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ANÁLISE DO “O LEVIATÔ Thomas Hobbes CIENCIA POLÍTICA E DIREITO Prof. Espedito Pinheiro de Souza São Paulo – março de 2011

Leviata Final!

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ANÁLISE DO “O LEVIATÔThomas Hobbes

CIENCIA POLÍTICA E DIREITO

Prof. Espedito Pinheiro de Souza

São Paulo – março de 2011

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RELATORA: Beatriz Rezende Peroni Angelo - 3115192-2

REDATORA: Gabriela Rodrigues de Almeida Bianchi - 3115909-5

EXPOSITORA: Maria Alice Pierry Amorosino - 3110894-6

COORDENADORA: Regina Almeida Ramos - 3110735-4

Turma 1B – Matutino

Curso de Direito

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO............................................3

DESENVOLVIMENTO.................................5

CONCLUSÃO............................................34

BIBLIOGRAFIA..........................................35

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INTRODUÇÃO

O nosso grupo foi designado a analisar a obra de Thomas Hobbes, “O Leviatã”, com enfoque especial na Primeira Parte (O Homem) e na Segunda Parte (O Estado). Thomas Hobbes é um daqueles filósofos do século XVI à XVIII, que acreditavam que o Estado ou a sociedade tinham origem num contrato, que estabelecia as regras de convívio social e de política, que antes disso, os homens viviam sem poder e sem organização.

Em Leviatã, Hobbes procurou analisar a essência e a natureza do Estado Civil, ao qual, em razão de seu poderio e de sua força, comparou ao monstro bíblico descrito no livro de Jó. Tanto é assim que o denominou de "grande Leviatã".

Realizamos este trabalho com a finalidade de conhecer a doutrina de Thomas Hobbes em relação ao homem e o Estado, objeto de estudo da Ciência Política, nos possibilitando uma visão mais profunda desta disciplina.

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PRIMEIRA PARTE: O HOMEMO motivo da sensação é o corpo exterior, ou objeto, que pressiona o

órgão próprio de cada sentido, de forma imediata, como no paladar e tato, u de forma mediata, como na visão, na audição e no olfato. A pressão, pela mediação dos nervos e de outras cordas e membranas do corpo, prolongada em direção ao cérebro e coração, causa uma resistência, cujo esforço parece ser de algum modo exterior. Essa aparência ou ilusão é que os homens chamam sensação. Portanto essa nada mais é do que uma ilusão originária, causada pela pressão, isto é, pelo movimento das coisas exteriores aos nossos olhos, ouvidos e outros órgãos a isso determinados.

A imaginação nada mais é uma sensação diminuída, e encontra-se nos homens, tal como em muitos outros seres vivos, estejam adormecidos ou despertos. A memória e a imaginação são a mesma coisa que por razões várias, têm nomes diferentes. O acúmulo de memória, ou a memória de muitas coisas chama-se experiência. A imaginação diz respeito apenas àquelas coisas que foram anteriormente percebidas pela sensação, de uma só vez ou por partes, em várias vezes.

Os devaneios daqueles que se encontram adormecidos denominam-se sonhos. Esses devaneios também estiverem anteriormente, em sua totalidade ou parcialmente, na sensação. Assentado que os sonhos são provocados pela perturbação de algumas das partes internas do corpo, perturbações diversas têm de causar sonhos diversos. Os sonhos são o reverso das imaginações despertas, iniciando-se o movimento por um lado quando estamos acordados e por outro quando sonhamos.

A ignorância para distinguir sonhos de outras ilusões fortes fez urgir a maioria das religiões místicas. Cabe ao homem sensato só acreditar naquilo que a razão lhe apontar como crível. Caso desaparecesse o temor de espíritos e falsas profecias, que graças às pessoas ambiciosas e astutas que abusam da credulidade da gente simples, os homens estariam melhor preparados para a obediência civil.

Ao imaginarmos alguma coisa, não há certeza do que imaginaremos após. Só temos certeza de que será alguma coisa que antes, num ou noutro, se sucedeu àquela.

Esta cadeia de pensamentos é de dois tipos. O primeiro é livre, sendo o homem capaz de, muitas vezes, perceber o seu curso e a dependência de um pensamento em relação a outro. A segunda é mais constante por ser regulada

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por algum desejo ou desígnio. A impressão feita por aquelas coisas que desejamos, ou receamos, é forte e permanente, ou, quando cessa por alguns momentos, de rápido retorno.

Do desejo surge o pensamento de algum meio que vimos produzir algo de semelhante àquilo que almejamos o que significa que e, todas as nossas ações devemos olhar muitas vezes para aquilo que queremos ter, pois desse modo concentramos o nosso pensamento na forma de atingir o objetivo. A partir de um efeito imaginado procuramos as causas ou meios que o produziram, imaginando seja o que for, procuramos todos os possíveis efeitos que podem por intermédio de uma coisa ser produzidos ou imaginamos o que podemos fazer com ela, quando a tivermos.

O discurso do espírito, nada mais é do que procura ou capacidade de invenção, uma busca das causas de algum efeito presente ou passado. Recordação é um reconhecimento de nossas ações passadas, como aquele que prevê, reconhece aquilo que ele viu seguir-se no passado. Só o presente tem existência na natureza, as coisas passadas têm existência apenas na memória, mas as coisas que estão para vir não tem existência alguma, sendo o futuro apenas uma ficção do espírito.

A previsão das coisas que estão por vir, só compete àquele por cuja vontade as coisas devem acontecer. Um sinal é o evento antecedente do consequente. Quanto mais vezes tiverem sido observadas, menos incerto é o sinal. Portanto aquele que possuir mais experiência em qualquer tipo de assunto tem maior número de sinais e consequentemente é o mais prudente, sendo a prudência uma suposição do futuro, tirada da experiência dos tempos passados.

O que imaginarmos será infinito. Portanto não existe qualquer ideia ou concepção de algo que possamos denominar infinito. Quando dizemos que alguma coisa é infinita, queremos apenas dizer que não somos capazes de conceber os limites e fronteiras da coisa designada.

A mais nobre e útil de todas as invenções foi a linguagem, que consiste em nomes ou apelações e em suas conexões, pelas quais os homens registram seus pensamentos, sem o que não haveria entre os homens Estados, sociedade e paz. O uso da linguagem caracteriza-se em passar o discurso mental para um discurso verbal.

Existem quatro abusos cometidos pelas pessoas ao utilizarem a linguagem. O primeiro ocorre quando os homens registram erradamente seus pensamentos pela inconstância da significação de suas palavras, com as quais registram como suas concepções aquilo que nunca conceberam, e desse modo se enganam. Em segundo lugar, quando usam palavras de maneira metafórica, ou seja, com sentido diferente daquele que foi atribuído às palavras, e desse

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modo enganam os outro. Em terceiro lugar, quando por palavras declaram ser sua vontade aquilo que não é. Em quarto lugar, quando as usam para se ofender uns aos outros.

Um nome universal é atribuído a muitas coisas, devido a sua semelhança em alguma qualidade ou outro acidente. Enquanto o nome próprio traz ao espírito uma coisa apenas. Uma consequência descoberta num caso particular passa a ser registrada e recordada. Isso faz com que aquilo que se descobriu ser verdade aqui e agora seja verdade em todos os tempos e lugares, sendo a verdade consistida na adequada ordenação de nomes em nossas afirmações. O verdadeiro e o falso são atributos da linguagem, mas não das coisas. O primeiro uso da linguagem consiste na aquisição de ciência. Entre a verdadeira ciência e as doutrinas errôneas situa-se a ignorância. Sempre que qualquer afirmação seja falsa, os dois nomes pelos quais é composta, postos lado a lado e tornados num só, não significam absolutamente nada.

O entendimento é a concepção causada pelo discurso. Se a linguagem é peculiar ao homem, como deve ser então também o entendimento lhe é peculiar. Todos os homens são igualmente afetados pelas mesmas coisas, nem o mesmo homem em todos os momentos. Posto que todos os nomes sejam impostos para significar nossas concepções, e todas as nossas afeições nada mais são do que concepções. Portanto, ao raciocinar, o homem tem de tomar cautela com as palavras, pois que, além da significação daquilo que imaginamos de sua natureza, também possuem uma significação da natureza, disposição e interesse do locutor.

A razão nada mais é do que cálculo das consequências de nomes gerais estabelecidos para marcar e significar nossos pensamentos. Afirmo marcar quando calculamos para nós próprios e significar quando demonstramos ou aprovamos nossos cálculos para outros homens. A razão de nenhum homem constitui a certeza, tal como nenhuma contagem é bem feita porque um grande número de homens aprovou unanimemente. Mas quando raciocinamos com palavras de significação geral e chegamos a uma conclusão geral que é falsa, muito embora seja comumente denominado erro, é na verdade um absurdo, ou um discurso sem sentido.

O homem sabe com as palavras reduzir as consequências que descobre as regras gerais, chamadas teoremas ou aforismos, isto é, sabe raciocinar, ou calcular, não apenas com números, mas com todas as outras coisas que se podem adicionar ou subtrair umas às outras. Este privilégio do ser humano é acompanhado do privilégio do absurdo, ao qual nenhum ser vivo está sujeito, exceto o homem. Depreende-se daí que a razão não nasce conosco e nem é adquirida apenas pela experiência, mas obtida com esforço. A isso os homens chamam de ciência. Enquanto a sensação e a memória apenas são

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conhecimento de fato, o que é uma coisa passada e irrevogável, a ciência é o conhecimento das consequências.

