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MANUAL DO

TCNICO FLORESTALEscola da Floresta Roberval Cardoso Rio Branco / Acre 2007-2009

M775m

ROTH, Patricia; MIRANDA, Patrcia Nakayama; MONTEIRO, Elane Peixoto; OLIVEIRA, Renato da Silva. Manual do Tcnico Florestal. Rio Branco, AC,: Design Grfico Guilherme K. Noronha, 2009. 260p. il. 1.Sustentabilidade, 2. Manejo Florestal - Acre, 3. Produo Florestal, 4. Tcnico Florestal - atribuies, 5. Organizao Comunitria, 6. Legislao, I. Ttulo. CDU 504.03 (811.2)

GOVERNADOR DO ESTADO DO ACRE Arnbio Marques de Almeida Jnior DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO PROFISSIONAL DOM MOACYR GRECHI Irailton de Lima Sousa COORDENADOR GERAL DO CENTRO DE EDUCAO PROFISSIONAL ESCOLA DA FLORESTA ROBERVAL CARDOSO Edemilson Pereira dos Santos - Coordenador (2005 - 2007) Stela Beatriz Sales Ribeiro Coordenadora Geral COORDENADORA DA REA TCNICA FLORESTAL Erilene Lima Silva EQUIPE DA REA FLORESTAL RESPONSVEL PELA ELABORAO DO MANUAL Elane Peixoto Monteiro - Tcnica Florestal (Assessora) Patrcia Nakayama Miranda Biloga (Mediadora) Patrcia Roth - Engenheira Florestal (Mediadora) Renato da Silva Oliveira (Mediador) REVISO Ana Cludia Pupim Edemilson Pereira dos Santos Elane Peixoto Monteiro Erilene Lima Silva Patrcia Nakayama Miranda Patricia Roth Renato da Silva OliveiraAgradecimentos especiais a todos os colaboradores do Instituto Dom Moacyr e parceiros, que de forma direta ou indireta contriburam para o desenvolvimento deste produto.

PROPONENTE

EXECUTORES

Escola da Floresta Roberval Cardoso

FINANCIADORES

PARCEIROS

FOTOS Acervo Escola da Floresta - fotos produzidas por mediadores e educandos durante as atividades didticas. ILUSTRAES Clementino de Almeida PROJETO GRFICO, DIAGRAMAO E FINALIzAO gknoronha.com.br

Comunidades Agroextrativistas

EQUIPE QUE COMPS A REA FLORESTAL DURANTE O CURSO TCNICO (2005 A 2006) Alberto Martins - Engenheiro Florestal (Mediador e Coordenador) Antnio Divino de Souza Identificador Botnico Edemilson Pereira dos Santos Engenheiro Florestal (Coordenador) Elaine Cristina - Biloga (Mediadora) Elane Peixoto Monteiro - Tcnica Florestal (Assessora) Erilene Lima Silva - Engenheira Florestal (Mediadora) Flavio Quental Rodrigues - Engenheiro Agrnomo M.Sc. (Mediador) Joo Maciel Cientista Social (Mediador Temporrio) Jlio Raposo - Engenheiro Florestal (Mediador) Luciana Rola - Engenheira Florestal (Mediadora) Patrcia Nakayama Miranda Biloga (Mediadora) Patricia Roth - Engenheira Florestal (Mediadora) Ricardo Carvalho Administrador (Mediador Temporrio) Rodrigo Rodrigues de Freitas - Bilogo M.Sc. (Mediador e Coordenador) Valquria Garrote Biloga M.Sc. (Mediadora) ESTUDANTES / PROFISSIONAIS DO CURSO TCNICO FLORESTAL Adailson Souza Silva (Cruzeiro do Sul) Aluilson Costa Cordeiro (Mncio Lima) Antnia Eliane Almeida de Azevedo (Sena Madureira) Antnio Batista de Arajo (Assis Brasil) Antnio Jos Lima Martins (Cruzeiro do Sul) Birajara da Silva Correia (Brasilia) Cludio Ferreira Conde (Xapuri) Cleocina da Silva e Silva (Assis Brasil) Cleudes Mendes da Silva (Rio Branco) Cleuton Jos dos Santos (Tarauac) Edevaldo do Nascimento Barbosa (Mncio Lima) Edivndria de Souza Silva (Mncio Lima) Edmilson Lima Pereira (Cruzeiro do Sul) Eliton Gomes de Azevedo (Rio Branco) Emilson Silva de Souza (Mncio Lima) Eronilza de Lima e Silva (Cruzeiro do Sul) Evangelina Nascimento de Jesus (Rodrigues Alves) Fbio Silva Paes (Cruzeiro do Sul) Gerbson Oliveira da Costa (Xapuri) Giordano Bruno da Silva Oliveira (Cruzeiro do Sul)

Heliomar Nunes da Silva (Cruzeiro do Sul) Hlison Bezerra Mouro (Tarauac) Hulierme Renato de Oliveira Rocha (Rio Branco) Igleison Marques de Holanda (Cruzeiro do Sul) Israel Olvio Souza de Arajo (Rio Branco) James Clay Sales de Oliveira (Rio Branco) Jamila Farias Mendona (Rio Branco) Jane Claudia Severino Bandeira (Brasilia) Jaqueson Bezerra Lima (Marechal Thaumaturgo) Jarde da Silva Freitas (Xapuri) Joo Paulo da Costa Lopes (Tarauac) Joasi Souza de Carvalho (Cruzeiro do Sul) Jones de Oliveira da Costa (Rio Branco) Jorge Luiz de Magalhes Miranda (Rio Branco) Jos Carlos da Silva Mendona Filho (Tarauac) Jos Daniel Silva de Arajo (Rio Branco) Jos de Lima Queiroz (Rodrigues Alves) Jos Ramos Rodrigues (Brasilia) Jurandir Rodrigus Arajo (Assis Brasil) Ktia da Silva Maia (Sena Madureira) Leoni de Souza Ribeiro (Cruzeiro do Sul) Leonildo de Souza Ribeiro (Cruzeiro do Sul) Lvia da Silva Costa (Mncio Lima) Luciana da Silva Braga (Rio Branco) Luciana Nascimento Arajo (Epitaciolndia) Mrcia Costa Capistrano (Tarauac) Marciane Vileme de Arajo (Assis Brasil) Mrcio Uilque Fortunato da Silva (Tarauac) Maria do Nascimento Lima (Rodrigues Alves) Maria Hosana de Oliveira Barbosa (Cruzeiro do Sul) Maurenildo Bernardo Paixo (Rodrigues Alves) Poliana dos Santos Queiroz (Sena Madureira) Raimunda Gomes Taveira (Cruzeiro do Sul) Raimundo da Silva Alab Junior (Rio Branco) Rodrigo Rocha de Almeida (Mncio Lima) Vanderlia de Arajo Teixeira (Assis Brasil) Vangleisa Guedes da Costa (Rio Branco)

SUMRIO1 2 3 4 5 Apresentao Contexto do Manejo Florestal na Amaznia As Experincias do Manejo Florestal no Acre Curso Tcnico Florestal da Escola da Floresta Manejo Florestal de Uso Mltiplo 5.1 Organizao Comunitria e Gesto 5.2 Segurana no Trabalho (EPI, DDS, Primeiros Socorros) 5.3 Produo Florestal 5.3.1 Manejo Florestal Madeireiro a) Aspectos Legais do Plano de Manejo Florestal b) Mapeamento das reas e Geoprocessamento c) Delimitao das Unidades de Produo d) Inventrio Florestal 100% e) Corte de Cips f) Processamento de Dados g) Planejamento da Extrao h) Construo da Infra-estrutura de Escoamento i) Corte de rvores j) Arraste das Toras k) Operaes de Ptio l) Transporte da Madeira

n) Enriquecimento Florestal o) Proteo Florestal p) Manuteno da Infra-estrutura q) Avaliao dos Danos, Desperdcios e Impactos Ambientais do Manejo r) Monitoramento Florestal 5.3.2 Manejo Florestal de Uso Mltiplo a) Legislao b) Borracha / Ltex c) Castanha d) Copaba (leo) e) Sementes Florestais 5.3.3 Monitoramento e Manejo de Fauna 5.4 Beneficiamento e Comercializao 5.5 Certificao Florestal (FSC e ACS) 5.6 Orientaes Gerais para o Manejo Florestal 6 7 Fontes Consultadas Anexos 7.1 Contatos das Instituies de Referncia 7.2 Espcies Florestais mais Utilizadas no Manejo Florestal 7.3 Lista de Siglas

E

ste manual um produto da execuo do Projeto ProManejo 1046/02/04, que teve como ttulo Converso de experincias de Manejo Florestal no Acre em saber profissional na formao do Tcnico Florestal da Escola da Floresta. O ProManejo - Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentvel na Amaznia, criado no mbito do PPG7 (Programa Piloto de Proteo das Florestas Tropicais) e executado pelo IBAMA (Diretoria de Florestas) e Ministrio do Meio Ambiente (Secretaria de Biodiversidade e Florestas/Programa Nacional de Florestas), tem como objetivo apoiar o desenvolvimento e a adoo de sistemas sustentveis de Manejo Florestal na Amaznia, com nfase na extrao de produtos madeireiros, por meio de aes estratgicas e projetos demonstrativos (iniciativas promissoras). Este projeto, aprovado em 2005, teve como proponente a FUNDAO BIOMA (Fundao Instituto de Biodiversidade e Manejo de Ecossistema da Amaznia Ocidental) que uma organizao sem fins lucrativos, fundada em 1998, localizada na Universidade Federal do Acre e que tem por objetivo desenvolver atividades relacionadas com o desenvolvimento sustentvel, por meio do incentivo realizao de pesquisas, estudos, eventos cientficos, cursos, concursos e outras modalidades do trabalho de capacitao, cientfico e tecnolgico para o desenvolvimento da regio. O projeto teve como entidade executora o Centro de Educao Profissional Escola da Floresta Roberval Cardoso, que compe a rede de escolas tcnicas do Instituto de Desenvolvimento da Educao Profissional Dom Moacyr, autarquia do Governo do Estado do Acre. Teve como principais entidades parceiras a Secretaria de Floresta SEF, Fundao de Tecnologia do Acre FUNTAC, Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria e Centro dos Trabalhadores da Amaznia CTA.

