Leitura e Produção de Texto

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Leitura e Produo de Texto

Associao Catarinense das Fundaes Educacionais - ACAFE

PRESIDENTE ANTNIO MILIOLI FILHO Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC VICEPRESIDENTE PAULO IVO KOEHNTOPP Universidade da Regio de Joinville UNIVILLE

CMARA DE EDUCAO A DISTNCIA COORDENAO SUELY SCHERER Centro Unversitrio de Jaragu Do Sul UNERJ VICE-COORDENAO ELISA NETTO ZANETTE Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC

Produo do Material Didtico: Leitura e Produo de Textos

PROFESSORES AUTORES ALMERINDA TEREZA BIANCA BEZ BATTI DIAS Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC MRCIA M. JUNKES Centro Universitrio de Brusque - UNIFEBE MARY NEIVA SURDI DA LUZ Universidade Comunitria Regional de Chapec - UNOCHAPEC REGINA BACK CAVASSIN Universidade da Regio de Joinville UNIVILLE ROSANA PAZA Centro Universitrio de Brusque - UNIFEBE VCTOR CSAR DA SILVA NUNES Universidade Regional de Blumenau FURB

COORDENAO GRAZIELA FTIMA GIACOMAZZO Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC PROJETO GRFICO Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC REVISO MARIZA GYRO GES Conselho Editorial da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC DIAGRAMAO DIANA COLOMBO PELEGRIN Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC ILUSTRAO ALAN CICHELA Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC

Instituies do Sistema ACAFE

CENTRO UNIVERSITRIO DE BRUSQUE Unifebe site: www.unifebe.edu.br Reitora: Prof Maria de Lourdes Busnardo Tridapalli CENTRO UNIVERSITRIO BARRIGA VERDE UNIBAVE site: www.febave.org.br Reitor: Prof Celso de Oliveira Souza CENTRO UNIVERSITRIO DE JARAGU DO SUL UNERJ site: www.unerj.br Reitora: Prof Carla Schreiner UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAI UNIDAVI site: www.unidavi.edu.br Reitor: Prof Viegand Eger UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU FURB site: www.furb.br Reitor: Prof Eduardo Deschamps UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE UNIPLAC site: www.uniplac.net Reitora: Prof Gilberto Borges de S UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC site: www.unesc.net Reitor: Prof Antnio Milioli Filho UNIVERSIDADE DA REGIO DE JOINVILLE UNIVILLE site: www.univille.br Reitor: Paulo Ivo Koehntopp

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI site: www.univali.br Reitor: Prof Jos Roberto Provesi UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA UNISUL site: www.unisul.br Reitor: Prof Gerson Luiz Joner da Silveira UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC site: www.udesc.br Reitor: Prof Anselmo Fbio de Moraes UNIVERSIDADE DO CONTESTADO - UnC (Reitoria) site: www.unc.br Reitor: Prof Werner Jos Bertoldi UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA UNOESC site: www.unoesc.edu.br Reitor: Prof Aristides Cimadon UNIVERSIDADE COMUNITRIA REGIONAL DE CHAPEC - UNOCHAPEC site: www.unochapeco.edu.br Reitor: Prof Gilberto Luiz Agnolin CENTRO UNIVERSITRIO MUNICIPAL DE SO JOS - USJ site: www.usj.edu.br Reitor: Prof Telmo Pedro Vieira

Instituies Participantes do Projeto

Universidade Regional de Blumenau FURB Centro Universitrio de Jaragu do Sul UNERJ Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajai UNIDAVI Centro Universitrio de Brusque UNIFEBE

Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC Universidade do Vale do Itaja UNIVALI Universidade da Regio de Joinville UNIVILLE Universidade Comunitria Regional de Chapec UNOCHAPEC Centro Universitrio Municipal de So Jos USJ

Instituies do Sistema ACAFE

UNERJ Suely Scherer UNESC Elisa Netto Zanette /Graziela Ftima Giacomazzo FURB Henriette Damm Friske UDESC Sonia Maria Martins De Melo UNC Gilmar Luis Mazurkievicz/Liamara S. Comassetto UNIBAVE Celso de Oliveira Souza UNIDAVI Marco Aurlio Butzke

UNIFEBE Rogrio Santos Pedroso UNIPLAC Tania Mara da Silva Bellato UNISUL Jucimara Roesler UNIVALI Margarete Lazzaris Kleis UNIVILLE Gelta M. J. Pedroso UNOCHAPEC Josimar de Aparecido Vieira UNOESC Rosa Maria Pascoali USJ Solange Vitria Alves

Apresentao

Caro acadmico, seja bem-vindo ! Este o material didtico da disciplina de Leitura e Produo de Textos do sistema ACAFEVirtual. Ele faz parte de um projeto interinstitucional de cooperao e colaborao na autoria e produo de disciplinas da modalidade a distncia. A Educao a Distncia (EaD) uma modalidade de ensino que traz uma nova concepo de aprendizagem, j que o acadmico tem mais autonomia com relao ao tempo e ao espao, o que requer, de sua parte maior cooperao e responsabilidade nos estudos. So muitas as vantagens da EaD, como a possibilidade de entrar em contato com pessoas de outras regies, interagindo socialmente, desenvolver a habilidade do uso de novas tecnologias e favorecer uma aprendizagem cooperativa, intensificando o intercmbio entre professor e alunos. No processo de aprendizagem desta disciplina, voc ter a companhia de dois amigos que iro acompanh-lo nas leituras do material, contribuindo com idias, sugestes, perguntas e dicas. Eles se chamam Aurlio e Lygia:

Ol! Sou Aurlio, graduado em Letras. Voc imagina a origem do meu nome? Acertou! Em homenagem ao nosso querido Aurlio Buarque de Holanda: crtico, ensasta, tradutor, fillogo, professor de Lngua Portuguesa e Literatura, alm de um apaixonado pelas palavras da nossa lngua, razo pela qual escreveu seu prprio dicionrio.http://www.aureliopositivo.com.br/ aurelio/biografia.asp

Oi! Eu sou a Lygia, colega do Aurlio e, agora, tambm sua. Conheci o Aurlio na graduao em Letras. Nossa formatura foi inesquecvel. Gosto de ler e escrever como a Lygia Fagundes Telles, a quem admiro e na qual busco inspirao. Seu primeiro livro de contos, Poro e Sobrado, o meu preferido.http://acervos.ims.uol.com.br/ php/level.php?lang=pt&comp onent=37&item=44

Esperamos, ento, que os encontros virtuais que tivermos sejam de aprendizado, pois desejamos participar com voc desta caminhada. Este material estar sempre em construo e, por isso, suas sugestes e crticas sero sempre bem-vindas!

Professores autores e coordenao

Sumrio

Unidade 1 Leitura ................................................................. 07 Tema 1 Leitura em nossa vida ................................................... 08 Tema 2 Leitura e escrita ........................................................... 13 Tema 3 Como se l .................................................................. 22 Tema 4 Leitura e argumentao ................................................ 28 Tema 5 A influncia do contexto histrico na interpretao ........... 37 Tema 6 As relaes entre textos: intertextualidade ...................... 41 Tema 7 Leitura de implcitos ..................................................... 53

Unidade 2 O Gnero Resumo ................................................ 70 Tema 1 Resumo: o que e por qu ........................................... 71 Tema 2 A situao ou o contexto de produo do resumo ............. 80 Tema 3 Resumo cientfico ......................................................... 87

Unidade 3 O Gnero Resenha: um texto acadmico .............. 93 Tema 1 Por que a resenha um gnero textual ........................... 94 Tema 2 A estrutura da resenha ............................................... 102 Tema 3 Para elaborar a sua resenha ........................................ 108

Unidade 4 O Gnero Ensaio................................................. 121 Tema 1 Ensaio....................................................................... 122 Tema 2 Estrutura do ensaio na academia.................................. 129 Saiba Mais ............................................................................... 136 Tema 3 Produzindo o ensaio.................................................... 139

Leitura

Objetivo da UnidadeAo concluir esta unidade, voc dever ser capaz de: Identificar os diversos tipos de leitura com que nos deparamos no dia-a-dia; Reconhecer as diferentes estratgias utilizadas para compreender o que lemos; Analisar textos e reconhecer os recursos de argumentao utilizados pelos autores.

Unidade 1

Voc j parou para pensar sobre o papel da leitura em nossa vida? Pois chegou a hora! Nesta unidade, estudaremos sobre o que e como se l. Vamos ver que lemos alm das palavras escritas. Lemos tambm o mundo, ou seja, tudo o que est ao nosso redor. Lemos as placas, os gestos, a natureza, os olhares. na palavra escrita, contudo, que centraremos nossa ateno, pois a leitura das palavras e do que est por trs delas fundamental para nossa formao acadmica e humana.

Tema 1 Leitura em nossa vida

ObjetivoCompreender a importncia da leitura na formao humana e acadmica.

Estamos muito acostumados a pensar no ato de ler como a leitura de textos em livros, jornais, revistas etc., mas as imagens (fotos, ilustraes, desenhos...) tambm so textos. Isso quer dizer que no lemos somente as palavras. Observe as seguintes imagens:

Ao observar as imagens, voc j fez uma leitura.

Aurlio est certo! At porque a primeira leitura que se faz de qualquer texto sensorial, ou seja, captamos pelos nossos sentidos os elementos que nos auxiliaro na compreenso dos objetos que nos rodeiam e, assim, construmo-nos como leitores. Aprendemos a ler a realidade que est ao nosso redor e, desde pequenos, aprendemos a identificar e a reagir quilo que acontece. Aprendemos a reconhecer, ou seja, a ler o universo nossa volta.Prof Almerinda Tereza Bianca Bez Batti Dias Prof Mary Neiva Surdi da Luz 8

LEITURA E PRODUO DE TEXTOS

Unidade I Leitura Tema 1 Leitura na nossa Vida

Ns vivemos em sociedades que tm suas regras sociais, culturais e de convivncia. E, para que essa convivncia funcione, necessrio que aprendamos a ler nosso grupo social para compreend-lo e para nos relacionarmos com ele. Precisamos, ento, ler os gestos, os olhares, os sorrisos e os silncios.

Agora, olhe ao seu redor e veja o que mais pode ser lido.

ReflitaSe voc pode ver pela janela, como est o cu? Leia o que o cu diz. Vai chover? Se voc est numa sala cheia de colegas trabalhando, leia seus rostos, seus gestos: esto todos bem?

