MANUAL DE HISTÓRIA DA IGREJA - Pr. Robespierre Machado (Atualizada Dez 2011)

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Apostila ministrada nas turmas do curso teológico do IBUGHT - Instituto Bíblico Universal de Grego Hebraico e Teologia em Salvador e da ESTEADEB - Escola Teológica das Assembléias de Deus no Brasil/Salvador nas turmas mentoreadas pelo Pr. Robespierre Machado.

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HISTRIA DA IGREJA

Robespierre Machadoprofessor

Manual de Histria da Igrejados primrdios atualidade

Robespierre Machado

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Olhando para a histria aprendemos com o que outros j passaram. Somos estimulados a continuar nos labores do presente e a buscar um futuro que no repita os mesmos erros. Olhar para a histria nos ajuda a perceber os maravilhosos caminhos da providncia de Deus

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SUMRIOPrimeira Palavra Introduo O Mundo Romano Primeiro Perodo Igreja Apostlica Segundo Perodo Igreja Perseguida Terceiro Perodo Igreja Imperial O Cnon do Novo Testamento Quarto Perodo Idade Mdia O Grande Cisma do Oriente As Cruzadas A Evoluo do Catolicismo Romano Movimentos de Protesto Quinto Perodo A Reforma Protestante As 95 Teses de Lutero Sexto Perodo A Igreja Moderna A Igreja Protestante no Brasil - A Confisso da Guanabara - Primeiras Misses Assembleias de Deus Movimento Pentecostal A Igreja na Amrica Latina Bibliografia 5 6 7 10 11 12 16 18 23 26 28 29 31 32 37 38 39 40 42 46 48 50

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PRIMEIRA PALAVRAplicar-se ao estudo da Bblia e as matrias auxiliares sua compreenso fundamental para quem deseja melhor servir ao SENHOR, na sua obra. J nos primrdios do cristianismo, no primeiro sculo, o apstolo afirmava procura apresentar-te a DEUS aprovado como obreiro que no tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).

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Assim, o tempo investido em longas, trabalhosas e exaustivas horas de estudo, preparao e reflexo e o debruar-se sobre livros, muitos livros e primeiramente o cnon sagrado, resultar, indiscutivelmente, em apropriao de conhecimento que produzir o combustvel espiritual necessrio formao daquele que prope, a si mesmo e primeiramente ao SENHOR, militar na seara, sem descanso, at a Sua vinda gloriosa. A minha orao e o desejo do meu corao que a Histria da Igreja, enquanto disciplina, contribua de forma significativa na formao de homens e mulheres de DEUS capacitados a pensar e conseqentemente interpretar os fatos histricos referenciais na edificao da f por ns abraada como balizadores do proceder presente e futuro dessa gerao. Aqueles que nos precederam escreveram a histria nas pginas do perodo psapostlico, muitos tendo como tinta o prprio sangue. Foram, e ainda hoje o so, heris da f, mrtires do SENHOR JESUS. Entretanto nunca ser demasiado recordar, que as pginas dessa histria no foram cerradas num passado remoto, legando-nos apenas uma lembrana inspiradora, mas ainda agora outros tantos, annimos para o mundo entretanto conhecidos do SENHOR, continuam a escrever em circunstncias iguais e at mais agravadas a histria presente da igreja em todas as naes. Que a graa do SENHOR, a uno e poder do ESPRITO SANTO sejam sobre sua vida trazendo inteligncia e capacitao espiritual para um excelente e abenoado aproveitamento do curso. Finalmente proponha ser, com a ajuda do SENHOR, um multiplicador do conhecimento adquirido nesse tempo de estudos especialmente preparado por ELE, para voc. Bem vindo a Histria do Cristianismo. DEUS muito abenoe voc, no Nome de JESUS! Salvador, primavera de 2011.

Robespierre Machado

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INT RODUO A HIST RIA DA IGREJ A estas pedras sero para sempre por memorial aos filhos de Israel Js 4:7

A identidade de um povo construda pelo conjunto de caractersticas sociais, morais, ticas, pessoais, religiosas e culturais agrupadas num processo histrico que se perpetua pela transmisso de uma gerao a outra, atravs dos meios possveis ( Dt 6:6-9; Js 4:1-7; Pv 22:28 ). Portanto ao nos dedicarmos a investigao dos fatos e eventos histricos e das ocorrncias mundial/local da igreja descortinamos a sua trajetria bem como suas lutas e vitrias atravs dos sculos. VISO PANORMICA Entendemos que resumir a uma apostila dois mil anos de histria e toda ao e trabalho evangelstico, missionrio e discipular da igreja tarefa impensvel. Mas possvel obter, em perspectiva, uma viso panormica geral, identificando na histria bblica e eclesistica, os principais fatos e acontecimentos, aqueles que pontuaram pocas e que legaram lies preciosas ( I Cr 29:29; Lc 1:1-3 ). Essa a misso da histria. Os fatos, pessoas e lugares de maior relevncia estaro para ns, na investigao histrica, como as montanhas esto para as plancies. Deles obteremos uma viso horizonal, isto , que v alm do horizonte ( II Rs 6:15-17; Jo 4:35 ). A minha orao que o Esprito Santo possa guiar-nos, passo a passo, atravs dos caminhos j antes por outros percorridos e que por Sua uno todo conhecimento apropriado seja transformado em poder que alimente a vocao proftica da igreja e nos transforme em incontidos ganhadores e discipuladores de almas, persistentes pescadores de homens ( Lc 5:10 ) enquanto a guardamos a breve volta do Senhor Jesus. ANTECENDENTES HISTRICOS A Igreja Crist surgiu e floresceu num ambiente judaico, politicamente dominado por Roma e culturalmente pelo Helenismo. Para uma melhor perspectiva no decorrer do curso iremos rever, ainda que de forma breve, o ambiente religioso, cultural, poltico, social, econmico e extremamente hostil em que tudo isso acontece. A primeira gerao de cristos era tida como relacionada com os judeus, uma seita oriunda do judasmo que sendo esse reconhecido como religio permitida, apesar dos judeus viverem separados dos costumes idlatras, proporcionava certa tolerncia aos cristos em relao ao Imprio. Essa associao por parte do Imprio perdurou at cerca do ano 70 quando acontece a destruio do Templo de Jerusalm. PERODOS GERAIS De forma geral a histria da igreja est organizada em seis grandes perodos, Apostlico ( pentecostes at cerca de 100 AD ) Era das Perseguies ( 100 a 313 DC ) Imperial ( 313 a 476 DC ) Idade Mdia ou Igreja Medieval ( 476 a 1453 ) A Reforma ( 1453 a 1648 ) Cristianismo Moderno ( de 1648 at o incio do sculo 20 ) Estudaremos ainda nesse curso dois momentos importantes para a igreja no Brasil: A Igreja Protestante no Brasil Movimento Pentecostal

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O MUNDO ROMANOHELENISMO E IMPRIO ROMANO A Igreja Crist surgiu num mundo politicamente dominado por Roma e culturalmente pelo Helenismo. Para uma melhor perspectiva, vamos recordar brevemente o ambiente cultural, poltico e social em que tudo acontece. Helenismo um termo que designa tradicionalmente o perodo histrico e cultural durante o qual a civilizao grega se difundiu no mundo mediterrnico, euro-asitico e no Oriente, fundindo-se com a cultura local. Da unio da cultura grega com as culturas da sia Menor, Eursia, sia Central, Sria, frica do Norte, Fencia, Mesopotmia, ndia e Ir, nasceu a civilizao helenstica, que obteve grande destaque em nvel artstico, filosfico, religioso, econmico e cientfico. O helenismo se difundiu do Atlntico at o rio Indo. Do ponto de vista cronolgico, o helenismo se desenvolveu da morte de Alexandre, o Grande, da Macednia (323 a.C) at 147 a.C (anexao da pennsula grega e ilhas por Roma). Judasmo Helenista o termo oficial para as crenas e costumes de judeus que adotaram o idioma grego e a filosofia e pensamento de sua cultura helenista. Imprio Romano A histria de Roma Antiga fascinante em funo da cultura desenvolvida e dos avanos conseguidos por esta civilizao. De uma pequena cidade, tornou-se um dos maiores imprios da antiguidade. Dos romanos, herdamos uma srie de caractersticas culturais. O direito romano, at os dias de hoje est presente na cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem a lngua portuguesa, francesa, italiana e espanhola. Origem de Roma: explicao mitolgica Os romanos explicavam a origem de sua cidade atravs do mito de Rmulo e Remo. Segundo a mitologia romana, os gmeos foram jogados no rio Tibre, na Itlia. Resgatados por uma loba, que os amamentou, foram criados posteriormente por um casal de pastores. Adultos, retornam a cidade natal de Alba Longa e ganham terras para fundar uma nova cidade que seria Roma. Origens de Roma: explicao histrica e Monarquia Romana (753 a.C a 509 a.C) De acordo com os historiadores, a fundao de Roma resulta da mistura de trs povos que foram habitar a regio da Pennsula Itlica: gregos, etruscos e italiotas. Desenvolveram na regio uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. A sociedade, nesta poca, era formada por patrcios ( nobres proprietrios de terras ) e plebeus ( comerciantes, artesos e pequenos proprietrios ). O sistema poltico era a monarquia, j que a cidade era governada por um rei de origem patrcia. A religio neste perodo era politesta, adotando deuses semelhantes aos dos gregos, porm com nomes diferentes. Nas artes destacava-se a pintura de afrescos, murais decorativos e esculturas com influncias gregas. Repblica Romana (509 a.C. a 27 a.C) Durante o perodo republicano, o senado Romano ganhou grande poder poltico. Os senadores, de origem patrcia, cuidavam das finanas pblicas, da administrao e da poltica externa. As atividades executivas eram exercidas pelos cnsules e pelos tribunos da plebe. A criao dos tribunos da plebe est ligada s lutas dos plebeus por uma maior participao poltica e melhores condies de vida. Em 367 a.C, foi aprovada a Lei Licnia, que garantia a participao dos plebeus no Consulado (dois cnsules eram eleitos: um patrcio e um plebeu). Esta lei tambm acabou com a escravido por dvidas (vlida somente para cidados romanos).

