Leitura e Produção de Texto Com Capa

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    1/15

     

    MóduloLeitura e Produção de Texto 

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    2/15

    1

    FIC Recepcionista

    Leitura e Produçãode Texto

    Profº Edgard Abbehusen

    [email protected] 

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    3/15

    2

    Sumário 

    1.  Produção Textual - Qual a diferença

    entre língua e linguagem? - Pag.3

    2.  Texto Discurso – Pag. 4

    3.  Coerência e Coesão Textuais – 

    Pag.6

    4.  Variações Linguísticas – Pag. 7

    5.  Gêneros Discursivos – Pag. 9 

    6.  Gêneros Argumentativos – Pag. 13 

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    4/15

    3

    Produção Textual - Qual a

    diferença entre língua e

    linguagem?

    A linguagem é a capacidade natural que o ser

    humano tem de se comunicar por meio de

    palavras, gestos, imagens, sons, cores,

    expressões, etc.

    A linguagem pode ser classificada em: 

    Verbal e não verbal.

      Verbal : Quando usa palavras (escrita ou falada)

      Não-verbal : Quando utiliza gestos, sons, cores, imagens, etc.

    Pode-se optar pelo uso de uma ou outra forma de linguagem, ou mesmo utilizar a combinaçãoda duas para se comunicar.

    A língua é o conjunto de sinais que determinadas comunidades usam para se comunicar. São

    as regras gramaticais. Já a linguagem é universal, uma abstrata capacidade de todo ser

    humano. Por exemplo, o sorriso é entendido por qualquer ser humano.

    TOME NOTA:

    Língua: Local e concreta, capacidade de determinado povo, ou de quem se disponha aaprender as regras gramaticais da língua específica. Por Exemplo, o idioma francês só é

    entendido pelo povo francês, ou por quem estude e domine a gramática da língua francesa.

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    5/15

    4

    Segundo o filósofo russo Mikhail Bakhtin, a comunicação é dialógica eintertextual, ou seja, os interlocutores nunca estão sozinhos, quando do processoenunciativo. Para ele, nenhum discurso é original; toda palavra é uma resposta àpalavra do outro. E é nesse contexto que se situam as variadas possibilidades decriação e recriação da linguagem.

    Diferença entre Texto e Discurso Você deve ficar atento para:

    Texto: unidade linguística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela visão (naescrita), que possui um sentido e apresenta uma intenção comunicativa.Exemplo: uma música, um poema, uma carta, uma charge, etc.

    Discurso: atividade comunicativa, constituída de texto e com texto discursivo(interlocutores, finalidade, contexto, etc.).Exemplo: na charge (texto) abaixo, o autor utiliza-se da charge para transmitir seu

    discurso, no qual faz uma crítica à violência no país.

    Você deve estar atento a mais um detalhe: assim como há o texto e o discurso,também há intertextos e interdiscursos. Bakthin foi o primeiro a nos apresentar essaideia; para ele, os enunciados não são autossuficientes, refletindo um no outro. “Cada

    enunciado é pleno de ecos e reverberações de outros enunciados, com os quais serelaciona pela comunhão da esfera da comunicação verbal” (Estética da Criação

    Verbal, 1997, p.316).

    Preste atenção nos conceitos a seguir:

    Texto e discurso possuem o

    mesmo significado?! Será?!

    Vamos ver...

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    6/15

    5

    Intertextualidade: é a relação entre dois textos, caracterizada por um citar o outro.

    Interdiscursividade: é a relação entre dois discursos, caracterizada por um citar ooutro.

    Atenção: a diferença é que na interdiscursividade, não há apenas a relação entre ostextos, mas também se faz referência à situação de produção (quem fez, para quemfez, em que momento histórico, com qual finalidade, em que gênero, etc.).

    Veja a baixo um exemplo de intertextualidade e de interdiscursividade na poesia:

    Meus oito anosOh! Que saudade que tenho

    Da aurora da minha vida,

    Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais

    Que amor, que sonhos, que floresNaquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras

    Debaixo dos laranjais![...]

    (Cassimiro de Abreu)

    Meus oito anosOh que saudades que eu tenho

    Da aurora da minha vida

    De minha infância queridaQue os anos não trazem mais

    Naquele quintal de terraDa Rua de Santo Antônio

    Debaixo da bananeiraSem nenhum laranjais.