Tudo que est a sua volta quer dizer alguma coisa e o que est faltando (porque foi retirado ou porque nunca esteve a) tambm quer dizer alguma coisa. Paulo Freire (1986, p. 30) diz que "Cada um de ns um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver esta constatao to evidente [...] significa reconhecer nos outros [...] o direito de dizer a sua palavra".Paulo Freire (www.sergeicartoons.com)

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Unidade I Leitura Tema 1 Leitura na nossa Vida

Para Freire (1986, p.20), a leitura do mundo elemento significativo e de maior importncia para a compreenso crtica do ato de ler. "[...] a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele". Ler o mundo ser capaz de perceber e emitir julgamentos a respeito de tudo aquilo que nos cerca e nos afeta. Exercitamos esse tipo de leitura em quase todos os momentos de nossa vida e a nossa experincia de leitura de mundo afeta tambm o modo como lemos as palavras.

AtividadeReflita um pouco, escreva poucas linhas e publique no Ambiente Virtual de Aprendizagem: O que ler o mundo? O que ler a palavra?

O que ler?

A leitura importante para que se desenvolva efetivamente a prtica de produo de textos, pois o ato de ler nos ajuda a obter uma srie de informaes sobre os contedos que lemos e sobre a forma como os textos se organizam. Para que isso acontea, fundamental o contato com textos que se apresentam nos mais diferentes suportes de leitura.Voc sabe o que so suportes de leitura?

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Unidade I Leitura Tema 1 Leitura na nossa Vida

Os textos podem vir impressos em diferentes suportes: cartaz, embalagem, livro, jornal, folheto em papel, papelo, plstico, tecido etc., de acordo com sua finalidade, para poderem circular e exercer funes reais na sociedade. Veja a tirinha a seguir:

(http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html)

Mafalda, a menina da tirinha, tem uma concepo de leitura. Para ela, no se pode ler um livro to grosso daquela forma. Isso porque, para muitas pessoas, ler decodificar, ou seja, s reconhecer as letras (o cdigo) de uma lngua.

Ler no s decodificar palavras. , antes de tudo, construir sentidos para o que se l. porisso que, muitas vezes, o "leitor" no consegue obter informaes num texto lido. Para obter essas informaes e, conseqentemente, construir sentidos, preciso considerar os conhecimentos prvios que ele possua sobre o assunto e a interao que seja capaz de fazer com os diferentes tipos de textos que circulam em nossa sociedade.

Isso significa que aprendemos a ler diferentes textos de diferentes gneros. Os gneros textuais so classificados de acordo com a sua constituio. Cada gnero construdo a partir de certas condies definidas por conveno. Assim, cada gnero textual reconhecido por sua estabilidade lingstica, a qual se evidencia em situaes recorrentes, pressupondo uma relao entre a linguagem (fatores textuais) e as relaes sociais envolvidas (fatores contextuais). Portanto, na hora de ler cada texto, devemos prestar ateno sua especificidade; e, na produo de um texto, devemos levar em conta as suas caractersticas e os seus possveis leitores (considerando, inclusive, onde vai circular: revista, jornal, Internet...).

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Unidade I Leitura Tema 1 Leitura na nossa Vida

A tirinha que voc leu acima um gnero textual que tem como caracterstica bsica o fato de ser uma piada curta de um, dois, trs ou at quatro quadrinhos e, geralmente, envolve personagens fixos: Mafalda, Garfield, Hagar etc.

Resumindo: Segundo Amaral (2007, p. 01), Gnero textual um nome que se d s diferentes formas de linguagem que circulam socialmente, sejam mais informais ou mais formais. Um romance um gnero, um artigo de opinio tambm, um conto um outro gnero, uma receita de bolo tambm gnero textual, uma aula gnero, uma palestra ou um debate na televiso tambm so gneros textuais. Eles so a forma como a lngua se organiza nas inmeras situaes de comunicao que vivemos no dia-a-dia. Gneros textuais so lngua em uso social, seja quando usamos a lngua na escola, seja quando usamos a lngua fora dela para nossa comunicao, seja quando usamos gneros escritos, seja quando usamos gneros orais. Os gneros so lngua em uso, so lngua viva, so instrumentos de comunicao.AMARAL, Heloisa. Como e por que trabalhar com gneros textuais no Prmio Escrevendo o Futuro. Disponvel em: . Acesso em: 20/04/2007.

Alm de termos de aprender a lidar com um universo de textos e a us-los, quando lemos, sofremos uma srie de influncias cognitivas. As nossas crenas, nossas opinies sobre um determinado tema e at mesmo a nossa motivao ou objetivos diferentes influenciam na forma como cada um compreende e constri os sentidos do que l. Um exemplo bem simples imaginarmos como cada um reage quando ouve piadas que fazem referncia a raas, classes sociais, profisses ou nacionalidade.Isso acontece, Aurlio, em funo de aspectos de carter pessoal que influenciam no modo de ler.

Sempre h os que acham graa e os que se ofendem.

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Tema 2 Leitura e escrita

ObjetivoRefletir sobre as relaes entre leitura e escrita e compreender que so empregadas diferentes estratgias de leitura para a compreenso de diferentes textos.

A leitura da palavra est estreitamente relacionada ao exerccio da escrita. Veja o que Carlos Drummond de Andrade conta sobre sua experincia com as letras: Como comecei a escrever Carlos Drummond de Andrade A por volta de 1910 no havia rdio nem televiso, e o cinema chegava ao interior do Brasil uma vez por semana, aos domingos. As notcias do mundo vinham pelo jornal, trs dias depois de publicadas no Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia ensopada, uns sete dias mais tarde. No dava para ler o papel transformado em mingau. Papai era assinante da "Gazeta de Notcias", e, antes de aprender a ler, eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de domingo. Tentava decifrar o mistrio das letras em redor das figuras, e mame me ajudava nisso. Quando fui para a escola pblica, j tinha a noo vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar. Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exerccios de redao. Cada um de ns tinha de escrever uma carta, narrar um passeio, coisas assim. Criei gosto por esse dever, que me permitia aplicar para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo do poder de expresso contido nos sinais reunidos em palavras. Da por diante, as experincias foram-se acumulando, sem que eu percebesse que estava descobrindo a literatura. Alguns elogios da professora me animavam a continuar. Ningum falava em conto ou poesia, mas a semente dessas coisas estava germinando. Meu irmo, estudante na Capital, mandava-me revistas e livros, e habituei-me a viver entre eles. Depois, j rapaz, tive a sorte de conhecer outros rapazes que tambm gostavam de ler e escrever. Ento, comeou uma fase muito boa de troca de experincias e impresses. Na mesa do caf-sentado (pois tomava-se caf sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser incomodado), eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus colegas criticavam. Eles tambm sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentrios. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que no desfrutam desse tipo de amizade crtica.Disponvel em: . Acesso em: 30/03/2007.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

DicaDICA DE GRAMTICA: O caso do e Veja que, nesse texto, o autor utiliza uma vrgula antes do e em vrios pontos destacados. Isso deve ser feito quando a segunda orao possui um sujeito diferente da primeira. No o caso do ltimo perodo do texto lido. Observe os exemplos a seguir: Os soldados ganham as batalhas, e os generais recebem o crdito. Viajamos durante dois dias e encontramos o lugar to esperado.

Saiba MaisSaiba sobre o autor: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) Nasceu em Itabira (MG), em 1902. Fez os estudos secundrios em Belo Horizonte, num colgio interno, onde permaneceu at que um perodo de doena o levou de novo para Itabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Pouco ficaria nessa escola: acusado de "insubordinao mental" sabe-se l o que poderia ser isso! , foi expulso do colgio. Em 1921, passou a colaborar com o Dirio de Minas. Em 1925, diplomou-se em farmcia, profisso pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa poca, j redator do Dirio de Minas, tinha contato com os modernistas de So Paulo. Na Revista de Antropofagia, publicou, em 1928, o poema No meio do caminho, que provocaria muitos comentrios.

Carlos Drumond de Andrade http://www.copacabana.com/fot os/thumbnails.php?album=3&pa ge=2

Disponvel em: . Acesso em: 20/04/2007.

AtividadeVoc viu como a leitura foi importante na vida do escritor. E na sua? Voc lembra como foi seu ingresso no universo da leitura? Conte um pouco sobre isso e publique no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Como aprendi a ler.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

O que ser leitor?

Desde que aprendemos a ler, somos chamados de leitores. Mas o que ser leitor?

Um leitor competente algum que, por iniciativa prpria, capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua, que consegue utilizar estratgias de leitura adequada para abord-los de forma a atender a essa necessidade. (PCN, 1997, p.36).

Um leitor competente s pode constituir-se mediante uma prtica constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve organizar-se em torno da diversidade de textos que circulam socialmente. (PCN, 1997, p.36).

Esses dois trechos foram retirados de um documento chamado Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino de lngua portuguesa e nos ajudam a pensar se cada um de ns pode ser considerado um leitor competente.

ReflitaQual a sua postura como leitor? Voc se utiliza da leitura para resolver problemas do dia-adia? Voc seleciona o que l? Como voc tem acesso leitura? Voc l jornais? Revistas? Visita bibliotecas pblicas? Tem sua prpria biblioteca? Poderamos aqui listar uma srie de outras perguntas, mas essas aqui j vo ajud-lo a pensar sobre a importncia da leitura em todos os aspectos da nossa vida e na nossa postura como leitores.

Antes de vermos quais so os objetivos que nos movem a ler, pense e responda: Por que eu leio? Em que situaes eu fao uso da leitura?

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

AtividadeVamos discutir nossa postura como leitores. No Ambiente Virtual de Aprendizagem, conte o que voc l no dia-a-dia, por que l e como seleciona o que vai ler.

Agora que voc j refletiu sobre a sua postura como leitor, confira algumas estratgias de leitura que utilizamos para interagir com os textos.

Por que lemos?

Uma coisa certa: a leitura fundamental em nossa vida. Lembre-se de que no s a leitura das palavras. Qualquer coisa expressa significados, e selecionamos o que ler. No lemos tudo porque a quantidade de informaes que o mundo nos oferece infinita e requer tempo para interpretao. Da, damos ateno para algumas coisas, fazendo a sua leitura, e nem reparamos outras.

Agora que voc est em um curso superior, a leitura tem um papel muito importante para a sua formao.

E, nesta disciplina realizada a distncia, voc vai vivenciar vrios exerccios de leitura.

