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ANO 7.° N.° 265 rt _ FUNDADOR: JORGÇ LACcPDA âljyÍ^MáÔÉ.MMi«S&ÍIÍÍÍÍ,^fc Don.lngo. 5-10-1952 ; DIRETOK: ALMEIDA FISCHER' *£WÍ '^~.'t- mmHB —t: / i USTENXE1 tempos, a ^N propósito de um livro tíe S"-* versos português de teu. delicias filosóficas, que Im duas orientações dominantes na lus- tória da poesia portuguesa. Uma, de origem popular, ou se- ja, aquela que se íiha, direta ou indiretamente, uo espirito do:, remotos cantares paralelis- ticos, forma autóctone do Uris- mo galaico-portugués; outra de origem erudita, cujos iun- damentos se encontram nas su< cessivas tentativas de renova- ção das fontes da poesia nacio- nal, pelo aproveitamento das correntes de poesia estrangeira. Começa este trabalho de reíres- camento do veio rudimentar da nossa poesia autóctone nos ai- vores da nacionalidade. £ de origem provençal o primeiro en- xci/to. E depois, sucessivamente, de extração italiana, de extra. ção espanhola, de extração irancesa... Nunca mais a poe- sia portuguesa, a exceção tío que em cada novo poeta de in- fluéncia estrangeira rompe dos sedimentos profundos oncie con- tinua a correr o rio subterrâneo da tradição popular originaria, nunca mais a poesia poitugue- sa, dizia, recupera a origínall. dade fundamental dos primor- diós. i;'oi isto que eu afirmei. £ ís- to que estou pronto a sustentar. Não deve atribuir-i>e, .todavia, a este ; ponto de vista qualquer propósito tradicionalista exíre. me. Não quero que a poesia na- cionai "volte costas a Castela", como reza uma canção popular do Alentejo, vestindo o hábito de um recolhimento onde ape- nas se tem por virtude da poe- sia o que é espiritualmente tradicional. Nunca alimentaria um ideário tão estreito. Pelo contrário, estou habilitado a demonstrar que ainda muito pouco tempo, numa revista bra- sileira, acusei os modernos poe. tas portugueses de não terem sabido acompanhar a evolução do conceito de poesia moderna verificada no resto da Europa especialmente em França e na Inglaterra —, recaindo, a ca- da nova tentativa de renova- ção do "modernismo" poético nacional, num antigo e incurá- vel defeito: a incapacidade de harmonizar a doutrina impor, tada com a prática literária dessa mesma doutrina. Limites, sim, limites ponho ã expressão do que de ge- nuino no gênio poético nacional. E esses limites são os que eu apresentei junto com as con- siderações que me mereceu o livro em discussão. Eis em que consistem: que os poetas por- tugueses, seja qual for o gênero poético que tenhm experimen- tado, o épico, o dramático, o filosófico, o futurista, o surrea- lista (perde-se-me a mistura üle gêneros e correntes. Assim sintetizo melhor o meu pensa, mento) sempre como líricos 5*e afirmam originais e superio- res. A épica em Camões é vir- tuosismo de grande classe, o dramático em Gil Vicente é ver- niz na face da. poesia, virada jmi ¦ ip, ¦ nipi^ ¦ ii ii "'Tr"-"^--"-^ —rr--!7^* «¦mw*^ÊCSOSSSSSSSSSSSSSma \ \ WBss£~—¦ ,~r *-* _;* jst m ^~~~r* a——üæ^^^^ÊIf^^mMwcTrm~immM I ,^WÊE^ZSÊÊ^^^6- ' ¦ ¦ - - _ - ... ( *^^TT^T..^Eh*^^^mml ,,Nj^BC^^rIfcEU^—.^— ¦ m m - , ^ ¦ I nk^v^ ny^^w^ ^^ wÊÊfBf^L^^^^^* ~^3mmm * S^^fBH^niTZ 1^^ ^^ ^S^KÉÈmmmBmmmmíwBBmMãm ***^ A Catedral' Xilogravura de JOHN ALLAN LIRISMO, ESSÊNCIA DA POESIA 70^0 GASPAR SIMÕES para o público, o filosófico em Pascoais é lirismo transcenden- talizado, e, depois, o futurismo em Fernando Pessoa é verba- lismo mascarando. de alcatráo marítimo, o rosto da saúda- de da infância e o sürrealis- mo de Eugênio de Andrade um lirismo substancialmente metaforizado segundo o modelo intelectualista à rebours dos mestres franceses Eluard o Breton. No fundo, todos os nos.. sos poetas, sejam quais forem os propósitos e os modelos da sua obra, todos se encontram, quando verdadeiramente poe- tas, sobre a mesma ponte: a ponte sob a qual corre o rio do lirismo autóctone. Sc não foi isto que eu disse a propósito do livro em discus- são, tentativa de poesia fiíosó- íica4 era isto que eu em, ver- dade queria dizer. E a única coisa que eu tinha em vista quando isto disse, ou isto quis dizer, não em que se tentasse renovar a tradição da poesia portuguesa * *que na poesia por- tuguesa iftb houvesse manifes- tações por^ífeks não-líricas: era, sim, que nfc tentativa do poeta referido me Jiparecia a super, ffeie do pensamento sem me aparecer o fundo do lirismo. Xudt» a que, depois de Brcmond, se chamou "poesia pura" ním é scnâo isto mesmo: a raiz II- rica da expressão poética. Tal» vez seja ousadia sustentá-lo, mas sustento-o: o lirismo é 4 essência da poesia, esse frêmito indefinívcl, improrrogável e inexplicável que levou Edgar Poe a considerar falsa a obra poética que ultrapassasse a9 curtas dimensões de um soneto ou de uma canção. Bem certo que Os Lusía« das e que O Paraíso Perdi- do. De acordo com Poe, contiu do, para mim o que nestes poe- mas não é ação ou pensamento! é que é poesia. Na ação no pensamento está tudo o maiü que se quiser: epopéia, drama, metafísica, moral, teologia a que não está, porém, é poe* sia. Identifico, eu, portanto, abu* sivamente, lirismo e poesia? Identifico. Aliás, a própria pa- lavra "poesia", na suaetimo- logia grega, quer dizer: "o qua faz", o ato de se fazer seja o que for. quando o que se faz é poesia no mais puro e na mais íntimo significado se podei dizer que lirismo. "Lírica" reporta-se, etimològicamente, ao instrumento com que se acom. " panhava o canto. Lirismo, poe conseguinte, é o ato poético em que a voz canta, em que o can« to se faz música, em que a mu* ¦ sica sublima o que de ine-> fável, de indizível, na palavra! através da qual o homem ex- prime os mais altos arroubos ãal sua inferioridade. Estou eu a negar o nome da poeta a alguns dos maiores poe- tas da literatura mundial? Não. Estou apenas a dar e seu ao seu dono. Poeta é todo o ver- dadeiro criador todo aque. le que faz em literatura, erian- do, quer crie personagens, quer crie pensamento. E é assim que todos os escritores verdadeira- mente criadores são poeta». Nem todos, porém, são líricos. Termo mais vasto, mais fundo, mais amplo, o termo "poesia" é menos íntimo, menos essen- ciai, menos revelador que o da ¦lirismo. São líricos os maiorea poetas da pátria mais poética da Europa a Inglaterra —•, não obstante Milton, Shelley oa T. S. Eliot, poetas em que a elemento filosófico se mistura, confundindo-se, üo sopro lírico, São especialmente poetas mais representativos entre o* poetas franceses, tanto assim que os líricos, em França, sem- pre têm sido oonsiderados, pelo menos pela crítica unlversitá- ria, como poetas menores. São poetas menores em Fran- qa:.um Villon, um Baudelaire, um* Verlaine, um Mallarmé. Poetas maiores, pelo contrário, aqueles que de líricos têm o mínimo: um Corneille, um Ra. cine, um Victor Hugo (não obstante o lirismo sr,r a nota mais genuína da obra deste poe- ta). Segundo esta classificação, todos os nossos poetas, salvo Camões, salvo Pascoais, salvo Antero, salvo Pessoa, qne estes (Conclui na 8." páf.}, CD CL CD "S P SJ»

*£WÍ mmHB FUNDADOR: JORGÇ LACcPDA DIRETOK: ALMEIDA …memoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1952_00265.pdf · 2012. 5. 10. · livro em discussão. Eis em que consistem: que os poetas

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ANO 7.° — N.° 265 rt _FUNDADOR: JORGÇ LACcPDA

âljyÍ^MáÔÉ.MMi«S&ÍIÍÍÍÍ,^fc Don.lngo. 5-10-1952 ;DIRETOK: ALMEIDA FISCHER'

*£WÍ'^~.'t- mmHB

—t:

/ i USTENXE1 há tempos, a^N propósito de um livro tíeS"-* versos português de teu.

delicias filosóficas, que Im duasorientações dominantes na lus-tória da poesia portuguesa.Uma, de origem popular, ou se-ja, aquela que se íiha, diretaou indiretamente, uo espiritodo:, remotos cantares paralelis-ticos, forma autóctone do Uris-mo galaico-portugués; outrade origem erudita, cujos iun-damentos se encontram nas su<cessivas tentativas de renova-ção das fontes da poesia nacio-nal, pelo aproveitamento dascorrentes de poesia estrangeira.Começa este trabalho de reíres-camento do veio rudimentar danossa poesia autóctone nos ai-vores da nacionalidade. £ deorigem provençal o primeiro en-xci/to. E depois, sucessivamente,de extração italiana, de extra.ção espanhola, de extraçãoirancesa... Nunca mais a poe-sia portuguesa, a exceção tíoque em cada novo poeta de in-fluéncia estrangeira rompe dossedimentos profundos oncie con-tinua a correr o rio subterrâneoda tradição popular originaria,nunca mais a poesia poitugue-sa, dizia, recupera a origínall.dade fundamental dos primor-diós.

i;'oi isto que eu afirmei. £ ís-to que estou pronto a sustentar.Não deve atribuir-i>e, .todavia, aeste ; ponto de vista qualquerpropósito tradicionalista exíre.me. Não quero que a poesia na-cionai "volte costas a Castela",como reza uma canção populardo Alentejo, vestindo o hábitode um recolhimento onde ape-nas se tem por virtude da poe-sia — o que é espiritualmentetradicional. Nunca alimentariaum ideário tão estreito. Pelocontrário, estou habilitado ademonstrar que ainda há muitopouco tempo, numa revista bra-sileira, acusei os modernos poe.tas portugueses de não teremsabido acompanhar a evoluçãodo conceito de poesia modernaverificada no resto da Europa— especialmente em França ena Inglaterra —, recaindo, a ca-da nova tentativa de renova-ção do "modernismo" poéticonacional, num antigo e incurá-vel defeito: a incapacidade deharmonizar a doutrina impor,tada com a prática literáriadessa mesma doutrina.

Limites, sim, limites ponho ãexpressão do que há de ge-nuino no gênio poético nacional.E esses limites são os que euapresentei junto com as con-siderações que me mereceu olivro em discussão. Eis em queconsistem: que os poetas por-tugueses, seja qual for o gêneropoético que tenhm experimen-tado, — o épico, o dramático, ofilosófico, o futurista, o surrea-lista (perde-se-me a misturaüle gêneros e correntes. Assimsintetizo melhor o meu pensa,mento) — sempre como líricos5*e afirmam originais e superio-res. A épica em Camões é vir-tuosismo de grande classe, odramático em Gil Vicente é ver-niz na face da. poesia, virada

jmi ¦ ip, ¦ nipi^ ¦ ii ii "'Tr"-"^--"-^ —rr--!7^*

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A Catedral' Xilogravura de JOHN ALLAN

LIRISMO, ESSÊNCIA DA POESIA

70^0 GASPAR SIMÕES

para o público, o filosófico emPascoais é lirismo transcenden-talizado, e, depois, o futurismoem Fernando Pessoa é verba-

lismo mascarando. de alcatráomarítimo, o rosto da saúda-de da infância e o sürrealis-mo de Eugênio de Andradeum lirismo substancialmentemetaforizado segundo o modelointelectualista à rebours dosmestres franceses Eluard o

Breton. No fundo, todos os nos..sos poetas, sejam quais foremos propósitos e os modelos dasua obra, todos se encontram,quando verdadeiramente poe-tas, sobre a mesma ponte: aponte sob a qual corre o rio dolirismo autóctone.

Sc não foi isto que eu dissea propósito do livro em discus-são, tentativa de poesia fiíosó-íica4 era isto que eu em, ver-

dade queria dizer. E a únicacoisa que eu tinha em vistaquando isto disse, ou isto quisdizer, não em que se tentasserenovar a tradição da poesiaportuguesa * *que na poesia por-tuguesa iftb houvesse manifes-tações por^ífeks não-líricas: era,sim, que nfc tentativa do poetareferido me Jiparecia a super,ffeie do pensamento sem meaparecer o fundo do lirismo.

Xudt» a que, depois de Brcmond,se chamou "poesia pura" nímé scnâo isto mesmo: a raiz II-rica da expressão poética. Tal»vez seja ousadia sustentá-lo,mas sustento-o: o lirismo é 4essência da poesia, esse frêmitoindefinívcl, improrrogável einexplicável que levou EdgarPoe a considerar falsa a obrapoética que ultrapassasse a9curtas dimensões de um sonetoou de uma canção.

Bem certo que há Os Lusía«das e que há O Paraíso Perdi-do. De acordo com Poe, contiudo, para mim o que nestes poe-mas não é ação ou pensamento!— é que é poesia. Na ação o»no pensamento está tudo o maiüque se quiser: epopéia, drama,metafísica, moral, teologia — aque lá não está, porém, é poe*sia.

Identifico, eu, portanto, abu*sivamente, lirismo e poesia?Identifico. Aliás, a própria pa-lavra "poesia", na suaetimo-logia grega, quer dizer: "o quafaz", o ato de se fazer seja oque for. Só quando o que sefaz é poesia no mais puro e namais íntimo significado se podeidizer que há lirismo. "Lírica"reporta-se, etimològicamente, aoinstrumento com que se acom." panhava o canto. Lirismo, poeconseguinte, é o ato poético emque a voz canta, em que o can«to se faz música, em que a mu*

¦ sica sublima o que há de ine->fável, de indizível, na palavra!através da qual o homem ex-prime os mais altos arroubos ãalsua inferioridade.

Estou eu a negar o nome dapoeta a alguns dos maiores poe-tas da literatura mundial? Não.Estou apenas a dar e seu aoseu dono. Poeta é todo o ver-dadeiro criador — todo aque.le que faz em literatura, erian-do, quer crie personagens, quercrie pensamento. E é assim quetodos os escritores verdadeira-mente criadores são poeta».Nem todos, porém, são líricos.Termo mais vasto, mais fundo,mais amplo, o termo "poesia"é menos íntimo, menos essen-ciai, menos revelador que o da¦lirismo. São líricos os maioreapoetas da pátria mais poéticada Europa — a Inglaterra —•,não obstante Milton, Shelley oaT. S. Eliot, poetas em que aelemento filosófico se mistura,confundindo-se, üo sopro lírico,São especialmente poetas o«mais representativos entre o*poetas franceses, tanto assimque os líricos, em França, sem-pre têm sido oonsiderados, pelomenos pela crítica unlversitá-ria, como poetas menores.

São poetas menores em Fran-qa:.um Villon, um Baudelaire,um* Verlaine, um Mallarmé.Poetas maiores, pelo contrário,aqueles que de líricos têm omínimo: um Corneille, um Ra.cine, um Victor Hugo (nãoobstante o lirismo sr,r a notamais genuína da obra deste poe-ta).

Segundo esta classificação,todos os nossos poetas, salvoCamões, salvo Pascoais, salvoAntero, salvo Pessoa, qne estes

(Conclui na 8." páf.},

CDCLCD"SP

SJ»

iPACINA — 2 LETRA S E 'ARTES Domingo, 5-10-1952

Ei TRADIÇÃO Uo ColégioPcuro u o -mu uuviuunoUe que w luvejaum os

seus coneuiwtó pur*] « cadeirailc Fílosolia. Ainua «e recordaii tnonioravBi ouiaUiu travadaenue. K.iiüi*. tinu, o Biiuddeaala Uutlhu Pfttfinaa • pagmua06 teu» o-cnio a case respeito e

CSle •upieuienlo JiUirano já•teve oportunidade ae publicar,mu iiiici*ra. .in verdadeiro furode reportagem, as duas provasescritas desses dois eminentes

, espírito*.Poderíamos, nesta oport.unl-

daae, reproduzir uma páginaSDão muito divulgada de SilvioHomero, declinando do convi-

»te que lhe fora feito para exa-Jtüriuaor desse famoso coneur»

(So, com a alegação de que, sen-do adversário tanto das cor-

lentes espiritualistas como po-i8itivistas, não se sentiria per-íeitamente à vontade para jul-igar os concorrentes de pensa-iinentos claramente definidos.|E' uma página de real lnteres-v«e, mas que deixaremos paraI comentar em outra oportuni-idade.

O VITORIOSO DO NOVOCONCURSO

No ultimo concurso, há pou-•co encerrado, e ao qual con-correram os ilustres- cândida-

lios Professores Júlio de Car-jívalho Barata, Eduardo Praaode Mendonça e Euryaio Can-nabrava, coube o primeiro lu-Bar, na classificação final, aeste ultimo. Devemos salien-tar o real brilho com que so¦portaram os professores JúlioBarata, o segundo classificadoe Prado de Mendonça, este,

-üüiás, muito jovem ainda.Os mais vivos comentários

foram tecidos a respeito desse,podemos dizer, memorável con-curso. Houve registros, por cer-to apaixonados e até algunssmeio disparatados.

\ lAKI^ÍS BRITO MATÉRIA-LISTA?

Causou espécie, por exemplo,& declaração enfática de umJornalista, considerando Pa-Jías Brito, — cujas idéias qual-quer estudante de curso gina-íial conhece —• como o maisftotável representante do ma-íerialismo, na fiiosofia brasi-Jeira.

Professor houve que, em en-grevista, chegou a declarar, aarespeito de um dos candidatos,çme este não havia lido abso-íutameute nada, ou melhor,«ra um perfeito ignorante. Ou-iro quiz tomar, o concurso por/verdadeira cruzada, como se es-tivéssemos com ottomanos afílsta..'.

