidente SINDUSCON-RIO. Neste

espaço, a sociedade civil organizada que não representa o setor empresarial ou governamental são

apenas dois, a FAM Rio e a APEFERJ.

É importante discutir se as configurações de organização da representação da sociedade

em um regime democrático são realmente adequadas, ou necessitariam serem repensadas,

enquanto sistemas diretos de participação e representação. Fedozzi (1997) assinala que existem

dois problemas com as formas tradicionais de representação democrática: uma, é sua corrupção,

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na forma de regressão a modalidades personalistas ou patrimonialistas de poder, que está

relacionado a uma democracia pouco consolidada; outra é a dificuldades inerente ao próprio

modelo político de representação democrática, ligada às limitações do próprio sistema

democrático (ou da democracia "burguesa").

A participação negociada é visualizada por Neves (2005) como uma maneira de troca na

política, em relação assimétrica, na qual há dependência daquele que pede o serviço e a obrigação

pontual daquele que doa; reforçando a dependência e a cultura do favor, em detrimento da noção

de direitos. Isso ocorre principalmente entre políticos e classes subalternas populares. Pode-se

acrescentar nessa abordagem a própria indicação dos conselheiros ao CONSEMAC.

Diante disso, conclui-se que a institucionalização não garante a efetividade da

participação da sociedade civil. É necessário maior comprometimento do poder público em tornar

essa esfera deliberativa mais transparente, participativa e capacitar constantemente os atores

sociais para participarem de forma mais igualitária e adquirirem maior consciência de seus

direitos; além das cinco variáveis sugeridas pela autora Claudia Faria com intuito de tornar a

participação social uma ferramenta democratizante e inclusiva nas sociedades modernas.

3.1 – Determinantes no CONSEMAC

Conforme apresentado acima, as cinco variáveis apresentadas por Faria (2007) para

analisar estrutura deliberativa nos contextos municipais – retomando, o perfil associativo dos

municípios; capacidade financeira do município; o tipo de política pública envolvida;

envolvimento político do gestor; e o formato institucional - determina e impulsiona a efetividade

democrática dos conselhos de gestão de políticas públicas. É preciso salientar que se entende

como efetividade democrática “como a capacidade das mesmas em incluir novas e diferentes vozes

no processo de implementação, gestão e controle das políticas e de expandir, de forma igualitária, o

acesso aos bens públicos nelas envolvidos” (FARIA, 2007, p. 02).

A gestão de políticas públicas ambientais na Cidade do Rio de Janeiro iniciou o seu esboço a

partir da Lei nº 1.214, de 04 de abril de 1988, criando o Conselho Municipal de Defesa do Meio

Ambiente (CODEMAN). Mesmo antes de começar a reuniões plenárias, o Conselho Municipal é

alterado, em 01 de dezembro de 1995, modificando não só o nome mais como todo o desenho

institucional. Uma das mudanças mais significativas do Conselho Municipal de Meio Ambiente da

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Cidade do Rio de Janeiro (CONSEMAC) é a composição e suas atribuições legais, conforme

abordado no capítulo segundo desta monografia.

O CONSEMAC teve sua primeira reunião convocada para 1997. Todavia, apesar da Lei de

criação estabelecer no Art. 14 que “uma vez constituído, caberá ao Conselho formular proposta de

regimento interno que disporá sobre sua organização, funcionamento, processo deliberativo,

substituições, responsabilidades dos Conselheiros e perda dos mandatos; e em seu parágrafo único

determinar que “o Regimento Interno do Conselho será aprovado até noventa dias após sua instalação

pela maioria qualificada de dois terços dos seus membros e só poderá ser modificado nas mesmas

condições, em sessão especialmente convocada para tal”; na prática não foi isso que ocorreu.

Somente em 23 de janeiro de 1998, através de Resolução CONSEMAC Nº 01 foi votado o

Regimento Interno (RI) do Conselho Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Apesar de

tardio, o estabelecimento de regras de funcionamento corrobora com a prática democrática.

Em regra geral, o RI estabelece os parâmetros de funcionamento desse espaço deliberativo e

participativo. O Conselho tem a seguinte formação: Plenário; Presidência; Secretaria Executiva;

Câmaras Técnicas ou Setoriais, e Comissões Temáticas. “O Plenário é o órgão deliberativo superior

do CONSEMAC, configurado pela reunião ordinária ou extraordinária dos seus membros efetivos

(...)”, segundo Art. 13, do Capítulo II, da referida Resolução.

Um dos maiores problemas da legitimidade desse espaço de gestão de políticas públicas

locais é o fato de que o Presidente está diretamente ligado ao pode executivo municipal. No Art. 16,

Capítulo III, em que discorre sobre a Presidência, diz: “O Presidente do CONSEMAC é o Secretário

Municipal de Meio Ambiente, substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo Secretário Executivo

do CONSEMAC”.

A escolha do presidente desse espaço deliberativo participativo fere o princípio

representativo, à medida que vincula e monopoliza tal representação a um cargo escolhido pelo poder

executivo municipal. Esse advento parece ocorrer com frequência no Brasil. Na análise de Faria sobre

os Conselhos Municipais da Saúde e de Direitos da Criança e do Adolescente no Nordeste, afirma

(2007, p 10):

(...) acreditamos que a forma de escolha do presidente importa para aferirmos o grau de democratização das relações no interior destas instituições. Ademais, se o ato eleitoral expressa antes de tudo o consentimento do indivíduo para com a liderança (Manin, 1997; apud Faria, 2007), a indicação nata do Secretário de Saúde para ocupar o cargo não só fere o princípio representativo, como indica monopólio do cargo pelo representante do governo, configurando de antemão a

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preponderância do governo frente os demais segmentos que participam dos Conselhos.

Mesmo apresentando-se como uma indicação natural na maioria dos conselhos de gestão

de políticas públicas, ela não contribui para dar mais legitimidade ao Conselho Municipal de

Meio Ambiente em questão.

Como o cargo de secretário é uma indicação política, o seu preenchimento fica a mercê de

costuras políticas do poder executivo. No mandato, entre 2007 e 2008, o Conselho foi presidido

por quatro indicações, sendo uma vereadora do mesmo partido do prefeito (Partido dos

Democratas), que regularmente não presidia as sessões plenárias – essa atitude demonstrava o

desinteresse da presidente ou o esvaziamento político desse espaço -; depois ela saiu e indicou

seu filho, que era deputado federal pelo mesmo partido e retornou à cidade para dirigir a

secretaria, ficando por aproximadamente três meses; com seu afastamento o subsecretário

assumiu; e no final de mandato (2004-2008) de vereador e a não recondução nesta disputa

eleitoral, outro vereador foi designado com “mandato tampão” para o término do mandato.

A troca de representação do secretário de meio ambiente proporcionada pelo poder

executivo e o apontamento através da Lei Nº 2.390, de 01 de dezembro de 1995, e do Regimento

Interno para presidir o Conselho de Meio Ambiente, contribui com a perda de credibilidade e

participação social no quinto mandato desse Conselho. O descontentamento ultrapassou a

representação da sociedade civil, atingindo os próprios representantes do poder público. Como

conseqüência, esse espaço presenciou longos meses de esvaziamento.

Conforme abordado acima, apesar do atual prefeito da Cidade (2009-2012), quando

secretario de meio ambiente não ter convocado o Conselho para se reunir, indicou o subprefeito

para Secretaria de Meio Ambiente. Este fato, de certa forma, deu mais peso político à política

ambiental da Cidade do Rio de Janeiro. Acrescenta-se a isso, a experiência profissional do

subprefeito, sendo funcionário público da área ambiental, exerceu diversos cargos de liderança

nos órgãos ambientais, chegando a presidência da Fundação Estadual de Engenharia do Meio

Ambiente (FEEMA).

A Secretaria Executiva apesar de ser objeto de escolha do coletivo vem sendo “indicada”

pelo presidente do Conselho. Conforme exposto no Art. 18 do RI, em seu parágrafo primeiro: “o

Secretário Executivo será eleito entre os seus membros, com mandato coincidente com o do

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CONSEMAC, conforme art. 6º, da Lei nº 2.390/95”. Contudo, é recorrente a sugestão da

presidência.

No sexto mandato, grande parte da sociedade civil discordou da prática de atender a

indicação da mesa à escolha do secretário executivo. Como o Art. 18 do RI diz que “a Secretaria

Executiva do CONSEMAC é a unidade de apoio administrativo e técnico da Presidência,

Plenário, Câmaras Técnicas ou Setoriais e Comissões Temáticas, que será constituída por 01

(hum) Secretário Executivo, assessorado no cumprimento de suas atribuições por pessoal técnico

e administrativo designado pelo Secretário Municipal de Meio Ambiente”, as representações da

sociedade civil concluíram que seria pertinente indicar um funcionário da Prefeitura para assumir

o cargo. Este, já havia prestado significativos serviços à sociedade carioca à frente da Secretaria

Executiva em outros mandatos sem se submeter aos interesses pontuais do poder executivo

municipal.

O presidente do Conselho apontou o subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente da

Cidade do Rio de Janeiro (SMAC), explicando que tal indicação atenderia a necessidade de dar

maior peso político ao Consemac na quinquagésima nona reunião ordinária, realizada em 14 de

abril de 2009. A argumentação foi exaustivamente rebatida pelos representantes da sociedade

civil. Um dos representantes fez a seguinte contribuição: “deve-se aumentar o peso político,

porém sem passar o controle do Conselho para a SMAC, por entender que o CONSEMAC é um

órgão participativo e representativo de toda a sociedade”. Ao término do debate, o presidente

ameaçou – não consignado em ata - recorrer a instâncias jurídicas para prevalecer sua indicação.

