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Sistema Político Brasileiro:
uma introdução
ORGANIZADORES:
LÚCIA AVELAR ANTÔNIO
OCTÁVIO CINTRA
AZZL
Konrad Wienauer- firií:ra
Stiftung ggSSg
Capítulo 2
Federação e relações intergovernamentais
F Á T I M A A N A S T A S I A
O Brasil é uma República
Federativa, bicameral,
presidencialista, com representação
proporcional e multipartidarismo. Os
entes federados, segundo a
Constituição de 1988, são os 26
estados, o Distrito Federal e os 5.564
municípios,1 o que confere ao país
características singulares, se
comparado às demais federações,
onde apenas os estados ou províncias
são dotados de autonomia político-
administrativa.2
Neste capítulo, os estados
brasileiros serão tomados como
principais objetos de análise, com
vistas a examinar seu papel e sua
importância no contexto da democra-
cia brasileira. Para tanto, o texto está
organizado da seguinte maneira: em
primeiro lugar, focalizaremos as
interações entre condições estruturais
- socioeconômicas e culturais - e
instituições políticas, com o objetivo
de examinar a adequação do arranjo
federativo ao quadro de clivagens que
partir da análise da distribuição de
poderes, atribuições e recursos entre
União, estados e municípios, por um
lado, e entre executivos e legislativos
estaduais, por outro.
Na terceira seção, a ênfase se
volta para o exame da distribuição de
atribuições substantivas entre os
entes federados, especialmente no
que se refere à gestão e à
implementação das políticas sociais.
Finalmente, serão examinadas as
interações entre instituições estaduais
e democracia, contemplando,
especialmente, os impactos do arranjo
institucional sobre a responsabilidade
política e a representatividade.
1. Democracia, condições e instituições
A sociedade brasileira é
atravessada por heterogeneidades
estruturais e por um padrão muito
acentuado de desigualdades
socioeconômicas. Tal contexto
1. Segundo o IBGE, havia 5.564 municípios no Brasil em 2005.
2. O Brasil apresenta um “modelo de Federação notavelmente descentralizado, com uma peculiaridade que o singulariza de forma marcante no contexto internacional, que é a menção explícita do município como ente federado no próprio texto constitucional (Art. 18)” (KUGELMAS, 2001:36).
225
Alemanha 356.733 82 Federação
Argentina 2.780.092 37,9 Federação
Austrália 7.682.300 19,5 Federação
Brasil 8.514.205 174,7 Federação
Canadá 9.970.610 31,3 Federação
China 9.572.900 1.294 Unitário
Estados Unidos 9.372.614 288,5 Federação
índia 3.287.782 1.041 Federação
México 1.972.547 101,8 Federação
Rússia 17.075.400 143,8 Federação
i-eaeraçao e reiaçoes iniergovernamenTais
i )
TABELA 1. Extensão territorial, população e divisão político-administrativa.
Fontes: Fundo de População das Nações Unidas; Almanaque Abrii, 2003.
i
permitindo aos primeiros vocalizar
suas preferências perante os
segundos e, também, controlá-los e
fiscalizá-los no exercício de suas
funções públicas. Em sociedades de
grandes territórios e grandes nú-
meros, tais ações ficam facilitadas
pela descentralização político-
administrativa que caracteriza a
estrutura federativa. A j
exceção, como se pode verificar pela
leitura da tabela, é a China que, aliás,
3.
4.
226
“As recentes democracias situadas ao sul do Equador enfrentam um ‘dilema institucional’ que pode ser sintetizado na seguinte indagação: quais são os arranjos institucionais compatíveis com sociedades que combinam heterogeneidades estruturais com pobreza e desigualdade social? Tal questão se impõe em conexão com os desafios de aperfeiçoamento da ordem política em sociedades que, no percurso acidentado da reconstrução da democracia, passaram por processos simultâneos de diversificação socioeconômica e cultural - tornando-se, portanto, mais heterogêneas - e de manutenção e/ou aprofundamento de padrões de pobreza e de desigualdades sociais” (ANASTASIA, 2003:1).“em uma constelação global de 217 países, apenas 24 federações governam 40% da população mundial” (CAMARGO, 2001:78).