Portanto as crianças não são dotadas de razão nenhuma até que atinjam o uso da linguagem, mas são denominadas seres racionais devido à aparente possibilidade de terem o uso da razão na sua devida altura. A razão é o passo, o aumento da ciência é o caminho, e o benefício da humanidade é o fim. Em qualquer assunto que o homem não tenha uma ciência infalível pela qual se guiar, é sinal de loucura.

Nos animais há dois tipos de movimentos que lhe são próprios. Um deles chama-se vital; começa com a geração e continua sem interrupção durante toda a vida, sendo desnecessária a ajuda da imaginação. O outro tipo é o dos movimentos animais, também chamados movimentos voluntários, da maneira como anteriormente foi imaginada pela mente.

Quando vai em direção de algo que o causa, esse esforço chama-se apetite ou desejo. Quando o esforço vai ao sentido de evitar alguma coisa chama-se geralmente aversão. Desejo e amor é a mesma coisa, salvo que por desejo sempre se quer significar a ausência do objeto e quando se fala em amor geralmente se quer indicar a presença. Também por aversão se significa a ausência e quando se fala de ódio pretende-se indicar a presença. Daquilo que não desejamos nem odiamos se diz desprezamos. Não sendo o desprezo outra coisa senão uma imobilidade ou recusa do coração ao resistir à ação de certas coisas.

Seja qual for o objeto do apetite ou desejo de qualquer homem, esse objeto é aquele que cada um chama bom; ao objeto de seu ódio e aversão chama mal, e ao de seu desprezo chama vil e indigno. Pois as palavras “bom”, ”mal” e “desprezível” são sempre usadas em relação à pessoa que as usa. Há três espécies de bem; o bem na promessa; o bem no efeito; e o bem como meio.

Aquilo que realmente está dentro de nós é apenas movimento, tal como na sensação, provocado pela ação dos objetos externos. A aparência ou sensação desse movimento é o que se chama deleite, ou então perturbação do espírito. O prazer ou deleite, portanto é a aparência ou sensação do bem, e desprazer ou desagrado é a aparência ou sensação do mal. De maneira semelhante, alguns dos desprazeres residem na sensação e chama-se-lhes dor; outros residem na expectativa de consequências e chama-se-lhes tristeza. Dessa forma, não é só por sua razão que o homem se distingue dos outros animais, mas também por essa singular paixão.

Um ato voluntário é aquele que deriva da vontade e nenhum outro. Portanto, a vontade é o último apetite na deliberação. Essa se exprime pelo subjuntivo, que é o modo próprio para significar suposições e suas

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conseqüências. É impossível, portanto, haver deliberação quanto às coisas passadas, pois é manifestantemente impossível que estas sejam mudadas.

Os melhores sinais das paixões atuais residem na atitude, nos movimentos do corpo, nas ações, e nos fins e objetivos que por outro lado sabemos que a pessoa tem. Como na deliberação, os apetites e aversões são suscitados pela previsão das boas ou más conseqüências e sequelas da ação sobra a qual se delibera. Quem possuir, graças à experiência ou à razão, a maior e mais segura capacidade de prever as consequências, é quem melhor é capaz de deliberar. Não existe uma perpétua tranquilidade de espírito enquanto aqui vivemos, porque a própria vida não passa de movimento, e jamais pode deixar de haver desejo, ou medo, tal como não pode deixar de haver sensação.

Em todo discurso, governado pelo desejo de conhecimento, há pelo menos um fim. Se for apenas mental, o discurso consistirá em pensamentos de que uma coisa será ou não, de que ela foi ou não. Tudo isso é opinião. Por isso nenhuma espécie de discurso pode terminar no conhecimento absoluto dos fatos passados ou vindouros. Porque para o conhecimento dos fatos é necessário primeiro a sensação e depois disso a memória, e o conhecimento das consequências, não sendo absoluto, mas condicional. Ninguém pode chegar, a saber, por meio do discurso, que isto ou aquilo é, foi ou será, o que equivale a conhecer absolutamente.

Na crença há duas opiniões, uma relativa ao que a pessoa diz e outra relativa à sua virtude, a opinião da veracidade de uma pessoa quando acreditamos que qualquer espécie de afirmação é verdadeira. Quem fez uma afirmação, no caso o objeto de nossa fé é o orador ou a pessoa em quem acreditamos ou em quem confiamos cuja palavra aceitamos. Consequentemente, quando acreditamos que as Escrituras são a palavra de Deus, o objeto de nossa crença, fé e confiança é a igreja.

A virtude, geralmente, em toda espécie de assuntos, é algo que é estimado por sua eminência e consiste na comparação. Se todas as coisas fossem iguais em todos os homens nada seria apreciado. São duas espécies essas virtudes: naturais e adquiridas. O talento natural consiste principalmente em duas coisas: celeridade da imaginação, isto é, rapidez na passagem de um pensamento a outro e firmeza de direção para um fim escolhido. Com relação ao talento adquirido, o único que existe é a razão, que assenta no uso correto da linguagem, e da qual derivam as ciências.

A imaginação, quando não é acompanhada de juízo, não se recomenda como virtude. Sem firmeza e direção para um fim determinado, uma grande imaginação é uma espécie de loucura, como acontece com aqueles que, iniciando um novo discurso, se deixam desviar de seu objetivo, por qualquer coisa que lhes passe pelo pensamento. Tudo que é novo ou grande, portanto considerado merecedor de ser dito, vai gradualmente afastando-o do caminho

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inicial de seu discurso. Nos discursos e exortações em tribunal, conforme a verdade ou a simulação sirva melhor o objetivo em vista, assim também o juízo ou a imaginação é a qualidade mais necessária.

Para qualquer espécie de discurso, se a falta de discrição for visível, por mais extravagante que a imaginação possa ser, o discurso inteiro não deixará de ser tomado como um sinal de falta de talento. Nunca acontecerá quando a discrição for manifesta, mesmo que a imaginação seja muito medíocre. De modo que quando há falta de talento não é a imaginação que falta, mas a descrição. O juízo sem imaginação é talento, mais a imaginação sem juízo não o é.

Governar bem uma família ou um reino não corresponde a diferentes graus de prudência, mas a diferentes espécies de ocupação. Por maior ou menor que seja o desejo de poder, riqueza, saber e honram todas quais podem ser reduzidas à primeira, que o desejo de poder, por não serem mais do que diferentes formas de poder. Um homem, portanto, que não tenha grande paixão, ou seja, indiferente, é impossível que tenha uma grande imaginação, ou grande capacidade de juízo. Sobre a paixão, cuja violência ou prolongamento provoca a loucura, é uma grande vanglória, a que vulgarmente se chama orgulho ou autoestima, e é um grande desalento ao espírito.

Dessa forma, ocorre que o excessivo desejo de vingança, quando se torna habitual, prejudica aos órgãos e se transforma em raiva. Todas as paixões que provocam comportamento estranho e invulgar são designadas pelo nome geral de loucura.

Há dois gêneros de conhecimento. Um dos quais é o conhecimento dos fatos, o outro o conhecimento das consequências de uma afirmação para outra. O primeiro está limitado aos sentidos e à memória é um conhecimento absoluto. Este é o conhecimento necessário para uma testemunha. Ao segundo chama-se ciência e é condicional, este é o conhecimento necessário para um filósofo, para aquele que pretende raciocinar.

Universalmente considerado, o poder de um homem consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem futuro. Pode ser original ou instrumental. Poder natural é a eminência das faculdades do corpo ou do espírito. Os poderes instrumentais são os que se adquirem mediante os anteriores ou pelo acaso e constituem meios e instrumentos para se adquirir mais. Dos poderes humanos, o maior é aquele que é composto pelos poderes de vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de todos os seus poderes na dependência de sua vontade, é o caso do poder de um Estado.

Consequentemente, qualquer qualidade que torna um homem amado ou temido por muitos, é poder. Isso porque constitui um meio para adquirir a ajuda

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e o serviço de muitos. Atribuir a um homem um alto valor é honra-lo e um baixo valor é desonra-lo. Neste caso, “alto” e “baixo” devem ser entendido em comparação com o valor que cada homem se atribui a si próprio. O valor público de um homem, aquele que lhe é atribuído pelo Estado, é o que os homens vulgarmente chamam dignidade.

A fonte de toda honra civil reside na pessoa do Estado e depende da vontade do soberano. Conseguintemente é temporária e chama-se honra civil. Os homens honram a quem os possui, porque são outros tantos sinais do favor do Estado. Esse favor é poder. Coisa diferente de seu valor é o merecimento de um homem, e também de seu mérito. Consiste num poder ou habilidade especial para aquilo de que se diz que ele é merecedor, habilidade particular que geralmente é chamada adequação ou aptidão O mérito pressupõe um direito. A coisa merecida é devida por promessa.

Existe um significado diferente para a palavra "costumes", distinto de "aspectos da pequena moral". Esta está ligada mais à decência do que à conduta e às boas maneiras, numa espécie de etiqueta envolvida em afazeres práticos da vida civilizada.

A felicidade é saltar de um desejo para o outro, e o homem visa garantir os meios futuros para alcançar a satisfação. Todas as ações voluntárias dos homens almejam este fim, um meio eterno de satisfazer esta demanda pelo poder, e diferem de indivíduo para indivíduo, apenas em decorrência das peculiaridades de cada um.

