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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2006 Disciplina na modalidade a distância Criminalística e Investigação Criminal

manual de criminalistica investigação criminal

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Palhoça

UnisulVirtual

2006

Disciplina na modalidade a distância

Criminalística e Investigação Criminal

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Criminalística e Investigação Criminal.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância.

Por falar em distância, isso não signifi ca que você estará sozinho.

Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

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Maria Carolina Milani Caldas Opilhar

Criminalística e Investigação Criminal

Palhoça

UnisulVirtual

2006

Livro didático

Design instrucional

Carmen Maria Cipriani Pandini

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Copyright © UnisulVirtual 2006 N enhum a parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer m eio sem a prévia autorização desta instituição.

341.598 O69 Opilhar, Maria Carolina Milani Caldas Criminalística e investigação criminal : livro didático / Maria Carolina Milani Opilhar ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini. – Palhoça : UnisulVirtual, 2006. 122 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 85-60694-33-1 ISBN 978-85-60694-33-4 1. Crime e criminosos. 2. Inquérito policial. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina

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Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho

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Distância Karine Augusta Zanoni (secretária de ensino) Djeime Sammer Bortolotti Carla Cristina Sbardella Grasiela Martins James Marcel Silva Ribeiro Lamuniê Souza Liana Pamplona Maira Marina Martins Godinho Marcelo Pereira Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani

Silvana Henrique Silva

Secretária Executiva Viviane Schalata Martins

Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (coordenador) Ricardo Alexandre Bianchini Rodrigo de Barcelos Martins

Edição – Livro Didático

Professor Conteudista Maria Carolina M ilani Caldas Opilhar

Design Instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini

Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual

Diagram ação Pedro Teixeira

Revisão Ortográfi ca B2B

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Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 – Criminalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

UNIDADE 2 – Metodologia de redação de laudos periciais . . . . . . . . . . . 33

UNIDADE 3 – Investigação policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

UNIDADE 4 – Técnicas de Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

UNIDADE 5 – Limites da Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 117

Sumário

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Palavras da professora

Prezado(a) aluno(a):

O presente livro tem por objetivo estudar a Criminalística e a Investigação Criminal.

Para tanto, inicio apresentando o tema a partir do seu conceito para possibilitar uma compreensão contextualizada sobre o conjunto de conhecimentos acerca da pesquisa, coleta, conservação e exame dos vestígios, possibilitando a realização da prova pericial, que é objeto da criminalística.

Em seguida, você vai estudar mais detalhadamente sobre as perícias, concebidas como as provas técnicas produzidas pelos peritos, de suma importância para apuração da materialidade e autoria do crime.

Você terá a oportunidade de estudar também como se constituem os locais de crime, a importância do isolamento e da preservação de provas na área onde o crime foi cometido e sobre os procedimentos empregados no exame de levantamento de local, possibilitando a confecção do laudo de exame de levantamento de local, de suma relevância à investigação criminal.

O livro aborda, ainda, a metodologia de redação de laudos periciais, que segue padrão metodológico importante para a sua compreensão, na condição de prova técnica e irá conhecer alguns modelos de laudos periciais.

Na parte que aborda a Investigação Criminal, faço breves comentários sobre o conceito e o histórico da Polícia, assunto relevante para compreender a função investigação criminal na atualidade, mencionando as competências das Polícias dispostas pela Constituição

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Federal de 1988, todas atuando nas suas atribuições com a fi nalidade de prover segurança à sociedade.

Em seguida, apresento e discuto o conceito da investigação criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polícias Federal e Civil, dentre outros órgãos, com o objetivo de apurar infrações criminais, amealhando provas técnicas e testemunhais para subsidiar o processo criminal.

Neste estudo, você terá a oportunidade de estudar sobre o inquérito policial, constatando tratar-se de procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de competência exclusiva das Polícias Federal e Civil, no qual a investigação criminal é formalizada. Cito, neste contexto, algumas técnicas de investigação criminal, considerando ser imprescindível ao êxito da atividade investigativa policial à adoção de metodologia e técnicas adequadas.

Por fi m, você terá a oportunidade de conhecer os limites da investigação policial, que necessita atuar sempre respeitando normas materiais e processuais inerentes a um Estado Democrático de Direito. Dentre estas normas, importante mencionar os direitos fundamentais elencados pela Constituição Federal de 1988, porquanto a busca pela prova na atividade investigativa não é absoluta.

Espero que o conteúdo tratado neste livro traga informações e subsídios úteis ao seu cotidiano de trabalho e que possa minimizar os problemas de Segurança Pública existentes no Brasil.

Profa. Maria Carolina

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Plano de estudo

Plano de Estudo

O plano de estudo visa a orientar você no desenvolvimento da Disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da Disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

� O Livro didático.

� O EVA (Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem).

� Atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais).

Ementa

Criminalística. Conceito. Perícias. Locais de crime. Metodologia de redação de laudos periciais. Modelos de laudos periciais. Investigação Criminal. Conceito e histórico da polícia. Conceito de investigação criminal. Conceito de prova. Evolução histórica da prova criminal. Inquérito policial. Técnicas de investigação criminal.

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Carga horária

60 horas-aula.

Objetivos da disciplina

GeralObter conhecimento teórico acerca da criminalística e da investigação criminal.

Específi cos

� Conhecer os conceitos e objetivos da criminalística.

� Descrever as perícias e a sua importância como prova criminal.

� Saber acerca dos locais de crime, a necessidade do isolamento para a preservação das provas e os procedimentos empregados no exame de levantamento de local.

� Conhecer a metodologia aplicada para a redação de laudos periciais.

� Compreender os conceitos e objetivos da investigação criminal.

� Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evolução histórica.

� Conhecer o inquérito policial.

� Descrever as técnicas de investigação criminal e estar apto a aplicá-las.

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Unidades de estudo: 5

Unidade 1 - Criminalística

Unidade 2 - Metodologia de Redação de Laudos Periciais

Unidade 3 - Investigação Criminal

Unidade 4 - Técnicas de Investigação Criminal

Unidade 5 - Limites da Investigação Criminal

Agenda de atividades/ Cronograma

Verifi que com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espaço da Disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura; da realização de análises e sínteses do conteúdo; e da interação com os seus colegas e tutor.

Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da Disciplina.

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Atividades

Avaliação a Distância 1

Avaliação a Distância 2

Avaliação Presencial

Demais atividades (organize sua agenda)

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UNIDADE 1

Criminalística

Objetivos de aprendizagem

� Compreender a Criminalística como um conjunto de conhecimentos científi cos utilizados para a elaboração da prova pericial.

� Estudar as perícias, os locais de crime e os procedimentos empregados no exame de levantamento de local, en fatizando a importância do isolamento da área onde ocorreu o delito.

Seções de estudo

Seção 1 Criminalística: conceituação

Seção 2 Perícias

Seção 3 Locais do Crime

Seção 4 Levantamento pericial: procedimentos empregados no exame do local

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

As Polícias Investigativas mais avançadas priorizam a prova pericial, considerando que, por ser científi ca, é mais difícil de ser refutada, contrariada. Também, as Polícias do Brasil que têm como competência a apuração de crimes vem seguindo este norte.

Concebendo-se a perícia como prova primordial para a elucidação dos delitos, o estudo da Criminalística afi gura-se como de extrema relevância.

Vamos ao estudo, então? Comecemos pelo conceito.

SEÇÃO 1 - Criminalística: conceituação

Não deve lhe ser novidade que a Constituição Federal de 1988 estabelece que a segurança pública, no nosso País, é dever de Estado e é exercida por diversas Polícias. Em seu artigo 144, a Carta Magna defi niu as competências das Polícias, dispondo, dentre outros, que o policiamento ostensivo, preventivo compete à Polícia Militar e a apuração das infrações penais compete às Polícias Federal e Civil, esta também chamada de Polícia Judiciária. As competências das Polícias serão objeto de discussão, porém, serão detalhadas posteriormente.

Você teve a oportunidade de ver, nos estudos anteriores, que a Polícia Civil, via de regra, atua repressivamente, após a prática do crime e o seu objetivo é a elucidação dos delitos, procurando demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelecer as condições em que o crime ocorreu. Este trabalho é feito através da investigação policial.

É interessante notar que a investigação policial é formalizada através de peça preliminar e informativa denominada inquérito policial, o qual subsidia o processo criminal. Após a conclusão do inquérito policial, este é remetido ao Poder Judiciário, que poderá valer-se das provas amealhadas na fase policial durante o processo criminal e na prolatação da sentença.

Neste livro, a autora apresenta como sinônimos os termos infração penal, crime e delito.

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Unidade 1

Neste contexto, o trabalho pericial é de suma importância, para demonstrar materialidade e autoria do crime. Via de regra, a perícia é realizada na fase policial, até porque muitas delas necessitam serem feitas imediatamente ou logo após a prática do crime.

As Polícias Investigativas mais avançadas do mundo têm como prioridade o trabalho pericial, menos sujeito a falhas do que a prova testemunhal. Acerca deste tema Espíndula (2002), discorre:

(...) a prova pericial é produzida a partir de fundamentação científi ca, enquanto que as chamadas provas subjetivas dependem do testemunho ou interpretação das pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à verdade. (ESPÍNDULA, 2002:22).

É importante notar, ainda, que no sistema processual penal brasileiro, as pessoas ouvidas na Delegacia de Polícia são reinquiridas em Juízo, o que pode relativizar o valor probatório do que foi dito na fase policial. Já a prova técnica é científi ca, objetiva, portanto, mais difícil de ser contestada.

No Brasil não há hierarquia entre as provas e o Juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente. É o chamado sistema da persuasão racional adotado pelo artigo 157 do Código de Processo Penal Brasileiro.

Desse modo, temos um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, a princípio, com o mesmo valor probatório. Ocorre que analisando as sentenças criminais verifi ca-se a prevalência da prova pericial sobre as demais, pelos motivos já expostos.

Os laudos periciais são realizados através de conhecimento advindo da Criminalística. A Enciclopédia Saraiva de Direito conceitua Criminalística como sendo:

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(...) Conjunto de conhecimentos que, reunindo as contribuições das várias ciências, indica os meios para descobrir crimes, identifi car os seus autores e encontrá-los, utilizando-se de subsídios da química, da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da psiquiatria, da datiloscopia, etc., que são consideradas ciências auxiliares do Direito penal. (ENCICLOPÉDIA SARAIVA DE DIREITO, v. 21, 1997:486).

Segundo Gilberto Porto, Criminalística pode ser conceituada como:

(...) sistema que se dedica à aplicação de faculdades de observação e de conhecimento científi co que nos levem a descobrir, defender, pesar e interpretar os indícios de um delito, de molde a sermos conduzidos à descoberta do criminoso, possibilitando à Justiça a aplicação da justa pena”. (PORTO, Gilberto, 1960, p.28)

José Del Picchia Filho (1982), preferiu abordá-la como disciplina

(...) que cogita do reconhecimento e análise dos vestígios extrínsecos relacionados com o crime ou com a identifi cação de seus participantes. (DEL PICCHIA FILHO, 1982, p.5).

Segundo Garcia, Criminalística

(...) trata da pesquisa, da coleta, da conservação e do exame dos vestígios, ou seja, da prova objetiva ou material no campo dos fatos processuais, cujos encargos estão afetos aos órgãos específi cos, que são os laboratórios de Polícia Técnica. (GARCIA, 2002, p.319).

A Criminalística é também denominada Polícia Científi ca, Polícia Técnica ou Policiologia, e difere da Criminologia que estuda o perfi l do criminoso, e os motivos que o levaram à prática do crime.São disciplinas que integram a Criminalística, dentre outras, Locais de Crime, Medicina Legal, Balística Forense, Papiloscopia, Documentoscopia, Odontologia Legal, Toxicologia Forense e Hematologia Forense.

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Em Santa Catarina, o trabalho pericial é realizado pelo Instituto Geral de Perícias, que apresenta o organograma abaixo:

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Você que reside em outro Estado, faça uma pesquisa sobre o assunto. Como funciona o Instituto Nacional de Perícias? Socialize a investigação no Espaço Virtual de Aprendizagem. Use o espaço abaixo para registrar sua pesquisa.

Para ampliar seus conhecimentos sobre o conteúdo tratado sugerimos:

DEL PICCHIA FILHO, José. Tratado de documentoscopia. Editora Universitária de Direito: São Paulo. 1982.

GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. Inquérito - Procedimento Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora. 2002 p. 319.

PORTO, Gilberto. Manual de Criminalística. Escola de Polícia de São Paulo. 1960, p.28

- A seguir, você vai estudar o objeto que trata das provas e os procedimentos de perícia.

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Unidade 1

SEÇÃO 2 - Perícias

A investigação policial tem como foco a obtenção de provas criminais que podem ser testemunhais e técnicas.

Prova Criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e das circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas.

Você sabe a diferença entre provas criminais e técnicas?

As provas técnicas são as perícias, realizadas por peritos criminais, e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

Segundo Garcia (2002), perícia (...) é o conjunto de técnicas usadas, visando provar a materialidade do crime e apontar o autor. Um das perícias realizadas trata-se do exame de corpo de delito. O corpo de delito, por sua vez, é o conjunto de vestígios deixados pelo criminoso.

Há diferenciação entre corpo de delito e exame de corpo de delito. Segundo JESUS (2002), o exame de corpo de delito é um auto em que se descrevem as observações dos peritos e o corpo de delito é o próprio crime na sua tipicidade.

Nos crimes que deixam vestígios, o exame de corpo de delito é obrigatório, sob pena de nulidade processual, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal Brasileiro.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Dispõe o artigo 167 do Código de Processo Penal Brasileiro: “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.

Portanto, havendo vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível. Não havendo vestígios, a prova testemunhal é apta a suprir o auto de exame de corpo de delito.

É importante ressaltar que o artigo 159 Código de Processo Penal Brasileiro determina que todos os exames periciais, inclusive o exame de corpo de delito, sejam realizados por dois peritos ofi ciais, onde houver e, nos outros casos, as perícias devem ser realizadas por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame.

Para saber mais sobre o assunto que foi tratado sugerimos:

DAMÁSIO, Jesus. Código de Processo Penal Anotado. 18 ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p.157.

GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora. 2002. p. 319.

SEÇÃO 3 - Locais do crime

Segundo Kedhy,

(...) local de crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que assuma a confi guração de delito e que, portanto, exija as providências da polícia. (KEDHY, 1963:11).

O exame de levantamento de local deve ser diferenciado de acordo com a natureza da ocorrência. Dessa forma, há exame de levantamento de local de homicídio, suicídio, afogamento, furto qualifi cado, acidente de trânsito, dano, estupro, incêndio, disparo de arma de fogo e outros.

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Isolamento e preservação das provas e vestígios essenciais à investigação

O isolamento do local de crime é a primeira providência a ser tomada e é responsabilidade dos policiais e peritos, que devem sempre ter em mente a importância da proteção do local do crime, para a preservação dos vestígios, e, conseqüentemente, para a investigação criminal.

(...) isolamento é a proteção a fi m de que o local permaneça sem alteração, possibilitando, conseqüentemente, um levantamento pericial efi caz.(GARCIA, 2002: 324).

Esclarece Alberi Espíndula (2002) que:

(...) diante da sensibilidade que representa um local de crime, importante destacar que todo elemento encontrado naquele ambiente é denominado de vestígio, o qual signifi ca todo material bruto que o perito constata no local do crime ou faz parte do conjunto de um exame pericial qualquer, que, somente após examiná-los adequadamente é que poderemos saber se este vestígio está ou não relacionado ao evento periciado. Por essa razão, quando das providências de isolamento e preservação, levadas a efeito pelo primeiro policial, nada poderá ser desconsiderado dentro da área da possível ocorrência do delito (ESPINDULA, 2002: 3).

