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, . «MM»' Jmmw Mi mr ' Àmm àmW Terça-feira, 1-6-1954 FUNDADOR: JORGE LACERDA ATfi poucos mosos, o nome de Sadegh He- dayat era quase des- conhecido doa francosos. Em abril de 1951, lia-se noa Jornais de Paria esta noticia; "üm iraniano, chamado Sadegh Ho dayat, suicidou-oo, abrindo um bico de gás no seu pequeno apartamento na rua Champion- net**. Nada mais. Algumas semanas depois, aparecia nas "Nouvelles littó- raires" um artigo de Roger Les- cot que deixou a todos estar- feridos» "O nome de Sadegh Hedayat (dizia êle) ficará como o do principal fundador das letras iranianas modernas. Sua obra traz, com eleito, & literatura da Pérsia, um sopro novo* gera- dor de um renascimento que lhe deve assegurar um futuro digno do seu ilustre passado. A revolução assim estimulada será certamente, para o Irão, tão profunda quanto aquela de que, entre nós, a "Plêiade" e os românticos ae fizeram os artífices". Roger Lescot que foi o ad- mirável tradutor de Hedayat, linha razão. logo após êsse artigo, Vin- cent Monteil fazia publicar em Teerã pelo Instituto Franco-. Iraniano uma nascia sobre a vida a obra de Hedayat e traduzia para o francês dois de seus contos H0 impasse" e "Amanhã". Entretanto, na França, conti- nuava Hedayat quase ignora- do, quando apareceu, recente- mente, um livro alucinante: "A coruja cega", da autoria de Sadegh Hedayat o traduzido por Roger Lescot (livraria José Corti). André Rousseaux, no "Figaro Littéraire", não hesi- tou em afirmar que esta obra podia . bem situar seu autor "entre os mais significativos de nossa época". .A vids de Sadegh Hedayat evoca a de Gérard de NervaL Um e outro viveram no sonho. Um outro se evadiram do conformismo intelectual e mo" raL Um outro gostavam de eerar ao acaso. Um e outro pu- •eram termo & vida quase na «tesma idade. Sadegh Hedayat de uma fa- ANO 9.° N.° 301 J DIRETOR: ALMEIDA FISGUES Lê.í~H I "Janela sobre o pátio DER AIN UM ESCRITOR DESESPE- RADO: SADEGH HEDAYAT PASTEUR VALÊRY-RADUT milia de altos funcionários do Estado, nasceu a 17 de teve- reiro de 1903. Seu avô era poe- ta. Educado no liceu francês de Teerã, cedo se apaixonou pela literatura francesa. Inte- ressou-se, também, pelas ciên- das ocultas, exatamente como Gérard de NervaL Foram elas, sem dúvida, que lhe deram o gosto do mistério. Veio ò. França, como bolsista, em 1926, e na França escreveu grande número de seus contos* De volta a Teerã, foi admitido no Banco Nacional do Irão. Mais tarde, trabalhou na Cã* mara de Comércio de Teerã ©, por fim. numa firma constru- tora. A vida de funcionário não lhe era agradável Por t&da parte, arrastava a sua angus* tia de viver. Um belo dia, abandonou o fastidioso posto de empregado, para se consa- arar ao estudo da lingua "pah- lavi", idioma da Pérsia antes da islamização. Chegou a ir à índia, a fim de aperfeiçoar- ¦e nesse estudo. Ali ficou de 1938 a 1937. foi que escre- veu, em francês, dois contos, influenciados pelo induismo, "A lunática" "Sampingue", qua te contam entre os mais belos |ue foi.à Em Bombaim, mandou tirar cópias de uma obra de inspi- ração fantástica, que tinha pronta desde 1930, conformo noa diz Monteil, obra que estava impregnada de sonhos espan- tosos e de mórbido pessimismo "A coruja cega". Hedayat não ousara publicá-la no Irão» temendo que ali suscitasse es- cândalo ou fosse mesmo proibi- da pela censura. em 1941* com a mudança de regime par lítico do país, apareceu o livro em Teerã, primeiro em folhe- tim do jornal "bran", depois em - i; volume.1 Hedayat após sua estada na índia, regressou & pátria. Foi readmitido no Banco Nacional, onde não ficou senão um ano. Escrevia, mas para êle pouco importava no alheamento em que vivia que sua obra fês- se conhecida: seus amigos, con- ta-nos Roger Lescot deviam ar- rancar-lhe os manuscritos tratar, eles próprios, da impres- são. Admirado por uns, escar- necido por outros, como pode* ria a "canalha", coniorme êle a chamava, apreciar sua Un- guagem sem peias e sua vida sem. conformismo? Seu único desejo, era retor- nar à França. Enfim, em de- zembro de 1950, ei-lo em Pa- ris. Sem dúvida, pretendia ai acabar os dias de sua exis- tenda desesperada. Foi em Pa- ris, de que êle gostava tanto à ponto de '*"» beijar as pe- dras do calçamento, que êle pôs cabo ò. sua angústia per pétua e a um desgosto da vi- da que o acompanhava desde a infância. No dia 10 de abril de 1951, no seu apartamento da rua Championnet foi encon- tra do estendido no soalho, e rosto muito calmo, a seu lado alguns manuscritos queimados. Morrera na véspera, Deixava um romance, "A ruja cega", cerca de quarenta contos, três peças de teatro* estudos sêbre Shayyam e Kaf- ka, três tratados de folclore, es- tudos e traduções do "pahlavi". ~v

Terça-feira, 1-6-1954 ANO 9.° — N.° 301 J - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1954_00301.pdf · Jornais de Paria esta noticia; "üm iraniano, chamado Sadegh

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Terça-feira, 1-6-1954FUNDADOR: JORGE LACERDA

ATfi

há poucos mosos, onome de Sadegh He-dayat era quase des-

conhecido doa francosos.Em abril de 1951, lia-se noa

Jornais de Paria esta noticia;"üm iraniano, chamado SadeghHo dayat, suicidou-oo, abrindoum bico de gás no seu pequenoapartamento na rua Champion-net**. Nada mais.

Algumas semanas depois,aparecia nas "Nouvelles littó-raires" um artigo de Roger Les-

cot que deixou a todos estar-

feridos»"O nome de Sadegh Hedayat

(dizia êle) ficará como o do

principal fundador das letras

iranianas modernas. Sua obratraz, com eleito, & literatura daPérsia, um sopro novo* gera-dor de um renascimento quelhe deve assegurar um futurodigno do seu ilustre passado.A revolução assim estimuladaserá certamente, para o Irão,

tão profunda quanto aquela de

que, entre nós, a "Plêiade" e

os românticos ae fizeram osartífices".

Roger Lescot que foi o ad-

mirável tradutor de Hedayat,linha razão.

logo após êsse artigo, Vin-

cent Monteil fazia publicar em

Teerã pelo Instituto Franco-.

Iraniano uma nascia sobre a

vida • a obra de Hedayat e

traduzia para o francês dois de

seus contos H0 impasse" e"Amanhã".

Entretanto, na França, conti-nuava Hedayat quase ignora-do, quando apareceu, recente-mente, um livro alucinante: "A

coruja cega", da autoria deSadegh Hedayat o traduzido

por Roger Lescot (livraria JoséCorti). André Rousseaux, no"Figaro Littéraire", não hesi-tou em afirmar que esta obra

podia . bem situar seu autor"entre os mais significativos denossa época".

.A vids de Sadegh Hedayatevoca a de Gérard de NervaLUm e outro viveram no sonho.Um • outro se evadiram doconformismo intelectual e mo"raL Um • outro gostavam deeerar ao acaso. Um e outro pu-•eram termo & vida quase na«tesma idade.

Sadegh Hedayat de uma fa-

ANO 9.° — N.° 301 JDIRETOR: ALMEIDA FISGUES

Lê.í~HI

"Janela sobre o pátio DER AIN

UM ESCRITOR DESESPE-RADO: SADEGH HEDAYAT

PASTEUR VALÊRY-RADUT

milia de altos funcionários do

Estado, nasceu a 17 de teve-

reiro de 1903. Seu avô era poe-ta. Educado no liceu francês

de Teerã, cedo se apaixonou

pela literatura francesa. Inte-

ressou-se, também, pelas ciên-

das ocultas, exatamente como

Gérard de NervaL Foram elas,

sem dúvida, que lhe deram o

gosto do mistério.

Veio ò. França, como bolsista,

em 1926, e na França escreveu

grande número de seus contos*

De volta a Teerã, foi admitido

no Banco Nacional do Irão.

Mais tarde, trabalhou na Cã*

mara de Comércio de Teerã ©,

por fim. numa firma constru-

tora.A vida de funcionário não

lhe era agradável Por t&da

parte, arrastava a sua angus*

tia de viver. Um belo dia,

abandonou o fastidioso postode empregado, para se consa-

arar ao estudo da lingua "pah-

lavi", idioma da Pérsia antes

da islamização. Chegou a ir

à índia, a fim de aperfeiçoar-

¦e nesse estudo. Ali ficou de

1938 a 1937. foi lá que escre-

veu, em francês, dois contos,

influenciados pelo induismo, "A

lunática" • "Sampingue", quate contam entre os mais belos

|ue foi. à

Em Bombaim, mandou tirarcópias de uma obra de inspi-

ração fantástica, que tinha

pronta desde 1930, conformo noa

diz Monteil, obra que estavaimpregnada de sonhos espan-

tosos e de mórbido pessimismo

— "A coruja cega". Hedayat

não ousara publicá-la no Irão»

temendo que ali suscitasse es-

cândalo ou fosse mesmo proibi-da pela censura. Só em 1941*com a mudança de regime parlítico do país, apareceu o livroem Teerã, primeiro em folhe-tim do jornal "bran", depois em

- i;volume. 1

Hedayat após sua estada naíndia, regressou & pátria. Foireadmitido no Banco Nacional,onde não ficou senão um ano.Escrevia, mas para êle poucoimportava — no alheamento em

que vivia — que sua obra fês-se conhecida: seus amigos, con-ta-nos Roger Lescot deviam ar-rancar-lhe os manuscritos •tratar, eles próprios, da impres-são. Admirado por uns, escar-necido por outros, como pode*ria a "canalha", coniorme êlea chamava, apreciar sua Un-

guagem sem peias e sua vidasem. conformismo?

Seu único desejo, era retor-nar à França. Enfim, em de-zembro de 1950, ei-lo em Pa-ris. Sem dúvida, pretendia aiacabar os dias de sua exis-tenda desesperada. Foi em Pa-ris, de que êle gostava tantoà ponto de '*"» beijar as pe-dras do calçamento, que êle

pôs cabo ò. sua angústia perpétua e a um desgosto da vi-da que o acompanhava desdea infância. No dia 10 de abrilde 1951, no seu apartamento darua Championnet foi encon-tra do estendido no soalho, erosto muito calmo, a seu ladoalguns manuscritos queimados.Morrera na véspera,

Deixava um romance, "A

ruja cega", cerca de quarentacontos, três peças de teatro*estudos sêbre Shayyam e Kaf-ka, três tratados de folclore, es-

tudos e traduções do "pahlavi".

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LETRAS E A *TBS*

O

volume de cornos MOaSinos" do sennor He*nard Perez. ao contra-rio do que corre com os

outros dois livros preceder.-temente focalizados, apre-senta aspecto um de unida-de na composição das suaspeças. São os diversos con-tos», na sua maioria, realiza-dos no mesmo nível de per-feição técnica e em cadacomo mantem-se o nível m-diviuual sem grandes alte-

, rações, o que nos leva a dl-zer que, como obra de arte,tem este terceiro livro maiorplenitude que os outros doisneste trabalho analisados.Entretanto não vai aoul umaapreciação comparativa dovalor estético rias dnerentesooras. pois, como expusemosna introdução, na impossibl-liciaoe de apresentar uma es-caia de aplicação universalou peio menos bastante ge-.'ai, adotamos um critério re-lativo aos próprios livros,sendo considerado "bom" oque. neles houver de melhor.Assim condicionada, significaa nessa afirmação umamaior homogeneidade emfavor do presente livro.

Prosse guindo no mesmométodo empregado, damos aseguir a interpretação for-mal do livro, passando apósà descrição material. Em "OsSinos" há a predominânciadas recordações de infância,que aparecem como tema dequatro contos ou 50% do to-tal ("A saia de visitas",*'Tempo de internato", "Olouro" e o "O filho mais ve-lho"). Firma-se êste comotema preírenci-al do autor,não somente pela dominân-cia numérica mas tambémpor estar aí incluído o seumelhor conto, "O filho maisvelho".

Narrados todos em primei-ra pessoa, estes quatro con-tos apresentam a infânciadentro de uma atmosferapropriamente infantil, car-regada de espanto ante asurpresa da vida e do Uris-

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TRÊS CONTISTAS*Ter*çt-fa?rt," WTWPf1

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O estilo em ««tudo è ét talmaneira homogêneo —

mo primitivo que habitou 9homem. Pon o lirismo, ira-duzindo a pureza cum quesente o mundo o homem am-da nâo afetado tunuamentepela civilização, resulta seruma interpretação mágicada vida Assim e o munooda criança mais rico emnuanças, mais individual emais seu porque ainoa nâomoldado pela educação quevira em certa mediaa estan-darcuza-lo As coisa» nvemcercadas de mistério e cadadescobrimento e uma aven-tura que se resolvera ero dorou alegria Poucas vezes êrompido êste encantamento,quanao o autor taz algumaconsideração através da suaperspectiva adulta, comoaqui "Mas a cultura da pro-íessõra era duvidosa e eladesconhecia coesão e meio-dos pedagógicos. ..** <"A sa-Ia de visitas"! Em gerai de-corre o conto através daperspectiva infantil, ínierle-rindo o autor apenas indire-tamente ao fazer a traduçãopara a linguagem adulta Is-to é: por uma linguagemadequada ao gênero, o autorconsegue transmitir a visãoinfantil do mundo que ro-deia a criança — ou que ro-tíeava, Ja que a ação e pre-térita. Tiramos alguns exem-pios de MA sala de visitas":"Os papôes e lobishomensmoravam na noite distante,eram vagos."; "Nâo podia dl-zer que papal se enganava,êle era grande, tinha razõesde saber."; e de "O louro""Eu não conhecia o mar, masdevia ser alguma coisa desurpreendente» pelas pala-vras de mamãe".

Apresenta-se a Infância nosenhor Renard Perez ora co-

lorida de melancolia e frus-

fJEÜA DARKETi* /

rv.traçar» CA sala de visitas" •**o mun ) ora animaaa porum acon.ecimenio que noseu mundo subjetivo assumeproporções de grande aven-tura* i "Tempo de interna-to" e "O filho mau velho").Em todos porem como de-nominaoor comum, na umclima de solidão interior emedo — ve-se ai uma enan-ça isolada dentro de tntrans-ponivjis fronteiras psicolO-ipca* e aterrada pela auto-ndade. s incompreensão es estranheza das pessoas-grandes" Pois a criança épor sj um mundo a parte eso ha um meio de com uni-cação com os adultos — éo amor. que neste caso setraduziria em ternura. Pai-tando esta ponte — comoacontece ai — vive a criançacoinpietamente ilhada e,amedrontada ante o Impactoda vida, e um pequeno mun-do de tristeza Vejam-se ai-guris exemplos: "Mas aindame sentia amedrontado, umaconfusão no cérebro, não en-tendia as coisas." ("O lou-ro"); "Mas papa) insistiu edessa vez o vozeirão recru-desceu, com o timbre antigoque me dava tremores". ("Oilibo mais velho").

Ha um outro conto. "Amorte do pai", que, nâo tra-tando da infância, é destaainda um prolongamento nosconflitos domésticos entrenm jovem ambicioso e o paiprepotente. "A bebedeira",narrando as reações causa-das pela embriaguez alcoóll-ca, tem ainda alguma afinl-dade com os temas de inf ân-cia pois ai o homem perdepor algum tempo os precon-ceitos adquiridos em toda aexistência pregressa, experi-mentando novamente um

contacto mais direto com avida. Este e o traço íorte datemática do senhor RenardPerez — o lirismo como mo-do de Interpretação da vida,que caracteriza toda a obra.Incluindo-se os dois contosnâo mencionados ate aqui.-Cabelos louros" e "Os Si-nos".

Quanto à técnica, o SrRenard Perez consegue pre-encher um requisito que â,a nosso ver, básico para aarte: a unidade da obra noseu nivel de realização, con-diçào a que ja nos referimosacima. Há pouca variaçãoentre o conto melhor e osdemais, tornando-se paten-te o cuidado com que são to-dos tratados. Poderia aliasser caracterizado brevemen-te o estilo do autor comoequilibrado, sobno e mode-radamenie pessoal, combi-nação que nos parece exce-lente em obra de tal nature-za. Não se encontram ai ima-gens ousadas ou construçõesacentuadamente individuais,podendo qualificar-se o li-vro como mediano. Esta me-dianidade é justamente avirtude principal do livro,pois é feita da sintese de tô-das as outras e supõe mes-mo a perfeição maior de umaobra de arte dentro de umaquantidade dada de poesia(jà que consideramos o valorIntrínseco da obra de artebaseada no seu "quantum"de poesia) e de um padrãodeterminado de grau de be-leza.

Em relação à validade doscontos como contos própria-mente, hà um discutível, "Abebedeira", mais próximo dacrônica, mas que nem porIsso desmerece do livro, an-tes e contando-se como umadas suas melhores peças.

| ser monótono, pois ba ai nmaj riqueza velada — que oual-| quer trecho tirado ao acaso1 pudera ser apresentado co-mo tipleo. Esta é uma oua-

,/ Iidade útil posto qu» aeatomodo funcionam as palavrascomo um sutil suporte dopensamento, estabelecendo-se uma comunicação maiafácil entre escritor t àeiior.Entretanto se fòr tomadoêste estilo como objeto, ss,vera que êle é forte apc«ar>da leveza e resistira à ana-Use minuciosa com re_uiia-dos positivos. Isto è: o e»a-Io do senhor Renard Perevsendo discreto e moderada^;tem ai a causa da sua for-iça pois um estudo objetivo o 1revela trabalhado e »c_oa-do. Damos alguns exemplos:)."Casais passam apressados*,alguns carregam emoniihove hâ nas suas fisionomiasuma felicidade exposta, qualhe chega como uma afron-ta." ("Os sinos", página «9>*?i"Era um raparão e t_nto.;concordava, de pescoço «roa*.so e cabelos livres sobre atesta, qualquer coisa doagreste, ao contrário doameus, domados com brilhan-tina. Margarida devia tei ra-«são, Cipriano ia namorar.*Êste bom acabamento nâochega a atingir a perfeiçãointegral, havendo alguns m»ros exemplos de construçõesvulgares como: "O rapa*apertou-a. Um beijo vioiea-to. desesperado." ("Cabeloslouros", página 31). Todaviadevemos salientar que estessenões são insignificantes naobra, pela sua representaçãonumérica quase nula, tenoosido levados a apontá-los porequidade em relação aos oo*tros livros aqui analisados..As imagens, pouco numero»sas, são sóbrias, como aqutti"Próximos e fechados, comose barreiras invisíveis os se-parassem." ("A bebedeira*,página 37).

