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ELIANA MORAES DE ALMEIDA LIVRO DE REGISTRO DO TRATADO DE SANTO ILDEFONSO (Volumes I,II,III) – 1777 a 1793 : Edição de textos e estudo da pontuação CUIABÁ UFMT/ 2005

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ELIANA MORAES DE ALMEIDA

LIVRO DE REGISTRO DO TRATADO DE SANTO ILDEFONSO

(Volumes I,II,III) – 1777 a 1793 : Edição de textos e estudo da pontuação

CUIABÁ

UFMT/ 2005

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ELIANA MORAES DE ALMEIDA

LIVRO DE REGISTRO DO TRATADO DE SANTO ILDEFO NSO

(Volumes I, II, III) – 1777 a 1793: Edição de textos e estudo da

pontuação

CUIABÁ

UFMT/ 2005

Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação do Dep. de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagem, na área de Descrição Lingüística. ORIENTADOR: Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago de Almeida.

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“Não há limite para a produção de livros, e estudar demais deixa exausto o corpo. Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos mandamentos, porque isso é essencial para o homem.” Eclesiastes 12: 12,13.

“Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre!

Amém.” Rm 11:36

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RESUMO

O Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso, formado por três volumes,

reúne uma série de documentos (cópias), relatórios, cartas em sua maioria, incluindo uma

cópia do tratado de Madri e do tratado de Santo Ildefonso. De valor histórico inegável,

compõe-se de memórias, instruções, antecedentes e trabalhos demarcatórios envolvendo o

período de 1777 a1793 no governo de Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres.

Esta pesquisa é uma tentativa de se posicionar quase na fronteira entre o trabalho

filológico e a investigação histórica da língua. Extrapola os limites da fixação de uma fonte

historiográfica no contexto regional, consistindo numa reflexão sobre o estado da língua

nos idos do séc. XVIII, focalizando um estudo da pontuação nos manuscritos.

O trabalho se realiza em três etapas: seleção de documentos com análise

codicológica, edição dos textos e análise preliminar da pontuação.

O primeiro capítulo traz as bases metodológicas e científicas do trabalho filológico.

O segundo, a história dos textos e um pouco do contexto social e das personagens que os

compõem. A edição dos manuscritos, bem como as normas de transcrição, são

apresentadas no capítulo três. O estudo lingüístico, com análise dos principais sinais de

pontuação : ponto final, vírgula , ponto-e-vírgula e dois pontos compreendem o capítulo

quatro.

Ao fim, apresentam-se algumas considerações sobre o trabalho e uma seção de

anexos com fotos de visualização dos manuscritos.

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AGRADECIMENTOS

Ao Senhor da minha vida, dono da minha alma, dono do meu coração. Eu não seria

nada sem Ele, porque sem Ele nada poderia eu fazer. Sou o que sou pela Sua infinita

misericórdia, amado Jesus Cristo.

Ao meu amado, parte de mim, metade de mim, e meu tudo...Diogo Alves. Você

trouxe toda motivação e força que eu precisava neste processo. Foi bom ter esperado

você...

A minha família, meus pais principalmente. Jamais mediram esforços para minha

educação, amo vocês.

A minha " irmã mais velha" e amiga maior, Josenice, posso ver um pouco de você

em tudo que construímos juntas. Obrigada pela força no trabalho.

Ao meu orientador, pelas críticas, pelo apoio, por tudo...Admiro muito seu trabalho.

Aos meus professores, principalmente da coordenação de pós-graduação , o

Mestrado em Estudos de Linguagem: por trás de todo profissional bem sucedido há

mestres de inestimável valor, como vocês.

Ao professor Doutor César Nardelli e à professora Doutora Maria Rosa Petroni, por

serem a luz que faltava no final desta pesquisa.

Ao Arquivo Público de Mato Grosso e todas as demais instituições que forneceram

as fontes deste trabalho.

A todos os meus amigos e colegas, que ajudaram a escrever mais uma página de

uma história de lutas e preciosas vitórias.

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ABSTRACT

Saint Ildefonso Treaty Register Book composed by three volumes, containing several

documents (copies), reports and most of them letter, including a copy of Madrid Treaty and

Saint Ildefonso Treaty is an inestimable historical and linguistic source.

Memories, instructions, records and demarcation works from 1777 to 1793, when

Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres was the governor of Mato Grosso formed

these Books.

This research is in the frontier of Philology and History, trying to realize an

investigation besides establishing a document. Focused on language description it’s more

than a regional historic source: it deals with a reflection about our language in Eighteen

Century.

The study is divided in three stages: manuscript selection with a codicological

analysis, text editions and a preliminary essay about punctuation.

The first chapter brings scientific and methodological basis. The second, based on

the history of selected manuscripts also shows the social context about that time. The

editions of these manuscripts, as well as transcription rules are presented in chapter three.

An analysis of language structure in chapter four emphasizes the system of

punctuation: full stop, semicolon, colon and comma.

Special status is given to certain points of the study in the last chapter. Finally,

photos of some manuscripts also illustrate all.

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FICHA CATALOGRÁFICA

A447l Almeida, Eliana de Moraes. Livro de registro do tratado de Santo Ildefonso (Volumes I, II, III) – 1777 a 1793: edição de textos e estudos de pontuação. / Eliana de Moraes Almeida. – Cuiabá: a autora, 2005. 185p. Orientador: Prof.Dr. Manoel Mourivaldo Santiago de Almeida. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso. Insti- Tuto de Linguagens. Campus Cuiabá.

1. Lingüística. 2. Literatura. 3. Filologia. 4. Análise codicológica. 5. Edição de manuscritos. 6. Pontuação. 7. Capitania do Mato Grosso. I. Título.

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I – INTRODUÇÃO

Philologie ist die Erkenntnis des Erkannten.

Filologia é o conhecimento do conhecido

August Boeckh (1785-1867)

Os interesses da Filologia têm variado conforme as épocas em que se praticou a

atividade filológica e de acordo com autores e lugares onde fora praticada. O labor filológico

tem seu campo específico e, tanto quanto possível, bem determinado. A Filologia não subsiste

senão no texto, concentra-se no texto para restituí-lo à sua genuinidade e prepará-lo para ser

publicado (Spina: 1994).

De forma objetiva, ela se preocupa em restituir o texto à sua forma original através dos

princípios da crítica textual, mais especificamente da Edótica, compreendendo a organização

material e formal do manuscrito, além de outros problemas que não se limitam ao texto, mas

se deduzem dele, tais como: autoria, datação e importância perante os textos da mesma

natureza.

Em reconhecimento a isso, na fronteira entre o trabalho filológico e a investigação

histórica da língua, esta dissertação surge como resultado de um trabalho que extrapola os

limites da fixação de uma fonte historiográfica no contexto regional apenas, consistindo

também numa reflexão sobre o estado da língua nos idos do séc. XVIII (1777-1793).

O Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso encontra-se no acervo do Arquivo

Público Histórico de Mato Grosso e faz parte do fundo da Secretaria de Governo, inscrevendo

as correspondências da Capitania de Mato Grosso, no período das administrações de Luís de

Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres e, posteriormente, João de Albuquerque de Mello

Pereira e Cáceres.

São três volumes que compreendem documentos envolvendo o período de 1777 a

1793, muito embora os termos de abertura e encerramento datem de 1774. Foram elaborados

por ordem do governador da Capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque, para

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servir de registro das ordens de Sua Magestade e quaisquer

outros documentos relativos a Demarcação dos Reaes

Dominios. (Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso,

Volume I, termo de abertura).

Dada a extensão da fonte escolhida, foram selecionados alguns textos mais relevantes

que compõem o Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso: cópia do Tratado de Santo

Ildefonso (volume I), três cartas (volume II) e um diário de viagem (volume III), para edição e

análise.

1.1 Princípios científicos do trabalho filológico

A atividade filológica também considera a língua, analisa suas formas e construções,

acompanhando, por meio de documentos cronologicamente sucessivos, a evolução dos

fonemas, das formas, do emprego das formas e da construção da frase (transformações

sintáticas).

Assim, o desenvolvimento deste trabalho percorre três etapas bem definidas:

a) Seleção e reconstrução histórica dos manuscritos (capítulos I e II);

b) Edição dos manuscritos (capítulo III);

c) Análise lingüística (estudo da pontuação- capítulo IV).

Anterior à seleção, alguns princípios científicos que constituem a crítica textual foram

considerados, a fim de preencher todas as lacunas na definição do foco e da metodologia da

pesquisa.

Com base no sistema de Lachmann (Spina: 1994) e nas etapas apresentadas por

Bassetto (2001), Azevedo Filho (1987), Vasconcellos (1959), entre outros, a recensio permitiu

um levantamento de todos os códices existentes do Tratado de Santo Ildefonso, das cartas e

do Diário de Navegação.

É importante destacar que todos os volumes possuem um índice, que, além de definir

os fólios de localização dos documentos, também descreve resumidamente o conteúdo de

cada um deles , afirmando que os manuscritos presentes nas obras são cópias. Quando tal

informação não aparece diretamente nos índices, ela está presente no início dos textos no

interior dos volumes.

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Fig. 1 - Índice no início do Livro de Registro do T ratado de Santo Ildefonso –

vol. III.

Por outro lado, sabe-se, pelo próprio Arquivo Público de Mato Grosso, que dos

originais das correspondências, diários de viagem, instruções, relações, memórias, recibos,

cartas e respostas de cartas faziam-se cópias que formavam os livros de registro. Os originais

podem ou não ser localizados em acervos do país, Portugal ou Espanha, logo não haveria

como estabelecer parâmetros para uma edição crítica. A natureza desta pesquisa não focaliza

a produção de uma edição crítica no atual contexto. Entretanto, pela existência de edições dos

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Tratados de Madri e Santo Ildefonso (Volume I), pode-se abrir espaço para uma produção

posterior de obra crítica, mas apenas dos Tratados, visto que, até o presente momento, não se

sabe de outra cópia semelhante à do livro de Santo Ildefonso na íntegra dos volumes,

contando as cartas e demais documentos, nos acervos da região Centro Oeste pelo menos.

O tratado de Santo Ildefonso tem seu original fortemente guardado na Biblioteca da

Torre do Tombo em Portugal, mas o conteúdo das correspondências da capitania de Mato

Grosso faz supor que algumas cópias foram entregues às demais capitanias envolvidas nos

trabalhos demarcatórios e, destas, uma delas encontra-se no livro de registro, intitulando-o.

Por se tratar de um documento de grande valor histórico, já foi editado e consta de

obras da História Geral do Brasil, a exemplo da edição de Soares (Siqueira 2002:57), cujo

fragmento do Artigo X é reproduzido a seguir.

Fig. 2 - Fragmento da edição de Soares (In: Siqueir a 2002:57).

O exemplar editado aqui tem valor lingüístico e histórico e será considerado como

fonte do registro formal da língua setecentista no processo de análise, postura que será

esclarecida no desenvolvimento da pesquisa.

Os três volumes contam com um total de 348 cartas (respostas e as chamadas

“ditas”/”dito”). Como explicado anteriormente, conforme descrição do próprio livro, os

manuscritos constituem-se em cópias, cujos originais se perderam ou fazem parte de acervos

fora do país (Portugal e Espanha).

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O histórico dos códices, como dito anteriormente, será apresentado no segundo

capítulo da dissertação, fornecendo também o contexto social e político, os quais envolvem a

elaboração das obras.

Tornou-se indispensável, devido ao grande volume de manuscritos, a adoção de alguns

critérios, com o objetivo de determinar quais exemplares comporiam esta pesquisa, tais

como:

1. Relevância histórica de conteúdo, isto é, a natureza do conteúdo dos manuscritos

deve possuir relevância para o contexto histórico regional;

2. Adequação ao contexto de formação do Livro – relação com o Tratado de Santo

Ildefonso, pois vários manuscritos relacionam-se a acontecimentos de menor

relevância.

3. Mudança de punho indicando alteração de autores/copistas – revelada também pela

grafia e estilo na linguagem.

Quanto ao processo de edição, apresentado no terceiro capítulo, convém destacar que

os textos têm capital importância como documentos da língua, pois noticiam e apresentam

visão geral do estado da língua em épocas anteriores, permitindo fazer a história do idioma.

Desta maneira, cabe ao pesquisador a escolha da melhor edição, a qual favoreça a análise das

ocorrências no interior da estrutura da língua.

Das edições apresentadas por Spina (1994), Bassetto (2001), Cambraia (1999), Acioli

(1994), entre outros – edição crítica, diplomática, semidiplomática ou diplomático-

interpretativa, paleográfica e fac-símile – optou-se, nesta pesquisa, pela apresentação da

edição diplomática, justificada e descrita detalhadamente também no capítulo III. Além disso,

dentro dos limites possíveis ao trabalho de pesquisa, acompanha este estudo uma lista de

abreviaturas dos fólios selecionados e de um acervo de fotos para visualização dos

manuscritos.

A edição fac-símile ainda não se tornou possível devido à falta de material

especializado para reprodução (inúmeras tentativas frustradas de reprodução foram realizadas

com os recursos disponíveis), aos danos irreversíveis nos únicos microfilmes da obra e, ainda,

à negativa da instituição em remover o documento para reprodução em outro arquivo. De

acordo com o APMT, talvez até o próximo ano, o laboratório em construção possa oferecer

reproduções dos documentos.

No quarto capítulo são contemplados alguns pontos de descrição da norma gramatical

no período setecentista pelo estudo da pontuação dos manuscritos.

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Sob o ponto de vista diacrônico, considera Bassetto (2001:41) que qualquer variedade

lingüística pode ser analisada em sua história externa ou interna. A primeira envolve a

investigação da origem da língua ou do dialeto, o território ocupado e possíveis expansões, as

influências do substrato, do superstrato e do adstrato, os fatos políticos, econômicos, sociais e

culturais que, de alguma forma, influíram em sua evolução. A história interna, por outro lado,

tem como objeto de estudo a língua em sua evolução interna, nos vários níveis lingüísticos –

fonético, morfológico, sintático, léxico e estilístico. Em filologia românica, completa o autor,

esses dois aspectos são pesquisados no latim e suas variedades (vulgar) e nas línguas e

dialetos românicos.

Os textos constituem a base de pesquisa; mas é

importante que essa base seja realmente confiável. Essa

confiabilidade é obtida através do trabalho filológico da

Edótica. (Bassetto 2001:42)

As noções correspondentes aos trabalhos de edição e análise dos manuscritos desta

pesquisa compreendem a disciplina denominada Edótica, cujas normas gerais (Spina: 1994)

são aplicáveis à publicação de documentos históricos, filosóficos e religiosos.

A Edótica representa como que o ponto de chegada de

todo o labor filológico, embora hoje o papel da Filologia

apresente um propósito mais arrojado, mais pretensioso

do que a simples canonização dos textos literários

através de procedimentos que se consubstanciaram na

chamada “crítica textual” (Spina 1994:60).

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II – HISTÓRIA DOS TEXTOS

Sabe-se que toda produção escrita revela uma história única que, ao ser percorrida e

recontada, pode mostrar a constituição não somente da obra, mas de seu contexto, autor e

demais personagens que a produziram.

O Brasil pouco tem se preocupado em preservar sua própria história. Grande parte de

sua produção acaba se perdendo no passar dos anos, esquecida nos sótãos e pequenas salas,

sem o devido cuidado de preservação. Alguns estados e municípios, porém, tentam resistir,

investindo recursos na abertura de espaços especializados para cuidar e manter vários

registros antigos.

Não existem registros que indiquem os procedimentos de incorporação dos materiais

que compõem o Livro de Santo Ildefonso ao acervo do Arquivo Público de Mato Grosso.

Essa ausência de registros dificultou o conhecimento imediato acerca da proveniência,

classificação e ordenação originais, bem como datas-limite e outros elementos fundamentais

para a pesquisa. A maior parte dos documentos não apresenta dificuldades para o

entendimento paleográfico, contudo o vocabulário do período ainda não estava normatizado e

a utilização de abreviaturas era corrente. Além disso, a deterioração da tinta de alguns fólios

não permite mais a leitura de vários trechos dos textos, muito menos a reprodução por

fotografia, senão por microfilmagem.

Neste capítulo, tratar-se-á da reconstituição histórica dos códices, apesar de muitas

informações terem se perdido, gerando lacunas irrecuperáveis no percurso. Também, algumas

observações quanto ao aspecto material dos códices e notas paleográficas serão destacadas.

2.1 Os códices

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O Arquivo Público de Mato Grosso (APMT) tem um acervo de setenta e um livros de

registros da Capitania de Mato Grosso, correspondentes ao período de 1702 a 1825,

provenientes em sua maioria da Secretaria de Governo.

Para entender os acontecimentos registrados nos livros que serviram de fonte a este

trabalho, torna-se necessário retomar alguns elementos da história de Mato Grosso e do Brasil

colonial.

Silva (1994:29) relata que o século XVII, para Mato Grosso, foi marcado por invasões

de bandeirantes paulistas na busca do índio. Por outro lado, o século XVIII se destaca pela

chegada de aventureiros de toda ordem e gente de toda a espécie, principalmente de São

Paulo, à procura de ouro. Sob a jurisdição e ordens da então Capitania de São Paulo, Mato

Grosso era uma constante preocupação para a Coroa portuguesa.

Até 1746, reconhece-se que a penetração, conquista e povoamento de todo o Mato

Grosso estavam bem consolidados. O domínio português se estendia aos mais longínquos

sertões, dos pequenos arraiais às lavras auríferas. Contudo, apesar do efetivo e inconteste

domínio colonial português, o Tratado de Tordesilhas, firmado por Portugal e Espanha em

1494, conferia ao Reino Espanhol o direito de posse das terras.

Somente em 9 de maio de 1748, D. João V, Rei de Portugal, criou a Capitania de Mato

Grosso, por Carta Régia, desmembrando-a de São Paulo. O Tratado de Madri, cuja cópia abre

o I Volume do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso, deu nova configuração e

contorno às posses geográficas portuguesas e espanholas. Desde sua assinatura em 1750,

passaram por Mato Grosso três Capitães Generais.

O quarto Capitão General de Mato Grosso foi Luis de Albuquerque de Melo Pereira e

Cáceres, o qual tomou posse em 13 de dezembro de 1772, governando por quase 17 anos os

destinos de Mato Grosso no período colonial e destacando-se como aquele que por mais

tempo administrou o estado em toda sua história.

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Fig. 3 - Capitão-general Luís de Albuquerque de Mel o Pereira e Cáceres. Autor

não identificado (década de 70 - século XVIII). Ace rvo da Casa da Ínsua,

Portugal ( Siqueira 2002:56).

Na opinião dos historiadores regionais, esse governador pode ser considerado o grande

estadista de Mato Grosso em épocas coloniais, pois sua visão geopolítica foi extraordinária,

ao ampliar e consolidar as fronteiras coloniais portuguesas em nossas terras (Silva 1994 :30).

Continuando nossa leitura pelos caminhos da histórica Capitania de Mato Grosso,

descobrimos, ainda, que Luis de Albuquerque

...determinou a fundação do Forte de Coimbra em 1775,

à margem direita do rio Paraguai, no local denominado

Fecho dos Morros, que de acordo com o Tratado de

Madri, estaria em território notadamente pertencente à

Coroa espanhola. Nesse mesmo ano iniciou a construção

do Forte Príncipe da Beira, às margens do rio Guaporé,

num feito incrível, pois que, todo o material para essa

obra, bem como os artífices e posteriormente o

armamento, vieram penosamente de Belém do Grão

Pará, pela rota do rio Madeira. Esses dois fortes,

monumentos da audácia portuguesa e ainda da coragem

e da visão do homem luso-tropical, na época coibiram

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qualquer nova tentativa espanhola de assenhorear-se de

terras portuguesas, arrefecendo os seus ânimos

conquistadores (Silva 1994: 30).

Tanto entusiasmo é justificado diante dos mais importantes atos de seu governo, os

quais incluem:

•••• Fundação, em 1778, da povoação de Albuquerque, hoje Corumbá;

•••• Fundação, em 1781, de Vila Maria, atualmente Cáceres;

•••• Fundação de São Pedro Del Rey (nesse mesmo ano), hoje cidade de Poconé;

•••• Fundação dos registros do Jauru e Insua, este no rio Araguaia, e em 1783, a povoação

de Casalvasco;

•••• Ocupação da margem esquerda do rio Guaporé, fundando a povoação de Viseu.

Alguns desses acontecimentos, dados sobre a rotina administrativa e do

relacionamento deste governador com outros governadores de Capitanias brasileiras, ou com

a Coroa, encontram-se registrados nas cartas, ofícios, diários e outros documentos dos

Volumes I e II, do Livro de Registro. Luis de Albuquerque esforçou-se ao máximo para

corresponder aos anseios da Coroa portuguesa, especialmente no período que sucedeu ao

Tratado Preliminar de Limites, assinado em 1 de outubro de 1777, em Santo Ildefonso.

Silva (1994:32) acrescenta que

Além desses feitos todos, procedeu medições

de fronteira, a elaboração de relatórios de viagens e

determinou a confecção de mapas terrestres e

hidrográficos, deixando, inclusive, uma série de

trabalhos de sua própria autoria. Muitos desses

relatórios, descrições, estudos, desenhos, plantas e

mapas, produzidos durante o seu governo, encontram-se

até hoje conservados na Casa da Insua, antiga e

senhorial residência da família de Luis de Albuquerque

em Portugal.

Nos segundo e terceiro volumes dessa coleção acompanhamos a substituição, a partir

de 1789, deste governador por seu irmão João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que

muito pouca coisa fez em favor da Capitania de Mato Grosso. Apenas continuou o processo

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de medição e levantamento das fronteiras e promoveu a pacificação dos índios Guaicurus.

Dois engenheiros e astrônomos, Francisco José de Lacerda e Almeida e Antonio Pires da

Silva Pontes se destacaram nessa época por seus trabalhos em favor da capitania.

De acordo com o Arquivo Público de Mato Grosso, esses livros existem e fazem parte

do acervo específico da antiga Secretaria de Governo, na época colonial. Por eles é possível

delinear um retrato claro da história de Mato Grosso, pela riqueza de informação não

contemplada em livros didáticos ou de História.

Algumas informações preciosas se perderam ao longo do tempo e são irrecuperáveis,

como, por exemplo, a explicação do por que guardar tantos registros, como este acervo foi

constituído, quem era responsável pelos livros e, principalmente, quem eram os copistas, visto

que as assinaturas dos textos representam os autores das cartas.

Da observação do material, pela descrição histórica dos personagens que compõem o

texto e em comparação com outros documentos da mesma época que fazem parte de um

trabalho anterior de edição para estudo das conjunções coordenativas (Almeida e Silva: 2001),

podemos ao menos assumir como pressuposto que o bom conhecimento da língua por parte

dos copistas seria pré-requisito para registrar documentos importantes e de caráter oficial. Os

textos deveriam ser cuidadosamente reproduzidos. Pelo menos quanto ao Tratado, pode-se

levantar tal hipótese quando comparamos a minuta do texto, encontrada no acervo da torre do

Tombo, com a cópia presente no Livro.

Assim, percorrida essa etapa, passa-se a observar, mais detalhadamente, uma breve

apresentação da história que forma o contexto de formação dos códices.

2.1.1 Os tratados de limites: trabalhos demarcatórios em Mato Grosso

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Fig. 4 – Observações de Pontes e Lacerda. Moacyr Fr eitas (2000). Acervo da

Fundação Cultural de Mato grosso (In: Siqueira 2002 :50).

De acordo com Siqueira (2002:50), os limites fronteiriços no Período Colonial eram

estabelecidos por marcos geográficos e, principalmente, pela movimentação dos homens nos

territórios. O processo de colonização do Centro-Oeste demarcou, assim, a partir de 1750, as

terras que pertenciam ao rei de Portugal ou ao rei da Espanha. Com o rompimento do Tratado

de Tordesilhas, o Tratado de Madri estabeleceu outra fronteira para a Coroa lusitana.

No século XVIII, não se tinha precisão quanto à extensão das terras brasileiras e

tampouco de seus rios, o que dificultava os trabalhos da Comissão Demarcadora (op. Cit.

2002:50). Esse tipo de comissão era responsável por delimitar as áreas das Coroas portuguesa

e espanhola, através de registros em viagens pelos rios que duravam meses. O rio Guaporé é o

mais mencionado, pois os tratados de limites reforçaram sua importância por ligar as regiões

setentrionais com o alto Guaporé. Onze anos depois do Tratado de Madri, em 1761, foi

assinado o Tratado de El Pardo, curiosamente não mencionado nos volumes do livro de

registro do Tratado de Santo Ildefonso.

Siqueira (2002:56) esclarece, ainda, que a anulação do Tratado de Madri não afastou o

interesse do governo lusitano de garantir a posse das áreas a Oeste, especialmente daquelas

conquistadas pelo avanço bandeirante e expandidas durante o governo dos primeiros capitães-

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generais de Mato Grosso. Foi assim que Portugal procurou aumentar os postos militares na

fronteira ocidental da Capitania de Mato Grosso e Luís de Albuquerque mandou construir o

Forte de Coimbra, no ano de 1775. Com mais esse importante posto militar, buscava o

senhorio da navegação do baixo rio Paraguai, não permitindo que espanhóis e índios

dominassem esse importante ponto estratégico.

O Forte Real Príncipe da Beira, inaugurado a 20 de junho de 1776, também construído

por ordem de Luís de Albuquerque, possuía uma excelente posição geográfica.

Estrategicamente situado à margem direita do rio Guaporé, acima da capital, Vila Bela, serviu

esse monumento como mais um ponto de fixação da fronteira. A fundação da povoação de

Viseu foi outro feito estratégico deste governador. Assim, podemos entender por que a ata de

fundação (cópia) de Viseu consta do primeiro volume do Livro do Tratado, fólio 49v.

2.1.2 O Tratado de Santo Ildefonso: a comissão dos cientistas

No parecer de Siqueira (2002:56), a construção dessas edificações deveu-se

principalmente a uma questão de garantia dos territórios situados entre as duas principais vilas

da Capitania, Cuiabá e Vila Bela, pois um novo tratado de limites estava sendo negociado

entre as duas coroas. Destaca a autora

Era o Tratado de Santo Ildefonso, assinado a 1 de

outubro de 1777, marco da nova política lusitana,

implementada pela rainha D. Maria I, que inaugurou um

período conhecido como Viradeira, cuja política se

opunha, frontalmente, àquela implementada pelo

governo anterior, de D. José I, que tinha à frente o

esclarecido Marquês de Pombal. Por esse novo Tratado,

o Brasil perdia para a Espanha o vasto território das

Missões, mantendo, praticamente intactos, os limites

fixados na fronteira Oeste pelo Tratado de Madri. Assim,

a fundação de Vila Maria, do Forte do Príncipe da Beira

e de Viseu, às vésperas da assinatura de Santo Ildefonso,

demarcou as firmes posições portuguesas na fronteira

setentrional da América do Sul, especialmente no

desconhecido trecho que mediava os rios Jauru e

Guaporé (Siqueira 2002:57).

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O teor do Tratado refere-se principalmente às normas de demarcação das terras

pertencentes às Coroas de Portugal e Espanha, os limites de terras (onde iniciam e terminam),

os direitos e deveres dos "subditos", a retirada ou permanência nas povoações, normativas

acordadas e estabelecidas em vinte e cinco artigos, num texto de estrutura bem definida e

carregado de componentes formulares da época.

Para compor a comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso, por ordem de D.

Maria I, em nome de Portugal, forma nomeados os lusitanos Ricardo Franco de Almeida

Serra e Joaquim José Ferreira, e os brasileiros Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio

Pires da Silva Pontes, além de um capelão, Pe. Álvaro de Loureiro da Fonseca Zuzarte, dois

desenhistas e três oficiais inferiores.