*j Professor Euryaio Canna-£rava indiscutivelmente foi omais visado pelas reportagens,escritas, é natural, no atropeloòas redacõss, algumas delas sema, serenidade devida. Tal foi ocalor de certos relatos. que•Siouve quem dissesse que esse.professor nada conhecia cieAristóteles e de S. Thomaz deAquino. E o pior é que chega-ram a atribuir-lhe declarações)aiesse sentido, no decorrer dopróprio concurso.OUVINDO k> aPROFESS'ÕR

••cànnàbràVaItesoivemos ouvir soore o as-

sunto o vencedor da luta. Dis-fie-nos o Professor EuryaioCannabrava: "Os debates so-'hro filosofia ou ciência noBrasil em geral terminam comafirmações peremptórias deifiue os nossos adversários nun-•ca leram este ou aqlele autor.>A acusação de que jamais liAristóteles ou ,S. Thomaz não

¦pode ser respondida. Comoprovar aos meus adversários«Me conheço a obra desses doisfilósofos? Tais' alegações sebasearam na declaração " povmim feita na prova de' defesade tese de que, ao escrevê-la,íião havia reconhecido a im-portancia histórica da obra de6. Thomaz. Este pensador in-troduziu um conceito de rela-tividade do conhecimento quecontratava com a posição as-eumida por Sto. Agostinho,Sto. Anselmo e S. Boaventu-ra adeptos intransigentes deuma coftcéituaçap mísf^a dali'0-cf". pp^a f^es. <n, f^"srtfianada mais era do que uma pe-

O CONCURSO PARA A CADEIRA DEFILOSOFIA DO COLÉGIO PEDRO II___^_________ .. _^_____—ai.^——

DISPARATES E DETURPAÇÕES — FARIAS BRITO TOMADO COMO INTERPRETEDO MATtRIALbMO — AKlSTOTtUo E SÃO THOMAZ DE AQUINO NOS DE-BATES — VIDA E OBRA DO PROF. CANNABRAVA, PRIMEIRO CLARIFICADONO CONCURSO — LOUVORES DA CRITICA INTERNACIONAL AOS SEUS

TRABALHOS

regçinaçao da alma para Deus.Ora, S. Tonutz permaneceufiei à íiloáoíia considerada co-mo atividade humana e, por-tanto, relativa e finíta. Quan-to a Aristóteles, o que de: la-rei na referida prova foi que,ao redigir a minha tese, hacerca de 4 anos atrás, nãoatribuíra ao seu livro "Tópi-ca" (Os Tópicos) a importan-cia que a crítica mais recentevem emprestando a essa obra,geralmente tida como poucoimportante no conjunto doatrabalhos do filósofo estagirita,Concluir daí que jamais li Aris-toteles ou S. Tomaz revela mafó e manifesto desígnio de des-virtuai* a posição que foi pormim corajosamente assumida.Tudo que acabo de afirmar po-dera ser verificado, por quemse interesse, procurando ouviua gravação feita de todos osdebates efetuados durante oconcurso".

Respondia-nos assim, de mo»do cabal, às interpretaçõestão tendenciosas das palavraspronunciadas pelo ilustre pro-fessor naquele concurso. Deli-cadamente esquivou-se de ou-trás considerações acerca doconcurso. Não podia, porém,calar diante das aludidas de-turpações.

A OiJRA DO PROFESSOREUKYALO CANNABRAVAA obra do professor Euryaio

Caimabrava é por demais co-

W&Wfà Saa W? '¦¦ '¦¦¦''¦¦'¦¦£ ;i^^^Bí^^^^^

WÊÊÊs*? W":¦' ÍMÊÊIÊÊm

Euryaio Cannabrava

nhecida nos circules culturaisdo país. Dela se poâerá clis-cordar, mas é irrecusável a suaImportância.

Quando divulgou seus prl-meiros trabalhos em rodapé no

"O Jornal", 4:omo redator üuseção "Letras Estrangeiras", ainteligência brasileira voltousuas atenções para e.c:se novovalor que surgia cm nossos ho-rizontes culturais com vigorsingular. Durante oito anosEuryaio Caimabrava, com no-tável penetração, teve oportu-nidade de discutir os pnncl-pais problemas da filosofia con-temporanea, sobretudo dos pen-sadores germânicos, ingleses cnorte - americanos. Posterior-monto prestou sua colaboraçãono jornal A MANHA, redigiu-do, a convite de Cassiano Ri-cardo, a seção "Críticas deIdéias". Mais tarde, sua coia-noráÇâo se estendeu para ascolunas do "Estado cie SaoPaulo", "Correio da Manhã","D!ário Carioca", "Jornal deLetras" e "Revista Brasileirade Filosofia".

Além disso, tem publicadoconstantemente ensaios íilosô-ficos cm revistas especializadai?estrangeiras, como -Journal ofPhilosophy" (New York) ,"Philosophy and Phenomeno-logical Research", fazendo par-te atualmente do coi*po de re-datores da mesma. Recente-mente foi convidado para fi-gurar no Conselho de Redaçãoda revista "The Journal of

"Hália" Hp Franrra hmm? üm rh}* bons trabalhes expostos no Salão de Belas Artes deste• lüttüfl , m fimua mim aíl(í é 0 de Frai5cia smiov, cuja escultura em marfim tem «ha-tnado a atenção do mais exigente ijúíjHco c da crítica de melhor categoria que pessuimos. Es<cultor, pintor e gravador, Francia Júnior já mereceu em anos anteriores vários prêmios im-pòrtantes pelos trabalhos que apresentou na mos trã oficiai de arte. (guando expôs seu "CristoCruxificado", o governo de São Pau!o & aâquMu para «ferecê-ío ao Papa Pio XSI, que o mantémainda hoje nas galerias de arte do Vaticano, onde se exibem em caráter permanente as obras prí-mas da arte de todas as épocas. Sua escultura agrora c-s5>osta no Saião de Belas Artes, que aci-ma reproduzimos, foi composta.cm marfim e bronze e nela figura uma das filhas de Francia .Tu-n*or, Itália, que dá títuto ã obra. Com uma per fe:fião de detalhe pouco vista em trabalhos dogênero, a nova crire«!.o de Francia Júnior £3 situa num óÍ!m'> nível de realização artística, não sópeía ir^â*-"^ yo r—'Sno- *-i«s. e •'o^re^uífo, nela expõntaneí^aíle com ou« fiy»*i a exuvessâo e a4>osc do rnsíêio. Com "Itália"., F? h 7-'~>'.n. at'S^ \im a&'< r^íos mais altos de sua èspres-

siva carreira artística. — S. C,

Acsthctlcs and Art Çiitlclrim"ao lado tio Vtvn Motor Amca(Univ. do Cinclnati) u Hcr-bert Read, do Instituto de Ar.tes Contemporâneas.AL(;t'N8 TÍTULOS DO VEN.

CEDOR DO CONCUKSOO Prof. Euryaio Oannabrava

d um nomo vinculado, desüu mvar*os anos, ao ensino do i»í«iouoim. Foi professor de Piio*soiia da Universidade de Mi,naa c ao Ginásio Mineiro, nePctcoloiíia o Lógica da Faciu.dade ao Direito de üelo lio-rizonte, tio Péoagogia e Psicg,log^a da Facuioauo Suntu Ur-sina. No Rio, lecionou no in3,'tauuo ue jjAiiicaçao, tenoo siut»amua, uirecor uo InBtituto aeFSiCO»ogJtt ua Universiaaoe uoB«*sUj Otím como uo insutiud

picion,iurt. vJaoo tiesuiuiar que,ha uiíz,e anua, ocupa uuoii.iu.'mento a caincifa ue Fuosouano ooiétílO rvíuro xí.

Lcn.\>n,e5 JÜ ' A«.X'ES tCVOopuíáuíiuaue uc uuv»r ant»j.:o.jo liuvuô suínos ao Pron^oos(juAwicturuvtu, no v>okg:o re-dro ja. o pronunv.ian>emo ugscacüííanres íoi praticamenteuaHiuine,* a r«speiv,o uc suasquauuauea couio uiuata-saiien-laauio a exctíitíncia uo ,ieu me*tpuò de ensino. Este supic-monto, aixas, 3a íiiyuigou, em.suas paginas, magníficos tra*bamos ue aiuno» uo Prof. Can-naoravai soore temas filoso/l-coá, selecionados peto própriomestre, estmiulando-os, de íor-ma quase inédita cm nossomeio.

LIVROS BUBX.ICADOSO Prof. Euryaio Cãrinabrava

já publicou os seguintes trana-Jhos: "Seis Temaa do EspiritoMouerno", que obteve os malaamplos elogios da nossa enti-ca, entre os quais àssíiialamoaos cie Tristão üé Atbayde c Á\-varo Lins; "Descartes e Bcrg-son" (1942) e ,4 Sobre a natu-reza da 'Filosolia", sua maíârecente obra.JPKOJKÇÀO INTEaNACiOK.HL

DE CANNABRAVAFoi o primeiro nome latino-

americano a ingressar na•'American Philosophical As-sociation". Devemos observasque o titulo de "¦Fali Mêmber-ship", como é o seu caso, 6concedido exclusivamente àque-ies que publicarem contribui»çõ3s consideradas, pela Çònus-são Executiva, de "substancialvalor para. a Filosofia". Porduas vezes, figurou como "Foi-lòvvigfíp9! da iamosa "Oug&i"nhtíim Foundation", que, noescolher seus convidado,*?, "5o-ma em consideração sobretudoa capacidade exrepGioríar do injyestigação científica mi evia-çâo arr,i:itiea que os candidato-;tenham demonstrado".

Foi o primeiro suT-àinerica-no a dar um curso na Ünivér-sidade ,de Columbia, de NovaIorque, tendo versado sobre otema de "Teoria do Conheci-mshto". Membro oficial cie vá-rios confessos in ter- amor ica-nos de fílOsofiai «fèsemijenhouas funções de pesquisador ofi-ciai de filosoíia em várias '.uni-versidades estrangeiras. Com-pulsando o conhecido "JDicío-iíártõ de Filosofia" do JpsfcF:-rratev Mora, encontramosdemoradas referencias à o*órade Euryaio Cannabrava, A im-portancia desse registro se evi-ciência quando verificamos quesomente dois outros filósofosbrasileiros são citados: TbbiasBarreto e Farias Brito.OPINIÃO DOS CRÍTICOS k

FILÓSOFOS ESTEANGEIEOS

Temperamente avesso à ptt-blicidade. modesto è discreto,o Prof. Cannabrava não temdado- divulgação, entre nós, asreferências, que lhe fazem cri-ticos ou filósofos estrangeiros,Uma visita à sua casa rier-noroportunidade de ler os m?lho-res louvores aos seus trabalhosde figuras como os de Fran*cisco Roniero, a expressão m.aiíalia da filosofia, na Argenti"na, o prof. Irwin Edman, autordema;s de vinte" volumes sobrecmestões fiio<5nfieaíi, Mf»ury ABromsen. e*^r da Revista

(Cenciwi- m «,a P*sr*)

I

domingo, D-IU-IV52 lETRrAS E rARTES Pagina — 3

IX iH-HE-IA <i»«' ioda obra

I literária deve ter como-* objetivo o diálogo. O que

k« escreve destina-se a provo-car «o leitor uma reação èmo-Uva. u Nollcltar uma resposta.Na verdade não há um diálogoapenas, porém vários diálogosconcomitantes, de essência ''forma diferentes segundo o lei-tor. Mus para que se verilíqueesse fenômeno de comunicaçãoprcoisa a obra antes de maisnada ser comunicável, isto é,apresentar-se com um mínimode clareza, usar de certo nume-ro de sinais ou conceitos comunsa determinado meio social, ven-tilar temns de interesse do leitorou exprimir emoções nele latcn-tes.

Nisso parece residir o segredodas obras-primas da humanida-de e isso constitui como que de-nominadores comuns a todaselas. Mas há momentos em quetais qualidades desaparecem ouse atenuam na obra literária,quase sempre por se observaruma divergência grave entreo escritor e o público normal.Então surgem os monólogos,obras cm que o autor se expri-me sem a preocupação de serouvido, por necessidade pessoal,íntima. São essas épocas, cmgeral, cm que os poetas escre-vem para os poetns, as de re-novaçáo estética, quando oeor-re não só o hermetismo flamensagem mas ainda o desço-nheeimento da própria línguaem que ela é transmitida.

Nesses momentos de transi-ião a crítica se arrisca a juízostemerários, engana-se muitasvezes sobre o valor certo daobra analisada, o que permiteiuma inflação ditirambica ouum excesso de severidade dita-da (feia incompreensão, favore-«endo tudo, não raro, os medío-crês e prejudicando os melho-res. Cumpre portanto nessaahoras de alguma confusão ado-iar-se um critério muito pru-dente que não valorize dema-siario nem condene com levian-dade. Uma tal prudência deve-rá ser maior com relação â poe-sia. eujja tendência para o mo-nólogo mais se acentua ainda,acarretando maior dificuldadeaia sua apreciação.

Desde o simbolismo esse mo-nólogo dos poetas vem incentl-vando o aparecimento de obrasde exegeses, e erigindo novas£- e sempre discutíveis — defi-nições da própria poesia. E aspolêmicas se eternizam. Ain-da hoje se debate essa questão,sem se chegar a um entendi-mento que ultrapasse o circulodas escolas, dos grupos. E' apoesia multivoca ou univoca?E' essência indef in|vel ou musl-ealidade formal? K* metáfora?Ritmo?

| Bobert de Souza, responden»do ao abade Brémont, observou,o que me parece justo, e, ape*»sar da vagueza, aceitável como;ponto de partida, que "enquan-

!to o concreto não é arruinadopelo abstrato existe "poetismo"

j (em oposição a prosaismo). Emoutras palavras, enquanto srealidade sensível e rica não ídestruída pelo conceito, há poe«sia em estado potencial. Mas c.poema só aparece ao se expres-sar essa potencialidade sob aforma do verso que se caracter

- riza pelo ritmo. Em que consls-te este? Obedece a determina*das leis? No caso afirmativo,que pensar do verso livre? Aquitambém me satisfaz a respostade Robert de Souza: "da emo««pão à linguagem e da língua»gem à emoção ligações natu«rais estabelecem o ritmo". As<sim teremos uma justificaçãopara esse aítmo individual quereivindicara os modernos como

PROSA E VERSO

necessário a sua expressão poc-tloa mais feliz c melhor compreendemoç (ou sonilmos) oPQpma, como um todo

Bstou pensando em Ciro Pi-mentcl que m>s dá aporá seusegundo livro: "Espelho de chi-zas*\ monólogo amrusüado sò-bre a solidão e o sonho de umretorno rcconfortanle à Iniãn-ela. Em seu primeiro livro tlepoesia a obsessão da morte eradominante, hoje ela se esmae-ce na quase resignada aceita-ção dessa outra morte que é asolidão. Por isso mesmo talvez,porque alguma coisa mudou nopresença do poeta no mundo,aquele ritmo um tanto crlspa-do dos versos antigos se trans-formou e se tornou mais sere-«o. Ao mesmo tempo o voea-bulário, antes agressivo pela cs-colha da palavra rara, surgiudepurado. Subsiste a desespe-rança, mas o lom agora é ele-gíaco. E mesmo há momentoscm aue ao sentimento de vaziosubstitui o orgulho de ser sóE a idéia de aniquilamento seopõe a solução do sonho — dapoesia.

Nesta hora de so-oerba soll-[dão, quando o mar é ausen-,[le e as estrelasSepultas nas nuvens colorem[de sono o espírito manchado[de céuSurges, ô mensageira dp«[sonho. Kf:,

SÉRGIO MILLIETJ

*teiorno» a intancia, sonho,eis os refúgios do solitário. Mas.nostalgia da infância significaaspiração à pureza através daqual üe alcança o sentido pro-fundo da vida, comungandocom o inefável pela Imaginaçãocriadora ainda não conspurca-da pelas imposições esteriiizan-tes do mundo exterior. Na In-funda têm as palavras umarealidade sensível, o que as en-rlquece de força poética, de slg-nifieação intrínseca. Não asperturba o conceito abstrato cconvencional. Sc com este nosé dada a possibilidade do'dia-logo, bem pouco temos então adizer porque, cm se tornandoacessível a muitos, a realidadese deforma c descaracteriza.Daí sem dúvida a solidão dopoeta que se recusa à língua-gem dos conceitos e. seu dese-Jó de mergulhar novamente nainocência milionária. Dir-se-ia que, como Henry Miller, Ci-ro Pinientel procura ampliarem si a criança, fugindo à cs-tupidez "ordenada" do adulto.

Teria uma observação a fa-zer entretanto sobre o verso deCiro PImentel. Trata-se de umsimples pormenor, mas de Im-portãncia na linguagem poétl-ca: o abuso no emprego das con-junções c dos pronomes. Porvezes esse abuso se justificaporque faz mais pesada e ler-da a frase, porém seguidamen-te apenas empobrece a inven-ção sintáctlca. E o potencialpoético se dilui no prosaismo

da forma. Cumpre-lhe evitaresse escolho.

# ti -r

Clarice Lispector publica naaedições do Ministério da Edu-cação (Cadernos de Cultura)uma pequena coletânea de con-tos, multo pessoais, de uma es-tranha sutileza c naquele seuestilo exuberante de imagens,que tanto nos impressionou emseus romances.

Havia o perigo, nessa procurada fixação do imponderávelatravés de uma constante de-formação sintáctlca e vocabu-lar, que lhe é habitual, da que-da na fórmula e da topada noprecloslsmo. Vejo-a, com pra-zer, evitar sempre por um trizesse desastre. A volúpia da fra-se, do som e da cor, permanecea característica de sua manei-ra, mas sua inteligência, suapenetração psicológica e princl-palmcntc sua sensibilidade sa-bem dar ao que escreve umequilíbrio suficiente. Quantoao conteúdo dos contos, a pre-dileção pelos heróis docementeinconformados, ariscamente cn«slmcsmados, parece constituiruma constante de que não seafasta.

Na coletânea publicada hápequenas jóias antológicas. As>sim o primeiro conto intitulado"Mistério em São Cristóvão",cheio de fantasia, assim tam-bém "Laços de família", emque todo o final se desenvolveem torno do misterioso inter-

»ANTA ROSA

O TIGRE>

SOB TUA PELE LIQÜIDALOCOMOVE-SE UM TIGR8IMANTADO DE FRÊMITOSNA FLUIDA TENSÃO ELÁSTICA*

E ENTRE A FENDA ESCURA íDE TUA PUPILA [RISADADESCERRA AS FAUCES RUBRAS,SE ESPOjA, ROSNA, AMEAÇA.i

SE TE FARPEIO TODA— MEUS INSTINTOS VEEMENTES!SE ENCOLHE ANTERIOR AO SALTOLAMBENDO A ILHARCA FERIDA*

DO SEU VENTRE SE IRRADIAEM ONDAS,- PUNGENTE CÓLERA,

' E ALÇANDO AS GARRAS MORTAISME ABATE NUM CHARCO DE SANGUE,

.miiiiii sentimental mãe e fl*ho, estabelecido inesperada*•icnte ante u angústia vaga dopai. A revelação informe deuma coina essencial que de re-]>ente m fixa, Catarina gostariade partilhar com alguém, mas"não encontrou ninguém quoentendesse o que ela não pu-desse explicar". Observaçãoaguda c bem pecuünr a ClariceLispector. Nem sempre poremé tão acessível a sutileza daautora. Multai vezes, e no mes-mo trecho de prosa, ela passaao monólogo, ao devaneio,abandonando o leitor, num»Uiiguagcm semelhante á dacriança, que o adulto de íma-glnação atrofiada não mais cn-tende.

Sem duvida essa linguagempode virar processo literário.Basta juntar a uma palavraempregada em sentido esotcrl*-co um adjectivo ou compleracn-to que logicamente nada tenhaa ver com ela. DIr-se-á "umgrito de café fresco", dando agrito o sentido de cheiro repcn-Uno, ou se dirá "tomava o seusábado", emprestando a "to-mar" o sentido de viver outransformando o sábado numabebida sorvida lentamente.Pcrcebc-se o perigo da soluçãoque permite construir toda umafalsa poesia sobre a arbltrarie»dade da trucágem. sobre umatécnica malandra. Mas em Cia-rice Lispector essa linguagemé espontânea, e isso se deduzcom facilidade da própria ob*sessão por certas imagens que»se criadas voluntariamente pa-ra obtenção de certos efeitos,seriam mais selecionadas. Acontrafação se reconhece pelaperfeição das soluções. E' comose analisa a gravura, por exem»pio, a fim de diferenciar o ori«ginal da cópia. Nesta nunca seencontram as hesitações c asfalhas da verdadeira, porquepor mais hábil que seja o co-pista nunca lhe será dado nadaalém da habilidade. O traçodo criador não tem a seguran-ça do traço do imitador. E' po-los erros, as falhas, as insistên-cias, os excessos que ClariceLispector prova a espontanei*dade de seu estilo — c ê essaespontaneidade que o valorizaie faz de sua prosa uma prosapoética cheia de surpresas.