(Continua no próximo nú*mero).

Vinheta de SORENSEN

jOTTÍ? FM?I 11 j 11 I IH LAGRIMAS CHORADASQUE DS LAGRIMAS CHORADASOCULTOU FUNDO DE NOITE!QUE DE LAGRIMAS CHORADAS.,.NOS ALTOS CIMOS DA TORREQUANTA DOR ALUCINADA*!

E OS RISOS INTERROMPIDOSANTE O TÉRMINO DA MÚSICA?E OS RISOS INTERROMPIDOS?DA MAIS SILENCIOSA GRUTANA TREVA LANÇASTE O GRITO.

AH, DESTINO RELATIVOOUE EM SÓ METADE VIVEMOS!AH DESTINO RELATIVO...

METADE EM PURO MISTÉRIOVAI NOS TORNANDO O DESTINO.

PRA NAO SER TRISTE QUEM AMAS,GUARDA A SOLIDÃO CONTIGO.PRA NÃO SER TRISTE QUEM AMAS...DESPRENDE-TE NUM SORRISOA CADA HORA QUE AVANÇA.

QUE SEJA O NOSSO SILÊNCIOQUAL FRÁGIL MÃO SOBRE ESPINHO.TAL SEJA O NOSSO SILÊNCIO...E O SANGUE NELA VERTIDOTAMBÉM NÃO VERTA O SEGREDO.

RUTH SYLVIA DE MIRANDA SALLES.-.*?*, #*

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< D OIS poeta* do roíuantia-¦ao trataram 4o cisne a*mesmo lempo • da mos»saa lormu que Teixeira

•0 Meto. e am certo* caaoa umpouco antes "ou

um pouco do-pois. Foram filo» Bernardo Qui*Saarães • Casimiro do Abreu.

Os "Cantos da Solidão" apa-teceram, pela primeira ve*, om1852. Em 1858 voio a lumo a ae-(runda edição (ampliada o cor-rígida)? oriento-mo exclusiva-mente pela segunda» vÍBto quefamaia pude compulsar a de1852. A um vato como Bornnr-do Guimarãos, quo tanto gos-lava do chamar "cinno" aos ir-snâon em Apoio, não podia es-capar o palmípodo em sou "ha-bltaí" — o lago azul Em "Pro-ladro" lá so nos depara:\ Eu amo essas lembranças,

[como o cisnoAma sou lago azul...

Ho "Primeiro sonho do amor"•ra exigência do próprio título:

\ Leva-a sobre o mar do vidaEmbalada em sonho amono,Como um cisne, quo desusa

.' A flor de um lago sereno.Mais tardo» no poema "Ro-

Cordação". veremos como o "as-tro amoroso" se refletirá "noanil de manso lago". Os adie-Üvos fá so haviam tornado oii-dais. A quadra do "Primeirosonho de amor" ecoaria, em1891, num quarteto do Arturlobo ("Ritmos e rimas"), pordurando inclusive uma das ri-

muamaME^xacxis^Ka-vt^f.tff^m u. j. . i n.m., ^^, MI,IM , m—WM *

A OUTRA HISTÓRÍA DOS"CISNES" DE SALUSSE

t

/

Como dous cisnes ternos o' .

[serenos,Ambos cantando simultà-

[neamente,"fos cantaríamos os mesmos[ trenós

Juntos boiando a tona dak. [corrente.

("A que me ama")

r Ras "Primaveras" vamos to-par, datada de 1858, uma dascomposições decisivas na his-tória do cisne no romantismobrasileiro: "Sempre sonhos!".Dessa composição vão surgirInúmeras sugestões para osnossos românticos. Repercutirá,principalmente, em FagundesVarela e Castro Alves. Onde sefiará ouvir no desditoso liristadas "Vores da América". Jus-fermente no soneto em que loa-çuim Ribeiro enxergou as pos-eiveis raízes dos "Cisnes" doSalusse.

A sugestão contida no decas-¦flabo de Varela — "Como ocisne inspirado em manso Ia-99** — é, c seu turno, um ecodestoutro, de Casimiro:Wós — dois cisnes vogando

' fem manso lagof Temos ai a imagem contraidos "Cisnes" de Salusse e deIodos os poetas, que, depois deCasimiro. se compararam, a si e« amada, a um par de cisnesnadando em quieto lago. Vide»!"•• g.» o já citado quarteto deArtur Lobo,

O tropo, evidentemente, nãopertence a Casimiro de Abreu..Qualquer investigação dospre-tenciosa poderá locciKaá-lo* naFrança, na Inglaterra, na Itá-lia, na Espanha, na Polônia, emépocas diversas e anterioresUm exemplo que por sinal estádiretamente ligado ao sonôtode íulio Salusse: o final da"Elegia", de Adam Miekiewicz.Quase Ioda a obra do poeta li-tuano-polonês foi traduzida pa-*a os idiomas o^idr>n*ais. comparticularidade para o francêse o italiano. Não esquecer queSalusse era de ascrendSnciairancêsa e esteve na Françapouco antes de compor os "Cis-nes".

Ninguém ignora a enorme in-fluência de Mickiewtcz no ro-Btantismo brasileiro, sobietudono caso da Polônia. Ma sua re-cente "Revisão de Castro Al-?es". Jamil Almansur Haddadchama a atenção pzera as di-versas alusões, na possíia cas-troalvina, ao épico de "Konrad¦Wallenrod". Nascido em 1798 omorto em 1055, com grande par-4e de sua obra d"í".mdida antesde 1830, teve o autor ie "PanTadeusz" tempo bestante paraSecundar os nossoq românticos.Sua poesia está cheia do tem-pestadee (de "mares fremen-tes") e, pelo que nos interessa,áe cisnes. No sétimo soneto ^.aC&méia ("Bakhcbi-Saiai à noi-

te"), há Isto fcelo trecho: "Aluz eterna das entrôlas brilhano Haròra dos céus: no meiodelas, uôbro osna planície desobras, voga uma nuvom co-mo o cisno nonhador sobro aaáguas dum lago" (versão fran-cosa do Miaskowski-FulgoncOiParis, 1830. Na vorsão do La-dinlas Michiowicz, Paris. 1882:"Qual um cisno adormecidonum lago"). Nossos citarodosnão ficarão insensíveis a bele-za da comparação da nuvom aum cisne. Ei-la om "Nuvombranca" do Carlos Ferreira(1367): "Níveo cisne embaladonas alturas". E não se findariao século sem que ela voltassea ser aproveitada:

Cirrus flutuam — estendal[flocoso

Do danes no infinito mer-[guinados*

dirá, pomposamente, AntônioSalles, em "Manhã de Sol*(POESIAS, ed. definitiva, Rio,1902).

Nas traduções francesas queconheço das obras de Mickie-wiez ("Chefs-d'oeuvre poétiquesd' A. M.", ed. Charpentier, •"Poésies de M", Libr. de Sé-dillot. anos e tradutores acimacitados), não se encontra a"Elegia" do vate polaco. Nãopude, assim, confrontar a ver-são francesa com a de Lúciode Mendonça, datada de 1873»• incluída na "Musa

peregri-na" ("Murmúrios e clamores")»Rio, Garnier, 1902). O poema,nas suas derradeiras estrofes*apresenta os seguintes versosa

Plácidamente vogaremos[ambos

Por sobre o manso lago[azul da vida, «

E se ainda a sorte má de[nós em torno

• Bravas tormentas despe-[nhar aü,

Eu me elevando acima de-[Ias calmo*

Aéreo cisno, cantarei p'ra[ül

O estilo poético (com as reg-salvas das traduções) tem bas-tante do lirista de "Dziady"

quejá em 1828, no "Konrad Wal-ienrod", exclamava: "II est douxde dormir au milieu de cet ora-gel" (Miasuowski » Fulgence).No 11.* soneto da C r i m é i a("Aluszta durante o dia"), ve-mos milhares de cisnes ba-nhando-se no meio das ondas,enquanto se prenuncia violen-ta tempestade. "Tempestade-cisne" é binômio encontradiçoem todo o romantismo, como

FAVSTO CVNUAJ(CONCLUSÃO, ^

aliás |á se viu. Os últimos ver-sos da tradução de Lúcio nosrecordam, Instantaneamente, ofecho do célebre "Ignotae Doae*(1859), de Toixolra d* Molo:

E quando um dia a tem-[postado as asas

Por sabre o azul do teu vi-[vor abrir,

Eu, da tormenta asserenan-[do o grito,

Virei ao pé do tou dormir[— dormir.

Bosta sabor se Teixeira deMolo se doixou influenciar porMickiowc», ou se foi Lúcio deMendonça quem, na hora detraduzir, ¦• deixou atraiçoarpela reminÍ8cência da poo-üafamosa. Há, também, a hipóte-Be — mais plausível — da slra-pios Bimilitude dentro de motí-vos habituais a épo*a.

Temos, ai, outra matriz exce-lente para a alusão dos versosinaugurais dos "Cisnes" de Sa-lusse. "Manso lago azul da vrda e "A vida — manso lagoazul", são expressões iguais. Eaqule "Plácidamente vogaremosambos* é. apenas, a inversãodas frases: "Nos dois boiámosindolentemente" (mais tarde, asemelhança virá a ser aindamaior "Nós dois vogamos in-dolentemente").

Não devemos perder de vistaa Casimiro de Abreu e suapoesia "Sempre sonhos!". Eisduas estrofes:

v Come o naata olha e céu[de primavera

Eu, sentado a seus pés.[ébrio de amor,

Espreitara tremendo no seu[rosto

A sombra fugitiva dum[desgosto,

l A nuvem duma dorl*

Eu lhe iria mostrar nos hi-[noa dalma

Outro mundo, outro céu,[outros vergéis;

Nossa vida 'seria um doce

[afago,Nós — dois cisnes vogando[em manso lago,

— Amor — nossos batéisí

Vou transcrever, na íntegra,o soneto de Fagundes Varela("Vozes da América". 18G4), pa-ra facilitar as referências:

Eu passava na vida erran-[te e vago

Como o nauta perdido em[noute escura.

Mas tu te erguesto pere-[grina e pura

Como o cisne inspirado em[manso lago.

¦**.«

T Beijava « onda nam soro-[ço mago

Das moles plumas a bri-[lhante alvura,

E a vos ungida d* etemal[doçura

Roçava as nuvens em dl-[vino aiage.

Vl-to» e nas chama» do ler[vor profundo

A tens pés aioguei a mo-[cidade

Esquecido de mim, de Deus,[do mundol

Mas. afl cedo fuglstel...[Da soldado,

Hoje te imploro desse amor[tão fundo

Uma Idéia, uma queixa,[uma saudade!

O soneto de Varela ê, nln-guém porá em dúvida, marcomiliário na história dos "Cisnes",Por outro lado, sua influêncianos poetas subsequentes foinotória. O que, de igual ma-noira. pessoa alguma porá emdúvida • a derivação casimi-riana da composição de Varela.Curioso: oa "ecos" assinaladosPor Joaquim Ribeiro podemaplicar-se exatamente a "Sem-pre sonhos!". Algumas identl-dades elementares: "Como •nauta* — "Como o nauta"; "Eu,sentado a seus pés, ébrio deamor" o "A teus pés aioguei amocidade" (doutros poemas deCasimiro pode tirar-se.a fôrmadireta deste verso de Varela)»"doce afago" o "divino afago"»TYÓ8 -— dois cisnes vogandoem manso lago" e "Como o cis-ne inspirado em manso lago"»a enumeração "Outro mundo,outro céu. outros vergéis", temsua correspondente em "Umaidéia, uma queixa, uma saúda-de". O resto, deixo ao leitor.(Notcc penso ter havido lapsopor parte d? mestre Ribeiro, in-dicando o eco "onda",

porquan-to, no soneto de Salusse, "on-das" surgiu posteriormente, co-mo variante. Pormenor, aliás,de aomenos).

Antes de arribar a Castro Al-veB, citarei uma estrofe de Bit-tencourt Sampaio, o esplêndidolirista das "Flores Silvestres"(Rio, 1860), cuja redescobertase torna cada vez mais neces-sária. A passagem de Sampaionos demonstra, de novo. a exis-

.tência do "topos" do cisne den-tro de uma concepção de vida:

A vida nos corre breveNo mar de belezas mili

Seus trenós soltandoO cisne de prata»Seu colo retrata

*, Vogawft» j4Do teve

Was onda» de nft

l wAtetrte-se para o acento do ,corpo dlom" desses versos» i

aparentemente otimistas. A ao-tltooe contida nos dois prime»- |roa versos ("vida breve" o "ma»de belezas ml!"), tem quase Ium aentldo de oxlmóron. E cw*§»|tes do aparecimento visual de |cisne, descrito á parnasiana, háISo aparecimento auditivo: "Seustrenós soltando". Ora, "trenó" 1 lê canto melancólico, elegia. \ )Num dsrt*». 6 agoiro de morto.Vida • morte...

O "CISNE NO LAGO* DEPOISDE VARELA

III

!

Doa restantes poolas do fo*»V;mantisma somente me ocupa»rei, a seguir, de dois: Castro íAlves o Carlos Forroira. Comuma referência ao ultra-ro-mônttco Luís Murat

As "Espumas flutuantes* os»tão cheias de cisnes. Começa-rei por "Mocidade o morte" ;(1864), com aquela célebre es-tánciar

4

Morrer... quando este[mundo é um paraíso,

i E a alma um cisne de dou-[radas plumas»

Nfiol o seio da amante 4[um lago virgem...

Quero boiar á tona das es-pumas.

Em 188S, om *E' tarde"»

§ré, '1m

:m

Vinheta de SANTA ROSA

RES POEMASI

LOUCA CERTEZA ÔCADE UM VERSO (MÁS ONDE, GNr>*?)SEMPRE UM ECO. E Só RESPONDETÁRDüQUANDO NÃO HÁ VERDADENEM BOCA.

U

IRMÃO DO SONHO — VIAÇHM.^

ROTEIRO, FUGA DA IMAGEM,FORTUITO ENCONTRO (DE QtíZf)DA DIMENSÃO QUE SE VÊ.

IIISó.FOI-SE 0 CAMINHO.SEI00 SER SOZINHO.

MARIA ANGELA ALVIM

'i X¦¦<

. O dane branco no arrufor[das plumas m

Quer o aljôfar do lago.

Em -Remoraoa" (1871). incluí-

do noa "Hinos do Equador", hduma ressonância dóssea ver"soai

...ao so! poente f :Na sombria alameda»Quando oa cisnes ae arru-

/ [fam na corrente...

No estudo' do "topos", o quar*teto de "Mocidade e morte" édos mais significativos, porqueAntônio d» Castro Alves equa-ciona o problema de forma di-íerente, embora rigorosamentedentro dos elementos essenciais.Ocorre, por certo, extremo di-laceramento metafórico o o "to-pos" nos é dado numa "expio-ded view" bem castroalvina.

Com exceção de "algumas",o cantor dos escravos possui*de quebra, as rimas salussea-nas. fá colhemos "plumas-es-

ípumas*; eis "plumas-brumasV^

Como de um cisne àlvint*[tentes plumas.

Iam c, brumas...- ("Noite do Amor", 1863, -Â

Hinos). |"

Nas "Espumas flutuantes"*

nunca se esgota o motivo, áimagem, a metáfora. Particularvalia para um eventual estudodas fonteo do soneto friburgen-Be teria um dos quartetos de"Cândiüa

e Laura" ("Os anjosda meia-noite", 1870):

Como no tanque do um pa-[lácio mago.

Dous alvos cisnes no bacia[lisa,

Como nas águas que o'[barqueiro frisa,

Dois nenufares sobro o azul:[do lago...

^ A comparação castroalvinaComo de um cisne de alviiu-

tentes plumas reboou, quem sa-be?. em "Como dois cisnes dealvejantes plumas".

Carlos Ferreira 'foi dos pou-cos românticos que sobrevive-ram ao romantismo e a êle seconservam fiéis. \

Muito gabado no seu f-impo,influenciou as gerações seguin-te8 quase tanto quanto seuamigo Castro, Alves (de quemera grande admirador), mas,foi cedo esquecido. ManuelBandeira, na "Anotologia dospoetas românticos, não lheabriu miserável página quefosse. Forma, todavia, com Bit-tencourt Sampaio e Bruno Sea-bra, o trio de poeta3 cuia atua-lidade so acha no mesmo pia"no da de Castro Alvea. Há ou-tros, quais Pedro de Calasans,Joaquim Serra, Joaquim de Sou-eândrade. Almeida Arambuja, o

(Conclui na 10.» pág.)

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me livre de ali-nbar aqui, numa dc-

monst ração livresca quena verdade me tenta,

uma ou duas dúzias de la-pidarts concettuaçoes nobrea natureza d» conto, Muitopoucos dos grande* críticosdeixaram de arriscar umadefinição sóbre a ficção cur-ta, li quase todos os culto-res desta forma narrativaacreditaram defini-Ia Ina-

: pelavclmenle, desmontandopontos dc vista anteriores econtemporâneos e deixandosem cabimento todas as dú-vidas.

Há os que acham que oconto e a descrição de atoslogicamente (c cronológica-mente) encadeados, com umcomeço, urna ascensão paraum clímax e um encerra-mento (com chave dc ouro,como no soneto). Outrosacham que o conto é um mo-mento captado e expostocomo uma fotografia ou umquadro, sem ligação com mo-vimentos anteriores c poste-riores. Conceitos, estes dois,que podem ser definidoscomo objetivo o primeiro,subjetivo o secundo.