A fórmula de Hobbes expressa que a "tendência geral de todos os homens é um perpétuo e irrequieto desejo de poder que cessa apenas com a morte". O poder não seria meramente acumulativo ou progressivo, pois para se armazenar o que já se conseguiu é preciso também poder. A realização de desejos de poderes como a riqueza, a honra e outros implica em competição entre os homens, o que leva à guerra, à inimizade e à luta. Cada indivíduo pode usar de todos os meios que dispõem para conseguir o que quer como matar, subjugar, repelir e até usar a força em um corpo contra outro

A obediência civil deriva do gosto pelo conforto, do medo da morte e dos ferimentos e do amor às artes. Ter conforto ou deleite sensual pressupõe um enfraquecimento da segurança pessoal sustentada pelo esforço próprio. Assim também o conhecimento das artes e da paz necessita do ócio para poder desdobrar-se, enfraquecendo o poder de proteção que cada indivíduo pode sustentar. Essa segurança predispõe os homens para a obediência de um poder comum, diferente do poder individual, a quem todos devem submeter-se. Aqueles que não estão satisfeitos com suas condições presentes sentem-se constantemente ameaçados e tornam-se belicosos.

Os homens que querem ser lisonjeados devem praticar atos louváveis. Os feitos virtuosos, executados para agradar a outrem, buscam o reconhecimento de terceiros, e consequentemente a fama. Não de qualquer

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terceiro, mas somente daqueles a quem se admira, uma vez que ninguém deseja ser encomiado por aquele que despreza. Aqueles que desejam uma glória posterior à morte também são levados a praticar ações louváveis dignas de serem lembradas na memória de seus sucessores.

Os benefícios concedidos a alguém por seu igual geram uma obrigação, e consequentemente a servidão. Esta situação é odiosa e humilhante para a parte beneficiada. Por outro lado, um benefício concedido a alguém por outro reconhecidamente superior pode proporcionar o amor e a amizade, uma vez que o ato benemérito é grandemente estimado como honroso a quem o pratica, e por isso ocorre como que uma retribuição do beneficiado, que não se sente degradado, mas gratificado. Assim, os benefícios concedidos por um rei, por exemplo, levam sempre à gratidão.

O benefício entre os iguais pode igualmente proporcionar o amor e a amizade, porém desde que haja esperança de retribuição por parte da parte beneficiada. Esse sentimento de ajuda e serviço mútuo dá origem a uma competição nobre para ver quem é o autor de maiores benefícios.Numa situação de conflito as pessoas sábias e sutis estão em desvantagem em relação aos que usam a força, já que estes agem e atacam imediatamente, sem perder tempo com planos.

Os homens vaidosos geralmente apenas ostentam a pose de valentes, mas tendem a fugir ou serem sobrepujados em situação de conflito, pois ele não tem consciência de sua capacidade. Aqueles que medem sua capacidade pela opinião de terceiros ou por algum feito anterior, também tendem à fuga rápida diante dos perigos e adversidades.

Aqueles que se julgam muito sábios nas questões de governo tendem a ambicionar altos cargos, uma vez que julgariam um desperdício de sua sabedoria ocupar-se de funções menores. Os bons oradores são, então, ambiciosos, já que a eloquência pode facilmente passar-se por sabedoria. A covardia leva à indecisão, e as indecisões tendem sempre a perder as melhores oportunidades de ação, poisse perde muito tempo deliberando qual o melhor caminho a seguir.

Os ignorantes precisam confiar na opinião alheia, que consideram mais sábios. Porém estes também estão sujeitos a graves erros, e são responsáveis por passá-los aos que o seguem, além da má fé nestes ensinamentos, pois aquele que ensina pode ter sua ação e julgamentos orientados por uma paixão. O homem, que quando criança tem apenas o dever do bem segundo seus próprios pais, o adulto orienta sua ação e pensamento segundo sua própria vontade egoísta, afastando-se muitas vezes da razão para defender seus interesses e podendo mesmo, se isso lhe valer alguma coisa, a defender a verdade dos maiores absurdos.

A ignorância deriva a credulidade, que leva o homem a associar fenômenos separados ou atribuir causa sobrenaturais às sequências dos fatos ou à fenômenos não explicados. Essa superstição é que levou os povos a

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cultuar tantos e diferentes deuses. Já o desejo de conhecer o futuro o levou a conhecer as causas.

A liberdade de cada homem em utilizar seu poder como bem lhe aprouver para preservar sua natureza (vida) e de, consequentemente, fazer tudo aquilo que segundo seu julgamento e razão é adequado para atingir esse fim é o Direito de Natureza (Jus Naturale).Esta é a ausência de empecilhos externos que podem, muitas vezes, subtrair o poder de cada um agir como quiser, mas não impedir que se use o poder restante de acordo com o próprio julgamento e razão. Já a Lei as Natureza (Lex Naturalis) é a norma ou regra geral estabelecida pela razão, que proíbe o ser humano de agir de forma a destruir a sua vida ou privá-lo ou fazê-lo omitir os meios necessários à sua preservação. Assim, o direito é a liberdade de agir ou omitir, diferentemente da lei que obriga a agir ou omitir.

Da primeira parte da Regra Geral da Razão – o esforço para obter a paz durante o tempo em que o homem tem esperança de alcançá-la, fazendo, para isso, uso de ajudas e vantagens da guerra – retira-se a Lei Fundamental da Natureza: buscar a paz e segui-la. (A segunda parte da o sumo do Direito da Natureza que é defendermo-nos por todos os meios possíveis).  Da Lei Fundamental da Natureza deriva uma segunda lei: “o homem deve concordar com a renúncia de seus direito a todas as coisas, contentando-se com a mesma liberdade que permite aos demais, na medida em que considere a decisão necessária à manutenção da paz e em sua própria defesa”. Essa renúncia de direito significa privar-se da liberdade de negar a outro homem o beneficio de seu próprio direito. Aquele que o faz, não dá a outrem um direito que já não tivesse, pois, por natureza, não existe nada que o homem não tenha direito – ele apenas se afasta do caminho alheio, não impondo obstáculos para que ele goze de seu direito, não importando a quem beneficiará.

Um direito pode ser abandonado por transferência ou renúncia. Um Direito é renunciado, como já dito, quando não importa a quem o ato beneficiará; já, transferido, quando através de seu abandono, se pretende beneficiar determinada pessoa ou pessoas. Dessa forma, transferir o Direto é semelhante a renunciá-lo, mas com o intuito de favorecer alguém.Ao transferir ou renunciar um direito o homem considera o que lhe foi reciprocamente transferido ou o faz com a esperança de ser beneficiado.  Há, no entanto, direitos que o homem não transfere. Eles são: o de revidar ao ataque de quem, pela força, tenta tirar-lhe a vida, uma vez que não traz benefícios a quem sofre. Ademais, não se pode admitir que ferimentos, prisão e cárcere, enfim, tudo que atente contra a segurança de um homem não pode ser renunciado ou transferido.

Um pacto (ou uma convenção) é o contrato em que um dos contratantes pode cumprir sua parte em momentos posteriores. Além disso, os contratantes podem acertar que o pacto feito será cumprido por ambos no futuro. Se a transferência de direitos não for mútua tem-se uma doação ou dádiva. Nela

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uma das partes transfere esperando conquistar a amizade de outro(s), na esperança de ser considerado caridoso – para libertar-se da compaixão – ou ainda, com o intuito de alcançar o céu. Vale ressaltar que se houver uma mínima suspeita, desde que seja razoável, que ninguém cumprirá prontamente sua parte do pacto, este se torna nulo. Entretanto, caso haja um poder superior aos contratantes, com força e direito para impor o cumprimento do pacto, ele não será nulo.

 As palavras por si só não têm força suficiente para garantir o cumprimento do contrato, pois elas se tornam fracas diante das paixões humanas. Em um Estado Civil, todavia, o cumprimento dos contratos torna-se um dever pela existência de um poder coercitivo. Quem transfere um direito, transfere também os meios para usufruí-lo enquanto está sob seu domínio. Assim, quem vende um terreno não subtrai as plantas; quem vende um moinho, também vende a energia que ele produz. Para libertar-se de um pacto há duas maneiras: ou o homem o cumpre ou a outra parte o perdoa, voltando, assim, para o estado natural.

 Os pactos são obrigatórios, tanto os que foram feitos legitimamente, quanto os que foram feitos por temor, na condição de natureza. Como a força das palavras é fraca para obrigar os homens a cumprirem os pactos, eles instituíram um poder coercitivo. Este deve pôr medo das consequências do não cumprimento de sua palavra ou pelo orgulho natural do homem.

A Terceira Lei da Natureza diz que os homens devem cumprir o pacto que celebrarem. A definição comum de justiça é a vontade constante de dar a cada o que é seu. A distinção entre justiça e injustiça é feita a partir da conformidade ou não das ações feitas com a razão. Um homem justo é o que se preocupa se suas ações são justas; o injusto despreza essa classificação. A justiça das ações divide-se em comutativa e distributiva. A primeira consiste na igualdade de valor das coisas, objeto do contrato. A última, em distribuir benefícios iguais a pessoas de méritos iguais.             A quarta lei da natureza é aquela que diz que quem recebeu um benefício de outra pessoa, por simples graça, deve-se esforçar-se para não dar ao doador motivo razoável de arrependimento. (Lei da gratidão). A quinta lei, a da complacência, afirma que cada um deve se esforçar para convivem com os outros. A sexta lei, do perdão, é anunciada assim: como garantia do tempo futuro, devem ser perdoados os que nos ofenderam no passado, mas tenham se arrependido ou desejam isso. A oitava lei é formulada com base no fato do ódio e do desprezo provocarem a luta entre os homens, por isso, ela prega: que nenhum homem, por meio de palavras ou atos, demonstre ódio e desprezo pelo outro. A nona lei estipula que os homens reconheçam os demais como seus iguais por natureza. O desrespeito disso é o orgulho e pode, também, provocar conflitos. A décima lei deriva da nona e estipula que ao se iniciarem as condições de paz, ninguém deve pretender reservar apenas para si um direito que não aceitaria que fosse privilegio de qualquer outro.