Após o Tratado, completa Siqueira (2002:57), a Capitania de Mato Grosso já possuía

grande parte de sua fronteira Oeste guarnecida com fortes, fortalezas e prisões, trabalho

implementado durante o Período Colonial. Até mesmo a raia máxima do Sul da Capitania fora

agraciada com uma importante guarnição, o Forte de Coimbra, localizado às margens do rio

Paraguai, próximo à antiga Vila de Albuquerque, mais tarde intitulada Corumbá.

Outro dado relevante para este trabalho relaciona-se ao envio de homens cultos para a

Capitania, logo após sua criação em 1748. Eram portugueses e brasileiros que, educados na

Europa e dedicados ao estudo e à investigação científica, davam contornos bem definidos aos

trabalhos de colonização implementados inicialmente por bandeirantes paulistas rudes, quase

analfabetos. Destacam-se: Alexandre Rodrigues Ferreira (naturalista), Álvaro da Fonseca

Zuzarte (capelão da Comissão Demarcadora de limites de 22 de fevereiro de 1782), Antônio

Pires da Silva Pontes (astrônomo e matemático) da referida Comissão, Joaquim José Ferreira

(sargento-mor de Engenheiros), Francisco José de Lacerda e Almeida (também astrônomo,

autor do diário editado aqui), Pe. José Manoel de Siqueira e Ricardo Franco de Almeida Serra

(militar) também membro da Comissão (Siqueira 2002:69).

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Fig. 5 - Início do Diário de Viagem de Francisco Jo sé de Lacerda e Almeida.

2.2 Análise codicológica

O processo da análise codicológica é mais bem compreendido quando se torna claro o

papel de três disciplinas familiares à Edótica: a Diplomática, a Paleografia e a Codicologia,

conforme Spina (1994) e, também, Azevedo Filho (1987:20) descrevem.

Explica Spina (1994) que os documentos, também denominados vulgarmente códices

ou manuscritos, classificam-se em documentos particulares e documentos públicos. Estes

últimos, registrados oficialmente por pessoa pública, recebe cada um o nome de documento

público; neste caso, ou é um diploma – produzido diretamente pelo soberano, por sua

imediata autoridade, ou por um alto magistrado ( licença e alvarás régios, patentes, mandatos,

éditos, que levam o selo de arma do soberano); ou uma carta – nos demais casos (forais, cartas

conselhiais, senhorias, etc.).

É o caso da cópia do Tratado de Santo Ildefonso e do Tratado de Madri presentes no

Volume I, do Livro de Registro, um documento diplomático produzido pelas Coroas de

Portugal e Espanha.

Por outro lado, os documentos particulares são destinados a conservar o direito de

alguém, neles não interferindo qualquer pessoa pública ( um testamento, uma doação, uma

procuração, um requerimento, um contrato de compra e venda etc.). Muitos exemplos podem

ser encontrados no Arquivo Público, no setor de documentos avulsos ou em livros próprios.

E se a Diplomática tem como objetivo o documento público e privado, continua Spina

(1994), a Edótica interessa-se, sobretudo pelo documento literário. Se considerarmos que o

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gênero diário de viagem tem um caráter literário bem definido, com elementos narrativos e

informativos, além de associar elementos do imaginário (mitos, lendas) de seu narrador-autor,

então, a Edótica servirá bem ao trabalho proposto aqui. Mas também, empresta algumas

ferramentas úteis para estabelecimento dos demais textos.

Atualmente, a Diplomática restringe-se ao estudo dos documentos das chancelarias,

documentos histórico-jurídicos - régios, pontifícios, consulares. Isto é, aos documentos

propriamente diplomáticos, que se distinguem dos documentos comuns pelo fato de estes não

estarem vazados no formulário conveniente (Spina 1994:19-21).

Quanto ao estudo do documento, o campo da Diplomática é muito mais amplo que a

Paleografia. A Paleografia tem como objeto apenas o estudo da escrita dos documentos e sua

interpretação, ao passo que a Diplomática extrapola esses limites, consistindo no estudo de

todos os caracteres externos do documento - a matéria escriptória, os instrumentos gráficos,

as tintas os selos, as bulas, os timbres, inclusive a letra, a linguagem, as fórmulas - , isto é ,

numa crítica formal dos documentos, visando com isso a determinar o grau de autenticidade

dos mesmos.

Na verdade, Paleografia e Diplomática são objetos de certa confusão conceitual no

campo da Filologia. Como ambas coincidem nos instrumentos e se diferem apenas nos

objetivos da análise e interesse, completam-se e seguem grande parte do caminho lado a lado.

Nesse sentido, Acioli (1994:5), por exemplo, argumenta que a Paleografia é, antes de

tudo, um instrumento de análise do documento histórico. Não cabe ao paleógrafo somente ler

textos; a ele compete igualmente datá-los, estabelecer sua origem e procedência e criticá-los

quanto à sua autenticidade, levando em consideração o aspecto gráfico dos mesmos. Das

ciências auxiliares da História, a Paleografia é a mais importante porque ela se dedica ao

estudo da escrita sobre o material brando, principal fonte de informação do historiador.

A autora considera a Diplomática e a Paleografia como complementares e auxiliares

entre si. Muitas vezes a Diplomática é identificada como a Paleografia, mas, embora tenham

como objeto comum a escrita, suas tarefas são diferentes. Parecendo contrariar Spina (1994),

ressalta que enquanto esta lê e analisa o documento levando em consideração o seu aspecto

exterior (grafia, material, selo), aquela procura avaliar a veracidade dele através de seus

caracteres internos (língua, texto), de sua parte formal e alterações que possa ter

experimentado através dos séculos.

Pode-se, assim, resumir o que foi dito numa

definição mais completa de Paleografia: é a ciência que

lê e interpreta as formas gráficas antigas, determina o

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tempo e lugar em que foi redigido o manuscrito, anota os

erros que possa conter o mesmo, com o fim de fornecer

subsídios à História, à Filologia, ao Direito e a outras

ciências que tenham a escrita como fonte de

conhecimento(Acioli 1994:6).

São essas as bases que definirão a análise que compõe esta pesquisa.

2.2.1 Os volumes e suas características materiais:

a) Capa

O Volume I do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso é composto de 195

fólios, compreendendo os anos de 1780-1783. As dimensões variam para o índice e demais

fólios: 21 cm de largura x 31 cm de altura no índice e 23,5 cm de largura x 32,5 cm de altura

nos fólios seguintes. Exceto pelo índice, as medidas se repetem também nos volumes II e III.

Fig. 6 - Capa do Livro de Registro do Tratado de S anto Ildefonso – vol. I

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Fig. 7 - Capa do Livro de Registro do Tratado de S anto Ildefonso – vol. I

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Fig. 8 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Sa nto Ildefonso – vol. I

O material, conforme Fig. VI e VII, que constitui especificamente a capa do volume I

(única restante no momento da elaboração desta pesquisa), é todo trabalhado artesanalmente

em couro genuíno. Nota-se que a capa inicialmente era de fácil manuseio, mas com o passar

dos anos e à mercê das agressões do ambiente encontramos uma forma grosseira.

Outros aspectos importantes a serem destacados são: desenhos em alto relevo e uma

inscrição em letra cursiva humanista. Na falta de várias letras do título do volume I, podemos

apenas inferir ou supor que, seguindo o índice, a inscrição deveria constar: Livro (de

Registro?) para as Demarcações. Ao centro da capa, na parte superior e inferior, há dois

retângulos. No primeiro, a inscrição do título do volume, no segundo, também ao centro um

brasão semelhante ao do fabricante do papel, mas dificilmente identificável. Ao redor, um

quadro maior margeia a capa e, principalmente entre os espaços formados entre ele e os

demais retângulos, encontram-se desenhos contemporâneos àquela época.

No interior dos volumes, as letras são corridas, traçadas de um só lance e sem

descanso da mão. Apresentam entre si nexos ou ligações. Sendo seu traçado mais livre, a

escrita oferece certa dificuldade, agravada pela deterioração do documento, na leitura (Acioli

1994:13).

Os originais das capas dos volumes não podem mais ser encontrados, visto que a

deterioração dos materiais e a alta contaminação mostravam a necessidade de sua destruição,

pois afetariam outros documentos de igual valor histórico. Em 2004, apenas a capa do volume

I ainda resistia aos maus tratos sofridos pela não preservação. Hoje, restam somente os

registros digitalizados presentes neste trabalho. Por enquanto, não há notícia de outros

registros existentes.

Na figura VIII, pode-se perceber um traço de arquivologia (numeração e catalogação

do livro), marcado por uma qualidade de papel constituída por celulose, mas a espessura é

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grossa e resistente ao tempo. O material difere dos fólios presentes no interior dos livros, o

que nos faz supor que é posterior à formação do Livro de Registro, pois sua fabricação data

do último quartel do século XIX no Brasil ( Beck 1994:9; Maia 1997:10).

b) Os fólios

Em todos os volumes os fólios são rubricados e numerados, no canto direito da

margem superior, apenas no recto (frente), o verso não é numerado nem rubricado. A rubrica

pertence ao autor dos termos de abertura e encerramento: Joze de Carvalho de Andrade,

datados de 11 de setembro de 1774, conforme fig. IX e X.

Fig. 9 - Início do Tratado, Fólio de abertura do L ivro de Registro do Tratado de

Santo Ildefonso – vol. I

No corpo do fólio, pelo primeiro punho, encontramos os seguintes dizeres:

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Temeste Livro cento enoventa esinco folhas

numeradas errubricadas pormim comaminha cos

tumada rrubricaSeguinte = (rubrica) = Do meu uzo; do=

que fis este termo de abertura. Lisboa onze de Se=

tembro de milsete Centos, esetenta e quatro.

(rubrica)

Abaixo, escrito à caneta esferográfica vermelha, em segundo punho, a datação 1974

indica a intervenção posterior no texto.

Fig. 10 - Cópia do Tratado de Santo Ildefonso, Fól io 18r (ilustração da

numeração do fólio na margem superior direita), Liv ro de Registro do Tratado

de Santo Ildefonso – vol. I.

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Logo após o termo de abertura, um fólio (figura XI) anuncia outra data de início dos

registros das demarcações, conforme mostra o seguinte texto de abertura:

Este livro sedestinoupor

Ordem do Ill.mo e Ex.mo Sr. Luizde

Albuquerque deMello Per.a eCaceres;

GovernadoreCap.m General destaCap.ta

paraservir de Reg.o dasordens deSua

Mag.e e quaesqueroutros Documentos

Relativos aDemarcaçaõ dosReaesDo-

minios; detreminada pelo Tratado

PreleminardeLemites do1.° deOutu-

bro E1777 celebrado emS.to

Ildefonso

Villa Bella 18

deJulho de 1780.

Belchior A.(?).Per.a (rubrica)

Fig. 11 - Termo inicial, Fólio do Livro de Registr o do Tratado de Santo

Ildefonso – vol. I

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c) As filigranas

As filigranas, marcas d’água no fólio somente visíveis a um feixe de luz, podem ser

encontradas em fólios que introduzem os volumes. Nos volumes II e III são mais comuns

fólios em branco. No volume I, em fólios não numerados são mais facilmente percebidos: um

brasão ao centro (um fólio avulso), palavras Vorno e Quartino, em outros dois fólios avulsos.

No volume II, no interior da obra há uma marca constante no inferior à direita do recto

dos fólios.

Marca d’água – fl. avulso, v. II

O volume II tem 195 fólios, compreendendo os anos de 1783 a 1789. O termo de

abertura, datado de 13 de julho de 1774, difere apenas nisto do volume I.

Ao centro de alguns fólios avulsos, pode-se observar também um desenho de um

touro, pouco acima da palavra Quartino. Estes elementos indicam que pelo menos dois

fabricantes diferentes de papel forneceram os fólios para composição do códice.

Esta hipótese é corroborada no volume III, o qual envolve os anos de 1777-1793, com

169 fólios. Em alguns fólios encontra-se no canto esquerdo superior as letras B,C, V, disposta

da seguinte forma:

B

C V

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Ao centro, mais facilmente observado em fólio avulso, vê-se um Brasão com uma

coroa ou a marca Porrata. Em outros casos, no canto esquerdo da margem inferior

encontram-se as letras G, A,P. Dessa maneira:

G A

P

Um aspecto importante, na descrição de Beck (1998:9) , relaciona-se às marcas d'água

ou filigranas - iniciais, nomes, brasões ou símbolos executados em arame fino sobre a tela -

vistos na folha de papel contra a luz, da mesma forma que as linhas da tela na produção do

papel cuja matéria-prima era o trapo.

Fizeram-se as primeiras marcas d'água nos moinhos de papel de Bolonha (1286) e

Fabriano (1293-1294). Apesar de se tornarem comuns a partir do início do século XIV, jamais

foram utilizadas em papéis orientais. Compostas em geral pelas iniciais ou pelo nome

completo do fabricante, podem informar origem, idade ou qualidade do papel, constituindo

um importante auxílio para identificar e constatar a autenticidade de um documento ou de

uma obra de arte.

As marcas presentes nos fólios pesquisados registram algumas iniciais e figuras, que

permanecem incógnitas diante da falta de referências para definição melhor e mais profunda

da origem do material que compõe os códices. Pode-se, apenas, com base nos manuais dos

arquivos públicos (APSP: 1998; Beck:1998; Maia:1997), atestar os materiais, a origem

portuguesa e a datação do século XVIII, conforme descrito anteriormente.

d) Notas paleográficas: o papel, a tinta, a escrita.

Sabe-se que até fins do séc. XII, a documentação portuguesa ainda permanecia restrita

aos pergaminhos e que somente a partir de princípios do século XIII surgem os primeiros

documentos em papel. A técnica desse período é superada apenas por volta do século XV. Já

no reinado de D. Manuel, no século XVI, havia ordem para que determinados documentos

fossem registrados em papel. Assim, o pergaminho antigo ficava destinado apenas às Cartas,

com material fornecido pela Chancelaria, e o papel reservava-se aos processos e demais

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documentos forenses. Há também um documento datado de 1288, existente no Cartório da

Fazenda da Universidade de Coimbra, mencionando o pergaminho de papel (Spina:1994).

Segundo Beck (1998:7) , a partir do século XIV, o papel era fabricado em larga escala

e usado comumente em documentos, desenhos, pinturas, gravuras e, mais tarde, na impressão

de livros. No Brasil, o despertar da manufatura do papel está ligado às mudanças políticas

ocorridas após a chegada de Dom João VI. Entre 1809 e 1810, Henrique Nunes Cardoso e

Joaquim José da Silva instalaram no Andaraí Pequeno a primeira fábrica de papel; em 1837

surgiu a de André Gaillard e quatro anos mais tarde, a de Zeferino Ferrez, no Engenho Velho.

Em 1852 criou-se a Fábrica de Oreanda, na Raiz da Serra, falida em 1874 pela falta de

matéria-prima, o trapo, que chegou a ser importado de Portugal. A escassez cada vez maior do

trapo levaria o botânico frei José da Conceição Veloso a pesquisar, em 1809, outros tipos de

fibra presentes na flora brasileira. Em 1880, em Salto, São Paulo, inaugurou-se a primeira

fábrica de papel bem-sucedida no Brasil.

Explica Beck (1998:9) que até o século XVIII a técnica de fabricação do papel baseava-

se num sistema de pilão, em que martelos, movidos pela força de água, maceravam os trapos

molhados até que estes se desfiassem, formando uma pasta. Em seguida, desenvolveu-se a

'holandesa', composta de um cilindro cuja rotação movimentava constantemente a substância

líquida (água e trapos) até a formação da pasta. Antes desse maceramento os trapos eram

batidos, a fim de eliminar a poeira, separados pelo tipo de fibra e pela cor, rasgados em

pedaços e lavados. As fibras longas davam ao papel maior resistência e suas extremidades

deviam ser pontudas e esgarçadas para que se entrelaçassem melhor; por isso os trapos não

eram cortados.

A folha do papel (Beck:1998; Maia :1997) era conseguida manualmente: usava-se

uma tela especial, na qual os fios de cobre, chamados vergaduras, corriam paralelos e muito

próximos; no sentido oposto, corriam fios mais distanciados, apenas para dar firmeza à tela,

denominados pontusais. Depois de colocar uma moldura de madeira solta sobre a tela,

recolhia-se a pasta das tinas; com rápidos movimentos circulares, esta era distribuída de

maneira uniforme, deixando a água escorrer pela tela. Em seguida, retirava-se a moldura que

limitava os bordos do papel; este era empilhado entre feltros, um a um, e prensado a fim de se

extrair a água restante. Quando as folhas estavam enxutas, eram encoladas com um pincel ou

por imersão, secas em varais e novamente prensadas. Apenas na Europa se utilizavam telas

de arame de cobre, no Oriente eram de bambu. Podem-se perceber nitidamente as marcas das

vergaduras e dos pontusais, pois sobre os fios de arame formava-se um depósito menos

espesso de fibras, o que acarretava maior translucidez.

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Fig. 12 - Tinta nítida no Fólio do Livro de Registr o do Tratado de Santo

Ildefonso, Tratado de Santo Ildefonso - Artigos II e III – vol. I.

A fim de preencher o vazio entre as fibras, permitir uma superfície lisa, opaca e,

assim, facilitar a impressão e a escrita, adicionavam-se à pasta elementos de carga: pós

brancos como o gesso, o carbonato de magnésio e o caulim, entre outros. Para a fabricação de

papéis coloridos, acrescentavam-se à massa pigmentos finamente moídos. Esse tingimento

também podia fazer-se depois de pronta a folha de papel, através de imersão em tinta. Na

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encolagem, que dá ao papel maior resistência e impermeabilidade, possibilitando a escrita dos

dois lados, utilizava-se principalmente a goma de amido, além de resinas vegetais e a cola

animal (gelatina).

Essa descrição de Beck (1998:9) permite-nos associar tal produção ao papel dos fólios

que compõem os livros deste período. Também, é possível compreender a durabilidade do

material, espessura incomum e dimensões. O Manual de Procedimentos para tratamento

documental, do Arquivo do Estado de São Paulo (1998:17), destaca o uso já da pasta

celulósica, mas apenas no séc. XIX, paralelamente ao outro tipo descrito anteriormente ( o

trapo).

Os códices dos volumes I, II, III do Livro de Registro de Santo Ildefonso foram

originalmente costurados com um tipo de linha empregado (algodão) posteriormente, no final

do século XIX para documentação oficial. Contudo, não restavam senão, no início da

pesquisa pouquíssimos vestígios deste material nos códices, os quais atualmente, depois da

mais recente catalogação do APMT, estão soltos.

A tinta, clareada com o tempo, é bem nítida nos fólios do Tratado, mas quase ilegível

em algumas partes dos outros volumes do Livro. Esse fator, somado à grafia por vezes de

letras bem finas e próximas, torna o trabalho de leitura exaustivo e demorado. Pelas formas de

deterioração dos fólios, conforme veremos na descrição de Beck (1998:16-17), pode-se

considerar tratar-se da tinta ferrogálica.

Fig. 13 - Mudança de punho e tinta clareada no fól io do Diário de Viagem do

Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – v ol. III

A tinta mais antiga já conhecida é a nanquim, feita à base de fuligem e não agressiva

ao papel, além de apresentar boa permanência. É usada até hoje, recomendada na produção de

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documentos de valor permanente. Na Europa, durante a Idade Média, ocorreram

significativas mudanças na composição da tinta. A ferrogálica, no dizer de Beck (1998:16),

conhecida desde a Antigüidade, reapareceu e ocupou o lugar da tinta de fuligem, que se

tornaria cada vez mais rara a partir do século XV. Compunha-se basicamente de sulfato de

ferro e ácido gálico, sendo este último extraído da noz da galha (nódulos do carvalho);

acrescia-se, como aglutinante, a goma arábica diluída em água.

No período colonial essa tinta era importada de Portugal, já que o Brasil não tinha

permissão de industrializá-la. Ela pode provocar a corrosão irreversível do papel. A forte

acidez, desencadeada com a absorção progressiva do oxigênio, da umidade e de poluentes

atmosféricos, como os gases sulfurosos, destroem os papéis e em processo ainda mais

acelerado, os compostos de fibra de madeira.

A letra, segundo a classificação de Spina (1994) considerada uma variante da

humanista, muda de punho em vários trechos dos volumes. Trata-se de uma cursiva mais

simples e moderna, assemelhando-se tanto no século XVIII quanto no século XIX.

Para Acioli (1994:62), a cursiva do século XIX pouco difere da atual. Quando a grafia

é bem feita, a leitura é fácil e corrida. São poucos os deslizes cometidos pelos copistas e

raramente aparecem palavras riscadas ou entrelinhadas. Nos escrivões, sobretudo nos

profissionais, sente-se a influência caligráfica: traçado regular, iniciais graúdas, distribuição

perfeita na página, espaços bem ocupados.

Fig. 14 - cursiva presente no Tratado de Santo Ilde fonso - V. I

roaz . [ �] 1 Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede

Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-

tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa

es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,

segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-

roade Portugual. (fl 13r, linhas 24-29).

1 Símbolo que indica espaço, convencionado na edição do texto. Ver capítulo III.

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Fig. 15 - cursivas presentes (fragmentos I e II res pectivamente) no diário de

viagem 2 - V. III

2[�]Dia 30

Naveguey duas léguas e 74 pr entre agoapez do pan-

tanal, retrocedendo de varias veredas que seguy por que

as achava secas athe que finalme sahy a hum lugar que

lhe chamam o Boqueiraõ, ponto em que o Ryo tor-

na novamente a correr encanado por entre humas mar-

gens que tinham de hum athê dous palmos de altura

Fuy seguindo este canal – vencendo a correnteza da agoa

e algumas vezes encalhando nos baixos pois nas partes

concavas das enseadas tinha mto irregular fundo de (fólio 39v, linhas 17-27) Fragmento I

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Ainda, do ponto de vista gráfico, completa Acioli (1994:62), o retrocesso de cem anos

na escrita representa poucas diferenças nos sinais e também na ortografia de então. A

dificuldade de leitura não reside obrigatoriamente no retrocesso cronológico. Uma escrita

mais antiga, por exemplo, do século XVI, pode ser mais legível do que uma do XVIII ou XIX.

O inverso, contudo, é mais comum. Também, a simples mudança de século não implica a

mudança de escrita.

Sendo assim, tal como Acioli (1994:62, 63) e servindo-se de algumas bases de seu

trabalho nos manuscritos dos séculos XVIII, há que se destacar apenas as diferenças gráficas

ou ortográficas da escrita antiga para a atual.

Diferenças Paleográficas:

- A letra e possui três grafias diferentes nos fólios do Tratado. Uma para maiúscula, uma

para minúscula e outra que também parece ser minúscula , mas isso não fica claro no

manuscrito � E eos Estabelecimentos.

- O h é semelhante ao 'e' e ao 'l', exceto por um ligeiro traçado curvo que o distingue

especialmente em pronomes como "lhe" � A Artelharia, .

- As maiúsculas e minúsculas são de difícil distinção nas letras C, R, M e E, principalmente

por existirem duas formas de maiúsculas em algumas delas.

- A letra s, quando dobrada, a primeira delas é longa e a segunda é curta (- s)

deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica,

[�] Copia da Carta

Senhor Doutor Francisco Joze de Lacerda.

C. Muitissimo e Excelentessimo Senhor Bernardo José

de Lorena meu amabilissimo General he servido deter

minar-me, que da sua parte mande eu dizerá vossa mer

ce, que logo que Recebereste avizo, seponha em marcha,

(fólio 51r, linhas 04-09) Fragmento II

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- Em vários trechos, quase não existe distinção entre o traçado do s e do z, especialmente

nos finais de palavras. Ora o s tem um traçado longo, assemelhando-se ao z, ora é curto, e

vice-versa � aguaz/s. dealgumaz/s acçoẽs de

- Os sinais diacríticos são usados de formas diversas: ora o circunflexo indica sílaba tônica,

em vogais fechadas na pronúncia atual: medêaõ. O acento agudo aparece na sua função já

estabelecida, como também é usado em crases. O til aparece solto em letras finais nos

casos de nasalização, como Missaõ, chamaõ. Às vezes, aparece conjuntamente com o

acento grave em determinados verbos: ficaràõ, dividiràõ, comunicaràõ.

- A pontuação resume-se à vírgula, ponto e vírgula e ponto, às vezes transformados em

traços oblíquos. Geralmente os períodos são longos.

Diferenças ortográficas:

- Há ocorrências freqüentes de letras dobradas, especialmente o l, m, f, t, r e, às vezes, s �

daquelle, officio, sellar, occidental.

- As formas plurais ão e ões são grafadas com -n- � navegaçoens, missoens. Também,

palavras terminadas em -l- recebiam o plural -aes � sinal - sinaes; as terminações em -ua,

colocava-se -oa � legoa, agoa; em -eu, -eo � perdeo.3

- O e, quando verbo ser, vem precedido de h, enquanto o verbo haver ou outras palavras

que deveriam ser grafadas com H, não o utilizam � ouve, orizonte, hé, he.

- Em sílabas como - ter, trocam-se as letras � determinou = detreminou.4

- O - i no interior das palavras é substituído pelo -e e vice-versa � Fedelissima, lemites,

difinitivo, Miridional. Em alguns casos o - i é substituído pelo - y � Ryos, Rey, Correyos,

Arroyo.

- Uso de formas como -sç, -bd, -cç, pt � excepto, subdito, estabelesça, protecçaõ.

3 Ao contrário de Acioli (1994:63), que prevê meras alterações em termos de ortografia, ver Almeida

(2004:9) para apresentação dos períodos de evolução dos morfemas flexionais na categoria nominal e defesa de

hipótese.

4 Estas ocorrências talvez estejam mostrando certa variação lingüística.

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32

Algumas formas ainda não estavam estabilizadas como o uso do sufixo - mente, nos

advérbios � comum mente, feliz mente, expressa mente. Ou, por exemplo, a forma quaes

quer = quaisquer.

2.3 As abreviaturas

Justificadas pela raridade e também pelo alto custo dos materiais, as abreviaturas

constituem um elemento importante para compreensão lingüística do manuscrito. Pelos

trabalhos de Spina (1994:44) e Acioli (1994:46), podemos descrever os tipos mais freqüentes

dos volumes I, II, III:

•••• Abreviação por supressão (suspensão) ou apócope - quando desaparece quase toda a

palavra permanecendo somente a letra inicial, ou sílaba inicial. Este sistema deriva das

siglas; as abreviaturas não têm terminação. Exemplos:

d. - de

p. - para

q. - que

V.A. - Vossa Alteza.

•••• Abreviação por síncope; ou por letras sobrepostas (contração) - consiste na supressão

de letras intermediárias de uma palavra. Sempre permanece a terminação. O sistema

deriva das notas tironianas (de radical e terminação). Exemplos:

Snõr - señor prim.ro - primeiro

Ill. mo - illustrissimo q.quer - qualquer

2.3.1 Lista das abreviaturas (Baseada no modelo de Flexor: 1979):

Tabela 2.1 – Lista de abreviaturas

Albuqr.e

Albuq.e

Albuquerque

atrasam to Atrasamento

Cap. a(s) Capitania (s)

Cap. m

Cap. an

Capitam, Capitão

Cavalc te Cavalcante

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Comp. nt Comprimento

Com. am Conceiçam, Conceição

confr e conforme

consideravelm e consideravelmente

continuam te continuamente

d. de

D. Dom, Doutor

D. r Doutor

d.o dito

D.os G. a VMC

D.os Guarde a VM ce . m. anñ.