Com isso, membros representantes do poder público votaram em bloco na “indicação” do

mesmo.

No que diz respeito à propositura de pautas, o RI faz referência como incumbência da

presidência, nos seguintes trechos: “organizar a pauta das reuniões e providenciar para que a

Secretaria Executiva a prepare e distribua aos Conselheiros; e anunciar a pauta da reunião,

submetê-la à apreciação do Plenário para inclusão de matérias e dar início aos trabalhos da ordem

do dia”. Para a plenária, apesar de ser órgão deliberativo superior do Consemac, é dado o direito

de: “propor e deliberar sobre a inclusão ou adiamento de matéria na pauta de reuniões”. Mesmo

assim, a plenária faz proposições de pauta e tem sido acolhido pela mesa sem maiores

transtornos. Contudo, essa ausência é perigosa, na medida em que não está expressa como

atribuição do plenário a indicação de assuntos de pauta.

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Como sugestão de aferição de políticas mais inclusivas e democráticas, a pesquisadora

Cláudia Faria faz algumas sugestões: “(1) a estrutura de funcionamento dos Conselhos; (2) a

freqüência das reuniões ordinárias e o local onde ocorrem; (3) o número de membros e a

existência ou não de paridade entre eles; (4) o mandato e a possibilidade de reeleição dos

membros; (5) como são escolhidas as entidades de origem dos conselheiros; (6) quem são e como

se elegem os presidentes dos Conselhos; (7) quem propõe a pauta das reuniões do Conselho e

como se chegam às decisões” (FARIA, 2007). Segundo ela, essas possibilidades contribuem de

forma significativa com os procedimentos democráticos participativos nos conselhos de gestão de

políticas públicas locais.

Algumas já podem ser respondidas no decorrer da leitura deste texto, porém a que talvez

permita maior legitimidade e representatividade da sociedade civil nesse espaço e que será objeto

de analise no próximo capítulo se refere à indicação das instituições para fazerem parte do

CONSEMAC.

A Lei Municipal Nº 2.390, de 01 de dezembro de 1995, no Art. 3º faz a seguinte

afirmação: “O Conselho Municipal de Meio Ambiente, com mandato de dois anos, permitida a

reeleição, é constituído de vinte membros efetivos, com direito a voto, e dois convidados sem

direito a voto, todos nomeados pelo Prefeito, observados o disposto no art. 1º”. Este faz

referência a indicação paritária de membros do Poder Executivo e da sociedade civil.

Esta designação remete a duas suposições pragmáticas. Uma delas está relacionada com a

prática clientelística, onde pode haver “o fortalecimento de uma cultura direcionada a interesses

individuais, na qual o clientelismo tem presença marcante nos diversos contextos locais e onde a

cultura que predomina é a menos democrática” (Neves, 2005, p. 214). Nesse contexto, a

indicação, conforme sugere a Lei representa uma ameaça ao processo democrático participativo.

Nessa mesma linha, a indicação e recondução a membro efetivo do Consemac como

atribuição exclusiva do Poder Executivo gerou um desgaste no movimento ambientalista de base

na Cidade do Rio de Janeiro. A ausência de rodízio nas representações especificamente das

ONG’s ambientalistas proporcionou descontentamento das representações de base.

Segundo a Lei, as instituições somente serão substituídas em caso de afastamento da

própria instituição interessada. No final de cada mandato, a Secretaria Executiva solicita

manifestação por escrito de intenção de novos candidatos à conselheira a participar do Consemac.

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Porém, o representante conselheiro na ocasião que se mantiver sem expressão contrária, será

interpretado com interesse de se manter como membro do Conselho.

O revezamento de instituições ambientalista ocorreu em 2005, quando uma instituição

solicitou afastamento por problemas internos, dando oportunidade à ONG Bicuda Ecológica

entrar como conselheira no lugar da ONG Os Verdes. Em relação a outras representações da

sociedade civil, no mandato atual (2009-2010), o prefeito aceitou indicação do presidente do

Consemac para substituir duas representações. Entraram a ABES-RIO e SENGE-RJ em

substituição do CREA-RJ e Sindicato dos Químicos e dos Engenheiros Químicos do Estado do

Rio de Janeiro. Diante de uma lógica exclusivista e individualista, pelo menos uma das

instituições que saíram, expressou seu descontentamento com tal rodízio.

Por fim, abordando os determinantes que podem interferir na construção efetiva de um

processo democrático amplificado, a estrutura do funcionamento do Consemac. Este, não tem

espaço físico próprio. As reuniões plenárias ordinárias ou extraordinárias acontecem no auditório

da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, dividindo esse espaço com todas as atividades da

mesma, incluindo a reunião de outros Conselhos de Gestão de Políticas Públicas Locais. A

divisão administrativa do Conselho encontra-se numa sala reservada no andar da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente, tendo apenas um funcionário da Prefeitura para realizar os

assuntos burocráticos.

Dessa forma, na expectativa de sanar a carência total de profissionais especificamente

para se dedicar às demandas do Conselho, a Lei Nº 2.390, de 01 de dezembro de 1995, em seu

Art. 7º diz: “as Secretarias Municipais e demais órgãos do Poder Executivo, assim como as

entidades de administração pública descentralizada, prestarão ao Conselho o apoio

administrativo, institucional, material e técnico que se fizer necessário”.

Nas disposições gerais do Regimento Interno, no Art. 51 indica o seguinte: “O Presidente

do CONSEMAC, por iniciativa própria ou por indicação do Plenário, poderá solicitar ao Poder

Executivo que adote medidas complementares de caráter administrativo ou orçamentário

necessárias ao funcionamento do CONSEMAC”. Esse artigo demonstra o grau de dependência

com o Poder Executivo, para que o Conselho possa exercer suas funções.

Diante do exposto, existem vários determinantes que devem ser reavaliados no intuito de

tornar o CONSEMAC um espaço de discussão e deliberação na gestão de políticas públicas

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ambientais da Cidade do Rio de Janeiro com a participação efetiva da sociedade civil sem

comprometimento com o Poder Executivo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A democracia representativa clássica, elitista, esta reduzida ao processo eleitoral. Já a

democracia deliberativa vai dar centralidade à questão da participação com base em uma nova

concepção acerca da legitimidade da representação da sociedade civil nos fóruns de discussão de

gestão das políticas públicas locais.

Contudo, não existem garantias da utilização adequada desses espaços. Segundo Faria

(2007), o potencial deliberativo dos novos formatos participativos, sua representatividade, a

capacidade e a autonomia de ação dos atores no interior destes formatos, a existência das

assimetrias organizacionais, informacionais e/ou econômicas entre seus atores, seus diferentes

padrões de ação, bem como os diferentes padrões de ação dos representantes do Estado são

questões que ainda persistem, mostrando que se o potencial participativo da década anterior se

traduziu em ganhos institucionais, isso não pressupõe, naturalmente, uma sinergia positiva entre

estado e sociedade civil.(FARIA, 2007, p. 0 4)

Somente a partir de uma isonomia organizacional, informacional e econômica para

garantir uma melhor representação dos atores representantes da sociedade civil, principalmente

os oriundos de setores mais populares. Para Putman (1996 apud FARIA, 2008, p. 01), quando os

cidadãos adquirem capacidades para agirem coletivamente, eles passam a monitorar, participar e

pressionar os governos, tornando-os mais democráticos.

Diante disso, a capacitação continuada dos representantes da sociedade civil no

CONSEMAC seria uma das opções para melhorar a própria representação a partir do momento

que se aprimora a conscientização cívica do cidadão e o domínio do arranjo institucional dessa

arena. Sem essa prévia preparação dos mesmos, pode-se afirmar que a representação dificilmente

será feita de forma articulada e bem sucedida, comprometendo a efetividade da representação

desse segmento.

Faria é, ainda mais enfática, ao afirmar que a ausência de qualquer disposição por parte do

poder público de capacitar os atores sociais para participarem de forma mais igualitária mostra,

claramente, a resistência de determinados gestores públicos em partilharem o poder com os

conselheiros, inibindo, assim, a inclusão política dos mesmos na definição dessas políticas (Faria,

2007b apud FARIA, 2008, p. 07). Diante disso, é notório que a mobilização, para que ocorra essa

capacitação carece surgir de esforços da sociedade civil organizada.

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Na Resolução CONSEMAC Nº 01, de 23 de janeiro de 1998, que dispõe sobre o Regimento

Interno desse Conselho, no seu Art. 22, diz que “a criação das Câmaras Técnicas, Câmaras Setoriais e

das Comissões Temáticas será proposta pelo Presidente do CONSEMAC ou por qualquer

Conselheiro, sempre que julgado necessário para subsidiar o CONSEMAC em assuntos de natureza

técnica ou específica, e submetida à aprovação do Plenário”. Dessa forma, cabe ao segmento, sugerir

a criação de uma Comissão Temática para elaborar um parecer e criar condições à capacitação dos

conselheiros desse Conselho Municipal de Meio Ambiente.

A criação duma Comissão Temática, formado pela maioria dos representantes da sociedade

civil, poderiam ser o propulsor de uma representatividade voltada aos interesses do cidadão carioca e

propiciar dispositivos mais democratizantes, inclusivos e transparentes, buscando caminhos que

possam efetivar o controle público por parte dessa população. Essa medida, possibilitaria o

desenvolvimento duma cultura voltada ao accountability social, em conjunto com a adoção de

utilização de processo eleitoral à vaga de conselheiro no CONSEMAC, permitiria maior integração

da população nesse espaço deliberativo.