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m) Tratamentos Silviculturais

APRESENTAO

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12 A Escola da Floresta tem como objetivo oferecer cursos de nvel tcnico e de formao inicial e continuada na rea rural / florestal, sendo que a formao de tcnicos florestais visa a preparao de profissionais para atuar em todas as etapas do Manejo Florestal, contribuindo para a consolidao do setor florestal no Estado do Acre e representando uma iniciativa estratgica para o fortalecimento do desenvolvimento sustentvel da regio. Isso porque, primeiro, visa oferecer condies para o acesso de jovens oriundos das comunidades rurais / florestais nos cursos profissionalizantes, fortalecendo a troca de conhecimentos com as populaes tradicionais e enriquecendo o aprendizado dos educandos. Segundo, porque a adoo da metodologia de ensino em que as atividades prticas priorizem as experincias de manejo desenvolvidas na regio aumenta a motivao dos educandos, proporciona um aprendizado integrado realidade do trabalho, constri as competncias adequadas e reproduz os conhecimentos na sociedade. Desta forma, alm de profissionais qualificados, formam-se tambm verdadeiros agentes de mudanas. O objetivo deste projeto foi promover o Manejo Florestal Sustentvel, por meio da formao de tcnicos florestais, utilizando conhecimentos tericos e prticos produzidos em experincias de manejo comunitrio e empresarial no Estado do Acre, tendo como objetivos especficos: (1) Capacitar educandos do Curso Tcnico Florestal da Escola da Floresta em Manejo Florestal de Impacto Reduzido; (2) Contribuir para a permanncia no Curso Tcnico Florestal de educandos carentes financeiramente, com o pagamento de bolsas de estudo. As metas foram: (1-a) Estruturar o centro de informao com material bibliogrfico referente ao Manejo Florestal e equipamentos de multimdia; (1-b) Estruturar uma estao de tratamento de dados georreferenciados; (1-c) Realizar aulas prticas de Manejo Florestal no ambiente da Escola da Floresta; (1d) Realizar atividades prticas de Manejo Florestal em unidades de manejo comunitrio e empresarial; (2-a) Realizar mensalmente o pagamento de 12 bolsas de estudo aos alunos do Curso Tcnico Florestal. Durante a execuo do projeto foram desenvolvidas diversas atividades prticas, onde foram trabalhados muitos conhecimentos especficos da rea florestal, gerando, assim, importantes informaes para a formao profissional destes tcnicos. Assim sendo, este Manual do Tcnico Florestal foi elaborado a partir da sistematizao do contedo trabalhado durante o perodo do curso (2005 a 2006), tendo como base uma construo participativa, envolvendo diversos atores no processo (mediadores, estudantes e parceiros, como: institucionais governamentais e no-governamentais, pequenos produtores rurais, comunidades agroextrativistas, organizaes do movimento social, entre outros), embasado em conhecimentos cientficos j desenvolvidos. Este manual foi elaborado para orientar as atividades profissionais dos tcnicos florestais formados na Escola da Floresta. Nele buscou-se abranger uma viso geral do contexto do Manejo Florestal na Amaznia, passando pela realidade do Acre e situando a Escola da Floresta, com seus princpios e mtodos de trabalho, bem como o contedo trabalhado no Curso Tcnico Florestal. O Manual descreve todas as etapas que um projeto de Manejo Florestal deve conter, considerando o uso de diversos produtos florestais (madeira, no-madeireiros e fauna), com todos os conceitos, etapas, passos a seguir, equipe e equipamentos necessrios. Por fim, vale ressaltar que a construo deste Manual foi um processo lento que perdurou do incio de 2007 ao incio de 2009. Desta maneira, durante este perodo muitas atualizaes e revises foram necessrias, tendo em vista as diversas mudanas ocorridas no Setor Florestal, tanto em mbito nacional como estadual.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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14Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

A

Amaznia possui a maior floresta do mundo (representando aproximadamente 40% da cobertura florestal tropical), o maior sistema fluvial da Terra e uma estonteante diversidade de fauna ( de todas as espcies do planeta e mais de 20 mil espcies diferentes de plantas crescem exclusivamente na regio). A Floresta Amaznica cumpre funes ecolgicas, culturais e econmicas de importncia incalculvel. Ela sustenta a economia de regies inteiras, abrigam sociedades tradicionais e tambm tem um papel central no equilbrio do clima do planeta, alm de ajudar a manter a qualidade das guas e a estabilidade do solo. Mesmo assim, no tem sido cuidada de forma adequada. Cerca de 15% da Floresta Amaznica j foi desmatada e outros 32% esto sob algum tipo de presso humana, incluindo zonas de influncia urbana, assentamentos de reforma agrria, reas alocadas para prospeco mineral e reserva garimpeira, bem como reas de incidncia de focos de calor (queimadas). Isto significa que quase metade do potencial florestal da Amaznia est sendo depredado. Atualmente, a maior parte da extrao madeireira na Amaznia ainda praticada segundo mtodos tradicionais destrutivos e fundada em uma viso imediatista. E, ainda, 80% dos que se dedicam extrao convencional de madeira a fazem ilegalmente, em reas onde a retirada das rvores no foi previamente autorizada pelo rgo governamental responsvel (IBAMA), incluindo-se entre essas reas aquelas de preservao, como terras indgenas, por exemplo.

A Castanheira

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CONTEXTO DO MANEJO FLORESTAL NA AMAZNIA

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16 A explorao convencional da floresta danifica profundamente as reas que atinge: destri at 2 m de madeira para cada m aproveitado, reduz at 60% (ou mais) a cobertura florestal, perturba severamente os solos minerais e danifica a mata at 40% da biomassa. As reas assim exploradas so abandonadas com muitos resduos e essa flora danificada, seca e altamente combustvel, expe a floresta a riscos de incndio. Todas essas perturbaes geram ainda um tremendo impacto econmico: o grande lapso de tempo entre os ciclos de corte entre 60 anos e, talvez, nunca mais necessrio regenerao da floresta. O resultado que, com grande freqncia, essas reas so invadidas ilegalmente ou transformadas em pobres pastagens. Esta situao alarmou o mundo e levou ao surgimento de muitas iniciativas (com investimentos de instituies nacionais e internacionais) em busca de conhecimentos e tecnologias para promover a conservao da floresta e o desenvolvimento sustentvel da regio, entre as quais o Manejo Florestal, considerado atualmente a melhor soluo para a extrao racional das riquezas da floresta. Uma floresta bem manejada continuar oferecendo essas riquezas para as geraes futuras, pois a madeira e seus outros produtos so recursos renovveis. Assim sendo, para ser sustentvel, o Manejo Florestal deve ser economicamente vivel, ecologicamente sustentvel e socialmente justo. O Manejo Florestal implica em uma extrao cuidadosa e seletiva, de impacto ambiental reduzido, a aplicao de tratamentos silviculturais, para potencializar a regenerao da floresta e fazer crescer outra colheita, e o monitoramento, para controlar essa regenerao e ajudar o manejador na tomada de decises tcnicas e comerciais. Em termos ambientais, o Manejo Florestal contribui para que a floresta mantenha sua forma e funo mais prxima de seu estado original. A manuteno da forma se d na medida em que se minimizam os danos na floresta e, em conseqncia, as rvores comerciais remanescentes. Mantida a sua forma, a floresta pode continuar a desempenhar suas funes: proteger o solo contra eroso, preservar a qualidade da gua, abrigar a biodiversidade e outros. Alm disso, a floresta remanescente corre menos riscos de incndio, e pode ser enriquecida com os tratamentos silviculturais. Apesar de parecer um tapete verde homogneo, a Floresta Amaznica formada por vrias florestas, que se diferenciam muito em topografia, pluviometria, ocorrncia de espcies comerciais, densidade e distribuio da presena humana, etc. Por isso, no existe um s mtodo de extrao de impacto reduzido, mas vrios. Muito se tem a dizer sobre a diversidade de produtos florestais teis para a vida do ser humano. Existem inmeros produtos que o Homem j vem utilizando h muitos e muitos anos, como, por exemplo, as plantas medicinais, os leos, exsudatos (ltex), frutos, sementes, cips, cascas, razes, folhas, flores, fauna, etc. No entanto, com o aumento populacional, veio o desenvolvimento de tecnologias e ferramentas de trabalho e a industrializao; e o que vinha sendo utilizado em pequena escala pelas populaes locais e de acordo com a capacidade de regenerao e reposio da floresta, cada vez mais vem causando impactos incalculveis e irreversveis, resultando na extino de diversas espcies e causando o desequilbrio de toda uma cadeia alimentar na natureza. Assim, o desenvolvimento de estudos e tecnologias para o conhecimento e minimizao destes impactos ambientais, sem, no entanto, deixar de se fazer uso dos ricos e importantes produtos florestais para a sociedade, de fundamental importncia para a perpetuao da vida na Terra.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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18 Algumas das principais razes para manejar a floresta so: Continuidadedaproduo-Aadoodomanejogaranteaproduode madeira na rea indefinidamente, e requer a metade do tempo necessrio na explorao no manejada. Rentabilidade-Osbenefcioseconmicosdomanejosuperamoscustos. Tais benefcios decorrem do aumento da produtividade do trabalho e da reduo dos desperdcios de madeira. Seguranadetrabalho-Astcnicasdemanejodiminuemdrasticamente os riscos de acidentes de trabalho. No Projeto Piloto de Manejo Florestal (Imazon/WWF), os riscos de acidentes durante o corte na operao manejada foram 17 vezes menores se comparado s situaes de perigo na explorao predatria. Oportunidadesdemercado-AsempresasqueadotamoManejoFlorestal so fortes candidatas a obter um selo verde. Como a certificao uma exigncia cada vez maior dos compradores de madeira, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, as empresas que tiverem um selo verde, provando a autenticidade da origem manejada de sua madeira, podero ter maiores facilidades de comercializao no mercado internacional. Conservaoflorestal-Omanejodaflorestagaranteacoberturaflorestal da rea, retm a maior parte da diversidade vegetal original e pode ter impactos pequenos sobre a fauna, se comparado explorao no manejada. Serviosambientais-Asflorestasmanejadasprestamserviosparao equilbrio do clima regional e global, especialmente pela manuteno do ciclo hidrolgico e reteno de carbono. Alguns dos principais desafios para efetivar a difuso do Manejo Florestal Sustentvel: Adisseminaodeinformaescorretasarespeitodoscustosebenefcios do manejo para os atores do setor florestal. Aadequaodacapacidadedegestoadministrativaeoperacionaldas atividades de extrao florestal, principalmente no mbito comunitrio. Aadesodosproprietriosruraisaomanejo,apartirdaadequaoambiental das propriedades e do reconhecimento dos benefcios econmicos da produo florestal. Amelhoriadosprocedimentosadministrativosdeaprovaoemonitoramento dos planos de manejo por parte dos rgos ambientais. Oincrementodofomentosatividadesdebaseflorestal. OManejoFlorestaldeveseesforarparafortalecerediversificaraeconomia local, evitando a dependncia de um nico produto florestal. Odesenvolvimentoeaefetivadivulgaodepesquisassobreaecologia das espcies florestais utilizadas (e tambm as protegidas por lei), visando embasar um bom Manejo Florestal de uso mltiplo. Areviso,conceitualeprtica,deexpressesmuitoutilizadasnoManejo Florestal, como: explorao (ato ou efeito de explorar; abuso da boa f, da ignorncia, ou da especial situao de algum para auferir interesse ilcito, o que se contrape ao real objetivo do Manejo Florestal Sustentvel), extenso (ato ou efeito de estender, estender-se ou alongar-se, alastrar, espalhar, fazer chegar, levar, ou seja, parte do conceito de levar informaes e verdades pr-estabelecidas para outros, ao invs de construir junto e potencializar o conhecimento existente em cada um), produtos no-madeireiros (negao de um produto, madeira, para falar de inmeros outros produtos florestais de grande importncia para o ser humano), entre outros.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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20 Consideraes sobre o Desenvolvimento Sustentvel Colocando em termos simples, o desenvolvimento sustentvel aquele desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem colocar em risco a satisfao das necessidades das futuras geraes. Trata-se, resumidamente, de uma convivncia harmoniosa, equilibrada e respeitosa entre o ser humano e o ambiente no qual vive. No entanto, atualmente, notrio que este conceito traz em si grandes fatores limitantes no limites absolutos, mas limitaes impostas pelo contexto atual de organizao social / poltica e do conseqente estgio da tecnologia, no que diz respeito concepo e uso dos recursos naturais e pela capacidade limitada da biosfera em absorver os efeitos da atividade humana dentro deste contexto. Para caminharmos para uma vida humana mais sustentvel, fundamental que se leve em considerao o conceito de desenvolvimento local, ou seja, aquele que endgeno, nasce das foras internas da sociedade, constitui um todo e a ao seu servio deve integrar e promover a democracia poltica, a equidade social, a eficincia econmica, a diversidade cultural e a proteo e conservao do meio ambiente. Enfim, necessrio que o ser humano se sinta mais parte e responsvel pelo meio no qual vive e, para isso, trabalhe fundamentalmente mudanas de conceitos, valores e atitudes internas. Afinal, somente devemos fazer aquilo ao nosso prximo que queremos para ns mesmos e, como colocou o sbio Mahatma Gandhi, ns devemos ser a mudana que queremos ver no mundo.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