    [...](Oswald de Andrade)

    Você pode perceber que, em seu poema, Oswald de Andrade nos exemplifica ointertexto e o interdiscurso. O poema é intertextual porque o cita versos do poema de

    Cassimiro de Abreu, e também ocorre a interdiscursividade porque Oswald dialogacom seu antecessor, contrapondo as suas formas de ver o mundo; uma mais idealizada

    e a outra mais realista.

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    7/15

    6

    Muito se ouve falar de Coesão Textual e de Coerência Textual. Mas afinal, o que é isso?

    Para que um texto tenha o seu sentido completo, ou seja, transmita amensagem pretendida, é necessário que esteja coerente e coeso. Na construção de um texto,assim como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que édito ou lido.

    Em resumo, podemos dizer que a COESÃO trata da conexão harmoniosa entre as partes dotexto, do parágrafo, da frase. Ela permite a ligação entre as palavras e frases, fazendo com queum dê sequência lógica ao outro. A COERÊNCIA é a relação lógica entre as ideias, fazendocom que umas complementem as outras, não se contradigam e formem um todo significativoque é o texto.

    Coesão Textual Quando falamos de COESÃO textual, falamos a respeito dos mecanismos linguísticos quepermitem uma sequência lógico-semântica entre as partes de um texto, sejam elas palavras,frases, parágrafos, etc. Entre os elementos que garantem a coesão de um texto, temos:

    Referências e reiterações: este tipo de coesão acontece quando um termo faz referência aoutro dentro do texto, quando reitera algo que já foi dito antes ou quando umapalavra é substituída por outra que possui com ela alguma relação semântica. Alguns destestermos só podem ser compreendidos mediante estas relações com outros termos do texto,como é o caso da anáfora e da catáfora.

    Substituições lexicais: este tipo de coesão acontece quando um termo é substituído por outrodentro do texto, estabelecendo com ele uma relação de sinonímia, antonímia, hiponímia ouhiperonímia, ou mesmo quando há a repetição da mesma unidade lexical (mesma palavra).Conectores: estes elementos coesivos estabelecem as relações de dependência e ligaçãoentre os termos, ou seja, são conjunções, preposições e advérbios conectivos.Correlação dos verbos (coesão temporal e aspectual): consiste na correta utilizaçãodos tempos verbais, ordenando assim os acontecimentos de uma forma lógica e linear, queirá permitir a compreensão da sequência dos mesmos.

    http://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coesao-textual-a.html

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    8/15

    7

    Coerência Textual Quando falamos em COERÊNCIA textual, falamos acerca da significação do texto, e não maisdos elementos estruturais que o compõem. Um texto pode estar perfeitamente coeso,porém incoerente. É o caso do exemplo abaixo:

    “As ruas estão molhadas porque não choveu” 

    Há elementos coesivos no texto acima, como a conjunção, a sequência lógica dos verbos,enfim, do ponto de vista da COESÃO, o texto não tem nenhum problema. Contudo, ao ler oque diz o texto, percebemos facilmente que há uma incoerência, pois se as ruasestão molhadas, é porque alguém molhou, ou a chuva, ou algum outro evento. Não ter chovidonão é o motivo de as ruas estarem molhadas. O texto está incoerente.

    Podemos entender melhor a coerência compreendendo os seus três princípios básicos:

    Princípio da Não Contradição: em um texto não se pode ter situações ou ideias que secontradizem entre si, ou seja, que quebram a lógica.Princípio da Não Tautologia: Tautologia é um vício de linguagem que consiste n a repetiçãode alguma ideia, utilizando palavras diferentes. Um texto coerente precisa transmitir algumainformação, mas quando hárepetição excessiva de palavras ou termos, o texto corre o risco denão conseguir transmitir a informação. Caso ele não construa uma informação ou mensagemcompleta, então ele será incoerentePrincípio da Relevância: Fragmentos de textos que falam de assuntos diferentes, e quenão se relacionam entre si, acabam tornando o texto incoerente, mesmo que suas partescontenham certa coerência individual. Sendo assim, a representação de ideias ou fatosnão relacionados entre si, fere o princípio da relevância, e trazem incoerência ao texto.

    Antigamente

    An tigamente, as moças ch amavam -se

    mademo isel les e eram todas m imosas e muito

    prend adas. Não faziam ano s: c ompletavamprimaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo

    sen do rapagões, faziam -lhes pé-de-alf eres ,

    arrastando a asa, mas f icavam longo s meses

    debaixo do balaio.