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Formao e Expanso do Imprio Romano Aps dominar toda a pennsula itlica, os romanos partiram para as conquistas de outros territrios. Com um exrcito bem preparado e muitos recursos, venceram os cartagineses, liderados pelo general Anbal, nas Guerras Pnicas (sculo III a.C). Esta vitria foi muito importante, pois garantiu a supremacia romana no Mar Mediterrneo. Os romanos passaram a chamar o Mediterrneo de Mare Nostrum. Aps dominar Cartago, Roma ampliou suas conquistas, dominando a Grcia, o Egito, a Macednia, a Glia, a Germnia, a Trcia, a Sria e a Palestina. Com as conquistas, a vida e a estrutura de Roma passaram por significativas mudanas. O imprio romano passou a ser muito mais comercial do que agrrio. Povos conquistados foram escravizados ou passaram a pagar impostos para o imprio. As provncias (regies controladas por Roma) renderam grandes recursos para Roma. A capital do Imprio Romano enriqueceu e a vida dos romanos mudou. Principais imperadores romanos: Augusto (27 a.C. - 14 d.C), Tibrio (14-37), Calgula (37-41), Nero (54-68), Marco Aurlio (161-180), Commodus (180-192). Po e Circo Com o crescimento urbano vieram tambm os problemas sociais para Roma. A escravido gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condies de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a poltica do Po e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentao e diverso. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estdios ( o mais famoso foi o Coliseu de Roma ), onde eram distribudos alimentos. Desta forma, a populao carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta. Cultura Romana A cultura romana foi muito influenciada pela cultura grega. Os romanos "copiaram" muitos aspectos da arte, pintura e arquitetura grega. Os balnerios romanos espalharam-se pelas grandes cidades. Eram locais onde os senadores e membros da aristocracia romana iam para discutirem poltica e ampliar seus relacionamentos pessoais. A lngua romana era o latim, que depois de um tempo espalhou-se pelos quatro cantos do imprio, dando origem na Idade Mdia, ao portugus, francs, italiano e espanhol. A mitologia romana representava formas de explicao da realidade que os romanos no conseguiam explicar de forma cientfica. Trata tambm da origem de seu povo e da cidade que deu origem ao imprio. Entre os principais mitos romanos, podemos destacar: Rmulo e Remo e O rapto de Proserpina. Religio Romana Os romanos eram politestas, ou seja, acreditavam em vrios deuses. A grande parte dos deuses romanos foram retirados do panteo grego, porm os nomes originais foram mudados. Muitos deuses de regies conquistadas tambm foram incorporados aos cultos romanos. Os deuses eram antropomrficos, ou seja, possuam caractersticas ( qualidades e defeitos ) de seres humanos, alm de serem representados em forma humana. Alm dos deuses principais, os romanos cultuavam tambm os deuses lares e penates. Estes deuses eram cultuados dentro das casas e protegiam a famlia. Principais deuses romanos : Jpiter, Juno, Apolo, Marte, Diana, Vnus, Ceres e Baco. Crise e decadncia do Imprio Romano Por volta do sculo III, o imprio romano passava por uma enorme crise econmica e poltica. A corrupo dentro do governo e os gastos com luxo retiraram recursos para o investimento no exrcito romano. Com o fim das conquistas territoriais, diminuiu o nmero

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de escravos, provocando uma queda na produo agrcola. Na mesma proporo, caia o pagamento de tributos originados das provncias. Em crise e com o exrcito enfraquecido, as fronteiras ficavam a cada dia mais desprotegidas. Muitos soldados, sem receber salrio, deixavam suas obrigaes militares. Os povos germnicos, tratados como brbaros pelos romanos, estavam forando a penetrao pelas fronteiras do norte do imprio. No ano de 395, o imperador Teodsio resolve dividir o imprio em: Imprio Romano do Ocidente, com capital em Roma e Imprio Romano do Oriente (Imprio Bizantino), com capital em Constantinopla. Em 476, chega ao fim o Imprio Romano do Ocidente, aps a invaso de diversos povos brbaros, entre eles, visigodos, vndalos, burgndios, suevos, saxes, ostrogodos, hunos etc. Era o fim da Antiguidade e incio de uma nova poca chamada de Idade Mdia. Com estes dados histricos e um rico embasamento bblico podemos acompanhar o desenrolar da histria da Igreja Crist. E este estudo no nos deixar com os olhos voltados apenas para o passado. As lies do passado abriro nossos olhos para a misso presente para a qual o Senhor da Histria est nos chamando aqui e agora.

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PRIMEIRO PERODO: A IGREJA APOSTLICAde pentecostes at a morte do apstolo Joo 30 a 100 d.C

A Igreja de Cristo iniciou sua trajetria com um movimento de carter mundial, no dia de Pentecostes, cerca do ano 30, no fim da primavera, em Israel. Na cidade de Jerusalm comea a trajetria histrica da Igreja. PRIMEIROS FATOS ( da ascenso de Cristo a pregao de Estevo 30 a 35 ) 1. Primeiras converses, movimentos de evangelizao; 2. Instituio do diaconato ( At 6 ); 3. Primeira perseguio culminando com o martrio de Estevo ( At 7 ) ; Observa-se nesse tempo a falta de expanso missionria. A igreja permanecia em seu prprio territrio quando deveria avanar com a evangelizao. A EXPANO DA IGREJA ( do martrio de Estevo at o conclio de Jerusalm 35 a 50 ) Nessa poca decidiu-se uma importante questo: O cristianismo continuaria como seguimento judaico ou abriria suas portas para todas as raas ( At 15 ). A igreja nesse tempo estava restrita a Jerusalm e aldeias vizinhas, seus membros eram judeus ou proslitos. Em 50 d.C. a igreja estava estabelecida na Sria, Frigia, sia Central e Europa. Principais fatos:1. 2. 3. 4. 5. 6. Dispora crist judaica. Nesse tempo o evangelho chega a Antioquia da Sria cerca de 480 km de Jerusalm; Converso de Saulo, ( At 9 ); O evangelho chega ao gentio Cornlio ( At 10,11); Integrao de Paulo na Igreja de Antioquia seu discipulador, Barnab o levita de Chipre; Separao e envio dos primeiros missionrios ( At 13 ); Evangelizao de grandes cidades e centros urbanos: Antioquia, Lista, Derbe, Listra, Icnio, Salamina etc.

A IGREJA ENTRE OS GENTIOS ( do conclio em Jerusalm at o martrio de Paulo 50 a 68 ) Para conhecimento sobre os acontecimentos dos 20 anos posteriores ao conclio de Jerusalm dependemos do livro de Atos, Epstolas de Paulo e, talvez, o primeiro versculo da primeira carta de Pedro, que se refere, possivelmente, a pases visitados por ele. Nesse tempo foram escritos a maior parte dos livros do NT. A obra missionria alcana todo Imprio Romano o campo o mundo conforme Mt 13, para a igreja da poca. Segunda e terceira viagens missionrias de Paulo e sua equipe. O evangelho chegou a Europa, atravs da cidade de Filipos, ( At 16 ). Os principais lderes do perodo foram: Paulo, Pedro e Tiago. Acontece a primeira perseguio imperial, 64 d.C. O Imperador Nero, lana sobre os cristos a culpa pelo incndio de Roma, 18 de julho 64 d.C. Milhares foram presos,

torturados e mortos. Entre esses, Pedro ( 67 ) e Paulo ( 68 d.C ).No ano de 70, houve a queda de Jerusalm onde ocorreu uma grande transformao nas relaes entre os cristos e os judeus. A partir da, judeus e cristos separam-se definitivamente. No ano 96 acontece a segunda perseguio imperial aos cristos, no governo de Domiciano, milhares foram mortos. Nesta mesma poca, Joo foi preso e exilado e foi onde recebeu a revelao que compe o livro de Apocalipse, o livro das revelaes, e tambm escreveu os ltimos livros do Novo Testamento. A DCADA SOMBRIA ( do martrio de Paulo at a morte de Joo 68 a 100 ) Denomina-se Dcada Sombria em razo das perseguies a igreja. Nesse momento foram escritos os ltimos livros do NT. No fim da era apostlica encontramos luz e sombras misturadas nos relatos que se referem a igreja. As normas de carter eram elevadas, porm o nvel da vida espiritual era inferior ao que se manifestava nos primitivos dias apostlicos.

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SEGUNDO PERODO: A IGREJA PERSEGUIDAda morte do apstolo Joo at o Edito de Constantino, 100 a 313 dc

J no incio do segundo sculo as igrejas crists estavam fincadas entre as naes e expandiam gradativamente o nmero de membros. Tal expanso abrangia tanto a classe nobre quanto a classe escravizada, e todos eram tratados com impessoalidade. No final do perodo do primeiro sculo, as doutrinas ensinadas por Paulo na epstola aos Romanos eram aceitas por toda igreja como regra de f. Com isso, a igreja se fortalecia e se esforava para continuar predominando em todo o extremo do Imprio Romano. O segundo e terceiro sculos foram tempos de sucessivas perseguies movidas pelos imperadores romanos. Apesar de no ser contnua contudo se repetia, por vezes, durante anos seguidos. Por mais de dois sculos um exrcito de milhares de mrtires cumpriram At 1:8 ao custo da prpria vida ( Fp 2:17; Hb 11:36-38 ). Entretanto a evangelizao prosseguiu superando todos os obstculos, at mesmo a morte ( Ap 2:10,13 ). A primeira gerao de cristos era tida como relacionada com os judeus, uma seita oriunda do judasmo que sendo esse reconhecido como religio permitida, apesar dos judeus viverem separados dos costumes idlatras, proporcionava segurana aos cristos em relao ao imprio. Essa suposta relao preservou os cristos, por algum tempo, da perseguio. Entretanto no ano 70 com a destruio de Jerusalm o cristianismo ficou isolado sem nenhuma lei que protegesse os seus seguidores. CAUSAS PRINCIPAIS DAS PERSEGUIOES 1. O carter exclusivo do Cristianismo 2. As reunies secretas dos cristos 3. A igualdade social na igreja 4. Adorao aos dolos como parte da vida do povo 5. O culto ao Imperador 6. Os interesses econmicos ( a indstria da idolatria ) IMPERADORES QUE PROMOVERAM PERSEGUIES 1. Nero, 64 d.C 2. Domiciano, 96 d.C 3. Trajano 98 d.C 4. Adriano 117 d.C 5. Antonio Pio, 138 d.C 6. Marco Aurlio, 161 d.C 7. Septmo Severo, 193 d.C 8. Dcio, 249 d.C 9. Valeriano, 253 d.C 10. Diocleciano. 305 d.C; APARECIMENTO DE SEITAS E HERESIAS 1. Agnsticos 2. Ebionitas 3. Maniqueus 4. Montanistas CONDIO GERAL DA IGREJA 1. Uma igreja purificada 2. Ensino unificado 3. Desenvolvimento da organizao eclesistica 4. Crescimento e expanso 5. Desenvolvimento da doutrina Nesse perodo escolas teolgicas foram fundadas na sia Menor, Cartago e Alexandria, no Egito, essa atribuda a Titus Flavius Clemens ou Clemente de Alexandria (150-215). Essas escolas objetivavam oferecer o slido conhecimento da doutrina para defesa da f a apologia, e a preparao adequada daqueles que eram candidatos ao ministrio da Palavra a formao de obreiros.

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TERCEIRO PERODO: A IGREJA IMPERIALdo Edito de Constantino a Queda de Roma, 313 a 476 dc

No perodo denominado na HI como imperial o fato mais notvel, e tambm o mais influente, tanto positiva quanto negativamente, foi a cessao das perseguies contra o cristianismo. Quando Diocleciano abdicou o trono em 305, em favor de Galrio, a religio crist era terminantemente proibida. A pena para os que professavam o nome de Cristo era tortura e morte. Entretanto algumas dcadas mais tarde, no governo de Teodsio I, o cristianismo foi elevado condio de religio oficial do Imprio Romano. No ano 313 proclamado, por Constantino e Licnio, o dito de Milo fazendo cessar as perseguies religiosas no imprio, principalmente contra os cristos, tornando legal a sua prtica e adorao. Em fevereiro de 380 Teodsio publica um dito deliberando que todos os seus sditos deveriam seguir a f dos Bispos de Roma e de Alexandria. O vasto imprio romano foi rapidamente transformado de pago que era em um imprio cristo, por decreto. Aparentemente, no incio do quarto sculo, os antigos deuses estavam arraigados na reverncia do mundo romano; porm, antes que esse sculo chegasse ao fim, os templos haviam sido transformados em templos cristos. O Imprio Romano era cristo. Em toda parte os bispos governavam as igrejas, porm uma pergunta surgia constantemente entre o povo e no prprio clero: Quem governar os bispos? Esse questionamento lanaria as bases do governo eclesistico central, em Roma. AVALIANDOPONTOS POSITIVOS

a) b) c) d) a) b) c) d)

Fim das perseguies Cessao dos sacrifcios pagos Instituio do domingo como dia de descanso Represso ao infanticdio Todos na igreja ( por decreto ) Costumes pagos introduzidos na igreja Mundanismo, secularismo Dedicao de templos pagos ao culto cristo

PONTOS NEGATIVOS

RESULTADOS DA UNIO DA IGREJA E ESTADO

a) Interferncia do Imperador no governo da igreja b) Privilgios concedidos ao clero c) Doaes oficiais s igrejasA SUPRESSO DO PAGANISMO POR DECRETO

a) Confisco das doaes aos templos pagos b) Escritos anti-cristos destrudos c) Proibida a adorao aos dolos HERESIAS Arianismo - a doutrina da Trindade A heresia Apolinria a natureza de Cristo O Pelagianismo o pecado e salvao PRINCIPAIS LDERES DO PERODO Atansio ( 293 373 ) Ambrsio de Milo ( 340 407 ) Joo Crisstomo ( 345 407 ) Jernimo ( 340 420 ) Agostinho ( 354 430 ) A IGREJA SAI DAS CATACUMBAS A Igreja saiu das catacumbas quando da converso do imperador Constantino. A converso do imperador Constantino uma das muitas converses motivadas tanto pela religio quanto pela poltica.

