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Letras ãÂrtes Domingo, 5-8-1951 Ano 6.°— N.°218 .— —^¦¦^—i—^^^mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm—*m*Mmmmmm^^MMmmmmMmmMmmmmMm+~-MW* NATURALMENTE que X. S. EHot não e um no- me popular nas letras inglesas. O lato, porem, de lhe ter sido concedido o prêmio Nobel de literatura chamou sobre si » atenção do mundo inteiro. No seu pais, T. S. Eliot é, atualmente, o escritor dc maior prestigio entre aque- les que atribuem à literatura uma função ao mesmo tempo representativa e supcradora. Inútil procurar ua sua obra um testemunho no genero dos testemunhos hoje tão aprecia- dos pelos homens que tfm to- dos os tempos pediram às le- trás esse esquartejamento da matéria viva, sem duvida ai- guma muito impressionante, mas tão impressionante quan- to efêmero, patente nos best seller da hora que passa. O teatro anatômico é um lugar malsão, e as peças que ..i se exibem, quando é preciso fa- zê-las durar, nâo outro re- médio senão conservá-las em álcool ou embalsamar os cada- veres a que elas pertençam. Não. A obra de T. S. Elhrt faz parte do número das «ibras literárias que, quando chegam ao grande público, o «u autor desapareceu muito: são como as estrelas que ilu- minam o mundo muito tempo depois de terem morrido. E isto nào quer dizer, por con- seguinte, quo «. S. Eliot nao represente a sua época. Re- presenta-a, sim, mas superan- do-a. Esta me parece, aüás, a melhor maneira de um escritor representar a sua época. Nos seus poemas, como The Waste Xand (A Terra devastada) ou de The Hollow Men (Os- ho- mens ocos) é o nosso tempo que se reflete, exprimindo- se T. S. Eliot sobre a marcha do mundo moderno e o rami- nho do homem de hoje por meio de símbolos em que estes são representados como um mundo vazio e uma humauida- de de autômatos. Através dt duas formas características tf; expressão * poética e a re- ligiosa —, o autor de ^our Quartets (Quatro quartetos), a sua última obra poética, na opinião de um crítico, retira- se da visão concreta da reali- dade para, através de uma es- •pécie de síntese pessoal a transcendência dos acidentes do próprio eu —, retomar, pela contemplação, o que no plano real desperta a sua emocional!- dade. Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota- veis poemas da literatura mo- derna inglesa. T. S. Eliot é crítico também. O seu volume Selected Essays (Ensaios esco- Ihidos), publicado cm 193:2, reu- ne os seus estudos capitais so- bre literatura, crítica, criação poética e algumas das figuras que na história da literatura inglesa, francesa e italiana po- dem ser consideradas seus mestres: Shakespeare, Dante, Baudelaire etc. Neste volume se emontra, igualmente, um dos seus ensaios mais famosos, Tradition and individual talení, (Tradição e talento individual), espécie de sintese das suas concepções literárias, entre as quais avulta a idéia de que o talento de um escritor, sendo por um lado, obra de uma progressiva extinção da perso- xialidade, é, pelo outro, inte- gração numa cadeia de perso- nalídades em relação com as quais o talento do escritor vi- vo encontra o sentido a que a sua obra, isolada do passado, de modo algum pode aspirar, 3 tiiiJ»**^*^?^'3&£«H ÍSrWt ^>> t& ' •> ¦ JMmT^tMmWmm, '"'fr ' v*âi •¦^'^If'¦ ÍS{!"**"\j>.*.:£-.* .V JS^H**^^^^^, itf*^ •'•(*' .«^1 K . ¦• '•.-iW { .$MRx* \V>\Jm\.' ¦- ¦ m\ 'vl ..*%,..'; ..<.<, .igHH Wffi^':**£&y-"-- jfiy' Hk Híh Btl:¦ - ^Sl Hc23 B .{ Jf ' ¦¦¦y^y, . f-'' <..:,' 'r:: Mj*ÉQ HflBJf '31 fl * /y w kkh «1*^*3 *B «! 9 '*"¦%. \ t "/s*Cúum «'/^H lB*flfl¦*«¦ ¦>* > Yf-ulB flflflfl *. vQnA_» . nlwfl**********rJ*****ffl"ffffffffffiaffffffffffi **HKJ^**ffl *****¦# X s^^C"*"*****!*****fl****************^*******ffli '\yíííiív '¦¦¦'y'.'^ '^Éí'^'-.-'''' '¦'¦'¦ '•'"'''."'¦ '^Sfl^^^^^^flflk^' 'Jr*~"*V-.-> •.¦:-: a"! k''yJ^-\.:M & ^„ V^,^,^^^^ »::íííí.v>>"."x<iiiSvii(l ••O tocador de guitarra e a carava na BERNARD NAUDIM ENCONTRO COM T. S. ELIOT IOÃO GASPAR SIMÕES A última expressão do gênio literário de T. S. Eliot está «o teatro. A sua primeira peça data de 1935 e foi escrita _ra- ra ser representada durante o Festival dos amigos da cate- dral de Cantuária. íntituia-se Murder in the Cathedral (As- sassinio na catedral) E' um drama em versão, à maneira dos mistérios medievais. IVCtais tarde, em 1939, publicou uma segunda peça The Family Reu- nion (Reunião de família), e dez anos depois, em 1949, es- creveu The Cocktail Paity comédia destinada a ser repre- sentada durante o Festival de Edinburgh, nesse mesmo ano. Nenhuma destas peças o assl- nalou como um grande drama- turgo. Foi preciso que um pro- dutor americano levasse à ce- na, em Nova Iorque, esta sua última comédia, para que a glória dramática o viesse co- roar como reformador do tea- tro moderno inglês. Escritas em verso livre, tanto numa como noutra destas peças, T. S. Eliot opera uma espécie de mágica transmutação da vida corrente. Sem eloqüência, sem retórica, sem "poesia", cm sentido tradicional, o autor da Family Reunion conseçue que o ambiente perfeitamente quo- tidiano em que eles decorrem se eleve ao nível dos símbolos e ai se mantenha com uma despretensiosa naturalidade. Não me foi dado, infelizmen- te, ver representar o Cocktail Party Mas uma gnU de hon- ra me foi concedida durante a rainha última viagem ã Ingla- terra. Pude conversar com T. S. Eliot, no seu gabinete da casa editora Faber and Fabcr, em Russel Square. Tinha estado em Oxford. Cheguei a Paddington Station por volta das quatro noras da tarde. Mr. Maekcnzie Smilh, do British Council, quis ter a amabilidade de me esperar na estação. Seguimos dali para Russel! Square. O edifício on- de está instalada a grande ca- sa editora de que o poeta é um dos diretores fica no an- guio norte desta linda praça, mesmo defronte do ciclópk-o ar- ranha-céu da Universidade de Londres. Russell Square é uma praça no estilo dos curac- terísticos squares londrinos. Rodeiam-na fachadas de tijo- lo desse incomparável ocre aeinzentado tão comum nos velhos edifícios de Londres, c nessas fachadas ocre acizenta- das abrem-se os pórticos de pedra branca através dos quais," subindo a meia dúzia dc de- graus que os eleva sobre o pas- selo, nos encontramos no átrfo das mais puras construções vi- torianas inglesas. No átrio dc Faber and Faber havia pilhas de pacotes de livros, üma cm- pregada solícita anuncia a nossa presença e somos tondu- zidos ao ascensor. Esperamos numa pequena antccãmara do segundo andar. Mas não tar- da que o poeta nos mande en- trar para o seu gabinete T. S. Eliot é homem de ;;es- senta e dois anos. Alto. ele- gante, ligeiramente curvado. O seu perfil é conhecido. Tem uma boca bem desenhada, de lábios grossos, muito puros nos seus contornos, uma boca qua- se sarcástica. Mas a firmeza um pouco triste do seu olhar e a concentração com que nos fita, franzindo, atentauente, o sobrolho. adoca o sarcasmo da boca. aliás traçt atenuado, igualmente, oela suavidade do mento. fino e perfeito, o a ;ir- queaçào do nariz, ligeiramente; aquilino, suavemente aquilino. , Levanta-se para "os reerber. Espera-nos uma xícara de cha com leite e um pratinho de bo- lachas. Em I rente de um» mesa repleta de papéis e II- vros, sobre a qual está pousa- do, num sóbrio caixilho, o úl- timo retrato de Paul Valéry. T. S. Eliot inscreve-se a três quartos na moldura da janela, cujo grande vidro sobte a* árvores de Russell Square. Quando se volta para mim, T.< S. Eliot fica enquadrado ramaria dos olmos e uma coro» de verdura emoldura-lhe a fronte, como se os loiros glória, suttlmentc, tivessem vindo prestar-lhe a sua home- nagem. Os grandes homens são sim- pies. Simples e modestos. T. S. Eliot. a quem peço licença para me exprimir em francês, receoso de não ser capaz de traduzir em inglês os matizes di uma conversa que não poda deixar de abordar problemas que ficariam maltratados uu- ma língua que estou pouco ha- bituado a falar, diz-me, anutn» do : Conheço suficientemente bem o francês para notar oa erros com que o falo, p. como compreenderá, esta m i njh a consciência dos seus próprios erros, não é das coisas .nais agradáveis... Apesar disto, fala francês. T. S. Flioí exprime-se invul- garmente bem, para um in- glcs, na língua de Paul Vale* ry, o seu emulo de além-Man- cha. Não devemos esquecei que o autor do Cocktail Party, nascido nos Estados Unidos, naturalizado súdito britânico, tem uma formação espiritual muito diferente do inglê-; nato c criado no império britânico. Aliás, a sua poesia recebeu um potlfiroso influxo gaulês. E' muito menos de origem vito- rlana que de origem francesa. Os simbolistas, especialmente Laforgue, foram os seus mes- três. E falando de poesia uni- versai T. S. Eliot é um dos mais notáveis comenladores modernos de Dante. Digo-lhe do interesse com que li a sua conferência Talk on Danta realizada no Instituto Ita- liano de Londres e agora pu- blicada na revista The Anel- phi. E cito-lhe o caso do nos- so poeta Fernando Pessoa, que tinha uma concepção muito se- melhante àquela que ele pró- prio expõe, a propósito do poc- ta italiano que, para um poeta, todas as influencias sá« boas. E' certo friso, que T. S. Eliot considera a influencia dos pequenos poetas ainda mais Importante que a dos grande», pelo menos no período da (les- coberta da personalidade. As primeiras influências que sa recebem, diz o cantor da /- h- Wednes day, são como que \ apresentação do poeta a si próprio, aludindo à importai!- cia que teve para cie o conheci- mento dos versos de Latorgua c de Baudelaire. Mas «n- fluências que duram a vida in- teira: a influência dos gra ".dei poetas de um Shakespeare, de um Dante, de um flomerttj dc um Vergílio. A leitura dai suas obras requer toda uma vida a sua compreensão vai-se obetendo com os anos. ET. S. Eliot, que confessa tei lido Dante com o texto ori- ginal de um lado e uma ira- dução do outro, dl-nos ter si- do assim que lt>u ° nosso. (;a-v uiões, um poeta que muito o (Conclui na 2.tt pàg.*y n

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Letras ãÂrtesDomingo, 5-8-1951

Ano 6.°— N.°218

.— —^¦¦^—i —^^^mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm—*m*Mmmmmm^^MMmmmmMmmMmmmmMm+~-MW*

NATURALMENTE

que X.S. EHot não e um no-me popular nas letras

inglesas. O lato, porem, de lheter sido concedido o prêmioNobel de literatura chamousobre si » atenção do mundointeiro. No seu pais, T. S.Eliot é, atualmente, o escritordc maior prestigio entre aque-les que atribuem à literaturauma função ao mesmo temporepresentativa e supcradora.Inútil procurar ua sua obraum testemunho no genero dostestemunhos hoje tão aprecia-dos pelos homens que tfm to-dos os tempos pediram às le-trás esse esquartejamento damatéria viva, sem duvida ai-guma muito impressionante,mas tão impressionante quan-to efêmero, patente nosbest seller da hora que passa.O teatro anatômico é um lugarmalsão, e as peças que ..i seexibem, quando é preciso fa-zê-las durar, nâo há outro re-médio senão conservá-las emálcool ou embalsamar os cada-veres a que elas pertençam.Não. A obra de T. S. Elhrtfaz parte do número das «ibrasliterárias que, quando chegamao grande público, já o «uautor desapareceu há muito:são como as estrelas que ilu-minam o mundo muito tempodepois de terem morrido. Eisto nào quer dizer, por con-seguinte, quo «. S. Eliot naorepresente a sua época. Re-presenta-a, sim, mas superan-do-a. Esta me parece, aüás, amelhor maneira de um escritorrepresentar a sua época. Nosseus poemas, como The Waste

Xand (A Terra devastada) oude The Hollow Men (Os- ho-mens ocos) é o nosso tempoque se reflete, exprimindo-se T. S. Eliot sobre a marchado mundo moderno e o rami-nho do homem de hoje pormeio de símbolos em que estessão representados como ummundo vazio e uma humauida-de de autômatos. Através dtduas formas características tf;expressão — * poética e a re-ligiosa —, o autor de ^ourQuartets (Quatro quartetos), asua última obra poética, naopinião de um crítico, retira-se da visão concreta da reali-dade para, através de uma es-•pécie de síntese pessoal — atranscendência dos acidentes dopróprio eu —, retomar, pelacontemplação, o que no planoreal desperta a sua emocional!-dade.

Mas T. S. Eliot náo é apenasautor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna inglesa. T. S. Eliot écrítico também. O seu volumeSelected Essays (Ensaios esco-Ihidos), publicado cm 193:2, reu-ne os seus estudos capitais so-bre literatura, crítica, criaçãopoética e algumas das figurasque na história da literaturainglesa, francesa e italiana po-dem ser consideradas seusmestres: Shakespeare, Dante,Baudelaire etc. Neste volumese emontra, igualmente, umdos seus ensaios mais famosos,Tradition and individual talení,(Tradição e talento individual),espécie de sintese das suasconcepções literárias, entre asquais avulta a idéia de que otalento de um escritor, sendopor um lado, obra de umaprogressiva extinção da perso-xialidade, é, pelo outro, inte-gração numa cadeia de perso-nalídades em relação com asquais o talento do escritor vi-vo encontra o sentido a que asua obra, isolada do passado,de modo algum pode aspirar,

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••O tocador de guitarra e a carava na — BERNARD NAUDIM

ENCONTRO COM T. S. ELIOT

IOÃO GASPAR SIMÕES

A última expressão do gênioliterário de T. S. Eliot está «oteatro. A sua primeira peçadata de 1935 e foi escrita _ra-ra ser representada durante oFestival dos amigos da cate-dral de Cantuária. íntituia-seMurder in the Cathedral (As-sassinio na catedral) E' umdrama em versão, à maneirados mistérios medievais. IVCtaistarde, em 1939, publicou umasegunda peça The Family Reu-nion (Reunião de família), edez anos depois, em 1949, es-creveu The Cocktail Paitycomédia destinada a ser repre-sentada durante o Festival deEdinburgh, nesse mesmo ano.Nenhuma destas peças o assl-nalou como um grande drama-turgo. Foi preciso que um pro-dutor americano levasse à ce-na, em Nova Iorque, esta suaúltima comédia, para que aglória dramática o viesse co-roar como reformador do tea-tro moderno inglês. Escritasem verso livre, tanto numacomo noutra destas peças, T.S. Eliot opera uma espécie demágica transmutação da vidacorrente. Sem eloqüência, semretórica, sem "poesia", cm

sentido tradicional, o autor daFamily Reunion conseçue queo ambiente perfeitamente quo-tidiano em que eles decorremse eleve ao nível dos símbolose ai se mantenha com umadespretensiosa naturalidade.

Não me foi dado, infelizmen-te, ver representar o CocktailParty Mas uma gnU de hon-ra me foi concedida durante arainha última viagem ã Ingla-terra. Pude conversar com T.S. Eliot, no seu gabinete dacasa editora Faber and Fabcr,em Russel Square.

Tinha estado em Oxford.Cheguei a Paddington Stationpor volta das quatro noras datarde. Mr. Maekcnzie Smilh,do British Council, quis ter aamabilidade de me esperar naestação. Seguimos dali paraRussel! Square. O edifício on-de está instalada a grande ca-sa editora de que o poeta éum dos diretores fica no an-guio norte desta linda praça,mesmo defronte do ciclópk-o ar-ranha-céu da Universidade deLondres. Russell Square éuma praça no estilo dos curac-terísticos squares londrinos.Rodeiam-na fachadas de tijo-

lo desse incomparável ocreaeinzentado tão comum nosvelhos edifícios de Londres, cnessas fachadas ocre acizenta-das abrem-se os pórticos depedra branca através dos quais,"subindo a meia dúzia dc de-graus que os eleva sobre o pas-selo, nos encontramos no átrfodas mais puras construções vi-torianas inglesas. No átrio dcFaber and Faber havia pilhasde pacotes de livros, üma cm-pregada solícita anuncia anossa presença e somos tondu-zidos ao ascensor. Esperamosnuma pequena antccãmara dosegundo andar. Mas não tar-da que o poeta nos mande en-trar para o seu gabinete

T. S. Eliot é homem de ;;es-senta e dois anos. Alto. ele-gante, ligeiramente curvado. Oseu perfil é conhecido. Temuma boca bem desenhada, delábios grossos, muito puros nosseus contornos, uma boca qua-se sarcástica. Mas a firmezaum pouco triste do seu olhare a concentração com que nosfita, franzindo, atentauente, osobrolho. adoca o sarcasmo daboca. aliás traçt atenuado,igualmente, oela suavidade do

mento. fino e perfeito, o a ;ir-queaçào do nariz, ligeiramente;aquilino, suavemente aquilino. ,

Levanta-se para "os reerber.Espera-nos uma xícara de chacom leite e um pratinho de bo-lachas. Em I rente de um»mesa repleta de papéis e II-vros, sobre a qual está pousa-do, num sóbrio caixilho, o úl-timo retrato de Paul Valéry.T. S. Eliot inscreve-se a trêsquartos na moldura da janela,cujo grande vidro dá sobte a*árvores de Russell Square.Quando se volta para mim, T.<S. Eliot fica enquadrado n»ramaria dos olmos e uma coro»de verdura emoldura-lhe afronte, como se os loiros d»glória, suttlmentc, tivessemvindo prestar-lhe a sua home-nagem.

Os grandes homens são sim-pies. Simples e modestos. T.S. Eliot. a quem peço licençapara me exprimir em francês,receoso de não ser capaz detraduzir em inglês os matizes diuma conversa que não podadeixar de abordar problemasque ficariam maltratados uu-ma língua que estou pouco ha-bituado a falar, diz-me, anutn»do :

Conheço suficientementebem o francês para notar oaerros com que o falo, p. comocompreenderá, esta m i njh aconsciência dos seus próprioserros, não é das coisas .naisagradáveis...

