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LITERATURA E HISTÓRIA UNIDADE 3 - GÊNERO E PRODUÇÃO DE TEXTOS CRIATIVOS NA ESCOLA ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 1 LEITURA E PRODUÇÃO DO TEXTO CRIATIVO Autora Ana Santana Souza

Leitura e Produção Do Texto Criativo 3

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- Unidade 3 - Gênero e Produção de Textos Criativos Na Escola

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ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO

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LEITURA E PRODUÇÃO DO TEXTO CRIATIVO

Autora

Ana Santana Souza

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ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO

LEITURA E PRODUÇÃO DO TEXTO CRIATIVO

Gênero e produção de textos criativos na

escola

Unidade – 3

Professor Pesquisador/Conteudista

ANA SANTANA SOUZA

Coordenação da Produção de Material

Didático

ARTEMILSON LIMA

Design Instrucional

KALINA PAIVA

Coordenação de Tecnologia

ELIZAMA LEMOS

Revisão Linguística

KALINA PAIVA

Formatação Gráfica

MARCELO POLICARPO

Ilustrador

MARCELO POLICARPO

GOVERNO DO BRASIL

Presidente da República

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Ministro da Educação

FERNANDO HADADD

Secretário de Educação a Distância

CARLOS EDUARDO BIELSCHOWSKY

Reitor do IFRN

BELCHIOR DA SILVA ROCHA

Chefe da DETED/UAB

ERIVALDO CABRAL

Coordenadora da UAB/IFRN

ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE

Coordenadora da Especialização

FRANCISCA ELISA DE LIMA

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UNIDADE 03:

GÊNERO E PRODUÇÃO DE TEXTOS CRIATIVOS NA ESCOLA

APRESENTANDO A UNIDADE

Olá, pessoal. Vamos ao nosso terceiro encontro?

Na segunda unidade, discutimos sobre o ensino de língua sob a perspectiva dos

gêneros textuais que são constituídos por temas (conteúdos ideologicamente conformados),

forma composicional (elementos das estruturas comunicativas e semióticas compartilhadas

pelos textos pertencentes ao gênero) e estilo (marcas linguísticas). Pois bem, o estilo que

usamos numa carta pessoal, certamente, não é o mesmo que usamos em um requerimento.

Por que isso acontece? Os documentos oficiais não permitem uma variação muito grande no

estilo, já uma carta pessoal, um poema, uma propaganda e até um discurso eleitoral

possibilitam que o enunciador se coloque de modo bem particular. Esse modo de se colocar

pode revelar uma imagem de quem fala. A imagem de si revelada no discurso é o ethos

discursivo. Nesta unidade, veremos como se dá a relação entre estilo e ethos em gêneros

textuais que permitem uma maior criatividade do autor.

Objetivos:

Ao final da unidade, esperamos que você possa:

compreender a relação entre gênero, estilo e ethos na escrita criativa;

reconhecer a importância da escrita criativa na formação de produtores de texto;

relacionar estilo e ethos na própria produção textual.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Estilo e ethos

Como vimos, o estilo é um dos elementos constitutivos do gênero e é objeto de estudo

desde os textos clássicos. Muitos autores, ao longo do tempo, dedicaram-se ao estudo do

estilo. Não nos deteremos aqui às teorias sobre o assunto. Tomamos como referência para

nossa discussão três aspectos do estilo que, na visão de Compagnon, em O demônio da teoria

(2003, p.194), são insuperáveis:

-o estilo é uma variação formal, a partir de um conteúdo (mais ou menos) estável; - o estilo é um conjunto de traços característicos de uma obra que permite que se identifique e se reconheça (mais intuitivamente do que analiticamente) o autor; - o estilo é uma escolha entre várias ‘escrituras’.

Esses aspectos também dizem respeito ao ethos. Mas antes

de tratarmos da relação entre estilo e ethos, pensemos sobre

este último. Ethos é como os antigos designavam a construção

de uma imagem de si destinada a garantir o sucesso da oratória.

Para Amossy (2005, p. 9):

Todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si. Para tanto, não é necessário que o locutor faça seu auto-retrato, detalhe suas qualidades nem mesmo que fale explicitamente de si. Seu estilo, suas competências lingüísticas e enciclopédicas, suas crenças implícitas são suficientes para construir uma representação de sua pessoa. Assim, deliberadamente ou não, o locutor efetua em seu discurso uma apresentação de si.

