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MATERIAL IGEPP – PARTE 4
PROF. EDVALDO NILO
• Professor de Direito Tributário, Direito Financeiro e Ética no Serviço Público do
IOB/MARCATO, IAD, LFG, Gran Cursos e IGEPP
• Mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público
(sob a orientação do Ministro Gilmar Mendes)
• Procurador do Distrito Federal
• Pós-Graduado em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos
Tributários (IBET)
• Pós-Graduado em Direito Tributário pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA)
• Pós-Graduado em Planejamento Tributário pela Faculdade de Tecnologia
Empresarial e aprovado nos seguintes concursos e seleções públicas: Procurador do
Distrito Federal (ESAF)
• Procurador do Município de Recife (FCC)
• Ministério Público de Contas do Mato Grosso (FMP/RS)
• Procurador do Município de Belo Horizonte (FUNDEP/UFMG)
• Técnico de Nível Superior do Ministério da Saúde (CESPE/UNB)
• Técnico de Nível Superior do Ministério das Comunicações (CESPE/UNB)
• Técnico de Nível Superior do Ministério do Turismo (ESAF)
• Professor Substituto de Ética Geral e Profissional da Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
• Professor de Direito Tributário do Centro Universitário da Bahia (CUB/FIB)
• Mestrado em Direito Constitucional do Instituto Brasiliense de Direito Público
(IDP) e Doutorado em Direito da Universidade de Brasília (UNB).
VENCEDOR DOS SEGUINTES PRÊMIOS JURÍDICOS:
• Prêmio Luiz Tarquínio da Fundação Orlando Gomes no ano de 2002;
• Prêmio Ministro Carlos Coqueijo Costa da AMATRA (Associação de
Magistrados Trabalhistas), EMATRA (Escola de Magistrados Trabalhistas) e ABAT
(Associação Bahiana dos Advogados Trabalhistas) no ano de 2003; e
• Prêmio Luís Eduardo Magalhães da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia
no ano de 2004.
AUTOR DOS SEGUINTES ARTIGOS:
1) ALMEIDA, E. N. Repensando os princípios: princípios constitucionais sociais
trabalhistas e a mudança dos paradigmas dos princípios específicos do direito do
trabalho. O Trabalho, Editora Decisório Trabalhista, v. 96, p. 2561-2584, 2005;
2) ALMEIDA, E. N. Prescrição e decadência no direito tributário. Revista do
Curso de Direito da UNIFACS, Porto Alegre: Síntese, v. 5, p. 171-188, 2005;
3) ALMEIDA, E. N. O princípio constitucional da moralidade administrativa.
Revista do Curso de Direito da UNIFACS, Porto Alegre: Síntese, v. 4, p. 231-241,
2004;
4) ALMEIDA, E. N. Repensando os princípios: princípios constitucionais sociais
trabalhistas e a mudança dos paradigmas dos princípios específicos do direito do
trabalho. Revista LTr. Legislação do trabalho, São Paulo: LTr, v. 68, n. 04, p. 450-466,
2004;
5) ALMEIDA, E. N. Repensando os princípios: princípios constitucionais sociais
trabalhistas e a mudança dos paradigmas dos princípios específicos do direito do
trabalho. Revista AMATRA-V: Vistos etc., AMATRA-V:, v. I, n. n 4, p. 87-135, 2005;
6) ALMEIDA, E. N. Esboço sobre os Aspectos Sociais do Contrato. Revista do
Curso de Direito da UNIFACS, Porto Alegre: Síntese, v. 3, p. 81-92, 2003;
7) ALMEIDA, E. N. O Paradoxo da Legislação Anti-Racismo no Brasil. Revista
do Curso de Direito da UNIFACS, Porto Alegre: Síntese, v. 2, p. 173-186, 2002.
8) ALMEIDA, E. N. Constituição definitiva do crédito tributário. Jornal A Tarde,
Caderno Populares, p. 6 - 6, 18 set. 2006;
10) ALMEIDA, E. N. A regra da anterioridade tributária. Jornal A Tarde, Caderno
Populares, p. 4, 12 ago. 2006;
11) ALMEIDA, E. N. Normas Gerais de Direito Tributário. Jornal A Tarde,
Caderno Populares, p. 6 - 6, 26 jul. 2006;
12) ALMEIDA, E. N. Reserva constitucional de jurisdição e CPIs. Jornal A Tarde,
Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 05 jul. 2006;
13) ALMEIDA, E. N. A CPI do Lula. Jornal A Tarde, Populares Judiciárias, p. 6 - 6,
12 maio 2006;
14) ALMEIDA, E. N. Tarifa, preço público ou taxa de esgoto? (Parte 2). Jornal A
Tarde, Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 30 abr. 2006;
15) ALMEIDA, E. N. Tarifa, preço público ou taxa de esgoto? (Parte 1). Jornal A
Tarde, Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 23 abr. 2006;
16) ALMEIDA, E. N. Engavetamento das CPIs (Parte 2). Jornal A Tarde, Populares
Judiciárias, p. 6 - 6, 19 dez. 2005;
17) ALMEIDA, E. N. Engavetamento das CPIs (Parte 1). Jornal A Tarde, Populares
Judiciárias, p. 6 - 6, 18 dez. 2005;
18) ALMEIDA, E. N. A incidência dos regimentos internos das casas legislativas.
Jornal A Tarde, Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 27 ago. 2004;
19) ALMEIDA, E. N. A importância das comissões parlamentares. Jornal A Tarde,
Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 12 jul. 2004;
20) ALMEIDA, E. N. Prequestionamento para acolhimento de ação rescisória.
Jornal A Tarde, Populares Judiciárias, p. 6 - 6, 26 jul. 2003;
21) ALMEIDA, E. N. O art. 173 do CTN. Jornal A Tarde, Populares Judiciárias, p. 6
- 6, 21 out. 2006;
22) ALMEIDA, E. N. Fim ou reinício do direito do trabalho no Brasil?. Novos
Nomes em Direito do Trabalho. Salvador: 2004, p. 23-93;
23) ALMEIDA, E. N. Comissões parlamentares de inquérito. Prêmio Luís Eduardo
Magalhães: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2005, p. 143-267.
AUTOR DOS SEGUINTES LIVROS:
1) ALMEIDA, E. N. Comissões parlamentares de inquérito: análise
constitucional. Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, 2008, 304
páginas.
2) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: Sistema Constitucional Tributário e
Código Tributário Nacional. Salvador: Juspodivm, 2011, 416 páginas.
3) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: Tributos em Espécie, Simples Nacional e
Crimes Tributário. Salvador: Juspodivm, 2011, 368 páginas.
4) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: Sistema Constitucional Tributário e
Código Tributário Nacional. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2012, 422 páginas.
5) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: 3001 Questões da ESAF. Salvador:
Juspodivm, 2012, 610 páginas.
6) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: Tributos em Espécie, Simples Nacional e
Crimes Tributário. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2012, 368 páginas.
7) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: 1046 Questões do CESPE. Salvador:
Juspodivm, 2012, 367 páginas.
8) ALMEIDA, E. N. Direito Tributário: 1060 Questões da FCC. Salvador:
Juspodivm, 2012, 350 páginas.
9) ALMEIDA, E. N. MESQUITA, Daniel. Direito Administrativo: 4001 Questões
Comentadas. São Paulo: Método, 2014, 792 páginas.
10) ALMEIDA, E. N. MESQUITA, Daniel. Direito Constitucional: 4001 Questões
Comentadas. São Paulo: Método, 2014, 1032 páginas.
1. IMPOSTO
O imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente
de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16, do CTN). Isto
é, o imposto é um tributo não-vinculado a uma atividade estatal na classificação
quanto à hipótese de incidência (fato gerador in abstrato) do tributo, sendo que a lei
instituidora do imposto deve levar em consideração fatos e situações vinculadas ao
contribuinte, estranhos a qualquer atuação do Estado direcionada especificadamente ao
próprio contribuinte.
Por exemplo, o fato de o contribuinte auferir renda (fato gerador do imposto sobre a
renda - IR) ou a situação fática de ser proprietário de um bem imóvel localizado na zona
rural (fato gerador do imposto sobre propriedade territorial rural - ITR) confere o dever
jurídico do contribuinte de pagar o respectivo imposto, independentemente de o
Estado exercer qualquer atividade relacionada ao contribuinte que paga o imposto, tais
como construir estradas, hospitais, escolas, pavimentar as ruas etc.
1.1. Sínteses das classificações dos impostos
Dentre as principais classificações para concursos, reportamo-nos as seguintes:
Diretos são os que atingem o rendimento, o capital, o patrimônio do contribuinte
(IR, ITR, IGF, ITCMD, IPVA, IPTU, ITBI), sem a transferência do ônus tributário a
outra pessoa. Indiretos são os impostos sobre o consumo (em regra, IPI, ICMS, ISS),
com a possibilidade de transferência do ônus tributário a outrem, que é o consumidor do
bem ou contribuinte de fato.
Importante:
É polêmica a classificação do II, IE e IOF nas
categorias de impostos diretos ou indiretos. O
entendimento majoritário é que sempre dependerá do
caso concreto. Na hipótese de se identificar o repasse
econômico desses impostos recolhidos pelo
contribuinte de direito ao contribuinte de fato, entende-
se pela categorização de impostos indiretos.
Destacamos que o IPI e o ICMS na importação podem
ser considerados impostos diretos caso a importação do
bem seja para uso ou consumo próprio. Por sua vez, o
ISS é imposto indireto, exceto na hipótese de ISS de
prestação fixa.
Pessoais (subjetivos) são os que consideram as condições pessoais e familiares do
sujeito passivo (apenas o IR). Reais (objetivos) são os que analisam o objeto, a coisa ou
res, isto é, sopesam apenas a base tributável (II, IE, IPI, IOF, ITR, IGF, ITCMD, ICMS,
IPVA, IPTU, ITBI e ISS).
Fixos ou de prestação fixa são os legalmente estabelecidos em quantia única (ISS
sobre sociedades uniprofissionais de advocacia). Variáveis ou de prestação variável são
os impostos apontados como proporcionais, progressivos, regressivos. Os
proporcionais são os que a alíquota é fixa, independentemente do montante da base de
cálculo (II, IE, IPI, IOF, IGF, ICMS, ITBI e ISS). Os progressivos são os que a alíquota
aumenta em razão da elevação do valor da base de cálculo ou de fator extrafiscal
protegido constitucionalmente (IR, ITR IPVA, IPTU, ITCMD). Os regressivos são os
que diminuem a alíquota à medida que aumenta o valor da base de cálculo.
Importante:
Registramos que os impostos progressivos também são
proporcionais a partir da última faixa de base de cálculo
ou do índice maior de alíquota fixado em lei. Por
exemplo, a partir da alíquota de 27,5% do IR-pessoa
física. Atualmente não há exemplo de imposto
regressivo no sistema constitucional brasileiro, em face
da obediência ao princípio da capacidade contributiva
(art. 145, §1°, da CF).
Cumulativos (“em cascata”) são os exigidos no valor total a cada vez que incide o
imposto (em regra, II, IE, IR, IOF, ITR, IGF, ITCMD, IPVA, IPTU, ITBI e ISS). Não
cumulativos são os que se devem compensar o que for devido em cada operação com o
montante cobrado nas anteriores (IPI e ICMS).
Ordinários são os já estabelecidos ou relacionados previamente na Constituição
Federal (II, IE, IR, IPI, IOF, ITR, IGF, ITCMD, ICMS, IPVA, IPTU, ITBI e ISS).
Extraordinários são os instituídos por lei ordinária de competência exclusiva da União
na iminência ou no caso de guerra externa (IEG, art. 154, II, da CF/88). Residuais são
os criados mediante lei complementar, desde que sejam não-cumulativos e não tenham
fato gerador ou base de cálculo próprios dos já discriminados na Constituição Federal
(art. 154, I, da CF/88).
1.2. Organizando o conhecimento
Classificações
Direto IR, ITR, IGF, ITCMD, IPVA, IPTU, ITBI
Indireto IPI*, ICMS*, ISS*
Pessoal IR
Real II, IE, IPI, IOF, ITR IGF, ITCMD, ICMS,
IPVA, IPTU, ITBI, ISS
Fixo ISS sobre sociedades uniprofissionais de
advocacia
Variável
Proporcional: II, IE, IPI, IOF, IGF,
ICMS, ITBI, IS
Progressivo: IR, ITR, IPVA, ITCMD
Regressivo
Cumulativ
os
Em regra, II, IE, IR, IPI, IOF, ITR, IGF,
ITCMD, IPVA, IPTU, ITBI, ISS
Não
cumulativ
os
Em regra, IPI e ICMS
* O IPI e o ICM incidentes na importação de bens para
consumo próprio são impostos diretos. O ISS fixo é
imposto direto.
2. IMPOSTOS DA UNIÃO
Os impostos da União (art. 153, I a VII, CF), em regra, são os seguintes:
• Imposto sobre importação de produtos estrangeiros (II, art. 153, I, CF);
• Imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados (IE, art. 153, II, CF);
• Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza (IR, art. 153, III, CF);
• Imposto sobre produtos industrializados (IPI, art. 153, IV, CF);
• Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou
valores mobiliários (IOF, art. 153, V, CF);
• Imposto sobre propriedade territorial rural (ITR, art. 153, VI, CF);
• Imposto sobre grandes fortunas (IGF, art. 153, VII, CF).
Existem ainda mais dois outros impostos da União (art. 154, I e II, CF):
• Impostos residuais (art. 154, I);
• Impostos extraordinários de guerra (IEG, art. 154, II).
2.1. Imposto sobre a Importação (II)
As normas jurídicas infraconstitucionais que tratam especificadamente do imposto
sobre importação de produtos estrangeiros (II) são: os arts. 19 a 22 do CTN, o Decreto-
lei 37/1966, o Decreto-lei 2.472/1988 e o Decreto 6.759/2009 (Regulamento
Aduaneiro).
Observamos de início, também, que o II, juntamente com o imposto sobre exportação
(IE), é considerado pela classificação estabelecida pelo CTN como imposto sobre o
comércio exterior.
Nesse rumo, anotamos que o lançamento do II é por homologação, exceto no caso
de bagagem acompanhada, em que o lançamento é feito por declaração. A hipótese de
bagagem acompanhada é aquela corriqueira de viagens internacionais, tal como aquela a
aprazível Miami (EUA).
Ademais, o II tem caráter eminentemente extrafiscal, uma vez que influi
diretamente na política econômica, fiscal e monetária do Estado, interferindo
normalmente no sentido de proteção da indústria brasileira. Por sua vez, não há
previsão no texto constitucional da aplicação da seletividade das alíquotas ao II e este
imposto não se submete aos princípios da anterioridade anual e nonagesimal.
2.1.1. Aspecto material
O II incide sobre a importação de produtos estrangeiros (art. 153, I, CF) e tem como
fato gerador a entrada desses produtos estrangeiros no território nacional (art. 19 do
CTN).
Isto é, o fato gerador do II é o evento concreto ou acontecimento da entrada de
determinado produto ou mercadoria estrangeira no Brasil. Assim, segundo a doutrina
majoritária, juridicamente, o termo produto abarca as mercadorias com finalidade
comercial. Entende-se também que para a entrada no território nacional é
indispensável a incorporação do bem à economia interna brasileira.
Considerar-se-á também como “entrada no território nacional” a mercadoria que
constar como tendo sido importada e cuja falta venha a ser apurada pela autoridade
aduaneira. Esta hipótese citada não se aplica às malas e remessas postais internacionais,
que estão apenas de mera passagem pelo território brasileiro, sendo destinadas a outros
países.
Segundo a doutrina majoritária, considera-se “estrangeiro” apenas o produto que tem
origem em outro país. Assim, segundo interpretação doutrinária do art. 153, I, da CF,
não seria admitido II sobre qualquer tipo de produto nacional exportado e que retornou
ao Brasil.
Importante:
Neste sentido, o STF (RE 104. 306-7/SP), ainda com
base na Constituição de 1946, declarou inconstitucional
o art. 93 do Decreto-Lei 37/66. Este dispositivo
estabelecia como estrangeira, para efeito de incidência
do II, a mercadoria nacional ou nacionalizada
reimportada, quando houver sido exportada sem a
observância da condição de reimportação no prazo
máximo de 1 (um) ano, no mesmo estado ou submetida
a processo de conserto, reparo ou restauração. Por
conseguinte, o art. 93 do Decreto-Lei 37/66 teve sua
execução suspensa pela Resolução do Senado Federal
nº 436/1987.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “A União poderá estabelecer a
incidência do imposto sobre importação da mercadoria
nacional exportada que retornar por importação, já que
lhe foi outorgada competência tributária sobre a origem
do bem vindo do exterior, não importando o local de
fabricação”.
Contudo, registramos que, segundo legislação ordinária ainda válida e não
declarada inconstitucional pelo STF, considera-se estrangeira a mercadoria nacional ou
nacionalizada exportada, que retornar ao País, salvo se: (a) enviada em consignação e
não vendida no prazo autorizado; (b) devolvida por motivo de defeito técnico, para
reparo ou substituição; (c) por motivo de modificações na sistemática de importação
por parte do país importador; (d) por motivo de guerra ou calamidade pública; (e) por
outros fatores alheios à vontade do exportador (art. 1º, §1º, do Decreto-Lei 37/66).
Por outro lado, o II não incide sobre mercadoria estrangeira: (a) destruída sob
controle aduaneiro, sem ônus para a Fazenda Nacional, antes de desembaraçada
(Redação dada pela Medida Provisória nº 497/2010); (b) em trânsito aduaneiro de
passagem, acidentalmente destruída; ou (c) que tenha sido objeto de pena de
perdimento, exceto na hipótese em que não seja localizada, tenha sido consumida ou
revendida (art. 1º, §4º, do Decreto-Lei 37/66).
Também não incide o II nas hipóteses que mercadorias estrangeiras ingressam no
território nacional, com finalidades esporádicas, tais como exposições, palestras, cursos,
feiras etc. A importação deve ser feita a título definitivo e não temporário ou transitório.
Assim, já decidiu a nossa jurisprudência: “O fato gerador do imposto de importação
reside na entrada de produtos estrangeiros no território nacional (CTN, art. 19), não
bastando a simples entrada física como ocorre com os bens existentes em navios ou
aeronaves que apenas estejam de passagem pelo Brasil, mas sim com a internação que
encontra aqui o seu destino final” (TRF - 3ª Região, AMS 92.03.072004-9/SP, DJ de
09/09/05, p. 620).