Apesar disto, fala francês.T. S. Flioí exprime-se invul-garmente bem, para um in-glcs, na língua de Paul Vale*ry, o seu emulo de além-Man-cha. Não devemos esqueceique o autor do Cocktail Party,nascido nos Estados Unidos,naturalizado súdito britânico,tem uma formação espiritualmuito diferente do inglê-; natoc criado no império britânico.Aliás, a sua poesia recebeu umpotlfiroso influxo gaulês. E'muito menos de origem vito-rlana que de origem francesa.Os simbolistas, especialmenteLaforgue, foram os seus mes-três. E falando de poesia uni-versai T. S. Eliot é um dosmais notáveis comenladoresmodernos de Dante. Digo-lhedo interesse com que li a suaconferência — Talk on Danta— realizada no Instituto Ita-liano de Londres e agora pu-blicada na revista The Anel-phi. E cito-lhe o caso do nos-so poeta Fernando Pessoa, quetinha uma concepção muito se-melhante àquela que ele pró-prio expõe, a propósito do poc-ta italiano — que, para umpoeta, todas as influencias sá«boas. E' certo friso, que T. S.Eliot considera a influenciados pequenos poetas ainda maisImportante que a dos grande»,pelo menos no período da (les-coberta da personalidade. Asprimeiras influências que sarecebem, diz o cantor da /- h-Wednes day, são como que \apresentação do poeta a sipróprio, aludindo à importai!-cia que teve para cie o conheci-mento dos versos de Latorguac de Baudelaire. Mas há «n-fluências que duram a vida in-teira: a influência dos gra ".deipoetas — de um Shakespeare,de um Dante, de um flomerttjdc um Vergílio. A leitura daisuas obras requer toda umavida — a sua compreensãovai-se obetendo com os anos.ET. S. Eliot, que confessa teilido Dante com o texto ori-ginal de um lado e uma ira-dução do outro, dl-nos ter si-do assim que lt>u ° nosso. (;a-vuiões, um poeta que muito o

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Página — 2 L E T RAS E rAR T E S Domingo, 5-8-1951

O LIVRO que o sr. AndréMaurois acaba de publi-car sobre Alain, 6 aem

dúvida o mel_pr estudo (piejá se escreveu a respeito domais inteligente dos pensado-dores, pois íol escrito peloimais inteligente dos roman-clstas. Este foi discípulo da-quele e jamais se esqueceu deque lhe deve a formação doseu espírito.

Sob o seu verdadeiro nomejdc Emile Chartier, Alain íolcom efeito um maravilhosoprofessor. Como Sócrates, teveo arte "d'accoucher les intcl-ügences" e de mantê-las per-petuomente despertas. Escrito-res tão diferentes como HenríMassis, Jean Prévost, PierreRost seguiram igualmente asauas lições e sempre tiveram re-conhecimento e admiração pelomestre. Mas nenhum deles,•té hoje, falou a seu respeitocom a finura e a lucidez deAndré Maurois.

Começa o autor proporclo-nando-nos uma biografia re-sumida do mestre que nuncaquis nos confiar qualquer coi-sa sôbrc a sua vida e que sópretendeu ter por sua históriaa das suas idéias. Filho de umveterinário do Perche, passoupela Escola Normal Superior edali saiu, mas, não se evadlu,como tantos outros, pois foiprofessor em Pontivy, em Lo-rien e em Rouen, antes decursar a aula de retórica su-perior em Paris, nos LiceusMichelet e Henri IV.

Em Po..tivy, nas horas va-gas, dedicava-se à pintura àpoesia. Em Lorient, entroucom paixão nas lutas políticas

ALAIN VISTO PORANDRÉ' MAUROIS

ANDRÉ' DEL AC OU R

desencadeadas pelo famosocaso Dreyfus.

Em Rouen, tomou parte nu-ma campanha eleitoral e co-meçou ,nessa ocasião, a exten-sa série de artigos intitulados"Propôs", que devia continuara escrever durante trinta anos,no jornal "La Dépêche deRouen". Reuniu-os e publi-cou-os em vários volumes.Formam uma parte essencialda sua obra e é nele» que de-vemos procurar o segredo doseu pensamento.

Aliás, este está expresso comtoda a sua riqueza em outrasobras:"Stendhal", "Avec Balzac","Commentaires" (dos poemasde Valery), "Systeme dea"Beaux-Arts", "Visite au Mu-sicien", "Entretien au bord leIa mer". Todos esses traba-lhos estão repletos de observa-ções originais, demonstramuma notável acuidade de inte-ligência; são produções de umgrande realista que, além dis-to, é um grande intelectual.Ele faz distinção entre o en-tendimento, que pode nos le-var a um idealismo perigoso, ea razão, que está sempre _nl-da às coisas e que é o reflexoda observação e da experiência.

Mas, entendimento e razão de-vem se auxiliar mutuamente, tpor uma análise de sutileza

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Alain

curiosa, Alain insiste em de-monstrar como os dois podeme devem funcionar harmônica-

mente. André Maurois empa-relha-o a Montaignc e chegaa declarar que, dentro de cemanos, a sua obra terá na his-tória literária do nosso tempoa importância que a de Mon*taigne teve no seu.

Mas Alain não estará maisperto de Descartes? Sem dú-vida, assemelha-se menos ao"Que sais-je? do autor dos"Essais" do que à "Ia tablerase", recomendada pelo autordo "Discours de Ia Méthode".A dúvida do primeiro é a con-fissão de uma impossibilidadeem nunca atingir a verdade ea do segundo é um métodopara chegar mais seguramentea essa verdade.

Ora, Alain acredita na ver-dade, mas tem medo da suailusão. Não quer ser engana-do. Acredita no homem, masquer atingir a realidade do ho-mem, sobretudo sem ultvapas-sâ-lo. E", como se diz, um"terrien" e é com esse cará-ter que, em livros como "Lesidées et les ages" ou "Esquis*ses de rhomme", julga insti-tuições geográficas, „ históriahumana. **

André Maurois nos diz que éimpossível destacar um sistema

filosófico de todos os e«crítosde Alain c evita tentar isto.Mas sc não há com eleito,uma verdadeira filosofia, haum estado de espirito que mar-ca a sua obra inteira, e esseestado de espirito é o do ra-dicalismo. A esse respeito, oseu livro mais característico eo que publicou em 1925, sobo título: "Elément d*une Doe-trine Radicale". Dá, aí, umcaráter concreto a todos oiprincípios sobre os quais re-pousa a República. Procura omeios de salvaguardar todas p-nossas liberdades contraexcessos da autoridade, q* tefazem nascer as crises e asguerras. Mas desconfia detudo o que não é nem prátco, nem realizável. A sua íórmula é "pensar no sujeit<\que é o único objeto de ;en-saraento**.

Esse realismo, nele, está de.acordo com uma alta concep-ção da virtude cívica, tal comoa compreenderam e a pratica-ram os heróis da Antiguida-de. E' o autor de algumas dasmais nobres palavras que, nonosso tempo, tem sido ditas sô-bre a liberdade humana, sobreo poder da vontade, sobre alegalidade que se trata de *on-ciliar com o direito e sobre oexercício da justiça, que devepermanecer em harmonia cuma prática da equidade.

O estudo tão inteligente etão caloroso de André Mauroiscontribuirá para que seja me-lhor conhecido um dos pensa-mentos mais ativos e mais lú-cidos deste meio-século, e pa-ra situar Alain no seu lugar,que é entre os primeiros.

O romance é produto deuma audaciosa expe-riencia humana. Todo

romancista ilustra, através desu.t obra, o "caráter" que eleposui como criador de tiposex.epcipnais. "E* sua funçãoíazer viver as próprias paixõesno momento em que elas semanifestam". O romancista nãout liza metáforas, uma vez que"todas as personagens de umaobra de ficção são (de um cer-to modo) o seu autor.

Rarissimas vezes, no roman-ce brasileiro, tem sido expio-raio o axioma da inconsequên-cia. Poucos têm sido os que. ¦.bem que "o romancista detal modo se deve identificarcoi-i as suas personagens quere. ja perante- elas como reagi-ria perante criaturas humanas.E' inútil insistir com o roman-cl: ta brasileiro, dizendo paraele que "um romance é essen-cifümente um aprofundamentodo homem". Um José Lins doRf'30, por exemplo, desconhecequa "o romancista é um no-mcni de ação malograda"...

Por iiso, c romancista nossovive se esquecendo que a suaobra carece da faculdade atl-va indispensável para dar sen-tico à:. coras estáticas e con-cretas da obra de arte. Ele seesyjsie ciue romance é examede* consciência, fuga à realida-de, captação surpreendente doreal. do irreal, do abstrato; doconcreto, do Kiovènte e do es-tít:co Ele -e esqueço que k'o^nancista d;/* \r ac encon-tro da realidade e da própriavida traduzida em imagens eeentimentos". ao invés de fa-per um simules relato da rea-.idade e da vida. numa repro-dução fiel que a arte não im-plica. Ele se esquece, igual-mente que é preciso que "o ro-mancista tenha coragem de seam^ua- a si mesmo e à prõ-pr*a verdade que sunõe poderatlngr". a fim de alcançar oamaeo de si mesmo e da suaverdade nor intermédio da•Üráásmwtaçãò que toda obra tíearte c-x'ge.

Estas considerações pre''mi-n&r°" comentando algumascorif^ên-iFs de João GasparSimõe~ vêm a nropósito do_üin.*?~nTTito do ultimo Yvio deMaria d^ Trnird"' Taixelra. "OBarro *e Tris teres^. livroeir» r-"> p e^íitòra fr-5* a. suaest-éia **o eênêrp da ^web*;*.ma'_ '•¦""""¦'""'i máiô honesta

E::i -O Banco de Três Lu-

O BANCO DE TRÊS LUGARES

gares", a romancista despre-zou a sua verdade, a fim deconhecer, ultrapassando e re-criando, a verdade possível dosseus personagens -arrancados avida. Milena, quase sempre,parece ser o retrato da sua au-tora, no que a realidade dascoisas permite que uma perso-nagem seja o retrato do seuautor. Aos poucos, porém, va-mos desprezando "a priori"também essa idéia, já que Ma-ria de Lourdes Teixeira abso-lutamente intentou a autobio-grafia, mas intentou, isto sim,fazer da verdade de sua perso-

REYNALDO BAIRaO

nagem central a sua própriaverdade.

Então, conforme vamos nosaprofundando naquela perso-nalidade de menina, descobri-

mos a complexidade desta per-sonalidade de adulta. Esse po-der de frequenje integraçãovai-se-nos tornando, cada vezmais, admirável e objetivo. En-tretanto, súbito, já não sabe-mos se Milena é a romancista,ou se a romancista é que é Mi-lena. Uma guerra de nervostoma o leitor de repente e jánada existe de convencional napsicologia empregada à crian-

ça e demais personagens quea cercam.

Não resta a menor duvidaque a personagem de um ro-mance é produto do meio emque vive e em que aparece. E,não resta a menor duvida tam-bém, que "as personagens dosromances são confidentes dis-cretos" do romancista que ascriou. Um absoluto divórcio,entre o criador e a personagemcriada, é possível e, muitas ve-ves até aconselhável (V. "Ulis-ses", de James Joyce). Em "OBanco de Três Lugares", en-tretanto, semelhante integra-

Encontro com T. S. Eliot(Conclusão da Ia pág.;

impressionou. Data essa leitu-ra da época da sua visita aPortugal, visita que recorda,citando, em pormenores e comos seus próprios nomes, os lu-gares c as coisas belas que viu.Fala vagarosamente, enquantobebe o seu chá, e as suas pa-lavras chegam até nós repas-sadas daquela volúpia de _uernnasceu para falar de literaturae de arte. Lamenta não conhe-cer Fernando Pessoa, de quelhe falo longamente, .lindanão leu a nova tradução de"Os Lusíadas", que acaba desair nos Estados Unidos, e queé, segundo dizem, a melhort.adução inglesa do poema deCamões. E pergunta-nos se ai-guma das suas peças já foi re-presentada em Portugal. Apc-nas a primeira, Murder in theCathedral, respondo-lhe, háanos, no Instituto Britânico deLisboa, no tempo em que umasociedade poética, animada pe-!o meu amigo Charles DavidLcy, obrava prodígios por amorda poesia inglesa e da poesiaportuguesa. T. S. Eliot staa escrever uma nova peça,diz-nos. Pergunto-lhe qual darsuas obras teatrais prefere.Mostra a sua preferência pelaúltima The Co:I.taü!Pa>,ív. Pormim, tenho a franqueza de T;ie

dizer que prefiro The FamilyReunion. E chegamos a acordo.

— Quando escrevi essa peçaconhecia muito pouco a técni-ca teatral. E' uma peça aindainábil. Mas reconheço quetem mais beleza do que a últi-ma. A última é, porém, umaobra mais madura do ponto devista dramático.

Abordamos o problema doteatro poético. Digo-lhe dequanto me surpreende que emPortugal os poetas, que sãotantos, apoiados numa tão an-tiga tradição, a tradição quevem do século XVI, não escre-vam para o teatro, e que onosso teatro esteja ainda nafase realista. T. S. Eliot fala-nos a sua concepção do teatropoético — do teatro em verso.E diz-nos que a linguagem deuma peça e o seu tema sbo oudevem ser inseparáveis: devemfundir-se de tal maneira _ue opúblico não se aperceba s.e elaestá escrita cm verso ou emprosa. Por isso reprova as pe-ças em que se associa versoe prosa, a nbo ser quando é in-tenção do dramaturgo provo-car transições bruscas de at-mo.fera, como é o caso do L ha-kespeare. Como as suas idéiassobre o assunto foram c\pos-tas numa conferência que rea-lizou nos Estados Unidos, ofe-

rece-me o seu trabalho, edita-do pela Universidade de Har-vard que acaba de sair, e ain-da não está á venda na Ingla-terra.

São horas de me retirar. Aconversa durou três quartos dehora. T. S. Eliot, depois deautografar os exemplares Fa-mily Reunion e dos CollectedPoems, riscando, previamente,com dois traços, o seu nomeimpresso no frontispicio doslivros — levanta-se e acompa-nha-nos até ao ascensor. Opatamar da escada está cheiode pacotes de livros. Pede-nosque contornemos as montanhasde papel impresso e é ele pré-prio quem abre a porta do as-censor do outro lado do pata-mar, despedindo-se de nós coma serena afetuosidade com quenos recebeu. O ascensor Ireu-xe-nos até ao rés-do-chão deFaber and Faber. Passamos denovo entre montanhas de papeiimpresso, e quando chegamosà rua, a primeira coisa que fizfoi procurar com a vista a ja-nela de Russell Square atra-vés da qual eu tinha visto agloriosa cabeça do maior poetavivo da Grã-Bretanha simbottcamente coroada de loiros..,

ção é que traz a marca da rea-lização perfeita e consciente.

Milena conta a sua história— história simples, humana,verdadeira. Ela está abando-nada num colégio interno, co-légio de freiras, uma vez queos seus pais estão viajando pe-

Ia Europa. Sofre porque estásozinha e porque necessita docarinho mais incompleto, maisrudimentar. Milena é umacriança como todas as outras:Precisa que a sua verdade se-ja respeitada integralmente, adespeito mesmo da sua poucaidade e da sua nenhuma com-preensáo. Acontece, porém, queela desconhece positivamenteo que o destino lhe reservou.Milena ignora ainda a cruel-dade da vida. Ainda que viven-do dessa crueldade a todo ins-tante. Ignora que somos bo-necos manejados por fios in-visíveis e que vivemos satisíei-tos. apesar disso. Quando eladescobre os fios, é tarde de-mais. Sua mãe está pratica-mente morta, pois a loucuraInutilizou os seus possíveis ca-rinhos... e a sua vida futura.

Aliás, este halo de loucura,que perpassa todas as páginasde "O Banco de Três Luga-res". foi explorado dentro deuma linha poética realmentesurpreendente. Um mistério m-decifravel atravessa esta obra,sentindo o leitor que e a lou-cura esse mistério insofismávele trágico. Considero um gran-de momento da literatura bra-sileira contemporânea o en-contro de Milena e de sua mãe.louca, percorrendo aquela in-findavel parede de fotografiasantigas Considero do raeinorque se

"tem feito, ultimamente,

aqui entre nós, toda a partereferente à recapitulaçao dopassado - mescla de P«*£ erealidade, desespero e eonten-

Há a acrescentar que Mariade Lourdes Teixeira é uma es-critora cujo estilo melhora <h*a dia Acredito, sinceramenteque num futuro proxuno euserá um dos nossos prosanor-mais representativos podendofigurar entre um GracihanoRamos e um Cornélio Pena¦ uBanco de Três Liwaref. obraplenamente vinzada. é arre-batamenío e edificação. A es-trutura deste livro me parecefundada numa tradição nter°"ria iniciada por Machado aeAssis e interrompida- ainda »*oouco. após a nubliraç^o o°"Amamiense Belmlro", de çy-ro dos Anjos.

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Domingo, 5-8-1951 7. E TRA S E A R TE S Pagina

\jS\ ÓOS CrJtIClM de PrOU t

UliUUl

pnfer i viai COU3 Onulor Desembaraço bóbreo toripa perdido e a<«h;»-

0<», porque nu verdade conhe-cia página u pagina aquo-jíi compacta obra: fraturaraurna perna, Ura Mareei, por«ridentc. F.m ccrtr.s pontas,Ar.iiel parece Prou?t.

As deiesseir mil páginas le-gaüas u humanidatte como omais real depoimento de umhomem que ao conversava deverdade consigo próprio, com oseu umbigo, que procurava re-médio às suas chagas, ou soli-cilava suas salvações, não en-centradas em ninguém c cmcoisa alguma desse mundo, fa-zem Amiel tão prolixo comoproust. É um terrível diáriotortuoso, repetido como a pró-pria vida quando é contada aopc-da-lctra.

Nesse diário Amicl reiteraconfidencias sentimentais, quei-sas sôbre a sua saúde (nesseponto tão semelhante a Mainedo Biran!) suas apatias, de-pressões, sua incurável fraque-za de vontade, suas esquisiticese seu caráter, lio correr des-gas milhentas páginas as repe-lições são incontáveis. Aliás es-sas repetições são plenamentejustificáveis por um dos seusmais agudos analistas — Bou-vier. Amicl acostumou-se a

A PROPÓSITO DE DIÁRIOS

pensar, a neuu/;r <• a represou-tar suas sensações conformeura teor estritamente hegeliano.Isto é, um primeiro lugar o fa-to local animado naturalmentedas notações pessoais do ar-tista; depois, a totalidade comns suas Invenções inesperadas,os seus achados magníficos, asíntese c a generalização cullu-ral e filosófica do mcmorialis-ta; enfim o axioma que constada reversão ao pensamento ini-ciai, à conclusão com um leit-inotiv angustioso, com as efu-soes românticas mais poéticase sensuais, com o mais purodos idealismo», c tantas vê-7.cs com a mais transparente clírica dedução que jamais hou-ve.

Puro Hegel, pura progressãohegeliana com as suas aparen-tes slnuosidades, e que pararim gramático n&o treinado cmfilosofia deve ser o maior aten-tado ao bom gosto e às suasregras.