Estado do Acre, localizado no sudoeste da regio norte, tem 90% de sua rea (152.581,388 km) coberta por florestas primrias, compreendidas em Reservas Extrativistas, Terras Indgenas, Projetos de Assentamento Agroextrativistas, Parques e Florestas Estaduais e Nacionais. Destas, aproximadamente 5 milhes de hectares possuem potencial para o Manejo Florestal. Da sua populao, aproximadamente 560.000 mil habitantes, cerca de 50 mil famlias vivem na floresta e dela retiram seu sustento atravs de atividades extrativistas como a caa, a pesca, a coleta de frutos, sementes, resinas, leos e plantas medicinais (IBGE, 2000). Em funo dessas peculiaridades, o Estado do Acre tornou-se uma referncia na Amaznia, na luta pelo uso sustentvel da floresta e manuteno dos direitos dos povos que habitam a regio. Assim, o Estado do Acre passa por um momento significativo na sua histria, devido o conjunto de circunstncias internas, que favoravelmente operam na consolidao de um modelo de desenvolvimento florestal. Destas destacam-se: VocaoflorestaldoEstado,com90%desuareacobertaporflorestasque demandam atividades que conciliem desenvolvimento e conservao; Incentivo,organizaoemobilizaodaspopulaestradicionaispela manuteno da floresta; Instituiespblicasenogovernamentaisdandosuportesaescomunitrias e empresariais, realizando pesquisas e produzindo conhecimento na rea de cincia florestal;

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AS EXPERINCIAS DO MANEJO FLORESTAL NO ACRE E SUA IMPORTNCIA NA FORMAO DOS TCNICOS FLORESTAIS DA ESCOLA DA FLORESTA

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22 Polticas pblicas, nacional e estadual, de fomento ao setor florestal, atraindo investimentos de indstrias e gerando demanda por mo de obra especializada; Polticaspblicas,nacionaleestadual,nareadeeducaoprofissional; Formaodetcnicoshabilitadosparaatuaremnasetapasdacadeia produtiva do setor florestal. O Manejo Florestal vem crescendo no Estado a cada dia, j que tem o mrito de melhorar a qualidade de vida das populaes extrativistas, conservar o ambiente amaznico, promover o desenvolvimento da economia do Estado e valorizar a cultura dos povos das florestas, bem como atender a demanda por produtos florestais com qualidade, preferencialmente certificados, incentivada pela atual conjuntura poltica mundial, com origem a partir de uma nova conscincia pela conservao dos recursos naturais do planeta. As diversas experincias de Manejo Florestal que esto sendo desenvolvidas no Estado, atravs de comunidades, empresas, instituies de pesquisa, organizaes governamentais e no governamentais, tm contribudo para garantir os reais valores sociais e econmicos dos produtos florestais, produo de conhecimentos sobre comunidades e florestas, desenvolvimento de tecnologias para consolidao de um modelo de base florestal para o Acre e para a Amaznia e definio de polticas pblicas para o setor florestal. Entretanto, o Estado ainda vive o desafio de promover economicamente seu grande potencial florestal e reduzir a condio de pobreza em que vive grande parte da populao. Nesta tica, a Escola da Floresta busca embasar a formao dos tcnicos florestais na adoo da metodologia de ensino-aprendizagem em que as atividades prticas priorizem as experincias e os conhecimentos tericos e prticos sobre Manejo Florestal desenvolvidos na regio (Acre), proporcionando um aprendizado integrado realidade do trabalho, construindo as competncias adequadas e reproduzindo os conhecimentos na sociedade.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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Assim, atravs do apoio do ProManejo, a turma de Tcnicos Florestais formada na Escola da Floresta em 2006 teve a oportunidade de visitar e interagir com quatro experincias de Manejo Florestal Comunitrio, bem como realizar um curso de tcnicas de Manejo Florestal de Impacto Reduzido em uma rea manejada em escala empresarial. Estas reas consistem em: 1. Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes - Seringal Cachoeira, localizado no Municpio de Xapuri, que desenvolve as atividades de Manejo Florestal desde 1999, com a parceria da Secretaria de Floresta (SEF) e da Secretaria de Assistncia Tcnica e Extenso Agroflorestal (SEATER), sendo o primeiro Projeto de Manejo Florestal Comunitrio a ser certificado pelo FSC no Brasil. Nesta experincia, os estudantes puderam estudar sustentabilidade, organizao comunitria, gesto, educao, potencial de uso da floresta, sistemas agroflorestais, ecoturismo e puderam vivenciar as seguintes questes: (a) contexto e histrico da comunidade; (b) inventrio florestal madeireiro e de palmeiras; (c) experimentos com sistemas agroflorestais; (d) trabalho com plantas medicinais; (e) potencial eco-turstico da rea. Projeto de Assentamento Agroextrativista Porto Dias, localizado no Municpio de Acrelndia, que desenvolve as atividades de Manejo Florestal desde 1996, com a parceria do Centro dos Trabalhadores da Amaznia (CTA), sendo o primeiro Projeto de Manejo Florestal Comunitrio a ser certificado pelo FSC no Brasil, com o diferencial da Cadeia de Custdia (processamento da madeira na comunidade). Nesta experincia, os estudantes puderam estudar sustentabilidade, organizao comunitria, gesto, educao, potencial de uso da floresta, tcnicas de planejamento, extrao e beneficiamento da produo florestal e puderam vivenciar as seguintes questes: (a) contextualizao sobre a comunidade; (b) inventrio florestal

2.

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e mtodo de seleo de rvores para abate; (c) planejamento de extrao atravs de mapas e no campo; (d) derrubada de rvores com tcnicas de queda direcionada; (e) beneficiamento da madeira atravs de serrarias e marcenarias comunitrias; (f) Projeto Quelnios do Abun em parceria com a ONG SOS Quelnios. 3. Projeto de Assentamento Agroextrativista So Luiz do Remanso, localizado no Municpio de Capixaba, que desenvolve as atividades de Manejo Florestal desde 2001, com a parceria do Centro dos Trabalhadores da Amaznia (CTA), sendo o primeiro Projeto de Manejo Florestal Comunitrio de Uso Mltiplo a ser certificado pelo FSC no Brasil. Nesta experincia, os educandos puderam estudar sustentabilidade, organizao comunitria, gesto, educao, potencial de uso da floresta, tcnicas de planejamento, extrao e beneficiamento da produo florestal e puderam vivenciar as seguintes questes: (a) contextualizao sobre a comunidade; (b) inventrio de rvores matrizes (sementeiras) e mtodo de extrao de sementes - prtica de escalada em rvores; (c) inventrio de copabas e demonstrao de extrao do leo atravs do trado; (d) beneficiamento de sementes florestais e confeco de artesanatos; (e) Casa de Armazenamento de Sementes Florestais para Reflorestamento. Projeto de Colonizao Pedro Peixoto, localizado em diversos Municpios no lado oriental do Estado do Acre (Plcido de Castro, Acrelndia, Senador Guiomard e Rio Branco), que desenvolve as atividades de Manejo Florestal desde 1995, com a parceria da EMBRAPA, sendo o primeiro Projeto de Manejo Florestal Comunitrio a ser desenvolvido na Regio. Nesta experincia, os estudantes puderam estudar sustentabilidade, organizao comunitria, gesto, educao, mo5.

nitoramento florestal, tcnicas de planejamento, extrao e beneficiamento da produo florestal e puderam vivenciar as seguintes questes: (a) Manejo Florestal madeireiro comunitrio com trao animal e beneficiamento em campo atravs da serraria porttil; (b) monitoramento ambiental das reas manejadas. Curso de Gerenciamento Florestal em Explorao de Impacto Reduzido, promovido pelo PROMATEC (FUNTAC - Fundao de Tecnologia do Estado do Acre), em parceria com o ProManejo, realizado na fazenda So Jorge I no Municpio de Sena Madureira. Nesta experincia, os estudantes puderam estudar potencial de uso da floresta e tcnicas de planejamento e extrao da produo florestal e puderam vivenciar as seguintes questes: (a) curso bsico de primeiros socorros; (b) apresentao e execuo na prtica das atividades pr-exploratrias - macro e micro zoneamento, abertura de picadas, inventrio 100%, corte de cips, planejamento de estradas e ptios de estocagem; (c) funcionamento bsico de uma motosserra e prtica de manuseio da mesma - demonstrao do abate de uma rvore atravs das tcnicas de queda direcionada; (d) realizao de planejamento do arraste de algumas rvores; (e) acompanhamento das atividades de arraste das toras de madeira da floresta at os ptios de estocagem - contato com skidder; (f) exerccio de romaneio das toras estocadas - operaes de ptio.

4.