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O questionamento que se faz : o que levaria o imperador da maior e mais forte fora poltico-militar na face da terra, Constantino, a se associar com aqueles a quem o imperador anterior, Diocleciano, havia perseguido de maneira to brutal e que eram considerados como a escria do mundo no imprio? Vejamos No final do terceiro sculo da era crist, o imprio romano era governado por uma tetrarquia. Havia dois Augustos (dignos de receber adorao): Diocleciano no Oriente (Bizncio) e Maximiano no Ocidente (Roma). Cada Augusto por sua vez tinha um Csar. O Csar de Diocleciano era Galrio enquanto que o Csar de Maximiano era Constncio Cloro. Os quatro eram considerados imperadores, mas Diocleciano era o maior. De acordo com as regras estabelecidas por Diocleciano, cada Augusto seria sucedido pelo seu prprio Csar, e isto, visando a paz e a estabilidade do imprio. Entretanto, Diocleciano, instigado por Galrio, moveu uma feroz perseguio contra os cristos, motivada principalmente, pelo fato dos cristos, por um lado, recusarem o alistamento militar obrigatrio e, por outro lado, pelo fato de que muitos convertidos ao cristianismo, em nmero sempre crescente, tentavam abandonar o exrcito romano. Diocleciano inicia ento, um movimento de perseguio e mediante um edito ordena a expulso de todos os cristos das legies romanas. A perseguio aumenta com novo edito que ordenava a destruio dos edifcios cristos, a entrega dos seus livros para serem queimados e a ordem de negar aos cristos todos os direitos civis. Muitos cristos resistiram entregar seus livros e pagaram com a prpria vida. A resistncia enfureceu o imperador, que lanou mo da prtica mais ardilosa quando algum desejava destruir algum cristo: ordenar que os cristos sacrificassem diante dos deuses que em muitos casos inclua a prpria imagem do imperador. Alguns historiadores acreditam ter sido esta a maior e mais severa perseguio que os cristos experimentaram antes de sarem das catacumbas. importante destacar que a inteno de Galrio ao instigar a perseguio dos cristos era tornar-se nico imperador. A aposta de Galrio foi colocada de maneira bem firme nos pagos contra os cristos. Diocleciano, gravemente enfermo nesta altura, forado a abdicar em favor de Galrio. Ato contnuo, Galrio obriga Maximiano a renunciar sob a ameaa de atac-lo. Os dois Augustos renunciaram no mesmo ano de 305 A.D. Para manter a tetrarquia (2 Augustos + 2 Csares), Galrio obriga Diocleciano a nomear Maximino Daza como seu Csar e Severo como Csar de Constncio Cloro. Os exrcitos se recusaram a aceitar estas nomeaes, pois preferiam Constantino, filho de Constncio Cloro e Majncio, filho de Maximiano. Vrias legies se rebelam e guerras civis explodiram por todos os lados. Severo comete suicdio, e Galrio pede ajuda a Diocleciano que nomeia Licnio como imperador do Ocidente (Roma) e confirma Constantino como Csar do Ocidente e Maximino Daza como Csar do Oriente (Bizncio). Entrementes, a perseguio aos cristos prossegue firme sob Galrio. Constantino e Majncio, todavia, no implementaram a perseguio, pois percebiam a motivao poltica de Galrio. Galrio morre no dia 5 de Maio de 311. Todavia, 5 dias antes, em 30 de Abril de 311, Galrio fez publicar um dito de Tolerncia, concedendo aos cristos o perdo, bem como a autorizao para que voltem a se reunir em suas assemblias, desde que no atentassem contra a ordem pblica. Com isto, Constantino se sentiu fortalecido o suficiente para iniciar a empreitada que por fim o levaria a ser reconhecido como o nico imperador. A liberdade concedida por Galrio aos cristos foi vista como uma oportunidade poltica por Constantino. Para Constantino, a compreenso de que os cristos poderiam se tornar a maior fora de influncia no exrcito, foi decisiva para seus planos. Ao contrrio de Galrio que havia apostado suas fichas nos pagos Constantino apostou suas fichas firmemente nos cristos. Constantino se encontrava na Glia (regio onde hoje a Frana moderna). Ele agrupou seus exrcitos que se encontravam na Glia e na Bretanha (onde hoje a Inglaterra moderna) e marchou clere sobre Roma, cruzando os Alpes em poucas semanas. Majncio era o imperador em Roma e premido pela situao, agrupou suas tropas na capital ocidental do imprio (Roma).

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A runa de Majncio foi ter sado em campo aberto, seguindo o conselho de seus adivinhos, para lutar contra Constantino, em vez de ficar dentro da cidade de Roma e resistir ao ataque. aqui, que evidentemente, temos uma criao fantasiosa. Enquanto Majncio ouvia os adivinhos pagos, Constantino recebia alegadamente uma revelao do Deus cristo. Uma das verses mais antigas que temos desta estria pode ser encontrada nos escritos de um historiador cristo chamado Lactncio. Este historiador que teve a oportunidade de conhecer Constantino, diz que o imperador recebeu, atravs de um sonho, a orientao de pintar um smbolo cristo sobre o escudo de seus soldados, com a promessa implcita de que ele venceria a batalha. O smbolo, alegadamente pintado, eram as letras gregas XP ("Chi-Rho", as primeiras duas letras de "Cristo") entrelaadas com uma cruz sobre um sol, juntamente com a inscrio "In Hoc Signo Vinces" - Latim para "Sob este signo vencers". No dia seguinte, as tropas de Constantino venceram a batalha contra as tropas de Majncio que, lanado da ponte Mlvio, morreu afogado nas guas do rio Tibre. Aps a batalha da ponte Mlvio, Constantino foi a Milo selar uma aliana com Licnio. Esta aliana inclua, entre outras coisas, que as perseguies aos cristos seriam suspensas e que os cemitrios, as igrejas e outras propriedades que lhes haviam sido confiscadas lhes seriam devolvidas. Esta aliana, conhecida como Edito de Milo confundida por muitos com o Edito de Tolerncia de Galrio. Em todo este tempo, apesar de favorecer os cristos politicamente, Constantino continuava um firme adorador do Sol invicto. O estado pago, na pessoa do imperador Constantino, resgatava os cristos das catacumbas atrando-os exatamente com todas as coisas contra as quais haviam sido gravemente advertidos de que deveriam se guardar. A partir da incorporao da igreja ao estado, deu-se o incio de um processo avassalador de desfigurao da verdadeira igreja. Como no referimos a pouco, a igreja foi engolida pelas coisas contra as quais deveria se guardar. importante levar em conta que, muito da corrupo que foi iniciada com Constantino, virou regra na igreja desde ento. Antes de serem recebidos de braos abertos, os cristos primitivos eram considerados verdadeiros rebeldes contra o estado. Isto acontecia porque os imperadores romanos assumiam a postura de verdadeiras divindades. Os imperadores tinham suas imagens espalhadas por todos os lados e eram adorados por todos em inmeros templos erguidos exclusivamente para este ofcio. Neste contexto, os cristos causavam espcie, ao recusarem adorar tais imagens. A recusa de adorar a imagem do imperador aliada ao fato de que os primeiros cristos no possuam nem adoravam nenhum tipo de imagens fazia com que fossem considerados inimigos do imprio, traidores e ateus! Eles tambm eram acusados de canibalismo j que corriam estranhas estrias, entre as pessoas em geral, acerca de comer carne e beber sangue. Como suas reunies eram secretas, havia tambm a acusao de serem pervertidos morais, pois, quem poderia dizer que tipos de rituais rolavam por trs das portas fechadas? A sociedade imperial, completamente depravada, projetava sua prpria imagem sobre a igreja nascente. Todavia, Constantino, conseguiu atrair os cristos para fora das catacumbas, oferecendo-lhes privilgios que antes lhes eram negados. Em troca destes privilgios os cristos de ento se comprometeram a participar de vida integral do imprio Romano com suas nefastas conseqncias. A corrupo que transformou o cristianismo primitivo na cristandade dos dias de hoje, comeou com o abandono de posies histricas e a adoo de novas posies mais alinhadas com os interesses do imprio. Os cristos daqueles dias tinham certas atitudes prticas que complicavam a situao ainda mais. Entre estas podemos citar o fato de que eles se opunham ao servio militar por questes de conscincia.PARA LER O TEXTO INTEGRAL: A essncia da Cristandade: POLTICA E PODER (A Igreja Crist no Brasil no Sculo XXI Cap.2) publicado em 5/10/2006 acesse: http://jesussite.com.br/acervo.asp?Id=123

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DITO DE MILO dito de Milo, maro de 313. "Ns, Constantino e Licnio, Imperadores, encontrando-nos em Milo para conferenciar a respeito do bem e da segurana do imprio, decidimos que, entre tantas coisas benficas comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupao. Pareceu-nos justo que todos, os cristos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religio de sua preferncia. Assim Deus que mora no cu sernos- propcio a ns e a todos nossos sditos. Decretamos, portanto, que no, obstante a existncia de anteriores instrues relativas aos cristos, os que optarem pela religio de Cristo sejam autorizados a abra-las sem estorvo ou empecilho, e que ningum absolutamente os impea ou moleste... . Observai outrossim, que tambm todos os demais tero garantia a livre e irrestrita prtica de suas respectivas religies, pois est de acordo com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada cidado a liberdade de culto segundo sua conscincia e eleio; no pretendemos negar a considerao que merecem as religies e seus adeptos. Outrossim, com referncia aos cristos, ampliando normas estabelecidas j sobre os lugares de seus cultos, -nos grato ordenar, pela presente, que todos que compraram esses locais os restituam aos cristos sem qualquer pretenso a pagamento... [as igrejas recebidas como donativo e os demais que antigamente pertenciam aos cristos deviam ser devolvidos. Os proprietrios, porm, podiam requerer compensao.] Use-se da mxima diligncia no cumprimento das ordenanas a favor dos cristos e obedea-se a esta lei com presteza, para se possibilitar a realizao de nosso propsito de instaurar a tranqilidade pblica. Assim continue o favor divino, j experimentado em empreendimentos momentosssimos, outorgando-nos o sucesso, garantia do bem comum." TEODSIO Teodsio foi educado numa famlia crist. Ele foi batizado em 380 d.C, durante uma doena severa, como era comum nos tempos dos primeiros cristos. Em fevereiro desse mesmo ano, ele e Graciano fizeram publicar um dito deliberando que todos os seus sditos deveriam seguir a f dos Bispos de Roma e de Alexandria (Cdigo de Teodsio, XVI,I,2). O DECRETO DOMINICAL DE CONSTANTINO A 7 de maro de 321 o imperador Constantino decreta que o dies Solis dia do sol, ( domingo) o dia de descanso no Imprio; "Que todos os juzes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artfices descansem no venervel dia do Sol. No obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer amide que nenhum outro dia to adequado semeadura do gro ou ao plantio da vinha; da o no se dever deixar passar o tempo favorvel concedido pelo cu." (in: Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, p. 2.)