Precisamos sempre ter em mente que lemos com algum objetivo. Mesmo que voc diga que est lendo somente para se distrair um pouco, a est seu objetivo. Os nossos objetivos determinam a forma de interagirmos com um texto: o fato que utilizamos diferentes estratgias de leitura segundo nossos objetivos. E quais so

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

esses objetivos? Veja o que Sol (1998) diz:

Ler para obter uma informao precisaQuando pretendemos localizar algum dado que nos interessa. Esse tipo de leitura se caracteriza pela busca de alguns dados e, concomitantemente, pelo desprezo a outros. Caracteriza-se por ser uma leitura muito seletiva, pois deixa de lado uma grande quantidade de informaes como requisito para encontrar a informao necessria. Relembre-se da tirinha da Mafalda que voc leu no tpico O que ler.

ExemploH vrias situaes nas quais buscamos apenas uma entre vrias informaes. So exemplos desse tipo de leitura: quando procuramos um nmero de telefone em uma lista; quando buscamos uma palavra no dicionrio. Esses so apenas alguns exemplos dentre as inmeras vezes em que buscamos apenas uma informao entre outras que no recebem nossa ateno.

Ler para seguir instruesA leitura um meio que nos deve permitir fazer algo concreto, como ler as instrues de um jogo. Para simplificar: lemos para saber como fazer.

ExemploBOLO DE CENOURA INGREDIENTES: 1/2 xcara (ch) de leo 3 cenouras mdias raladas 4 ovos 2 xcaras (ch) de acar 2 1/2 xcaras (ch) de farinha de trigo 1 colher (sopa) de fermento em p Cobertura 1 colher (sopa) de manteiga 3 colheres (sopa) de chocolate em p ou Nescau 1 xcara (ch) de acar Se desejar uma cobertura molinha, coloque 5 colheres de leite MODO DE PREPARO: Bata tudo no liquidificador: primeiro, a cenoura com os ovos e o leo; depois, os outros ingredientes misturando tudo, menos o fermento. Esse misturado lentamente com uma colher. Asse em forno pr-aquecido (l80C) por 40 minutos. Para a cobertura: misture todos os ingredientes, leve ao fogo, faa uma calda e coloque por cima do bolo.Disponvel em: http://tudogostoso.uol.com.br/receita/23-bolo-de-cenoura.html. Acesso em: 15 de mar. 2007.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

O gnero textual receita do tipo instrucional e sua finalidade permitir que o usurio, seguindo as instrues nela contidas, seja capaz de prepar-la. Entram nesse tipo de material de instrues: manuais de aparelhos eletroeletrnicos; orientaes para usar produtos, como tinturas de cabelos; manuais de instrues para a montagem de diversos objetos e produtos como: brinquedos, eletrodomsticos, mveis etc. Lembre-se de que, em muitos desses manuais, a linguagem verbal vem acompanhada de ilustraes que tambm so uma forma de leitura.

Ler para obter uma informao de carter geralFazemos essa leitura quando queremos saber do que trata determinado texto, saber o que acontece, ver se interessa continuar lendo, ou seja, lemos para obter uma informao geral.

Quando pegamos o jornal, no lemos todos os textos. No caso das notcias, provvel que leiamos a manchete. Essa simples leitura j suficiente para passarmos para outra notcia. J em outras ocasies, a manchete nos parece sugestiva e, ento, passamos ao cabealho que sintetiza a notcia.

Voc sabe o que uma notcia? A notcia tambm um gnero textual.

A notcia um formato de divulgao de um acontecimento por meios jornalsticos. a matria-prima do Jornalismo, normalmente reconhecida como algum dado ou evento cuja relevncia social merea publicao na mdia (jornal, rdio, televiso, Internet...)Disponvel em: . Acesso em: 20/04/2007.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

Vale lembrar que o exerccio da leitura para localizar informaes de carter geral essencial para o desenvolvimento da leitura crtica, em que lemos segundo nossos prprios interesses e propsitos e formamos uma impresso sobre o texto.

Ler para aprenderQuando a finalidade de nossa leitura consiste, de forma explcita, em ampliar conhecimentos, lemos para aprender. Esse tipo de leitura possui caractersticas bem marcadas: o leitor sente-se imerso em um processo que o leva a se auto-interrogar sobre o que l, a estabelecer relaes com o que j sabe, a rever os novos termos, a efetuar recapitulaes e snteses, a sublinhar, a anotar.

ReflitaQuando precisa estudar para uma prova, o que voc faz? Como faz? Como a leitura para essa situao?

Quando se l para estudar, comum e de grande valia elaborar resumos e esquemas sobre o que foi lido, anotar as dvidas, ler outros textos que possam contribuir. Esses apontamentos, esquemas e anotaes so estratgias que permitem a elaborao de significados que nos ajudam a aprender. Ainda nesta unidade, veremos como elaborar um esquema.

DicaNo revise apenas na vspera ou no dia da prova. Todo mundo j sabe que isso no funciona... Pea ajuda nas dificuldades: professores, pais, orientadores e amigos podem ajud-lo. Enfrente os desafios e faa o melhor que puder. No desista to fcil. No seja dependente do professor. Pesquise e descubra voc mesmo! Relacione os contedos de diferentes disciplinas e procure sentir a relao entre as matrias.

Ler para revisar um escrito prprio um tipo de leitura muito habitual em determinados grupos que utilizam a escrita como seu instrumento de trabalho. Caracteriza-se por ser uma leitura ou reviso crtica e til. Deve ser feita algum tempo depois do trmino da escritura do texto, para que possamos ver os problemas na produo textual.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

Quando leio o que escrevi, sei o que pretendia dizer e posso me pr simultaneamente em meu lugar e no do futuro leitor. Assim, compreende-se por que alguns textos so to difceis de entender: seu autor no se ps no lugar dos possveis leitores.

DicaA auto-reviso das produes escritas muito til para se aprender a escrever. Quando lemos o que escrevemos, percebemos se o texto est bom ou tem problemas e aprimoramos nossas habilidades de leitura e escrita!

Ler por prazerQuantas vezes voc j releu aquele livro que considera o melhor de todos? Ou releu as pginas de um livro? Essa situao ocorre quando lemos por prazer. Esse tipo de leitura desencadeia uma experincia emocional. Veja o que acontece:

Conforme Silva (2001, p.01), Em termos psicolgicos, o termo emoo refere-se a um estado de excitao do organismo que pode manifestar-se de trs maneiras diferentes: (1) experincia emocional, por exemplo, a pessoa se sente alegre; (2) comportamento emocional, por exemplo, pragueja e ataca quem a maltratar; (3) alteraes fisiolgicas do corpo, por exemplo, o sangue sobe cabea, o corao bate mais forte, etc. Essa explicao que voc acabou de ler um trecho de um gnero textual: o cientfico. A leitura de um texto cientfico exige muito mais ateno do que a de um outro gnero porque nele so utilizados conceitos, teorias, uma linguagem mais complexa e uma ordem de raciocnio com a qual voc precisa criar familiaridade, pois, em um curso superior, voc ter de ler muitos textos cientficos para obter informaes e aprender.

Ler para comunicar um texto em voz altaA finalidade desse tipo de leitura a socializao de textos. Para tal, o leitor pode fazer uso de uma srie de recursos que provocam alguns efeitos na sua platia: entonao, pausas, nfases. Esse tipo de leitura ocorre quando h reunies de pessoas, como em missas, reunies de trabalho, salas de aula.

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Unidade I Leitura Tema 2 Leitura e Escrita

ReflitaQual a estratgia de leitura que voc usa quando l uma bula? Qual o seu objetivo ao ler uma bula? E ao ler um romance policial? E o cardpio de uma lanchonete? Agora, responda mentalmente s questes abaixo, refletindo sobre a sua postura como leitor: Eu leio para obter uma informao precisa? Eu leio para seguir instrues? Eu leio para obter uma informao de carter geral? Eu leio para aprender? Eu leio para revisar um escrito prprio? Eu leio por prazer? Eu leio para comunicar textos em voz alta?

Um leitor competente aquele que consegue desenvolver diferentes estratgias para ler e compreender diferentes textos, em diferentes situaes de seu dia-a-dia.

Por isso, fundamental o nosso contato com textos dos mais variados gneros.

Saiba MaisSugesto de Leitura: O'SAGAE, Peter. Da capa para dentro do livro: estratgias para enredar o leitor na histria. Disponvel em: . Acesso em: 15/03/2007.

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Tema 3 Como se l

ObjetivoElaborar esquemas para auxiliar na compreenso da leitura.

Para comear, vejamos o texto abaixo, veiculado na Internet e de autor desconhecido:

De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, no ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etso, a ncia csioa iprotmatne que a piremria e tmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bguana que vco pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso poqrue ns no lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Conseguiu ler? Se no conseguiu, tente novamente. Olhe para o conjunto de letras e no para as letras isoladamente.

Voc pde observar que possvel ler, mesmo que as letras estejam embaralhadas, porque o nosso crebro no reconhece as letras isoladamente, e sim a palavra como um todo. Isso bem importante se pensarmos na leitura como uma das ferramentas para a construo de conhecimentos. Quando pensamos na leitura de textos, devemos sempre lembrar que a leitura vai alm da capacidade de juntar letras, palavras e oraes. Por isso, quando lemos, precisamos compreender as idias do texto, ultrapassando a leitura superficial. preciso chegar ao sentido do que se l. Quando conseguimos desenvolver habilidades de leitura que nos ajudam a compreender os textos que lemos, estamos tambm desenvolvendo habilidades que nos ajudaro no momento de produzirmos nossos textos. Ento, preciso

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LEITURA E PRODUO DE TEXTOS

Unidade I Leitura Tema 3 Como se l

ler textos bem organizados e observar como eles se estruturam para que isso nos ajude no processo de produo escrita. Quando lemos um texto, pouco provvel que somente com uma leitura consigamos compreend-lo de forma adequada, ou seja, necessrio que se faa uma leitura mais rigorosa e eficaz que nos ajude a compreender as informaes essenciais daquele texto.

Lygia, voc sabe como fazer isso?

isso o que veremos a seguir.

DicaPara chegar informao essencial de um texto, voc pode fazer o seguinte: localize as palavras ou a seqncia de palavras mais importantes de cada pargrafo; essas palavras representam as palavras-chave ou idias-chave do texto; usando essas palavras-chave ou idias-chave, forme um esquema (no um resumo) que lhe dar a noo de como o texto lido est organizado.