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A observância da lei que determina que se distribua igualmente a cada homem o que lhe cabe segundo a lei da razão é a equidade (ou justiça distributiva). Dela deriva uma nova lei ,a décima primeira, que as coisas que não podem ser divididas sejam desfrutadas por todos, na medida do possível, e, se a quantidade do que está sendo distribuído o permitir, sem limites; caso contrário, proporcionalmente entre aqueles que têm direito.A décima segunda lei determina: quese outorgue salvo-conduto a todos os homens que servem de mediadores da paz.A décima terceira lei estabelece que os que se acham em controvérsia devem submeter ser direito ao julgamento de um Árbitro. Isso, pois o homem tende a fazer tudo em próprio beneficio, então não pode julgar suas próprias causas.

As leis da natureza ditam a paz como meio de preservação das multidões. Todas as leis podem ser resumidas na seguinte: faz aos outros o que gostaria que te fizessem.As leis da natureza obrigam in foro interno, ou seja, estão ligadas a um desejo de vê-las cumpridas; mas in foro externo, nem sempre obrigam. Um homem que cumprisse todas as suas promessas em uma época em que ninguém fizesse o mesmo, estaria contrariando o próprio fundamento das leis. Desta forma, as leis obrigam in foro interno, porém, podem ser desrespeitadas.Uma lei propriamente dita, é a palavra de quem, por direito, tem o poder de mando sobre os demais. Logo, é inapropriado chamar de leis a esses ditames da razão, a não ser que considerarmos que estes teoremas são transmitidos pela palavra de Deus, que tem o direito de mando sobre tudo.

Uma pessoa é considerada natural quando suas palavras e ações são próprias.Quando não o são, chama-se a pessoa de artificial. Assim, esta seria uma representante das palavras ou ações de outra. A pessoa é o ator, ou seja, o representante que atua o personifica a outro a si; enquanto o autor é o dono das ideias.Deve-se diferenciar bem o autor do ator. O primeiro é o dono das palavras ou das ações; o segundo, apenas um representante personificado.

O direito de realizar uma ação chama-se autoridade; em consequência, compreende-se, por autorização, aquilo que for realizado por permissão daquele que detém o direito.Essa autoridade é passada pelo autor para o ator quando, por pacto, o segundo representa o primeiro e, os pactos firmados pelo ator desde que estejam dentro da autoridade concedida, devem ser cumpridos pelo autor como se ele mesmo tivesse os feito.Quando um ator age contra e lei da natureza, por mando do autor, se for obrigado a obedecê-lo por um pacto realizado anteriormente, não é ele, mas o autor quem infringe a lei da natureza. No caso de recusar-se a fazer tal ação o ator violaria, também, uma lei da natureza, aquela que obriga a cumprir os pactos.Assim, quando existe uma autorização evidente, o pacto obriga o autor.  Porém, quando há apenas uma autorização imaginária, o pacto obriga o ator, já que não existe outro a não ser ele mesmo.

Objetos inanimados, crianças, imbecis, loucos, figuras imaginárias e ídolos não podem ser considerados autores, pois não possuem razão para

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julgar seus atos. Logo, não podem dar autorização a seus atores. Porém, quando há um Estado, que possui domínio sobre as pessoas e coisas, há personificação das coisas e dos incapazes, autorizando atores para cuidar deles.Uma multidão se converte em uma só pessoa quando é representada por um homem ou uma pessoa, de tal forma que esta possa atuar com o consentimento de cada um dos indivíduos que compõem essa multidão. No caso de um representante que atua em nome de muitos, a voz da maioria é considerada como a voz de todos e, pela impossibilidade do Único representante agir através de dois posicionamentos contrários, o que for estipulado pela maioria torna-se a voz defendida pelo representante.

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SEGUNDA PARTE: O ESTADO O fim ou desígnio dos homens é a preocupação com a conservação e

a garantia de uma vida feliz, o que leva os homens a abandonarem o estado de guerra, consequência das paixões humanas. Os pactos não passam de palavras sem força, pois as paixões naturais dos homens (parcialidade, orgulho, vingança) são contrárias às leis da natureza e os faz tenderem ao descumprimento dessas leis. Se não for instituído um poder comum para garantir a segurança dos homens, estes para protegerem-se uns dos outros, só poderão confiar em sua própria força e capacidade.

A humanidade não vive em harmonia social como as demais criaturas vivas por vários motivos: Primeiro, que os homens, constantemente, se envolvem em competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre com essas criaturas; segundo, que entre esses seres não há distinção entre bem comum e bem individual, fazendo o bem individual, acabam promovendo o bem comum, já os homens só encontram a felicidade comparando-se aos demais; terceiro, as criaturas não fazem o uso da razão, não percebendo e nem julgando erros em suas vidas. Quarto, como as criaturas não fazem o uso da linguagem, elas não são influenciadas pelas outras. Já os homens semeiam o que acham bom ou mal entre si; quinto, injúria e dano não são distinguidos pelas criaturas irracionais; sexta, enquanto o acordo vigente entre esses seres é natural, entre os homens surge apenas através de um pacto, isto é, artificialmente, e requer ainda um poder capaz de faze-lo valer.

A única maneira de se instituir um poder comum é conferindo a um homem, ou a uma assembleia de homens, toda a força e poder, para que possa reduzir as vontades divergentes a uma só vontade. Isto é muito mais que apenas uma permissão ou consentimento, pois é uma unidade real de todos, através de um pacto entre os homens.

O consentimento é a concórdia, a permissão ou aceitação comum dos homens em torno de uma decisão a ser tomada ou autorizada. No caso da escolha de um representante que resumisse as vontades de todos na de um, isso seria mais do que consentimento. Este resultado seria uma unidade real de todos numa mesma pessoa do representante. Dessa forma, o pacto entre os homens seria o mesmo que cada homem dizer: Autorizo e desisto do direito de governar a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de que desistas também de teu direito, autorizando, da mesma forma, todas as suas ações.

Assim, a multidão representada por uma única pessoa é o Estado, que tem como objetivo assegurar a paz e a defesa comum, usando o poder e a força da maneira que achar mais conveniente. A essência do Estado é a seguinte: uma pessoa instituída, pelos atos de uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, como autora, de modo a poder usar a força e os meios de todos, da maneira que achar conveniente, para assegurar

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a paz e a defesa comum. O poder soberano pode ser adquirido de duas formas: uma pela força natural, relação pai/filho ou relação de guerra, ou pela concordância dos homens de submeterem-se voluntariamente a um homem ou a uma assembleia. No primeiro caso e no último caso, temos um Estado por instituição, no segundo, por aquisição.

Um Estado é considerado instituído, quando uma multidão de homens concorda e pactua que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, como se fossem seus próprios atos e decisões.Todos os direitos e faculdades daquele que possui o poder soberano são conferidos mediante o consentimento do povo reunido, derivam dessa instituição do Estado. Cada homem é obrigado a reconhecer e a ser considerado autor de tudo que seu soberano fizer e considerar bom fazer, pois foram os próprios homens que pactuaram entre si, conferindo a soberania a seu representante.

 Logo, é uma injustiça tentar tirar o poder do soberano, uma vez que estará tirando o que é seu. Da mesma forma, se alguém tentar depor o soberano e for morto ou castigado por essa tentativa, pode considerar-se como autor de seu próprio castigo. Nenhum súdito pode libertar-se do poder soberano, pois este é instituído pelo pacto que cada homem celebra em consenso com os demais; assim, aquele que quebra o pacto que fez com que todos os homens também submissos ao soberano estará cometendo uma injustiça com todos os outros súditos.

Todos devem aceitar o soberano escolhido pela maioria, até mesmo os que tiverem em desacordo, sob o risco de serem deixados, com justiça, na condição de guerra em que se encontravam. O soberano, em suas ações e decisões, nunca poderá ser considerado injusto ou injurioso por qualquer de seus súditos, uma vez que estes são, por instituição do Estado, autores de todos os atos e decisões do soberano.Da mesma fora, o soberano nunca poderá ser punido, já que cada um estaria castigando outrem pelos atos cometidos por si mesmo.

A finalidade da soberania é, através do direito, julgar todos os meios que possam levar à defesa ou à perturbação, escolher os meios que forem necessários para a preservação da paz e da segurança.É competência de a soberania julgar quais opiniões está e doutrina são contrárias às paz, quais as que lhe são propícias e, assim, evitar a guerra civil.Uma vez constituído o poder soberano, este deve prescrever as regras que ditam quais os bens que trazem prazer aos homens, e quais as ações que podem praticar. Isto é conhecido pelos homens como propriedade, e as suas regras, tal como o bom e o mau, ou o legítimo e o ilegítimo nas ações dos súditos constituem as leis civis.

O soberano também tem o direito de decidir quando a guerra com outros Estados corresponde ao bem comum, de reunir forças (exércitos) sob seu

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comando e cobrar os impostos necessários para fazer a guerra.Compete, ainda, à soberania a indicação de todos conselheiros, ministros, magistrados e funcionários, com a finalidade de delegar funções para atingir o fim, que é manter a paz e a defesa do Estado.Os direitos de punir e de recompensar, são inerentes ao soberano, pois este pode e deve atuar da melhor maneira, que ele considerar, para alcançar a paz e estimular os homens a servirem ao Estado.