Os americanos (evidente-mente falo dos fahricantesde antologias e de textospara universidades) são mui-to mais simplistas, e con-ceituam o conto como umanarrativa que tenha no mi-nimo tantas páginas e no

T T A' dias, convensarndoI—1 sobre o problema de

X J. um jornalista brasi-leito, de q u e m há

muito se espera um trabalhodefinitivo, impresso em li-vro, que justifique o talentoe a cultura que possui emgrau dos mais elevados; mas,que, em vez disso, prefere in-troverter-se cada vez mais,dispersando o conhecimentoadquirido em anos de pes-quisas, através do ramerrãocotidiano do comentário demomento, disse-me o profes-sor Anísio Teixeira: "Creioque, infelizmente, éle setransformou naquilo que osamericanos chamam de "ho-meless"."Num homem sem raízes",m»**r?ivrci."Se a senhora quiser, po-de tiiuma-j.o assim, mas osentido parece-me maiscomplexo; é uma espécie desolto no ar, qualquer coisacomo..." E o telefone to-cou. Depois vieram papeisurgentes a despachar. O as-6unto desviou-se.

Vim pela rua pensando:•Afinal de contas, sem raí-ses, sôlío no ar ou confor-me a tradução literal da pa-lavra — sem lar, é tudo amesma coisa, se considerar-mòs que as raízes do sêr hu-mano são a terra em quenasceu, a tradição em quefoi criado e, conseqüente-mente, a família e o ambien-te que formaram essa tra-dição; tudo aquilo, enfim,que constitui a essência deum lar, que não é a casa emuito menos o apartamentoem que a gente mora, nemos móveis velhos ou novosiíe que nos servimos, e sim•o que formos extraindo dedentro de nós mesmos paradar expressão e colorido aessa casa e a êsses móveis.Qra, um homem solto no aré aquele que perdeu a baseemocional, aquele que se tor-nou surdo às vozes do passa-Ao e concentrou-se em seu»ecos interiores, temendo ainutilidade das palavras semressonância no futuro, naraquem te*as as expressões set ©r n a ra m estereotipadasif

f§i?è.'todas as coisas perderam© colorido original. As tradi-ções existem, não para que¦ se as conserve, através dos

f| séculos, intactas como mú-lmias, ou inexpressivas comocertos passos de "balfet" que,à força de repetidos, só con-seguem interessar às platéias.quando são salvos oelo vir-ínosismo dos intérpretes,Baas, para que nelas assente-mos os pés, sem medo deque a tçrrr* escale «»*nn'?onos erguemos nas pontas,

CONTO, MEDIDA E PERTURBAÇÃO

máximo tantas. Como amaioria dos escritores da di-mímica república irmã re-cebe por palavras (veja-seum conto de O. Henty, quetem o irônico título de "Duasmil palavras", se não meengano), essa conecifuação élegitima para as casas edi-toras e para as revistas.

Ora, bem. O conto dcralem nossos dias, para mim,não pela dificuldade em es-crever-se uma história cur-Ia. Isso é pesadelo para oescritor medíocre; o bomsente-se à vontade tantonum "roman fleuve" quantonuma parábola a Kafka.Decai porque se transforma,muda de nome: vira cróni-ca, vira poema em prosa,vira anotação de diário. PorLsso, os cultores dessa formaandam raros. Ou escondidosem crônicas, em meros exer-cicios de estilo, em "ter.ts"anímieos traduzidos em pa-lavras.

Não se sabe o que dizer,hoje, dc um livro de contos,Acaba-se ficando em gene-ralidades amáveis ou desen-volvendo elucubradas e pe-sadelescas teorias sobre osmóveis psicológicos do. autorem particular e da criaçãoartística em geral. No fim,

ANTÔNIO mUAnão se sabe ne o livro agra-dou. E um livro de conto*,creio bem, tem a finalidadeprincipal de agradar; é umobjeto dc hedonismo e nãode perturbação,

Acabei de ler um livro doAlmeida Fischer — "A Ilhae outros, contos" — editadonos simpáticos "Cadernos doCultura" do «Serviço de Do-curnentnçâo do Ministério daEducação. Almeida Fischertem, como um do«* nossosmais ativos trabalhadoresIntelectuais, uma tremendaresponsabilidade Não deviaser perturbador, em hora per-turbador no bom sentido,como os poetas da geraçãode 1945.

Gostaria dc haver fechadoo seu livro depois tíe lidosos seus seis contos nos va-gares do trabalho mm umsuspiro descansado, espregui-çando-me e cocando a ca-beca gostosamente, pensandoem comer um bom almoçoou dormir ouvindo sambasde Noel Rosa. Não foi possi-vel. O livro de Almeida Fis-cher é um desafio à dis-cussâo. à comparação, à vol-ta à velha quereia dos con-ccituadores do conto.

Uma das suas narrativas— "O Mastro" — faz lem-

brar Kafka, E Isso é um in-cubo. Um homem perde ocontaeto com a realidade —digamos "pedestre" — cami-nhando empoicirado em ion-gts pernas de pau Fien aci-ma dos homens, olha-os doalto, vê-os mesquinhos, pig-meus, forimgantes. As lon-gas andas dão-lhe delírio degrandeza, c ele quase morrequando, numa viagrm pormar, é condenado a ter onariz na mesma altura queo nariz de seus semelhantes.Furo Kafka. Se não me fa-lha a memória, é dêste an-gustiado existencial a histo-ria de um trapezista que sovivia bem nas alturas, dor-mindo e comendo no seu pe-rigoso aparelho.

Mas o que perturba em Al-metda Fischer não é o seusurrealismo neste conto e osseus mergulhos introspecti-vos em outros da coletânea.A perturbação mais fortevem do contraste entre assituações psicologicamente"violentas" e irreais (pelomenos inverossímeis) e a sualinguagem simples. m"ifasvezes de composição narra-tiva objetivíssima. Há tecni-cas que não se justapõem,por exemplo no conto "AMariposa". Aquij o sufrinicu-

O HOMEM SOLTO NO AR

para olhar o espaço Infini-to por cima da multidão. Fa-ra que um edifício se sobre-ponha aos outros, é precisoque seus alicerces estejamsólida e profundamente en-terrados no chão. Sem ali-cerces, por mais belo, moder-no e confortável que seja oseu estilo, cedo êle se seu-tira desmoronar. Da mesmaforma, as plantas que me-dram à flor do solo, são sem-pre plantas rasteiras; e,quanto mais as raizes deuma árvore penetrarem naterra, mais copadas serão assuas ramas. Se até os passa-rinhos precisam de árvoresfrondosas para se abrigar eesconder os filhotes da tor-menta, se até os aviões pre-cisam, de campos de aterris-s a g e m convenientemente

LUIZA BARRETO LEITK

preparados, que dizer dos sê-res humanos?

Infelizmente, todos aquê-les que renegarem ou esque-cerem o passado, bom oumáu, ilustre ou humilde, es-quecendo que é dele, mesmoquando nos parece decrépi-to e inútil, que devemos ex-trair a seiva do futuro, poisas velhas terras, permanen-temente renovadas pelo cul-tivo, produzem melhores fru-tos do que as novas, que nãoreceberam o tratamento in-dispensável; todos aquelesque procurarem concentraro mundo em. seu próprioegoismo, desencanto ou dc-sambição, hão de sentir-semais tarde ou mais cedo,como Adão e Eva, expulsosdo paraíso imaginário, sen-do obrigados a mergulhar em

baixo da terra, para setransformarem em raízes daprópria raça, ou perecendocomo árvores secas em ter-ra árida, ou plantas compra-das de vendedores desones-tos, que oferecem aos incau-tos os caules, enterrados emlindos vasos, afirmando queflorescerão à sombra dosapartamentos.

Nenhum de nós é culpadode haver sido educado sóbrea linha divisória de duas cul-turas, de duas concepções fi-losóficas de vida, assistindoao desmoronamento de tô-das as verdades estabeleci-das, enquanto vive a angus-tia atordoada da procura desoluções novas para os pro-blemas eternos,* nem culpa-do de despresar os velhosconceitos, tão definidos

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Yinheta de SOturtàÈN

o AVIÃOO AVIÃO, SONHO METÁLICOEM TRANSEDISSIPA SUA SOMBRAÀ RELVA DISTANTE.CALMA, A HÉLICEGIRA VELOZ EM SEU ÓLEO,E CORRÓI-LHE O ESPAÇO JO ÁTOMO DA FUGAPARA O DESASTRE.FLOCO DE NUVEM,ASTROLÁBIO DE FARTO PILOTOACORDA ÀS SURDAS PARAGENS,RUMO DE TODOS..,

FAUSTO JUNQUEIRA,

to de uma doente de lepra—. iiiiiis de espirito que docarne: o suicídio da noiva,a leporaç&o do filho, a se»gregaçao — começa a sercontado através

"da* reaçôet

interiores da personagem.Mas Almeida Fischer nãoconfia no entendimento doleitor; precisa explicar, fa-zer notar. Lança mão de re-»cursos exteriores, põe aviso*nos lábios dc gente assusta-da ("Olhe a raorfética. V4para dentro, menino!" —adverte uma mãe). Sem no-cessidade, pois que se p«*r-cebe. pelo desnvolvimento da?história, que a moça t le-prosa; e o aviso da mãe náose prende a nada, fira dos-locado, sem ação, fora doconto: é um aviso ao leiior.

fcstes c outros defeitos en-tretanto. não invalidam aforça narrativa de AlmeidaFischer. A perturbarão quocausam os seus contrastesentre linguagem direta- mi-nuciosa, explicativa, t as si-tuações decididamente «ub-jctivas e às vezes irreais,deve naturalmente decorrerde uma concepção de fazi-mento pré-determinado 3um estilo de contar dentrodo qual êle se sente à von-tar?e.

Procurei, aliás, diante daminha perturbação, colocar-me no lugar do leitor eo-mum. E são do leitor comum-— o grande cliente, afinal —ios reparos ciuq faço. y

quanto inexpressivos, dei-xando-se seduzir pelos no-vos, tão expressivos quantoindefenidos. A humanidadeatual está sendo transporta-da de um país para outro,de uma civilização para ou-tra, de um mundo emocio-nal para outro, confundindoos valores como confunde osidiomas. Como, pois, encon-trar o equilíbrio, se o anti-go desapareceu e o modernoningi:ém sabe onde se en-contra? Poucos são aquelesque conseguem manter-sounidos, juntando o passadocom o presente e procuran-do tirar a média do futuro, [mesmo quando transplanta-'dos. Estes são os privilegia-1dos, são os que tornam me-!nos árido o caminho da vi-jda. Nós, porém, que perde-mos as raízes no vôo, quan-do fomos arrancados de nmaverdade para ser jogados em!outra, e que, até a própria;terra dos sapatos permiti-mos que se ressecasse eracontato com o calor do as-falto, sentimos hoje o quocusta não as haver conser-vado, pelo menos em um pe-queno vaso, desses que solpenduram na parede da sa-ia, para dar ao apartamentoum sabor de jardim. Onde,porém, encontrar a seiva pa- \ra alimentá-las? Na .sreiadas praias que nos cerrame onde só medram os cactos?!Na terra distante, onde já ihavia começado o enfraque- |cimento das raízes de nossospróprios pais? Entre os an-ccírais, diluídos no tempo ono espaço? Onde, meu Deus,onde, encontrar as raízesdessa árvore da vida qor ospais precisam transmitir aosfilhos, para que não con ti-nuem seu destino de nuvens, jque se avolumam oo diluem!ao sabor do vento?

Creio que a maior resposta!sabilidade daqueles que vi-}vem no interior, em conta» |to com tudo aauilo que am-1da possuímos de legítimo, ê!Justamente a de não permU:tlr que pereçam as raíxe» donossa raça, alímentando-a®c**»u a seiva do próprio «an*gue, para transmiti-la» vivi»t cadas as gerações qut ri»rão; pois se um . indindoenão consegue sentir-se ¦.guro quando está solto e®ar, que dizer de um pais quenão soube cultivar suas e»=racterísticas? Quanto maise mundo se aproxima « mfunde, mais cada país preci-» isa definir-se, pois, eom© «e<Indivíduos, os países só po»derão formar um conjunto*uníssono em um m o n ê ©.:consciente, quando eada ©s^

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Terça feira, 1 6-1954 LETRAS E ARTES Página*¦*¦.» :-(':««tr«s«l .».. .T .¦» W ¦;»•<»»» M~ <»««OT

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DlOlUCUltt «iu que• teatro uucionulvem sofrendo umatransformarão enur-

¦ae, era que aluiu» ntOOOft,•om ou sem cursos no ea-irangciro, tudo fazem paraarranca-lo da modòrra, omque aumenta a importânciadedicada ao autor (êstc jánão è mais o fabricante depeças), a presença de umacompanhia como a de Jean-Louis Barrault-Madeleiue ttc-naud representa um fator amais na conquista de algomelhor. Em teatro a expe-riencia é quase tudo, e prin-cipalxucnle a experiência vi-suai. E o contato tomadocom empreendimentos supe-riores às nossas forças quenos anima a subir às suasalturas. E nos momentos detransição, sua presença pas-ea a ter uma ação calalitica.Assim, para nós, a presençade uma Commèdie França!-te. mesmo academizada, deom elenco como o de Vitto-lio Gassman, e agora, peiasegunda vez, o de Barrault,representa a contribuiçãoTi^a à nossa mudança, que• Europa ainda nos envia.S uma cultura já estratifi-cada diante de outra em for-mação. Atrás de cada gesto,cada passo, cada palavra, hanm lastro imenso, uma tra-

. dição firme, que ainda nãopossuímos.

Barrault se nos apresentacomo um desses gigantes re-formadores que agitaram aEuropa dos meados do séculodezenove em diante. É umhomem que vem para a artecom algo para dar, e nãonos repete somente velhascantilenas. Copeaa. Dullin,Jouvet. Nomes que marcamnm caminho sólido na con-quista de uma expressão. Onome de Barrault se lhessucede como irmão maisnovo empenhado na mesmaluta. A êle devemos um Mo-lière sempre atnal, um Tche-kow memorável, e esse es-petáculo fabuloso, o maior aque já nos foi dado assistir."Le Livre de Crisíophe Co-lomb" de Claudei. Criaçãopura de um diretor de geniatendo nas mãos um textonmorfo sob o ponto de vistadramático. £ vitória plena.

Procurá-lo para essa en-trevista com Letras e Artesfoi coisa bem difícil. Intei-ramente dedicado à prepa-tação das peças, abafadopelas datas dos espetáculos,representando diariamente,

dividindo-se nos convitespara ceias que a alta gran-finagem lhe fazia, parecia-soa impossível uma aproxi-inação. Só o conseguimos àstrês da manhã, quando seretirava, móído pelo cansa-co. da casa de PaschoalCarlos Magno. Ainda às três

meia da tarde, hora com-binada, dormia no camarim,refazendo forças para umaycsperal da peça de Claudei.

1 Foi sob o signo do cansaço{gue conseguimos essa entre-

CTMM«M«my»y«»l>^»|y^ ..,, - - <MM| , Mj l fj, M I Ml—tUlTMIgl Mlijl ITÉ1

ENTREVISTA COM JE-AN-LOUIS BARRAULT

SAMUEL RiWtT

"Cristoplic Colomb" — tendência para reconquistar o público —• Oanutores franceses procuram outras dimensõea no teatro — Sartre, umdoe maiores homens de teuiro —- Muito bons oe críticos brasileiros —

Estudar os antigos e viver

mesmo, traia um esforço aque o obrigava a falta derepouso. E essa a nossa úni-ca oportunidade.

*O que pensa sobre a liga-

ção espctáculo-público noteatro de hoje, tomandocomo termo de comparaçãoo teatro até a Idacle-Média ?

Julgo encontrar no teatro

c eles mesmos y defendem.Na Tragédia, /-s vão além,ultrapassam o instinto deconservação. Um ponto for-mal, seria a presença do Cô-mico no Drama, fato inad-missívcl na Tragédia.

Crê na existência de umaTragédia Moderna ?

Sim. Como já disse antes,

duas grandes guerras. Suaintenção é conseguir algo demais valor, e vão procuran-do outras dimensões, preo-eu pados com outras pesqui-sas, algumas de caráter po-pular mais autêntico.

Como aceita Sartre noTeatro ?

Considero-o um dos maio-

Barrault. em companhia de Sérgio de Camargo e Samuel Rowet, quando concedia a presente en-entrevista

vista lacônica com Barrault.Êsse homem magro, desajel-tado, displicente consigode hoje um retorno à essaligação mais íntima queexistia até a Idade-Média.Depois de um período deafastamento a tendênciaatual é reconquistar êsseponto. Pode servir^ comoexemplo dessa tendência aobra de Claudei: "CristopheColomb".

Quais, a seu ver, as distln-cões fundamentais entreí)rama e Tragédia?

É uma distinção de essên-era, e não de forma, sim-plesmente. No Drama os sê-

res humanos sofrem a vidaa Tragédia vai além do ins-tinto de conservação, e che-ga mesmo a desafiar a mor-te. Porisso creio numa, tra-gédia moderna, baseado nes-ses elementos. Um exemplo:"Partage du Midi".

Que acha do rumo toma-do atualmente pelos autoresfranceses ?

Creio que bastante anima-dor. Os autores de hoje, to-dos com grandes recursos,estão se dirigindo para umaforma mais elevada de tea-tro, abandonando, por com-pleto, o que se fêz entre asres homens de teatro que já

conheci, Um autor extraor-dinárlo. Faria maravilhas sese dedicasse exclusivamentea êle. Pena é que se dividaentre tantos interesses eocupações. Sua peça "liesMouches" é uma obra-prima,

O que pensa dos autoresnorte-americanos ?