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O CNON DO NOVO TESTAMENTOA igreja apostlica recebeu da igreja judaica a crena em uma regra de f escrita. Cristo mesmo confirmou esta crena, apelando para o Antigo Testamento como a palavra de Deus escrita, Jo 5.37-47; Mt 5.17,18; Mc 12.36; Lc 16.31, instruindo os seus discpulos nela, Lc 24.45. Os apstolos habitualmente referem-se ao Antigo Testamento como autoridade, Rm 3.2,21; 1Co 4.6; Rm 15.4; 2Tm 3.15-17; 2Pe 1.21. Em segundo lugar, os apstolos baseavam o seu ensino, oral ou escrito na autoridade do Antigo Testamento, 1Co 2.7-13; 14.37; 1Ts 2.13; Ap 1.3, e ordenavam que seus escritos fossem lidos publicamente, 1Ts 5.27; Cl 4.16,17, 2Ts 2.15; 2Pe 1.15; 3.1-2, enquanto que as revelaes dadas Igreja pelos profetas Inspirados, eram consideradas como fazendo parte, juntamente com as instrues apostlicas, do fundamento da Igreja, Ef 2.20. Era natural e lgico que a literatura do Novo Testamento fosse acrescentada do Antigo, ampliando deste modo o cnon de f. No prprio Novo Testamento se v a intima relao entre ambos, 1Tm 5.18; 2Pe 3.1,2,16. Nas pocas ps-apostlicas, os escritos procedentes dos apstolos e tidos como tais, foram gradualmente colecionados em um segundo volume do cnon, at se completar o que se chama o Novo Testamento. Porquanto, desde o princpio, todo livro destinado ao ensino da Igreja em geral, endossado pelos apstolos, quer fosse escrito por algum deles, quer no, tinha direito a ser includo no cnon, e constitua doutrina apostlica. Desde os primeiros trs sculos da Igreja, era baseado neste principio que se ajuntavam os livros da segunda parte do cnon. A coleo completa fez-se vagarosamente, por varias razes. Alguns dos livros s eram conhecidos como apostlicos em algumas Igrejas. Somente quando esses livros entraram no conhecimento do corpo cristo em todo o Imprio Romano, que eles foram aceitos como de autoridade apostlica. O processo adotado foi lento, por causa ainda do aparecimento de vrios livros herticos e escritos esprios, com pretenses de autoridade apostlica. Apesar da sua lentido, os livros aceitos por qualquer igreja, eram considerados cannicos porque eram apostlicos. O ensino dos apstolos era regra de f, e lido nas reunies do culto pblico. J no principio do segundo sculo, os escritos apostlicos eram chamados Escrituras. Os evangelhos segundo Marcos e Lucas entraram na Igreja pela autoridade de Pedro e Paulo, de que foram companheiros. Logo comearam os comentrios a estes escritos, cuja fraseologia saturou a literatura da idade ps-apostlica. So dignos de nota os seguintes fatos para explicar a rapidez com que a coleo dos Livros se estendeu a toda a Igreja. Os quatro evangelhos entraram nas igrejas desde o principio do segundo sculo. A segunda epstola de Pedro, cap. 3.16, mostra-nos que as epistolas de Paulo j haviam formado uma coleo de escritos familiares aos leitores das cartas de Pedro. Muito cedo aparecem as expresses evangelho e apstolos designando as duas partes do novo volume. A evidncia sobre a canonicidade dos Atos Apostlicos, leva-nos primeira metade do segundo sculo. Alguns livros, certo, sofreram contestaes por parte de certos grupos de igrejas, mas serve para provar que tais livros entraram no cnon depois de evidentes provas de sua autenticidade. Finalmente, v-se que a Igreja da Sria, no segundo sculo, recebeu como cannicos todos os livros de que se compe o atual Novo Testamento, exceto o Apocalipse, a epstola de Judas, a segunda de Pedro, a segunda e a terceira de Joo. A Igreja Latina aceitou todos os livros, menos as epstolas de Pedro, a de Tiago, a terceira de Joo; a Igreja africana do norte aceitou todos os livros, exceto a epstola aos Hebreus, a

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segunda de Pedro e talvez a de Tiago. As colees recebidas pelas mencionadas igrejas somente continham os livros que elas haviam recebido formalmente, como de autoridade apostlica, mas isto no prova a no existncia de outros livros de igual procedncia e autoridade.Os restantes eram universalmente aceitos no curso do terceiro sculo, apesar de opinies diferentes a respeito de alguns deles. No decorrer dos tempos, e quando entramos na poca dos conclios, o Novo Testamento aparece na lista dos livros cannicos como hoje o temos. No quarto sculo, dez dos padres da Igreja e dois conclios deixaram listas dos livros cannicos. Em trs destas listam omitem o Apocalipse, contra o qual se levantaram objees que desapareceram diante dos testemunhos abundantes em seu favor. As outras listas do o Novo Testamento como hoje o temos. Em vista destes fatos, deduzimos: 1. Apesar de a formao do N. T. em um volume ter sido morosa, nunca deixou de existir a crena de ser ele livro considerado como regra de f primitiva e apostlica. A histria da formao do cnon do N. T. serve apenas para mostrar como se chegou gradualmente a conhecer os direitos que eles tinham para entrar no rol dos livros Inspirado.. 2. As diferenas de opinio sobre quais os livros cannicos e sobre os graus de certeza em favor deles, vem-se nos escritos e nas Igrejas do segundo sculo. Este fato, pois, mais uma vez vem afirmar o cuidado e o escrpulo das Igrejas em receber livros como apostlicos sem evidentes provas. Do mesmo modo se procedeu com referncia aos livros esprios. 3. A prova em favor da canonicidade dos livros do Novo Testamento a evidncia histrica. Quanto a isto, o juzo da Igreja primitiva em favor dos nossos vinte e sete livros digno de inteira f, enquanto no for provado o contrrio. No os devemos aceitar como tais, s porque os conclios eclesisticos os decretaram cannicos, nem por causa do que eles dizem. A questo versa s e unicamente sobre a sua evidencia histrica. 4. Finalmente se nota que a palavra cnon no se aplicou coleo dos livros sagrados antes do quarto sculo. No obstante, existia, a noo que representa, isto , que os livros sagrados eram regra de f, contendo a doutrina apostlica. A lista completa dos livros do NT conforme existe hoje aparece pela primeira vez na Epstola 39 de Santo Atansio de Alexandria para a Pscoa de 367 d.C. Esta mesma lista foi confirmada por documentos posteriores como o Decreto Gelasiano, e os Cnones de Hipona, Cartago III e IV. Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero demonstrou dvida quanto autoria e canonicidade de alguns livros do Novo Testamento: Hebreus, Tiago, Judas e o Apocalipse. No entanto, ao traduzir o Novo Testamento para o alemo em 1522, Lutero traduziu esses livros perfazendo ao todo 27 livros que temos hoje, mesmo no os considerando inspirados. O Conclio de Trento, no 1 Perodo (1545-48), promulgou os decretos sobre o cnon sagrado para a Igreja Catlica Romana reafirmando o Cnon do Novo Testamento tambm com os 27 livros que temos hoje.

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QUARTO PERODO: A IDADE MDIA CRISTsculos V a XV

o perodo mais longo, e trgico, da histria da Igreja Crist, cerca de mil anos, metade de toda histria at o presente. Dez sculos de distanciamento dos princpios, doutrinas e prticas bblicas. Quase todas as vozes foram silenciadas. Esse foi tambm um perodo de protestos por uma prxis, na Igreja, que correspondesse aos ditames da Palavra de Deus. As constantes guerras e conquistas na Europa Ocidental, no perodo da Idade Mdia, atingiram profundamente a Igreja, que era mais uma fora poltica que uma extenso do Reino de Deus na terra. O papa tornara-se senhor absoluto da Igreja que se estendia por todo o territrio da antigo Imprio Romano. Aquela que antes dependia s de Deus, tornarase agora um negcio de homens. A VIDA DA IGREJA O declnio moral e espiritual pelo qual passava a Igreja nesse perodo refletia-se em todos os seus aspectos, em todos os lugares. Na Frana por volta dos sculos VII e VIII a maioria dos sacerdotes era constituda de escravos foragidos ou criminosos que alcanaram a posio sacerdotal sem qualquer ordenao. Seus bispados eram considerados propriedades particulares e abertamente vendidos a quem oferecesse mais. O arcebispo de Ruo no sabia ler; seu irmo Treves nunca fora ordenado. Embriagues e adultrio eram os menores vcios de um clero apodrecido. Por toda Europa o nmero de sacerdotes envolvidos em escndalos era bem maior que os de vida honesta. Entre eles prevalecia a ignorncia e o abandono de seus deveres para com suas igrejas. Eram acusados de roubo e venda de ofcios. O prprio papado por mais de 150 anos, a partir de 890, foi alvo de atos altamente vergonhosos. O CULTO E A RELIGIO POPULAR O culto que a igreja crist na idade mdia ministrava ao seu povo e os sacramentos ocupavam a maior parte da adorao. Os sacramentos, conforme a prtica vigente, eram sete: a) batismo b) confirmao c) eucaristia d) penitncia e) extrema uno f) ordem h) matrimnio Os sacerdotes ensinavam que o simples cumprimento desses sacramentos era fator determinante para a salvao. A missa era o elemento central do culto. Era celebrada com muito esplendor por meio de cerimnias, movimentos, vestimentas carssimas, msica solene e belssimos templos. Muita coisa para ser vista e ouvida, tudo com objetivo de impressionar o esprito atravs dos sentidos. O culto aos santos, principalmente a virgem Maria ( 400/431 ) tinha muito significado para o povo. Qualquer histria que tratasse de milagres era ouvida e acatada por todos, como por exemplo a do comerciante de Groningen ( Holanda ) que roubara um brao de Joo Batista de um certo lugar e o escondera na prpria casa. Cria-se que quando um grande incndio destruiu a cidade somente a sua casa escapou. O supremo Deus revelado por Cristo Jesus j no era o nico a quem era dirigido culto. Grande nmero de outros seres eram cultuados isso devido a venerao dos mrtires iniciada no sculo II. O prprio Constantino mandou erigir um templo em honra a Pedro, enquanto Helena, sua me, chegou a empreender uma viagem a Jerusalm para ver a verdadeira cruz na qual Cristo foi crucificado pois corria notcia que a mesma havia sido encontrada. Os cristos viam nos mrtires seu heris espirituais e passaram a aceitar a idia de v-los como seus intercessores junto a Deus e t-los como seus protetores. Assim desenvolveu-se rapidamente o esprito de idolatria no povo.