Entretanto no conto, em quapesem as exceções apontadas^a autora não se sente inteira*mente à vontade. Sua imagina*ção não se sujeita à molduraestreita e, embora a imagem so*ja sempre uma síntese, não ca*be a sua riqueza inventiva den-tro do espaço racionado doconto.

E' mesmo curiosa c paradoxaisessa contradição em ClariceLispector, capaz de adensar suaexpressão em metáforas contun*dentes e de todo incapaz de es-truturar solidamente, em pou*cas páginas, o que tem a dizer.Se no seu romance já percebia-mos uma tendência Insopitávelpara a fuga ao enredo e paraa transformação do diálogo emmonólogo, nos contos a perso-naiidadc açambarcadora dacontista se vê impedida de seexpandir. Daí.a impressão quetemos seguidamente de uma ca-rência qualquer a prejudicaruma expressão por tantos as-peetos originai.

Depois dessas duas experiên»cias a que se entregou, a do ro-mance e a do conto, gostaria devê-la tentar o poema em pro»sa. Parece-me que nesse gên^ro teria sua melhor realização,so exprimiria mais completa;-mente, sem pelas. Porque, narealidade, Clarice Lispectoí é^dncipalmente um poeta.

'Pagina — 4 % "ÉTICAS E 'ART ES Domingo, 5-10-1952

DESDE

o meu prtoiclrocontato com os poemas doDeolindo Tavares, com-

„,preendl que estuva diante deMum grande poeta, e que me as-[eistia, portanto, o dever de aüles voltar, não com a indlfe-

tarença casual de que me apro-;«imei, mns com o sentido doiUnterpretá-los no que possuemifit profundo, de grandeza, de(^atualidade.i Deolindo cm vida nílo passou>dle um homem comum, sem

• importância, um simples acadô-ptnico, e um acadêmico triste —bum moço magricela a rabiscaiimersos sentidos, e que nfio pe--aietravam na couraça insensí-iyfvel dos companheiros de classe.ÜFol um apagado, um deslocado.-do meio em que vivera, um ma-knequim que a mediocridade doacolegas acadêmicos vestia de#m roupão folgado de palhaço.•Alguns moços oscrevinhadores«me privaram de sua amizade,

pjiao souberam, tampouco, com-íjpreendê-lo. Pensavam ombreá-,Io; ultrapassá-lo, talvez. Depois$ue a morte apagou a estrelavque cintilava aos olhos cegoa!«o mundo, então aí os amigosijnesquinhos se entreolharam es-jantados. Mas prudente se fa-*iia, agora, guardar sigilo sobre,0 morto. Despertá-lo aos olhos^clo mundo, seria tão perigoso¦jfmanto em vida, quiçá maisjéinda. E não faltou quem, so-pve seu pobre túmulo, jogassegjm torrão de desprezo, grudas-*se à terra úmida uma raiz de«hera, cuja ramagem ocultasse^a própria lousa. Um poeta de-«aparecido em plena juventudeíâo seio de uma geração que sgprojetava febril ante . os olhos¦jdos publico, ávida de ambiçõesliterárias, mendigando efeme-pa glória na imensa tela do£deal, já conduzindo ao despon-itar o germe da prostituiçãojjeorruptora, acarretaria gravesilescontentamentos, implicarianesmo a um fim fatal, se a suaobra se propusesse a apagar agloria anã tão cubiçada. TodosReceosos descem sobre a lousa do .

migo morto o crepe do indife-¦entismo. Mas o morto resolvealar por si mesmo. E não

apenas fala. Anuncia-se como[um vendaval. Ameaça dobrai£os tetos do mundo. Impõe-se

nte os olhos contrafeitos.'briga-os que os ponham noaus, -que os fixe, que os de-

ííronte.y Enquanto Deolindo compunhapoemas imortais com o sencangue e a sua alma que iamise acumulando nas gavetas dedia mesa de estudo, Ledo Ivote outros garatujavam pasticho$ue os jornais publicavam. O

ue até então tem-se escritoobre Deolindo Tavares nada

[representa no sentido interpre-Cativo de sua obra, faça-se,

ontudo, uma' exceção a váriosrtigos de Fausto Cunha que.credito, ao escrevê-los nossoovem crítico não pretendeu,

M poesia a imaginaçãonão se detém. Estei

v(p—< transcendente ato men-;tal não é determinado;

ala consciência do mundo real: jrealiza-se na expansão semilimites do universo interior do)oeta, na liberdade total dasluas múltiplas manifestações,independentes de conceitos for-ínais. A sua função criadora$larga-se no espaço, situa-seium plano onde, em plenaiventura do espírito, este a sijróprio permite todas as audá-}ias. Como que impelida por

ia clarividência constrói novavisão das coisas. Lembremo.nosía frase de Julien Green em

inuit: "Que é a imaginaçãoísenão a memória do que estáípara acontecer?" Como fenô-[nxeno de percepção, a imagina-jfiao poética reflete a sensibili-f«áde num espelho que se nosiaíigura fantástico: para quepièle se reproduzam as idéias em«imagens singulares, não é ne-feessária a intervenção da lógi-ca que condiciona a nossa exis-tência quotidiana... Dá-se a talfenômeno a designação conven.cional de inspiração. É a trans-formação da realidade por umprocesso muito íntimo de exte-

DEOLINDO TAVARES

17

wnão, chamar a atenção dosescritores brasileiros para a íí«gura lamentavelmente apagadado grande poeta pernambuca-no, que mesmo um estudo cri-tico u margem dos seus poe*mas. Não deixando, embora,do ser as duas coisas. Algunsque escreveram por ocasião dasua morte, como Gilberto Frei-re, Dreno Acioli, Otávio deFreitas Jr., Gilberto Lopes doMorais, João Cabral de MeloNeto, Josó César Borba, ManoelAnselmo * e os que raramenteaparecem, pouco contribuem pa-ra o estudo crítico da obra deDeolindo que um dia deveraser escrito. Em verdade, tudoo que já se escreveu em tornoda vida ou obra de Deolindo,tende a ser uma tentativa àevocação de sua pessoa, comomera contribuição ao anônima-to, isto porque ignoramos, poiassim dizer, os verdadeiros poe-mas de Deolindo, visto que oasenhores Manuel Bandeira.Murilo Menaes e Gilberto Frei-re entenderam de nos apresen-tar um Deolindo à sua manei-ra. Desprezamos esse incentivodos mestres. E' do outro Deo-lindo que queremos ouvir falar.Não nos interessa o Deolindoamputado pelos valorosos revirsores da literatura nacionalque estão muito longe de pos-suir o talento artístico daque-le que poderia ser um dos seusdiscípulos, se certamente nãolhes fosse superior. E não seráeste trabalho uma fantasia co-mo os demais à margem dospoemas avessos de Deolindo?Certamente que sim. E todoso serão, desde que não possui-mos os originais dos seus ver-dadeiros poemas, de cuja fon-te virgem poderíamos nos abe-berar e áventürarmo-nos a ummergulho mais profundo. Oque não podemos é lançar mãodo material incompleto, escan-.dalosamente adulterado que nosoferecem em formato de livroos senhores Gilberto-Bandeira-Mendes. Seria incorrer em êr-ro idêntico, pior ainda; refor-çar esse crime que sobre seus.autores somente deve pesar."Osenhor Mucio Leão põe-nos di-ante dos olhos (numa ediçãobem acabada dos seus "Auto-rés e Livros") "retalhos deolin-dianos, que não falam tambémcom a necessária segurançapara o estudo do teor que gos-tariamos fosse apresentado. Sóà família de Deolindo cabe talsolução. Uma vez dispondo doaseus verdadeiros poemas, pode-mos, então, aprofundarmo-nosa um estudo de pesquisa cien-tífica, psicológica e, a partirdeste angulo abrangê-lo emtodos os . sentidos e atividades

'ALCIDES PINTOcm quo se mostrou exímio ur-tista, como na musica para quetinha dons excepcionais o co-mo um técnico na fotomonta-gcm. Vê-se, por esse prisma,que seus poemas estéticos oconduziriam, sem duvida, apreocupar-se com outras reall-zações artísticas, para as quaistrouxera verdadeiras inclina-ções. Desenhava com íacilida-de espantosa, o sua poesiatranscende das perspectivas dosseus desenhos:

"Minha figura desenha no arlinhas geométricas e ner-

[vosas"iDeolindo, podemos afirmar,

não seguiu nenhuma escola.Ele criou sua própria poesia.Uma poesia dosada de melan-colia e de um realismo que otorna por vezes trágico e cô-mico ao mesmo tempo. Umapoesia que não é própria deum subjetivismo embrionáriode um realismo que o torna poivezes trágico e cômico ao mes-mo tempo. Uma poesia que nãoé própria de um subjetivismoembrionário de um Augustodos Anjos, nem de um intros-pectivismo mórbido de um An-tero de Quental. A sua poe-sia é marcada por uma melan-colia insinuante, que contagia;mas não deprime, que magoamas não abre chagas; que la-menta mas não chora; que san-gra mas não geme. E' a melan-colia do irremediável, das coi-sas marcadas pela fatalidade deque não há mesmo remédio.Não foi um pessimista a so-nhar com túmulos; um chora-mingas a lamentar o destino;como não foi um poeta ateu aabjurar Cristo, ou um carola ofugir da obra de Marx. Foi umverdadeiro homem na acepçãovocabular. Foi um poeta

"cris-tão que colocaria a Bíblia aolado do Capital, e rezaria pelaspáginas de ambos como seconsultasse dois evangelhos.Mas, mesmo assim; jamais foiOu chegaria a ser um partida-rio de qualquer doutrina. Foio que foi — um poeta. E foitudo. De cinqüenta anos nopresente, os que se dedicam aoestudo crítico de nossa litera-tura moderna, não deverão.es-quecer de que o Brasil deu trêsgrandes poetas, que será difírcil superá-los: Augusto dos An-jos, Moacir de Almeida e Deo-lindo Tavares. E' de notar-seque, entre ambos, há muitaafinidade. Se Moacir de Almei-da é uma metamorfose augus-tiana, Deolindo Tavares traçauma paralela entre ambos ase estreitarem. O mesmo senti-mento cristão que possui Deo-lindo está bem visível em Moa-cir de Almeida, e a sombra da

morte caminha ao lado de am-bos. Sc para um á"Vertigem — deusa astral de

[terrível beleza —amo-te! teu amor, de rudes

[magnetismos,ó a grinalda que pesa em

[minha fronte acesa,Vcrgando-a sobre a noite

[eterna dos abismos",para Deolindo seria como timnviagem sem regresso a um paiade sonho, sem sentido como aprópria vida."Um dia tendo as mãos lim-

pidas, a alma serena e puro-za cm meu coração,

caminharei com firmes passospara o céu de Cristo ou cie

Mahomet".Deolindo teve esse poder má-

gleo de descrever as grandestragédias sem dramatizá-las. Osentido da sua poesia está naslinhas, adivinha-se pelo contor-no. Necessário se faz ao leitorpossuir um espírito de ana-lise, para descobrir sob essaspalavras aparentemente sim-pies, todo um mundo estranhoa explodir, a arrebentar de do-res; um mundo doente cheio deincompreensões e desgraças."Canção de uma Menina, deum Rio e de ura Cão" é umdos seus grandes poemas trá-gicos, que nos passará desaper-cebiclo, se não atentarmos pa-ra os "olhos verdes, perdidos,fixos, enevoados". De um ver-so do poema citado a imagemda menina que foge abraçadaàs águas, não passará de umamera euforia, que a linfa mine-ral oferece à epiderme. No en-tanto esta "figura", este "bra-ço", é o que há de mais triste,mais torturante, em todo opoema. Chega a ser até mes-mo de um desespero alucinan-te. Outro poema que nos co-munica ura estado de tristeza

. é o "Poema do Menino comParalisia Infantil". Ê, certa-mente, um dos poemas maisfortes de Deolindo. "O meninode azul, sob o céu assustadora-mente azul", jamais o abah-donara por toda a vida. Suapresença estará sempre nítida,desenhada ante seus olhos, comas "suas pernas envoltas embranco gesso ou retalhos denuvens", a lhe pedir com osolhos suaves (os olhos sempremortos das crianças desampara-das) suas "pernas para brin-car de rodas", ignorando "queelas o levariam tão somente agirar em torno de uma dormaior que a sua". Diante destepoema ficamos num estadodalma em desespero, e custa»nos, realmente, voltar à tran-quilidade. Se nos compunge oretrato da criança, impotenteante uma realidade biológica,sem poder brincar de roda co-

POESIA, SINÔNIMODE IMAGINAÇÃO

.JORGE RAMOSA função ãa Poesia é sugerir, como a âo incensorio não é somente

a ãc levantar fumo, senão a âe levantar aromas.COELHO NETO

riorizar sensações. Só a poesia,pela amplitude dos seus valo-res estéticos é capaz de darequilíbrio a esta incoerência, —visto ela, já de si, constituiruma harmonia formada por ca-racteres mais subjetivos que vi-suais. Fantasia é um vocábulopoético e corresponde à liber-dade — em síntese, sinônimo daabsoluta autonomia de Arte.

Pode não haver cerejas bran-cas como a neve, senão nos poe..mas de Li-Po, citado em "ThePoetry and Carcer of Li-Po".Pode não haver, na família das"caryophylaceas", uma flor tãopreta como os cravos negros

duma das duas mil e quinhentasodes do "Diwan-i-Shams-i-Ta-briz", do maior poeta da Pér.sia, Jahah-r-Din-Rumi, que Ni-cholson estudou no prefácio deRumi, Poet and Mystic, sele-ções notáveis das suas obras.Pode não haver rosas azuis se-não na imaginação, mas a con_cepção imaginativa da poesia,sem recorrer a elementos místl-cos, funde-se na realidade quan-do Junqueiro diz:

Há rosas dobradasHá rosas singelasMas são íodrt.s eíasAzuis, amarelas.

Não admitimos a veracidadedum hipógrifo como Pegaso,mas temos possibilidades de vercerejas, cravos e rosas. Se a for-ma é corajosamente sacrificadaà imaginação, isto é, à expres-são mais profunda do eu (jáClaudi Saulnier afirmava que apoesia vale mais pela evocaçãoe sugestão do que pelos fatorestécnicos) como não há de aexistência efetiva das coisas,aliás sujeitas à fluxibilidade dasdefinições humanas, ser supe-rada pela imagem do pensa-mento poético, que é, como dis-se Mallariné, "a expressão, re-duzida ao ritmo essencial da

mo as outras, a atormentadamáscara do poeta quo ninguémrepara, não menos nos feio.

Ha cm seus poemas uma lor-ç.a vital quo se impõe aos nos-sos olhos e nos fero no mauíntimo do ser. Ao contrario uuquo acontece a muitos poeu.,mesmo em se tratando daque.les do quem so aproxima, cornoAugusto dos Anjos, Moacir aeAlmeida, Verlainc ou Rimbaua,a sua angustia, a sua dor, o seudesespero não gritam, ma»também não calam. Explodem.Não o fazendo como o atroarde (Jiritos Bárbaros, nem o pio-longado gemido apocalíptico doEu. "Quem foi que viu a mi-nha Dor chorando?I"... "aexplosão dos seus versos é in-terlor, e quando vem à tominão causa a erosão e os distur-bios dos vendavais ou dos vul-cões, se anuncia como um can-to sereno, uma canção. Nftdfoi um artista como Moacir deAlmeida, morto com a sua ida-de. Naquele o artista superou opoeta. A beleza das imagens ea musicalidade dos ritmos en-contraram em Moacir de Al-meida.um representante único,nem mesmo Castro Alves oigualara. A sua arte é grande,justamente pelo que encerra deperfeição. A de Augusto do-?Anjos, pelo pensamento filosó-fico e científico. Moacir de Al-meida é de uma riqueza voea-bular inigualável, o poder dearrebentar em incêndio em cadaverso e em cada terremoto cau-sado criar um novo mundo,sem prejuizo deste. A de Deo-lindo se acentua pelo sentidometafísico. Deolindo era umpoeta integrado na - Natureza.na alma das coisas e nos feno-menos. Lembra um.pouco Raulde Leone, sem que haja destea menor influência. O tempo,as estações, o ininterrupto su-ceder dos dias, das horas, quenos espantam quando olhamosvoltados para dentro de nós"mesmos, para nossas linhas fa-ciais que se acentuam, que nosvincam a testa ou nos caem docanto da boca como vírgulassentenciosas, para o noeta per-riambucáno, pevdia esse ssriti-do Ele se acostumara a andarcom o tempo, a evoca-lo a todoinstante que, esquece-lo ummomento, lhe seria uma ausên-cia torturante.

• '"*".. .Aonde, passarão, a habitaros gestos, os olhares, ocontacto dos seres quedormiam colados a estascoisas"...

As estações, as horas, os mo-mentos estão dentro da suapoesia, formando imagens be-ussinias;"...Folhas secas, outono,

carícias do vento no seu[ventre macio"...*..:..jFaiè'è.á6êíá e serena,

face ou manhã de[Abril"...."...Nada apagará está visão

(Conclui na 10.a pág.)

linguagem, do sentido mistério-so da existência?"

A Poesia é uma mensagem,uma confidencia como em Ml-guel Torga no Outro Livro d**

Job:Eu pecador me confessoDe ser assim como sou.

um distintivo de personalidadeque se define pela emoção quecontém, e pela sugestão da queé capaz, quer nos extensos poe-mas de Whitman, quer nas odesbreves de Beranger — que con-fessava si mes vers sont bonsc'est qu'ils son courts. JeanWahl acreditava ser a poesiaum diário dos momentos maisbelos do poeta. A vida dum Poe-ta pressupõe já um horizonteque se perde no infinito. Ê aimaginação aue o reflete. Semela, a Arte fica como um es-pantalho que pudesse* cruzar osbraços — imóvel e grotesco.

„Scm ela. os versejadores de to-das as épocas não podem evi-tar os rumos da mediocridade,onde, como diz Frederico Soh-midt, na "Elegia de Luciann aVelha", as musas se transfor-mam em velhos pássaros feios...

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Oomm&o, 5-10-1952 LETRAS B ARI ES Pagina — s>

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EUCLIDES, UMA ADVER-TENCIA E UM ITINERÁRIO

SAMUEL DUARTE

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Brasil cstu cm dividacom a memória do ho-mem de gênio, que nic-

thor percebeu o druma contra-litòrio de nossa formação: Eu-dideb da Cunha. Muito se temlito o escrito do autor de "AMargem ria História", do seuestilo, da amplitude de suas in-'.crprctaçôes, do arrojo de seuverbo, da sua eloqüência tortu-rada em busca de exprimir oquo não cabia nu disciplinafrancesa de nossa cultura. Mas,por muito que se tenha ditodesse estranho fenômeno que foiEuclides, ainda não se dl«.e obastante. Nem talvez se tenhamdescoberto todas as componen-iCb dessa personalidade, maisadmirada que discutida.

Olhada no conjunto da obra,essa figura intimida o crítico,que, sem o agudo senso das re»Üdades* se arrisca a repetiçõesvulgares. Pois á primeira ima.gem que èíc sugere é a de umúrtista dominado pela êníasc«Hat; dimensões, sem importar-secom os traços de acabamento,essa riqueza de "nuancès" epormenores, ás vezes banal eartificíosa, suscetível todavia úcconsagrar reputações.