    Carlos Drummond de Andrade

    Ao travarmos contato com o fragmento ora exposto, percebemos que nele existem certasexpressões que já se encontram em desuso, tais como: Mademoiselles, prendadas, janotas, pé-de-alferes, balaio.

    Caso fôssemos adequá-las ao vocabulário atual, como ficaria?Restringindo-se a uma linguagem mais coloquial, os termos em destaque seriam

    http://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.htmlhttp://www.editoracontexto.com.br/coerencia-textual-a.html

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    9/15

    8

    substituídos por “mina”, “gatinha”, “maravilhosas”, “saradas”, “da hora”, “Os manos”, “A

    galera,” “Davam uma cantada”, e assim por diante.

    Perceberam que a língua é dinâmica? Ela sofre transformações com o passar do tempoem virtude de vários fatores advindos da própria sociedade, que também é totalmentemutável.

    Existem diferentes variações ocorridas na língua, entre elas estão:

    Variação Histórica - Aquela que sofre transformações ao longo do tempo. Como porexemplo, a palavra “Você”, que antes era vosmecê e que agora, diante da linguagemreduzida no meio eletrônico, é apenas VC. O mesmo acontece com as palavras escritascom PH, como era o caso de pharmácia, agora, farmácia.

    Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de acordo com acultura de uma determinada região, tomamos como exemplo a palavra mandioca, que emcertas regiões é tratada por macaxeira; e abóbora, que é conhecida como jerimum.

    Destaca-se também o caso do dialeto caipira, o qual pertence àquelas pessoas que nãotiveram a oportunidade de ter uma educação formal, e em função disso, não conhecem alinguagem “culta”.

    Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso,podemos destacar as gírias, as quais pertencem a grupos de surfistas, tatuadores, entreoutros; a linguagem coloquial, usada no dia a dia das pessoas; e a linguagem formal, queé aquela utilizada pelas pessoas de maior prestígio social.Fazendo parte deste grupo estão os jargões, que pertencem a uma classe profissionalmais específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre outros.

    Vejamos a seguir um exemplo típico de variação regional, nas palavras do poeta Oswald

    de Andrade: Vício na fala

    Para dizerem milho dizem mioPara melhor dizem mió

    Para pior pióPara telha dizem teia

    Para telhado dizem teiadoE vão fazendo telhados. 

    Oswald de Andrade

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    10/15

    9

    Antes de partirmos para uma definição do que chamamos de gênero textual

    (discursivo) devemos primeiramente entender a noção de gênero que, segundo

    estudiosos, é o mesmo que entender a própria noção de língua.

    Para Mikhail Bakhtin a incalculável diversidade linguística se estratifica em diferentes

    formas, mais ou menos estáveis, as quais podemos chamar de gêneros, isto é,manifestações da língua tipificadas por características formais recorrentes e

    correlacionadas a diferentes atividades sociais. Assim também a escrita se estratifica

    em gêneros, uma forma convencional da linguagem, à qual atribuímos algum papel

    social, algum valor, alguma função.

    Temos então a noção do que é gênero e de sua vitalidade para a comunicação. Nós

    nos comunicamos, falamos e escrevemos em gêneros, ou seja, não aprendemos a

    língua, mas alguns gêneros da língua. Assim que passamos a fazer uso da língua, da

    fala, passamos a fazer uso da estrutura da linguagem, ou seja, dos diversificadosgêneros linguísticos.

    Antes de ser alfabetizada, a criança já é letrada, pois faz uso da linguagem para se

    comunicar e a conhece em sua estruturação, mesmo sem a noção teórica dos gêneros

    discursivos. Sobre a nossa atividade comunicativa e, portanto, a constituição dos

    gêneros, Bakhtin afirma que:

    Para falar, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos os

    nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de

    estruturação de um modo. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso orais

    (e escrito). Na prática, usamo-los com segurança e destreza, mas podemos ignorar

    totalmente a sua existência teórica [...]

    Podemos agora definir e caracterizar o gênero textual. Na perspectiva bakhtiniana os

    gêneros textuais possuem uma forma de composição, um conteúdo temático e um

    propósito comunicativo. Em outras palavras, o gênero textual se define por determina

    características de estruturação textual, forma, linguagem, tamanho e conteúdo e

    também, ou principalmente, pela sua função ou fim específico.