A imagem que o autor de um texto (oral ou escrito) constrói de si é o que chamamos

de ethos. Esta construção pode ser inconsciente, mas pode ser intencional, deliberada e não

precisa corresponder a uma realidade, isto é, pode ser uma invenção do autor. Em todo caso,

como afirma Maingueneau (2008, p. 13), “a eficácia do ethos reside no fato de ele se imiscuir

http://www.livrariadaamelia.com.br/image.php

?object_type=product&image_id=390687

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em qualquer enunciação sem ser explicitamente enunciado”. Assim, o locutor venderá uma

imagem de si a seu interlocutor na medida em que menos parecer proposital. A imagem que o

leitor/ouvinte fará do autor do discurso, ou as emoções e paixões que o orador provoca no

ouvinte, é designada como pathos.

O ethos, para Maingueneau, está ligado ao ato de enunciação, entretanto, uma

imagem do enunciador pode ser construída pelo público antes mesmo que ele fale. Assim, o

autor distingue ethos discursivo - as sequências linguísticas propriamente ditas - de ethos pré-

discursivo - gestos, roupas ou cores (no caso de uma

propaganda). O ethos discursivo pode ser dito ou

mostrado. (MAINGUENEAU, 2008, p. 18). O ethos dito faz

referências diretas ao enunciador (Quem lhes fala é um

amigo), já o mostrado não é explícito, mas pode ser

construído através de pistas. A interação entre diferentes

fatores é que resultará no ethos de um discurso.

Maingueneau (2008, p. 15) amplia o conceito -

que, na retórica, ligava-se à oralidade - e defende uma

perspectiva que inclui o texto escrito e ultrapassa o

domínio da argumentação. Para ele, todo texto escrito

tem uma “vocalidade” que se manifesta em uma

multiplicidade de “tons”, caracterizando o corpo e os

traços psicológicos do enunciador, que o autor chama de

“fiador”, cujo “mundo ético” é composto pelos

“estereótipos”. “O mundo ético das estrelas de cinema, por exemplo, inclui cenas como a

subida dos degraus do palácio do Festival de Cannes, seções de filmagem, entrevistas à

imprensa, seções de maquiagem, etc.” (MAINGUENEAU, 2008, p. 18). Veja como o texto

abaixo é construído a partir de estereótipos:

Disponível em:

http://ferlinisalles.files.wordpress.com/20

09/09/discurso.jpg

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Dizer o que está contido na bolsa de uma mulher baseando-se na sua idade é uma

demonstração de julgamento pelo estereótipo. Certamente, o texto nos provoca o riso e esse

efeito só é possível porque o “mundo ético” do leitor também é constituído por estereótipos.

Ainda de acordo com Maingueneau (2008, p. 12), “um dos maiores obstáculos com

que deparamos quando queremos trabalhar com a noção de ethos é o fato de ela ser muito

intuitiva”. Para o autor, a própria concepção de ethos está suscetível a amplas zonas de

variação”. (p. 16). Contudo, o autor nos coloca alguns princípios mínimos (p. 17):

- “o ethos é uma noção discursiva, ele se constrói

através do discurso, não é uma ‘imagem’ do locutor exterior a

sua fala”. Sendo assim, o estudo sobre o ethos não pode

desprezar os aspectos verbais de um determinado texto.

- “o ethos é fundamentalmente um processo

interativo de influência sobre o outro”. A imagem que o

enunciador constrói de si visa convencer o outro da verdade

de seu discurso, o que nos leva a pensar nas intenções do

autor e verificar que nem sempre o ethos visado coincide

com o ethos produzido. Por exemplo, um rapaz ou uma moça

que deseje companhia, mas procura passar uma

imagem de pessoa séria, confiável, mantendo http://2.bp.blogspot.com/_P6GGBilpHhM/SBA76j-

5ozI/AAAAAAAAAa8/pByICZ8j2mo/s400/palavras14

http://www.muraldeimagens.blogger.com.br

/bolsa_mulher.jpg

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certa distância ou polidez pode, ao contrário, parecer desinteressado.

- “é uma noção fundamentalmente híbrida (sócio-discursiva), um comportamento

socialmente avaliado, que não pode ser apreendido fora de uma situação de comunicação

precisa, integrada ela mesma numa determinada conjuntura sócio-histórica”.