A alteração do local de crime é prevista como infração penal, pelo artigo 166 do Código Penal:

Alterar, sem licença de autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei. Pena – detenção

de um mês a um ano e multa.

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O Código Brasileiro de Trânsito, no artigo 312, também tipifi cou como crime a alteração de local de acidente de trânsito:

Inovar artifi ciosamente, em caso de acidente automobilístico, com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fi m de induzir a erro o agente policial, o perito ou juiz:Pena: detenção de seis meses a um ano, ou multa. Parágrafo único: Aplicar-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o procedimento

preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Dispõe o artigo 169 do Código de Processo Penal Brasileiro:

Para efeito de exame de local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografi as, desenhos ou esquemas elucidativos.

O artigo 6º do Código de Processo Penal enumera as providências que devem ser tomadas tão logo o delegado de polícia tenha conhecimento do fato delituoso. O inciso II deste artigo menciona que a autoridade policial deve apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato. Não obstante, a prática demonstra que nada deve ser alterado até a chegada dos peritos no local, e que apenas após o exame de levantamento de local é possível a apreensão de qualquer material encontrado na cena do crime.

Apenas a título de exemplo, um projétil, parte de uma munição defl agrada, apreendido na cena do crime, pode vir a elucidar a autoria de um homicídio. Através do Laudo de Comparação Balística, tendo como objetos de exame o projétil e a arma de fogo de um suspeito, é possível verifi car se ele foi expelido pelo cano daquela arma. Da mesma forma, um estojo, parte de uma munição defl agrada, sendo objeto de exame com arma de fogo, através de suas marcas de percussão, é possível constatar se foi defl agrado por aquela arma.

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Criminalistica e Investigação Criminal

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SEÇÃO 4 - Levantamento pericial: procedimentos empregados no exame do local

O levantamento pericial é o trabalho pericial realizado nos locais de crime. Após concluído, o levantamento pericial dá origem ao laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia (2002), uma perícia completa de levantamento de local necessita de várias fases a saber:

(...) isolamento, observações prévias ou exame do local, fotografi a, desenho ou croqui, coleta e embalagem de evidências, transporte de evidências, exame das evidências em laboratório, avaliação e interpretação, e redação de laudo. (GARCIA, 2002:326).

Espíndula (2002) elencou alguns procedimentos a serem realizados nos exames de locais de crimes contra a vida, que podem ser, via de regra, utilizados em todos os exames de levantamento de locais. São eles:

Procedimentos anteriores ao exame

a) anotação do endereço do fato;

b) preparação do material utilizado no exame;

c) reconhecimento do tipo de solicitação (natureza do exame);

d) anotação do horário de solicitação do exame.

Exame preliminar da cena do crime: o que é necessário fazer?

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� entrevista com o primeiro policial a chegar no local do fato visando à tomada de informações relativas ao histórico;

� visualização geral da cena do crime e verificação da adequação do isolamento;

� escolha do tipo de padrão a ser utilizado na busca de vestígios (em linha, em grade, em espiral, em quadrantes, etc.);

� formulação dos objetivos do exame;

� busca de vestígios, que deve prever especial atenção às evidências facilmente destrutíveis, tais como: marcas de solado, impressões em poeira, dentre outras.

Anotações gerais da cena do crime: o que registrar?

� data e hora do início dos exames;

� localização exata do evento;

� condições atmosféricas;

� condições de iluminação;

� condições de visibilidade;

� completa análise das vias de acesso;

� descrição do local, com nível de detalhe exigido para cada caso;

� condições topográficas da área.

Croqui da cena do crime: o que é e como fazer?

O croqui é o desenho do local do crime, devendo sempre ser apresentado, independente da complexidade do local. Neste desenho recomenda-se incluir:

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 1

� dimensões de portas, móveis, janelas, caso necessário;

� distâncias de objetos até pontos específicos, como vias de acesso (entrada e saída);

� distâncias entre objetos;

� medidas que forneçam a exata posição das evidências encontradas na cena do crime;

� coordenadas geográficas em locais abertos (obtidas por mapas ou GPS).

Qual a importância das fotografi as da cena do crime?

As fotografi as, internas e externas, são imprescindíveis para a elaboração do laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia, a fotografi a é o mais perfeito dos processos de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma ”reconstituição permanente da ocorrência, que irá permitir futuras consultas”. (GARCIA, 2002:326).

Espíndula (2002), também discorre sobre o processamento do local: coleta, identifi cação e preservação das evidências.

Quais os procedimentos de coleta?

Todas as evidências devem ser coletadas de forma legal, visando à sua admissão como provas em um processo.

Os dois peritos de local devem efetuar a coleta de todas as evidências.

As evidências devem ser anotadas no croqui e fotografas antes da sua coleta.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O que fazer na identifi cação?

Todas as evidências devem ser cuidadosamente identifi cadas. As marcas identifi cadoras podem incluir iniciais, números, etc., os quais permitam ao perito que realiza a coleta reconhecer, em data posterior, cada evidência como aquela coletada na cena do crime.

Qual a importância da preservação?

Cada item das evidências deve ser colocado em um recipiente ou invólucro adequado à natureza de cada material, tais como sacos plásticos, envelopes de papel, caixas que necessitam ser corretamente identifi cados e vedados ou lacrados;

Evidentemente, que técnicas especiais deverão ser aplicadas de acordo com o delito praticado. Algumas recomendações específi cas deverão ser aplicadas nos locais de morte por precipitação, por ação do calor, por arma de fogo, por afogamento, por envenenamento, por aborto e outros.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 1

Síntese

Nesta unidade você teve a oportunidade de ver que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, que a atividade investigativa criminal é realizada, dentre outros, pela Polícia Federal e pelas Polícias Civis dos Estados, estas também chamadas de Polícias Juridiciárias.

A atividade de investigação criminal consiste na apuração dos crimes, que é feita através da busca de provas, periciais ou testemunhais.

As provas periciais são técnicas, realizadas por peritos criminais e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

A pesquisa, coleta e produção das provas periciais compete à Criminalística. Via de regra, o trabalho pericial exige imediatidade. A título de exemplo, o exame residuográfi co de verifi cação de pólvora exige a condução do suspeito imediatamente após a prática do delito. O exame de lesões corporais e de verifi cação de aborto exige lapso temporal curto entre o crime e o exame.

Considerada a importância da prova pericial e científi ca é imprescindível o isolamento e a preservação do local do crime. Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar a produção da prova pericial. Vestígios deixados no local do crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo componente de munição ou projétil componente de munição, encontrado em local de homicídio mediante disparo de arma de fogo, pode, através de perícia, ser prova crucial para demonstrar autoria.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de auto-avaliação

1) Analise as questões abaixo e assinale verdadeiro ou falso, conforme a proposição. Confi ra se atendeu as expectativas no fi nal do livro didático.

( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de estojos no local não é importante, posto que não é possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a arma de fogo.

( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de projéteis no local possibilita a realização do laudo de identifi cação de projéteis e, quando a arma é apreendida, o laudo de comparação balística.

( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é exemplifi cativo.

( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção.

( ) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infração penal não deixar vestígios.

Saiba mais

Para saber mais sobre o conteúdo tratado acesse:

http://www.espindula.com.br e leia o artigo: Função pericial do Estado.

http://www.abcperitosofi ciais.org.br/arti.htm e leia o artigo: Isolamento e preservação de locais de crime com cadáver.

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UNIDADE 2

Metodologia de redação de laudos periciais

Objetivos de aprendizagem

� Conhecer a forma como são elaborados os laudos periciais.

� Conhecer alguns modelos de laudo pericial.

Seções de estudo

Seção 1 O Laudo pericial: caracterização

Seção 2 Modelos de laudo pericial

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Todos aqueles que queiram se aprofundar no tema da segurança pública têm, necessariamente, de saber acerca da importância da prova pericial e conhecer a metodologia de redação dos laudos periciais.

Cabe aos estudiosos do assunto segurança pública estarem aptos a interpretar e avaliar laudos periciais, na sua forma e conteúdo.

SEÇÃO 1 - O Laudo pericial: caracterização

O laudo pericial deve ser simples e preciso, facilmente compreendido e assimilado. Não deve tecer juízos de valor, considerações subjetivas, mas fornecer objetivamente informações técnicas.

Existem diversos tipos de laudos periciais, dentre eles podemos destacar:

a) laudo de levantamento de local,

b) laudo de identificação de projétil, laudo de comparação balística,

c) laudo de verificação de eficácia de arma de Fogo,

d) laudo de exame cadavérico, laudo de constatação de danos, cada qual com as suas peculiaridades.

Não obstante, de forma geral, pode-se defi nir alguns requisitos inerentes a todos os laudos.

Toccheto elenca alguns itens a serem preenchidos na elaboração de laudo pericial relacionado a crimes contra o patrimônio, que, de forma geral, podem ser adotados na confecção dos demais. Veja quais são:

TOCCHETTO, Domingos e ESPINDULA, Alberi. Criminalística. Procedimentos e Metodologias, p.50-54.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

1- Preâmbulo ou histórico.

2- Preliminares.

3- Objetivo da perícia ou quesitos.

4- Dos exames periciais.

5- Considerações técnicas ou discussão.

6- Conclusão e/ou respostas aos quesitos.

7- Fecho ou encerramento.

8- Anexos.

A seguir, você terá a oportunidade de conhecer cada um deles. Vamos lá?

Preâmbulo ou Histórico

Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais.

Fazer, neste tópico, um pequeno histórico da requisição, bem como uma síntese do fato que originou a requisição da perícia e as providências tomadas referentes ao fato. Informações fornecidas por autoridades, funcionários e proprietários devem ser relatados neste item.

Preliminares

Neste tópico, o relator vai consignar as informações referentes à preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. Nos casos de exames em peças, este tópico destina-se à consignação de qualquer fato confl itante entre a requisição e o objeto de exame, tais como número de peças distinto do constante na requisição, peças que não estão discriminadas, objetivos do exame incompatíveis com o tipo de peça a ser examinada.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivo da Perícia ou quesitos

Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na requisição da perícia ou nos quesitos formulados. Não sendo especifi cado na requisição os objetivos da perícia, é de bom alvitre que os peritos descrevam com certa precisão quais são os objetivos periciais pertinentes àqueles exames.

Dos Exames Periciais

Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela perícia. Não é necessário que, nos exames periciais, constem de forma explícita os subitens seguintes, mas seu conteúdo deve obrigatoriamente integrar o texto relativo aos exames periciais:

a) do local: constitui a parte essencial. A descrição deve ser metódica, objetiva, fiel, minuciosa, clara, síntese do observado. Quando os fatos forem variados, convém distribuí-los em capítulos conforme sua natureza e interdependência. Evitar informações, discussões, hipóteses, diagnósticos e conclusões;

b) dos vestígios: partindo-se das indicações (referências) maiores para as menores (detalhes).

Descrever conforme a ordem de maior importância, como o acesso ao terreno, ao prédio, ao cômodo, à gaveta, etc. Aqui devem ser relacionados e devidamente descritos todos os vestígios constatados no exame pericial. Deve-se ater somente à descrição dos vestígios, deixando para o tópico seguinte a respectiva análise e interpretação dos mesmos.

As técnicas ou métodos empregados devem sempre partir do geral para o particular, de exames macroscópicos para exames microscópicos. Quando for empregada mais de uma técnica na realização de um determinado exame, é preciso citá-la na ordem em que a mesma foi aplicada.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

Considerações Técnicas ou Discussão

Do histórico e das descrições (local e vestígios) defl uem as conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de cotejar fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades. Através da discussão asseguram-se conclusões lógicas, afastando-se as hipóteses capazes de gerar confusão, evidenciando-se aquelas que, depois de cotejadas, conduzirão e subsidiarão a conclusão.

Buscar a coerência ou não dos elementos observados e anteriormente citados. Confrontá-los com a normalidade.

Enfi m, relatar neste tópico as análises e interpretações das evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a facilitar a compreensão e entendimento por parte dos usuários do laudo pericial.

Conclusão e/ou respostas aos quesitos

A conclusão pericial inserida no laudo pericial devem ser, obrigatoriamente, uma conseqüência natural do que já fora argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos tópicos anteriores do laudo.

A conclusão deve obedecer a critérios técnicos conforme já recomendados, ou seja: somente quando nos restar uma possibilidade para aquele evento, sob a ótica técnico-científi ca é que pode-se concluir de forma categórica.

Para chegar-se a essa única possibilidade, têm-se apenas duas situações viáveis.

A primeira situação é quando, no conjunto dos vestígios constatados e examinados, há um que, por si só, determinante. Obviamente que vestígio determinante, neste caso, deve estar caracterizado pela sua condição autônoma associada ao seu signifi cado no evento em estudo. Em muitos casos, este vestígio determinante pode estar associado a outros elementos de convicção técnico-científi ca. Veja exemplo para entender melhor esse conceito.

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Impressão digital individualmente é um vestígio determinante, mas, se for encontrado um desses vestígios no local do crime, não quer dizer que foi identifi cado o autor do crime e por conseqüência trata-se de um homicídio.

Por outro lado, em um local de incêndio, a constatação de múltiplos focos iniciais não é um vestígio determinante por si só, mas se restar comprovado que tais focos eram isolados ou incomunicáveis, e em conjunto com as observações anteriores, nos locais correspondentes aos focos forem retiradas amostras de materiais que apresentem resultados positivos em exames laboratoriais, em pesquisa de vestígios de hidrocarbonetos voláteis, o grau de clareza da ação dolosa será determinante para a caracterização e materialização do delito.

A segunda situação em que os peritos poderão ter apenas uma possibilidade será em um universo de vários vestígios, onde nenhum deles por si só seja determinante, mas apenas probabilísticos, e que, no seu conjunto de informações técnico-científi cas levem a uma única possibilidade.

Todavia, existem várias situações em que os peritos poderão ter vários vestígios relacionados com o fato, onde nenhum deles por si seja determinante. Neste caso, os peritos deverão apontar quais são e descrevê-los. Existem, por vezes, situações em que, apesar da existência de vestígios, mesmo analisando-os em seu conjunto, não será possível chegar a uma defi nição quanto ao diagnóstico. Neste caso, os peritos não poderão fazer qualquer afi rmativa conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestígios existentes são quantitativa e qualitativamente insufi cientes para se chegar a uma conclusão categórica.

Há, ainda, a situação na qual, através do seu exame ou de sua análise, não se observem vestígios materiais capazes de fundamentar uma conclusão. Neste caso deve-se constar no laudo que, face à exigüidade de vestígios, não há elementos técnicos através dos quais possa ser fundamentada uma conclusão categórica.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

Mesmo que não seja possível uma conclusão categórica em uma determinada perícia, deve-se constar no laudo o tópico correspondente e, nele informada a impossibilidade de conclusão face aos motivos que devem ser mencionados (exigüidade de vestígios, falta de preservação, etc.) , de forma clara e explicativa, porém, poderá ser levantada uma causa mais provável.

Então, não sendo possível concluir um laudo pericial, para auxiliar no contexto geral das investigações e, posteriormente, à justiça, o perito deverá tomar todo o cuidado, tanto no exame quanto no texto dessas argumentações.