    "[...] engloba uma análise do texto e do discurso e uma discrição da língua e

     visão da sociedade, e ainda tenta responder a questões de natureza sociocultural

    no uso da língua de maneira geral. O trato dos gêneros diz respeito ao trato dalíngua em seu cotidiano nas mais diversas formas. [...] podemos dizer que os

    gêneros são uma “forma de ação social”. (MARCUSCHI: 2008) 

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    11/15

    10

    Como os gêneros textuais são respaldados nas práticas sociais, na dinâmica da vida

    social e cultural, eles podem sofrer variações em suas unidades temáticas, forma

    composicional e estilo. Não são, os gêneros textuais, conforme afirma Ingedore Koch,

    instrumentos rígidos e estanques.

    Marcuschi não só concorda com a flexibilidade dos gêneros textuais como alerta para a

    proliferação de gêneros novos dentro de novas tecnologias, particularmente na mídia

    eletrônica. A esses novos gêneros, Marcuschi denomina gêneros emergentes

    (MARCUSCHI, 2008:198). Embora muitos desses gêneros emergentes não sejam novos,

    uma vez que constituem uma modificação ou adaptação dos gêneros existentes aos

    novos meios (suportes) e novos tempos, com a internet, muitos novos gêneros estão

    surgindo sim .

    Segundo David Crystal , em seu livro “A Linguagem e a Internet ”, a internet transmuta

    de maneira bastante radical gêneros existentes e desenvolve alguns realmente novos.A internet, podemos dizer, é parte do que os teóricos denominam suporte de gêneros

    textuais, ao qual Marcuschi dá a sua definição:

    Entendemos aqui como suporte de um gênero um lócus físico ou virtual com formato

    específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como

    texto. Pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato

    específico que suporta, fixa e mostra o texto. Essa idéia comporta três aspectos: a)

    suporte é um lugar; b) suporte tem formato específico; c) suporte serve para fixar e

    mostrar o texto .

    A este fenômeno digital - os gêneros emergentes, podemos associar o exemplo dos

    gêneros apontados como primários e secundários. Devido à extrema heterogeneidade

    dos gêneros do discurso, resultado da infinidade de relações sociais que se apresentam

    na vida humana, Bakhtin optou por dividir os gêneros em dois tipos: Gênero Primário

    (simples) e Gênero Secundário (complexo). A heterogeneidade lingüística é o que

    determina a subdivisão que se faz entre os gêneros.

    Os chamados gêneros primários são aqueles que emanam das situações de

    comunicação verbal espontâneas, não elaboradas. Pela informalidade e

    espontaneidade, dizemos que nos gêneros primários temos um uso mais imediato da

    linguagem que transcorrem nos enunciados da vida cotidiana: na linguagem oral /

    conversação, diálogos com a família, reuniões de amigos, etc.

    Nos gêneros secundários existe um meio para que seja configurado determinado

    gênero. Esse meio é normalmente a escrita. Logo, se há meio, dizemos que há relação

    mediata com a linguagem, se há meio, há uma instrumentalização. O gênero, então

    funciona como instrumento, uma forma de uso mais elaborada da linguagem para

    construir uma ação verbal em situações de comunicação mais complexas e

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    12/15

    11

    relativamente mais evoluídas: artística, cultural, política. Esses gêneros mais

    complexos e elaborados absorvem e modificam os gêneros primários.

    Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários,

    transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua

    relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios...

    (BAKHTIN, 1992: 281)

    Para melhor compreensão do fenômeno de absorção e transmutação dos gêneros

    primários pelos secundários, Bakhtin traz como exemplo uma carta ou um diálogo

    cotidiano. Uma carta ou um fragmento de conversação do dia-a-dia, quando inseridos

    em um romance se desvinculam da realidade comunicativa imediata, só conservando

    seus significados no plano de conteúdo do romance. Ou seja, não se trata mais de

    atividades verbais do cotidiano, e sim de uma atividade verbal elaborada e complexa. É

    importante lembrarmos que a matéria dos gêneros primário e secundário é a mesma:enunciados verbais. O que os diferencia é o grau de complexidade e elaboração em

    que se apresentam.

    Firmada a consciência de que os gêneros estão não só associados, mas inseridos, no

    conceito de língua e comunicação, é importante expor e definir alguns conceitos

    diferentes entre si, tais como: tipo textual, gênero textual e domínio discursivo.