Amiel iniciou o seu jornal aosvinte e seis anos, e até aos

JEAN

Guéhenno desconfiasempre das biografias,gênero literário fácil ebastardo, que antepõe a

história quando não, histó-xia6 — ao estudo direito daobra e do pensamento de umautor ou de uma geração lite-rária. E, entretanto, se consii-sva há íários an.,s a um longoestudo biográfico de Jean-Jac-quês Rousseau, cujo primeirovolume apareceu há mais dedois anos e o segundo nos le-va até os anos 1757-58, essestanos capitais em que Rousseau,jjá célebre, elabora a "Nova-Heloisa" e o "Contrato Soei-ai". Mas nada, precisamente,é anedótico na vida de Rous-Beau, "cidadão de Genebra",mártir de uma sinceridade ode uma pureza que quanto maisexaltava em sua obra menosconseguia realizar na sua exis-tênçia concreta, visto que Rous-seau nos reconduz quase sem-pre a Jean-Jacques; autor, elepõe a sua dignidade em valerapenas como homem, e issoem um século em que a eon-dição de escritor estava em umperíodo de transformação, emque, segundo a bela fórmula deGuéhenno, "o mesmo homemque era as vezes tratado comotira "valet", se julgava ao ser-viço de uma nova honra, ho*mem de letras no mesmo sen-tido em que noutros temposse podia ser o homem de togaou um homem de armas".

Diderot, Voltaire aceitaram asua condição de homens de le-tias; aceitaram as obrigações,ms camaradagens, as rivalida-des também e as ppquenesesda República das Letras que,graças a eles, estava na fasede se formar. Jean Jacques naoconsentiu nunea nesse jogo; eraum homem de letras, e quisganhar a vida como cortesao,copiando música; era um es-crltor de gênio, e quis ser ad-mirado como homem, herói evítima de um destino exem-,plar. Decidiu viver doravante«a verdade — "vitam impen-dere vere" — e a sua situa-cão precária, seu passado ds«boêmio e de aventureiro po-bre o condenavam a perpétuasmentiras, a um incessante tra-nalho de justificação. Um sóexemplo basta paia medir oparadoxo dessa existência. Sa-be-Se que Rousseau abandonou«eus cinco filhos à AssistênciaPública, quando devia escre-ver um dia "Emilo", e con-turbar as consciências por es-se tratado de educação e dapedagogia. Hipocrisia, respon-dem seus amigos; inconsciên-cia. irresponsabilidade, replicao historiador ingênuo. A ver»dade é mais singular: pai de

JORGE DE UMA

sessenta anos de idade não oInterrompeu. Durante os seteriltlmos anos de sua existência,desesperançado de viver, desuo-bra-se em considerações sôbrea morte com quem andou ladoa lado durante todo esse pe-ríodo. :•:. como tudo houvessedissecado, não seria a mortemie escaparia às suas especula-ções. Até próximo ã agonia, to-ma notas de última hora, e nosconta coíbas sóhrc os prepara-tivos da pré-agonia, da "fa!-ta de ar que o começava aoprimir para sempre". Tiran-do pai tido da morte, deixoupara os vivos realistas, um vo-lumoso jornal de cxi>criênciase de observações como estu-dnute do mundo que semprefoL E tendo sido extraordiná-rio romântico, acaba como frioanalista do racional.

Proust havia de imitá-lo co-mo o seu mais genial discipu-Io: e realmente o imitou até naobservação de seus últimos mo-mentos sôbre a terra. Disseramqne Proust escrevia péssima-

mente, que era prolixo demais, eque num tempo um que Anatolebrilhava com o estilo mais ali-nnado possível, mais conciso «•mais de acordo com as regrl-nhas do escritor para antologl-as, Proust perdia-se em divaga-ções, em slnuosidades e repeti-çCes de autoanalista em que otempo se dissolvia c o espaçofreqüentemente se a panava. DeAmiel assegurava-se que escre-via francês como um alemão.Parece que nem tanto o estilomas positivamente uma certamaneira de pensar e de mani-festar seu pensamento é todoalemão.

Nomeado professor de Esléti-ca e Literatura Francesa naAcademia de Gênova c maistarde para a cátedra de Filo-sofia Moral, Amiel levou amaior parte de sua vida nessaGênova de quando a sociedadede que êle surgiu entrava emplena decadência da sua ad-ministração e educação.

A cultura alemã foi-lhe en-tão nm abrigo c uma fuga, Mas

O ENIGMA -- JEAN-JACQUES ROUSSEAU

cinco filhos, Rousseau ter-se-Ia gasto nesses "escritos quea fome dita"; ou teria ainda

JEAN-LOUIS BRUCHaceito as ofertas de Francueil,feito seu caminho na burgue-sia e deixado de ser uma con-

tradição viva, o acusador e aconsciência do seu tempo. JeanGuéhenno quando aí vê o efei-

'..••¦-'

li

§Do "Álbum ds Viagens ", de IBiRÉ CAMARGO

a formação francesa r o há-bito Renoves haviam de lheImprimir recalques de que Ja-mais pôde libertarão.

DttfQ choque de culturas, se-dimcutarain-se nele complexosinexoráveis. Um excessivo pu-dor em assunto de publicidadenunca permitiu que enviasse àestampa a sua obra. i: estanem se pode chamar anto-cn-tlea. antes uma anotação con-tinua de seus próprios ponta-mento*. uma introsoecçáo vec-mente, nua, crua. dentro daverdade, dentro de uma cio-eumentacão que mais pareciade homem de laboratório doque de pretenso literato. Te-meroso das realidades revóltt-c lona rias de sua época, d"s-crcütc delas, sempre propaloua superioridade das elites so-ciais e sua crença na inferio-rldade das massas que achavaimpotente para a ação p-in i-pai da atividade humana - aação do pensamento. Khia eraa preeípua ação que concebiae que realmente o empolgou itéá morte. Esses milhares de j a-ginas de auto dissecação c r iode auto-critica documentr mmesmo a vida do homem <íepesquisas, do homem que i i-trou cm si próprio para eS-preitar a vida íntima das a!e-lhas que produziram o melmais amargo desse mundo.

to de uma necessidade ine-rior paradoxal, tem razão: "rio

podia escapar a seu gênio asi mesmo. Era mister que cieíosse um "pai desnaturatV'para poder escrever um «*ia"Emile".

Assim, cada acontecimento iesua existência contribui a m-cerrá-lo em uma monstra sasingularidade. e em uma s< i-dão moral cada vez maior. Pi e-<para-se em Jean-Jacques aqiia-le interno que devia leva Ioum dia à loucura. Didí*ot co i-ta-nos uma cena horrível, aque assistira em dezembro de1757; Jean-Jacques. em br?':acom Madame Epinay e a * 3-lha Le Vasseur, agitava-se f'i-rioso, comtf um condenado. Di-derot ainda não era o inim: r.airreconciliável, sua indignarianão era fingida: "Não qu< otornar a ver esse homem, rs-crevía ele. no entanto, aGrünm; far-me-ia crer rosdiabos e no inferno... Seisgritos cheeavam ao fundo dojardim..."

No entanto, Jean-Jacques searvorava em Juiz e acusar" ordeste mundo, onde não tini-a,aos ctyquenta anos. nem i mamigo, nem um amor. Sua , i-da, sua obra tornavam-se (ia'a dia e cada vez mais um t-.i-temunho sob um horizonte MoApocalipse. Desde o seu p i-meiro "Discurso*', deu-se a sLmesmo como suprema refere í-cia. dirigindo-se ao seu lei orcomo se estivesse na barra lenm tribunal. "Cidadão de vmpaís livre", e "membro do n-berano", escreve o "Contr? toSocial". Consciência encerradaem sua singularidade, escreeas CíConfissões" diante deDeus, e desafiando a huma-aiidade inteira: "oue a troi.i-beta do juizo final sôe quan-do ela quiser; eu irei, com es-te livro na mão. apresente r-me diante do soberano Juiz.. **

Seria fácil ao psicólogo te-nunciar em toda essa obra umtrabalho de compensação ver-bal e imaginário, em face dasdecepções e das baixezas daexistência efetiva de Jean-Jac-quês; seria fácil, mas injusto.Com efeito, a obra de um es-critor ocupa em sua vida umlugar que não é o das confis-soes, confidencias e aspiraçõesdo homem ordinário. "Os li-vros são os atos mais autên-ticos de um escritor", observa'justamente Jean Guéhenno, esobretudo quando eles nos pro-vam que a sua própria reto-rica tem um acento capaz daapaixonar os homens.

Compreendem-se as paixõescontraditórias suscitadas pelavida de Jèan-Jacques. Os con-

(Conclui na 4a pag.)

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Página — 4

O SENTIDO de vida, napoesia moderna, vem deLouhe Alfredo Victor do"Vigny. Bem certo andou quan-

do escreveu: "Quem náo vaipara diante, caminha paiatraz". O poeta de "destinee"Baudelaire, Rimbaud, vêm dai,dessa lonte maravilhosa que éa poesin-vida. Uns não queremcompreender a plenitude dessapoesia, cheia de vida, que 6mais uma mensagem de sim-plicldadc do que o orgulho doestetismo poético. E' um anseiopela Beleza. Poucos, ás veze.-i, ocompreendem, porque ele é ummistério em plenitude de umsacerdócio supremo. Dizem quoBocácio afirmara que poesia éteologia. De fato, no poeta ver-dadeiro, desses magníficos queformam''na fsente dessa poesiasuperior, é uni angustiado quetenta dizer o estado de almacm que se debate, na ânsia su-prema de uma libertação in-contida. Foi Haecker que disse,estudando a poesia de Virgílio,que a nota fundamental dapoesia virgiliana era uma co-: > qualquer coisa que se defi-msse como sendo "FALTA"Essa "FALTA", que é um es-tado de espirito próprio, é quedá .-jf-ntido à poesia modernacom Charles Peguy, no Poemc-to "A NOITE".

O poeta vê nas coisas domundo, um mundo de coisasque ele sente e deve dizer a seumodo, livremente, sem preocu-pações de rimas, de métricas fi-xas. Deve dizer grandiosamen-te, livremente como é a vida nasua simplicidade, sem o espar-tilho de certos preconceitos deformas que atrofiam a idéia.

Simplicidade na poesia, querdizer quase sinceridade. Um

L E T R A S E rA RT E S

POESIA E VIDA

desespero como o daquele no-lavei c infeliz que foi LconBloy; uma incompreensão pe-rcncmcntc vivida como a dePeguy; uma técnica e uma sen-sibilidade como a de Portinari;uma loucura maravilhosa comoa de Nijinsky; u'a musica deum Rimsky - Korsakoff, de umProkovieff, de um Stravinsky,— são fontes eternas desse no-vo espirito da poesia contem-poranea, na sua pureza de vi-da, do sentir, do dizer.

Mário de Andrade, na "Pau-licéia Desvairada", naquele su-blime "Ode ao Burguês", re-trata o que todos sentem, numestado de vida atual, naqueledesabafo puro c sincero que éum exemplo do poesia nova.

Jorge de Lima, Raul Bopp,Carlos Drummond de Andrade,Pedro Dantas, Alphonsus deGuimaraens Filho c tantos ou-tros, encarnam esse sentimen-to de vida nova na poesia mo-clerna.

Tudo encerra, no fundo, ummovimento de libertação. WaltWhitman na América do Nor-te, e Manoel Bandeira, com seulivro "Carnaval", foram comMário Andrade, os que mani-festaram bem essa libertaçãopoética. Nada de rima, de me-trificaçáo, de pontuação.

Essa poesia náo tolera o aca-demismo, não aceita bancos deescolas. Essa poesia é uma éter-na "PRESENÇA", como emo-ção estética. Nao é arte de ar-

ANDRÉ' ARAÚJO

te ou pela arte, com a preocu-paçáo da forma, sentindo co-movidamente a realidade davida.

Não vale a pena aqui umapenetração na questão do valorestético, naquele sentido deBenedetto Crocc: Futurismo,modernismo, cubismo, dadais-mo, super-reallsmo, impressio-nismo, expressionismo. Nadadisso, por enquanto.

Certos símbolos, certos pro-cessos líricos, combinações depalavras bombásticas, senti-mentais, náo fazem nem expri-mem o que seja a poesia.

Nisso sigo o ideal dadaista:"Só o que se diz expontânea-mente é poesia".

Náo quero penetrar no com-po do conceito filosófico depoesia, mas dizendo que a novaforma que sigo é aquela queaconselha: palavra em liberda-de ao serviço da interpretaçãoda vida e das coisas. Homero,Dante, Camões, Mallarmé, Rim-baud vieram até nós, atravésdesse sentido de liberdade, dereação contra o tempo e suaépoca: a palavra a serviço daliberdade; da justiça que sem-pre foi, na vida em fora, a poe-sia nas suas diversas fases delibertação, que sempre foi osentido de superação com queum mundo substituiu outro.Sem que haja estudado sob es-ae aspecto o sentido dessa poe-sia que todos nós vivemos, po-demos asseverar que houve

sempre essa sonhada liberdadede que exultamos hoje, em to-das as manifestações da poe-sia nova pela poética antiga,mesmo na fase trovadoresca:liberdade de compreensão nostempos longínquos; liberdadede fazer arte pela arte nos on-tanhos; depois um sentido antl-poético contra a velha poesia;depois uma espécie de desu-maniznção da arte com o Uris-mo excessivo c doentio. Assimse veio formando a poesiaatual, até á sua fase de vidaprofunda, psicológica, doentia,com Baudelaire ou Wilde.

Hoje essa exaltação mognifi-ea de beleza, de vida e de sen-tido novo, que é um perfeito eprofundo mergulho no mundointerior, desprezando as for-mos, na exteriorização dessegrande universo que é o sentirhumano livre e puro, sem peiasno campo da poesia excelsa emagnífica.

Essas considerações acimavem a respeito de dois poetasadmiráveis, que, graças a umamigo comum,. venho de conhe-cer: Geir Campos com o seuesplendoroso livro "Rosa dosRumos", e Thiago de Mello,com o seu admirável "Silêncioe Palavra", dois poetas novosque pensam profundamente,com multa filosofia e eom mui-ta liberdade. São apenas poe-tas libertos, livres, almas aber-tas para o infinito, vivendo a

/

Dominga 5-8-1951

beleza da pura poesia de Rim-baud, de Apollinaire. Tenho aimpressão de que são discípu-los do grande Manoel Bandci-ra, porque eles tentam abrirnovos rumos aos que nascemparu o drama ou para a trage-dia da poesia.

Sinto que eles não têm deli-roitações, vivem para o infini-to, são receptaculos das intui,ções do Ilimitado, do Impalpá-vel, do Sutil que há na vida doshomens: angustias, belezas in-teriores, inspiração iluminadaque as grandes coisas da vida eda existência comunicam aosque são poetas como Mallarmé,Valery, Lisle. Raros são eles.Para senti-los precisamos terfaculdades especiais, sermosdotados daquilo que alguémchamou: ofetividode pura, co-mo em Verlaine, Verhaeren.

Quem quiser compreenderhomens como Manoel Bandei-ra, Geir Campos ou Thiago deMello, precisa ter antenas afe-tivos, intuitivas, um grandegrau de fraternidade universal,porque eles são como enviadosda luz, do espaço, de qualquercoisa impalpável, imponderá-vel, mos que é, em verdade, averdadeira realidade. A lógicacorriqueira dos homens co-muns entrava para eles a com-preensão; atira para fora daórbita humana, essas sombrashumanos da. beleza universalque passam quase que, silen-ciosamente, pela vida e pela

As elegias de Geir Campos eos poemas de Thiago de Mellosão sombras gigantescas daterra, no grande silêncio geoló-gico dos mundos, para a vidatranscendental de todos oe ho-mens angustiados, \

DO autor podemos dizer —

e é dizer muito — queé um escritor original,embora não chegue a ser

revolucionário. Originalidadenáo nos temas, que estes são¦empre os mesmos, mas nomod0 de tratá-los.

Saldanha Coelho conse g u ecaptar um pouco de emoção etransmiti-la, valendo-se paraisto apenas do essencial e des-presando o acidental, como su-pérfluo, incluindo como aciden-te a própria trama, principalelemento do conto clássico. Os¦eus contos não são históriase. se há críticos que lhe ne-guem entrada no gênero, en-tão será necessário que essesmesmos senhores descu b r a muma nova denominação paraestas páginas de prosa sem pénem cabeça mas plenas de hu-mánidádé e beleza. .

Os treze contos reunidos em"Mural" giram todos em tôr-no da loucura e da morte. EmSaldanha Coelho, entretanto, aloucura não assume aspectotr;" eo — antes é o recursoprimário de criaturas tortura-d - na ânsia de reconquistaruma felicidade que possuíram

,e que perderam. A loucura, co-mo anulação do tempo e fixa-ffto da vida em determinadoespaço psicológico. Nela a vi-ida se condensa e torna-se es-¦jsencial, despojada de clrcuns-táncias. A vida se limita masanem por isto deixa de ser vi-

"MURAL 99

HU3EPPE UNGARETTI(Conclusão da 7* pág.)

baud: "Que comprendre h maparole? ".

¦I Com seu processo ou sua téc-fedea, síntese dinâmica de um

[(espírito inquieto até à forma,

fjüngaretti trouxe à Literatura-Italiana novas dimensões doiBer, novos universais, novos va-•lores de sensibilidade e umContingente de símbolos que lhedá, a ela, uma força reflexivafeltre as grandes literaturas daEuropa.

LEDA BARRETO

vida integralmente, tanto maisIntensamente quanto mais con-centrada em tomo do fatocentral. E' o triunfo da vonta-de sobre o destino, do desejo,que enfim se realiza no planoda imaginação. O louco estáprotegido pela própria loucurano seu mundo exclusivo, o des-tino não o perturba, nem mes-mo interfere, exceto quando le-va a morte.

fi o caso de Beatriz, a noivadesprezada, que fez parar osponteiros da sua vida nas vês-peras° do casamento e acaricia,com as mãos enrugadas, o ve-lho vestido de cetim branco. Elaé feliz assim, imóvel no tempo,sem dõr e sem prazer, vivendoo seu instante de doce expecta-tiva. Assim também é Venán-cio, que voltou ao tempo emque a lnfidelldade da esposanão o havia tornado um des-

graçado. Me mesmo forçou asportas da loucura, procurandoinconcientemente na insãnla achave de um mundo perdido.Esquecer a infelicidade era umaforma de destruí-la, e sobre oesquecimento ele plantou a suaesperança.

A própria morte também àsvezes se apresenta como res-posta a um secreto desejo:morre "A Bailarina", em pia-no bailado, num suicídio In-conciente. Ela não pensava emmorrer mas o seu corpo depo-sitou a vida aos pés da alma,que desejava apenas partir pa-ra d mesmo "mar parado efrio" que já levara alguém.Aliás, se tivesse que escolherna coletânea, este seria o meuconto eleito. Ninguém poderáfugir ao contagiante lirismo daquase imaterial figurinha debailei' E, por outro lodo, nln-

guém deixará de sentir, em-bora sem notar, 0 amargo

"der-

rotlsmo daquela morte aporen-temente tranqüila B a mortede Joana, esta casual ou fa-tal. velo no momento exato,quando só a morte resolveriaaquela existência frustrada.

