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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1505 Abril/2014 Francisco Badaró MARIA MARGARETE PINHEIRO UMA VIDA DE DESAFIOS E VITÓRIAS MAIORES Maria Margarete Pinheiro, 40 anos, casada, mãe de 03 filhos, sendo um adotivo. Em uma eleição histórica, após 40 anos de supremacia masculina, torna-se a primeira e atual presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STR) de Francisco Badaró, Vale do Jequitinhonha. “Chegar à presidência do STR não foi fácil. Fui discriminada, ouvia que a presidência do STR não é pra mulher, mulher não dá conta do recado, lugar de mulher é na cozinha. Mas a minha teimosia e minha fé em Deus me fizeram mostrar para as pessoas que mulher pode muito mais que cozinha e casa. Mulher pode ser presidente do STR, a mulher é mãe, motorista e até piloto de avião.”, conta emocionada e orgulhosa. Durante a campanha, ela ouvia piadas e deboches do concorrente. “Ele dizia que era muito fácil ganhar de mulher, que ia passar uma rasteira tão grande em mim que eu não tinha noção. No entanto, mais de 70 por cento dos/as votantes confiaram em mim. A mulher é sensível, mas também é guerreira.”, desabafa. Margarete conta que não foi por acaso que ela se tornou a primeira presidenta do STR: “Há mais de 22 anos a Associação Municipal de Assistência à Infância - AMAI me incentivava a participar dos encontros de jovens, das associações e das animações comunitárias. Fui voluntária, animadora nos trabalhos da igreja e agente de saúde. Assim eu aprendi a lidar com o público e conquistei o carinho, o respeito e a confiança das pessoas. A luta foi árdua. As pessoas ainda não aceitam a mulher na liderança, só pelo fato de ser mulher. Portanto essa vitória não é só minha, mas de várias companheiras.” E pensando numa oportunidade de maior valorização da mulher, diz: “Essa campanha foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, pois agora teremos oportunidade de colocar em prática os direitos da Mulher. Vale a pena lutar, porque é só através da luta que a gente vence.Margarete é empossada presidente do STR Margarete em seu 1º discurso Celebração e partilha no STR

MARIA MARGARETE PINHEIRO: UMA VIDA DE DESAFIOS E CONQUISTAS MAIORES

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Este boletim retrata um pouco da vida de Maria Margarete Pinheiro, eleita a primeira presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Município de Francisco Badaró no Vale do Jequitinhonha. Região com muitos resquícios do coronelismo e machismo. Depois de sofrer muita pressão por parte da oposição, ela conquista a confiança de mais de 70% dos votos e assume, depois de 40 anos de poderio masculino, a presidência desse Sindicato.

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Page 1: MARIA MARGARETE PINHEIRO: UMA VIDA DE DESAFIOS E CONQUISTAS MAIORES

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1505

Abril/2014

Francisco Badaró

MARIA MARGARETE PINHEIROUMA VIDA DE DESAFIOS E VITÓRIAS MAIORES

Maria Margarete Pinheiro, 40 anos, casada, mãe de 03 filhos, sendo um adotivo. Em uma eleição histórica, após 40 anos de supremacia masculina, torna-se a primeira e atual

presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STR) de Francisco Badaró, Vale do Jequitinhonha. “Chegar à presidência do STR não foi fácil. Fui discriminada, ouvia que a presidência do STR não é pra mulher, mulher não dá conta do recado, lugar de mulher é na cozinha. Mas a minha teimosia e minha fé em Deus me fizeram mostrar para as pessoas que mulher pode muito mais que cozinha e casa. Mulher pode ser presidente do STR, a mulher é mãe, motorista e até piloto de avião.”, conta emocionada e orgulhosa. Durante a campanha, ela ouvia piadas e deboches do concorrente. “Ele dizia que era muito fácil ganhar de mulher, que ia passar uma rasteira tão