E' como um sopro criador er-guendo e animando perfis, ras-gando perspectivas e cenários.Em vão se procurará nessesperfis a medida das possibüí-dades comuns; em vão se itícn-tificarã nesses cenários, o sen-tido das limitações, que reduzo historiador e o sociólogo, denível mediano, a homens de cateútíí, eruditos de iichãrio, cmdia com seus apontamentos.

Não, com Euclides é diferen,te. Sua emotividade* sua capa-«idade de sentir, sua scnsibili-dade apaixonada, transmitiramás stías idéias, o calor e a exal*tação impróprios á obra de pes*quísa, a ensaios de figurino ei-

cutifieo. O poeta, já o observouAfranio Peixoto, irrompe nele< om força dominadoru.

Vivendo só e sO jiara o cs«tudo, o mais brasileiro tios es-orltores não quir outra oraemde cuidados para a sua Inteli-gência do que os tia própria ler*ra, dessa civilização construídade forma tão bizarra e absurda,tão chocante em seus contras-tes, tão dolorosamente umrsqut-•nhadora para os nossos poore:.sertanejos cujo perfil tem qual*quer coisa de épico cm páginasque nunca deixarão de ser li-das.

Foi êsse sentido profundo denossa realidade que lhe mar-cou o itinerário; foi a indepen.dênt-ia de seu espirito sooran-ceiro aos fanatismos da época,ao caudilhismo das elites quenos deu a versão exata do com-plexo social de que Canuuojsurgiu como referência episóül-ca.

Sua voz, de repercussões pa-téiicas, mal disfarçava a soli*dão espiritual que o envolvia.Essa soiidão, explica o fundo a«melancolia que é a nota pernra-nente do processo euclidiano, âgraça leve, o humor despreocu-pado, uma palpitação de alegria,da alegria de quem acha a vidaboa, os prazeres de uma cxls«tência contente, pelo menos, a«êxito intelectual, parecem com-pletamente ausentes de sua videc de sua obra, admitindo-se co-mo improvável que o escritorescape à contingência de revê-lar-sc, de comunicar-se, de tra*duzir-se num ou noutro traçoda obra criada, Analisá-lo sobesse aspecto comportaria longaspáginas.

No seio da comunidade elel*ta, a voz de Euclides assinala-ria um profeta, nós últimos dia»do Velho Testamento. O éco ütsuas afirmativas, de seus con-ceitos, é advertência a um povtt

jovem contra os riscos de umainurcha sobre o abismo. Fotnéstie tora que falou de nossasfraquezas, do desequilíbrio denossa evolução social e politi-ca. O artista superando o so*clólogo, sugeriu mais que cou-venceu.

No palco euclidiano, desfilamas dores de uma raça conde-nada a vencer ou a morrer. Es-.se e o dilema que nos obriga adecisões heróicas. Tal é o sen-tido d'"OS SERTÕES" mos-trando o sulco entre dois mun*dos, entre duas parcelas damesma comunidade, entre duasfronteiras geo-po-íticas da Na*ção, uma da outra separada»por distancia de séculos, con-quanto vivendo o mesmo mo-incuto e no mesmo meridianohistórico. Tão funda é essacisão entre a sociedade serta-neja, e das fazendas, a dos pc-quenos aglomerados urbanos deinterior, e a sociedade dos cen-tros litorâneos, europeizados ouamericanizados, que nela se ma-nifesta um dos sinais de nossoimpressionante desajustamento.

Talhando cm bloco seus per-fís, escrevendo com um cipócomo disse Nabuco, Euclides es-boçou uma obra que ficou in-completa, fragmentária, indefi-nida em seus contornos, impre-cisa em certos aspectos, erradaem alguns pressupostos teóricosmas em que pulsa um fmpetode criação, inquieto e original.

Se ele nos tivesse dado só agloria de seus livros, teria dadomuito; mas eíe ultrapassou és-se limite. Ele nos deu a cons-ciência de nossa debilidade, pa-ra nos ensinar o caminho daredenção. Antes dele, a açãodos homens chamados a dirigirpodia tatear e extraviar-se. De-pois dele o extravio teria asaparências de um crime, ou oi-or, de um suicídio.

«A, A FILHA DO SOLA TRAGÉDIA DE EURÍPEDES VISTA

ATRAVÉS DA PSICANÁLISE

MATEO SOLANA Y GUTIERREZ(NOTÁVEL PSICANALISTA MEXICANO)

(EXCLUSIVO PARA "A MANHA" E "LETRA» E ARTES"l(VERSÃO OE PLÍNIO BUENO)

IVtureza, que, no seu instinto cego, sabe conservar o que delanasce, este crime tem limites com a demência insólita dos.possessos e se repete naquela sentença de morte das mães quenão deixam vir à luz o fruto do seu sonho nupcial.

Neste sentido analógico, simbólico, o crime de Medea 6humano; pode realizá-lo a criatura; não é invenção do poetadelirante de uma idade refinada e brutal, conturbada em suasvisões abissais. Brota da corrupção humana como a larva brotada cratera.

QiW|'IHWIIi mi

E D ASomo de GARLOS AUGUSTO DE GO'ES

escândalo gerado na noi-' te do casamento haveria derepercutir iogo por torta

a cidade. Gumercindo fora in-sensato; Era o que o preocupa-va tenazmente, depois. Agirasob densas trevas duma irre-flexão amarga, para, enfim, re-nunoiar. Os vizinhos apuraramentão os ouvidos, avidamente;e os amigos, nesse transe, apa-receram para alertá-lo, comoamigos que eram, mas só emsemelhantes circunstâncias êiesteriam a coragem necessária, afim de enfrentar com audáciaa maré. Era a descarga do ou-fcro. O ridículo. Dorotéia ne-gava em tom categórico, comase fosse possível facilmentepassar a venda nos olhos iá tãovividos do marido. À perguntadele de "quem foi", acrescidade "uma velha dessas": havjlao silêncio fragoroso dela. Poisjá não dissera que não fora'ninguém?... Ela era virtuosa ehonesta, isto é, esforçava-se.convicta, para manter esse cli-ma de pureza, como se assimpudesse convencer, acima detudo, a si própria. No íntimo,que não dissecava todo, poucose incomodava que êle soubes-se quem era nem quem deixa-va de ser. Se êle ainda não

,lhe apertasse os elos da correr,-te «té o toleraria, mas quando

a tachou de velha vibrou doódio, numa energia concentra-da, que controlou sabiamente,rindo" com escárnio, pois queriaver o que êle iria fazer quan-do soubesse. Contudo, Gumer-cindo, se

"dormiu antes, tomouiniciativa já inútil depois. Opapel dos tais amigos, da tra-gédia alheia, foi apenas decoadjuvantes de minúcias, pa-ra adverti-lo de que não era deagora que ela era amante dopastor. Dorotéia fora sua se-cretária particular durantemuitos anos no Museu, ondeêle continuava como diretor,mantendo-a ainda nas mesmasfunções. A mulher não podiaver o homem que ficava malu-ca, completamente obsecada.Todos sabiam disso. Aquele lá'-ra o único homem, com quemse realizaria, no seu sonho, fonão fosse casado. Ultimamente,até, êle a evitava, pondo-a nou-tro gabinete, separado, poréraDorotéia não o deixava — di*zia-se. Ela, aliás, passara todaa primeira fase dos *sèus belosanos ali, quando as aspiraçõesde enlace vicejavam, e julgaraque ninguém vislumbrasse na-da, sob a aparência discretado sigilo, devido à posição dopastor. Mas também não pen-sava em casar. Desiludira-s©disso, Não cogitava mais de

matrimônio, quando lhe apare-ceu no meio da estrada Gumer-cindo, com estas idéias já ob-soletas em seu espírito. Seriauma oportunidade — pensou --depois de muita recusa, em fa-ce de sua insistência, nega-ceando sempre. E estava casa-da.

Os filhos de Gumercindo, semdúvida, discordariam, conquan-to não manifestassem clara-niehte o seu pensamento, poisdeveriam conhecer a moça, daprópria igreja que freqüenta-vam. B

Ainda viuvo, na pensão ondemoravam antes, na condição defilha dócil, embora aconselhas-se parcimoniosamente o pai,Rosa não dava a sua opinião.Já Pedro era rancoroso, exal-tado. Mas o pai manifestavadesejo de casar novamente, po-rém com uma mqçoila, o queparecia bastante ridículo paraa sua idade, homem já encar-quilhado, feio, cheio der rugasna cara, pai de filha moça, tal-vez cia idade da que êle ideali-zasse para as segundas núncios,e de filho rapaz, a par da suasituação financeira. Qual seriaa mocinha, que poderia enca-rar com agrado, sem o menorinteresse, esse futuro esposo,.mesmo n"e não fôs^e por dl-

iConçlui na 10.* pás).

A figura antitética de Medea é Níobe. que representa a»^ mãe sentimental, a mãe fervorosa. Se uma é o dcürio da morte,

a outra.é o arrebatamento fecundo da vida sobre a sentençainexorável do fim.

Medea não teria podido amar seus filhos antes da tra-gédia cruenta. A ternura materna c tão funda, tão absor-vente que não se concebem quebras na sua linha inefável. Apressão do ódio, da frialdade e da piedade é tão intensa, tãocaudalosa que não cabe, de uma só vez, no vaso da eleiçáo;uma ou outra, só uma ou outra, pode nele estar.

O artista é ura revelador impessoal da condição humana.Se se supusesse Eurípedes confesso das aberrações que cantaem suas tragédias, igual tendência e intenção se atribuiria aShakcspeare, que descarnou a alma atormentada. Más Euri-pedes expõe as normas éticas, normas que contrariam todohomem malvado. Eurípedes, em última ratio, não está ao ladodo bem, nem do lado do mal, mas não está com Medea, por-que o poeta também nasceu de uma mãe. Não a conheceu,como o injuria um moderno helenista, já que se censuram emEurípedes afetações mórbidas no retrato do mal, por que cantaMedea. O poeta grego viu a mulher apenas em uma de suas*extremas fases, temperamentais ou essenciais.

A mulher deve amar a própria dôr de ser mãe; não por-que assim ame seu egoísmo ao amar sua dôr física, mas por-que se purifica do gozo que culmina na dor concepeioaa., e-aceita o sacrifício. Não deve fugir à prova dilaoeradora em queas entranhas se agitam num duplo temor, numa dupla co-moção essencial: a da vida, a do dom de acender a chama quoaté então girava apagada na presciência infinita das coisas© a do parto, e seu trânsito, da dor que desfalecc e ressuscitaao momento do milagre, quando a nova vida é subitamenteesse eterno milagre florescente.

Do retrato mestre de Medea parece desprender-se a fugada dôr parturiente. Por isso se conforta "como a leoa recém-parida", segundo as palavras da ama fiel. A mulher está noêxtase quando acaba a dor, como numa freqüência divina: estána contemplação muda do seu fruto animado. Somente o ani-mal sente a represália obscura, ao revés, nos transes terra-veis de dar à luz. Ê tão penoso o momento, que Medea, comotoda mulher, prefere "abraçar três vezes o escudo do que darâ luz uma só", embora muitas destas mulheres medrosas an-seiem sempre por iluminar, sabendo que é dor que se con-verte em glória.

Observemos, contudo, que Medea confessa gemer quando"reflete na maldade atroz que vai cometer", e tem este gritoque descobre o sentido do seu drama anterior: "matarei meusfilhos, ninguém m'os arrebatará". Medea pensa iür-sc paramuito longe, ao desterro, onde expiará a morte de "seres tãoqueridos", como os chama com ambivalência, mas declara ^o-rajosamente que se atreverá a cometer "o mais ímpio doscrimes". Sua natureza contraditória.de mulher agrava os fcrá-gicos vai-vens da sua vida, mas subsiste, apesar de tudo, aconsciência clarividente de sua infâmia. Sua vontade de des-traição estará acima de sua consciência lúcida, do seu enge-nho ativo que, segundo Jasão, assombrou os gregos.Medea está louca. Atenuará sua infâmia esse delírio or-guihoso de que não lhe arrebatem os filhos? Os defensores ú&Sagnnto e de Numância devoraram os filhos peauenos para.que não os humilhasse o vencedor.

Não tem perdão om nenhum dos mundos, conüecuio ou(ignorado, um crime destas proporções; porque a mãe, ao feriro iílho, fere a Deus, rasga a eterna harmonia da perfeição aafunda a consciência humana na noite do ódio. A crise crueldo sentido materno decide-se (em Medea) pe"o ato espantoso,que abominam, até as insensibilidade» © as ánércias cósmicas,porque a vida sobe em espirais, como disse Gide, numa belaümagem.

Medea estava preformada para esta luta que jamais de-veria agitar uma criatura nascida de entranhas humanas. Ne-nhuma voz, por mais augusta, aplaca seu arrebatamento sa-crílego. Ê que a mãe não estava nela em toda sua grandiosadimensão e magnificência, em toda Sua soberana plenitude Cs-irradiação. Ao contrário, Níobe é a mãe divinisada por ela,mesma. Aquece a tumba de seus filhos como se lhes estivesse»dando vida, segundo o verso venturoso de Esquilo, pai dos poe-tas trágicos, que consagrou a maternidade apenas com esterasgo do seu caráter heróico, intuitivo, estendido à 4'ecundi-dade e à eternidade das formas viventes.

Censura-se em Eurípedes, dizíamos, sua suposta compla-cência em pintar o mal, partindo da tese de que pintou mal-vada a Medea. Mas não chegou, também, à posteridade a fí-gura bondosa e refilínea da ama de Medea, adornada de seu-timentos opostos aos de sua ama implacável? Os detratoresde Eurípedes citam as palavras do drama sobre a essência fe-minina incapaz para o bem. Mas deve-se levar cm conta queMedea não é o tipo da hipócrita que floresce em nossas m«-dernas civilizações, e que esse tipo de mulher é uma mescla,de orgulho e de virtude religiosa, ou daquele sentimento com

(CONTINUA NO PRÓXIMO NtíMERO)

a

Págin7) 6 LETRAS E rART ES Domingo, 5-10-1952

"INTRODUÇÃOÂ EXPERIÊNCIAESTÉTICA"

HAPOLDO BRUNO

U ENTRE os "Cadernos de

Cultura" até agora lan-çados pelo Serviço cieDocumentação do Minis-

tério da Educação c Saúde,dois principalmente desperta-ram cm iiosêc gosto du iCiluraum particular interesse: MonteCristo ou da vingança e Intro-dução à csperiência estética.

O primeiro, do crítico paulls-ta Antônio Cândido, de que en-contrarão referência num en-saio ligeiro que escrevemos efoi em parte divulgado no su:plemento do "Diário de Notí-cias", vale por un.a interpre-tação literária lúcida e originalcomo poucos, dentro de cujaspáginas o valor humano dumapersonagem sobre a qual a acie-rente identificação sentimentalda nossa adolescência impediajuizos críticos e perspectivlstus,se liga, por laços de sutil ana-lise, a uma concepção repre-sentativa da moral na socieda-de moderna. Nossos comenta-rios limitar-se-ão, pois, à pia-quete do Sr. Rosário Fusco, tãorica cm idéias e problemas, re-velando mesmo, em alguns pa3-sos, o encanto da sua formaprimitiva cie palestra, e muitoda imprecisão e ao mesmo tem-po do poder de sugestão direta,erguida sobre exemplos de tãoíácil e comum entendimento,qualidades peculiares a esse ge-nero de literatura.

A divagação é o recurso comque o conhecimento encobresuas maiores deficiências; quan-dó a essência dos pensamentosreclama formas precisas, postoque. em outros casos, é legitimaa tendência a sobrevoar, ir alémdo tema central na fascinanteaventura das notações sub.jetl-vas. Não propriamente a teoriaestética, que esta parece terchegado a certos postulados de-finitivos, sobretudo no tocanteàs causas psicológicas do fenõ-meno cie suas cogitações, masno gênero das tentativas maispessoais da busca do sentidodesse mesmo fenômeno projeta-do em artes particulares, apli-cado a determinados processos.o que se observa é o investiga-dor fazer por si mesmo estética,íao invés de doutrina ou críticaestética. Presumivelmente, essaatitude tem origem no agnosti-cismo de certos autores quantoà verdade universal do belo, doqual participa um tanto o Sr.Rosário Fusco.

Introdução à experiência es-tética, como o título obriga aentender e segundo as exigên-cias do método de estudo, visanecessariamente à elucidaçãodás causas que determinam aemoção artística, porque a ex-pertencia interior está quasesempre condicionada por dadosconcretos. Mas o autor observa.Incluindo o fenômeno estético:"P&ra determinados fenômenos,o estudo particular das causaspouco interessa1', e a conside-ração dos efeitos "é que con-ta, sendo a ciência obrigada aceder à metafísica o plano emque vaidosamente se colocava".E tudo leva a pensar que, par-tindo de uma base psicológicaexperimental, sua exposiçãoculminaria em posições idea-listas (o que, num só conjunto,representaria um desfôrço emface da discriminação sempreprocurada pelos filósofos entreos métodos do conhecimento'»,Tal não sucede, porém; o psi-cologista, detendo-se nos fatoscausais, domina quase do co-méço ao fim, e às vezes comcerto exagero.

Apegando-se à definição ctí-mológica de estético — sensa-ção —, há um ponto em que oensaisfca reduz toda a estéticaa um apêndice da ciência psl-

cológica. No terreno dos com-plexos sentimentos da criaçãoe apreciação da coisa estética,tudo não passaria de um me-canismo ao mesmo tempo ob-jetivo e subjetivo de reações,reflexos, correspondências. Estacerto; a estética é parte neces-sária da teoria do conheclmen-to. Mas, seria justo transformara teoria do conhecimento emsimples estudo da gênese e for-mação do conhecer? Além doprocesso do conhecer, há quedescobrir o seu conteúdo essen-ciai e valorativo. Se na investi-gação epistemológica da verda-de a sensação é apenas um ca-minho, a teoria do conhecimen-to sendo também estética, aInvestigação estética no sentidoparticular de ciência do beloainda mais se complica, por-que da arte participam podero-sameute as forças intuitivas, aimaginação e a fantasia. A psi-cologia explica a natureza oufunção do fato estético que setraduz em sensação e percepção,esta a um tempo scnsoriai elntelectiva. mas não explica (overbo então seria outro) o sen-tido de valor do belo estético,as curvas ideais de sua proje-ção no espírito. E a estética, naopinião do autor, nem ê nor-mativa nem descritiva. A bemdizer não há estética, ciênciaindependente; há experiênciasestéticas, relativas e concretas,como provam ?/S "linhas de ía-tos" oü as, "hipéteses de traba-lhò". Sendo assim, e assim re-almente está no folheto, não seprocure o rigor das doutrina-ções, que nem seria possível noslimites utilizados. O autor quistransmitir apenas "sua" expe-riência convencido certamentode que a validade universal detoda espécie de conhecimentonao passa de um mito da ra-zão. fi necessário atentar paraeste elemento, porque o espí-rito de aceitação da verdade de-ve revestir-se de cautela e sen-so relativista. Não podemos de-frontar conclusões; elas semdúvida existem, mas convergin-do para a visão pessoal, o maispossível coerente com os dadosda observação comum. Salien-tando seu caráter de expressãoe síntese de uma experiência, oautor aponta a gratuidade deseu ensaio, colocando-o ao ladodas experiências uoéticas e ro-manescas. O leitor que nãoapreenda as ironias da modos-tia,'poderá aceitá-lo além dissomesmo?