Cabe ao soberano conceder títulos de honra e decidir qual a ordem de lugar e dignidade que cabe a cada um dos sinais de respeito, atribuindo um valor aos homens que bem servem, ou que são capazes de bem servir o Estado, através de leis de Honra.A autoridade atribuída pelos homens ao soberano é inseparável e indivisível, já que o poder de todos é o mesmo que o poder do soberano.

O poder de todos é o mesmo que o poder do soberano, pois este representa a vontade de todos, uma vez que eles fizeram um pacto e instituíram um soberano.O povo geralmente culpa a forma de governo pelas adversidades da vida, entretanto o poder é igual, sob todas as formas, se estas forem suficientemente perfeitas para proteger os súditos. A primeira vista pode parecer que a condição dos súditos é muito miserável, estando sujeita as paixões irregulares daqueles que detêm o poder, todavia não existe maior calamidade para os homens que a condição de guerra civil, onde não há poder coercitivo, nem qualquer sujeição às leis.

Existem três espécies de governo no Estado: Monarquia, Aristocracia e Democracia ou governo popular. Na monarquia, apenas uma pessoa é titular do poder soberano, sendo esta então, a única representante da sociedade que aderiu ao pacto social. A partir do momento que esta forma de governo passasse a ser detestada pela multidão insatisfeita, seria chamada de tirania, sendo assim, uma deturpação da monarquia e não uma forma de governo.

Na aristocracia o governo seria da coletividade, exercido por uma assembléia composta de parte do grupo social. Esta forma, quando exercida de maneira incorreta e ruim, seria chamada de oligarquia.

Já sobre a democracia, Hobbes a definiu como soberania nas mãos de uma assembléia de todos que firmaram o pacto social, ou seja, quando o povo elege seus representantes e estes assumem a função de soberano. A sua forma deturpada é a anarquia, ausência de governo, portanto não podendo se classificar também como espécie ou forma de governo.

Hobbes vê na monarquia como a melhor forma de governo, e assim, elenca algumas de suas vantagens. Dentre estas, pode-se destacar que o interesse pessoal do soberano é o mesmo que o interesse público, já que o monarca é ao mesmo tempo portador da vontade do povo e de sua própria vontade, fazendo com que ambos os interesses se aproximem. Assim, não há colidência entre eles e não se corre o risco de que o soberano busque o atendimento de seu próprio interesse em caso de conflito. Além disso, para

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Hobbes, não existe divergência nas escolhas do monarca, pois só ele escolhe e só ele governa, diferentemente dos demais casos onde existem várias pessoas opinando e decidindo por um mesmo fato.

No entanto, ocorre um problema na monarquia com relação à sucessão. Diante da necessidade de substituição do soberano em caso de morte por exemplo, não havendo algum representante pré-estabelecido por ele, todos teriam o direito de assumir o posto, levando ao retorno do estado de natureza, na guerra de todos contra todos. Esta situação não ocorre nos demais governos, já que na aristocracia os demais membros decidem qual será o sucessor, e na democracia, o povo vota e elege um novo representante.

Segundo o autor, o monarca tende a escolher como sucessor no governo o seu herdeiro, de preferência do sexo masculino, já que para Hobbes, o homem por natureza tem mais dons para governar do que a mulher. No caso de não haver herdeiros, o soberano deveria escolher o irmão, a irmã, ou então o parente que lhe é mais próximo, não havendo, um amigo de confiança.

Estado por aquisição é aquele onde o poder soberano foi adquirido pela força. Neste caso, os homens obedecem a um soberano ou assembléia por medo da morte ou perseguição.

Hobbes aponta dois tipos de soberania por aquisição: paterna e despótica. A paterna trata da soberania do pai ou da mãe sobre o filho ou filha, devido ao simples fato de os pais terem gerado os filhos, caracterizando assim essa forma de soberania a partir do estado de natureza.Porém, se ambos abrirem mão da criança, esta se tornará súdita daquele que a alimentar e criar.

O autor diz que se não houver contrato sobre quem deve ficar com o menor, então por natureza o direito a soberania pertenceria à mãe, com a condição de esta não ser submissa ao homem. Assim, a sujeição de um dos pais ao outro determina qual deles será o soberano.

No caso da soberania despótica, o melhor exemplo é o da guerra, onde os súditos, por vontade própria, decidirão seguir aquele que é o vencedor. Portanto, não se chega ao domínio despótico pela vitória em si, mas sim, pelo consentimento dos vencidos.

Assim sendo, os direitos e conseqüências tanto do direito paterno quanto do despótico são exatamente os mesmos que os do soberano por instituição. Os soberanos têm o direito de milícia e o poder judicial, direito que encerra o poder mais absoluto que a um homem é possível transferir a outro.

O poder soberano quer seja de um homem ou de uma assembléia, ao ver do autor, é o maior possível que se pode imaginar como criação humana.

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Liberdade para Hobbes significa ausência de oposição, é quando ao se deparar com uma situação qualquer, não ter entraves ao fazer aquilo que tem vontade ou inclinação a fazer. Assim, o autor diz que a liberdade é compatível com o medo e a necessidade, ou seja, o homem é livre para tomar decisões onde houver tais situações.

Com relação à liberdade dos súditos, vale citar a liberdade de defesa de seus próprios corpos, o direito de não poderem ser obrigados a prejudicar a si mesmos e nem a participar da guerra, a não ser que voluntariamente aceitem. No entanto, a principal liberdade dos súditos depende do silêncio da lei. O súdito tem o direito de fazer aquilo que quiser, desde que não conste como algo proibido pelo soberano.

Nos Estados que não dependem uns dos outros, cada Estado tem absoluta liberdade de fazer tudo o que considerar mais favorável a seus interesses. Alguns homens cometem o erro de tornarem a liberdade do Estado como sua própria, provocando sedições e mudanças no governo.

No momento em que se cria um Estado, os súditos abrem mão de determinadas liberdades, devido ao ato de submissão, que é composta pela nossa obrigação e liberdade. A liberdade do súdito se baseia na paz entre os súditos e a luta contra um inimigo comum. No entanto, nenhum súdito é obrigado a realizar ações cujo direito não pode ser transferido num pacto, como matar-se.

A liberdade varia de Estado para Estado, podendo ser maior ou menor. A obrigação dos súditos com o soberano dura enquanto, e apenas enquanto, durar o poder mediante o qual ele é capaz de protegê-los, pois o direito que um homem tem por natureza de proteger-se não deve ser abandonado através de pacto algum.

Quando há renúncia por parte do soberano ao governo, para si próprio e seus herdeiros, banimento, ou caso o soberano se torne súdito de outro, a sociedade também está dispensada da obediência ao seu soberano.

Para Hobbes sistemas são qualquer número de homens unidos por um interesse ou um negócio. Há dois tipos de sistemas, os regulares e irregulares, sendo os regulares aqueles em que um homem ou uma assembléia é instituído como representante de todo o conjunto e os irregulares todos os outros. Todo sistema político é criado pelo soberano do estado com poder ilimitado, embora o poder do representante político seja sempre limitado pelo próprio soberano, através de escritos ou cartas dotadas de autoridade.

Segundo o autor, é preciso também que as leis do estado comuns a todos os súditos determinem o que é legítimo o representante fazer, já que determinar apenas por cartas é mais difícil. Caso o representante não respeitar

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tais limites, somente ele será culpado dentro do corpo político, já quando o representante é uma assembléia, a culpa será daqueles que assentiram os atos não autorizados. Se o representante contrair alguma dívida, somente ele tem a obrigação de pagá-la, já se for uma assembléia, pagarão aqueles somente que tiverem votado a favor do empréstimo.

O protesto contra os decretos dos corpos políticos é por vezes legítimo, mas nunca o é contra o poder soberano. Assim, em uma assembléia soberana essa liberdade desaparece, pois quem ai protesta, também acaba por negar a soberania da assembléia, contrariando os interesses da paz e da defesa do estado.

Quando houver a existência de províncias ou colônias, para Hobbes, jamais se deve delegar função governativa a qualquer assembléia residente no local, mas deve-se enviar para cada uma delas um governador que represente o soberano, que administre o local por ele sob sua autoridade.

Em casos de membros de corpos políticos que se considerem injustiçados, o julgamento de sua causa compete ao soberano e aos que ele tenha nomeado como juízes de tais causas.

Os sistemas privados são criados pelos próprios súditos entre si e só vão ser legítimos se o estado permitir. Estes sistemas privados, regulares e legítimos são aqueles constituídos sem cartas, tal como são todas as famílias, onde o pai ou senhor comanda a família inteira, sendo o seu soberano absoluto, só perdendo autoridade naquilo que a lei do estado lhe tira.

Por fim, os sistemas irregulares que não tem representante, consistem numa reunião de pessoas e só poderão ser legítimos se não tiverem nenhum interesse de prejudicar o estado, e este tem que ter conhecimento de tudo que for estabelecido nessa reunião.

Para Hobbes um ministro público é aquele que é encarregado com autoridade pelo soberano no desempenho de qualquer missão, para representar o estado.

Dos ministros, alguns tem seu cargo na administração geral, neste caso todos os súditos têm obrigação de obediência às ordens que faça, desde que não sejam incompatíveis com o poder do soberano. Também são ministros aqueles que tem autoridade relativamente à milícia e os que tem autoridade para ensinar, ou para permitir a outros que ensinem ao povo seus deveres para com o poder soberano, instruindo-o ao conhecimento do que é justo ou injusto, a fim de tornar o povo mais capaz de viver em paz, harmonia e de resistir ao inimigo comum. Por fim, é ministro aquele a quem é concebido o poder judicial, representando o poder do soberano, e aquele que recebe do soberano autorização para proceder à execução de todas as sentenças, para publicar

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ordens estatais, para reprimir tumultos e praticar outros atos tendentes à preservação da paz.