Em alguns casos concretos, os peritos terão condições de eliminar algumas admissibilidades ou hipóteses, e, com isso, delimitarem o trabalho dos investigadores de polícia, e, posteriormente, da justiça. A eliminação de algumas das possibilidades na verdade é uma conclusão pela sua exclusão, e, portanto, deve seguir o mesmo rigor técnico-científi co já mencionado.

O técnico-científi co se refere à técnica criminalística e o científi co às demais leis da ciência. O perito poderá se valer, para as suas conclusões, ou de alguma técnica criminalística já consagrada ou de alguma lei da ciência de qualquer área do conhecimento científi co, ou de ambas, de acordo com cada situação.

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Fecho ou Encerramento

Analise um modelo de laudo e verifi que os elementos que ele contém.

Modelo de fecho ou encerramento de laudo pericial

Este laudo, composto por (...) páginas impressas em seu anverso, foi feito em duas vias de igual teor, pelos peritos da Seção de Crimes Contra o Patrimônio, estando ambas as vias autenticas com a rubrica dos seus subscritores, acompanhadas pelos anexos (citar quais os anexos e o número dos mesmos), bem como se devolve todo o material, descrito no tópico documentos de exame, lacrados no envelope nº ..

Local e data

Nome dos peritos.

Classe e/ou cargo

Anexos

É necessário incluir, ao fi nal, todos os anexos que foram produzidos e que sejam necessários para acompanhar o laudo, visando a melhor compreensão do mesmo, tais como, resultado de exames complementares, fotografi as, gráfi cos, relatórios de outros peritos/profi ssionais, etc.

No entanto, considerando os avanços da informática, muitos recursos gráfi cos podem ser inseridos ao lado, ou logo abaixo, da parte do texto a que se refere tal assunto. Especialmente para evidenciar algum detalhe que o texto esteja se referindo naquele momento da argumentação. As fotografi as, quando digitais ou digitalizadas, podem seguir esse mesmo critério.

SEÇÃO 2 - Modelos de laudos Periciais

Seguem abaixo alguns modelos de laudos periciais. Este modelos foram extraídos da obra “Inquérito e Procedimentos Policial” (GARCIA, 2002:397-398, 415-416, 448-449).

Analise atentamente cada um deles:

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

a) LAUDO DE EXAME DE DOCUMENTOS

Aos... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalística, pelo Diretor LL foram designados PP e PQ para proceder ao exame pericial de documento, a fi m de ser atendida requisição do Bel. AA, Delegado Titular do 1ª DP, conforme Ofício nº ....

Peças Motivantes

Trata-se de manuscritos apostos em um pedaço de papel sem pauta medindo aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm.

O documento encontra-se colado em uma folha de papel sem pauta apresentando no canto superior direito “24-Z”.

Trata-se de envelope que apresenta manuscritos feitos com caneta dita esferográfi ca, tinta preta. Encontra-se ele endereçado a SS e está colado a uma folha em branco, apresentando no canto superior direito o n. “25-z”.

1. Peças Paradigmáticas

Como espécimes de confronto, contamos com padrões autênticos de JJ e JL, contidos em Auto de Colheita de Material Gráfi co Autêntico, coletados pela Polícia Civil de São Paulo – DEGRAN – através do Dr. AB.

3 – Dos Exames

As peças motivantes e paradigmáticas foram examinadas a olho nu e por meios óticos adequados em busca e de hábitos gráfi cos característicos que, uma vez determinados, foram confrontados entre si para uma possível origem comum ou não. Fotomacrografi as foram tomadas, e os assinalamentos necessários foram permitindo assim um controle da conclusão pericial.

4 – Quesitos e Respostas

1º - O autor do Auto de Colheita de Material Gráfi co Autêntico, JJ, é também autor das escritas gravadas no bilhete de fl s. 24, doc 05 e envelope, doc06, fl s. 25?

Resposta: sim

Para que dois grafi smos sejam aceitos como do mesmo punho, é necessário que em ambos os seguintes valores sejam convergentes:

A) habilidade gráfi ca;

B) hábitos gráfi cos;

C) que não haja divergências estruturais entre os dois grafi smos.

(...)

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Universidade do Sul de Santa Catarina

na carta de confronto em anexo, 01 a 07, os assinalamentos mais preponderantes estão em quantidade e qualidade sufi cientes para afi rmarmos que as peças motivantes foram produzidas por JJ.

(...)

É o nosso relatório.

Obs: O material examinado é devolvido com o presente laudo.

Goiânia, ....... de....... de........

PP PQ

1º Perito 2º Perito

b) LAUDO DE EXAME DE ARMA DE FOGO

Aos ... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia Civil, pelo Diretor LL, foram designados os peritos PP e PQ para proceder ao exame pericial em arma de fogo, a fi m de ser atendida requisição do Bel AA, Delegado do 1º Distrito Policial, através do Ofício nº.

1 – Características das Peças Examinadas

Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um estojo calibre nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como uma arma de fogo, curta e de porte, classifi cada como pistola semi-automática, tendo as seguintes características:

a) Marca Beretta;

b) Fabricação italiana;

c) N de série 683C09;

d) Calibre nominal 7.65mm;

e) Mecanismo de percussão central, cão aparente e pino percursos isolado;

f) Carregamento por pente;

g) Coronha guarnecida por talas de plástico pretas com inscrição “Cb.BN”(lateral esquerda), bem como com o logotipo da marca da arma;

h) Dimensões: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de diagonal máxima;

i) Acabamento oxidado, em desgaste;

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

j) OBS: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental

2 – Funcionamento da arma

O estado geral da arma é bom, não apresentando suas peças quaisquer anomalias que impeçam seu funcionamento. Está apta à realização de disparos

3 – Quesitos e Respostas

a) Quais as características da arma periciada?

Resposta_ ver item 1.

b) No estado em que se encontra, está em perfeitas condições de uso?

Resposta: Sim, ver item 2.

c) A munição que a acompanha é do mesmo calibre da arma, e qual o seu estado?

Resposta: Sim, estado em condições de uso. Seu calibre corresponde ao da arma, ou seja, 7,65mm.

d) Há evidências de disparo recente?

Resposta: Ver laudo químico.

e) O pedaço de chumbo pertence ao mesmo calibre da arma?

Resposta: O pedaço de chumbo a que se refere o quesito é um projétil de arma de fogo calibre nominal 7.65mm, que, inclusive foi expelido pela arma de fogo aqui periciada. Portanto, a resposta não só é afi rmativa, como também identifi ca a arma que o expeliu. Ver fotos 1 e 2.

É o relatório.

OBS: O material examinado é devolvido com o presente.

Goiânia,... de.... de ....

PP PQ

1º Perito 2º Perito

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Universidade do Sul de Santa Catarina

c) LAUDO DE EXAME CADAVÉRICO

Aos... dias do mês de ... de ...., no Necrotério do Instituto Médico-Legal, nós, médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame CADAVÉRICO no cadáver que nos foi apresentado como sendo de SS (qualifi cação completa), no qual observamos:

Descrições das lesões: 1 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 cm de diâmetro, com área de chamuscamento, localizada na região bucinadora (cochecha) direita, com trajeto transfi xando a língua e ramo mandibular esquerdo, com saída na região bucinadora contra-lateral; 2 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 com de diâmetro, com área de chamuscamento e câmara de mina, localizada na região parietal esquerda, logo acima do pavilhão auricular (orelha), transfi xante, com grande destruição de massa encefálica, com saída na região carotideana direita, logo abaixo do pavilhão auricular; 3 – sem outras lesões. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder aos quesitos.

1º - Houve morte? Resposta: Sim, houve morte.

2º - Qual a causa da morte? Resposta: Hemorragia intracraniana

3º - Qual o instrumento ou meio que a produziu?

Resposta: Pérfuro-contundente

4º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfi xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?

Resposta: Prejudicado

5º - Qual a data do óbito? (especifi car hora, dia, mês e ano); Resposta: Óbito dia .../.../..., às 17 h.

Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos ... dias do mês de .... de ....

PP PQ

1º Médico-Legista 2º Médico-Legsita

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

d) LAUDO DE EXAME DE LESÕES CORPORAIS

Aos... dias do mês de ...., no Gabinete do Instituto Médico-Legal, nós, médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame de corpo de delito - LESÕES CORPORAIS - a pessoa que nos foi apresentada como sendo SS (qualifi cação completa), na qual observamos:

DESCRIÇÃO DAS LESÕES: 1 - cicatriz de ferida pérfuro-cortante, medindo 3 cm de extensão, localizada no hipocôndrio esquerdo, próximo ao rebordo costal; 2- cicatriz de incisão cirúrgica, mediana, medindo 25 cm de extensão, localizada na linha média do abdome; 3 – cicatriz de incisão cirúrgica, medindo 2 cm de extensão, localizada no fl anco esquerdo (dreno); 4 – relatório de lesões, cujo teor é o seguinte: “Aos .../.../.., examinei SS e constatei o seguinte: estado geral comprometido. Lesões apresentadas: 1 – ferida penetrante no abdome, no hipocôndrio esquerdo; 2 – choque hipovolêmico, Instrumento: arma branca. Tratamento: cirúrgico, ressecção de estômago devido à laceração extensa; reposição sangüínea; antibióticos, soroterapia. Seqüelas que futuramente poderão se apresentar: distúrbio digestivo. Afastamento de suas ocupações por 40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM – GO 007”. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder os seguintes quesitos:

1º - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente? Resposta: Sim.

2º - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Pérfuro-cortante.

3º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfi xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?. Resposta: Prejudicado.

4º - Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias? Resposta – Sim

5º - Resultou perigo de vida? Sim, devido à lesão penetrante no abdome com a laceração do estômago e devido ao estado geral comprometido produzido por choque hipovolêmico que necessitou de cirurgia e de reposição sangüínea.

6º - Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função? Resposta: Sim, debilidade permanente da função digestiva.

7º - Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável ou deformidade permanente? Resposta: Não

8º - Resultou aceleração de parto ou aborto? Resposta: Não

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos ... dias do mês de .... de ....

PP PQ

1º Médico-legista 2º Médico-Legista

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

Síntese

O laudo pericial deve ter linguagem clara, acessível e as informações devem ser objetivas, sem haver juízos de valor.

O laudo pericial deve ser formado por:

1. Preâmbulo ou histórico.

Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais.

2.Preliminares.

Neste tópico o relator vai consignar as informações referentes à preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais.

3.Objetivo da perícia ou quesitos.

Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na requisição da perícia ou nos quesitos formulados.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 2

4.Dos exames periciais.

Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela perícia.

5.Considerações técnicas ou discussão.

Do histórico e das descrições (local e vestígios) defl uem as conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de cotejar fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades.

6.Conclusão e/ou respostas aos quesitos.

7.Fecho ou encerramento.

8.Anexos.

Atividades de auto-avaliação

Leia as questões a seguir e responda com base no conteúdo. Verifi que no fi nal do livro as indicações e comentários.

1. Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal?

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Universidade do Sul de Santa Catarina

2. Que tipo de prova é o laudo pericial?

3. O laudo pericial é sempre conclusivo?

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos tratados nesta unidade você pode assistir:

Filme: “Seven”. (EUA). Lançado em 1995. Gênero: Policial. Duração: 128 min. Direção: David Fincher.

Ou, então, ler:

Artigo: “Laudo pericial e outros documentos técnicos”.

Disponível em: http://espindula.com.br/default4.htm. Acessado em 17 de julho de 2006.

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UNIDADE 3

Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem

� Compreender o conceito e o histórico da Polícia.

� Contextualizar a investigação criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polícias Federal e Civil, dentre outros órgãos.

� Identifi car os procedimentos de apuração de infrações criminais, provas técnicas e testemunhais para subsidiar o processo criminal.

� Identifi car procedimentos de prova criminal e o seu histórico, a partir dos pontos relevantes para compreender o sistema de provas brasileiro da atualidade.

� Conhecer o inquérito policial percebendo-o como procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de competência exclusiva das Polícias Federal e Civil, no qual a investigação criminal é formalizada.

Seções de estudo

Seção 1 Conceito e histórico da polícia

Seção 2 Conceito de investigação criminal

Seção 3 Conceito de prova

Seção 4 Evolução histórica da prova criminal

Seção 5 Inquérito policial

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Universidade do Sul de Santa Catarina

THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à Prática da Polícia Judiciária, 1997, p.10.

Para início de estudo

Para que você compreenda como é exercida a atividade estatal de segurança pública brasileira na atualidade, é imprescindível que verifi que quais são as polícias existentes que integram este sistema e quais suas respectivas funções. Dessa forma, saberá quais polícias serão responsáveis pela investigação criminal.

Importante, também, verifi car o que é investigação criminal, inquérito policial e prova criminal, e saber quais os tipos de provas já foram aceitáveis em tempos passados e como é o sistema de provas da atualidade.

SEÇÃO 1 - Conceito e histórico da polícia

A palavra Polícia é vocábulo derivado do latim “politia”, que por sua vez, procede do grego “politeia”, que signifi ca, segundo Th omé, (...)administração da cidade.

Segundo o mesmo autor, Polícia pode ser defi nida como:

(...) instrumento de utilidade e que passa a ser responsável pela investigação das infrações penais cometidas e pela política de disciplina e restrição empregada a serviço do povo.

Marcineiro (2001), conceitua Polícia como sendo:

(...) a organização administrativa que tem por atribuição impor limitações à liberdade (individual ou de grupo) na exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da ordem pública (...). No entanto, a polícia mais visível a todos é a de segurança pública e por isso mesmo todos tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo (...) a polícia se especializa e hoje, se apresenta com duas funções: a polícia preventiva (administrativa), de proteção individual e coletiva e a polícia judiciária, ou seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de auxílio à justiça penal (investigação científi ca dos crimes). (MARCINEIRO, 2001: 47,48).

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 3

Segundo Tourinho Filho (2001),

(...) a Polícia é o órgão incumbido de manter e preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio (TOURINHO FILHO, 2001:27).

Você já teve a oportunidade de ler o que dispõe o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 com relação à segurança pública. Diz o artigo:

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Portanto, às Polícias Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente na prevenção dos delitos.

De outro lado, é interessante que você perceba que a atuação principal das Polícias Federal e Civis ocorre após a prática do crime, na repressão dos delitos. Apuram materialidade e autoria das infrações penais, por meio da função investigativa.

O que cabe à Polícia Federal?

À Polícia Federal cabe a apuração das infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, além de prevenir e reprimir o tráfi co ilícito de entorpecentes e drogas afi ns, o contrabando e o descaminho, nos termos do artigo 144, § 1º, I e II da Constituição Federal de 1988.

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Segundo Silva, Democracia é “(...) um regime político em que o poder repousa na vontade do povo”. In: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo,1999, p.130.

O que cabe à Polícia Civil?

A Polícia Civil, também chamada de Polícia Judiciária, tem competência residual, tendo a função de apurar as infrações penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuições da Polícia Federal e as infrações da alçada militar, de acordo com o artigo 144, § 4º, da Carta Magna.

A Polícia como organização surgiu em 1829, na Inglaterra, com a criação da Polícia Metropolitana de Londres, considerada a primeira organização policial do mundo.No Brasil, a história da Polícia tem início apenas no século XIX, ano de 1808, com a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil, em decorrência das invasões napoleônicas no continente europeu. Segundo (MARCINEIRO e PACHECO, 2001:15).

Inicialmente, segundo Th omé (1997), a ação militar em defesa da posse, a função policial e a função de julgar não estavam separadas. A atividade investigativa fi cava sob a responsabilidade dos magistrados, em especial dos Juízes de Paz. Com o rápido crescimento das atividades econômicas e sociais, fez-se necessária a organização dos serviços policiais.