Igualmente não incide II na entrada no território nacional do pescado capturado
fora das águas territoriais do País, por empresa localizada no seu território, desde que
satisfeitas as exigências que regulam a atividade pesqueira; e não incide II sobre
mercadoria à qual tenha sido aplicado o regime de exportação temporária, ainda que
descumprido o regime (art. 74, do Decreto 6.759/2009).
Na hipótese de descumprimento do regime de exportação temporária, aplica-se uma
simples multa tributária, mas mesmo assim não incide o imposto.
O regime de exportação temporária é o que permite a saída, do País, com
suspensão do pagamento do imposto de exportação, de mercadoria nacional ou
nacionalizada, condicionada à reimportação em prazo determinado, no mesmo estado
em que foi exportada (Decreto-Lei nº 37/66, art. 92).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “Determinada empresa
especializada na venda em atacado de produtos de
pequeno valor resolveu modernizar seus departamentos
de almoxarifado e contabilidade e, para tanto, importou
diversos computadores. Nessa situação, não incidirá II,
em virtude de se tratar de produtos destinados ao ativo
fixo, não considerados mercadoria”.
2.1.2. Aspecto temporal
O imposto de importação passa a ser devido no momento da entrada da
mercadoria no território nacional. Decerto, para fins de ocorrência do fato gerador do
II, a entrada no território nacional acontece, em regra, na data do registro, na
repartição aduaneira, da declaração de importação.
Ou conforme dispositivo literal, o fato gerador ocorre na data do registro da
declaração de importação de mercadoria submetida a despacho para consumo (art.
73, inc. I, Decreto 6.759/2009), inclusive, no caso de despacho para consumo de
mercadoria sob regime suspensivo de tributação, e de mercadoria contida em remessa
postal internacional ou conduzida por viajante, sujeita ao regime de importação comum.
Desse modo, o despacho aduaneiro é o momento que completa a importação e
representa a chegada no território nacional da mercadoria para incidência do II. Assim,
a alíquota a ser cobrada deve ser contemporânea (pertinente) a este momento e
não a alíquota do dia da celebração do contrato de compra e venda da mercadoria ou do
dia em que são embarcadas as mercadorias adquiridas no estrangeiro ou, também, do
momento do ingresso físico desses bens em território nacional.
Qual o entendimento do STJ sobre o assunto?
É consolidado (por exemplo, REsp 1.220.979/RJ, DJe
15/04/2011) no sentido de que o aspecto temporal do
II de mercadoria despachada para consumo ocorre na
data do registro da declaração de importação do
bem. Por conseguinte, a alíquota vigente nessa data é a
que deve ser aplicada para o cálculo do II.
Registramos os dispositivos legais válidos sobre o
tema: Art. 19 do CTN: “O imposto, de competência da
União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem
como fato gerador a entrada destes no território
nacional”; Arts. 23 e 44 do Decreto-Lei n. 37/1966:
“Quando se tratar de mercadoria despachada para
consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data
do registro, na repartição aduaneira, da declaração a
que se refere o artigo 44”; “Toda mercadoria
procedente do exterior por qualquer via, destinada a
consumo ou a outro regime, sujeita ou não ao
pagamento do imposto, deverá ser submetida a
despacho aduaneiro, que será processado com base em
declaração apresentada à repartição aduaneira no prazo
e na forma prescritos em regulamento”.
Assim, destacamos que o STJ já pacificou o
entendimento de que não há incompatibilidade entre o
art. 19 do CTN e o art. 23 do DL n. 37/1966,
pois o “desembaraço aduaneiro completaria a
importação e, consequentemente, representaria,
para efeitos fiscais, a entrada de mercadoria no
território nacional” (EDcl no REsp 1.000.829-ES, DJe
17/6/2010; AgRg no Ag 1.155.843-RJ, DJe 30/9/2009;
REsp 1.046.361-RJ, DJe 5/3/2009).
Por outro lado, o aspecto temporal do II deve ser considerado:
• O dia do lançamento do correspondente crédito tributário, quando se tratar de: (a)
bens contidos em remessa postal internacional não sujeitos ao regime de
importação comum; (b) bens compreendidos no conceito de bagagem,
acompanhada ou desacompanhada; (c) mercadoria constante de manifesto ou de
outras declarações de efeito equivalente, cujo extravio ou avaria tenha sido
apurado pela autoridade aduaneira; ou (d) mercadoria estrangeira que não haja
sido objeto de declaração de importação, na hipótese em que tenha sido consumida
ou revendida, ou não seja localizada;
• A data do vencimento do prazo de permanência da mercadoria em recinto
alfandegado, se iniciado o respectivo despacho aduaneiro antes de aplicada a pena
de perdimento da mercadoria no caso da mercadoria ser considerada abandonada
pelo decurso do prazo de permanência em recinto alfandegado.
• A data do registro da declaração de admissão temporária para utilização
econômica.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreta: “Determinada empresa dirigiu-se
a posto fiscal de fronteira para liberar mercadorias
importadas e lá tomou ciência do aumento da alíquota
do II. Nessa situação, a empresa deverá efetuar o
pagamento do tributo com base na alíquota vigente na
data da expedição da guia de importação”.
O CESPE, no mesmo concurso para Juiz
Federal/TRF2/2010, considerou incorreta: “Uma
empresa adquiriu mercadorias na China, preencheu
declaração de importação e registrou-a nos órgãos
estatais. Nessa situação, não lhe poderá ser exigido o II
no desembaraço aduaneiro, porque foi regularmente
registrada a operação”.
2.1.3. Aspecto espacial
O aspecto espacial do II é o território nacional, que se refere ao território
aduaneiro para fins de tributação sobre o comércio exterior (II e IE).
Com efeito, a jurisdição dos serviços aduaneiros se estende por todo o território
aduaneiro, e abrange: (i) Zona primária – compreendendo as faixas internas de portos
e aeroportos, recintos alfandegados e locais habilitados nas fronteiras terrestres, bem
como outras áreas nos quais se efetuem operações de carga e descarga de mercadoria,
ou embarque e desembarque de passageiros, procedentes do exterior ou a ele
destinados; e (ii) Zona secundária – compreendendo a parte restante do território
nacional, nela incluídos as águas territoriais e o espaço aéreo correspondente (art. 33, do
Decreto-Lei 37/66).
Sendo assim, para efeito de adoção de medidas de controle fiscal, poderão ser
demarcadas, na orla marítima e na faixa de fronteira, zonas de vigilância aduaneira, nas
quais a existência e a circulação de mercadoria estarão sujeitas às cautelas fiscais,
proibições e restrições que forem prescritas no regulamento aduaneiro (Decreto
6.759/2009), de acordo com o parágrafo único do art. 33 do Decreto-Lei 37/66.
2.1.4. Aspecto pessoal
O sujeito ativo é a União.
Noutro ponto, considera-se contribuinte do II: (a) o importador ou quem a lei a ele
equipara, assim considerada qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria
estrangeira no Território Nacional; (b) o arrematante de produtos apreendidos ou
abandonados; (c) o destinatário de remessa postal internacional indicado pelo respectivo
remetente; (d) o adquirente de mercadoria entrepostada (art. 22 do CTN c/c art. 31, do
Decreto-Lei 37/66).
A mercadoria entrepostada é a mercadoria que fica aguardando uma definição para ser
utilizada. Por exemplo, com grandes empresas importadoras e exportadoras acontece
muito a situação permitida legalmente em que uma mercadoria importada fica
armazenada na Infraero, com suspensão do pagamento do tributo, e, na medida em que a
empresa for utilizando a mercadoria, deve-se pagar o II.
Pela importância do tema, anotamos que é responsável tributário (art. 32 do Decreto-
Lei 37/66, com redação dada pelo Decreto-Lei 2.472/88):
• o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob
controle aduaneiro, inclusive em percurso interno;
• o depositário, assim considerada qualquer pessoa incumbida da custódia de
mercadoria sob controle aduaneiro.
Por outro lado, é responsável solidário (art. 32, parágrafo único, do Decreto-Lei
37/66):
• o adquirente ou cessionário de mercadoria beneficiada com isenção ou redução do
imposto;
• o representante, no País, do transportador estrangeiro;
• o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação
realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora.
• o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação
realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora;
• o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência
estrangeira de pessoa jurídica importadora.
Importante:
Com base na legislação sobre responsabilidade
tributária do II, o STJ consolidou a sua jurisprudência
no sentido de que, antes do Decreto-Lei 2.472/88,
“inexistia hipótese legal expressa de responsabilidade
tributária do ‘representante, no País, do transportador
estrangeiro’, contexto que culminou na edição da
Súmula 192/TFR, editada em 19/11/1985, que
cristalizou o entendimento de que: ‘O agente marítimo,
quando no exercício exclusivo das atribuições próprias,
não é considerado responsável tributário, nem se
equipara ao transportador para efeitos do Decreto-Lei
37/66’. Desse modo, com base na Súmula 192/
TFR, consolidou a tese de que, ainda que existente
termo de compromisso firmado pelo agente marítimo,
não se lhe pode atribuir responsabilidade pelos débitos
tributários decorrentes da importação, por força do
princípio da reserva legal” (REsp 1.129.430/SP, DJe
14/12/2010). Em outros termos, a Súmula 192 do
antigo TRF não é mais aplicável em concursos
públicos, de acordo com a legislação vigente.
2.1.5. Aspecto quantitativo
A base de cálculo do II é:
• Quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária,
que é a quantidade de mercadoria expressa na unidade de medida
estabelecida;
• Quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre
concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País: neste
caso, existe previsão normativa relevante afirmando que a base de cálculo é o
valor aduaneiro do produto ou mercadoria definido no artigo VII (7º) do
Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (Acordo de Valoração
Aduaneira de 1994), no qual o Brasil é parte (art. 20, incs. I e II, do CTN c/c art.
2º, incs. I e II, do Decreto-Lei 37/66);
• Quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço
da arrematação (art. 20, incs. III, do CTN).
Importante:
É essencial decorar as bases de cálculo dos impostos!
Decorar mesmo! É assunto dos mais cobrados em
provas. Em razão da sua relevância para concursos,
registramos que o artigo 7º do Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio – GATT estabelece o seguinte: (i)
O valor para fins alfandegários das mercadorias
importadas deverá ser estabelecido sobre o valor real
da mercadoria importada à qual se aplica o direito
ou de uma mercadoria similar, e não sobre o valor do
produto de origem nacional ou sobre valores
arbitrários ou fictícios; (ii) O “valor real” deverá ser o
preço pelo qual, em épocas e lugares determinados
pela legislação do país importador, essas mercadorias
ou mercadorias similares são vendidas ou oferecidas à
venda em condições de plena concorrência e através
de operações comerciais normais; (iii) Na medida em
que o preço dessas mercadorias ou de mercadorias
similares dependa da quantidade sobre a qual recai
uma transação determinada, o preço considerado
deverá guardar relação na conformidade da escolha
efetuada em definitivo pelo país importador, quer com
quantidades comparáveis, quer com quantidades
fixadas de forma não menos favorável ao importador
do que se fosse tomado o maior volume entre o país
exportador e o país importador; (iv) No caso em que
for impossível determinar o valor real, o valor para
fins alfandegários deverá ser baseado na equivalência
comprovável, mais próxima desse valor; (v) O valor
para fins alfandegários de qualquer mercadoria
importada não deverá compreender nenhuma taxa
interna exigível no pais de origem ou de proveniência,
da qual a mercadoria importada tenha sido exonerada
ou cuja importância tenha sido ou seja destinada a um
reembolso.
Para melhor compreensão do que seja alíquota específica e alíquota ad valorem,
destacamos que a alíquota específica incide sobre a quantidade de mercadoria expressa
na unidade de medida indicada na lei tributária, que pode ser o peso, o volume, o
número de peças etc. Por exemplo, R$ 30,00 por 100 gramas de determinada
mercadoria.
Já a alíquota ad valorem é uma percentagem que incide sobre o preço da
mercadoria. Por exemplo, 10% (alíquota ad valorem) de R$ 8.000,00 (suposto preço de
um computador portátil da marca Sony).
As alíquotas do II, do IE, do IPI e do IOF podem ser alteradas pelo Poder Executivo
nas condições e limites contemplados na lei, de acordo com o art. 153, §1º, da CF/88.
Dispõe de forma válida o art. 92 do Decreto 6.759/2009 que é competência da
Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) alterar as alíquotas do imposto de importação
(II), observadas as condições e os limites estabelecidos em lei.
Qual o entendimento do STF sobre o assunto?
Súmula 582: É constitucional a Resolução 640/69, do
Conselho de Política Aduaneira, que reduziu a alíquota
do imposto de importação para a soda cáustica,
destinada a zonas de difícil distribuição e
abastecimento.
Por sua vez, a súmula 95 do STJ estabelece que a redução da alíquota do IPI ou do
II não implica redução do ICMS.
Em outras palavras, o STJ afirma que o II, o IPI e o ICMS podem ser cobrados em
conjunto ou de forma independente, desde que ocorra o fato gerador de cada tributo,
pois, em princípio, a cobrança de um destes tributos não interfere na cobrança do outro.
Neste sentido, a Lei Complementar nº 87/1996 (normas gerais sobre o ICMS) não
estabelece qualquer tipo de vinculação entre a desoneração (redução parcial ou total) do
IPI e a desoneração do ICMS incidente na importação de bens ou mercadorias, que é
prevista no art. 13, inc. V, da LC nº 87/1996.
2.1.6. Quadro sinóptico
Em resumo, temos o seguinte:
Aspecto
materia
l
Entrada do produto estrangeiro no território
nacional.
Aspecto
tempor
al
Em princípio, a data do registro da declaração
de importação submetida a despacho para
consumo.
Aspecto
espacial
Território nacional, a que corresponde o
território aduaneiro.
Aspecto
pessoal
Sujeito ativo: União; Sujeito Passivo
(contribuinte): o importador ou quem a ele a
lei equiparar.
Aspecto
quantit
ativo
Base de cálculo: (a) quando a alíquota for ad
valorem, é o valor aduaneiro definido no art. 7º
(VII) no Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT); (b) quando a alíquota for
específica, é a quantidade de mercadoria
expressa na unidade de medida estabelecida na
legislação tributária. Alíquota: é aquela fixada
na legislação federal.
2.2. Imposto sobre Exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados (IE)
As normas jurídicas infraconstitucionais que dispõem especificadamente sobre o
imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados (IE)
são: os arts. 23 a 28 do CTN, o Decreto-lei 1.578/1977 e o Decreto 6.759/2009
(Regulamento Aduaneiro).
Nesse rumo, anotamos que, no que couber, aplicar-se-á, subsidiariamente, ao
imposto de exportação (IE) a legislação relativa ao imposto de importação (II). Isto é,
não existindo norma do IE para aplicar em determinada situação, pode-se aplicar norma
referente à legislação do II.
O IE tem caráter eminentemente extrafiscal, pois também regula a política de preço
dos produtos (função regulatória) e não se submete aos princípios da anterioridade anual
e nonagesimal. O seu lançamento é por homologação.
Por sua vez, não tem mais validade jurídica o art. 28 do CTN, dispondo que a receita
líquida do IE destina-se à formação de reservas monetárias, na forma da lei, uma vez
que a CF/88 (art. 167, inc. IV) veda (proíbe), salvo algumas exceções, a vinculação de
receita de impostos a órgão, fundo ou despesa. Contudo, o STF ainda não declarou a
inconstitucionalidade do art. 28 do CTN.
2.2.1. Aspecto material
O imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados
(IE) tem como fato gerador a saída destes do território nacional (art. 23 do CTN c/c art.
1º, do Decreto-Lei 1.578/77).
Isto é, o fato gerador do IE é a saída do território nacional para o estrangeiro de
produtos nacionais ou nacionalizados. Decerto, considera-se nacional o produto
produzido no território brasileiro e nacionalizado o produto estrangeiro importado a
título definitivo, independentemente de qualquer outro fator. Por exemplo, o bem
nacionalizado é aquele beneficiado ou alterado no Brasil.
Por sua vez, a doutrina entende que o IE é um imposto excepcional, pois cabe ao
Poder Executivo relacionar os produtos sujeitos a sua tributação (art. 1º, §3º, do
Decreto-Lei 1.578/77).
Ou seja, se o produto não constar na lista de produtos disciplinados pelo Poder
Executivo é caso de não-incidência do IE. Assim, cabe à Câmara de Comércio Exterior
(CAMEX – órgão pertencente ao Poder Executivo), observada a legislação específica,
relacionar as mercadorias sujeitas ao IE.
Ademais, também observamos que à exceção dos II, IE e do ICMS, nenhum
outro imposto poderá incidir sobre operações relativas à energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País (art. 155,
§3º, da CF/88).
Portanto, pode incidir contribuições tributárias especiais (exs.: COFINS e PIS)
sobre operações relativas à energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de
petróleo, combustíveis e minerais do País, mas não pode incidir impostos, exceto o II, o
IE e o ICMS.
Neste sentido, o STF afirma que é legítima a cobrança da COFINS, do PIS e do
FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país (súmula
659).
2.2.2. Aspecto temporal
Considera-se ocorrido o fato gerador no momento da expedição da Guia de
Exportação ou documento equivalente (art. 1º, §1º, do Decreto-Lei 1.578/77).
Com base nesta regra, o art. 6º, §1º, do Decreto 660/92, dispõe que para todos os fins
e efeitos legais, os registros informatizados das operações de exportação ou de
importação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) equivalem à
Guia de Exportação, à Declaração de Exportação, ao Documento Especial de
Exportação, à Guia de Importação e à Declaração de Importação.
Nesse sentido, o STF afirma que não é qualquer registro no SISCOMEX que
corresponde à expedição do documento equivalente à guia de exportação, mas somente
o Registro de Exportação corresponde e que se equipara à Guia de Exportação (AI
578.372-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, DJE de 12-3-2010).
O SISCOMEX é o instrumento administrativo que integra as atividades de registro,
acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, mediante fluxo único,
computadorizado, de informações (art. 2º, Decreto 660/92).
Assim, tal registro estabelece também o início do despacho de exportação, que é
procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo
exportador em relação à mercadoria, aos documentos apresentados e à legislação
específica, com vistas a seu desembaraço aduaneiro e a sua saída para o exterior (art.
580 do Decreto 6.759/2009).
Por conseguinte, o despacho aduaneiro na exportação é o ato pelo qual é registrada
a conclusão de toda conferência aduaneira (despacho de exportação), e autorizado o
embarque ou a transposição de fronteira da mercadoria, sendo que verificada
divergência de dados ou infração que não impeça a saída da mercadoria do País, o
desembaraço será realizado, sem prejuízo da formalização de exigências, desde que
assegurados outros meios de prova necessários (art. 591, Decreto 6.759/2009).