Um dos pontos que desejamosdestacar em Introdução à cx-periência estética é o que seprende à intuição. Jeanne De-lhome (conferência na "Asso-clation des Amis de Bergson",transcrita em Les Études Berg-soniennes, vol. III) chega aotermo de suas considerações as-sinalando que a intuição, se-gundo a conceituação prestigio-sa do filósofo de L'ÊvolutionCréatrice, é uma nova forma decontemplação participando dareflexão,, pela qual a inteligên-ela, cuja finalidade é o conhe-cimento da matéria, se criticaa si mesma. A intuição emBergson nao é, todavia, umanoção clara e incontrovertida;poderia constituir mais um sub-sídio para uma teoria das suasimagens filosóficas, como talvezpensasse Lydie Adolphe, namesma linha de observaçõesoue faz em relação ao "élan vi-tal". Porque se para algunsbergsonianos a intuição podeem si própria implicar uma ía-culdade reflexiva, para outros épura contemplação interior e,deste modo, é que ela parece!estar nitidamente aproximadada criação estética. Aliás, neste

(Conclui na 10.;t pág)

FALA A "LETi*AS £

VENEZA, setembro —

Via S c a n d inavianAirlines — R e n é

Clair, cujo verdadeiro no- .me é René Chomette, nas-ceu em Paris a 11 de no-vembro de 1898. Depois da1.a Guerra Mundial, a con-selho de Leon Daudet, tor-na-se jornalista, sonhandocom a glória literária. Evi-tando assinar suas produ-ções com seu verdadeironome, cria o pseudônimode René Clair. Foi, alémdisto, ator em Orpheline eParisette; pouco depois,entretanto, passou para aoutro lado da câmera, tor-nando-se a s s i s t ente deLouis Feuillade e, posteri-ormente, de B a r o ncelliRealiza, em 1923, seu Pa-ris dort, cheio dê poesia efrescor. Clair dirigiu, ain-da, vários filmes, constítu-indo, estes, obra cinema-tográfica que o situa no pi-náculo desta arte, entreSennet, Chaplin, Pabst, Eisenstein. Ao mesmo tempo,prossegue sua obra literá-ria, pouco volumosa, cons-tituindo-se de dois roman>ces, Adam e De fil en ai-guiíle, e um volume de no-tas, Reflexion faite. Entreos mais renomados de seusfilmes, citam-se: Chapeaude paille dltalie, À nous Ialiberte, Quatorze juillet, Lesilence est d'or, La beautédu diable.

Encontramo-lo já no fimdo Festival de Veneza de1952. O júri, não faziamuito, havia decidido, arespeito de seu filme Belles de Nuit, dirigir-lhe ho-*

* menagem especial em ra*zão do conjunto de suaobra — o que constituiu,para êle, verdadeiro triun-fo, expresso na ovação re-cebida em cena aberta.

Eu, estando com a pernaferida, e impossibilitado delocomover-me, o b r i gueiClair a sentar-me a meulado, no Excelsior, e a con-ceder esta entrevista paraLetras e Artes.

René Clair, cujos filmesestão cheios dum vento defrescor, em que cada cenaparece-se passar em ummundo de fantasia, ondetudo é décor, humor, é, emrealidade, um homem pe-queno, seco e didático; an-tes de tudo, um mecani-cista: conhece a fundo amecânica do Cinema e éda perfeita m a n ipulaçãodos elementos que consti-tuem esta mecânica queêle retira sua poesia. O di-

retor passa a explicar-meseu último filme, Belles deNuit, no qual Gérard Phillipe tem o papel principal.

— Se queres saber o queé este meu novo filme —inicia êle — abra o La-rousse. Lá, aprenderás queBelle-de-nuit é uma plantacujas flores não abrem se-não ao crepúsculo. Sabe-rás, também, que o mesmonome designa uma espéciede rouxinol que canta aomínimo barulho que inter-rompa seu repouso. Abra.

I•

Domingo, 5-10-1952 LETRAS E 'ARTES Página

IIRTES" O VE DOR pv

DO FESTIVAL DE WNEZA DESTE AMli •

Temos muito o que aprender com o cinema americano -|A prova de seus filmes vem do bom emprego da técnicablema grave ou, pelo menos, descrever algum fatdlsombrio da realidade. Poesta razão, não me sintovontade ao confessar quejmeu filme não é uma obrséria e que seu único objeto é divertir. De todas m

embora continue a pensarque é de filmes de evasãoque o público necessita-Veja a evolução de De Sica,por exemplo; seu realismotende rapidamente para umirreaÜ5mo e seus miserá-veis de Milão terminam por

LOUIS WIZNITZERépocas — continuou Cia— parece-me ser a nossaa que mais necessita de divertimento.

£ verdade que Bailes df

voar sobre as nuvens, mon-tados em vassouras, tal fet-tíceiras de contos de fadasO suprarreal está na vida— prossegue o cineasta

temos razão diante da len-tidão dos filmes japonesese nossa lentidão não temrazão contra o ritmo ultrarápido dos filmes america-nos? Em suas obras de ar-te, cada civilização põe emevidência seu próprio rit-mo de vida: o que existeé uma situação de fato, nãode direito. Sob o aspecto detécnica, nós não costumamos levar a sério os ame-ricanos; é um erro, temosmuito que aprender comeles, pois são os mestres da

René Clair, quando era entrevistado pelo

depois, os Pensamentos, dePascal; lerás: "Se nós re-vemos todas as noites amesma coisa, ela nos afetara tanto quanto os obje-tos que vemos todos osdias. Se um artesão sonhas-se cada noite, durante dozehoras, que era rei, creioque seria quase tão felizquanto um rei que sonhasse toda noite, durante do-ze horas, que era artesão'Eis o essencial de meu fil-me. Direi mais: atualmen-te, muitos autofes se }u!gam culpados se a mínimacena de suas obras nãotentar resolver algum pro-

Nuit é. para René Clair c

que Quiet Man é para Ford;um de seus melhores *»lmes, com a tradição de seutalento. Dá-nos, mesmo, aimpressão de ter queridofazer uma síntese de suíobra, pois, nesta, encorstram-se todas as variaeõede seu estilo; pode-se, p< |

correspondente de "Letras e Artes" na Europa

— basta-nos abrir a séti-ma porta e encontramo-nosem face do mundo desçonhecido. Nada dé proces-sos químicos para passar domundo das realidades parao dos sonhos; é suficientepassar-se de um ângulo aoutro e eis-nos em um uni-verso diferente; simples-

abre-se determinatela e ela dá para o

sonho.— Julga que o Cinema

ae seu esmo; puue-ae, r /a --•»"isto, perguntar como Clsíf mente,conseguirá ir além de s| da jampróprio, no futuro. «««íi«

É o próprio Diretor que«responde a esta questão. europeu tem razões contra

Meu próximo tra&a o americano?Iho será uma película sél — Rasões? — espanta-ria ou, se preferirem, ttãà Ise René Clair — por queserá uma obra de evas*«f razões? por que erro? Nãç

decoupage; do m o n tagede todos os processos quesão, para o cinema, o quea composição é para a pin-tura, ou a sintaxe para aescrita. Para o tema, parao estilo, cada um tem quevoltar-se para sua própriapersonalidade; a incompre-ensão do público francêsdiante dos filmes america-nos, e vice-versa, procedemenos de falta de compre-ensão do cinema estrangei-ro que de uma recusa doestilo de vida de países es-tranhos: desde que umaobra estrangeira seja técni-camente superior2 impõe-se

qualquer que seja seu con-teúdo.

A televisão arruinaráo Cinema?

Pelo contrário — res-ponde — ela lhe propor-cionará o melhor dos benefícios; ela afastará osfilmes comerciais, os de

propaganda; absorverá todaa parte sem valor, rejeitan-do as películas de qualida-de, que passarão a ser pro-jetadas nas salas especiaisvartguardistas, que deverãomultiplicar-se na Europa ena América.

.— Com isto não acreditaque o Cinema esteja emdeclínio?

Quando se compara oCinema atual com o Cine-ma mudo, pensa-se que agrande época da SétimaArte terminou; mas não,depois de uma infância bri-lhante, é natural que elaatravesse uma puberdadedifícil. É mais fácil desium-brar com meios limitadosque com abundância deles;o cinema desenvoive-se,adquiriu a côr, o relevo, osom, a palavra; necessitaaprender a usar estes no-vos membros; o Cinema,depois de uma adolescên-cia difícil, passará a umamaturidade formidável.

Pensa haver soado ofim dos atores proris»»?-nais?

Não- de todo. Se, nospaíses meridionais, os ato-res de teatro têm tendên-cia a ser teatrais e defor-mar, portanto, as expres-soes verdadeiras, e por istotenha de ser usada gentede rua; nos países nórdicos,e entre eles a França, é ne-cessário apelar-se para osprofissionais, que expri-mem o que, em geral, osatores anônimos escondem.é evidente, por outro lado,a importância de escolherbem o ator e de não tomarqualquer por este nome.Eu, por exemplo, procureivários meses uma jovempara meu filme: algunsexistencialistas apresenta-ram-se, mas tenho a im-pressão de que St. Germaindes Près é fatal às ingê-nuas, pois acabei por en-centrar a minha escolhi-da em outro bairro — fi-nalizou.

René Clair, o grandevencedor do Festival deVeneza em 1952, levan-tou-se, despedindo-se demim, não antes de enviarrecomendações a Letras eArtes, que já conhecia»,

OURO VELHODE OUTONO

TEREZWHA fiBOLl

EM

outubro, nos velhosjardins da Europa, hácoisas inimagináveis. So

alguém vos disser que emtoar-coti apenas para conhecer o ou-tono já sabeis que estará au-sente em outubro e neste mêssó será encontrado nos jardinsdourados do velho mundo. Logoque cheguei, disse a todos, an-tes de falar da "Tour" ou davida noturna: se quereis tam-bém, apressai.vos, porque asfolhas estão boiando no ar, cs-perando.

Começa-se a surpreender ooutono nas folhas distintas, in-dependentes e de um amarelo-ouro jamais visto aqui, na Suí-ça. Os de lá, pouco se dão con-ta tia beleza; nós os de câ, osdo monopólio verde, ficamos pa-rados na moldura, com rece/>de perturbar o "ballet". ,sárvores estão semi.nuas, debraços erguidos, com as n-ãoscheias de folhas douradas. Aum sinal invisível, movimen-tam-se, quase em adágio, c dei-xam-nas cair. Desapencar, cmelhor. Não é preciso vento; aqueda é fatal. Vento arranca,magoa, decepa. E o outono láacontece suavemente. O chãojá tem camadas espessas; folhassobre folhas, repousando de la-do, de frente, ou voltadas decostas. São duas que rodam,riscam o ar branco e tombam.Ou são dez, vinte, cem ao mes-mo tempo, como pedacinhos de

seda recortados, cheios de sol.Reminiscência de sol, pois ou-tono já caminha p?ra cinza.

Ê quase inútil tentar definiro tom das folhas do outono naEuropa. Vi um menino atirar..«e num monte delas, imenso, fô-fo, fazendo barulho de coisaeêca quebrando; quando surgiunovamente, seus cabelos esta-vam fantásticos. Pareceram-meos de um pequeno rei, dalgumimpério de cobre; era puro ourovelho e cobre incendiado.

Depois é aquela vontade demergulhar as mãos, os braços eespremer milhares de folhas sê-cas para ver se gritam comocigarras. E caminhando, mesmocom suavidade, há um constan-te farfalhar que, mais que aqueda, denuncia outono. Se can-to de ave é primavera, o sus-surro de nossos pés sobre afolharada, é outono. Não toca_mos apenas; arrastamos os péscobertos até quase o meio da-perna e, a cada passo, temoscascatas de folhas se prolon-gando.

Os outoneiros, velhos homens

que recolhem as folhas de ou-

tono, varrem infinitamente ochão. Estão varrendo sempre enão terminam antes do fim daestação. Acordam nos meses sé-

pia para adormecer logo após,

pois, quando acaba o outononão há mais trabalho para eles.

Também em Paris se vê ou-tono assim. Com um poucomais de vento. No jardim delaixembourg e no "bois" ha

mmms?mig^mmm*sm!mmrmzmGx&?m

chuvas de outono, verdadeira-mente; as crianças correm oestendem as mãos, recolhemfolhas imensas c fazem bar-quinho,

Pela manhã o outono é maisintenso, talvez pela ausência dosol — sol depois das dez —talvez pelos meninos que nestahora calçam botinhas, eu juro,

para pisar folhas secas de ou-tono. À tarde há um outonotriste, em que velhinhas vesíi.das de preto fazem caminhoentre as folhas, empurrando-ascom a ponta do guarda-chuva.Elas pensam sempre que vaichover quando anoitece.

Namorados de outono ficamcoloridos de ouro nos jardinsda Europa. E os gatos quandocaminham no alto dos; muros,se caem, quase morrem afoga-dos nos montes de folhas.

Vão tombando todas, colo-rindo bancos, relvas e a Ia me-das. Caem sem quebra porque)o destino delas c descer em ou-tubro. Caem como as ao d urinhas emigram, sem tragédias,com a certeza de seu belo vôo.

Imaginei que outono fôsse amais suave das estações parase receber as primeiras impres.soes da Europa. Enganei-me. Seé intensa a chegada da prima-vera e nós sucumbimos a ela,no outono, eu vos digo, sãomais profundas c novas estasemoções. Isso porque não ve-mos nas vitrines folhas de ou-tono; não enfeitamos nossassalas com folhas secas; nemOfélia, na sua loucura, lem-brou-se de colocar nos cábelo9,galhos secos. Nem, ao menos,nos lembramos de presentearalguém com um ramo de folhasdouradas. A primavera se tor-nou popular cm todo mundo,mas o outono continua quieto,misterioso, esperando que o des.cubram em sua estranha bele-«a.

Repete-se em outubro, % aqui

quando começa, traz chuvas pe-rigosas. Quem nlto viu nestesanos passados, aproveitem nes-te, para verem coloridos os mu-ros de sépia, as casas, calçadas

e alamedas. E se ficarem «m

pouco mais, talvez vejam «s

velhinhos de barbas brancas

que também as têm douradas

quando cochilam sob »l«wro cas-

t»nheiro »>m outono.

e

¦:-a

>

Pigitia—_.

LETRAS E ARTES 4fom3ngo, 5-10-1952

« I MA ATITUDE Vital Jc1 J exaltação juollosa ou de^-^ exaimçlo raciuneóiisa;uma autuuc ae iu,a íuieiOwtualque e paralela ao filosofar masque o repudia; que se tomu

¦o caminho ua uuxuiyyao, *u aaçoita cm função ca- *magcnb3> .metáforas, tropo*, aicgurias --é a Que nos leva o escreverpoesia.

Em suma, conuuü-uos a poc-ela um ato viuu cie íc no no-mem, na verdade, na língua-gem, como expressão cie umímpeto de viver, num icmpu enum espaço humanos enqua-citados jpela época em que mo-ra ou existe o poeta.

Por ii.au, toa* jvutsia deve serrigorosamente atual' uma ro-sa, não podemos eu.oiá-ia "nemfaáê-la ilorescer no poema" namesma forma em duas épocasdistintas; por isso, tóua poesia'deve representar e interpretar;um momento de sociabindatte,um temperamento psicológicode época, uma facét.» da mes-ma. e nas épocas eu. que a so-ciabllidade adquire caracteres'especiais de complexidade. —¦como a presente — u poesiapoue c"' deve tomar., da maneira'mais intensa, essa complexiaa-de como material de traoalho• e ser, então, convivenaal. PorIsso, eu proclamo e exijo' paraa hora de hoje — caótica einconexa nas relações huma-nas — uma poesia conviven-ciai.

A concepção cristã (de on-tem) de que a pobreza era umavirtude, foi suo~tituida por ou-tra, que disse que a pobreza

A CRISE DA POESIA DE HO J E

ANTÔNIO DE UNDURRAGA

era um vicio soctai cuja eliml-nação se lazia ac-ucvauria pormeio ua fartura e dos altos ni-veis de vida.

O cnstao oferecia como com-pensaçao o céu, um ecu extra-terreno e o sociólogo uo secuioXjla,- a técnica e um novo es-quema ae organização da eu-letiviaade. Ao cristão, nao ihcinteictiga o .prooiema do teia-po e ao espaço, pois o ceu £staa. margem ue amoou. É um re-üuu) metaiislco. Esta muitoalém do fisico.

Mas o sociólogo contemporà-neo levantou o novo mito -daa&unuunaa íhueíuuda pur meioda técnica e esqueceu aigumaapremissas funaamentais: otempj, o espaço, o creocunen-to alarmante da populaçãomundial. O homem se muitipli-ca, hoje em dia. como os ra-tos brancos ou pretos, e nãohaverá técnica nenhuma nemsociólogos capazes de solucionaroj pruoiemas materiais e eco-nômicos do mundo. No maxi-mo, só poderá amenizá-los.

Na Idade Média, a concep-çào cristã da pobreza como vir-tude e a certeza que nisto sepunha, impediram um avançoda poesia (#). Foi, em sua me-dida mais alta, desnecessária.Desnecessária porque a poesiasó oode subsistir em uma so-

ciedado com egos, com kus ex-pandidos, livres, onde convl-vam filósofos divergentes, eonde cada um deles seja umdiscreto deus a criai seu pxo-pno cosmos, seu mundo dou-trinal, às vezes em luta com omundo das ortouoxias oficiaise exclusivistas. Porque —• comojá o dissemos —- a poesia, sebem que lhe repugne o ato defilosofar, não pode subsistir emtoda a sua essência e forçacriadora sem Idéias, nem tam-pouco pode subsisti! em fim-Çào de uma idéia oficial única,seja política, sociológica ou oque for.

Dd modo que teve de chegar«*, o Renascimento, com seu ím-

peto vital, sua fé no homem,seu impulso libertário, para querenasce jse a poesia. E a iín-gua espanhola tem a Fray Luísde Leon e São João da Cruz,que conheceram os cárceres emconseqüência da presença deum pensamento único e de umaarte cristã dnigidos que saopunham — inclusive utilizan-do a fogueira como instrumen-.-to — a uma expansão do euhumano em função da liber-da.de de pensar, ou do próprioeu do homem, ou dos, ideaispagãos da época renascentista.

Hoje, que a imagem cristã dapobreza como virtude foi, em

grande parte, suosutuiaa pelomito da abundância materialilimitada, da economia ;dirigtda.da arte dirigida (nào a artepor encomenda), etc.; quç aindividualidade do homem foirebaixada pelos campos 4econcentraç&o, peio alistamentoobrigatório, o rítmico passo domorte dos exércitos, o focinhoadiamantado dos ruidososaviões de combate, o trabalhoescravo ou semiescravo, destt-nado a criar a fartura indefl-nida; quando o homem nãopode viajar, nem cruzar fron-teiras, nem escolhsr, com mui-ta liberdade, as suas tarefas,tal como sucedera faz mil«anoscom os obreiros faraônicos ¦—dentro ou em presença desseestado de coisas, a poesia per-deu a sua cátedra ou a sua ne-cessidade, sua mensagem vitalde júbilo, de ênfase, de forçalibertadora do homem no tem-po e no espaço, de fôr?a quenão necessita criar mitos natécnica, nem na fartura inde-finida e impossível, para .levarao homem paz, gozo, esperan-ça, porque a poesia, entidademetafísica por excelência, quetem seu aríete ná imagem eque luta pela verdade, que eveloz como,o sonho do homem,e que .é um sonho produzidoem estado de vigília, deve hoie

«voltar ftsuru lanterna que não00 apaga, a lâmpada cuja elo»tricmuue não deve ser lutei-rompida, e precisa o poeta de-fendé-la dos mitos que a su-tfocam — co educunor, pormeio da educação estética, sal-vá-la da incompreensão de umgrande número de seres quenão estão capacitados par.tchegar até ela.