Como estilo e ethos, então, se relacionam? Se um autor faz uma escolha entre tantas

escrituras, ele está compondo um estilo. Os traços característicos da forma escolhida pelo

autor refletem sua personalidade (real ou fictícia), constituindo uma imagem de si ou do grupo

do qual faz parte. Citamos, como exemplo, a imagem do grupo dos modernistas de 1922 criada

pelo modo como enunciavam suas idéias. De acordo com Mussalim (2008, p. 76),

a maciça e constante presença do operador negativo “não”, bem como o modo de interação desse operador com outros itens negativos, é um dos itens textuais, caracterizador de um certo estilo, com base no qual se atribui ao discurso modernista o caráter de revolucionário e ao enunciador desse discurso certa compleição psicológica que lhe confere um ethos de “revoltado”.

O operador negativo aparece em exemplos como

este: “E considere que não há lição nenhuma no passado”. O enunciado de Carlos Drummond de Andrade (apud Mussalim, 2008, p. 76), somado a outros dos modernistas, compõem um

conjunto que parece indiciar um ethos de “revoltado”. A revolta é contra o passado e o atraso cultural do país.

Na propaganda, podemos verificar como o ethos construído visa influenciar o consumidor. Para tanto, é fundamental o contexto sócio-histórico. Muraro (2003), analisando o ethos no discurso publicitário das sandálias havaianas, demonstra como, no decorrer dos anos, esse ethos foi mudando para atender às mudanças do produto e do público consumidor. Vejamos algumas peças publicitárias da sandália:

Imagem disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond%20-%20posto6.jpg

Outdoor de jan. 1974. Disponível em:

http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_3/O_etho

s_no_discurso.pdf

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Veja que, nos anos de 1970, a publicidade não tinha sofisticação, pois o produto era

para as classes mais pobres. Durante muito tempo, a imagem da sandália foi associada a do ator Chico Anísio, ator de origem nordestina e que interpretava personagens tipicamente nacionais. A preocupação era, contudo, com as imitações. Com o tempo, a marca incorporou o sinônimo de “legítimas”, portanto, as melhores. Em 1994, foi lançada a campanha Celebridades, que este ano elegeu a ex top model Luiza Brunet, nascida em 1962, mesmo ano do surgimento da sandália.

O tom da campanha, somado à imagem das várias coleções da sandália formada pelo

estereótipo do mundo “fashion”, refaz o ethos discursivo, antes associado ao calçado dos mais humildes e agora voltado também às classes mais favorecidas.

Como podemos ver, a produção de um texto depende do gênero escolhido. Se vamos escrever uma carta amorosa, por exemplo, desejamos construir um ethos de pessoa carinhosa. Para tanto, adotamos um estilo cujas marcas linguísticas podem incluir palavras no diminutivo ou com uma conotação amável. O estilo é articulado de tal modo a compor o ethos desejado.

E em que isso é importante para o ensino-aprendizagem de língua e literatura? É sobre isso que passaremos a refletir agora.

2. Escrita criativa na escola

Você já reparou que algumas pessoas, principalmente as mais jovens, adoram escrever

em portas de banheiros, capas de cadernos, muros e outros suportes não indicados para esse

Outdoor de fev. 1976. Disponível em: http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_3/O_ethos_no_discurso.pdf

Havaianas: todo mundo usa. Disponível em: http://aalonso.blog.uol.com.br/images/BRUNET22.JPG

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fim? De um modo ou de outro, os jovens parecem se interessar pelos textos criativos publicados em suportes incomuns, seja como leitores, seja como produtores de texto.

A escolha por um suporte incomum talvez seja um modo de se rebelar contra as

tradições ou mesmo de exercitar a criatividade. Ao construir um ethos de rebeldia, o jovem busca uma identidade e, assim, sua afirmação. Ao escolher o caminho da criatividade, ele está também se rebelando, pois busca o novo porque é nele que se reconhece. Mas escrever num espaço inusitado não significa, necessariamente, escrever criativamente. Então, o que é uma escrita criativa?

Deixando as teorias de lado, escrita criativa é um modo de dar asas à imaginação.

Escrever com a imaginação nas alturas é produzir um texto para além da simples obediência às normas gramaticais e isso transcende o suporte onde o texto se apresenta. Na capa do caderno, no blog ou Orkut, na calça jeans ou na camiseta e mesmo no corpo, a escrita só será criativa se ela trouxer um modo novo de expressão ou apresentar o mesmo fazendo-o parecer inusitado. Veja este poema de Adélia Prado:

http://leituraprivada.files.wordpress.com/2009/03/1-1.jpg

http://www.dgidc.min-

edu.pt/revista_noesis/Documents/Revista%20No

esis/noesis72.pdf

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Casamento

Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.