Destacamos, por sua vez, que o Ministro da Fazenda tem competência para editar
normas infralegais (por exemplo, portarias) estabelecendo que o pagamento do IE seja
exigido antes da efetiva saída do produto a ser exportado, podendo também
dispensar a cobrança do imposto em função do destino da mercadoria exportada (art. 4º,
do Decreto-Lei 1.578/77).
2.2.3. Aspecto espacial
O aspecto espacial do IE é o território nacional, que se refere ao território
aduaneiro para fins de tributação sobre o comércio exterior (II e IE).
2.2.4. Aspecto pessoal
O sujeito ativo é a União.
O contribuinte do IE é o exportador ou quem a lei a ele equiparar, assim
considerado qualquer pessoa que promova a saída do produto do território nacional (art.
27 do CTN c/c art. 5º, do Decreto-Lei 1.578/77).
2.2.5. Aspecto quantitativo
A base de cálculo do IE é a seguinte:
• Quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária;
• Quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre
concorrência (art. 24 do CTN).
Nesse último caso, quando a alíquota seja ad valorem, a base de cálculo do IE é o
preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em
uma venda em condições de livre concorrência no mercado internacional, devendo-se
observar as normas expedidas pelo Poder Executivo, mediante ato da CAMEX (art. 2º,
do Decreto-Lei 1.578/77).
Anotamos também que o preço à vista do produto, FOB ou posto na fronteira, é
indicativo do preço normal.
FOB significa Free on Board, isto é, livre ou posto a bordo, sendo o preço da
mercadoria livre de qualquer despesa para o comprador, tais como despesas de frete
e seguro.
Ressaltamos que quando a alíquota seja ad valorem, considera-se a entrega como
efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos os tributos diretamente
incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas efetuadas a prazo superior aos
correntes no mercado internacional, o custo do financiamento (art. 24, parágrafo único,
do CTN).
Destarte, o CTN dispõe que a lei ordinária pode adotar como base de cálculo a
parcela do valor ou do preço excedente de valor básico, fixado de acordo com os
critérios e dentro dos limites por ela estabelecidos (art. 25).
Nesse caso, verificamos que somente ocorre a incidência o IE caso o preço da
mercadoria exportada consiga atingir um valor mínimo, em obediência aos princípios
constitucionais da capacidade contributiva e da igualdade, eis que o contribuinte deve
demonstrar algum tipo de riqueza para pagar o imposto, o que é denominado
doutrinariamente de signo presuntivo de riqueza.
Por conseguinte, de acordo com o art. 25 do CTN, se o valor do produto no mercado
internacional não ultrapassar a barreira do valor básico estabelecido na lei ordinária, não
há possibilidade jurídica para incidência do IE.
E, nesse sentido, para efeito de determinação da base de cálculo do IE, o preço de
venda das mercadorias exportadas não poderá ser inferior ao seu custo de aquisição ou
produção, acrescido dos impostos e das contribuições incidentes e de margem de
lucro de quinze por cento sobre a soma dos custos, mais impostos e contribuições (art.
2º, §3º, do Decreto-Lei 1.578/77, que foi recepcionado pela CF/88).
Com efeito, quando o preço do produto for de difícil apuração ou for susceptível de
oscilações bruscas no mercado internacional, o Poder Executivo, mediante ato da
CAMEX, também fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de valor
mínimo, para apuração de base de cálculo (art. 2º, §2º, do Decreto-Lei 1.578/77).
No que se refere à alíquota do IE, esta é de trinta por cento (30%), sendo facultado
ao Poder Executivo reduzi-la ou aumentá-la, para atender aos objetivos da política
cambial e do comércio exterior.
Todavia, em caso de elevação, a alíquota não poderá ser superior a cento e cinquenta
por cento (150%), conforme o art. 3º, do Decreto-Lei 1.578/77.
Nesse rumo, o art. 2º, inc. XIII, do Decreto do Poder Executivo nº 4.732/03, autoriza
a CAMEX a fixar as alíquotas do imposto de exportação, respeitadas as condições de
trinta por cento (30%) a cento e cinquenta por cento (150%).
Também é competência da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), dentre outras
competências relevantes, definir, no âmbito das atividades de exportação e importação,
diretrizes básicas sobre a política tarifária e orientações sobre normas e
procedimentos, para os seguintes temas, observada a reserva legal: a) racionalização e
simplificação do sistema administrativo; b) habilitação e credenciamento de empresas
para a prática de comércio exterior; c) nomenclatura de mercadoria; d) conceituação de
exportação e importação; e) classificação e padronização de produtos; f) marcação e
rotulagem de mercadorias; g) regras de origem e procedência de mercadorias.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF em concurso para RFB considerou correto: “O
Imposto de Exportação incide sobre mercadorias
nacionais ou nacionalizadas, relacionadas pelo Poder
Executivo, tendo como fato gerador sua saída do
território aduaneiro, que se considera ocorrida na data
de registro da exportação no Siscomex; sua base de
cálculo é o preço normal ou o preço apurado segundo
critérios específicos fixados ou pauta de valor mínimo
estabelecida pela CAMEX; a alíquota é de 30%,
podendo ser elevada, pela CAMEX, para até 150%; o
prazo de pagamento é fixado pelo Ministro da
Fazenda”.
O CESPE no concurso da Defensoria Pública-
União/2010 considerou correto: “A competência para a
fixação das alíquotas do imposto de exportação de
produtos nacionais ou nacionalizados não é exclusiva
do presidente da República; pode ser exercida por
órgão que integre a estrutura do Poder Executivo”.
2.2.6. Quadro sinóptico
Resumindo:
Aspecto
materia
l
A saída do território nacional para o
estrangeiro de produtos nacionais ou
nacionalizados.
Aspecto
tempor
al
Registro informatizado da operação de
exportação no SISCOMEX.
Aspecto
espacial
Território nacional, que equivale ao território
aduaneiro, para fins de tributação sobre o
comércio exterior (IE e II).
Aspecto
pessoal
Sujeito ativo: União; Sujeito Passivo
(contribuinte): exportador ou quem a lei a ele
equiparar, assim considerado qualquer pessoa
que promova a saída do produto do território
nacional.
Aspecto
quantit
ativo
Base de cálculo: (a) quando a alíquota seja
específica, a unidade de medida adotada pela
lei tributária; (b) quando a alíquota seja ad
valorem, o preço normal que o produto, ou
seu similar, alcançaria, ao tempo da
exportação, em uma venda em condições de
livre concorrência. Alíquota: é a fixada na
legislação federal (30%), que pode ser
alterada pelo Poder Executivo até o limite de
150%.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PA/2012) Está de acordo com a CF norma infraconstitucional que atribua a órgão integrante do Poder Executivo da União a faculdade de estabelecer as alíquotas do imposto de exportação.
COMENTÁRIO
O STF entende como compatível com a Carta Magna, sobretudo o art. 153, §1°, a norma infraconstitucional que atribui a órgão integrante do Poder Executivo da União a faculdade de estabelecer as alíquotas do Imposto de Exportação, uma vez que não é competência que não é privativa do Presidente da República (RE 570.680, DJE de 4-12-2009). Logo, correta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PI/2012) O arrematante de produtos importados apreendidos ou abandonados é contribuinte do imposto sobre a importação.
COMENTÁRIO
O II tem como um dos seus contribuintes o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados (art. 22, II, CTN). Logo, correta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PI/2012) A receita líquida do imposto de exportação destina-se à conservação dos portos ou lugares de saída do produto.
COMENTÁRIO
Em regra, é vedada a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa (art. 167, IV, CF). Por exemplo, o art. 28 do CTN que estabelece que a receita líquida do imposto de exportação destina-se à formação de reservas monetárias não foi recepcionado pela Constituição de 1988. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PI/2012) O Poder Executivo não detém a competência de alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto de exportação, ainda que para ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.
C E
COMENTÁRIO
O Poder Executivo detém a competência apenas para alterar as alíquotas do imposto de
exportação (IE), atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei (art. 153, §1°, da CF). Logo,
incorreta. Ressalta-se que o art. 26 do CTN não foi recepcionado na parte que afirma a competência
do Poder Executivo para alterar as bases de cálculo do IE.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PI/2012) À luz do CTN, a posse de imóvel por natureza localizado fora da zona urbana do município, tal como definido na lei civil, não é considerada fato gerador para a incidência do imposto sobre a propriedade territorial rural.
C E
COMENTÁRIO
À luz do art. 32 do CTN e do art. 1° da Lei 9.393/96 (lei ordinária do ITR), a posse de imóvel por natureza localizado fora da zona urbana do município, tal como definido na lei civil, é fato gerador do imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR). Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PI/2012) A base de cálculo do imposto relativo a produto que, tendo sido apreendido ou abandonado, seja levado a leilão corresponderá à alíquota ad valorem.
C E
COMENTÁRIO
A base de cálculo do imposto de importação (II) e do imposto sobre produtos industrializados (IPI) relativo a produto que, tendo sido apreendido ou abandonado, seja levado a leilão corresponderá ao preço da arrematação (arts. 19, III e 48, III, CTN). Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) Considerando que determinada empresa se dedique a compra, venda, importação e exportação, e extração de petróleo, além de refino do produto para a produção de lubrificantes, assinale a opção correta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) As operações de importação do petróleo são imunes ao imposto de importação.
COMENTÁRIO
As operações de importação do petróleo não são imunes ao imposto de importação, conforme o art. 155, §3°, da CF/88. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) As operações de exportação do petróleo são imunes ao imposto de exportação.
C E
COMENTÁRIO
As operações de exportação do petróleo não são imunes ao imposto de exportação, segundo o art. 155, §3°, da CF/88. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) Incide contribuição de intervenção no domínio econômico sobre as vendas de petróleo para o exterior.
C E
COMENTÁRIO
Conforme o §2º, do art. 3°, da Lei 10.336/2001, a Cide-Combustíveis não incidirá sobre as receitas de exportação, para o exterior, das operações de vendas de petróleo para o exterior. Logo, incorreta.
(CESPE/TRF5/JUIZ FEDERAL/2008) A base de cálculo do imposto sobre importações, quando a alíquota seja ad valorem, é o valor aduaneiro, ou seja, o valor pelo qual foi realizado o eventual negócio jurídico referente à importação.
COMENTÁRIO
A base de cálculo do imposto de importação quando a alíquota seja ad valorem, é o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País (art. 20, II, CTN). Logo, incorreta.
795
(CESPE/DEFENSORIA PÚBLICA-UNIÃO/2010) A competência para a fixação das alíquotas do imposto de exportação de produtos nacionais ou nacionalizados não é exclusiva do presidente da República; pode ser exercida por órgão que integre a estrutura do Poder Executivo.
C E
COMENTÁRIO
Segundo o STF, o enunciado “Poder Executivo” disposto no art. 153, §1°, da CF/88, não significa competência privativa ou exclusiva do Presidente da República, mas sim que tal competência pode ser exercida por órgão que integre a estrutura do Poder Executivo. Por exemplo, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Portanto, correto.
(CESPE/PGE/PB/PROCURADOR/2008) As operações relativas a derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País submetem-se apenas à incidência dos impostos sobre circulação de mercadorias e serviços, importação de produtos estrangeiros e exportação.
COMENTÁRIO
Conforme o art. 155, § 3º, da CF, à exceção do ICMS, II e IE, nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País. Logo, correta.
2.3. Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza (IR)
As normas jurídicas infraconstitucionais que dispõem especificadamente sobre
imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza (IR) são: os arts. 43 a 45 do CTN,
as Leis 7.713/1988 e 9.250/95 (imposto de renda de pessoas físicas – IRPF), as Leis
8.981/1995 e 9.430/96 (imposto de renda de pessoas jurídicas – IRPJ) e o Decreto
3.000/1999 (Regulamento do IR).
Realçamos também que o IR será informado pelos critérios ou princípios da
generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei (art. 153, §2º, inc.
I, da CF/88).
O critério da generalidade para a doutrina majoritária significa que todas as
pessoas, independentemente de qualquer condição (raça, sexo, credo, estado civil etc.),
que realizam o fato gerador, devem se submeter à incidência do imposto de renda,
exceto quando alcançados pela imunidade ou isenção.
O critério da universalidade se contrapõe a ideia de seletividade, isto é, o imposto
de renda deve incidir sobre todas as espécies de obtenção de disponibilidade de renda ou
provento.
Desse modo, critério da universalidade dispõe que toda a obtenção de
disponibilidade de renda ou provento deve submeter-se à incidência do imposto, ou
seja, os acréscimos patrimoniais de todas as espécies e gêneros, independentemente da
denominação, localização, condição jurídica, nacionalidade da fonte ou origem, estão
sujeitos à incidência do IR, salvo os excluídos pelas próprias normas jurídicas
(imunidade e isenção).
A progressividade dispõe que as alíquotas devem ser tanto maiores ou crescentes
quanto o aumento das respectivas bases de cálculo, isto é, a incidência do IR aumenta
em percentuais à medida que se elevam as grandezas de valores que compõem a base de
cálculo.
A progressividade do IR está de acordo com a capacidade econômica do contribuinte
e observa o caráter pessoal previsto no 1º, do art. 145, da CF/88.
A progressividade do IR é predominantemente fiscal, isto é, a sua finalidade é
eminentemente arrecadatória, sendo a principal fonte de receita tributária da União.
Nesse ponto, ainda destacamos que, a partir da Emenda Constitucional nº 20/1998
(EC 20/98), o IR pode incidir, nos termos e limites fixados em lei, sobre rendimentos
provenientes de aposentadoria e pensão, pagos pela previdência social da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a pessoa com idade superior a sessenta e
cinco anos, cuja renda total seja constituída, exclusivamente, de rendimentos do
trabalho.
Logo, com o advento da EC 20/98, foi revogada a imunidade de proventos de
aposentadoria e pensão de idoso, que era considerado pessoa com idade superior a
sessenta e cinco anos, cuja renda total fosse constituída, exclusivamente, de rendimentos
do trabalho.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF5
considerou incorreto: “Comumente, os princípios
tributários revelam a não-incidência de determinado
tributo sobre certas pessoas ou situações, estabelecendo
as chamadas limitações constitucionais ao poder de
tributar. Entre essas limitações contidas na Constituição
está a não-incidência do imposto de renda, nos termos e
limites fixados em lei, sobre rendimentos provenientes
de aposentadoria e pensão, pagos pela previdência
social da União, dos estados, do Distrito Federal (DF) e
dos municípios, a pessoa com idade superior a 65 anos,
cuja renda total seja constituída, exclusivamente, de
rendimentos do trabalho”.
De mais a mais, o IR se submete ao princípio da anterioridade anual, mas não está
sujeito ao princípio da anterioridade nonagesimal (art. 150, §1º, CF/88).
2.3.1. Aspecto material
O imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza (IR) tem como fato gerador
a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: a) de renda, assim entendido
o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; b) de proventos de
qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos
como renda (art. 43, do CTN).
Desse modo, o fato gerador do IR é a aquisição de renda ou proventos, que se
caracterizem como riqueza nova (acréscimo patrimonial), podendo o contribuinte dispor
livremente dessa renda ou provento.
Nessa esteira, o conceito de “renda” deve ser extraído da CF/88, principalmente das
normas jurídicas dispostas no art. 145, §1º (capacidade contributiva), c/c art.153, inciso
III, e o seu §2º, inciso I, mas é preciso afirmar que as suas características não se
encontram totalmente definidas pela CF/88, precisando o intérprete prestar atenção
também nas leis infraconstitucionais para dissecar toda a extensão do seu conceito.
O legislador ordinário tem a seu talante o âmbito de competência outorgado pela
CF/88, podendo claramente não utilizar toda amplitude de sua competência normativa.
Primeiramente, anotamos que da definição de renda e proventos de qualquer natureza
devem ser excluídos os fatos geradores dos demais impostos dispostos na CF/88, tais
como propriedade territorial rural (ITR), produto industrializado (IPI), propriedade
territorial urbana (IPTU), propriedade de veículo automotor (IPVA) etc.
Segundo, é que os proventos de qualquer natureza devem ser considerados como
espécie de renda.
Terceiro, é que a ideia de renda traz consigo a ideia de acréscimo patrimonial, que
deve ser entendido como disponibilidade de riqueza nova adquirida em certo intervalo
de tempo ou até mesmo de forma isolada (ex.: contribuinte que ganha um prêmio de
loteria).
É exemplar a respeito do assunto a seguinte decisão do STF: “a renda pressupõe
ganho, lucro, receita, crédito, acréscimo patrimonial, ou, como diz o processo
transcrito, aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica. Concordo em que a
lei pode, casuisticamente, dizer o que é ou o que não é renda tributável. Mas não deve ir
além dos limites semânticos, que são intransponíveis. Entendo, por isso, que ela não
pode considerar renda, para efeito de taxação, o que é, de maneira incontestável,
ônus, dispêndio, encargo ou diminuição patrimonial, resultante do pagamento de
um débito” (RE nº 71.758). Isto é, o conceito de renda decorre da Constituição e não
pode a legislação infraconstitucional definir como renda o que não o é.
Assim, podemos dizer que renda é o acréscimo patrimonial, riqueza nova,
devendo ser realizado, em princípio, o confronto entre certas entradas e certas saídas ao
longo de um determinado período de tempo para a verificação do saldo positivo (valor
da aquisição de disponibilidade de renda ou provento).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
No XV concurso público para Juiz Federal/TRF3/2011
foi cobrado o seguinte questionamento na prova
discursiva: “Há um conceito constitucional de renda e
proventos de qualquer natureza, delimitador da
competência tributária impositiva, para fins de
instituição do imposto previsto no art. 153, III, da
Constituição Federal?”.
Por sua vez, com base nos argumentos citados, a jurisprudência do STJ entende que
diversas verbas não estão sujeitas a incidência do IR, pois não constituem acréscimos
patrimoniais ou riqueza nova.