Eis aqui o patético e doioro«so destino do poeta: libertara homem dos mito,-; que alie-nam a sua liberdade, ser oPrometeu de hoje e de sem-pie, que nao esteja obrigadosomente a criar poesia — jpaometafísico e estético do homempara o homem — senão tam*bém a defender as condiçóeide liberdade e a evolução d«fantasia e do pensamento hu-manos, para que .seja possívea cnaçâo poética.

Aí está, em siuna, seu duplitraoalho piometeico: derreteas cadeias dos mitos, sistemasociológicos e igrejas que envelhecem, e criar ou cantar, simuitãneamente, as novas situações, doutrinas, esquemaou concepções de júbilo vitaide esperança humana, de superaçao humana, de serenidadihumana, de uma nova e maualta convivência humana.

(Trabalho lido nas ".Soma-das de Poesia" organizadas pe<Io Sindicato dos Escritores Chilenos, de Santiago).(*>) A Idade Média «teve n< <"aquelarre", no sábado negv»e outras atividades, um substituto libérador de tipo mágicoe fronteiriço do poético de bas<

onírica.

ARIS — Julho é o mês[.< mais importante parabailarinos e uailannas

da Ópera de Paris, a co-meçar dos "petits rats" até asgrandes estrelas. Sinto_me fe-liz em ter podido estar presen-te à "Ouverture de Ia Sàison"*pois foi este um espetáculodeslumbrante. Antes de come-çar o primeiro bai.ado, ao íe-vantar-se o pano, há o ma-gnifico "déllé", o desfile emque tomam parte todos osmembros-do "Corps de Ballet".O palco, já tão grande, apa.reoe imenso perante nossosolhos, pois os cqrt.naaos tiofundo tendo sido retirados, o"Foyer de la.Danse", habitual-mehce tão cuidadosamente es-,condido do público, este "Foyej:que ninguém pode visitar, é'visto inteiramente, em todo seuesplendor. E lentamente, ao somda música, aparecem, primeiro,os "petits ,.irats" depois -o cor-po de bailado e, finalmente, asestrelas, sob os aplausos de umpúblico delirante. Não há pa«lavras para descrever a belezadeste espetáculo, mas confesse

jjj que senti iágrimas nos olhos,tal o deslumbramento peranteesta cena que tão raramenteum estrangeiro pode apreciaina-Opera.

Não .poderei falar em todos oibailados que tive o prazer dever. Mas não posso deixar deescrever algumas linhas sobra

A TEMPORADA DE BALLETNA O P ERA DE PARIS

virismo, -essência.

poesia " v(Conclusão da l.a pág.)

tentaram ir além do lirismo,todos os demais, salvo estes, quesão épicos, filosóficos oti dra-sjiátioos, seriam poetas meno-ires. Ora a verdade é que nóssabemos que o não são. Este omotivo por que como tal nãodevemos considerá-los, porque a

| verdadeira poesia é a poesia li-fica. E quando se procura va-4torizar como sinal de grandezaa ação, o drama, o pensamentoimplícitos na poesia, está a des-vaiorízarlse o que de essencial«atiste em ioão o real momentopoético — a comunhão..com oAbsoluto, © caráter inefarcl,místico, estático da experM-cia e? - -iai * verdadeira e aí-¦ta poesia,

os bailados que mais me im-pressionaram, a começar por"BLANCfiE NEIGE"'. Este bal-lado, sobre o qual opiniões tãodiversas foram publicaaas, mes-mo no Brasil, é verdadeira,mente um espetáculo feérico,cheio de encanto. Este belo con-to de fadas foi maravilhosa-mente exprimido e vivicto no"Ballet" do mesmo nome, gra-ças à inteligente coreografia deSERGE LIFAR. A música deMaurice YVAIN, tão discutida.é leve, agradável, adaptando-seperfeitamente ao tema da his-tória. Quanto à interpretação,quero salientar a maravilhosa";étoie" NINA yYROUBOyA,na parte da rainha. No pri-meiro ato, ela nos dá, com umamímica perfeita, a rainha per-versa e invejosa. No segundo,a feiticeira e a cigana são porela interpretadas com um rea»lismo surpreendente, tendo sidomuito aplaudida a "variation"da feiticeira, que é extraordi-nária. Finalmente, vemo-la co-mo rainha arrependida, no"happy-end". Ao todo ela tro-ca cinco vezes de roupa apa»tecendo em três papeis diferen-tes, mas cada um é dahsadocom tal vivacidade e frescuraque ninguém diria que a mes.ma artista já dansara anterior-mente. Esta bailarina tem umatécnica impecável e, sobre tu-do, é uma artista dramática degrande calibre. Também LIA-

NE DAYDÉ, no papel de Blan-che Neige, está encantadora.Mas esta jovem dansarina estáainda longe de ser uma ar-artista como Nina VYROUBO-VA. Sua técnica é boa. mas oseu jogo de fisionomia deixa adesejar. Não se encontra emseu bonito rosto vestígio damedo ou de alegria, sentimen-tos estes a ser exprimidos nes-te bafado. SERGE LIPAR, nopapel do caçador, está bem en»quanto que os anões imnressio-nam agradàvelmente. Convémainda mencionar Mlles. BESSYe CLAVIER que, em dois so-los, mostram ser possuidoras deboa técnica. As decorações e nvestuário conforme maquetes d©

STEFFI L. A.SH

M. Bouchène são discretos ebonitos.

Outro bailado "LES MIRA-GES", bailado este que.já ti-vemos a oportunidade de verno Brasil, foi maravilhosamen.

.te interpretado por NINA VY-

M$ÈÊ$À̂

ÊÉÈÊÊÈfÊ:::::'.:::.'::;:«8 SiSS^w-^íiSS^ísHIlk^^SyWvSSiíí

¦yyM<<-í-M-À-:-:-yM$i<>: &Sm&-'<'¦''¦'¦' '¦¦'¦¦'¦ :•:•:•:¦:•:¦:•.•¦:•

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Nina Vyroabova, em "'Jisianche-Neige"

EOUBOVA e MICHEL RE-NAULT. Este, o "homem", vi-veu perfeitamente o seu pa-pel, ninguém percebendo queele sofria de uma torceuura nobraço. NINA VYROUBOVA,novamente, deu mostras de sèuinegualável talento na "som-bra", papel este em que tãodramaticamente ela representaa "consciência atormentada".Estamos diante de uma das me«lhores, se não da melhor, bal..larina de nosso tempo. Estaartista, que se conservou tãosimples e pura em um ambien-te tão ambíguo como o daOpera, merece realmente todaa nossa admiração.,,.

Uma menção toda especialdeve ainda ser feita sobre anovo bailado "FOURBERIES",baserdo na comedia de Moliè-xe; Les Fourfoeries de Seapin»

Coreografia de Serge Lifar, md.sica de Rossini. Todos os ar-tistas dão mostras de seu ta-lento: VYROUBOVA, LIPAR,LAPON, BOZZQNI, DAYDÉ éRENAULT. SERGE LIPAR éum ótimo Scapin. De NINA

VYROUBOVA não é nem ne-cessário descrever o trabalho.Seus "sauts sur pointe" sãomais do que perfeitos e suamímica, alegre e desenvolta,Impecável. Com quanta mães-tria esta artista executa os seuspapeis tão diversos. Maltrapi.lha ou rainha, sempre ela nosdá a impressão de estarmos re-almente vendo a personagempor ela incarnáda. MICHELRENAULT, no papel de Lello,dansa para a sua Goralino(LIANÉ DAYDÉ), coih» muitadesenvoltura e elegância. Pio«rina e Mascarilé (respectiva-mente MADELEINE LAPON «MAX BOZZONI) acabam dedar o toque de alegria a estacomédia coreográfica.

Também "PHEDRE", esteballet que nem a. todos agrada,apareceu diversas vezes no car-taz da Opera. Música de Geor-ges Aurica, coreografia de Ser-ge Lifar. O papel de Phédrefoi interpretado por sua cria-dora, TAMARA4 TOUMANOVA,artista esta quç, athalmente,está um pouco decadente. SER.,GE LIFAR muito agradou co-mo Hippolyte e NINA VYROU-BOVA nos deu uma Oenonemuito 'expressiva. Seus equili-brios deixaram o público tãojubiloso que unanimemente foiela aclamada como "estrela"deste bailado, apesar do papelprincipal ter sido densado poroutra.

Concluindo, creio não sernem necessário dizer que. atu-almente, graças ao "Maitre deBaliet" Serge Lifar, graças amaravilhosas artistas como Ni*na Vyroübova e graças a umtão disciplinado corpo de bat-lado, o.conjunto da Opera deParis é uin dos melhores domundo. Em Paris, tive ainda aoportunidade de ver o "NewYork City Ballet'vbem eoarò q

"Ballet de jVIarigny", mas an»bas estas companhias, sem sedesprovidas de méritos, sãincomparàveJme n t e. inferioreao conjunto da OPERA DlPARIS, o qual provoca pro.fundos sentimentos de adml-ração a todos aqueles que ovêem.

O Cone&9rs® p®m a

do Colégio ¥edw i(Conclusão da a.a pág.)

Inter-Americana de Bibliogra-fia", üa União Pan-America-na, do Prof. Rouerick M.Chisholm, da Brown ünlversi-ty, do Prof. Cronehu Krusé, daWesleyan University, do Prof.Pauí Wienpahl, cátedratico deFilosofia da Universidade deCalifórnia. Comentando os"Diáíogos entre Sócrates e oMarxista", trabalho de Eurya-Io Cannabrava divulgado por°.este suplemento, -è depois re-produzido na revista "Krite-rion", o sr. Edgar'-Bhlgtnian,da Universidade de Boston,fundador da escola personalis*ta, dizia: "Escrever assim cons-titui um grande' serviço publi-co e humano nestes dias emque a vvepdadeira voz da razãoprecisa ser ouvida, acima daclamor do ódio fé da propagan-da. Talvez algum marxista queainda não foi longe no absur-do atende às sabias palavras,de seu :Socra.tes". Américo Oas-tro. professor de História e Li-

, teratura Espanhola da Prin-ceton University, em 1945, de*clara va: "Agdra, sim o Bra-sil tem um filosofo". Quandcda realização do Congresso In-ter-Americano de Filosofia, em1947, a Associação Americanade Filosofia, escrevendo para Q

- Embaixador brasileiro em, Was«¦hington, fazia a sua indicação,nos seguintes termos: "A .Asso-

. ciation acredita que, no que con-cerne à participação do Brasiiao Congresso, o Dr. Cannabravaé a pessoa indicada, e deverá es-tar aqui em pessoa. Oonfio emque o Governo brasileiFO dese*jará tornar o Dr. Cannabravadelegado oficial do Brasil áeCongresso".

Esses são os traços da perso-nalidade do candidato vitoriosono ultimo -pon^u^so para a oa*deira de Filosofia do ColégioTedro ir

Domingo, 5-10-1952 TETRAS "B rART ES 'áglna — 9

ÜS PAISI-:s que têm uma

literatura rica e vasadaem língua de prestigio

universal, como a Inglesa, pro-curam, no intento de consolida-Ia em caráter cultural, dlssemi-ná-Ia em outras agremiaçõeshumanas, fundando e manten-do para esse deslderatum, ins-tituicões cuja única finalidadeé a de propalar a aprendizagemde seu Idioma e difundir o co-nhecimento de sua literatura.Não me cabe aqui apreciar oaspecto político que possa haverem tal modo de agir; nem ofacles demopslcológleo que por-ventura exista nesse têntamenque envolva, este e aquele, umapropaganda colimando a inte-resses alienígenas, imediatos ouremotos. Nem quero crer que adifusão de um veiculo llnguísÜ-co como a língua inglesa, pos-Sá ser mais do que uma benessedesejável de ser adquirida porhumanos de qualquer nacionà-lidade, pelo menos para aque-les a quem a aprendizagem deuma língua estrangeira degrande divulgação represente oalargamento do painel inte-lectual pela aquisição de noçõesmais amplas, que iniludivelmen-te conduzem a um plano supe-rior de realizações mentais deresultados materiais apreciáveis.Para encarecer o valor do do-minio de um idioma estrangel-ro, vem a pêlo citar o anexim,quo diz: — "O homem que fa-Ia duas línguas vale por dois",um "clichê" já expulso do con-

DIVULGAÇÃO DE LITE-RATURA ESTRANGEIRA

rA. LASEMIRO DA SILVA

vívio da mnemônica das massaspela llquefação de valores queo cbnturbado mundo de hoje,no afan de renovações, promoveinfatigá vel mente.

O aspecto, contudo, que con-vém focalizar, não é o da disse-mlnação de conhecimentos Hn-guisticos, em cuja validade se-ria inócuo insistir de vez quesuas vantagens individuais sãoclaramente compreendidas portodos. E' o problema da difu-são literária um ângulo mais•importante e de maior valia natransmissão, de conhecimentosliterários. Esses conhecimentosconsubstanciam-se na divulga-ção da obra de novelistas, poc-tas e ensaístas, que se proces-*sa por meio de conferências, ar-tigos e ensaios críticos sobre au-tores de maior relevância, pas-sados ou contemporâneos, obje-tos de estudos interpretativosque vem pôr os audientes deinclinações culturais, que de-monstram certo interesse porum dado setor das atividades li-terárias estrangeiras, ao cor-rente delas. E' inegável a van-tagem que tal proceder oferece.

A continuidade metódica do es-tudo de uma literatura por meiode conferências c aulas valecomo um substitutivo do estágiono estrangeiro para os estúdio-sos que não dispõem de reeur-sos para tal. Sc por um lado oalienígena possuidor de um ri-co cabedal cultural tem interés-se em difundir sua iingua e sualiteratura, que goza de justaconsideração da humanidadepelos luminares universais quelegou ao mundo, nós, por nossolado, devemos acolhê-las, alíngua e à literatura com pra-zer, não só como veiculo de pro-gresso material 'àquela, comomotivo de deleite espiritual, aesta. E' bem conhecido de to-dos os entraves que empecemaos que se abalançam à apren-dizagem de uma língua estran-geira, maximé em se tratandode idioma oriundo, como o in-glês, de fontes só eruditamentelatinas. E' também notório queos homens de letras de qualquerpaís se preocupam mais com asua língua materna, esforçando-se em aperfeiçoar o estilo, va-lendo-se para isso -dos mestres

da língua e relegando a planssecundário o estudo de idiomasestranhos. Assim sendo, poucosescritores, fora casos csporádl-cos, terão a faculdade de ouvirou entender uma conferêncialiterária em inglês, francês oualemão. Vem-me a pena essasconsiderações por ter ouvido re-cen temente na Sociedade Brasi-lelra de Cultura Inglesa exec-lentes conferências, que são di-tas quase sempre a uma audiên-cia composta de uma dúzia dealunos, pessoas sem tirocinio deletras e que decerto ali vão pa-ra ouvir o esplêndido inglês queo conferencista fala. Falha as-sim a finalidade, a meu ver, dareferida instituição em difundira rica literatura de seu país apassada em brancas nuvens to-do o esforço intelectual do no-tável professor. Confio, entre-tanto, que esse modo de agirnão seja uma rígida ética brl-tânica, e que possa ser modifi-cada. Como entusiasta da litc-ratura inglesa, cuja divulgaçãotenho procurado faer entre nósdentro da desvalia de meus par-cos conhecimentos literários em

mais de uma década, desejariaque as pessoas de pendores II-terárlos pudessem tor a oportu-nidade do ouvir essas belas ex-pressões de uma Interpretaçãoliterária que, compartilhandoria sobriedade britânica, revelaum padrão de interpretativuliterária digna de ser aprecia-da pelos nossos intelectuais quose interessam pelas letras albio-nicas. Romancistas como AldousHuxley, 1). II. Lawrence, o orl-glnal Granam Grccn, poetascomo T. S. Eliott, W. B. Yeats,Edlth Sitwcll, VV. II. Audcn,para só falar nas mais reccn-tes conferências, tem sido cs-tudados com um sangue novode originalidade inédita entrenós, por isso que filtradas atra-vés da homogeneidade de atl-tude mental, de temperamentoartístico, de metodizacão cul-tural entre criticando e criti-cados.

Por intermédio do diretor daCultura Inglesa dirigi um apê-Io ao conferencista ProfessorJohn Mulholland, no sentido deque tais tertúlias culturais se-jam feitas também cm nossalíngua e caso essa realização seenquadre nos moldes admlnis-trativos daquela entidade, e se-ja homologado por possívelexequibilidade prática, podereiter a satisfação de ver um ser-viço prestado a cultura nacio-nal em pôr-se ao alcance dosnossos intelectuais os meios deacesso a uma das mais belas eeruditas literaturas do mundoatual.

IN ÃO duvidamos de que, seMaeterlinck exerce so-

.bre.tantos espíritos umainfluência profunda, ela

é devida, em grande parte, aovalor artístico de seus escritos;um manual de moral, um tra-tíido de metafísica podem sernutridos pela mais rica subs-táncia; permanecerão, entre-tnto, ineficazes, porque sua arl-dez choca o leitor e as abstra-çõ3s em que se comprazem osfiiósofos profissionais impõem àinteligência um esforço penosoe freqüentemente vão.

Foi através da poesia queMaeterlinck se tornou filósofo,e filósofo, nunca cessou ele deser poeta: entendamos por issoque possui o autor de "Mon-na Vana" o dom de concreti-zar o abstrato em imagens In-cessantemente renovadas, e quemultiplicando, transpondo omesmo pensamento em cemformas sensíveis, dando de qual-quer maneira, um corpo e cõ-res ao imaterial e ao invisível,torna*' a idéia cada vez maispróxima de nós e tangível pordetrás .da fisionomia que í elelhe empresta. •

Esse método, ou mais exata-mente, esse processo espontâneode, uma inteligência concreta • ede uma imaginação essencial-mente visual: o escritor que outiliza com freqüência, se expõea esmagar por vezes seu pen-sarhento sob as vestes muitoricas e numerosas de que aadorna, e mesmo, em certos ca-sos cedendo â sua abundância eà sua virtuosidade, confundeuma imagem com uma idéia,

Um filósofo e dois roman-cestas em edição de "Re-

vista Branca""Revista Branca" vai lançar três

traduções de autores estrangeiros,Bendo uma delas ainda para esteano. Desses volumes, dois são deficção e um de idéias. Intitulam-ee respectivamente: "Winesburg,Ohio", de Sherwood Anderson,coutos .traduzido e prefaciado porGoristántino Paleólogo; "Freedomand Cultura", idéias, de John De-itvey, com tradução e prefácio doEuefcáquio Duarte; e "The BestBhort Histories of Jaclc Loncion",traduzido por Lygia Pereira e pre-íaciatíp por Saldanha Coelho. Ovolume de histórias de Sherwcod"Anderson deverá aparecer no pró-ximo mês, seguinde-se-lhe 03 doispubres- do filósofo reeontorn.cntofalecido e do grande contador de

avantüras norte-americano.

A ARTE E A MORALEM MAETERLINCK

AUGUSTE BAILLY

uma metáfora com um argu-mento, um "elan" lírico comum raciocínio filosófico. Talvez,e sem dúvida o próprio Mau-ricio Maeterlinck • o julgaria,lhe houvesse acontecido em. ai-gumas páginas de sua obraabandonar-se a uma espécie deembriaguez verbal, de encantar-se com as criações luminosas doseu estilo, e de se cómprazer,durante algum tempo, com ojogo formal que não possui maisdo que a beleza de um canto.