Deos Guarde a Vossa Mercê ou

Deos Guarde a Vossa Mercê

muitos anos

D.os G.de a V. Ex ca m. anñ. Deos Guarde a Vossa

Excelência muitos anos

Dez br , Dez bro , Dez ro Dezembro

divertim to divertimento

docid. e docidade

effectivam e effectivamente

Entrepassadam.e entrepassadamente

E.S. Excellentíssimo Senhor

extremid e extremidade

facilidad e facilidade

finalm e finalmente

Goven. or Governador

Ill. mo Illustrissimo

inteiram e inteiramente

jabuticabr as jabuticabeiras

Joaq m Joaquim

m. ta

m. tas

muita, muitas

m. to

m. tos

muito, muitos

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necessid e necessidade

naq l naquel, naquela

Occid. e Occidente

p. a para

p. te parte

p. lo pelo

p. r por

Per. a Pereira

placidam e placidamente

preced. e precedente

principalm e principalmente

S. or Senhor

summam.e summamente

trigonometricam e trigonometricamente

q. to quanto

V. a Villa, Vila

V. Ex.ca Vossa Excelência

VMC Vossa Mercê

V. S a Vossa Senhoria

V.a Bella Vila Bella

2.4 Componentes formulares dos textos

Seguindo a análise de Spina (1994:53), foram observados que os documentos

selecionados para análise dos volumes I, II e III do Livro de Registro possuem uma partição

bem definida e orientada por normas de constituição dos tipos textuais.

O Tratado de Santo Ildefonso é um documento organizado em duas partes, conforme

Spina(1994): uma interior que constitui o corpo do documento e contém o fato registrado – o

texto; outra exterior que serve de moldura do documento, e contém as fórmulas que conferem

a ele perfeição legal e personalidade, servindo também para a sua autenticação, datação e

publicidade. A parte exterior é dividida em Protocolo (abertura) e Escatocolo (fechamento).

Assim, temos:

No início do texto (abertura):

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O Protocolo

A intitulação – título do texto (f.11r);

[�] Segundo Tratado Preleminar, de lemites, celebrado em Santo

Ildefonso, em o prim.ro deOutubro de 1777 dequefaz men-

çaõ a Carta daSecretaria doEstado, antecedente.[�]

Dona Maria, por graça de Deos, Raynha dePortugal,

•••• O endereço – a quem se destina (f.11r);

[�] Faço saber atodos os que aprezente Carta deConfirma-

çaõ, Aprovaçaõ, e Rateficaçaõ virem, que em oprimeiro doprezente

Mêz, e Anno, se concluio, eassinou emSanto Ildefonso hum

Tratado Preliminar...

•••• A invocação divina (f.11v);

[�] Em nome da Santissima Trindade

Havendo a Divina Providencia, excitado nos Augustos Coraçoẽs

deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica, osincero dezejo de ex-

No interior do texto (desenvolvimento):

•••• Preâmbulo (característica oratória) (f.11v);

de extinguir as discordias, que tem havido, entre as duas Coroas de Por-

tugal, eHespanha, e Seus respectivos Vassallos, no espaço de quazi

trez Seculos, Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica, eda

Azia: para lograr este importante fim, eEstabelescer perpetua mente

a harmonia, amizade, eboa inteligencia, que correspondem ao estreito

Parentesco, eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes, ao Amor re-

ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naçoẽs, que feliz mente governaõ:

•••• Cláusulas combinatórias.

1. de garantia (f.11v);

Parentesco, eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes, ao Amor re-

ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naçoẽs, que feliz mente governaõ:

tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que

servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-

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tender aseu tempo, com aindividuaçaõ , exacçaõ, enoticias necessarias;

2. de renúncia (f.12r);

Todos os prezioneiros que se ouverem feito no Mar, ou naterra, Seraõ

postos logo em liberdade, sem outra condiçaõ que adesegurar opa-

gamento das dividas que tiverem contrahido no Paiz, em que

se acharem

3. de corroboração (f. 12r);

Artelharia, petrexos, e o mais que tambem se ouverem ocupado, Seraõ mutua mente

restituidos deboa fé, no termo de quatro Mezes Seguintes, á data

da Rateficaçaõ deste Tratado, ou antes se possivel for;(...)

No fechamento do texto (conclusão):

O Escatocolo:

•••• A data (f.18v);

Para isso nos Authorizaraó, o prezente Tractado Preliminar de

Limites, eofizemosSellar, com osSellos de nossas Armas. Fei-

to em Santo Ildefonço ao primeyro de Outubrodemil sette

centos Settenta esette.=S.S. D.Francisco Innocen

cio de Souza Coutinho=S.S. El. Conde de Florida

Blanca.= [�]

•••• A validação (subscrição, assinaturas, selos, sinais) (f.19r);

Eem testemunho, firmezadoSobredisto, na que faz

apresenteCarta por Mim assinada e Sellada com oSel

lo Grande das Minhas Armas, ereferendada pelo Meu

secretario d'Estado Abaixo assinado. Dada no Palacio

de Quélluz, a dia de Otubro demil Sette centos Setten

ta e Sette.= ARaynha= Lugar doSello=Ayres de

Sá eMello.

Antº Soares Lima [rubrica]

Com relação ao Diário de Viagem:

O Protocolo:

•••• Intitulação – título do texto

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37

•••• Ordenação – por ordem de quem

•••• Notação – observação do motivo que originou a viagem (f.38v):

Diário de Viagem que por Ordem do

Ill. mo e Ex.mo Luiz d'Albuquerque de Mello Pe-

reira Caceres, Govern. or e Cap.m General das Capit.as de

Matto Grosso e Cuyaba foi de Villa Bella athé

a Cidade de S. Paulo pela ordinaria derrota dos

Ryos no anno de 1788.

[�] Setembro dia 13

Por quanto no anno de 1786 ja tratey com individua-

Legoas çaõ da derrota que fez de Villa Bella p.a Cuyabá Villa

e as circunstancias atendiveis na navegaçaõ dos Ryos Cuya- Bellas

ba, Porrudos, e Paràguay, darey principio a hum circuns-

tanciado Diario na foz do Ryo Taquary, eagora so-

mente direy que nesse dia party de Villa Bella

[�] Dia 22

O Texto:

•••• Narrativa – 1ªpessoa

[�] Dia 22

Cheguey a V.a do Cuyabá onde me demorey em

Me apromptar athê o dia 14 de Outubro

[�] Outubro dia 15.

Pelas 7 horas e meya da manhâa dey principio

a minha navegaçaõ em huma canoa e levando na mi-

nha Companhia mais hum batelaõ, pa em ambas se

poderem acomodar 26 trabalhadores que tantos eram

precizo p.a as varaçoens nos fatos doque ao diante tratarey

O Escatocolo:

•••• Intitulação – quem escreveu o diário

•••• Petição divina (não aparece no diário editado neste trabalho)

•••• Datação, Subscrição, Assinaturas

S. Paulo 25 de Maio de 1789 annos

Dr Francisco Joze de Lacerda e Almeida

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Com relação às cartas:

O Protocolo:

•••• Saudação;

Ill.mo eExmo Senhor= Dipois quecheguey daentrada, q´ fiz

•••• Notação;

Reg.o dehumacarta de SExca pa o Mathematico oDr

Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas

Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona

Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que

Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena, cujos monumentos

O Texto:

•••• Notícia;

Corresponde a todo o conteúdo tratado.

O Escatocolo:

•••• Petição divina;

•••• Datação;

•••• Subscrição;

•••• Assinaturas.

[parágrafo] Dezejo aV.Ex.ca vigorozaSaûde, eq´ D. G.de

aV.Ex.ca m. Anñ. Forte 28 deMayode1783 = Sou comprofundo

respeito = Ill. mo e Ex. mo S.or LuizdÁlbuquerquede MelloPereira

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III – A EDIÇÃO DOS MANUSCRITOS

Tanto Cambraia (1999) quanto Santiago-Almeida (2000) sintetizam a preocupação do

lingüista ao proceder um estudo de caráter filológico. O estudo diacrônico do português

relaciona-se diretamente “à fidedignidade da fonte utilizada para a coleta de dados”

(Cambraia, 1999:13). Quanto mais distanciados do período em que se encontra o lingüista

estiverem os textos, tanto maiores serão os problemas com as cópias pela maior probabilidade

de apresentarem “erros no processo de transmissão manuscrita”.

Outros problemas surgem na escolha da edição dos textos manuscritos, pois, no dizer

de Cambraia (1999:14)

...nem toda edição de textos antigos é adequada para o estudo

lingüístico: muitos editores realizam intervenções no texto editado

com o objetivo de regularizar formas – desde grafemas até itens

lexicais – para facilitar a leitura às pessoas que não estejam

habituadas a lidar com esse tipo de texto, regularização esta que

apaga e altera os traços lingüísticos presentes no texto original.

Santiago-Almeida (2000) relembra que o êxito do trabalho e a solidez dos resultados

certamente estão condicionados à qualidade da edição dos textos. Na verdade, é a natureza

dos textos e, sobretudo a finalidade da edição que, de certa forma, determinam os métodos e

normas de transcrição. Por essas razões, os autores citados anteriormente defendem a edição

semidiplomática.

Spina (1994) e Bassetto (2001) destacam o uso da edição diplomática. Esta, diz

Bassetto (2001:60), deriva da forma dos documentos emitidos por altos funcionários romanos,

numa espécie de passaporte ou salvo-conduto, um documento “dobrado em dois”. O intuito

dessa edição é fazer uma "reprodução tipográfica do original manuscrito, como se fosse

completa e perfeita cópia do mesmo, na grafia, nas abreviações, nas ligaduras, em todos os

seus sinais e lacunas", até mesmo nos erros e rasuras (Spina 1994:78).

Esse tipo de edição foi o selecionado para a transcrição dos documentos dessa

pesquisa. Isto porque, justifica-se uma edição diplomática pela necessidade de tornar o

documento acessível a um número maior de interessados e evitar maiores danos à fonte, além

de tornar o texto um pouco mais acessível, facilitando-se a leitura (Bassetto 2001:60-61).

A princípio, para o foco da pesquisa, o não desenvolvimento das abreviaturas

realizado nas edições semidiplomáticas não interfere na análise proposta. As lacunas poderão

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40

ser preenchidas com a consulta ao quadro das abreviaturas no capítulo anterior, melhor

sistematizadas para compreensão e estudo lingüístico.

A norma geral, tanto na edição diplomática, como semidiplomática5, é manter o

máximo de fidelidade à fonte, preservando o texto, pois isto torna possível uma análise dos

textos nos níveis grafemático, fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico e

lexical. Neste ponto, diferem-se as edições visto que na diplomática as abreviaturas não são

desenvolvidas, mantém-se a grafia dos manuscritos independentemente dos critérios adotados

pelo copista.

As edições envolvem também o respeito às separações inter e intravocabular, pois

possibilita o desenvolvimento de um estudo histórico da ortografia. As fronteiras de palavras

são fiéis ao manuscrito fonte, especialmente nos casos em que o copista usa separação em

palavras grafadas de forma única ou insiste em manter juntas aos substantivos e verbos,

pronomes, preposições e conjunções, de caráter independente. Ex.: rapida mente, feliz

mente, ecomas, elhedei, dareferidacarta, etc.

Deve-se, ainda, manter forma e posição de diacríticos, para fornecer uma fonte segura

para estudos de natureza fonético-fonológica. Não são acrescentados quaisquer elementos no

intuito de proceder a correção aos textos.

A pontuação é rigorosamente mantida, principalmente dada a proposta de análise

procedida nesta pesquisa. Além de obterem-se dados para compreensão da sintaxe e da

semântica, também a natureza fonético-fonológica da língua.

Uso de maiúsculas e minúsculas, para compreensão de fenômenos de origem sintática

e semântica é destacado conforme a leitura possível dos manuscritos. As variações, por outro

lado, resultantes de fatores cursivos, tornando confusas as grafias, são comparadas para

definição do traçado original. Isso, também implica em manter as variantes fonológicas,

morfológicas e sintáticas, para a investigação de processos de variação e mudança lingüística

no período que compreende o texto.

As ocorrências de desgaste ou deterioração do documento, tornando ilegíveis os

textos, são marcadas por símbolos específicos: [?] documento ilegível; [†] documento

danificado.

Os espaços no início e interior dos parágrafos são marcados por simbologia específica:

[�]. Nas cartas optou-se por descrever o [parágrafo]. As linhas são numeradas de 5 em 5, na

5 Consultar Cambraia (1999) e Santiago-Almeida (2004). Este último, documento de trabalho apresentado no V Seminário de Linguagens –UFMT – 2004.

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margem esquerda. Os fólios são numerados à esquerda, com as marca r (para recto) e v (para

verso), frente e verso respectivamente.

3.1 Edição Diplomática

Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso (antecedentes, instruções, memórias e

trabalhos demarcatórios) Governo de Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres.

Volume I – 1777-1783 = Cópia do Tratado Preliminar de Limites de Santo Ildefonso

(fólios 11r - 19r).

Volume II - 1783-1789 = Cópia de três cartas ( fólios 5v-6r, 8r-8v, 11v-12r).

Volume III - 1777-1793 = Cópia do Diário de Viagem de Francisco Joze de Lacerda e

Almeida ( fólios 38 v - 51v).

Fonte: Arquivo Público do Estado de Mato Grosso (C-23)

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SEGUNDO TRATADO PRELIMINAR DE LIMITES DE SANTO

ILDEFONSO (Fólio 11r – abertura)

Simbologia:

[?] – ilegível

[†] – documento danificado

[�] – espaço

[parágrafo] - parágrafo nas cartas

Fig. 16 - Início do Tratado de Santo Ildefonso (fól io 11r- Vol. I).

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43

11r

[�] Segundo Tratado Preleminar, de lemites, celebrado em Santo

Ildefonso, em o prim.ro deOutubro de 1777 dequefaz men-

çaõ a Carta daSecretaria doEstado, antecedente.[�]

Dona Maria, por graça de Deos, Raynha dePortugal, edos Al-

5 garves, d’aquem, ed’alem Mar, em Affrica, Senhora de Guiné, edaCon-

quista, Navegação, eComercio, deEthiopia, Arábia, Pérsia, edaIn-

dia[?] [�] Faço saber atodos os que aprezente Carta deConfirma-

çaõ, Aprovaçaõ, e Rateficaçaõ virem, que em oprimeiro doprezente

Mêz, e Anno, se concluio, eassinou emSanto Ildefonso hum

10 Tratado Preliminar, entre Mim, eo Muito Alto, ePoderozo Prin-

cepe D. Carlos III Rey Catholico deEspanha, Meu Bom Ir-

maõ, eTio, sendo Plenipotenciarios, para este efeito, da Minha par-

te, D. Francisco Innocencio de Souza Coutinho, do Meu Conselho,

e Meu Embaixador nadita Corte; e por parte d. El Rey Catho-

15 lico, D. Joseph Moninõ, Conde de Florida Branca Cavalleiro

da Sua Real Ordem de Carlos III, doseu Conselho de Estado,

Seu Primeiro Secretario deEstado, e do Despacho eSupeintenden-

te Geral deCorreyos Terrestres, e Maritimos, edas Postas, eRenda de

Estafetas em Espanha, eIndia: Do qual Tratado, o teor hé o

20 Seguinte.

[�] Em nome da Santissima Trindade

Havendo a Divina Providencia, excitado nos Augustos Coraçoẽs

deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica, osincero dezejo de ex-

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44

11v

de extinguir as discordias, que tem havido, entre as duas Coroas de Por-

tugal, eHespanha, e Seus respectivos Vassallos, no espaço de quazi

trez Seculos, Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica, eda

Azia: para lograr este importante fim, eEstabelescer perpetua mente

5 a harmonia, amizade, eboa inteligencia, que correspondem ao estreito

Parentesco, eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes, ao Amor re-

ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naçoẽs, que feliz mente governaõ:

tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que

servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-

10 tender aseu tempo, com aindividuaçaõ , exacçaõ, enoticias necessarias;

mediante oqual se evitem, eacautelem para sempre novas disputas,

esuas consequencias. [�] Para efeito pois de conseguir taõ importantes

objectos, nomeou por parte de Sua Magestade a Raynha Fedelissima,

por seu Menistro Plenipotenciario, oExcelentissimo Senõr D. Fran-

15 cisco Innocencio deSouza Coutinho, Comendador na Ordem deChris-

to, do Conselho deSua Magestade Fedelissima, eSeu Embaixador jun-

to aSua Magestade Catholica; epela de sua Magestade El

Rey Catholico, por Seu Menistro Plenipotenciario, oExcellentissimo

Senõr Joseph Moñino, Conde de Florida Branca, Cavalleiro

20 Da Real Ordem de Carlos III doConselho de Estado de Sua Magesta-

de, Seu Primeiro Secretario deEstado, edo Despacho, Superintenden-

te Geral de Correyos, Terrestres, e Maritimos, edas Postas, eRendas

deEstafetas em Espanha, e Indias: Os quaes depois de haver-se co-

municado os seus Plenos poderes, e de havelos julgado expedidos em boa,

25 edevida forma, convieraõ nos Artigos Seguintes, regulados pelas Or-

dens, e intençoẽs deSeus Soberanos.

[�] Artigo – I - [�]

Haverá huma Páz Perpetua, e constante, assim por mar, como

por terra, em qualquer parte do Mundo, entre as duas Nasçoẽs, Por-

30 tugueza, eEspanhola, com esquecimento, total do passado, e dequanto hou-

verem obrado as duas em ofença reciproca; ecom este fim, rateficaõ os

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45

Tratados de Paz, de 13 de Fevereiro de 1668, de 6 de Fevereiro de

1715, ede 1. de Fevereiro de 1763, como sefossem insertes neste,

palavra, por palavra, em tudo aquillo que expressa mente sede

Fig. 17- Início do Artigo I, Tratado de Santo Ilde fonso (fólio 11v- Vol. I)

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46

12r

Se derogue pelos Artigos do prezente Tratado Preliminar, ou

pelos que se hajaõ de seguir para a sua execuçaõ.

[�] Artigo II [�]

Todos os prezioneiros que se ouverem feito no Mar, ou naterra, Seraõ

5 postos logo em liberdade, sem outra condiçaõ que adesegurar opa-

gamento das dividas que tiverem contrahido no Paiz, em que

se acharem.[�] A artelharia, emuniçoẽs, que desde oTratado de

Pariz de 1. de Fevereiro de 1763, se ouverem occupado por algu-

mas das duas Potencias, aoutra, e os Navios assim mercantes, co

10 mo de Guerra, com suas Carregações, Artelharia, petrexos, e o

mais que tambem se ouverem ocupado, Seraõ mutua mente

restituidos deboa fé, no termo de quatro Mezes Seguintes, á data

da Rateficaçaõ deste Tratado, ou antes se possivel for; ainda

que as prezas ou preocupaçoẽs procedaõ dealgumas acçoẽs de

15 Guerra no Mar, ou na Terra, deque oprezente naõ possa ha-

ver chegado noticia;pois sem embargo deveràõ comprehender-

se nesta restituiçaõ igual que os Bens eeffeitos tomados com

os prezioneiros, eos Territorios, cujo dominio vier aficar se-

gundo oprezente Tratado, dentro da Demarcação do Soberano,

20 aquem se haõ-de restituir.

[�] Artigo III [ �]

Como huns dos principaes motivos das discordias ocorridas entre

as duas Coroas, tem sido oestabelecimento Portuguêz daColonia

do Sacramento, Ilha de S. Gabriel, eoutros Postos,e Territorios,

25 que setem pertendido por aquella Nasçaõ, na Margem Sep-

tentrional do Rio da Prata, fazendo Comua com os Espanhoẽs

a navegaçaõ deste, e ainda a do Uruguay: Convieraõ os dois Al-

tos Contratantes, pelo bem reciproco de ambas as Naçoẽs, e para

segurar huma Páz perpetua entre as duas, que a ditta Nave-

30 gaçaõ dos Rios da Prata, e Uruguay, e os Terrenos das suas du-

as Margens, Septentrional, e Miridional, pertençaõ privati-

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47

va mente á Coroa de Espanha, e aseus subditos, até olugar,

em que se desemboca no mesmo Uruguay pela Margem Occi-

Fig. 18 - Início dos Artigos II e III, Tratado de S anto Ildefonso (fólio 12r- Vol. I).

12v

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48

Occidental o Rio Pequirí, ou Pepiri -Guaçú, estendendo-se o Do-

minio deEspanha, nareferida Margem Septentrional, até ali-

nha divizoria, que seformará, principiando pela parte do Mar

no Arroyo de Chui, e Forte de Saõ Miguel incluzivè, ese-

5 guindo as Margens da Lagōa Merim, até nas suas cabeceiras,

ou vertentes do Rio Negro; as quaes, como todas as outras dos

Rios, que vaõ a dezembocar nos referidos da Prata, eUruguay, até

A entrada neste ultimo Uruguay do dito Pepiri-guaçú, ficarùõ

privativas da mesma Coroa d’Espanha, com todos os Territorios,

10 que possue, eque comprehendem aquelles Paizes, incluza arefe

rida Colonia do Sacramento, e seu Territorio, a Ilha de Sam

Gabriel, eos de mais estabelecimentos, que até agora tem pos-

suido, ou pertendido possuir a Coroa de Portugal até á Linha,

que se formara.: a cujo fim Sua Magestade Fedelissima, em

15 Seu Nome, ede seus Herdeiroz, e Successores, renuncia, ecede

aSua Magestade Catholica, eaSeus Herdeiros, eSucessores q.

quer acção, e direito, ou posse, que lhe tenhaõ pertencido, eper-

tençaõ aos ditos Territorioz, pelos Artigos V. e VI. do Tratado

de Utrecht de 1715, ou emdistinta forma.

20 [�] Artigo IV -[�]

Para evitar outro motivo de discordeas entre as duas Monarqui-

as, qual tem sido aentrada daLagoa dos Patos, Rio Grande

de S. Pedro, seguindo depois por suas vertentes até oRio

Jacuí, cujas duas Margens, e navegaçaõ tem pertendido perten-

25 cer-lhes ambas as Coroas: Convieraõ agora em que adita Na-

vegaçaõ, e entrada fiquem privativa mente para a de Portugal,

estendendo-se oseu Dominio pela margem Meridional até

o Arroyo Tahim, seguindo pelas Margens daLagoa da Man-

gueira em linha recta até o Mar; epela parte do Continen-

30 te irá a linha desde as Margens da dita Lagôa de Merim, to

mando a direcçaõ pelo primeiro Arroyo Meridional, que entra

no Sangradouro, ou desaguadouro della, eque corre pelo mais

imediato ao Forte Portuguêz de S. Gonsallo; desde oqual,sem

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Figura 19 - Início do Artigo IV, Tratado de Santo I ldefonso (fólio 12v- Vol. I)

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50

13r6

Sem exceder o limite dodito Arroyo, continuará oDominio

de Portugual, pelas Cabeceiraz dos Rioz, que correm até omen

cionado Rio Grande, e o Jacuí, até que passando por cima das

do Rio Ararica, e Coyacuí, que ficaràõ daparte de Portugal, e as

5 dos Rios Piratini, e Idimini, que ficaràõ daparte de Espanha, se

tirará huma linha, que cubra os estabelescimentos Portuguezez

até odezembocadouro do Rio Pepiri-Guaçú e no Uruguay: eassim

mesmo salve, ecubra os estabelescimentoz, e Missoẽz Espanho-

laz do proprio Uruguay,que haõ-de ficar no actual estado em

10 que pertencem á CoroadeEspanha; recomendando-se aoscom-

messarios, que verificarem esta linha divizoria, que sigaõ emto

da ella, as direçoẽz dos Montez, pelos cumesdelez, ou dos Rioz,

aonde os houver apropozito; eque as vertentez dosditos Rios,

enascentes delez,sirvaó de Marcoz ahum, eaoutro Dominio, a

15 onde assim se puder executar, paraque os Rioz, que nascerem em

hum Dominio; epara elle correrem, fiquem desde o nascente deles,

para esse Dominio; oque melhor sepodeexecutar na Linha,

que correrá desde aLagoa Merim, até oRio Pepiri-Guaçu,e

em que naõ hâ Rioz Grandez, que atravessem de hum terreno a

20 outro; por quanto a onde os houver, se naõ poderá virificar este

methodo, como hé bem notorio; esesiguirá o que nos seus respe

ctivoz cazos, se especifica em outroz Artigoz deste Tratado, pa

ra salvar os Dominioz, e Possessoẽz principaes deambas asCo-

roaz . [ �] Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede

25 Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-

tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa

es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,

segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-

roade Portugual.

� A partir deste fólio, o (s) final adquire um estilo diferente de grafia assemelhando-se ao (z) e causando uma dúvida quanto às duas letras, por essa razão as palavras foram grafadas com z final para marcar essa diferença.

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30 [�] Artigo -V- [�]

Conforme ao estipulado nos Artigos antecendentes, ficaraõ re

sevadas, entre os Dominios dehuma e outra Coroa as lagoas de

Merim, eda Mangueira eas lingoas de terra, que medêaõ en-

tra ellas, e a Costa de Mar, sem que nenhuma das duas Nas

35 çoẽz as occupe, servindo só de separaçaõ; desorte, que

Fig. 20 – Artigo V do Tratado de Santo Ildefonso (f ólio 13r- Vol. I)

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52

13v

que nem os Portuguezez passem os Arroyo de Tahym, linha recta

ao Mar, até aparte Meridional, nem osEspanhóez oArroyo

de Chui, edeSaõ Miguel, até à parte Septentrional: Cedendo

Sua Magestade Fidilissima em seu Nome, ede Seus Herdei

5 ros, eSucessores, afavor da Coroa deEspanha, edesta divizão q.l

quer Direito, que possa ter ás Guardas de Chui, eseu destri-

to, á Barra de Castilhos Grandes, ao Forte deS. Miguel,

e atudo o maiz que nellasecomprehende.

[ �] Artigo VI- [�]

10 A similhaça do estabelescido no Artigo antecidente, ficará tam-

bem rezervado, no restante daLinhadivizoria, tanto até aentrada No

Uruguay do Rio Pepiri-guaçú, quanto noprogresso, queseespecificará

nos seguintes Artigoz, hum espaço suficiente, entre osLemitez de

ambas as Nasçoẽs, ainda que naõ seja deigoal Largura à das referi-

15 das Lagoas, noqual naõ possaõ edeficar-se Povoaçoẽz por nenhuma

das duas partez, nem Construir-se Fortalezaz, Guardas, ouPortos de

Tropas, de modo, que ostaes espaços sejaõ Neutroz, pondo-se mar-

cos, esignaes seguroz, que façaõ constar aos vassallos decada Nasçaõ

ositio deque naõ deveraõ passar, acujo fim se buscaràõ osLagoz,

20 e Rioz, que possaõ servir deLemite fixo einalteravel, eemsua

falta, os Cumes dos Montez mais signalados,ficando estes, eas

suas toldas, por termo Neutral divizorio, emquesenaõ possa en

trar, povoar, edificar, nemforteficar por alguma das duas Nasçoẽs.