Nesse sentido, podemos formular os seguintes quadros com base nos entendimentos
predominantes no STJ:
NÃO INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
(i) no pagamento de férias não gozadas por tempo de
serviço (súmula 125): natureza jurídica de indenização,
constituindo mera reparação do dano econômico
sofrido;
(ii) no pagamento de licença-prêmio não gozada por
tempo de serviço (súmula 136): caráter indenizatório,
constituindo mera compensação do dano econômico
sofrido;
(iii) na indenização recebida pela adesão a programa e
incentivo à demissão voluntária (súmula 215):
indenização, de natureza reparatória, desde que exista
quebra de vínculo empregatício entre empregado e
empregador (REsp 1.089.952, DJE 08/04/2011);
(iv) nas indenizações de férias proporcionais e o
respectivo adicional (súmula 386): caráter de
indenização e não têm origem em capital ou trabalho as
férias não gozadas;
(v) na quantia recebida em virtude de indenização
definida em convenção coletiva de trabalho e de
indenização recebida por causa de rompimento de
contrato de trabalho, sem justa causa; ou se ocorrida
NÃO INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
durante a vigência da estabilidade temporária no
emprego, salvo no caso de renúncia a este direito. Por
sua vez, se, na dispensa sem justa causa, o empregador
pagar a indenização espontaneamente, por liberalidade
sua, sobre esse valor incide o IR (EREsp 769.118/SP);
(vi) nos valores recebidos pelo contribuinte a título de
juros de mora (juros cobrados por causa de atraso no
pagamento) a partir da vigência do Código Civil de
2002;
(vii) no lucro imobiliário da venda de imóvel recebido
por herança: a Portaria 80 do Ministério da Fazenda é
ilegal e o Decreto-lei 94/1966, que autorizava a
cobrança do IR sobre a venda de imóveis herdados, foi
revogado;
(viii) no lucro inflacionário acumulado pelas empresas:
constitui apenas uma correção. O IR deve incidir no
caso do lucro real, que é o resultado da atividade
econômica que servirá de base para a cobrança do IR e
da contribuição social sobre o lucro líquido;
(ix) nos valores recebidos por meio de bolsas do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq): os resultados da atividade (estudo
ou pesquisa) não representam vantagem ao doador
(CNPq), tampouco exigem uma contraprestação de
serviços; Todavia, incide IR sobre valores recebidos por
meio de bolsas de estudos quando o beneficiado tem
vínculo empregatício com o órgão concedente,
porque, neste caso, a verba recebida a título de bolsa de
estudos é o salário do servidor, já que ele permaneceu
com seu vínculo empregatício, apenas substituindo suas
atividades laborais pelas acadêmicas;
(x) na verba recebida a título de dano moral:
indenização, cujo objetivo é a reparação do sofrimento e
da dor da vítima ou de seus parentes, causados pela
lesão de direito (REsp 686.920/MS; AgRg no Ag
1021368/RS; REsp 865.693/RS);
NÃO INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
(xi) na verba recebida a título de ausências permitidas
por interesse particular (APIP's) ou abono-assiduidade
não gozados, convertidos em pecúnia (Pet 6.243/SP);
(xii) na verba recebida a título auxílio condução:
compensação pelo desgaste do patrimônio dos
servidores, que utilizam-se de veículos próprios para o
exercício da sua atividade profissional, inexistindo
acréscimo patrimonial, mas uma mera recomposição ao
estado anterior sem o incremento líquido necessário à
qualificação de renda (REsp 825.907/RS; REsp
639.635/RS; REsp 731883/RS).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “O pagamento de férias não
gozadas por necessidade de serviço não é produto de
capital, do trabalho ou de combinação de ambos, mas
representa acréscimo de capital e sujeita-se à incidência
do tributo”.
O CESPE no concurso para Defensoria Pública-
União/2010 considerou incorreto: “Considere que José
tenha trabalhado durante 6 anos em uma empresa de
construção civil e tenha sido demitido sem justa causa.
Nessa situação, incide o imposto de renda sobre os
valores por ele recebidos a título de férias proporcionais
e respectivo terço de férias”.
INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
(i) sobre o resultado das aplicações financeiras
realizadas pelas cooperativas (Súmula 262): as
aplicações financeiras não são atos cooperativos e seu
resultado deve ser levado à conta para a incidência de
IR;
INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
(ii) nos valores percebidos a título de indenização por
horas extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes
de acordo coletivo (súmula 463). Ou seja, o pagamento
de horas extraordinárias tem natureza remuneratória e
tem característica de acréscimo patrimonial, ainda que em
virtude de acordo coletivo. Assim, por exemplo, a verba
intitulada indenização por horas trabalhadas (IHT) paga
aos funcionários da Petrobrás (EREsp 939.974/RN;
EREsp 979.765/SE; EREsp 666.288/RN);
(iii) nas verbas concedidas ao empregado por mera
liberalidade do empregador quando da rescisão
unilateral de seu contrato de trabalho: acréscimo
patrimonial e não possuem caráter indenizatório (EREsp
769.118/SP; REsp n.º 706.817⁄RJ; EAg 586.583/RJ);
(iv) nas parcelas que o administrador ou os empregados
de uma empresa recebem a título de participação nos
resultados do empreendimento, uma vez que a isenção
prevista no artigo 10 da Lei n. 9.249/95 aplica-se
apenas à participação nos lucros ou dividendos
distribuídos aos sócios, e não ao administrador ou
empregado da empresa;
(v) nas quantias pagas a plano de previdência privada
pelas entidades empregadoras (valores originados de
verbas das empregadoras que não decorrem de
contribuições dos próprios beneficiários do plano, os
empregados), pois estes valores devem ser tributados,
inclusive, quando se referem à migração de um plano de
benefício para outro;
(vi) nos lucros cessantes: significa o valor que a pessoa
deixou de auferir e o que razoavelmente deixou de
ganhar em determinada situação. Por exemplo, um
taxista foi atropelado por um motorista imprudente que
invadiu a calçada. O taxista ajuíza com uma ação na
justiça pedindo a reparação dos prejuízos pelos dias não
trabalhados (lucro cessante);
(vii) sobre a gratificação de produtividade; décimo
INCIDE IMPOSTO DE RENDA:
terceiro salário; adicional noturno; férias normais
gozadas e respectivas adicionais; complementação
temporária de proventos; verbas recebidas a título de
renúncia à estabilidade provisória decorrentes, por
exemplo, de gravidez ou estabilidade sindical;
“indenização especial”, em reconhecimento por
relevantes serviços prestados à empresa (RESP
1.111.223/SP, AgRg nos EREsp 916.304/SP);
(viii) nos valores recebidos em virtude de decisão
judicial que determinou a reintegração de trabalhador
despedido injustamente (REsp 1.142.177, julgamento
em 09/08/2010): tais verbas são percebidas a título de
salários vencidos, como se o empregado estivesse no
pleno exercício de seu vínculo empregatício, com
carater remuneratório. Contudo, entendendo o Poder
Judiciário ser a reintegração do empregado inviável, os
valores a serem percebidos pelo empregado têm
natureza indenizatória, não incidindo IR.
(ix) rendimentos recebidos a título de abono de
permanência pelo servidor público estatutário que tenha
completado as exigências para aposentadoria voluntária
(§19 do art. 40 da CF), pois não há lei que autorize
considerar o abono de permanência como rendimento
isento (REsp 1.192.556).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorretas as seguintes afirmativas sobre o
imposto de renda: “Não incide sobre o pagamento de
horas extras, uma vez que se trata de verba
indenizatória” e “As verbas recebidas em caráter
indenizatório não são passíveis de tributação, o que não
ocorre com os juros incidentes sobre elas”.
Na mesma prova, considerou como verdadeiro: “As
verbas pagas quando da rescisão de contrato de trabalho
sem justa causa não estão sujeitas à sua incidência, por
terem caráter indenizatório, o que não se dá com a
quantia que ultrapassar tais limites por liberalidade do
empregador”.
Ademais, ressaltamos que a tributação do IR independe da denominação dos
rendimentos, títulos ou direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da
fonte, da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção das rendas ou
proventos, bastando, para a incidência do imposto, o benefício do contribuinte por
qualquer forma e a qualquer título (art. 3º, §4º, Lei 7.713/88).
Qual o entendimento do STF sobre o assunto?
“Não está isenta do imposto de renda a atividade
profissional do arquiteto”(Súmula 93); “Incide imposto
de renda sobre os juros remetidos para o exterior, com
base em contrato de mútuo” (Súmula 586); “Incide
imposto de renda sobre o pagamento de serviços
técnicos contratados no exterior e prestados no Brasil”
(Súmula 587).
2.3.2. Aspecto temporal
O fato gerador do IR é classificado por parte da doutrina como fato gerador
periódico, eis que acontece ao longo de um período de tempo, que, segundo a
legislação do IR pessoa física (IRPF), é de 1º de janeiro até 31 de dezembro do mesmo
ano.
O fato gerador periódico é denominado pelo Amílcar Falcão de Araújo de fato
gerador “complexivo”. Desta maneira, o fato gerador do IRPF completa o seu círculo
de formação e se caracteriza no último momento do dia 31 de Dezembro de cada ano
(ou exercício), segundo interpretação do STF, o que serve para fixar as balizas do
princípio da irretroatividade.
Assim, nova lei publicada até 31 de Dezembro aumentando o IR, pode já ser aplicada
no dia 1º de janeiro do ano posterior. É o que diz a súmula 584, ainda aceita pelo STF:
“Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente
no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração”.
Com efeito, Amílcar Falcão de Araújo também distingue o fato gerador em simples
e complexo.
O fato gerador do IR é complexo, pois a incidência do IR compreende um
conjunto de fatos considerados como um todo. Ou como diz Ricardo Lobo Torres:
“fato gerador complexo é o que abrange inúmeros fatos, atos ou situações jurídicas da
mesma espécie”.
Já o fato gerador simples é o que se constitui com um fato isolado. Por exemplo, no
ICMS, com a saída da mercadoria do estabelecimento empresarial ocorre o fato gerador.
Ademais, no IR pessoa jurídica (IRPJ), a legislação também estabelece o período de
apuração trimestral, que é encerrado nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro
e 31 de dezembro de cada ano-calendário. Por sua vez, pode a pessoa jurídica que optar
pela tributação com base no lucro real adotar o período anual, que é encerrado em 31 de
dezembro de cada ano-calendário.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
No concurso para Juiz Federal da 4º Região/2008 foi
considerado incorreto: “O termo ‘complexivo’,
utilizado em relação ao imposto de renda, guarda
pertinência com a complexidade do ato administrativo,
que, na espécie tributária, fica a depender de mais de
uma esfera decisória”.
Qual o entendimento do STJ sobre o assunto?
“É admissível, em embargos à execução, compensar os
valores de imposto de renda retidos indevidamente na
fonte com os valores restituídos apurados na declaração
anual” (Súmula 394).
2.3.3. Aspecto espacial
O IR adota o postulado da tributação em base global ou em bases universais, o que
expressa a sua incidência sobre a universalidade dos rendimentos, ganhos de capital e
lucros no território nacional, até mesmo por pessoa residente ou domiciliada no
estrangeiro ou no território estrangeiro, por pessoa residente ou domiciliada no Brasil.
Assim, no caso de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as
condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do
IR (art. 43, § 2º, do CTN).
De tal modo, verificamos que o IR pode incidir na hipótese de receita ou de
rendimento oriundos do exterior (território estrangeiro). Assim sendo, o IR pode incidir
na hipótese de disponibilidade de renda ou proventos percebidos no exterior, por
residentes e domiciliados no nosso território.
Por outro lado, no caso de rendimentos adquiridos no Brasil, decorrentes de
atividades situadas no exterior, mesmo que sejam percebidos por residentes e
domiciliados no exterior, também poderão ser tributados no Brasil. Isto é, as pessoas
não-residentes no Brasil podem ser tributadas, apenas sobre a renda gerada dentro do
território brasileiro (princípio da territorialidade).
Importante:
Em face do princípio da universalidade, a
extraterritorialidade na tributação do IR independe da
existência de tratado ou acordo internacional. Todavia,
não se admite atos concretos de cobrança em território
estrangeiro, sob pena de ofensa a soberania estatal.
Registramos também o inc. VII, do art. 55, do Decreto 3.000/1999 (RIR),
estabelecendo que são tributáveis os rendimentos recebidos no exterior, transferidos ou
não para o Brasil, decorrentes de atividade desenvolvida ou de capital situado no
exterior.
Todavia, o imposto pago no exterior pode ser deduzido, eis que as pessoas físicas,
residentes ou domiciliadas no território nacional, que declararem rendimentos
provenientes de fontes situadas no exterior poderão subtrair o valor já cobrado pela
nação de origem, desde que (i) em conformidade com o previsto em acordo ou
convenção internacional firmado com o país de origem dos rendimentos, quando não
houver sido restituído ou compensado naquele país; ou (ii) haja reciprocidade de
tratamento em relação aos rendimentos produzidos no Brasil. Esta dedução não poderá
exceder a diferença entre o imposto calculado com a inclusão daqueles
rendimentos e o imposto devido sem a inclusão dos mesmos rendimentos (art. 103,
caput e §1º, do Decreto 3.000/99).
2.3.4. Aspecto pessoal
O sujeito ativo do IR é a União.
Todavia, destacamos a súmula 447 do STJ: “Os Estados e o Distrito Federal (DF)
são partes legítimas na ação de restituição de imposto de renda (IR) retido na fonte
proposta por seus servidores”.
Portanto, podemos concluir que os Estados e o DF são partes legítimas para figurar
no pólo passivo das ações propostas por servidores públicos estaduais que visam o
reconhecimento do direito à isenção ou à repetição do indébito relativo ao IR retido na
fonte. O fundamento jurídico para que a União não possua legitimidade passiva nestas
hipóteses é o art. 157, I, da CF, que dispõe que o produto da arrecadação deste
tributo pertence aos Estados e ao DF.
Tal entendimento também se estende aos Municípios, por força do art. 158, I, da CF.
No que se refere ao contribuinte do IR, é o titular da disponibilidade econômica ou
jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza, sem prejuízo de atribuir a lei essa
condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos
tributáveis. A lei também pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos
tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe
caibam.
Noutro ponto, registramos a interpretação do STF em relação ao art. 35 da Lei
7.713/88, que estabelece: “O sócio quotista, o acionista ou titular da empresa individual
ficará sujeito ao imposto de renda na fonte, à alíquota de oito por cento, calculado com
base no lucro líquido apurado pelas pessoas jurídicas na data do encerramento do
período-base”.
O STF afirma que é “indevida a exigência do IR sobre o lucro líquido instituída pelo
art. 35 da Lei nº 7.713/88, quando inexistir no contrato social cláusula de sua
automática distribuição no encerramento do período-base” (RE nº 172.058/SC, DJ
30/06/95).
Em outras palavras, o STF entende que não há que se falar em disponibilidade
econômica ou jurídica de renda ou proventos (art. 45 do CTN) do acionista mediante a
simples apuração do lucro líquido, pois, por exemplo, em sociedades anônimas (S/A), a
distribuição dos lucros depende, sobretudo, da manifestação em assembleia geral.
Portanto, no que se refere ao sócio quotista e ao titular da empresa individual, o art.
35, da Lei 7.713/88, não é, em abstrato, inconstitucional (constitucionalidade formal),
podendo sê-lo, em concreto, dependendo do que estiver disposto no contrato
(inconstitucionalidade material), de acordo também com o RE nº 204.886 (DJ
28/02/97).
Assim, recentemente, o STF confirmou tal orientação no sentido de que “há
constitucionalidade das expressões ‘o titular de empresa individual’ e ‘o sócio cotista’,
exceto, no tocante a esta última, quando, segundo o contrato social, a destinação do
lucro líquido a outra finalidade que não a de distribuição não dependa do
assentimento de cada sócio” (RE 591.518-AgR, DJE de 24/10/2008).
Ademais, segundo a antiga súmula 184 o STJ, a microempresa de representação
comercial é isenta do IR (Súmula 184), afirmando que “não tendo a lei incluído a
representação comercial entre as atividades sujeitas ao IR, padece de ilegalidade o ato
administrativo declaratório que a equipara à corretagem, para efeito da tributação”.
2.3.5. Aspecto quantitativo
A base de cálculo do IR, de forma geral, considera-se o montante, real, arbitrado ou
presumido, da renda ou dos proventos tributáveis (art. 44, do CTN).
No que tange especificadamente ao imposto de renda da pessoa física (IRPF), a base
de cálculo é o seu rendimento bruto, que é todo o produto do capital, do trabalho ou
da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidas em dinheiro, e ainda os
proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais
não correspondentes aos rendimentos declarados (art. 3º, §1º, da Lei 7.713/88).
Integra o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos
auferidos no mês, decorrentes de alienação de bens ou direitos de qualquer natureza,
considerando-se como ganho a diferença positiva entre o valor de transmissão do bem
ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente (art. 3º, §2º, da
Lei 7.713/88).
Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem
alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de
direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda, permuta,
adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa
própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de
direitos e contratos afins (art. 3º, §3º, da Lei 7.713/88).
No entanto, são permitidas algumas limitadas deduções (gastos e despesas
autorizados pela legislação), tais como gastos com planos de saúde, despesas com
educação do contribuinte e de seus dependentes etc.
Em relação ao imposto de renda da pessoa jurídica (IRPJ), a base de cálculo pode
ser o lucro real ou lucro presumido, ordinariamente, e, excepcionalmente, o lucro
arbitrado.
O lucro real é apurado com base em contabilidade rigorosa e bem formal, resultando
da diferença entre a receita bruta menos as despesas operacionais. O lucro real não se
confunde com o lucro líquido, que precede a determinação do lucro real. Alcançado o
lucro líquido, realizam-se exclusões, compensações e adições determinadas em lei para
a apuração do lucro real.
A lei obriga determinadas pessoas jurídicas a utilizarem como base de cálculo o lucro
real e afirma que é opcional para outras empresas. Por exemplo, estão obrigadas à
apuração do lucro real as pessoas jurídicas cujas atividades sejam de bancos
comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas,
sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário,
dentre outras.
O lucro presumido é base de cálculo opcional para as empresas que não estão
obrigadas legalmente à utilização do lucro real. O lucro presumido é feito por
estimativa.
Decerto, a lei fixa o lucro presumido com base na aplicação de determinada
percentagem sobre a receita bruta da pessoa jurídica. Por exemplo, a percentagem de
8% para a prestação de serviços de transporte de carga ou de 32% para a prestação de
serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares.
Nesse rumo, segundo o STJ, os laboratórios de análises clínicas, prestadoras de
serviços de diagnósticos médicos e clínicas de oftalmologia não têm direito à
redução do percentual de 32% para 8% para recolhimento do IR, pois a alíquota
reduzida é direito apenas das instituições que prestam serviços hospitalares ,
envolvendo, por exemplo, a internação de pacientes. De acordo com o STJ, os
laboratórios e as clínicas oftalmológicas estão inseridos na categoria de serviços
médicos, diferentes dos hospitalares, pois não incluem a internação de pacientes.
Destacamos, assim, que na hipótese dos laboratórios de diagnóstico médico, estes
devem provar que realizam a internação de pacientes para tratamento de saúde, com
oferta de todos os procedimentos exigidos para, assim, poderem recolher o IR com a
alíquota menor.