O poema apresenta, através de uma linguagem simples, uma cena comum do cotidiano do casamento, porém com outra proposta. A princípio parece termos um ethos de mulher submissa que, a qualquer hora da noite, se levanta para tratar de peixes pescados pelo marido. Entretanto, o erotismo, que mantém não apenas a mulher na cozinha, mas também o homem, altera toda a expectativa de uma cena típica do casamento. Imagens como “cotovelos se esbarram”, “silêncio de rio profundo”, “coisas prateadas espocam” acabam por levar o casal à condição de noivo e noiva, estágio em que o relacionamento não foi desgastado pela rotina. Desse modo, a autora desmonta o estereótipo de casamento anunciado no título e indicado nos cinco primeiros versos. A criatividade está no modo como a poetiza nos faz repensar na relação entre homens e mulheres, transformada no poema pelas imagens eróticas, procedimento próprio do estilo adeliano. Assim, o eu lírico feminino não é submisso, pois a mulher não vai sozinha tratar dos peixes por obrigação. A mulher é antes participativa, que transforma o lar, retirando-lhe a imagem de cárcere e lhe atribuindo a qualidade de lugar de criação, pois é dele que a poetisa retira sua poesia. Incluir a escrita criativa na atividade escolar, atentando, entre outras coisas, para o estilo e o ethos discursivo é um modo de atrair o aluno para a leitura e para a produção textual, inserindo-o num contexto de descobertas das possibilidades da linguagem. O ensino sob essa perspectiva traz muitas implicações. Segundo Margarida Fonseca Santos,

A escrita criativa ou, num sentido mais lato, o desenvolvimento da criatividade muda a atitude perante a vida, a nossa forma de encarar os acontecimentos. De certo modo, é uma atitude que implica percebermos que, se nos confrontarmos com um determinado limite, vamos ter de o contornar. É uma possibilidade de acedermos ao pensamento lateral, um tipo de pensamento que, geralmente, não é estimulado. O pensamento lateral tem a ver com as soluções que não são óbvias e que, até podendo parecer descabidas, podem ser grandes invenções. (SANTOS, 2008).

Vemos que a escrita criativa desenvolve a imaginação para encontrar saídas em

situações que parecem, a priori, sem solução. O leitor e o produtor de textos criativos são levados a conhecer um mundo diferente do que ele está habituado. Ou melhor, ele é levado a ver seu próprio mundo de uma maneira nova, a pensá-lo por outra perspectiva. Ok! Isso é

Poema disponível

em:http://www.releituras.com/aprado_casamento.asp

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http://www.sobral.ce.gov.br/boletim/image

s/2006/marco/27-01.jpg

ótimo, entretanto, você deve estar pensando, mas como desenvolver a escrita criativa? Através do exercício, da prática constante da leitura e da escrita de textos inventivos? Lendo e praticando, vamos, aos poucos, exercitando a liberdade da expressão, tanto em termos de conteúdo como de forma.

Conscientes disso, professores, em algumas escolas e universidades, desenvolvem projetos de oficina de criação literária, para estimular os alunos a produzir textos explorando a criatividade. Algumas resultam em livros

como Oficina de criação literária: um olhar de viés (LAMAS; HINTS, 2002), uma obra importante para quem deseja se enveredar pela produção de literatura ou conhecer algumas propostas de exercício literário. Para contribuir com a prática docente nessa área, apresentaremos, na Unidade 4, algumas sugestões de atividades para o professor desenvolver a escrita criativa com seus alunos.

Até lá!

ATIVIDADE

Para um maior aprofundamento das questões discutidas nessa unidade, sugerimos que

você leia os textos complementares, além destes: Ethos e estilo, de Norma Discini; O ethos no discurso publicitário, de Aluiza Alves de Araújo; As palavras também saem das mãos, de Nuno Leitão. (Ver as referências completas abaixo).

Após a leitura desses textos, escreva uma carta para um colega da disciplina, falando-lhe da escrita criativa como instrumento didático na formação de leitores e de produtores de texto. Ao escrever, procure construir um ethos em que seu entusiasmo convença o seu interlocutor das suas idéias, mas lembre-se que “a eficácia do ethos reside no fato de ele se imiscuir em qualquer enunciação sem ser explicitamente enunciado”. (MAINGUENEAU, 2008, p. 13).