Frustração — é o que im-pregna a obra de SaldanhaCoelho. A loucura e a> morttsão a solução mais fáclí paraos espíritos frágeis, pobres cria-turas amedrontadas pela rude-aa da vida. ,

Os contos de "Mural'' n&ocontam mas dizem alguma eol-sa. E dizer é mala do que con-tar. Em outras palavras, oocontos de Saldanha Coelho são

EIS-. O ESCRAVONORMAS, NORMAS E MAIS NORMAS

ERGUEM MURALHAS DE GELO.

7 V PALAVRAS E MAIS PALAVRAS

CAVAM POÇOS DE SILÊNCIO.

.-¦( ¦ •"•¦¦¦'• '¦¦ "'¦**

EIS O ESCRAVO QUE FOI REI.7 "' -¦' •;>-.i •" ;' *"-* 7;* , y."f

; E QUE A;SOMBRA DAS MURALHAS, *

ENTRE POÇOS DE SILÊNCIO

SEPULTOU SUA COROA. W Í

IDELMA DE FARIA

obra de arte — poesia numsentido amplo — independenteda forma. Pois a narração con.vencional, para atingir a fina-lidade da obra de arte, é umaparábola, cujo sentido é a su-gestão que fornece. E Salda-nha Coelho dispensa os episó-dlos anedóticos e as caracter!-«ações materiais: ele diz dire-tamente o que quer dizer naúnica linguagem que se podetornar universal — a sugestão.

*—

O ENIGMA - JEAN 1A0UESBOSSEAU

(Conclusão da 3." páff.)temporáneos, os mais próxl->mos, não podiam tomar parti-do com toda a, sua alma. Moscompreendem-se menos as cri-ticos que, como o próprio Rous-seau, se metem a julgar comose fossem testemunhas no Jul-bo Final, ou que crêem poder,condenar absolutamente Rous-mau ou seus adversários. JeanGuéhenno é, talvez, o primeiroque se apaixona sem transfor-mar seu escrito em libelo, queevitou a frialdade do historia-dor objetivo e a parcialidadedo cúmplice ou do acusador..Esta biografia é a obra de umensaísta — ou, como se diziano séeulo XVTI, de um mora-lista — e também de um cri-tico literário; para Guéhenno,um homem de letras é, primei-ro, uma consciência militante,)um homem que tem a dar-noso seu testemunho. Eis por que,aliás, certa afinidade o Mga aiRousseau, e a toda essa Ute-<ratura militante do séculoXVIII, que não se contenta,procura apaixonar o engajar oshomens.

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&m

Page 5: LetrasãÂrtes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1951_00218.pdf · Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna

Domingo, 5-S-1951 LETRAS li A RT II S Página — 5

NO Largo de Cima, além

do Bazar, havia, de no-tável, o Mercado.

Era famoso pelas más lin--nas oue ali se homiciavam.raiava-gc mal de tudo e de to-dos, esquadrinhava-se a vidado prox-mo em seus mais re-conditos desvãos, a sabia-se,com antecedência, de tudoquanto ia acontecer na cidade.

Não se poupava nem o Pre-sidente da Câmara e AgenteExecutivo Municipal, a quemcompetia arbitrar o aluguel daslojas ocupadas por aqueles im-penitentes. linguarudos. Aluguelque, segundo o parecer da opo-«•(ção, era uma ninharia, umescândalo de filhotismo. Comtudo isso, o Presidente não es-

capava aos faladores, que, à bo-ca pequena, lhe comentavam osnamoros, não omitindo porme-nores sobre certos encontros .matutinos no fundo da cháca- .ra do velho Custódio.

!•:, quanto ao Coronel Pes- ,ouclra, o mínimo que faziamera recomendar, às pessoas que .tivessem o propósito de procu-rá-lo, que tomassem a precàu-ção de abotoar, antes, os boi-

sos. E acrescentavam a titulode esclarecimento:

— Olhe, é üm sujeito capazde ficar de. emboscada à por-ta dá escola, para roubar me-renda aos meninos!

Exagero flagrante, cm setratando de uma figura cons-pícua, a quem Santana do RioVerde tanto devia, Suspicaz epÒFsiinista quanto aos móveis

NÃO imágihó o gênio sem

a coragem..XXX

.. Pesei todos os males que mepoderiam vir ãe ceder a esseprimeiro movimento, e em se-guiãa, cedi.

xxxX faz as coisas com um ar

âominaâor. Y faz as mesmascoisas sem êsse ar. Y é princi-pe.

xxxE' o meu medo que desarma

o destino. Não sou daqueles queo provocam por jatancia. Po-der-se-á crer que quando eucurvo o âorso êle vai fulmi-nar-me. Mas, ao contrário, êlesente que o respeito:

xxxUma criatura âe tal manei-

ra impaciente, que se impaci-enta pelo fato âe ver os outrosnão se impacientarem. Porexemplo: exaspera-se ao verque certas pessoas, quando ogarçon as faz esperar, no res-taurante, não protestam,

xxxE' aãmiràvel que a mais alta

transcendência e o mais avisa-do realismo aconselhem, igual-mente, o perdão das injúrias,

xxxConto' fazer alguma coisa por

ela, mas.só fazê-la quando»formuito tarde-

JL> JU %X/

Há pessoas que se respeitam

MERCADO DE SANTANA

.*-

0 APELO DE BÂLBECHá algumas semanas, Paulo

Ronai, a maior autoriâaâe bra-sileira em assuntos ãe Balzac,foi fazer uma conferência sô-bre o autor ãa "Comeãia Hu-mana" nó Recife. Achava-sepresente à conferência o poetaJorge âe Lima, que foi a Per-nambuco a fim âe visitar seuirmão, o poeta Matheus ãe Li-ma.

Após a conferência, Jorge deLima usou da palavra e fez umapelo a Paulo Ronai no sentiâode dedicar a Mareei Proust amesma erudita paixão que oconferencista ãeâica a Balzac.

Os círculos ão Proust Clubedo Brasil, através dos comenta-rios de Eustaquio Duarte eOctacílio Alecrim, consideraramesse gesto de Jorge de Lima co-mo um "apelo de Balbec", mui-to menos perigoso c mais im-portante do que o apelo de Slo-mimo...

das açóes humanas, o Mercadoteimava, porém, em procurar,no fundo delas, o egoismo e avaidade. No que concernia, emespecial, aos apregoados bene-fíclos que o município receberade sucessivas gerações de Pes-queiras, pensava o Mercado,como La Kochefoucauld, queo interesse fala todas as lin-guas e, na comédia da vida, écapaz de desempenhar qual-quer papel, até mesmo o dedesinteressado..

xxxSe murmurava contra os

correligionários políticos, nempor isso aquele valhacoito demaldizentes reconhecia as vir-tudes da oposição. Assim, demodo algum .se deixava em-bair pela demagogia do dire-tor do "Clarim", que vivia adcblaterar, cm seu jornal, con-tra os abusos dá Câmara. Assuas verrihás, opunha o Mer-caão esta glosa: "Qual, o queele quer é comer! Se estivessedentro do queijo a cantiga se-ria outra..."

E, hão pertencendo àquelamalta de liriguareiros, difícil-mente algum outro demolidorde reputações — franco atira-dor — conseguiria a sOlidarie-

CYRO DOS ANJOS

dade dela, A respeito de umtal, e bem colocado na socle-dade, observava o Mercado, Im-placa vel: "Está falando, mastambém aproveita quando po-de. E' tudo farinha do mesmosaco!"

Nem mesmo um modelar che-fe de família prudentíssimo eprobidoso varão, de quem nun-ca se contaram histórias ca-lantes ou negócios escusos, lo-grava passar incólume sobaquela metralha de línguas.

Sem se exprimir com a cie-gancia e a concisão do autordas "Máximas", o Mercadomanifestava opiniões afins. Egostaria de dizer, como ele, quemuitas vezes passamos por vir-tuosos, quando a preguiça e atimidez é que noS mantêm nalinha do nosso dever. Ou que,se conseguimos resistir às nos-sas paixões, devêmo-lo mais afraqueza delas do que à forçado nosso caráter.

Pudessem os murmuradoresdo Mercado formular os sempensamentos, poli-los, conden-sft-los sabiamente, e vê-los-la-mos cristalizar-se na lingua-geni daquele mestre de pcssl-mistas.

Assim, nem ás obras de be-

ncmcrència de certa virtuosasenhora lhes escapariam. Dl-riam que a virtude não irialonge se a vaidade não lhe fl-zesse companhia, ou que mui-tas vezes nos envergonharia-mos de nossas belas ações se

o mundo visse os motivos queos inspiraram...

xxxTambém era o Mercado fa-

moso pela variedade e discre-pancia dos pesos e medidasque ali se usavam e que só se«feriam, pelo fiscal da Cama-ra, quando mudava a política.Em todo o caso, havia nego-dantes honestos, que conce-diam aos fregueses um quilo denovecentas gramas, quando po-deriam reduzi-lo até oitocen-tas, como era de jurisprudên-cia pacífica em toda Santana.

Aos sábados, a maledlcênciasuspendia-se, por quarenta eoito horas, a fim de dar praçaaos feiraníes, que, vindos dasroças, atulhavam o Mercadocom as suas bruacas de man-timentos.

Náo se arriscavam as damassantanenses naquela promis-cuidade e imundície. Os paisde família é que faziam a fei-ra, acompanhados dé filhos

DOS CADERNOS ÍNTIMOSDE HENRY MONTHERLANT

e as que não se respeitam. Estasúltimas são as eternas venceâo-ras.

xxx-Há aqueles aos quais perdoa-

mos e aqueles aos quais nãoperâoamos. E' aos nossos ami-gos que não perâoamos

xxxJulgar ou não os seres por

um só detalhe — É conheciãa ahistória áaquele âeputaâo lace-

demônio, enviado a Corinto pa-ra ali negociar uma aliança eque se retirou sem naâa con-clulr, inâignaão por ter visto osprincipais cidadãos ãa cidadeocupados a jogar dados.

xxxComo a Bíblia é mais bela

do que os trágicos gregos!xxx

Finuras vulgares: em nego-elos não confessar jamais que

está satisfeito; fazer crer sem-pre que existe um concorrentemais generoso.

Ju JL »L

Nada vos leva a odiar maisos franceses do que a recusade ãinheiro.

xxxAcostumamo-nos a náo fiar

em ninguém; e um belo dia,cansados dessa atitude, fiamo-

*sst« ^JK&%tTmxaW£&ÉBBz «^Bk^^m^^^tmmwmWi

" (Éã w "li i i%mmi!imju m( lu

menores ou de empregados, aquem cabia carregar, de voltapara casa, os saro* recheadosde gincros.

Havia de tudo. aos sábados,desde os cerea-s, os legumes, otoucinho em postas, a carne desol, o coro licurí. o coco aze-dinlio, as cheirosas frutas domato, até os utensílios de ce-ramica, as peneiras, as alper-catas, as toalhas de crivo.Baianos tocavam sanfona, vc-lhas -rendiam gengibirra, ca-cherros vira-Iata metiam-se,por entre pernas e bruacas,para abocanhar, aqui. um os-so, ali um pedaço de rapadura.

Calor, pó, sujidade. bestassuadas, carros de boi. loias re-pletas de homens da roça aqnem os comerciantes impin-giam brins ralos, encorpados acusta de pclvilho. cegos can-tando coisas pungentes, eis oque era. aos sábados, o Largode Cima. que a Câmara, emvão. tentara ajardinar.

Mas o Mercado e sua feiraconstituíam, para Santana doRio Verde, um titulo de glõ-ria. só equiparavel à«y«'e!»» quea magnitude do P.*.zar lhe pro-pcrcio»*ava. Nenhuma d:>s on-tr.-s cidadeiinhas do íiorte-mi-neiro podia exibir espetáculoassim, de riqueza c de fartura.em que o movimento de ho-mens e alimârias. a suoerabun-dancia das colheitas. •*• varie-dade e o afã dos negócios, to-da anuela des^rd>ni criadoradava heras borbulh mtes de vi-da à nláejda e morna paratezdo sertão.

nos em qualquer um c nos per-demos.

xxxCriticamos os eseriíc-rrr que

dão sempre a impressão depensar na posteridade, quandoescrevem uma página. Mas. aocontrário, nunca pensamos naposteridade... quando escreve-mos uma carta. Somos umaleviandade extrema ao explorarqualquer assunto, somente paraencher algumas linhas, e essaslinhas irão testemunhar a fa-vor ou contra nós. durantemuito tempo, mais do que osnossos livros. Com niaior efi-cácia porque dáo a idéia de se-rem mais sinceras, enquanto,cheias de polidez não sentida, osão muito menos,

xxxEm lugar de me pedirem pa-

ra falar do que náo conheço/alusão aos entrevistadores dosjornais) fariam melhor em lercom mais atenção o que tenhoescrito sobre o que conheço,

xxxUm jornal me perguntou

quais os três "granâes homens"que meis influência haviamexercido sóbre mim. Respondi:Pirron, Anacreonte e Regulo: ocetico, o voluptuoso c o herói.E não imaginando um. sem 05dois outros. O jornal, aliás, nãoinseriu minha resposta. Deviamter pensado que ela "não eraséria".

•*J^ RUBEM DARIO E PARIS

Desenho de YLLEN KERR

DO arquivo de Ruben Dario.

divulgado por Alberto Glü-raldo. tradiíziinos para a

curiosidade dos nossos letores. a se-guinte carta dirigida a Miguel Una-muno:"Madrid. 16 de maio de 1899 —Senhor D. Miguel Unam uno. Acr.bode ler no "Kl Sol dei Domingo", deBuenos Aires, uma carta sua diri-rígida a Camilo Munhoz, na qual sarefere "as queixas de Rubem Dario".porque Paris não fai- caso dos 11-lera tos hispano-americanos, coníun-dindo-os com os "rastacueras". Co-mo eu nunca disse semelhante coisa.creio que deve haver em tal cita-ção algum erro de memória. Su-ponho trata-se de um arü--o meupublicado no "Kl Pais", a que aUidlem "Vida Nueva". -Rogo-lhe quevolte a ler o referido artigo. Nãome queixo, mas ao contrário. aplau-do o desdém de Paris per unsnossos confrades medíocres da ame-rica. íUhcs legitimes dt? uma Es-panba que não ê a que vale. a in-telectualmente grand*».

Pessoalmente, não conservo senãosentimentos de «ratidão por Paris,representado no ces->. para mim. porJean Ri-hepm. Gourmont. Hcre-dja'.. A iras? de sua c&ri.».. inter-prctaiia uor certoR cr;*:co^ merl-uos. pode me causar •* no e porIsso r—> apresso eai -"irisir-IUe est?»linhas".

l/àã:. .., *. ¦ÉSBÉãESMBHfiS

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Página 1 ET RA S E 'A R T E S. Domingo, 5-8-1951

Idéias vivas, idéias mortasALCÂNTARA NOGUEIRA

S

ERA' <rae as idéias, á se- evolução do pensamento e às' mclhaiiça dos homens, necessidades morais e Intelccti-) na tu em, envelhecem vas que podem influir diretamorrem? Parece que ou indiretamente nos ideais deresposta terá de ser dada me- vida da sociedade,

diante a consideração de cer- Por outro lado, algumas dastos aspectos, atendendo-sc Idéias do passado que sobrevl-que ela poderá ser afirmativa vem, pelo menos em parte, são,ou negativa. exatamente, aquelas que, seDe logo, diga-se que as idél- não traduziram o pensamentoos, para sua justificação de que se ajustava às imposiçõesrealidade, devem possuir de— sociais dominantes (pois emterminadas características, uma caso contrário teriam encerra-vez que, se inexistentes, não do sua vitalidade, quando sepassam de pseudo-idéias, espé- fixaram quadros sociais noutrascies de sombras fantásticas da bases), tiveram a vantagem decomum Imaginação humana, possuir conteúdo capaz de de-Não se está, com efeito, a rc- senvolver-sc pela análise críti-

ca do pensamento ou a possi-bilidade de encontrar apoio nasdeterminações de ordem cien-tífica que surgiram nos dife-rentes séculos. Exemplificando-

ferir, propriamente, à naturcza da idéia, isto é, a conceituaia como forma de representação qualquer que esta seja, como qualidade das coisas, se-gundo o idealismo de Berkeley, se ainda com a Filosofia anou coisa que o valha (Isso já tes de Sócrates, pode-se en-seria a definição inteleetiva do centrar idéias que não foramproblema); mas, ao seu con- as que a ordem social de entãotendo, Isto é, àquilo que é ca- permitia, uma vez quc atépaz de situá-lo como verdadei- lhes eram contrárias, mas quero problema e à sua significa- possuíam essas característicasção como valor para o espírito para ulterior progresso. Taise atividade humana. são as idéias dos eleatas — asEsse conceito Impõe-se, quan- primeiras que contradizem ado se atenta que as idéias que tradição mítica helênica — va-encerram p g e u d o-problemas, cilantes, sem dúvida, cm mui-nao podem .|nsltficar-se como tas de suas determinações, in-Meias vivas. Sao, na verdade completas c contraditórias em— ou. Afirmações tradutoras de vários de seus aspectos, masdeterminado ciclo limitado às dotadas desse poder raro decondições do momento históri- atingirem, quando analisadasco do pensamento, ou simples soi, nova orientação, formas deconstruções de caráter pura- afirmação lógico-raclonal paramente cwehral, cuja única va- ^ imporem ao conhecimentolidade 'ue assim é permitido em constante evolução. Com-falar) «6 pode ser entendida prova-se tal fato lembrandocomo demonstração da riqueza que muitas das raízes do elea-imaginativa da mente huma- tism0 alimentaram as idéias dena .t?,"]"^ e n.oatra fa,ta Patino, as quais, por seu tur-possibilidade universal de de- no, animaram o naturismo pan-seiivolvimento, a fim de serem tefetico antieseolástico de Bru-renovadas, ou então, as pri- „o e culminaram, vigorosas, emmciras. pereceram porque tive- Spinoza. que lhes deu, na mo-ram concluído seu ciclo histó- dernidade, sua melhor formarico; as segundas, bem não se de compreensão,constituíram como realidade, Das idéias do medievo tam-considerando-se que, por mais bém se salvaram alguns con-organizados que sejam seus celtos das idéias do Nomina-princípios fundamentais, eles ]lsmo _ v. g.f que a existên-nao formam unidade lógica de cia das coisas é anterior ásexistência presa à objetivida- noções gerais, — nos quais En-de universal. gejs e Marx reconheceram co-Assim sendo, pode-se dizer mo a primeira expressão doque ha idéias cuja existência materialism0 naquele período,se condiciona estritamente às Por que, quanto ao Realismosituações socio-histo r I c a s de dessa mesma época, quem se-determinada epoca, v. g., as que ra capaz de afirmar que suasse construíram, direta, ou in- idéias estão vivas? Sim, paradiretamente, na tradição míti- aqueles que se comprazem emca como, em grande parte, se trazer cadáveres para as lutaspode encontrar no pensamento do pensamento do século XX.gro.sa antigo, mormente naque- ja nos tempos modernos, asIa do período pré-socrátlco próprias idéias que surgiram(aqui se incluem as crenças re- sôbre os escombros do mundolativas ao antropomoríismo, feudal, experimentaram igual,rcencarnação (Pitágoras), mente desse mesmo processoconsideração do fogo, água, etc, qUe tem a faculdade de pôr Acomo principio das coisas, prova o vivo aue contém cadaassim sucessivamente); ou uma delas. Desse modo, aoaquelas idéias da Escolástica dualismo Cartesiano (ou outrofruto exclusivo do pensamento qualquer) a ciência e o pen-da Igreja, o qual se encontra- samento do nosso século pro-va apoiado em dois elementos clamam cada vez mais a exis-sem qualquer possibilidade de tência universal como uma sóracionalidade, próprio de todas e mesma atividade, constituídaas religiões: fé e tradição (os de elementos sem qualquer di-dogmas religiosos, a repetição ferenciação na sua natureza,das idéias de Aristóteles, con- por isso, todo o poder existen-sideradas verdadeiras, porque te como realidade só no Uni-do estaginta, e assim, por di- vers0 pode ser compreendido,ante, servem de exemplos). porquanto tudo é um mesmoPergunte-se, então: como in- ser unificado, sem criador eterpretar essas idéias, no que criado. De Descartes, na Filo-concerne a sua significação? sofia) ta0 somente o seu me-Resposta: como reflexos de es- todo resistiu à passagem dostadios do pensamento humano, anos> em virtude de imnor-se

quando assim o permitiu a or- como instrumento crítico deganização social construída so- anáiise racional às investiga-bre certo arcabouço que era le- ções do pensamento, elimi-gitima forma de dominação po- nando t>s elementos inúteis deHtfca. ordem tradicionalista — refn-Demais, ultrapassada seme- gio principal dos diversos ide-lhante etapa, é normal que tais aiSt místicos, já abandonadosidéias tenham ficado soterra- peios oue reconhecem a distin-das para sempre, porquanto ca0 ejltre 0 QUe seja ficcã0 esna naturcja não permite aque- realidade.Ia Já citada renovação, a fim Também, do idealismo hege-de ajustá-las às crescentes con- iiano, suas. idéias propriamentequlstas da ciência, à própria (Conclui na 8.11 página)

Um destino literário fracassado, mas uma vida romanesca — 0 inlel

HA

CEM ANOS, no dia 11de agosto de 1851, nas-cia Artur de Oliveira.