    Os tipos textuais caracterizam-se como seqüência linguística (forma de linguagem),

    definida pela sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais relações

    lógicas, estilo). Em geral, constituem os tipos textuais a narração, a argumentação, a

    exposição, a descrição e a injunção (MARCUSCHI, 2008:154). Ingedore Koch diz que os

    gêneros são formados por seqüências diferenciadas denominadas tipos textuais e

    alerta para a importância de se ter em vista que a noção de gênero não se pode

    confundir com a noção de tipo. (p. 119).

    Os gêneros textuais, por sua vez, são os textos que encontramos em nossa vida diária,

    em situações comunicativas e que, na visão de Marcuschi, apresentam padrões

    sociocomunicativos característicos, definidos por composição funcionais, objetivos

    enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas,

    sociais, institucionais e técnicas. Em princípio, diferente dos tipos textuais, que podem

    ser classificados em meia dúzia de categorias, os gêneros textuais formam uma lista

    aberta, sem uma definição exata de sua diversidade. Alguns exemplos de gênero

    textual são: bilhete, reportagem, resenha, carta, romance, conto, receita, bula e assim

    por diante.

    O domínio discursivo, na visão bakhtiniana, constitui uma esfera da atividade humana,

    pois indica instâncias discursivas, tais como: discurso jurídico, discurso jornalístico,

    discurso religioso, etc. Constituem, o domínio discursivo, práticas discursivas nas quais

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    13/15

    12

    podemos identificar um conjunto de gêneros textuais próprios de sua rotina

    comunicativa.

    Vimos que a comunicação é uma questão importante que se apresenta como ponto

    decisivo de vivência enquanto sujeito social que somos. Logo, falar de gênero textual é

    pensar sobre a língua e sobre os diferentes padrões que esta se manifesta,

    dependendo da realidade que se apresenta, da cultura, da situação e do contexto

    social em utilizamos a linguagem.

    Finalizando, a escolha do gênero, então, nunca se dá livremente, uma vez que

    optamos por usar, conforme os fatores citados, dentre os mais diversificados gêneros

    textuais e tipologias de textos que circulam na nossa sociedade, aquele que facilitará o

    entendimento à ação no contexto social ao qual estamos expostos. O trato dos

    gêneros diz respeito ao trato da língua em seu cotidiano nas mais diversas formas.

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    14/15

    13

    Gêneros argumentativos

    DEFINIÇÃOSabemos que, dentre os tipos textuais, destaca-se o argumentativo - que tem como objetivo discursivoconvencer o interlocutor a respeito de determinado ponto de vista. A atividade de argumentar pode serfeita de diferentes maneiras, seguindo distintos formatos. Cada um desses formatos corresponderá a umaconcretização textual específica, sendo chamados de gêneros textuais, nesse caso, argumentativos.Então, tratemos de travar contato aqui com os principais gêneros argumentativos. Primeiramente,delimitemos que estamos aqui a tratar mais diretamente de gêneros textuais escritos, uma vez que hámuitos gêneros argumentativos orais também (palestras, debates, comícios, discursos de defesa,discurso de acusação, diálogos argumentativos, assembleias, etc). Também não consideraremos aqui osgêneros argumentativos digitais, como blogues, fóruns virtuais e outros. Dentre os principais exemplos deargumentação escrita de que aqui trataremos, destacamos a própriadissertação, o artigo de opinião,a crônica argumentativa, o editorial, a resenha crítica, a carta de solicitação/de reclamação, a cartade leitor .Uma questão que estabelece a marca de cada um desses gêneros é a quem cada texto se dirige, ou seja,quem é o seu leitor. Assim, apresentamos, a partir daí, uma divisão de estudo desses textos.

    GêneroArgumentativo 

    Quem é oleitor? 

    Marcas estruturias  Observações 

    Dissertação  Leitor universal,qualquer um.

    Texto impessoal, sem marcas de interlocução,em linguagem objetiva e padrão culto, comrígida divisão das partes do textoargumentativo.

    Pode haver aindadissertação de tompessoal. Contudo, essa éde cobrança escassa emconcursos.

    Artigo de opinião  Um certo públicoleitor de dadapublicação.

    O texto deve se adequar ao perfil do publico. Assim, suas marcas de formalidade ouinformalidade dependerão disso. No geral, suaestrutura é menos rígida e costuma se admitirtom pessoal.