grande em mim que eu não tinha noção. No entanto, mais de 70 por cento dos/as votantes confiaram em mim. A mulher é sensível, mas também é guerreira.”, desabafa.Margarete conta que não foi por acaso que ela se tornou a primeira presidenta do STR: “Há mais de 22 anos a Associação Municipal de Assistência à Infância - AMAI me incentivava a participar dos encontros de jovens, das associações e das animações comunitárias. Fui voluntária, animadora nos trabalhos da igreja e agente de saúde. Assim eu aprendi a lidar

c o m o p ú b l i c o e conquistei o carinho, o respeito e a confiança das pessoas. A luta foi árdua. As pessoas ainda não aceitam a mulher na liderança, só pelo fato de ser mulher. Portanto essa vitória não é só minha, mas de várias companheiras.” E p e n s a n d o n u m a oportunidade de maior valorização da mulher, diz: “Essa campanha foi

a melhor coisa que aconteceu na minha vida, pois agora teremos oportunidade de colocar em prática os direitos da Mulher. Vale a pena lutar, porque é só através da luta que a gente vence.”

Margarete é empossada presidente do STR

Margarete em seu 1º discurso Celebração e partilha no STR

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Margarete cita suas propostas de trabalho no Sindicato:“Vamos começar pela formação de grupos e fortalecimento dos já existentes na tentativa de garantir mais direitos aos sindicalizados/as. Incentivar o projeto Farmácia Viva com o Grupo de Mulheres que fazem xarope caseiro. O projeto é uma chance de valorizar o saber tradicional, é um momento de estarmos junto/as, conversando, colocando em práticas as conquistas.”

Margarete faz questão de contar um pouquinho da sua vida pessoal. “Meus pais tiveram 12 filhos, sou a quinta. Aos dez anos tive que sair da escola pra trabalhar. Casei com 18 anos, o primeiro filho nasceu morto, e depois tive mais dois, Rosane de 22 anos e Wilson Renê de 21 e há cinco anos tenho a tutela de José Fábio, que tem 14 anos. Meu marido passou 16 anos indo para o corte de cana e nesse tempo de idas para as safras, criei sozinha os meus filhos.” Só depois de um longo tempo e muita dedicação, Margarete concluiu o primeiro grau. Para estudar, ela andava 10 km a cavalo todos os dias. Conta também que depois de muitas provações, hoje é habilitada como motociclista:“Tenho muito orgulho de ser

habilitada e mais ainda porque foi o meu filho Renê, que me incentivou com carinho e conselhos a buscar essa independência”.

Ela conta que foi no casamento que aprendeu a lidar melhor na roça. Tudo que o seu marido ia fazer, ela o acompanhava. A sua rotina de trabalhadora rural é cuidar da lavoura de milho, feijão, amendoim, manaíba e pequenas criações. Ela diz, “morar na roça é muito bom, a liberdade é outra, acordar com o berro da vaca, com o canto dos passarinhos, com a galinha querendo milho, não tem preço.” Sobre sua condição de mulher sertaneja, diz: “ser Mulher no Vale é ser realizada, porque nós temos um poder muito grande, somos mães, esposas, trabalhadoras rurais e participativas nos movimentos sociais. ”Apesar das batalhas de toda uma vida, Margarete reforça que é muito feliz e acredita que a sua vitória na direção do sindicato já estava predestinada. “Acredito muito no destino, o STR foi fundado há 40 anos, nessa mesma época eu nasci e hoje estou aqui, primeira presidenta do STR. Tudo o que aconteceu na minha

vida foi para que eu desse a volta por cima e hoje ser uma pessoa mais feliz”, afirma.Parabéns à Maria Margarete Pinheiro e que a sua vitória possa fazer a tão sonhada diferença na vida de muitas mulheres no Vale do Jequitinhonha.

Realização Apoio

Margarete, rodeada pela família

Margarete atendendo agricultoras