Eis um nome que náo será fa-miliar à maioria dos leitores.Quando, na fundação da Aca-demia Brasileira de Letras setratava de escolher os patronosdas respectivas cadeiras, Filin-to de Almeida optou pelo no-me de Artur de Oliveira, doqual ninguem se lembrara,pois que não deixara obra ai-guma. Dizem que Machado deAssis se levantou muito co-movido e abraçou Filinto nelaescolha. Machado fora umgrande amigo de Artur de Oli-veira e regozijava-se imensa-mente em vcr-lhc o nome in-cluido na lista dos patronos.

Afrânio Peixoto oferece-nosupa versão um pouco diferen-te do caso. Teria sido o pró-prlo autor do "Dom Casmur-ro" a insinuar a Filinto deAlmeida, o nome de Artur —figura Inteiramente obscura —enquanto ele, Machado, prefe-rira ficar sob a égide de Joséde Alencar. Não sabemos atéonde está com a razão a ma-lícia de Afrânio. O fato é quesempre causou estranheza amuita gente essa cadeira daAcademia, patrocinada por umescritor do qual ninguém co-nhecia a obra.

—- Quem foi Artur de Oli-veira? Que fez ele?

A tal pergunta respondiamalguns:

— Não deixou nenhum li-vro; foi um dispersivo, masreunindo-se o que escreveu emJornais e revistas ver-se-à aestatura do homem.Certas vezes reclamavam mes-

mo, com veemência, essa com-pilação da obra esparsa de Ar-tur. Chegou a haver umadiscussão azeda entre OsórioDuque Estrada e FranciscoPrisco por ter este perguntadouma vez o que fizera a Acade-mia dos versos de Artur deOliveira. Artur nunca escreve-ra versos — respondeu Osório.Ao que retrucou, iracundo,Francisco Prisco, argumentan-do com uma citação de 'uyole de uma poesia de Machadode Assis, em. que este, traçan-do o perfil de Artur, o classi-ficava de "poeta enorme". Naverdade, ninguem conhece osversos de Artur de Oliveira e,chamando-Ihe poeta. Macha-do não quis dizer, naturalmen-te que o amigo os escrevesse:referia-se ao feitio do homem,à natureza excepcional desseespírito fora da bitola comum,vivendo sempre no mundo dosonho e da fantasia.

Afinal, em 1935, apareceuum ensaio biográfico de Luis SFelipe Vieira Souto sobie odesconhecido patrono da ca-deira de Filinto de Almeida c

viu-se logo que se tratava deuma vida curiosissima, dasmais curiosas da nossa litera-tura capaz de oferecer palpl-tante modelo a qualquer ro-mancista. No ano seguinte, apublicação dos "Dispersas" tãoreclamados de Artur de Olivei-ra — ainda aos cuidados deLuis Felipe Vieira Souto —veio revelar que o escritor cs-tava longe de ser o que muitosafirmavam — tratando-se mes-mo, no caso. de um destino li-terário fracassado — o homemera, na verdade, originai rdigno de todo o interesse. Poisnesses "dispersos" figurava,igualmente, a correspondênciade Artur de Oliveira, de ;ran-de valor documentário e ai-mano pelo qual lhe reconstrui-mos, em traços gerais, a exis-tência bem característica deuma época de boêmia, aindasob o influxo do romantismo.

Domingo, s-8-1951 LETRAS E ARTES Página — 7

Hà cem anos, nasce Arthur de Oliveiraai brasileiro amigo de Vicior Hugo, Theophile Ga ufhier e Villiers de Nsle Adam

BRI* BROCA

O caráter meio anárquicoque a literatura possuía atécerta época, entre nós, favore-cia esses casos de dispersividadeesterilizante e a inibição riadora, de que são exemplos umArtur de Oliveira e um PaulaNey. Espíritos românticos,sem a dose de senso práticonecessária para obterem certaacomodação no ambiente, co-mo se dava com outros nscri-tores igualmente desajustados,acabavam por viver num mun-do de sonhos, no qual "se rea-

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Arthur de Oliveiralizavam" quimericameniemesas de café, os salões,vestibulos dos teatros, todo

Desenho de A. PACHECO

%¦& recintos em que se cultivavaos outrora a palestra, como umos verdadeiro gênero literário, con-

sagrando os autores de um"mot d'esprit" ou de um pa-radoxo, criavam situações pro-pícias a tais "realizações",

com as quais se contentavamnum meio onde a literaturatinha qualquer coisa de xnar-ginal.

Muito jovem, quando come-cava a aproximar-se dos poe-tas c escritores da corte, Ai-tur de Oliveira foi internadopelo pai no Colégio do Cara-ça, em Minas. O pai náo que-ria vê-lo transformado numliterato, o que na época que-ria dizer um boêmio, sem eiranem beira. As cartas de 1868 a1869, período em que Artur es-teve no Caraça, constituem in-teressantissimo testemunho so-bre a vida daquele colégio ou-tróra tão famoso.

Dentro de um ano, devido aum incidente de disciplina —•

pois Artur era essencialmente,impulsivo e temperamental —o jovem deixa o Caraça e vaipara o Recife, sob o pretextode que só ali poderá fazer osestudos que deseja. Reprova-dó, segue para a Alemanha, amando do pai, afim de ma-tricular-se na Universidade quecursara Goethe. Artur chega aParis. Chega, porém, a Paris nosprimeiros dias da guerra fran-co-prussiana e impossibilitadode continuar a viagem, perma-nece na capital, onde pelo seutemperamento expansivo, conse-gue relacionar-se com vários es-critores. É ele, assim, um dos

O "FLASH" DE BLAISE CENDRARS"O HUMOR POET8C0: A ARTE DE DIBENTAR DE RISO EM PLENO PATÉTICO"

REPRODUZIMOS aqui o "flash" de

Blaise Cendrars para uma revistafrancesa:

1) Qual é, na sua opinião', o cúmuloda miséria? — A confusão mental.

2) Onde gostaria mais de viver? —Em toda parte. Ou melhor: em toda par-te ao mesmo tevipo.

e 3) Seu ideal ãe felicidade terrestre?O paraíso verde dos amores infantis.4) Quais as faltas que mais lhe me-

recém a indulgência — A mentira. ,5) Quais os seus heróis ãe romance

preferidos? — Pèrcival, Robinson e DonQuixote.

6) Seu personagem histórico favorito?Carlos V.7 Suas heroinas favoritas na vidareal? — As comediantes.S) Suas herionas favoritas na jiccão?As estrelas ãe Hollywood.9) Seu pintor preferido? — Nenhum.10) Qual a qualidade que mais apre-cia no homem? — a simplicidade.11) Qual a que prefere na mulher?A simplicidade.12) Sua virtude preferida? — A ca-ridade.13) Sua ocupação preferida? — Fia-nar, sem fazer nada.14) Quem gostaria o senhor ãe ser?Ninguem.15) O principal traço ão seu caráter?A preguiça.

Blaise Cendrars

16) A quaVtàaâs que mais aprecia nohomem? - A ial,n^

17) A quo.lmãe que mais aprecia namulher? - Á ívmència.

IS) O nue í»P'.s aprecia nos seus ami-j9 _ o coração, a alma ou o espírito.

\noipal defeito —gos'20) Seu vT

20) Sua cor preferida? — O ama-relo.

21) A flor que mais ama? — O jas-mim.

22) De que pássaro mais gosta? —O tucano.

23) Seus autores favoritos na pro-sa? — Schopenhauer, Rabelais e os ve-lhos cronistas.

24) Seus poetas preferidos? — Ge-rard ãe Nerval e os chineses.

25) Seus heróis na vida real? — O"Idiota", de Dostoiewski.26) Seus nomes favoritos? — Meu

pseudônimo.27) O que mais ãestesta acima de

tudo? — Escrever por obrigação, comomeio de vida.

2ti) us caracteres mstorwos quemais despreza? — Cortez e Marina.

29) O feito militar que mais admi-ra? — As canções ãe marcha ãa RAF.

30) — A reforma que mais aámira-ria? — A áestruiçüo do mundo pelabomba ãe hidrogênio se ela vvtsse

31) O dom da natureza que dariater? — A faculdade de voar.

32) Como desejaria morrer? — Nãosei.

33) O estado presente do seu espi-rito? — O humor poético, que é a artede rebentar ãe riso em pleno patético.

34) Sua divisa? — Não a tenho, maspoderia adotar a de Carlos V: "Nãoainda!"

primeiros exemplos de Inte-leclual brasileiro fazendo ami-zades no meio literário. Certa-mente, como uma curiosidadeexótica, vinda dos trópicos.Conta-se que indo á casa deVietor Hugo e impedido de cn-trar pelo criado, fez tamanhaalgazarra que o autor dos "Mi-scraveis" saiu á janela pro-curando saber do que se trata-va e acabou recebendo-o. O"Fere de Ia foudre" te-lo-iachamado Vietor Hugo. Jhco-phile Gautier dar-lhe-ia a an-tenomásia de "mon bon sau-vage". Mas não se sabe, aocerto, até que ponto tais - cs-critores permitiram intimidades com o jovem e turbulentointelectual brasileiro. O ünlcodepoimento que temos nessesentido são as cartas de Arture este cra um exagerado, dei-xando-sc levar muito pelaImaginação.

Terminada a guerra, Arturparte para Berlim, em cujoambiente não consegue adap-tar-se, escapando de ser ffn-zilado por haver dito "Viva aFrança", no momento em quedesfilavam tropas prussianasvitoriosas. Expulso da Alemã-nha, sem maiores consequên-cias, graças à intervenção di-plomática, retorna a Pari',onde passa a enfrentar mavida de dificuldades, porque opai lhe restringe a mesada etermina cortando-a. Artur es-creve-lhe, mostrando-lhe apossibilidade de ganhar a .idaem Paris, "traduzindo obras desucesso para o Brasil c obrasbrasileiras para o francês". E'evidentemente um sonho onentão, uma manobra para con-vencer o pai a mantê-lo aliQuem iria montar em Paris otremendo dramalhão de Pi-nheiro Guimarães " Históriade uma moça rica," que Arturqueria traduzir?

Os dias correm-lhe amargos,a miséria aumenta, e assisti-mos ao quadro perfeitamenteromântico: o jovem intelectualbrasileiro, recusando-se a acei-tar a generosidade de Villiersde Tlsle Adam, que cora ele sepropõe a repartir o quarto e acomida.

Voltando ao Rio, Artur tor-na-se personagem indispensá-vel à rua do Ouvidor e ::mter escrito mais do que algunsfolhetins de jornais, falece em1886 da indefectível tuberculo-se dos boêmios. Não deixouobra, foi verdadeiramente uraagrafico, mas na sua corres-pondência encontramos os de-lineamentos de um peifil hu-mano muito vivo, por onde sejustifica a admiração e a ami-zade de Machado de Assis.

Giuseppe Ungaretti

CARLOS BURLAMAQUI KOPKE

UMA

obsidente pesquisa das dicional e moderna, para ava-relações entre a matéria liarmos a superação do primei-c a forma tem sido, desde ro...a publicação de "L'alle- Em Eugênio Montalc, a mu-

gria" (1914-1919) — a íinali- sicalidade — (veja-se a Elegiadade da arte de Giuseppe Un- di Pico Farnessc) — não se re-garetti. duz a "valori di construtto sm-

Essa pesquisa se enquadra ttatico", como em Ungareiti.numa constante valeryana, em Dai, êste pronunciar-se: "Non,que o duelo do espirito com sono oscuro di propósito, ft ba-linguagem se pode prolongar, lordo pensarlo. Mas Ia poesiaenquanto o artista não perder come 1.intendo io, é piena d.in-consciência da arte, ou a von- tralci. di vincoli. di servitú.tade, elaborada num processo Eccomi dietro alia sonoritá. epreparatório de seleção esteti-ca.

Talvez sejam muitas as vir-tualidades de Ungaretti, por-que sua exigência, alusiva a es-

mi nasce una cosa persuasiva;ma il senso é rimasto un po'sacrificato, o il ritmo..."

Foi, em verdade, essa "cosapersuasiva", expressa por ai-

sas relações, cada vez se torna guém que soube reagir contramais intensa e menos satisiei- a tradição cardueciana e dan-ta. Basta cotejarmos as pro- nunziana, numa literatura queduções de "L'allegria" com as desconhecia, até então, a den-de "Sentimento dei tempo" sidade sematológica da palavra,(1919-1935)... e se abismava num conceito

Giuseppe Ungaretti é a ex- retórico do verso, ... foi. empressão profunda da realidade verdade, essa "cosa persuasiva"do ser; Giuseppe Ungaretti e que surpreendeu a Giovanniarte como consciência da vida Papini (Vér "Ritratti italia-são temas que não podemos ni").dispensar no estudo de sua poe- A "leggereza" que Giuseppesia. de Robeitis võ em Ungaretti e

É o artista que sabe cumprir que outra coisa não é senão auma perfeita aventura, e valo- essencialidade lirica (captaçãorizar a pessoa, fundamento de da essência da realidade e aco-toda realidade. Dai o aspecto modação dinâmica da palavra):ativo de sua poesia, na qual aexistência, no sentido em queHeidegger conceitua o termo, sedefine qual pensamento que éação.

"Quando trovoin questro mio silenziouna parolascavata è nella nua vitacome un abisso"

,4Uom,o che speri senza pace,Stanca ombra nella luce pol- faz-nos sentir em como, no

[verosa, poeta, a unidade e plenitudepsíquicas, a crise extrema üoconhecimento, o desespero cialinguagem que se quer iazerconcentração, as tentativas der-radeiras de abarcar o tempoimplicam em angustia minter-rupta de que, todavia, Unga-retti extrai toda a sua glóriae permanência.

Walter Binni, secundado porêste magnífico ensaísta que c

L'ultimo caldo se ne andrá a[momentl

E vagherai indistinto..."

(Ombra, "Sentimento dei Tem-po" Pág 68 — Mondadori).

Harmonia, conceito, sensibi-lidade fermam o tríptico daobra ungaretiana, se se leva emconta que a inteligência sinte-tizadora do poeta, disciplinada Francesco Carnat ("Cinquenum processo minucioso de pes- Poeti") — compreende qúe "iaquisas estéticas, se assenhoreia poesia nuova in Itália... nascedos temas da realidade, em três m certo senso dali* assimila-fases: zione delle poetiche stanicie: il

a) — fase da contemplação, che vuol aire, però, superamen-em que o pbeta procura intuir to personale, non íraitazione".a essencialidade dasá coisas: Baudelaire, Mallarmé, Rim-"M'illumino bauci, RUke, Supervielle, Vale-

d.immenso" (Mattina). ry George, Eluard; etc,, se, asb) — fase em que a vontade, VéZes, são processos ou planos

com sua mecânica psicológica na p0esia italiana moderna, empsicofísica, pesquisa na realida- ungaretti se depreciam. O qnede a proporção, a relação e pocle parecei" imitação achu-scmedida das coisas:"Ha una corona di freschipensieri" (Mattina).

c) — fase em que a inteli-

na particularidade cie Ungarettiter introduzido numa língua,com sentido inato de musicaii-dade sinfônica, a personalissi-

gência, arrimada nos valores ma compreensão de uma lin.-críticos de tendência personiíi- gUagem, dinamicamente, num-cadora, sintetiza e depura, com ca -em que 0 monólogo interior,leis próprias e noção purgató- 0 emprego metafórico e semãn-ria, as fases anteriores:

"1 giorni e le mottlsuonanoin questi miei nenâdi arpavivo di questa gioiamalata-di universoe soffrodi non saperlaaccenderenelle mieparole" (Poesia).

Essencialidade lirica, lnefabi-lidade, ritmos descarnados, ra-refeitos, cincopes sintáticas: —dados que caracterizam Unga-retti, e que servem para o dis-tinguir dos seus contemporà-neos: Eugênio Montale, Salva-tore Quaslmodo, Vincenzo Car-

tico da palavra, a simbologiadesta, são elementos de rüptu-ra, de surpresa, mas acondicio-nam valores artísticos ou espe-cificam a zona do espirito, cieonde dimanam os elementos dacriação. (Diga-se, de passagem,que ao mesmo tato podemosrelacionar a Espanha retóricae a obra essencialissima de Ra-món Jimenez...).

Francesco Flora que, hà pou-co, esteve entre nós, e nemsempre foi feliz no que disse,denunciando a ausência defundo histórico e a talta decultura clássica em os poetasherméticos da atualidade ita-liana, esqueceu-se de que um eoutra são estáveis no tempo,trazem a voz impessoal dos

do Stoisgam. Vittorio Sereni, ^ZC^" ^tÍ0^„ ««««««, Bftnf«,«fa™A, do desejamos dar corpo ã umBasta, apenas, confrontarmos «« "

a necessário que este se~os processos de Ungaretti e de "fím'^tlecundidade. PorGatt^ .quanto aos valores fo- }*{„££ de gritar como Rim-néticos du silaba poética, den- 1S£0' tem0" ae °tro da consciência métrica tra* (Conclui na 4 pag.)