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REFERÊNCIAS

OBRAS CITADAS:

AMOSSY, Ruth (Org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto,

2005.

ARAÚJO, Aluiza Alves de. O ethos no discurso publicitário. Disponível em <http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_144.pdf>. Acesso em 25/abr/2010. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução de Cleonice P. B. Mourão, Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. DISCINI, Norma. Ethos e estilo. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008. p. 33-54. LAMAS, Berenice S.; HINTS, Marli M. Oficina de criação literária: um olhar de viés. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. LEITÃO, Nuno. As palavras também saem das mãos. Revista Noesis: Dossiê escrita criativa. N. 72, jan./Marc, 2008. p. 26-29. Disponível em: <http://www.dgidc.min-edu.pt/revista_noesis/Documents/Revista%20Noesis/noesis72.pdf. Acesso em 06/mai/2010> MAINGUENEAU, Dominique. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008. P. 11-29. MURARO, Marlon Luiz Clasen Muraro. O ethos no discurso publicitário das sandálias Havaianas. Cad. de Pós-Graduação em Letras. São Paulo, v. 2, n. 1, p. 57-67, 2003. Disponível em <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_3/O_ethos_no_discurso.pdf>. Acesso em 25/abr/2010> MUSSALIN, Fernanda. Uma abordagem discursiva sobre as relações entre ethos e estilo. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008. p. 70-81.

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SANTOS, Margarida Fonseca. Escrita criativa: uma janela aberta para o novo mundo. In: Revista Noesis: Dossiê escrita criativa. N. 72, jan./Marc, 2008. p. 31-33. Entrevista concedida a Elsa de Barros. Disponível em: <http://www.dgidc.min-edu.pt/revista_noesis/Documents/Revista%20Noesis/noesis72.pdf. Acesso em 06/mai/2010>

LEITURAS COMPLEMENTARES

GOMES, Luiza Costa. Um escritor na sala de aula. Revista Noesis: Dossiê escrita criativa. N. 72, jan./Marc, 2008. p. 26-29. Disponível em: http://www.dgidc.min-edu.pt/revista_noesis/Documents/Revista%20Noesis/noesis72.pdf. Acesso em: 06/mai/2010.

Esse texto, entre outros citados nesta unidade, está na Revista Noesis, uma publicação

portuguesa, cujo número 72 traz um dossiê sobre escrita criativa. Vale a pena acessar todos os

textos do Dossiê para saber mais sobre o assunto.

HEINE,Palmira Virgínia B. Considerações sobre a cena enunciativa: a construção do ethos nos blogs. In: Revista entretextos. V. 7. Jun/dez/2007 . Disponível em: <http://www2.uel.br/revistas/entretextos/pdf/13.pdf>. Acesso em: 25/abr/2010.

O texto nos ajuda a compreender a imagem de si que está constituída nos blogs, atualmente muito usado também por estudantes.

MOLITERNO, Isabel de Andrade. O ethos e a concepção de poesia em dois poemas de Adélia Prado. Disponível em: <http://www.trilhasliterarias.com/isabemoliterno02.htm>. Acesso em: 25/abr/2010.

Esse texto possibilita que conheçamos a formação do ethos em textos poéticos.

SOUZA, Paula Fabianes de. Representação da liberdade no discurso publicitário da TIM. In: Revista Trama - Volume 4 - Número 7 - 1º Semestre de 2008. p. 189-199. Disponível em: <http://e- revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/2412/1816>. Acesso em: 25/abr/2010.

Mais um texto sobre o ethos no discurso publicitário. Com essas leituras complementares, teremos diferentes exemplos de análise do ethos em gêneros textuais variados.

INDICAÇÃO DE VÍDEOS

Fragmento do filme Sociedade dos poetas mortos. Disponível em:

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http://www.youtube.com/watch?v=-hoKDT1ksN4

O filme é uma lição sobre poesia. Além disso é interessante ver o ethos do professor de

literatura e as paixões e emoções que ele provoca nos alunos e outros professores da

instituição.

Escrita criativa

Disponível em: http://video.google.com/videoplay?docid=-3441289827446378070#

O vídeo é introdutório ao assunto, mas pode nos indicar caminhos de produção criativa.