Segundo Marcineiro e Pacheco, (2001), a origem da Polícia Judiciária, como organização, ocorreu em 1841, com a promulgação da Lei no. 261, de 03 de dezembro, que apresentava uma organização policial incipiente, criando em cada província um Chefe de Polícia, com seus delegados e subdelegados escolhidos dentre os cidadãos.

A partir da promulgação da república, em 1889, a Polícia passou a atuar de acordo com o modelo político vigente. Na democracia a Polícia tinha como foco a segurança pública dos cidadãos, e, nos períodos ditatoriais, a Polícia tinha como prioridade salvaguardar a segurança nacional estatal, o que fi ca evidenciado pelos dispositivos que versavam sobre segurança pública, inseridos nas Constituições Federais que se sucederam.

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Segundo Canotilho (1999), “(...) garantias são os meios processuais adequados à proteção dos direitos. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 1999, p.372.

Importante a diferenciação que Marcineiro e Pacheco, na obra Polícia Comunitária. Evoluindo para a Polícia do Século XXI, p.33, fazem entre segurança nacional e segurança pública: a primeira com sendo a defesa do Estado e a segunda como tendo o foco na segurança da sociedade.

A atual Constituição Federal de 1988 é fruto de uma redemocratização, iniciada em 1985, após vinte e um anos de regime de exceção. Promulgada em um Estado Democrático de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos individuais.

Nesse contexto, a Polícia passa a ter o dever de prestar serviços respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguardá-las.

SEÇÃO 2 - Conceito de investigação criminal

Você sabe o que signifi ca investigar? Que sentido esta palavra assume no contexto da segurança pública?

Segundo Bueno (1977), investigar signifi ca

(...) indagar, pesquisar, fazer diligências para achar, (...), descobrir. (BUENO, 1977:685).

É um ato instintivo do homem que o faz movido pelo princípio inteligente e pelo instinto de curiosidade. Você concorda? Muito bem, vamos adiante e contextualizando.

A investigação policial é atividade de natureza sigilosa exercida por policial ou equipe de policiais determinada por autoridade competente que, utilizando metodologia e técnicas próprias, visa a obtenção de evidências, indícios e provas de materialidade e de autoria do crime.

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A investigação policial, ou investigação criminal, é atividade policial direcionada à apuração das infrações penais e de sua autoria. É o trabalho realizado por policiais, especialmente delegados e seus agentes, procurando esclarecer a autoria e materialidade de delitos, bem como as circunstâncias em que ocorreram. Estas circunstâncias são detalhes de fatos criminosos com a preocupação de melhor identifi car as pessoas com eles relacionados e o próprio objeto do crime, visando reunir elementos probatórios para o indiciamento ou não e posterior encaminhamento à apreciação judicial.

Qual o objetivo da Investigação criminal?

O objetivo da investigação criminal é amealhar provas criminais, para comprovar materialidade e autoria do delito.

- A seguir você vai estudar sobre a prova e seu conceito.

SEÇÃO 3 - Conceito de prova

Como dito, o objetivo da investigação criminal é a busca das provas criminais necessárias para a elucidação do crime.

O vocábulo “prova” origina-se do latim probatio, que por sua vez emana do verbo probare, com o signifi cado de demonstrar, reconhecer, formar juízo sobre um fato.

De Plácido e Silva (1978), A prova consiste, pois, na demonstração da existência ou da veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou que se contesta.(De PLACIDO e SILVA, 1978: 1253).

Segundo Greco Filho (1997:196), a prova é todo meio destinado a convencer o juiz a respeito da verdade de uma situação de fato.

GRINOVER, FERNANDES E GOMES FILHO diferem fonte de Prova, meio de Prova e objeto da Prova: “Pode-se, assim, distinguir entre fonte de Prova (os fatos percebidos pelo juiz), meio de Prova (instrumentos pelos quais os mesmos se fixam em juízo) e objeto da Prova (o fato a ser Provado, que se deduz da fonte e se introduz no processo pelo meio de Prova)”. (GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As Nulidades no Processo Penal,1982, p.106).

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CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; Cândido Rangel.Teoria Geral do Processo, 2003, p.348.

(CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; 2003: 348).

Todas as afi rmações de fato feitas pelo autor, bem como as afi rmações feitas pelo réu, que normalmente se contrapõem àquelas, podem ou não corresponder à verdade. De acordo com Cintra,

as dúvidas sobre a veracidade das afi rmações de fato feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a propósito de dada pretensão em juízo, constituem as questões de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, à vista da prova dos fatos pretéritos relevante.

Portanto, a prova constitui o instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo.

Especifi camente com relação à prova criminal, pode-se afi rmar que é aquela utilizada para demonstrar a ocorrência ou não de uma infração penal e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. As provas criminais formam a convicção a respeito da autoria e materialidade da infração penal, das condições de antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos necessários para fundamentar uma decisão condenatória ou absolvitória.

Em síntese, a prova criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas.

SEÇÃO 4 - Evolução histórica da prova criminal

O sistema probatório, no Processo Penal Brasileiro, adotou o modelo europeu-continental, fazendo-se importante uma breve análise das origens deste modelo.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a história da civilização, estando fortemente condicionados por circunstâncias históricas e culturais.

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Na Antigüidade, a religião era a força propulsora das organizações rudimentares e, posteriormente, das cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis e religião se misturavam. Coulange (1996) menciona que o respeito dos antigos às leis advinha da crença de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham origem sagrada. (COULANGE, 1996:152).

Esta foi uma época em que os homens não conheceram a liberdade individual, pois não se tinha a mais leve idéia sobre a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes. Foi neste período em que se instituíram as ordálias ou juízos de Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crença de que Deus não deixaria de sustentar o Direito do inocente, estes no pressuposto de que ninguém se atreveria a tomar Deus como testemunha de uma falsidade.

Santos (1970), conceitua ordália como “sendo a submissão de alguém a uma prova, na esperança de que Deus não o deixaria sair com vida ou sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade ou fosse culpado.” (SANTOS, 1970:25).

Segundo Santos (1970), as ordálias constituíram a prova suprema usada pelos germanos primitivos e os povos antigos da Ásia, não tendo aplicação entre os romanos, que, segundo Sznick conheceram e fi zeram uso da tortura contra seus escravos na Antigüidade. (SZNICK, 1978:24).

Durante muitos séculos na Idade Média, com o domínio absoluto dos bárbaros na Europa, as ordálias também tiveram aplicação. Segundo

Santos, (1970:26) na prova pelo fogo se fazia o acusado carregar uma barra de ferro em brasa por certa distância, ou caminhar, com os pés nus, sobre ferros candentes, e a prova pela água fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos do fundo de uma caldeira de água fervente, sendo o acusado absolvido se não restassem lesões e condenado no caso contrário.

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Montesquieu (1996), menciona que a prova pela água fervente podia ser substituída, a critério do acusador, por certa quantia e pelo juramento de algumas testemunhas que declarassem que o acusado não havia cometido o crime. (MONTESQUIEU, 1996: 553).

Acerca dos juramentos, Santos (1970) analisa:

Compreende-se facilmente a inclusão do juramento entre os velhos sistemas probatórios, que se refl ete na infl uência exercida pelas religiões sobre os homens e as organizações sociais da Antigüidade e da Idade Média, bem como na circunstância de ser quase impossível, numa época em que a escrita não existia, colherem-se provas testemunhais, dada a pouca densidade da população e a própria natureza patriarcal dos agregados humanos. Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento decorria da própria necessidade (...). (SANTOS, 1970:

30-31).

Com a desmoralização do juramento, instituiu-se como instituto probatório o duelo, também chamado combate judiciário.

No fi nal da época medieval e durante a Idade Moderna surgiram, na Europa, os tribunais da inquisição, período em eram tidos como hereges os que contrariavam os dogmas ofi ciais da Igreja Católica.

Mas para que a tortura era utilizada? Qual a fi nalidade?

Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997) menciona que a tortura era utilizada ofi cialmente nos interrogatórios, na presença dos juízes, com a fi nalidade de obter a confi ssão. (COTRIN, 1997:157).

Novinski (1982) nomina este método de “inquisitivo”, atuante nos séculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos interesses de todas as facções do poder: coroa, nobreza e clero. (NOVINSKY, 1982:47).

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Considerando a difi culdade de se obter outros meios de prova, a confi ssão do acusado representava o objetivo primordial do procedimento inquisitório. Enfocando a tortura, Gomes Filho (1997), menciona: somente ela podia fornecer a certeza moral a respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia vez à confi rmação de uma verdade já estabelecida.(GOMES FILHO, 1997:22).

No que se refere à valoração das provas, é neste período que surgiu o sistema das provas legais, pelo qual cada prova tinha seu valor previamente determinado, e somente a combinação destas autorizaria uma condenação criminal.

A tortura clássica tornou-se mecanismo regulamentado e legalizado de Prova. Segundo Foucault, (2002) a tortura é um jogo judiciário estrito (...), o paciente é submetido a uma série de provas, de severidade graduada, e que ele ganha agüentando ou perde confessando. (FOUCAULT, 2002:36).

Ortega (1998), discorrendo sobre o sistema jurídico-penal e processual penal, nos séculos XVI e XVII, na Europa, menciona que a tortura tratava-se de peça fundamental no processo, utilizada para obter a confi ssão do réu, e era diferenciada de acordo com a classe social a que pertencia o indivíduo, estando a nobreza sujeita à tortura apenas nos delitos considerados extremamente graves. Portanto, o princípio da igualdade era inexistente naquela época. (ORTEGA, 1998:463)

Sobre este tema, Beccaria (1993), autor da obra Dos Delitos e Das Penas, escrita no século XVIII, cuja essência é a defesa do indivíduo contra as atrocidades e arbitrariedades daqueles tempos, e que infl uenciou a reforma de muitos Códigos Penais e Processuais Penais Europeus, manifestou-se afi rmando que a tortura é muitas vezes um meio seguro de condenar o inocente fraco e de absolver o criminoso robusto. (BECCARIA, 1993:36).

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BENTHAM, Jeremias.Tratado de Las Pruebas Judiciales. p.316. “La tortura, empleada para arrancar las confesiones, se encamina a suplir la insufi ciencia de las pruebas. En el supuesto de que el delito no está probado, qué hace el juez? Ordena atormentar a una persona, en la duda de si es inocente o culpable”.

Valiente (2002), sintetiza algumas das idéias defendidas por Beccaria, na obra citada: a mudança do processo inquisitivo para o acusatório, público, com meios de prova claros e racionais; a igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a proporcionalidade entre os delitos e as penas; a nítida separação entre a religião e o Estado e seus Poderes, desvinculando os conceitos de pecado e delito; a supressão total da tortura e da pena de morte; e a preferência dos métodos preventivos aos repressivos; idéias estas que continuam a infl uenciar os sistemas penais e processuais penais atuais. (VALIENTE, 2002:161,162)

Para Bentham, a tortura era empregada para suprir a defi ciência dos meios probatórios da época: “A tortura, empregada para arrancar as confi ssões, objetiva suprir a defi ciência das provas. Supondo que o delito não está provado, que faz o juiz? Ordena atormentar uma pessoa, na dúvida de ser inocente ou culpado”. (tradução da autora).

Sabadell (2002), discorrendo sobre a tortura ofi cializada afi rma:

A tortura judicial está vinculada ao sistema de provas legais, desenvolvido a partir do século XIII pelos doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base é a classifi cação sistemática das provas romanas, segundo o método escolástico, em graus: provas plenas, semiplenas, indícios e presunções. Acima da prova plena está o notorium. Por meio deste instituto era concedida a dispensa de produção de provas em determinados casos. (SABADELL, 2002:275).

Sabadell (2002), conceitua notorium como sendo a prova à qual se deve dar a máxima credibilidade, já que, diferentemente das demais provas, não se permite que se estabeleça nenhuma discussão ou questionamento.

Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, inexistia a concepção de direitos individuais, havendo sempre a prevalência do interesse público em detrimento do indivíduo, o que se coaduna com o sistema inquisitório. A confi ssão era a regina probatium* e o depoimento de uma só testemunha não possuía valor probatório (testis unus, testis nullus**).

*tradução: rainha das Provas (cf. CALDAS, Gilberto. O Latim no Direito. p.495;

** tradução: uma só testemunha equivale a nenhuma testemunha. (cf. CALDAS, Gilberto. O Latim no Direito. p.308.

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cf. GOMES FILHO. Antônio Magalhães. Direito à Prova no Processo Penal, 1997, p.28-29.

Em matéria de processo penal, o princípio da inocência do acusado era desconhecido, as provas não eram reunidas para apurar uma possível responsabilidade penal do réu, sendo que esta era constituída por cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado.

De acordo com Sabadell (2002),

(...) a existência de uma meia prova implicava a consideração do réu como meio culpado. Um grau alcançado na demonstração da culpa (prova semiplena), implicava, conseqüentemente, um determinado grau de punição, incluindo a autorização para o uso da tortura. Em outras palavras, não se torturava um inocente, e sim um meio culpado, para confi rmar a suspeita legalmente criada de que ele era realmente culpado. (SABADELL,

2002:278).

Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer da história. É importante, também, mencionar os sistemas de valoração de prova, além do já citado sistema das provas legais.

Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o submeteu a modifi cações para facilitar a sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas.

Os ideais iluministas postulados pela Revolução Francesa romperam com o sistema inquisitivo, e, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, conferiram maior liberdade aos juízes na apreciação da prova e na indicação dos motivos da convicção.

Tratava-se do sistema da íntima convicção. Tais ideais foram uma reação ao sistema inquisitório e à doutrina das provas legais. Vêm ao encontro de um sistema probatório que respeita o ser humano enquanto sujeito de direitos e garantias individuais, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e o direito ao contraditório.

Segundo Grinover (1982), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, advinda da Revolução Francesa, consagrou a escola do Direito Natural, “selando a concepção

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CAPEZ, Fernando.Curso de Processo Penal. 2002, p.267.

da existência de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, não criados, mas reconhecidos por este”.

Acerca desta Declaração, menciona Bobbio (1992),

(...) o núcleo doutrinário da Declaração está contido nos três artigos iniciais: o primeiro refere-se à condição natural dos indivíduos que precede a formação da sociedade civil; o segundo, à fi nalidade da sociedade política, que vem depois (...) do estado de natureza; o terceiro, ao Princípio de legitimidade do poder que cabe à

nação. (BOBBIO, 1992:93).

Segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem - art. 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e Direitos”; art. 2º: “O objetivo de toda associação política é a conservação dos Direitos naturais e imprescritíveis do homem”; art. 3º:”O Princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que aquela não emane expressamente”. Disponível em:

<http://www.gila.net/legislação.net/internacional/declaração_Direitos_homem_cidadao_1789.htm>. Acesso em 14.12.03.

Gomes Filho (1997:55) entende que uma verdadeira Justiça penal pressupõe o reconhecimento, à defesa, do poder de produzir provas contrárias às da acusação, a fi m de obter-se não uma verdade extorquida inquisitoriamente, mas uma verdade obtida através de meios probatórios produzidos pelas partes.

Gomes Filho (1997:31) afi rma que em 1808, o Code d’instruction criminelle francês instituiu a combinação entre os padrões inquisitório e acusatório, infl uenciando os demais ordenamentos continentais e representando, até os dias atuais, o modelo inspirador da maioria das legislações.

A doutrina passou a postular limitações à íntima convicção do juiz, e, segundo esta nova concepção, o juiz só estaria autorizado a condenar se, além de convencido, estivesse amparado por um mínimo de elementos probatórios. Passou-se a postular pelo sistema da persuasão racional, também chamado por Capez de

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Código Processual Penal Brasileiro, (ano), art. 157: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova”.