O lucro arbitrado é base de cálculo excepcional, uma vez que decorre da
impossibilidade de se apurar o lucro pelo critério do lucro real ou lucro presumido.
A utilização pelo fisco do lucro arbitrado ocorre em virtude do sujeito passivo
(contribuinte ou responsável tributário) não cumprir com as suas obrigações tributárias
acessórias ou deveres instrumentais, tais como elaboração das demonstrações
financeiras exigidas legalmente, apresentação dos livros fiscais ou do sistema de
escrituração contábil estabelecido na lei, etc.
Noutro ponto, registramos que o STJ compreende de forma predominante que no
cálculo do IR incidente sobre rendimentos pagos acumuladamente, “devem ser levadas
em consideração as tabelas e alíquotas das épocas próprias a que se referem tais
rendimentos” e não o montante global auferido (REsp 901.945⁄PR, DJ 16⁄08⁄2007,
AgRg no REsp 641.531/SC, DJe 21/11/2008).
De mais a mais, o STJ também compreende que não é possível a isenção de IR a
aposentados portadores de outras doenças graves e incuráveis, que não as elencadas no
artigo 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713/88 (REsp 1.116.620, julgamento em 09/08/2010).
Em outras palavras, em regra, as isenções devem ser interpretadas literalmente e
descabe a extensão do benefício isencional à situação que não se enquadre
expressamente no texto da lei. Portanto, a isenção, com base em outra moléstia, não
relacionada na Lei n. 7.713/88, é ilegal, mesmo sendo o caso de moléstia incapacitante,
tal como a distonia cervical.
Apenas para registrarmos que o inc. XIV, do art. 6º, da Lei n. 7.713/88, estabelece
que ficam isentos do IR os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por
acidente em serviço e os percebidos pelos “portadores de moléstia profissional,
tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira,
hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados
avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação,
síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou
reforma”.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
No 23º concurso para Procurador da República:
“Dentre as proposições abaixo, algumas são falsas e,
outras, verdadeiras:
I. O legislador infraconstitucional não possui total
liberdade para definir renda e proventos de qualquer
natureza, para fins de tributação por meio do Imposto
Sobre a Renda.
II. De acordo com a constituição, renda e proventos de
qualquer natureza devem representar ganhos ou
riquezas novas, de forma a atender o princípio da
capacidade contributiva.
III. O CTN, no § 1º do art. 43 ao estatuir que “a
incidência do imposto independe da denominação da
receita ou rendimento, da localização, condição jurídica
ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de
percepção”, alargou o conceito de renda e o de
proventos de qualquer natureza, de modo a permitir que
o legislador ordinário altere, para mais, o âmbito de
abrangência da exação.
IV. A base de cálculo do Imposto sobre a Renda da
Pessoa Física – IRPF é a renda bruta do contribuinte”.
Das proposições acima, as alternativas I e II são
verdadeiras
. Quadro sinóptico
Podemos resumir da seguinte forma:
Aspecto
materia
l
Aquisição da disponibilidade econômica ou
jurídica de renda ou de proventos de qualquer
natureza.
Aspecto
tempor
al
IPRF: em regra, no último momento do dia
31 de Dezembro de cada ano-calendário;
IPPJ: em regra, no último momento dos dias
31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e
31 de dezembro de cada ano-calendário.
Aspecto
espacial
Território nacional (renda percebida no País)
ou o território estrangeiro, desde que, neste
último caso, a pessoa seja residente ou
domiciliada no Brasil.
Aspecto
pessoal
Sujeito ativo: União; Sujeito Passivo
(contribuinte): titular da disponibilidade
econômica ou jurídica de renda ou proventos
de qualquer natureza, sem prejuízo de atribuir
a lei essa condição ao possuidor, a qualquer
título, dos bens produtores de renda ou dos
proventos tributáveis.
Aspecto
quantit
ativo
Base de cálculo: montante, real, arbitrado ou
presumido, da renda ou dos proventos
tributáveis. Alíquota: é a fixada na legislação
federal.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PA/2012) Considerando a majoração, para o patamar de 25%, da contribuição previdenciária dos servidores públicos de determinado ente federado, associada à incidência do imposto de renda de 27,5%, a referida majoração não caracteriza efeito confiscatório, uma vez que, na verificação da onerosidade, o aumento não se soma à alíquota do imposto de renda.
C E
COMENTÁRIO
De início, destaca-se que o STF compreende que a identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade da carga tributária, dentro de determinado período, à mesma pessoa política que os houver instituído. Assim, o STF entende que o confisco tributário resulta configurado sempre que o “efeito cumulativo – resultante das múltiplas incidências tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal – afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte” (ADC 8, DJ de 4-4-2003; ADI 2.551, DJ de 20-4-2006). Portanto, segundo o STF, para identificação do efeito confiscatória a majoração da contribuição previdenciária se soma à alíquota do IR. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PA/2012) Considerando a majoração, para o patamar de 25%, da contribuição previdenciária dos servidores públicos de determinado ente federado, associada à incidência do imposto de renda de 27,5%, a vedação do efeito confiscatório aplica-se tanto aos tributos propriamente ditos quanto às multas pelo descumprimento da legislação tributária.
C E
COMENTÁRIO
Conforme orientação consagrada pelo STF, o princípio da vedação ao efeito de confisco aplica-se tanto aos tributos quanto às multas pelo descumprimento da legislação tributária (RE 523.471, DJE de 23-4-2010; RE 582.461, DJE de 18-8-2011). Logo, correta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PA/2012) Considerando a majoração, para o patamar de 25%, da contribuição previdenciária dos servidores públicos de determinado ente federado, associada à incidência do imposto de renda de 27,5%, a finalidade extrafiscal justifica a tributação confiscatória.
C E
COMENTÁRIO
A finalidade fiscal ou extrafiscal não justifica a tributação confiscatória. Pode existir uma tributação mais exacerbada em incidência de tributos extrafiscais, tais como incidência do IPI sobre cigarros ou cervejas. Mas isto não implica tributação confiscatória, que é vedada pelo art. 150, IV, da CF. Logo, correta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/ES/2012) A característica principal do imposto de renda é o fato de esse tributo não ser progressivo, sendo suas alíquotas fixadas taxativamente em lei.
C E
COMENTÁRIO
O imposto de renda tem como uma de suas características a progressividade das alíquotas (art. 153, §2°, I, CF). Logo, incorreta.
(CESPE/ANALISTA-EMBASA/2010) O regime de tributação com base no lucro presumido é simplificado e constitui opção da pessoa jurídica. O arbitramento do lucro é considerado iniciativa de competência exclusiva do fisco.
C E
COMENTÁRIO
O lucro presumido é base de cálculo opcional para as empresas que não estão obrigadas legalmente à utilização do lucro real, sendo feito por estimativa. Assim, a lei fixa o lucro presumido com base na aplicação de determinada percentagem sobre a receita bruta da pessoa jurídica. Por exemplo, a percentagem de 8% para a prestação de serviços de transporte de carga ou de 32% para a prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares. Já o lucro arbitrado é base de cálculo excepcional, de iniciativa exclusiva do fisco, pois decorre da impossibilidade de se apurar o lucro pelo critério do lucro real ou lucro presumido. Deste modo, tem por fundamento legal o lucro arbitrado também o art. 148 do CTN, eis que é iniciativa do fisco quando omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado ao recolhimento do imposto de renda (IR). Portanto, correto.
(CESPE/DEFENSORIA PÚBLICA-UNIÃO/2010) Considere que José tenha trabalhado durante 6 anos em uma empresa de construção civil e tenha sido demitido sem justa causa. Nessa situação, incide o imposto de renda sobre os valores por ele recebidos a título de férias proporcionais e respectivo terço de férias.
C E
COMENTÁRIO
Segunda a Súmula 386 do STJ: “São isentos de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e respectivo adicional”. Destaca-se que, segundo interpretação dominante no STJ, não incide imposto de renda sobre as licenças-prêmios convertidas em pecúnia, férias não gozadas, férias proporcionais e respectivos adicionais. Portanto, errado.
772 A 776
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) João, contribuinte do imposto de renda da pessoa física, recebe mensalmente um salário de R$ 5.000,00 e uma renda de aluguel de R$ 2.000,00, relativa a um apartamento urbano de sua propriedade e cujo inquilino é contratualmente responsável pelo pagamento mensal do condomínio, no valor de R$ 500,00. João, por sua vez, reside em uma casa que não lhe pertence, pela qual paga aluguel mensal no valor de R$ 2.000,00, sem incidência de taxa condominial. Com base nessa situação hipotética, analise as seguintes assertivas:
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) Se o locatário entregar ao locador, mensalmente, o valor do condomínio, e o locador promover o pagamento, essa prática implicará elevação da base de cálculo mensal do imposto de renda do locador em R$ 500,00.
C E
COMENTÁRIO
De início, ressalta-se que o art. 14, incs. I a IV, da Lei 7.739/89, dispõe que não integrarão a base de cálculo para incidência do Imposto de Renda no caso de aluguéis de imóveis: (i) o valor dos impostos, taxas e emolumentos incidentes sobre o bem que produzir o rendimento; (ii) o aluguel pago pela locação do imóvel sublocado; (iii) as despesas pagas para cobrança ou recebimento do rendimento; e (iv) as despesas de condomínio. Assim sendo, o pagamento do condomínio pelo locador não equivale a rendimento ou renda percebida pelo locador. Na verdade, o art. 14, III, da Lei 7.739/89, estabelece que as despesas de condomínio não integrarão a base de cálculo para incidência do IR no caso de aluguéis de imóveis. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) A dedução mensal determinada em lei para efeito do cálculo do imposto de renda mensal da pessoa física deve ser efetuada sobre o salário, para o cálculo do imposto retido na fonte, e, igualmente, sobre a renda de aluguel.
C E
COMENTÁRIO
A dedução mensal determinada em lei para efeito do cálculo do imposto de renda mensal da pessoa física deve ser efetuada sobre o rendimento mensal e não o salário, para o cálculo do
imposto retido na fonte, conforme art. 25 da Lei 7.713/88 (Lei do imposto de renda pessoa física - IRPF). Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) Não há qualquer imposto de renda mensal a ser pago por João sobre o aluguel recebido, pois o valor que João recebe mensalmente é igual ao valor que ele paga de aluguel.
C E
COMENTÁRIO
Há incidência normal do imposto de renda sobre o aluguel recebido por João, sem qualquer tipo de dedução, em face de inexistência de previsão legal de isenção ou de dedução no caso. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) João deve pagar mensalmente imposto de renda apenas sobre os R$ 500,00 de condomínio que o inquilino paga, pois esse é o saldo positivo entre a receita e a despesa mensal com habitação.
C E
COMENTÁRIO
João deve pagar mensalmente imposto de renda sobre valor de R$ 2.000,00, que é a renda do aluguel. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) Para pagar o imposto de renda adicional, João deve levar em consideração apenas a renda de R$ 2.000,00 relativa ao aluguel, não importando o quanto o inquilino pague de condomínio.
C E
COMENTÁRIO
João deve levar em consideração a renda de R$ 2.000,00 relativa ao aluguel, não importando o
quanto o inquilino pague de condomínio, conforme o art. 14 da Lei 7.739/89. Logo, correta.
2.4. Imposto sobre produtos industrializados (IPI)
As normas jurídicas infraconstitucionais que dispõem especificadamente sobre o
imposto sobre produtos industrializados (IPI) são: os arts. 46 a 51 do CTN, a Lei
4.502/1964 e o Decreto 7.212/2010 (Regulamento do IPI).
De início, é importante dissertarmos que a CF/88 (art. 153, § 3º) estabelece que o IPI
será seletivo, não-cumulativo, não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao
exterior e terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo
contribuinte do imposto (na forma da lei).
Assim, o IPI será seletivo, em função da essencialidade do produto. Por conseguinte,
a CF dispõe que o IPI será seletivo (é obrigatório) e não que o IPI poderá ser seletivo
(facultativo), tal como o ICMS.
Segundo apropriada definição da ESAF, a seletividade quer dizer discriminação ou
sistema de alíquotas diferenciadas por espécies de mercadorias. A seletividade é dirigida
ao legislador ordinário, recomendando- lhe que estabeleça as alíquotas em razão
inversa da imprescindibilidade das mercadorias de consumo generalizado. Assim,
quanto mais sejam os produtos necessários à alimentação, ao vestuário, à moradia, ao
tratamento médico e higiênico das classes mais numerosas, tanto menores devem ser as
alíquotas.
Simplificando, pode-se dizer que a seletividade do IPI impõe que as suas alíquotas
sejam estabelecidas conforme a essencialidade do produto industrializado. Portanto, as
alíquotas devem ser maiores para os produtos supérfluos ou luxuosos (exs.: caviar,
cigarro, carros esportivos etc.) e menores para os produtos considerados essenciais (ex.:
produtos da cesta básica).
Por sua vez, o IPI será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada
operação com o montante cobrado nas anteriores.
A compensação, neste caso, não significa forma de extinção do crédito tributário
estabelecido nos arts. 156, inc. II, e 170 do CTN, mas sim dedução do tributo já cobrado
na cadeia produtiva.
Desse modo, o IPI é não-cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante devido
resulte da diferença a maior, em determinado período, entre o imposto referente aos
produtos saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos produtos nele entrados.
Ressaltamos que o saldo verificado, em determinado período, em favor do
contribuinte transfere-se para o período ou períodos seguintes (art. 49 do CTN).
Veja o seguinte exemplo da doutrina: “Imagine uma ‘Indústria 1’ que venda uma
chapa de aço pelo valor de R$ 1.000,00 (mil reais), acrescido de IPI calculado pela
alíquota de 10%, ou seja, R$ 100,00 (cem reais = 10% do valor da operação). O valor
total da venda foi de R$ 1.100,00 (mil e cem reais). A ‘Indústria 2’, adquirente desta
chapa, credita-se do valor de IPI recolhido pela ‘Indústria 1’, que foi de R$ 100,00 (cem
reais). Imagine agora que a ‘Indústria 2’, transforme a chapa em uma caldeira
(industrialização) e venda-a por R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) e que o IPI
incidente nesta operação seja de 10%. O tributo devido pela venda da caldeira seria de
R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). No entanto, como a ‘Indústria 2’ creditou-se no
valor de R$ 100,00 (cem reais), o IPI a ser pago pela ‘Indústria 2’ é de R$ 50,00
(cinquenta reais). Neste exemplo, simplificado, verificamos que o IPI a ser recolhido
para União é de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) – R$ 100,00 cobrado da ‘Indústria
1’e R$ 50,00 cobrado da ‘Indústria 2’, o que corresponde exatamente a 10% do valor da
venda do produto final, que foi de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais)”.
Neste sentido, a não-cumulatividade se refere a uma técnica de tributação que busca
evitar a cobrança do imposto em “cascata”, funcionando mediante o sistema de créditos
e débitos. Isto é, compensa-se o valor devido em cada operação de industrialização com
o valor cobrado na operação de industrialização anterior.
Por outro lado, o IPI não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao
exterior (imunidade tributária). Destacamos que a imunidade ou isenção tributária do
comprador não se estende ao produtor, contribuinte do IPI, nos termos da súmula 591
do STF.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF5/2010
considerou correto: “Entre as características de
determinados impostos, estão a seletividade obrigatória,
a não cumulatividade e a não incidência quando o bem
ou o serviço destina-se ao exterior. Assinale a opção em
que é apresentado imposto sobre o qual se aplicam as
três características mencionadas: IPI”
Ademais, o IPI terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo
contribuinte do imposto (na forma da lei).
Incentivar a aquisição de bens de capital significa estimular o desenvolvimento
econômico do país. Os bens de capital visam a produção de outros bens ou serviços. Por
exemplo, máquinas e equipamentos industriais. Ou a produção de ônibus para transporte
coletivo urbano que deve ser incentivada com a redução do IPI. Da mesma forma, os
carros de taxi etc. Outro exemplo que pode ser dado são os hardware e os software
produzidos por empresas de tecnologia de informação, tal como a Intel ou Microsoft.
De mais a mais, o lançamento do IPI é por homologação e o CTN estabelece
também que os produtos sujeitos ao imposto, quando remetidos de um para outro
Estado, ou do Estado para o Distrito Federal, serão acompanhados de nota fiscal de
modelo especial, emitida em séries próprias e contendo, além dos elementos necessários
ao controle fiscal, os dados indispensáveis à elaboração da estatística do comércio por
cabotagem e demais vias internas (art. 50).
Importante:
O IPI se submete ao princípio da anterioridade
nonagesimal, mas não se sujeita ao princípio da
anterioridade anual.
2.4.1. Aspecto material
• O IPI tem como fato gerador (aspecto temporal geral): O seu desembaraço
aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
• A saída do produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial,
quando for de produção nacional;
• A sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão (art. 46, I
a III, CTN).
Sobre tal dispositivo, afirmamos que o núcleo do fato gerador (aspecto material) do
IPI é:
• Importar produtos industrializados do exterior (art. 46, I, CTN): ou seja, na
hipótese, em regra, o IPI incide sobre o produto industrializado importado;
• Promover operações com produtos industrializados (art. 46, II, CTN): neste caso,
como bem observa Tavares Paes: “o fato gerador do IPI não é só a industrialização
tout court (simplesmente), mas também o consumo, pois se o produto for
produzido e se destruir, não saindo da fábrica, e.g., não há o fato gerador”;
• Arrematar, em leilão, produtos industrializados apreendidos ou abandonados (art.
46, III, CTN).
Nesse rumo, registramos que, atualmente, a hipótese de incidência do IPI prevista no
art. 46, III, “a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão”,
não encontra respaldo ou concretização na Lei 4.502/64 e também no Decreto
7.212/2010. Assim, a doutrina amplamente majoritária entende que não incide IPI nesta
hipótese. Contudo, o CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF5/2010 considerou
correto: “Sobre determinado produto industrializado arrematado em leilão incidirá o IPI
se o produto tiver sido apreendido ou abandonado”.
Para os efeitos do IPI, considera-se industrializado o produto que tenha sido
submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o
aperfeiçoe para o consumo, sendo, em regra, irrelevantes, para caracterizar a operação
como industrialização, o processo utilizado para obtenção do produto e a localização e
condições das instalações ou equipamentos empregados.
Isto é, podemos dizer que se caracteriza como industrialização qualquer operação
que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a
finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como:
• A que, exercida sobre matérias-primas ou produtos intermediários, importe na
obtenção de espécie nova (transformação): por exemplo, engarrafamento de
refrigerante ou água mineral;
• A que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o
funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto
(beneficiamento): por exemplo, processo de gravação em CD virgem, ou
reprodução de fita gravada para o CD;
• A que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo
produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal
(montagem): por exemplo, montagem de aparelhos eletrônicos ou automóvel;
• A que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da
embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem
colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou
reacondicionamento): por exemplo, substituição de embalagem original por
embalagem promocional, objetivando a revenda;
• A que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado
ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou
recondicionamento): por exemplo, restauração de automóvel usado.