Os conselheiros em uma monarquia são responsáveis por representar o monarca, transmitindo suas ordens aos ministros públicos. Numa democracia, o conselho propõe ao povo os resultados das deliberações; e numa aristocracia, o conselho é a própria assembléia.

Hobbes afirma que a nutrição de um estado consiste na abundância e na distribuição dos materiais necessários à vida, acondicionados, preparados e entregues à população através de canais adequados. A abundância desses materiais depende de Deus e do trabalho. Segundo o autor, existem duas matérias, sendo a nativa, que pode ser obtida em território do estado, e a estrangeira, quando é importada do exterior. O trabalho de um homem também é um bem que pode ser trocado por benefícios.

A distribuição dos materiais dessa nutrição estatal, por parte do poder soberano, é que constitui a concepção de propriedade, sendo que esta última, posse de um determinado súdito, não exclui o domínio do soberano, mas apenas dos outros súditos.

Em conseqüência, qualquer distribuição que o soberano faça em prejuízo dessa paz e dessa segurança é contraria a vontade de todos e assim essa distribuição deve, pela vontade de cada um deles ser considerada nula.

Hobbes também afirma que compete ao soberano não só a distribuição de terras do país, mas também a decisão sobre em que lugares e com que mercadorias os súditos estão autorizados a manter tráfico com o estrangeiro. Compete também ao soberano, determinar de que maneira devem fazer-se entre os súditos todas as espécies de contrato (de compra, venda, troca, empréstimo, arredamento), e mediante que palavras e sinais esse contratos devem ser considerados validos

Segundo o autor há uma grande confusão entre o que são conselhos e o que são ordens, ambos derivados de maneira imperativa de falar. Uma ordem é quando alguém diz para um outro alguém fazer uma coisa ou não, visando o ordenador com isso seu próprio benefício, pois a razão dessa ordem é apenas sua própria vontade. Já um conselho, é quando a pessoa ao dizer para outra fazer ou não determinada coisa, pretende apenas o benefício daquela que recebeu o conselho.

Um homem pode ser obrigado a fazer aquilo que lhe ordenam, como quando fez a promessa de obedecer, mas ninguém pode ser obrigado a fazer aquilo que lhe aconselham, porém, se caso já tiver feito promessa de segui-lo, o conselho já adquiriu a natureza de uma ordem. Outra coisa que também faz parte da natureza do conselho é que quem o pede não pode, de acordo com a

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equidade, acusar ou punir quem o der, já que pedir conselho a outra pessoa, é permitir-lhe que de esse conselho da maneira que julgar melhor.

A dissuasão e a exortação têm em vista o bem de quem da o conselho, não de quem o pede, lembrando que é dever apenas do conselheiro visar o bem de quem pede o conselho.

Leis civis são as leis que os homens são obrigados a respeitar, não por serem membros do Estado. A lei não é um conselho, mas sim uma ordem, uma regra. As leis são as regras do justo e do injusto, tudo que é injusto é contrario á alguma lei e somente o Estado pode criar leis.

Em todos os Estados o legislador é unicamente o soberano, seja este um homem, como numa monarquia, ou uma assembléia, como numa democracia ou numa aristocracia.

Um costume se transforma em lei, não porque durou muito, mas porque é a vontade do soberano, que pode ser expressa pelo sei silencio.

A lei de natureza e a lei civil contêm-se uma à outra e são de idêntica extensão. Porque as leis de natureza se originam da moral e só depois de instituído pelo Estado elas efetivamente se tornam leis. Todas as leis recebem toda sua força e autoridade da vontade do Estado.

Uma lei nunca pode ser contrária à razão, mas subsiste a dúvida quanto àquele cuja razão deve ser aceita como lei. Não pode tratar-se de nenhuma razão privada, porque é possível que muito estudo fortaleça e confirme sentenças errôneas, e quando se constrói sobre falsos fundamentos quanto mais se constrói maior é a ruína. Portanto o que faz a lei não é aquela jurisprudência, ou sabedoria dos juízes subordinados, mas a razão deste nosso homem artificial, o Estado, e suas ordens.

Lei é uma ordem e consiste na manifestação da vontade de quem ordena, portanto a ordem do Estado só é lei para aqueles que têm meios para dela se informarem. A lei não se aplica aos débeis naturais, às crianças, aos loucos, aos animais. Tudo que os homens conhecem como lei através de sua própria razão, deve ser válido para a razão de todos os homens, o que não pode acontecer com nenhuma lei a não ser a lei de natureza. Mas se for uma lei obrigatória apenas para uma categoria de pessoas e se não for escrita nem oralmente tornada pública, trata-se igualmente de uma lei de natureza. E não basta que a lei seja escrita e publicada, é preciso também que haja sinais manifestos de que ela deriva da vontade do soberano.

Se o crime é contra uma lei natural, o juiz deve ouvir os dois lados e julgar. Mas quando se trata de uma questão de injúria, ou crime, dependente de uma lei escrita, qualquer um pode ser informado antes de praticar tal injúria, ou cometer o crime. Porque quando alguém comete um crime, mas não sabe

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que é crime, mas poderia se informar, o ato é ilegítimo. Pois todos os homens têm a obrigação de fazer todos os esforços para se informarem de todas as leis escritas que possam ter relação com suas ações futuras.

Todas as leis têm necessidade de interpretação. A lei natural, que não é escrita, embora seja fácil para aqueles que fazem uso de sua razão natural sem parcialidade ou paixão tornou-se atualmente a mais obscura de todas as leis. Por isso é que tem mais necessidade de intérpretes capazes. Quanto às leis escritas, facilmente serão mal interpretadas se forem breves, devido à diversidade de significações de uma ou duas palavras. Se forem longas, serão ainda mais obscuras, devido à diversidade de significações de muitas palavras.

Deduz-se que nenhuma lei escrita, quer seja expressa em poucas ou em muitas palavras, poder ser bem compreendida sem uma perfeita compreensão das causas finais para as quais a lei foi feita. O conhecimento dessas causas finais está com o legislador. No ato de judicatura o juiz não faz mais do que examinar se o pedido de cada uma das partes é compatível com a equidade e a razão natural, sendo sua sentença uma interpretação da lei natural.

Jamais o erro de um homem se torna sua própria lei, nem o obriga a nele persistir. É contrario a lei natural castigar os inocentes. Inocente é aquele que é absolvido judicialmente e reconhecido como tal pelo juiz. Nenhuma injustiça poderá servir de padrão para o julgamento dos juízes posteriores.

Quando é posto em questão o significado das leis escritas, quem escreve um comentário delas não pode ser considerado seu interprete. Em geral, os comentários estão mais sujeitos a objeções do que o texto, suscitando novos comentários. Nesse sentido, a interpretação nunca teria fim. os interpretes não podem ser outros senão os juízes comuns.

É possível um juiz errar até na interpretação das leis escritas, mas nenhum erro de um juiz subordinado pode mudar a lei, que é a sentença geral do soberano.

É costume estabelecer uma diferença entre a letra e a sentença da lei, nos caso das leis escritas.

A significação de quase todas as palavras quer em si mesma quer em seu uso metafórico, é ambígua. Na argumentação podem adquirir muitos sentidos, mas na lei há apenas um sentido. Se por letra se entender o sentido literal, nesse caso não pode haver distinção entre a letra e a sentença ou intenção da lei. O sentido literal é aquele que o legislador pretendia que pela letra da lei fosse significado.

A palavra da lei ordena que se julgue de acordo com a evidência. Suponhamos que alguém é acusado falsamente de uma ação que o próprio juiz viu ser cometida por outro e não por aquele que está sendo condenado.

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Neste caso, nem a letra da lei deve ser seguida de maneira a condenar um inocente, nem o juiz deve dar sua sentença contra a evidência do testemunho, porque a letra da lei diz o contrário, mas deve solicitar do soberano que nomeie outro juiz e que ele próprio seja testemunha.

As aptidões necessárias a um bom intérprete da lei, ou seja, a um bom juiz, não são as que requerem um advogado, a saber, o estudo das leis. Um juiz, assim como deve tomar conhecimento dos fatos exclusivamente por intermédio das testemunhas, da mesma forma não deve tomar conhecimento das leis a não ser pelos estatutos e constituições do soberano, alegados no litígio, ou a ele declarados por alguém autorizado pelo poder soberano a declará-los.

O que faz um bom juiz ou interprete da lei é, em primeiro lugar, a correta compreensão daquela lei natural principal que se chama equidade. Essa correta compreensão não depende da leitura das obras de outros homens, mas apenas da sanidade da própria razão e meditação natural de cada um. Presume-se existir em maior grau nos que tem maior oportunidade e maior inclinação para sobre ela meditar. Em segundo lugar, o desprezo pelas riquezas desnecessárias e pelas preferências. Em terceiro lugar, ser capaz, no julgamento, de despir-se de todo medo, raiva, ódio, amor e compaixão. Em quarto e ultimo lugar, paciência para ouvir, atenção diligente ao ouvir e memória para reter, digerir e aplicar o que foi dito.

Nas Instituições, de Justiniano, encontramos sete espécies de leis civis.