Modelo Digital de Explorao Florestal - MODEFLORA Nos ltimos anos as pesquisas em manejo florestal foram orientadas para reduzir os impactos da explorao sobre a floresta, porm, a heterogeneidade e complexidade tornam extremamente complexas a modelagem deste ecossistema e dificulta o planejamento da explorao com operaes precisas. Todavia, o primeiro modelo de plano de manejo sustentvel de-

26 senvolvido no Brasil, utilizando o que existe de mais moderno em tecnologia e agregando todas as reas do conhecimento florestal, est sendo testado no Acre (desde 2007) com resultados positivos na reduo do impacto ambiental. Trata-se de um novo processo que busca unir com maior preciso o sistema de informaes geogrficas (SIG), o inventrio florestal com uso das tecnologias atualmente disponvel do sistema global de navegao por satlites (GNSS), e imagens de sensores remotos (radar e satlites), tornando possvel a integrao do planejamento florestal prvio e as operaes de explorao florestal por meio de um sistema rastreado por satlite. Nas atividades pr-exploratrias, as operaes de campo so todas realizadas com auxilio de receptores GPS de alta sensibilidade. O sucesso desta atividade possibilita a gerao de mapas com escalas de preciso e probabilidade de acerto de 98% na escala de 1:15, ou seja, cada metro no mapa corresponde a 15m na floresta, o melhor detalhamento j obtido na histria dos inventrios. As principais vantagens do Modeflora so: baixo custo; rastreamento das operaes de campo; relatrios mais rpidos e precisos; localizao precisa das rvores com informao da direo preferencial de queda; distribuio de ptios e trilhas com base na posio real das rvores, o que reduz a distncia mdia de arraste; e estradas construdas em nvel ou divisores de gua, diminuindo os custos na construo de bueiros e pontes. Esta nova prtica prev quatro fases necessrias para sua implantao (que pode ser limitante e/ou gradativa, de acordo com as condies e o contexto do projeto): planejamento prvio; levantamento de campo; trabalho de escritrio; e atividades de explorao florestal digital, sendo que, cada uma dessas fases composta por diversos outros passos a serem seguidos.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

A

proposta pedaggica empregada na Escola da Floresta est pautada na formao por competncias devendo sempre ter um carter flexvel e dinmico, com o intuito de criar e implementar novas pedagogias no cotidiano escolar, que gerem competncias profissionais e que privilegiem a vivncia efetiva da autonomia e da interdependncia no processo de aprendizagem, na perspectiva da necessria construo de uma sociedade que aprende contnua, permanente e coletivamente, na busca de melhor qualidade de vida para todos. Tambm o educador dever sempre estar atento para valorizar os conhecimentos j adquiridos pelo educando em sua trajetria de vida, tendo, portanto, um carter construtivista. Alm disso, tem tambm um carter scio-interacionista e de educao libertadora, muito inspirado nos trabalhos de Paulo Freire, uma vez que o educador parte da leitura do mundo e instiga o educando a uma viso crtica da realidade. Esse aspecto desenvolver no profissional a ser formado, a caracterstica de discernir e criar solues a partir de cada contexto por ele deparado no dia a dia do fazer profissional. Na formao em que o foco desenvolvimento de competncias, a Escola um espao insuficiente, devendo transcender os seus muros, pois o processo de aprendizagem deve-se dar o mais prximo possvel realidade do mundo do trabalho, abrangendo as atividades produtivas e sociais reais, nas quais as funes profissionais ganham sentido de modo que o profissional a ser formado possa enfrentar os desafios e desenvolver as competncias necessrias.

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CURSO TCNICO FLORESTAL DA ESCOLA DA FLORESTA

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28 Para viabilizar o processo de aprendizagem nos cursos da Escola da Floresta, o desenvolvimento de projetos (individuais e coletivos a serem desenvolvidos na Escola e no seu entorno, e em diversos outros locais onde so desenvolvidos empreendimentos e unidades produtivas, a partir de parcerias junto s instituies governamentais e no governamentais) uma das alternativas indicadas para se atingir as competncias esperadas. Alm dessa estratgia de facilitao da aprendizagem, so tambm utilizadas outras como: visitas tcnicas e atividades prticas/demonstrativas em ambientes onde se desenvolvem atividades do cotidiano do mundo do trabalho; trabalhos de pesquisa em grupo e individuais; atividades em laboratrio e acesso a bibliografias. A avaliao vista como um instrumento fundamental no processo de aprendizagem, na medida em que entendida como validao de resultados e de aes, pois o produto representa a qualidade do processo. Deve ser transparente, criteriosa, no autoritria, e sim participativa, no classificatria, e sim promocional. No ser imposio, mas sim negociao. uma avaliao processual, diagnstica, inclusiva, formativa, permitindo que sejam identificadas as deficincias e sucessos no desenvolvimento das competncias, com recuperao no decorrer do processo de formao. Os resultados obtidos a partir da execuo deste projeto, que priorizam experincias prticas de Manejo Florestal e vivncias comunitrias, consolidadas num comprometimento com a sustentabilidade, so potencializados na perspectiva em que os tcnicos florestais atuaro nas comunidades e instituies (rgos pblicos, empresas, ONGs, etc.), difundindo os conhecimentos de Manejo Florestal, e gerando outros a partir de sua experincia, tornando-se agentes transformadores do ambiente.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

5.1 ORGANIZAO COMUNITRIA E GESTO

Baseado em AMARAL, P. et al. (2007) e SANTOS, M. C. (2008).

A

palavra COMUNIDADE, por si se define COMUM-UNIDADE. Est unidade comum pode ser, por exemplo, um territrio (ambiental e polticofundirio) com suas regras de uso formais e informais, a histria, a cultura/ religio, a famlia (relaes de parentesco), os interesses (econmicos /produtivos/polticos), entre outros. A organizao o princpio para que esta UNIDADE represente realmente um veculo de fortalecimento. Para isto, o ASPECTO SOCIAL - relaes entre as pessoas da comunidade, seus objetivos comuns, os quais envolvem obrigaes e benefcios para todo o grupo devem ser considerados. Existem alguns mecanismos que a comunidade pode estar utilizando para contribuir com o estabelecimento dessa relao de benefcios e compromissos, como a criao de associao ou cooperativa e sindicato.

1) Associao a reunio de pessoas com o objetivo de resolver problemas comuns. Uma associao no pode obter lucro por meio de suas atividades, mas pode arrecadar dinheiro para os objetivos da prpria associao (por exemplo, promover um bingo ou obter recursos pblicos). Para criar uma associao, a comunidade precisa seguir um roteiro: Ternomnimoduaspessoasinteressadasemformarumaassociao. Levantarinformaessobrealegalizaodaassociao,aviabilidade econmica do negcio e as necessidades de infra-estrutura e recursos ($);

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MANEJO FLORESTAL DE USO MLTIPLO

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30 Definiroobjetivodaassociao; Elaborarumestatuto; Distribuiroestatutoatodososinteressados.Todosdevemestudarediscutir o estatuto at chegarem a um acordo; Convocartodososfuturosassociadosparaaassembliageraldefundao da associao. Nela, a diretoria eleita e o estatuto, aprovado; Assinaraatadaassembliaeoutrosdocumentossolicitados; Registraraassociaonocartrioderegistrodepessoasjurdicasouno cartrio de registro geral, no caso das cidades pequenas; ProvidenciaroCadastroNacionaldePessoaJurdicaCNPJnumadelegacia da Receita Federal; RegistraraassociaonoINSSenoMinistriodoTrabalho. Documentos necessrios para uma AssociaoAssociados - RG - CPF - Comprovante de Residncia Associao Cartrio - Ata da fundao copiada do livro de atas em papel timbrado ou em papel ofcio; - Duas vias do estatuto; - Relao dos associados fundadores e dos membros da diretoria eleita; - Ofcio de solicitao do representante legal da associao endereado ao cartrio. CNPJ - Documento bsico de entrada, em duas vias (disponvel na Receita Federal); - Ficha cadastral da pessoa jurdica (disponvel na Receita Federal); - Quadro de associados (o mesmo utilizado para registro no cartrio).

31 Segundo o Cdigo Civil Brasileiro, as Associaes so normatizadas nos Artigos 53 a 61, tendo eles o seguinte contedo: Art. 53. Constituem-se as associaes pela unio de pessoas que se organizem para fins no econmicos. Pargrafo nico. No h, entre os associados, direitos e obrigaes recprocos. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associaes conter: I - a denominao, os fins e a sede da associao; II - os requisitos para a admisso, demisso e excluso dos associados; III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manuteno; V - o modo de constituio e funcionamento dos rgos deliberativos e administrativos; VI - as condies para a alterao das disposies estatutrias e para a dissoluo. Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poder instituir categorias com vantagens especiais. Art. 56. A qualidade de associado intransmissvel, se o estatuto no dispuser o contrrio. Pargrafo nico. Se o associado for titular de quota ou frao ideal do patrimnio da associao, a transferncia daquela no importar, de per si, na atribuio da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposio diversa do estatuto. Art. 57. A excluso do associado s admissvel havendo justa causa, obedecido o disposto no estatuto; sendo este omisso, poder tambm ocorrer se for reconhecida a existncia de motivos graves, em deliberao fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes assemblia geral especialmente convocada para esse fim. Pargrafo nico. Da deciso do rgo que, de conformidade com o estatuto, decretar a excluso, caber sempre recurso assemblia geral.Manual do Tcnico Florestal

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32 Art. 58. Nenhum associado poder ser impedido de exercer direito ou funo que lhe tenha sido legitimamente conferido, a no ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto. Art. 59. Compete privativamente assemblia geral: I - eleger os administradores; II - destituir os administradores; III - aprovar as contas; IV - alterar o estatuto. Pargrafo nico. Para as deliberaes a que se referem os incisos II e IV exigido o voto concorde de dois teros dos presentes assemblia especialmente convocada para esse fim, no podendo ela deliberar, em primeira convocao, sem a maioria absoluta dos associados, ou com menos de um tero nas convocaes seguintes. Art. 60. A convocao da assemblia geral far-se- na forma do estatuto, garantido a um quinto dos associados o direito de promov-la. Art. 61. Dissolvida a associao, o remanescente do seu patrimnio lquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou fraes ideais referidas no pargrafo nico do art. 56, ser destinado entidade de fins no econmicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberao dos associados, instituio municipal, estadual ou federal, de fins idnticos ou semelhantes. 1o Por clusula do estatuto ou, no seu silncio, por deliberao dos associados, podem estes, antes da destinao do remanescente referida neste artigo, receber em restituio, atualizado o respectivo valor, as contribuies que tiverem prestado ao patrimnio da associao. 2o No existindo no Municpio, no Estado, no Distrito Federal ou no Territrio, em que a associao tiver sede, instituio nas condies indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimnio se devolver Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da Unio. 2) Cooperativa As cooperativas so disciplinadas pela Lei n 5.764 de 16/12/1971, pelo Cdigo Civil e pela Constituio Brasileira de 1988. um tipo de sociedade em que as pessoas se comprometem a contribuir com bens e servios para uma atividade econmica. A finalidade da cooperativa colocar os produtos e servios de seus cooperados no mercado, em condies mais vantajosas do que eles teriam isoladamente. A cooperativa no tem como objetivo o lucro. O cooperado dono e usurio da cooperativa, pois ele administra a empresa e ao mesmo tempo utiliza os seus servios. Para criar uma cooperativa a comunidade precisa seguir um roteiro: Reuniode,nomnimo,vintepessoascomumobjetivoeconmicoem comum; Levantarinformaessobrealegalizaodacooperativa,aviabilidade econmica do negcio e as necessidades de infra-estrutura e recursos ($); ContataraOrganizaodasCooperativasnoseuEstado(OCE)parareceber orientaes sobre como formar a cooperativa; Elaboraodeumapropostadeestatuto,contendoosdireitosedeveres de cada cooperado; Distribuiroestatutoatodososinteressados.Todosdevemestudarediscutir o estatuto at chegarem a um acordo; Convocartodososfuturosassociadosparaaassembliageraldefundao da cooperativa. Nela, a diretoria eleita e o estatuto, aprovado; AssinaraAtadarealizaodaAssembliaGeral,comvotaodoestatuto da cooperativa e eleio dos conselheiros, e outros documentos solicitados; RegistronoCadastroNacionaldePessoaJurdicaCNPJ,nacooperativa na OCE e na Junta Comercial do Estado para obteno do NIRC, Nmero de Inscrio no Registro Comercial e do CGC. Esse registro estabelece um contrato geral de responsabilidade entre os scios;Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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RegistraracooperativanoINSSenoMinistriodoTrabalho; ComprovantedealvardeFuncionamento. Documentos necessrios para uma CooperativaCooperados/Scios Scios - RG - CPF - Comprovante de Residncia OCE - Cpia da ata da assemblia geral de constituio; - Cpia do estatuto; - Requerimento fornecido pela OCE; - Cpia do CGC. Cooperativa Junta Comercial do Estado - Requerimento Junta Comercial Formulrio nico sob forma de capa; - Trs vias da ata da assemblia geral de constituio e do estatuto da cooperativa. - Uma via deve ser original e as outras cpias autenticadas, assinadas por todos os fundadores.