Acho bom Tennessee Wil-liams, mas não creio que olado psicanalítico utilizadopor êle em suas peças, sejaum bom material dramático.Não conheço as pecas de Ar-thur Miller, mas ouvi falarmuito de "A Morte do Cai-xe*ro-Viajaute", Quanto a0'Neill, acho interessantes

m

Ij&^&jki, i i si& fs~ •

AS vésperas do apare-recimento de "O Ho-mem", Aluisio Azeve-vedo, que conhecia, afundo, o meio tórpido

cm que vivia, pôs-se a cam-po para fazer a propagandada obra e auxiliado por ai-guns companheiros corai o-sos. tal estardalhaço fez que,no dia da exposição do li-Yro, foram vendidos ao ba>-cão uns trezentos e tantosexemplares.

Foi tal a alegria do velhoGarnier que, segundo se dis-se, cedeu, por uma ninharia,a uma fábrica de sabão, ogorro que usava, estreandonm barrete de seda, e che-gou a propor ao autor de"O Mulato" a comora dapropriedade do feliz roman-ce por seiscentos mil réis em|rês prestações.

Lembro-me ainda do es-e&ndalo que houve no caféle Londres, que era um dos

Entos de reunião de artis-

s e escritores nesse tempo.Aluisio, que mandara im-

jaiaik duas mil etiquetas com

&»«,.. ....

CURIOSA CRÔNICA DE COELHONETO SOBRE "O HOMEM"

•¦

Em 1919, publicou o romancista de "Inverno em flor", na imprensa carioca, uma

interessante crônica a respeito de Aluisio de Azevedo. O pretexto foi uma noticio,

vinda de Buenos Aires, onde se achavam os despojoe de Aluisio desde l$ít, infor-

mando da então próxima repatriação dos restos mortais do autor de "O Cortiço". O

despacho, aliás, serve de epígrafe à crônica, que se intitula "Ainda uma vez..." efoi anexada ao livro "O meu dia".

o título: O Homem, para es-palhar pela cidade, enrolouuma delas e, aproveitando-setía distração dos caixeiros,meteu-a em um dos pães quese achavam, em pilha, nobalcão.

Era à hora da maior aflu-ência ao almoço de assobio,e o romancista, que se sen-tara a uma das mesas dofundo, com os jornais, ficouà espreita do escândalo. Nãoesperou muito.

Entravam e saiam fregue-ses; os caixeiros iam e vi-nham com bandejas carre-gadas de louça. O bezoar dasdiscussões e das conversastornava-se cada vez maisruidoso, quando uma voatrovejou indignada.

Um homenzarrão ruivasco,de sobrecasaca e óculos, quefuzilavam como clarabóias aosol, de pé, cem um papelu-cho entre os dedos, grossoscomo íueiros, bradava e ges°

ticulava desabaiadamente.Os caixeiros acudiram es-

pantados e os que almoça-vam, de sorvo, pousaram asxícaras voitando-se para oEstentor.

— Que porcaria é esta?Estou a comer o pão e trincoisto, "O Homem"?! Que auerdizer isto? E mostrava, in-dignado, o papelucho.

Cercaram-no e todos qui-seram ver a vítima da invo-imitaria antropofagia, o ho-

suas pesquisas no sentlde dereaproveitar temas antlgoa% num sentido atual.

Qual a sua experiênciacom os críticos?

Em geral. boa. Sempre es-tlmularam e aplaudiam oameus trabalhos Houve umcaso. no ano passado ti umarfgo multo duro num Jor-

"•

nal. o crítico me atacava vi- ¦gorosamente. Procurei Infor-moções sobre êle. t vim asaber que h""fa partido naraservir no Exército Tinhavinte anos. e não me im-portei, porque êle não pode-ria ter cultura nara me fazeraqueles atanues. fira muitomoco. E o critico deve teruma boa cultura, lá que nósdamos grande importânciaao que escreve, e êle nospode iludir. Creio oue umcrítico deve se precaver sem-pre com a primeira impres-são, pois é um trabalhadorcomo nós. no teatro, e noao ouvimos. Refiro-me a umacritica construiiva. já que aoutra, a carreira a não temgrande importância. Whs,achei muito bons os críticosbrasileiros, com nm conheci-mento grande dos movimen-tos teatrais, e com o hábHoda leitura das peças <tntesdas encenações.

O que pensa de "EscolaPara Autores" ?

Não há na França umaescola desse gênero e o meupensamento é oue os auto-res, novos, naturalmente,que quisessem estudar, defato, deviam sesuir uma "E3-cola de Teatro", em todasas suas dimensões, tomar po-nhecimento de todos os pro-blemas, afundar, em suma,no mundo do teatro, rnrasent?r-lhe as preomoarões.No meu c^o. eu lerla os an«tlgos, os v-3ris autores, estu-daria os processos de erárioutilizados por eles. e deno?s,iria à rua, viver, e nrocM. jiranücar os seus métodos àvida de hoje.

O corredor movimentadoprenunciava o espe'áe:!3opróximo. Quatro e m?iaquase, e às cinco estariamem cena para a peca tfeClaudei. Barrault oiha o re-16, io. o grupo oue o ei^vol-ve, pedidos de auíósrrafos.. eprepara-se para entrar nocamarim. A última perarun-ta sobre a ueça de NelsonRodrigues, "Vestido de Noi-va", que êle já ièra. nadaadianta, mas diz one estáinteressado em ler uma tra-dvcão de "Nossa Senhora dosAfogados". Aproveitamos aentrevista, nara da«ni trans-mitir o recado ao autor,Nelson Rodrigues.

fi uma pena one sua es-tada seja tão rápida, que osespetáculos seiam tão pró-ximos. e que não haja pos-sibiVdade de nm contát(|maior com alguém oue mui-to nos pode ensinar. E*pe«remos m*e isso se dê emoutra temporada.

mem que saíra das entra«nhas do pão, como Jonas doventre da baleia.

Aluisio, achando o momen-to oportuno, porque todose ainda gente que entraraquantos se achavam no café,atraída pelo vozerio, eprea-vam o ruivo, examinando apedra de esGândaio, que eraa etiqueta, levantou-se mui-to grave e, dirigindo-se aoberrador, depois de o cum-primentar, disse com ento-no:

Com licença...Tomou o papel, vlrou-o,

revirõu-ó entre os dedos, co-mo se procuras?? o mistério;por fim falou em tom ora-cular:

"O Homem", a que serefere èsfe papel, é aoueleque, segundo afirmam asprofecias, deve tr.-zer aomundo a palavra dh Ver-dade. ene. ceno o meu ilus-tre amigo sobe, é o «ão es-pirHnal. Por isto. n'«.tW*u|mente, escolheu, para vei-

(Conclui na ».• pág.)ÍMHrMHmHjj

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ROMANCE E CENÁRIOCINEMATOGRÁFICO

JEAN CLAUDE UERT,

;:

Vasco

Pratollnl chegoua Cannes para a es-tréia do filme origina-do de seu Uvro "Crô-

nica dos pobres amantes",que, realizado por Cario Uz-zani, obteve um dos grandesprêmios Internacionais doFestival.

Pratollnl é um homem -

pontual; ao contrário deseus compatriotas, para osquais o tempo não e senãouma fantasia de gente apres-saaa, foi exato no encontromarcado.

De tipo mediano, olhar de-cldido. onde oriina a flamade uma inteligência semdescanso, menos que aparên-cia intelectualizada, Prato-lini tem a de um marinheiroprestes a partir, afrontandotodos os perigos.

A primeira pergunta quelhe faço é, naturalmente:

Que pensa da adapta-ção cinematográfica de seu••Crônica dos pobres aman-tes"?

Ê fiel ao espirito do ro-mance, tendo eu mesmo co-laborado com o cenarista eestado em perfeito acordo,sempre, com o diretor CarioLizzani. Entretanto, deseja-ria que, ao se ver o filme, seesouecesse o romance, pois.tanto um como outro têmsuas características pró-prias: é conveniente olha-los como duas obras dif eren-tes. Fazer ou ver um filmeé viver uma história atravésdas imagens, ao passo queler ou escrever um romanceé pensar uma história porimagens; há nisto uma dis-tinção fundamental, oue cri-ticos e espectadores deveriamter em mente quando Julgamum filme comparando-o aolivro que o inspirou.

Ê a primeira vez queparticipa da realização deUm filme?

Não. Já colaborei comRosselini, em "Paisà", e comBlasetti, em "Outros 0tem-pos". Pròximamente meu ro-mance "As filhas de SãoF?édA*,~i- será cenarlzado,tomando eu parte na reali-zaeão.

Este escritor não se senteà vontade quando fala de sipróprio. Confia-me, no en-tanto:

Nasci em 1913, num su-búrbio populoso de Florença,o mesmo subúrbio que des-crevi em muitos de meus li-vros. Pertenço a uma fami-lia muito modesta; meu paiera garção de café. Isto paraindicar-lhe o meio em quepassei minha juventude;tendo, muito cedo, que ga-nnar minha vida, só pudefazer o curso primário; se-gui, entretanto, os cursos pú-b li cos da Universidade, maispor curiosidade que por in-teresse.

Como começou a escre-ver?

Sempre tive paixão pe-lus livros dos outros, natu-

cimente. Sem dúvida, mi-nha vocação de escritor nasceu do meu gosto pela leitu-ra Talvez tenha sido favo-rpf^o nor situações desfa-voraveis. Oom efeito, desde

minha salda da escola até aIdaae de dezenove anos uvoque prover minha suosistén-cia exercendo funções «smais diversas. Um dia, caidoente e fui obrigado a ua-ternar-me num sanatório,onde permaneci durante doisanos. Este repouso forçadopermitiu-me tomar cons-ciência de mim mesmo e derefletir sobre o sentido quedevia dar a minha existen-cia; foi neste momento queme decidi a escrever séria-mente: meu desiderato foi,então, situar-me em minhaépoca e evocar todos os pro-tolemas, políticos, sociais ououtros que preocupavam mi-nha geração e, em particular,a nostalgia da liberdade deação e de pensamento queperseguimos, meus câmara-das e eu, como um mito. noqual é preciso crer a todopreço. Assim,--publiquei su-cessivamente "O tapete ver-de" (1941), "A rua das ca-sas de moda" (1942) e -Asamigas" (1943), que são. sobformas diversas, descriçõesautobiográficas, d e f 1 n 1 n -do, de qualquer modo, o es-pírito dos Jovens Italianosantes e durante a guerra.

— O senhor não conseguiuescapar do realismo lirico,tendência que trouxe à llte-ratura Italiana uma novaseiva; de sua pena têm saí-do obras de grande valor co-mo seu "Crônica dos pobresamantes", "Um herói denosso tempo", e esta peque-na obra-prima de humor efantasia que é "As filhas deSão Frediano".

Alguns críticos admitemoue o período do neo-realis-mo terminou, tanto no pia-no literário como no cine-matográfico. Está de acordocom esta opinião?

— No que me concerne,estou convencido. Todavia, épreciso não generalizar. Se-guindo as épocas, a visãoque se pode ter das coisasvaria: as idéias evoluem, masos senti entos continuam osmesmos. De minha parte,tento, atualmente, fazer oque ainda não se fez, isto é,traçar a vida de uma cidadeItaliana 'i 1870 a 1945 — nocaso, Florença, — através dahistória de sua população,da aristocracia à classe ope-rária, passando pela burpue-sia. A unidade italiana datade 1870. Nosso passado na-cional, se ouso assim me ex-primir, não tem mais de 80anos. Não conseguiremos,Jamais, liberar-nos inteira-mente do provincialismo deque sofreu nossa literatura— e de que sofre ainda I —senão nos esforçando porconsiderar este passado co-mo uma realidade históricacapaz de criar Uma tradiçãonacional. Esta tradição exis-te. é verdade, mas ninsmém,nunca analisou seus carac-teres, e bem poucos se in-quietam pela concepção dedignidade humana à qualela está intimamente lidada.Meu próximo romance, "Umahistória italiana", — o títuloparece-me muito significati-vo — virá, creio, preencheresta lacuna.

Marguerite Yourcenam última humanistaTradutora de Virgínia Woolf e Henry James — Professora univerflm cm Nova Iorque, a eonvite de Stephen Spender — Pre-

tende viver na quieta cidade do Maine — Historiadora, humanistafadutora — Apresentará, em edição Gallimard, as obras do

poeta gre<ío moderno Kavafis — Seu próximo livro, uma peça de tJ*- Fórmula para uni livro de erudição: milhares de fichas

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SABIA humanista, Mme.

Marguerite Yourcenaré, também, uma artis-

ta a par de nossa literatu-ra. Publica pouco, de rarocm raro: em um quarto deséculo, uma dezena de títu-los somente; tudo o que elaentregou ao público desdesua estréia em 1930, com«Alexis» e «La nouvelle Eu-rydice», descrições psicoló-gicas de uma pureza raci-niana, são «Pindare», em1932; «Le coup de grâce»,reeditado há algumas sema-nas. Mais recentemente,«Les mémoires d'Hadrien»,biografia magistral, e asduas ótimas descrições de«La mort conduit Tattela-ge», escrito segundo Dürer,Greco c Rembrandt, ates-tam seu gosto pela formaclássica, visivelmente her-dada da Grécia, cuja luz pa-rece banhar tudo que ela es-creve.

NAO Ê BELGA m

nasceu sob as brumas dônorte; uma lenda a fez nas-cer na Bélgica.

Realmente, nasci emLille, retifica com voz pau-sada; minha mãe, sim, erabelga. E' verdade, no entan-to, que, muito jovem, dei-xei minha cidade, à épocada Grande Guerra, jamaisvoltando; depois viajei mui-to, vivi em Paris, na Itália,na Grécia, na Inglaterra,mais tarde na América.Lembro-me de meus temposno norte como se fossemuma lenda.

Esta historiadora não re-cebeu a disciplina de escolaalguma.

Meus primeiros traba-lhos universitários foram osde professor, nos EstadosUnidos, me diz com seu docesorriso. Fiz todos meus es-tudos em casa, como mui-tas jovens da burguesia deentão. Meu pai, que era umbom humanista, interes-sou-se por isto; é a êle, semdúvida, que devo este gostopelas línguas antigas.

Deve-lhe, também, ês-te amor às letras clássicas?

Não sei muito. Parece.-me que as amei sempre.

Por outro lado, devo mui-to, também, às literaturasanglo-saxônicas; traduzi,mesmo, Virgínia Woolf eHenry James.

Quando se estabeleceunos Estados Unidos?

Estive lá, primeira-mente, em 1937, mas foi em1939 que Stephen Spenderofereceu-me, do mesmo mo-do que a outtros escritoresfranceses, um posto de pro-fessor de literatura, numauniversidade de Nova lor-que, o «Sarah LawrenceCollege». Aprendi muito em

contato com espíritos jo-vens cheios de ardor.

—- Ensina ainda?Não. Minha carreira

de professor terminou o anopassado. Voltarei à Améri-ca; adquiri uma casa de quemuito gosto, numa pequenacidade do Maine, chamada«Champlain des Monts Dé-serts».

20 ANOS: GESTAÇÃO DEUM LIVRO

*

Foi nos Estados Uni-dos que escreveu «Les mé-moires d^adrien»?

Sim, de 1948 a 1950.Três anos é pouco para a

edificação de tamanho mo-vimento.

Redigi uma primeiraversão há vinte anos: des-cobrira a Itália; visitandoa «Villa Adriana», sonharanas ruínas, lera muitas crô-nicas. Senti que não haviasabido captar a grandeza dapersonagem. Destrui estaspáginas. Continuei minhaspesquisas em 1934 e escrevialguns novos fragmentossob forma de diálogos.Abandonei tudo em 1937,desanimada pelas dificulda-des do assunto. Cri mesmonecessitar deixar de escre-ver este livro; depois, quan-do, no início da guerra, par-ti para os Estados Unidos,deixei o manuscrito e amaior parte de minhas no-tas na Europa.

Um dia alguns parentesme expediram, da Suíça,uma mala cheia de velhascartas e papéis de família,entre os quais encontrei umfragmento do texto datilo-grafado. Minha surpresa foiprofunda; pensei estivessetudo perdido. Você lembraque o livro é redigido soba forma de uma longa car*ta endereçada pelo impera-dor a seu futuro sucessor.Quando li as palavras «Meucaro Marco», fiquei, por uminstante, sem saber que setratava de Marco-Aurélio.Foi este pequeno choque queme fêz retomar o livro. Namesma tarde em que se deueste fato, reabri a Históriaromana do grego Dion Cas-sius e a História augusta,de Espartiano, as duas prin-cipais fontes a respeito davida do imperador Adriano.Pouco depois, chegando aoNovo-México, escrevi, de umjato, várias passagens im-portantes do livro entre No-va Iorque e Chicago.

—- A versão definitivadas «Mémoires d'Aadrien»,estava fazendo-se. E que di-ferença das precedentes!

— Nos meus bosquejosanteriores, estava interes-sada no letrado, no pensa-dor, no poeta, no amoroso.MaSj neste intervalo, mi-

nhas pesquisas, minhas lei.turas e, indiretamente, mi-nhas próprias reflexões sô-bre o drama de meu tempo,exercitaram-me no sentidode melhor compreender oimperador. Ora, meu heróifoi um dos raros tipos aca-bado de homem de Estadoque a História conheceu;este fato não foi estabeleci-do completamente senãouma centena de anos depois.O que Voltaire pôde escre-

£ni seu Uvro, é êleítado como um via-

Jxonado e lúcido.«Jvida seguiu seus ca-IS através de mundo

|m, tanto quanto pos-^Jorei muito tempo naçl fui à Ásia Menor eaEr. Embora tenha ter-ml o livro, continuo es-

gens; foi assim queno ano passado, o

A «muro de Adriano»,

GABRIEL D'ÉARÉDEver sobre Adriano parece-me um pouco cômico. Nãome podia permitir a mesmasuperf icialidade, hoje que asinscrições descobertas pelosarqueólogos mostramexaustivamente a universa-lidade de seis gênio político.Restaurador da economia

•<W87i iifnMwl »HMlffl«nMfflrrH

ícwcastle e Carlisle;mesmo, em setem-

imo à descoberta deíueno templo mi-

teste livro não seu apenas o impera-;uando, governando,rocurou-.se introduzir

m^^^^iW&//.W/&-VSfV** >'>'>'•'¦' .'.v.v.v.v.v.v.v.;.v.;

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ÈÊ^yWyyMMyWyWyyÉÊÊ

í.v^¦IMarguerite Tonreenar tfPpafia recente

romana, pacificador, cons-trutor, fundador de novascidades, em todos os donu-nios, foi grande e sábio.