T ' ' ii i iiirnnniruTX iiniNiiiii i mn" "" :-r^.-^:^~'~'™^y*v/^>&>r?*TTZae»*» s^^ésíisttUiet^mim^Bmf^Tr

Page 7: LetrasãÂrtes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1951_00218.pdf · Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna

rògmà — 8 LET RAS E ARTES Domingo, .Kl 951

JtKCOMKNDAÇAO AOS ARTISTASK INTERESSADOS

A

Direção do Bienal deSão Paulo recomenda,,com particular empenho,

oos artistas e demais interessadoscm participarem do certame,quo providenciem, com urgên-cia, junto á secretária da Bienal,a sua inscrição, a fim de quepossam as secções técnicas cartísticas dar andamento aos tra-balhos relativos á divisão dassalas, á compilação do catálo-go e á divulgação. Através daimprensa internacional e dosserviços fotográficos do materi-ai relativo quer á participaçãoindividual, quer á das delega-ções oficais.

O júri de seleção iniciará osseus trabalhos em meados docorrente mês, cabendo á dire-toria artística providenciar a co-locação das obias nos primeirosdias de setembro próximo fu-turo

A entrega dos trabalhos no Rio,poderá s;r feita, à rua 1." de Mar-ço. 6, portaria, a enr^o do h&üflbuue Arte Moderna do Rio de Ja-nelro, até o próximo dia 15.

A O.N.U. VAI PARTICIPAR DAEXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DEARQUITETURA — A ADESÃO -DE

MIES VAN DER ROIIS

Recebeu a Direção da Bienal aAdesão da ONU. Portanto maisuma representação para ó • erta-me internacional de outubro pró-ximo; representação de tjspectal-valor c significação, pois e cons-

?%»ffifò«>y»oo^o)o»^!iul^ tmmmSÊmmmWmmmmS^^i^ttmBtmc^Mk

PRIMEIRA BIENAL DO MUSEU DSARTE MODERNA EM SÃO PAULO

tltuldo pelo conjunto de estudos,anteprojeto'?, o pormenores, rea-lizado por cinqüenta c dois irqui-tétes da Organização das NaçõesUnidas para a sua nova sedo emNova Iorque. Já chegaram os vo-lumes enviados pelo ONU; serãoele; abertos nestes dias p-hi Di-reção A: tístlcu da Exposição In-tcrnacloual de Arquitetur.i, queconsidera tal contribuição' comoelemento des mais inter cantes,digno complemento á série pon-derúvel de vaiorer, da moderna ar-quite tura qua serão apivcladosnos salões da Blennl.

A imprensa d03 Estados Uni-doj. neatcj últlmo3 dias. não.de!-xou de pôr cm evidencia tal par-ticipução, desenvolvendo comenta-í ics c logiosos à iniciativa orasl-loira considerada "intoligeate, Jn-tcrcs.antc e necessária".

Outra participação re.oreã';ntatambém Importante fator de su-cesso pnra a exposição de crqui-tetura: a adesão de Mies Van derRolie. Nome hoje considerado en-tre os d03 mais pujantes arqul-tetos do mundo, comunicou êle

PORQUE VOCÊ DEVEASSINAR OS LIVROS

DA COLEÇÃO SARAIVA10 MOTIVOS

1°. — Porque ela publica o livro mais econômico que se edita noBrasil, Cr$ 10,00, cada volume.

2°. — Porque ela distribui apenas um livro por mês — coisa quenão pesa no seu orçamento.

3o. — Porque ela apresenta obras dos melhores escritores nacionaise estrangeires.

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ao lê-los, não só você se distrai como também se instrui.••>9°. — Porque você recebe a "COLEÇÃO SARAIVA", em seu própriodomicilio, efetuando o pagamento contra a entrega de cada

livro.10° — Porque é empreendimento de uma firma com 35 anos de ('

trabalho honesto e Ininterrupto pelo progresso do livro.

VOLUMES PUBLICADOSPedro CalmonPaulo SetúbalLewis WaliaceOndina Frrr:iraDostoievskiCiro dos AnjosOr.'genes Le^saGalvão CoutinhoB. de MendonçaMenotti D3l PicchiaLúcia Miguel Perc:raH. G. WellsJ. B. Melo e SousaLord LyttonJosé Geraldo VieiraEdma Per berAfonso SchmidtAlphonse DaudetZélla KocsakEdmund AboutCiro Vieira da CunhaGiovanni PapniBarbey D'AurellvlUyLawrence Edward WathkinsGermaine AcremantCassiano NunesErckmann ChatrianBarros FerreiraM. de Lourdes TeixeiraJosé de AlencarH. Sienkiewitz

O Rei CavaleiraOs Irmãos LemeBen Hur 'Navio AncoradoRecordações ua casa dos Mortos

O Amanueare BelmiroO Feijão e o SonhoConfidencias de Dona MarcolinaEmilio Menezes, o último boêmio

A Filha do IncaEm surdinaO Alimento dos DeusesMajuplra .Os últimos dias de Pompéiá

A Ladeira da MemóriaCimarron

Saltimbancos y-"Borboleta Azul

O Santo Sepulcro—O Homehi de Orelha rasgada

No Tempo de Paula NeiAs Testemunhas da PaixãoOs Conspiradores-Horas Rovibadas

A vida que SonheiNoite de Natal

O Recruta de NapoleãoSerra Brava

O Banco de Três LugaresO Tronco de IpC*O Campo da Glória

Querendo tomar uma assinatura, remeta o cupon anexo, podendoarslnalar com X cs números já publicados que deseja receber emseu domicilio.

Pedidos a ALBERJANO TORRES — RUA ASSEMBLÉIA, 35 — 1"RIO DE JANEIRO — Fone: 22-8153

NOME

RES1D.

A Bienal a remeasa dos trabalhoscom que participará do importan-te certame. Por eates dias é es-perada também a adeaftó de Oro-plus'.

Como Já foi dito, o Japão' S2rárepresentado por Sakakura, queprovavelmente, compadecerá cmpcecoa a fim de estabelecer con-tátos quer com os arquitetos cs-trangeiros reunidos em São Pau-lo, quer com os colega* brisilei-ros a respeito dos quais, coníor-me recente entrevista publicadana imprensa de Tóquio. Jormulouos mais lisonjclrós conceitos.

Fichas de inrcrlcáo e adesõesdas várias partes do mundo con-tinuam a chegar à Secretaria daBienal.

JEAN CASSOU NA CHEFIA DADELEGAÇÃO OFICIAL

FRANCESA

O Diretor Geral da " AssociationD'Actlon Artistique. comunicou àBienal que, chefiando a delega-çáo oficial que deixará Paris nofim do mês, virá o conhecido cri-tico de arte e Jornalista JeanCassou.

As autoridades francesas infor-maram ainda que pretendem eu-viar para o Festival Internacionalde Cinema — nessa primeira exi-bicão limitado a filmes -,ôbrc ar-te — além de uma série impor-tante de novas películas, quatroproduções recentes e de excluí.lvl-dade absoluta: — "L'Affaire Wa-net", "Bourdéllc",' "Le Coeur d'Amour", "Toulouse-Lautrec".

CHEGA A DELEGAÇÃOJAPONESA

Estão chegando à Secretaria da; Bienal as obras que a comissãoartífltlca nipôclca resolveu enviarn São Paulo e qvie integram adelegação oficial do Japão. Eet^.oos artistas divididos em dois toru-pos :. — num, os de "esido mO-demo Japonês", e noutro, os de"estilo ocidental moderno".

Ao primeiro pertencem : — Ko-hyo Ezaki, Toyoshiro Fukutía.Senjln Gokura, Kazukò Hieda,Kaii Higashiyama, Shinsui Itó,Eizo Kato, Kibo Kcdama, Sinai-ko Mochinzuki, Kakuho Mori,Chôu Ota, Tataú o Takayama.Kenji Yoshioka, Kyujin Yoraa-moto.

Fazem parte do segundo grupo:— Nobuya Abé, Ichiro FuKuzawa,Iwami Furusawa, Minoru Kawa-bata, Yasu 0'Kazuki, VosuintrlKinoshita, Zenzabuiô Kojima, aspintoras Setsuko Mlgiabl, SatourôMiyamoto, Ycshiro Mori, Masama-ri Murai, Yatcrò Ncguchi, Tatsu-hiro Tukabataké, Seiji Togo, Ka-zu Wakite, Gari Ichiro .Inokuma.

Assim está cemposto o grupodos escultores : — Yoshi Kihòu-chi, Nannrio Nakamura, Takaji

Shlmlzu, Takczo SiadtKi. ioyoi-chi ¦Yamnmoto, Yoshltatsu Vann-glbara.

Desenhista, aquareli.tas c gra-vadores: — Un'lchl Hlratauk»,Hldé Kakwanlslhl, Tctsu rô Ko-mai, Scmpan Mackawa, Sh.kóMuuokata, Kôshiro Onchl KyloshlSalto, Shlgeru Matuyama.

A "Kokusal Bunka Shlnkokal"que se encarregou de organizar adelegação de Tóquio acentua quece trata da primeira mostra devalores modernos Japones-ís quese apresentam após a guarva, emmanifestação Internacional de talrepercussão. A imprensa npónicanoticiou a seleção dos artlítas, odas obras, aludindo à' participa-ção Japonesa como um ¦ Uos c:e-mentos de maior lntcresàe parao público*e para a crítica.'

COMO SE APRESENTARA' OURUGUAI

A comissão Nacional de BolaiArtes uruguaia, reuniu-se na te-mana passada em Montevidéu eexaminou a relação apresentadapela Subcomissão incumbida doestudo relativo à participaçãouruguaia á Bienal de São Pau-lo. A relação assim como a3 pro-postas feitas por Edmundo Pinte,Adolfo Pastor e José 3un?o, ío-ram devidamente aprovadas.

Adotando uma participação ob-solutamente qualitativa, o Uru-guai | enviará também uma mos-tra do caráter retro-pectivo corn-posta das obras de Rafael Barra-das, Pedro Flgari, Joaquim Gar-cia, Alfredo De Simoné, Carlos A.Castellanos, Gilberto Bellinl, Car-melo Rlvello e do escultor Anta-nio Pena; a maior parte dessasobras pertencem ao patrimônionacional. s

A Comissão, além disso, expe-diu convites a todos os aitlEtasmodernos do pais, e aos .grupoude Jovens para que enviem ft Ble-nal três obras cada um deles, sub-metendo-as ao Jurl de Seisçào deSão Paulo.

PORTUGAL E HAITI PRETENDEMPARTICIPAR DA BIENAL

Aa autoridades poi tugucb^s eas haitianas Já comunicaram aBienal de São Paulo que <vs rec-pectivos Governos tenciomvn en-viar uma delegação à manifesta-ção internacional que se reanin-rá em outubro próximo. As auio-rldades diplomáticas e os repve-sentontes da Bienal estão lme-ressados em que se ultimem ospo:menores relativos a tais pat-ticipacõss.

Por estes dias é esperada a res-posta definitiva da Alemanha.

REDUÇÕES NOS PRKÇOS DASPASSAGENS DURANTE A

Bl-NAL

A Diretoria Geral dos Correiosdo n.a.sii. decidiu emitir ieios tu-mrmoratlvos por ocasião *J» gnn-de manifestação que reunirá emSão Paulo artistas do mundo to-do.

tíurá provavelmente, uma f.Crlede dois ou trôs tolos, entro èli-i,um pnra uso de corrcspsudnclaaérea, que trará estampado o dis-tico "I Bienal do Museu de ArieMcdcrna do São Paulo — outu-bro-dciscmbro de 1951, nele íigu-rr.udo o edifício que está iurgln-do sôbre o tcr:aço do Trlaaou ueSão Paulo. Além doa sèlo3, cuja«missão 6 aguardada com vivo in-tereare pelos ambientes ftlatéllcosinternacionais, será ainda útUlsa-do um timbra especial paru seraposto sôbre os selos durtnte *^s10 primeiros dius da inauguraçãoda. Exposição, num gulchè cape-ciai que funcionará no rjcltrto daBienal, na Avenida Paulista. Taliniciativa ccn-tltul para cs cole-elonadores. cem dúvida, motivo dsgrande interesse.

SELOS COMEMORATIVOS DABIENAL

Estão no momento as or^anizx-çõíct competentes tstuüaivio nur-mas que objetivam proporcionarsensíveis reduções r.as viagi-.it. depassageiros que te de-tinam a SãoPaulo, com o fito de -visliar a IBienal. No recinto da Expos.çãofuncionara, de acordo com o pro-jéto em .exame, um guiciiô .ondetodos os possuidores de ollheteade ida e volta com redução, vm-des de outra localidade, deve: £ oapresentar êsse bilhete a fim deque nele seja, aposto um carimboespecial tornando válida a pr.sív.i-gem de volta.-

Seguindo o exemplo, das compa'nhlas nacionais, também-as com-panhias estrangeiras estão tuvun-ciando viagens especiais com finsturísticos, e que oferecem, emtodas as partes do mundo, condi-çõe3 particularmente vantajosas.A CIT .organizou um plano dedivulgação propagandistica no. se-tor de turismo do mundo todo,estabelecendo escritórios especUtsnos aeroportos internacionais emovimentando 1.20o agentes quetrabalham por conta daquelacompanhia nos principais ceutro=dos diversos continentes, A pró-pria CIT ee encarregará dos ser-vlços de; recepção, hospedagem «guia dos turistas que aflulrâo áCapital Paulista naquele período,havendo Já preparado, para talfim, o seu programa que com-preende também transportes ur-banos e trajetos especiais.

Os hotéis ds São Paulo e3tãodesde agora preparando-se i.m& crúltimo trimestre do ano, ciuandoprevêem grande afluência de tu-ri-tas, não só provenientes de ori-tros pontos do Brasil, como tam-bém do estrangeiro, principal-mente vindos da Itália e dos pai-ses americanos. Assim, diversoshotéis já começaram a i3ceberpedidos de reserva de aposentos.

UM NOVO PRÊMIO DECR$ 50.000,00

Recebeu a Pr3Sidênoia da Ble-nal uma carta realmente siinpá-tica do industrial Rogério Gio.çí.de São Paulo, comunicando tercolocado, à disposição da Bienal,a importância de Cr3 50.000.00(— cinqüenta mil cruzeiros —)destinada a um prêmio que re-ceberá a denominação de 'PrêmioCotonificio Guilherme Giorgi".

Idéias vivas, idéias mortas(Conclusão da 6.* pág.)

tíitajs não poderiam mais viver,já que se prendem a constru-ções intelectivas plasmadas nomais amplo subjetivismo c ra-ramente edificadas sôbre a ob-jetividade universal. O íuícrúnido pensamento de Hegel é to-do êle dirigklo num sentido depura idealidade. Dessa manei-ra, as idéias de seu sistema,como doutrina, morreram, por-que incapazes de gerar qual-quer forma de verdade que seencontre definida segundo asexigências do pensamento ho-dierno. Do que êle pensou res-ta quase que apenas o proces-so metodológico de investigação(usado já por pensadores an-tigos. sem a sistemática, é cer-to, que imprimiu), que a es-querda dialética, com Engels-Marx, tirou o melhor proveitopara as pesquisas sociais e eco-

nômicas que são a grande preo-cupacão do mundo político dehoje.

Eis, então, ser plausível dl-zer que a pedra de toque ih-diçadora do Vivo das idéiasconsiste na maior ou menorcapacidade de desenvolvimentorenovador dos problemas que aestas são inerentes, ou melhorainda, a possibilidade de atua-lização destes problemas se-gundo as exigências do conhe-cimento, ou a sua compreensãoe interpretação dentro do pia-no da naturalidade, isto. 6,afastamento por completo detodas as cònceituações que im-pliquem caráter sobrenatural.Isso significa que deve ser oUniverso o ponto central de re-ferência para as especulaçõesde ordsm filosófica. Nesse â:n-bito é que o pensamento «oíle-rá afincar-se como construtorde idéias, as quais, eacoatran-

do fundamentos racional c ex-perimental para a sua explica-ção, têm a virtude de nacceremcom a possibilidade de nuncaenvelhecerem ou morrerem.Pois fora daí é querer elevar àcategoria de verdade simplesficções que o próprio espíritohumano vai relegando a planosecundário, à medida que êlese vai tornando mais capaz nodomínio da pesquisa filosófica.

Apesar da organização da so-ciedade atual apoiar-se, geral-mente, em conceitos espirituaisdestituídos desse conteúdo devida nas idéias, já indicado, oqual deve ser sempre preocupa-ção do pcns?.incato, não seráotimismo leviano cupor que astransformações sociais que sevêm ope r a n d o irrefr^p\vel-monte, levarão o hosnçai aoentendimento do nue uão podeest^r sujeito a crenças ou tra-

Page 8: LetrasãÂrtes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1951_00218.pdf · Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna

Domingo, 5-8-1951 I ET RA S E ARTES P>gin.1 — 9

PARIS — Julho — Paul

Morond regressou a Pa-ris, não somente de um

outro pais, mas de uma outraépoca; viajou pelo tempo tantoquanto pelo espaço. Depois daguerra de 1914. Paul Morandbombardeava as livrarias comsuas novelas cosmopolitas, suasnarrativas de viajens, numaatmosfera intemacionulista docomboios c grande* hotéis: "Ou-vert Ia nuit", "Ferméc Ia nuit","Tendres Stocks", "Magie Noi-re", "Rien que Ia terre". Masseria preciso uma página paraexpor, como numa vitrina, todosesses títulos. Novelas e narrati-vas cheias da moda da época,com o reflexo dos trajes, doe -chapéus, dos cigarros, da véloe!-dade, das luzes de Bucarest, Ro-roa, Londres, Tokio. Morandapaixonou-se pela época c ar-deu através dos continentes,ofegante, apressado, inquieto.Seus personagens são cínicos,amorais, pitorescos, elegantes.Talvez em tudo isso faltasse umpouco de profundidade, de au-tenticidado. de serenidade. Es-queceu-se Morand tão rápida-mente quanto fora ele descober-to e, há mais de dez anos viveêle na Suiça, numa absolutadiscrição. Seria injusto dizerque sua obra perdeu o valorcom os anos; permanece ela co-mo testemunho vivo do outropost-guerra, tão fiel como umaserie de filmes. Pelo seu tom,seus gestos, sua maneira de vi-ver os heróis de "Tendres Sto-cks" e de "Fermé Ia nuit" sãotípicos e verdadeiros. Semi con-siderar o talento de contista deMorand, cheio de sedução e hu-mor. Seus êxitos de . livrariadessa época, ultrapasavam oslimites da França para atingi*rem os países anglo-sexões, aAmérica Latina e a Europa Ori-ental. Como Cfaudel. Morandfoi embaixador da França, umembaixador pouco católico, pou-co nacionalista, mais própria-mente embaixador de Paris donue da França.

- "ADOREI OUTRORA AVELOCIDADE"

Com sessenta e três anos, Mo-rand retornou a Paris. HotelCrillon, praça da Concórdia.Conversamos no terraço. Acabaêle de publicar, depois desselongo silêncio, um romance:"Le flagellant". E' o motivo desua permanência na França.