Apesar da delimitação do tema abordar a representação da sociedade civil, um fator que

supostamente pode desencadear efeito positivo e mais democrático dentro do CONSEMAC, é a

indicação para Presidência do mesmo. A alteração desse formato institucional, transformando

essa indicação em processo eleitoral entre os conselheiros, aparentaria um perfil mais

democrático do Poder Executivo Municipal, como também, representaria uma ferramenta

democratizante e inclusiva da sociedade carioca. Ao indicar o presidente do CONSEMAC, o

prefeito está afirmando que esse conselho não tem autonomia para agir, segundo as diretrizes

apresentadas por essa arena democrática, além de prestar um desserviço ao sistema democrático

participativo.

O relatório A Democracia na América Latina rumo a uma democracia de cidadã e

cidadãos (2004), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

contribui com esse trabalho, quando afirma que a democracia é muito mais do que um regime de

governo, ela se confunde com a própria vida. É mais que um método para eleger e ser eleito. Seu

sujeito não é apenas aquele que vota, é o cidadão. Portanto, abandonando o conceito básico da

democracia representativa e indo mais além conclamando a sociedade civil a participar

ativamente desse processo construtivista nas sociedades modernas.

Da mesma forma, Coutinho avalia que a democracia é concebida como a construção

coletiva do espaço público, como a plena participação consciente de todos na gestação e no

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controle da esfera política. É precisamente isso o que Rousseau entende por "soberania popular"

(COUTINHO, 2005, p. 02).

Diante disso, a representação da sociedade civil na expectativa de alcançar maior

legitimidade no Conselho Municipal de Meio Ambiente deveria galgar dois caminhos: reivindicar

a criação de procedimentos eleitorais dentro de cada setor da sociedade civil (entidades de defesa

e proteção do meio ambiente, associações empresariais, associações profissionais e entidades

técnico-científicas, entidades comunitárias e entidades sindicais) para ser conselheiro e criar

fóruns regionais deliberativos para efetivar uma relação mais próxima entre representante e

representado. Todavia, essas sugestões devem ser acompanhadas de algumas pré-condições.

Seguindo a linha sugerida por Almeida e Cunha (2009, p. 08), o CONSEMAC deveria

utilizar procedimentos de seleção mais inclusivos, ou seja, “presença de eleição e a abertura para

diferentes entidades comporem o conselho”. Essa expertise, conforme apresentado acima, já

existe no Conselho Nacional de Meio Ambiente para as entidades ambientalistas cadastradas no

CNEA.

Os procedimentos para realização dessa proposta são em sua maioria burocráticos, como:

criação de um cadastro de associações, processo de filiação, manutenção do mesmo e abertura de

processo eleitoral. É evidente que se deve contar com alteração ou criação de Leis e resoluções

para efetivá-la. Como no sistema nacional, quase em sua totalidade esses eventos estavam a

cargo da própria sociedade civil.

Com a criação desse cadastro, as instituições fariam parte de uma rede de instituições da

sociedade civil cadastradas no Conselho Municipal de Meio Ambiente. Nesse espaço virtual,

criar-se-ia uma dinâmica para animação dessa rede. Segundo Scherer-Warren (2008, p. 514), “os

vínculos sociais e pessoais e sua capacidade de gerar mensagens de conexão, mobilização e

empoderamento” são fundamentais para mantê-la animada.

A segunda ação no intuito de arregimentar maior legitimidade dos representados é, de

acordo com Pitkin (1967), “a prestação de contas que o representante deve fazer de seus atos, que

a literatura de ciência política designa pela palavra inglesa accountability”. (Pitkin, 1967 apud

MIGUEL, 2003, p. 130). Essa prestação de contas seria realizada através da criação de Fóruns

Regionais Deliberativos (a cidade do Rio de Janeiro é dividida em cinco Áreas de Planejamento,

segundo o Plano Diretor). Nesses espaços, além dos cidadãos reforçarem seus vínculos sociais e

pessoais, “os participantes tratam uns aos outros como iguais; eles têm a intenção de defender e

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de criticar instituições e programas em termos que os outros teriam razão para aceitar, dado que o

fato do pluralismo supõe que o outro é razoável” (Cohen, 1989 apud AVRITZER, 2000, p. 41).

Para Bohman, “a deliberação pública é um processo dialógico de troca de razões com o objetivo

de solucionar problemáticas que não encontrariam resolução sem a coordenação e a cooperação

entre as pessoas” (Bohman, 1996 apud AVRITZER, 2000, 42). Com isso, os Fóruns Regionais

Deliberativos representaria um espaço de debate e apontamento de soluções para problemas

locais a serem apresentados a espaços institucionalizados pelos seus representantes, ou seja, os

conselheiros.

Todavia, é Cohen que corrobora com uma solução pragmática a essa proposta, quando

diz: “o cidadão está preparado para cooperar de acordo com os resultados dessas discussões”

(Cohen, 1989 apud AVRITZER, 2000, p. 41). Para tal, esses Fóruns Regionais Deliberativos

escolheriam de maneira aleatória cidadãos para interagirem com os representantes eleitos para

representar os segmentos no CONSEMAC e com as instituições tradicionais, garantindo maior

proximidade entre os movimentos sociais de base e as pessoas comuns.

Os fóruns locais seriam custeados pelo Fundo de Conservação Ambiental do Município

do Rio de Janeiro, previsto no Parágrafo único do Art. 129 da Lei Orgânica tdo Município, criado

pela Lei N° 2.138 de 11 de maio de 1994 e regulamentado pelo Decreto N° 13.377 de 18 de

novembro de 1994. Ele tem como objetivo financiar projetos de: recuperação e restauração

ambiental; prevenção de danos ao meio ambiente; e educação ambiental. Segundo a Lei 2.138,

ele deve ser gerido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAC. Os projetos propostos

são previamente avaliados sob a coordenação da SMAC, e são encaminhados ao Gabinete do

Prefeito para análise e aprovação. Os projetos aprovados para execução devem observar as

diretrizes prioritárias ou emergenciais estabelecidas pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente

- CONSEMAC.

A dinâmica de funcionamento desses Fóruns Regionais Deliberativos iria conduzir os

representados a exigir maior qualificação dos representantes – domínio do arranjo institucional e

maior identificação com os movimentos das bases, ou seja, legitimidade - e criaria, sem sombra

de dúvidas, uma cultura política mais voltada às questões dos direitos e deveres do mesmo.

Assim, a adoção dessas proposições tornaria o Conselho mais democrático e poderia

estimular a participação de um contingente maior de atores sociais e instituições, garantindo de

forma ampliada e pública de participação. Essas medidas podem fortalecer o exercício da

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cidadania, a própria soberania popular, à medida que os cidadãos tornar-se-ão mais participativos

e conscientes de seus direitos e deveres; além de robustecer esse Fórum de Gestão de Políticas

Públicas Locais de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro.

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ANEXOS I

Lei Nº 2.390, de 01 de Dezembro de 1995 LEGISLATIVO Dispõe sobre o Conselho Municipal de Meio Ambiente, da cidade do Rio de Janeiro O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º - O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - CODEMAM, criado pela Lei nº 1.214, de 04 de abril de 1988, passa a denominar-se Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro. Parágrafo Único - O Conselho terá representação paritária de membros do Poder Executivo e da sociedade civil. Art. 2º - O Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, órgão deliberativo, normativo e fiscalizador, terá como atribuições: I - VETADO; II - opinar sobre as diretrizes e a implementação da política de educação ambiental na rede formal de ensino e fora dela, dando igualmente apoio às iniciativas das comunidades e as campanhas nos meios de comunicação ou em outros instrumentos de divulgação; III - fiscalizar e avaliar a realização e a regularidade dos processos de avaliação de impacto ambiental e de vizinhança para o controle das obras, atividades ou instalações potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente natural e cultural, bem como formular exigências suplementares julgadas necessárias; IV - deliberar, supletivamente, sobre a paralisação ou o embargo de obras e atividades que estejam causando, ou possam causar, danos ao meio ambiente ou que desrespeitem à legislação em vigor; V - incentivar a implantação, regulamentação e as formas de gestão e a manutenção de reservas, parques, áreas de preservação permanente e demais unidades de conservação; VI - zelar, no âmbito de sua competência, pela manutenção das unidades de conservação sob tutela estadual e federal; VII - indicar e propor ao Poder Executivo a declaração de áreas de Especial Interesse Ambiental e programas de recuperação ambiental; VIII - fixar diretrizes prioritárias ou emergenciais para aplicação de recursos do Fundo de Conservação Ambiental; IX - cadastrar entidades ambientalistas e indicar aquelas aptas para propor o credenciamento, junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, de voluntários para atividades de apoio à fiscalização ambiental; X - fixar normas referentes a padrões ambientais para o Município;