Os editos, constituições epístolas do príncipe, que dizer imperador, porque todo o poder do povo residia nele. Os decretos de todo o povo de Roma, quando eram postos em discussão pelo senado. Estes eram leis inicialmente em virtude do poder soberano que residia no povo. Os decretos do povo comum – excluindo o senado –, quando eram postos em discussão pelos tribunos do povo. Senatus consulta = ordens do senado. Quando o povo romano se tornou demasiado numeroso para poder se reunir sem inconveniente, o imperador considerou preferível que se consultasse o senado. Os editos dos pretores e os dos edis. Responsa prudentum, que eram as sentenças e opiniões dos juristas a quem o imperador dava autorização para interpretar a lei e para responder a todos quantos pediam seus conselhos em matéria de lei. E os costumes não escritos  que são autênticas leis, pelo consentimento tácito do imperador, caso respeitem a lei natural.

Leis naturais e positivas consistem em outro tipo de divisão. Natural são as que têm sido leis desde toda a eternidade. As leis naturais são chamadas também de morais. Consistem nas virtudes morais.

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Positivas são as que não existem desde toda a eternidade. Foram tornadas leis pela vontade daqueles que tiveram o poder soberano sobre outros.

Das leis positivas umas são humanas e outras são divinas. Das leis positivas humanas umas são distributivas e outras penais. Distributivas são as que determinam os direitos dos súditos, declarando a cada um por meio do que adquire e conserva a propriedade de terras ou bens e um direito ou liberdade de ação. Estas leis são dirigidas a todos os súditos. Penais são as que declaram qual a penalidade que deve ser infligida àqueles que violam a lei. São dirigidas aos ministros e funcionários encarregados da execução das leis.

Estas leis penais são escritas juntamente com as leis distributivas, em sua maioria, e às vezes são chamadas julgamentos. Todas as leis são julgamentos ou sentenças gerais do legislador.

Leis positivas divinas – são todas elas divinas, já que são leis naturais, eternas e universais – são as que, sendo os mandamentos de Deus – não desde toda a eternidade, nem universalmente dirigidas a todos os homens, mas apenas a um determinado povo ou a determinadas pessoas –, são declaradas como tais por aqueles a quem Deus autorizou a assim declará-las.

Ninguém pode infalivelmente saber pela razão natural que alguém recebeu uma revelação sobrenatural da vontade de Deus. “Como é possível se sentir obrigado a obedecer-lhe”. Se a lei declarada não for contrária a lei natural – que é indubitavelmente a lei de Deus – e alguém se esforçar por obedecer-lhe, esse alguém é obrigado por seu próprio ato. Obrigado a obedecer-lhe, não obrigado a acreditar nela.

A fé na lei sobrenatural não é um cumprimento, mas apenas um assentimento a essa lei. Não é um dever que oferecemos a Deus, mas um dom que Deus faz livremente a quem lhe apraz. A incredulidade também não é uma infração de qualquer de suas leis, mas uma rejeição de todas elas, exceto as leis naturais.

O pacto que Deus fez com Abraão – de maneira sobrenatural – dizia o seguinte [Gên 17, 10]: “Este é o pacto que deves observar entre mim e ti, e tua semente depois de ti”. A semente de Abraão não teve essa revelação e nem sequer ainda existe, mas participou do pacto, ficando obrigado a obedecer ao que Abraão lhes apresentasse como lei de Deus. Isso só foi possível em virtude da obediência que deviam a seus pais, os quais – se não estiverem sujeitos a nenhum outro poder terreno, como era o caso de Abraão – têm poder soberano sobre seus filhos e servos.

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Num Estado os súditos que não tenham recebido uma revelação segura e certa relativamente à vontade de Deus, feita pessoalmente a cada um deles, devem obedecer como tais às ordens do Estado.

Se os homens tivessem liberdade de tomar por mandamentos de Deus seus próprios sonhos e fantasias ou sonhos e fantasias de determinados indivíduos, dificilmente haveria dois homens capazes de concordar quanto ao que é mandamento de Deus.

Os Estados cristãos castigam os que se rebelam contra a religião cristã, assim como todos os outros Estados castigam os que aderem a qualquer religião por eles proibida. Entre as leis fundamentais há outra distinção.

Se eliminada, lei fundamental é aquela em que o Estado é dissolvido. Lei fundamental, portanto, é aquela pela qual os súditos são obrigados a sustentar qualquer poder que seja conferido ao soberano, sem o qual o Estado não poderia subsistir.

Lei não fundamental é aquela cuja revogação não acarreta a dissolução do Estado, como é o caso das leis relativas às controvérsias entre súditos.

As expressões lex civilis e jus civilis, isto é, lei e direito civil, são usadas promiscuamente para designar a mesma coisa, mesmo entre os mais doutos autores. E não deveria ser assim. Direito é liberdade, nomeadamente a liberdade que a lei civil nos permite. A lei civil é uma obrigação, que nos priva da liberdade que a natureza nos deu. A natureza deu a cada homem o direito de se proteger com sua própria força. Deu também o direito de invadir um vizinho suspeito a titulo preventivo. Já a lei civil tira essa liberdade, em todos os casos em que a proteção da lei pode ser imposta de modo seguro. Dessa forma, lex ejus são tão diferentes quanto obrigação e liberdade.

Semelhantemente, as leis e as cartas são indistintamente tomadas pela mesma coisa. Cartas são doações do soberano, e não são leis, mas isenções da lei. Os termos usados na lei são jubeo, injugo, mando e ordeno, e os termos usados numa carta são dedi, concessi, dei e concedi. O que é concedido a um homem não lhe é imposto por lei.

Uma lei pode ser obrigatória para todos os súditos de um Estado, mas uma liberdade ou carta destina-se apenas a uma pessoa, ou apenas a uma parte do povo. Dizer que todo o povo de um Estado tem liberdade em determinado caso é o mesmo que dizer que, para tal caso, não foi feita lei alguma, ou então que já está revogada, se o foi.

Um pecado não é apenas uma transgressão da lei, é também qualquer manifestação de desprezo pelo legislador. Porque o propósito de infringir a lei manifesta um certo desprezo por aquele a quem compete mandá-la executar. O ato de sonhar ou imaginar não pode ser considerado pecado, um crime é um

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pecado que consiste em cometer, por feito ou por palavra um ato que a lei proíbe, ou em omitir um ato que ela ordena. Assim, todo crime é um pecado, mas nem todo pecado é um crime.

A fonte de todo crime é algum defeito de entendimento, ou algum erro de raciocínio, ou alguma brusca força das paixões. O defeito de entendimento é ignorância, e o de raciocínio é opinião errônea. A ignorância da lei de natureza não pode ser desculpa para ninguém, pois deve supor-se que todo homem chegado ao uso da razão sabe que não deve fazer aos outros, o que jamais faria a si mesmo, pois a ignorância da lei civil não constitui desculpa; o desconhecimento da pena também não livra a pessoa que cometeu o crime, mas nenhuma lei feita depois de praticado um ato pode transformar este num crime

Acontecem também os que se avaliam pela importância de sua fortuna, se aventuram a praticar crimes com a esperança de escapar ao castigo. E também os que têm uma grande e falsa opinião de sua própria sabedoria se atrevem a repreender as ações e a pôr em questão a autoridade dos que os governam, transtornando as leis com seu discurso público

De maneira geral, todos os homens possuídos de vanglória estão sujeitos à ira, pois têm mais tendência do que os outros a interpretar como desprezo a normal liberdade de conversação. E poucos são os crimes que não podem ser resultado da ira.

A partir destas diferentes fontes do crime, já vai ficando claro que nem todos os crimes são da mesma linhagem, ao contrário do que pretendiam os antigos estóicos. Não apenas há lugar para desculpas, mediante as quais se prova não ser crime aquilo que parecia sê-lo, mas também para atenuantes, mediante as quais um crime que parecia grande se torna menor. Embora todos os crimes mereçam igualmente o nome de injustiça, tal como todo desvio de uma linha reta implica igual sinuosidade, conforme acertadamente observaram os estóicos, não se segue daí que todos os crimes sejam igualmente injustos, tal como nem todas as linhas tortas são igualmente tortas. Por deixarem de observar isto, os estóicos consideravam crimes igualmente graves matar uma galinha, contra a lei, e matar o próprio pai.

Um ato que foi feito por legítima defesa, o ato não se torna crime, pois o ato foi feito para a sua própria preservação. Se uma pessoa mata outro, por não ter alimento, o crime é desculpado.

Os graus do crime distribuem-se em várias escalas, e são medidos, em primeiro lugar, pela malignidade da fonte ou causa; em segundo lugar, pelo contágio do exemplo; em terceiro lugar, pelo prejuízo do efeito; e em quarto lugar pela concorrência de tempos, lugares e pessoas. O mesmo ato praticado contra a lei, se derivar da presunção de força, riqueza e amigos capazes de

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resistir aos que devem executar a lei, é um crime maior do que se derivar da esperança de não ser descoberto ou de poder escapar pela fuga. Porque a presunção da impunidade pela força é uma raiz da qual sempre brotou, em todas as épocas e devido a todas as tentações, o desprezo por todas as leis, ao passo que no segundo caso o receio do perigo que leva um homem a fugir torna-o mais obediente para o futuro.

Ninguém pode dar o direito à outra de lhe agredir. O Estado tem o direito de nos defendermos, independente da nossa vontade. E todos devem ajudar o soberano na punição de outro, que não a sua própria. Somente o estado pode punir. Antes da existência do Estado todos tinham direito a tudo, direito de fazer o que se achava justo. Para dar poder ao soberano, os súditos renunciam ao seu.