Oportuna a transcrição deste trecho da Exposição de Motivos do Código Processual Penal Brasileiro. Trecho extraído da Exposição de Motivos do Código Processual Penal Brasileiro, no capítulo que discorre sobre Provas.

sistema da livre (e não íntima) convicção, da verdade real ou do livre convencimento.

Conforme Colucci (1988):

Num terceiro estágio, em respeito ao contraditório, fi xou-se como pressuposto do direito de defesa o conhecimento pelas partes dos caminhos percorridos pelo juiz ao julgar (persuasão racional), cedendo-se ao julgador liberdade de valoração da prova, desde que acompanhada de demonstração lógica dos motivos da decisão. A motivação das sentenças e decisões de modo geral, tornou-se verdadeira garantia individual, evitando-se que a excessiva liberdade na avaliação das provas transformasse o processo penal em instrumento de opressão e terror, em vez de protetor das liberdades públicas. (COLUCCI, 1988:237-250).

O sistema probatório de persuasão racional foi adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro - Decreto-Lei n.3689, de 03.10.1941-, através do seu artigo 157.

Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem é prefi xada uma hierarquia de provas: na livre apreciação destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua convicção. A própria confi ssão do acusado não constitui, fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor decisivo, ou nec essariamente maior prestígio que outra. Se é certo que o juiz fi ca adstrito às provas constantes dos autos, não é menos certo que não fi ca adstrito a nenhum critério apriorístico no apurar, através delas, a verdade material. Nunca é demais, porém, advertir que livre convencimento não quer dizer puro capricho de opinião ou mero arbítrio da apreciação das Provas. O juiz está livre de preconceitos legais na aferição das Provas, mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo. Não estará ele dispensado de motivar sua sentença. E precisamente nisto reside a sufi ciente Garantia do Direito das partes e do interesse social.

Através do sistema da persuasão racional, não há hierarquia entre as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente e, considerando-se a visão sistêmica, obedecendo à Constituição da República, o Código

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de Processo Penal e demais legislações vigentes. Tal motivação não se faz necessária apenas nas decisões do júri, considerando a soberania dos vereditos e o sigilo das votações, preceituados no artigo 5º, XXXVIII, da Carta Magna.

De outro lado, os meios de prova mencionados no Código de Processo Penal são apenas exemplifi cativos, admitindo-se as provas inominadas.

Acerca deste sistema, entende Capez (2002), que:

(...) atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na medida em que exige motivação. Não basta ao magistrado embasar a sua decisão nos elementos probatórios carreados aos autos, devendo indicá-los especifi camente. Não pode, igualmente, o magistrado buscar como fundamento elementos estranhos aos autos.

(CAPEZ 2002:267).

Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas constitucionais e infraconstitucionais.

Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como verdadeiro direito garantido às Polícias, à acusação e à defesa, assegurado pela leitura coordenada da Constituição da República, e por textos legais internacionais.

SEÇÃO 5 - Inquérito policial

Como você viu anteriormente, o objetivo principal das Polícias Civil e Federal é a investigação criminal, que procura demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelece as condições em que o crime ocorreu.

Mas, a investigação criminal não é atividade exclusiva destas Polícias. O Ministério Público, Congresso Nacional, Polícias Militares e outros órgãos podem exercer atividade investigativa.

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O inquérito policial é de atribuição exclusiva das Polícias Federal e Civil.

Após a prática da infração penal, cabe à Polícia Judiciária a apuração imediata do delito, por meio da investigação policial, cujos atos e resultados deverão ser formalizados, via de regra, através do inquérito policial.

O auto de prisão em fl agrante, previsto no Código de Processo Penal Brasileiro, o termo circunstanciado, previsto nas Leis Federais n. 9099/95 e n. 10259/2001, e o auto de apuração de atos infracionais, previsto no Código da Criança e do Adolescente (Lei Federal n. 8069/90), também são procedimentos policiais que podem ensejar investigação. Considerando que, de forma geral, os atos investigativos são praticados no inquérito policial, este estudo aborda apenas este.

Segundo Tourinho Filho (2001:25) inquérito policial (...) é o conjunto de diligências realizadas pela Polícia visando a investigar o fato típico e a apurar a respectiva autoria.

Via de regra, a notícia de um crime chega ao conhecimento da autoridade policial através do boletim de ocorrência, mediante requisição ministerial ou judicial, ou ainda, mediante requerimento de qualquer pessoa.

A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de polícia determinar a instauração do inquérito policial, onde se diligenciará para buscar provas demonstrando materialidade e autoria do crime, o que é feito através da investigação.

As atividades são as mais diversas de acordo com o delito praticado, declarações de vítimas; depoimentos de testemunhas; interrogatório de suspeito e/ou indiciado; representações por mandados de busca e apreensão, prisões, quebra do sigilo telefônico, quebra do sigilo bancário, quebra de sigilo fi scal; requisição de todas as perícias necessárias; realização de acareações, avaliações reconhecimentos pessoais, fotográfi cos; e outros.

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Todos estes atos são formalizados no inquérito policial, não existindo um rito pré-estabelecido para a atividade investigativa. Estas têm uma seqüência determinada pela autoridade policial que estiver presidindo o inquérito policial, em face da necessidade da realização desta ou daquela diligência, de acordo com as peculiaridades da infração penal praticada.

O inquérito policial apresenta a forma escrita; é de natureza inquisitiva, em que o princípio do contraditório não é considerado; é sigiloso; é, de forma geral, de iniciativa obrigatória e indisponível; após a sua instauração, não pode ser arquivado pelo delegado de polícia, nos termos do artigo 17 do Código de Processo Penal Brasileiro.

O artigo 6º. Do Código de Processo penal Brasileiro delibera quanto aos procedimentos da Polícia Judiciária na apuração dos delitos, destacando-se:

a) Comparecimento e preservação do local.

b) Apreensão dos instrumentos e todos os objetos relacionados com o fato.

c) Coleta de todas as provas do fato e de suas circunstâncias.

d) Oitiva do ofendido ou da vítima; se for possível.

e) Oitiva do indiciado.

f) Reconhecimento de pessoas e coisas e acareações.

g) Exame de corpo de delito, se for o caso.

h) Identifi cação datiloscópica do indiciado, se for o caso.

i) Investigação sobre a vida pregressa do indiciado, inclusive seus antecedentes criminais.

j) Reprodução simulada dos fatos, se for o caso.

Para que a investigação policial tenha resultado e o inquérito policial seja concluído comprovando materialidade e autoria do crime, faz-se necessária a aplicação de técnicas investigativas. Quando o crime, cabe à Polícia realizar planejamento específi co, detalhando quais atividades investigativas serão realizadas, em que tempo, e defi nindo as técnicas a serem aplicadas. Não se pode contar com a improvisação e com a sorte no que concerne à investigação policial.

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- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

Síntese

As polícias existentes no Brasil e suas atribuições estão descritas na Constituição Federal de 1988. Através da Carta Magna, verifi camos que cabe à Polícia Federal e às Polícias Civis dos Estados, também chamadas Polícias Judiciárias, a função investigativa criminal, ou investigativa policial.

Investigação criminal é a atividade voltada à apuração das infrações penais, através da elucidação da materialidade e autoria dos delitos. Para tanto, busca-se amealhar provas criminais, concebida como aquelas utilizadas para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a história da civilização, estando fortemente condicionados por circunstâncias históricas e culturais.

O sistema de provas foi sendo alterado com o transcorrer dos tempos. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, vigia o sistema de provas legais, que eram previamente determinadas e hierarquizadas, sendo a confi ssão considerada aquela de maior valor, nominando-a de “rainha das provas”.

O sistema das provas legais passou por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o submeteu a modifi cações para facilitar a sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas.

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Unidade 3

Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que conferiu diversos direitos e garantias ao homem até então não existentes, surgiu o sistema da livre apreciação de provas, em que o juiz tinha total liberdade na valoração das provas e nas suas decisões processuais, decisão absolutória ou condenatória, fi cando isento de motivar as suas sentenças absolutórias ou condenatórias.

Após abusos praticados nas sentenças, criou-se o sistema da livre convicção, verdade real ou persuasão racional, no qual a obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais e das sentenças tornou-se verdadeira garantia individual. Este sistema foi o adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro vigente.

Além das Policias mencionadas, outros órgãos exercem função investigativa, dentre eles, Congresso Nacional, Assembléias Legislativas dos Estados, Ministério Público.

Ocorre que, o inquérito policial é de atribuição exclusiva das Polícias Federal e Civis.

Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é exemplifi cativo.

( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção.

( ) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do processo criminal.

( ) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

2. Responda a seguinte questão:

Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais devem estar voltados prioritariamente à indicar e localizar o autor do crime ou à busca da verdade?

Saiba mais

Para complementar seus conhecimentos você pode ler:

Texto: Inquérito Policial – Sigilo irrestrito. Disponível em:

http://www.direitonet.com.br/textos/x/15/73/1573

Artigo: Flagrante efi ciente. Disponível em:

www.http://www.damasio.com.br/?page_name=art_05_2005&category_id=31

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UNIDADE 4

Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem

� Estudar técnicas de investigação policial.

� Identifi car a função das Polícias Investigativas e verifi car qual a relação com a investigação experimental e suas respectivas técnicas.

� Conhecer e técnicas como o interrogatório, infi ltração policial, informante e vigilância.

Seções de estudo

Seção 1 Interrogatório

Seção 2 Infi ltração policial

Seção 3 Informante

Seção 4 Vigilância

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Universidade do Sul de Santa Catarina

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. Idéias e Ferramentas Úteis para o Pesquisador do Direito, 2003, p.107.

Para início de estudo

Para iniciar os estudos desta unidade considero oportuno que você conheça termos-chave para a compreensão do que se pretende abordar. Assim, fi cará mais fácil o entendimento do conteúdo desenvolvido nas seções que seguem. Vamos lá? Comecemos com a palavra “técnica.”

O que é técnica?

Bem, Técnica, de acordo com Pasold (2003), (...) é um conjunto diferenciado de informações, reunidas e acionadas em forma instrumental, para realizar operações intelectuais ou física, sob o comando de uma ou mais bases lógicas de pesquisa.

Então, podemos dizer que a investigação necessita de técnicas que assegurem um trabalho lógico, seqüencial, pautado pelas garantias individuais e coletivas do cidadão, na busca imparcial da verdade objetivando cumprir o dever do Estado, na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Visa à investigação policial resposta para as perguntas: (hectâmetro).

a) Quem?

b) O que?

c) Onde?

d) Com que auxílio?

e) Por que?

f) De que maneira?

g) Quando?

Agora veremos o que é um procedimento. Mas, como essa palavra pode ser defi nida?

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Unidade 4

Procedimento é o conjunto dos atos pelos quais se ordenam e se exercitam, sob determinados preceitos legais, os meios necessários para instruir a causa e assegurar ou restabelecer uma relação jurídica controvertida.

Então, na investigação policial podemos dizer que procedimento é o conjunto dos atos policiais que tem por objetivo colher as provas da infração penal. Concorda?

O procedimento se consubstancia nos diversos atos policiais no decorrer das investigações e a técnica representa a maneira como o procedimento é realizado.

A investigação é direcionada de acordo com os diferentes tipos de delitos, guardando características próprias e peculiares em função dos mesmos.

É um estudo profundo de um problema, com a fi nalidade de descobrir fatos novos. Tanto a investigação quanto a análise se baseiam no exame completo de um problema concreto. A investigação será realizada a fi m de obter informação sobre um tema, nela se procura, sobretudo, recolher e organizar informações básicas.

Na seqüência, você terá a oportunidade de conhecer algumas técnicas policiais mais comumente usadas num processo de investigação. Vamos lá?

SEÇÃO 1 - Interrogatório

Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo penal. O procedimento do interrogatório encontra-se disposto nos artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram todos alterados pela Lei n. 10792, de 1.12.2003.

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No âmbito policial, denomina-se interrogatório o ato em que o suspeito ou indiciado pela prática da infração penal presta depoimento formalmente nos autos, perante a autoridade policial. Usualmente conceitua-se declaração como sendo a inquirição da vítima e depoimento a inquirição da testemunha. Evidentemente que as técnicas ora mencionadas também podem ser aplicadas durante a tomada de declarações da vítima ou a tomada de depoimento de testemunha.

O interrogatório deve sempre ser orientado através de técnica, chamada técnica de interrogatório. O interrogador tem o dever de conhecer o fato que investiga, melhor do que o investigando, a fi m de que saiba fazer as perguntas com pertinência, segurança e sabedoria, demonstrando fi rmeza e seriedade.

A preparação é importante porque é comum o autor da infração penal, embora confessando o delito, fazê-lo de forma a se benefi ciar, diminuindo as conseqüências penais, alegando, por exemplo, uma legítima defesa putativa ou uma injusta provocação da vítima, etc.

Dessa forma, é importante que o interrogador busque, de forma técnica, elucidar o crime, tentando sempre buscar a verdade dos fatos.

Quais as técnicas de interrogatório?

Técnicas de abordagem dos fatos

Os fatos acontecem dentro de uma estrutura de tempo, espaço, ação e resultado. Entretanto, quando alguém vai narrá-los, nem sempre o faz obedecendo a uma seqüência real desses fatos dentro daquela estrutura. Pode acontecer que o interrogador, em favor da investigação, não tenha interesse de obter a narrativa de maneira ordenada.

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Unidade 4

Estas técnicas foram mencionadas em aulas expositivas no Curso de Formação para Delegado de Polícia – Ministradas na Academia da Polícia Civil de Santa Catarina. Ano 1998.

Assim, levando-se em conta a seqüência como um interrogado pode narrar os fatos que estão sendo investigados, o interrogador pode se valer de cinco técnicas, a saber: da seqüência memorial; da seqüência dos fatos; da seqüência embaralhada; da seqüência protaitiva, e da seqüência retroativa:

� A experiência tem demonstrado que a prática de um delito, via de regra, quebra a rotina de quem o pratica, tanto por força das atividades necessárias à perpetração do delito, como em razão dos cuidados que se toma para ocultar os fatos. Isto não pode deixar de ser levado em conta por quem investiga.

� Por essa razão, é importante buscar apurar onde e com quem o suspeito ou indiciado esteve durante todo o dia do crime, manteve contatos ou encontros com pessoas estranhas, ausentou-se de casa ou do trabalho sob qualquer pretexto, se saiu mais cedo ou chegou mais tarde, etc.

� Dessa forma, a seqüência como os fatos serão abordados deve obedecer a critérios técnicos que sejam de pleno conhecimento e domínio do interrogador.

A aplicação de técnicas na atividade investigativa consiste no uso da inteligência. O policial que faz uso da violência na investigação, além de incidir em conduta criminosa também não prima pelo raciocínio inteligente, promovendo resultados negativos para o caso específi co e para a Instituição Policial.

O emprego de técnicas no transcurso do interrogatório norteia o interrogador para que demonstre conhecimento e segurança acerca do delito que investiga, e obtenha objetivamente a informação desejada.

Técnica da Seqüência Memorial

Esta técnica tem aplicação quando a pessoa que estiver sendo inquirida se prontifi ca a narrar os fatos espontaneamente. A seqüência com que os fatos são narrados depende da lembrança que interrogando tenha das circunstâncias do fato.

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Muitas vezes o interrogando inicia a sua fala pelo ato executório e depois desordenadamente vai narrando as demais circunstâncias, por parte, na medida em que estas vão lhe surgindo na memória.