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AS RIQUEZAS DA IGREJA Desde o Imperador Constantino o clero vinha isento do pagamento de impostos. Ora, se homens ricos fossem ordenados considerveis somos de dinheiro deixariam de entrar para os cofres do Estado. Para evitar que isso acontecesse os governos posteriores dispuseram que s fossem ordenados para o sacerdcio os de pequena fortuna. Como resultado disto eram recrutados homens de poucas posses, mas tambm de pouca ou nenhuma formao. A igreja passou a receber no s ofertas dos fiis mas foram-lhe doadas muitas extenses de terras, inmeros edifcios para fins religiosos. A Igreja tornou-se rica e proprietria na Europa chegando a dominar a quarta parte dos territrios da Frana, Alemanha e Inglaterra. Possua tambm muitos bens na Itlia e Espanha. Rendas incalculveis enchiam os cofres da Igreja, isso sem falar do dinheiro arrecadado na venda das indulgncias. O controle desse bens estava nas mos dos bispos. Uma disposio do papa Simplcio (468-483) determinou a diviso da renda da Igreja em quatro partes: uma para o bispo, uma para os demais clrigos, outra para manuteno do culto e dos edifcios e a ltima para os pobres. O PAPADO SUA ORIGEM. O Sistema Catlico Romano comeou a tomar forma quando o Imperador Constantino, convertido ao Cristianismo presidiu o primeiro Conclio das Igrejas no ano 313. No Sculo IV construram a primeira baslica em Roma. As Igrejas eram livres, mas comearam a perder autonomia com Inocncio I, ano 402 que, dizendo-se "Governante das Igrejas de Deus exigia que todas as controvrsias fossem levadas a ele."Leo I, ano 440, aumentou sua autoridade; alguns historiadores viram nele o primeiro papa. Naqueles tempos ningum supunha que "S. Pedro foi papa", fora casado e no teve ambies temporais. O poder dos pretensos papas cresceu ainda mais quando o Imperador Romano Valentiniano III, ano 445, bajulado, reconheceu oficialmente a pretenso do papa de exercer autoridade sobre as Igrejas. O papado surgiu das runas do Imprio Romano desintegrado no ano 476, herdando dele o autoritarismo e o latim como lngua, embora o primeiro papa, oficialmente falando, foi Gregrio no ano 600 d.C. A palavra "papa" significa pai, at o ano 500 todos os bispos ocidentais foram chamados assim: aos poucos, restringiram esse tratamento aos bispos de Roma, que valorizados, entenderam que a Capital do imprio desfeito deveria ser sede da Igreja. Nicolau l, ano 858, foi o primeiro papa a usar Coroa. Usou um "Documento Conciliar falso (esprio) dos sculos 2 e 3 que exaltava o poder do papa e imps autoridade plena. Assim, o "Papado que era recente, tomou-se coisa antiga." Quando a farsa foi descoberta Nicolau j no existia! O Vaticano projetou-se quando recebeu de Pepino, o Breve, ano 756, vastos territrios; essa doao foi confirmada pr Carlos Magno, ano 774, quando ocupava o trono papal Adriano I. (Taglialatela, II pg. 44). Carlos Magno elevou o papado a posio de poder mundial, surgindo o "Santo Imprio Romano" que durou 1.100 anos. O desenvolvimento da s romana e a supremacia de seu lder se deram paulatinamente. A primeira meno desta igreja aparece na epstola do apstolo Paulo dirigida aos cristos ali congregados. Algo que merece nossa ateno que nesta epstola, Paulo manda saudaes a diversos irmos, mas em nenhum momento menciona o suposto papa "So Pedro" ou sua primazia. Contudo, muitos fatores contriburam para dar vida ao papado no cenrio mundial; eis alguns deles: AS TRADIES: No segundo sculo surgiu uma tradio propalada por Irineu de que tanto Paulo como Pedro, haviam fundado e dirigido quela igreja, posteriormente diz outra "tradio" levada a cabo por Orgenes de que os dois haviam sido martirizados naquela cidade. Jernimo chega a dizer que Pedro governou esta igreja durante 25 anos. Assim, mais e mais foi se solidificando a lenda de que Pedro havia fundado a igreja em Roma e transferido para l o seu pontificado, sem ter contudo apoio bblico. Este foi apenas o

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embrio da supremacia da igreja de Roma. Outrossim, visto grosso modo, muitos pais da igreja como Cipriano e Irineu deram a entender que a s romana tinha algum tipo de supremacia sobre as demais, ainda que limitada. AUMENTO DO PODER: Alm disso, j numa poca remota, a igreja de Roma tornou-se a maior, a mais rica e a mais respeitada de toda a cristandade ocidental. Outro fator que contribuiu para a ascendncia da igreja romana e do seu lder foi a prpria centralidade e importncia da capital do Imprio Romano. Logo apareceram cinco cidades que se destacaram como metrpoles: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalm, os bispos destas regies receberam o ttulo de "Patriarcas". Apesar dos bispos das igrejas serem iguais uns aos outros na administrao dos ritos litrgicos e na doutrina, eles comearam a distinguir-se em dignidade de acordo com a importncia dos lugares onde estavam localizadas suas dioceses. Ao Bispo de Roma foi concedida a precedncia honorria simplesmente porque Roma era ento a capital poltica do mundo, ele foi considerado "o primeiro entre os iguais". PREDOMINNCIA DO BISPO ROMANO (I): Outro elemento importante que desde cedo a igreja romana e os seus lderes reivindicaram direta ou indiretamente, certas prerrogativas especiais. No fim do segundo sculo, o bispo Vtor (189-198) exerceu considervel influncia na fixao de uma data comum para a Pscoa, algo muito importante face centralidade da liturgia na vida da igreja. Relevante tambm foi o alvitre de S. Irineu (202) o qual, como ele mesmo confessa, procurou conscienciosamente um bispo que pudesse ser aceito pela maioria do episcopado, para desempenhar a misso de rbitro nas questes disciplinares e nas dvidas e controvrsias doutrinrias, que surgiam freqentemente entre os bispos das vrias igrejas. Esta proposta foi aceita quase imediatamente pela quase totalidade das igrejas, e fez que o Bispo de Roma comeasse a ser consultado com freqncia, o que muito contribuiu para aumentar a sua autoridade, embora a primeira decretal oficial (carta normativa de um bispo de Roma em resposta formal consulta de outro bispo) s tenha surgido em 385, com Sircio. Por volta de 255, o bispo Estvo utilizou a passagem de Mateus 16.18 para defender as suas idias numa disputa com Cipriano de Cartago. E Dmaso I (366-84) tentou oferecer uma definio formal da superioridade do bispo romano sobre todos os demais. Essas razes da supremacia eclesistica romana foram alimentadas pelas atividades capazes de muitos papas. No quinto sculo destaca-se sobremaneira a figura de Leo I (440-61), considerado por muitos na verdade"o primeiro papa". Leo exerceu um papel estratgico na defesa de Roma contra as invases brbaras e escreveu um importante documento teolgico sobre a pessoa de Cristo (o Tomo) que exerceu influncia decisiva nas resolues do Conclio de Calcednia (451). Alm disso, ele defendeu explicitamente a autoridade papal e usou muito o titulo "papa" (mais tarde Gregrio VII, reivindicou para a s romana este ttulo com exclusividade) articulando mais plenamente o texto de Mateus 16.18 como fundamento da autoridade dos bispos de Roma como sucessores de Pedro. Seu sucessor Gelsio I ( 492-496 ) exps a teoria das duas espadas: dos dois poderes legtimos que Deus criou para governar no mundo, o poder espiritual - representado pelo papa - tinha supremacia sobre o poder secular sempre que os dois entravam em conflito.O Snodo de Srdica declarava que se um bispo fosse deposto pelo snodo de sua provncia, este poderia apelar para o bispo de Roma. J o Snodo de Palma declarava que o bispo de Roma no estava submisso a nenhum tribunal humano. O mximo de pretenso papal de supremacia se encontra no artigo 22 do Dictatus do papa Gregrio VII em que se afirma que jamais houve erro na Igreja Romana. J Inocncio III cria ser o papa, o verdadeiro "Vigrio de Cristo" na terra. O imperador Valentiniano III num edito de 445, reconhece a supremacia do bispo de Roma: "Para que uma tola perturbao no venha a atingir as igrejas ou ameace a paz religiosa, decretamos - de forma permanente - que no apenas os bispos da Glia mas tambm os das outras provncias, no venham a atentar contra o antigo costume [de submeter-se ] autoridade do venervel padre (papa) da Cidade Eterna.

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Assim, tudo o que for sancionado pela autoridade da S Apostlica ser considerado lei por todos, sem exceo. Logo, se qualquer um dos bispos for intimado a comparecer perante o bispo romano, para julgamento, e, por negligncia, no comparecer, o moderador da sua provncia dever obrig-lo a se apresentar." PREDOMINNCIA DO BISPO ROMANO (2): Comitantemente s reivindicaes eclesisticas cresceu tambm o poder temporal dos papas devido ao declnio dos principais rivais de Roma. O bispo de Jerusalm perdeu o poder aps a destruio pelos romanos. O bispo de feso perdeu o poder quando foi sacudida pelo cisma montanista. Alexandria e Antioquia declinaram logo tambm, deixando Roma e Constantinopla como as maiores sedes do cristianismo primitivo. Todavia as guerras teolgicas e os inmeros cismas juntamente com as invases dos mulumanos, aos poucos foram minando a unidade dos orientais, deixando isolado o bispo de Roma. Este foi se solidificando cada vez mais no Ocidente como o "pai" dos cristos. Coube a ele defender Roma dos ataques brbaros. Muito ajudou, a converso destes povos para o cristianismo romano; no que mais tarde iria desembocar no famigerado poder temporal. FALSOS DOCUMENTOS: Essas teorias fictcias, que foram destinadas a ser reconhecidas como verdadeiras por alguns sculos - entretanto mais tarde identificadas claramente como as fraudes mais habilmente forjadas - so duas: as Pseudo-Clementinas e os Decretos do Pseudo-Isidoro. Os Escritos Pseudo-Clementinos - A Tentativa de Promover Pedro e a S de Roma ao Poder Supremo. Os escritos Pseudo-Clementinos eram "Homlias" (discursos) esprios erroneamente atribudos ao Bispo Clemente de Roma (93-101), que tentavam relatar a vida do Apstolo Pedro. O objetivo era um s: a elevao de Pedro acima dos outros Apstolos, particularmente o Apstolo Paulo, e a elevao da S de Roma diante de qualquer outra S episcopal. "Pedro", era alegado, "que foi o mais hbil de todos (os outros), foi escolhido para iluminar o Ocidente, o lugar mais escuro do Universo". As "Homilias" foram escritas para amoldar a interpretao equivocada de Mateus 16:18-19, que "tu s Pedro, e sobre esta rocha edificarei minha igreja . . . e dar-te-ei as chaves do reino do cu". equivocada porque a palavra "rocha" no se refere a Pedro, mas f em que "Tu s o Cristo, o Filho do Deus Vivo" (v. 16). No h mencionado na Bblia um s sinal da primazia de Pedro sobre os outros Apstolos e, se uma primazia era pretendida, uma deciso de tal importncia e magnitude certamente teria sido mencionada na Bblia em linguagem inequvoca. Em muitos casos o contrrio verdadeiro; Paulo escreveu aos Glatas, "eu me opus a ele (Pedro) em rosto, porque ele estava sendo censurvel" (2,11); alm disso, bem sabido que Pedro negou Cristo por trs vezes. Pedro no fundou a Igreja de Roma; ele efetivamente permaneceu em Antioquia por vrios anos antes de chegar a Roma. Dizer que, assim como Cristo reina no Cu, Pedro e seus sucessores os papas governam a Terra, uma afirmao contrria ao esprito do Evangelho e ao entendimento da Igreja antiga. Cristo era e a pedra angular e a Cabea da Igreja, que consiste de todos os membros de Seu Corpo (cf. Col.1:24). As Pseudo-decretais ou decretais pseudo-isidorianas (754 - 852). Eram falsificaes entre as quais se encontrava a tal "doao de Constantino". Neste documento constava uma suposta ddiva que o imperador fizera ao bispo de Roma, doando-lhe todas as terras do imprio em recompensa de uma cura recebida. Colocava o bispo de Roma como"caput totius orbis" (cabea de toda a terra), tanto sobre a igreja (poder espiritual) como sobre os territrios (poder temporal). Esta falsificao foi considerada autentica at o sculo XV, e ajudou muito o bispo romano reforar o primado papal, dando um aparente fundamento jurdico s pretenses dos papas. Os papas usaram e abusaram destes falsos documentos! ELEVAO DO BISPO. Se existe algo que a histria da Igreja ensina, este algo que s vezes um forte zelo pela doutrina ou nfase demasiada em certos aspectos da vida desta