que pressionam por se fazerem
representar na ordem política.3
No que se refere ao principal traço
institucional sob exame neste
capítulo, o federalismo, importa
considerar mais de perto o tamanho e
a diversidade do país. Como se pode
perceber pela Tabela 1, os países com
maior extensão territorial e população
são, em geral, organizados como
federações,4 especialmente no intuito
de aproximar mais os cidadãos de
Outra variável importante a ser
mobilizada refere-se às clivagens -
número e tipo - presentes no interior
dos estados nacionais, acarretando,
algumas vezes, que países que
possuem pequenos territórios adotem
modalidades de federalismo,
territorial e não- territorial como, por
exemplo, a Suíça e a Bélgica.5
Arend Lijphart (1989:234-235)
refere-se aos diferentes tipos de
federalismo propondo que sejam
comparados os limites políticos entre
os membros da federação e os limites
sociais entre grupos como minorias
religiosas e étnicas” e indaga se é
possível dar autonomia a grupos
geograficamente interpenetrados por
meio de um federalismo que não é
definido exclusivamente em termos
espacio-geográficos”. O federalismo
não-territorial, também conhecido
como federalismo “corporativo” ou
federalismo “sociológico”, remete à
idéia de “comunidades culturais
autônomas não territoriais”.
Ressalta, aqui, a importância de se
considerar o problema relacionado às
tensões potenciais entre a identidade
nacional e as diferentes identidades
regionais, étnicas, raciais, religiosas e
lingüísticas, entre outras, presentes
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5. Camargo (2001:78) chama a atenção para as virtualidades e a maleabilidade do federalismo e, também, para “sua capacidade de acomodar populações e regiões heterogêneas em territórios extensos, ou extremas tensões étnicas e religiosas em espaços exíguos”.
6. O Brasil se enquadra melhor no modelo holding together federations já que o federalismo, implantado juntamente com o regime republicano de 1889, resulta do atendimento às aspirações de maior descentralização político-administrativa.
7. Metáfora atribuída ao general Golbery do Couto e Silva, por referência à “alternância de períodos de centralização e de descentralização na história do país, identificando-se habitualmente a centralização com o autoritarismo e a descentralização com avanços democráticos” (KUGELMAS, 2002:33).8. Fonte: PNAD-IBGE, 2004.
227
Brasil 0,739 17,0 81,25 12,8 30,5 100
Acre 0,754 17,8 66,4 23,1 46,2 0,15
Alagoas 0,538 22,8 68 31,8 49,9 0,64
Amapá 0,786 13,8 89 11,2 28,4 0,18
Amazonas 0,775 13,3 74,9 15,3 36,1 1,71
Bahia 0,655 25,6 67,1 21,6 46,7 4,38
Ceará 0,590 25,7 71,5 24,7 44,3 1,89
Distrito Federal 0,869 8,7 95,6 5,2 16,1 2,69
Espírito Santo 0,836 17,4 79,5 10,6 32,4 1,96
Goiás 0,786 18,8 87,9 10,8 28,8 1,97
Maranhão 0,547 26,3 59,5 26,6 53,2 0,84
Mato Grosso 0,767 15,6 79,4 11,1 32,7 1,22
Mato Grosso do Sul 0,848 18,5 84,1 10,1 34,9 1,08
Minas Gerais 0,823 19,7 82 10,9 30,8 9,64
Pará 0,703 18,7 66,5 16,3 41,2 1,72
Paraíba 0,557 28,9 71,1 27,6 50,5 0,84
Paraná 0,847 15,8 81,4 8,6 26,8 5,99
Pernambuco 0,615 22,9 76,5 23,2 40,3 2,64
Piauí 0,534 29,5 62,9 28,6 56,6 0,48
Rio de Janeiro 0,844 11,4 96 6,3 20,9 12,52
Rio Grande do Norte 0,668 25,4 73,34 23,7 44,8 0,84
Rio Grande do Sul 0,869 15,4 81,6 6,1 22,3 7,73
Rondônia 0,820 15,3 64,1 11,5 36,7 0,51
Roraima0,818 12,8
76,112
29,40,10
Santa Catarina 0,863 12,3 78,7 5,7 23,3 3,85
São Pauio 0,868 9,2 93,4 6,1 20,2 33,68
Continua
228
Sergipe 0,731 24,3 71,4 23,5 45,2 0,54
Tocantins 0,587 21,4 74,3 17,2 43,9 0,22
Fontes: PNUD; Censo 2000, IBGE.