Técnica da Seqüência dos Fatos

Esta técnica procura abordar o acontecido levando em conta a seqüência em que os fatos se desenrolaram, percorrendo a narrativa do início ao fi m do delito.

Para aplicação desta técnica faz-se necessário que a pessoa que estiver sendo inquirida demonstre a vontade de expor os fatos, devendo o interrogador conduzir a narrativa para que os fatos sejam relatados de forma clara e dentro da seqüência dos próprios acontecimentos, quando, como e porque iniciou, como se desenvolveu e como e quando terminou.

Técnica da Seqüência Embaralhada

Esta técnica aplica-se quando há indícios de que a pessoa que está sendo inquirida optou por mentir acerca dos fatos que se investiga.

O interrogador deve, então, embaralhar ao máximo os pontos já abordados, induzindo o interrogando a erro, para que não consiga responder com encadeamento, lógica e coerência às perguntas feitas, fazendo-a constatar que a sua versão dos fatos não condiz com as demais provas materiais e testemunhais amealhadas. Somente uma narrativa real e verdadeira se sustentaria harmônica diante desta técnica.

Técnica da Seqüência Protaitiva

É a técnica pela qual o interrogador parte de um determinado momento que pode ser de horas ou dias antes do crime e vai avançando no tempo, buscando esclarecer as atividades e convivências da pessoa que se interrogando, levando-se em conta o tempo decorrido, a partir do momento estabelecido pelo interrogador.

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Estas técnicas foram mencionadas em aulas expositivas no Curso de Formação para Delegado de Polícia – Ministradas na Academia da Polícia Civil de Santa Catarina. Ano 1998.

A experiência tem demonstrado que para esconder atividades e encontros relacionados com a preparação e execução do crime, o suspeito ou indiciado acaba inventando situações que são facilmente desmentidas posteriormente.

Técnica da Seqüência Retroativa

Esta técnica percorre o tempo de forma inversa aos acontecimentos.

Parte de um determinado momento que pode ser da comunicação do delito ou de sua execução e vai retroagindo no tempo até um determinado horário, cujas evidências indiquem como sendo o tempo gasto para o suspeito ou indiciado cogitar, preparar e executar o delito.

Técnicas de Comportamento

São técnicas que tratam da postura, da forma como o interrogador deve se comportar frente ao interrogando.

Técnica da Espontaneidade

É a técnica que deve ser utilizada para o início de um interrogatório.

Consiste em permitir que o interrogando, espontaneamente, sem qualquer interferência do interrogador, narre livremente o fato criminoso. Por esta técnica, o interrogando faz uma narrativa dos fatos por ele praticados; da forma mais livre possível.

Através desta técnica, o interrogador se comporta de forma amigável com o interrogando, dando a este um grau de liberdade maior nas suas colocações.

Ainda que a narrativa não corresponda àquilo que já foi apurado nos autos, o interrogador não deverá interferir, tudo registrando fi elmente, inclusive não deixar transparecer que não está acreditando na versão apresentada. Se a versão for mentirosa, certamente não resistirá ao crivo da investigação séria, profi ssional e criteriosa. A verdade virá naturalmente à tona.

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Todavia, é interessante que perceba que nem todo autor de crime confessa o fato espontaneamente e aí se faz necessário o emprego de outras técnicas para se chegar à verdade.

Técnica da Indução

Caracteriza-se pela formulação de perguntas ao interrogando que o induzam, pela própria maneira como são formuladas, a dar uma resposta certa e objetiva.

A técnica da indução permite ao interrogador direcionar o diálogo. Através desta técnica o interrogador discute as circunstâncias do delito e elucida pontos relevantes mencionados durante a narrativa espontânea.

O que caracteriza esta técnica é a formulação de perguntas bem elaboradas que induzam o interrogando a dar uma resposta certa, precisa, sobre este ou aquele momento do delito, sobre esta ou aquela circunstância não esclarecida.

As perguntas devem ser claras, diretas e de preferência curtas, para que não paire dúvidas ao interrogando sobre a resposta que deverá dar.

O interrogador jamais deve contar o fato que investiga ao interrogando, pois assim fazendo correrá o risco de prejudicar a busca da verdade.

De um modo geral, ainda que o interrogando resolva narrar os fatos espontaneamente, difi cilmente o fará de forma completa, isso acontece tanto intencionalmente, como por qualquer outro motivo, como esquecimento e até mesmo por desconhecer este ou aquele detalhe.

Assim, pela técnica da indução, formulando perguntas bem elaboradas, leva-se o interrogando a, se tiver mentido na narrativa espontânea, não conseguir sustentar a sua versão dos fatos.

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Técnica da Persuasão

Esta técnica tem por objetivo persuadir, convencer o investigando a primar pela verdade dos fatos. Assim o policial deve argumentar com os benefícios da lei, mostrando ao interrogando que somente tem a ganhar se disser a verdade. Evidentemente, o interrogador jamais deve inventar benefícios legais inexistentes.

As Leis Federais de números 8.072/1990 e 9.269/1996, prevêem diminuição da pena de um a dois terços para o concorrente que confessa o delito, delatando os demais participantes.

A Lei Federal n. 9.807/1999, em seu art. 13, dispõe que o juiz poderá conceder o perdão judicial, com a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação ou processo criminal.

A Lei Federal n. 9034/95, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, no seu artigo 6º, menciona a colaboração efi caz, ou delação premiada, que consiste em um instrumento que permite ao indiciado, em troca da diminuição de pena, fornecer informações que propiciem o desmantelamento de organização criminosa da qual faça parte, ou que tenha conhecimento das suas atividades.

Entre as atenuantes do crime, há a confi ssão espontânea, prevista no art. 65, inciso III, letra “d” do Código Penal Brasileiro, constituindo um incentivo à confi ssão.

Outros argumentos ainda podem ser utilizados pelo interrogador, tais como a possibilidade de responder o crime em liberdade, em face da primariedade, bons antecedentes, residência fi xa, emprego e profi ssão certos, etc.

Além dos benefícios legais, que outros que podem ser sustentados?

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Art. 5º, LXIII, da Constituição Federal de 1988: “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.

O primeiro argumento é de que, uma vez esclarecido o fato criminoso cessa a perseguição da polícia, que sempre causa transtornos à vida pessoal, social e profi ssional de alguém.

Sabe-se que o silêncio do interrogado não pode ser interpretado em prejuízo a sua defesa, nos termos do artigo 5º, LXIII, da Constituição Federal de 1988.

Não obstante, esta atitude motiva a intensifi cação das investigações.

A cessação da pressão social e da imprensa também pode constituir um forte argumento para convencer uma pessoa a esclarecer o delito.

Técnica do Desmentido

Esta técnica consiste em relacionar e mostrar ao suspeito que está faltando com a verdade, mostrando a ele todas as controvérsias que seu interrogatório apresenta, oferecendo a ele, após, a oportunidade de dizer a verdade. Com paciência, o interrogador deve aguardar a reação do suspeito, agindo sempre com calma e segurança.

Após a aplicação desta técnica, deve-se retornar à técnica da espontaneidade.

Técnica do Questionamento

Consiste em questionar o que foi dito pelo indiciado e que não estiver de acordo com o que se apurou. Deve-se indagar acerca do que foi alegado pelo indiciado que esteja mal esclarecido.

Técnica da Alternância

Consiste na aplicação das técnicas mencionadas acima, com o diferencial de que, a aplicação de cada técnica deve ser feita por policial diferente, alterando-se, portanto as técnicas e seus aplicadores.

Cada policial deverá estar plenamente certo da técnica que irá aplicar, além de conhecer com a maior profundidade possível o fato delituoso que estiver sendo apurado.

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Esta técnica tem proporcionado bons resultados práticos, pois é muito comum o investigando, no decorrer da aplicação das técnicas, escolher um dos policiais para revelar a verdade, por ter maior afi nidade com ele do que com os demais.

Técnica da Informação Cruzada

Aplica-se esta técnica nos casos em que se investiga dois ou mais co-autores ou partícipes do delito, e quando a versões dos fatos oferecidas por eles sejam controversas.

Deve ser aplicada por um único policial, de maneira que se mantenha um perfeito domínio sobre os pontos abordados e que estes sejam explorados com todos os interrogandos.

É importante inquirir os suspeitos separadamente impossibilitando que um deles tome conhecimento das declarações dos demais.

Quando o interrogador verifi ca que existem divergências, questionar o interrogando cuja versão esteja em desacordo com o conjunto probatório podendo realizar acareação entre os suspeitos, a fi m de elucidar os fatos.

É interessante que você perceba que a acareação deve ser breve e se restringir apenas ao ponto em que houve controvérsia.

Do Emprego do Detector de Mentiras

Diferentemente de outros Países, o detector de mentiras não é utilizado no Brasil, sabendo-se que ele busca afetar psicologicamente o suspeito.

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SEÇÃO 2 - Infi ltração policial

A infi ltração policial trata-se de técnica operacional efi caz, que permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização criminosa, obtidos pelo policial infi ltrado.

Apresenta elevado risco para o policial infi ltrado, pelo que requer planejamento e preparação. Deve ser realizada por

tempo determinado, mediante prévia autorização judicial e, preferencialmente, sob acompanhamento do Ministério Público.

No Brasil, em descompasso com a maioria dos países mais avançados no tocante à repressão ao crime, a infi ltração até bem pouco tempo não era permitida. Foi inserida no sistema processual penal brasileiro pela Lei n. 10217/01, que alterou a redação do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95:

Art. 2º. Em qualquer fase da persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas:.................................................V – infi ltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada

autorização judicial.

Trata-se de uma técnica de investigação que objetiva obter informações, mediante o recrutamento e posterior inserção de pessoas, em determinado ambiente, sob a proteção de uma história-cobertura.

A infi ltração visa a atingir, entre outros, os seguintes objetivos: obter informações ou provas; constatar se um crime está sendo planejado ou realizado; determinar o momento oportuno para a realização de uma operação policial; identifi car pessoas envolvidas em um crime.

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SEÇÃO 3 - Informante

A técnica do informante permite estabelecer procedimentos uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas (informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e, portanto, possuem informação de grande valia.

Existe a necessidade de sua regulamentação através de diretrizes gerais, a serem seguidas pelos órgãos policiais, que contemplem o acompanhamento e fi scalização pelas Corregedorias de Polícia.

SEÇÃO 4 - Vigilância

A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica de pessoas, veículos, lugares e objetos com a fi nalidade de obter informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito freqüentemente, a vigilância é a única técnica de investigação a que se pode recorrer para averiguar a identidade dos fornecedores, transportadores e compradores de drogas ilícitas.

O planejamento de uma operação de vigilância, seja a pé ou por outros meios, deve levar em conta a possibilidade de uma contra-vigilância, por parte do suspeito ou de seus cúmplices, por meios similares, incluídas as contramedidas eletrônicas.

Quais os tipos de vigilância existentes?

De modo geral, existem três tipos de vigilância:

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a) Vigilância móvel: em que o investigador segue um indivíduo a pé ou em um veículo.

b) Vigilância fixa: que consiste em vigiar continuamente, a partir de um ponto fixo, um local, objeto ou pessoa.

c) Vigilância eletrônica: na qual se utilizam aparatos eletrônicos, mecânicos ou de outra índole para interceptar o conteúdo de comunicações orais ou telefônicas.

Quais os são objetivos de uma operação de vigilância?

� Obter provas de um delito.

� Proteger agentes encobertos ou corroborar seu testemunho.

� Localizar pessoas observando seus conhecidos e os lugares que freqüentam.

� Testar a confiabilidade de informantes.

� Localizar bens escondidos ou contrabando.

� Impedir que se cometa um ato criminoso ou prender uma pessoa no momento em que comete o delito.

� Obter informações que possam ser utilizadas em interrogatórios.

� Obter pistas e informações graças aos contatos mantidos com outras fontes.

� Determinar onde se encontra uma pessoa a qualquer momento.

� Obter provas admissíveis nos tribunais.

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Uma das primeiras medidas que antecedem qualquer operação de vigilância é a designação do policial coordenador. Nas operações em que participam vários policiais, deve ser preparado um plano tático que preveja as eventualidades e especifi que a função de cada um dos policiais, a dura ção da vigilância, as substituições. Além disso, deve-se estabelecer um sistema seguro de comunicação com os superiores e uma coordenação central. Também devem ser combinados sinais para a comunicação entre os policiais da vigilância.

Na seqüência, você tem a oportunidade de ver mais pormenorizadamente aspectos da vigilância eletrônica, considerando a sua ampla utilização e sua previsão legal.

a) Vigilância eletrônica

A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias, algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É extremamente importante que se levem em conta essas limitações potenciais à estratégia de investigação, e se atue de acordo ao planejar as operações de vigilância eletrônica.

A vigilância eletrônica é um aparato investigativo que ocasiona excelentes resultados operacionais, destacadamente no combate ao crime organizado e ao tráfi co de drogas.

Para utilizar efi cazmente os diversos aparatos e técnicas requeridas por esse modo especializado de investigação, é necessário receber instrução e capacitação especializadas.

Considerando a abrangência do tema, é oportuno destacar que o estudo procurou enfocar a vigilância que se cumpre como recurso de investigação policial, mediante a captação de conversações ambientais e a interceptação de comunicações telefônicas.

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b) Captação de conversações ambientais

No que concerne à captação de conversações ambientais, a Lei Federal n. 10217/2001 instituiu no sistema jurídico brasileiro esta modalidade de vigilância eletrônica. A Lei Federal n. 10217/2001 acrescentou o inciso IV, ao artigo 2º da Lei Federal n. 9034/1995, disciplinando expressamente acerca da captação e interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, bem como o seu registro e análise.

c) Interceptação de comunicações telefônicas

Mendes, (1999), como a maioria dos doutrinadores, considera interceptação telefônica a captação, por terceiro, de conversa telefônica, sem ou com o conhecimento de um ou de ambos os interlocutores. Quando feita por um dos interlocutores, a captação é chamada gravação de conversa telefônica. A prova obtida mediante gravação de conversa telefônica será objeto de comentário posteriormente.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XII estabelece: (...) é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fi ns de investigação criminal ou instrução processual penal.

Anteriormente à previsão constitucional o fundamento legal utilizado para a interceptação era o artigo 57, inciso II, alínea “e” da Lei n. 4117/62 (Código Brasileiro das Telecomunicações), que, excepcionando o princípio constitucional, admitia fossem violadas as comunicações, desde que judicialmente autorizadas e (...) para fi ns de investigação criminal ou prova em processo penal.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a quebra do sigilo das comunicações passou a ter tratamento constitucional, porém, exigindo necessária regulamentação por lei ordinária, no entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, inclusive do Supremo Tribunal Federal.

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Unidade 4

Em 1996, entrou em vigor a Lei Federal n. 9296/96 que regulamentou o inciso XII, parte fi nal, do artigo 5º, da Constituição Federal e tratou das interceptações telefônicas. O parágrafo único do artigo 1º da Lei n.9296/96, Lei n. 9296/96, artigo 1º, § único: “O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fl uxo de comunicações em sistemas de informática e telemática” estendeu a sua abrangência à interceptação do fl uxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. A discussão doutrinária acerca da legalidade deste dispositivo será comentada oportunamente.

A Lei n. 9296/96 prevê diversas exigências para a concessão de interceptação telefônica, tais como:

� a interceptação deve ser utilizada como prova em investigação criminal e em instrução processual penal;

� infração penal apurada deve ser punida com pena de reclusão;

� requerimento deve ser feito pela autoridade policial, na investigação criminal, ou pelo representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal;

� necessidade de ordem judicial;

� prazo máximo de interceptação de quinze dias, prorrogável por igual período, comprovada necessidade;

� procedimento deve tramitar em segredo de justiça;

� exigência de realização de auto circunstanciado após o término da interceptação, constando o resumo das operações realizadas.