Com efeito, o produto industrializado é resultante de qualquer destas operações
citadas acima, mesmo incompleta, parcial ou intermediária. Nesse rumo, observamos
que o IPI incide sobre produtos industrializados, nacionais e estrangeiros, obedecidas as
especificações constantes da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados (TIPI).
Assim, o campo de incidência do IPI abrange todos os produtos com alíquota, ainda
que zero, relacionados na TIPI, observadas as disposições contidas nas respectivas
notas complementares, excluídos aqueles a que corresponde a notação "NT" (não-
tributado), conforme dispõe o art. 2º, do Decreto 7.212/2010.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF no penúltimo concurso para AFRFB
considerou correto: “O campo de incidência do Imposto
sobre Produtos Industrializados abrange todos os
produtos relacionados na TIPI, com alíquota, mesmo os
com alíquota zero”.
Noutro ponto, a lei exclui da incidência do IPI, não considerando produto
industrializado: (a) o conserto de máquinas, aparelhos e objetos pertencentes a terceiros;
(b) o acondicionamento destinado apenas ao transporte do produto; (c) o preparo de
medicamentos oficinais ou magistrais, manipulados em farmácias, para venda no varejo,
diretamente e consumidor, assim como a montagem de óculos, mediante receita médica;
(d) a mistura de tintas entre si, ou com concentrados de pigmentos, sob encomenda do
consumidor ou usuário, realizada em estabelecimento varejista, efetuada por máquina
automática ou manual, desde que fabricante e varejista não sejam empresas
interdependentes, controladora, controlada ou coligadas (art. 3º, parágrafo único, incs. I
a IV, da Lei 4.502/64).
Decerto, o art. 5º, do Decreto 7.212/2010, estatui que não se considera
industrialização:
• O preparo de produtos alimentares, não acondicionados em embalagem de
apresentação: (a) na residência do preparador ou em restaurantes, bares,
sorveterias, confeitarias, padarias, quitandas e semelhantes, desde que os produtos
se destinem a venda direta a consumidor; ou (b) em cozinhas industriais, quando
destinados a venda direta a pessoas jurídicas e a outras entidades, para consumo de
seus funcionários, empregados ou dirigentes;
• O preparo de refrigerantes, à base de extrato concentrado, por meio de máquinas,
automáticas ou não, em restaurantes, bares e estabelecimentos similares, para
venda direta a consumidor;
• A confecção ou preparo de produto de artesanato, proveniente de trabalho manual
realizado por pessoa natural, nas seguintes condições: (a) quando o trabalho não
contar com o auxílio ou a participação de terceiros assalariados; e (b) quando o
produto for vendido a consumidor, diretamente ou por intermédio de entidade de
que o artesão faça parte ou seja assistido;
• A confecção de vestuário, por encomenda direta do consumidor ou usuário, em
oficina ou na residência do confeccionador, desde que, no caso da oficina,
empregue-se, no máximo, cinco operários e, quando utilizar força motriz, não
dispuser de potência superior a cinco quilowatts;
• O preparo de produto, por encomenda direta do consumidor ou usuário, na
residência do preparador ou em oficina, desde que, em qualquer caso, seja
preponderante o trabalho profissional, atendidas as seguintes condições: (a) oficina
empregue, no máximo, cinco operários e, quando utilizar força motriz não dispuser
de potência superior a cinco quilowatts; e (b) trabalho preponderante é o que
contribuir no preparo do produto, para formação de seu valor, a título de mão de
obra, no mínimo com sessenta por cento;
• A manipulação em farmácia, para venda direta a consumidor, de medicamentos
oficinais e magistrais, mediante receita médica;
• A moagem de café torrado, realizada por estabelecimento comercial varejista
como atividade acessória;
• A operação efetuada fora do estabelecimento industrial, consistente na reunião de
produtos, peças ou partes e de que resulte: (a) edificação (casas, edifícios, pontes,
hangares, galpões e semelhantes, e suas coberturas); (b) instalação de oleodutos,
usinas hidrelétricas, torres de refrigeração, estações e centrais telefônicas ou outros
sistemas de telecomunicação e telefonia, estações, usinas e redes de distribuição de
energia elétrica e semelhantes; ou (c) fixação de unidades ou complexos industriais
ao solo; não exclui a incidência do imposto sobre os produtos, partes ou peças
utilizados nas operações nele referidas
• A montagem de óculos, mediante receita médica;
• O acondicionamento de produtos classificados nos Capítulos 16 a 22 da TIPI (16.
Preparações de carne, de peixes ou de crustáceos, de moluscos ou de outros
invertebrados aquáticos; 17. Açúcares e produtos de confeitaria; 18. Cacau e suas
preparações; 19. Preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou de
leite; produtos de pastelaria; 20. Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou
de outras partes de plantas; 21. Preparações alimentícias diversas; 22. Bebidas,
líquidos alcoólicos e vinagres), adquiridos de terceiros, em embalagens
confeccionadas sob a forma de cestas de natal e semelhantes;
• O conserto, a restauração e o recondicionamento de produtos usados, nos casos em
que se destinem ao uso da própria empresa executora ou quando essas operações
sejam executadas por encomenda de terceiros não estabelecidos com o comércio
de tais produtos, bem como o preparo, pelo consertador, restaurador ou
recondicionador, de partes ou peças empregadas exclusiva e especificamente
naquelas operações;
• O reparo de produtos com defeito de fabricação, inclusive mediante substituição
de partes e peças, quando a operação for executada gratuitamente, ainda que por
concessionários ou representantes, em virtude de garantia dada pelo fabricante;
• A restauração de sacos usados, executada por processo rudimentar, ainda que com
emprego de máquinas de costura;
• A mistura de tintas entre si, ou com concentrados de pigmentos, sob encomenda do
consumidor ou usuário, realizada em estabelecimento comercial varejista, efetuada
por máquina automática ou manual, desde que fabricante e varejista não sejam
empresas interdependentes, controladora, controlada ou coligadas; e
• A operação de que resultem os produtos relacionados na Subposição 2401.20 da
TIPI (“tabaco total ou parcialmente destalado”), quando exercida por produtor
rural pessoa física.
Decerto, não constituem fato gerador do IPI (art. 38 do RIPI):
• O desembaraço aduaneiro de produto nacional que retorne ao Brasil, nos seguintes
casos: (a) quando enviado em consignação para o exterior e não vendido nos
prazos autorizados; (b) por defeito técnico que exija sua devolução, para reparo ou
substituição; (c) em virtude de modificações na sistemática de importação do país
importador; (d) por motivo de guerra ou calamidade pública; e (e) por quaisquer
outros fatores alheios à vontade do exportador;
• As saídas de produtos subsequentes à primeira: (a) nos casos de locação ou
arrendamento, salvo se o produto tiver sido submetido a nova industrialização; ou
(b) quando se tratar de bens do ativo permanente, industrializados ou importados
pelo próprio estabelecimento industrial ou equiparado a industrial, destinados à
execução de serviços pela própria firma remetente;
• A saída de produtos incorporados ao ativo permanente, após cinco anos de sua
incorporação, pelo estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial, que os
tenha industrializado ou importado; ou
• A saída de produtos por motivo de mudança de endereço do estabelecimento.
Ademais, o IPI é devido sejam quais forem as finalidades a que se destine o produto
ou o título jurídico a que se faça a importação ou de que decorra a saída do
estabelecimento produtor (Lei nº 4.502/64, art. 2º, § 2º).
Qual o entendimento do STF sobre o assunto?
O STF (RE 429306/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa,
01/02/2011) julgou que incide imposto de importação
(II) e IPI sobre operação de importação amparada
por arrendamento mercantil financeiro (leasing
internacional).
As alegações contrárias a incidência eram as seguintes:
(i) não há fato gerador do II, por ser o arrendamento
mercantil uma espécie de serviço; (ii e iii) violação dos
princípios constitucionais da legalidade e da isonomia;
(iv) violação do dever fundamental de prestação de
serviços de saúde, pois, no caso, o bem tributado seria
um equipamento médico.
Contudo, o STF decidiu da seguinte forma o caso: (i) a
importação de produto por contrato de arrendamento
mercantil implica tanto prestação de serviço (leasing)
quanto a própria importação, de modo que a incidência
de tributos diferentes não significa bitributação; (ii)
obediência ao princípio da legalidade, em razão da
possibilidade de aumento das alíquotas do II e do IPI
pelo Poder Executivo, observados os limites legais,
conforme art. 153, §1º, da CF; (iii) obediência ao
princípio da isonomia, pois o objetivo da tributação do
arrendamento mercantil seria torná-lo menos atrativo
que as operações de compra e venda financiada apenas
por vantagens fiscais; (iv) obediência ao dever
fundamental de prestação de serviços de saúde, pois,
“embora o princípio da seletividade impusesse que a
carga tributária fosse graduada conforme a
essencialidade da operação ou do produto, não haveria
imunidade, considerados os princípios da capacidade
contributiva, da concorrência, da livre iniciativa e da
solidariedade no custeio das atividades estatais”.
2.4.2. Aspecto temporal
Considera-se ocorrido o fato gerador:
Na entrega ao comprador, quanto aos produtos vendidos por intermédio de
ambulantes (Lei nº 4.502/64, art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “a”);
Na saída de armazém-geral ou outro depositário do estabelecimento industrial ou
equiparado a industrial depositante, quanto aos produtos entregues diretamente a outro
estabelecimento (Lei nº 4.502/64, art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “a”);
Na saída da repartição que promoveu o desembaraço aduaneiro, quanto aos produtos
que, por ordem do importador, forem remetidos diretamente a terceiros (Lei nº
4.502/64, art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “b”);
Na saída do estabelecimento industrial diretamente para estabelecimento da mesma
firma ou de terceiro, por ordem do encomendante, quanto aos produtos mandados
industrializar por encomenda (Lei nº 4.502/64, art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “c”);
Na saída de bens de produção dos associados para as suas cooperativas, equiparadas,
por opção, a estabelecimento industrial;
No quarto dia da data da emissão da respectiva nota fiscal, quanto aos produtos que
até o dia anterior não tiverem deixado o estabelecimento do contribuinte (Lei nº
4.502/64, art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “d”);
No momento em que ficar concluída a operação industrial, quando a industrialização
se der no próprio local de consumo ou de utilização do produto, fora do estabelecimento
industrial (Lei nº 4.502/64, art. 2º, § 1º): no caso, considera-se concluída a operação
industrial e ocorrido o fato gerador na data da entrega do produto ao adquirente ou na
data em que se iniciar o seu consumo ou a sua utilização, se anterior à formalização da
entrega;
No início do consumo ou da utilização do papel destinado à impressão de livros,
jornais e periódicos, em finalidade diferente da que lhe é prevista na imunidade
tributária cultural (art. 150, VI, “d”, CF) ou na saída do fabricante, do importador ou de
seus estabelecimentos distribuidores, para pessoas que não sejam empresas jornalísticas
ou editoras (Lei nº 9.532/97, art. 40);
Na aquisição ou, se a venda tiver sido feita antes de concluída a operação industrial,
na conclusão desta, quanto aos produtos que, antes de sair do estabelecimento que os
tenha industrializado por encomenda, sejam por este adquiridos;
Na data da emissão da nota fiscal pelo estabelecimento industrial, quando a empresa
comercial exportadora, em relação ao IPI que deixou de ser pago, na saída do
estabelecimento industrial, referente aos produtos por ela adquiridos com o fim
específico de exportação, nas hipóteses em que (a) tenha transcorrido cento e oitenta
dias da data da emissão da nota fiscal de venda pelo estabelecimento industrial, não
houver sido efetivada a exportação; (b) os produtos forem revendidos no mercado
interno; ou (c) ocorrer a destruição, o furto ou roubo dos produtos;
No momento da sua venda, quanto aos produtos objeto de operação de venda que
forem consumidos ou utilizados dentro do estabelecimento industrial (Lei nº 4.502/64,
art. 2º e art. 5º, inciso I, alínea “e”);
Na saída simbólica de álcool das usinas produtoras para as suas cooperativas,
equiparadas, por opção, a estabelecimento industrial; e
Na data do vencimento do prazo de permanência da mercadoria no recinto
alfandegado, antes de aplicada a pena de perdimento, quando as mercadorias importadas
forem consideradas abandonadas pelo decurso do referido prazo (Decreto-Lei nº
1.455/76, art. 23, inciso II).
Na hipótese de venda, exposição à venda, ou consumo no território nacional, de
produtos destinados ao exterior, ou na hipótese de descumprimento das condições
estabelecidas para a isenção ou a suspensão do imposto, considerar-se-á ocorrido o fato
gerador na data da saída dos produtos do estabelecimento industrial ou equiparado a
industrial (Lei nº 4.502/64, art. 9º, § 1º).
De mais a mais, quando o produto industrializado é de procedência estrangeira,
considerar-se-á ocorrido o respectivo desembaraço aduaneiro da mercadoria que constar
como tendo sido importada e cujo extravio ou avaria venham a ser apurados pela
autoridade fiscal (art. 2º, §3º, da Lei 4.502/64).
2.4.3. Aspecto espacial
O aspecto espacial do IPI é o território nacional, inclusive as repartições
alfandegárias do país na hipótese de importação do produto industrializado do exterior.
2.4.4. Aspecto pessoal
O sujeito ativo é a União.
Por sua vez, são considerados contribuintes do IPI: (a) o importador ou quem a lei
a ele equiparar; (b) o industrial ou quem a lei a ele equiparar; (c) o comerciante de
produtos sujeitos ao IPI, que forneça produtos industrializados aos contribuintes
definidos como industrial ou quem a lei a ele equiparar; (d) o arrematante de produtos
apreendidos ou abandonados, levados a leilão (art. 51, CTN).
Notamos que na hipótese do comerciante ser contribuinte do IPI, este vende o
produto industrializado para um industrial ou quem a lei a ele equiparar.
Para os efeitos do IPI, considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento
de importador, industrial, comerciante ou arrematante (art. 51, parágrafo único, CTN).
Considera-se estabelecimento produtor ou industrial todo aquele que industrializar
produtos sujeitos ao IPI (art. 3º, da Lei 4.502/64).
E equiparam-se a estabelecimento produtor ou industrial: (a) os importadores e os
arrematantes de produtos de procedência estrangeira; (b) as filiais e demais
estabelecimentos que exercerem o comércio de produtos importados, industrializados ou
mandados industrializar por outro estabelecimento do mesmo contribuinte; (c) os que
enviarem a estabelecimento de terceiro, matéria-prima, produto intermediário, moldes,
matrizes ou modelos destinados à industrialização de produtos de seu comércio; (d) os
que efetuem vendas por atacado de matérias-primas, produtos intermediários,
embalagens, equipamentos e outros bens de produção (art. 4º, da Lei 4.502/64).
Excluem-se do disposto na letra (b) citada acima os estabelecimentos que operem
exclusivamente na venda a varejo (art. 4º, §2º, da Lei 4.502/64).
2.4.5. Aspecto quantitativo
A base de cálculo do IPI é a seguinte:
• No caso do fato gerador ser o desembaraço aduaneiro, quando for importação de
produto industrializado de procedência estrangeira, é o preço normal que o
produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em
condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do
produto no País acrescido do montante do imposto sobre a importação (II), das
taxas exigidas para entrada do produto no País e dos encargos cambiais
efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis: portanto, a base de cálculo é
o valor aduaneiro + imposto de importação (II) + taxas + encargos cambiais.
• No caso da saída do estabelecimento do produto industrializado (fato gerador),
quando o produto for nacional, o valor da operação de que decorrer a saída da
mercadoria, ou na falta deste valor, o preço corrente da mercadoria, ou sua similar,
no mercado atacadista da praça do remetente;
• Na hipótese de arrematação do produto industrializado, quando apreendido ou
abandonado e levado a leilão, o preço da arrematação (art. 47 do CTN).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “A obrigação tributária de
pagamento de tributo não admite que em sua base de
cálculo seja inserido o valor de outro tributo”.
Por sua vez, a alíquota do IPI é a fixada na legislação federal, devendo obedecer a
seletividade, em razão da essencialidade do produto (função extrafiscal do IPI).
Além disso, o Poder Executivo, quando se tornar necessário para atingir os objetivos
da política econômica governamental, mantida a seletividade em função da
essencialidade do produto, ou, ainda, para corrigir distorções, poderá reduzir alíquotas
do IPI até zero (0%) ou acrescentar até trinta (30%) de incidência ao percentual já
fixado na lei (Decreto-Lei nº 1.199/71, art. 4º).
Qual o entendimento do STJ sobre o assunto?
“A redução da alíquota do Imposto sobre Produtos
Industrializados ou do Imposto de Importação não
implica redução do ICMS” (Súmula 95).
Quadro sinóptico
Em resumo:
Aspecto
materia
l
(a) importar produto industrializado do
exterior; (b) promover operações com
produtos industrializados.
Aspecto
tempor
al
(a) desembaraço aduaneiro; (b) saída do
produto do estabelecimento industrial, ou
equiparado a industrial.
Aspecto
espacial Território nacional.
Aspecto
pessoal
Sujeito ativo: União; Sujeito Passivo
(contribuinte): (a) o importador ou quem a lei
a ele equiparar; (b) o industrial ou quem a lei
a ele equiparar; (c) o comerciante de produtos
sujeitos ao IPI, que os forneça aos industriais
contribuintes.
Aspecto
quantit
ativo
Base de cálculo: (a) valor aduaneiro +
imposto de importação + taxas + encargos
cambiais; (b) valor da operação, ou na falta
deste valor, o preço corrente da mercadoria,
ou sua similar, no mercado atacadista da
praça do remetente.
Alíquota: é a fixada na legislação federal,
podendo o Poder Executivo reduzir alíquotas
até zero (0) ou acrescentar até trinta (30%) de
incidência ao percentual já fixado na lei.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) São imunes ao imposto sobre produtos industrializados as operações relativas a petróleo.
COMENTÁRIO
São imunes ao imposto sobre produtos industrializados as operações relativas a petróleo, segundo o art. 155, §3°, da CF/88. Logo, correta.
(CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF1°/2011) A CF exclui da incidência do ICMS as operações que destinem petróleo a outros estados.
COMENTÁRIO
A CF estabelece que não incidirá ICMS sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica (art. 155, §2°, X, “b”). Logo, correta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/PA/2012) O comprador que goza de imunidade tributária, ao adquirir veículo automotor importado, estende sua imunidade ao produtor.