(al São considerados analfabetos aqueles que não sabem ler ou escrever um bilhete simples, que apenas
assinam o próprio nome ou que aprenderam a ler e a escrever, mas esqueceram.
lbl São considerados analfabetos funcionais aqueles que conseguem ler e escrever de forma
rudimentar, mas são incapazes de entender textos mais longos.
de 20% no Sul e no Sudeste. É
patente o contraste entre o estado
com pior desempenho nesse quesito,
Alagoas, cuja taxa bruta de
analfabetismo, em 2004, era de
29,5% com estados como Santa
Catarina e Rio de Janeiro, com taxas
brutas de menos de 5% de
analfabetismo, na mesma data.
Em que pese a quase
universalização da escolarização das
pessoas de 7 a 14 anos (97,1%), no
Brasil, verificada em 2004, no mesmo
ano a taxa de escolarização de pes-
soas de 15 a 17 anos, no país, era de
apenas 81,9%. Novamente, as regiões
que apresentavam melhores taxas
eram o Sudeste (85,4%) e o Sul
(81,7%). No Centro-oeste, a taxa era
de 79,9%, caindo para 78,9% no
Nordeste e para 78,4% na Região
Norte.9
Como chama a atenção Camargo
(2001:83), o federalismo brasileiro
apresenta um caráter bastante
assimétrico:
vinte dos 26 estados detêm
apenas 22% da renda nacional O
estado mais rico detém 35%, os
três mais ricos detêm 60% da
Encontra tal diversidade de
condições socioeconômicas guarida no
conjunto de instituições políticas que
conformam os estados da federação
brasileira? Esta questão remete para a
análise da distribuição de poderes,
atribuições e recursos entre os entes
federados e entre os Poderes
Executivo e Legislativo no âmbito das
unidades sub-nacionais.
2. Aspectos procedimentais
Desde os papers federalistas se sabe que concentração de poderes nas mesmas mãos gera tirania. Por conseqüência, costuma- se associar democracia à dispersão de poderes entre os atores relevantes que par-ticipam do jogo político. Nesta direção aponta a prescrição madisoniana de organização de freios e contrapesos institucionais entre os poderes constituídos e a recomendação de descentralização político-administra- tiva que caracteriza os arranjos federativos.
E exatamente esse aspecto que será objeto de análise desta seção. Em primeiro lugar, será examinada a distribuição de competências, de
9. Fonte: PNAD-IBGE, 2004.
229
heaeraçao e reiaçoes mtergovernamentais
no âmbito dos estados, contrastando-
a com aquela verificada no âmbito da
União.
2.1 Distribuição de competênciasentre União, estados e municípios
Reza o artigo 18 da Constituição brasileira de 1988 que
A organização político-
adminis- trativa da República
Federativa do Brasil compreende
a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta
Constituição.
O artigo 21 da Constituição estabelece as competências da União e o artigo 22 define as áreas nas quais legislar é competência privativa da União. A Constituição dispõe, ain-
reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição Federal” - e sobre as suas atribuições exclusivas, concorrentes e compartilhadas.10
A leitura deste conjunto de dispositivos constitucionais permite concluir que a legislação reserva pouco espaço de autonomia aos Estados-membros, haja vista o reduzido número e escopo de suas competências exclusivas, o que fundamenta a afirmação de que “no sistema federativo brasileiro, quando se repartiram as competências, sobraram aos Estados aquelas que não são da União nem dos Municípios” (www.al.sp.gov.br). Assim, à conhecida preponderância legislativa do Executivo brasileiro se somam as restrições impostas às Assembléias Legislativas frente ao Congresso Nacional.
orçamento; juntas comerciais; custas dos serviços forenses; produção e consumo; florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, turístico e paisagístico; responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; educação, cultura, ensino e desporto; criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; procedimento em matéria processual; previdência social, proteção e defesa da saúde; assistência jurídica e defensoria pública; proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; proteção à infância e à juventude; organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. 3) Comuns (artigo 23 da Constituição Federal): “Artigo 23 - E competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; XI - registrar, acompanhar, fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.” (Fonte: www.al.sp.gov.br)
230
Pode r^ LegislativoBicameral (Câmara dos
Deputados com 513 membros e
Senado Federal com 81
membros)
26 Assembléias Legislativas e uma
Câmara Distrital unicamerais
Sistema partidário Multipartidário (Número de
partidos relevantes: 7)
Multipartidário
Tipo de circunscrição eleitoral Estados Uma única circunscrição estadual
Divisão político*
administrativa 27 unidades (26 estados e o
Distrito Federal)
5.564 municípios distribuídos pelos 26
estados da Federação
Democracia direta versus
representativaIniciativa Popular;11 Referendo;
Plebiscito.