As vinganças pessoais e as injurias particulares não são consideradas penas, pois não foram executadas por uma autoridade publica. As penas têm que ser anteriormente publica, se não for se torna um ato hostil, pois o ato deve ser julgado anteriormente. Assim como um dano causado por um poder não legitimo também é hostil. A pena também deve ser feita com a intenção de punir, existem também as penas que serão julgadas por Deus. Se a pena for abusiva, é considerado um ato hostil. Leis que não tem pena determinada devem ser julgadas normalmente, mas quando ainda não existe a lei, não é crime e não deve haver pena. Os danos infligidos a quem é um inimigo declarado não podem ser classificados como penas. Dado que esse inimigo ou nunca esteve sujeito à lei, e, portanto não pode transgredi-la.

A primeira e mais geral distribuição das penas é em divinas e humanas. As penas humanas são as que são infligidas por ordem dos homens, e podem ser corporais, pecuniárias, a ignomínia, a prisão, o exílio, ou uma mistura destas. Destas penas, umas são capitais e outras menos do que capitais. Pena capital é a morte.

Todas as penas aplicadas a súditos inocentes sejam elas grandes ou pequenas, são contrárias à lei de natureza, pois as penas só podem ser aplicadas por transgressão da lei, não podendo, portanto os inocentes sofrer penalidades.

Os benefícios outorgados pelo soberano a um súdito, por medo de seu poder ou de sua capacidade para causar dano ao Estado, não são propriamente recompensas. Não são salários, porque neste caso não se supõe a existência de qualquer contrato, pois cada um já se encontra obrigado a não causar prejuízos ao Estado.

A natureza humana é obrigada a submeter-se ao governo pelo orgulho e paixão, junto com o poder do governante, comparado com o Leviatã.

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Não há nada na Terra, disse ele, que se lhe possa comparar. Ele é feito de maneira a nunca ter medo. Ele vê todas as coisas abaixo dele, e é o Rei de todos os Filhos da Soberba.

Mas dado que é mortal, e sujeito à degenerescência, do mesmo modo que todas as outras criaturas terrenas, e dado que existe no céu (embora não na terra) algo de que ele deve ter medo, e a cuja lei deve obedecer.

O Estado político é fruto de uma convenção entre os homens; antes dessa espécie de acordo vive-se num estado de natureza; a passagem de uma instância à outra é conhecida como contrato ou pacto social. O estado de natureza se configura como uma condição onde os indivíduos se encontram em guerra uns contra os outros. Cada qual está livre para fazer o que bem entender. Não há governo: vive-se numa anarquia completa. A vida humana nesse quadro natural é desconfortável. Miséria, violência, expectativa de existência breve e medo recíproco são algumas das perturbações que atingem o homem pré-civil.

Para resolver a problemática da guerra os homens pactuam entre si uma sociedade civil, ou seja, uma instância onde podem viver em paz uns com os outros. Para garantir o objeto do contrato, o Estado se apresenta como uma força soberana e absoluta sobre a vontade dos indivíduos (súditos), que enquanto tais estão livres apenas naquilo e tão-somente naquilo que a lei estatal, ou lei civil, permitir como liberdade.

Diante disso, pode se indagar, o Estado postulado por Hobbes não é por excelência o lugar do autoritarismo? A quem diga que sim. Entretanto, é necessário observarmos que o propósito do contrato social é gerar uma condição onde se possa viver em paz.

Examinando os escritos filosóficos de Hobbes, podemos constatar facilmente que o homem é mal por natureza. Todo indivíduo tende a querer colocar-se em primeiro plano e a querer o que é bom apenas para si. De um modo geral, a satisfação do desejo egoísta de cada um, acaba por resultar no mal para o outro. Entretanto, na vivência em sociedade essa tendência precisa ser controlada para não descambar para o conflito generalizado. Se não houver um mecanismo estatal eficiente capaz de garantir o respeito mútuo, os homens podem se comportar de maneira tão violenta, quanto se comportariam no seu estado natural; ou seja, numa instância anárquica.

Nessa perspectiva a violência no interior da sociedade civil é uma afronta ao poder absoluto do soberano e o seu crescimento enfraquece o poder estatal. Ora, se a nossa associação é algo tão necessária a todos, conforme pensa os indivíduos ao firmar o pacto social, então por que detratá-la?

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Os homens de Hobbes deveram ressaltar é mal por natureza; não importa o estado: queremos sempre o bem e pouco importa se isso resulte no mal para o(s) outro(s). Se não houver um poder coercitivo suficientemente capaz de orientar o curso da liberdade humana, de modo que o direito de um não fira o do outro, tendemos a exercitar o nosso espírito beligerante. E com isso, conduzimos a sociedade à ruína.

É certo que a condição política não é eterna. Longe disso, o poder estatal, segundo o filósofo, consiste numa espécie de Deus mortal. No capítulo XXIX do Leviatã (1) Hobbes nos mostra várias causas que, se levadas a cabo, podem arruinar a sociedade. O Estado, assim como o homem natural, está também suscetível a certos tipos de debilidades que podem levar ao enfraquecimento e à sua dissolução. Diante disso, é imprescindível à manutenção de uma condição pacífica que o soberano, zele pela saúde da instância civil.

Dentre as diversas enfermidades que podem debilitar e dissolver o Estado, uma delas consiste em que, ao súdito seja admitido o poder de julgamento sobre o bem e o mal. Afirma Hobbes, a primeira e maior coisa que dispões à sedição é a tese de que o conhecimento do bem e do mal compete a cada individuo; isto teria sentido no estado natural dos homens. Na sociedade civil, o soberano é quem deve determinar o que é bom ou mal, o que é justo ou injusto. Em Hobbes, o soberano, está acima das leis. Se o Estado permitir que os cidadãos, que estão sob o domínio das leis, determine o que é bom e o que é mal, logo, estaríamos, em tese, fazendo às vezes de soberanos.

Outro erro, na visão do filósofo, é submeter o detentor do poder soberano às leis civis. O soberano está sujeito às leis de natureza; mas não as leis positivas. MacAdam comenta que a boa vida, inclusive o direito à vida, requer também que a mão que empunha a espada esteja desatada, livre das leis. Se, se entender que o detentor do poder do Estado deva estar submetido às leis da República, há que se inferir que haveria uma força que acima do próprio Estado, e isso é incompatível com os desideratos dos homens ao pactuarem entre si a condição pacífica.

Outra contribuição para a derrocada da República é a divisibilidade do poder do soberano. Os poderes [quando] divididos se destroem mutuamente uns aos outros. Noutras palavras, Hobbes é contra a divisão do Estado político em três poderes (legislativo, executivo e judiciário). Hobbes é favorável que estes poderes estejam contidos e controlados por uma só mão.

Hobbes identifica uma série de debilitações que seriam, em tese, capazes de enfraquecer e de dissolver o Estado. Fiquemos com essas e com a consciência de que, embora os homens e os Estado não possam ser eternos, é necessário que se zele por aquilo que é o objetivo do contrato social: manter o Estado pacífico. Pois, conforme comenta Polin, por mais dura que seja a

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condição dos súditos, ela é sempre mais doce do que o seria no estado de natureza ou nos horrores da guerra civil.

Diante disso, o que afirmar de um estado que faz vistas grossas para a problemática da violência? O que dizer de indivíduos que recusam a se comportarem como cidadão? Caminhamos para o fim? Estamos em decadência? Talvez a saída seja rever os nossos conceitos de indivíduos civilizados. Concluindo, muito dos ensinamentos da doutrina de Hobbes continua mais atuais que nunca.

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CONCLUSÃOFinalizada a análise da obra, o grupo concluiu que a doutrina de Thomas

Hobbes descrita em “O Leviatã” se baseia em dois pilares fundamentais: o homem e o Estado.

O autor define o homem como um ser que necessita viver em sociedade, e consequentemente, cria um Estado por meio de um pacto entre um representante (seja um monarca ou uma assembléia) e seus súditos. Se faz necessária uma autoridade a qual todos os súditos devem render sua liberdade natural, de forma que o representante possa assegurar a paz interna e a defesa comum.

Quando ele diz que o homem é egoísta por natureza, não podemos considerar-lo errado, pois desde as sociedades primitivas o homem luta contra o próprio homem; sempre lhe foi próprio a sede de conquista.

Quanto à teoria política de Hobbes, vemos que ela não é aplicável, por exemplo, em uma sociedade feudal, escravocrata ou nos impérios antigos. A teoria política de Hobbes se aplica a um tipo de sociedade denominada de "Sociedade de Mercado Possessivo”. Nessas sociedades cada indivíduo escolhe a profissão que quer ter; não há uma recompensa específica e que seja adequada s cada profissão. Há recompensa, mas não medida corretamente; há definição e obrigatoriedade impositiva para o cumprimento de contratos; todas as pessoas procuram maximizar seus proveitos; a força de trabalho de cada pessoa é de sua propriedade e pode ser vendida; a terra e os recursos pertencem aos homens e são alienáveis; alguns homens querem um nível maior de proveitos ou de poder do que já têm; alguns homens têm mais do que outros.

Apesar de ter sido escrito em 1651, o livro ainda tem validade na nossa realidade atual, pois a sociedade capitalista possui estas características e não há como negar que ela favorece as três causas básicas da discórdia enunciadas por Hobbes. Quem poderá dizer, que uma sociedade como a nossa não favorece a competição? E isto faz do homem o lobo do próprio homem. Quem poderá dizer que ela não favorece a desconfiança? Pois quem no mundo de hoje, não tem que viver com suas portas trancadas com medo; e medo de quem, senão de seu próprio semelhante? Quanto à terceira causa da discórdia, que é a busca de poder político, econômico e social, além do conhecimento

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BIBLIOGRAFIAHOBBES, Thomas. O Leviatã.

Editora Martin Claret, 2005.