A mencionada Lei, em seu artigo 10º, previu:

Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.Penal – reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

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Com o advento da Constituição Federal de 1988, que inseriu diversos direitos e garantias individuais muitas vezes limitadoras da busca da prova criminal, e também em razão dos crescentes índices da criminalidade, os agentes estatais que realizam investigação viram-se obrigados a se aperfeiçoar no exercício profi ssional e a se pautar em técnicas efi cazes à atividade investigativa.

Dessa forma, técnicas e procedimentos passaram a ser adotados. Nesse contexto, recursos como técnicas de interrogatório, infi ltração, uso de informantes e vigilância são cada vez mais utilizados pelas Polícias investigativas na elucidação dos delitos.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

Síntese

A atividade investigativa afi gura-se como trabalho lógico e seqüencial que objetiva a apuração das infrações penais, através da coleta de provas criminais.

Dessa forma, é imprescindível ao êxito desta atividade a adoção de procedimento, que se consubstancia na escolha dos diversos atos policiais no decorrer das investigações e a técnica representa a maneira como o procedimento é realizado.

Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo penal. O procedimento do interrogatório encontra-se disposto nos artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram todos alterados pela Lei n.10792, de 1.12.2003.

Algumas técnicas investigativas foram estudadas nesta unidade.

- Interrogatório

É o ato em que o suspeito ou indiciado pela prática da infração penal presta depoimento formalmente nos autos, perante a autoridade policial. As técnicas de interrogatório também podem ser utilizadas na inquirição da vítima e testemunha.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 4

As técnicas de interrogatório são as seguintes:

1.Técnicas de abordagem dos fatos: da seqüência memorial, da seqüência dos fatos, da seqüência embaralhada, da seqüência protaitiva e da seqüência retroativa.

2. Técnicas de comportamento: da espontaneidade, da indução da persuasão, do desmentido, do questionamento, da alternância, da informação cruzada.

- Infi ltração

A infi ltração policial trata-se de técnica operacional efi caz, que permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização criminosa, obtidos pelo policial infi ltrado. Requer planejamento e preparação e foi inserida no sistema processual penal brasileiro está pela Lei 10217/01, que alterou a redação do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95.

– Informante

A técnica do informante permite estabelecer procedimentos uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas (informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e, portanto, possuem informação de grande valia.

- Vigilância

A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica de pessoas, veículos, lugares e objetos, com a fi nalidade de obter informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito freqüentemente, a vigilância é a única técnica de investigação a que se pode recorrer para averiguar a identidade dos fornecedores, transportadores e compradores de drogas ilícitas.

A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias, algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É extremamente importante que se leve em conta essas limitações potenciais à estratégia de investigação, e atue de acordo ao planejar as operações de vigilância eletrônica.

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São modalidades de vigilância eletrônica, a captação de conversações ambientais e a interceptação de comunicações telefônicas.

A captação de conversações ambientais encontra-se prevista no inciso IV, do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95. Este inciso foi acrescentado pela Lei Federal n. 10217/2001.

A interceptação de comunicações telefônicas encontra-se disciplinada pela Lei Federal n. 9296/96.

Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela Constituição Federal de 1988.

( ) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas e outros dados importantes.

( ) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam interrogados conjuntamente.

( ) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado no Código de Processo Penal Brasileiro é apenas exemplifi cativo.

( ) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação ambiental e a interceptação telefônica.

( ) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 4

2. Responda à seguinte questão:

Indivíduo ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça, durante uma conversação, este realiza gravação telefônica ou interceptação telefônica? Por quê? Justifi que sua resposta.

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos leia o:

Artigo: “Violação da intimidade por intermédio de interceptação telefônica, escuta telefônica e gravação clandestina-prova-sua validade na persecução criminal.” Disponível em:

http://direitonetcombr/artigos/x/24/32/2432

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UNIDADE 5

Limites da Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem

� Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evolução histórica.

� Relacionar a prova às manifestações e aos princípios constitucionais de garantia dos direitos fundamentais.

Seções de estudo

Seção 1 Sobre as provas: história e garantias constitucionais

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Para a manutenção de um Estado Democrático de Direito é necessário que a atividade estatal seja limitada por direitos e garantias individuais.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, tida como garantista, instituiu diversos direitos individuais ao cidadão que devem ser respeitados e acabam por limitar a atuação policial investigativa na busca da prova. Também outras normas infraconstitucionais elencam direitos individuais, de ordem material e processual.

A Constituição da República explicita, dentre outros, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e moral, à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade espiritual, da expressão intelectual, artística e científi ca, do domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos e o direito à não produzir prova contra si próprio. Todos devem ser considerados na investigação criminal.

Como você já teve a oportunidade de ver, a investigação policial almeja a apuração da materialidade e autoria dos crimes, mediante a obtenção de provas criminais.

Nesta unidade você terá a oportunidade de estudar sobre as provas, sua história e como elas se inserem no ordenamento jurídico brasileiro e concebidas no âmbito dos direitos e princípios constitucionais.

Vamos lá ? Comecemos, então, com um pouco de história.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 5

SEÇÃO 1 - Sobre as provas: história e garantias constitucionais

Num Estado Democrático de Direito a busca pela prova na investigação policial não é absoluta, encontrando limites expressos constitucional e infraconstitucionalmente.

A prova, instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo, sempre foi infl uenciada pelo contexto histórico, social e cultural da civilização.

Você sabia?

Que durante a Antigüidade e parte da Idade Média, quando a religião era o valor supremo das organizações e desconheciam-se os direitos fundamentais, instituiriam-se as ordálias e os juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a capacidade de condenar ou absolver os indivíduos?

Que no fi nal da Idade Média e grande período da Idade Moderna, com a criação dos Tribunais da Inquisição, a tortura era ofi cialmente aceita como meio de Prova necessário para a obtenção da confi ssão?

Utilizava-se o sistema das provas legais, em que a confi ssão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não possuía direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os valores do homem considerado em sua individualidade passaram a serem observados. Contrapondo-se ao sistema das provas legas, criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total

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Universidade do Sul de Santa Catarina

liberdade aos juízes na apreciação da Prova, dispensando-os de motivar suas decisões.

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito de direitos e garantias, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e o direito ao contraditório. A busca pela verdade na investigação e no processo criminal passou a sofrer limitações consubstanciadas nas liberdades públicas.

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção, pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira garantia individual.

Como você pode ver, através do sistema da persuasão racional, adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro, não há hierarquia entre as provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente e obedeça à Constituição da República e demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1789, e outros textos internacionais sobre Direitos humanos, proclamaram diversos direitos fundamentais, muitos deles consagrados pela Constituição Federal de 1988.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova na investigação e no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático brasileiro, os princípios e regras insertos, explicita ou implicitamente, na Constituição da República atuam como norteadores da fase policial e do processo penal, que passa a ser concebido não apenas como instrumento para persecução penal, mas, também, como meio para salvaguardar direitos fundamentais.

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Unidade 5

Quando a prova viola normas de direito material, tais como os princípios constitucionais, é tida como ilícita. Quando a prova ofende preceitos de ordem processual é chamada ilegítima. Ambas, provas ilícitas e ilegítimas, são ilegais.

Nesta linha de pensamento, verifi ca-se que a atuação da Polícia em um Estado Democrático de Direito é limitada, também, pelos direitos e garantias individuais. Aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário cabem respeitar os direitos fundamentais, também chamados de liberdades públicas, conceituadas por Grinover, como sendo (...) os Direitos do homem que o Estado, através de sua consagração, transferiu do Direito natural ao Direito positivo. (GRINOVER: 1992:15).

Acerca deste tema, sintetizam Grinover, Scarance e Gomes Filho:

(...) os Direitos do homem, segundo a moderna doutrina constitucional, não podem ser entendidos em sentido absoluto, em face da natural restrição resultante do Princípio da convivência das liberdades, pelo que não se permite que qualquer delas seja exercida de modo danoso à ordem pública e às liberdades públicas. As grandes linhas evolutivas dos Direitos Fundamentais, após o liberalismo, acentuaram a transformação dos Direitos individuais em Direitos do homem inserido na sociedade. De tal modo que não é mais exclusivamente com relação ao indivíduo, mas no enfoque de sua inserção na sociedade, que se justifi cam, no Estado social de Direito, tanto os Direitos como as suas limitações. (GRINOVER,

et all, 1999:113).

Efetivamente, o processo penal é o instrumento no qual se desenvolve a instrução probatória, através de quaisquer meios de provas, desde que não ofendam os direitos fundamentais, que se colocam como limites à atividade investigativa policial.

Liberdades fundamentais e liberdades públicas são também expressões usadas para exprimir Direitos Fundamentais (cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 1999, p.181)

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No contexto desta discussão, a autora adotou como sinônimas as expressões ‘Direito à intimidade” e “ Direito à Privacidade”.

A utilização das provas e os direitos fundamentais

A Constituição da República explicita as garantias concernentes à vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade, integridade física e moral, intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas; bem como às inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade espiritual, da expressão intelectual, artística e científi ca, do domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e telefônicas. Assegura ainda, as seguintes garantias, dentre outras: da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos, da publicidade dos atos processuais, do interrogado reservar-se no direito de permanecer calado.

Relembre o que diz o artigo 5º. da Constituição da República:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (..) incisos III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científi ca e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o Direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de fl agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou , durante o dia, por determinação judicial; XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fi ns de investigação criminal ou instrução processual penal; LVI – são inadmissíveis, no processo, as Provas obtidas por meios ilícitos; LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

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Constituição da República, artigo 5º, inciso XLIII – “a lei considerará crimes inafi ançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura (...)”. O crime de tortura encontra-se tipifi cado na Lei n. 9455, de 07 de abril de 1997.

Constituição da República, art. 5º, XI – “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar, sem consentimento do morador, salvo em caso de fl agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

LXIII – o preso será informado de seus Direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.

Também a tortura está proibida em diversas declarações internacionais, inclusive na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, de 1966, mencionados anteriormente. No Brasil, trata-se de crime inafi ançável e insuscetível de graça ou anistia.

Desta forma, qualquer tipo de violação à integridade física e psíquica do acusado, bem como a utilização de meios que afetem a liberdade de declaração, a intimidade e a dignidade pessoal do acusado, tais como o detector de mentiras, o hipnose, a narcoanálise, não são aceitas pelo ordenamento brasileiro, ainda que com o consentimento do interrogado, posto que tais direitos, enquanto fundamentais, são irrenunciáveis. (SILVA, 1999: 185).

Em face da garantia constitucional da presunção de inocência, é vedado constranger o suspeito a fornecer provas que prejudiquem a sua defesa, razão pela qual as intervenções corporais, tais como exames de sangue e testes de alcoolemia, sem a anuência daquele, são vedados pelo nosso sistema legal. Faz-se importante lembrar que, da mesma forma, a sua negativa não presume a veracidade do fato que se quer provar.

Acerca deste tema, afi rma Gomes Filho (1997),

(...) o que se deve contestar em relação a essa intervenções, ainda que mínimas, é a violação do Direito à não auto-incriminação e à liberdade pessoal, pois se ninguém pode ser obrigado a declarar-se culpado, também deve ter assegurado o seu Direito a não fornecer Provas incriminadoras contra si mesmo. O Direito à Prova não vai ao ponto de conferir a uma das partes no processo prerrogativas sobre o próprio corpo e a liberdade de escolha da outra. (GOMES FILHO, 1997:119).

A garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio excepciona apenas a entrada, sem consentimento do morador, em caso de fl agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por ordem judicial, garantindo a privacidade do cidadão.

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cf. MENDES, Maria Gilmaíse de Oliveira. Direito à Intimidade e Interceptação Telefônica. 1999, p.173-174.

Lei n. 6538/78, art. 47: Para os efeitos desta Lei, são adotadas as seguintes definições: (...) Correspondência: É toda comunicação de pessoa a pessoa, por meio de carta, através da via postal ou telegráfica.

Como já visto, a Constituição da República garantiu, ainda, a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fi ns de investigação criminal ou instrução processual penal.

Constituição da República, art. 5º, XII – “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma em que a lei estabelecer para fi ns de investigação criminal ou instrução processual penal.

Desconsiderando-se a discussão doutrinária acerca da expressão “último caso” incidir exclusivamente sobre as comunicações telefônicas ou abranger as comunicações telegráfi cas, de dados e telefônicas, devemos concluir que, pela leitura do inciso XII do artigo 5º da Constituição da República, verifi ca-se que o sigilo da correspondência não atinge nenhuma das duas interpretações.

Desta forma, defende-se a análise gramatical deste inciso e advoga-se que o sigilo da correspondência e/ou das comunicações telegráfi cas e de dados não comporta exceções, sendo absoluto, ou, embasado na visão sistêmica do ordenamento jurídico, defende-se que nenhuma liberdade individual é absoluta, e que, portanto, a interceptação da correspondência e/ou das comunicações telegráfi cas e de dados, respeitados certos parâmetros, é possível.

O que diz o Supremo Tribunal Federal sobre isso?

O Supremo Tribunal Federal já decidiu favoravelmente à possibilidade da interceptação, pela administração penitenciária, de correspondência que seria remetida por preso, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica.

O Código de Processo Penal prevê que as cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu direito.

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Código de Processo Penal, art. 233: “As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão admitidas em juízo”. § único: “As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu Direito, ainda que não haja consentimento do signatário.

A inviolabilidade do sigilo de dados complementa a previsão ao direito à intimidade e abrange as informações bancárias e fi scais dos cidadãos.

O Art. 3º da Lei Complementar 105/2001

No que se refere ao sigilo bancário, os artigos 3º e 4º da Lei Complementar 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições fi nanceiras e dá outras providências, permite a violação do sigilo bancário por decisão judicial ou por determinação de comissão parlamentar de inquérito.

Veja o que diz o artigo:

“Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários e pelas instituições fi nanceiras as informações ordenadas pelo Poder Judiciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante acesso restrito às partes, que delas não poderão servir-se para fi ns estranhos à lide.

§ 1o Dependem de prévia autorização do Poder Judiciário a prestação de informações e o fornecimento de documentos sigilosos solicitados por comissão de inquérito administrativo destinada a apurar responsabilidade de servidor público por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido.

§ 2o Nas hipóteses do § 1o, o requerimento de quebra de sigilo independe da existência de processo judicial em curso.

§ 3o Além dos casos previstos neste artigo o Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários fornecerão à Advocacia-Geral da União as informações e os documentos necessários à defesa da União nas ações em que seja parte”.

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Art. 4o da Lei Complementar 105/2001:

“ O Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários, nas áreas de suas atribuições, e as instituições fi nanceiras fornecerão ao Poder Legislativo Federal as informações e os documentos sigilosos que, fundamentadamente, se fi zerem necessários ao exercício de suas respectivas competências constitucionais e legais.

§ 1o As comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que necessitarem, diretamente das instituições fi nanceiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários.

§ 2o As solicitações de que trata este artigo deverão ser previamente aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, ou do plenário de suas respectivas comissões parlamentares de inquérito” .

Também o sigilo fi scal pode ser excepcionado por ordem judicial ou determinação de comissão parlamentar de inquérito.