COMENTÁRIO
A compreensão da Súmula 591 do STF é de que a imunidade ou a isenção tributária do comprador não se estende ao produtor, contribuinte. Logo, incorreta.
(CESPE/JUIZ DE DIREITO/TJ/ES/2012) A forma de concretização do postulado da capacidade contributiva de certos tributos indiretos é a seletividade, de natureza obrigatória para o imposto sobre produtos industrializados.
COMENTÁRIO
Conforme doutrina amplamente majoritária, são formas de concretização do postulado da capacidade contributiva a seletividade, a progressividade, a imunidade e a isenção tributária. No IPI, a seletividade é obrigatória (art. 153, §3°, I, CF) Logo, correta.
(CESPE/PGE/PB/PROCURADOR/2008) O imposto sobre produtos industrializados relativo às exportações submete-se, tanto quanto os demais tributos, aos princípios da seletividade e não cumulatividade.
COMENTÁRIO
O imposto sobre produtos industrializados não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior (art. 153, § 3°, III, CF). Logo, incorreta.
2.5. Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou
valores mobiliários (IOF)
As normas jurídicas infraconstitucionais que dispõem especificadamente sobre o
imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários (IOF) são: os arts. 63 a 67 do CTN e o Decreto 6.306/2007 (Regulamento
do IOF). Ademais, diversas outras leis trazem regras de incidência sobre o IOF,
sobretudo as Leis 5.142/66, 7.766/89 e 8.894/94.
De início, registramos que há críticas doutrinárias a sigla IOF, pois significa
impostos sobre operações financeiras e o art. 153, inc. V, da CF, não previu a hipótese
de incidência do tributo como “operações financeiras”, mas sim, em regra, quatro
hipóteses de incidências diversas, a saber: (i) operações de crédito, (ii) operações de
câmbio (iii) operações de seguro e (iv) operações relativas a títulos ou valores
mobiliários. Além disso, o imposto estudado incide sobre operações financeiras e
sobre operações não financeiras.
Deste modo, tais estudiosos propõem a alteração da sigla IOF para quatro siglas
diferentes: (i) IOCrédito; (ii) IOCâmbio; (iii) IOSeguro e (iv) IOTVM.
Contudo, apesar da procedência dos argumentos utilizados, destacamos que a sigla
IOF é utilizada pela legislação ordinária, doutrina e jurisprudência majoritária, em razão
da sua simplicidade e comodidade e não da sua juridicidade.
Nesse rumo, o IOF, juntamente com o IPI, o ICMS e o ISS, são classificados pelo
CTN como impostos sobre a produção e a circulação.
Nesse rumo, verificamos que o IOF pode incidir sobre operações de crédito, câmbio
e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, de acordo com o art. 153, V, da
CF/88, bem como sobre operações com o ouro, quando definido em lei como ativo
financeiro ou instrumento cambial (art. 153, §5º, da CF/88).
Portanto, podemos, em tese, estabelecer cinco tributos diferentes: (i) imposto sobre
operações de crédito, (ii) imposto sobre operações de câmbio (iii) imposto sobre
operações de seguro; (iv) imposto sobre operações relativas a títulos ou valores
mobiliários e (v) imposto sobre ouro, na condição de ativo financeiro ou instrumento
cambial.
Por sua vez, o art. 67 do CTN dispõe que a receita líquida do IOF destina-se à
formação de reservas monetárias, na forma da lei.
Este artigo não foi recepcionado pela CF/88 (art. 167, inc. IV), que veda, salvo
algumas exceções, a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa.
Registramos que o STF ainda não declarou a inconstitucionalidade do art. 67 do CTN.
O lançamento do IOF é por homologação e este não se submete a anterioridade
anual e anterioridade nonagesimal.
2.5.1. Aspecto material
O núcleo do fato gerador do IOF são os seguintes:
• Operação de crédito: compreende as operações de empréstimo sob qualquer
modalidade, inclusive abertura de crédito e desconto de títulos; alienação, à
empresa que exercer as atividades de factoring, de direitos creditórios resultantes
de vendas a prazo; mútuo (empréstimo) de recursos financeiros entre pessoas
jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física (art. 3º, §3º, RIOF);
• Operação de câmbio: entrega de moeda nacional ou estrangeira, ou de documento
que a represente, ou sua colocação à disposição do interessado, em montante
equivalente à moeda estrangeira ou nacional entregue ou posta à disposição por este
(art. 11, RIOF): deste modo, segundo a doutrina, a operação de câmbio traz em si
um simples comércio de dinheiro, que torna este uma mercadoria com custo e
preço;
• Operação de seguro: compreende seguro de vida e congêneres, seguro de
acidentes pessoais e do trabalho, seguros de bens, valores, coisas e outros não
especificados (art. 18, RIOF);
• Operação relativa a títulos ou valores mobiliários: qualquer operação,
independentemente da qualidade ou da forma jurídica de constituição do
beneficiário da operação ou do seu titular, estando abrangidos, entre outros,
fundos de investimentos e carteiras de títulos e valores mobiliários, fundos ou
programas, ainda que sem personalidade jurídica, e entidades de previdência
privada repactuação (art. 25, §2º, RIOF);
• Operação com o ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial: compreende as
operações de ouro, desde sua extração, inclusive, o ouro que, em qualquer estado
de pureza, em bruto ou refinado, for destinado ao mercado financeiro ou à
execução da política cambial do País, em operação realizada com a interveniência
de instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, na forma e condições
autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Enquadra-se nesta definição o ouro: (i)
envolvido em operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia,
desde que formalizado compromisso de destiná-lo ao Banco Central do Brasil ou à
instituição por ele autorizada; (ii) adquirido na região de garimpo, onde o ouro é
extraído, desde que, na saída do Município, seja destinado ao Banco Central do
Brasil ou à instituição por ele autorizada; (iii) importado, com interveniência do
Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada (art. 36, RIOF).
Nesse rumo, a súmula 664 do STF dispõe que o IOF não incide sobre os saques
efetuados em caderneta de poupança, eis que esta operação não é considerada operação
de crédito para efeito de cobrança do IOF. Assim, o STF entende que o “saque em conta
de poupança, por não conter promessa de prestação futura e, ainda, porque não se
reveste de propriedade circulatória, tampouco configurando título destinado a assegurar
a disponibilidade de valores mobiliários, não pode ser tido por compreendido no
conceito de operação de crédito ou de operação relativa a títulos ou valores mobiliários,
não se prestando, por isso, para ser definido como hipótese de incidência do IOF” (RE
232.467, DJ de 12-5-2000).
Da mesma forma, não incide IOF nos depósitos judiciais (súmula 185 do STJ).
Por outro lado, o STF já entendeu como constitucional a incidência do IOF sobre
operações de factoring, com o argumento de que o “âmbito constitucional de
incidência possível do IOF sobre operações de crédito não se restringe às praticadas
por instituições financeiras, de tal modo que, à primeira vista, a lei questionada
poderia estendê-la às operações de factoring, quando impliquem financiamento
(factoring com direito de regresso ou com adiantamento do valor do crédito vincendo
- conventional factoring); quando, ao contrário, não contenha operação de crédito, o
factoring, de qualquer modo, parece substantivar negócio relativo a títulos e valores
mobiliários, igualmente susceptível de ser submetido por lei à incidência tributária
questionada” (ADI-MC 1763/DF, DJ 26-09-2003).
Segundo definição doutrinária, a operação de factoring é “um mecanismo de
fomento mercantil que possibilita à empresa fomentada vender seus créditos,
gerados por suas vendas à prazo, a uma empresa de factoring. O resultado disso é o
recebimento imediato desses créditos futuros, o que aumenta seu poder de
negociação, por exemplo, nas compras à vista de matéria-prima, pois a empresa
não se descapitaliza”. As vantagens da operação de factoring são as seguintes: “A
empresa recebe à vista suas vendas feitas à prazo, melhorando o fluxo de caixa para
movimentar os negócios; Agilidade e rapidez nas decisões; possibilita a compra de
matéria-prima à vista, gerando vantagens e competitividade”.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “A competência tributária da
União sobre operações de crédito, câmbio e seguro ou
relativas a títulos ou valores mobiliário não a autoriza a
tributar as operações de factoring, uma vez que em tal
atividade há transferência de crédito sem direito de
regresso, e a duplicata não paga não é devolvida ao
credor original, como ocorre no setor financeiro”.
Por sua vez, o STJ (REsp 522.294⁄RS, AgRg no REsp 733.236/RS) já considerou
legal a incidência do IOF sobre o resultado de mútuo, seja a operação praticada por
pessoa física ou jurídica, comercial ou industrial, ou equiparada a instituições
financeiras. Um dos fundamentos das decisões do STJ é que não se exige participação
de instituição financeira para fins de incidência do IOF.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF no concurso para AFRFB/2010 considerou
corretos os seguintes itens: “I. as operações de câmbio
constituem fato gerador do IOF; II. o câmbio traz um
comércio de dinheiro, no qual este se torne mercadoria
e, como tal, tem custo e preço; III. operações de
câmbio são negócios jurídicos de compra e venda de
moeda estrangeira ou nacional, ou, ainda, os negócios
jurídicos consistentes na entrega de uma determinada
moeda a alguém em contrapartida de outra moeda
recebida”.
Já o CESPE, na prova discursiva para Procurador do
BACEN/2009, perguntou o seguinte: “Uma pessoa
jurídica, atacadista de gêneros alimentícios, contratou a
empresa de factoring Alfa-7, para a prestação de
serviços referentes a avaliação de riscos, seleção de
créditos e gerenciamento de contas a receber e a pagar,
associada à aquisição pro soluto de créditos. No curso
da execução do contrato, a empresa Alfa-7 foi obrigada
a recolher o imposto sobre operações financeiras (IOF),
inclusive sobre saques em caderneta de poupança de
sua titularidade. Considerando a situação hipotética
apresentada acima e as normas aplicáveis ao IOF, redija
um texto dissertativo que responda, de modo
justificado, aos seguintes questionamentos: (a) O IOF
incide sobre operações de factoring praticadas por
instituições distintas das financeiras?; (b) É legítima a
incidência do IOF nos saques em caderneta de
poupança?; (c) Quais operações configuram o fato
gerador do IOF?” (máximo de 45 linhas).
2.5.2. Aspecto temporal
Ocorre o fato gerador do IOF:
• Quanto às operações de crédito, na sua efetivação pela entrega total ou parcial do
montante ou do valor que constitua o objeto da obrigação, ou sua colocação à
disposição do interessado;
• Quanto às operações de câmbio, na sua efetivação pela entrega de moeda
nacional ou estrangeira, ou de documento que a represente, ou sua colocação à
disposição do interessado em montante equivalente à moeda estrangeira ou
nacional entregue ou posta à disposição por este. Ou seja, no ato da liquidação da
operação de câmbio;
• Quanto às operações de seguro, na sua efetivação pela emissão da apólice ou do
documento equivalente, ou recebimento do prêmio, na forma da lei aplicável;
• Quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários, na emissão,
transmissão, pagamento ou resgate destes, na forma da lei aplicável (art. 63, do
CTN);
• Quanto às operações com o ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial, na
data da primeira aquisição ou no desembaraço aduaneiro, quando se tratar de
ouro físico oriundo do exterior (art. 8º, Lei 7.766/89).
Observamos que a incidência do IOF sobre operações de crédito exclui a incidência
do IOF sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários, e reciprocamente,
quanto à emissão, ao pagamento ou resgate do título representativo de uma mesma
operação de crédito (art. 63, parágrafo único, CTN).
Desse modo, na hipótese de acontecer apenas uma operação (o crédito é representado
somente por um título de crédito), não há incidência cumulativa do imposto sobre
operações de crédito (art. 63, inc. I, CTN) e do imposto sobre operações com títulos ou
valores imobiliários (art. 63, inc. IV, CTN), mas somente do imposto sobre operações
de crédito.
2.5.3. Aspecto espacial
O aspecto espacial é o território nacional.
2.5.4. Aspecto pessoal
O sujeito ativo do IOF é a União.
O contribuinte do IOF é qualquer das partes na operação tributada, conforme
dispuser a lei (art.66, do CTN).
Assim, segundo as leis ordinárias, podemos definir os seguintes contribuintes:
Operações de crédito: (a) pessoas físicas ou jurídicas tomadoras de crédito; (b) no
caso de alienação de direitos creditórios resultantes de vendas a prazo a empresas de
factoring, é o alienante pessoa física ou jurídica (Lei nº 8.894/94, art. 3º, inc. I, e Lei nº
9.532/97, art. 58);
Operações de câmbio: os compradores ou vendedores de moeda estrangeira nas
operações referentes às transferências financeiras para o ou do exterior, respectivamente
(Lei nº 8.894/94, art. 6º);
Operações de seguro: as pessoas físicas ou jurídicas seguradas (Decreto-Lei nº
1.783/80, art. 2º);
Operações relativas a títulos e valores mobiliários: (a) os adquirentes de títulos ou
valores mobiliários e os titulares de aplicações financeiras (Lei nº 8.894/94, art. 3º, inc.
II); (b) as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo
Banco Central do Brasil, na hipótese de pagamento inferior a 95% do valor inicial das
operações de aquisição, resgate, cessão ou repactuação de títulos e valores mobiliários
(Lei nº 8.894/94, art. 3º, inc. III);
Operações com o ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial: instituições
autorizadas pelo Banco Central do Brasil que efetuarem a primeira aquisição do ouro,
ativo financeiro, ou instrumento cambial (Lei nº 7.766/89, art. 10).
2.5.5. Aspecto quantitativo
As bases de cálculo do IOF são as seguintes:
• Operações de crédito: o montante da obrigação, compreendendo o principal e os
juros;
• Operações de câmbio: o respectivo montante em moeda nacional, recebido,
entregue ou posto à disposição;
• Operações de seguro: o montante do prêmio;
• Operações relativas a títulos e valores mobiliários: (a) na emissão, o valor
nominal mais o ágio, se houver; (b) na transmissão, o preço ou o valor nominal, ou o
valor da cotação em Bolsa, como determinar a lei; (c) no pagamento ou resgate, o
preço.
• Operações com o ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial: (a) o preço de
aquisição do ouro, desde que dentro dos limites de variação da cotação vigente no
mercado doméstico, no dia da operação; (b) tratando-se de ouro físico, oriundo do
exterior, o preço de aquisição, em moeda nacional, será determinado com base no
valor de mercado doméstico na data do desembaraço aduaneiro (art. 9º, Lei
7.766/89).
No que tange às alíquotas, há possibilidade de alteração por ato do Poder Executivo,
atendidas as condições e limites fixados em lei. Assim, por exemplo, o STJ já se
pronunciou mais de uma vez pela possibilidade de ser alterada alíquota de IOF por meio
de Portaria Ministerial, não havendo ofensa ao princípio da legalidade (1.123.249/RJ,
REsp 552651⁄CE).
Por outro lado, segundo o art. 153, §5º, da CF, o IOF é o único imposto que incide
sobre operações com o ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou
instrumento cambial (meio de pagamento), sendo devido na operação de origem. Na
hipótese, a alíquota mínima será de um por cento (1%), assegurada a transferência do
montante da arrecadação nos seguintes termos: (a) trinta por cento (30%) para o Estado,
o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem; (b) setenta por cento (70%) para
o Município de origem.
2.5.6. Quadro sinóptico
Resumindo:
Aspect
o
materi
al
Operações de crédito, câmbio, seguro,
relativas a títulos ou valores mobiliários e
ouro, na condição de ativo financeiro ou
instrumento cambial.
Aspect
o
tempor
al
(a) operação de crédito: momento da entrega
do valor ou colocação à disposição do
interessado; (b) operação de câmbio: momento
da liquidação da operação de câmbio; (c)
operação de seguro: momento da emissão da
apólice ou do documento equivalente, ou do
recebimento do prêmio; (d) operação relativa a
títulos e valores mobiliários: momento da
emissão, transmissão, pagamento ou resgate;
(e) operação com o ouro, ativo financeiro ou
instrumento cambial: data da primeira
aquisição ou no momento do desembaraço
aduaneiro.
Aspect
o
espacia
l
Território nacional.
Aspect
o
pessoal
Sujeito ativo: União; Sujeito Passivo
(contribuinte): qualquer das partes na
operação tributada.
Aspect
o
quantit
ativo
Base de cálculo: (a) operação de crédito: o
montante da obrigação, compreendendo o
principal e os juros; (b) operação de câmbio:
o respectivo montante em moeda nacional,
recebido, entregue ou posto à disposição; (c)
operação de seguro: o montante do prêmio;
(d) operação relativa a títulos e valores
mobiliários: (i) na emissão, o valor nominal
mais o ágio, se houver; (ii) na transmissão, o
preço ou o valor nominal, ou o valor da
cotação em Bolsa, como determinar a lei; (iii)
no pagamento ou resgate, o preço; (e)
operação com o ouro, ativo financeiro ou
instrumento cambial: (i) o preço de aquisição
do ouro, desde que dentro dos limites de
variação da cotação vigente no mercado
doméstico, no dia da operação; (ii) tratando-se
de ouro físico, oriundo do exterior, o preço de
aquisição, em moeda nacional, será
determinado com base no valor de mercado
doméstico na data do desembaraço aduaneiro.
Alíquota: é a fixada na legislação federal,
podendo o Poder Executivo alterá-la, nos
termos e condições da lei.
(CESPE/AGU/PROCURADOR/2007) Considere que certa sociedade cooperativa, formada por professores de língua estrangeira, tenha auferido vultosa quantia monetária proveniente de suas aplicações financeiras. Nesse caso, a sociedade cooperativa deve recolher o imposto de renda sobre o resultado das referidas aplicações.
COMENTÁRIO
Incide o imposto de renda sobre o resultado das aplicações financeiras realizadas pelas
cooperativas, conforme a súmula 262 do STJ. Logo, correta.
(CESPE/AGU/PROCURADOR/2007) Não incide a contribuição provisória sobre a movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira (CPMF) sobre saques efetuados em caderneta de poupança, mas a lei admite a incidência do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF), na hipótese dos referidos saques.
COMENTÁRIO
De acordo com a súmula 664 do STF, é inconstitucional o inciso V do art. 1º da Lei 8.033/90, que
instituiu a incidência do imposto nas operações de crédito, câmbio e seguros (IOF) sobre saques
efetuados em caderneta de poupança. Logo, incorreta.