Deveres do cooperado Integralizarascotaspartesdecapital; Operarcomacooperativa; Observaroestatutodacooperativa; Respeitarasdecisesdaassembliageraledoconselhodiretor; Cobrirsuaparte,quandoforemapuradasperdasnofimdoexerccio; Participardasatividadesdesenvolvidaspelacooperativa. Associao ou Cooperativa? Como tomar esta deciso? O quadro seguinte aponta algumas diferenas e semelhanas entre associao e cooperativas que, a partir de uma reflexo coletiva, podem contribuir para tomada de deciso de acordo com o perfil da comunidade. Organizao Comunitria e o Manejo Florestal Uma comunidade organizada que conhece os benefcios e responsabilidades de cada um, pode atuar de maneira mais segura nos vrios processos que o Manejo Florestal exige. As diversas tomadas de deciso necessrias, como por exemplo, qual parte da floresta deve ser manejada e qual deve ser preservada, podem ser mais bem definidas por um grupo com vises diversas da realidade, mas que na verdade se complementam, do que por um nico indivduo. Alm disso, o poder de negociao (melhores preo de venda, compra ou troca) aumenta com a unio da comunidade. Processos burocrticos do manejo so facilitados quando se trabalha em grupo, pois: DiminuiocustodeelaboraoeprotocolodoPlanodeManejo.Recomenda-se protocolar um Plano de Manejo na IMAC ou IBAMA por meio de uma associao ou cooperativa em vez de propriedade individual. Facilitaocrditoparaacomunidade.Porexemplo:ocrditonoBancoda Amaznia para manejo comunitrio somente pode ser obtido por meio de uma associao ou cooperativa.

Direitos e deveres Direitos do cooperado Utilizarosserviosprestadospelacooperativa; Participardasassembliasgerais; Proporaoconselhodeadministraoesassembliasgeraisasmedidas que julgar de interesse do quadro social; Votareservotadoparaoscargosnoconselhodeadministraoeno conselho fiscal; Nocasodedesligamentodacooperativa,retirarocapitalconformeestabelecido no estatuto.

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37 Facilitaaassistnciatcnica.Aassistnciatcnicaficabemmaisfcil com a ao comunitria. Isso porque uma famlia isolada tem poucas chances de pagar ou mesmo conseguir a presena de um tcnico florestal em seu lote. Em um Plano de Manejo Florestal Comunitrio, preciso definir regras para diviso de benefcios do manejo florestal, ou seja, (a) Como sero repartidos os lucros - proporcional ao trabalho e volume de produtos extrado de cada rea ou igualitria para os participantes; (b) Quem so os beneficirios (c) Quais so os percentuais para a associao e para a comunidade. O Tcnico como um Educador Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, ningum escapa da educao. Todos ns envolvemos pedaos da vida com ela para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar, para saber, para fazer, para ser ou para conviver, ou seja, todos os dias misturamos a vida com a educao. Alm disso, no h uma forma nica de educao, a escola no nico lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar no sua nica prtica e o professor no seu nico praticante. De acordo com Paulo Freire, existem alguns princpios que sustentam um processo de educao, sendo eles: a rigorosidade metdica e a pesquisa, a tica e esttica, a competncia profissional, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural, a rejeio de toda e qualquer forma de discriminao, a reflexo crtica da prtica pedaggica, a corporeiificao, o saber dialogar e escutar, o querer bem aos educandos, o ter alegria e esperana, o ter liberdade e autoridade, o ter curiosidade o ter a conscincia do inacabado... A educao tem o papel de desencadear / potencializar mudanas. Ao desencadear um processo de mudana atravs do ato de educar, preciso que esta mudana seja entendida em um sentido mais amplo rumo autonomia e, seguir este caminho, significa perguntar de onde surge a muCaractersticas de Associao e CooperativaManual do Tcnico Florestal Tributao Deve fazer anualmente uma declarao de iseno de Imposto de Renda. Contabilidade Escriturao contbil simplificada. Remunerao Os dirigentes no tm direito remunerao. Recebem apenas o reembolso das despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos. Operaes Pode realizar atividades de comrcio somente para a implantao de seus objetivos sociais. Pode realizar operaes bancrias usuais. Forma de Gesto Nas decises em assemblia geral, cada pessoa tem direito a um voto. As decises devem sempre ser tomadas com a participao e o envolvimento dos associados. A mesma da Associao. Patrimnio/Capital Formado por taxa paga pelos associados, doaes, fundos e reservas. No possui capital social, por isso, no pode obter financiamento junto s instituies financeiras.

Critrio Associao

Realiza plena atividade comercial. Realiza operaes financeiras, bancrias e pode candidatarse a emprstimos e aquisies do governo federal. As cooperativas de produtores rurais so beneficiadas pelo crdito rural de repasse. Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais pr-labore definidas pela assemblia, alm do reembolso de suas despesas. Escriturao mais complexa por causa do maior valor dos negcios e da necessidade de contabilidades separadas para as operaes com scios e com no-scios. Deve recolher o Imposto de Renda Pessoa Jurdica apenas sobre operaes com terceiros. Paga taxas e os impostos decorrentes das aes comerciais.

Cooperativa Possui capital social, o que facilita financiamento junto s instituies financeiras. O capital social formado por cotaspartes, podendo receber doaes, emprstimos e processos de capitalizao.

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39 dana, quem sero os verdadeiros beneficirios e, principalmente, quem a quer. A educao pode existir livre e entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum saberes, idias, crenas, etc., como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforam a desigualdade entre os homens, na diviso dos bens, do trabalho, dos direitos e dos smbolos. O Papel de uma Liderana Inevitavelmente, um tcnico que atua em uma comunidade passa a ser um educador e uma liderana, necessariamente em conjunto com outras lideranas locais. Assim, impretervel que sejam conhecidas e internalizadas certas qualidades necessrias para um lder, sendo elas as seguintes: (a) capacidade de conhecer o ser humano, avaliar e julgar corretamente seu estagio de desenvolvimento, identificar o que a pessoa est precisando; (b) capacidade de ensinar, de transmitir conhecimento e experincia, de acompanhar na medida certa; (c) capacidade de motivar, de passar energia, desafios, entusiasmo; desenvolver um ambiente motivador, esprito de equipe. Ou seja, uma pessoa que se destaca e que a comunidade procura e acredita, buscando facilitar a resoluo de problemas de forma conjunta e, fundamentalmente, sendo liderana nas pedras e flores. Em complementar a isto, a seguir encontram-se descritos algumas das principais atribuies de um lder comunitrio, sendo elas as seguintes: organizar o trabalho das pessoas - dividir tarefas e ajudar a superar dificuldade; conscientizar e reunir as pessoas - mobilizar, ouvir e discutir os interesses de todos, manter as pessoas informadas, incentivar a ao conjunta por um objetivo s, trabalhar sempre junto com a comunidade e buscar conjuntamente alternativas e novos rumos; incentivar as pessoas a se organizar e fortalecer - mostrar o sentido da necessidade de organizar a comunidade atravs de uma associao ou cooperativa e trabalhar o sentiManual do Tcnico Florestal

Organizao Comunitria Porto Dias

Organizao Comunitria - Cachoeira

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41 do dos recursos que chegam na comunidade; ajudar o grupo a tomar uma deciso - ajudar a refletir sobre possveis benefcios e prejuzos de processos para a comunidade; representar a comunidade; buscar benefcios e parcerias - buscar informaes e apoio, facilitar o dilogo e buscar fortalecer parcerias, se ligar com outros grupos, associaes e comunidades para formar boas idias e lutar por objetivos comuns. Para isso importante que seja uma pessoa articuladora, s assuma compromissos que vai poder cumprir, mostre que acredita e tem confiana que vai dar certo e, assim, conquiste as outras pessoas e no desista diante das dificuldades. A Facilitao de Reunies Uma das situaes mais comuns na vida de um tcnico educador e liderana comunitria e em nossas vidas em geral, a participao em reunies. Estamos sempre fazendo reunies na associao, na escola, no sindicato, no trabalho. Uma reunio serve para planejar aes e atividades, com participao da comunidade, discutir sobre o que est certo ou errado e decidir coisas - quando surge uma demanda ou assunto a ser tratado na comunidade e pensar no futuro. Uma reunio tem no mnimo 5 fases: (1) Organizao e acordos: ter horrio para comear e terminar a reunio; fazer uma abertura com a apresentao das pessoas (principalmente se existem parceiros externos) e propiciar uma descontrao inicial; definir quais os objetivos a serem alcanados; definir os assuntos de interesse da comunidade (considerando os encaminhamentos do encontro anterior), a ordem para serem tratados e o tempo para discusso, procurando nunca espremer a pauta; no mudar de assunto antes de finalizar o anterior; estabelecer tempo para cada um falar (se necessrio); ver quem vai anotar o contedo da reunio (ata) e organizar uma lista de presena (ex. secretria). Esta fase pode terminar com a pergunta estamos de acordo? (2) Formao de imagem: a fase de se colocar na mesa as informaes que se tem, os dados disponveis, as estatsticas, os desenhos, as experincias, para que todos possam ter os mesmos conhecimentos. Assim todo mundo fica sabendo tudo a respeito do assunto. Esta fase termina com a pergunta: todos entenderam? Est claro? (3) Julgamento: aqui que comea a discusso de verdade. essa hora de ouvir as opinies, se propor critrios, as alternativas e avaliar as conseqncias que podem existir. a fase que mais exige respeito aos acordos, se no o grupo pode se perder facilmente ou ento a reunio vira baguna. Esta fase termina com a pergunta: podemos nos basear nisto? (4) Tomada de deciso: depois da discusso e levantamento de argumentos, as propostas podem ser lapidadas at o grupo chegar a uma deciso; nesta fase que o grupo toma a deciso e acerta a execuo do que foi decidido; importante checar se cada um consente com esta deciso, se no tem objeo. A pergunta : cada um concorda? Cada um sabe o que faz? (5) A Avaliao: para melhorar sempre as reunies, recomendado que se faa uma avaliao do processo, considerando as potencialidades, fragilidades e sugestes. No incio deste processo, pode-se relembrar o que foi discutido para valorizar a participao e revisar as decises e as responsabilidades de cada um. o instrumento de aprendizagem do grupo e atravs dela possvel desenvolver a capacidade para fazer reunies produtivas e tomar decises eficazes e eficientes. De modo geral um grupo sempre faz avaliao do seu processo: se no for dentro da reunio, fora dela, durante o caf, no corredor. Em geral a avaliao feita no final de uma reunio, na Rodada de Avaliao, no entanto, tambm podem ser feitas avaliaes intermedirias, conforme necessidade do momento. A avaliao pode ser feita abrangendo todos os aspectos, ou focando somente alguns. Neste caso o facilitador pode introduzir aManual do Tcnico Florestal