Está o senhor sempreapressado?Mudei muito ultimamente.Dou-me hoje ao luxo de per-der o meu tempo. Adorei ou-trora a velocidade; mas com-preendi que ela podia ser-menão somente um estimulanteeomo um perigoso corrosivo. Avelocidade pode destruir o ho-mem e o universo... Minhapressa hoje é uma legenda;atualmente. Viajo, ainda, masde maneira diferente, degus-tando os lugares por onde pas-so. Faço ferro de engomar en-tre Vevey, Suiça e Tanger.Passo sempre pela Espanha eMarrocos. Em Bailen, onde Na-poleão sofreu um revez, encon-tramos uma inscrição: "Aurendez-Vous de írançais". Fa-miliarizei-me muito com Goya.Cada capitulo do meu novo 11-vro traz o nome de uma obradesse pintor. Certo dia, per-guntaram a Goya porque haviaêle sucessivamente servido sobFernando VI, José I e Welllng-ton, respondeu o pintor: "Por-

3ue os Bourbons eram azuis,

osó amarelo e Wellington ver-melho. Essas cores formam abandeira da Espanha. Na rea-lidade, meu romance devia in-titular-se "O flagelante de Se-vllha"O TEMA DA COLABORAÇÃO

Fale-me mais detalhada-mente desse novo livro?

O tema é a colaboração,de 1808 a 1813. A Espanha é«ocupada por Napoleão. D.Luis, o herói do livro, è entu-slasta das idéias francesas. Leua Enciclopédia, as obras de

, Diderot e Rousseau e acredita'na Europa napoleônica: Jo-!vem, ardente, corajosa. DomLuis deseja a vitória dos fran-,cêses (Paul Morand narra oj assunto de seu livro com fi-nura, pontuando, sublinhando,como se contasse uma lenda,

PAUL MORAND -\ OHOMEM DE OUTRORAO ETERNO "GLOBE-TROTTER" — "NÀO QUERO DEI-

XAR DE VIVER ANTES DE MORRER

uma história para crianças.Com um pouco de mistério)Chegair a*; tropas do Impera-dor. Pusi lamentos, prisões,massacres, expulsões ae conven-tos são os primeiros atos doGrande Exército e D. Luis fi-ca um pouco chocado nos seussonhos humanitários vê solda-dos bigodudos estrangularemmulheres e abandonar-lhes oscadáveres na via pública...

Neste ponto Morand abre olivro e lê uma passagem: "Osciganos dançavam nas ciarei-ras perfurada» de Malaga, fa-zlam estalar os dedos, salta-vam por um real, através dasfogueiras, onde ardiam os ta-bernáculos e os harmoniuns."...

De.ois de um silêncio, nãodiz êle mais nada iecha o M-vro. O sol inunda o terraço domais belo hotel de Paris. Ficona expectativa. Morand retomao fio da narrativa: Dom Luisnão se desencoraja. Não jul-ga c conjunto pelos detalhes,nem ajuiza da revolução poralguns abusos. Os patriotasespanhóis começam a resistir,a entrar em contato com Lon-dres, onde Wellington preparao exército da libertação... A

LOUIS WIZNITZERmulher de d. Luis detesta osfranceses, mas adora c maridoe acompanha-o a Madríd. Eleali faz a política da colabora-ção. Fino e prudente no come-ço, d. Luis será *oouco a pou-co. levado a cometer crimes.E' o mecanismo da colabora-ção. E a esposa, mesmo, moi-rerá por culpa dele. numa em-boscada. Em torno desses por-sonagens centrais que simbol)-zam a colaboração e a reste-téncia, gravita a multidão dosque mudam de campe no de-correr dos acontecimentos, dosmercenários, arrivistas e apor-tunistas. A nação é dilaceradapelos êxodos, segundo sempreo sentido das vitórias. Tortu-ra-se e espiona-se em nome dapátria. Mas d. Luis é punidono fim do livro: condenado àprisão perpétua. Obtém, de-pois, licença para entrar stconvento, onde passa a ser Dor.Pablo. Cada ano. na sextafeira éle se faz flagelar como

. os outros irmãos aos gritos de:"Bata mais forte". Pede as-sim perdão a Deus de haveracreditado nos homens e nãoter, como Goya, feito o ioge.triplo".

AMIZADE COM JEANGIRAUDOUX

Jean Giraudox era seugrande amigo. Falou-se. eu-tretanto, de uma rivalidade...

Versão alwfciu. A únicar:\ahdadc entrqBos era na«orrida a pé. Owaudoux mebatia, quando éramos estudan-tes e corríamos ao longo naLudwigstrasi-e. de Munich.Éramos como irmãos. Sua obraestá cheia de pureza e profun-didade. Situo-a no plano dascoisas que não se corrompem.

(Convém lembrar que umdia. como um critico paraagradar Ginudoux declarasseser a obra deste último supe-nor a de Morand. Giraudouxrespondeu: — "Essa declara-ção não me agrada e não causanenhum aborrecimento a Mo-rand".

Paul Morsnd conheceu muitoMareei Proust.

Uma tarde — declara êle— veio procurar-me um moçomuito pálido, envolvido por umcapote de peles, embora a nol-te fosse tépida; espessos cabe-Jos negros cortados sobre a nu-ca a moda de 1905: afc palpe-bras listradas, acentuando um

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olhar aveludado, profundo... Avisito durou três horas e Proustrepetia a todo momento: "Voudeixá-lo". Já contei cí.su vlal-ta. longamente, no prefácio ticartas de Proust por mim pu*blicadas."CATEC1SMO DESESPE-

KADOR"Permanecerá multo tempo

em Paris?—• Alguns dias somente. Par-

to para a Espanha. Sou umnômade, bem sabe. Para umnômade, deixar de viajar é tãodifícil quanto para um _edcu-tario deixar sua terra. Escrevominhas memórias, memóriaslongas, cm que conto tudu <iuovi no decurso de minha exis-téncia. Hão de ler-me parasaber, no ano 2.000 como eraa Europa galante, a Europadestruída.

Pode-se dizer que um ce-tlcismo desesperador domina ofundo de sun obra tão alegrena superfície?Não sei. Posso dizer-lhe ôque aplico a mim mesmo aformula de Goya: "Náo querodeixar de viver antes de mor-rcr".

—¦ Acha a nossa época mui-to transformada?

A velocidade perdeu o seuencanto; passou a ser apenasmecânica: a diversidade per-deu sua riqueza por causa dasetiquetas c das fronteiras. Coma- renovação do nacionalismo,retrogradamos um século. Adesconfiança é geral e as limi-laçóes surgem por toda parte.Viajamos em auto-cars, em"fcournées" organizadas comguias © horários. "Rien queIa terre" — escrevi éu, outro-ra. Sim, os tempos mudarammuito e a famosa unidade domundo estará comprometidaainda por longo tempo. A Eu-ropa de hoje é um' escombro doque foi antigamente: devasta-ram-na, queimaram-na c cer-caram-na de arame farpado...

Morand tem a gentileza desua época, fala levemente, comnuanças e gestos de uma gran-de polidez. Procura sempreconvencer, comunicar-se pro-fundamente com o interlocutor.Vive sozinho, sem amigo*. íoradar escolas e dos movimentos;sua literatura vai com éle naJbagagem:—¦ Boa viagem, sr. Paul Mo-rand e continue a acumulai*"tendres stocks"..,

.*-

Xilogravura 4e ft GQEIDI

0 PRÊMIO GRAÇA ARMtHAOs dois prêmios literários

mais ligados ao modernismo,isto é, o Prêmio Felipe de Oli-veira e o Prêmio Graça Ara-nha, não têm sido distribuídosnos últimos anos.

Sobre o Prêmio Graça Ara-nha, que se destina aliás a pre-miar estréias importantes, elaureou o aparecimento litera-rio de figuras como José Linsdo Rego, Raquel de Queiroz,Jorge Amado, Erico Veríssimo o

. novos autores como Clarice Lis-pector, temos que assinalar serimprescindível a regularidadede sua distribuição. A últimavez que essa laurea foi conce-dida foi em 1947, assinalando aestréia, no romance, de LedoIvo. Daí por diante, a Funda-ção Graça Aranha silenciou,embora se saiba nas rodas cul-turais que era sua intençãoconceder o Prêmio à "Psicolo-gia da Composição", de JoãoCabral de Melo Neto, como amelhor obra de autor novoaparecida em 1947.

Como estamos - em 1951, con-vém que os membros da ilustracomissão meditem na necessida-de de continuar sua tarefa,concedendo esse Prêmio que é• uma espécie de "Prix Gon-eourt** brasileiro.

Autores não faltam, e fatosevidentes, como a estréia daGeir Campos, o ano passado,com a sua "Rosa dos Rumos",,constituiriam estímulos sufici-entes para nortear a "viagemmaravilhosa'* dos julgadores,sempre rigorosos em suas esco-

. lhas, mas sempre prontos a se-,V; lecionar e disttogujr os que me-.'recém.''

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Page 9: LetrasãÂrtes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1951_00218.pdf · Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna

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Página — 10 /. e r je. / .v £ a k i" fl 3 Domingo, 5-8-1951

O acadêmico Cefu.io Var-gas c a Cultura IS ras «seira

Recebido, há dias, na Uni-Jtrsidodc do Brasil, o sr. Cie-túlio Vargas pronunciou umdos seus mais felizes discursos,di tinindo a posição do Oovêr-no om face da Cultura. O sr.Getúlio Vargas não falou na(Tniversldadc ánenas como ho-man de Estado: falou tambémcomo homem de letras, revõ-luntlo-sc conhecedor agudo cexato das relações de ordemsociológica que ligam os ienó-me: os culturais aos fcnüme/iospi>Jiii.*os. Membro da Academiae estudioso da uosaa vida ii-terá na, confessou o Presidentea importância e o apreço quedcvotii á nos:-.a literatura, decuja evolução se mostrou per-feito conhecedor. Bastará atranscrição de alguns trechosdesse admirável discurso pararessaltar a extraordinária sig-nificação que éle tem, nestemomento, para todos aquelesque sc dcJicam, no Brasil, aotrabalho das letras e das ar-tes."Prestigiar a cultura, sob tô-das os suas formas, afirmouS. Excia., constituiu semprepreocupação constante do meugoverno. Num dos discursos daúltima campanha eleitoral, ti-ve oportunidade de salientarnáo ter sido por acaso que aevolução política do Brasil,após a revolução de 1930, co-incidiu com o renascimento dasua vida intelectual e com osurpreendente despertar do im-pulso criador no sentido dabrasilidade, na literatura e nasartes. Ê que essas manifesta-ções esplêndidas da vida po-pular e a orientação governa-mental que presidi brotaramdas mesmas fontes e se irmã-naram nas mesmas aspirações.

As forças coletivas que pro-vocaram o movimento revolu-cionário do modernismo na li-teratura brasileira, que se ini-ciou com a Semana da ArteModerna, de 1922, em S. Pau-lo foram as mesmas que precipi-taram, no campo social e po-litico, a Revolução vitoriosa de1930. A inquietação brasileira,fatigada do velho regime e dasvelhas fórmulas, que a rotinatransformara em lugar comum,buscava algo de novo, maissinceramente nosso, mais vis-ccralinente brasileiro. Por ou-tro lado, a evolução econômicado mundo, o progresso técnicoe industrial a ascensão doproletariado urbano como fôr-ça ponderada' na decisão dosfatos políticos, estavam a exi-gir nova estruturação da so-ciedade e novas leis, capazesde atender com eficiência a es-sas necessidades.

Uns e outros fatores se con-gregaram para forjar o movi-mento, que aos poucos se di-latou, criou raizes e, finalmen-te amadureceu, determinando,de um lado, a renovação dosvalores literários e artísticos,de outro lado a renovação dosvalores políticos e das própriasInstituições. Na verdade, o mo-vimento modernista, nas letrase nas artes brasileiras, foi umImpulso revolucionário quecresceu e extravasou, como ofoi o movimento político cau-sador da Revolução de 1930.

Mas, passados os primeirosInstantes e obtidas as primei-ras conquistas, um e outro sefundiram num movimento maisamplo, mais geral, mais com-plcto, simultaneamente renova-dor e conservador, onde foramlimitados os excessos, polidos osextremos sempre cheios de as-pereças e harmonizadas as ten-dências mais radicais e diver-gentes.

Eis porque assistimos, de1939 para eá, a um magníficosurto das letras brasileiras, emqae uma,, pleiade numerosa devalores novos trouxe a sua co-

. faboraçao e o seu entusiasmo

criador o renovador a todos osdepartamentos da cultura. Oromance, o conto, n x»otiula, apintura, a escultura, a música,o teatro, as ciências sociais, asdisciplinas físicas c biológicas—- sc enriqueceram com pre-ciosas contribui ções. Pode-sedizer que nunca foi tão pu-jante a vida intelectual*- doBrasi, e cm nenhum períododa nossa história sc tornaramtão difundidas c apreciadas noestrangeiro através de tradu-çóèS, exposições e críticas, asobras dos nossos escritores, dosnossos artistas c dos nossos cl-elitistas.

Não podia o meu governodesligar-se de tão intensas eexpressivas manifestações dacultura nacional; no pouco po-derão estas ser explicadas in-dependentemente dele. Os fe-nômenos sociais, culturais epolíticos formam um todo inse-parávcl e cada qual só se com-preende em função do conjun-to.

Fossem outras as condiçõesculturais e intelectuais do Bra-sil, entre 1930 c 1945, e teriasido outra Inevitavelmente, aorientação do meu governo.Mas a recíproca c também ver-dadeira. As expansões criado-ras do sentimento e da intcll-gência brasileira não teriam po-

DIOGP.NES LAERC!0dido tomar o rumo que toma-ram so não tivessem encontra-d» no meu governo a slmpa-tia, a compreemão, o apõloquotidiano, o estimulo e a li-berdade, que nunca lhes nc-gucl.

Intelectuais e estadistas, ho-mens públicos, escritores e ar-tiatas, trabalhadores das in-dástrias c trabalhadores do cs-pirito, — caminhámos juntos,através de três lustros, diver-gindo algumas vezes, sem clã-vida, no conteúdo das idéias ena orientação dos programas,porque a divergência é ineren-te á dialética do espirito c éatravés de ensaios e erros quetudo sc constrói na civilização;mas, no fundo, todos tínhamosa convicção de que estávamosservindo, cada qual, no seu se-tor peculiar, ás necessidades dopovo brasileiro e à grandeza daPátria".

E, terminando, afirmou oacadêmico Getúlio Vargas, comfirmeza e lucidez, a sua con-fiança nos valores da inteli-gência e do espírito, nestaspalavras memoráveis:"Sempre feriram bem fun-do a minha sensibilidade essasmanifestações da inteligência edo espírito criador da nossaraça. Disse-vos, há pouco, queas gerações moças e os homens

do meu governo, fomos todosprodutos dos mesmas causassociais e do mesmo instante cul-tural da vida brasileira. Fomostodos impelidos pela mesma fór-ça renovadora, que pretendiareconstruir o Brasil novo comoafirmação d0 fé no progressoc fie respeito á tradição, noque esta possui de bom e du-radouro. A Revolução de 1930não foi, repito, uma revoluçãomeramente política: represen-tou uma era decisiva na vi»da nacional, foi uma revolu-ção da própria cultura brasi-leira, em busca de novas for-mas da expressão.

Escolhi êste recinto e estaatmosfera de atividade cspirl-tual c patriótica para dizer-vos, estudantes e professores,símbolos do patrimônio cultu-ral da Nação: nas urnas elei-torais de 1950, como na mar-cha renovadora de 1930, naofui trazido á suprema magis-tratara do meu país para dé-fender interesses de grupos, pa-ra satisfazer postulados departidos, nem para realizarambições pessoais. Fostes vós,povo brasileiro, vós, as gera-ções moças e as gerações queorientam a juventude eom aexperiência de trabalhos ár-duos e sacrifícios: fostes vósque me apontastes o rumo das

CASCALHOWELLY LEWIN,

¦ jx ST A é a segunda e defl»li. nitiva edição de um ro»•*—¦ mance que •— pode-se

bem dizer — fez época ao serpublicado há pouco mais deseis anos. Era êle então, matsão que uma estréia auspiciosa,segundo o "clichê" dos regis-tros literários; era uma autén»tica revelação âe fiecionista jo»vem, praticamente desconheci»do e vivendo na sua região na»tal, do interior da Bahia, ondealiás, decorre esta história den-sa e invulgarmente complexaãe mineradores ãe diamantes.

Falamos em complexidade econsideramos o termo justo.Pois embora se trate de umaobra a enquadrar-se no setorocupado, entre nós, pelo cha»mado "Romance do Nordeste",de características preâominan-temente sociológicas, o fato éque

"Cascalho" se ergue (de modoparticular, agora, que foi matodo que refundido -~ reescrito trecomposto) como uma cons»trução de numerosos e ricosângulos, inclusive os que dizemrespeito ao delineamento hu»mano de seus tipos e ao ladoobra de- arte, que de maneiratão considerável o afasta dosimples documentário comumao gênero, mesmo quando exce-lentamente realizado.

Ressalvadas as devidas pro»porções e também ae diferen-cas de estilo, tratamento oumesmo tendências, haveriaaqui algo a aproximar, pelomenos como sugestão, ao oasoWilliam Faulkner, nos EstadosUnidos. Com isto nio deseja»mos dizer outra coisa senãoque o /icoioniata americano, fi»xando-se também num cenárioregional § assim contribuindo,

sem dúvida, para a construçãode um quadro sociológico de in»terésse extra-Uterário, universa-Usa-se, entretanto, pela utiliza»ção precipua de complexidadesmuito maiores: aquelas quepertencem como que de ummodo intrínseco d própria ela»boraçâo romanesca digna dês»se nome.

Acentue-se mais uma vez quena hipótese de "Cascalho" nãoexistem apenas riquezas de"observação" ou de. acúmulo, de"material", no sentido comumque se empresta ao termo. Háaqui, a rigor e sobretudo, elabo-ração estética, a despeito deuma certa substância ponha»mos "bárbara", trazida por ven-tos de aparente criação impe»tuosa. "Cascalho" é, sem dúvi-da, um belo marco de'modernoromanct-mZQsüeiro.

Stt ges5 (

Uma frase de Mim. Scudery

m Mms. Scudery, a autora da "Le grandCyrus" e"CleUe" costumava criticar suas oon-freiras de letras, dizendo: "A maior parte dasmulheres fala bem e escreve mal. S escrevemelos mal porque querem escrever muito bem".

Uma opinião sobra Victor Hugo* Maravilhado com o entusiasmo de seus ad-

moradores — escreveu Albalat — Victor Hugojulgava fazer obra semelhante à de Shakespeareporque punha com0 este, nas suas peças, enve-nenamontos, assassinatos, duelos, enormidades.O gênio de Shakespeare. na sua profundidadehumana, escapava ao talento dramático deVictor Hugo, que não possuía senão o dom dapoesia.

|$ A malícia de Gonçalves Dias

S Referindo-se certa vez aos irmãos Casti-

o — Antônio Feliciano e José Feliciano —ambos escritoras e o primeiro, cego, desde a in-fancia. Gonçalves Dias •— contou-nos JosuéMontelo, no seu livro sobre o poeta—que tinhaespirito e sabia julgai', definir numa pilhériaa distancia que ia de um para o outro em ma-teria de talento:— Dos Costàhos, disse êle, o cego t o únicoquo enxerga.