AFORA TALENTO, EIS AFÓRMULA

A documentação ne-cessaria ao conhecimento deuma personagem tão com-plexa deve ser considerável,pois não?

Alguns milhares de ft=-'chás. Reuni a maior partedelas na Universidade deYale. Havia estudado o as-sunto anteriormente, P°*rém, na Europa. Não desço-bri nada; os documentos sô-bre a vida do imperador náosão inéditos, mas haviamsido manuseados raramentede modo completo; creio tersido a primeira a tentaiisto.

>r no mundo pensante?ersonagem descrita.necessidade de a psi-secundar a historia-

do o máximo de informa-ções, seguir no sentido dapesquisa apaixonada doplausível; jamais perder devista os lados contraditóriosde toda natureza um poucorica; ter em mente a todoinstante aspectos partícula-res do pensamento de umaépoca, mas também, e aomesmo tempo, tomar tentoda parte de eternidade dossentimentos humanos: eisalgumas das regras que tiveem mira seguir.

IMAGINAÇÃO, ARMA DAHISTÓRIA

A reconstituição men-tal de que falamos deve exi-gir-lhe um esforço de ima-ginação considerável!

Um esforço de magiasimpática, diria melhor, sus-tentado com constância tpaixão.

Sustentado tambémcom certos métodos parti-culares?

Esta curiosidade faz sor-rir Marguerite Yourcenar.

Creio que poucas pes-soas lembram de conheceresta espécie de técnica.

Muitas pessoas passamtodo dia em frente da está-tua dourada de Joana d'Are;alguns a olham um instan-te; mas quantos tentam fi-gurar o que foi realmentesua paixão, o que passou, oque sofreu este coração jo-vem sob esta armadura.Para se ter uma visão detal ser de exceção que viveumuito tempo antes- de nós,

para visualizar as imagensinanimadas que os textosou ás pedras nos mostra-ram, precisa-se ter ligaçãoem espírito com algumasdisciplinas que não têm ana-logia senão com as dos gran-des m í s t i c o s, como os«Exercícios» de Santo Iná-

cio de Loiola, por exemplo,ou alguns magos indus.

INIMIGA DO ROMANCE

Sim, tratava-se de re-íjjde dentro o que os ar-

«•gos fazem exterior-Empreitada audacio-

[o há dúvida, mas daparece, desincumbi-meitòriamente, medindo,

Mo exato, as dificulda-pretender fazer pensarfrande homem — um

que se tornou umafais completas incarna-ksta palavra tão rica:pnistas» — é ura desi-

que se não atingemto não se viveu pie-

Wpte. Levei anos paraIfuir a distância quep entre meu modelo eFm princípio, saber es-

• depois, tendo recolhi-

•üB-ffyr.".' >>¦ inimwwi»..

— Sua biografia de

Adriano apresenta-se sob a

forma de memórias supôs-tas. Sem abandonar o cami-

nho verdadeiro, este livro

não pertence, todavia, ao

quadro da ciência histórica.Hesita-se em considerá-loum romance histórico. Co-

mo acha que deva ser consi-derado?

Direi francamente quenão gosto de romance, his-

tórico ou não. Se houvesseescrito este livro no século

XVII, teria sido uma tra-

gédia; se fosse no século

XVI* um ensaio. Mas esta-

mos no século do romancee tenho medo de que este

gênero devore todos os ou-tros. Vejo nisto o apanágiode uma época pouco culta.A poesia e o ensaio exigemdo leitor considerável esfôr-

ço intelectual, o romance se-duz pela facilidade, é acessi-vel a quase todos, aos quaisoferece uma evasão cômoda,

que os satisfaz. Vemos re-florir, atualmente, estasdescrições informes e inter-mináveis que tomaram todaa literatura da Idade Média;estas, produções sem artedenotam uma literatura po-pular de ínfima classe. Poroutro lado, gosto muito maisdo ingênuo conto popular oude inspiração oriental como«As mil e uma noites». Oromance só oferece umamistura de realismo e efu-são pessoal que me parecebastante impuro.

PROJETOS

Sua próxima obra será

uma nova descrição dos tem-

pos antigos?Não. Não se recomeça

duas vezes seguidas tama-

nho esforço. Vou publicar,

por Gallimard, uma coleta-

nea de poemas do grego mo-

derno Constantin Kavafis.E depois desta tradu-

ção?Uma peça: «Electre ou

Ia chute des masques».Peça istórica?Não, apesar do título.

A peça poderá ser levada

com encenação antiga ou

moderna. As personagensexprimir-se-ão «un lingua-

gem nodierna."ma tragédia?Sim, uma tragédia da

vingança. Muito violenta.E depois de «Electre»?Penso em dois roman-

ces.!!??Dois romances moder-

nos. Vê-se que o gênero me

interessa. O romance inte-

ressa-me na medida em queresponde a um desejo de

arte, de composição, como

qualquer outro gênero lite-

rário.Como a tragédia clás-

sica?—- Desejá-lo-ia.

A MODA DASCONFERÊNCIAS

muro broca

DE

quando data o cos-lume de se pronun-dar conferências lite-rarlas? "Na época ro-

màntica — diz André Bil-ly (" F i g a r o Litteraire",17-1-953) houve grandes ora-dores e grandes professores,mas nâo conferencistas". Eo escritor francês acha quea conferência teria sido in-tentada por Emile Deschavel,que, refugiado na Bélgicadepois do golpe de 2 de de-lembro, inaugurou o gêneroem Bruxelas. Mas pouco an-tes, em 1870, Ernest Lecouvée Henri Brisson já haviamíeito em sala aberta, em Pa-ris, palestras sobre temas fi-losóficos e sociais. Logo de-pois, marcaram época as"matinées" de Ballandes eas "matinées" do Odeon; en-quanto na Bodinière, na ruade Saint-Lazare, com JulesBois, Victor du Bled, GeorgoVanor, a conferência tomavaum caráter mundano. Maistarde, a criação da "Univer-site des Annales" pôs em mo-da de tal maneira o gênero,que as conferências se mui-tiplicaram por todos os re-cantos, em Paris.

E no Brasil? Sabe-se quea época das conferências, en-tre nós, foi por excelênciaa primeira década do século.Mas antes não existia o cos-tume? Existia. Habituados aimitar em tudo os franceses,adotamos aqui a conferêncialogo após sua implantaçãoem Paris. Na "Gazeta deNotícias" de 29 de agosto de1875 encontramos um folhe-tim, sob a assinatura de Jor-ge d'Odemira, em que estereclama: "Não tivemos ain-da conferências populares,o que tem savido são confe-rências literárias". Isto cin-co anos após a data, a queAndré Billy remonta a inau-guracão do gênero. Mas por-que

'reclama o folhetinista

conferências populares?Muito simples: porque eramde caráter filosófico e socialas primeiras pronunciadasem Paris, segundo nos infor-ma Billy. Compreendemosperfeitamente o protesto,quando logo adiante vemoso folhetinista dizer que aIdéia das conferências foi ade pôr o povo a caminho deresolver os "problemas so-ciais". Do que deviam tratarera sem dúvida, do "aperfei-

çoamento moral do povo eda sua felicidade" E citavaa Franca, a propósito: assimé que íá se fazia. Três anosdepois, no mesmo jornal, en-contramos outro folhetim,em que Amenoff Effendi,evidentemente pseudônimo,num tom humorístico, à mo-da das "Lettres Persanes",simulando um egípcio emexcursão pelo Brasil, obser-va: "Uma das enfermidadesque aqui encontrei, reveladamuitas vezes nor verdadeirosesoasmos. é a Conferência-mania. De repente há umaconvulsão emleotiforme osdiários escrevem verdadeirasloas. entoam hinos, hosanas.os músicos forastPiros esoe-ram ser chamados para ro-bustecer o anlauso. va?an-do-lbes. íá se( vê. e um con-ferencista anarece." Conti-nua Ainenof Effendi dando-nos. p™ resumo, o ouadrocaricatural d° uma dessasconfoT*Ãn°ias. Como vêem. láem 1878 havia ouem consíde-ra^se a rirolilerá^ão do gê-t\pto. enf^e n^s. uma vprrla-tfotrci rn^nía. Presumo no pri-t,rmfn. nn<* pri*T?NriJ!)f»S do fo-lhetfm, uma alusão satíricaès fomows conferências daEscola da Glória, promovi-

das pelo Imperador mas oumenos nessa época e que, na*turaimente, unha contribui-do para criar a moda. A f er-dade e que so na primeiradécada do século, a modaressurgiu com muito maiorintensidade.

No livro de memórias "Mi-nha Vida" (2.° volume), Me-deiros de Albuquerque diater sido êle quem, ao regre»-sar de Paris, em 1906, lança-ra no Rio de Janeiro as con-íerências remuneradas, inte-ressando nelas Bilac e Coe-lho Neto. Deve haver equivo-co na data, ou esse gênerode espetáculo lá estava aquiem voga, antes da iniciativade Medeiros: pois no "Memo-rial do Rio de Janeiro", Fer-reira da Rosa, reportando-sea

'lornais da época, alude àa"conferências literárias" doInstituto Nacional de Músi-ca, a dois mil réis a entrada,em 1905. "Enchia-se o recin-to de senhoras e de homena— escreve êle — para ouvirCoelho Neto sobre "as gran-des figuras da Bíblia"; Bilac,sobre a "tristeza dos nossospoetas"; Bonfim sobre o d-nema; Nepomuceno sobre "amúsica popular desta terra";Medeiros e Albuquerque sô-bre o "pé e a mão" De aual-quer forma, é certo que osucesso extraordinário des-sas conferências fez com quese tornassem — na própriaexpressão de Medeiros e Al-buquerque — "uma epidemiainsuportável". A mania se foialastrando de tal modo quechegou a invadir os seto-res extra-literários: anuncia-vam-se palestras sobre osassuntos mais arrevezados eextravagantes.

Mas é preciso considerarque a moda, apesar daquiloque podemos chamar a suaperversão, +rouxe certas van-tagens, concorrendo oara ouefossem escritos ateuns dosbons livros da literatura bra-sileira. O orimeiro estudo deconiunto da obra de Macha-do de Assis daí provém: re-sultou das palestras oronun-ciadas por Alfredo Pujol naSocí°dade Cultura Artísticade São Paulo. Também aliAfonso Arinos realizou umcurso sôbró lendas e tradl-ções do Brasil, transformadoem livro. E a conferência deGilberto Amado, no salão do"Jornal do Comércio", no Rio,sobre o tema "A Chave deSalomão", legou-nos uma daspásrinas mais notáveis denossas letras. Geralmente,porém, o que prevalecia eramdivagacões superficiais depura forma, floreios litera-rios inconseqüentes, realça-dos com freqüência pelo iô-go cromâtico das antíteses.Basta ver os temas: "Aágua", "O fogo", "O espe-lho", "A dança", "A tenta-ção", "A noite e o dia".

Medeiros e Albuquerqueprocura justificar a sunerfi-cialidade em oue incorria amaior parte dos conferencis-tas. pelo Dúbüco extrema-mente misturado a oue elesdeviam satisfazer "As salasse enchiam, sobretudo de se-nnoras e mòcmhas muitogentis, muito encantadoras,mas sem. por isso m^smo,preoçunacão li+práriá de es-peoiM ííiTurm. T'nham vindoà cir^e pí?p=,o"r ou fazercompras, e aorovpltavam aO(»oc*5o no-n ir o^^r à con-fprpn"5a do dia. Mas a essasgpnno-»'r,<! s° *VintavaTr] ™°di-co<? j3^v->"fr,r1^s. eng^nh0lTOS

fia lofrnç T-T^irín tfp tnf?C SS

p0j.fr,^*-r> a nrnf^fn^st.a ele-

(Conclui na 10.» Pàg.)

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Págin* —— 8 LETRAS » XRTRS Terça feira, 1-6-1954 #t

O

livro de contos de Sul-duniin lunim traz acon.i.maçuo Ut seustalentos .t.àr.i.ios e

revela-nos de novo u sunsi-buiüade üc um escritor uie-gunte, dono de um mstru-mento a nado. uo quai nuoíaitam notas sensíveis pa-ra a Doa musica de camora,para essa musica de entre-ton e de surüm.1. O própriotitulo, breve e conciso, de-nuncla a atmosfera do livro:"O Patlo", mas nâo um pátiode mistério, onde seres es-tranhos e cruzam nu d.spu-ta de uma proteção clandes-tina e perigosa, nem o pátiodas miséria e dos desgraça-dos. "O Pátio", de SaldanhaCoelho, è uma confluênciade seres leves, de sentimen-tos apei as confessados, pos-nii disc t.as paredes brancase néie oe fala alto É um pá-tic de casa bem organizada,antiga, onde a vida é conta-da sob forma de histrias bre-ves, que a exibem sem crue-za. límpida, como talvez gos-tássemos que ela sempre fôs-se.

"O PÁTIO"» •¦ »*»•

A publicação desse livro, ea importância indisfarçaveldo seu autor —- cuja inteli-gência tanto prezo e cuja

personalidade me parece en-rlquec.ua por- uma evidentemarca de civilização — su-gere comparações, que outrosja tentaram fazer, entre asduas gerações mais atuantesna vida literária brasileira:aquela que está entre os 40e os 50 anos e a outra, mal:»jovem na cronologia, a queentra nessa grande época daIncorporação animlca quesão os 30 anos.

No sociedade brasileira éem torno dos 30 anos 3 asconfissões t i inteligência setornam mais evidentes. Sa-mos um país de espíritos pre-cocemente acordados para ivida. Quase todos os nossosescritores e poetas confes-sam aos 30 anos a sua fisio-nemia e já oferecem porçõesválidas da sua mensagemdessa geração que SaldanhaCoelho tão expressivamenterepresenta. Por isso mesmoque só agora os que a con-

DANTE COSTA

auzem realizam as suasobras expressivas ainda naoesta ela totulmente configu-rada, nem concluído o dese-nho que lhe há de refletira forma. Certos sinais têmdeixado supor que a novageração atual não revelouainda a sua verdadeira face,já que não nos tem ofereci-do em suas experiências agrande vinculação à vida dotempo, vinculação que é osinal da penetração de umageração no seu espaço físicoe no espirito da sua época.É o desejo de objetividadeque caracteriza o nosso tem-po e não o encontramos namaioria dos mais jovens es-crltores brasileiros. Em vãoneles procuramos o sinal dossofrimentos dramáticos queandam na vida quotidianado mundo. Não se diga queo espetáculo do mundo atual,a vida que todos vivemos,só possa ser confessada em

termos de sofrimento ou nascores dramáticas que o for-talecem. Há lambem a visãoiluminada e forte dos queVêem nos acontecimentos decada dia a marca de trana-formações, de renovações, epara tais fenômenos o cora-ção de cada homem Jovemguarda sempre um pouco deansiedade, que e o sinal daesperança. Esperança que éo alimento da alegria.

Não ha nesses contos bemfeitos do "O Pátio" nem dft-res multo profundas, nemalegrias vivamente confessa-das, nem paixões que nos li-guem na solidariedade daÜôr, como se o espirito doautor dominasse pela inte-ligêncla o mundo das emo-ções e o domasse como umensaísta lúcido, não desejo-so de revelar senão aquiloque a Inteligência permitisse.No "O Pátio" a Inteligênciaestá isolada, o mundo está

lá fora com seus apelos, «^quanto a aunosiera ali é ms.di da entre limitações **>luntariamente armadas.

Tão seguro talento, como© de Saldanha Coelho, en-contrara, por certo, o canil-nho da outra margem. A ko-ração que tem os seus 40 •50 anos é hoje ainda Aparadoxalmente, a geraçãomais jovem. _ uma íncon*gruéncla. Mas certos aapec-tos da temática dêste livrojá revelam, contudo, um in-terêsse de participação navida que o tempo fará florirem quadros ainda mais veri-dicos e dotados de fremên-cia. Não ha juventude semírêmito. A nova geração pre-cisa ficar mais jovem, per-doem que lhes diga, pois es-crltores da categoria de umSaldanha Coelho, com talen-to criador, graça literária ecultura, nâo poderão cont!-nuar entre paredes de umpátio onde o reflexo da vidachega na luz de cada dia,para o que o escritor com-passivo o recolha e reprodu-za. _ a própria vida, e nãoseus reflexos, que fazem apê-Io aos espíritos dotados deverdadeira força criadora,como êse limpo e luminosoSaldanha Coelha

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em 1948 vivemos a fasedas revistas literárias,com cerca de quarentapublicações particulares

circulando em todo o Bea-sil, hoje podemos dizer queatravessamos a época dosprêmios literários. Não cons-tãtui mais surpresa a noti-cia de que se criaram novosprêmios, no Rio ou noutroqualquer Estado. Tornuu-secomum seu aparecimento,atendendo aos diversos gê-neros da literatura, estimu-lando de uma forma ou deoutra novos e velhos escrito-res. Homens ricos perderaamor a alguns milhares decruzeiros e, por filantropis-mo ou por estarem interessa-dos na espontânea e simpa-tica publicidade que essasiniciativas suscitam, patro-cinam concursos que man-tém seus nomes em foco du-rante certo tempo, na im-prensa e na memória dosconcorrentes.

João Conde, submetendo-se a incomoda condição depedinte, exclusivamente peiasua grande ternura com ascoisas literárias, conseguebons prêmios de banqueirose políticos, num esforço que

(Conclusão da 5.â página)culo, um pão. Se o cavalhei-ro se revolta contra *'0 Ho-mem", que achou no pão,por que não brada contra ahóstia, por exemplo, quetambém contém, em subs-tância, um Homem? Saiba oamigo e saibam quantos aquiae acham que êste "Homem",que aqui está, é um dos tiposmais perfeitos da criação.800 páginas, edição Garnier,e aparecerá depois de ama-nhã. Tenho dito. — E, tran-quilamente, tornou para amesa que ocupava, ao fundodo café.

A gargalhada explodiu eO ruivo teve o bom senso denela entrar, guardando o pa-peluchò no bolso do colete,como lembrança da pilhéria.