12
Iniciativa Popular; Referendo;Plebiscito1.3
QUADRO 1. Características do arranjo federativo no Brasil. Brasil
da Federação
legislativos estaduais não são, como
seria de esperar, bicamerais e, sim,
unicamerais. Portanto, não há, nos
estados, uma câmara que organize e
processe a representação dos
interesses municipais, a exemplo do
que ocorre no Congresso Nacional,
dos se fazem representar no Senado
Federal.
Tal característica contrasta com a
apresentada pelo federalismo norte-
americano: lá, 49 dos 50 Estados-
membros são bicamerais, sendo o
estado de Nebraska o único
11. Artigo 61, § 2 - “A iniciativa popular pode ser exercida peia apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles”.12. “A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual” (Art. 27, § 4, da Constituição brasileira).
13. A criação, incorporação, a subdivisão ou o desmembramento de Estados só poderá se dar “mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nadonal, por lei complementar” (Art. 18, § 3). A criação, incorporação, a fusão ou o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual “e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos” (Art. 18, § 4).14. “But it would be a mistake to think that 49 state legislatures are exactly like Congress and that only Nebraska is different The 99 state legislative chambers in the United States employ a wide range of organizational structures, some similar but only rarely exactly like Congress, others very different. In some state legislatures, for example, party leadership dominates; in other chambers legislative committees exercise great power. Similarly, seniority determines who holds important positions in a few legislative chambers; in most it is of little importance. And, of course, state legislatures vary greatly in terms of member salaries, the time demands of service, and the sorts of staff resources and facilities that are available to members” (SQUIRE, 2003:1).
No que se refere à importante
questão da densidade democrática da
representação,15 que é afetada, entre
outros fatores, pelos procedimentos
através dos quais são constituídos os
órgãos decisórios - no caso, a Câmara
dos Deputados, o Senado Federal e as
Assembléias Legislativas - vale
enfatizar que o Brasil apresenta um
bicameralismo incongruente, já que o
Senado é formado através do método
majoritário e a Câmara dos Deputados
através do sistema de representação
proporcional. Tal distinção se justifica
em função do respeito ao princípio de
igualdade política, já que a regra
majoritária garante aos estados igual
representação no Senado - 3
representantes por unidade da
Federação - em que pesem as
enormes diferenças em termos de
número de habitantes e de eleitores
que podem ser observadas entre
essas unidades. Não obstante, os
membros de ambas as câmaras são
eleitos em pleitos realizados em
circunscrições políticas que
correspondem aos estados da
Federação.
O contraste entre Câmara dos
Deputados e Assembléias Legislativas
permite verificar o compartilhamento
entre elas do método de
representação - proporcional, em
rigorosa do princípio de igualdade
política entre os cidadãos de cada
estado, o que não ocorre nos pleitos
para deputados federais.
Embora o sistema proporcional
seja mais conducente ao incremento
da densidade democrática da
representação - já que permite, mais e
melhor, a expressão político-
institucional da variedade de
clivagens, identidades e interesses
que emergem nas sociedades
complexas, como o são as sociedades
contemporâneas - a sua operação em
distritos eleitorais que coincidem com
os estados produz um conjunto de
distorções e vieses da representação.
Por determinação constitucional, cada
estado pode contar com, no máximo,
70 e, no mínimo, 8 representantes na
Câmara dos Deputados. Esses limites
penalizam fortemente os cidadãos de
São Paulo, o estado mais populoso da
Federação, e beneficiam os cidadãos
dos estados menores e menos
populosos como Acre, Amapá, Sergipe
e Tocantins, como pode ser consta-
tado pela leitura da Tabela 3.
Segundo o artigo 27 da
Constituição brasileira,
O número de Deputados à
As- sembléia Legislativa
corresponderá ao triplo da
15. “A densidade democrática da representação é um atributo da democracia que envolve duas dimensões: a primeira refere-se ao método de constituição do órgão decisório e à sua composição (SARTORI, 1994); a segunda relaciona-se aos instrumentos e procedimentos através dos quais a representação é exercida. Quanto maior for a densidade democrática da representação, mais a ordem política se aproxima da realização dos princípios centrais da democracia, a saber: igualdade política e soberania popular” (ANASTASIA e MELO, 2002).