O esquema representa o conjunto das idias que voc selecionou como sendo as mais importantes de um texto. um recurso que podemos utilizar tanto na leitura quanto na produo escrita. Na leitura, usamos o esquema para destacar as idias que mais interessam aos nossos objetivos. E, na escrita, o esquema nos ajuda a selecionar e organizar bem as prprias idias. Ao organizar o esquema de um texto, podemos perceber com mais clareza suas principais informaes e visualizar a estrutura textual utilizada para apresent-las. Alm disso, ao fazermos um esquema de um texto lido, estamos memorizando a informao obtida, isto , levando esse conhecimento para a memria de longo prazo, o que nos dar maior possibilidade de no esquecer tal contedo. preciso, contudo, estar ciente de que, para ser possvel memorizar, preciso entender o que se leu.

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Agora, mos obra! Leia o texto a seguir, e vamos trabalhar na elaborao de um esquema: A arte, a cincia e a tecnologia na educao Olympio de Menezes Neto Compreendida por muitos como a cincia de educar e por outros como a arte de ensinar, ou de cultivar a aprendizagem, a educao reveste-se, atualmente, mais do que nunca, de tecnologia, para poder desempenhar com sucesso o seu papel de agente de transformao e de formao de novos seres, capazes de dominar novos conhecimentos e conviver com novas realidades. Por essas razes, entre tantas outras, o papel dos novos educadores se torna cada dia mais desafiante, diante no apenas de um nmero crescente de novas ferramentas disposio dos educandos, como tambm e principalmente diante de uma questo simples, mas cuja resposta torna-se mais complexa a cada dia: como melhor utilizar essas ferramentas que se encontram disponveis e a respeito das quais somos cada vez mais cobrados? Ou, ainda: como tornar eficiente o processo de educao, considerando todas as limitaes, mas aproveitando todo o potencial existente, tanto nas pessoas, vidas de inovaes e facilidades, quanto nas ferramentas, cada vez mais poderosas e, por que no, maravilhosas? O sonho do aprendizado mgico (sem esforo) e rpido (instantneo) persegue, desde a Antigidade, os seres humanos e originou as mais diversas tcnicas didticas e pedaggicas, como se aprender, isto , modificar o seu prprio comportamento, fosse, em si, um comportamento plenamente contrrio Natureza e, portanto, traumatizante e trabalhoso, como se fosse um castigo, semelhana da prpria noo do trabalho. Esse modelo, ainda que subconsciente e no-declarado por educadores e educandos, de repente passa a ser encarado de forma diferente, porque o uso da tecnologia fascina, cativa e chega mesmo, em alguns casos, a viciar os seus usurios. Neste cenrio, o processo de aprender pode transformar-se em uma atividade interessantemente prazerosa, diferente de tudo o que se conhecia at ento, em termos de atividades ldicas aplicadas aos mtodos educacionais clssicos. E a pergunta que no quer calar indaga-nos exatamente isto: ser que estamos todos sendo vtimas de uma imensa hipnose mercadolgica? Como se estivssemos hipnotizados por um truque de marketing? Ou ser que, de fato, a tecnologia da informao possui realmente algo a acrescentar de valor ao mundo da educao contempornea? S o tempo nos permitir confirmar ou rejeitar tais teses. Entretanto a despeito de toda e qualquer digresso filosfica que se possa elaborar sobre a questo de utilizar-se ou no, de forma intensiva, a tecnologia nos processos educacionais, precisamos compreender que esta insero dos recursos computacionais nos ambientes de ensino e aprendizagem , hoje, algo irreversvel, como em qualquer outra rea das atividades humanas de nossos tempos; mas o grande desafio no amar ou odiar os novos instrumentos de trabalhos, mas sim aprendermos todos, mestres e discpulos, a manipul-los com maestria, para que se tornem to teis quanto foram os lpis e os cadernos para as geraes que nos antecederam. Este , portanto, o grande desafio desta nova era da educao.Disponvel em: . 07/03/2007. Acesso em:

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Para montar o esquema do texto, siga estes passos: 1. Marque as idias principais; 2. Organize-as em tpicos (palavras ou idias-chave); 3. Procure reduzir ao mximo o tamanho dos tpicos; 4. Veja se, a partir do seu esquema, voc capaz de reproduzir o que considera relevante nesse texto, usando as suas palavras; Em caso de resposta afirmativa, parabns, voc conseguiu fazer um bom esquema; Em caso de resposta negativa, tente novamente. Isso um indcio de que talvez no tenha entendido o que leu. Vamos agora descobrir o texto!

Voc observou que, alm de presentes no ttulo do texto, as palavras educao e tecnologias so repetidas vrias vezes? A palavra educao aparece vrias vezes no texto e retomada por educar, educadores, educandos e educacionais. uma das palavras que nos chamam ateno. Tambm ocorre isso com a palavra tecnologia que, alm de estar no ttulo, retomada semanticamente em novas

ferramentas, inovaes, tecnologia da informao e recursos computacionais. Essesrecursos de retomada sero vistos mais a fundo no tema 6. Para explicar o papel da tecnologia na educao, veja o que o autor aborda: Idias-chave 1 pargrafo 2 pargrafo 3 pargrafo 4 pargrafo 5 pargrafo 6 pargrafo Uso da tecnologia na educao para a formao. Educandos e educadores devem descobrir como melhor usar a tecnologia. Como conciliar ferramentas e pessoas para tornar eficiente a educao. Aprender no pode ser traumatizante. A tecnologia pode fascinar, mas preciso cautela. preciso aprender a usar as tecnologias de forma eficiente.

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AtividadeAgora a sua vez! Leia o texto A leitura da imagem, elabore um esquema com as idias-chave e publique-o no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

A Leitura da Imagem Luclia Helena do Carmo Garcez O mundo contemporneo faz com que todos ns estejamos imersos em imagens. A competio comercial, prpria do capitalismo, associada s facilidades da imprensa, da fotografia, do cinema, da televiso e dos computadores, faz com que sejamos mergulhados em um universo em que o aspecto visual preponderante. Diante dessa evidncia, a escola no pode continuar restrita ao texto verbal escrito, embora ele seja imprescindvel. urgente que a imagem pertena ao contexto escolar, no apenas para que esse ambiente seja mais coerente com o cotidiano do aluno, mas tambm para educ-lo para a leitura crtica das imagens. Assim como a leitura do texto verbal exige um longo e complexo processo de aquisio e desenvolvimento, para que o leitor possa utilizar as diversas habilidades para a compreenso e a interpretao, o contato com o mundo visual tambm exige novas competncias. Caso o educador adote o pressuposto de que a imagem em si suficiente para seu adequado entendimento, pode favorecer uma atitude passiva diante das mensagens transmitidas, cada vez de forma mais intensa, por meio audiovisual. Embora a seduo da imagem nos convide a uma certa inrcia, ao compararmos a atitude e os procedimentos de um leitor diante de um texto informativo escrito e os de um leitor/espectador maduro diante de uma mensagem visual, como um documentrio, por exemplo, observamos que h muitos procedimentos que so comuns s duas atividades, mas h aspectos diferentes. Durante a leitura do texto escrito, o leitor aciona outras funes cognitivas para criar imagens mentais, de acordo com seu repertrio de experincias visuais anteriores. Esse "envisionamento" mental diferenciado de indivduo para indivduo, mas contm algo em comum que faz parte da cultura e do imaginrio coletivo. Cada pessoa cria, a partir de sua prpria imaginao, os cenrios, as paisagens, as cenas, os objetos e as fisionomias que um romance registra em palavras. Naturalmente, nesse processo de criao h matrizes comuns, que pertencem histria e coletividade, mas ningum imagina de forma semelhante a outra pessoa. Essa construo mental importantssima para o desenvolvimento das funes superiores da mente. Aparentemente o texto visual (a propaganda, o desenho animado, os quadrinhos, o filme, a fotografia, a telenovela etc.) j oferece esse aspecto de uma forma mais completa. Entretanto, sob essa camada de significados imediatamente perceptveis, h muitas outras ligadas ao mundo das idias, dos comportamentos, das crenas, dos conceitos, das ideologias, que necessrio "ler": compreender, interpretar, criticar, responder, concordar ou discordar. Isso exige diversas habilidades que a escola pode ajudar a desenvolver. So habilidades relacionadas observao, ateno, memria, associao, anlise, sntese, orientao espacial, ao sentido de

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Unidade I Leitura Tema 3 Como se l

A Leitura da Imagem Continuao ... dimenso, ao pensamento lgico e ao pensamento criativo. Elas nos permitem perceber como os elementos da linguagem visual foram organizados: formas, linhas, cores, luzes, sombras, figuras, paisagens, cenrios, perspectivas, pontos de vista, oposies, contrastes, texturas, efeitos especiais etc. E perceber tambm como esses elementos esto associados a outros, como a msica, as idias, a histria, a realidade, por exemplo. Alm disso, precisamos tambm associar tudo o que observamos com outras informaes e conceitos provenientes dos conhecimentos acumulados por ns e pela cultura humana atravs dos tempos. um jogo em que, s vezes, mergulhamos na emoo e, s vezes, tentamos fazer uma anlise crtica por meio do raciocnio, da razo. Enfim, nunca podemos nos entregar passivamente, sem uma participao ativa. Uma atitude de ateno e de crtica essencial. A sensibilidade, a inteligncia e a vontade so os agentes principais dessa atividade, ao mesmo tempo intelectual e emocional. Ou seja, para que a percepo esteja bem afinada, no basta um olhar ingnuo, passivo, submisso, desatento ou distrado. necessrio responder, preciso ser atuante, participante, ativo. Nesse processo, colocamos as capacidades de nossa mente e de nossa sensibilidade em intensa atividade. Esse trabalho ao mesmo tempo de indagao, de questionamento (a linguagem visual me prope perguntas), e de elaborao de mltiplas possveis respostas (eu tento responder s perguntas que me so propostas).Disponvel em: . Acesso em: 20/03/2007.

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Tema 4 Leitura e argumentao

ObjetivoRefletir sobre e reconhecer as diferentes estratgias de argumentao empregadas nos textos escritos.