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XI - desenvolver instâncias de negociações entre partes interessadas para a mediação e elaboração de propostas de solução de conflitos envolvendo o meio ambiente; XII - promover supletivamente, a realização de audiências públicas; XIII - fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos relativos à defesa do meio ambiente, à indústria, ao comércio, à agropecuária e à comunidade; XIV - colaborar em campanhas educacionais relativas a problemas de saneamento básico, poluição das águas, do ar e do solo, combate a vetores e proteção da fauna e da flora; XV - manter intercâmbio com entidades oficiais e privadas de pesquisas e de atividades ligadas à defesa do meio ambiente. Parágrafo Único - VETADO. Art. 3º - O Conselho Municipal de Meio Ambiente, com mandato de dois anos, permitida a reeleição, é constituído de vinte membros efetivos, com direito a voto, e dois convidados sem direito a voto, todos nomeados pelo Prefeito, observados o disposto no art. 1º e os seguintes critérios: I - dos membros dos órgãos do Poder Público municipal, cujo trabalho seja relacionado à gestão ambiental da cidade, entre os quais se incluem, obrigatoriamente, representantes das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, Urbanismo, Habitação, Obras, Transportes e Procuradoria-Geral do Município; II - dez membros da sociedade civil com a seguinte distribuição: a) três representantes de entidades da defesa e proteção do meio ambiente; b) três representantes de associações empresariais; c) dois representantes de associações profissionais e entidades técnico científicas; d) um representante de entidade comunitária; e) um representante de entidade sindical; f) um convidado de órgão federal; g) um convidado de órgão estadual. § 1º - VETADO § 2º - VETADO § 3º - VETADO § 4º - Poderão participar das reuniões do Conselho, sem direito a voto, a convite do Presidente, técnicos, especialistas e representantes de órgãos públicos ou de entidades da sociedade civil, bem como pessoas relacionadas com as matérias em pauta, a fim de prestar os esclarecimentos considerados necessários à deliberação do Conselho. Art. 4º - O Conselho poderá criar comissões temáticas e câmaras técnicas ou setoriais, sem ônus para o Município, subsidiá-lo em assuntos da natureza técnica ou específica. Art. 5º - O mandato dos membros do Conselho terá caráter relevante, não acarretando ônus para o Município. Art. 6º - Presidirá o Conselho o Secretário Municipal de Meio Ambiente, que será substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo Secretário Executivo do Conselho, eleito dentre seus membros, com mandato coincidente com o do Conselho, observado o disposto no art. 3º.

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Art. 7º - As Secretarias Municipais e demais órgãos do Poder Executivo, assim como as entidades de administração pública descentralizada, prestarão ao Conselho o apoio administrativo, institucional, material e técnico que se fizer necessário. Art. 8º - O Conselho reunir-se-á, ordinariamente, a cada sessenta dias, convocado por seu Presidente com antecedência mínima de cinco dias úteis, mediante edital, na forma da lei, e por correspondência registrada. Art. 9º - O Conselho reunir-se-á, extraordinariamente, nas seguintes situações: I - por decisão de seu Presidente; II - por deliberação de reunião anterior; III - por requerimento de um terço de seus membros; IV - VETADO § 1º - VETADO § 2º - VETADO § 3º - Em qualquer das hipóteses previstas neste artigo, a convocação será feita pelo Presidente com antecedência de três dias, por escrito, com menção à pauta de reunião. Art. 10 - O Conselho reunir-se-á, com a presença da metade mais um de seus integrantes e deliberará, na forma do art. 2º, pela maioria simples dos presentes. Art. 11 - As deliberações do Conselho serão publicadas no Diário Oficial do Município. Parágrafo Único - Caberá recursos das decisões do Conselho ao Secretário Municipal de Meio Ambiente, que, se acolhê-lo, encaminhará o assunto para reexame recurso em caráter deliberativo. Art. 12 - Ao Conselho incumbirão a elaboração e a publicação de um relatório anual sobre suas atividades do qual será publicado extrato no Diário Oficial do Município. Art. 13 - O Conselho deverá ser instalado, no máximo, em noventa dias após a entrada em vigor desta lei. Art. 14 - Uma vez constituído, caberá ao Conselho formular proposta de regimento interno que disporá sobre sua organização, funcionamento, processo deliberativo, substituições, responsabilidades dos Conselheiros e perda dos mandatos. Parágrafo único - O Regimento Interno do Conselho será aprovado até noventa dias após sua instalação pela maioria qualificada de dois terços dos seus membros e só poderá ser modificado nas mesmas condições, em sessão especialmente convocada para tal. Art. 15 - Os órgãos da administração municipal, em suas deliberações, atenderão às diretrizes gerais determinadas pelo Conselho. Art. 16 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, especialmente os dispositivos da Lei nº 1.214/88 que com ela conflitarem.

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Ao Excelentíssimo Senhor Vereador SAMI JORGE HADDAD ABDULMACIH DD. Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

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ANEXO II RESOLUÇÃO CONSEMAC Nº 1, de 23 de janeiro de 1998 Dispõe sobre o Regimento Interno do Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro. O Presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, no uso das atribuições que lhe são conferidas pela legislação em vigor, RESOLVE: TÍTULO I Do Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio Janeiro Capítulo I Do Objetivo, Finalidade e Competência Art. 1º - O Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, criado pela Lei nº 2.390, de 01.12.95, sobre o qual dispõe a Lei Complementar nº 16, de 04.06.92 (Plano Diretor Decenal da Cidade), órgão deliberativo, normativo e fiscalizador, integrante do sistema municipal de gestão ambiental e instrumento de aplicação do Plano Diretor Decenal, exercerá sua competência nos termos do presente Regimento Interno, que estabelece as normas de sua organização e funcionamento. Art. 2º - Cabe ao Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, para cumprimento de sua competência, o exercício das atribuições especificadas no art. 19 do Plano Diretor Decenal e no art. 2º da Lei nº 2390/95. Art. 3º - O Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro também será designado pela sigla CONSEMAC para todos os efeitos legais. Capítulo II Da Composição Art. 4º - O CONSEMAC tem composição paritária, constituída de 20 (vinte) membros efetivos com direito a voto e 02 (dois) convidados sem direito a voto, com mandato de dois anos, permitida a recondução, todos nomeados pelo Prefeito, de acordo com critérios estabelecidos no art. 3º da Lei nº 2390/95. Art. 5º - A substituição de membros efetivos e de seus suplentes dar-se-á mediante comunicação da instituição, através de correspondência específica ao Presidente do CONSEMAC, devendo os novos membros tomarem posse na reunião do CONSEMAC seguinte. Art. 6º - No caso do comparecimento simultâneo às reuniões do CONSEMAC do membro titular e de seu respectivo suplente, ambos terão direito ao uso da palavra, cabendo o direito de voto apenas ao titular.

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Art. 7º - Em caso de falta do titular, o suplente terá os mesmos poderes do titular. Art. 8º - As faltas deverão ser comunicadas por requerimento ao Presidente do CONSEMAC, podendo ser justificadas por motivos de saúde, de ordem particular ou de força maior. Parágrafo único - Não sendo indicados os novos membros no prazo de 30 (trinta) dias, o Plenário poderá propor a substituição da instituição representada no CONSEMAC. Art. 9º - No caso do não comparecimento do membro titular e de seu respectivo suplente a 03 (três) reuniões ordinárias consecutivas ou a 05 (cinco) alternadas do CONSEMAC, sem justificativa, o seu Presidente enviará correspondência oficial à instituição que estes representam, comunicando o seu desligamento e solicitando a indicação de novos nomes para os membros titular e suplente. Art. 10º - O período de mandato dos novos membros substitutos, titular e suplente, corresponderá ao restante do mandato vigente do CONSEMAC. Art. 11º - Com antecedência de 02 (dois) meses do final de cada mandato, o Secretário Municipal de Meio Ambiente solicitará oficialmente às instituições representadas no CONSEMAC a designação dos novos membros para o mandato seguinte, sendo permitida a recondução dos mesmos nomes. § 1º - Os Conselheiros serão empossados após nomeação pelo Prefeito, pelo próprio ou pelo Secretário Municipal de Meio Ambiente, na primeira reunião do primeiro ano de cada mandato. § 2º - Se decorridos os 02 (dois) anos de mandato, os Conselheiros não tiverem sido nomeados pelo Prefeito, continuará em exercício a composição anterior, até a posse dos novos Conselheiros, em caráter provisório. TÍTULO II Da Organização e Competência Capítulo I Dos Órgãos Art. 12º - O CONSEMAC terá a seguinte organização: I - Plenário; II - Presidência; III - Secretaria Executiva; IV - Câmaras Técnicas ou Setoriais, e V - Comissões Temáticas. Capítulo II Do Plenário Art. 13º - O Plenário é o órgão deliberativo superior do CONSEMAC, configurado pela reunião ordinária ou extraordinária dos seus membros efetivos, representantes das seguintes instituições, conforme art. 3º da Lei nº 2.390/95:

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I - 10 (dez) membros dos órgãos do Poder Público Municipal, cujo trabalho seja relacionado à gestão ambiental da Cidade, entre os quais se incluem obrigatoriamente, representantes das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, Urbanismo, Habitação, Obras, Transportes e Procuradoria Geral do Município, e II - 10 (dez) membros da sociedade civil com a seguinte distribuição: a) 03 (três) representantes de entidades de defesa e proteção do meio ambiente: b) 03 (três) representantes de associações empresariais; c) 02 (dois) representantes de associações profissionais e entidades técnico-científicas; d) 01 (hum) representante de entidade comunitária, e e) 01 (hum) representante de entidade sindical. Art. 14º - Cabe ao Plenário: I - aprovar o calendário das reuniões ordinárias para o período de mandato dos Conselheiros II - aprovar as atas das reuniões, propondo os ajustes necessários; III - propor e autorizar a criação de Câmaras Técnicas ou Setoriais e Comissões Temáticas; IV - debater e votar as matérias constantes da pauta e os pareceres das Câmaras Técnicas ou Setoriais e Comissões Temáticas, apresentando emendas substitutivas, supressivas e/ou aditivas; V - requerer ao Presidente, por um terço de seus membros a convocação de reuniões extraordinárias, justificando sua necessidade; VI - propor e deliberar sobre a inclusão ou adiamento de matéria na pauta de reuniões; VII - propor e autorizar a indicação de membros não Conselheiros, sempre que julgar necessário, para participar de reuniões do CONSEMAC; VIII - encaminhar proposições ao CONSEMAC; IX - reexaminar matérias em caráter definitivo, cujas deliberações a respeito tenham sido objeto de recursos interpostos e acolhidos; X - debater as proposições a ele submetidas e deliberar sobre os atos do CONSEMAC; XI - zelar pelo exercício das atribuições e competências próprias do CONSEMAC; XII - encaminhar e aprovar solicitações de estudos e informações pertinentes às suas atribuições, e XIII - desempenhar outros encargos compatíveis, por designação do Presidente e aprovação do Plenário. Capítulo III Da Presidência Art. 15º - A Presidência é o órgão de representação do CONSEMAC. Art. 16º - O Presidente do CONSEMAC é o Secretário Municipal de Meio Ambiente, substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo Secretário Executivo do CONSEMAC. Art. 17º - Cabe exclusivamente à Presidência: I - presidir as reuniões do Plenário, nos termos regimentais; II - propor o calendário das reuniões ordinárias para o período de mandato dos Conselheiros e submetê-lo à aprovação do Plenário; III - convocar as reuniões ordinárias, de acordo com calendário aprovado pelo Plenário; IV - convocar reuniões extraordinárias;

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V - conduzir os debates, assegurando a ordem dos trabalhos ou suspendendo-os sempre que necessário; VI - submeter à votação as matérias a serem deliberadas pelo Plenário, apurar e proclamar os resultados; VII - exercer o voto de desempate; VIII - decidir as questões de ordem, assegurando recursos ao Plenário e ouvidos um encaminhamento favorável e outro contrário; IX - submeter à apreciação do Plenário a ata da reunião anterior; X - assinar as atas das reuniões e toda a correspondência, documentos, deliberações e atos relativos ao seu cumprimento e delegar, no que couber, tais poderes ao Secretário Executivo; XI - receber e dar conhecimento ao Plenário das proposições dos Conselheiros; XII - apresentar e submeter à aprovação do Plenário o relatório anual de atividades; XIII - fazer cumprir o Regimento Interno, decidindo sobre os casos omissos e dúvidas de interpretação, ad referendum do Plenário; XIV - mandar proceder à chamada para verificar a presença no início das reuniões; XV - organizar a pauta das reuniões e providenciar para que a Secretaria Executiva a prepare e distribua aos Conselheiros; XVI - anunciar a pauta da reunião, submetê-la à apreciação do Plenário para inclusão de matérias e dar início aos trabalhos da ordem do dia; XVII - representar o CONSEMAC em juízo e fora dele; XVIII - manter contatos com autoridades e órgãos oficiais semelhantes, em nome do CONSEMAC; XIX - distribuir as proposições, processos e documentos às Câmaras e Comissões criadas para tratar das matérias relativas; XX - receber e instruir os processos a serem submetidos a exame do CONSEMAC; XXI - abrir e encerrar as reuniões, e XXII - decidir sobre o acolhimento de recursos interpostos às deliberações do CONSEMAC e apresentar aos Conselheiros os recursos acolhidos para reexame da matéria em questão. Capítulo IV Da Secretaria Executiva Art. 18º - A Secretaria Executiva do CONSEMAC é a unidade de apoio administrativo e técnico da Presidência, Plenário, Câmaras Técnicas ou Setoriais e Comissões Temáticas, que será constituída por 01 (hum) Secretário Executivo, assessorado no cumprimento de suas atribuições por pessoal técnico e administrativo designado pelo Secretário Municipal de Meio Ambiente. § 1º - O Secretário Executivo será eleito entre os seus membros, com mandato coincidente com o do CONSEMAC, conforme art. 6º, da Lei nº 2.390/95. § 2º - Nas faltas e impedimentos do Secretário Executivo, o Plenário deliberará quanto à sua substituição. § 3º - Em questões jurídicas, a Secretaria Executiva deverá recorrer à Assessoria Jurídica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Art. 19º - A Secretaria Municipal de Meio Ambiente dará o necessário apoio administrativo em recursos materiais, para que a Secretaria Executiva do CONSEMAC possa cumprir suas funções, sem prejuízo da colaboração dos demais órgãos e entidades representadas no CONSEMAC que se fizer necessária.

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Art. 20º - São atribuições da Secretária Executiva: I - secretariar as reuniões, lavrar e assinar as respectivas atas; II - fazer a leitura da ata da reunião anterior; III - ajustar o texto das atas, conforme aprovado pelo Plenário, quando for o caso; IV - encaminhar cópias das atas assinadas aos Conselheiros e proceder ao arquivamento das mesmas em registro próprio; V - dar conhecimento ao Plenário das correspondências recebidas e expedidas pelo CONSEMAC; VI - justificar ausência de Conselheiros a reuniões, mediante requerimento do interessado; VII - receber os pareceres encaminhados pelas Câmaras e Comissões e providenciar seu envio aos Conselheiros antes da reunião marcada para sua apresentação; VIII - promover a distribuição aos Conselheiros de toda a documentação relativas as matérias em pauta; IX - providenciar os instrumentos convocatórios das reuniões ordinárias e extraordinárias; X - fazer a chamada para verificar a presença nas reuniões e proceder ao controle das faltas dos Conselheiros; XI - controlar a organização e o arquivamento de toda a documentação técnica e administrativa do CONSEMAC; XII - elaborar o relatório anual de atividades do CONSEMAC do ano anterior, no primeiro bimestre de cada ano, e providenciar sua publicação, após aprovação do CONSEMAC, em extrato, no Diário Oficial do Município; XIII - fornecer às Câmaras Técnicas, Câmaras Setoriais e Comissões Temáticas os documentos relativos aos assuntos tratados pelas mesmas; XIV - substituir o Presidente no CONSEMAC em suas faltas e impedimentos; XV - preparar a pauta das reuniões e distribuí-la aos Conselheiros; XVI - providenciar a publicação em Diário Oficial do Município dos atos deliberativos do CONSEMAC; XVII - manter relações atualizadas das proposições, processos, Câmaras e Comissões em andamento e distribuir cópias das mesmas aos Conselheiros; XVIII - organizar e arquivar em registro próprio as proposições e deliberações do CONSEMAC; XIX - assinar correspondência, documentos, deliberações e atos relativos ao seu cumprimento, quando tais poderes forem delegados pelo Presidente; XX - elaborar as correspondência do CONSEMAC, submetendo ao conhecimento, apreciação e assinatura do Presidente; XXI - providenciar os estudos e informações solicitadas pelo Plenário; Capítulo V Das Câmaras Técnicas e Setoriais e Comissões Temáticas Art. 21º - As matérias submetidas ao CONSEMAC para deliberação serão examinadas previamente por Câmaras Técnicas, Câmaras Setoriais e/ou Comissões Temáticas, podendo passar por mais de uma, não concomitantemente, por decisão do Plenário. Art. 22º - A criação das Câmaras Técnicas, Câmaras Setoriais e das Comissões Temáticas será proposta pelo Presidente do CONSEMAC ou por qualquer Conselheiro, sempre que julgado necessário para subsidiar o CONSEMAC em assuntos de natureza técnica ou específica, e submetida à aprovação do Plenário.

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§ 1º - A proposta da criação deverá indicar suas finalidades, justificativas, matéria a ser examinada, prazo de duração e composição. § 2º - Após aprovada a criação, será constituída através de Resolução, que contenha sua finalidade, matéria a ser examinada, prazo de duração e nomeação dos seus membros. § 3º - O CONSEMAC poderá constituir quantas Câmaras e Comissões forem necessárias. Art. 23º - As Câmaras serão compostas no mínimo por 05 (cinco) e no máximo por 09 (nove) membros e as Comissões no mínimo por 03 (três) e no máximo por 05 (cinco) membros. § 1º - Deverão ser indicados pelas entidades representadas no CONSEMAC pelo menos 03 (três) membros das Câmaras e 02 (dois) membros das Comissões, não necessariamente os Conselheiros titulares ou suplentes, podendo o restante ser formado por convidados. § 2º - A composição deverá ser aprovada pelo Plenário, podendo haver substituição de seus membros somente por nova deliberação do Plenário. § 3º - Serão excluídos os membros que não comparecerem a 02 (duas) reuniões consecutivas sem motivo justificado e substituídos por novos membros indicados e autorizados pelo Plenário. § 4º - Poderão ser convidados a participar das reuniões, sem direito a voto, técnicos ou representantes de entidade que possam prestar esclarecimentos sobre assunto submetido a sua apreciação e especialistas para assessoramento em assuntos específicos de sua competência, desde que previamente autorizado pelos membros da Câmara ou Comissão. § 5º - Cada entidade participante do CONSEMAC poderá participar no máximo de 3 Câmaras Técnicas. § 6º - A Secretaria Municipal de Meio Ambiente terá representação em todas as Câmaras e Comissões de forma a colaborar com as informações e apoio técnico necessários. Art. 24º - As Câmaras e Comissões manifestam-se no CONSEMAC através de seus respectivos pareceres, pronunciamento oficial sobre matéria sujeita a sua análise, que serão apresentados e submetidos à discussão e votação pelo Plenário. § 1º - Sempre que possível, o parecer deverá conter o consenso da Câmara ou Comissão, e caso este não seja alcançado, o parecer deverá incluir os destaques a serem apreciados pelo Plenário do CONSEMAC. § 2º - O parecer será encaminhado à Secretaria Executiva para ser providenciado o seu envio aos membros do CONSEMAC antes da reunião marcada para sua apresentação, em data estipulada pelo Plenário. Art. 25º - As Câmaras e Comissões designarão, nas suas primeiras reuniões, um Coordenador e um Relator para as matérias de deliberação interna e para preparação e apresentação dos seus pareceres ao CONSEMAC, que poderão ser os mesmos. Art. 26º - É vedado às Câmaras e Comissões opinar sobre assuntos e aspectos que não sejam de sua atribuição específica. Art. 27º - As Câmaras Técnicas terão caráter permanente e serão iniciadas com as seguintes, sem prejuízo da criação de novas: I - Câmara Técnica de Políticas Ambientais; II - Câmara Técnica da Bacia Drenante à Baía de Guanabara; III - Câmara Técnica da Bacia Drenante à Baía de Sepetiba, e IV - Câmara Técnica da Bacia Drenante às Lagoas Costeiras.