16. Haveria uma correspondência caso os deputados federais fossem eleitos em uma única circunscrição nacional, analogamente à eleição dos deputados estaduais em uma única circunscrição estadual.
2
Brasil 100 513 100 245.784- -
Acre 0,327 8 1,56 51.613 24 17.204
Alagoas 1,471 9 1,75 206.113 27 68.704
Amapá 0,286 8 1,56 45.084 24 15.028
Amazonas 1,413 8 1,56 222.671 24 74.224
Bahia 7,223 39 7,6 233.532 63 144.568
Ceará 4,253 22 4,29 243.741 46 116.572
Distrito Federal 1,313 8 1,56 206.949 24 68.983
Espírito Santo 1,853 10 1,95 233.658 30 77.886
Goiás 2,962 17 3,31 219.686 41 91.089
Maranhão 3,11 18 3,51 217.820 42 93.351
Mato Grosso 1,539 8 1,56 242.569 24 80.856
Mato Grosso do Sul 1,238 8 1,56 195.158 24 65.053
Minas Gerais 10,852 53 10,33 258.158 77 177.693
Pará 3,298 17 3,31 244.599 41 101.419
Paraíba 2,039 12 2,34 214.289 36 71.430
Paraná 5,649 30 5,85 237.411 54 131.895
Pernambuco 4,628 25 4,87 233.436 49 119.100
Piauí 1,644 10 1,95 207.336 30 69.112
Rio de Janeiro 8,642 46 8,97 236.872 70 155.659
Rio Grande do Norte 1,667 8 1,56 262.674 24 87.558
Rio Grande do Sul 6,149 31 6,04 250.089 55 140.959
Rondônia 0,784 8 1,56 123.597 24 41.199
Roraima 0,185 8 1,56 29.202 24 9.734
Santa Catarina 3,306 16 3,12 260.565 40 104.226
São Paulo 22,242 70 13,65 400.637 94 298.347
Sergipe 1,031 8 1,56 162.455 24 54.152
Tocantins 0,7 8 1,56 110.349 24 36.783
TABELA 3. Composição da Câmara dos Deputados e das Assembléias Legislativas - 2006.*
porx brasileiro cadeiras : -{CD| cadeira padeiras cadeira (AL)
Fonte: Elaboração própria, a partir de consulta ao site do TSE (dados relativos a maio
de 2006). * Agradeço a Luciana Santana (DCP-UFMG) pela atualização dos dados desta
tabela.
233
Esse dispositivo constitucional
explica o número mínimo de 24
deputados estaduais e o número
máximo de 94, para o estado de São
Paulo.
0 referido artigo reza ainda, em
seu parágrafo primeiro, que o
mandato dos deputados estaduais é
de quatro anos, e o parágrafo segundo
estabelece que o teto para o subsídio
dos Deputados Estaduais corresponde
a 75% do que percebem os Deputados
Federais.
O Brasil apresenta um alto grau de
fracionamento do sistema partidário.
Nas eleições de 2006, sete partidos -
PT, PSDB, PFL, PMDB, PP,17 PSB e PDT -
obtiveram mais de 5% dos votos
válidos, podendo, portanto, ser
classificados como “partidos
relevantes”. Além disso, observa-se
uma significativa variação da
distribuição percentual das bancadas
partidárias por estado da Federação.
O único partido que está efetivamente
nacionalizado é o PMDB, que elegeu
deputados em 26 das 27 unidades,
excluindo-se apenas Sergipe. Em
segundo lugar vem o PT, que não
elegeu representantes em apenas dois
estados: Rondônia e Tocantins. Já o
PSDB concentra 26,2% de sua
bancada no Estado de São Paulo e
10,8% em Minas Gerais, não tendo
eleito representantes em 7 estados.
Pode-se depreender, da leitura
desses dados, que o sistema
partidário brasileiro ainda está em
processo de nacionalização e,
ademais, pode-se indagar sobre os
impactos sobre as condições
socioeconômicas das suas populações,
constituem uma variável dependente
do perfil da coalizão política
predominante em cada contexto.
2.2 Poderes Executivo e Legislativo no âmbito dos estados da Federação
Já há alguns anos, a literatura vem apontando a concentração de poderes de agenda e de veto nas mãos do presidente da República, o que desequilibra os mecanismos de freios e contrapesos institucionais, em pre-juízo do Legislativo, afetando negativamente sua capacidade de cumprir suas funções, quais sejam, legislar e fiscalizar o Poder Executivo.