Quando lemos um texto, podemos identificar nele o posicionamento do autor e o modo como ele constri a sua argumentao (tambm chamados de idias-chave). Segundo Mary (2007, p.1), a argumentao visa a persuadir o leitor acerca de uma posio. Quanto mais polmico for o assunto em questo, mais se dar margem abordagem argumentativa. Isso acontece quando se defende uma tese ou tambm se apresentam os aspectos favorveis e desfavorveis de um tema. Dias Carneiro (2001) afirma que a argumentao um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro, ligado razo, supe ordenar idias, justific-las e relacion-las; o segundo, referente paixo, busca capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo (MARY, 2001). Os argumentos devem promover credibilidade. Com a busca de argumentos por autoridade e provas concretas, o texto comea a caminhar para uma direo coerente, precisa e persuasiva. Somente o fato pode fortalecer o texto argumentativo. No podemos confundir fato e opinio.

O fato faz referncia a um acontecimento a partir do qual podemos ter diferentes opinies:

O FATO NICO.

A OPINIO VARIVEL

Othon M. Garcia (2002) diz que, na argumentao, alm de dissertar, procuramos formar a opinio do leitor ou ouvinte, tentando convenc-lo de que a razo est conosco, de que aquilo que apresentamos a verdade. Argumentar , em ltima

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Unidade I Leitura Tema 4 Leitura e argumentao

anlise, convencer ou tentar persuadir mediante a apresentao de razes, em face da evidncia de provas e luz de um raciocnio lgico e consistente. Em muitas situaes, como discusses na imprensa, nas assemblias ou em conversas cotidianas, a argumentao passa a ser um bate-papo. Disso se observa que, sempre que nos comunicamos com outras pessoas, utilizamos nossa linguagem para interagir, trocar idias e tambm defender pontos de vista, ou seja, trabalhamos com a argumentao. Quando produzimos textos argumentativos, orais ou escritos, nosso objetivo convencer nossos interlocutores pelo uso de argumentos. E, quando lemos um texto argumentativo, precisamos estar atentos para o modo como o autor organiza seu texto, a fim de que isso auxilie no entendimento desse texto. O texto argumentativo apresenta trs componentes interligados: a tese, os argumentos e as estratgias argumentativas. Nesta unidade, centraremos nossa ateno no terceiro componente. Mas vejamos um pouco sobre cada um deles:

TeseTambm chamada de tema pelos autores, a idia que defendemos. Essa idia tende a ser polmica, pois a argumentao implica divergncia de opinies.

ArgumentosOs argumentos de um texto correspondem s informaes e idias que do suporte tese defendida.

EstratgiasAs estratgias argumentativas correspondem a todos os recursos (verbais e noverbais) utilizados para convencer o interlocutor sobre a tese defendida.

Fique de olhoQuando lemos um texto argumentativo, em que se defende alguma idia, precisamos estar atentos para as estratgias utilizadas pelo autor para tentar convencer os outros de sua tese. Aqui importante no confundir os argumentos com as estratgias.

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Unidade I Leitura Tema 4 Leitura e argumentao

Othon M. Garcia (2002) diz que a argumentao formal se pauta em dois elementos principais: a consistncia de raciocnio e a evidncia de provas. Nesta unidade, centraremos ateno nas evidncias.

1. Consistncia de raciocnioA consistncia de raciocnio se apia nos princpios da lgica, que no se perde em especulaes vs, na esterilidade vazia e sem contedo. Ao mesmo tempo, um bom texto argumentativo deve apresentar provas especficas, de acordo com a rea, no sentido de reforar os argumentos.

2. Evidncia de provasEvidncia (fatos, exemplos, dados estatsticos, testemunhos etc): considerada por Descartes (apud GARCIA, 2002) como critrio da verdade. a certeza manifesta, a certeza a que se chega pelo raciocnio (evidncia da razo) ou pela apresentao dos fatos (evidncia do fato), independentemente de toda teoria.

So cinco os tipos mais comuns de evidncia: os fatos propriamente ditos, os exemplos, as ilustraes, os dados estatsticos (tabelas, nmeros, mapas etc.) e o testemunho: Fatos: constituem-se no elemento mais importante da argumentao. Para alguns, s os fatos provam, s eles convencem, mas nem todos podem ser sempre aceitos. Os fatos esto sujeitos evoluo da cincia, da tcnica e dos prprios conceitos ou preconceitos da vida. Os fatos evidentes e notrios, aqueles que, amplamente divulgados e conhecidos, so os que mais provam. Exemplos: so fatos tpicos ou representativos de uma determinada situao. Ilustraes: quando o exemplo se alonga em narrativa detalhada e entremeada de descries, tem-se a ilustrao. H duas espcies de ilustrao: I. Ilustrao hipottica (inveno, hiptese): narra o que poderia acontecer ou provavelmente aconteceria em determinadas circunstncias. Deve terVerossimilhana,em linguagem corrente, o atributo daquilo que parece intuitivamente verdadeiro, isto , o que atribudo a uma realidade portadora de uma aparncia ou de uma probabilidade de verdade.

verossimilhana, consistncia e adequao da idia que defende. Tem o objetivo de tornar mais viva e impressiva uma argumentao sobre temas abstratos. de grande valor didtico, pois torna mais clara e convincente uma

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Unidade I Leitura Tema 4 Leitura e argumentao

tese ou opinio. II. Ilustrao real: descreve ou narra em detalhes um fato verdadeiro. Mais eficaz e mais persuasiva do que a hipottica, ela vale por si como prova. preciso que seja clara, objetiva, sintomtica e relacionada com a proposio. Deve ser explorada a sua feio dramtica, sem exageros. Pode fazer referncia resumida a episdios histricos ou a obras de fico. Dados estatsticos: so tambm fatos, mas fatos especficos. Eles tm grande valor de convico, constituindo quase sempre prova ou evidncia incontestvel. Deve-se ter cautela com a sua apresentao ou manipulao, j que a sua validade tambm muito relativa: com os mesmos dados estatsticos tanto se pode provar quanto refutar uma tese. Testemunhos: ou pode ser o fato trazido colao por intermdio de terceiros. Se autorizado ou fidedigno, seu valor como prova inegvel.

Podemos acrescentar ainda a citao.

Segundo a norma NBR 10520:2002 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas, citao, numa produo textual, a "Meno de uma informao extrada de outra fonte", tais como (livros, peridicos, vdeos, sites etc). As citaes so empregadas para reforar uma hiptese, sustentar uma idia ou ilustrar um raciocnio por algum considerado autoridade no tema defendido. Costuma-se chamar argumento de autoridade o uso da citao como recurso de argumentao.

Fique de olhoAlm de observar como esses recursos aparecem nos textos que voc l, tambm comece a prestar ateno em como eles podem auxili-lo na hora de produzir seu texto.

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Agora hora de trabalhar!O que voc acha da idia de a escola se abrir a profissionais no habilitados? Veja o texto que Gilberto Dimenstein publicou no incio de fevereiro de 2007.

Pro dia nascer feliz Gilberto Dimenstein A cidade de Nova York est transformando um enorme problema numa grande soluo. Sem conseguir preencher as vagas nas escolas mais violentas e de pior desempenho, a prefeitura cometeu um gesto desesperado: um concurso em que os candidatos a professor no precisariam ter qualquer experincia em sala de aula nem diploma de pedagogia. O salrio inicial de R$ 7,5 mil mensais. Uma vez selecionado, o candidato passaria por uma preparao de trs semanas e, enquanto estivesse dando aula, receberia gratuitamente uma especializao para habilit-lo, se ele quisesse, a ser professor definitivo. O resultado do concurso foi inesperado. O programa atraiu talentos das mais variadas reas, como marketing, finanas, mdia e artes, muitos dos quais interessados em uma nova experincia profissional ou querendo fazer a diferena em sua comunidade. Entusiasmou especialmente exexecutivos, j aposentados, alguns dos quais de empresas multinacionais. , enfim, um material humano que dificilmente poderia ser mais bem qualificado e motivado. Esse apenas um detalhe da reinveno das escolas pblicas de Nova York, embaladas por um inusitado desafio: o prefeito Michael Bloomberg pediu aos eleitores que avaliassem sua administrao a partir da nota dos alunos. Se a nota for baixa, ele que deve ser o reprovado. Entre vrias derrotas, crticas e erros, o prefeito est vencendo - e produzindo boas dicas para o Brasil. Os recursos daquela cidade s apareceriam para os brasileiros em sonho. Nova York gasta por ano R$ 35 bilhes para cuidar de 1,1 milho de estudantes. Compare: a rede municipal paulistana tem o mesmo nmero de matrculas, mas um oramento oito vezes menor. Apesar dessas invejveis cifras, sem contar com mais alguns bilhes de apoio em programas de fundaes empresariais e entidades comunitrias, a cidade no estava contente: alm do alto nvel de evaso, 51% dos alunos exibiam um desempenho de escrita, leitura e matemtica abaixo da mdia nacional.

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Pro dia nascer feliz Continuao ... Por isso, o desafio do prefeito tornou-se um suspense to interessante. Para ele, era um "tudo ou nada", no poderia mudar, no meio do caminho, de prioridade. Apostou que encontraria mais solues na sua rica vivncia de gesto empresarial do que nos escritos acadmicos. Com a ajuda de empresas, comearam a ser construdas pequenas escolas, na convico de que, em unidades menores, alunos se sentiriam mais acolhidos, reconhecidos e estimulados. No seriam invisveis. Resolveu-se mexer na gesto. Os diretores ganharam autonomia, mas, em contrapartida, passaram a correr o risco de demisso se no atingissem as metas. Estavam sua disposio mais verbas para inovao curricular, formao de professores e atividades extracurriculares. Resultado: nessas escolas, 78% dos alunos esto acima da mdia nacional, com impacto em toda a rede. O leitor deve estar, neste momento, pensando que os brasileiros nada tm a tirar de lies de uma cidade que pode gastar tanto - alis, na semana passada, o prefeito de Nova York destinou mais R$ 5 bilhes s escolas em 2007, sem contar ajuda extra do governo estadual de mais R$ 7 bilhes para os prximos anos. A primeira lio a mais bvia: nem sempre excesso de dinheiro significa ganhos de qualidade. A menos bvia: uma direo motivada, orientada por metas claras compartilhadas com professores, pais e alunos onde tudo comea. Devido s baixas condies de trabalho, o que vemos, no Brasil, especialmente na periferia das grandes cidades, uma alta rotatividade de diretores e de professores, alm de um excesso de faltas; h diretores que no ficam mais do que um ano frente de uma escola. No se premia quem se esfora nem se pune quem demonstra baixo desempenho e, para completar, o envolvimento dos pais pequeno e o currculo, desinteressante. At mesmo falar em premiar as escolas de melhor performance apontado pelos sindicatos como atentado "neoliberal". Aqueles que ultrapassam esses obstculos (e tenho conhecido vrios casos) so, sem nenhum exagero, heris. O que Nova York nos mostra, em nmeros, que, nesses termos, a chance de gerarmos talentos em nossas escolas ser sempre uma exceo - assim como os heris.Disponvel em: . Acesso em: 08/03/2007.