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Art. 28º - As Câmaras Setoriais terão caráter permanente ou temporário, por decisão do Plenário, e tratarão de matérias técnicas setoriais de atribuição do CONSEMAC. Art. 29º - As Comissões Temáticas terão caráter temporário, com finalidade de tratar de assuntos específicos e pontuais, extinguindo-se com o atendimento de seus objetivos. Art. 30º - Os prazos de duração das Câmaras Setoriais temporárias e das Comissões Temáticas poderão ser prorrogados por quantas vezes de fizer necessário, mediante apresentação de justificativas, por escrito, de seu Coordenador ao Plenário, que definirá novo prazo. Parágrafo Único - Decorrido o prazo de duração fixado, sem apresentação de justificativa para prorrogação, caberá ao Presidente do CONSEMAC designar um novo Coordenador e Relator e fixar o prazo para apresentação do parecer. TÍTULO III Do Funcionamento CAPÍTULO I Do Processo Deliberativo Seção I Das Reuniões Art. 31º - As reuniões ordinárias realizar-se-ão a cada 60 (sessenta) dias, convocadas por seu Presidente, mediante edital, na forma da lei, e por correspondência registrada, com antecedência mínima de 05 (cinco) dias úteis, conforme art. 8º da Lei 2.390/95, além de contatos telefônicos, fax ou outros meios adequados, com menção à pauta da reunião, horários da 1º e da 2º convocação e limite de tempo para "assuntos gerais" Art. 32º - As reuniões extraordinárias serão convocadas por seu Presidente, por iniciativa própria, deliberação da reunião anterior ou a requerimento de um terço de seus membros, através de correspondência dirigida aos Conselheiros, com antecedência de 03 (três) dias, conforme art. 9º da Lei 2.390/95, além de contatos telefônicos, fax ou outros meios adequados, com menção à pauta da reunião, horários da 1ª e da 2ª convocação e limite de tempo para "assuntos gerais". Art. 33º - Na 1ª convocação das reuniões ordinárias e extraordinárias será necessária para a instalação do Plenário a presença da metade mais um de seus membros e na 2ª convocação, as reuniões serão iniciadas com qualquer número, desde que justificada a necessidade de fazê-lo, constando de ata a justificação. Parágrafo Único - Serão admitidos 30 (trinta) minutos de tolerância para verificação do quorum necessário na 1ª convocação. Art. 34º - Técnicos, especialistas, representantes de órgãos públicos e de entidades da sociedade civil, bem como pessoas relacionadas com as matérias em pauta, poderão participar de reuniões do CONSEMAC, indicados por qualquer Conselheiro, desde que autorizado pelo Plenário e mediante convite do Presidente do CONSEMAC, sem direito a voto, a fim de prestar esclarecimentos considerados necessários.

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Art. 35º - As reuniões serão públicas e abertas à população interessada. Art. 36º - Os presentes às reuniões que não forem Conselheiros do CONSEMAC poderão fazer manifestação oral, mediante indicação do Presidente ou de algum Conselheiro presente e desde que aprovado e fixado o tempo pelo Plenário, devendo, sempre que possível, a intervenção ocorrer durante a fase de Assuntos Gerais da reunião, definida no item VIII do art. 38 deste Regimento. Art. 37º - As reuniões terão duração máxima de 02 (duas) horas e 30 (trinta) minutos, podendo o Presidente, em caso de urgência ou relevância, submeter à aprovação do Plenário a prorrogação por mais 01 (uma) hora. Art. 38º - As reuniões observarão os seguintes procedimentos seqüenciais: I - verificação da presença e da existência do quorum para instalação do Plenário; II - abertura da reunião; III - leitura, proposição de ajustes e aprovação da ata da reunião anterior; IV - comunicação das correspondências expedidas e recebidas pelo CONSEMAC; V - informes; VI - leitura das proposições apresentadas; VII - ordem do dia, compreendendo leitura e apreciação da pauta da reunião; exposição, discussão das matérias em pauta, aqui incluídos os pareceres das Câmaras e Comissões; verificação do quorum para votação; votação e deliberações; VIII - assuntos gerais, e IX - encerramento. Art. 39º - A discussão e votação de matéria em pauta poderá ser adiada por qualquer motivo, por decisão do Plenário, sendo fixada a reunião na qual a mesma será incluída na pauta. Parágrafo Único - No curso da discussão é facultado a qualquer Conselheiro solicitar somente uma vez vistas ao processo em questão, o qual deverá ser devolvido até a reunião plenária imediatamente seguinte. Art. 40º - Matérias de caráter urgente, ou relevante, poderão ser propostas pelos Conselheiros para inclusão na ordem do dia, cabendo, no entanto, a decisão de sua inclusão ao Plenário. Art. 41º - O Presidente dará uso da palavra aos Conselheiros previamente inscritos, por 03 (três) minutos, prorrogáveis por mais de 02 (dois) minutos a critério do Presidente. § 1º - O Presidente pode, a bem da celebridade dos trabalhos, limitar o número das intervenções de cada Conselheiro, bem como a respectiva duração. § 2º - Durante o uso da palavra, os Conselheiros não serão interrompidos, inclusive por apartes, a não ser com autorização expressa dos mesmos. Art. 42º - Após a discussão da matéria, serão admitidos um encaminhamento favorável e outro contrário preliminarmente à votação. Seção II Da Votação

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Art. 43º - A votação será sempre nominal. § 1º - Qualquer Conselheiro poderá fazer declaração de voto, que será consignada em ata. § 2º - Qualquer Conselheiro, inclusive o Presidente, poderá abster-se de votar quando se julgar impedido. Art. 44º - Poderão ser objeto de votação somente as matérias constantes da pauta da reunião. Parágrafo Único - Matérias fora de pauta poderão ser incluídas por questões emergenciais ou de relevante interesse, desde que aprovado pelo Plenário. Art. 45º - Se algum Conselheiro tiver dúvidas sobre o resultado de votação, poderá requerer verificação uma única vez, logo após conhecido o resultado e antes de passar a outro assunto. Art. 46º - As deliberações do Plenário, das Câmaras e Comissões serão tomadas por maioria simples. Parágrafo Único - Em casos de empate, as matérias serão submetidas à segunda votação, se mesmo assim permanecer o empate, caberá ao Presidente o voto de desempate. Seção III Das Atas Art. 47º - Serão redigidas e lavradas atas de todas as reuniões ordinárias e extraordinárias, ainda que não haja reunião por falta de quorum, relacionando-se sempre os nomes dos Conselheiros presentes. Parágrafo Único - As atas deverão ser publicadas no Diário Oficial do Município. Art. 48º - As atas das reuniões conterão, seqüencialmente: I - dia, local e horário de abertura; II - nome dos Conselheiros e convidados presentes; III - aprovação da ata da reunião anterior, incluindo, se houver, modificações feitas na mesma; IV - sumário dos informes dados, quando houver; V - registro das proposições apresentadas; VI - resumo da ordem do dia, com matérias examinadas, indicação dos Conselheiros e convidados que participaram dos debates e transcrição de trechos expressamente solicitados para registro em ata; VII - resultado das votações e declarações de voto, se for requerida; VIII - deliberações do Plenário; IX - sumário dos assuntos gerais, quando houver; X - horário de encerramento da reunião, e XI - assinatura do Secretário Executivo, que lavrou a ata, ou do seu substituto na reunião. Capítulo II Dos Instrumentos Seção I Das Proposições