E nesse dia, na rua do Ou-Vidor, e, à noite, nos teatros.o Homem do pão foi o assun-to das palestras alegres

"Quem não fizer assim es-tá perdido", dizia Aluisio.Sem rufo, é escusado: nãohá autor que vença. Eu aindaacabo com uma carroemnacomo o homem dos abacaxise das melancias, corr?ndo es-sas ruas com cs meus ro-mances, apreço .in do -cs aosberros. Imaginação, estiloIsto que monta9! O nue vateé o anúncio. Quedem-se osautores em silêncio e, porBiais elenuenre oue seia aobra, por mais oue n?la searf-TO0'*? a f^tr^i, f*c°râ en-calhada no fundo da livraria

OS PRÊMIOS MUNICI-PAIS DE LITERATURA

bem podemos avaliar. Em S.Paulo D. Carmem Dolorescriou novas laureas no seusalão de intelectuais. Minas,Estado do Rio, por intermé-cio do mensario de literatu-ra Letras Fluminenses, Per-nambuco, Pará e outros Es-tados têm todos concursos deficção ou poesia.

A êstes, de particulares,poderíamos acrescentar ou-tros de instituições oficiais,lembrando ainda os que fo-ram criados pela Câmara dosDeputados, sob inspiração deOswaldo Orico e Jorge La-cerda, cuja atividade em fa-vor do nosso desenvolvimen-to cultural continua sendocomo que um prolongamen:ode seu trabalho de fundadord^ste Letras e Artes, de tan-ta utilidade para o estímulode nossa literatura periódi-ca. Mas os maiores prêmios,

SALDANHA COELHO

sem dúvida, e que pelas suasnormas têm particular im-portância, são os que agoraserão dados todo ano a ro-mancistas, contistas, poetas,críticos, cronistas, historia-dores, biógrafos, etc, peloGoverno da cidade.

R. Magalhães Júnior aca-ba de ver concretizada umainiciativa sua, com a conver-são em lei, por ato do Sr.prefeito do Distrito Federai,do projeto 701, criando cincoprêmios de literatura de cin-quenta mil cruzeiros cadaum, além de outros para ru-portagens e literatura infan-til. Salienta ainda OttoSchneider, no seu comenta-rio sobre o fato, que a idéiade R. Magalhães Júnior teveaprovação unânime de todasas comissões da Câmara Mu-nicipal, o que revela, semdúvida, que pelo menos no

exame de um problema decultura o plenário de verea-dores deixou de lado a poli-tica e soube aplaudir, coeso,o importante empreendimen-to do consagrado teatrologobrasileiro. Isto é um bomsinal, nestas vésperas de elei-ção em que alguns parla-mentares procuram inven-tar realizações de última ho-ra para apresentá-las aosseus possíveis eleitores de ou-tubro próximo, como justi-ficativas do mandato inútilque acabam de exercer nasdiversas Casas do Parlamen-to. Neste caso dos prêmiosliterários o Interesse políti-co oportunista não prejudi-cou, felizmente, a marcha doprojeto de R. Magahlães Jú-nior, visando a subtrair-lheparte de um mérito que deveser exclusivamente seu, e oqual não se pode deixar de

Curiosa crônica de Coelho Neto sobre "O Homem"até que seja vendida a pêso^como papel de embrulho.

A obra...! E êle, o grandeautor?! Desde que a mortelhe cerrou os lábios, o seunome, um dos mais glorio-sos das nossas letras, comoque caiu no olvido, com o

corpo agasafliado, por mlse-ricórdia, numa sepultura deempréstimo, em terra alheia.De quando em quando umavoz, aqui, ali, reclama a re-liquia, mas surge sempre umempêço ao repatriamento so-licitado.

15 os anos correm e cadavez se vai tornando mais in-grato o esquecimento, aba-fadouro pior que a terra quese acumula sobre os cadáve-res.

Virá éle desta vez? Espe-remos. O Brasil não pode

Artofod^aÂR^LMnDERNA -,*.*1 abert(l' m MnMért* ** Educação, o Salão de

?l!LMoíerna ?e í904- ° Q™ ^ractenza o certame dêste ano é o fato de todos os trabalhos™fl» Xf«. ífJÍ?? C75 branco4.ePret0' Wfl» *inal de protesto pela impossibilidade, emoue se vem os artistas, de usar tintas estrangeiras, a* únicas que -servem para os finsartMiCos. Dentre os expositores, destacamos o jovem desenhista e pintor Rossini Q Perez.do qual e a xilo-Unogravurçt que damos acima.

*v*>im v. rerez,

exaltar da maneira mais en-tuj-iastica e sincera.

Os prêmios agora instl-tuidos para obras literáriassão o Prêmio de RomanceManuel Antônio de Almeida,Prêmio de Contos e Cróni-cas Machado de Assis, Prê-mio de Poesia Olavo Bilac,Prêmio de Critica e EnsaioCarlos de Laet e Prêmio deHiHstória e Biografia Barãodo Rio Branco. Êstes patro-nos, como e fácil de ver-se,são todos nomes em evidên-cia na nossa história cultu-ral, e merecem, com justiça,esta homenagem que lhesprestou R, Magalhães Jú-nior.

A tarefa do escritor-verea*dor está terminada, com êxi-to e digna de todos os aplau-sos. Resta agora esperarmospela organização da primei-ra comissão julgadora, queé incumbência do prefeito doDistrito Federal. Se o seucritério seletivo atender in-terêsses políticos tudo teráido por água abaixo, mas sese tiver como objetivo ape-nas o desejo de fazer-se umacomissão idônea, aí entãoteremos a cada ano um ver-

dadeiro motivo de Júbilo.

deixar no exílio os despojossagrados daquele que tanto oglorificou."On pourrait faire 1'histoirede rhumanité à 1'aide destombeaux", diz Viollet-Leduc

Nós, por tal processo, nema nossa própria história po-deríamos construir, tantassão as páginas que há pelomundo esparsas: Aluisio,Raimundo, Guimarães Pas-sos, Pedro de Alcântara...Enfim... O que nos vale éque temos patriotismo p'ra..<*

17 de julho de 1919.

0 HOMEM SOLTO NO AB(Conchis&o da 4.' Pá?.)

deles possuir sua própriapersonalidade inconfundívelNuma orquestra perfeita, to*dos os instrumentos podemser destacados pelo seu sompeculiar, aumentando comisso a beleza do conjunto.Nos, que estamos marcadospelo ruído confuso das çran-des cidades, costumamosmisturar os sons de nossosinstrumentos, ou quebrar oritmo da orquestra, tocandopropositadamente fora dotom A música da terraquando chega aos nossos ou»vidos, já vem deformada;mas, se soubermos onde nas-ceu a melodia, lá iremos bus»cá-la quando noS fizer fa!»ta. Por isso aqueles que lhederam vida, não devem per»mitir que pereça. Nada hámais belo do que a melodiade nm povo que forma a su»consciência.

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-uer. simples COWWI ou obctacL uoi*w-P»l*vra- ü0 qua*« e<ft"tuuuo.se em otano brooxe. li-«Juraria» a* rece.nu de coutoLuduxuintüte preparar «uaiJ^ecUVM «-pecaliüaue» culi-

forque o derradeiro resumoao poinotismo, segundo 'Mes-

,w uasier', o a"«? »u»ca da de•i nem ^ desmente, e o susta-tivo. i».iutal. de mesa e sobre-mesa. N°»«> na0 sera ° pclr0*|P0 tanto assim*, nosso» bem,nossos sao o doce-de-lclte e odesfiado de carne-seca Meu —

peràoem-nc - « aM"elc pratopiii.eirc» verdadeiramente prin-ripai' guisado de írango coraouaõo* e aoobura-dagua ("ad•üi.uum- o jiloi e angu. prataeiu aquarela, deslizando viscosoeomo » vida mt-sma, mas pin-gi.nte dr pimenta.

b o> doce* Mas o» doces. A«rente. *» de calda, que nãoconvém deixem dr ser um or-guHio propnu e um do» peque-pinos suostratos do Dem-que-re, a paina é do nao desen-tender a nação.

Amo-os. por ele» combato —jim. sem morrer: mas deles naohavendo, tudo perdia a graça.Desanimo, quando verifico eo-mo nas capitais eles recuampresença, expulsos por catervaàt estrangeiros doces semi-do-cc&. destemperados boloides etorus. traiçoeiro material deinvasão. Suspira-se, ah, sus,pelos consistentes antigos Uo-ees de frutas, úmidos ou secos,tom carinbo candiiados, crista-Unidos ao sol e fulgtdos soo ocascalhozinho translúr»do doaçúcar, vario» nas cores, comomacias preciosidades.

Que desgosto ver o 'opulentodoce de calda, sacanssimo. pre-«ítie de especiarias, mandadoembora por ralas californianascompotas. maduras enganado-ras, chocas — alienígenas... Eé mesmo um rebaixamento.

Porque a compota européia,originariamente. não passou demero recurso para conservarum mais ou menos de fruta nosmeses de Inverno; e conservacriada por povos mal-entendi-dos no prazer de comer, habi-tantes de países pobres em açú-ear.

Ao passo que a nossa é umInvento imponente. Invernoverdadeiro nâo temos e frutanunca falta, ora uma, ora on-tra. desses pedaços de sol en-tre a folhagem. Nem açúcarnão faltou, a rapadura, o me!nas tachas. Tampouco faltouarte: descobriu-se utilizar ma-

OS DOCES

téria-prfma Independente — afruta verde ou de-vez, de ou-tro modo uao comestível, a cas-ra da laranja e do limão, e dalaranja-da-terra, não esculen*ta; assim como até os pes debnl para a geléla de mocotó seImaginaram, golpe de inspira-

J. GUIMARÃES ROSA

•(fio com que um anônimo fur-tou a ambrosia olímpica. Arte,e alta, chsc amadurecimentodiferente: açúcar era ponto de:ol. gloria do gõstn do homem.E essa é que o vindo de foracomeça a tirar-nos, relesmentc.

Tenho vontade de um dia,

se Deus deixar, cotripor o Amoru.su Tratado dos Doces dc Cal-da, como devem honestamenteser e como os refiro: lentos,lentamente redormindo em cta-pas, desde o acendramento. mi-nucloso da fruta ou sua tenuis-situa e só epidérmica descasca,

BIOGRAFIA DE LOBATO•> *¦

PARECE-NOS que a con-

quisia estética é reuii-zada quando o artistaatinge a exata tmygem

do homem Essa assertivavem-nos á mente após nos-sas últimas leituras sobreensaistíca em geral e bio-grafias em particular

Monteiro Lobato, um dosmais discutidos escritorespaulistas^ caráter exiraurdi-nario num tempo escasso emdecência e dignidade, verda-deiro arquétipo de lutadorinfatigável, merece sem dú-vida reconhecimento e admi-ração pelas suas lutas, nemsempre coroadas de êxito.Quase um solitário, vivendonum ambiente reacionáriopor excelência, apesar disso,seu excepciona) Idealismo dehomem sofredor e inadequa-do ao meio corruptor, sobre-viveu acima das contingên-cias decadentes da época Ohomem Lobato é tanto oumai.c interessante que o es-critor. Sua vida pitoresca, in-teressantíssima, traz em sia multiplicidade da dos gran-des homens. Seu nome, por-tanto, constitue um símbolode justiça,

O escritor infantil JorgeRizzini, fiel discípulo do cm-preendedor Lobato, enviou-nos seu trabalho a respeitodo pai de "Jeca Tatu" Tra-ta-se de uma biografia des-tinada à Juventude e à in-f anda. E como tudo na vidanão é definitivo, como aliáso próprio autor de "Históriade Monteiro Lobato" <1) as-severa, não disse tudo sô-bre o assunto. As impressõesque nos deixa são as maisdiversas. O autor demonstra

A. R. PAULA LEITE /

qualidades e defeitos, cons-tam.es e comuns a todos nos,toaavia, Je uma maneira ge-ral. o olemento substancia]não convence, pois Lhe faltacerta originalidade

Vamos inicialmente enu-merai as qualidades do bio-graío de Loüato Escreve demaneira clara, simples econcisa. Nâo irrita o leitor,mesmo os adultos: transmi-te-lhe de modo agradável,toda a sua veneração pelobiografado. Seu livro lê-serapidamente. Essas em ligei-ras anotações, superpostas noplano dionisíaco, as qualida-des do autor. Agora, as fa-lhas. apresentadas nos doisplanos: o essencial e apoli-neo, isto é, no prisma formal.Parece-nos que J Rizzinl es-creveu um pouco às pressas,pois náo se justificam os gra-ves. senões proporcionados,numa demonstração de des-conhecimento dá regênciados verbos pronominais.Também a sintaxe é despre-zada, na ânsia de produzir àlarga Tratando-se ae umaobra destinada à infância eà juventude, é lamentávellacuna pedagógica e anti-didática o incentivo diretode vícios, como é o caso dês-te trecho: "Monteiro Lobatoacendeu um novo cigarrocom seu belíssimo isqueiro deprata, tirou uma baforada,guardou o isqueiro." etc. Co-meteu outros exageros aoconsiderar o autor de "Uru-pês** o maior escritor infan-til do mundo. E Grimm, An-dersen? Monteiro Lobato foium estilista, raro patriota,criador de nossa literaturaInfantil; entretanto, dai aindigitá-lo maior escritor in-

zcuivu que o mundo jamaisviu, há muito terreno! u queatenua o mérito de J. Rizzi-ni e justamente êsse tomlaudatóno, prejudicial mes-mo em volumes' destinadosà infância e a adolescência

Outras hipérboles verifi-cam-se no abuso das inter-jeições- e na falta de origina-lidade do autor; embura ofe-reça uma narrativa muitasvezes interessante, atribuin-do as frases com aspas aopróprio Lobato, isto è, fa-zendo com que conte suavida aos meninos. Êste, queteve a felicidade rara 4e serelogiado pelo grande Ruy,está sendo traduzido em vá-rios países, como já o foi naAlemanha por Fred Sommer,na França por Duriau e naSíria por E. Kouri. Sua ad-miração pelo pioneiro da in-dústria do livro no Brasil, étamanha, que chega a imita-Io. Assim é que os persona-gens de "Carlitos e os ho-mens da caverna", trabalhoinfantil de J. Rizzini, são to-dos lobatianos, pois o autornão consegue, por um fenô-meno de osmose, não obstan-te sua comprovada habilida-de, evadir-se ao influxo da"intelequida" daquele sar-casta cético que, próximo dotrespasse, talvez pressentin-do a presença invisível damagra, dizia: "Não sei se amorte é um ponto final umavírgula, ou uma interroga-ção."

(1) "História de Monteiro Lo-bato" — Editora Piratinin-ga — com capa de .1 Cortese ilustrações de Elsie Du-bugras.

e através de *ucrfcMi*ae fwvan»laçoes, com Irarihferecick ueáguas, ate a apoteose do eoterna calda, espcinema, espma,orientai na profuso dc cane-l.is e QfaVOti t) — COUdiV&O l»rr-ciitua — num prisco tacho docoore, que Venus preza, a rimde que o colorido final seja iu*zenie e profundo; e, abida. &lei uc virtudes que operam uomistério, tudo mexido, se pus-sivci, por uma preta, venerav«elamiga.

berfto muitos, todos com c»-ráter, prcndadaiuente. Mas, sabem que o apreço va nãu me-nor a tantos outro* — tais onobre ba:*uri, de ro.^as, cera omel, sabor de colmei» e conda»ou o caju, teve gosto de moto oópio cm sua pálida carne ru-gada, ou a manga, em esquivaitalhadas, seiva de ardentes re*sinas — deverei principiar pe-los mais meus, mineiros, dacasa."O de figos'1 — denso, trivialmas nâo banal, e que o rctiuei-jáo prefere. "O de laranjas"— lauto, polpudo, alargado oa que se atribui até "simpatia*'benéfica, em assuntos de ui-nheiro. "O de cídra" — defec-tivo. pois somente o. ralado,verdim, é que esplende e aprascom pura classe. "O de ma-mão'* — verde vidrado, discre-to, e que até aos dentes que omordem transmite um agrado-confortável. "O de pêssego'*crioulo — subsevero, vegetal,boiante no açucarado. E "o de*limão", limãozinho — príncipede todos — em lisos cascos,pequenas ocas cintilantes caio-tas, doce de preparo difícil,pois o mínimo chôfre de ar,com a calda quente, endurece-ocomo um couro; mas que, pro-vado perfeito, sugere festa-no-céu e novas mitologias. E ~ode mangaba" que é o su*mo. o rei: nenhum melhor,nem mais belo, sublime até pa-ra se ouvir como os doces ver*des globos elásticos se dão sobo garfo, num tom de plôo, dopluco, de desabotôo. Alas, oo-te-se. o autêntico doce de man-gabas de-vez, mal querendo co»meçar a amadurecer; e traba-lhado à antiga, mineiramente,chinesamente, perfuradas aafrutas, dias, dias, com ativoapalitos, no afinco de retirar*lhes todo o visco borrachento»

Enfim, evite-se o enjôo. Be*bamos o ritual copo d'água.Enquanto confesso que foi mes*mo pelo dito, o Tratado Amo*roso em projeto, que aqui vim»dando a que algum leitor cleri-go no assunto me envie notas»segredos de fabrico, variaçõesde sua alheia experiência; 'ouamostras; ou mesmo simpiralíricas divagaçóe*

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SÓLIDA ARQUITETURA VEÔETAi;QUE ABRIGA DE PLUAAASCS VIAJANTES ALADOS,COM BRAÇOS GIGANTESCOS

•ATIRADOS NA BRUMA.QUE, COMO INCENSO,DE MACIÇO TUR1BULO,AS ALTURAS GANHA:É QUANDO AS FOLHAS LUZIDIAS,LÂMINAS SUMI NAS SUTIS,A DENSA AAASSA RASGAM.