Código Tributário Nacional, art. 198: “Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, para qualquer fi m, por parte da Fazenda Pública ou de seus funcionários, de qualquer informação, obtida em razão do ofício, sobre a situação econômica ou fi nanceira dos sujeitos passivos ou de terceiros e sobre a natureza e o estado dos seus negócios ou atividades. Parágrafo único: Excetuam-se do disposto neste artigo, unicamente, os casos previstos no artigo seguinte e os de requisição regular da autoridade judiciária no interesse da Justiça”. Constituição Federal, art. 58, § 3º : “As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara de Deputados e pelo Senado Federal (...).

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Unidade 5

STRECK, Lenio Luiz. As Interceptações Telefônicas e os Direitos Fundamentais. Constituição – Cidadania – Violência. A Lei 9296/96 e seus Refl exos Penais e Processuais. p. 42-44.

Neste sentido faz-se importante realizar uma breve análise sobre as interceptações telefônicas.

Interceptação telefônica

Como já foi mencionado, há diferenciação entre esta e gravação telefônica. Quando feita por um dos interlocutores, a captação é chamada gravação de conversa telefônica. O entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário é no sentido de dar à gravação, telefônica ou ambiental, tratamento diferenciado da interceptação, aceitando-se a gravação, por um dos interlocutores, como prova lícita. Este é o entendimento pacífi co do Supremo Tribunal Federal:

Interceptação telefônica e gravação de negociações entabuladas entre seqüestradores, de um lado, e policiais e parentes da vítima, de outro, com o conhecimento dos últimos, recipiendários das ligações. Licitude desse meio de prova. Precedente do STF: (HC 74.678, 1ª Turma, 10.06.97). 2. (...). (STF -1ª Turma. HC 75261 – MG – 1ª Turma - Rel. Min. Octavio Gallotti - . j. em 24.06.1997 - p. DJU em 22.08.97.

O parágrafo único do artigo 1º da Lei n.9296/96 (Lei n. 9296/96, artigo 1º, § único: “O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fl uxo de comunicações em sistemas de informática e telemática”.) estende a sua abrangência à interceptação do fl uxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Existe discrepância doutrinária acerca da constitucionalidade deste dispositivo.

Streck não vislubra qualquer inconstitucionalidade neste artigo, alegando que o fl uxo de comunicações em sistema de informática e telemática são variantes da modalidade comunicações telefônicas. Conceituando a informática como a prática de comunicações via computador e a telemática como a ciência que trata da manipulação e utilização da informação através do uso combinado do computador e meios de comunicação, este autor entende que o veículo de tais variantes é o telefone, e que portanto, será possível a interceptação para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, sendo o caso.

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STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel. Min. Vicente Leal – p. DJU em 04.11.2002 TJSC – MS . 251 – (17096) – Blumenau – Rel. Des. Otávio Roberto Pamplona – p. DJSC em 26.10.2001 – p. 119

De outro lado, Greco Filho (1996), concebe que esta questão está centrada na interpretação que se dá à expressão “último caso”, prevista no inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal. Este autor entendendo que tal expressão limita-se às comunicações telefônicas, excluindo as comunicações telegráfi cas e de dados, e vislumbra os sistemas de informática e telemática como variantes das comunicações de dados, considera inconstitucional o dispositivo sob comento.

Outros Tribunais, como o Superior Tribunal e Justiça e o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, já decidiram pela constitucionalidade das interceptações dos sistemas de informática e telemática. Nesse sentido...

CONSTITUCIONAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS-CORPUS – SIGILO DE DADOS – QUEBRA – BUSCA E APREENSÃO – INDÍCIOS DE CRIME – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – LEGALIDADE – CF, ART. 5º, XII – Leis nº.9.034/95 e nº 9.296/96 – Embora a Carta Magna, no capítulo das franquias democráticas ponha em destaque o direito à privacidade, contém expressa ressalva para admitir a quebra do sigilo para fi ns de investigação criminal ou instrução processual penal (art. 5º, XII), por ordem judicial. A jurisprudência pretoriana é unissonante na afi rmação de que o direito ao sigilo bancário, bem como ao sigilo de dados, a despeito de sua magnitude constitucional, não é um direito absoluto, cedendo espaço quando presente em maior dimensão o interesse público. A legislação integrativa do canon constitucional autoriza, em sede de persecução criminal, mediante autorização judicial, “o acesso a dados, documentos e informações fi scais, bancários, fi nanceiras e eleitorais” (Lei nº 9.034/95, art. 2º, III), bem como “ a interceptação do fl uxo de comunicações em sistema de informática e telemática” (Lei nº 9.296/96, art. 1º, parágrafo único). Habeas-corpus denegado”. STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel. Min. Vicente Leal –p. DJU em 04.11.2002.

Ainda, decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina com relação à prova. Leia atentamente mandado de segurança a seguir:

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Unidade 5

MANDADO DE SEGURANÇA – DECISÃO MONOCRÁTICA – QUEBRA DE SIGILO DE CORREIOS ELETRÔNICOS (E-MAIL) – ART. 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – CORRESPONDÊNCIA – SISTEMA DE INFORMÁTICA E TELEMÁTICA – INCLUSÃO NO CONCEITO – Há controvérsia se as comunicações em sistema de informática/telemática, via correio eletrônico (e-mail), estão compreendidas no sigilo de correspondência, de dados ou de comunicações telefônicas preconizado pelo art. 5º, XII, da Constituição Federal. A Lei nº 9.296/1996, no parágrafo único do seu art. 1º, equiparou-as às comunicações telefônicas, em relação às quais é pacífi co que cabe a quebra do sigilo por determinação judicial. A matéria é objeto da ADIN nº 1.499-9, na qual foi indeferida a medida liminar, não por ausência do fumus boni iuris, mas do periculum in mora, estando pendente de julgamento. Na espécie, todavia, para a análise do caso não há a necessidade de se perquirir sobre a constitucionalidade da equiparação. É que a interceptação do fl uxo de tais comunicações (informática e telemática), ainda que constitucional, porque representa exceção à garantia constitucional prevista no preceito referido, há de ser defl agrada com cautela, devendo o magistrado verifi car se estão presentes os pressupostos legais para o deferimento da medida e, em caso positivo, seguir o procedimento fi xado na Lei nº 9.296, de 1996, disso dependendo a licitude ou ilicitude da medida. No caso, sendo as infrações investigadas punidas, no máximo, com a pena de detenção, descabe a quebra do sigilo, ante a regra inserta no inciso III do art. 2º da Lei nº 9.256/1996. Segurança concedida.(TJSC – MS. 251 – (17096) – Blumenau – Rel. Des. Otávio Roberto Pamplona – p. DJSC em 26.10.2001 – p. 119).

Foram sucintamente mencionados neste item, em caráter exemplifi cativo, apenas alguns limites materiais à prova, que ensejam muita discussão doutrinária e jurisprudencial.

Limitações probatórias

Além dos preceitos limitativos de ordem material, existem limitações probatórias previstas no Código de Processo Penal. Podemos citar: a obrigatoriedade da prova pericial para a constatação da materialidade da infração penal, quando esta deixar vestígios, com possibilidade de suprimento pela prova testemunhal, no caso de desaparecimento destes vestígios; a impossibilidade de condenação embasada exclusivamente na confi ssão do acusado; necessidade, em regra, dos laudos periciais serem lavrados por dois peritos ofi ciais; restrições de prova relacionadas ao estado civil das pessoas; proibição de depor como testemunhas as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício, ou profi ssão, devam guardar segredo.

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Código de Processo Penal, art. 158 – “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confi ssão do acusado”; art. 167 – “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a Prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”; art. 159, caput –“Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos ofi ciais”; art. 155 – “No juízo penal, somente quando ao estado das pessoas, serão observadas as restrições à Prova estabelecidas na lei civil”; art. 62 – “No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta e punibilidade”; art. 207 – “São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profi ssão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho”.

Portanto, perceba que a produção da prova criminal encontra-se limitada por preceitos insculpidos na Constituição da República, Código de Processo Penal, e demais textos legais que, quando violados, conferem ilegalidade à prova.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 5

Síntese

A prova criminal, objeto da investigação policial, , sempre foi infl uenciada pelo contexto histórico, social e cultural da civilização.

Durante a Antigüidade, e parte da Idade Média, quando a religião era o valor supremo das organizações e desconheciam-se os direitos fundamentais, instituíram-se as ordálias e os juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a capacidade de condenar ou absolver os indivíduos.

No fi nal da Idade Média, e grande período da Idade Moderna, com a criação dos tribunais da inquisição, a tortura era ofi cialmente aceita como meio de Prova necessário para a obtenção da confi ssão. Utilizava-se o sistema das provas legais, em que a confi ssão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não possuía direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os valores do homem considerado em sua individualidade passaram a ser observados. Contrapondo-se ao sistema das provas legas, criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total liberdade aos juízes na apreciação da prova, dispensando-os de motivar suas decisões.

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito de direitos e garantias, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e o Direito ao contraditório. A busca pela verdade no processo passou a sofrer limitações consubstanciadas nas liberdades públicas.

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção,

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Universidade do Sul de Santa Catarina

pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira garantia individual.

Através do sistema da persuasão racional, adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro, não há hierarquia entre as provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente e obedeça à Constituição da República e demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1789, e outros textos internacionais sobre direitos humanos proclamaram diversos direitos fundamentais, muitos deles consagrados pela Constituição da República.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático Brasileiro os princípios insertos, explicita ou implicitamente, na Constituição da República atuam como norteadores do processo penal, que passa a ser concebido não apenas como instrumento para persecução penal, mas também como meio para salvaguardar direitos fundamentais.

A Constituição da República explicita, dentre outros, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e moral, à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade espiritual, da expressão intelectual, artística e científi ca, do domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Todos estes direitos e garantias limitam a atividade policial investigativa.

Quando uma prova é produzida com ofensa a algum destes direitos e garantias, é tida como ilícita, posto que ofende norma de direito material, e passa a não ter qualquer valor para embasar uma sentença, além da responsabilidade penal e administrativa a quem produziu a prova está sujeito.

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Criminalistica e Investigação Criminal

Unidade 5

Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no suspeito mesmo que sem a sua anuência.

( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do morador, em caso de fl agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ainda que sem ordem judicial.

( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.

( ) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem judicial, constitui prova lícita.

( ) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores, é prova lícita.

2. Responda à seguinte questão:

Para comprovar um crime de trânsito, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência? Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova poderiam ser utilizados para tanto.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto tratado leia:

Texto: Da prova ilegal no processo penal

http://www.neofi to.com.br/artigos/art02/ppenal50.htm

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Para concluir o estudo

Este livro teve por fi nalidade estudar os temas Criminalística e Investigação Criminal.

Na atualidade, o tema segurança pública vem sendo objeto de maior atenção pela sociedade e pelo Estado.

Os crescentes índices de criminalidade verifi cados no País e as defi ciências estatais no combate ao crime é um tema no qual a sociedade está cada vez mais preocupada, uma vez que a atinge diretamente.

São exorbitantes os gastos públicos gerados em decorrência da atividade delitiva e é negativa a visão, pela sociedade, da atuação estatal nesta área.

Estes são apenas alguns dos motivos pelos quais a segurança pública vem sendo objeto de preocupação pelo poder público.

A par da discussão acerca da omissão do poder estatal em programas que tenham como foco a prevenção, tais como educação, saúde, moradia, emprego, é certa a necessidade perene da atividade policial em qualquer organização social atual, considerando que a função repressiva sempre terá de existir.

Com as alterações e criações de leis, com a especialização das perícias, com a rotatividade dos profi ssionais que atuam direta ou indiretamente na atividade investigativa policial, a busca pela prova criminal está em constante mutação.

Espero que você, aluno, que por interesses profi ssionais e/ou pessoais, está realizando este curso, considere esta disciplina como o ponto de partida para o estudo aprofundado e permanente da investigação policial.

Profa. Maria Carolina

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Referências

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Sobre a professora conteudista

Maria Carolina Milani Caldas Opilhar é graduada em Administração de Empresas, pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e em Direito, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Realizou Mestrado em Ciência Jurídica, pela UNIVALI/SC – Universidade do Vale do Itajaí, com dissertação aprovada em junho de 2004.

Possui especialização em Meio-Ambiente e Trânsito, pela Unisul, com monografi a aprovada em maio de 2003.

Está cursando Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Segurança Pública, na ACADEPOL - Academia de Polícia Civil de Santa Catarina.

É Delegada de Polícia, integrante da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina e faz parte do corpo docente da ACADEPOL – Academia de Polícia Civil de Santa Catarina.

Atualmente, presta serviços na Delegacia de Polícia de Palhoça, Santa Catarina.

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Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação

Respostas e comentários das questões das unidades do Livro didático

Unidade 1

1) Assinale V ou F

(F) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de estojos no local não é importante, posto que não é possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a arma de fogo.

(V) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de projéteis no local possibilita a realização do laudo de identifi cação de projéteis e, quando a arma é apreendida, o laudo de comparação balística.

(V) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é exemplifi cativo.

(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção.

(V) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infração penal não deixar vestígios.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 2

1) Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal?R: O laudo pericial vem sendo percebido como uma das provas cruciais para a investigação, posto que, na condição de prova objetiva, científi ca, é mais difícil de ser refutado.

As Polícias investigativas mais avançadas do mundo vêm priorizando a prova pericial.

2) Que tipo de prova é o laudo pericial?R: O laudo pericial é prova objetiva, científi ca.

3) O laudo pericial é sempre conclusivo?R: O laudo pericial nem sempre é conclusivo. No sistema da livre convicção, adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro, as provas não possuem valor pré-determinado, e, portanto, não são hierarquizadas, fi cando a critério do juiz esta valoração.

Unidade 3

1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção.

(F) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do processo criminal.

(F) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

2. Responda à seguinte questão:

Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais devem estar voltados prioritariamente à indicar e localizar o autor do crime ou à busca da verdade?R: Em um Estado Democrático de Direito, o objetivo primordial da investigação deve ser a busca da verdade dos fatos, ainda que a verdade demonstre que o suspeito não é o autor do crime, ou que o autor agiu embasado em alguma excludente de antijuridicidade, tal como legítima defesa ou estado de necessidade. Dessa forma, muitas vezes no transcorrer da atividade investigativa são coletadas provas em favor da inocência do suspeito.

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Unidade 4

1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela Constituição Federal de 1988.

(F) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas e outros dados importantes.

(F) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam interrogados conjuntamente.

(F) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado no Código de Processo Penal Brasileiro é apenas exemplifi cativo.

(V) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação ambiental e a interceptação telefônica.

(F) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

2. Responda à seguinte questão:

Indivíduo ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça, durante uma conversação, este realiza gravação telefônica ou interceptação telefônica? Por quê?R: Realiza gravação telefônica. A interceptação necessita de ordem judicial para ser feita e é sempre realizada por um terceiro.

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Unidade 5

1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no suspeito mesmo que sem a sua anuência.

(V) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do morador, em caso de fl agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ainda que sem ordem judicial.

(F) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.

(F) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem judicial, constitui prova lícita.

(V) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores, é prova lícita.

2. Responda à seguinte questão:

Para comprovar o crime de trânsito, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência? Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova poderiam ser utilizados para tanto. R: Em face do direito de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei, previsto no artigo 5º, II, da Constituição Federal de 1988, ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si próprio, pelo que não é possível constranger alguém a realizar o bafômetro, sem o seu consentimento.

A prova testemunhal e o laudo pericial de verifi cação de embriaguez, realizado por médicos legistas, são outros meios de prova que podem demonstrar o estado de embriaguez.

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