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que fora esquecido e tornou a ser resgatado, pode levar uma pessoa ou igreja voluntariamente ao erro. Um exemplo registrado nos anais da histria de Sablio, que chegou a negar a Trindade ao tentar salvaguardar a unidade de Deus, rio descambou para uma interpretao antibiblica do relacionamento de Cristo com o Pai em sua tentativa de evitar aquilo que ele considerava ser o perigo do politesmo. A doutrina romana da "Sucesso Apostlica" e da elevao do poder do bispo sai igualmente deste molde. Tentando defender a f ortodoxa das heresias vigentes da poca, alguns pais da igreja criaram um mecanismo de defesa contra os hereges (gnsticos) centralizado no poder dos bispos e a elevao deste sobre os presbteros. Isto mais tarde foi deturpado e alargado pelo bispo de Roma. Por volta do ano 110, Incio bispo de Antioquia na Sria escreve sobre a importncia do bispo na igreja, diz ele: " Cuidado para que todos obedeam ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai, e o presbiterato como aos apstolos, e prestem reverncia aos diconos como sendo instituio de Deus. Que os homens no faam nada relacionado Igreja sem o bispo. Que seja considerada uma apropriada Eucaristia quela que (celebrada) seja pelo bispo, seja por algum a quem ele a confiou. Onde o bispo estiver, ali esteja tambm a comunidade (dos fiis); assim como onde Jesus Cristo est, ali est a Igreja Catlica. No legal sem o bispo batizar ou celebrar festa de casamento; mas tudo o que ele aprovar, isso ser aprovado por Deus, de modo que qualquer coisa que seja feita, seja segura e vlida" (Incio de Antioquia, Epstola igreja em Esmirna 8). Nesta mesma poca Clemente de Roma escreve sua carta aos Corntios para corrigir os cismas que estava havendo entre eles, pois estes haviam chegado a ponto de expulsarem os presbteros da igreja. Clemente escrevelhes para impor a importncia da hierarquia dos bispos. Mais tarde, Irineu, em sua obra apologtica, "Contra Heresias", uma refutao aos argumentos gnsticos, que haviam apelado para a tradio, desenvolve uma linhagem histrica de sucesso episcopal desde os apstolos at os bispos atuais, tomando como exemplo a Igreja de Roma, por ser a mais conhecida entre todas. J no ano 200 existe um bispo em cada cidade se declarando cada qual sucessores dos apstolos. Cada um procura mostrar que o primeiro da lista foi um apstolo, assim temos as listas das principais igrejas da poca: Jerusalm: 1. Tiago, irmo de Jesus 2. Simeo 3. Justo 4.Zaqueu 5. Tobias... Antioquia: 1. Pedro Evdio 2. Incio 3. Heros 4. Cornlio 5. Eros... Alexandria: 1. Marcos (evangelista) 2. Aniano 3. Ablio 4. Cerdo 5. Primo... Roma: 1. Pedro e Paulo (?) 2. Lino 3. Anacleto ou Cleto 4. Clemente 5. Evaristo... Nesta poca a hierarquia j era constituda por 1- Bispo, 2- Presbtero, 3 Diconos. Mais tarde o Conclio de Nicia estabelece um bispo para cada cidade. No entanto, apesar desta gradual elevao do cargo do bispo, ainda no se fala em supremacia do Bispo de Roma sobre os demais, nem de papa, pois todos eram iguais e independentes, havendo uma unio fraternal entre as vrias igrejas. Se s vezes a s romana parece elogiada em demasia devido sua posio poltica e territorial; devido unicamente ao seu status de capital do Imprio.

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O GRANDE CISMA DO ORIENTE A situao doutrinria e prtica das igrejas, no incio do segundo milnio. No incio do segundo milnio da Era Crist, tanto a igreja catlica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, j havia incorporado em suas prticas e liturgias vrios pontos que seriam questionados de forma incisiva pela Reforma do sculo XVI. interessante notarmos, entretanto, que muitas dessas prticas sofreram contestao ao longo de suas introdues e vrias deram lugar separao entre o leste e o oeste, culminando, em 1054, no Grande Cisma. Desde o ano de 867 circulavam, na igreja oriental, relaes de prticas da igreja ocidental romana que eram doutrinariamente contestadas pela ala do leste. Mas a relao mais importante foi escrita pelo patriarca Cerulrius no ano de 1054. Ela era, na realidade, uma reao a uma relao de erros da igreja oriental, que havia sido enviada pelo papa Leo IX, pelo cardeal Humberto. A lista de Cerulrius continha, entre outras coisas: condenava o uso de po fermentado na eucaristia; condenava a aprovao de qualquer carne para alimentao; condenava a permisso de se barbear; rejeitava as adies sobre o Esprito Santo ao Credo Niceno; condenava o celibato clerical; condenava a permisso de se; etc., etc. No final Cerulrius escreveu: "Portanto, se eles vivem dessa maneira, enfraquecidos por esses costumes; ousando praticar essas coisas que so obviamente fora da lei, proibidas e abominveis; ento poder qualquer pessoa, em seu juzo so, inclu-los na categoria de ortodoxos? Claro que no". No final, Humberto, comissionado pelo papa, excomungou Cerulrios e Cerulrius excomungou Humberto e o papa, e estava sacramentado o Grande Cisma de 1054. As seis razes principais para o Grande Cisma. O Cisma, entretanto, no ocorreu em cima de um incidente especfico, mas sacramentou uma diviso de doutrina, interesses e estilos que j vinha sendo consolidada ao longo dos ltimos sculos. Vejamos seis razes principais para ele ter ocorrido: A primeira razo foi a controvrsia iconoclstica - que quer dizer uma discordncia contra a utilizao de imagens. O imperador Leo Iasuriano, no ano 726, emitiu um primeiro decreto contra a utilizao de imagens na adorao. Nessa ocasio, isso j era uma prtica crescente, trazida do paganismo para o seio da igreja. Ocorre que o Islamismo exerceu intensa presso, pois acusava a igreja de politesta. Leo agia por presso e medo dos maometanos, bem mais do que por convico. Ele foi apoiado pelo patriarca de Constantinopla, que representava o ramo oriental da igreja, e por muitos da alta hierarquia catlica. A maioria dos monges e o povo, em geral, discordavam da proibio e incentivavam a continuidade da utilizao de dolos. O papa Gregrio II, em Roma, considerou a proibio uma interferncia poltica (oriunda de Constantinopla) nos assuntos da igreja - especialmente porque ele, distanciado dos maometanos, em Roma, no sentia o problema de perto. O culto s imagens teve livre curso na igreja catlica. Criou-se, ento, a partir da uma diviso marcada entre o leste e o oeste. O ponto curioso que, cerca de 125 depois, a igreja ortodoxa dissociou-se dos que queriam a abolio dos dolos e adotou uma iconografia prdiga - ou seja, o uso amplo de ilustraes e pinturas na liturgia e na adorao. A segunda razo foi um conflito com a doutrina da "processo" do Esprito Santo. O Conclio de Nicia, reafirmando a doutrina do Esprito Santo, havia indicado que Deus Pai havia enviado o Filho e o Esprito Santo. Posteriormente, um snodo realizado na cidade de Toledo, procurou esclarecer a frase indicando que o Esprito Santo procedia tanto do Pai como do Filho (essa insero chamada de clusula filioque - Latin para "e do filho"). Essa declarao substancia aquilo que entendemos como subordinao econmica, ou seja - enquanto as trs pessoas da trindade se constituem em uma s pessoa divina e so iguais em poder, prerrogativas e essncia (chamamos isso de trindade ontolgica) - no relacionamento com a criao elas se auto-impem funes diferentes. Nesse sentido, dizemos que existe diferenciao de atividades e eventual subordinao no plano de salvao: o Pai envia; o Filho executa; o Esprito Santo, procedendo tanto do Pai como do Filho, aplica, revela e glorifica ao Filho - no fala de si mesmo (Joo16.13-14).

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A ala oriental da igreja, j destacando-se com uma nfase mstica, no aceitava as afirmaes sobre o Esprito Santo como uma expresso do trabalho e da pessoa de Cristo, conforme o Credo do Conclio de Nicia, ampliado em Toledo, veio a ser aceito pela igreja do oeste. A terceira razo , foi uma falta de predisposio tanto do papa, em Roma, como do Patriarca, em Constantinopla, de se submeterem um ao outro. At o sculo nono todos os papas eleitos, em Roma, procuravam confirmao e concordncia de suas eleies junto ao Patriarca de Constantinopla - assim procurava manter-se a unidade da ala oriental da igreja, com a ocidental. Gregrio III, entretanto, foi o ltimo papa a obter tal confirmao. Em 781 os papas deixaram de mencionar o nome do imperador de Constantinopla em seus documentos. A quarta razo , que no existiam limites muito bem estabelecidos, com relao s reas que deveriam ser regidas por Roma ou por Constantinopla. Os poderes se confundiam, as hierarquias se mesclavam. Isso resultava em constantes frices relacionadas com a jurisdio de cada ala. A quinta razo representa as diferenas culturais existentes entre o oriente e o ocidente. Tais diferenas sempre prejudicaram o entendimento e a cooperao entre as duas alas. Pouco a pouco, as diferenas culturais foram se incorporando na liturgia. A igreja oriental foi ficando cada vez mais introspectiva, monstica e mstica. A igreja ocidental, mais inovadora e ecltica na absoro de prticas pags. A sexta razo que a igreja oriental se colocava sob o Imperador que regia em Constantinopla, enquanto que a igreja ocidental, naquela ocasio, reivindicava independncia da ao do estado e o direito de exercitar regncia moral sobre os reis e governantes. Assim, no ano de 1054 a bula papal de excomunho do Patriarca foi depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliao por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir da a histria se divide e passamos a acompanhar muito mais a histria da igreja romana, do que a da igreja Grega Ortodoxa e de suas variaes e ramos (Russa Ortodoxa, Maronitas, etc.) A Igreja Ortodoxa Hoje A Igreja Ortodoxa um ajuntamento de igrejas auto-governadas. Elas so administrativamente independentes e possuem vrios ramos, embora todas reconheam a preeminncia espiritual do Patriarca de Constantinopla. Elas mantm comunho, umas com as outras, embora a vida interna de cada igreja independente seja administrada por seus bispos. Atualmente, existem Igrejas Ortodoxas da Rssia, da Romnia, da Srvia, da Bulgria, da Gergia, do Chipre, dos Estados Unidos, etc. Algumas caractersticas doutrinrias e litrgicas marcam as Igrejas Ortodoxas com mais intensidade: Tradio: A Igreja Ortodoxa d enorme importncia tradio. Uma das igrejas, aqui no Brasil, coloca em sua literatura, que "Tradio a chave para a auto-compreenso". Na compreenso da doutrina da Igreja Ortodoxa, o Esprito Santo inspira no somente a Bblia, mas tambm a "tradio viva da igreja". Misticismo: A Igreja Ortodoxa desenvolveu-se com caractersticas bem mais msticas e subjetivas do que o ramo ocidental. Um texto dela diz: " A espiritualidade ortodoxa , de fato, caracteristicamente monstica, o que significa que todo o cristo ortodoxo tende para a vida monstica". cones: Como j vimos, ironicamente, apesar da ala oriental ter se posicionado contra o culto s imagens, no sculo oitavo, quando chegou a ocasio do Grande Cisma, ela j havia retornado prtica de venerao e adorao dos cones. Existem algumas diferenas, com relao Igreja Romana: Ela s aceita pinturas bidimensionais; imagens tridimensionais so rejeitadas. Essas pinturas devem sempre conter algum elemento mstico, como, por exemplo, um halo, ou algo que identifique a divindade; elas no devem simplesmente