No Brasil, verifica-se o que Figueiredo e Limongi (1999) denominaram “preponderância legislativa do presidente”, ademais da existência de uma ampla gama de recursos de patronagem - via distribuição de cargos - e de clientelismo político - via distribuição de verbas.
O exame dos padrões de interação entre Executivo e Legislativo no âmbito dos estados da Federação não conduz a conclusões muito diferentes. Também os governadores, em geral, gozam de amplos poderes de agenda e de veto e os usam para extrair obediência de suas bancadas e para aprovar suas propostas.
Importante ressalva, no entanto, deve ser feita em relação aos poderes legislativos dos governadores: o mais importante deles - o de editar Medidas
17. PP: ex PDS/PPR/PPB.
\Iniciar legislação ordinária
SIM SIMDe iniciativa exclusiva em determinadas matérias
SIMProjeto de lei orçamentária. SIM
Assuntos tributários, orçamentários, financeiros e administrativos.
Requerer regime de tramitação extraordinária SIM
Art 64 da Constituição - presidente tem prerrogativa de solicitar urgência para os projetos de lei de sua iniciativa.
SIMSolicitação de urgência.
Propor reformas ou emendas à Constituição
SIM SIM
Convocar plebiscito ou referendo
NÃO NÁO
Poder Delegado de Decreto SIMSIM, exceto Piauí, Bahia, DF, ES, MA, RR, RS, SR *
Poder Constitucional de Decreto
SIMNÃO (apenas os governadores do AC, PI, SC e TO podem editar MPS). *
Poder de Veto SIM, parcial e total. SIM, parcial e total.
Nomeação e exoneração dos ministros ou secretários de Estado
SIM SIM
Indicação de membros do Congresso SIM
Designar deputados para exercerem a liderança do governo, composta de líder e três vice-líderes (art. 11 R.l. Câmara).
SIMDesignar deputados para exercerem a liderança do governo, composta de líder e vice-líderes.
Indicação dos controladores SIM1/3 do Tribunal de Contas da União (TCU); os ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores.
SIM1/3 do Tribunal de Contas dos estados e o quinto constitucional dos Tribunais Estaduais.
Fontes: Constituição do Brasil de 1988; Constituições estaduais. {* Fonte: Pereira, 2001.)
235
Também o poder delegado de decreto não está disponível para a maioria dos governadores, como pode ser examinado no Quadro 2.
No mais, podem ser constatadas maiores semelhanças do que diferenças: a exemplo do presidente, os governadores têm total discricionariedade para nomear e demitir seu gabinete e gozam de exclusividade na proposição de matérias tributárias e orçamentárias, o que lhes permite distribuir cardos e verbas públicas.
Eles podem, também, vetar total ou par- :ialmente os projetos de lei encaminhados para sua sanção e pedir urgência na tramitação de matérias de sua autoria, o que lhes permite atropelar o processo legislativo e, através da mobilização dessa estratégia procedimental (ARNOLD, 1990), prejudi- :ar os debates e diminuir eventuais resistên- :ias dos parlamentares às suas proposições.
Importante ressaltar que os padrões en~ :ontrados de interação entre Executivo e Legislativo no âmbito estadual não autorizam, sem mais, a reiteração da hipótese do ' ultrapresidencialismo estadual” (ABRUCIO, 1998), segundo a qual os governadores exer- :eriam domínio incontrastável sobre as Assembléias Estaduais. Tais padrões não autorizam, idemais, a desconsideração das diferenças e das iiversidades por que passa esse conjunto de nstituições, as quais poderiam ser encontradas através de
lativa às formas de organização legislativa (SANTOS, 2001).
No que se refere a um importante recurso que afeta as interações entre os Poderes Executivo e Legislativo e os seus resultados - o recurso à informação -, o que se pode aventar, através do exame da empiria dispo-nível, é a presença de significativa “assimetria informacional” a favor dos governadores, já que a maioria das Assembléias Legislativas ainda se encontra em um estágio bastante ini-cial de desenvolvimento institucional, não propiciando a seus parlamentares a infra-estrutura e o expertise necessários para o adequado desenvolvimento das atividades de legislar e de fiscalizar o Executivo.