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Art. 49º - Enquadram-se como objeto de proposição para deliberações do Conselho: Parecer, Projeto de Resolução, Requerimento e Emendas assim definidos: I - Parecer: relatório preparado pelas Câmaras e Comissões; II - Projeto de Resolução: ementa, justificativa e minuta de Resolução; III - Requerimento: proposição de autoria de qualquer Conselheiro relativa a matéria de competência legal ou regimental do CONSEMAC, tais como: propostas de Moção, indicação e Estudos e Pesquisas para subsidiar a apreciação de matérias, e IV - Emendas substitutivas, aditivas e supressivas: proposição acessória de outra. Parágrafo Único - Todas as proposições serão encaminhadas pelos Conselheiros ao Presidente, que as apresentará e submeterá ao Plenário. Seção II Dos Atos Deliberativos Art. 50º - São atos do CONSEMAC decorrentes das deliberações do Conselho: Resolução, Moção e Indicações, assim definidos: I - Resolução - quando se tratar de deliberação que regula matérias sobre as quais deva o CONSEMAC pronunciar-se, com efeitos externos; II - Moção - manifestação externa através da qual o CONSEMAC congratula, protesta ou repudia uma ação de cunho ambiental de quaisquer entidades governamentais ou não, e III - Indicação - documento contendo recomendação ou sugestão a ser enviado a órgãos públicos competentes para efetivá-las, resultante da apreciação de matéria afeta às atribuições do CONSEMAC. Parágrafo Único - As Resoluções e Moções serão publicadas no Diário Oficial do Município. TÍTULO IV Das Disposições Finais Art. 51º - O Presidente do CONSEMAC, por iniciativa própria ou por indicação do Plenário, poderá solicitar ao Poder Executivo que adote medidas complementares de caráter administrativo ou orçamentário necessárias ao funcionamento do CONSEMAC. Art. 52º - O Regimento Interno do CONSEMAC somente poderá ser parcial ou totalmente alterado através de Resolução, deliberada pela maioria qualificada de dois terços de seus membros, em reunião convocadas exclusivamente para tal fim, conforme Parágrafo único do art. 14 da Lei nº 2.390/95. Parágrafo Único - A proposta do Projeto de Resolução para alteração somente poderá ser requerida por, no mínimo, dois terços dos Conselheiros e deverá ser distribuída a todos os Conselheiros para exame e proposição de emendas com antecedência mínima de 30 (trinta) dias da reunião em que será submetida à apreciação. Art. 53º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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ANEXO III Lei Nº 1.214, de 4 de Abril de 1988 Cria e regula no Município do Rio de Janeiro, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - CONDEMAM. Autores: Vereadores OSVALDO LUIZ E EMIR AMED Art. 1° - Fica criado no Município do Rio de Janeiro, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - CONDEMAM, órgão consultivo e de assessoramento da Prefeitura Municipal, em questões referentes à utilização do meio ambiente e ao combate à poluição ambiental. Art. 2° - O CONDEMAM tem por finalidade: I - colaborar nos planos e Programas de Expansão e Desenvolvimento Municipal, mediante recomendações referentes à proteção do meio ambiente do Município do Rio de Janeiro; II - promover e colaborar na execução de programas intersetoriais de proteção da fauna, flora e recursos naturais do Município; III - estudar, definir e propor normas e procedimentos visando à proteção ambiental do Município; IV - fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos relativos à defesa do meio ambiente, à indústria, do comércio, à agropecuária e à comunidade ; V - colaborar em campanhas educacionais relativas a problemas de saneamento básico, poluição das águas, do ar e do solo, no combate a vetores e na proteção da fauna e da flora; VI - manter intercâmbio com as entidades oficiais e privadas de pesquisas e de atividades ligadas à defesa do meio ambiente. Art. 3º - O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, compor-se-á de membros a serem nomeados pelo Prefeito, incluindo, além dos representantes do Poder Executivo, representantes de instituições do ensino superior, do ensino básico, da classe universitária, dos sindicatos e das instituições ligadas aos objetivos do Conselho. Art. 4º - O Conselho se reunirá por convocação: a) de 1/3 (um terço) dos seus membros b) do Prefeito c) da Câmara Municipal Art. 5º - Sempre que houver denúncias, por parte de pessoas jurídicas ou através de abaixo-assinado com um número mínimo de 100 (cem) cidadões maiores de idade, o Conselho se reunirá extraordinariamente com finalidade de apreciar tecnicamente a procedência do fato denunciado. Parágrafo único - Declarada pelo Conselho a procedência total ou parcial da denúncia, a obra ou atividade em causa será embargada por 15 (quinze) dias, automaticamente, cabendo ao Prefeito manter o embargo ou suspendê-lo, publicando no Diário Oficial as razões em que se baseou o ato de manutenção e/ou embargo. Art. 6º - Os membros do Conselho terão mandato de 3 (três) anos.

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Art. 7º - O exercício das funções de membros do conselho será gratuíto e considerado como prestação de serviços relevantes ao Município. Art. 8º - Serão criadas comissões de vigilância permanente, as quais serão integradas por representantes de comunidades, profissionais das áreas de Biologia, Saúde e Química, que terão atividades em áreas do Município consideradas como críticas. Parágrafo único - Serão considerados como "Áreas Críticas", todas as regiões sob ameaça de extinsão de espécies animais e vegetais que compõem os diversos ecossistemas. Art. 9º - A presente Lei será regulamentada pelo Exmo Sr. Prefeito dentro do prazo de 60 (sessenta) dias após sua publicação. Art. 10 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 04 de abril de 1988. ROBERTO RIBEIRO (D.O. RIO de 20/04/88)

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ANEXO IV

Lei Complementar n° 16, de 04 de junho de 1992 Dispõe sobre a Política Urbana do Município, institui o Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro, e dá outras providências. CAPITULO II DOS CONSELHOS MUNICIPAIS Art. 19 - Excetuados aqueles com competência definida em lei, os conselhos são órgãos consultivos e de assessoria do Poder Executivo, com atribuições de analisar e propor, assim como dar-lhes publicidade, medidas de concretização das políticas setoriais definidas no Título VII desta Lei Complementar e verificar sua execução, observadas as diretrizes nele estabelecidas. § 1º - Os Conselhos de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, de Proteção do Patrimônio Cultural, de Meio Ambiente e de Transportes atuarão em colaboração com o Conselho Municipal de Política Urbana. § 2º - São atribuições dos conselhos: I - intervir em todas as etapas do processo de planejamento; II - analisar e propor medidas de concretização de políticas setoriais; III - participar da gestão dos fundos previstos nesta Lei Complementar, propondo prioridades na aplicação dos recursos, assim como da fiscalização de sua utilização; IV - solicitar ao Poder Público a realização de audiências públicas, para prestar esclarecimentos à população; V - realizar, no âmbito de sua competência, audiências públicas. SUBSEÇÃO I DA GESTÃO AMBIENTAL Art.113 - O Município instituirá sistema de gestão ambiental para a execução de sua política de meio ambiente e valorização do patrimônio cultural, vinculado ao sistema municipal de planejamento urbano. III - por entidade a ser criada por lei que funcionará como órgão executivo e de suporte técnico-administrativo ao sistema; Art. 114 - O sistema de gestão ambiental é integrado: I - pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente; II - pelo Fundo de Conservação Ambiental; IV - pelo Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural; V - pelo Fundo de Conservação do Patrimônio Cultural, a ser criado por lei. Parágrafo único - VETADO. Art. 115 - Serão objeto de atuação do sistema de gestão ambiental o patrimônio cultural construído ou agenciado pelo homem e o natural, observando-se para tanto, entre outros fatores, implantação de obras, instalações e atividades que potencial ou efetivamente atuem como agentes modificadores do meio ambiente, definidas em lei.

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Art. 116 - A gestão do patrimônio cultural deverá ser atribuída ao órgão do Poder Executivo competente para a formulação e a execução da política de patrimônio cultural do Município, integrado ao sistema de gestão ambiental. Art. 117 - O sistema de gestão ambiental compreenderá: I - a formulação e a execução de programas e projetos de interesse da proteção, recuperação e conservação do patrimônio cultural e ambiental, diretamente ou mediante convênio; II - a implantação de processo de avaliação de impacto ambiental e de controle da poluição; III - a integração das ações dos órgãos consultivos e executivos municipais encarregados da formulação e execução de política de meio ambiente e valorização do patrimônio cultural; IV - a integração das ações fiscalizadoras do Município com as dos órgãos da União e do Estado e o acompanhamento das tarefas de fiscalização realizadas pelos órgãos setoriais; V - a integração das Administrações Regionais às tarefas de gestão ambiental; VI - o exame de projetos, obras ou atividades, efetiva ou potencialmente causadoras de degradação do meio ambiente, e a exigência, quando for o caso, de estudo e de relatório de impacto ambiental ou garantia de recuperação ambiental, para seu licenciamento; VII - a fixação de normas para aplicação dos recursos do Fundo de Conservação Ambiental; VIII - a implantação de sistema de informações geográficas, para o monitoramento da situação ambiental do Município; IX - a criação de um banco de dados ambientais.