Esse perigo seria grave, na-turalmente, pára um escritor

cuja obra se limitasse a um pe-queno número de volumes; éinsignificante, quando estamosdiante de um esforço intelectualque se prolongou durante cin-quenta anos de uma produçãoininterrupta. Na verdade, náopoderíamos sustentar que a be-leza formal é dotada de umaespécie de poder de persuasão eque ela cria em nós um verda-deiro estado de graça, tornan-do-nos, em seguida; mais" aces-.sível aos pensamentos nobres?Muita gente julgará que estou,fazendo uma afirmação gratul-

ta. Tente-se, no entanto, verl-ficar o que acabo de afirmar,lendo-se as páginas do "Tem-pie enseveli" ou do "DoubleJardin": não é verdade .que,mesmo se elas não demonstramcoisa alguma, nos colocam numestado de euforia intelectual, deotimismo, de esperança, de con-fiança? E se assim acontece,como não convir que a arte épor si mesma dotada de umavirtude moral?

Ela cria em • nós, pelo menos,uma atmosfera moral, uma es-pécie de clima feliz em que os

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Vinheta de S ANTA ROSA

I NSCRIÇiO,A ALÇA DO CAIXÃO, AMIGO, ESTA ALIA DOIS PASSOS DO TEMPO:

SERÁ MEU OU VOSSO ESTE-'CORPO VAZIO?DESCEI A LADEIRA, DESCEI,E ENTERRAI MÁGOAS, ILUSÕES,O SUAVE ENCANTO DA VIDA.

ENFEIT&S DE OURO E PRETO, LÁGRIMAS IGUAIS:ENXUGAI O PRANTO, BEM AMADAS,

(POESIA, TÚMULO E CHUVA)POIS NASCERÃO ROSAS- E ESPINHOSDOS OLHOS SEM LU?.,

ROSAS RUBRAS DO CORPO FERIDO, VERSOS E PÉTALAS,DUROS ESPINHOS — RESSENTIMENTOS DO MUNDO.

A ALÇA DO CAIXÃO ESTÁ ALIA DOIS PASSOS DO TEMPO:

SEREI EU OU VÓS NA MORADA FUTURA?

DlRClüJ OU1NTANILHA

grandes pensamentos de hojepoderão, amanhã, expandir-sacm atos. Como escrevia Mau-rice Maeterlinck numa páginaque será a melhor conclusão domeu pequeno artigo:"Precisamos viver como senos encontrássemos sempre navéspera de uma grande desço-berta e prepararmo-nos paraacolhê-la da maneira mais to-tal, mais íntima e mais ardentepossível. E essa maneira, sobqualquer forma que a descober-ta se revele, será a de espera-Ia, desde hoje tão alta, tãovasta, tão perfeita, tão enobre-cedora quanto nos for dadoimaginar. Nunca lhe empresta-remos demasiada amplidão, be-

. leza, nem • majestade. Ê certoque ela será melhor do que asnossas melhores esperanças, poisse diferir disto, se for a pontade contradizê-las, pela própriacircunstância de nos trazer averdade, nos trará algo de mal-or, de mais alto, de mais con-forme à natureza humana doque aquilo que havíamos espe-rado. Para o. homem, mesmoque deva ele perder tudo queadmirava, admirável por exce-lência será a verdade íntima douniverso. Supondo que no diaem que ela for manifestada asmais humildes cinzas das nos-sas. esperanças sejam dispersas,restar-nos-á, em todo caso nos-sa preparação para a "admira-vel" e a "admirável" entraráem nossa alma em vagas maisou menos abundantes, segundo alargura e a profundidade doleito que a nossa espera houvercavado.

"jardins Suspensos", deHernâni de Lencastre

O intelectual português sr. Her-nani de Lencastre, que tem colabo-rado com freqüência em Jornaisluso-brasileiros, publicou um livrode poesia "Jardins Suspensos", emque denota sensibilidade c gosto.

"Influência da armazena»gem sobre a produção e o

abastecimento"Em 6ua coleção Ensaio e Debate

Alimentar, o SAPS publicou o tra-balho "Influência da armazenagemBóbre a produção e o abasteci-mento", de autoria de Rómulo Al-melda. Trata-se de conferênciapronunciada pelo conhecido eco-nomlBtn brasileiro no auditório doMinistério da Educação, como par-te do programa da II Semana Na-clonp.1 da Alimentação, reaUzítducm dezembro de 1951.

Pagina 10 ZBTB7tS.'S rARTES Domingo, 5-10-1952

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(Conclusão d» 6." página)¦segundo sentido e que elo ee«uicontra mais vulgarizada noatrataaox. Nos diríamos assim,tcntanuo resolver u çontrover-aia, que há duas espécies de in-tuiçUo: uma intuição original,que exige um estauo cie vugm-aaae cie espirito em face de oo-jetos pela primeira vez contem-piaoos e que despreza o apoiooos experiências anteriores, c aintuição numa fase superior, queconstitui uma visão careta, como apoio dessas mesmos expen-ências anteriores. No ato dacr.açâo, e sobretudo da con-templiição estética, a emujuose realiza por uma combinaçãodesses dois tipos de intuição, oumelhor, dessas duas maneirasde ela manifestar-se. Excluir aprimeira representaria recusara possibilidade de uma iinpres-são de surpresa absoluta, de cies-cobrimento total e quase, aca-brunhador a que estamos su-jeitos diante de certas obrasartísticas ou de certos objetosestéticos, dos quais, nem mes-mo através de remotas associa-ções do subconsciente hererii-tário ou coletivo, jamais tive-mos notícia; e excluir a segun-da implicaria dar à intuiçãoum sentido divinatório alias,possivelmente reconhecível nainfância ou nas etapas prima-rias da cultura. A intuição mis-tica é conhecimento; ora, o co-nhecimento místico é dado co-mo exernp o irrecusável de In-tuição pura. sem experiência.De modo que não parece estarcom toda a razão o ensaísta daIntrodução â experiência este-tica, quando afirma que o co-SiheCmento intuitivo requersempre os elementos da experj-ência, porquanto a experiência

cCoiiciusâo dn 5.:s página)nheiro?... Desde essa época êloestava solidando avidamente asperspectivas. Moravam naque-le pardieiro por falta de recur-S03, a sua situação não permitiacoisa melhor. Mas eram eles asúnicas pessoas melhores, resi-dindo ali, e um casa! recente-mente hospedado, por falta d?cômodo nos hotéis da cidade.e que éramos nós, eu, médico

• há oouco diplomado, e minhaesposa. A casa era positiva-mente uma espelunca e seusproprietários, ou melhor, se-nhorios, gente de baixa esfera,Chncros. sem a mínima educa-ção. enquanto os demais hós-ped°s. por sua vez. rião mere-ciam melhor tratamento. Iuua-lavam-sé aos senhorios. Enfim,a nossa permanência aíi teriade ser curta, como foi. DeGumercindo, não sabíamos, masavaliávamos, ao observar a dl-ficuldade com que êle tutavaEra esse o homem que aueriecasar e com u'a mocinha! —admirávamos, rindo no íntimo.Ele vivia de dia no escritórioje de noite, invariavelmente, naier.e^a. Eram crentes e defen-diam a sua religião, toda a, vezque havia ensejo, com um fa-natismo fervoroso, como >aro-

>>: ,çe ser comum entre eles, elo-giando , semore, com muita.exaltação, as qualidades dopastor da igreja oue írequen-tavam. Rosa, a filha, era pro-fessora. e ajudava-o mingua -damente com o que podia. Pe-dro. não. Trabalhava comocaixeiro de uma loja de teci-¦ dos e o que percebia ora dis-sroAdo exclusivamente nos seuscastos. O uai. repreendia-o eêle dava provas, incontinentí,de seu gênio, respondendo-lhecom grosseria, às vêz?s até ivd.

^ presença dos estranhos. Nósnão gostávamos muito da ma-heira de nvoceder de Gumer-cindo, questão de feítio, não ha-via dúvida, porque êle se intro-mrtia em tudo, mas reprovava-mos em silêncio as macriaoõesdo'filho. Um filho é um iilho.e £le se mostrava violento pa-ra com o nai, renrovaiído suasações. Não ebstante. todoseram minto atenciosos para co-nosco Só mais tarde, quandojá nos havíamos nvdatío de lá,vimos saber aue Pedro tinhaido para uni s?rninário batista.estranhando o fato, uríneioal-me^f» i'oro"te a niçÕTjrUi Po^a,que r--.\ T,~p,:*1 (l"'1"^^ t. (•/>''O.spredicados apreciávamos, tam-

(i introdução à experiência estética *>

podo boí falha e haver, em de-terminados estados da conscUência, momentos em que o in-tuír. sendo um primeiro canto-to com a realidade, Mgruficanão apenas o início de um com-plexo de pressupostos indlspen-sáveis à experiência a ser vivi-da mais tarde integralmente,iniu. uma experiência interiorcompleta no presente, emboranão .decomposta, uniu revelaçftoinstantânea que a consciênciaiaz a si mesma, inclusive eil-minando a existência de objetosexteriores.

Dessa concepção positivistaem que se colocu o pensamentodo autor cm face do problemageral do coiihecimeiAo derivaum conceito que retira da per-scnalidade toda a sua indepfen-déncia: d de que sd existem oavalores da cultura. Definidorasdisso são as palavras de' con-clusão do último capítulo —'•Criação e contemp ação": "Ovalor está ligado à vida, a co-nhecimentos anteriores, e soexiste, rigorosamente, uma es-pécie de valor — o da cultura.E cultura não é mais do queum complexo de conhecimentosassociados, tamisados, digerido»,metabolizados. "Não há. pois,criação espontânea de valoresdo. espírito. Isso significa semdúvida levar muito longe a irai-portância dos dados da experl-ência adquirida, quando êssesdados podem ser meros sinais,simples pontos de partida paramanifestações arbitrárias da in-tuieão estética criadora. Naverdade, o valor no sentido dacultura (aliás, termo empregado

bém tinha ido embora e. nemnos comunicaram nada. Certavez encontrámos Gumercindona rua. Ele veio festivamenteao nosso encontro. Notava-se-lhe na fisionomia uma satisfa-ção intensa: ~- "Arranjei umanoiva, dr. Teimo" — disse.

Arranjou! — exclamei,procurando imediatamente dis-farcar a ironia: — Parabéns,"seu" Gumercindo.

Obrigado. — E estenden-do a mão à Diva: *— é umamoça como eu queria, dona Di-va, não muito' nova, tem osseus trinta-e-cinco . anos...("Ali!, jovem ainda" — inter-rompemos). Estávamos 'ialan-do com sinceridade, a despei-to da malícia, levando em con-ta a condição geral de "seu"Gumercindo, pois parecia sen-satâmente de acordo com aidade dele pelo menos, o queêle próprio confessou.

~- E' uma ótima criatura,dr. Teimo, se me. desculpam aimodéstia, e pertence si nossamesma seita. Demorei um pou-co a convencê-la, poréín triun-fei— acrescentou. — Sem di-iiouldade. as cousas perdem oseu encanto. , .

4 '— E a Rosa e o Pedro, comovão?...

Vão'bem — respondeu numtom débil.

Percebemos k maneira comoêle se manifestou sóbre os fi-lhos e, por isso, não insistimos,mas, talvez para disfarçar afrieza, disse-nos:

Eles vêm, para assistir aocasamento. Quando houveroportunidade lhes apresentareiminha noiva — acrescentouainda, já se despedindo. E fi-cou apenas nisso. Nem fomosconvidados para o enlace, nemsoubemos se os filhos vieram.

A verdade, porém, êle nãoquis aceitá-la de maneira ai-guma, e tinha as suas razões,quando o filho naturalmentepretendeu evidenciá-la, antesdo casamento. Iria entender-se com o pastor. O desesperooprimia-lhe o coração, ofusca-va-lhe o raciocínio, punha-noperdido nas trevas. Aquilo erauma pouca vergonha. "Desça-rada. uma velha sem pudor"— disse á mulher, á luz doabat-jour acesa. Â mulherexasperou-se: — "Dane-se —res'íondeu-lhe. — Eu bem quenão queria casar com você".¦— Mos não enganasse —

impropriamente) é valor lnte-giauo num procosso exterior cautomatizado pela memória.

Outro aspecto quo simples-mente lemoramos aos leitoresconsiste nas opiniões do Sr. Ho-sário Fusco sobre o caráter ciaobra de arte. E veremos que, seentre a pos.euo assumiaa pe-zanio a natureza do conheci-menio c a concepção de va:orexiste nele uma intima conu-xáo, pouca coisa dentro aocontexto justifica a idéia aosentido da criação literária, so-ure u qual o autor se aplica,cedendo evidentemente fts «"nntendências de crítico de letras eliccionista. O observador cio re-xiOmeno estético, assinalamos,que se comporta como um po-sitivista e naturalista, mau gra*do a concessão que, no começo,dl?, fazer a estética à metafisi-ca; mas o observador da obrade arte. ao contrário de umavisão realista, e demasiado rea-"lista, a que a ordem do seupensamento parecia lògicamen-te conduzi-lo, defende um pon-to de vista que. com toda asinceridade, lastimaríamos fos-se hoje restaurado. Nós que di-ante daqueles problemas pn-mordiais hesitaríamos entreuma atitude positivista e umaatitude idealista, tendemos naconsideração da arte em geral,e do fenômeno literário em par-tlcular. para uma posição rea-lista, que afirma a autenticida-de da representação ou da ima-gem e cxa"ta a correspondôn-cia do conteúdo e da formacom a vida. Admira-nos um tre-cho como .este, que faz da arte

EDAprotestou éle. — Tivesse dignidade.

—- Vá embora, me deixe sequiser — respondeu. Quandoela disse isto, sentiu um rebateàs próprias palavras. Seriauma desmoralização perante asociedade, separar-se. A fami-lia toda*conhecida... E mode-rou as expressões, embora jáhouvesse declinado o nome doautor: — "Eu já disse que nãofoi ninguém, mas você quer queseja, então seja feita a sua vou-;tade". E retirou-se do quarto,indignada.

Tudo estaria talvez consuma-do, sem maiores conseqüências,¦ apesar dè alguns vizinnos ha-verem ouvido, se êle não hou-

. vesse levado avante. Queria ti-rár a prova, procedendo rre-fletidamente. Mesmo depois»quando lhe sopraram aos ou-vidos qúé poderia anular'o *ea»samehtõ, em dez dias, não ofez. O pastor negou tampem,a.procedência de tal verdade.Era uma calúnia que. queria as-sacar-lhe. E jurou por. JesusCristo, com á Bíblia na mão,como não fora êle, o causadorda infelicidade da moça. Ele,

«#té por uma questão de escrü-pulo, mantinha a secretária emgabinete separado. Se ela esta-' va assim não era absolutamen-te por sua culpa.

Gumercindo não, acreditou•. muito nisso, embora o outro;jurasse sobre a Bíblia, e in-sistiu:

~ Dr.. Adalberto, eu queroque o senhor me seja leá (Erainstruído, mas falava com umapronúncia acaipirada). E' umaquestã de honra.

— Sim. Que você quer queeu faça? Eu não jârlhe disse?...Pode ficar tranqüilo, sou umpai de família, homem de res-ponsabilidade...

Gumercindo teve vontade deinvestir contra êle, mas seconteve. Saiu da igreja maisacabrunhado do que entrara.Tinha certeza. E por que pro*cedera, assim, sem refletir,quando legalmente poderia so-lucionar tudo direitinho?!...As idéias baralhavam-se-lhehorrorosamente no cérebro., *Aluta era desigual para as suasforças. Um vinco, no rosto, deprofunda amargura o projeta-va ainda mais no temoo. Pa«recia-lhe uma eternidade a vi-da. mas sentia as energias seenfraquecerem a cada ínstan-

umu soilsticaçuo: >• Afinal decontas, a arte não passa da-quem "sublime mentira" ciopoeta (üuhamel). E por malaestranho quo pareça, a men-tira não reside, tão sò, na"construção'' que nos é dadaapreciar (...) essa mentira co-nieça desde o momento cmcriação". Quando Duhamel fa-lava em "sublime mentira" es-tava, talvez propasitaüairiente.interpretando o sentimento ciacriação artística com um eufe-mismo pot.ico que de modonenhum pode corroborai' umacritica estética da literatura.Para certos gêneros, entre osquais assoma o romance, éstejuízo é absolutamente falso. Detodos os objetivos vagos comque tentamos designar a crao-ção . )roduzida pela leitura doum poema, de uma peça ou dtiuma página narrativa, sublimeé, rigorosamente, o que menosse adapta, sobretudo à literatu-ra contemporânea. Mais inad-missíverainda é a mentira, is-to é. o traço decorrente da no-ção de sublime — a ' sublima-ção, a estilização em grau ex-tremo. Literatura que se erguesob esse signo da mentira fi-gurada, quer como processocriador ou efeito emotivo, quercorno conteúdo ou forma, é li-teratura deca dentista. O verda-deiro sentido da arte não estána mentira como não está naverdade, embora seja mais ver»dade do- que mentira para 03verdadeiros criadores. Intuitivaou lógica, espontânea ou volun-tária, gratuita ou interessada,ela procura recompor a rêall-

te. Repugnavam-llie as préprias faces dos crentes. Alguns,entretanto, decepcionados, seretiraram da igreja. Era umaimoralidade • aquilo. Corno opastor desfrutava de alta repu-tação, procuraram logo abafaro caso, fôsse êle ou não o ver-dadeiro responsável, para nãomelindrar, sobretudo, o bomnome da. seita. Gumercindopensou, revoltado, em pedir ademissão da mulher, do omprê-go no Museu. Mas como po-deria fazer isso, se ela o ajuda-va?.,.. Com aquele seu ordena-do éle poderia manter osdois?... Dorotéia, .aliás, apro-veitando as circunstâncias, an-tecipou-se a êle:

— Vou deixar 6 Museu —disse. -*"¦»-

DEOUNDOrf Conclusão da 4.a pág. )

que .preencho o vazio d<todas as minhas horas".

Se a obra de Moacir de Al-meida é rica pelo valo» que em-presta às imagsns, vejamos,também, <que. este ourives idoverso não trabalhava com mis-sanga:"...Mão de luar, -

mãos que podem ser tam-bém duas rosas de pra-

[ta..."As margaridas brancas são,

para cie, "como pequenas ós-tias". E "este marinheiro bê-foedo, que um dia morrerá três-passado por um arco-íris", éde uma grandeza excepcional.-"Este marinheiro" não é outracoisa senão o prenuncio damorte que seu gênio antevira,do mesmo modo que. Alvares deAzevedo ao escrever o seu ulti-mo poema "Se eu morresseamanhã", e Gonçalves Dias a"Canção do exílio". E, assimcomo em* Alvares de Azevedoa sombra da morte está nosmotivos dos seus poemas, e omar como uma obsessão nosversos de Gonçalves Dias, Deo-lindo .em cujos poemas as ve-Ias enfunadas passeiam (e nãoera o mar que êle tanto queriaque, não obstante passar a noi-te nos longes de Recife, ouvin-do 01 seu marulhar na solidãodas praias des.rtas, o traziapara ca«a nos ouvidos) um ar-co-iris haveria de trésnássá-lqpoucos minutos depois de pisar

dade, íinpriaiiudo-lhe pela dtntimtJu do belp mu sentimémnunca plenamente sutísíeiU) q,prazer. Alguns gêneros, como cromance, só diferem mesmo cie.umu transcrição literal da vidapor um certo hedonismo que aíorma lhes comunica.