Muitas delas contam com um incipiente sistema de comissões, no qual, muitas vezes, uma única comissão é responsável por diferentes matérias. Claro está que os membros dessas comissões internamente tão heterogêneas têm pouquíssimas condições e incentivos para se especializarem em qualquer matéria.
Ademais, apenas bastante recentemente os legislativos estaduais começaram a dar a devida atenção à necessidade de profissionalização de seu corpo técnico. Em 2002, oito Assembléias Legislativas contavam com Escolas do Legislativo, sendo a mais antiga a do Estado de Minas Gerais, criada em 1992. Em 2006, 20 casas legislativas estaduais já haviam criado suas Escolas do Legislativo, observando-se, portanto, um expressivo crescimento nos últimos
18. Análise das diferenças e convergências entre algumas Assembléias Legislativas pode ser encontrada em Santos (2001).
e remuneração de pessoal” e manterão escolas de governo “para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos”.
Uma visita ao site da ENAP19 - Escola Nacional de Administração Pública - permite acessar a extensa lista de Escolas de Governo e órgãos similares, todos voltados para a for-mação dos administradores públicos lotados no Executivo, nos três níveis de governo.
Vale ainda assinalar que um importante instrumento de informação dos parlamentares sobre as preferências de seus representados - as comissões de legislação participativa20 - existem em apenas sete legislativos estaduais e estão em implantação em outras três assembléias legislativas.
3. Aspectos substantivos
O exame da distribuição de atribuições e funções governativas, especialmente no que se refere à gestão e à implementação das po-líticas sociais, entre Federação, estados e municípios, conduz a interessantes considerações.
O artigo 6o da Constituição brasileira reza que
São direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à
II - cuidar da saúde e
assistência pública, da proteção e
garantia das pessoas portadoras
de deficiência;
V - proporcionar os meios de
acesso à cultura, à educação e à
ciência;
IX - promover programas
de construção de moradias e a
melhoria das condições
habitacionais e de saneamento
básico;
X - combater as causas
da pobreza e os fatores de
marginalização, promovendo a
integração social dos setores
desfavorecidos.
Em seu parágrafo Único, o referido artigo afirma que
Lei complementar fixará
normas para a cooperação entre
a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em
vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar
em âmbito nacional.
E o artigo 24 dispõe sobre as competências legislativas concorrentes entre União, Estados e Municípios, a saber:
IX-educação, cultura, ensino
e desporto;
XII - previdência social,
proteção e defesa da saúde;
19. www.enap.gov.br/redeescolas.
20. Sobre mecanismos institucionalizados de participação dos cidadãos no processo legislativo, ver Anastasia (2001).
237
Senado FederalSIM Comissão de Legislação
ParticipativaSIM Sem Informação
Câmara dos
Deputados
SIM21 (Comissão de Legislação
Participativa)
SIM 2001
Acre NAO SIM 23/12/2003
Alagoas NÃO Sem informação -
Amapá NAO SIM 11/3/2003
Amazonas SIM Comissão Permanente de
Legislação Participativa.
SIM 1/1/2006
Bahia NAO SIM Sem Informação
Ceará NAO SIM 8/3/2006
Distrito Federal NAO Sem informação -
Espírito Santo NAO SIM 15/12/2004
Goiás Em fase de instalação SIM 22/6/2004
Maranhão SIM Sem informação -
Mato Grosso NAO SIM 2/7/1999
Mato Grosso do Sul SIM Comissão de Legislação
Participativa.
SIM 12/12/2003
Minas Gerais SIM Comissão de Participação
Popular
SIM 10/7/1992
Pará NAO Sem informação -
Continua
21. “Comissão Permanente da Câmara dos Deputados criada em 2001, com o objetivo de viabilizar a iniciativa popular na elaboração de leis, conforme disposto no § 2 do artigo 61 da Constituição Federal. Vale lembrar que essa Comissão é a responsável pelo recebimento de sugestões legislativas por parte entidades organizadas da sociedade civil, e não por iniciativas individuais dos cidadãos. As sugestões por ventura aprovadas pela Comissão, passam a tramitar na Câmara dos Deputados seguindo as normas regimentais aplicáveis aos projetos de lei de iniciativa das demais Comissões” (Fonte: Interlegis).
Paraíba
\
SIM. Comissão de Legislação
Cidadã.