2.6. Imposto sobre propriedade territorial rural (ITR)
As normas jurídicas infraconstitucionais que dispõem especificadamente sobre o
imposto sobre propriedade territorial rural (ITR) são: os arts. 29 a 31 do CTN, a Lei
9.393/96 e o Decreto 4.382/2002 (Regulamento do ITR).
Inicialmente, mencionamos que a CF/88 dispõe que o ITR será obrigatoriamente
progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de
propriedades improdutivas (art. 153, § 4º, inc. I).
Por outro lado, o ITR não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei,
quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel (art. 153, § 4º, inc. II, da
CF/88).
A Lei 9.393/1996 define pequenas glebas rurais como imóveis com área igual ou
inferior a: (i) 100 hectares (ha), se localizado em município compreendido na Amazônia
Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; (ii) 50 hectares (ha), se
localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia
Oriental; (iii) 30 hectares (ha), se localizado em qualquer outro município.
Destacamos que a CF não exige mais que o proprietário deva explorar a gleba rural
“só ou com sua família”.
Portanto, agora, mesmo que o proprietário tenha empregados trabalhando na gleba
rural, não perderá imunidade tributária citada no art. 153, § 4º, inc. II, da CF/88.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF em concurso para AFRFB considerou correto
o seguinte item: “Um imóvel de 100 hectares,
localizado na Amazônia Ocidental, é considerado
‘pequena gleba rural’ para fins de não-incidência
(imunidade) do ITR, se presentes as demais condições.
Nesse rumo, o ITR poderá ser fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim
optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer
outra forma de renúncia fiscal (art. 153, § 4º, inc. III, da CF/88).
Com efeito, a Constituição dispõe que pertence ao Município a totalidade (100%) do
valor arrecadado com o ITR na hipótese de optar por fiscalizar e cobrar este tributo. Caso
não faça esta opção, cabe ao Município 50% do montante arrecadado com o ITR (art.
158, II).
O domicílio tributário do contribuinte do ITR é o município de localização do
imóvel, vedada a eleição de qualquer outro (art. 4º, parágrafo único, da Lei 9.393/1996).
O lançamento do ITR é por homologação e este imposto se submete aos princípios
da anterioridade anual e nonagesimal.
Ademais, devemos dizer ainda que compete à Secretaria da Receita Federal (SRF) a
administração do ITR, incluídas as atividades de arrecadação, tributação e fiscalização
(art. 15, da Lei 9.393/1996).
Todavia, a SRF poderá celebrar convênios com os órgãos da administração
tributária municipal, visando delegar competência para a cobrança e o lançamento
do ITR; ou também com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), com a finalidade de delegar as atividades de fiscalização das informações
sobre os imóveis rurais, contidas no Documento de Informação e Atualização Cadastral
do ITR (DIAC) e no Documento de Informação e Apuração do ITR (DIAT) (art. 16, da
Lei 9.393/1996).
Por fim, registramos que cabe a Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN) propor
execução fiscal para cobrança de credito relativo ao ITR (súmula 139 do STJ).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF em concurso para AFRFB considerou
incorreto o seguinte item: “Competem ao INCRA às
atividades de arrecadação, tributação e fiscalização do
ITR”.
2.6.1. Aspecto material
O fato gerador do ITR é a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por
natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do Município (art.
29).
Importante:
Ao contrário do IPTU, o ITR incide apenas sobre o
imóvel por “natureza”, isto é, a terra nua tributável.
Portanto, o ITR não incide sobre o imóvel por
determinação legal (art. 80 do CC) e sobre o imóvel por
acessão física (art. 43, inc. II, do CC/16) ou intelectual
(art. 43, inc. III, do CC/16). Em outras palavras,
significa que o ITR não incide, por exemplo, sobre as
construções, edificações, instalações e benfeitorias
feitas na respectiva área ou sobre as apólices da dívida
pública.
A “propriedade” é a faculdade de usar, gozar e dispor
do bem, e o direito de reavê-lo do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha (art. 1128, CC).
O “domínio útil” é apenas um dos aspectos da
propriedade, considerando-se o direito de posse ou
desfrute de um bem, a título gratuito ou oneroso, cujo
proprietário é outrem. Exemplo clássico é a enfiteuse.
Já a “posse” é o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade (arts. 1.196 e 1.204 do
CC). A posse, segundo o STJ, caracteriza-se pelo
animus domini (ânimo ou intenção de ser dono do
bem). Por conseguinte, não são possuidores os
locatários ou arrendatários do bem imóvel rural.
Por sua vez, para os efeitos de incidência do ITR, considera-se imóvel rural a área
contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do
município (art. 1º, §2º, Lei 9.393/1996).
Na hipótese do imóvel pertencer a mais de um município deverá ser enquadrado no
município onde fique a sede do imóvel e, se esta não existir, será enquadrado no
município onde se localize a maior parte do imóvel (art. 1º, §3º, da Lei 9.393/1996).
Nessa esteira, em regra, o parâmetro para definir se o imóvel é rural ou não é a sua
localização. Esta definição da localização é por exclusão, uma vez o CTN dispõe que é
rural quando localizado fora da zona urbana do Município.
Assim, o CTN entende como zona urbana a definida em lei municipal, que deve
observar o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos
2 (duas) das características seguintes, construídas ou mantidas pelo Poder Público: (a)
meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; (b) abastecimento de
água; (c) sistema de esgotos sanitários; (d) rede de iluminação pública, com ou sem
posteamento para distribuição domiciliar; (e) escola primária ou posto de saúde a uma
distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado (art. 32).
A lei municipal igualmente pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de
expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes,
destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das
zonas definidas nos termos do parágrafo anterior (art. 32, §2º, do CTN).
Contudo, apesar da regra geral ser a localização para definir se imóvel é rural ou
urbano, o art. 15 do Decreto-Lei nº 57/66, com status atual de lei complementar,
considera que o art. 32 do CTN não abrange o imóvel de que, comprovadamente, seja
utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial,
incidindo assim, sobre o mesmo, o ITR.
Por conseguinte, o citado art. 15, estabeleceu o critério da destinação econômica
do imóvel, para delimitação espacial das incidências do IPTU e do ITR.
Neste sentido, o STJ (REsp 1.112.646/SP) entende que o “artigo 15 do Decreto-Lei
nº 57/66 exclui da incidência do IPTU os imóveis cuja destinação seja,
comprovadamente a de exploração agrícola, pecuária ou industrial, sobre os quais
incide ITR, de competência da União”.
Em resumo, incide ITR e não IPTU, sobre imóvel localizado na área urbana do
Município, desde que, comprovadamente, seja utilizado em exploração extrativa,
vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (critério da destinação econômica do
imóvel). Em outras palavras, não incide o IPTU quando o imóvel situado na área
urbana tiver quaisquer das destinações dispostas no art. 15 do DL 57⁄1966.
Noutro ponto, o ITR não incide sobre a operação de transferência do imóvel
desapropriado para fins de reforma agrária e também não incide no caso de imissão
prévia da posse para fins de reforma agrária, pois existe imunidade tributária
estabelecida no §5º, do art. 184, da CF/88.
Contudo, observamos que o ITR incide sobre o imóvel declarado de interesse
social para fins de reforma agrária, enquanto não transferida a propriedade,
exceto se houver imissão prévia na posse (art. 1º, §1º, da Lei 9.393/1996).
A imissão prévia ou provisória da posse para fins de reforma agrária existe antes do
procedimento de transferência do imóvel, mediante alegação de urgência e de depósito
prévio de um valor ofertado pelo desapropriante (ente federativo ou autarquia
competente) em juízo (ação judicial). Em outras palavras, é o ato de tomar a posse legal
do imóvel antes do pagamento da quantia indenizatória final a ser paga ao
desapropriado.
Imissão é o ato de imitir-se, ou seja, “colocar para dentro”. Assim, ao imitir-se na
posse de um imóvel a pessoa está entrando nele e quem lá está deverá sair. Por exemplo,
a ação judicial denominada de “imissão de posse” é utilizada quando uma pessoa é
proprietária do imóvel e quer colocar para fora deste outra pessoa que está ilegalmente
ocupando-o.
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF em concurso para AFRFB considerou
incorreto o seguinte item: “Sobre o imóvel declarado de
interesse social para fins de reforma agrária deixa ipso
facto de incidir o imposto territorial rural (ITR)”.
A mesma banca, em outro concurso para AFRFB,
considerou correto: “Como regra, o ITR incide
inclusive sobre o imóvel declarado de interesse social
para fins de reforma agrária”.
2.6.2. Aspecto temporal
O fato gerador do ITR ocorre no dia 1º de janeiro de cada exercício (ano), sendo, por
conseguinte, de apuração anual (art. 1º, da Lei 9.393/1996).
2.6.3. Aspecto espacial
O aspecto espacial do ITR é o território nacional, seja a área rural ou urbana, quando
o imóvel, comprovadamente, seja utilizado em exploração extrativa vegetal,
agrícola, pecuária ou agroindustrial.
2.6.4. Aspecto pessoal
Em regra, o sujeito ativo é a União.
Contudo, a União, por intermédio da Secretaria da Receita Federal, poderá celebrar
convênios com o Distrito Federal e os Municípios que assim optarem, visando a delegar
as atribuições de fiscalização, inclusive a de lançamento dos créditos tributários, e de
cobrança do ITR, sem prejuízo da competência supletiva da Secretaria da Receita
Federal.
De qualquer sorte, deverá ser observada a legislação federal de regência do ITR (Lei
9.393/1996) e a opção não poderá implicar redução do ITR ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal (art. 1º, Lei 11.250/05).
Por seu turno, o contribuinte do ITR é o proprietário do imóvel, o titular de seu
domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título (art. 31, do CTN).
Importante:
O art. 4º, parágrafo único, da Lei estabelece que
o domicílio tributário do contribuinte do ITR é o
município de localização do imóvel, vedada a eleição
de qualquer outro.
Qual o entendimento do STJ sobre o assunto?
“Cabe à Procuradoria da Fazenda Nacional propor
execução fiscal para cobrança de crédito relativo ao
ITR” (Súmula 139).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
A ESAF em concurso para AFRFB considerou
incorreto o seguinte item: “O ‘posseiro’do imóvel é
estranho à relação jurídica relativa ao ITR, pois o
contribuinte do imposto é o titular do domínio útil ou o
proprietário”.
Realçamos que o artigo 5º, da Lei 9.393/96, preceitua que é responsável pelo crédito
tributário o sucessor, a qualquer título, nos termos dos arts. 128 a 133 do CTN.
Nesse sentido, o STJ afirma que os impostos incidentes sobre o patrimônio (ITR e
IPTU) decorrem de “relação jurídica tributária instaurada com a ocorrência de fato
imponível encartado, exclusivamente, na titularidade de direito real, razão pela qual
consubstanciam obrigações propter rem (em razão da coisa: “imóvel”), impondo-se sua
assunção a todos aqueles que sucederem ao titular do imóvel”. Decerto, a obrigação
tributária “acompanha o imóvel em todas as suas mutações subjetivas (mudança de
titular do imóvel), ainda que se refiram a fatos imponíveis anteriores à alteração da
titularidade do imóvel”.
Portanto, o promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel, bem como
seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no
Registro de Imóveis), são contribuintes responsáveis pelo pagamento do imposto sobre
o patrimônio (IPTU e ITR). Assim, “nas hipóteses em que verificada a
‘contemporaneidade’ do exercício da posse direta e da propriedade (e não a efetiva
sucessão do direito real de propriedade, tendo em vista a inexistência de registro do
compromisso de compra e venda no cartório competente), o imposto sobre o patrimônio
poderá ser exigido de qualquer um dos sujeitos passivos ‘coexistentes’” (REsp
1073846/SP, DJe 18/12/2009).
Noutro ponto, o STJ entende que se o imóvel é invadido por movimento “sem terra”
(MST), por exemplo, há perda do domínio e dos direitos inerentes a propriedade e, por
conseguinte, a impossibilidade da subsistência do ITR. Nestes termos, o STJ afirma que
“ao considerar-se a privação antecipada da posse e o esvaziamento dos elementos de
propriedade sem o devido êxito do processo de desapropriação, é inexigível o ITR
diante do desaparecimento da base material do fato gerador e da violação dos princípios
da propriedade, da função social e da proporcionalidade” (REsp 1144982/PR, DJe
15/10/2009).
2.6.5. Aspecto quantitativo
A base de cálculo do ITR é o valor fundiário (art. 30, do CTN).
O valor fundiário significa o Valor da Terra Nua tributável (VTNt).
É Valor da Terra Nua (VTN), pois, para os efeitos de apuração do ITR, considerar-
se-á o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a: (a) construções, instalações e
benfeitorias; (b) culturas permanentes e temporárias; (c) pastagens cultivadas e
melhoradas; (d) florestas plantadas.
Registramos, por sua vez, que a Área Tributável, é a área total do imóvel, menos as
áreas: (a) de preservação permanente e de reserva legal; (b) de interesse ecológico para
a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do órgão competente,
federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso previstas na alínea anterior; (c)
comprovadamente imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira,
aquícola ou florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão
competente, federal ou estadual; (d) sob regime de servidão florestal ou ambiental; (e)
cobertas por florestas nativas, primárias ou secundárias em estágio médio ou avançado
de regeneração; (f) alagadas para fins de constituição de reservatório de usinas
hidrelétricas autorizada pelo poder público.
Nesse rumo, o STJ compreende que o ITR é tributo sujeito a lançamento por
homologação que permite da exclusão da sua base de cálculo a área de preservação
permanente, sem necessidade de Ato Declaratório Ambiental do IBAMA (REsp
1112283/PB, DJe 01/06/2009).
De mais a mais, a tabela de alíquotas do ITR é a seguinte (art.11, Lei 9.393/96):
ÁREA TOTAL
DO IMÓVEL
(em hectares)
GRAU DE UTILIZAÇÃO - GU
(EM %)
Maio
r que
80
Maior
que
65 até
80
Maior
que
50 até
65
Maior
que
30 até
50
Até
30
Até 50 0,03 0,20 0,40 0,70 1,0
0
Maior que 50 até
200 0,07 0,40 0,80 1,40
2,0
0
Maior que 200
até 500 0,10 0,60 1,30 2,30
3,3
0
Maior que 500
até 1.000 0,15 0,85 1,90 3,30
4,7
0
Maior que 1.000
até 5.000 0,30 1,60 3,40 6,00
8,6
0
Acima de 5.000 0,45 3,00 6,40 12,00
20,
0
0
Assim sendo, a alíquota é alcançada pelo cruzamento de informações da Área Total
do imóvel em hectares com o Grau de Utilização da área.
Já o Grau de Utilização (GU) é obtido pela relação percentual entre a Área
Efetivamente Utilizada (AEU) e a Área Aproveitável (AA).
Importante:
A AEU é a porção do imóvel que no ano anterior a
incidência tenha: (a) sido plantada com produtos
vegetais; (b) servido de pastagem, nativa ou plantada,
observados índices de lotação por zona de pecuária; (c)
sido objeto de exploração extrativa, observados os
índices de rendimento por produto e a legislação
ambiental; (d) servido para exploração de atividades
granjeira e aquícola; (e) sido o objeto de implantação
de projeto técnico.
A AA é a que for passível de exploração agrícola,
pecuária, granjeira, aquícola ou florestal, excluídas as
áreas: (a) ocupadas por benfeitorias úteis e necessárias;
(b) não pertencentes também a Área Tributável, tal
como a área de preservação permanente e a
comprovadamente imprestável para qualquer
exploração agrícola.
2.6.6. Quadro sinóptico
Em resumo:
Aspecto
material
Propriedade, o domínio útil ou a posse de
imóvel por natureza, como definido na lei
civil.
Aspecto
tempora
l
1º de janeiro de cada exercício.
Aspecto
espacial
Território nacional seja a área rural ou
urbana, quando imóvel, comprovadamente,
seja utilizado em exploração extrativa
vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial.
Aspecto
pessoal
Sujeito ativo: em regra, a União, podendo
também ser o DF e os Municípios; Sujeito
Passivo (contribuinte): proprietário do
imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o
seu possuidor a qualquer título.
Aspecto
quantita
tivo
Base de cálculo: valor fundiário; Alíquota: é
a fixada na legislação federal, de acordo com
o grau de utilização do imóvel.
CESPE/PGE/PB/PROCURADOR/2008) O imposto sobre propriedade territorial rural é fiscalizado e cobrado pelos municípios, apesar de permanecer com a União a competência para instituí-lo.
COMENTÁRIO
O imposto sobre propriedade territorial rural é fiscalizado e cobrado pelos municípios que assim
optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal (art. 153, §4°, III, CF). Ou seja, não pode ser afirmado que é fiscalizado e cobrado
pelos municípios, pois este fato é dependente de opção dos próprios municípios. Logo, incorreta.
2.7. Imposto sobre grandes fortunas (IGF)
No que diz respeito ao IGF, a única informação relevante para concurso é que apenas
à União compete instituir imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei
complementar.
2.8. Impostos residuais ou novos
A União poderá instituir, mediante lei complementar, impostos residuais, desde que
sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo própria dos
impostos discriminados na Constituição (art. 154, inc. I, CF).
Como esse assunto foi cobrado em concurso?
O CESPE no concurso para Juiz Federal/TRF2/2010
considerou incorreto: “A União detém competência
tributária residual e no seu exercício poderá editar lei
em que a nova exação seja não cumulativa, desde que
não tenha fato gerador ou base de cálculo próprios dos
demais tributos discriminados na CF”.
Por ocasião da instituição do IPMF pela Emenda Constitucional nº 3 (EC nº 3), cujo
fato gerador era o mesmo da também extinta CPMF, o STF (ADI 939-7) firmou o
precedente de que a observância da não comutatividade e da proibição que novos
impostos tenham os fatos geradores ou bases de cálculo já estabelecidos inscritas no art.
154, I, da CF, são dirigidas ao legislador ordinário e não ao constituinte derivado.
Isto é, a técnica da competência residual da União é para o legislador ordinário e não
para o constituinte derivado.
2.9. Imposto extraordinário de guerra (IEG)
A União poderá instituir na iminência ou no caso de guerra externa, impostos
extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão
suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação (art. 154, inc. II, da
CF/88).
Com efeito, na iminência ou no caso de guerra externa, a União tem certa liberdade
para estabelecer o fato gerador do IEG, inclusive podendo optar pelos fatos geradores de
competência do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios.
Consequentemente, neste caso específico, a União pode até criar um IPVA federal ou
um ISS federal. Observamos que é um caso permitido pela CF de bitributação exclusiva
de dois impostos, sendo aceito que a União tribute sobre o mesmo fato gerador ou sobre
a mesma base de cálculo dos impostos de competência dos outros entes federativos.