42 avaliao e colocar perguntas que a direcionem. Se o grupo for muito grande, pode ser necessrio fazer avaliao por escrito. O que foi escrito pode ser lido pela pessoa, ou simplesmente entregue. Outra possibilidade de pedir que seja feita em cartelas que so afixadas para todos poderem ler. Assim, existem algumas regras gerais para este processo de avaliao, sendo eles os seguintes: (i) expressar fatos observados (externos e internos) - o que aconteceu e o que eu percebi em mim e no interpretar ou julgar; (ii) evitar generalizaes do tipo foi bom - ser especfico e concreto; (iii) no vale rplica - expressar a percepo individual que no precisa ser questionada; (iv) no rediscutir os assuntos tratados na reunio; e (v) no necessrio repetir o que j foi avaliado por outras pessoas, assim se ganha tempo. Para uma reunio acontecer de fato, uma boa medida sempre eleger um coordenador que tenha a funo de planejar e coordenar o encontro. Este deve cuidar do procedimento da reunio, ou seja, o melhor caminho para conduzir o grupo a resultados. Para isso necessrio que este coordenador (e sua equipe) tenha segurana, organizao, unio, experincia e conhecimento sobre os assuntos que vo ser tratados, alm de um bom planejamento antes, durante e posterior reunio. Assim, alguns cuidados devem ser tomados por este coordenador: Antes da Reunio: 1) Reler a ata passada para preparar a pauta e checar a avaliao feita e as responsabilidades assumidas (caso haja necessidade); 2) Preparar e enviar a pauta da reunio para a comunidade - realizar a mobilizao e os convites com antecedncia de 15 dias; 3) Levantar informaes sobre os assuntos que sero tratados; 4) Verificar se os pontos tm um dono, se o dono preparou o ponto, se est claro o que se quer alcanar na reunio e se necessrio que eleEscola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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prepare e envie material com antecedncia aos participantes; 5) Cuidar de um horrio e local adequado e que no haja interrupes. Durante a Reunio: 1) Ter responsabilidade e respeito e no atrasar; 2) Seguir a estrutura da reunio e o procedimento escolhido - mudar com deciso consciente do grupo; 3) No se deixar atropelar pela urgncia e coordenar o tempo; 4) Manter a ateno, o interesse e a concentrao. 5) Introduzir em cada tpico o que vamos tratar, onde queremos chegar, o que se espera da reunio; 6) Assegurar espao de participao para todos os participantes, por ex. fazer rodadas a partir de perguntas-chave os resultados ficam mais ricos ouvindo e entendendo-se os outros; 7) Mediar conflitos e saber lidar com as alteraes das pessoas; 8) Cuidar que as decises sejam amarradas e ficar atento se o encaminhamento est vinculado vontade concreta das pessoas, ou seja, que haja comprometimento coletivo com o processo; 9) Registrar as informaes-chave - a construo de uma deciso pode ser facilitada se as principais idias e contribuies fiquem visveis a todos em flipchart ou lousa; Para facilitar uma reunio, existem algumas tcnicas e instrumentos importantes a serem considerado, sendo eles os seguintes: (a) Rodadas: cada um dos participantes recebe a oportunidade de se colocar (ou no), sendo que no se entra em discusso sobre o que dito, apenas permitido fazer perguntas de esclarecimento. Assim, assegura-se a participao dos mais tmidos e um exerccio de ouvir o outro; (b) Silncio: um momento de silncio permite aos participantes se preparar e ordenar os pensamentos. O silncio importante antes de uma rodada

44 e um processo de avaliao, por exemplo; (c) Decises em dois tempos: s vezes o dono de um assunto precisa de elementos para poder fazer uma proposta. Assim, numa primeira reunio ele apresenta a questo e depois faz uma Rodada em que cada um se pronuncia a respeito, sem entrar em discusso. A partir disso, o dono do assunto prepara uma proposta para ser discutida e aprovada na prxima reunio; (d) Questes-chave para organizar e encaminhar uma reunio: a seguir, encontra-se uma tabela (modelo) que ajuda a coordenar e sistematizar, de forma sucinta e objetiva, o contedo de uma reunio, ajudando a manter uniformidade de formulao e interpretao das decises e seus encaminhamentos, alm de servir como referncia para o acompanhamento da execuo das decises tomadas, podendo ser uma importante ferramenta para a confeco de uma ata: O que? Como? Quem? Quando? Diagnstico Rpido Rural Participativo DRP A interveno do tcnico ligado a alguma instituio ou rgo externo vai desencadear uma ao ou uma srie de aes que iro atingir direta ou indiretamente as pessoas destas comunidades. Ento existem vrias perguntas que podem auxiliar o profissional neste momento: Como e por onde comear? Como agir? Como envolver as pessoas? Um primeiro passo seria conhecer a comunidade atravs de um diagnstico. Algumas perguntas bsicas a serem respondidas por este diagnstico podem ser: Como esta comunidade? Quais so as atividades desenvolvidas por esta comunidade? Quais so as situaes que envolvem a comunidade? Quais instituies esto atuando na comunidade? O Diagnstico Rural Participativo uma metodologia usada para um processo de organizao e criao de conhecimentos que considera o fator tempo de ao das instituies e respeita o tempo da comunidade. A idia conhec-la (participantes, potencialidades, dificuldades, entre outros) e desencadear o potencial de ao nesta, a partir de sua realidade. As tcnicas utilizadas (participativas e qualitativas) precisam de um sentido e devem ser adequadas a esta realidade. Portanto as combinaes destas tcnicas dependem da criatividade e do jogo de cintura do profissional que est frente do diagnstico. Os resultados so nicos e no podem ser replicados em outros locais. Caso a comunidade no apresente as demandas, os problemas (no os reconheam), durante o diagnstico o tcnico ter como um de seus objetivos levant-los para posterior discusso. O Diagnstico pode ser realizado em Grupo (associao, grupo de manejadores, grupo de artesos, de mulheres, de jovens, etc) e/ou Individual (ncleo familiar). Atravs de: Oficinas; Entrevistassemi-estruturadas(ncleofamiliar);Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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(e) Qualidade na comunicao: vale ressaltar que a base para tudo isso acontecer o processo de comunicao, valendo assim algumas reflexes a respeito. No dilogo estamos alternadamente acordados e dormindo em ns para podermos estar acordados no outro. Geralmente ouvimos mal, porque estamos mais preocupados com o nosso prprio dilogo interno do que com o do outro. Ouvindo o outro no significa abrir mo das suas prprias idias, mas sim criar condies para entrar num dilogo frutfero para trocar idias e chegar a novos pontos de vista. Quando estamos querendo convencer o outro da nossa idia, estamos na verdade conduzindo um monlogo e provavelmente o outro tambm estar desenvolvendo o seu monlogo. Assim se desenrola um dilogo de dois monlogos e, geralmente, no se chega a lugar algum.

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Observaesdiretaseparticipantes; Mapas(mentaisoufalantes); LinhadoTempoeJogodepapis/sociodrama/teatrodooprimido. No processo do diagnstico o profissional que est frente deve considerar: Linguagemeaformadeabordagem(valores/atitudeecomportamento do tcnico); Co-responsabilidade(entreosinteressados,inclusivedotcnico); AtoressociaiscomoSujeitosdaAo; Gnero. Desta forma o tcnico ir construir o caminho de como envolver em contraposio ao convencimento dos atores sociais. O profissional ir dispor de tcnicas e metodologias participativas j no diagnstico para identificao conjunta da situao, dos problemas demandas, pontos positivos e negativos, (erros e aprendizagens da comunidade/grupo). Aps a identificao destes pontos e ainda atravs de tcnicas, o profissional junto com a comunidade/grupo, dever construir o caminho que leve a resoluo conjunta do(s) problema(s) levantado(s). Desta forma o profissional mais que um detentor de tcnicas facilitadoras (para venda de um produto), mas tambm um educador, que busca mais do que o assistencialismo, ele vai alm, busca a autonomia da comunidade/grupo com o qual interage. Esse processo requer o amadurecimento da comunidade/grupo e seus integrantes para a tomada de decises e assim realizar o Planejamento de aes e os acordos pertinentes. Em seguida necessrio realizar a reflexo sobre os passos dados (monitoramento), e quando for necessrio novo planejamento, novos acordos e tomadas de deciso, um processo cclico e contnuo rumo organizao e autonomia comunitria.

Monitoramento Social Existem muitas incertezas tcnicas, sociais, e polticas nas comunidades, afinal, sabemos que, com o passar dos anos, muitas mudanas acontecem, sendo elas, muitas vezes, provocadas por fatores e parcerias externas como: estradas, projetos, crditos, etc. importante que a comunidade tenha conscincia dos riscos e das oportunidades que elas oferecem na qualidade de vida das pessoas, nos sistemas locais de produo e sobre os futuros usos da terra e da floresta. O monitoramento social uma ferramenta que permite acompanhar estas mudanas e clarear algumas incertezas. Conhecendo os problemas e as expectativas da comunidade, pode-se elaborar, de forma participativa, um conjunto de informaes que podem ser utilizadas para realizar avaliaes e planejamentos contnuos. Ele um instrumento que fortalece e ajuda a comunidade a tomar decises conscientes sobre o seu futuro, j que a associao pode coletar informaes sobre a atual realidade da sua comunidade e fazer uso destas sempre que for necessrio. O monitoramento social pode ser aplicado em diversos contextos, como, por exemplo: (i) acompanhar os impactos sociais e ecolgicos de projetos de manejo florestal comunitrio; (ii) melhorar a comunicao e diminuir conflitos entre diferentes grupos; (iii) facilitar processos de aprendizagem e ao coletiva. Na medida em que a comunidade passa a definir e participar do monitoramento dos impactos de projetos e, consequentemente, das decises sobre as modificaes necessrias em seu desenvolvimento, aumenta-se a possibilidade de lidar com os desafios futuros destes projetos. Porm, um dos maiores desafios tornar o monitoramento verdadeiramente participativo e colaborativo, de forma que possa contribuir com o empoderamento da comunidade nele envolvido.

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49 ETAPAS 1.Iniciando discusso sobre o monitoramento colaborativo:O que acompanhar? Como pode ajudar? Quais os papis de cada um? 2.Identificando temas para acompanhar 3.Identificando indicadores 4.Quem quer? 5.Identificando mtodos para a coleta de dados e Treinamento 6.Coleta de dados DRP, reunies, teia de poder

METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS1. Rio da comunidade (*) 2. Castanheira da comunidade(**)

Reunies comunitrias Reunies comunitrias Diagrama de vem, entrevistas semi estruturadas, reunies Diagrama de vem, entrevistas semi estruturadas, reunies Reunies comunitrias, junto com tomadores de deciso

7.Analises e discusso sobre os dados - reflexo e ajustes nas aes

Sugestes para iniciar a discusso sobre o monitoramento social Asmetodologiaseosconceitosdevemseradaptadoseinternalizados pela comunidade para refletir e se aplicar realidade local; Utilizar uma metodologia simples, como um desenho, que seja fcil para a comunidade entender e no chegar com o material previamente feito, no mximo um rascunho incompleto (como, por exemplo, o primeiro desenho de um caminho), sendo o mesmo preenchido enquanto a comunidade est discutindo; Otcnicodevesersumfacilitadorebuscarenvolveromximopossvel a comunidade nas discusses, como agente ativo da construo do processo; Aoinvsdeenfocarnosproblemasouaspectosnegativos,deve-seenfocar nas coisas positivas como, por exemplo, qual o sonho de vocs com este projeto ou onde vocs querem chegar e quais so as coisas que precisam acontecer para l chegar. Um enfoque nos problemas cria uma atmosfera negativa e promove debates e conflitos; Opapeldecadapessoa/grupoenvolvidoprecisaserbemdefinidoede comum acordo entre todos para evitar conflitos;

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Etapas do Monitoramento

(*) O mtodo do Rio da Comunidade trata-se de uma figura de um rio, que vai aumentando do incio (onde estamos hoje?) ao fim (onde queremos chegar?), j que diversos igaraps (o que precisamos para isso?) desguam nele ao longo de seu percurso; (**) O mtodo da Castanheira da Comunidade trata-se de uma figura de uma castanheira, composta pelo tronco (tema escolhido pela comunidade de interesse para acompanhar), galhos (objetivos que a comunidade quer alcanar) e frutos (informaes necessrias para saber se a comunidade alcanou seus objetivos indicadores).