Walter Takemoto tambm leu o texto de Gilberto Dimenstein, e veja o que ele escreveu em resposta aos argumentos apresentados no texto acima:

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Sobre Nova York, professores e escolas pblicas Walter Takemoto O jornal Folha de S. Paulo do dia 04 de fevereiro ltimo publicou coluna escrita pelo jornalista Gilberto Dimenstein, em que trata dos problemas das escolas pblicas brasileiras tomando como referncia experincias em desenvolvimento na Amrica do Norte, mais precisamente em Nova York. Considero importante sua preocupao com as escolas pblicas brasileiras, mas no posso deixar de manifestar minha discordncia com algumas idias defendidas pelo jornalista. Apresenta ele experincias nova-yorkinas que certamente deve ter estudado e que diz serem de sucesso, as quais, confesso, no conheo e a leitura da coluna no permite conhecer em detalhes. Dentre essas experincias de qualidade e sucesso, o jornalista destaca a que abre as escolas para qualquer profissional, formado ou no, que queira assumir o lugar de um professor - profissional do magistrio, portanto - pelo salrio inicial equivalente a R$ 7.500,00 mensais. Contratado, o novo profissional passa por uma preparao de trs semanas (!!!). Aps assumir uma sala de aula, caso queira, poder fazer gratuitamente um curso de especializao destinado a titul-lo para que possa ser professor definitivamente. Entusiasmado com a proposta, o jornalista exalta o fato de profissionais liberais e executivos, de grandes empresas, alguns j aposentados, assumirem as salas de aulas no lugar dos professores e, a partir da, os resultados serem melhores. Gilberto Dimenstein, segundo suas prprias palavras, considera que esses profissionais liberais e executivos representam um material humano que dificilmente poderia ser mais bem qualificado e motivado. Ou seja, para o jornalista, esses que se prontificaram a ocupar o lugar de um professor so mais bem qualificados que os professores para ensinar aos alunos! O convite feito na matria para examinarmos essas propostas com o propsito de aprender com as medidas implementadas pelo prefeito de Nova York. Para minimizar a comparao entre a cidade dos EUA e as do Brasil, diz o jornalista que o oramento de Nova York de 35 bilhes, sem contar recursos de outras fontes, como fundaes privadas e o governo estadual. Diz ainda que, por l, a prefeitura est construindo pequenas escolas, por avaliar que podem acolher melhor os alunos, que passam a se sentir reconhecidos e estimulados. Nessas escolas, segundo a matria, a equipe escolar conta com recursos para formao continuada, atividades extracurriculares, inovaes pedaggicas, entre outras. O diretor tem mais autonomia, mas pode ser demitido caso no alcance as metas estabelecidas pela prefeitura. Escreve o jornalista que o prefeito da cidade apostou que encontraria mais solues na sua rica vivncia de gesto empresarial do que nos escritos acadmicos. Sem dvida alguma, as experincias de sucesso e o conhecimento produzido a partir delas devem ser estudados e, sendo possvel, adotados onde fizerem sentido para responder a desafios semelhantes aos que lhes deram origem. Entretanto, como bem sabemos, as escolas, as realidades, os problemas, as solues e as condies contextuais merecem uma anlise profunda do que se apresenta como propostas e no a defesa simplria do que seria bom sob quaisquer circunstncias. Concordo com algumas posies defendidas pelo jornalista em relao aos problemas graves existentes na educao brasileira, como o elevado nmero de faltas, o corporativismo sindical, a ausncia de avaliao de desempenho pautada em indicadores que de fato avaliem o sistema de ensino e o profissional, entre outros.

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Sobre Nova York, professores e escolas pblicas Continuao ... No entanto, no faz o menor sentido que as iniciativas para a suposta soluo desses problemas estejam assentadas no inaceitvel equvoco de desqualificar os profissionais da educao, responsabilizando-os, nica e exclusivamente, pelo fracasso escolar, um problema de grave dimenso social de mltiplas causas. De tempos em tempos, assistimos ao surgimento de propostas milagrosas para elevar a qualidade das escolas pblicas e das aprendizagens dos alunos. Da compra de pacotes educacionais, produo de livros didticos e manuais para os professores ao gosto do cliente, at os programas televisivos que dispensam a presena de professores, so inmeras as solues que empresas, editoras e outras instituies oferecem aos prefeitos e secretrios de educao, para resolver os problemas da educao. Por trs dessas propostas, de forma mascarada, o que se prope minimizar a importncia do professor no processo de ensino e de aprendizagem. Ao se comprar pacotes educacionais ou livros didticos pr-formatados, para a cidade ou regio, com o respectivo caderno do professor e atividades prestabelecidas (o que no difere muito dos pacotes), o que se est comprando na verdade um receiturio a ser aplicado pelo docente, que deve seguir risca o que algum produziu em algum lugar. A partir da experincia de Nova York, Gilberto Dimenstein nada mais fez do que escancarar o que outros propem de forma envergonhada: se no podemos tirar o professor da escola, vamos reduzir a sua importncia em sala de aula! Se nossos professores no so os sujeitos brilhantes de Nova York, apesar de tudo o que a elite fez, em mais de cinco sculos, para inviabilizar a escola pblica de qualidade para os mais pobres e excludos, ainda assim, quem quiser vai descobrir em quase todo o pas professores e professoras que teimam em acreditar e fazer acontecer uma escola que garante uma aprendizagem de qualidade a todos os alunos e alunas. So homens e mulheres que demonstram, cotidianamente em suas salas de aula, que a to sonhada escola pblica de qualidade possvel, principalmente quando se oferecerem aos educadores os recursos, o tempo e as condies institucionais que favorecem o protagonismo na construo dessa escola de qualidade para todos, o que significa dizer que tambm os educadores devem estar frente da discusso sobre a poltica educacional necessria para o pas, mesmo que assim no queiram os gestores ou os sindicalistas - aqueles que acreditam que conquistar uns 10% ou 15% a mais de reajuste salarial ao ano significa oferecer aos professores a valorizao profissional que merecem. No conheo suficientemente os professores americanos, suas expectativas, seus desejos, frustraes profissionais, compromissos e lutas... mas, do que pude conhecer dos professores brasileiros, posso assegurar que por aqui as solues so bem outras, diferentes daquelas que o jornalista apresenta em seu artigo. Ousaria afirmar que me parece que por l tambm!Disponvel em: < http://carosamigos.terra.com.br/nova/ed119/so_no_site_geral>. Acesso em: 30/03/2007.

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AtividadesAgora, vamos dar uma olhada em alguns pontos dos dois textos. Com base na leitura e anlise dos textos, responda s seguintes questes e publique no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Bom trabalho! a) Que experincias Dimenstein utiliza como exemplos para construir a argumentao de seu texto? Aparecem dados estatsticos? Quais? Qual a inteno do autor ao fazer uso desses recursos? b) Preste ateno no seguinte enunciado do texto de Dimenstein: Esse apenas um detalhe da reinveno das escolas pblicas de Nova York, embaladas por um inusitado desafio... Qual o efeito produzido pelo emprego da palavra apenas? O que voc compreendeu? c) No penltimo pargrafo, Dimenstein inicia dizendo: Devido s baixas condies de trabalho, o que vemos... e continua com alm de um excesso de faltas... introduzindo uma srie de fatos que ajudam a explicar o fracasso da educao no Brasil. Qual deles , na sua opinio, o mais grave? Justifique. d) Observe que Takemoto utiliza pontos de exclamao e aspas em seu texto. Identifique os trechos em que esses recursos aparecem e reflita sobre os efeitos desse uso. O que, na sua opinio, eles indicam? Transcreva dois desses trechos. e) Takemoto diz que concorda com algumas posies de Dimenstein, citando-as. Quais so? No pargrafo seguinte, ele inicia com No entanto. O que essa expresso introduz no texto? f) Afinal, qual a tese (mensagem) defendida pelos autores em cada um dos textos?

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Tema 5 - A influncia do contexto histrico na interpretao

Objetivo da aulaAo encerrarmos este tema, o acadmico dever perceber a influncia que o conhecimento do contexto histrico no qual o texto foi produzido e/ou que ele resgata exerce sobre a interpretao.

Ento, vamos ao contedo propriamente dito. Segundo Fiorin e Plato (2001), todo texto assimila as idias da sociedade e da poca em que foi produzido, passando uma viso sobre determinada realidade. Portanto, para entender com eficincia o sentido de um texto, preciso verificar o contexto histrico da sociedade em que ele foi produzido, a fim de obter informaes que auxiliem na interpretao do texto lido. Toda forma de expresso, de algum modo, apresenta a realidade em que a produo textual foi feita. Exemplos disso so os movimentos estudados na literatura brasileira, por exemplo, j que, por meio deles, os artistas (pintores, poetas, escultores etc) mostraram os acontecimentos da poca em que viveram e na qual produziram sua arte, materializando-os, dessa maneira. O quadro Operrios, de Tarsila do Amaral, um exemplo disso, pois resgata o contexto poltico, econmico e social do Brasil nas dcadas de 1910-20. A pintora expressa a revoluo industrial por meio das chamins das fbricas como pano de fundo da obra, e as diversas etnias que representavam o trabalhador da poca, bem como as suas reivindicaes trabalhistas, pois, no referido perodo, estavam surgindo as primeiras organizaes sindicais.

Operrios de Tarsila do Amaral (http://revistaescola.abril.uol.com.br/edicoes/0178/aberto /tarsila.shtml)

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Passemos, acadmico, anlise de outro exemplo. A charge, a seguir, resgata contextos histricos de quatro governos passados do nosso pas. Quando o personagem (Lula) diz que no far igual ao Getlio Vargas, afirma que no se suicidar como este; nem igual ao Jnio Quadros, ou seja, que no renunciar alegando presso; nem igual ao Jango Joo Goulart que no se exilar. No segundo balo, um personagem oculto aparece: Se no fizer igual ao governo Collor, j t bom!, necessrio saber que este presidente teve seu governo cassado em funo de escndalos com desvio de dinheiro pblico. O entendimento de que o Presidente Lula, segundo a charge, corria risco de a sociedade no o aceitar mais, somente possvel com o resgate histrico da poltica brasileira.