A intuielo c as mumeres

m Definição colhida numa velha carta doromancista americano Ambrose Bíerce. cartasomente agora divulgada: "Intuição: um estra-nho sentimento que convence as mulheres deque elas têm raaão... quando elas não a têm".

vossas esperanças c que lin-pbsestee ao meu governo, on-tem como agora, -o compromts*ko du conservar para os vos.sos descendentes éusc natrimo-nio de cultura, de ideais e tra-diçóen, que representa a nos-sa Pátria comum.

Jamais trai, nem trair-?! avossa confiança. Jamais fugi,nem fugirei à missão que medelegastes, ou que aluda pos-sais delegar-me. Governeisempre convosco e ao vosso lu-do continuo, auscultando osvossos desejos, procurando com-pveender e sentir as vossas as-pirações e colaborando couvos-co para a grandeza do Bra-sil".

Cumpre notar que o sr. Ge-túlio Vargas foi o primeiroChefe do Estado, no Brasil, quededicou mm grande discurso ex-efusivamente aos problemas daCultura, falando a linguagemde um autêntico intelectual.As mulheres e a Academia

O apaixonante assunto — aadmissão de mulheres na Aca-demia — que o sr. OswaldoOrieo colocou no cartaz da Ca-sa de Machado de Assis, teveseu desfecho, de modo rápidoe Inesperado, na ultima sessão,com a aprovação quase miânl-me de uma preliminar levan-toda pelo sr. Aloysio de Cas.tro: a de que a proposta en-volvia reforma nâo apenas deRegimento, no próprio. Estatu-to, qae todos julgavam, numacordo unânime, intocável. Masantes de chegar-se â votaçãoda preliminar submetida aoplenário pelo Presidente, hou-ve um vivo e palpitante de-bate. Alguém propôs uma fór-mula eonciliatória: os acadé-mieos qae desejassem a com-panhia acadêmica das anilhe-res que se candidatassem aAcademia Feminina de Letras.O sr. Ataulfo, citado pelo sr.,Orieo esmo um dos que aplau-dirara alguns nomes de possí*vels candidatas â Academia,explicou num -gesto humanis-ta:

Aplaudi todas elas...Outro, que, citado como •

d'Artagnan da eleição de mu-Bôeres, se excusou delicada-mente, foi • sr. Roquette Pin-'to, o qual acrescentou: ¦

$6 com a condição de fl-gurar no Regimento uma pe-quena restrição: "serão adml-tidas apenas mulheres maio-res de 45 anos"...

E assim, entre comentários- amenos e inconseqüentes, en-

cerrou-se a questão, revelando oepisódio a prudêneia e a flr-meza com que as acadêmicossabem preservar a soa tran-qullldade...Homenagem ao acadêmico

Barbosa Lima SobrinhoOs promotores -do Congresso

Nacional de Estudantes elege-ram o sr. Barbosa lima So-brinho seu Presidente de Hon-ra. O sr. Peregrine Júniorchamou a atenção da Acade-mia para a significação e im-portância dessa escolha, pe-dindo um voto de congratula-cies com o ilustre acadêmico,qae agradeceu.Centenário6de Orville"

DerbyFaz o sr. Roquette Pinto o

elogie, sóbrio, exato e brilhan-te, de Orvttle Derby, cujo cen-tenário se comemora êste ano,e foi calorosamente aplaudido.índice cultural do Rio de

janeiroO sr. Peregrino Júnior ofe-

receu à Casa alguns exempla-res do "índice Cultural do Riode Janeiro", fasendo o eiogjodo plano de difusão cultural rioPrefeito João Carlos Vital e d*obra admirável do diretor deEducação de Adultos, .sr. Ce*rso Kelly.

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Domingo, 5-8-1951 LETRAS E ART E S Página — 11

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Romance de Lygia FagundesTellet

Lygla Fagundes Tellw, vim Uaimais expressivos valores da modernaficção brasllelm, esta ultlmundo, nu-ma fazenda do interior paulista, novoUvro — um romanco que recebera otitulo de "A Idade perigosa". A Joveme laureada autora do "O Cacto Ver-melbo" pretende publicar seu novolivro no Inicie do próximo uno.

"Jornal de Poesia*

Deverá circular brevemente, sob a direção Ue Ge-raldo Pinto Rodrigues, o "Jornal de Poesia". Divulgou-sr?inicialmente que esse Jornal seria dirigido por Jo;eEscobar ÍParla. Este preferiu no entanto continuar afrente da Comissão de Intercâmbio Cultural do Clubtde Poesia de S. Paulo.

Um grande romance europeu"Etzel Andergast", de Jacob Wassermaun, vai ser

«m dos próximos lançamentos da Editora A Noite. Tra-ta-se de um dos maiores romances europeus do sécu oXX e essa obra será lançada em tradução de Octavlode Parla e Maria Helena Amoroso Lima Senlse.

Autor de "O processo Maurizius". "Golovin" e-Cristóvão Colombo", livros Já traduzidos no Brasil, J»"cob Wassermann pode ter o seu nome escrito entre osStores estrangeiros preferidos pelo nosso publico tantoaBsün que os livros acima citados se acham esgotados.

Ferreira de Castro não visitará o Brasil esteano

A visita do escrito rportuguês Ferreira de: Castroao nosso país. tantas vezes anunciada, fica mais uma

Tez adiada. O autor de «Selva», que de há muito vem«ofrendo de uma moléstia do figado, nao poderá virSte ano ao Brasil, pois permanecerá em Paris, ondeatualmente sfencôntra, ffim de submeter-se a umaoperação cirúrgica.

"Atualidade1'

. Está circulando em Sa"ntos bem t^^ revista de 11-

teratura, arte e assuntos gerais, intitulada Atuallda-de". Dirige-a Juarez Bahia.

Festival de Dança Clássica

Realizar-se-á este mês, em Sorrento, na Itália, um

Festival de Dança Clássica de que participarão siandes

artistas italianos. Entre os números de maior atração do

Festival figura a fábula do poeta e escritor Mario Vita-

le. "A Olepsidra", com música de Otello Calbl e eoreo-grafia de Valeria Lombardi.

Novo livro de Domingos Car-valho da Silva

Domingos Carvalho da Silva, pre-tende publicar, ainda no ano corren-

\< te, em edição de cem exemplares, "OLivro de Lourdes". E em edição am-pin, "O Inimigo do Mundo", Uvrocom o qual encerrará o atual ciclo de,sua produção poética. Sua intenção édedicar-se depois a outros gêneros deliteratura.

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"urso de História da Arte

O prof. Flávlo de Aquino esta realizando um cursode História da Arte, com projeções luminosas, para oInstituto Municipal de Belas Artes. As aulas têm lugartodas as terças-feiras, às 17,30 horas, na sede do Ins-tituto. ao lado do Cinema Plaza, e, pela atluência se-manai registrada, já constituem, hoje, um êxito sur-preendente. Ê de salientar, nessa iniciativa, que vempreencher a alta finalidade de divulgar a evolução daArte, até'os nossos dias, o esclarecido apoio e cola-boraçâo que está merecendo do diretor da aludidaentidade, Henrique Sàlvlo, e de Celso Kelly, Diretordo Departamento de Educação de Adultos da Pre-feitura.

ABC das Catástrofes", de Anibal MachadoAs Edições Hipocampo anunciam, para multo brevr.

o "ABC das Catástrofes", de Anibal Machado. Trata-sede uma coletânea de poemas, alguns em prosa, e nosquais o grande escritor brasileiro apresenta mais umaface de sua personalidade artística.

Sartre não pensa, por ora, em vir ao Brasil

De há muito se vem anunciando a vinda ue Sar-tre ao Brasil. Viajando para o Peru, a fim tíe tomarparte no congrssso de filosofia de Lima, visitaria êleo nosso pais. pronunciando conferência no Rio e emSão Paulo. Estamos autorizados, pelo nosso corres-pondente em Paris, sr. Louis Wiznitzer, a desmentiressa notícia. Sartre não irá a Lima e nem pensa porora visitar o Brasil. Quem com toda certeza nos visi-tara é Gabriel Mareei.

Cinqüentenário do mais leve que o arEm outubro próximo o domínio d03 ares por Santos

Dumont completará 50 anos. No ensejo dessa eomemo-ração, a Melhoramentos lança o Uvro de Renato SênecoPleury. intitulado "Santos Dumont".

Antologia da Poesia Brasileira ContemporâneaO Clube de Poesia está planejando a publicação a*

uma Antologia da Poesia Brasileira Contemporânea (1922-1947), incluindo cerca de cinqüenta poetas, assim dlstrl-buldos: a) modernistas de 22; b) modernistas de 30; c)post-modernistas; d) geração de 45.

"Crivello", de junho

Da Itália nos chega mais um número, o 3.°, referen-te ao mês de Junho, da revista de literatura e arte "Cri-

vello", que se edita em Nápoles, sob a direção do eceritorStefano Capone.

Novo livro de Pedro Luix MasiPedro Luiz Masl, que estreou em 1948 com "Dell-

rios", publicará, ainda este ano, seu segundo livro de

poemas, intitulado "Cantiga Boêmia", que reúne tra-balhos dos últimos anos. Pedro Luiz Masl é um dos bons

valores da nova geração de poetas."Escada"

Já está no prelo o primeiro número de "Escada",

órgão do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia

do Instituto Lafayette. Nesse número virão colaboraçõesde nomes de ressonância nacional, como Tasso da Sil-

veira, Afranlo Coutinho, Clovls Monteiro, e de novos

como Ferro do Lago, Clovis Ramos, Jones Rocha, Re-

nato Rocha, Walter Mariani e outros.

CORRESPONDÊNCIASR. GUMERCINDO A. UE

ARAÚJO — Pedra Azul (E. ãeMinas) — Os subscritores ãasedições HIPOCAMPO obrigam-se, -apenas a adquirir, ao preçoêe cem cruzeiros, as obras quereservarem. Há os assinantesbeneméritos, que reservam, ãeuma vez, cinco edições. Paramaiores esclarecimentos ãirl»ja-se ao poeta Thiago âe Mel-to, um ãos ãiretores das edi-ções HIPOCAMPO, à rua SãFerreira 120 — Ap. 305 — Rioáe Janeiro. Quanto à revistahumorística, a que o senhor serefere, cabe-nos informar quejá não circula mais.

SILVIO CAMPAGNÃ — Pi-rassununga \E. de São Paulo)

"Compreensão fenomenoló-fica das emoções", de João deSouza Ferraz, poãe ser pedidoà Caixa Postal, 109 — Limeira.

r HEITOR SAMPAIO BESSACaçador (E. de Santa Cata-

rina) — O poema "Jucá Mula-fo" é âe autoria do poeta pau-msta, membro da Academia•Brasileira ãe Letras, Menotti\Del Picchia e foi incluído emproso volume publicado pelaEditora A Noite sob o titulo ge»ral áe "POEMAS"*

CORREIO DE

Novo livro de Luigi Fiorentino

Luigi Fiorentino é hoje. Índia-cutlvelmente, uma das maiores voaralíricas da moderna poe.ia italiana.Autor do nu miro a obra, seu numa

s.jsa, presentemente, de grande pres-uglo nos circulo» cultur.ws da pcmn-

4 ./ sula. Em 1M8, seu volume de versos\Jrrf r* "Scalata nl clelo" obteve o PrêmioV««í**— isoiu clElba. Em 19;0 o poeta íoi

contemplado, por seu poema "E CHIUominl Cammlnuno", com o PromloSan Pellegrino, a mais importantelaurea poética italiana. Agcra teunln-do vários poemas. Luigi Fiorentino

acaba de publicar, pela Editora Mala, com prefácio deFrancisco Flcra, novo Uvro de versos, "Ha. alto doi tuocorpo", em excelente apresentação gráfica. Fiorentino ódiretor de "Ansonla", uma das mais importantes re-vistas italianas de arte e literatura*

1 Poetas brasileiros em inglêsO poeta Loonnrd 8. Downes está traduzindo para o

inglês uma série de poemas que a Revista do Museu deArte de S. Paulo publicará, brevemente. Entrarão nessacoletânea os seguintes autores brasileiros: Alphonsiu» üeGuimaraens Filho, Bueno de Rlvera, Rossíne CamargoQuarnlerl, Antônio Rangel Bandeira, João Cabral fieMelo Neto, Domingos Carvalho da Silva, Ledo Ivo, Ge-raldo Vidlgal, Péricles Eugênio da Silva Ramos, JoséPaulo Moreira da Fonseca, José Tavares de Miranda oCyro Pimentel.

Coleção MarinsUma das mais queridas coleções da Melhoramento!

é a de autoria de Francisco Marins, que agora publlcs"Nas terras do rei café", instrutiva e alegre história asnos^a rubiácea e de seus cultlvadore*.

"Revista Branca" nos Estados Unidos

Encontra-se nos Estados Unido? o jornalista RenatoJobim, onde deverá ficar algum tempo, representando a"Revista Branca" e de lá remetendo colaboraçoe... entre-vistas, etc. da atualidade literária norte-americana.

"Futebol, Centauros & Outros Bichos"

Já foram entregues à Editora Pongetti os orlginaÍ3de "Futebol, Centauros & Outros Bichos", a nova tátiraversifleada de Vital Pacífico Passos. O autor Já publi-cara "Zebueida", poema herót-cõmlco, rapidamente es-cotado, e recebido com louvores pela unanimidade dacrítica "Futebol, Centauros & Outros Bichos" traráIlustrações de diversos artistas, entre os quais nossocompanheiro Appe, de quem é a capa.

Uma mensagem de BenedcttoCroce

Em mensagem recentemente, cn-1 vlada à Universidade de S. Marcos,

de Linea, Benedetto Croce escreveu:'Quem aqui vos fala é um velho que

í^iill está para retirar-se das pelejas ma3que não consegue resignar-se com o

samento das danificaçõe^ quejjjü podem atingir todas as coisas por

elè mesmo amadas, desde a poesia áciência, deade a dignidade humana ábondade-

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L:* ^". ¦ •¦;¦mWÊÈmi * *•* '-c'nmmmmJk* x 1,

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Novo romance de Gabriel Chevalierm Gabriel Chevalier, o autor de "Clochemer-le" o romance bufo, que tanto êxito alcançouem sua adaptação cinematográfica e cênicaanuncia um novo romance que se intitulará"Le Petit General",

"Presume-se que se tratede uma obra mais ou menos no gênero de"Clochemerle".

Uma das últimas frases de Alain

m Uma das últimas frases do filósofo Alain,que foi reportada por Jean Mistler a um jornalparisiense: "É, freqüentemente, uma grandesabedoria desejarmos aquilo que queremos".

O último livro de Claudel

m "L* Evangile d' Isaie" é o titulo do últimoUvro de Paul Olaudel. Náo se trata de umaexegese do pensamento do profeta, mas de umresumo das Idéias que afluiram ao espirito de

Claudel, relendo e meditando Isaias. É um ]alentado volume-cheio de seiva e profundidade.

Tradução francesa de um romanceamericano

m Tem obtido êxito na tradução francesa ofamoso romance do escritor americano HenryMorton Robinson, aparecido em Nova Iorque,no ano passado: "Le Cardinal". O livro propõeo problema dos deveres do sacerdote ante osobstáculos da vida contemporânea.

Dante na Sorbonno

£ Louis Liard defendeu há pouco duas tesesna Sorbonne, ambas sobre Dante. Muita gentetalvez estranhe que ainda' se possa dizer algode novo sobre o autor da "Divina Comedia".Pois foi o que Louis Liard conseguiu fazer nessesdois trabalhos notáveis pela erudição e o es-forço de pesquisa.

COMO FO! CHORÂOOALVARES DE AZEVÊEO

PERORAÇÃO

âo escritorgancho Felix âa Cunha,por ocasião ãa morte de

Alvares de Azeveâo:"Que saudades tristes nos

deixou!... £ o peito de um y.aique rala âe angustias, que se-greâáva um futuro tão cheio deencantos e luzimento nessa"fronte engrinalâaâa pelo talen-to, abrilhantaâa pelo gênio,aformoseaâa pela esperança âoamanhã!... E a âesolaãa mãeque crava beijos âe fogo em lã-bios frios, que estreita um ca»àáver em angustia âo transe,peâinâo viâa a uma palpebrachumbaâa, falanâo embalde esempre a um corpo exanime...enregelado... quedo...

Pobres! — Não há confortoaqui na terra que serene essevulcão âe suspiros, que segue afonte em vosso amor! Chorai...chorai um sol que se apagou,um lirio murcho, um presentesem viâa. uma vida sem futu»roi _ chorai!... pregados ácruz da vossa aflição e deses-pero como Madalena abraçadano Golgota, e olhai porá Deusaté que éle vos diga: — basta!

U^isMir?a-'-T7T.rj-Tfr

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jTZ :r£33~:/; .tMjiaa-iai&»-i**«a»a^^ãlSga^^

Page 11: LetrasãÂrtes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1951_00218.pdf · Mas T. S. Eliot náo é apenas autor de alguns dos mais nota-veis poemas da literatura mo-derna

fei

^/ta*^WJFRIO DE JANEIRO, 5 DE ACOSTO DE 1951

O PENSAMENTO DOS ARTISTASÍEAN ANTOINE WATTEAU

(16 8 4 — 17 2 1)

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I. A. Watteau — Desenho de SANTA ROSA

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WATTEAU, pintor e gravador, nasceu em Valcnct htnes. 0 seu estilo elegante e maneiroso, fê-lo o pin-ior de cenas cam pes tr cs e das festas galantes.

Como desenhista a sua linha primorosa fix ou os motivos da sua época, frivolos mas poéticos.S. R. j

Carta ao Sr. de JulienneSenhor!

Estou vos devolvendo o primeiro tomo dos escritosde Leonardo da Vinci e ao mesmo tempo agradecendo-

vos sinceramente.Quanto aos manuscritos das cartas de Rubens, ainda

os guardarei comigo, se não vos molesta, pcis não ter-minei a sua leitura!

Continuo com o lado esquerdo da cabeça dolorido,o que nâo me tem permitido dormir desde terça-feira eMariotti aconselhou-ma purgar-me amanhã .cedo, o queresultará bem, dado o calor que faz; se vierdes visitar-medomingo mostrar-vos-ei algumas bagatelas tais como aspaisagens de Mogent.

Não tenho realizado o que desejo porque a pedragris" e a pedra sangüínea são muito duras e não posso

obter outras.

«*

AO MESMOcSenhor!

Por Marin que regressou trazendo-me a caça queme enviastes esta manha, envio-vos a tela na qual pinteia cabeça de javali e a cabeça da raposa negra, que pode-reis remeter ao senhor Losmenil, uma vez que estão ter-minados. Não posso ocultá-lo o quanto esta tela me agra-da e espero que o mesmo aconteça convosco e madamede Julienne que tão profundamente aprecia como eu, essesmotivos de caça.

Seria necessário que Cersaint me mandasse La Serrepara ampliar a tela. na qual compus os cavalos debaixodas árvores.

Penso retomá-la segunda-feira h tarde, pois pela ma-nhã esboço meus pensamentos em sangüínea.

Peço-vos saudar madame de julienne, a quem beijoas mãos.

III¦.

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