50 importantecomearcompoucoscritrios,ouseja,umoudoistemas com alguns indicadores, s ampliando posteriormente uma vez que estas primeiras tentativas tenham mostrado os benefcios / vantagens de monitorar; fundamental a existncia de momentos para compartilhar, refletir, e ajustar as informaes que foram coletadas, ou seja, pensar como integrar em atividades no dia-dia das comunidades para fazer estes momentos de avaliao e reflexo conjunta. Pode incluir visitas nas famlias, fazer discusses em pequenos grupos (por exemplo, os agentes comunitrios) e/ou em reunies da associao. Perguntas que devem ser respondidas em um processo de Monitoramento: Ondepodemosobterosdados? Comoelespodemsercoletadosequalamelhorformaparaisto? Qualafreqnciacomqueosdadosprecisamsercoletadosparaserem teis? Comoosresultadosdomonitoramentoserousados? Quemrealizaraavaliao? Comoosresultadosseroapresentados? Quetiposdedecisesseroapresentadasapartirdessesresultados? CONCEITOS BSICOS DE GESTO O processo de gesto para as atividades florestais implica na habilidade de organizar e gerenciar processos produtivos e administrativos na empresa florestal. Aspectos como diagnstico, planejamento, execuo e avaliao/controle so fundamentais neste processo, formando uma totalidade necessria (ligao entre as partes) existncia de um ciclo de gesto. A eficincia na execuo das aes percebida atravs do monitoramento (avaliao), e este reflexo do planejamento que depende do diagnstico.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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Desta forma, uma boa avaliao depende de um bom planejamento, que por sua vez, depende de um diagnstico que expresse, de fato, a realidade.

Realidades diferentes, geralmente, implicam em planejamentos diferentes. Como exemplo, podemos citar o planejamento empresarial e comunitrio e as diferenas das funes do consultor empresarial e do extensionista. Assuntos como: o tempo de deciso empresarial, o tempo de deciso comunitria, as prioridades empresariais (lucro e deciso financeira) e as prioridades comunitrias (segurana alimentar e melhores condies de vida para a famlia) devem estar contemplados nos respectivos planejamentos. Algumas perguntas podem servir para orientar este planejamento, que por sua vez orientar os demais aspectos considerados: O qu? (objetivo, inclusive o objetivo financeiro); Por qu? (justificativa); Como? (metodologia); Com o qu? (oramento); Onde? (localizao); Quando? (cronograma). O planejamento deve ser encarado como algo passvel de mudanas, visto que a realidade (ambiente), em constante mudana, exige a necessidade de adequaes e readequaes, que est relacionada habilidade de se lidar com erros e imprevistos. Conhecer o mercado de produtos florestais (marketing/vendas) facilita o controle da produo (extrao florestal), do beneficiamento (agregao de valor) e da prpria comercializao. Para isto faz-se necessrio considerar aspectos como: (I) fluxo geral e concorrncia; (II) funes envolvidas (compra, venda, transporte e armazenamento); (III) funes auxiliares;

52 (IV) instituies (indstria, atacadista, varejista, intermedirios agentes, intermedirios especuladores, atravessadores e organizaes auxiliares); (V) caractersticas do produto (volume, perecibilidade, cor, tamanho e qualidade). Enfim, para a elaborao de um plano de negcios toda a cadeia produtiva deve ser considerada. O produto escolhido, a localizao da produo, do beneficiamento e da comercializao, os recursos necessrios (fsicos, humanos, equipamentos e materiais), o oramento previsto, cronogramas, fluxogramas, planilhas para registro, tabelas e grficos ilustrativos, formas de armazenamento da produo (bem como as embalagens a serem utilizadas), estratgias para maior rendimento da matria-prima, reutilizao de resduos e a caracterizao do mercado existente devem ser devidamente planejados e analisados. O Plano de Negcios um instrumento de planejamento, no qual as principais variveis envolvidas em um empreendimento so apresentadas de forma organizada. A seguir encontra-se um modelo simplificado para auxiliar o trabalho de um tcnico em um processo de gesto: Modelo de um Plano de Negcio 1) SUMRIO A importncia do produto - contexto geral (Pesquisas na comunidade e internet) 2) CARACTERIzAO DO EMPREENDIMENTO Localizao, objetivos, metas, viso, misso e situao do empreendimento anlise crtica (Pesquisas na comunidade) 3) ANLISE DE MERCADO (PESQUISA MERCADOLGICA) A importncia do produto (Pesquisas na internet) 4) ANLISE DE CURTO PRAzO a. Foras; b. Fraquezas; c. Oportunidades; d. Ameaas (Pesquisas na comunidade) 5) FLUXOGRAMA DO SETOR DE PRODUO Como os processos se organizam - fluxograma 6) MARCA (LOGOMARCA) Elaborao de logomarca 7) CADEIA PRODUTIVA DOS PRODUTOS Planejamento, colheita, escoamento, armazenamento, e apresentao dos produtos (Pesquisa no Plano de Manejo Florestal) - Quantidade de pessoas envolvidas por funo (campo, administrativa, monitoramento, estocagem, escoamento, etc.); - Infra-estrutura e equipamentos necessrios - quantidade; - Materiais necessrios - quantidade; - Metodologia de extrao; - Formas de escoamento; - Estocagem. 8) CUIDADOS COM O MEIO AMBIENTE (Pesquisa no Plano de Manejo Florestal e na Internet). 9) ESTRATGIAS OPERACIONAIS A. Custos (recursos humanos, fsicos e materiais) - Identificao de recursos humanos, fsicos e materiais existentes; - Levantamento do valor unitrio (recursos humanos, fsicos e materiais) por espcie no existente; - Clculo do valor total por espcie. B. Indicadores de comercializao custo benefcio (anlise de rentabilidade) Oramentos. - Identificao de recursos humanos, fsicos e materiais existentes; - Levantamento do valor unitrio (recursos humanos, fsicos e materiais) por espcie no existente; - Clculo do valor total por espcie.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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54 Prestaodecontasdeprojetos/FluxodeCaixa/ResultadosEconmicos. - Total de recurso (custo) necessrio; - Anlise de custo-benefcio (lucro / quanto vai economizar). Balanooramentrio. - Interpretao dos dados / aspectos favorveis; - Interpretao dos dados / aspectos desfavorveis. C. Avaliao (monitoramento) - Elaborao de no mnimo 2 indicadores de monitoramento por fase (planejamento, colheita, escoamento, armazenamento, e apresentao dos produtos - comercializao); - Aplicabilidade dos indicadores. - Estratgias de monitoramento; - Freqncia de monitoramento por fase. 10) CRONOGRAMA DE ATIVIDADES A. Planejamento B. Aquisio de recursos C. Execuo (colheita) D. Monitoramento E. Elaborao da documentao da empresa Cronograma. - Informaes necessrias; - Organizao das informaes; - Legendas. Documentaodoempreendimento. - Levantamento dos documentos necessrios para o funcionamento do empreendimento. 11) CONCLUSO Justificativa do negcio - vivel ou no?!Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

55 Baseado em AMARO, M. A. (2003). o Manejo Florestal, que visa aplicao das tcnicas de extrao da madeira da floresta de maneira a causar menor impacto possvel, deve-se fundamentalmente tomar cuidado com a segurana da equipe envolvida. Para isso, deve-se investir principalmente na qualificao do pessoal nas devidas tcnicas, bem como em equipamentos de proteo individual e na qualidade e manuteno das mquinas utilizadas, diminuindo-se assim sensivelmente o risco de acidentes na rea florestal tendo em vista que as maiores causas de acidentes de trabalho nas operaes florestais so ato inseguro (falha humana) e condies inseguras no trabalho (falta de treinamento e equipamentos, por exemplo). A seguir, encontram-se descritas algumas formas que compem e contribuem para a segurana no trabalho em um projeto de Manejo Florestal. EPI Equipamento de Proteo Individual O uso destes equipamentos fundamental para o desenvolvimento das atividades do projeto de manejo realizadas na floresta, ou seja, sem os mesmos no possvel realizar nenhuma das atividades em campo. Como exemplo, podemos citar alguns equipamentos bsicos: (a) proteo para a cabea capacete, viseira, protetor auricular e mscara, no caso de indstrias; (b) proteo para os membros superiores luvas; (c) proteo para o tronco aventais e vestimentas especiais, no caso de indstrias; (d) proteo para os membros inferiores cala (ex. nylon) e botas (bico de ao); (e) cinto de segurana para operadores de mquinas. DDS Dilogo Dirio de Segurana Este procedimento deve ser realizado diariamente, antes da equipe de campo entrar na floresta, visando lembrar e chamar a ateno de cuidadosManual do Tcnico Florestal

5.2 SEGURANA NO TRABALHO

N

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57 bsicos e necessrios para um bom dia de atividades, evitando descuidos e acidentes desnecessrios. Como exemplo, podemos citar: no fazer brincadeiras fora de hora; cuidado com os equipamentos (ex. deixar o faco deitado na terra e no fincado na terra); cuidado onde pega e pisa; manter certa distncia da pessoa que estiver caminhando na frente; no balanar galhos ou cips; avisar cuidadosamente o parceiro em caso de animais peonhentos; etc. Primeiros Socorros importante que se tenha sempre algum preparado na equipe de campo para enfrentar situaes oriundas de atendimentos de primeiros socorros. Apesar de poderem ser evitados e/ou prevenidos, os acidentes muitas vezes acontecem nas atividades ligadas ao manejo madeireiro e fundamental que se esteja sempre pronto para ajudar, pois a sobrevivncia de uma pessoa pode estar dependendo do pronto atendimento realizado, quer seja de mal clnico ou traumtico, por um colega de trabalho. A seguir encontram-se descritas algumas informaes importantes sobre o tema: 1. Exame primrio serve como espcie de exame imediato. Est relacionado com as condies que podem colocar em risco a vida do acidentado: verificao das condies locais de segurana, verificao do nvel de conscincia, verificao da respirao, verificao do pulso e verificao de ferimentos graves. 2. Exame secundrio o exame efetuado logo aps o primrio, onde o socorrista deve procurar outras leses que no estavam evidentes e podem causar complicaes vtima se no convenientemente tratadas. 3. Reanimao cardiopulmonar uma tcnica que exige treinamento e deve ser utilizada quando ocorre parada cardaca ou morte sbita. Ela pode ser necessria quando se verifica a parada do bombeamento do corao ou quando o msculo cardaco, em condies de debilidade, no se contrai e no se distende com o vigor necessrio para assegurar aManual do Tcnico Florestal