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retratar semelhana humana. H uma predominncia, nas imagens de cenas do nascimento de Cristo, dele com Maria, etc. Tais imagens so beijadas repetidamente pelos fiis. Liturgia Rebuscada: A Igreja Ortodoxa se orgulha da "beleza" de sua liturgia. Na realidade, existe um intenso ritualismo e formalismo, na sua adorao. Uma grande aproximao com o formalismo da missa catlico romana. Uma Rpida Avaliao da Igreja Ortodoxa. A importncia dada tradio, no somente diminui a importncia da Palavra de Deus, na vida das pessoas e da prpria igreja, como chega a subordinar a Bblia tradio. Ela afirma que as verdades da salvao so "preservadas na Tradio viva da Igreja" e que as Escrituras so "o corao da tradio". Nesse sentido, consideram tambm que as suas doutrinas e a "F Apostlica" tm sido, no seio da Igreja Ortodoxa, "inclume transmitida aos santos". Uma publicao da Igreja Ortodoxa diz, textualmente: "As fontes de onde extramos a nossa F Ortodoxa so duas: a Sagrada Escritura e Santa Tradio". Isso contradiz frontalmente a compreenso reformada das Escrituras - Sola Scriptura ( somente as Escrituras ) foi um dos Pilares da Reforma do Sculo XVI. Nesse sentido, a Igreja Ortodoxa se aproxima muito da Catlica Romana. A Igreja Ortodoxa abriga a idolatria. A alta considerao dada aos cones, os rituais de beijos e afeio e a sua ampla utilizao na vida diria de devoo, demonstram que por mais que se declare uma simples "venerao", no h diferena prtica da mera adorao a tais imagens. A rejeio s esttuas no basta para eliminar o cncer da idolatria que persegue a mente carnal, desviando os olhos da intermediao nica de Cristo e da simplicidade do culto que deve ser prestado, em esprito e em verdade. Uma publicao da Igreja Ortodoxa diz: "dentro da tradio ortodoxa a palavra cone assumiu o significado de imagem sagrada". Vemos como a tradio gera a idolatria condenada pela Palavra (Is. 44.920) A viso da Igreja Ortodoxa sobre a pessoa do Esprito Santo, considerando sua obra quase que independente da obra de Cristo, levou ao desenvolvimento de um misticismo que tem a "aparncia de piedade", mas que na realidade desvia o foco da pessoa de Cristo Jesus, nosso nico mediador entre Deus e os homens. Nesse sentido, ela se aproxima muito de certos segmentos da igreja evanglica contempornea que tm procurado transformar a f crist e a prtica litrgica extrada da Bblia, em representaes msticas da atuao do Esprito, segundo conceitos humanos. verdade que a Igreja ortodoxa no aceita a supremacia do papa, e algumas outras prticas da igreja de Roma, mas de uma forma genrica, ela abriga dentro de si muitos dos pontos errados que foram contestados pela Reforma, por terem sido meros frutos do tradicionalismo e no de uma exegese slida da Palavra de Deus. A Igreja Ortodoxa se orgulha em pregar a unidade, apontando-se a si mesma como a igreja apostlica real, mas a verdadeira unidade se forma ao redor das doutrinas cardeais da f crist e no pela tradio.

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AS CRUZADAS Nesse perodo a igreja romana constituiu as cruzadas, que objetivavam converter, por quaisquer meios, inclusive a espada, povos e naes ao cristianismo. A idade das trevas, como tambm conhecida a idade mdia, apesar da sua longa durao, experimentou muito pouco do fervor evangelstico, da santidade e do compromisso com o Senhor Jesus expresso pelos cristos do primeiro sculo e da poca das perseguies. As Cruzadas so tradicionalmente definidas como expedies de carter "militar" organizadas pela Igreja, para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalm) das mos desses infiis. O movimento estendeu-se desde os fins do sculo XI at meados do sculo XIII. O termo Cruzadas passou a design-lo em virtude de seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) serem identificados pelo smbolo da cruz bordado em suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivduo e Deus. Era o testemunho visvel e pblico de engajamento individual e particular na empreitada divina. Partindo desse princpio, podemos afirmar que as peregrinaes em direo a Jerusalm, assim como as lutas travadas contra os muulmanos na Pennsula Ibrica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja, atravs do conceito de Guerra Santa -- a guerra divinamente autorizada para combater os infiis. "Para os homens que no haviam se recolhido a um mosteiro, havia um meio de lavar suas faltas, de ganhar a amizade de Deus: a peregrinao. Deixar a casa, os parentes, aventurarse fora da rede de solidariedades protetoras, caminhar durante meses, anos. A peregrinao era penitncia, provao, instrumento de purificao, preparao para o dia da justia. A peregrinao era igualmente prazer. Ver outros pases: a distrao deste mundo cinzento. Em bandos, entre camaradas. E, quando partiam para Jerusalm, os cavaleiros peregrinos levavam armas, esperando poder guerrear contra o infiel: foi durante essas viagens que se formou a idia da guerra santa, da cruzada". O movimento cruzadista foi motivado pela conjugao de diversos fatores, dentre os quais se destacam os de natureza religiosa, social e econmica. Em primeiro lugar, a ocorrncia das Cruzadas expressava a prpria cultura e a mentalidade de uma poca. Ou seja, o predomnio e a influncia da Igreja sobre o comportamento do homem medieval devem ser entendidos como os primeiros fatores explicativos das Cruzadas. Tendo como base a intensa religiosidade presente na sociedade feudal a Igreja sempre defendia a participao dos fiis na Guerra Santa, prometendo a eles recompensas divinas, como a salvao da alma e a vida eterna, atravs de sucessivas pregaes realizadas em toda a Europa. O Papa Urbano II, idealizador da Primeira Cruzada, realizou sua pregao durante o Conclio de Clermont rompida com a separao da Igreja no Cisma do Oriente, o Papa assim se dirigiu aos fiis: " Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem impiedosamente contra os fiis, em guerras particulares, lutarem contra os infiis. Deixai os que at aqui foram ladres tornarem-se soldados. Deixai aqueles que outrora bateram contra seus irmos e parentes lutarem agora contra os brbaros como devem. Deixai os que outrora foram mercenrios, a baixo soldo, receberem agora a recompensa eterna. Uma vez que a terra onde vs habitais, demasiadamente pequena para a vossa grande populao, tomai o caminho do Santo Sepulcro e arrebatai aquela terra raa perversa e submetei-a a vs mesmos". A ocorrncia das Cruzadas Medievais deve ser analisada tambm como uma tentativa de superao da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Baixa Idade Mdia. Por esta razo outros fatores contriburam para sua realizao. Muitos nobres passam a encarar as expedies Terra Santa como uma real possibilidade de ampliar seus domnios territoriais.

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Aliada a esta questo deve-se lembrar ainda de que a sucesso da propriedade feudal estava fundamentada no direito de primogenitura. Esta norma estabelecia que, com a morte do proprietrio, a terra deveria ser transmitida, por meio de herana, ao seu filho primognito. Aos demais filhos s restavam servir ao seu irmo mais velho, formando uma camada de "nobres despossudos" -- a pequena nobreza -- interessada em conquistar territrios no Oriente por meio das Cruzadas. Tanto a Cruzada Popular como a das Crianas foram fracassadas. Ambas tiveram um trgico fim, devido falta de recursos que pudessem manter os peregrinos em sua longa marcha. Na verdade, as crianas mal alcanaram a Terra Santa, pois a maioria morreu no caminho, de fome ou de frio. Alguns chegaram somente at a Itlia, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram seqestrados e escravizados pelos mulumanos. Com os mendigos da Cruzada Popular no foi diferente. Embora tivessem alcanado a cidade de Constantinopla (sob pssimas condies), as autoridades bizantinas logo trataram de afastar aquele grupo de despossudos. Para tanto, o bispo de Constantinopla incentivou os peregrinos a lutarem contra os infiis da sia. O resultado no poderia ser outro: sem condies para enfrentar os fanticos turcos seldjcidas, os abnegados fiis foram massacrados. Alm dessas duas cruzadas, tiveram ainda oito cruzadas oficialmente organizadas, em direo Terra Santa.

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A EVOLUO DO CATOLICISMO ROMANOfonte: Revista Defesa da F/ICP

367* Conclio de Hipo: ratificao dos 66 livros da Bblia Sagrada; *Daqui para frente, devido influncia do Estado e, principalmente, interveno do imperador Teodsio, sucessor de Constantino, o cristianismo comearia a deteriorar at tornar-se catolicismo; 400 Maria passa a ser considerada me de Deus e os catlicos comeam a interceder pelos mortos; 431 Instituio do culto a Maria no conclio de feso; 451 Surge a doutrina da virgindade perptua de Maria; 503 criada a doutrina do purgatrio; 554 Convencionada a data de 25 de dezembro como o nascimento de Cristo; 600 Gregrio, o Grande, torna-se o primeiro Papa oficialmente aceito. Podemos considerar instituio da Igreja Catlica Apostlica Romana daqui para a frente; 609 O culto oficial a virgem Maria teve incio com Bonifcio III; 787 Instituio do culto s imagens e s relquias no II Conclio de Nicia; 803 No Conclio de Maguncia, foi instituda a festa da Assuno da Virgem Maria; 850 Conclio de Paiva. Instituio do rosrio e da coroa da virgem Maria e da doutrina da transubstanciao; 880 Incio da canonizao dos santos; 1073 Instituda a doutrina do celibato pelo Papa Hildebrando ( Gregrio VIII ); 1094 No Conclio de Clermont a Igreja Catlica cria as indulgncias ( venda de salvao ); 1100 Institui-se o pagamento pelas missas e pelo culto aos santos; 1125 Aparece pela primeira vez nos cnones a idia da imaculada concepo de Maria; 1184 A Santa Inquisio estabelecida no Conclio de Verona; 1229 A Igreja Catlica probe aos leigos a leitura da Bblia; 1317 Joo XII ordena a reza Ave Maria ; 1498 Jernimo Savonarola enforcado e queimado na Praa de Florena; 1500 Celebrada a primeira missa no Brasil; 1573 A Igreja Catlica altera a Bblia com a canonicidade de sete livros apcrifos; 1854 O papa Pio XII cria o dogma da Imaculada Conceio de Maria; 1870 I Conclio do Vaticano proclama o dogma da infalibilidade papal; 1967 O papa Paulo VI probe os catlicos romanos de freqentarem cultos evanglicos; 2001 O papa Joo Paulo II pediu igreja latino-americana para fomentar uma ao pastoral decidida contra as seitas evanglicas, as quais definiu como um grave obstculo para a evangelizao do continente. 2005 Joseph Alois Ratzinger, eleito em 19 de Abril de 2005 ( Papa Bento XVI ). Foi eleito como o 265 Papa.