(Dirio Catarinense, 26/08/2005)

Saiba MaisCharge A charge um gnero considerado temporal, porque, de forma muitas vezes irnica, trata de temas da atualidade, sempre fazendo uma reflexo sobre questes de poltica, economia e sociedade que esto na mdia no momento de sua publicao. Para entend-la, preciso estar a par desses assuntos. um texto argumentativo, pois pretende convencer o leitor acerca da opinio do autor sobre o tema abordado.

Com o propsito de vermos gneros diferentes, examinemos agora uma msica composta por Chico Buarque e Francis Hime.

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Meu caro Amigo Meu caro amigo me perdoe, por favor Se eu no lhe fao uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notcias nessa fita Refro Muita mutreta pra levar a situao Que a gente vai levando de teimoso e de pirraa E a gente vai tomando que, tambm, sem a cachaa Ningum segura esse rojo Meu caro amigo eu no pretendo provocar Nem atiar suas saudades Mas acontece que no posso me furtar A lhe contar as novidades Refro pirueta pra cavar o ganha-po Que a gente vai cavando s de birra, s de sarro E a gente vai fumando que, tambm, sem um cigarro Ningum segura esse rojo Meu caro amigo eu quis at telefonar Mas a tarifa no tem graa Eu ando aflito pra fazer voc ficar A par de tudo que se passa Refro Muita careta pra engolir a transao E a gente t engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, tambm, sem um carinho Ningum segura esse rojo Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se permitem, vou tentar lhe remeter Notcias frescas nesse disco Refro A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na famlia, na Ceclia e nas crianas O Francis aproveita pra tambm mandar lembranas A todo o pessoal Adeus

Aqui na terra to jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero lhe dizer que a coisa aqui t preta

Disponvel em:. Acesso em: 22.abr.2007.

DicaO pra uma palavra usada em situaes menos formais de comunicao, como a fala, as msicas, os poemas.

Considerando apenas a letra, entendemos que ela trata da saudade de um amigo, a quem ele desejava fazer uma visita, mas no pde (1 estrofe). Na segunda estrofe, ele conta que consegue levar a vida porque teimoso, pois ela est difcil. Ele o autor - quer colocar o amigo a par das novidades. Tambm fala que os obstculos so muitos, ento, tem que ter habilidade para continuar. Ele no consegue telefonar, mandar cartas. Apesar das dificuldades, ele continua a viver, continua amando, divertindo-se, bebendo, fumando. Por fim, ele se despede como em uma carta que se manda para um amigo e sua famlia.Prof Almerinda Tereza Bianca Bez Batti Dias Prof Mary Neiva Surdi da Luz 39A expresso a par significa ter conhecimento sobre algo; j ao par ter paridade monetria, por exemplo: o real no est ao par do dlar, ou seja, no tem o mesmo valor.

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J a interpretao, levando em conta o contexto histrico, acrescenta informaes que influenciam na leitura da msica, como a poca em que ela foi escrita. Bem, precisamos pensar que, naquele perodo durante a ditadura militar , as pessoas eram exiladas contra a sua vontade, no tinham acesso a informaes, tinham seus direitos pessoais transgredidos, enfim, eram vigiadas e tolhidas em seu meio. Passamos, ento, a perceber que, na letra da msica, h mais informaes: como o fato de s ter aparecido um portador e ainda correndo risco de no conseguir transmitir a mensagem (se permitirem), ou seja, no foram enviadas notcias por falta de oportunidade, j que no era possvel telefonar ou mandar carta, pois havia vigilncia, censura, nesses meios de comunicao. As dificuldades tratadas na carta esto ligadas ao regime de governo estabelecido na poca, isto , as pessoas tinham de concordar com o que o governo determinava, por isso os autores falam em mutreta pra levar a situao, j que no podiam dizer o que pensavam e eram obrigadas a demonstrar concordncia com a ditadura. Isso fica claro nos versos: Muita careta pra engolir a transao. E a gente t engolindo cada sapo no caminho. Para finalizar, realmente se trata de uma carta, mas com fim especfico de colocar um amigo exilado a par dos acontecimentos da sua cidade e pas.

Caro acadmico, vamos pesquisar um pouco?

Atividade

Pesquisar, em duplas, uma msica que contenha uma denncia e que precise do conhecimento histrico para resgatar o fato que a gerou. Publique-a, na pasta referente ao contexto histrico, juntamente com sua anlise (identifique a tese (tema), contexto histrico em que foi produzida e a interpretao concisa dessa msica).

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Tema 6 As relaes entre textos: intertextualidade

Objetivo da aula(Re) Conhecer o uso das relaes entre os textos, identificando a importncia do outro texto na interpretao de um primeiro.

Na constituio da prpria palavra, pode-se observar que intertextualidade significa relao entre textos. Julia Kristeva (1974, p. 64) nos d um conceito clssico de intertextualidade: [...] todo texto se constri como mosaico de citaes, todo texto absoro e transformao de um outro texto. De acordo com Silva (2002), a intertextualidade um fenmeno que pode ser expresso por diferentes linguagens no texto.

As relaes entre os textos acontecem quando, ao lermos um texto, lembramos de outro.

Lygia est certa! Ao fazermos essa relao, que pode ser explcita ou implcita, compreendemos o texto lido na sua profundidade e, por conseqncia, somos capazes de refletir sobre o recurso adotado pelo autor quando formos compor textos. A nossa compreenso de um texto depende, assim, de nossas experincias de vida, de nossas vivncias, de nosso conhecimento de mundo, de nossas leituras. Essa lembrana do outro texto pode ocorrer no que diz respeito forma ou ao sentido, ou, ainda, resgatando os dois: forma quando percebemos a imagem, versos, estrutura etc. do texto original e sentido a relao, nesse caso, com o contedo da obra resgatada.

Segundo Abaurre, Pontara e Fadel (2000), ao estabelecer uma relao de intertextualidade, o autor provoca uma interao entre o sentido de dois textos, o que permite, por sua vez, a construo de um terceiro sentido para o texto desencadeador da intertextualidade. Esse recurso deixa o texto interessante, pois, alm da relao textual existente, mostra o conhecimento de mundo do escritor.

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Saiba MaisConhecimento do mundo Segundo Koch e Travaglia (1993), compreender o sentido de um texto depende, em grande parte, do conhecimento de seus leitores, ou seja, preciso haver, pelo menos em parte, correspondncia entre os conhecimentos ativados a partir do texto e de seu(s) receptor(es). Ento, um texto tcnico de Medicina far sentido (ter coerncia) para um leitor que possua conhecimento de tal rea. Os autores afirmam que o conhecimento de mundo como se fosse uma espcie de enciclopdia, arquivada em nossa memria em conjuntos e blocos. Ns podemos adquirir esses conhecimentos, em nosso dia-a-dia, de modo formal (estudo) e informal (com conhecidos, amigos, familiares, pela tev etc).

A intertextualidade tambm serve como excelente recurso, tanto na produo dos textos (porque enriquece o seu texto usar informaes gerais que possam ligar as idias defendidas), como na interpretao do que ouvido/lido. Acadmico, veremos alguns exemplos prticos a fim de facilitar o entendimento desse contedo.

Exemplo 1A capa da revista, a seguir, tem muito em comum, ou seja, possui relaes com o quadro O martrio de So Sebastio na verso do pintor renascentista Andra Mantegna. Confira:

(Revista Isto , 25/02/2004)

(http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C 3%A3o_Sebasti%C3%A3o)

Vamos conhecer um pouco da sua histria para podermos entender a intertextualidade pretendida pela revista. So Sebastio (256 286) foi um mrtir e santo cristo. Sebastio era um soldado do exrcito romano. Diocleciano, imperador romano, ignorando tratar-se de um cristo, designou-o capito da sua guarda pessoal a Guarda Pretoriana. A sua conduta branda para com os prisioneiros cristos levou o imperador a julg-lo sumariamente como traidor, aps tentar em vo convenc-lo a renunciar f.

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Exemplo 1 - ContinuaoAmarrado a uma rvore, teve o corpo atravessado por flechas (que se tornaram o seu smbolo) atiradas por seus antigos companheiros, que o deixaram supostamente morto. Porm, Sebastio no faleceu, foi atirado no rio, pois achavam que ele estava morto. Encontrado muito longe do local em que fora jogado atirado, foi socorrido por uma crist chamada Irene que cuidou dele. O ex-soldado, indiferente aos pedidos dos cristos, apresentou-se ao imperador, que o condenou morte por espancamento. Aps a execuo, o corpo do santo foi jogado na cloaca de Roma e descoberto por outra mulher, Lucina, a quem pediu em sonho que o sepultasse perto das catacumbas.Disponvel em: . Acesso em: 07.abr.2007.

Alm de conhecer a histria da prpria obra, preciso saber do contexto histrico em que foi produzida, ou seja, a revista foi publicada na poca em que o ministro da casa Civil, Jos Dirceu, estava supostamente envolvido com escndalos de desvio do dinheiro pblico, porque seu assessor havia sido denunciado. A imprensa e seus companheiros de partido estavam pedindo explicaes sobre o fato, cogitando sua renncia. Acreditamos que a intertextualidade se deu pelo fato de o ento ministro estar se sentindo como So Sebastio, pois seus amigos o estavam abandonando prpria sorte. Alm disso, podemos entender que era um aviso, porque, assim como So Sebastio teve uma segunda chance de sobreviver, o poltico teria outra oportunidade e poderia permanecer no governo, mas, caso ele se envolvesse em outra denncia, seria cassado do cargo. Isso, meses aps a publicao da revista, acabou acontecendo. Portanto, as estratgias utilizadas pela revista foram a intertextualidade e a frase Aprendendo a ser governo, que nos remete ao entendimento de que os governantes em questo possivelmente ainda no tivessem maturidade no que tange aos compromissos de ser governo.

DicaSempre que voc identificar um caso de intertextualidade, fundamental verificar o sentido do texto original para, em seguida, procurar determinar com que inteno ele foi retomado pelo autor do novo texto. esse exerccio de anlise comparativa que vai dar a voc a melhor chave de leitura da intertextualidade e lev-lo a interpretar com competncia.