[�] Artigo – VII - [�]

25 Os habitantes Portuguezes, que ouver naColonia doSacramento, Ilha

de S. Gabriel, e outros quaes quer estabelescimentos, que vaõ cedi-

dos áEspanha pelo Artigo III; e todos os mais que desde asprimei-

rascontestaçoẽs do Anno de 1762, se ouverem conservado emdi-

verso Dominio, teràó aliberdade de retirar-se, oupermanecer ali

30 comseus efeitos emoveiz; eassim delles, como ogovernador,

Officiaes, eSoldados da Guarniçaõ daColoniadoSacramento, que

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53

14r

que sedeveràó retirar, poderàó vender os bens de Raiz; entregan-

do-se aSua Magestade Fedelissima, aArtelharia, Armaz,

e Muniçoẽs, que lhe houverem pertencido nadita Colonia

e Estabelescimentoz. [ �] Amesma liberdade, edireitos gozaràó os

5 habitantes, Officiaes, eSoldados Espanhoes, que existirem em

alguns dos estabelescimentos cedidos, ou renunciados à Coroade

Portugal pelo Artigo IV, restituindo-se aSua MasgestadeCa

tholica, toda aArtelharia, eMuniçoẽs, quese houverem achado,

ao tempo da ultima entrada dos Portuguezes noRio Grande de

10 S.Pedro,Sua Villa, Guardas, ePostos dehuma, eoutra Mar-

gem, excepto aquella parte, que houvesse sido tomada, eperten-

cesseaos mesmos Portuguesez, ao tempodaentrada dosEspanhoẽz

naquelles estabelescimentoz no anno de 1762. Esta regra Se ob-

servará reciproca mente em todas as mais cessoẽs, quecontem este

15 Tratado, para estabelescer osDominios deambas asCoroas, eseus

respectivos Limitez.

[ �] Artigo VIII- [ �]

Ficando já signalados osDominios de ambas as Coroas até áEntrada

do Rio Pequiri, ou Pepiri- guaçú no Uruguay, convieraõ osdous Al-

tos contratantez, emque alinha divizoria, seguirá Aguas acima

dodito Pepiri – guaçú até aSua Origem principal; edesde Esta,

pelo mais alto do Terreno, debaixo das regras dadas noArtigo,

VI, continuará aencontrar as Correntes do Rio Santo Anto-

nio, quedesemboca noGrande deCurituba, por outro Nome cha-

25 mado Iguaçú, seguindo este agoas abaixo até aSuaEntrada

no Paranâ e, pelaSua Margem Oriental, econtinuando em

taõ aguaz acima do mesmo Paraná, até onde se lhe ajunta o

Rio Igurei pela sua Margem Occidental.

[ �] ArtigoIX [�]

30 Desde aboca, ou entrada da Igurey, seguirá a Raya aguas aci-

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54

ma deste até aSua Origem principal; edesde ella se tirará hu-

ma linha recta, pelo mais alto do Terreno, com attençaõ ao a

justado no referido Artigo VI; até achar a Cabeceira, e ver-

Fig. 21 - Início do Artigo VIII, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 14r- Vol. I)

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55

14v

Evertente principal do Rio mais vezinho á dita linha, que desague

no Paraguay, pelaSua Margem Oriental, que talvéz será oque

chamaõ Correntes; Eentaõ baixará aRaya pelas Agoas deste

Rio , até á sua entrada noParaguay, desde cuja boca subirá

5 pelo Canal principal, que deixa este Rio em temposeco, esegui-

rá pelas suas aguas, até encontrar ospantanos, que forma oRio,

chamados a lagoa dos Xarayes, eatravessará esta lagôa até à

boca do Rio Jaurú.

[ �] Artigo X - [�]

10 Desde aboca do Jaurú pela parte Occidental, seguirá aFronteira em

linha recta, até a margem Austral do Rio Guaporé ou Itenes de

frote daboca do Rio Sararé, que entra nodito Guaporé, pela

Sua Margem Septentrional; mas se os comissários encarrega

dos deregular os contins, eexecuçaõ destes Artigos, acharem a

15 o tempo de reconhecer oPaiz, entre os Rios Jaurú, e Guaporé, ou

outros Rios, ou Balizas naturaes, por onde mais comodamente, e

com mayor certeza, se possa assignalar aRaya, naquella para-

gem, salvando sempre a navegação do Jaurú, que deve ser priva-

tiva dos Portuguezes, eo caminho que costumaõ fazer do Cuyabá

20 até oMato Grosso: Os dous Altos contratantes consentem,

eaprováo, que assim seestabelesça, sem attender a alguma por-

çaõ mais, ou menos de terreno, que possa ficar ahuma, ou aoutra

parte. Desde oLugar que na Margem Austral do Guapo-

re for assignalado para termo da Raya, comofica explicado, bai-

25 xará aFronteira por toda a Corrente do Rio Guaporé, até mais

abaixo dasua união com o Rio Mamoré, que nasce naProvincia

deSanta Cruz da Serra, eatravessa a Missaõ dos Moxos, forman-

do juntos o Rio, que chamáo deMadeira, ogual entra no Mara-

nhaõ ou Amazonas, pala sua Margem Austral

30 [ �] Artigo XI -[�]

Baixará alinha pelas agoas destes dous Rios, Guaporé, Ma-

moré, já unidos como o nome daMadeira, até à paragem situada

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56

15r

em igual distancia do Rio Maranhaõ, ou Amazonas, e da boca

do ditto Mamoré; e desde aquella paragem, continuará por

huma Linha Leste Oeste, até encontrar com a margem Ori-

ental doRio Jabarí, que entra no Maranhaõ, pela Sua Margem

5 Austral; e baixando pelo alveo do mesmo jabarí, até onde des-

emboca, no Maranhaõ, ou Amazonas, prosseguiará aguas abaixo des-

te Rio, oque os Espanhoes costumaõ chamar Orellana, eos Indios

Guiena, até à boca mais Occidental do Japurá , que dezagua ne-

le pela Margem Septentrional.

10 [ �] Artigo XII - [�]

Continuará a Fronteira, subindo aguas acima da ditta boca, mais

Occidental do Japurá; epelo meyo deste Rio, até áquelle ponto, em

que possaõ ficar cobertos osEstabelecimentos Portuguezes das Mar-

gens do dito Rio Japurá, edo Negro, como também a comunicação

15 ouCanal, dequesesirvaõ os mesmos Portuguezes, entre estes dous

Rios, ao tempo deCelebrar-se o Tratado deLimites de 13 deJaneiro de

1750,conforme aosentido literar delle, edoseu Artigo IX, que

inteira menteseexecutará, segundo oEstado, que entaõ tinham

as couzas, sem prejudicar taõ pouco as Possessoẽs Espanholas, nem

20 aos seus respectivos Dominios, ecomunicaçoẽs com elles, ecom oRio

Orinoco: de modo, que nem osEspanhoẽs possaõ introduzir-se nos refe

ridos estabelescimentos, eComunicaçaõ Portugueza, nem passar a

guas abaixo da ditta boca Occidental do Japurá, nem do ponto da

Linha, queseformar no Rio Negro, e nos demais que nelle seintro-

25 duzirem; nem os Portuguezes subir Agoas acima dos mesmos, nem

outros Rios, que se lhes uzaõ, para passar doreferido ponto da

linha aos Estabelecimentos Esapanhoes, e ás suas Comunicaçoẽs;

nem subir para ORio Orinoco, nem estender-se para as Pro-

vincias povoadas por Espanha, nem para os despovoados,que lhe

30 haõ de pertencer, conforme os prezentes Artigos: para oqual ef-

feito as pessoas, quese nomearem para a execuçaõ deste Tra-

tado, assignalaraõ aquelles Limites, buscando as Lagoas, e Rios,

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que se juntem ao Japurá, e Negro, e se avezinhem mais ao

rumo do Norte, e, nelles fixaraõ o ponto, de que naõ deverá

35 passar a Navegaçaõ; e uzo dehuma, nem de outra Nasçaõ

Fig. 22 – Artigos X, XI e XII do Tratado de Santo I ldefonso (fólios 14v e 15r- Vol.

I)

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58

15v

Nasçaõ, quando apartando-se dos Rios, haja de continuar a Frontei

ra pelos Montez, que medêaõ entre oOrinoco, eMaranhaõ, ou

Amazonas, endireitando tambem aLinha daRaya, quanto pu-

der ser, para aparte do Norte, sem reparar nopouco mais, ou me

5 nos de terreno, que fique ahuma, ou aOutra Coroa;Comtanto, que

selogrem os fins já explicados, até concluir adita Linha, on

de findaõ os Dominios de ambas as Monarquiaz.

[ �] Artigo XIII-[ �]

A navegação dos Rios, por onde passar a Fronteira, ou Raya, sera

10 comúa ás duas Nasções, até àquelle ponto, em que pertencerem a

ambas respectiva mente as suas duas margem; eficará priva,

tiva adita Navegação, e uzo dos Rios áquella Nasçaõ aquem

pertencerem privativa mente as suas duas Margenz desde o

ponto, em que principiar este Dominio; de modo, que em todo

15 ou emparte será privativa, ou comua[?] a Navegação, segundo

oforem as Ribeiraz, ou Margens do Rio: e para que osSubdi-

tos dehuma, ede outra Coroa, naõ possaõ ignorar esta regra,

Se poràó Marcos, ou Balizas nos lugares em que aLinha

divizoria, se una a alguns Rios, ouse separe dellez, com Inscripções,

20 que expliquem ser comum, ou privativo ouzo, enavegaçaõ da

quelle Rio de ambas, oude huma Nasção só, com expreção da

que possa, ou não passar daquelle ponto, debaixodaspenas, quese

estabelescem neste Tratado.

[ �] Artigo XIV-[ �]

25 Todas as Ilhas, quese acharem em qualquer dos Rios, por onde hade

passar aRaya, segundo oconvindo nos prezentes Artigos Prelimi-

narez, pertenceràó ao Dominio, aque estiverem mais proximas em

tempo, e estaçaõ mais seca; eseestiveremsituadas a igual distan

cia de ambas as margens, ficaràó Neutraez, excepto quando fo-

30 rem degrande extenção, e aproveitamento,pois então sedividi-

ràó por metade, formando acorrespondente Linha desepara

ção, paradeterminar os Lemites de ambas as Nasções

Ar-

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59

16r

[ �] Artigo XV-[�]

para quese determinem tambem com amayor exacçaõ osLimites

insinuados nos Artigos deste Tratado, ese especefiquem, sem que tenha

lugar a mais leve duvida nofuturo, todos os pontos, por onde deva pas-

5 sar a Linha divizoria, de modo que sepossa estender hum Tratado

definitivo, com expreção individual de todos elles : se nomearam

comissarios por Suas Magestades Fedelissima, e Catholica, ouse

dará faculdade aos Governadores das Provincias, para que elles, ouas

pessoas que se ellegerem, as quez sejáo deconhecida probidade,

10 inteligencia, econhecimento do Paiz, pintando-se nas paragens

daDemarcaçaõ,assignalem os ditos pontos, regulando-se pelos Ar-

tigos deste Tratado, Outorgando os Instrumentos correspondentes,

formando hum Mappa individual, de toda aFronteira, que

reconhecerem, eassignalarem; cujas copias authorizadas, eforma-

15 das dehuns, e outros, secomunicaràó, eremeteràó as duas Cortes,

pondo desde logo em execução, tudo aquillo, em que estiverem

Conformez, e reduzindo ahum ajuste, eexpediente interino os

pontos, em que houver alguma discordia, até que pelas suas cor-

tez, aquem daràó parte, seresolvadecomum acordo, oque julgarem

20 conveniente. [�] Para queseconsiga amayor brevidade nodito

reconhecimento, eDemarcaçaõ daLinha, e execuçaõ dos Artigos

deste Tratado, se nomearàó os Comissarios praticos dehuma, eou

tra Corte por Provincias, ou territorios, de modo que hum mes-

mo tempo sepossa executar por partes, todo oajustado econ

25 vindo, Comunicando-se reciproca mente, e com antecipação os

Governadores de ambas as nasções na quellas Provincias aex-

tenção de Territorio, que comprehenda a Comissão, efacul-

dades do Comissano pratico, nomeado por cada parte.

[�]Artigo XVI- [ �]

30 Os Comissarios ou pessoas nomeadas nos termos, que explica o

Artigo precedente, alem das regras estabelecida neste Tratado, te-

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60

raõ prezente, para o que nelle naõ estiver especeficado, que os

seus objetos na Demarcaçaõ da Linha divizoria devemser

areciprocasegurança, perpertua páz,e tranquilidade

Fig. 23 – Artigos XIII a XIX do Tratado de Santo Il defonso (fólios 15v a 17r- Vol.

I)

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61

16v

etranquilidade de ambas as Nasções e o total exterminio dos con-

trabandos, que os subditos de huma, possão fazer nos Dominios,ou

com os Vassallos da outra: pelo que com attençaõ aestesdois ob-

jectos, selhes daràó as correspondentes Ordens, para queevitem

5 disputas, que não prejudiquem directamente ás actuaes poces

sões de ambos os Soberanos, á Navegação comua, ou privati-

va dos seus Rios, ou Canaes, segundo oajustado no Artigo

XIII, ou aos Cultivos, Minas, ou Pastos, que actual mente possuáo,

e naõ sejaõ cedidos por este Tratado, embeneficio daLinha divi-

10 zoria; sendo a intenção dos dous Augustos Soberanos, que aofim

de conseguir, averdadeira páz, eamizade, acuja perpetuidade,

e estreiteza as seraó, para osocego reciproco, e bemdeseus Vassa-

los; somente se attenda na quellas vastissimas Regioẽs,por on-

de hade estabelercer-se aLinha divizoria; á conservação do

15 que cada hum fica possuindo em virtude deste Tratado, edo de

finitivo delimites, eassegurar estes demodo, que em nenhum tem-

po se possaõ oferecer duvidaz, nem discordias.

[�]ArtigoXVII [ �]

Qual quer individuo das duas Nasçoẽs quese aprehender fazen-

20 do o comercio de contrabando, com os individuos da outra, será cas-

tigado nasua pessoa, e bens, com as penas impostaz pelas leys da

Nasçaõ que ohouver aprehendido, enas mesmas penas encorre-

ràó os subditos dehuma Nasçaõ, pelo unico facto deentrar no

Territorio da outra, ou nos Rios, ou parte delles, que não sejaõ pri-

25 Vativos dasua Nasçaõ, ou Comuns a ambaz; exceptuando-sesó

ocazo, em que alguns arribem ao Porto, e Terreno alheyo, epor

indispensavel, e urgentenecessidade, que haõ de fazer constar em

toda aforma; ou que passarem ao Territorio alheyo; por Comis-

são do Governador, ou superior doseu respectivo Paiz paraco-

30 municar algum officio, ou Avizo, em cujo cazo deveáo levar

Passaporte, que expresse o motivo.

[�]ArtigoXVIII- [ �]

Nos Rios, cuja Navegação foi comúa as duas Nasçoẽs

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62

17r

Nasçoẽs em tudo, ou em parte, naõ sepoderá Levantar, oucons-

truir por algumadellas, Forte, Guarda, ou Registo; nem obri-

gar aos Subditos de ambas as Potencias, que navegarem, a

sofrer vizitas, Levar Monçaõ, nem sugeitar-se aoutras formali-

5 dades; esómente seràó castigados com as penas expressadas no

Artigo antecedente, quando entrarem em Porto, ou Terreno alhe

yo , ou passarem daquelle ponto, até onde aditta Navegação seja

comua, para introduzir -se na parte do Rio, que já for privativa

dos subditos daOutra Potencia.

10 [�]Artigo XIX- [ �]

No cazo de ocorrerem algumas duvidas, entre osVassallos Por-

tuguezes, eEspanhóez, ou entre osGovernadores, ecomandantes das

Fronteiras das duas Coroas, sobre excesso dos Limitez, assignalados,

ou inteligencia de algum delles, não seprocederá demodo algum

15 por viaz defacto, aoccupar terreno, nem atomar satisfaçaõ reci-

proca mente asduvidaz, econcordar interinamente alguns meyos

de ajuste, até que dando parte ás suas respectivas Cortes, Se

lhes partecipem por estas, decomum acordo, as resoluçoẽs neces

sarias; e osque contravierem aodisposto neste Artigo, seràó cas

20 tigados, a arbitrio da potencia ofendida, acujofim sefaràm

notorias aos Governadores, ecomandantes asdisposiçoẽs delle.

O mesmo Castigo padeceràó, os que intentarem povoar, aproveitar,

ou entrar nafaxa, Linha, ou espaço deTerritorio quedevaser neu

tro entre os limites de ambas as Naçoẽs. Eassim para isto, como

25 para que nodito espaço por toda a Fronteira, seevite osasylode

Ladroẽz, ou assassinos, osGovernadores fronteiras, tomaràó tambem

deComum aCordo, as providencias necessarias, concordando omeyo

de aprehendello, edeextinguillos, impondo-lhes severissimosCas-

tigos. [�]Assim mesmo, consistindo as riquezasdaquellePais

30 nos escravos, que trabalhaõ nasua Agricultura, Conviràó os

proprios Governadores, nomodo de entregallos mutua mente no

Cazo defuga, sem que por passar adiverso Dominio Consi-

gaõ aLiberdade; esó sim aprotecçaõ, para que naõ padeçaõ

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63

17v

padeçaõ castigo violento, se o não tiverem merecido por outro Crime.

[�]Artigo XX- [�]

Para aperfeita execuçaõ doprezente Tratado, esua perpetua

firmeza, os dous Augustos Monarcas Contratantes, anemados

5 dos principios da Uniaõ, paz, eamizade, quedezejaõ estabelescer

solida mente: cedem, renunciaõ, etraspassaõ hum aoutro em

Seu nome, edeseus Herdeiros, eSucessores, toda aposse, edireito,

que possaõ ter, ou alegar, aquaes quer Terrenos, ou Navegaçoẽs

dos Rios, que pela Linha divizoria, assignalada nosArtigos

10 deste Tratado para toda aAmerica Miridional, ficarem a

favor dequalquer das duas Coroas, como, por exemplo, oque

se acha ocupado, efica para aCoroade Portugal, nas duas

Margens doRio Maranhaõ, oudasAmazonas, na parte, em

que lhe haõ deser privativas; eoque occupa nodestricto de

15 Matto Grosso, edelle para apartedo Oriente; como igoal

mente oqueserezerva á CoroadeEspanha, na parte do mes-

moRio Maranhaõ, desdeaentrada do Japurá, emque o re

ferido Maranhaõ hade dividir oDominio de ambas as Coroas

até a boca mais Ocidental do Japurá, cem qualquer outra

20 parte que pela Linhaassignalada neste Tratado ficarem ter-

renoz, ahuma ,ou aoutraCoroa, excetuando se osditos Terre

nos na parte, emque estiverem ocupados,dentrodotermode

quatro mezes, ou antes sefor possivel, debaixo daquella Li-

berdade desairem os habitantes individuos da Nasçaõ, que os

25 evacuassem com os seus bens, eefeitos, edevender osderaiz,

que já fica Capitulada no Artigo VII.

[�]ArtigoXXI -[ �]

com ofim deconsolidar a dita uniaõ, páz, eamizade, entre as

sua Monarquias, edeextinguir todo o motivo dediscordia, ain

da pelo que respeita aosDominios daAzia: Sua Magesta-

de Fedelissima, emseu Nome, e no deseus Herdeiros, esuce-

sores, cede afavor desua MagestadeCatholica,Seus Her

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64

18r

Herdeiros, eSucessores, todo o direito que possa ter, ou alle-

gar ao Dominio das Ilhas Filipinas, Marianas, Eomais

que possue naquellas partes aCoroadeEsapnha; renun-

ciando a de Portugal qual quer acçaõ, oudireito, que possa ter,

5 ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 de Junho de

1494, e pelas condiçoẽs da escriptura Celebrada em Çarago-

ça á 22 de Abril de 1529, sem que possa repetir couza al

guma dopreço que pagou pela Venda, Capitulada naditaEs-

criptura, nem valer-se de outro qualquer motivo, ou funda

10 mento, contra aCessaõ convinda neste Artigo.

[�]Artigo XXII- [ �]

Em prova da mesma uniaõ,eamizade, que taõ eficaz mente

Se dezeja pelos dous Augustos Contratantes, Sua Magestade Ca-

tholica,oferece restituir, eevacuar dentro dequatro mezes se

15 guintez á Ratificaçaõ deste Tratado, a Ilha deSanta Catheri-

na, e aparte docontinente imediato aella que houvessem oc-

cupado as Armas Espanholas, com aArtelharia, Muniçoẽs,

eomais efeitos, quese ouvessem achado ao tempodaOcupa

çaõ. EsuaMagestade Fedelissima emcorrespondencia

20 desta restituiçaõ, promete que emtempo algum, seja depaz

oude Guerra, em que a Coroade Portugal naõ tenha parte,

comoseespera, edezeja, naõ Consentirá que alguma Es-

quadra, ouEmbarcaçaõ deGuerra, oudeComercio Estran

geiras, Entrem nodito Porto deSantaCatherina, ou nos

25 dasuaCosta immediata,nem que nelles seabriguem,

ou detenhaõ,Especial mente sendoEmbarcaçoẽs de Poten

cia, quese ache em Guerra com aCoroa deEspanha, ou

que possa haver alguma Suspeita deserem distinadas afa=

zer oContrabando. Suas Magestades Fedelissima, eCa

30 tholica,faràó prompta mente expedir as Ordens conveni-

ientes, para aExecuçaõ, e pontual observancia dequanto

seEstipula neste Artigo; E setrocará mutuamente hum

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65

duplicado dellas, afim deque naõ fique a menor duvida

Sobre oexacto Cumprimento dos objetos que inclúe

35 Ar-

Fig. 24 – Artigos XX a XXII do Tratado de Santo Ild efonso (fólios 17v e 18r - Vol.

I)

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18v

[�]Artigo XXIII -[ �]

AsEsquadras, e tropas Portuguesas, eEspanholas, que se

achaõ nos Marez, ou Pontes daAmerica Miridional, seretiraràó

dali aseus respectivos distinos, ficando só asregulares emtem-

5 po dePaz, de que Sedaràó avizos reciprocos, aosGeneraes, e Gover-

nadores de ambas asCoroas, para que aEvacuaçaõ sefaça com

apossivel igualdade,eCorrespondente boafé, no breve termo dequa

tro mezes.

[�]Artigo XXIV- [ �]

10 Se para cumprimento, e mayor explicaçaõ deste Tractado, se-

necessitar de estender, e estenderem algum, ou alguns Artigos ma-

is dos referidos, se teràó como partedeste mesmo Tractado; e os

Altos Contratantez, seràó igual mente obrigados, á sua invi-

olavel observancia, earateficallos no mesmo termo, quese as

15 signará neste.

[�]Artigo XXV- [ �]

O presente Tratado Preliminar, serateficará noprecizo termoa de

quinze diaz, depois defirmado, ou antes, sefor possivel.

Emfé doque, Nós outros os infra escriptos Menistros Ple

20 nipotenciarioz, assignamos de Nosso punho, em Nome de Nossos

Augustos Amos, e em virtude das Plempotencias, com que

Para isso nos Authorizaraó, o prezente Tractado Preliminar de

Limites, eofizemosSellar, com osSellos de nossas Armas. Fei-

to em Santo Ildefonço ao primeyro de Outubrodemil sette

25 centos Settenta esette.=S.S. D.Francisco Innocen

cio de Souza Coutinho=S.S. El. Conde de Florida

Blanca.= [�]

E sendo-me prezente o mesmo Tratado, cujo theor, fica acima

inferido, e bem visto, Conciderado, e examinado porMim, tu-

30 do oque nelllese Contem, o Aprovo, retifico, e confirmo, as

sim no todo, como em cada humadas suas clauzulas, e esti

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67

19r

lestipulaçoés; epela prezente dou por firma, evalios para

sempre: prometendo emfé, epalavras Real, observallo,

e cumprillo inviolavel mente, fazelo cumprir, eobservar,

sem permitir, quesefaçaõ couza alguma encontrario, por

5 qualquer modo que possa ser, renunciando aqual quer vistto

Tratado, ou Detreminaçaõ que hoje, se possa haver em Contra

Rio: Eem testemunho, firmezadoSobredisto, na que faz

apresenteCarta por Mim assinada e Sellada com oSel

lo Grande das Minhas Armas, ereferendada pelo Meu

10 secretario d'Estado Abaixo assinado. Dada no Palacio

de Quélluz, a dia de Otubro demil Sette centos Setten

ta e Sette.= ARaynha= Lugar doSello=Ayres de

Sá eMello.

Antº Soares Lima [rubrica]

Fig. 25 – Artigos XXIII a XXV do Tratado de Santo I ldefonso (fólios 18v e 19r -

Vol. I).

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68

EDIÇÃO DAS CARTAS

5v

30 Reg.o dehumacarta de SExca pa o Mathematico oDr

Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas

Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona

Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que

Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena, cujos monumentos

35 Entreguei desdelogo aoCap. an Ricardo Franco [†] para servirem nacarta

Fig. 26 – “Prospecto das canoas em que navegaram os empregados na

Expedição Filosófica pelos rios Cuyabá, São Lourenç o, Paraguay e Jauru...”.

Autor não identificado (1789-1792). Expedição de Al exandre Rodrigues

Ferreira. Acervo do Museu Bocage, Portugal. (Lima 2 005:48).

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69

6r

que lhetenho encarregado delevantar; estimando sumamente

que orestabelecimento das molestias de VMC naõ só lhepermi-

tisse aquella util degreçaõ; mas haja depermitir as outras q.o

me anuncia, e que ja detremineis de penetrar quando for possivel;

5 nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré: Oponto estará em que os

Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem: Pelo que hade

ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas, ou apa

rencias muito diverças, sigundo tendo advertido que imponham de

alguma sorte aosditos Espanhoes.