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Vinheta de SANTA ROSA

JÁ, DE NÉVOA.A CATEDRAL DE VERD IRA SE ENCOBREi AS SIBILANTES N0T7 (RETORNAM LENTAMEN1 *¦ A MEDO,AO PEITO DOS MINÚSCU OS CANTORESALGUNS RAIOS ERRANTES DE SOL»OU MÍNIMA FULGÊNCIA,TÍMIDOS. PENETRAMNO MUNDO FUMARENlO;^ NO ESCASSO RASTRO DE LU*,A MULTIDÃO DE INSETOS DANÇA^j

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UMBERTO COGNAC

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Página — 10«w»¦¦ ii .min» ——i .1 mMmWsmtmWsWSmmlSmmWÊSmmWfâ

(< ..nriuBão d* I.* página)mencionado Toixoira d» Melo*Gentil Braga. Trajano Galvão.Celestino Gomes, Quirino dosSantos — cada um exigindoprocesso de revisão especial.Nada, porém, fustiiica a oxclu-•ào de Carlos Ferreira do meiodos chamados "grandes roman»ticos*. Sua obra 6 vasta e defácil acesso: "Alciones", "Rosailoucas**, "Redivivas", Plumas aovento" E* tambóm responsávelpelo pior livro de poosia quonos deu o romantismo: Cânti-cos fuvenis". vordadoira carica-tura. com a só escusa da ton-fa idada do sou autor.

Como a do sou laureado aml-go. a obra do Carlos Forroiraregorgita de cisnes • lagosatuiu

JNevado cisne sobre um la-\ [go azul.

t"Canto do ei ano*1888, ROSAS)

CantomosI sobre o lago[azul da vida

1 o verso que abre, execlama-Üvamonte, "Vozes da mocida-de" (1870), também nas "Rosasloucas".

Nos "Alciones" (1872). imitou"Le poete mourant" de Lamar-tine. Não seria bem imitação.como quer o nosso romântico:mais uma tradução livre. Qua-tro veros, pelo menos* aparecea ave idália no "Poeta mori-bundo"**\ "A morte é o branco eis-

[ne que me inspira...TE' da morte ao raiar que

[o cisne canta..."Eia.cisne do céul tens[uma lira..."O cisne é puro e alvo...

[o mar é azul..c¦*' Será desnecessário dizer queBenhum desses cisnes possuiparentesco chegado com os do"Poete mourant" das "Premió-ne» méditatlons*. Dai, talvez, aprudência em dizer "imitado",•m vez de "traduzido".

Nas "Plumas ao vento* da«das a lume em 1908, ainda lo-*brigamos "cisnes vogando dalagoa à tona", isto num poema

1 A MODA DAS GONFE-RÊNGIAS

EY Terça-feira/ mA outra história dos "Cisnes" de Salusse

4(Conclusão da 7.» pAfr.)

fasse o nível de sua palestra,a grande maioria da sala náoo compreenderia. Dai a ne-cessidade de satisfazer prin-clpalmente a parte fútil, sementretanto deixar de dar ai-guma satisfação à outra".Numa palavra: as conferên-cias eram pagas, tornava-senecessário agradar a fregue-sia.

Mas o êxito do gênero re-«ultou mesmo do seu carátermundano. Tratava-se de umareunião social, onde as mu-Hieres, geralmente, iam como espirito com que se vai aochá-daçante, e os homensacorriam, em parte, para veras mulheres. Além de que,uma circunstância impor-tantissima pesava no caso:em Paris se fazia assim, êsseera chique em Paris

O Instituto Nacional cieMúsica tornou-se a nossa"Unlversité des Annales".Quanto aos escritores, ineli-navam-se para o gênero, nãosomente pelo lucro financei-ro, como porque nessa épo-ca, em que o sensacionalis-mo começava a se implantarem nossas letras e ainda nãose dispunha do sistema depropaganda literária de ho-Je, pronunciar uma conferên-cia constituía um dos melho-res meios de dar na vLstã7~cTê~chamar a atenção para aprópria pessoa, fazer a pró-pria reclame enfim.

Segundo Medeiros e Albu-querque, Bilac foi o mais po-pular dos intérpretes dessecurioso espetáculo mundano,"'Tinha a voz muito bem tim-brada. Lia e d>zia de um mo-do perfeito" E a julgar peloque as conferências rendiam,êle, Medeiros, seria o 2.° eo-locado, vindo denois CoelhoNeto. aquele, "cuia forma seSoostrava mais perfeita, mascuia linguagem nor isso mes-mo. não era acessível a mui-ta gente".

dotado de "Campinas* 1890",alusivo a idade do* troit anos*que * —

flor que dosabrochaDa madrugada ao festiva!

(clarão,O mar tranqüilo, o cóu to**

*? [do bonança...•, ,.', rCriflálida")

O cisne continuava ligadopor vínculos indissolúveis áconcopção do uma vida piáci-da> num n.ar. numa lagoa, numlago sorono, quioto, manso,tranqüilo, mas sobretudo azuLRaras vozos se tomorá o emoa-ço do rodomoinho, como naimagom de Campos Carvalho("Araboscos", fantasias. R i o,1871): "Como cisnes que brin-cam no rodomoinho do lago"A prosa _ãu podia subtrair-soao "topos".

Nin.juém viu jamais, hones-tamonte, o parnasiano em LuisMurat Se íoi parnasiano algu-mas vezes, êle o foi na medidaque seu hugoanismo oxaltadoo permitia (e Hugo, todo3 o sa-bomos. deu de beber águas vi-' vas a parnasianos e simbolis-tas). Dessarte. a explicaçãoque Oto Maria Carpeaux, na"Pequena bibliografia crítica",nos fornece para o ocaso donome de Murat é,demais de es-caminha, arbitrária. No prefá-cio às poesias escolhidas, opoeta das "Ondas" investiuírontalmente a cidadela parna-siana. Quando estudou FélixPacheco, seu estudo cingiu-sea um ataque aos simbolistas o,de guisa mais direta, a Crus• Sousa. Não suspeitava Muratque também êle era um simbo-lista, a partir de seu estípiteromântico. Muitos dos nossosdevotos do Símbolo se desse-dentaram no elegíaco de "Sa-ra", cujo vocabulário pouco di-fere daquele que Andrade Mu*»ricv recolheu no "Panorama*.Poeta desigualíssimo, cai LuísMurat, do mais alto arrojo me-tafórico, no mais subliteráriolugar-comum. Qualquer análi-se superficial de sua poesia sórespingará nulidades. Nenhumautor brasileiro requer, talvez.mais paciência do que êle pa-ira se chegar a conclusões fa-voráveis. A verdade, no entan-to, é que Luís Murat valo a'pe-na do esforço. t

Ficarei no primeiro volumodas "Ondas", saído em 1890.Para Castro Alves, a alma era"um cisne de douradas plu-mas" e o seio da amante "umlago virgem". Em "O chalèzi-nho" (1888), retomará Luís Mu-srat o duplo metaforismo: i

Seu coração me parecia um* [lago

Onde boiavam cisnes en-[cantados...

O "cisne adormecido ao lo-VO*i dt Adam Mlckiewics, • as"garças do amor", o "ninho dscisne & flor das águas* doamor primeiro, de Teixeira d*Meloi voltarão em '_ * "»**mundo" (1889)t

E o amor? Sim, qua há do[ser do amor piedoso • casto»

— Cisne que adormeceu(sobro um lago sereno?

MAIS DUAS PALAVRASProcurol soguir ató agora

uma linha quo pudosse condu-zir, sem muitos liguezugues*aos "Cisnes" de Salusse. Nãoprotondo onvorodat agora po-los parnasianos e simbolistas.de onde acaso, se retirariamboas lingadas de oxomplos. Aobra que conheço do íulio Sa-lusse (talvoz monos da metade)é um meio-tom de romantis-mo. parnasianismo • simbolis-mo.

Os simbolistas. herdeirosmais diretos dos românticos,mantiveram de certa forma oprestigio do cisne. Alphonsusde Guimaraens dedicou belis-simo poema aos cisnes bran-cos. Nas "Músicas" (1888), Eral-liano Pemetta, ainda não dotodo neielibata, utilizará a ri-ma "tisne-cisne" • manteráacesa a lamparina do "topos"*,

Sem que ela ao menos le**[vemente tisne

A alma tua que nunca foi[escrava!

Passa a vida como am[branco císn©

Por sobre um lago!A matriz continuava intacta.

Dois anos depois, nos "Versosdiversos" (Fortaleza, 1890), An-tonio Salles comparava a ama»da a um "cisne

gentil, da corda neve", sob cujos pés o soloparecia "um

quieto lago"»

, Ia o vinha; • seu passo era[tão leve,

$ Tão garboso o subtíL aé-[reo o vago*i Como se o solo fosse um

[quieto lago.E ola um cisne gentil, da

rcôr da neve.("Ao luar")

Na edição definitiva de suaspoesias (Garnier. Rio, 1902), opoeta das "Águas

passadas"repudiaria o poema "Ao luar*de 1880. Incluiria um outro, doigual título, mas bem diferen-te. Conservaria, porém, cr com-posição "Na avenida", de lai-vos simbolistas:

Boiam cisnes indolentesPor sobre as águas algen-

[tes,—- Majestosos como as Fa-[das

Das baladas...• **

Wo entanto., essa estrofe, aopassar pelo crivo parnasiano,

aproximou-se ainda mala dbloca rom_óticos

Bolam cisnes IndolentesSobro a» águas transpa*

[rentes,m Donairosos como as Fa-

[dasDom baladas...

Vomos ai pela primeira vex,nesta sério de reiorúncias. ocisne, como o ciuno, o cienocomo o vira Sully Prud'hora-mo. E mais: em voz do cm*proatar sua .oalidado a en-tidados abstratas, a irroalidadeé que lho iornoco olorriontos

. motaiórcos: o cisne é compara-do às fadas... Essa visão dire-ta do cisne rarissima no ro-mantismo. ó bem a indicaçãode novos rumos na imaginica.determinados pela mudança tu--dical do "modus vivendi".

Só uma vez anotei, na poe*sia romântica, essa visão dire-ta do cisne como animal vi-?ente. Êsso caso. que de pro-pósito deixei para o fim, rom-pendo ombora a cronologiaadotada no trabalho, é o doSousándrade nos "Fragmentosdo mar" ("Harpas selvagens".Rio, 1857; Nova Iorque, 1872.•dição refundida):

Manso casal ds cisnes vai[cortandoSobro • marmóreo lago á,

[luz da tardoTão docemente iguais, tão[longos sulcos!

A Deus ou peço a vida des-[tas aves,

Doce feliz esposa o flor co-[leste

Assim levando aos céus*[nossa existência.

—so que os demais romanti*>cos enbanjaram oceanos dotropos para exprimir, disse-aJoaquim Sousa -Andrade com amaior singeloza. O exemplacresce de interesse quando sosabe que o trecho está datadodo Paris, onde realmente sopodiam vêr cisnes em lagos.Não se pode falar ai em con-cepção de vida, porque ó umdeseja formulado da maneiramais clara possiveL Não há ro-lação metafórica entre a avo• o poeta, não há nem mesmocomparação: é uma descriçãorealista, na qual palavra ai-guma sofre translação. Na jácitada lira de Gonzaga só naaparência há essa visão não-metafórica: na superioridade dagraça e do garbo de Maríüa otropo é nitidamente caracteri-zado.

Não sei se o pedido de Sou-sôndrade foi atendido. Mas osoneto de Júlio Salusse narra ahistória de alguém que se disagraciado, o com tal firmezaque o feliz casal baia indolen-temente no lago azul, rigoro-

.^^«Mtt^»^^»»».»^».^»^.^.^^»^,..,..,,,,,,, ,>„>.^^,,^J^.,M_._if„|r„>..|(..t| |>n>| ,„.,.,„„„,

ENTREVISTAyRlANO de Almeida, pia-

nista brasileiro que es-tá fazendo uma turnèe pe-los Estados Unidos, foi en-trevistado pela A Voz daAmérica por Gaspar Coe-lho. Em sua conversa ma-nifestou-se muito satisfei-to pela maneira cordialcom que está sendo recebi-do pelo público norte-ame-ricano, do mesmo modo quese referiu à curiosidade dopovo , dos Estados Unidospelas músicas brasileirasque êle está interpretandoem seu programa de reci--tais:

Houses, Winterset, Joan ofLorraine, What Price Glo-ry?BALLET

Q BALLET Celta da Es-*-/ cócia fará a sua pri-meira apresentação nos Es-tados Unidos em julho pro-ximo, na série do Festivalde Dança de Jacob Pillow,em Lee, no Estado de Mas-sachusetts. A companhia,composta de bailarinos, umcantor e um gaiteiro, apre-sentará um repertório detrês semanas, executandodesde o ballet clássico àsdanças folclóricas

BIBLIOTECÁRIOBRASILEIROWASHINGTON MOURA

escreveu aos EstadosUnidos dizendo que temutilizado bastante o treinoem biblioteconomia que re-cebeu o ano passado naquelepais. Sua Bolsa foi adqui-rida através da BibliotecaNacional do Rio de Janeiro,em virtude do Programa deAssistência Técnica-Estran-geira. Pela primeira vez seministrou um curso sobreclassificação da Bibliotecado Congresso dos Estados

MEDALHA DO DRAMAQ

DRAMATURGO norte-v,/ americano Maxwell An-derson foi proclamado ven-cedor da Medalha de Ouropara o Drama, no InstitutoNacional de Artes e Letras.Esta medalha, concedidanor "notâvt-l resultado detoda a obra do autor", se-rá. oferecida numa cerimô-nia a realizar-se êste m^sno Instituto Nacional e naAcaoVmia Nnrte-Arnpriwmade Artes e Letras. A obradramática de Msxweíl An-derson inclui Both Your

EXPOSIÇÃO

J>JA Galeria Fantasy, emWashington, estão sen-

do expostos trabalhos depintura e desenho por JoséBermudez, artista cubanode 32 anos de idade. Auto-didafca, Bermudez recebeuprêmios em sete diferentesconcursos de cartazes. Umdeles foi o primeiro con-curso internacional do car-taz das Nações Unidas.

Bermudez está. emprega-do atualmente na Seção d©Artes Visuais da União Pa-namericana, em Washing-ton.

****«-***->^e**^

'

Unidos, na Biblioteca Na-cional. E foi tão grandeo interesse que despertouentre os alunos que o âssis-tiram que se planeja umcurso semelhante para oano próximo.TRADUÇÃO

JtLBERTO Dacosta e Sil-va e Luiz Carlos doNascimento e Silva acaba-

ram de traduzir um volumede qumhentas páginas dolivro de Van Wyp'ç Brooksintitulado "A Énoca deM^TIvile e Whitman", queestará nas livra ri «-s na nM.xima semana. (Ed. de fie-vista Branca) — s. C..

aainonto dontro do Idoal <0u,•andradeano .. Os cisns* 90,taram apenas como térm» .ucomparação.

E CAHLOS GUIDO?D., Carlos Guido r Si*™.

(1027-1918) velo ainda eriíS!para o Brasil, ondo vivou Io»..gos anos. na companhia dotnossos românticos. Traduziu p«„ra o castelhano poosias brasilleiras • verteu para o „ü!)a#Idioma um dos romances d»Lamartine. Consta havor «.idoamigo de Gonçalvos Dias. Ser-,nome ocorre com freqüêncianos livroB do médio oiloconio»,ao lado de autores nacionais!Dai w pergunta: e os cisnoa d*Carlos Guido?. Na poosia "Utinocência", há esta bonita ima*»gem — muito "brasileira":

Há poço Ia sono — fui aft[sueno vaijol

pasó como Ia sombrado un albo cisne sobre oi

[torso lago.Em "La noche". trabalho qu»traz a, indicação "Vali de Ingá,

Brasil, o poeta argentino ds"Hojas ai viento" (1871) no»propicia a visão de um "topos"quo jamais se concretizou napoesia brasileira: a do cisa»ferido. A morte do cisne foi,para nós, simples pretexto d»"ccmto^ Jo cisne", isto ó, mart«simbólica, morte abstrata.Quando Salusse comunicou queum dia. um cisne morrerá porcerto**, ninguém se lembrou doanimal-cisne, tal a sua solu<bilidade nà metáfora. Em Car«.los Guido, é-nos proposta eimagem do cisne como um sul=co vermelho na transparênciada água, sem nenhuma inter**íerencia auditiva:

Como en Ia clara linfa u»[cisne herid»

Quo oi ala extiende sintvolar, y nad«• l A merced le Ia límpida cor-

[rienfelCONCLUSÃO

Aqui deveria abrir- 3e espa"Ço à transcrição dos "Cisnes"do Júlio Mário Salusse, paraque se fechasse o elo. Todavia,embora a composição fribur*guense fosse o ponto de satu«ração do "topos", com ela na*so extinguida o fascínio d«metáfora. Em 1895, denotandoessa saturação pelo modo cos-tumeiro na história da poesia/Luís Pistarini parodiava o so*neto famoso, indo tomar banhode mar com a sua amada, "co*mo dois cisnes". Ma3 antosdisso, logo no primeiro quarte«to, ó ao par do cisnes que ca»be sofrer a comparação com"dois belos, joviais amantes..01("Bandolim, 1899). Inverte-se 9papeL

A outra maneira se fariatambém representar. Os "Cis-nes" de Salusse provocariamimitações, r éplicas, continua-ções. lamentações. Na segundaedição dos "Sonetos brasiM-ros" (só um exemplo), Laudeli*no Freire daria guarida a um"cisne" abominável, devido aoestro de um Sr. Tome Reis. Sòa edição das poesias de JoséAibano, feita por Manuel Ban-deira em 1948, é que nos re*conciliaria com o cisne, atravésde um soneto esplêndido, on-de êle regressava às suas li»nhas clássicas puras.

Enquanto isso, a garça ia so-*nhoreando. uma a urna, as po*"sições metafóricas, cada veSmais refratária ao contubérnio.E' dificil para um bom poeiade hoje encontrar virtualidadeíinexploradas no cisne. A ga*"*ça resistiu. Sempre se reno«vando, sempre adensando osortilégio de sua brancurT- *<*

«oJf

seu vôo, de sua expressão so"litudinária, atravessou os paú.'românticos, os sonetos parna**sianos, as litanias simbolistas*Quando lemos agora, v ç . 3"Garça branca" de Aíonso Fé*lix de Sousa ("O amoroso e <*terra", 1953), nem nos ocorreque a imagom vem do roman"tismo, como a do cisne branco.

