2

Click here to load reader

Maquina.singer

Embed Size (px)

DESCRIPTION

3

Citation preview

Page 1: Maquina.singer

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRAGOVERNO REGIONAL

SECRETARIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURAESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA PADRE MANUEL ÁLVARES

Nº de código do estabelecimento de ensino: 3107/201

Cursos de Educação e Formação para Adultos-EFA

Portaria nº80/2008 de 27 de Junho

Curso EFA – Secundário Área: Cultura, Língua e Comunicação NG: Equipamentos e Sistemas Técnicos /DR 2:Equipamentos Profissionais FORMADORAS: Cristiane Varela e Lurdes Sousa

Ano Lectivo: 2010/2011Data: __________________

Competência: Agir perante equipamentos e sistemas técnicos em contexto profissional conjugando saberes especializados e rentabilizando os seus variados recursos no estabelecimento e desenvolvimento de contactos.

A máquina Singer (MARTA CAIRES)

A máquina de costura Singer, de tampo de madeira carunchosa e letras douradas gastas, continua em casa do meu pai, no lugar onde a minha mãe a deixou. Na gaveta pequenina ficaram, durante anos e anos, as linhas e agulhas, botões e restos de tecido, um pouco da memória da minha mãe e do modo como governou a casa, como tratou das nossas vidas. Ar-rumada a um canto e protegida por um pano de reposteiro, A velha máquina fez cortinas, subiu baínhas, ajustou as calças de ganga e, quando parecia impossível, salvou a nossa adolescência.

O meu irmão e eu entramos nessa idade de incertezas e turbilhão interior, de individualismo obstinado e urgente necessidade de ser como os outros na mesma altura em que o FMI chegou a Portugal. A crise galopava, devorava empregos, engolia os salários e, nas lojas, a inflação de 20% não deixava dinheiro para luxos. Mas, por muito que tudo isto fosse verdade, nós continuávamos a ser dois adolescentes. E a minha mãe, que não tinha estudos, nem noções de psicologia, percebeu de pressa os milagres que a máquina de costura, velha e carunchosa, podia fazer.

Mesmo sem gostar muito, arrastava a Singer de letras gastas para a sala, abria a janela para entrar luz e tirava a tarde para aturar as nossas manias. As camisas de colarinhos puídos do meu pai e do meu avô passavam a camisas às riscas com que se podia fazer vista na escola. Das sobras de tecidos da alfaiataria do meu tio fazia saias às pregas e, quando eu pedia muito, dava um jeito a roupa antiga, es quecida dentro de armários. Do mofo e do esquecimento, naqueles anos de aperto, a minha mãe acertou o casaco Dr. Jivago da minha prima, um conjunto de tweed da minha tia Alice e até o casaco cinzento da minha avó viu a luz do dia.

Contente com aqueles trapos desencantados dos armários, eu usava-os ao estilo alternativo, misturava com os jeans gastos pelo uso e as camisas que partilhava com o meu irmão. Cada peça de roupa tinha uma história e um percurso, não morria muma estação. Nós não tínhamos direito a isso, a entediar-nos com a cor ou com o feitio. Nós só podíamos ter esperança nos milagres da velha máquina de costura da minha mãe.

Ao fim da tarde, depois de coser e descoser roupas antigas, a minha mãe voltava a arrastar a Singer para o cantinho, no quarto de engomar, mesmo em frente ao espelho. Arrumava as linhas e os botões, os fechos de correr e os restos de tecido antes de cobrir tudo com o pano de reposteiro. Ainda lá está, no lugar onde a minha mãe a deixou vai para 18 anos, depois de me ter feito a saia preta que levei à benção das fitas em Lisboa.O FMI já tinha deixado Portugal, mas a crise levou muitos mais anos a deixar a nossa vida e a nossa casa no Laranjal.

Fonte: Diário de Notícias-Madeira, 24 de Outubro de 2010

TAREFA: Inspirando-se na crónica que acaba de ler e reportando-se à sua realidade, redija um texto onde faça o

“elogio” de um equipamento técnico que usa no seu quotidiano profissional.

REPÚBLICA PORTUGUESA

EFA ST6