Ainda segundo Abaurre, Pontara e Fadel (2000), o sentido do texto construdo a partir do estabelecimento dessa relao. Se voc no for capaz de identific-la, como conseguir entender o sentido do texto que est lendo? Evidentemente, no podemos ter a pretenso de que o nosso conhecimento de mundo seja to amplo que possamos interpretar todas as situaes intertextuais possveis, mas podemos ter um perfil investigativo quando nos depararmos com um texto no qual percebemos a

intertextualidade, mas no conseguimos entend-la. Usemos isso para nos instigar a pesquisar, aumentar nosso conhecimento e ter uma leitura verticalizada da obra lida.Prof Almerinda Tereza Bianca Bez Batti Dias Prof Mary Neiva Surdi da Luz 43

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Unidade I Leitura Tema 6 As relaes entre textos: intertextualidade

Portanto

a relao

estabelecida entre dois

ou mais textos

chama-se

intertextualidade, que consiste na referncia de contedo e/ou de forma que um texto faza outro, permitindo aos leitores reconhec-la.

Vejamos outro exemplo!

Exemplo 2Agora, com uma associao com o filme Titanic, histria que conta o naufrgio de um navio de grande porte para a poca. Na charge, fica clara a intertextualidade tanto na fala de uma das personagens quanto na imagem do Congresso Brasileiro na posio inclinada, sugerindo que os representantes da poltica brasileira estavam levando o Poder Legislativo para o fundo. O uso da intertextualidade em textos com linguagem no-verbal tambm uma prtica constante.

(Veiculado pela Internet)

Observe o artigo a seguir, no qual a autora Cludia Bergamasco faz uso de duas intertextualidades. Vejamos a primeira: no ttulo, ela usa um verso da msica

Cotidiano, em que Chico Buarque conta a rotina de um casal, em que a esposa vivia emfuno do marido todos os dias e isso o estava desmotivando. Leia a letra da msica e, a seguir, releia/analise o ttulo/a msica/a letra da msica com o objetivo de estabelecer a relao com o artigo.

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Cotidiano Chico BuarqueTodo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode s seis horas da manh Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortel Todo dia ela diz que pra eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que est me esperando pro jantar E me beija com a boca de caf Todo dia eu s penso em poder parar Meio dia eu s penso em dizer no Depois penso na vida pra levar E me calo com a boca de feijo Seis da tarde, como era de se esperar Ela pega e me espera no porto Diz que est muito louca pr beijar E me beija com a boca de paixo Toda noite ela diz pra eu no me afastar Meia-noite ela jura eterno amor Me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode s seis horas da manh Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortel

Disponvel em: . Acesso em: 06.abr.2007.

Alm dessa cano, a fim de enriquecer a introduo do texto, nos trs primeiros pargrafos, a autora cita cenas do filme Groundhog Day, que tambm trata da questo rotina. O conhecimento prvio dessas obras serve de indicador sobre o assunto do texto, dando pistas sobre o tema. Assim, antes de ler o texto na ntegra, o leitor tem condies de saber do que se trata: o cotidiano dos profissionais. Todo dia ele faz tudo sempre igual... Como evitar que a repetio de tarefas afete a sua capacidade de manter-se motivado no trabalho e os resultados de sua empresa No filme Groundhog Day, comdia dirigida pelo cineasta Harold Ramis, que chegou ao Brasil com traduo de Feitio do Tempo (Columbia Pictures, 1993), o personagem Phill Cannors, vivido pelo ator Bill Murray, um jornalista que apresenta a previso do tempo num canal de televiso. Todos os anos, ele escalado para cobrir o Dia da Marmota, uma estranha festividade realizada em fevereiro em Punxatawney, na Pensilvnia, costa leste dos Estados Unidos, para marcar o fim do perodo da hibernao do bicho. No por acaso, a cidade conhecida como a capital nacional da marmota. Misteriosamente, quando ele chega l, fica preso no tempo. Os dias tornam-se exatamente iguais, ou seja, tudo acontece como no dia anterior. Ele acorda s 6 horas da manh, sempre ao som da cantora Cher no despertador e, para seu desespero, percebe que, mais uma vez, o Dia da Marmota. claro que Phill quase enlouquece. Na vida real, guardadas as propores, qualquer empresrio tem suas fases de Phill Connors, em que o cotidiano e a repetio das tarefas parecem desafiar a sua capacidade de manter-se motivado no trabalho. Como diz a msica Cotidiano, do cantor e compositor Chico Buarque, tudo o que voc faz parece sempre igual, e os dias tornam-se foscos, sem graa, pesados e modorrentos. Ops!, hora de acender a luz vermelha. LIVRE-SE DO MEDO - bem provvel que o desnimo provocado pela mesmice se reflita nos negcios. Mas, por mais estranho que parea, o problema no est fora, mas dentro de voc mesmo. A rotina uma senhora caluniada, diz o psiquiatra Paulo Gaudncio, que h mais de 40 anos atende empresas, empresrios e executivos nas reas de desenvolvimento humano e relacionamento profissional. Tente fazer as coisas sem rotina e voc vai ver o que acontece.Prof Almerinda Tereza Bianca Bez Batti Dias Prof Mary Neiva Surdi da Luz 45

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Todo dia ele faz tudo sempre igual... Continuao... A grande vil, na opinio de Gaudncio, no a rotina, mas a falta de flexibilidade. O excesso de rigidez, diz o psiquiatra, acaba por minar a criatividade, o entusiasmo e a iniciativa o oposto do esprito empreendedor. preciso ser malevel, estar aberto para mudar desde os compromissos de sua agenda profissional at a forma de se organizar no trabalho. Voc deve ter domnio da rotina para, sempre que quiser, ser capaz de sair dela, diz ele. Gaudncio lembra uma metfora do filsofo Plato, segundo a qual o ser humano funciona como uma carruagem, na qual os cavalos representam os impulsos e as emoes; e as rdeas, a vontade. Se o cocheiro no tiver confiana em si prprio, ele vai amarrar as patas do cavalo, em vez de conduzi-lo. Em outras palavras, a insegurana paralisa o cocheiro que perde a vontade de fazer qualquer coisa. A questo : como desamarrar as patas do cavalo para recuperar o entusiasmo e a energia que voc tinha quando abriu a empresa. De acordo com Gaudncio, voc tem que reavaliar os seus medos e as suas emoes, porque a que esto as razes do problema. Afinal, como diz o psicoterapeuta e psiquiatra Luiz Cuschnir em seu livro Os Bastidores do Amor (Editora Alegra, 39 reais, 240 pgs.), o medo um dos principais sentimentos que provocam a inrcia. PRAZER E PAIXO Segundo Cuschnir, quem no se renova envelhece mais rapidamente na carne e na alma. comum, afirma Cuschnir, a gente se defender do novo, apegando-se ao passado e a velhos hbitos. Como sabemos, a luta para abandonar tal comportamento dura. Abrir-se para o novo no fcil. Mas o prmio para quem consegue chegar l costuma compensar o sacrifcio. Estar aberto transformao e mudana algo mais arriscado, diz o psicoterapeuta. Mas o melhor atalho para a satisfao, o prazer e a paixo. O advogado Antonio Carlos Teixeira da Silva, que h 30 anos dedica-se ao estudo de comportamentos criativos e fundador da consultoria Pense Diferente, raciocina de forma semelhante. Silva sugere que voc comece a pensar de forma mais criativa. No tenha medo de expressar suas idias, de inovar. Relaxe, oua sua intuio, seja mais receptivo s idias dos outros, diz ele. Ao sair da zona de conforto, voc certamente encontrar solues melhores para si mesmo e a sua empresa.(Revista Pequenas Empresas & Grandes Negcios, publicada em agosto de 2004.)

Fique de olhoObserve que, alm do nome do autor junto com as citaes, importante tambm fornecer informaes que ajudem a dar maior credibilidade ao argumento, como sua profisso, funo ou experincia profissional.

DicaTodos os ttulos, palavras e expresses estrangeiras, ou mesmo palavras de nossa lngua usadas no sentido figurado, devem ser escritas entre aspas ou em itlico. Padronize em uma das duas maneiras.

Resgatando o contedo anterior, verificamos que as estratgias (comprovaes) utilizadas nesse texto para abordar o assunto foram basicamente as citaes de

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especialistas (do psiquiatra Paulo Gaudncio, do psicoterapeuta e psiquiatra Luiz Cuschnir e do advogado Antonio Carlos Teixeira da Silva, que h 30 anos se dedica ao estudo de comportamentos criativos).Acadmico, vamos trabalhar um pouco a interpretao, certo? Boa atividade!!!!

Atividadesa) O flder abaixo traz a relao com a obra Operrios, da pintora modernista Tarsila do Amaral, j estudada no contedo Contexto Histrico. Explique o porqu de terem usado tal obra na propaganda distribuda na Praa Nereu Ramos, em Cricima-SC.

Operrios de Tarsila do Amaral (http://revistaescola.abril.uol.com.br/edicoes/01 78/aberto/tarsila.shtml)

b) Leia a crnica a seguir, escrita por Luiz Carlos Prates, e faa o que solicitado. Boca fechada Albert Einstein, quem diria, tambm escreveu auto-ajuda. Alis, auto-ajuda qualquer palavra de incentivo que digamos a ns mesmos ou a um amigo. tolice de falsos intelectuais virar a cara para a auto-ajuda; mais cedo ou mais tarde, eles vo precisar dela... e muito. Dia destes, lendo um livro de idias, frases, pensamentos, essas coisas leves e indispensveis aos exerccios do esprito, achei uma frase de auto-ajuda de Einstein que se ajusta direitinho ao de que muito precisamos sem nos darmos conta. Alis, Einstein no foi original, Salomo, filho de Davi, j havia dito a mesma coisa com outras palavras. Sim, sei, a leitora tem curiosidade e demoro-me no dizer o que , vou dizer. Nessa leitura que fiz de frases e pensamentos, e onde encontrei a tal auto-ajuda de Albert Einstein, relembrei de uma velha verdade de que muito j fiz citao aqui. Ela indispensvel para o sucesso humano. Infelizmente. E j explico por que digo infelizmente. Einstein, nesse tal pensamento de auto-ajuda, rabisca sinais que lembram uma equao do segundo grau, tem x, y, z... a no poder mais. No final, depois que ele soma, diminui, multiplica, faz, pinta e borda com as "incgnitas", termina dizendo que tudo igual a.... a manter a boca fechada. A equao do Einstein termina com um proverbial: Mantenha a boca fechada.

Toda informao adicional, ou seja, aquela que no faz falta para o entendimento do enunciado, deve estar entre duas vrgulas ou entre dois travesses.

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