10 [parágrafo]Agora faço remeter aVMC o Oculo Astronomico,

dezejando que possa repetir aobservaçaõ desse primeiro Satelite emfor=

ma que o calculo daverdadeirasituaçaõ geographica do importante

ponto dessa Fortaleza, se aproxime, ou detremine omais que for

possivel; eassim mesmo quaesquer outros interessantes porondeVMC

15 passar, bem persuadido alias de que VMC naõ omitirá pelo seu claro

desentendimento de apontar sempre quaes quer memorias[?], ou

Historias quelheparecerem dignas

[parágrafo] Naforma darecomendaçaõ de VMC arespeito

das Ephemerides debaixo do Titulo de = Connoissance destemps =

20 agora afaço tambem para Lisboa com todo o empenho, pelo q' tenho,

naõ só desatisfazer aVMC mas anecessidade urgente q'suponho

das ditas Taboadas para asobservaçoens Celestes que sedeveraõ repe

tir pozitivamente

[parágrafo] Nocazo de que esseIndio doPara pornome Albino

25 daCosta em que VMC mefalla queira muito espontaniamente

ficar naSuaCompanhia; convenho nisso deboavontade: efico

esperando assuasboas noticias com repetidas ocazioens delhe

dar gosto. Dos Guarde aVMce. m. anñ. V.a Bélla 2deAbril de

1783= Luizd'AlbuquerquedeMello Pereira eCaceres= jos

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70

30 D.or Francisco Joze de Lacerda eAlmeida.

Ant.o Felippe da Cunha

8r

Ill.mo eExmo Senhor= Dipois quecheguey daentrada, q´ fiz

5 PelosRios Bacires, Branco, daConceipçaõ edo Joaquim

tive ahonrra dereceber aprezadiscima cartade V.Exca , naq.l

novamente medeterminava aentrada dodito Bacires, eMa-

more, quando fosse poscivel com ascautellas necessarias p.a qe

osEspanhoes menaõ embaraçascem aentrada dosditos Rios

10 the oprezente livremente tenho navegado, semhaver amini-

ma suspeita dequem fose, eofim oque sedirigem as m.as

digreçoens ecommuito mais liberdade pascaria alem doponto

de Baures (Bacires), athe onde cheguey, [?] doGentio, q´ medi=

zem ter bastantes, eoscezto deficar semcanoa pelo mal con

15 certado della, menaõ fizescem retroceder, ecombem magoa

minha; pois peladireçaõ, que parece tomar, epelas intençoens

deV. Ex.ca arespeito dalinha divizoria, parece termo mto proprio;

pois osEspanhoes, alem denaõ terem nassuas margens Missaõ

algũa, bem cobertas ficam ambas asFronteiras

20 [parágrafo] V.Ex.ca serà servido detreminarme, sehé conveni=

ente quesegundavez intente estadeligencia entrando q.to

for poscivel, comaescolta necescaria, para algũa invazaõ

do Gentio, que possa haver: toda brevidade meparece nes

cessaria afim deseachar oRio com Agoa suficiente desepo-

25 der navegar livre deCaxoeiras, q´ medizem ter muitas

[parágrafo] Tendo lembrança, oque osCalculos Astronomicos

longos saõ sugeitos aalguns erros, partã procedidos

dezcuido, parte dos erros das impressoens dastaboas

[como jà me aconteceo noRio Negro emhum Eclipse dosol

30 q´ observey em Abril de 81] neste tempo que tenho tido

dedescanso tornando arever astaboadas, os Calculos, eob-

servaçoens feitas noMez de Dezbro passado, achei que a

quarta letra dehum logaritmo [contando da caracteristi=

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71

ca] era zero devendo ser nove, oq´ produzia hûã diferença

35 notavel norezultado; pois tendo atençaõ aeste erro, alongi

tude determinada pelas distancias daLûa aosol, eaEs-

trella Aldebaram E amesma, q´de duzi deduas imersoens

do 1.˚ 2.˚ Satelite deJupiter [com inatendivel diferença]

Pelo que adiferença meridional deste Forte ao Occidente

40 deParis, É determinada por 4 Observaçoens, eseamadru-

gada estiver boa, sera por 5

[parágrafo] Pelo que pertence a ver

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8v

averdadeira poziçaõ dafoz desteRio, nada dou por certo; pois hum

contador muito mào, que tive, trocava os minutos, emenaõ dei-

xa fazer juizo certo. [�] Porfaltade gente naõ vou novamente

determinalla

5 [parágrafo] As duvidas, quetem havido sobre oponto da Ilha

deFerro, de donde sedevem contar as Longitudes, só V. Ex.ca aspode

tirar; pois sendo certo, q´adita Ilha naó hé hum ponto, nem

hûa linha recta dirigida aoNorte, eSul, aparte mais oriental

deve ter diferente Longitude damais ocidental. Esta hé are

10 zaõ dadiferença, que seacha nas taboas antigas, emadeiras

pois estas daõ alongitude doponto mais occidental; como sedeve

entender dadeclaraçaõ que trazem, dizendo= Long. Isse deFercà

l´oucit. 28.30 = e as outras = auBurg = Porestes motivos, só V. Ex.ca

por expressa ordem, pode fixar oponto dedonde sedeve principi-

15 ar acontar asLongitudes, ahinda que dequalquer partes

que seja sempre nosMapas sehadepôr adeclaraçaõ dod.o ponto.

[parágrafo] Na ocaziaõ prezente remeto aV.Ex.ca adiferença

meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.e de Paris

emtempo, para que meucompanheiro D.r Pontes, ou os mesmos

20 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira

Longitude, conforme aoque V.Ex.ca determinar.

[parágrafo] Alem deste rezultado, tambem remeto as

configuraçaó dealgûa p.te dosRios Baures (Bacires), Branco, daConc.am

e deS. Joaquim sem q´mefosse possivel emqual quer destas Mi=

25 çoens poder fazer observaçaõ algûa, eestar fora dellas oterre

no taõ alagado, q´ nem para pouzo havia comodidade

[parágrafo] Tambem envio aV.Ex.ca hum risco p.a hum

quadrante solar, no cazodeq. V.Ex.ca o queiramandar levantar.

Para naõ haver o encomodo defazer natàboa duas divizoens,

30 edous Estilos, risquei este, q. Emtodo o anno mostrarà só de

hûa parte ashoras, quartos, emeyashoras, elhedei asdivi=

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zoens, que pedem alatitude dessa Villa ea inclinaçaõ que

determinei dar aoplano databoa

[parágrafo] Ahinda menaõ àcho inteiramente bom

35 ecomas friágens tenho tido meus leves incomodos

[parágrafo] Dezejo aV.Ex.ca vigorozaSaûde, eq´ DE. G.de

aV.Ex.ca m. Anñ. Forte 28 deMayode1783 = Sou comprofundo

respeito = Ill. mo e Ex. mo S.or LuizdÁlbuquerquede MelloPereira

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74

11v

[†]

[†]

As minhas continuadas morteficantes escriptas destes ultimos dias afim

depoder desembaraçar ao [?] visto seachar apartir para oRio deJa

5 neiro Serviram deobstaculo para que eu mais sedo respondesse segun

dodezejava, a carta de VMC dos 19 decorrente

[parágrafo] Fico enteirado do quanto VMC mepartecipava

arespeito dessasobras em quesey naõ omitiria todas equaes quer

providencias que lheparecessem adquadas digo parecessm acerta

10 das, eoportunas aoadiantamento quedezejamos, o que observo naõ só

pelocontexto dareferidacarta mas pelo doque ultimamente es

creveu tambem aJozeManoel Cardozo, eaoPorta Estandarte Re

bello sobre aspraterias emmeu nome recomendadas semqueseja

precizo repetir denovo cadahumadellas

15 [parágrafo] OsoldadoCruz quedaqui foy conduzir esses

taes ou quaes novos Moradores, eque aomesmo tempo sedestinou

para algum mais urgente serviço que seofrecesse desdelogo; co

mo porexemplo odese domesticarem alguns boys docostodios

porserem naverdade muitos poucos ao uzo docarro osquatros

20 mancos quedaqui seremeteram, serà bom que sedesembarace com

apossivel brevidade para voltar aestaVilla aonde saõ poucos

ossoldados, emuitas asocupaçoens

[parágrafo] Ocapitaõ Joaquim JozéFerreira suposto tenha

feito toda apossivel deligencia para concluir oMapa trabalhando

25 athe nosdiasSantos, ainda nao pode conceguillo mas creyo ofarà

dentro dequatro ouCinco dias para denovo subir aesse lugar assistindo

aoDeleniamento, ou regulaçaõ de quaes quer novas medidas emque

assentey comele sefizesse alguma piquena alteraçaõ arespeito

doprimeiro projecto

30 [parágrafo] Pelas ultimas quedaqui foram veria VMC

queeu fiz remeter aspoucas, eredicullas pessas daTenda do Gua=

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tura que haviam ficado nesta villa; como tambem Farinha, al=

gum Aço, emais ferramentas para as rossadas quepoderaõ ede

veraõ fazer osEscravos nosdiasSantos VSa Ecomo VMC reconhece

35 perfeitamente quanto será conveniente que nessa paragem seaumen-

tem as Lavouras demilho, afimdeque no anno futuro senaó experimte

aextraordinaria escacez desse genero que ja vai havendo noprezente

tenho aliaz porcerto que ha depromover estasementeyra omais

que sefizer praticavel durante ospoucos dias que ja agora sede

40 morará nessadita paragem; tudo isto naforma das minhas ante

cedentes eeficazes recomendaçoens.

[parágrafo] Estimarey queodito Costodio Joze daSilva dipois

deter dado os ordinarios finaes doseu natural eimportuno vila=

nismo sobre que fui obrigado asacudillo de algum modo como VMC

45 veria no Despacho se acomodasse porfim sem mayor replica

ao que parece justo, enecessario na actual conjuntura; mas,

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76

12r

atudo obriga anecessidade

[parágrafo] O arbitrio do Marraõ e Cunhas que VMC

bem advirtio como tambem do uzo dealgum fogocom

Broca nessas pedreiras, meparece que seraõ bastante

5 proveitozo, evisto que VMC ja tinha osditos Instrumentos equiz

fazer o favor deempreitallos, mandando avizo para seremeterem

o que mecerteficam severificara, estou certo que ja com eles

seteraõ feito oufaraõ ainda as experiencias necessarias, epelo

que respeita aouzo dadita Broca seacazo for praticavel, detre

10 minarey que seremeta alguma polvora que emtal cazo se

rà indispençavel; o que mais cabalmente seexaminarà nasu=

bida domesmo Capitaõ Joaquim Jozé Ferreira.

[parágrafo] Portador desta hé Inacio Soares q´ tambem

vay cuidar emque selhefaça maior rossa, elevarà comsigo algu

15 ma Estopadecalafeto naforma do avizo de VMC. D.os G.e a VMC

V.a Bella 28 de Julho de 1783= Luizd´AlbuquerquedeMello Per.a

ECaceres= S.or Antonio FelipedaCunha Pontes

Joaq.m Jozê Cavalc.te d Albuqre. Lins

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EDIÇÃO DO DIÁRIO DE VIAGEM

Fig. 27- Início do Diário de Viagem (fólio 38v - Vo l. III).

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78

38v

Diário de Viagem que por Ordem do

Ill. mo e Ex.mo Luiz d'Albuquerque de Mello Pe-

reira Caceres, Govern. or e Cap.m General das Capit.as de

Matto Grosso e Cuyaba foi de Villa Bella athé

5 a Cidade de S. Paulo pela ordinaria derrota dos

Ryos no anno de 1788.

[�] Setembro dia 13

Por quanto no anno de 1786 ja tratey com individua-

Legoas çaõ da derrota que fez de Villa Bella p.a Cuyabá Villa

10 e as circunstancias atendiveis na navegaçaõ dos Ryos Cuya- Bellas

ba, Porrudos, e Paràguay, darey principio a hum circuns-

tanciado Diario na foz do Ryo Taquary, eagora so-

mente direy que nesse dia party de Villa Bella

[�] Dia 22

15 Cheguey a V.a do Cuyabá onde me demorey em

Me apromptar athê o dia 14 de Outubro

[�] Outubro dia 15.

Pelas 7 horas e meya da manhâa dey principio

a minha navegaçaõ em huma canoa e levando na mi-

20 nha Companhia mais hum batelaõ, pa em ambas se

poderem acomodar 26 trabalhadores que tantos eram

precizo p.a as varaçoens nos fatos doque ao diante tratarey

[�] Dia 22

Pelas 8 horas entrey no Ryo Porrudos sendo avistado

25 pe-

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79

39r

pelas 7 horas uma piquena canoa de [?]

que logo que nos viram meteram huma Bahia

adentro [�] Dia 24

Entrey no Paraguay pelas 7 horas da manhaã

5 [�] Dia 26

Neste dia cheguey a Povoaçaõ de Albuquerque

[�] Dia 28

Cheguey a fôz do Ryo Taquary pelas 10 horas da

Manhaâ, e nella dou principio a tirar do leito deste Ryo

10 e dos mais por onde for precizo Navegar pa chegar a Ara-

ntagabá. Freguezia pertencente a Capita de S. Paulo

e escalla das Canoas de Comercio que navegam pa Cuia-

bâ fornecido nesta longa derrota as observaçoens. Astrono-

micas que necessarias, e possiveu formem pa levantar dipoys

15 hum exacto, e completo Mapa conforme as ordens que do

dito p. General receby naveguey pois o restantante deste dia

pelo Ryo Taquary abeirando huma grande Campanha

que lhe serve de Leito, e taõ baixa que estando o Ryo

quazi na sua menor altura estavam as suas agoas pouco

20 mais baixas do nivel do Campo. A numeravel

quantidade de diferentes aves aquaticas que por toda

esta vasta campanha se divizava, bem mostrava

abundancia do peixe nas suas Lagoas : naõ deixou tam bem

de me admirar as muitas Arrayas que sobre as áreas

25 se viram neste dia, e de tal grandesa que algumas ti-

nham de 4 pa 5 palmos de diametro. Tinha o Ryo

na sua mayor altura 15 pa 16 palmos, e os sinaes q.

as arvores mostravam deixavam ver que o ryo

subia mais 12 palmos, vindo a ficar por este comp.nto

30 a Campanha com 11 palmos de inundaçaõ o que abre

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via muito a navegaçaõ da Canoas que em semelhan

tes tempos navegam de S. Paulo pa Cuiabá

e de Cuiabá pa S. Paulo pois nesta travessia se

livram de navegar por huma parte do mesmo Ta

35 quary por todo o Paraguay e Porrudos, e vão subir no

[�]Cuya

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81

39v

Cuyabâ[?] da sua fôz. Naveguey 4 legoas ehum 4/4

Quarto quazi tudo a Norte.

[�] NB.

Para se saber orumo geral que fiquei em cada hum

5 dia, tirarei do ponto da partida pa o ponto do pouso hu-

ma linha recta, e dezignarei tambem o angulo que ella

faz com hum dos 4 ventos principaes, e o dezignarey com

a Letra =A= [�] Dia 29

Com 10, ou 11 braças de andamento perdeu o Rio a

10 sua forma de encanado, e entrey por hum pantanal pelo

qual estava espalhado o Rio com infinitas entradas que

fazia dificil achar o verdadeiro caminho que se devia se-

guir, e naõ obstante vir hum guia tido por muito expe-

riente, seguimos por duas vezes humas veredas falças.

Este esprayado do Ryo fez diminuir tanto a sua pro-

15 fundide que muitas veses era precizo varar a canoa

pa sima das areas: Naveguey 5 legoas e meya A=

22˚ , de N pa E 5/2

[�]Dia 30

Naveguey duas léguas e 74 pr entre agoapez do pan-

20 tanal, retrocedendo de varias veredas que seguy por que

as achava secas athe que finalme sahy a hum lugar que

lhe chamam o Boqueiraõ, ponto em que o Ryo tor-

na novamente a correr encanado por entre humas mar-

gens que tinham de hum athê dous palmos de altura

25 Fuy seguindo este canal – vencendo a correnteza da agoa

e algumas vezes encalhando nos baixos pois nas partes

concavas das enseadas tinha mto irregular fundo de

5 // 7, e 10 palmos Alargura do Ryo hum com muito

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pouca mudança de 22 braças =A= 21/2 de N.pa

30 E [�] Dia 31

Com marcha de 3 légoas passei deixando na margem

Oriental hum sangrador, Canal antigo que se seguia

e que ja está entupido das areaes; incoveniente que tem

sucedido a outro muitos esucederá também aeste

35 pa onde vou navegando pois aqualide do terreno

[�]bai-

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40r

baixo, arenozo, como também a pouca altura do Ryo

em varias partes o estâ prometendo: Do meyo dia

a tarde jâ as ribanceiras tinham de 4 pa 5 palmos

7/4 d’altura. Naveguey 7 legoas e /4 =A=28º de N. pa E .

5 [�] Novembro Dia 1o

Naveguey neste dia conservando o Ryo a n.ma altura

de Ribanceiras da tarde antecedente o mesmo fundo

e a mesma largura, naõ permitio o tempo obsevar

a imersão do 1º Satelite de Jupiter = A = 43.º de N

10 pa E

[�] Dia 2

Das 10 horas pa diante foram as margens do Ryo

diminuindo a sua altura athê chegarem de 1 palmo

que se conservou pelo resto do dia. Passei 12 Ilhas

15 piquenas. Detreminey a latitude deste lugar que a-

chey de = 18º 12’ 58” e a variação N. E.= 9º 12 Na-

veguey 6 ½ léguas. A = 53º de N. pa E.

[�] Dia 3

Principiey a marcha pa hum Pantanal posto que naõ

20 taõ esprayado, e sugeito a perdas como o 1º comtudo

taõ baixo que huma especie de ribanceira que tinha

com qualquer repiquete se inundaria: Fuy pernoitar

huma legoa acima do pouzo alegre, sendo deixado na

margem Septentrional huma legoa /4 abaixo do d.o pou-

25 zo alegre a foz de hum sangrador que me asseverou o

guia ter sido a antiga madre do Ryo q^ ainda a G

Annos se seguia e hia sahir no Paraguay as baixo

das tres Barras, mas que agora se acha entupido pelas

areyas: Este Capão ou pouzo alegre esta no meyo d'hu

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30 ma grande resacada cheya de piquenas ilhas, e de

tantos bancos de areya que custou muito achar Ca-

nal pa se navegar = A = 70 graus de N. pa E

[�] Dia 4

Todo este dia naveguey entre piquenas ilhas, ebancos

35 de arreya de que tambem saõ as margens do Ryo

A pouca existencia de semelhantes margens faz

q'o Ryo se alargue m.to , e que se consuma muito

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85

40v

tempo na deligencia de achar pr entre as areyas fundo

Capaõ de se poder navegar, correndo pr este motivo

varios rumos nesta penosa carreira A = 63/2 de

N pa E [�]Dia 05

5 No desvio dos baixos prolonguey o caminho conside-

ra a grande profundide do Ryo no seu principio

em comparaçaõ da piquena que tem tido nestes dias provem

naõ só de serem as suas agoas reprezadas pelas do Pa-

raguay mas tambem de correrem por hum canal

10 mais estreito pois logo que se esprayaram pelo Pan-

tanal, epor esta parte que ha dias tenho navegado

principalme de pouzo alegre pa diante principiey a

sentir o referido incomodo: Naõ deve igualme causar

admiração o achar na deligencia do reconhecimto do

15 Paraguay da Lagoa Uberava Gayoa eMandiorem fei-

ta no anno de 1786 a Campanha com 20 palmos de

inundaçaõ, pois ella hé piquena recepitaculo pa as agoas

que em semelhante tempo continuam ter o Paraguay

Porrudos, e Cuyabá Taquary Mondego, e outros m.tos

20 e grandes Ryos que nestes despejam as suas agoas: As

margem deste Ryo ja tem de 11 pa 12 palmos d’al-

7/2 tura A = 80º /2 de N. pa E.

[�] Dia 6

Naveguey todo este dia abeirando terras firmes e as

25 circunstancias da navegaçaõ foram as mesmas do

dia precedente: pousey /4 de légoa acima d’hum lu- = Cocaes

gar que lhe chamam Cocaes pelos m.tos Cocos que

tem A 82º de N. pa E

[�] Dia 7

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30 Este Ryo já alegre, e vistozo pelos seus estiroens, Ilhas

posto que piquenas, grandes Prayas, mattos, e riban-

ceiras de 20 palmos d’altura apesar de correr repreza-

da entre ellas naõ sobre a grande altura, pois os sinaes

que nas mesmas margens se divizam, mostram que

35 do estado actual sobe altura de 16 pa 18 palmos

[�]naõ

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41r

não deixando rapida [?] acomodaransse

mais na suas agoa A = 78’do n. pa E.

[�] Dia 8

A largura do Ryo tem sido bem irregular pois em

5 partes tem tido 25 braças em partes [?], e ainda mais nas

enseadas onde hâ ilhas: a parte mais estreita que tenho

encontrado foy hum lugar onde fiz atto pa jantar e

que lhe chamam Varal, porque nele se provem de va-

ras sendo nos vindo athé aquy remediando com humas

5/2 10 Canas que tiraõ no Paraguay de frente do monte

chamado Dourado A = 6º 72 de E pa S.

[�] Dia 9

Correo hoje o Ryo entre nacente eSul obrigado talvez

de huma Cordilheira que a o longe se desviava desde

15 ontem quando a proa tendia pa Noroeste A= 38º

7/4 de E pa Sul [�]Dia10

Huma legoa acima do pouzo está huma praya con-

tigua a ponta, e principio da Cordilheira de que

tenha falado onde o Gentio Cavalheiro costuma a-

20 travessar o Taquary. Vi rastos frescos, e estacas em q.

prederam Cavallos. As primeiras pedras que

encontrey a que daõ o nome de Beliayo distam 4

legoas da partida esaõ com huns principios das

Cachoeiras, e com efeito navegadas mais duas legoas e/4

25 cheguey a primeira Cachoeira chamada da Barra

que tem 725 braças de extençaõ cuja ametade foy

passada com a Canoa carregada, e aoutra com ella

inteirame vazi pa se precipitar o Rio com grande

violecia pa Canaes muito estreitos cheyos de pedras

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6/2 30 e muito inclinados A = 13º/2 de E pa Sul lati-

tude A= 18º 33’38’’ Longitude 322º.37’18”

[�] Rio Cuxim

[�] Dia 11

No fim da referida Caxoeira estâ afôz do Ryo

35 Cochim de 25 braças de largo pa onde entrey pa pr

ele seguir viagem: Este Ryo logo diminue conci-

deravelm.e a sua largura, pois nadistancia de 3/4 de

Fig. 28– Diário de Viagem (fólio 41r - Vol. III).

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41v

de Legoas e ponto em que nele desagoa pela margem

Meridional o Ryo Taquary mirim de 15 braças de

largo e de pouca agoa ja tinha 19 braças. Pouco acima

do referido Taquary mirim está a 1º Caxoeira de

5 nominada La Ilha Passada huma Carga, e descarre-

gada inteirame a Canoa a meteram por hum estreito

de dez braças de largo, e passado ele a vararam por hum

Canal que tinha dous palmos de agoa por quanto da outra

parte estava hum salto de 3 braças de altura. Nesta

10 manobra se conssumiram 4 horas huma legoa acima

desta Caxoeira hâ outra chamada giquitaya que forma

huma outra Cascata e foy passada a meyaolarga. A

outra Caxoeira que se chama choradeira e que dista da

precedente huma legoa e/4 hé hum plano inclinado com

15 fundo de pedras pelo qual corre o Ryo em varios [?]

com grande velocidade fuy pernoitar com mais huma

legoa de marcha no principio d’outra Caxoeira A 3º

de E pa S [�] Dia 12

Passada esta caxoeira denominada Avanhandava

20 Mirim com a Canoa vazia e por hum Canal de 20

braços de extenção cheguei com piqueno andamento aoutra

chamada Avanhandava guassu transportadas ascar-

gas pa hum descarregada de 300 braças foy conduzida

a Canoa por hum unico Canal que tem esta Ca-

25 choeira por onde corre com grande furia pois vay

represada entre margem de pedra por hum estreito

de 3 braças. No fim deste Canal foy varada a

Canoa por sima de hum penedo para salvar o

salto que dá principio a Cachoeira consumiramse

30 nesta manobra toda 1 horas e /2 trabalhando

effectivame 26 homens [?] legoa distante desta está

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outra menos furioza denominada do Jauru pr

que no fim della estaõ na margem oriental hum

Ryo deste nome e de des braças de largura

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42r

na sua foz A=62’de E pa S.

[�] Dia 13

A navegação deste dia foy summam.e traba-

lhoza pois alem de passarem 5 legoas’/2 7 cachoeiras

5 denominada de [?] da Pedra redonda de

Vamuanga, do Bicudo, das Anhumas, de Robalo

e do Alvaro, não naveguey intrepassadame huma

legoa sobre Ryo manço, ou sobre plano Orizontado

5/2 pois o Leito do Rio foy hum continuando plano incli-

10 nado com fundo de pedra que todo foy subido com gran-

de trabalho e força de varejoens em que ja no dia precede

se tinham armado de espontoens de ferro acrecendo tam-

bem a circunstancia de navegar pa entre montanhas

de considerável altura Navegada a 1º Legoa e ‘/2 che

15 guey a hum monte summame alto que dava como

de Paredam aberto a picão aprumo por entre o qual

corria o Ryo placidame apesar de ser neste lugar

sinco braças de largo. Hê digna de sever e de se admi-

rar esta obra da natureza. Huma legoa acima deste

20 paredaõ esta outro pouco inferior ao primeiro, e

imediato a sua extremide superior hum Ribeirão

de larga entrada e da parte do meyo dia: He prova-

vel que nas suas cabeceiras que são estes montes por

entre os quaes corre o Coxim haja ouro pois me Ribeiraõ do

asevera o Guia que se chama Salvador Ribeiro o Paredaõ

25 homem que em huma praya que fica pouco mays

abaixo do referido Ribeiraõ e na Cachoeira da

Choradeira achava ouro que mostrava ser de sabido Sinaes de

quilate: Por falta de instrumentos proprios o não haver oiro

foi a mesma experiencia A = 44º de E pa S.

30 [�] Dia 14

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A primeira vizita que tive ao sahir do pouzo foy a dos

3 Irmaõs , nome que dão a 3 Caxoeiras que se sucedem

humas, as outras, a ellas mediata esta a chamada da

[?] que se passa com a canoa vazia, e formando os

35 [�]por

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42 v

por cima dos paredoẽs. Duas legoas e meya acima deste

estâ outra chamada quebra proa, e de canal passagero

pouco acima della encontrey da parte do meyo dia

hum dezaguador, que pela sua largura, merecia ono-

5 me de Figueira, que assim o denominey. Já pela

tarde Naveguey pr entre montes menos asperos emais

3/2 baixos. A= 50º de E pa S [�] Dia 15

A chuva que por todo dia me encomodou, compensou

muito bem afacilide com que se passaram as Caxoei-

10 rãs denominadas das 3 pedras da e do Varé

distante a primeira do ponto da partida legoa e/ 2 afog.da

dista ¾ e a 3ª da imediada huma legoa e ¾ e A=

5 ¾ 78º de N. pa E

[�] Dia 16

15 Era minha tenção falar de grandezas de cheya quando

acabasse de navegar pr este Ryo, mas a circuntancia

da navegação deste Ryo me obriga a fazello agora. Este

estreito Ryo reprezado entre montanhas, e apertadas

ribanceiras sobe a mais de 50 palmos d'altura como

20 mostram os sinaes das arvores: Para atese fazer inave-

gavel naõ necessita de tanto peso de agoa pois sô com

8 palmos que creceu com a chuva d’ontem impedia de

tal sorte a viagem que em todo o dia naveguey somen-

te 2/2 legoas. Se o Leito do Rio fosse taõ inclinado

25 como nos dias precedentes, ou houvesse alguma cachoei-

ra naõ faria viagem alguma Navegando a 1a/2 le

goa deixey na margem orizontal hum ribeiraõ cha-

mado o do Barreiro: Latitude A= 19º.3’16” A=

78 de E pa S [�] Dia 17

30 Com a mesma facilidade com que neste Rio com a mes-

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ma vaza pa felicidade pa os Navegantes 4 palmos que abai-

xou durante a noite fez diminuir muito asua fúria

e me poz em estado de poder seguir viagem passando nella

dias duas Cachoeiras chamadas de Peralta e da Pedra

35 [�]bran-

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43r

branca A= 49º de E. pa S

[�]Dia 18

As agoas claras e saborosas deste fúnebre, e melancolicos

Ryo, se pertubaram de tal forma com o Repiquete de

5 que tenho falado, que so a necesside me podia obrigar a be-

ber della: mas pa outra parte naõ deixou de ser convenien-

te que o Ryo tomasse mais agoa do que tinha, pois com

menos trabalho se varava a Canoa por sima dos troncos

das arvores que das ribanceiras nele cahem, e o tornam

10 de parte a parte: Distante do ponto de partida 2’/2 le-

goas dezagoa pela margem Oriental hum Ribeiraõ e

chamado o da Celada, e acima deste huma legoa e ‘/4 está

a Cachoeira do Mangabal ultima e a vigessima 4ª des

6/4 te Ryo A 65º de E. pa S.

15 [�]Dia 19

Com tres legoas e /2 de navegaçaõ cheguey a foz de estreiti-

ssimo Rio de Camapuam que dezagoa no Cuxim pela

Margem Oriental por aquele seguy viagem ter sido deixa-

do o Cuxim que me dizem se dividir em 2 braços pouco mais

20 acima do Ryo Camapuam. A largura deste Ryo na

sua foz hê de ½ braças mais pouco acima della se

estreita ainda mais e tem taõ pouca agoa que as Ca-

noas vaõ pela mayor extençaõ do Ryo arastadas por

sima de seu fundo passando a o mesmo tempo pelos

25 troncos das arvores que toda via saõ muitos apesar

da frequencia das Canoas do Comercio que por dele

pode navegar a meya Carga: Naveguey por este Ryo

3 legoas no meu Batelaõ em que me embarquey pa

chegar a fazenda abaixo de Camapuam com antecipaçaõ a

30 Canoa grande pa poder fazer e reiterar as obser-

vaçoens Astronomicas sem atrasamto da viagem e A.