    O artigo de opinião, demodo geral, é dos gênerosargumentativos mais livrese fluídos que há.

    Carta desolicitação ou dereclamação 

    O destinatário dacarta.

    Esse texto é dum remetente específico a umdestinatário também específico. Portanto, sãoobrigatórias tanto a primeira pessoa quantomarcas de interlocução, além do cabeçalhocom local e data, do vocativo e da saudaçãointrodutórias, bem como a despedida eassinatura.

     A distinção entresolicitação e reclamaçãonão é, necessariamente,rigorosa.

    Carta de leitor   O editor darevista ou autorde dada matéria.

    Esse texto se assemelha ao modelo geral dascartas argumentativas, no entanto, prescindede cabeçalho com local e data.

    No geral, é um textobastante objetivo e conciso.

    Editorial  O público leitorde determinadapublicação

    Expressa a opinião de certa publicação,falando, portanto em nome coletivo. Sualinguagem tende a ser formal, embora

  • 8/19/2019 Leitura e Produção de Texto Com Capa

    15/15

    14

    acompanhe a expectativa do público leitor.Crônicaargumentativa 

    O público leitorda publicaçãoque conterá acrônica.

    Esse texto partilha da liberdade geral dacrônica narrativa e tem em comum com esseuma motivação do cotidiano.

    Em geral, essa modalidadede crônica pode seaproximar bastante doartigo de opinião.

    Resenha crítica  O público decerta publicação

    artística oucrítica.

    O texto consiste em um resumo comentado eopinativo sobre dada obra ou trecho de obra.

    Pode ser pensada comouma versão bastante

    simplificada do ensaio.

    Vejamos uma exemplificação bem simples de um breve trecho de mesmo tema em cada uma dasversões:

    EXEMPLIFICAÇÃOa) Dissertação Os problemas de trânsito atuais de qualquer grande cidade são motivos de transtornos vários a seuscidadãos. No município do Rio de Janeiro, isso não é diferente e assume contornos dramáticos, em meioàs obras por que passa a metrópole. Os engarrafamentos se dão em escala gigantesca, paralisandoveículos, a produção e a vida das pessoas.  b) Artigo de Opinião (em uma revista de algum nível de informalidade):

    Não vem sendo fácil pro carioca suportar os engarrafamentos que tomam conta da cidade por conta dasobras profundas que vem ocorrendo. A cidade, de cabelo em pé, buzina sem parar buscando algum pontode fuga. Somos quase o Estacionamento de Janeiro. c) Carta Argumentativa:Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2013.  Excelentíssimo Sr. Prefeito da cidade do Rio de Janeiro,  Venho, por meio desta, manifestar-me quanto à situação caótica que ora nos encontramos na cidadegovernada por V. Exª. A situação é mais do que periclitante, atingindo níveis de inviabilidade que põemem xeque o bom funcionamento de serviços ao conjunto dos cidadãos.d) Carta de leitor :Caros editores da Revista Hoje, em seu último número, havia uma matéria que tratava das mudanças emcurso na cidade do Rio de Janeiro. Gostaria de aqui problematizar um ponto argumentado por vocêsnaquela matéria: a do preço necessário a se pagar por tais mudanças.  e) Editorial:

     A Gazeta de Notícias traz a seu público a sua opinião independente acerca das mudanças ora em cursona cidade do Rio de Janeiro, bem como de seus desdobramentos ao conjunto da população atual efutura. f) Crônica Argumentativa:Essa semana testemunhei uma cena inusitada. Uma velhinha esbravejava cobras e lagartos e outrosrépteis mais de difícil identificação, após ser fechada no trânsito cada vez mais alarmante do Rio deJaneiro. Ora, essa é apenas a ponta do iceberg desse inferno que tem se tornado se locomover dentro deum veículo na cidade. g) Resenha Crítica:Na obra Carros e cidades, de Alexandre Silveira Pontes, a questão principal em discussão é o modelo dedesenvolvimento rodoviário e seu impacto à vida das cidades brasileiras. Esse ponto de vista assumeespecificidades e exemplificações várias ao longo dos sete capítulos da obra, os quais apresentaremosaqui. Como se observa, o leitor alvo causa modificações de formato bem marcantes, evidenciando tambémdistintas finalidades, para além da argumentação.