Dilogo Dirio de Segurana

Equipamento de Proteo Individual

58 quantidade suficiente de sangue circulao. 4. Desobstruo das vias areas a asfixia a interrupo dos movimentos respiratrios e/ou entrada de ar respirvel. Pode ser causada por obstruo da passagem de ar (corpo estranho, afogamento, estrangulamento, soterramento e pela lngua), gases txicos (fumaa, gases dos motores), e por interferncia na funo respiratria (choque eltrico, venenos, doenas e ferimentos na cabea ou no aparelho respiratrio). 5. Controle de hemorragias derramamento de sangue (sangramento) do seu leito normal (artrias/veias), para dentro ou fora do corpo humano. 6. Queimaduras leses causadas por diferentes agentes externos de gravidade varivel (leves a extensas e profundas) que podem colocar em risco a vida da vtima. 7. Envenenamento causado por picada/mordida de animais peonhentos (ex. cobra, aranha, escorpies, etc.).Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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5.3.1 MANEJO FLORESTAL MADEIREIROBaseado em AMARAL, P. (1998) e PEREIRA, D. C. P. et al. (2006). A) ASPECTOS LEGAIS DO PLANO DE MANEJO FLORESTAL (LICENCIAMENTO) De acordo com a legislao vigente o cdigo florestal brasileiro editado em 1965 no seu artigo 15, define que as florestas da Amaznia s poderiam ser utilizadas atravs de planos de manejo. Em 1989, a Ordem de Servio 001-89/IBAMA-DIREN definiu um extensivo protocolo de plano de manejo, incluindo especificao de tcnicas de extrao para diminuir os danos floresta, estimativas do volume a ser extrado, tratamentos silviculturais e mtodos de monitoramento do desenvolvimento da floresta aps a explorao. O ciclo de corte mnimo foi fixado, na poca, em 30 anos. O Decreto de 1994, que regulamentou a atividade de extrao nas florestas da Amaznia define o manejo sustentvel como a administrao da floresta para a obteno de benefcios econmicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentao do ecossistema objeto do manejo. Atualmente, o conceito foi ampliado para o Manejo Florestal de uso mltiplo, passando a incluir mltiplos produtos e subprodutos no-madeireiros, bem como a utilizao de outros bens e servios naturais da floresta. A lei determina que, para as pequenas propriedades da regio Amaznica, a rea de Reserva Legal (rea da propriedade onde no permitido desmatar) deve representar 25% da propriedade. Isso vale para reas at 50 hectares nos Estados do Acre, Par, Amazonas, Roraima, Rondnia, Amap e Mato Grosso. Nesta regio, propriedades acima de 50 hectares devem conter 80% da rea com floresta.

Primeiros Socorros

Manual do Tcnico Florestal

5.3 PRODUO FLORESTAL

60 Nestas reas o uso das florestas primitivas da Bacia Amaznica e das demais formas de vegetao arbrea natural, somente ser permitido sob a forma de Manejo Florestal Sustentvel e sob a orientao de um plano de manejo, elaborado por um tcnico devidamente habilitado. O Manejo Florestal somente poder ser feito mediante a licena dos rgos competentes, fornecida com base na anlise e aprovao de um plano de manejo, que um documento no qual deve constar toda informao e orientao para a utilizao racional de uma determinada floresta. O plano de manejo um documento que define como a floresta ser utilizada, com base na coleta e anlise de algumas informaes, entre as quais: caractersticas da rea e da floresta (fauna, flora, topografia, hidrografia, solo, etc.), o que inclui o zoneamento da propriedade distinguindo as reas de extrao, as zonas de preservao permanente e os trechos inacessveis. Dever conter tambm tabelas com informaes sobre o volume de produo existente na floresta, de acordo com a espcie a ser utilizada. Deve fazer parte ainda o planejamento das rotas das estradas secundrias e diviso da rea total de manejo em talhes de extrao anual. Em seguida, define-se a seqncia de extrao do talho ao longo do tempo, medida esta que visa reduzir os impactos da extrao madeireira sobre a fauna e aumentar a proteo da floresta contra o fogo. O plano de manejo ainda deve conter tcnicas de extrao, regenerao e crescimento das espcies comerciais; medidas de proteo das espcies no comerciais, cronograma das atividades anuais e uma projeo dos custos e benefcios do empreendimento. As informaes necessrias para tal fim podem ser obtidas atravs de levantamentos de campo (inventrios amostrais, que abrangem uma rea de at 1% da rea a ser manejada) e consultas a mapas (ex. FUNTAC) e literatura disponvel. Os mapas da propriedade podem conter a localizao das estradas e pontes. Apesar de levar em considerao vrios aspectos legais, ambientais e econmicos, o plano de manejo deve ser um documento simples o quanto possvel, pois se trata de um manual com orientaes para os trabalhos a serem realizados na rea, tendo assim uma utilizao muito mais prtica, sendo fcil de entender e manusear. Grande parte dessa simplificao deve ser atribuda ao desafio que foi elaborar planos de manejo comunitrios, pois os tcnicos precisam encontrar uma linguagem mais acessvel e uma forma melhor para apresentar as informaes e resultados, uma vez que o plano deve ser de conhecimento e entendimento de todos os participantes. Pode-se fazer trs grandes grupos com as atividades ligadas ao manejo: atividades pr-exploratrias, exploratrias e ps-exploratrias. So consideradas atividades pr-exploratrias em plano de manejo: definio dos talhes ou unidades de trabalho (UTs), abertura de picadas, preparao da rea e realizao do inventrio 100%, corte de cips, seleo e sinalizao das rvores a serem utilizadas, processamento de dados e confeco de mapas de extrao, planejamento e construo da infra-estrutura - estradas, ptios de estocagem, instalao de parcelas permanentes para o monitoramento ambiental. As atividades consideradas exploratrias so: corte de rvores, planejamento de arraste, arraste da produo, operaes de ptio e transporte. So consideradas atividades ps-exploratrias: tratamentos silviculturais, avaliao de impacto sobre a floresta e desperdcios, proteo florestal, manuteno da infra-estrutura e remedies das parcelas permanentes.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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63Planejamento da extrao e construo da infra-estrutura - baixo impacto, cuidado com fontes de gua, reas de preservao permanente, refgios de caa, etc. Corte / abate - tcnicas de queda direcionada e impacto reduzido Extrao arraste da produo (trao animal ou maquinrio) e operaes de ptio Licenciamento pelo IBAMA / IMAC - Autorizao para transporte de produtos florestais / Documento de Origem Florestal DOF (Ficha de Requerimento e Declarao de Venda de Produtos Florestais) Transporte da produo, beneficiamento e comercializao Atividades ps-exploratrias - Enriquecimento Florestal, Proteo Florestal, Manuteno da Infra-estrutura, Avaliao dos Danos e Desperdcios, Monitoramento Florestal Licenciamento pelo IBAMA / IMAC Prestao de contas das autorizaes de transporte e Relatrio Anual (fichas preenchidas, rvores e volumes tirados e remanescentes) Gesto da Produo Florestal e Certificao FlorestalManual do Tcnico Florestal

Etapas do Manejo Florestal (Com nfase s fases de licenciamento florestal)Organizao Comunitria - Acordos e regras gerais (manejo comunitrio) Plano de Manejo Florestal fichas / anexos da legislao preenchidos, termos de compromisso, documentos pessoais, Anotao de Responsabilidade Tcnica LICENCIAMENTO IBAMA / IMAC Capacitao e Segurana no Trabalho (EPI, DDS, Primeiros Socorros) Mapeamento - cobertura do solo, potencial da rea e escolha do local para manejo e Unidades de Produo Anual Delimitao das reas de manejo / talhes abertura de picadas de orientao com balizas para marcao Inventrio 100% - identificao, quantificao, qualificao, localizao / mapeamento e marcao Processamento dos dados anlise e prospeco de produtividade (mapas e equaes de volume) Seleo de rvores (colheita, futura e matrizes) e Corte de cips (um ano antes da extrao) Plano Operacional Anual formulrios preenchidos, relao das rvores para corte atual, futuro e matrizes, mapas de localizao LICENCIAMENTO PELO IBAMA / IMAC (Licena de Operao LO e Autorizao para Explorao AUTEX) pagamento de taxas, vistorias, pendncias e prazos

64LEGISLAO QUE REGE O MANEJO FLORESTAL Os procedimentos tcnicos para elaborao, apresentao, execuo e avaliao tcnica de Planos de Manejo Florestal Sustentvel PMFSs nas florestas primitivas e suas formas de sucesso na Amaznia Legal observaro o disposto na INSTRUO NORMATIVA N. 5, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2006. No entanto, a avaliao tcnica do PMFS em florestas privadas somente ser iniciada aps a emisso da Autorizao Prvia Anlise Tcnica de Plano de Manejo Florestal Sustentvel - APAT. No ser necessria a APAT para a anlise e aprovao de Plano de Manejo Florestal Sustentvel - PMFS apresentado pelo concessionrio para o manejo de florestas pblicas submetidas a Contrato de Concesso Florestal. A Autorizao Prvia Anlise Tcnica de Plano de Manejo Florestal Sustentvel - APAT, disposta na INSTRUO NORMATIVA N. 4, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2006, o ato administrativo pelo qual o rgo competente analisa a viabilidade jurdica da prtica de manejo florestal sustentvel de uso mltiplo, com base na documentao apresentada (vide em anexo) e na existncia de cobertura florestal por meio de imagens de satlite. A APAT no permite o incio das atividades de manejo, no autoriza a explorao florestal e nem faz prova da posse ou propriedade para fins de regularizao fundiria, autorizao de desmatamento ou obteno de financiamento junto a instituies de crdito pblicas ou privadas. Solicitao da APAT, o proponente dever apresentar os seguintes documentos: I - Documentos de identificao do proponente, observadas as classificaes a seguir: a) Pessoa Fsica: (1) Formulrio, conforme esta Instruo Normativa, assinado pelo proponente; (2) Cpia autenticada da Cdula de Identidade e do Cadastro de Pessoa Fsica - CPF junto Secretaria da Receita Federal do proponente. b) Pessoa Jurdica - Empresa: (1) Formulrio, conforme esta Instruo Normativa, com a assinatura do representante legal da empresa, conforme contrato social e suas alteraes; (2) Cpia autenticada da Cdula de Identidade e do CPF junto Secretaria da Receita Federal do representante legal; (3) Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica CNPJ; (4) Cpia do ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor, devidamente registrados, em se tratando de sociedade comercial e, no caso de sociedade por aes, os documentos de eleio e termos de posse de seus administradores.Escola da Floresta Roberval Cardoso Acre

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Resumo das Macro-atividades do Manejo Florestal

Fonte: Governo do Estado do Acre. FUNTAC (2008).

66c) Pessoa Jurdica - associao, cooperativas ou entidades similares de Comunitrios: (1) Formulrio, conforme esta Instruo Normativa, com assinatura do presidente ou de todos os membros do colegiado da associao ou cooperati