Diante disso, e reportando-:;*»as omnímodas "palomas"Neruda, diria talvez um more*lista que, por fim, só restou a»cisne a sua maldade. Mas eu»entre a garça, a pomba e •cisne, me conservo neutre *-**porque me recordo do cisns avJorge GuiHén: "puro entr» w«Ire f Ia onda"...*

Page 10: Terça-feira, 1-6-1954 ANO 9.° — N.° 301 J - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1954_00301.pdf · Jornais de Paria esta noticia; "üm iraniano, chamado Sadegh

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Y«^-W« I-6-W4 1BTR A $ B ARTES Página - 11 «r«W> *•.-***-»* 9»-'**

4 l*^<áea^*

fegjrafcjl

**PastoraTf de Ruth de Miranda Salle*

f*%Clu-BHin oa Cacierno* do Clube

ce Poente do Brasil ao seu 10.*lançamento, cora "Pastoral" deRuth Syivla dr Miranda Sallea.Êsse* caderno* sfto responsáveispoi algumai da* melhores estréias

li Oitavo aniversário e tricentenáriode LETRAS E ARTES

f ^ poéticas dos últimos seis anos. co-IECyro Plmentei. André

Carneiro. Haroldo dr Campo»,Geraldo Pinto Rodrigues. DulceCarneiro "Pastoral" dr Ruth svl-via está situado entre os melho-res Ê ura llvnnno belo » dotadode grande força ttnca. ao qua) naofaltam • antes pelo contrario» re-cursos técnicos apreciáveis r umconhecimento da cow» poética

«w. vai além da sim pie» Intuição. Como vocac&oSara a poesia, Ruth Sylvla r uma das maiores re-vetoertes aue tlvemo» ultimamente

Luiz Canabrava, vencedor do "Fábio Prado**de contos

Foram muitos os concorrentes ao«Fàblo Prado»p- contos de 1854 fcsst prêmio n0 valor de *\n\e erlnro mil cruzeiro», é distribuído ao melhor estroan-r* do ^uero O cFâblo Pra<Jo> dêste uno compreen-a.-u fi"> gênero»; teatro, romance . conto n»stirni»-d» » comtesao jultradora de contos, que w compôsÁ lyicia Fagundes Telles. Paulo Owar da Silva oJoão de Souza Ferraz, após demorada leitura 'loa

trabalho* nào chegou a mesma declsào unânime.Lvia Fagundes Telles e P»»Jo César da Silva vo-taram em \mu Canabrava. autor do livro ainda me-<!it« «Sangue de Rosaura» Quanto ao terceiro Jul^doi JosV» de Sousa Ferrai, deu ê«»e kcu voto a üuidoWilmar Sassl. autor do livro «Piá». Assim send^ pormaioria. Lula Canabrava levantou o «Prêmio FibloJ*rado* de contoa de IAM.

A estréia de Vicente Augustus CarnicelliO poeta Vicente Augustua

Carnicelli. d* quem "beiras « Ajvtes** ja divulgou diversos trabaplhos, tem pronto o seu livro doestréia, "Hora consumada" Vi-cente Carnicelli é um desses Jo-vens poetaa de São Paulo, quaresolveram reagir contra a pardronização e a frieza de umapoesia multo vistosa, mas dentroda qual o verdadeiro poeta sasente ludibriado e limitado a meiadúzia de roteiroa oficiais.

Com este numero, completa "LETRAS E AnTES"seu oitavo sno dr circulação, «penas interrompida

durwnlr ilgun» me»e». dr junho dr 1U53 s m;u\od*Mr sno Completa. lgu«lmvntc, 3tm números. £ pois,ttm» dupla efeméride, dr que muito nos podemosafanar Km «eu 301.» numero, "LETIVAS E ARTES"rrnov« o» seu* agradecimento» » todos aquiles —leitores r coinhoradores que tèm contribuído pura

«o» permanência, bem como à direção d;«> KinprôsasIncorporadas, qur propiciou o seu reaparecimento.

Exposição Manuel Antônio de AlmeidaOrganizada pelo escritor Eugênio Gomes, encon*

tra-Be aberta ao publico, no saguão da BibliotecaNacional, a esplêndida exposição comemorativa docentenário do romance de Manuel Antônio de Al-meida. 'Memória* de um sargento de milícias" Edi-çôe» do livro, dentre as quais se destaca a doa"Cem Bibliófilos" lindamente Ilustrada pelo artistaDarei, estampas e periódicos da èpuca. obras e au-torea que influenciaram M A de Almeida, e amos-trás de sua poesia - tudo isso, muito bem d i st ri-buido metòdicamente apresentado, torna a exposiçãodigna de demorada visitaUA falange gloriosa", de Godofredo Rangel

Um dos últimos lançamentos da Melhoramentosé o romance "A falange gloriosa", de GodofredoRangel, publicado pela primeira vez em folhetim do"Estado de São Paulo", em 1911 Não se pode equi-parar s "Vida ociosa", o belo romance do contistadas "Andorinhas" Mas forma, com ôsses e com "Afilha" r "Os humildes", a estante de ficção de umde nossos maiores escritores, desse Godofredo Rangelque. por uma dessas lncompreensôes tão freqüentesna literatura sem historia e sem crítica revisadas,ainda nào teve o reconhecimento a que faz jus."Ensaios e perfis", do prof. Leonidio Ribeiro

Num belo volume de 460 paginas, reuniu o proles-bot Leonidio Ribeiro, sob o titulo de "Ensaios eperfis" irais série de trabalhos de alta meditaçãofilosófica e estética As paginai do livro são atra-vessada» pelo sopro de um grande espirito, princi-palmente aquelas que formam os capítulos "Medi-taçào da maturidade", "Mestres de ontem e de no-Je" «onde estuda as figuras de Afrânio Peixoto, Mi-gue) Couto Aloisio de Castro), e "Figuras univer-isisM <que focalizam Gide. DuhameL Lombroso).Também constam desse volume substanciosas refie-xóes em torno de sua especialidade: "Problemas

médico-socials"

3WL **¦ I

"Poesia Buenos Aires" n. 15X "n O n° 15 de "Poesia Buenos A**-CNX res" a bonita e Inteligente fôln»x de poesia que. na capitai argenu-

na, publicam R..ul Gustavo Aguir-te e Nlcolás líspiro. e parcialmen-le dedicado a Carlos Drummondde Andrade, de quem foram tnu»duzldos alguns poemas, entre oa«luais o recente "A Luiz Mauri-cio", sendo esta última versou oc-vido a Ramiro de Cas^sbellas Dl-to numero traz ainda uma longae exceiente bib!io»rafia do poetabrasileiro Na mesma edição 'Ou-tono de 10541 vêm poesias de HartCrane e Alfonso Cortes, tamocraaromnmhndas de notas bibllogiá-

ficas, alem ae t.m artigo de fundo, e tradução de«Situação da poesia", de Tristan Tzara.

Prêmio "Augusto dos Anjos""O Jornal de Letras" acaba de divulgar aá

condições gerais do Prêmio "Augusto dos Anjos .no valor de vinte mi! cruzeiros, patrocinado peloSr Drauit Ernnuny. Mínimo de dez paginas dattlo-erafadas; máximo do quarenta. Deve ser um en-saio de síntese interpretativa. Prazo de encerra-mento: trinta de setembro 130-9-54). Enviar em tré»Vias datilografadas, sob pseudônimo.

Semana de Machado de Assis", uma

sugestão a adotarOs paulistas vêm prestigiando nossos escritores

através de cume mo rações anuais. Assim, já têm a ""Se-

mana de KucIRies da Cunha" (São Josi do Itio 1 :»n-aoi, "Semana de Monteiro Lobato" (Taubaté) e «.Se-mana de Rodrigues de Abreu" (Capivan). Chamando

so. o ensaísta Brito Breca* num jop-nal de São Paulo, sugere quf nolistrito Federal seja instituída ±"Semana de Machado de^ A^sls'".\enhuma sugestão seria mal»adequada;. Machado, além de serum dos nossos maiores escrito-res, senão o maior, está ligadontimamente a vida do Rio de Ja-

neiro. Conforme adianta Brito Bro-a, a sugestão deve partir da Muni-

dpnlidade. Mas é preciso que o» es-•ritores do Rio façam um movtawtt-to nesse sentido.

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"Há crimes e crimes",de Strindberg

jracob Guinsburg traduziu epublicou MHá crimes e cri-mes", peça teatral de Strind-berg pouco divulgada no Bra-jeil. É das mais meritórias essaversão, porquanto põe ao ai-cance do leitor brasileiro umaobra de difícil acesso no ldio-ma original"Jararacuçu", de Sínésio

AscêncioAcaba de aparecer "Jarara-

euçu", coletânea de contos daautoria de Sinésio Ascêncio,com prefácio de Pedro Gran-Ja.

Mauriíônio Meira na páginaliterária de "Flan"

O contista pernambucanoMauriíônio Meira está orga-nizando a página literária dosemanário "Flan". Desde aentrada do jovem fiecionistanordestino, essa página ficoumovimentada e cheia domaior interesse, porque Mau-ritônio Meira, além de repor-tagens originais, publica in-formações; novidades da vidaliterária e uma pequena seçãobibliográfica.

Gilberto Freyre ea lusotropicoiogia

-5 sociólogo Gilberto Freyreencetou, no Gabinete Portu-guês de Leitura, um curso delusotropicoiogia, novo ramosociológico que o mesmo estádesenvolvendo em brilhantesaulas, das mais concorridas.Gilberto Freyre, como se sabe,é dos nossos maiores estúdio-sos da cultura portuguesa esua influência na formaçãosocial e cultural do Brasil."Documentos históricos"

n. 100^ Acaba de divulgar a Bibüo-teca Nacional o centésimo vo-lume da série "Documentoshistóricos", que enfeixa mate-rial dos mais preciosos para oestudo de certos aspectos dopassado nacional. O presentevolume abrange o período de1728 a 1715 nas capitais doaorie.

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SESQUICENTENÂRIO DO RE-PENTISTA MUNIZ BARRETO

O

ano literário de 1954é dos mais férteis emcinqüentenários, cen-tenàrios e sesquicen-

tenários. Tivemos, em ja-neiro, o centenário de Gar-cia Redondo, aquele que,sem ser incomodado, "via-jou em carro de primeira»com bilhete de segunda"...Em março, centenário deLúcio de Mendonça. A 30de abril, 150.° aniversáriodo nascimento de MacielMonteiro Em novembro,celebraremos o centenáriode nascimento de TeófiloDias. Todos, centenáriosnatalicios, sempre maisgratos que os de faleci-mento.

Houve um, porém, que jápassou e, pelo menos aquino Rio, foi posto a mar-gem: o 150.° aniversário donascimento de FranciscoMuniz (ou Moniz) Barreto,justamente considerado omaior repentista brasileiro.Talvez o motivo do esqueci-mento seja devido ao fatode que o sesquicentenáriode Muniz Barreto caiu exa-tamente no mesmo dia emque se festejava o cente-nário de Lúcio de Mendon-ça — 10 de março.

Nascido em Jaguaripe(Bahia) a 10 de março de1804, morreu FranciscoMuniz Barreto na capitalbaiana, em 2 de junho de1868. Os dicionários de Ino-cêncio e de SacramentoBlake informam detalhada-mente sobre a vida e a obrado improvisados vindo noprimeiro uma carta auto-biográfica do poeta A me-Ihor fonte, porém para oconhecimento de MunizBarreto é o estudo de seufilho, Rozendo Muniz tnti-tulado "Moniz Barreto orepentista" Garaier Rio,1887. "Foi um dos maiorespoetas do Brasil (diz o

j baiano Sacramento Blake),

e como repentista não meconsta que alguém o exce-desse". No prefácio ao es-tudo de Rozendo Muniz,datado de 27 de novembrode 1886 (ano que vem nafalsa-capa), escreve o Ba-râo de Ramiz Galvão: "Seusmais arrebatadores triUn-fos obteve-os no improvi-bo, quando o astro superex-citado pela grandeza da lu-ta rompia em centelhas di-vinas Dir-se-ia que naque-les momentos supremos asíôrca& vivas do espirito serecolhiam todas ao maisintimo do intelecto, e fa-ziam do homem um semi-deus".

O grande artista VítorMeireles fez-lhe o retrato efoi da exposição dêste quenasceu o estudo do filhodo repentista, publicado no"País", e mais tarde am-pliado e estampado em li-vro. A biografia escrita pe-'lo poeta dos "Vôos icários"é muitíssimo interessante e,sobretudo,, equilibrada nojulgamento da obra pater-na. Referindo-se à criticade Manuel Antônio de Al-meida, _ 0 mesmo que es-creveu as "Memórias de umsargento de milícias" e aquem, recentemente, Eugê-nio Gomes estudou comocrítico do romantismo —Rozendo Muniz justifica amaneira hostil com que Al-meida tratou as poesias deseu pai, tachando-as deprodutos da "lisonia, ser-vilismo e interesse próprio",o que, de fato. não era bema verdade. É que Almeidanão conhecia de perto oautor de "Clássicos e ro-mânticos"."Dado exclusivamente aosimprovisos (conta RozendoMuniz), em que se tornoumais conhecido, desde 1819até 1839. Muniz Barretopouco escreveu durante ês-ses 15 anos. Como. porém,sofresse de ataques nervo-

sos, exacerbàveis com os ar-roubos de repentista, emprejuízo do exercício de seuemprego público, de 1835em diante dedicou-se maisa composições escritas nameditação do gabinete. Detais versos publicou, em1855, dois volumes em 8.°grande, sob o título "Cias-sicos e românticos", impres-sos pela tipografia Camilode Lellis Maçon, na Bahia."

Um dos repentes de Mu-niz Barreto que ficarammais famosos foi aquele emque profetizou o futuro bri-lhante de Ruy Barbosa:

Admira numa criançaO engenho, o critério, o

[tinoQue possui este meninoPara pensar e dizer!Não, não me iludo na

f minhaBem firmada profecia:Um gigante da Bahia

Na tribuna êle há de ser.

Dos sonetos improvisados(e foram inúmeros), o me-lhor — e também o maisconhecido — é aquele cujofecho veio do mote: "Istoé amor, e dêste amor semorre". Outro soneto cé-lebre é o "Cristo no Gólgo-ta".

Consagrado como repen-tista,, a publicação de seustrabalhos em livros quaseque só lhe acarretou amar-guras. Se alguns, comoAgrário de Meneses, o elo-giaram, outros o desanca-ram sem piedade. Mais tar-de, seu filho e biógrafo Ro-zendo Muniz seria um dosalvos prediletos dos parna-si anos, o que o levaria a fe-char seu soneto "Testamen-to" com estes versos:

Deixo aos vates nóveís orexem vio do mm nada

Aos detratores deixo[intérmino desprezo

»*"»<t"»"a">"6"3 ¦!"*'*"* '8*'^

Antologia biiingae de poe-tas da lingua alemã

••Letras e Artes" jà teve en-sejo de publicar apreciávelnúmero de traduções de poe-tas alemães, excelentementerealizadas pelo também poetaJoão Accioli. Anuncia-se ago-ra o lançamento pela LivrariaMartins de uma antologia bi-lin^ue de poetas germânicos,que está sendo ultimada porJoão Accioli. incluindo, entreoutros, a Rilke, Stefan Geor-ge, Trakl. Hesse, Carossa,Heym, Morgenstern.

Ronald de Carvalho e 0$Estados Unidos

Embora ande bem pouco lem-brado pe.es nossos autores ©nome de Ronald de Carvalho édos m?.is conhecidos na Ameri-ca do Norte, como poeta do mo-dernismo brasileiro. Talvez emconseqüência de suas peregrina-çõns pelo Novo .Mundo. Em nu-mero recente, a revista quadri-mostrai "The Uriíversity ofKansns City Revievv", divulgatraba1!™ de Willie D. Jacobs oAlbert R. Lopes, sob o titulo,"Ronald de Carvalho. The Ba-lanc?.d Voice". em que se es;u-da a cbra do escritor brasileiroe sus participação, com Manode Andrade e outros, no movi-mento modernista do Brasil De-pois de classificar Ronald d«Carvalho como a voz equilibra-da do movimento mcdermjna,afirmam os autores do ensaioque êle, com outros poeta? desua geração, escreveu a "poesia

genuinamente representativa dasemorões que pulsam no novoBrrwl" O que não é rigorosa- .ment" a verdade, mas tem muitode observação.

"História da cidade déSão Paulo"

Como contribuição às come-morações do IV Centenário aMelioramentos vem de lançai a"História da cidade de São Pau-lo". de Affonso de E. Taunay,obra le profundo va!or hrmri-co e farta nocumentacão. Reeen-temente recebeu Affonso Tau-rtpv o prêmio "Capistrano doAbreu".

Livrqp e correspondência — T4d«corrrspondtncia destinada a "*l-*lr»»

e Artes" deve ser dirigida a AÍmeid»Fisoher Pdifirio "A NOITF* - %Praça Maua, 7» 3.» andar. Vim 4*Janeiro,

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Page 11: Terça-feira, 1-6-1954 ANO 9.° — N.° 301 J - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1954_00301.pdf · Jornais de Paria esta noticia; "üm iraniano, chamado Sadegh

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ãL^/cíiraseArtesRIO DE JANEIRO, I DE DE JUNHO DE 1954

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Ilustração (Se SANIA EÔ5A

SONETOS DA ROSA - I

ROSASROSAS QUE JÁ VOS FOSTES, DESFOLHADASPOR MÃOS TAMBÉM QUE JÁ SE FORAM, ROSASSUAVES E TRISTES 1 ROSAS QUE AS AMADAS,MORTAS TAMBÉM, BEIJARAM SUSPIROSAS... ,

UMAS RUBRAS E VÃS, OUTRAS FANADAS,MAS CHEIAS DO CALOR DAS AMOROSAS....SOIS AROMA DE ALFOMBRAS SILENCIOSASONDE DORMIAM TRANCAS DESTRANCADAS.

UMAS BRANCAS, DA COR DAS POBRES FREIRAS,OUTRAS CHEIAS DE VIÇO E DE FRESCURA,ROSAS PRIMEIRAS, ROSAS DERRADEIRAS !

AI! QUEM MELHOR QUE VÓS, SE A DOR PERDURA,PARA COROAR-ME, ROSAS PASSAGEIRAS,O SONHO QUE SE ESVAI NA DESVENTURA ?

ALPHONSUS DE GUIMARAENS.istíaL