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MOVIMENTOS DE PROTESTO Uma das principais causas do fracasso da Igreja daquela poca foi o descuido por parte de seus lideres para com o povo que a compunha. Os sacerdotes acomodados de davam por satisfeitos com o que prescrevia o rito latino o qual nem o povo e s vezes nem eles mesmo entendiam. No devemos pensar que o povo ficou de todo calado diante de tanto desprezo sofrido sem lanar os seus protestos e condenao vida acomodada e pecaminosa do clero. No incio do sculo XII surgiram vrios movimentos de oposio atitude do clero e ao estado moral da Igreja por parte de vrios homens. Cludio de Turim. Viveu entre os sculos VIII e IX , tendo morrido no ano 832. Foi bispo em Turim, grande cidade do Norte da Itlia. Discpulo de Agostinho na Teologia, ops-se, entretanto, ao sacerdotalismo. Cria no sacerdcio universal dos crentes ( sem necessidade de mediadores, santos , sacerdotes ); tirou as imagens das igrejas que estavam sob sua jurisdio; condenou hbito da invocao dos santos; no aprovou o costume das oraes pelos mortos . Para que tenhamos uma idia do valor de suas posies, bom que lembremos que o Stimo Conclio Ecumnico, realizado em Nicia no ano 787, havia oficializado o culto s imagens. Os Cataristas. Uma grande fora de protesto contra a impureza da Igreja. Foi um poderoso partido religioso que se expandiu grandemente no fim do sculo XII alcanando o seu apogeu durante o sculo XIII. Na verdade era uma Igreja que possua seu prprio ministrio, sua organizao, seu credo, seus cultos e seus sacramentos. Os Cataristas se espalharam pela Itlia, Frana, Espanha, Pases Baixos e Alemanha. Foram mais fortes no sudeste da Frana, onde foram chamados Albigenses ( da cidade de Albi). Os Valdenses. Os Valdenses fundaram uma ordem de evangelistas que viajavam pregando ganhando adeptos. Foi um movimento de protesto quanto a situao reinante na Igreja ( 1170 ) liderados por Pedro Valdo, um comerciante de Lyon, na Frana. Esse movido pelo ensino do captulo 10 de Mateus comeou a distribuir todo o seu dinheiro entre os pobres vindo a tornar-se um evangelista itinerante. ele juntaram-se grandes multides que faziam frente Igreja espiritualmente enfraquecida. Foram excomungados pelos papas da poca mas ao final da idade mdia estavam fortemente organizados. Ainda que perseguidos pela inquisio papal continuaram sempre ativos no ensino do Evangelho e na distribuio de manuscritos parciais das Escrituras. Arnaldo de Brescia. Roma (1155). Discpulo de Abelardo , pregava que a Igreja no devia ter propriedades; que o governo civil pertencia ao povo; que Roma devia ser liberta do papado. Ele foi enforcado, a pedido do Papa Adriano IV. Os Irmos. Eram muito parecidos com os Valdenses. Possuam uma f muito simples e eram conhecidos pela vida santa que viviam. Nada tinham com a Igreja romana e seu clero. Realizavam suas reunies falando a lngua do povo; Apreciavam a leitura da Bblia e possuam muitas cpias de manuscritos de traduo da Bblia ou de algumas das suas partes. As sociedades dos "Irmos" se espalharam pela Europa, correspondendo-se e realizando trabalho em conjunto missionrio muito ativo, porm em segredo, por causa das perseguies. Eram numerosos entre os camponeses e operrios das cidades, particularmente na Alemanha. Pedro de Bruys e Henrique de Lausane. O mais importante desses movimentos teve lugar no sudeste da Frana sob a chefia de Pedro de Bruys e Henrique de Lausane. Eles se opunham supersties dominante na Igreja, a certas formas de culto e a imoralidade do clero. Este movimento chamado "Petrobrusssiano" e "Henriquianos", desenvolveu-se por uma vasta regio, e muita gente de todas as camadas sociais a eles aderiram, abandonando as Igrejas oficiais. Tanto Pedro de Bruys quanto Henrique de Lausane, viveram no inicio do sculo XII. Suas doutrinas eram as mesmas. O Cristianismo deveria ser simples, mas poderoso no efeito sobre os homens; salvao pela f; rejeitavam o batismo infantil; eram contra o uso de imagens no culto; a ceia era um memorial; insistiam na autoridade da Bblia sobre os pais da

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Igreja. Pedro de Bruys foi queimado vivo em 1124 e Henrique de Lausane morreu na priso em 1148. Joo Wycliffe ( 1328 - 1384) Wycliffe estudou e ensinou em Oxford a maior parte de sua vida. At 1378, era reformador que queria reformar a Igreja romana atravs da eliminao dos clrigos imorais e pelo despojamento de sua propriedade , que , segundo ele, era a fonte da corrupo. Em uma obra de 1376 intitulada Of Civil Dominion (sobre o Senhorio Civil), ele exigia uma base moral para a liderana eclesistica. Deus concedia aos lderes eclesisticos o uso e a posse dos bens, mas no a propriedade , como um depsito a ser usado para a Sua glria. A falha da parte dos eclesisticos em cumprir suas prprias funes era uma razo suficiente para a autoridade civil tomar os seus bens e entreg-los somente aos que servem a Deus dignamente . Esta doutrina agradava os nobres que esperavam se apoderar das propriedades da Igreja Romana . Eles e Joo de Gaunt protegeram Wycliffe para que a Igreja de Roma no conseguisse peg-lo. As idias de Wycliffe foram condenadas em Londres em 1382, e foi obrigado a se retirar para seu pastorado em Lutterworth. Ele providenciara a continuao da propagao de suas idias com a fundao de um grupo de pregadores leigos, os lolardos, que as pregaram por toda a Inglaterra at que a Igreja Romana, por fora da declarao "De Haeretico Comburendo" promulgada pelo Parlamento em 1401, introduzisse a pena de morte como castigo pregao das idias dos lolardos. As habilidades de Wycliffe influenciaram na preparao do caminho para a reforma na Inglaterra. Ele deu aos ingleses sua primeira Bblia no vernculo e criou o grupo lolardo para proclamar idias evanglicas entre o povo comum da Inglaterra. JOO HUSS (1373 - 1415) Reformador religioso e patriota tcheco (Husinec, Bomia , hoje Tchecoslovquia, 1372 Constana hoje Konstanz. Repblica Federal da Alemanha. Campons educou-se em Praga, ordenou-se sacerdote (1400), fez-se confessor da rainha Sofia e professor da universidade Carlos (filosofia). Em 1402 comeou a pregar na pequena capela de Bethlehem, hoje reconstruda . Apoiado, de incio, pelas autoridades traduziu o Novo Testamento para o tcheco e publicou vrios livros: da glorificao do sangue de Jesus Cristo, Contra a adorao das imagens, Vida e Paixo de Cristo segundo os quatro Evangelhos. Em 1408 entrou em conflito com o arcebispo Zbvniec por haver demostrado simpatia pelas idias do reformador ingls John Wycliffe e condenado, do plpito, os privilgios do clero. Nada o deteve . Publicou um Tratado das indulgncias, doze teses contra a bula do antipapa e dez sermes sobre a anatomia do Anticristo. Excomungado deixou Praga a pedido do imperador, embora a populao da cidade se tivesse levantado em seu favor e contasse com partidrios na nobreza. Escreveu ento, sua obra principal De Eccesia 1412; Sobre a Igreja. Intimado a comparecer perante o conclio de Constana, muniu-se de um atestado de ortodoxia, dado pelo inquisidor Nicolau de Husinec, e de um salvo-conduto do imperador Sigismundo. Atacado, no entanto, pelos representantes da Sorbonne, foi sentenciado fogueira. Queimaram-no no prprio dia da condenao. SAVONAROLA (1452-1498) Wycliffe e Huss foram estigmatizados como hereges que colocaram a Bblia como o primeiro padro da autoridade; Savonarola, porm, estava mais interessado na reforma da Igreja em Florena. Depois de se fazer monge dominicano em 1474, foi designado para Florena alguns anos depois ele procurou reformar o Estado e a Igreja na cidade, mas sua pregao contra a vida desregrada do papa provocou a sua morte por enforcamento.

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QUINTO PERODO: A REFORMA1453 a 1648

O perodo da Reforma Protestante ocorre entre 1453, ano da queda de Constantinopla, e 1648, fim da guerra dos trinta anos, que envolveu quase todas naes europias, abrange cerca de dois sculos. O ano que assinala o comeo da Reforma 1517. Na manh de 31 de outubro daquele ano Martinho Lutero afixou nas portas Catedral de Wittenberg, Alemanha, um pergaminho que continha noventa e cinco teses ou declaraes quase todas relacionadas com a venda de indulgncias que denunciava como falsa essa prtica e ensino. Conforme j temos estudado, em pocas anteriores ao perodo de Martinho Lutero, muitas vozes reformadoras se levantaram dentro da igreja, ao custo da prpria vida, contra os desvios doutrinrios, eclesiais, ticos, morais e comportamentais do clero. MARTINHO LUTERO O reformador nasceu numa famlia humilde em 10 de novembro de 1483 em Eislebem, na provncia de Mansfelf, Alemanha. Costumava afirmar: sou filho de camponeses. A educao que recebeu em casa era reta e rigorosa fato que contribuiu para sua formao e o preparou para a grande aventura de sua vida, anos mais tarde. Aos dezoito anos, foi, por ordem de seu pai, para a Universidade de Erfurt estudar direito. Enquanto buscava anelo para sua alma passava os dias vagueando pensativo na biblioteca da universidade, ali se d o seu primeiro encontrou com uma Bblia, escrita em latim. Depois dessa longa peregrinao espiritual Lutero finalmente convenceu-se de que a salvao pela graa, mediante a f. Nascia o reformador. Lutero, agora amparado nas Escrituras, levanta protestos contra a venda de indulgncias e contra toda teologia que se encontrava por detrs dela. Sua teologia, fundamentada no entendimento que agora possua da Palavra de Deus rapidamente se desenvolveu em direes que entravam em conflito com vrios temas da teologia tradicional. PRINCIPAIS CAUSAS DA REFORMA 1) A venda de indulgncias; 2) As 95 Teses; 3) A Queima da Bula Papal. PRINCPIOS DA RELIGIO REFORMADA 1) Bblia, o lema era: Somente a Escritura; 2) Pessoal, o relacionamento com Deus acessvel a todos; 3) Espiritual, possvel o homem relacionar-se diretamente com o Deus. PRINCIPAIS RESULTADOS DA REFORMA 1) Traduo da Bblia na lngua do povo; 2) Todos tm acesso a Palavra; 3) Restaurao de princpios bblicos; 4) O sacerdcio universal de todos os crentes. SNTESE DO PERODO O movimento da reforma trouxe igreja a liberdade de acesso a Palavra de Deus e um novo tempo para os fiis que agora descobriam o caminho de relacionamento direto com o Senhor. Contudo, devido s muitas disputas teolgicas decorrentes daquele momento, as misses no foram prioridade imediata para os seus lderes. Nesse perodo se destacaram aes de restabelecimento dos princpios espirituais da f bblica, no formalista e comunho individual do crente com Cristo. Estavam lanadas as bases para o sexto perodo: o cristianismo moderno. Os principais lderes desse perodo foram: Martinho Lutero, na Alemanha, ( 1483-1546 ); Joo Calvino, na Sua ( 1509-1564 ) e Joo Knox, na Esccia ( 1505-1572 ).

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AS 95 TESES DE LUTERO Com um desejo ardente de trazer a verdade luz, as seguintes teses sero defendidas em Wittenberg sob a presidncia do Rev. Frei Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma. Ele, portanto, pede que todos os que no puderem estar presentes e disputar com ele verbalmente, faam-no por escrito. Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amm. 1. Ao dizer: "Fazei penitncia", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiis fosse penitncia. 2. Esta penitncia no pode ser entendida como penitncia sacramental (isto , da confisso e satisfao celebrada pelo ministrio dos sacerdotes). 3. No entanto, ela no se refere apenas a uma penitncia interior; sim, a penitncia interior seria nula se, externamente, no produzisse toda sorte de mortificao da carne. 4. Por conseqncia, a pena perdura enquanto persiste o dio de si mesmo (isto a verdadeira penitncia interior), ou seja, at a entrada do reino dos cus. 5. O papa no quer nem pode dispensar de quaisquer penas seno daquelas que imps por deciso prpria ou dos cnones. 6. O papa no tem o poder de perdoar culpa a no ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe so reservados. Se ele deixasse de observar essas limitaes, a culpa permaneceria. 7. Deus no perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeit-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigrio. 8. Os cnones penitenciais so impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cnones, nada deve ser imposto aos moribundos. 9. Por isso, o Esprito Santo nos beneficia atravs do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstncia da morte e da necessidade. 10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitncias cannicas para