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8 53º de E pa S [�]Dia 20

A proporçaõ que fuy deixando alguns Ribeiroens, foy

tambem perdendo o Ryo mto do seu Cabedal e fazendo

35 se mto penoza a navegação por Conta dos bancos, não

obstante ser piquena a Canoa do transporte e A= 58 de E pa S

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43v

[�] Dia 21

Com seis legoas de navegaçaõ, e com os mesmos inconvenien-

tes cheguey a Fazenda de Camapuam tendo deixado 3/4

de legoa abaixo della afoz do Ryo Camapuam Guassu

5 que dezagoa pela margem Meridional e que por entrepido

pelas arvores cahidas se tem feito navegavel.

[�]Dia 22

Nem na noite passada nem nesta permitiu o tempo

fazer observaçaõ alguma.

10 [�] Dia 23

Cheguey a Canoa grande pelas 5 horas da tarde, elogo

foy posta no Carro, e mandado conduzir pa o Ryo da

Sanbixuga a tempo nublado naõ sô naõ deu lugar

de observar a imersaõ do 2° Satelite de Jupiter, mas

15 tambem de poder pelo menos detreminar a latitude

deste lugar.

[�] Dia 24

Neste dia apareceu o Sol, e a lua entre nuvens me-

nos espessas, e tomey algumas distancias pelas quaes vim

20 a detreminar a longitude deste lugar = 323º 38’45” e a

latitude Austral = 19º 35’14”. Variação N. E= 9º. 27”

Pelas 6 da manhaã montey a Cavalo e cheguey ao lu-

gar em que entravam as Canoas que tinham sido condu-

zidas por hum varador de 623 o braças. Embarcado nella

25 decy plo Ryo que denominam Sanguechuga athé a

o encontro do Ryo vermelho onde perde o nome, e toma

o de Pardo naõ sendo o da Sanguechuga com efeito

outro mais que o Pardo tem como o Amazonas que

da foz do Ryo Negro pa sima se denomina Soli-

30 moens. Este Ryo vermelho dezagoa no Pardo a distan-

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cia de trez legoas /2 do ponto da partida e a suas

agoas saõ taõ vermelhas que naõ diferem do Sangue

Naõ parece exageraçaõ o que acabo de proferir, pois

naõ faço d’hum Pigmeu hum Gigante. A sua

35 [�]lar-

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44r

largura saõ as mesmas que o da Sanguexuga, ou Pardos

que hé entre o limite de 9, ou 12 palmos confirma

suficiente pa navegarem as Canoas com toda a Carga

e livres dos incomodos dos troncos, pois corre pelas encostas

5 de huns chapadoês de relva mimoza e propria pa aboa.

Criação de gado Vacum, mas o Ryo vermelho so tem

hum palmo de profundidade e basta estapequena porçaõ

d’agoa pa pertubar as do Sanguexugas que hê crista

lina, fresca e delicioza efaze incapaz naõ sô de se beber

10 mas tambem de se poder nellas lavar a roupa. Porem

suprem a estes defeitos os muitos Ribeiroens que no Par

do dezagoaõ: Hum quarto de legoa abaixo do lugar da

partida estā a Cachoeira chamada a do Barquinho

e duas Legoas e/2 distante desta o Saltinho e finalmente

15 a chamada Taquarapaya A= 67º de E pa S

[�] Dia 26 =

O Ryo vermelho o Ribeirão claro, eo Ryo Sucuria

que passey pelas 5 horas da tarde, e outros Ribeioens

sem nome, alem de mtos regatos que continuamte nele

20 dezagoa tem aumentado consideravelme a suas agoas

e Largura pois ja sobre a tarde tinha 5 braços de

largo: 10 Cachoeiras passey neste dia, alem de m.as

Sirgas e correntezas onde os que seguem pa Cuyaba

descarregam as Canoas ou em parte confre

25 estā o Ryo mais ou menos possante: ellas foram

as pedras de anidar, o formigueiro o paredaõ o imbiricu

guassu, e Mirim a lag. e grande e piquena que se passa-

ram com a Canoa vazia precipitando se com o Ryo

por trez degraus a Canoa velha, Sucuriu, e a

30 Bangue, recebendo e penultima o nome do Ryo que

pouco abaixo esta A= 55º de E pa S.

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[�] Dia 27

Com 8 legoas de navegaçaõ passando mtas cirgas e cor-

renteza cheguey ao Salto do Curral hum quarto

35 de legoa antes de chegar a descarregar

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101

44v

a Canoa, athé a suas proximidade se navega por en

tre Caxoeiras, e depois se vara a Canoa por terra

por sima do varador de 30 braças que para salvar do salto

que terâ quatro braças d´altura: 6vz alto neste Salto

5 pa observar o eclipse do Sol que devia suceder nesta tar-

de que naõ teve efeito pela continuaçaõ do Ceo, furta-

do que mto tempo se conserva chuva: Pelo mesmo

incoveniente naõ observei o eclipse do 2º Satelite

de Jupiter que devia suceder na madrugada deste dia

10 e apenas detreminey a latitude deste Salto que está

em 20º 6´Austral A= 16º de E pa S

[�] Dia 28

Em 8 legoas e/2 que hoje naveguey passey 12 Caxoeiras

A saber, o Robalo, o Tamandua que sepassa varando

15 a Canoa por sima de Lages, e vazia os 3 Irmaõs, o

Taquaral que se vara pa terra pela distancia de 21

braças, o Anhanduy, o Jupia, o Tyjuco, varado por

terra de 60 braças, o Magangoal e cheyo Santo

e o Embirucu, Caxoeira todas concideraveis, onde se

20 tem por varas perdidas mtas Canoas, eeu perdy hum

Batelaõ que como disse veyo so pa a comodaçaõ

da gente da equipagem: Neste pequeno espaço em

que decendo gastey hum dia, gastam os comerciantes

na subida 15, e 20, como o unico divertimto de ma-

25 tarem mta perdiz, viado de que abundam estes cha-

padoens, sendo mto esteril no que pertence a outras

especias de avez, e o Ryo de peixes que pelo em vara-

do das Cachoeiras, e saltos naõ podem subir do Paraná.

E sô o há do ultimo galho para baixo como measevera

30 o guia: o Ryo ja tem de largo 22 braças e da foz do

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102

Ryo Anhanduy Mirim que dezagoa pelas mar-

gens Ocidental na distancia de 6 braças de largo, tem

mais 3 braças. A= 53º de E pa S

[�] Dia 29

35 Passado a Larga comprida que tem 39 braças

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103

45r

de extençaõ passey o banco que se [?] imediatame

varando se a Canoa por terra pela distancia de 57

braças: segue dequazi a [?] Negra o do Matto

o Salto de Cajuru onde se siga a Canoa por hum

5 estretissimo Canal que forma huma ilha mto conti

gua a margem Meridional, e Caxoeira vistoza porque o

Ryo com bastante largura se precepita pela altura

de 3 braças e /2 formado varias Caxoeiras que mto bem

se divisa d´huma praya que estâ abaixo della. Di-

10 pois deste salto estā o Cajuru Mirim, a Caxoeira da

Ilha ultima, e a 33 deste Ryo 36 /2 de E pa S

[�]Dia 30

passei hoje pelas dezembocadeiras dos dois Rios cha-

mados Orelha d´e Anta, e Orelha d`Onça que dezaguam

15 pella margem Boreal; e distante hum d´outro tres legoas

e /2 e a primeira 3 legoas do ponto da partida e 6o

de E pa S.

[�]Dezembro dia 1º

Sendo decido 5 legoas passey pela confluencia do

20 Ryo Anhanday guassu de 18 braças de largura que

vem do Ocidente, athê este ponto tem o Ryo corri-

do pelo Rumo geral de S. E. Mas do d.o Ryo para

baixo mudam o seu curso pa o Nacente

[�]Dia

25 Por Conselho dos Pilotos detreminey seguir viagem

logo dipois de meya noite pa poder chegar athe as 7

horas da manhaã a boca do Ryo Pardo pa poder

alcançar no Ryo grande hum lugar que serve dea

brigo as Canoas pa se livrarem da furia dos Ryos

30 nas tempestades: mas as chuvas que desde o Ryo

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104

tem cahido sem interrupçaõ me naõ deu lugar

de poder partir asemelhantes horas principalme

em noite taõ escura: Com o dia pois seguy viagem

e fuy jantar pelas duas horas nadesembocadura do

35 Ryo Pardo no Ryo grande com o andamento de

dez legoas: Naõ admira o navegar[?] legoas em

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105

45v

menos de 6 horas, pois a docid.e das agoas do Ryo

Pardo a sem Caxoeiras hé tal que correm duas mi

lhas e 7 decimos em huma hora. A largura deste

Ryo na sua foz tem 64 braças.

5 [�]Rio Grande

O resto do dia naveguey subindo pelo Ryo Grande, cuja

largura avalio athe achar parte de donde possa medir

Trigonometricam.e por naõ poder fazer d´outra sorte em

300 braças. As suas agoas saõ barrentas epestilentes

10 mas pelos seus estiroens, Ilhas e Matos tem toda a

magestade de hum grande Ryo: Naveguey duas le-

goas e ¾. A= 32º de N. pa E

2¾ [�] Dia 3

Naveguey pelas grandes enseadas deste Ryo 5 ¾ impedin

15 do-me huma grande trovoada que sobre veyo o poder

seguir mais avante: Naõ obstante estarmos hum tanto

abrigados da furia do vento, com tuda foy precizo des

carregar a Canoa pa se naõ alagar com o movimento e

5¾ impulso das ondas: Distante do pouzo 2/2 legoas

20 desagoa pelas margem ocidental o Ryo Orelha

d´Onça, e mais acima dous ribeiroens A 16º de E

pa S [�] Dia 4

A chuva continuou por toda a noite sem interrup-

çaõ alguma: naõ sô todas a passamos ensopados, mas

25 tambem me fes perder a observaçaõ do 1º Satelite

deJupiter. As arvores mostram que o Ryo sobe o Rayo

7/4 a 25 palmos d´altura A 5º de N pa E

Acimado pouzo tres legoas e meia esta huma piquena7

7 Na linha 27 o traçado da caligrafia muda totalmente, mostrando a mudança de punho (segue até o final do diário).

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Ilha chamada de Manoel Homem. Este criminozo

30 se refugiou nas sua vizinhanças tendo trazido com-

sigo huma veneranda a Imagem do Sñr. Bon Jezu,

sendose obrigado a retirarse, naõ sei por que mo

tivo fez um piqueno rancho de palhas,e nelle deixou a-

brigada das injurias do tempo aRespeitavel Imagem:

35 Recolhendose para S. Paulo hum commerciante aa

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107

46r

aacharao, e querendoa conduzir [?] tradiçaõ conste

que anaõ poderaõ abalar, sendo feita de Lenho

de mediocrequalidade, por isso adeixaraõ, e foi depois

conduzida para a Villa de Cuiabá com a facilidade na-

5 tural, e hé venerada, e Respeitada nesta Villa, de que

tomou onome, alem de terjaouvido este cazo amui

tos individuos, mo repetio novamente hum Neto

do dito Manoel Homem. [?]uam incomprihensibi

lia Sunt Judicia tua Domine.

10 [�]Dia 5

meia legoa acimadopouzo, eno fim de huma Ilha, des

peja as suas agoas pela parte do Poente Rioverde de Rio Verde

quarenta e duas braças de largo, e quatro legoas e hum quar-

to, distante deste, e da parte opposta desagoa o Rio Agu

15 apeis de doze braças. Aturaõ hoje ao Rio Varias pedras, en- Rio Ago-

tre as quaes havia o algumas [?], de que fiz algum pro apeis

vimento, e poderia talvez fazer maior, e demais esquezitas,

se o Rio ja naõ tivesse tomado bastante agoa. Para me

livrar de huma eminente trovoada, entrei, e pouzei

20 em hum Ribeiraõ que denominei do Abrigo. A

18º de N pa L Dia 6

Abalhado Ribeiraõ, digo a balhaque na Barra do Ri-

beiraõ faziao os dourados menaõ deixoudormir, enavia-

gem erao tantas as Pirancajubas, peixes de escama pra-

25 teada, emimozo, e os Piabucis, que saltavaõ para acannoa,

que me vi obrigado, acorrer as Cortinas da barraca pa-

ra me Livrar do Choque d´alguns, que doia muito con

forme me tinha jamostrado aexperiencia. Pelas

treshoras datarde parei fronteando abarra do Rio Su Rio do

30 curüi, que vem do Occidente, cujalagura deixei de- Sucurüi

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medir, por nao poder atravessar o Rio; por cauza das

ondas; mas peloque me pareceu excederia á Sincoen-

ta braças. Hé tradiçaõ constante, que huma cannoa,

que escapara de hum ataque do Gentio Payaguá nas

35 vezinhanças do Rio Cuyabá Subia pelo Rio Porru-

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109

46v

Porrudos; por outro que nelle deita as suas agoas, e que

com huma piquena varaçaõ passara para o Sucurüi, de que

estou falando sem ter o incommodo das cachoeiras, de que

tenho tratado; mas que em recompença encontrara mui-

5 to Gentio Caiapó, porcujo motivo tinhaõ desprezado esta na-

vegação, que parece devia ser preferida, á que prezente se

faz, se não ouvesse o interesse de extender os Dominios

de Sua Mage Fidelissima, que Deos guarde, o mais que

podesse ser procurando o Paraguay. Ouxala que de baixo

10 de pretexto da mais facil Navegaçaõ para Cuiabá, e Matto-

Grosso dezistisse S. Mag.e Catholica, a parte, que tem no Rio

Paraná, ena Margem Oriental do Rio Paraguay da Foz

do Rio Grande para o Norte para por este senavegar àthe

o Paraguay cazo as Cachoeiras deste grande Rio permittaõ /

15 e seguir depois a ordinaria Navegação para asdittas Vil-

las. Pernoitei na Foz do Rio Tieté com sete leguas de

navegaçaõ. A= 9’ de N para E

[�] Rio Tieté – Dia 7

Deixado o Rio Paraná, que medizem ter subindose ma-

20 is meio dia deviagem, hum Salto chamado Urubupungá,

naveguei, Subindopelo Rio Tieté, cuja Foz tem de largo

setenta braças. Com sinco horas de navegaçaõ, emar

cha de tres leguas, e hum quarto cheguei ao grande Sal-

to denominado Itapura, cuja figura se deixaver no

25 Mappajunito. Foi varada a Cannoa em Sinco horas

por humpalmo digo por hum plano de quarenta, equa

tro palmos d’alto, que tanta hé a altura o Salto, e de se

centa braças de extençaõ. Acimadeste Salto, nadistancia

de huma legua esta outra Cachoeira chamada Itapura

30 mirim, que em nada se asemelha aprimeira. A-

8º o de N para E.

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[�]Dia 8

As tres Cachoeiras chamadas as dos Tres Irmaons

Se passaraõ bem facilmente, mas o Ituperii levou toda

35 a tarde, e tem meia légoa de extençaõ. Noprincipio

desta Cachoeira encontrei ahuns Commerciantes, que

estavao enxugando os fardos de tres Cannoas, que se tinh-

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111

47r

se tinhaõ alagado. A= 70’ s de N para E (ou L)

[�]Dia 9

A chuva que durou por toda anoite e parte o dia naõ me-

deixou seguir viagem á horas competentes, e porestemotivo,

5 e porjá ter tomado o Rio bastante agua , e correr comviolen-

cia, apenas naveguei Sinco legoas e hum quarto tendo pas-

sadopor huma ponte depedra, que lhe chamaõ Pirataraca

A. a18’ de E para S

[�]Dia 10

10 Sem outra novidade mais que amuita Chuva ter deixado

na margem septentrional a dous ribeiroens, naveguei seis

leguas e hum quarto. A [?] de E para S.

[�] Dia 11

Amuitachuva apenas medeu lugar depoderembarcar

15 pelas sete horas damanha ; eporterestado o Rio muito tur

vado, nao obsevei a emerçaõ do primeiro Satelite de Jupi-

ter. Passei com a Cannoa carregada as duas Cachoeiras cha-

madas Taiurutuba merim, e a Itupeba, estaultima dehum

quartode leguadeextençaõ, e trabalhoza. A 3º chamada Ara

20 racanguaguaii, foi passada sem Carga alguma. Huma legoa

acima dopouzo deixei namargem Borial hum grande Ri

beirao, que odenominei de Socuri pormedizer o Guia que

antigamente, pernoitando na sua Foz,varias pessoas passa

raõ por cima de hum detalgrandeza, que naõ fazia cazo dos

25 que pizavaõ atheque, julgando ser hum tronco lhemete

rao hum machado para fazer lenha, eentao virao o seu

engano. Todo o Tiaté tem grande abundancia destas

cobras, e de outras serpentes, e muitoprincipalmente

o Rio Pardo, emque ordinariamente saõ mordidas al

30 gumas pessoas, eprincipalmente, quando sobem pelo

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muito tempo, que nelle gastaõ. O meu Piloutojafoi

mordido por tresvezes, e uza por contraveneno da agoa

ardente, que se faz da Cannade asucre, emque lhe deita

algum Sal, e naõ obstante a beber em prodigiozaquan

35 tidade onaõ embebeda, quando em outra ocaziaõ,

que abebe, como escudo contra o frio, e a chuva qualq.r

piquena porçaõ lhe sobe a cabeça. A [?] de E pa S.

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113

47v

[�]Dia 12

Pelo mesmo incoveniente do dia precedente naveguei Sinco

leguas e tres quartos, tendo passado as cachoeiras, a Araracangua

merim, e Araçatuba A 27º ½ de L (ou E)par S.

5 [�]Dia 13

5 1/4 Sinco Cachoeiras chamadas [?] de mais de hum

quarto de leguadeextençaõ, e funil grande, epiqueno,

as ondas piquenas, e grandes, pasei em sinco leguas, e hum

quarto, que tanto naveguei neste dia . A [?] d’ L pa N

10 [�]Dia 14

A cachoeira chamada Mato Secco dista dopouzo hum quar-

to de Legua, a da Ilha duas e meia e a Itapanema, quatro

e hum quarto. As continuadas chuvas temenchido o

Rio de forma que sevai fazendo trabalhozissima asua

5/4 15 subida. Naveguei sinco legoas e hum quarto. A 5/4 [?]

para S [�]Dia15

Pelas dez horas cheguei a Cachoeira, que lhe chamao Esca=

mussa, e pelas quatro ao Salto Avanhandava, tendo dei-

xado huma legua a baixo deste, e daparte septentrional huma

20 medeano Rio, que o denominei de S Jozé. Hum quarto

de legua antes de chegar ao Salto, corre o Rio por fundo de pe

4 ½ dra, e reprezado entre ellas, que faz anavegaçaõ laborioza,

e muito ariscada. A 7º [?] para S

[�] Dia 16

25 Naõ obstante estar o tempoprometendo chuva sedes

carregou aCannoa por hum descarregador de trezentos se-

centa e tres braças, e depois sedeoprincipio a sua varação,

que levou athé as sinco datarde, sendovaradopela dis-

tancia de Cento e sincoenta braças, e pela altura de Sin

30 coenta e tres palmos, que tanto tem o Salto que se faz me

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donhos nao so pelo embate das agoas despenhadas, mas

tambem pelos penedos, e Ilhas, que pela sua largura tem

formado varios Cannaes, e quedas. Quando o Rio está

mais cheio cresce e varados mais Cem braças.

35 [�] Dia 17

[†] Cachoeira chamada Avanhandava Mirim

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115

48r

Mirim, e ado Campo A [?] [ ?] [?] para S.

7¾ [�]Dia 18

O espaço por ondenaveguei, que possodizerque foi hum só

Estiraõ, hé livre de Cachoeiras, mas aCorrente do Rio foi

5 muito rapida, enas suas margens ha muitas margens,

digo arvores, que lhe chamaõ jabuticabras , que daõ hum

fruto o mais saborozo, que tenho comido. Há quatro

especies dellas. As grandes, que terão huma polegada

de diametro, sao decor negra, e nascem pelos troncos com

10 hum cumprido, como aCereija. [�] As Punhemas, que de

ferem das grandes nagrandeza, e no pé curto. As pin-

tadas, eas Numichamas sao as outras duas especies, e

nascem em arvores mais baixas, e saõ do tamanho de

huma bala dearcabuz. A casca detodasellas he delgada,

15 e tem avirtude adstringente, e saõ taõ acidas, que dellas

se faz optimo vinagre. Esteacido da casca, que facilmen-

te se communica amassa mimoza da fruta, faz que

se naõ possaõ comer; passadas vinte equatro horas, de

pois de colhida, naõ obstante serem muito doces,

20 quando se apanhaõ, e serem hum aroma,que em lu-

gar de cauzarem tedio, incicitao o appetite. Pelos mes-

mos inconvenientes dos dias passados, naõ observei aimer-

çaõ do Segundo Satelite de Jupiter.A 26 º de E. pa S.

[�]Dia 19

25 Em seis legoas e tres quartos quehojenaveguei, passei fa-

6 ¾ cilmente por estar o Rio cheio as tres Cachoeiras, [?]

[?]. Tambaulni digo Tambacui Mirim, e Guassû Pe-

la imersaõ do primeiro Satelitede Jupiter achei que

a Longitude deste lugar hé 328- [?]30’ e a Lat. A=

30 21.4.5.21” – A 25 8’ L para S

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[�]Dia 20

Navegado o primeiro quartodeLegua passei a Cachoeira Tam[?]

batiririca, e tres leguas distantes desta vizinhança. Pouzei

com Sete leguas de marcha pouco acima da foz do Rio [?]

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117

48v

Jacare, [?] quinze braças de largo, e de parte

Boriel, e oprimeiro que desta secai agoa no Tieté

A 8 18’ e L para S [�]Dia 21

Vencidos 31/4 de legua de navegação passei fronteando a foz do Rio Rio Jacaré

5 Jacaré guassu, digo, Mirim da mesma a parte do [?] Apipiramirim

74º do E par S.

[�] Dia 22

Pouco depois de estar em marcha passei aCachoeira chamada

Congonha de legoa, e ½ de extençaõ, desta se segue o Sayré, o

10 Barueri guassú, e Mirim, e o Barueri comprihendidas em

Sete legoas [?] /11 que tanto naveguei neste dia=A=38º [?] E

para S [�]Dia 23

Aprimeira Cachoeira que passei, e que dista humalegoa

do ponto da partida foi achamada Itapuá, epouco depois a do

15 sitio e assim chamada, por estar fronteira ao Lugar chamado

Putunduva, ondejaouveraoMoradores, que ja se tinhao re-

tirado, por estarem muito longe do Porto Espiritual, e naõ

pela má qualidade dos matos, que, segundo se explicava hum

Pilouto que tambem este lugar tinha morado, e nao aque

20 [?] terras E com e effeito, se pelo copiado, e viçozo

das arvores, e pela grossura dos troncos se pode julgar de boa,

ou má qualidade da terra, possa dizer, que naõ será facil

achar melhores. Estatapera esta no principio de hum

estiraõ, em cujo fim esta huma Cachoeira chamada

25 do Estiraõ. A 51º E para S

Pela distanciade huma legoa a baixodopouzo,deixei tres passos

chamados.Miapancipia Mirim, e guassú, e dos Lençoes.Estes

possos saõ huns lugares muito fundos, e que tem dequinze

para vinte braças de profundidade, como me asseveraõ va-

30 rias pessoas, que vem na minha companhia e que por vezes

se tem medido, naõ por curiozidade, mas porque nelles vem

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pescar em tempo secco, como em viveiros de peixes, e

[†] Linha, de que uzaõ lhes mostra aprofundidade. Eu

os nao pude sondar pela violencia com que corria o Rio,

35 por estar com bastante agoa. Asseverou e tambem

hum Proeiro que por inteligencia dasCachoeiras, e porme

tido a letrado hé estimado dos mesmos Guias, e Pilotos

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119

49r

e pilotos quenestes passos havia Maens d’ Agoa; cu

ja descripçaõ lhe[?], e , apesar denunca os ter

visto, me pintou hum Monstro mais horrendo

que aquelle que de [?]Horacio no principio da Suas Artes

5 Poeticas. Querendo eu distancio desta quimera ficou este

Homem a como se lhe tivera negado algum ponto

de Pé, e chegando se a mim com a testa franzida, com os O

lhos aregalados, e finalmente com todos os gestos de

hum furiozo Peripatetico, me disseque eu entendia muito

10 bem dos meos Relogios/ nome, que dava aos instrumen-

tos Astronomicos/, e que elle sabia mais, do que eu, o que

havia pelos Certoens pela experiencia, que tinha, e pelo

que tinha visto, e com isto deo principio a hum aten-

[?] tendentes todas aprovar a existencia

15 das Maens d’agoa pelo limiti d’outros inumeraveis,

e horrendos animaes, que dizia tenha visto, que eu vendo

que elle era capaz dequererde Herider aSeita das Ma

ensd’agoa, como os Mahometanos o seu Alcorão,

assentei comigo ser hum grande passo de prudencia

20 conformar me com a sua opiniaõ principiando, á quei

xarme daminha incredulidade, que sō com tomar, e

Soltar aRespiraçaõ cauzaraõ grandes marés, que viamos,

propoziçaõ que abraçou e logo confirmou aexistencia de

Similhantes gigantes no fundo do mar, porque quando

25 esteve no Guatemem tinha ouvido Lerem hum Livro, que

naturalmente seria Carlos e Magno, que hum homem

correra algumas horas acavalo ápos de humaserva

pordentro da Canella de hum. Estanarração hé alhêa

d’hum Diário; mas a Repito para dezenfado, epara mos

30 trar que hé trabalho perdido o quererdes abuzar ahomens

Rústicos, e amuitos sábios e Herrados na sua opiniaõ, ou

teimozos por natureza. A effervecencia da agoa nestes

lugares cujo effeito atribuem estes homens a Mayd’a

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goa provem do muito peixe, que nellas há, e principal.

35 mente de hum chamado Jaú que he de tal grandeza,

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121

49v

grandeza, que meu primeiro Guia, que abrindo com hum

paõ abocca de hum, que matara, por ellapodia entrar

hum homem sem enxoucalhar os vestidos. Dei lhe crê

dito porque vi hum, que tinha sete palmos, e na Com

5 mitiva vinhaõ mais testemunhas de vista; eporque

finalmente em dous mezes decommunicaçaõ tenho

observado que o Guia he homem, que nem por graça

deixa de fallar verdade, virtude, que raras vezes se en-

contra, principalmente em homens de similhante

10 profissaõ.

Com tres horas denavegação, passei a Cachoeirinha do Ban- Monte

haron e pouco acima hum posso domesmonome. Hum quar Arara=

to de Legoa acima deste posso, e da parte concova daenseada quara

se avista adistancia de tres legoas p ara N.E. huns montes,

15 que lhe chamaõ d’Araraquara, que pela tarde, quando

lhe bate o Sol Representaõ huma grandecidade. Por estas

este Planeta entre nuvens, naõ logres deita delicioza

6 ¼ prospectiva. He tradição, que neste montes há muito ou

ro, varias pessoa tem tentado chegar aelles, e naõ tem

20 conseguido pelos muitos pantanaes, e obstacolos, que en-

contraõ; mas eumepenso a do que esta tentativa tem si-

do feita por homens puzilassimes, e fracos certanistas;

pois naõ hé cruel que entres legoas de terreno possa

haver obstaculo, que com tempo o trabalho se naõ ven R.o de

25 ça. Pouzei meia legoa acima do Rio Piracicabá, que Piracicaba

despeija as sua agoas pela margem Boreal por hu-

ma abertura de vinte e oito braças A=15º ½ d’E pa-

ra S.