SIM 3/7/2002
Paraná NAO SIM 1/9/2003
Pernambuco Em fase de instalação SIM 12/11/1999
Piauí NAO Sem informação -
Rio de Janeiro NAO SIM 30/8/2001
Rio Grande do Norte NAO Sem informação -
Rio Grande do Sul SIM Comissão de Legislação
Participativa Popular
SIM 3/10/2001
Rondônia NAO SIM Sem Informação
Roraima NAO SIM 24/6/2003
Santa Catarina SIM Comissão de Legislação
Participativa
SIM 19/12/2002
São Pauio Em fase de criação SEM 14/12/2001
Sergipe NAO SIM 24/9/2003
Tocantins NAO SIM 13/9/2005
Fontes: Associação Brasileira das Escolas do Legislativo, novembro de 2006. Comissão de Legislação
Participativa da Câmara dos Deputados, novembro de 2006 (www.camara.gov.br).
Os parágrafos Io, 2o, 3o e 4o do artigo
24 da Constituição Federal
estabelecem que:
no âmbito da legislarão
concorrente; a competência
da União limi- tar-se-á a
estabelecer normas gerais; a
competência da União para
legislar sobre normas gerais
não exclui a competência
suplementar dos Estados;
inexistindo lei federal sobre
normas gerais, os Estados
exercerão a competência
legislativa plena, para
atender as suas
cácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
A leitura desses artigos permite
constatar que, embora a Constituição
brasileira não atribua aos estados
nenhuma competência exclusiva
relativa às políticas sociais, ela lhes
confere um importante papel na
provisão dos bens e serviços
pertinentes a esta área de política, o
que fica claro especialmente através
do exame dos parágrafos Io, 2o, 3o e 4o
do artigo 24.
Além disso, a Constituição
estabelece que a gestão das políticas
sociais deverá ter um caráter
239
nelas interessados. Obviamente, tal
dispositivo constitucional reforça a
participação dos estados e municípios,
onde estão florescendo os conselhos
setoriais de políticas públicas, que
são, em geral, paritários e
deliberativos.
Há uma vasta literatura que tem
esses órgãos colegiados como objetos
privilegiados de análise. Vale ressaltar
que tais órgãos são vinculados ao
Poder Executivo e contam com a
participação de representantes dos
setores governamentais responsáveis
pela implementação das políticas a
eles concernentes. Ainda que sejam
controversos os resultados obtidos
por esses Conselhos, e não obstante a
enorme polêmica teórica que têm
provocado entre os estudiosos do
tema, é fato que constituem im-
portante novidade institucional e
carregam interessante potencial
democratizante.
Não se pode, no entanto, constatar
avanços similares no âmbito dos
legislativos estaduais. Uma visita ao
site da União Nacional dos Legislativos
Estadual (UNALE) permite verificar
que um número expressivo de As-
sembléias Legislativas não conta com
comissões permanentes relacionadas
aos temas mais caros das políticas
sociais, a saber, saúde, previdência e
assistência social - que configuram,
em conjunto, a seguridade social -
educação e habitação.
A ausência de expertise e de
desenvolvimento institucional
coerente com as complexas tarefas
legislativas e de fiscalização no que
diz respeito às políticas sociais, no
âmbito dos legislativos estaduais,
pode ser mais um fator explicativo da
exemplo bem como federações que não são democracias, como o Brasil, na República Velha e durante o Ciclo autoritário-mili- tar de 1964 a 1984. Porém a combinação de federalismo com democracia - em presença dos instrumentos adequados para impedir o domínio da política pelas oligarquias locais - parece configurar um arranjo institucional direcionado à consecução dos atributos desejáveis da democracia, quais sejam, densidade democrática da representação, estabi-lidade política e responsabilidade política dos governantes perante os governados.
O federalismo assimétrico brasileiro encontra-se diante do desafio de enfrentar as enormes desigualdades de diferentes tipos que caracterizam o país e que, muitas vezes, são agravadas pela competição predatória entre os estados-membros. As perversas condições socioeconômicas, que se mostram mais em alguns estados e em algumas regiões do que em outras, constituem ameaça para o regime democrático e afetam negativamente o exercício da cidadania democrática. O que emerge como mais preocupante, do quadro esboçado, é que ali onde as condições são mais precárias é exatamente onde se verifica, também, menor desenvolvimento institucional. O que leva a indagar, com ceticismo, sobre a capacidade das instituições políticas, no âmbito subnacional, de processarem as clivagens, necessidades e interesses dos cidadãos dos diferentes estados.
S u g e st õ e s d e le it u r a
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