No sentido, em que se devotomá-lo. o trabalho cio Sr. Ro-sárío Fusco tem uma iinporUm*cia acímn da maioria cios on«saíos brasileiros — de resto,bem escassos — que contriDuempara a compreensão individualdos fatos estét.cos. «! ate certoponto também da estética cria-doía, da que não se limita Rim*plesmente a constatar c coor-depor os fenômenos ocòrridojem certa zona da aíeLividade(quande na verdade ela setransforma em ramo da ciênciapsicológica), e vai mais ádlatl-te. buscando fixar as catego.rias estéticas. Para atingir cn-ticaifiente o alcance cios problé-mus nele manifestos otMmplí-citos, terá o comentarista quarecorrer a um grand. matéria)de erudição. Convém, no entau-to, não forçar as modestas pre-tensões deste registro. Apenascolhemos alguns aponta men toapara uma possível confronta-ção de experiência — a do SrRosário Fusco e a nossa. Mas,então, quando a estética pns-sasse a constituir o centro donosso interesse intelectual, tal-vez almejássemos mais que ummero testemunho, porque acha-mos desaconseihável engrossaro tumulto, aHrmando a neces-sidade de uma concepção este-'tica para cada indivíduo. Asexperiências particulares, esta-mos convencidos de oue para•terem importância universa!necessitam pautar-se pelos valores extra-individuais

— Faça o que você quiser —respondeu éle, para dssencarpode consciência — que eu poucoestou me incomodando.Em face dessa fraca objeçãoela continuou, pois sabia da ve-leidade de tal tentativa. Ao

pastor há muito que ela nãointeressava mais, e ela não ti-nha. dúvidas a esse ' respeito,conquanto, às vezes, ainda lhelançasse um olhar de earnei-ro morto e o procurasse no ha-binete. O marido ia buscá-lano emprego e voltavam comodois namorados. Só muitos me-ses depois, quando o assunto jáestava frio, vimos o casal napraça. A mulher ia ser mãee o marido estava • acabado.Parece queestou ouvindo á suavoz: "Isto é questã de polícia,dr. Teimo". Mas - o infelizamava. , . . '

TAVARESa terra carioca. Nós poemas deWilly Mompou é -aonde estáhíais profundamente vasadasua alma 4e criador; e onde seencontra, outrossim, o ladoafirmativo e estético da suaarte. fjoi o primen'0 poeta bra-sileiro a escrever dentro da' es«cola surrealista ..

. "Willy olhava embevecido canoitecer. Dos .lábios finos <- sensuais, péndian cigarro co«mo uma lagarta de uma floiexangue"."E preciso que saibais queo corpo do poeta tem a for-ma de um ataude. Os braçoslongos se arrastam, como se êlefosse um símio; suas mãossão ádúncàs garras, espadas 6elas acusam o própria Willy".Para Deolindo a preocupação

estética estaria tão somente nadisposição gráfica, no arranjocom que êle compunha um poe-ma como o da maquina de es«crever. Não desprezava o valorda palavra, mas não o fazia co-mo Moacir. de Almeida, toman-clo-a nas mãos é examinando-acomo o lavrador selecionando assementes. Este escafandrista dosonho, quando voltava à tonadispunha suas idéias com asimplicidade e a beleza coroque as estrelas despontam aoanoitecer."...Talvez não ames como

[eu amoas coisas mais simoies

Trleet.o m"v»'10'\ALCIDES PINTO

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Domingo, 5- K>-1952 IBTBaS E rART ES Página — IV

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Sôbrc "Fogo Verde*Km artigo publicado recentemente,

sobro o romanco "Fogo Verde", douutorla do Perrainlo Asforu, GilbertoFreyrc, inimigo pessoal do referidoromancista, escreveu: "Mas aqui es-tou para dizer bem alto o bem cia-ro quo meu receio desfez-sc no co-meço, anula, tia leitura do vigorosoilvro: t&o vigoroso que, a meus olhoa.toma Ue súbito lugar ao lado de "Cas-calho", do sr Herbcrto Sales; o apro-Mma-so em qualidade e virtudes dos *melhores romances do sr. Jorge Ama-cio c das melhoras paginas do sr. Jo-só Américo de Almeida O que escre-vo pesando bem as palavras c semicsejo algum de ser agradável a umC3critor que pessoalmente antes moropugno do que me atrai a estima"

Domingos Carvalho da Silva e seu último livroEstá sendo esperado no Rio o poeta Domingos Car-

valho da Silva, que aqui vem lançar o seu novo livro depoesia — "Girarsol de Outono", cujo aparecimento Já íoinoticiado em São Paulo, a propósito, Domingos Carvalhoda Silva, ao lado de suas atividades criticas no suple-mento dominical do "correio Paulistano", está organizan-do uma relação (Já qué não se trata de ontologia, con-Boánte suas declarações taxativas) de sonetos célebres,que pretende reunir mais tarde em volume, devidamenteanotados.

"O Grande Ensaio*Integrando sua coloção Contemporânea, a Pongetti

vem de lançar o livro "O Grande Ensaio", de autoria deCarl Van Doren. Trata-s^ de estudo relativo á história dnConstituição dos Estados Unidos da América. •

"Libros de Hoy", de agostoA excelente revista de bibliografia e informações 11-

tf.rárias "Libros de Hoy/\ que se edita em Buenos Aires,sob a direção de José Rovira Amiengol e Rodolfo Simon,publica, em seu número correspondente ao bimestre Ju-lho-ugosto, colaborações de Ossip Kalenter, Francisco 'Roniero, Henri Capelle, Valentin de Pedro, Júlio G. Cas-tro o um estudo de Raul Navarro sobre a obra do escrl-tor brasileiro Marques Rebelo, além de suas seções ha-bituais.

Novo livro de Murilo AraiíjjoMurilo Araújo, o graude poeta de "A tíscadaria Ace-

sa", não pertence a grupos nem freqüenta rodas litorà-risa. Talvez por isso, apesar de seu; indiscutível valor,não v tün nome devidamente lembrado no noticiário denõsí^s suplementos o revistas especializadas. Todavia,sua poesia è das mais importantes de nossa literatura.jSkgpra mesmo, mais um volume de versos de MuriloAraújo vem do ser publicado: "A luz perdida". Em. seunovo livro, lançado pela Pongetti, reuniu versos de suaúltima fase poética.Uma biografia de George Washington Corvei

• Sob o Titulo de "'O cientista negro", vem de apare-cer, em edição Pongetti; interessante biografia de George^Washington Carner, de autoria de Shiriey Graham eGeorge D. Lipscomb O volume em questão faz parte dn.coleção Contemporânea, da referida editora.

Pfsquerte de Ferro do LagoAcaba de aparecer, em bem apr&-

ratada edição Oásis, a pJaquette cieferro do Lago "13 sonetos romaim-;os e o vtoiinu". Declara o autor,em advertência, quo so trata de com-posições antigas, publicadas sem pre-censões literárias, pois constituemriniples homenagem a sua terra na-tal Não obstante, são trabalhos le•ooa feitura técnica e ae agradáveldesenvolvimento temático, e sem em-òargò de sua forma não moderna, secaracterizam por apurada sensibili-•¦'.de lírica e domínio'do soneto, odlie prenuncia uma boa estréia rio; ¦ rro. do Lago em 1953, com seu Jâanunciado livro de poemas — "Rou-l>agcm". * •

Aos escritores da nova geraçãoA Sociedade Carioca do * Escritores (.soem, com seus

estatutos» já em última discussão» marcará, dentro ombreve, a data para os eleições de sua diretoria efetiva. Ob.\i<:ritorcu da nova geração que desejem fazor parto daSOCB, podem procurar a redaçfto de "Revisia Branca" oudo "Letras e Artes", para incluírem seus nomes na rela-ção quo será apresentada oportunamente àquela socieda-de. As 2Bs, 3*8, 5*8 e sábados, de 17,30 ãs 19,30 horas, ee-rfio atendidos em "Revista Branca", ft rua Santa Luzia».° 7W — sala 1105. 11.° andar, e, em todos os dias utcls,na portaria do A MANHA. Com livro publicado ou tendocolaborações publicadas em suplementos Uteráiics oú re-vistas de literatura, podem' os Jovens escritores pertencerao quadro social dessa entidade de classe que ora se or-ganiza. -

Que é feito de "Vocação"?

Belo Horizonte nos estava dando uma excelente re-vista literária, "Vocaçfio,r, em torno áa quü se reuniamalguns dos melhores elementos novos da capital mineira.Há bastante tempo /que náo nos chega mais um númerodessa publiçaçfto, o que faz recear tenha soirldo o destinocomum das revistas do gênero, Inermes diante das iilfi-ouldades que se1 lhes deparam.

Fran Martins no Rio• Encontra-so no Rlft há algumas semanas, o roman-

cista e contista Fran", Martins, um dos-mais destacadosvalores do fiecionismo' cearense, e culo último romance,"O Cruzeiro tem cinco estrelas", obteve, além de boa re-percussão critica, ótimo sucesso de livraria. Fran Martinsdeverá regressar em pouco à sua terra natal, e segundonos informou, somente em 1953 ou J954 fará novo lan-çàmento."O Poliedro e a Rosa", de Oswaldino Marques

O poeta Oswaldino Marques, cujorecente livro — "Cravo bem tempe-rado", — editado1 pela "Revista Bran-ca", está obtendo a maio ampla re-

^fto,. publicou, pelos Cadernos.k; ..altura, um volume em que veu-nlu, sob o titulo de "O Poliedro e aRosa", alguns trabalhos de pesquisaestética, nos quais se patenteia o co~nhecimento profundo que tem dacoisa poética, ao lado de sua capa-cidade de penetração nos problema*que, em especial, n poesiicí orerece.

Impressões de viagemSob o titulo de "Um brasileiro nos caminhos da Eu-

ropa", o poeta Arnaldo Brandão publica suas impressõessobre a viagem que realizou pelos paúises do VelhoMundo.

Novo livro de E. C. CaldasEm edição da "Revista Branca", foi lançado o segun*

do volume de versos de E. C. Caldas, intitulado "O prl-meiro mistério", em que o Jovem poeta reuniu suas úl-timas produções. Tendo estreado no ano paesado como livro "Os túneis" recebido com louvores pela :criticaresponsável, E. C. Caldas revelou-se poeta de amplos re-cursas e de alta inspiração. Seu segundo ilvrc vem ga-rantir-lhe posição de relevo entre os poetas de sua ge-ração.

A inimigaIntegrando a Coleção Aurora, das Edições O Cruzeiro,

vem de ser publicado o romance "A inimiga", de Pio-rence Beraard, autora de "O Grande Pecado". Trata-sede uma história de inadaptação conjugai e de um' novoamor que surge, na vida da personagem centval, â mar-gem dos preconceitos e da moral comum. "A, inimiga" foipublicado .originalmente em capítulos na revista "O Cru-

. zeiro", <Morreu Sántayana

Foi noticiado o falecimento de Sántayana. com quemdesaparece um dos maiores pensadores da atualidade. Aobra de Sántayana é vasta, incluindo filosofia, poesia eficção. Porém,: sua notoriedade pode mais atribuir-se àssuas atividades filosóficas, em que era considerado ummestre. Morre o pensador espanhol aos 89 anos, em pie-na lucidez. de espírito e trabalhando ativamente, comoo fez durante toda a vida. . *

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A "Cortina de Ferro" furada por um jornalistaleiro

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Edmar Mor.il, um dos mula uti-vos report roo brasileiros, vem dopublicar, cm cdiçáo Pongetti, mter<•;>:..niLc livro uu imp^c&Hoes bobie oupuises du Orbita (tu Mo^cu, uo quaideu o titulo új "Moscou, Ida u vol-ta". Tondo ido e-ta ano a Rúénxa,acompanhando a delegaoáo brastici-ra que pa.tic.pou da Coníorõnc:»Econômica realçada cm Moscou; oJornalista recolheu precios'. materiuxsobre os núbitos do vida do povo ao-vlétlco, u .i-imi ui..m'í('-¦•.•; com fartoserviço fotográfico. Davc-wa destacarque Morei foi. rlgoroáámi nte, o pn-'

meiro repórter brasileiro o penetrar os segredos da vicUsoviética. E, como Jornalista indcparidonte, relata nestelivro, som nenhum intuito político, o quo viu o observoupor trás da "Cortina de Ferro"."As Condições Ambientes", de Edson Kegis

Já está pronto o segundo livro de Edson Regi.-., "AsCondições Ambientes". & provável quo nos próximos solameses venha êle á estampa, conquanto o poeta se mostrocada vez mais escrupuioso na ieleção 03 seu; trabalhos1!o que tem provocado constantes adiamentos .ia publica-ção desse volume.

Homenagem a Maria de Lourdes TeixeiraFoi prestada, em São Paulo, significativa homena-

gem à romancista e èncalsía Maria de Ltiürdos Teixeira,pelo êxito de seu romance "O Banco de Trêsi Lugares",havendo comparecido grande número de escritores a essamanlfestaç&o, de resto indubitavelmente merecida. Ma-ria de Lourdes Teixeira esta dlilg.ndo, no momento, apágina literária da •'Foihá da Manhã", o- que imprimiuorientação das mais inteligentes, náo só do ponto de vis-ta material como também da movimentação, e ainda daaeuldade de seu registro critico.

Novo livro de Maria LessaEm edição Pongetti, acaba de aparcoer o novo livra

de versos de Maria Lesáa, intítulauo "Dentro do meusilêncio". A Jovem poetisa estreou com o volume "Dajanela do sonho", que obteve louvores da tritlcív.

O êxito de "Ensaio1'

Além da repercussão nos meios literários brasileiros,está alcançando boa saída a revista "Ensaio", cujo prl-meiro número foi distribuído em agosto. O segundo de-verá aparecer em todo o transcurso de outubro, c traa,entre outros trabalhos, u mde Leo Spitzor sobre o "DomQulxote".

Biografia de Olavo SilasLeonardo Ârrofo, autor do "Viagem para Máiaga" e

das historietas "Vjoeê Já foi à Bahia?" e "História doGalo",acaba de enriquecer á série "Grandes vultos dasletras", da qual as Edições Memorameutos haviam pu-blicado "Tobias Barreto" e "Euclides da Cunha", res-pectivamente, de Paulo Dantas e Moisés Gicovate. O tra-balho de Leonardo Arrolo — volume 3.° da coleção — óa biografia de "Olavo Bllac".

Política e letras

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"CRÍVELIO" DE AGOSTOO numero correspondente

ao vies de agosto, da revistaitaliana "Crivello", oue_ seedita em Nápoles, sob a di-reção de Maria Teresa Cris-'tofavo,

publica, entre ou-iras, colaborações de TuriFidelc, Cláudio Allori, Ange-Io Mele, Domenico de Mag-gio, Franeesco Dibella, AldoCapasso, Giuseppe Tuèiani,Franco Riccío, etc.

LANÇADO O PRIMEIRO.VOLUME DE "ARTESPLÁSTICAS NO BRASIL" x

Feira de livros britânicos';. ': ¦¦--,

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Foi realizada em F^ancíortc, de25 a 30 do mês passado, uma feirade livros britânicos. As editoras in-glesás doaram 2.000 livros recente-mente) pübUcàdcs, que foram envia-tíos à Alemanha por intermédio doConselho Britânico. A exposiçãopermanente preparada para o Con-selho Britânico pelo sr. Percy MuirÜntituia-se "A imprensa particularrr seu meio" e foi jgupíraentç> apré-sentíuia no Feira de Francforte»

AS Companhias do

Grupo Sul América, aquem já devemos ai-

gumas iniciativas de na tu-reza cultural do maior ai-cance — como ò Prêmioanualmente distribuído sobos auspícios do InstitutoBrasileiro de Educação Ciên-cia e Cultura —, programa-ram o lançamento de obrada mais alta importânciapara a nossa Cultura sobre"As Artes Plásticas no Bra-sil". O trabalho em quês-tão, que obedece à direçãojçeraí de Rodrigo M.F. deAndrade, foi dividido emtrês grandes volumes, quo

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incluirão estudos de nossa»maiores autoridades no as-sunto. O primeiro volume,da importantíssima obraque acaba de aparecer emprimorosa edição de cercade trezentas páginas, empapel couchê e apresentah-do numerosas gravuras acores e em preto e branco,inclui os seguintes cayftu-loss "Nota Preliminar", deRodrigo M. F. de Andrade;"Arqueóloga", de FredericoBarata; "Arte Indígena",de Gastão Cruls; "ArtesPopulares.", de Cecília Mei-reles; "Antecedentes portu-gtieses e exóticos", de Rei-naldo dos S«níos; "Mobilíá-

rio", de J. Wasth Rodri-gues; "Ourivesarta", deJosé Gisella Valladares; c"Louça e Porcelana", deFrancisco Marques dos San-tos. O secundo volume serádedicado ã arquitetura eescultura, e, o terceiro, àpintura. Estes dois volumesapresentarão estudos dosmais destacados críticos dearte brasileiros, entre 08quais Santa Rosa, Flávio deAquino, Mario Barata, etc,Estão de parabéns, peloaparecimento do primeirovolume da valiosa obra, asCompanhias do Grupo Su)America e, especialmente, acultura brasileira.

Dirceu Quintanilha, que nos daráem janeiro do próximo ano miaiaum livro de poesias — "À OutraFace do Tempo" — com uma ln->trodução de Franklm de Oliveira,acaba de ingressar no Partlao Ro-publicano. Assegurada sua inscrição,corierà o autor de "Novos Mundosem Vila Teresa." a Câmara Munici-pai do Distrito Federal nas eleiçõesde 1054, contando desde ja com oapoio de numerosos escritores e aml-gos. Dirceu Quintanilba pretendo,por ocasião do lançamento do seunovo livro, oferecer à imprensa e aocirculo de suas relações, um coque-tel no sua residência da Tijuca, *ser oportunamente anuneJado.

Doente, Brito BrocaA ausência do nosso colabo-

orador!Brito Broca nos últimosnúmeros de LETRAS E ARTEÜse deve a seu estado de sauae,-pois o culto e agudissimo'en-suista, cujos trabalhos disper-sos, pelo grande valor critico fiinformativo que encerram, es-tão a exigir publicação em li*vro, se acha acamado ã&íde ai*gum tempo. Todavia, jâ em ja-se de restabelecimento, deveraregressar dentro em breve asnossas páginas, a que dá tantabrilho.

Suplemento do "Diário doPernambuco" dedicado a

PetrópolisO ''Diário de Pernambuco"

dedicou um número dominicalde seu Suplemento Literário aHistória da cidade de Petrópo*lis. No número em apreço /«-guram colaborações de GuilHer°¦me-Auler, Manuel Bandeira, Jo->sê Kovke Froes. LÒurénçó LuttLacortha e H. C. Leão Tei<m«ra Filhe.

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LETRAS E A RT ES Domingo. 5 10.1952

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Ilustração de SANTA ROSA ¦

O HERÓI TRISTEUM ENFORCADO LHE DEIXOU OS OLHOS,

GOMO DOIS FRUTOS PARA A SUA ÁRVOREE ÊLE VIU, NOVAMENTE/A MANHà ROSA'E O PLANETA COM SUAS QUATRO LUAS - ¦í^v

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roto, Deram-lhe a roupa colorida • • -;mas já suja de terra, que outro usâran .' <'mais remendada do que o mapa-mundl' ^não obstante a alegria que há nas ruas. v

quase inane, injetaram-lhe nas veias •-'•'•o sangue, em transfusão, dum prisioneiroei-lo: é o que dividiu a vida em duas ' ' v

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(TANTA VEZ O BEIJOU A MORTE VIVA).SÓ NÃO LHE DERAM LÁGRIMAS DE EMPRÉSTIMO-• AS QUE CHORASSE HAVIAM DE SER SUAS.

C A S S I A N O R I C A R. D O

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