[�]Dia 25

30 Com a perda das agoas do Rio Piracicaba se Reduzio

7 ½ a Largura do Tieté a quarenta braças, largura, que pade

ce suas alternativas para mais, e para menos; mas nem

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122

porisso ficou mais baixo, antes tão fundo que so na-

vegamos á Remos e a ganchos, ecustando muito a vencer

35 a sua correnteza por falta dos baixios, que há pelo Leito

do Rio, que tenho navegado, passando de extremo aeste,

mo já muito fundo, e já taõ baixo, que apenas sepo-

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123

50r

se pode navegar; o que faz, que as Cannoas de ne

gocio, por virem carregadas gastem mais tempo

em adescer, do que aquellas que se recolhem Qua

zi vazia e subir corre o Rio por entre Ribanceiras

5 muito altas. Passei apiquena Cachoeira do [?]. A

15º de E. para S.

[�]Dia 26

Neste dia naveguei quatro legoas e meia; por medemorar

Sinco horas e meia em matas, esperar, que surgissedo

10 fundo do Rio huma Antha, que no fim dequatro ho-

ras appareceu com grande alegriade todos, em que eu

tambem tive parte; porter com que fazer o meu ban-

quete de post diem de Nascimento do Nosso Redem

ptor ja que o de ontem consistio no panem nostrum

15 quotidianum; que hé o feijão capaz ainda de ter filhos,

e neptos, e em Bogio cozido, em Bogio com arroz, e em

Bugio moqueado, cujo papo comi, por ser aparte mais

saboroza deste [?]. Todos os Rios, desde o Coxim

inclusive, entrando tambem o Tieté, tem muita abun-

20 dancia de Anthas, chamadas Russas, que saõ dagran

deza de huma mediana vaca, e no gosto muito melho-

res. [?] 4º d’ L para S.

[�]Dia 27

Passei dous grandes Ribeiroens, vindos dapartedo Meio dia,

25 o primeiro chamado Ituacatu, e o segundo sem nome,

e distante do primeiro huma legoa, e tres quartos. Dexei

tambem o [?] pão [?]. A

32º d’E para S.

[�]Dia 29

30 Sete legoas e meia naveguei neste dia comprihendendose

nellas o posso Paquaranxim, o Ribeiraõ da Onça, a Ca

choeira da Pedemira de ½ de legoa de extenção o Rio

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124

Soroaba da margem Meridional, dos Rios Capivary

mirim,[?] pela aposta; e comprihendido estes

35 tres Rios no espaço dehuma legoa, duas Cachueiras

chamada Hapema guassu emirim, e hum porto do

mesmo nome ª2[?] d’E para S.

Fig. 29– Diário de Viagem (fólio 50v - Vol. III).

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125

50 v

[�]Dia 29

Passei as Cachoeiras de Malhas, Tieté, e de Garcia, e tres po

sos, Supupema mirim, e Guassu, e o Curaçá, e pouza de fren-

te do primeiro sitio deste Rio Tieté com[?] de

5 vinte legoas, e hum quarto. A 35º d’ L para S.

[�]Dia 30

Todo este dia naveguei por entre infinidade de sitios fun

dados em ambas as margens do Rio, e tamcontiguos, que

naõ sei como os Moradores tem terras para se cultiva-

10 rem se he que necessitaõ dellas; pois pelo que vi, vivem

a maior parte em humacontinuada criacção e preguiça.

Naõ so deixei de admirar a multidão de Rapazes, que no

Terreiro de cada huma das Cazas se ajuntavaõ para ver

passar a Cannoa, oque mostra muito bem a bondade do

15 clima, naõ so pela fecundidade das mulheres, mas taõ-

bem pela nutriçaõ boa, e cores dos mininos, e muito prin-

cipalmente pelos poucos, que em taõ tenra idade fales

sem, pois pela sua sucessiva altura se conhece a suc-

cessiva idade, ou nascimento de cada hum. Passei seis

20 cachoeiras, pirigozas, o Pirapora mirim a Itagasaba mi-

rim, e quen[?], e foz alto com andamento de quatro lê-

goas e hum quarto. A 17º d’L. para S.

[�]Dia 31

Com o fim do ano dei tambem fim aminha navegaçaõ

25 tendo passado pela Cachoeira do Machado, Tiririca, Ita

nhá, e Avarandanduava, Iurumiry, e Acanguera ultima

e a cento e treze que há nestes Rios athe Araritaguaba

em cujo Cartozes fundo

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126

51r

que [?] do Excelentíssimo Senhor meu Gene-

ral, Recebi no dia Sete a Carta Seguinte do Capi-

tão Mor da Villa de Itú

[�] Copia da Carta

5 Senhor Doutor Francisco Joze de Lacerda.

C. Muitissimo e Excelentessimo Senhor Bernardo José

de Lorena meu amabilissimo General he servido deter

minar-me, que da sua parte mande eu dizerá vossa mer

ce, que logo que Recebereste avizo, seponha em marcha,

10 e vá em [?] aprezentarselhe, sem que em ami-

nimacouza continue vossa mercê adiligencia, deque

pelo seu Excelentissimo General estaencarregado. As

sim espero ocumpra vossa mercê, aquem Deos guarde

muitos annos. Itú SetedeJaneiro de mil Sete Centos

15 oitenta e nove. De Vossamerce-Muito obsequiozo

venerador. Vicente da Costa Taques Góes e Aranha

Em virtude destaOrdem mepuzem marcha no dia oito

e cheguei acidade de Sam Paulo no dia dez, e logome a

prezentei a S. Exa que me ordenou naaõ fizesse opera-

20 çaõ alguma geometrica, e Astronomica na sua Capita.

nia, naõ obstante saber que eu era Portuguez, e natu-

ral desta cidade, que naõ era espiaõ, e que finalmente

eu estava empregado por sua Magestade Fidelissi-

ma nas Demarcaçoens dos Reaes Dominios em

25 Villa Bella de Mato Grosso: apezar das minhas ins-

tancias naõ me tem [?], e concedido adezejada

Licença de dar cumprimento a ordens, que tenho.

Latit. Da Cide de S. Paulo = 23º 3[?]. 58 = ª

Log................................... 3’30 5[?] 3o

30 Mar. N. E ........................ 7’15.

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51v

Boca do Taquary lat. A=19’15’16 32o-28.18.8/E=9º37. Nolugar em que pernoitei no dia [?] de [?] 18-12-58 Bocado Rio Cuxim................................. 18’33.58=322.3’l=18 Onde pernoitei no dia 16 de Dezbro .............. 19.3.16

5 [?]............................................. 19.35.11=323.38,45=9º.22 [?]................................................... 20.5 ondepernoitei a 19 de Dezbr.................. 21.45.11=318.21.30 S. Paulo 25 de Maio de 1789 annos Dr Francisco Joze de Lacerda e Almeida

10 [�] Joaqm Joze Cavalcte de Albuqe Lins.

Fig. 30 – cópia da carta no final do Diário de Viag em (fólio 51r - Vol. III).

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128

IV – ANÁLISE DA PONTUAÇÃO

No campo das pesquisas lingüísticas e filológicas, autores como Mattos e Silva, Melo,

Azevedo Filho e Mattoso Câmara Jr. apresentaram pesquisas abrangendo áreas como a

Fonética e Fonologia, a Morfologia e a História da língua. Contudo, a maioria dos trabalhos

refere-se ao período arcaico, quando em continuidade ao latim o galego-português cedia

espaço para o português lusitano, do qual herdamos nossas raízes.

A análise da pontuação é parte integrante deste trabalho. Por não ser o foco único, e

sim complementar, apresenta-se apenas um estudo preliminar da pontuação no período

setecentista, uma proposta de descrição de ocorrências, uma tentativa de definição das normas

que sustentavam a produção escrita no contexto pesquisado. Por essa razão, tratar-se-á apenas

de forma objetiva cada item conceitual que servirá de baliza para a análise.

4.1 O conceito de pontuação

Assim como várias definições e, especialmente na gramática normativa, prescrições no

uso da língua, a pontuação tem sido tratada de forma incoerente e confusa nos estudos

contemporâneos. Isso decorre da confusão de critérios para atribuir a cada sinal gráfico uma

função específica e adequação de uso. Os critérios podem ser sintáticos, prosódicos,

semânticos e gramaticais.

Lima (2005:12) apresenta uma discussão relevante sobre o conceito e itinerário

histórico da pontuação, tratando destes critérios, na visão de alguns autores como Câmara Jr.

(1985), Sacconi (1994), Dubois (1998) e Catach (1996). Sendo assim, apresenta uma

definição que serve de base para seu trabalho, Estudo contrastivo da pontuação em dois

testemunhos da obra medieval espanhola <<Memorial de Jesucristo>> (Lima: 2005), a qual

faço referência e considero norteadora para realização desta pesquisa, pois atende também ao

contexto do trabalho.

...entende-se aqui por pontuação o sistema constituído

por sinais próprios da língua escrita, que tem por objetivo

organizar as estruturas nos níveis sintático e semântico, e que

mantém uma certa relação com a prosódia, visto que, por meio

de alguns sinais, são representadas na escrita algumas

particularidades da língua falada, como, por exemplo, a

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entonação ascendente, pelo ponto de interrogação; ou a

descendente, pelo ponto-de-exclamação (Lima:2005,13).

4.2 Itinerário Histórico

De acordo com Acioli (1994:53), atribui-se a criação dos sinais de pontuação ao

gramático grego Aristófanes, nos meados do século III a.C. A princípio o sistema baseava-se

exclusivamente no ponto, cuja posição indicava o tipo de pausa (se breve ou longa). Com

valor de pausa breve (atual vírgula) era conhecido como Koma para os gregos e incisum para

os romanos. Como pausa longa (ponto parágrafo ou final) os gregos chamavam-no de Kolon e

os romanos de membrum.

Por volta do século VI, algumas escritas conhecidas como nacionais, a Visigótica, por

exemplo, apresentavam outros sinais de pontuação: o ponto e vírgula (colocava-se a vírgula

acima do ponto, assemelhando-se ao atual sinal de interrogação); os dois pontos (usados

primeiramente nas abreviaturas latinas); o sinal de interrogação (constituído de linha reta

perpendicular com ponto embaixo, parecido com o atual ponto de exclamação) e, raramente, o

sinal de admiração (consistindo num círculo com um ponto em seu centro).

Na escrita Carolina o uso dos sinais de pontuação restringiu-se, quase sempre, ao

ponto. Depois, na escrita Processada, as pausas na leitura passaram a ser indicadas por um

travessão oblíquo ( / ) e, quando no término do parágrafo ou do texto, por travessões duplos.

Nessa pesquisa, apenas quatro tipos de pontos são analisados: o ponto final, a vírgula,

o ponto e vírgula e os dois pontos. Assim, destacar-se-ão alguns dados relevantes quanto à

evolução histórica destes sinais.

Diz Lima (2005:22)8, que os primeiros tipógrafos reproduziam as formas dos sinais

que constavam nos manuscritos que copiavam e a maioria utilizava três pausas representadas

pelo punctos, virgula e interrogativus; outros sinais dependiam da natureza do texto. O

processo de talhe de tipos era especializado, lento e dispendioso. Como os talhes para os

sinais de pontuação eram cortados junto com o resto da fonte, as formas de pontuação foram

disseminadas com os tipos. Assim, os tipógrafos, ao contrário dos escribas, poderiam

gradualmente atingir um grau de padronização nas formas dos sinais de pontuação usados ao

longo dos séc. XVI e XVII na Europa.

8 Citando Parkes (1993).

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130

No séc. XVI, disponibilizou-se um amplo conjunto de sinais de pontuação para todos

os tipógrafos, o que diminuiu a discrepância entre as práticas de diferentes impressores. As

novas convenções foram estabelecidas e disseminadas mais rapidamente por meio de livros

impressos do que por manuscritos, devido ao número de cópias idênticas produzidas pelo

novo processo. A circulação de múltiplas cópias com pontuação idêntica levou a uma ampla

disseminação de textos que poderiam servir como modelos.

Lima (2005:27) também destaca que, no século XVIII, a interação entre a análise

lógica e a retórica foi afetada pelas investigações filosóficas de John Locke e pelos

elocucionistas. Os elocucionistas se concentraram na parte do sistema tradicional da retórica

que focalizava a transmissão oral, enfatizaram a importância da voz e da gesticulação na

transmissão dos diálogos e da leitura da liturgia e argumentaram a favor da superioridade da

língua falada sobre a escrita. O confronto dessas idéias encorajou tentativas de representar o

fenômeno do discurso falado, com o emprego da pontuação para indicar unidades

"declamatórias" ou "elocutórias", em que o falante ou leitor deveria pausar para causar o

efeito desejado. Assim, observou-se que, nos textos dos elocucionistas, a função mais

evidente dos dois-pontos e do ponto-e-vírgula era a de indicar pausas maiores que as vírgulas.

No século XVIII, ocorreu o desenvolvimento de convenções especiais envolvendo a escolha

de vocabulário e características sintáticas para a representação da língua falada.

No Brasil, comenta Melo (1975:143) que, por volta do século XVIII, a língua usada

pelos escritores apresentava traços bem definidos, pois a ação das bandeiras favoreceu a

unidade na fala popular. Pode-se dizer que a construção portuguesa se caracteriza pela grande

riqueza, variedade e liberdade, resultantes de um conjunto de fatores histórico-culturais. Nisso

concordam Melo (1975), Mattoso Câmara (2004), Teyssier (1982), Coutinho (1976) quando

reconhecem ser nossa sintaxe uma continuação da sintaxe do latim vulgar e da românica, a

qual recebeu influência incontestável latino-clássica, mas também soube desenvolver

tendências próprias e incorporar estrangeirismos. Além disso, em comparação com outros

idiomas, poucos têm sido os fenômenos de arcaização (Melo:1975).

Lima (2005:79) comparou diversos estudos sobre a pontuação e concluiu que o critério

sintático foi utilizado por todos os lingüistas, em maior ou menor grau, mesmo não o

declarando diretamente, para descrever as ocorrências.

Os papéis ou funções desempenhadas pela pontuação na análise dos autores, sob a

perspectiva de Lima (2005) apontam: separadores, esclarecedores e diferenciadores (Roudil:

1981), especificadores (Aufray: 1981), separadores, coordenadores, apresentadores e

indicadores (Ferreira: 1986).

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131

É interessante a apresentação dessas funções, especialmente porque Lima (2005) segue

além em sua análise, destacando também alguns autores modernos e, no foco de sua pesquisa,

gramáticas tradicionais de língua espanhola. Sua pesquisa segue-se resumindo importantes

contribuições sobre o papel da pontuação no seguinte quadro (Lima 2005:81, quadro 10):

Tabela 4.1 – O papel da pontuação.

Papel Gramáticas Estudos Modernos Estudos da

Pontuação

Medieval

Indicadores X X X

Separadores,

limitadores ou

delimitadores

X X X

Apresentadores X X

Especificadores,

sinalizadores ou

diferenciadores

X X X

Organizadores X

Segmentadores X

Coordenadores X

Esclarecedores X

Muito embora se tenha discutido9 a influência da oralidade no uso da pontuação,

compreender o papel ou função da pontuação é essencial, pois, como veremos, muitas

ocorrências dentro dos manuscritos editados estão intimamente relacionadas a fenômenos de

natureza semelhante à descrição dos autores compreendidos no trabalho de Lima (2005),

como a estruturação do parágrafo na ausência de conectivos que estabeleçam a progressão

textual e a relação entre períodos.

Para o foco deste estudo considera-se a análise bibliográfica de Lima (2005) relevante

no sentido que marca as relações sintáticas e discursivas, e, ainda, prosódicas.

A partir dessas considerações e pressupondo que o critério sintático sobrepõe o critério

prosódico, foram selecionados apenas um fólio do Tratado, uma carta e 1 fólio do diário para

9 Para discussão mais profunda neste aspecto, consultar (Lima, 2005).

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132

análise. Este recorte permitirá uma descrição mais objetiva, considerando apenas uma amostra

dos corpora.

4.3 A frase e o período

Especialmente, no que tange à morfologia e sintaxe, a evolução que se processa do

latim ao galego-português é semelhante à que ocorre em outras línguas românicas, em

particular o castelhano. Conforme considera Teyssier (1982:16, 17), a declinação nominal

simplifica-se e acaba por desaparecer: sobrevivem apenas duas formas oriundas do acusativo

latino, uma para o singular e outra para o plural. Acrescenta, ainda, o autor:

As relações que o latim exprimia pelas desinências casuais são

agora expressas por preposições ou pela colocação da palavra

na frase. Os gêneros, com a supressão do neutro, reduzem-se a

dois e, por fim para compensar o empobrecimento da

morfologia nominal, a ordem das palavras torna-se mais

rígida.

Os textos das correspondências e suas estruturas frasais diferem da liberdade com que

se expressa a narrativa-descritiva do diário de viagem. Também, há certo distanciamento entre

as datas de produção dos textos analisados. O Tratado é de 1777, as cartas de 1783 e o diário

de 1788-1789. Considerando-se o relativo curto período entre os textos, apenas 12 anos,

pressupõe-se pouca diferença no uso dos sinais de pontuação, fato que não é corroborado,

principalmente quanto à quantidade de ocorrências encontradas nos textos.

A ordem conhecida e concisa do Português atual (sujeito + verbo + complemento) é

representada nos textos, principalmente em períodos únicos e longos, compostos por

mecanismos de coordenação e subordinação. Os períodos simples são menos freqüentes.

Assim, os diversos termos e frases são ligados apenas por vírgulas, na falta de síndetos (como

conhecemos na atualidade) que efetuem a progressão dos textos. Por vezes, o leitor se perde

na identificação do sujeito a que se referem os inúmeros complementos. Contudo, percebe-se

uma tentativa de manter a continuidade do texto, recorrendo-se a gerúndios, infinitivos e

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133

demais expressões, adverbiais ou não, que cumprem a função conjuncional. Esse dado está

presente em todos os corpora, mostrando-se um padrão da época.

Compare-se a estrutura dos períodos nos textos escolhidos:

[�]Dia 25

30 Com a perda das agoas do Rio Piracicaba se Reduzio

7 ½ a Largura do Tieté a quarenta braças, largura, que pade

ce suas alternativas para mais, e para menos; mas nem

porisso ficou mais baixo, antes tão fundo que so na-

vegamos á Remos e a ganchos, ecustando muito a vencer

35 a sua correnteza por falta dos baixios, que há pelo Leito

do Rio, que tenho navegado, passando de extremo aeste,

mo já muito fundo, e já taõ baixo, que apenas sepo-

se pode navegar; o que faz, que as Cannoas de ne

gocio, por virem carregadas gastem mais tempo

em adescer, do que aquellas que se recolhem Qua

zi vazia e subir corre o Rio por entre Ribanceiras

muito altas. (diário de viagem, fl 49v e 50r)

Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede

25 Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-

tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa

es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,

segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-

roade Portugual. ( Tratado de Santo Ildefonso, fl 13r)

[parágrafo] Na ocaziaõ prezente remeto aV.Ex.ca adiferença

meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.e de Paris

emtempo, para que meucompanheiro D.r Pontes, ou os mesmos

21 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira

Longitude, conforme aoque V.Ex.ca determinar. (carta, f 8v)

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Lima (2005:96) apresenta o trabalho de Machado Filho10 (1999), o qual examinou

diferentes documentos que representam a primeira fase do período arcaico da língua

portuguesa – O Livro das Aves, O Testamento de Afonso II (1214), os Diálogos de São

Gregório dos séc. XIV e XV, e um flos sactorum, constituído pela Vida de Santa Pelágia e

Vida de São Simeão – buscando conhecer os elementos lingüísticos que interferiam e

condicionavam o uso da pontuação em manuscritos medievais em língua portuguesa,

demonstrando de maneira sistemática as possíveis relações entre os elementos detectados e

sua regularidade de uso ( Machado Filho 1999:13 apud Lima 2005: 74).

Em resumo, a pesquisa deste autor apontou segundo Lima (2005:74) a possibilidade

de ocorrências de sinais de pontuação nas mais diversas fronteiras do enunciado, não somente

no âmbito da coesão sintática, mas também no sentido de uma marcação prosódica

influenciada pela língua oral. Nesse sentido, o parâmetro de análise de Machado Filho (1999

apud Lima: 2005) foi a normatização atual da língua, a fim de avaliar o grau de

distanciamento, ou não, de uso entre os dois pontos sincrônicos.

O lingüista concluiu que a pontuação medieval portuguesa registrada

nos manuscritos analisados por ele demonstrou uma sistemática bastante

regular em relação ao emprego do ponto seguido de maiúscula, que era

constituída por um “espólio de sinais de diferentes sistemas antigos”

perpetuados pela tradição ao culto latino e “parecia transitar entre uma

utilização lógico-gramatical e um emprego provavelmente apoiado em

características da língua falada”(Machado Filho, 1999:91). Verificou que

existe uma correspondência do sistema de pontuação medieval com uma

lógica gramatical moderna e apresenta trechos de testemunhos nos quais se

poderia substituir, por exemplo, o ponto de vista do sistema de pontuação

moderno. Exemplifica também casos que não seriam aceitos se observados

sob a perspectiva da sintaxe contemporânea, o que levaria à falsa idéia de

que a pontuação medieval é “assistemática” ou até mesmo “indiligente”. Do

total de sinais, constatou que menos de um terço não teria correspondência

com o sistema moderno, isto é, não poderia ser substituído por nenhum sinal

de pontuação contemporânea (2606 sinais que apresentam correspondência

com a pontuação moderna, o que representa 69,7% contra 1131 sem

correspondência, 30,3% das ocorrências) ( Lima 2005:74, 75).

10 Embora as demais pesquisas de outros autores citados por Lima (2005) destaquem também o estudo da pontuação, esses são gerais e variam entre línguas estrangeiras. A obra de Machado Filho tem especial relevância para o foco dessa pesquisa.

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135

Passemos agora para uma análise mais detalhada, considerando os estudos de Lima

(2005) e Machado Filho (1999 apud Lima: 2005).

4.4 Descrição da Norma que caracteriza os manuscritos

Em todos os textos há quatro tipos de pontuação: o ponto final [.], a vírgula [,], o

ponto e vírgula [;] e os dois pontos [:].

Retomando os papéis descritos por Lima (2005), sabemos que a pontuação na

perspectiva de autores modernos pode funcionar como:

• Indicadores de termo das estruturas escritas ou aspectos métricos do ritmo, as

marcas do discurso;

• Separadores, limitadores ou segmentadores de termo ou sintagmas das

estruturas escritas;

• Apresentadores que introduzem ou apresentam enumerações e citações

textuais;

• Especificadores que destacam determinadas palavras ou trechos textuais,

alguma característica particular;

• Organizadores responsáveis pela organização sintática.

Interpretando as ocorrências no interior do Tratado encontramos grande incidência de

casos da função indicadora da vírgula. Muitos termos que não deveriam ser separados por

servirem de complementos verbais e nominais revelam provavelmente marcação prosódica.

Para evitar generalizações, especificamente, foi analisado o fólio 11v, com 64 vírgulas, 5

ocorrências de ponto-e-vírgula, 3 de dois-pontos e 2 pontos finais.

Neste fólio, encontramos:

(...osincero dezejo...)

de extinguir as discórdias /, / que tem havido /, / entre as duas Coroas de Por- 2 (função indicadora e especificadora: destaque aos termos) tugal /,/ eHespanha /,/ e Seus respectivos Vassallos /, / no espaço de quazi 3 (função indicadora de pausas e segmentadora) trez Séculos /,/ Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica /,/ eda

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136

2 ( função indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos) Azia /: /para lograr este importante fim /,/ eEstabelescer perpetua mente 1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora: hierarquia entre os termos)

a harmonia /,/ amizade /, / eboa inteligência /, /que correspondem ao estreito 3 (função indicadora de pausas e segmentadora) Parentesco/,/ eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes /,/ ao Amor re- 2 (função indicadora e especificadora: destaque aos termos) ciproco que Seprofessaõ /,/ ao interesse das Naçoẽs /,/ que feliz mente governaõ /: / 2 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função apresentadora e organizadora) tem resoluto /; /convindo /; / eajustado opresente Tratado Preliminar /,/ que 2 (função indicadora e especificadora: destaque ao termo) 1 (função delimitadora) servirá de base /,/ efundamento ao Difinitivo deLimites /, / que se hade es- 2 (função delimitadora) tender aseu tempo /,/ com aindividuaçaõ /,/ exacçaõ /,/ enoticias necessárias /; / 3 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função especificadora: destaque ao termo) mediante oqual se evitem /, / eacautelem para sempre novas disputas /,/ ( função delimitadora e indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos) esuas conseqüências /./ [�] Para efeito pois de conseguir taõ importantes 1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática) Objectos /,/ nomeou por parte de Sua Magestade a Raynha Fedelissima /, / 2 (função indicadora de pausas e segmentadora) por seu Menistro Plenipotenciário /,/ oExcelentissimo Senõr D. Fran- 1 (função apresentadora e organizadora) cisco Innocencio deSouza Coutinho /, /Comendador na Ordem deChris- 1 (função apresentadora e organizadora) to /, /do Conselho deSua Magestade Fedelissima /,/ eSeu Embaixador jun- 2 (função apresentadora e organizadora) to aSua Magestade Catholica /;/ epela de sua Magestade El 1 ( função delimitadora e indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos) Rey Catholico /, / por Seu Menistro Plenipotenciario /, /oExcellentissimo 2 (função apresentadora e organizadora)

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137

Senõr Joseph Moñino /, /Conde de Florida Branca /,/Cavalleiro 1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora de pausas e segmentadora)

da Real Ordem de Carlos III doConselho de Estado de Sua Magesta-

de /, /Seu Primeiro Secretario deEstado /,/ edo Despacho /,/ Superintenden- 3 (função indicadora de pausas e segmentadora) te Geral de Correyos /,/ Terrestres /,/ e Marítimos /,/ edas Postas /,/ eRendas 4 (função indicadora de pausas e segmentadora) deEstafetas em Espanha /,/e Indias /:/ Os quaes depois de haver-se co- 1 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função apresentadora e organizadora) municado os seus Plenos poderes /,/e de havelos julgado expedidos em boa /,/

2 (função indicadora e organizadora) edevida forma /,/ convieraõ nos Artigos Seguintes /,/ regulados pelas Or- 2 (função indicadora e organizadora)

dens /,/ e intençoẽs deSeus Soberanos /./ 1 (função indicadora) 1(função indicadora de pausa maior e organizadora sintática) [�] Artigo – I - [�] Haverá huma Páz Perpetua /, / e constante /,/ assim por mar /,/ como 3 (função indicadora de pausas e segmentadora) por terra /, / em qualquer parte do Mundo /, / entre as duas Nasçoẽs /, / Por- 3 (função indicadora de pausas , segmentadora ou limitadora)

Tugueza /, / eEspanhola /,/ com esquecimento /,/ total do passado /,/ e dequanto hou-

4 (função indicadora de pausas e segmentadora) verem obrado as duas em ofença recíproca /; / ecom este fim /,/ rateficaõ os 1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora de pausas e segmentadora) Tratados de Paz /,/ de 13 de Fevereiro de 1668 /,/ de 6 de Fevereiro de 2 (função indicadora de pausas e segmentadora ou delimitadora) 1715 /, / ede 1. de Fevereiro de 1763 /,/ como sefossem insertes neste /, / 3 (função indicadora de pausas e segmentadora ou delimitadora) Palavra /,/ por palavra /,/ em tudo aquillo que expressa mente sede 2 (função indicadora de pausas e segmentadora)

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138

Assim:

Tabela 4.2 – FUNÇÕES/SINAIS.

FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-

vírgula

Dois pontos

Indicadores 2 (100%) 50 (78%) 04 (80%) -

Separadores,

limitadores ou

segmentadores

- 40 (62,5%) 03 (60%) -

Apresentadores - 07 (10,9%) 01 (20%) 3 (100%)

Especificadores - 04 (6,25 %) - -

Organizadores 2 (100%) 09 (14%) 01 (20%) 3 (100%)

A vírgula no Tratado tem função mais indicadora (78%) de pausas e segmentadoras

(62,5%). Isso implica numa relação mais direta com a prosódia que a estrutura sintática do

texto. Por outro lado, ao segmentar e hierarquizar os termos, indicando a natureza de suas

relações, segue além, apresentando (10,9%), especificando (6,25 %) e organizando (14%)

estruturas mais complexas dentro dos períodos.

O ponto e vírgula, mesmo indicando (80%) pausas e a natureza dos termos,

segmentando (60%) estruturas maiores, também podem ser apresentadores (20%) e

organizadores (20%). O ponto final apenas marca uma pausa maior e organiza sintaticamente

a distribuição dos períodos. Os dois pontos, além de organizadores textuais, servem

principalmente como apresentadores de expressões explicativas e esclarecedoras, envolvendo

o nível discursivo do texto.

Vejamos como se comportam esses sinais em amostras de uma carta e do

Diário de Viagem.

Descrevendo a carta...

Fl. 5v

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Reg.o dehumacarta de SExca pa o Mathematico oDr

Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena /, /cujos monumentos

1 (função indicadora, apresentadora e organizadora) Entreguei desdelogo aoCap. an Ricardo Franco [†] para servirem nacarta que lhetenho encarregado delevantar /; /estimando sumamente

1 (função indicadora, apresentadora e organizadora) que orestabelecimento das molestias de VMC naõ só lhepermi- tisse aquella util degreçaõ /; / mas haja depermitir as outras q.o

1 (função indicadora, apresentadora e organizadora) me anuncia /, / e que ja detremineis de penetrar quando for possível /;/

2 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora) nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré /: / Oponto estará em que os 1 (função apresentadora e organizadora)

Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem /: / Pelo que hade 1 (função apresentadora e organizadora) ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas /, /ou apa 1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora) rencias muito diverças /,/ sigundo tendo advertido que imponham de 1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora) alguma sorte aosditos Espanhoes /./ 1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática)

[parágrafo]Agora faço remeter aVMC o Oculo Astronômico /,/ 1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)

dezejando que possa repetir aobservaçaõ desse primeiro Satelite emfor= ma que o calculo daverdadeirasituaçaõ geographica do importante ponto dessa Fortaleza /,/ se aproxime /,/ ou detremine omais que for 2 (função indicadora, segmentadora) possivel /;/ eassim mesmo quaesquer outros interessantes porondeVMC

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1 (função indicadora, segmentadora e organizadora) passar /,/ bem persuadido alias de que VMC naõ omitirá pelo seu claro 1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)

desentendimento de apontar sempre quaes quer memorias[?] /, / ou 1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)

Historias quelheparecerem dignas [parágrafo] Naforma darecomendaçaõ de VMC arespeito= agora afaço tambem para Lisboa com todo o empenho /, / pelo q' tenho /,/

2 (função indicadora e segmentadora)

naõ só desatisfazer aVMC mas anecessidade urgente q'suponho das ditas Taboadas para asobservaçoens Celestes que sedeveraõ repe tir pozitivamente [parágrafo] Nocazo de que esseIndio doPara pornome Albino

daCosta em que VMC mefalla queira muito espontaniamente

ficar naSuaCompanhia /; / convenho nisso deboavontade /:/ efico 2 (função indicadora, segmentadora, apresentadora, especificadora e organizadora) esperando assuasboas noticias com repetidas ocazioens delhe dar gosto /. / Dos Guarde aVMce. m. anñ. V.a Bélla 2deAbril de

1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática) 1783= Luizd'AlbuquerquedeMello Pereira eCaceres= jos

D.or Francisco Joze de Lacerda eAlmeida.

Ant.o Felippe da Cunha

Analisando as ocorrências...

O registro dessa carta apresenta 2 pontos finais, 5 ocorrências de ponto-e-vírgula, 3

dois pontos e 11 vírgulas. O quadro abaixo destaca as funções desempenhadas pelos sinais:

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Tabela 4.3 – Análise das ocorrências.

FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-

vírgula

Dois pontos

Indicadores 02 (100%) 10 (90,9%) 05 (100%) 01 (33,3%)

Separadores,

limitadores ou

segmentadores

- 09 (81,8%) 03 (60%) 01(33,3%)

Apresentadores - 03 (27,2%) 04 (80%) 03 (100%)

Especificadores - - 01(20%) 01(33,3%)

Organizadores 02 (100%) 06 (54,5%) 05 (100%) 03 (100%)

A vírgula neste registro também tem função mais indicadora (90,9%) de pausas e

segmentadoras (81,8%). Pressupõe-se certa correspondência com a oralidade, contudo, o

padrão das ocorrências revela um diferencial: elas exercem destacável função na organização

sintática dos períodos, apresentando termos de ordem explicativa e organizando (54,5%) as

relações hierárquicas entre os termos dos períodos.

Os casos de ponto e vírgula servem melhor para a indicação (100%) de pausas e a

natureza dos termos, segmentando (60%) estruturas maiores, também podem ser

apresentadores (80%) e organizadores (100%). Nos dois últimos casos, merecem especial

atenção, pois se pode levantar a hipótese de mudança das funções quanto à natureza do texto:

carta.

O ponto final exerce as mesmas funções descritas anteriormente: indicador de pausa

maior e organizador sintático (100%). Os dois pontos variam sensivelmente de funções

quanto às ocorrências do Tratado: 100% dos casos permanecem como apresentadores de

termos de origem explicativa e organizadores da estrutura sintática. Por outro lado, são

segmentadores, indicadores de pausas e segmentadores (33,3%).

O Diário de Viagem...

Fl. 45r

de extençaõ passey o banco que se [?] imediatame

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142

varando se a Canoa por terra pela distancia de 57 braças /: / segue dequazi a [?] Negra a do Matto

1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora)

o Salto de Cajuru onde se siga a Canoa por hum

estretissimo Canal que forma huma ilha mto conti

gua a margem Meridional /,/ e Caxoeira vistoza porque o 1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)

Ryo com bastante largura se precepita pela altura de 3 braças e /2 formando varias Caxoeiras que mto bem se divisa d´huma praya que estâ abaixo della. Di-

pois deste salto estā o Cajuru Mirim /,/ a Caxoeira da 1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)

Ilha ultima, e a 33 deste Ryo 36 /2 de E pa S [�]Dia 30 passei hoje pelas dezembocadeiras dos dois Rios cha- mados Orelha d´e Anta /,/ e Orelha d`Onça que dezaguam

1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)

pella margem Boreal /;/ e distante hum d´outro tres legoas 1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)

e /2 e a primeira 3 legoas do ponto da partida e 6o

de E pa S /./

1 (função indicadora e organizadora) [�]Dezembro dia 1º Sendo decido 5 legoas passey pela confluencia do

Ryo Anhanday guassu de 18 braças de largura que

vem do Ocidente /, / athê este ponto tem o Ryo corri- 1 (função indicadora e segmentadora, organizadora, apresentadora)

do pelo Rumo geral de S. E. Mas do d.o Ryo para baixo mudam o seu curso pa o Nacente

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[�]Dia 2

Por Conselho dos Pilotos detreminey seguir viagem

logo dipois de meya noite pa poder chegar athe as 7 horas da manhaã a boca do Ryo Pardo pa poder alcançar no Ryo grande hum lugar que serve dea brigo as Canoas pa se livrarem da furia dos Ryos

nas tempestades /: / mas as chuvas que desde o Ryo 1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora)

tem cahido sem interrupçaõ me naõ deu lugar de poder partir asemelhantes horas principalme

em noite taõ escura /: / Com o dia pois seguy viagem

1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora) e fuy jantar pelas duas horas nadesembocadura do

Ryo Pardo no Ryo grande com o andamento de

dez legoas /: / Naõ admira o navegar[?] legoas em

1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora)

Tabela 4.4 – FUNÇÕES/SINAIS.

FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-

vírgula

Dois pontos

Indicadores 01 (100%) 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)

Separadores,

limitadores ou

segmentadores

- 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)

Apresentadores - 01 (25%) - 04 (100%)

Especificadores - - - -

Organizadores 01 (100%) 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)

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No Diário de Viagem a redução do uso do ponto final é relevante, pois está

relacionada ao grande número de anotações matemáticas como dimensões, profundidade,

extensão, etc. Conforme o autor permanece descrevendo sua rotina e o caminho percorrido,

ele recorria a um riquíssimo detalhamento geográfico (latitude e longitude).

No caso do fólio selecionado temos apenas uma ocorrência mais diretamente ligada a

uma abreviatura que ao término do período. Há ainda, um ponto-e-vírgula somente, quatro

ocorrências de dois pontos e 4 vírgulas.

As vírgulas exercem três funções: indicadoras de pausa, segmentadoras ou

delimitadoras de termos e, também, organizadora (100% em todos os casos). Em apenas um

caso ela apresenta termo de caráter explicativo (25%). Semelhantemente, os dois pontos

repetem as mesmas funções em todas as ocorrências (100%), inclusive como apresentador.

Pode-se levantar como hipótese, a partir dessa amostra, que as funções indicadoras e

organizadoras se sobressaem nos manuscritos. Isso indica que há fortes indícios de marcação

prosódica e correlação com a oralidade, especialmente no tratado e um dado de maior

relevância é o caráter de organizadores sintáticos dos sinais em análise.

De forma geral, observa-se que as ocorrências da vírgula, por exemplo, no Tratado são

mais numerosas que nas cartas e no diário (~826). No Tratado, a maioria das ocorrências, nas

relações entre os termos da oração, parece referir-se a termos de mesma função sintática

(sujeito composto, complementos e adjuntos) e apostos, mas quase à mesma proporção ocorre

o uso da vírgula em casos que as gramáticas não consideram adequados: complementos

verbais, entre sujeito e predicado, termos de mesmo valor sintático, mas unidos por e, ou e

nem.

Há registros de casos entre as orações que marcam isolamento de subordinadas, mais

especificamente as adverbiais reduzidas de gerúndio e adjetivas introduzidas por QUE, mas o

que se destaca são ocorrências de coordenadas alternativas ( ou... ou, nem... nem), e menos

freqüentes as aditivas e adversativas.

tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que

servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-

tender aseu tempo, com aindividuaçaõ , exacçaõ, enoticias necessarias;

mediante oqual se evitem, eacautelem para sempre novas disputas,

esuas consequencias.(f.11v)

Convieraõ os dois Al-

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tos Contratantes, pelo bem reciproco de ambas as Naçoẽs, e para

segurar huma Páz perpetua entre as duas, que a ditta Nave-

30 gaçaõ dos Rios da Prata, e Uruguay, e os Terrenos das suas du-

as Margens, Septentrional, e Miridional, pertençaõ privati-

va mente á Coroa de Espanha, e aseus subditos,(f.11v)

noqual naõ possaõ edeficar-se Povoaçoẽz por nenhuma

das duas partez, nem Construir-se Fortalezaz, Guardas, ouPortos de

Tropas, de modo, que ostaes espaços sejaõ Neutroz, pondo-se mar-

cos, esignaes seguroz, que façaõ constar aos vassallos decada Nasçaõ

ositio deque naõ deveraõ passar, acujo fim se buscaràõ osLagoz,

e Rioz, que possaõ servir deLemite fixo einalteravel, eemsua

falta, os Cumes dos Montez mais signalados,ficando estes, eas

suas toldas, por termo Neutral divizorio, emquesenaõ possa en

trar, povoar, edificar, nemforteficar por alguma das duas Nasçoẽs.(f.12r)

No diário as orações são mais independentes, obedecendo à estrutura narrativa e

descritiva. Os períodos são menores e a diferença está na moderação do vocabulário e na

seleção vocabular: menos expressões enfáticas e adjetivação.

Os casos mais destacados de isolamento de orações subordinadas, novamente referem-

se às adjetivas explicativas e apositivas que, exceto pela distinção entre seu caráter sintático,

no conteúdo basicamente, cumprem a função declarativa, acrescentando à oração principal

mais informação quanto aos termos que as antecedem. O pronome relativo 'que' torna-se uma

constante no texto.

Também, pela estrutura narrativo-descritiva podemos entender como termos de mesma

função sintática aparecem isolados: são nomes de lugares, enumerações de objetos, dados

numéricos, entre outros casos. Os adjuntos adverbiais referindo-se a modo, lugar, intensidade,

são também freqüentes.

Cheguey a fôz do Ryo Taquary pelas 10 horas da

Manhaâ, e nella dou principio a tirar do leito deste Ryo

10 e dos mais por onde for precizo Navegar pa chegar a Ara-

ntagabá. (f. 39r, diário de viagem)

Tinha o Ryo

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na sua mayor altura 15 pa 16 palmos, e os sinaes q.

as arvores mostravam deixavam ver que o ryo

subia mais 12 palmos, (f. 39r, diário de viagem)

Pouco acima

do referido Taquary mirim está a 1º Caxoeira de

5 nominada La Ilha Passada huma Carga, e descarre-

gada inteirame a Canoa a meteram por hum estreito

de dez braças de largo, e passado ele a vararam por hum

Canal que tinha dous palmos (f.41v, diário)

Na estrutura da carta, a ocorrência de vírgulas entre orações merece atenção. Como o

conteúdo e a intenção mudam a estrutura também se altera. Os arranjos sintáticos agora tratam

de estabelecer as relações dentro do período. Há orações coordenadas aditivas, conclusivas e

adversativas, mas as subordinadas são mais recorrentes, indicando conformidade, concessão,

finalidade ou causa.

[parágrafo] Na ocaziaõ prezente remeto aV.Ex.ca adiferença

meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.e de Paris

emtempo, para que meucompanheiro D.r Pontes, ou os mesmos

22 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira

Longitude, conforme aoque V.Ex.ca determinar.(carta, f. 8v)

Não podemos argumentar em favor de uma conclusão definitiva, pois há necessidade

de um trabalho mais profundo para uma definição. Como afirmado, tratam-se de pontos

preliminares que abrem espaço para uma discussão sobre o tema. Aliás, estudos com

pressupostos em critérios sintáticos e semânticos demandam a adoção de um modelo mais

sistemático de análise para compreensão do funcionamento da língua.

Em caráter preliminar, também outro estudo anterior já havia demonstrado que o uso

mais freqüente da vírgula nos manuscritos do século XVIII, em relação aos períodos, envolve

a separação de orações coordenadas aditivas e adversativas, marcadas pelas conjunções [e],

[mas] e outras expressões que cumprem o papel das conjunções acidentais. Não há critério

que não admita o uso de conjunção + vírgula, conforme prescrevem as gramáticas normativas

contemporâneas. Também, isolam-se orações subordinadas adverbiais e adjetivas explicativas

(Almeida 2004: 6).

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O ponto final [.] marca definitivamente o término dos períodos, como ditos

anteriormente, muito extensos e únicos. Ele é mais recorrente no diário porque não só a

extensão dos períodos é menor, como os parágrafos, mas também servia para isolar contextos

de dados numéricos e geográficos.

Os dois pontos [:] marcavam ou introduziam palavras, expressões, orações ou

citações que funcionam como um aposto, conclusão, explicação, conseqüência ou um

esclarecimento. Há ocorrência em que tanto os dois pontos quanto o ponto e vírgula são

utilizados para encerrar períodos intercalados no texto cuja função seja prestar esclarecimento

ou explicação, uma espécie de apositiva. Como apresentamos

eu estava empregado por sua Magestade Fidelissi-

ma nas Demarcaçoens dos Reaes Dominios em

Villa Bella de Mato Grosso: apezar das minhas ins-

tancias naõ me tem (diário, f.51r)

que lhetenho encarregado delevantar; estimando sumamente

que orestabelecimento das molestias de VMC naõ só lhepermi-

tisse aquella util degreçaõ; mas haja depermitir as outras q.o

me anuncia, e que ja detremineis de penetrar quando for possivel;

5 nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré: Oponto estará em que os

Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem: Pelo que hade

ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas, ou apa

rencias muito diverças, sigundo tendo advertido que imponham de

alguma sorte aosditos Espanhoes. (carta, f. 6r)

21 [parágrafo] V.Ex.ca serà servido detreminarme, sehé conveni=

ente quesegundavez intente estadeligencia entrando q.to

for poscivel, comaescolta necescaria, para algũa invazaõ

do Gentio, que possa haver: toda brevidade meparece nes

cessaria afim deseachar oRio com Agoa suficiente desepo-

der navegar livre deCaxoeiras, q´ medizem ter muitas (carta, f. 8r)

lestipulaçoés; epela prezente dou por firma, evalios para

sempre: prometendo emfé, epalavras Real, observallo,

e cumprillo inviolavel mente, fazelo cumprir, eobservar, (Tratado, f. 19r)

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148

O ponto e vírgula [;] marca explicações longas e enumerações, especialmente quando

os períodos são subdivididos por vírgulas. São enumerações descritivas e narrativas, como no

caso do diário de viagem. Este procedimento era usual no estilo oratório (Kury, 1999: 72).

Contudo, duas funções podem ser destacadas quanto ao uso deste sinal: isolam ou introduzem

orações coordenadas sindéticas conclusivas ou adversativas e, ainda, estabelecem não só uma

relação de explicação, mas de completude semântica dentro dos períodos compostos. Ou seja,

neste caso específico elas assumem o papel das vírgulas nas orações subordinadas.

Pelas

treshoras datarde parei fronteando abarra do Rio Su

30 curüi, que vem do Occidente, cujalagura deixei de-

medir, por nao poder atravessar o Rio; por cauza das

ondas; mas peloque me pareceu excederia á Sincoen-

ta braças. (diário,f. 46r)

Subia pelo Rio Porru-

Porrudos; por outro que nelle deita as suas agoas, e que

com huma piquena varaçaõ passara para o Sucurüi, de que

estou falando sem ter o incommodo das cachoeiras, de que

tenho tratado; mas que em recompença encontrara mui-

to Gentio Caiapó,( diário, f. 46v)

Herdeiros, eSucessores, todo o direito que possa ter, ou alle-

gar ao Dominio das Ilhas Filipinas, Marianas, Eomais

que possue naquellas partes aCoroadeEsapnha; renun-

ciando a de Portugal qual quer acçaõ, oudireito, que possa ter,

5 ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 de Junho de

1494, e pelas condiçoẽs ( Tratado, f. 18r).

Muitos fenômenos e ocorrências, hoje cristalizadas na língua padrão, passavam por

intenso processo de construção e reconstrução. Contudo, faltam ainda muitas etapas para

preencher as lacunas que permanecem e responder questões que ficaram em aberto.

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São observações gerais que demandariam uma pesquisa minuciosa para quantificação

dos dados presentes nos manuscritos.

V - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fortes fortuna adiuvat

A fortuna (sorte) ajuda aos fortes.

Leite de Vasconcellos (1959) há tempos já defendia a publicação de textos,

lamentando a existência de materiais publicados em países alheios a história portuguesa.

Melhor que formular regras, dizia, ou citar exemplos, é aconselhar aos estudiosos que

recorram aos trabalhos modelares, os compulsem, e meditem no que lá virem (1959:224).

É justamente observando o desenvolvimento dos estudos filológicos no Brasil e

desejando somar forças, a partir de outros "trabalhos modelares" que se tem aqui impelido

semelhante pesquisa.

O ideal de estabelecer, ao menos parcialmente, uma fonte historiográfica regional, a

par das carências existentes, fortaleceu a descrição do percurso da Capitania durante o período

das Demarcações dos Reaes Dominios. Conheceu-se um pouco de personagens importantes

no contexto regional, como Joze de Lacerda, autor do diário; também, como se davam os

registros das correspondências por ordem do governador da Capitania.

São raras, ainda, as investidas nos campos paleográficos. Desenvolver uma análise

codicológica completa demanda muito trabalho e horas de exaustão, especialmente devido à

carência de profissionais da área. Contudo, algo ainda pôde ser realizado na pesquisa.

Quanto aos trabalhos de edição, uma lacuna na apresentação do exemplar fac-símile

talvez possa desfavorecer a pesquisa, mas espera-se estender o foco em níveis mais

específicos, tão logo se faça possível, indicando que o trabalho não termina aqui. A produção

de edições críticas e edição de textos antigos muito têm se desenvolvido na academia

brasileira.

Finalmente, podemos apresentar um breve estudo sobre as ocorrências de alguns sinais

de pontuação, principais, nos textos: [.] ponto final, [,] vírgula, [;] ponto-e-vírgula e [:] dois

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150

pontos. Concluiu-se, em caráter preliminar, que as normas são razoavelmente estáveis e

próximas ao uso atual, com destaque para a correlação com a oralidade.

São bases para a realização de uma pesquisa favorecendo o desenvolvimento da língua

no contexto regional, percorrendo etapas que facilitem o trabalho de lingüistas, historiadores e

quaisquer outros que se interessem pelo tema.

La langue n'est pas l'unique objet de la philologie, Qui veut avant tout

fixer, interpreter, commenter les textes; cette première étude à s'occuper aussi

de l'histoire littéraire, des mocurs, des instituitions etc; partout elle use de sa

méthode propre, Qui est la critique. Si elle aborde les questions linguistiques,

c'est surtout pour comparer des textes de différentes époques, determiner la

langue particulière à chaque auteur, déchiffrer et expliquer des inscriptions

dans une langue archaïque et obscure. (Saussure,in Bassetto:2001,35).

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VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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Fig. 1 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 2 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 3 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 4 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 5 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 6 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 7 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 8 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 9 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 10 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 11 – Índice do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – Vol. III

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Fig. 12 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 13 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 14 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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169

Fig. 15 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 16 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 17 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 18 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso

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Fig. 19 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.

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SUMÁRIO

ABSTRACT

RESUMO

AGRADECIMENTOS

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

I – INTRODUÇÃO.......................................................................................1

1.1 Princípios científicos do trabalho filológico...........................................2

II – HISTÓRIA DOS TEXTOS....................................................................7

2.1 Os códices...............................................................................................7

2.1.1 Os tratados de limites: trabalhos demarcatórios em Mato Grosso......................11

2.1.2 O Tratado de Santo Ildefonso: a comissão dos cientistas...................................13

2.2 Análise codicológica...........................................................................15

2.2.1 Os volumes e suas características materiais........................................................17

2.3 As abreviaturas.....................................................................................32

2.3.1 Lista das abreviaturas..........................................................................................32

2.4 Componentes formulares dos textos...................................................34

III – A EDIÇÃO DOS MANUSCRITOS...................................................39

3.1 Edição Diplomática...............................................................................41

IV – ANÁLISE DA PONTUAÇÃO.........................................................128

4.1 O conceito de pontuação....................................................................128

4.2 Itinerário Histórico.............................................................................129

4.3 A frase e o período..............................................................................132

4.4 Descrição da Norma que caracteriza os manuscritos..........................135

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................149

VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................151

ANEXOS...................................................................................................154

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LISTA DE FIGURAS

Fig. 1 - Índice no início do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol.

III.................................................................................................................................

3

Fig. 2 - Fragmento da edição de Soares (In: Siqueira 2002:57)................................ 4

Fig. 3 - Capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Autor

não identificado (década de 70 - século XVIII). Acervo da Casa da Ínsua, Portugal

( Siqueira 02:56)..................................................................................................................

9

Fig. 4 – Observações de Pontes e Lacerda. Moacyr Freitas (2000). Acervo da

Fundação Cultural de Mato grosso (In: Siqueira 2002:50).........................................

12 Fig. 5 - Início do Diário de Viagem de Francisco José de Lacerda e

Almeida........................................................................................................................

57 Fig. 6 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I............... 17

Fig. 7 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I............... 18

Fig. 8 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I................ 19

Fig. 9 - Início do Tratado, Fólio de abertura do Livro de Registro do Tratado de

Santo Ildefonso – vol. I................................................................................................

20

Fig. 10 - Cópia do Tratado de Santo Ildefonso, Fólio 18r (ilustração da numeração

do fólio na margem superior direita), Livro de Registro do Tratado de Santo

Ildefonso – vol. I..........................................................................................................

21

Fig. 11 - Termo inicial, Fólio do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso

– vol. I..........................................................................................................................

22

Fig. 12 - Tinta nítida no Fólio do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso,

Tratado de Santo Ildefonso - Artigos II e III – vol. I...................................................

26

Fig. 13 - Mudança de punho e tinta clareada no fólio do Diário de Viagem do

Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. III........................................

27

Fig. 14 - cursiva presente no Tratado de Santo Ildefonso - V. I 28

Fig. 15 - cursivas presentes (fragmentos I e II respectivamente) no diário de

viagem1 - V. III............................................................................................................

29 Fig. 16 - Início do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11r- Vol. I).............................. 42

Fig. 17- Início do Artigo I, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11v- Vol. I)............... 45

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Fig. 18 - Início dos Artigos II e III, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12r- Vol. I).

12v...............................................................................................................................

47 Figura 19 - Início do Artigo IV, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12v- Vol. I)........ 49

Fig. 20 – Artigo V do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 13r- Vol. I)......................... 51

Fig. 21 - Início do Artigo VIII, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 14r- Vol. I)......... 54

Fig. 22 – Artigos X, XI e XII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 14v e 15r- Vol.

I)..................................................................................................................................

57

Fig. 23 – Artigos XIII a XIX do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 15v a 17r- Vol.

I)..................................................................................................................................

60

Fig. 24 – Artigos XX a XXII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 17v e 18r -

Vol. I)..........................................................................................................................

65

Fig. 25 – Artigos XXIII a XXV do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 18v e 19r -

Vol. I)..........................................................................................................................

67

Fig. 26 – “Prospecto das canoas em que navegaram os empregados na Expedição

Filosófica pelos rios Cuyabá, São Lourenço, Paraguay e Jauru...”. Autor não

identificado (1789-1792). Expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira. Acervo do

Museu Bocage, Portugal. (Lima 2005:48)..................................................................

68

Fig. 28 – Diário de Viagem (fólio 41r - Vol. III)........................................................ 88

Fig. 29 – Diário de Viagem (fólio 50v - Vol. III)....................................................... 124

Figura 30 – cópia da carta no final do Diário de Viagem (fólio 51r - Vol. III).......... 127

ANEXOS

Fig. 1 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................

155 Fig. 2 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 156

Fig. 3 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 157

Fig. 4 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 158

Fig. 5 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 159

Fig. 6 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 160

Fig. 7 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................

161

Fig. 8 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 162

Fig. 9 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.......................................................... 163

Fig. 10 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 164

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Fig. 11 – Índice do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – Vol. III........ 165

Fig. 12 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 166

Fig. 13 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 167

Fig. 14 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 168

Fig. 15 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 169

Fig. 16 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 170

Fig. 17 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 171

Fig. 18 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................ 172

Fig. 19 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................

173

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Lista de abreviaturas.............................................................................. 32

Tabela 4.1 – O papel da pontuação............................................................................. 131

Tabela 4.2 – FUNÇÕES/SINAIS............................................................................... 138

Tabela 4.3 – Análise das ocorrências......................................................................... 141

Tabela 4.4 – FUNÇÕES/SINAIS............................................................................... 143