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ANEXO V

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 292, DE 21 DE MARÇO DE 2002

Disciplina o cadastramento e recadastramento das Entidades Ambientalistas no CNEA. O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das atribuições e competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno e, Considerando a necessidade de normatizar, aperfeiçoar e dinamizar o processo de cadastramento das entidades ambientalistas que tenham por finalidade principal a defesa do meio ambiente em todos os seus aspectos; Considerando que o Cadastro Nacional das Entidades Ambientalistas-CNEA, vem sendo utilizado como referência para diversas atividades envolvendo as organizações não-governamentais-ONGs ambientalistas, resolve: Art. 1º Para efeito desta Resolução são entidades ambientalistas as Organizações Não-Governamentais-ONGs sem fins lucrativos que tenham como objetivo principal, no seu estatuto e por intermédio de suas atividades, a defesa e proteção do meio ambiente. Parágrafo único. Não são passíveis de cadastramento como entidades ambientalistas, ainda que se dediquem de qualquer forma às causas ambientais: I - as sociedades comerciais; II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria profissional; III - os clubes de serviço; IV - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais; V - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações; VI - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; VII - as entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados; VIII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras; IX - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras; X - as organizações sociais; XI - as cooperativas; XII - as fundações públicas; XIII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado instituídas por órgão público ou por fundações públicas; XIV - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituição Federal; XV - aquelas formadas por conjunto de pessoas que em sua maioria tenham um vinculo societário e/ou empregatício com a mesma organização publica ou privada; XVI - associação de moradores; XVII - as fundações que em sua direção ou conselho deliberativo apresentem maioria de componentes que tenham vinculo societário e/ou empregatício com a mesma organização ou

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conglomerado, seja publica ou privada. Art. 2º Participarão dos processos eleitorais do CONAMA e FNMA somente as entidades legalmente cadastradas no CNEA. Art. 3º Fica instituída a Comissão Permanente do CNEA, com a finalidade de proceder o cadastramento, recadastramento e descadastramento de entidades ambientalistas junto ao CNEA. Art. 4º A Comissão Permanente será integrada por Conselheiros do CONAMA e terá a seguinte composição: I - um representante das entidades ambientalistas de cada uma das cinco regiões geográficas; II - um representante das entidades ambientalistas de âmbito nacional. § 1º A suplência será exercida pelos demais representantes das regiões geográficas e de âmbito nacional das entidades ambientalistas no CONAMA. § 2º Anualmente serão eleitos os titulares e suplentes dos integrantes da comissão. § 3º A Comissão será assessorada pela Secretaria-Executiva do Ministério do Meio Ambiente. Art. 5º O cadastramento e o recadastramento para fins de registro no CNEA é voluntário e será efetuado mediante o preenchimento da ficha de cadastro, constante do Anexo desta Resolução, devidamente assinada pelo representante legal, acompanhada dos seguintes documentos: I - cópia do estatuto da entidade ambientalista, devidamente registrado, nos termos da lei, com a identificação do cartório e transcrição dos registros no próprio documento ou certidão; II - caso se trate de uma fundação, essa deverá apresentar cópia da escritura de instituição, devidamente registrada em cartório da comarca de sua sede e comprovante de aprovação do estatuto pelo Ministério Público; III - cópia da ata de eleição da diretoria em exercício registrada em cartório; IV - cópia da inscrição atualizada no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas-CNPJ, do Ministério da Fazenda; V - relatório suscinto das atividades desenvolvidas no último ano; VI - atestado ou declaração de que a entidade está em pleno e regular e funcionamento, fornecido por autoridade judiciária ou membro do ministério público, ou por três entidades ambientalistas da região registrada no CNEA; VII - informação do número dos associados e/ou filiados. § 1º O dirigente da entidade ambientalista que solicitar cadastramento ou recadastramento é responsável pelas informações prestadas. § 2º A entidade ambientalista solicitante deverá ter no mínimo um ano de existência; Art. 6º O pedido de cadastramento, recadastramento e/ou atualização de dados será encaminhado à Secretaria-Executiva do Ministério do Meio Ambiente, após instrução do processo, será remetido à Comissão Permanente do CNEA, para deliberação. Art. 7º A entidade ambientalista, cadastrada ou recadastrada, após a aprovação pela Comissão Permanente do CNEA, terá seu registro homologado pelo Presidente do CONAMA mediante portaria ministerial, publicada no Diário Oficial da União.

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Art. 8º A Comissão Permanente do CNEA terá o prazo de sessenta dias a partir da publicação da presente Resolução, para estabelecer os procedimentos de cadastramento e recadastramento. Art. 9º O recadastramento das entidades ambientalistas cadastradas no CNEA terá início em 30 de abril de 2002. Art. 10. Para fins específicos, o registro do cadastro junto ao CNEA será considerado de prazo indeterminado. Art. 11. As entidades ambientalistas registradas no CNEA perderão seu registro quando não atualizarem os dados a que se referem os incisos I a IV do art. 5º desta Resolução. § 1º A proposta de descadastramento será apresentada à Comissão Permanente do CNEA, que deverá notificar a entidade sobre a qual se requer a anulação do registro. § 2º A entidade ambientalista contra a qual se requer o descadastramento terá sessenta dias, contados do recebimento da notificação, para apresentar sua defesa. § 3º Transcorrido o prazo para defesa, será marcada data para deliberação sobre o pedido de descadastramento, devendo ser a entidade ambientalista convidada a participar da reunião da Comissão Permanente com antecedência mínima de dez dias. § 4º O descadastramento previsto no presente artigo será homologado pelo Presidente do CONAMA e publicado em portaria ministerial no Diário Oficial da União. § 5º As entidades atualmente cadastradas no CNEA e que estejam listadas no parágrafo único do art.1º desta Resolução, serão descadastradas a partir de 30 de abril de 2003. Art. 12. A entidade ambientalista descadastrada somente poderá requerer novo cadastramento dois anos após a publicação de seu descadastramento. Art. 13. Os casos omissos nesta Resolução serão deliberados pela Comissão Permanente do CNEA.

Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficam revogados os arts. 2º, 3º, 4º, 5º e o Anexo I da Resolução CONAMA nº 006, de 15 de junho de 1989, e as Resoluções CONAMA nos 22, de 7 de dezembro de 1994 e 234, de 17 de dezembro de 1997.

JOSÉ CARLOS CARVALHO Presidente do Conselho

ANEXO

FORMULÁRIO PARA CADASTRAMENTO NO CADASTRO NACIONAL DE ENTIDADES

AMBIENTALISTAS

I - IDENTIFICAÇÃO RAZÃO SOCIAL_________________________________ SIGLA ____________________ ESTRUTURA

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LEGAL_______________________________________________________

II - ENDEREÇO RUA ______________________ BAIRRO________________ MUNICÍPIO ____________ UF______ CEP__________ FONE_____________ TELEX________________ CAIXA___ POSTAL ____________________________________

III - REGISTRO DATA DA FUNDAÇÃO ______/______/______ NºCGC___________________________ Nº E DATA DO REGISTRO DE CONSTITUIÇÃO _______________________________ Nº E DATA DO REGISTRO DO ESTATUTO ____________________________________

IV - OBJETIVO E FINALIDADE __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________

V - RESPONSÁVEL(EIS) LEGAL(IS) PELA ENTIDADE NOME _______________________________________ CARGO _____________________ END./FONE________________________ DATA E ASSINATURA___________________

Publicada DOU 08/05/2002

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ANEXO VI

RESOLUÇÃO CONAMA N.º 006, de 15 de junho de 1989

Publicada no D.O.U, de 25/08/89, Seção I, Pág. 14.714

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso da atribuição que lhe confere o Artigo 48 do Dec. 88.351 de 01/06/83 e conforme o disposto no inciso I do § 2º do Artigo 8º do seu Regimento Interno, RESOLVE:

Art 1º - Instituir o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas - CNEA, com o objetivo de manter em bancos de dados, registro das Entidades Ambientalistas não governamentais existentes no pais, que tenham por finalidade principal a defesa do meio ambiente.

Art 2º - A inscrição do CNEA é voluntária e será feita mediante preenchimento do formulário em anexo, enviado à Secretaria-Executiva do CONAMA, através de carta registrada.

Parágrafo Único - Cabe às entidades cadastradas a responsabilidade pelas informações prestadas.

Art. 3º - Compete à Secretaria-Executiva do CONAMA manter as informações em bancos de dados e publicar, anualmente, a relação das entidades cadastradas.

Art. 4º - A Secretaria-Executiva terá o prazo de 120 (cento e vinte) dias para implantar o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA).

Art. 5º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Fernando César de Moreira Mesquita João Alves Filho

ANEXO I

FORMULÁRIO PARA CADASTRAMENTO NO CADASTRO NACIONAL

DE ENTIDADES AMBIENTALISTAS

ANEXO/RES/conama/Nº006/89

I - IDENTIFICAÇÃO

RAZÃO SOCIAL_________________________________ SIGLA ____________________

ESTRUTURA LEGAL_______________________________________________________

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II - ENDEREÇO

RUA ______________________ BAIRRO________________ MUNICÍPIO ____________

UF______ CEP__________ FONE_____________ TELEX________________ CAIXA___

POSTAL ____________________________________

III - REGISTRO

DATA DA FUNDAÇÃO ______/______/______ NºCGC___________________________

Nº E DATA DO REGISTRO DE CONSTITUIÇÃO _______________________________

Nº E DATA DO REGISTRO DO ESTATUTO ____________________________________

IV - OBJETIVO E FINALIDADE

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

V - RESPONSÁVEL(EIS) LEGAL(IS) PELA ENTIDADE

NOME _______________________________________ CARGO _____________________

END./FONE________________________ DATA E ASSINATURA___________________

ANEXO II

INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO DO FORMULÁRIO PARA

CADASTRAMENTO NO CADASTRO NACIONAL DE ENTIDADES

AMBIENTALISTAS

ANEXO/RES/conama/Nº006/89

I - IDENTIFICAÇÃO

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. Colocar o nome completo da Entidade conforme registro legal;

. a sigla (se houver);

. a estrutura de funcionamento (Presidência, Secretaria-Geral, Diretorias, etc.).

II - ENDEREÇO

. Preencher os campos com as informações pertinentes.

III - REGISTRO

. Informar os dados solicitados.

IV - OBJETIVO E FINALIDADE

. Informar sucintamente o objetivo principal e as finalidades da entidade.

V - RESPONSÁVEL LEGAL

. Informar o nome, endereço e telefone do responsável legal, indicar o cargo

(Presidente, Tesoureiro, Diretor, etc.);

. Assinar e datar.