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Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

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Autobiografia fotográfica relatando os principais acontecimentos dos meus 50 anos. Contatos: [email protected]

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Memórias de Meio Século 3 [email protected]

Dedico este livro a

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no anseio de que ele lhe traga boas memórias, em nome do nosso Salvador.

Teresina-PI,__ de _______de 2011.

............................................................................

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Memórias de Meio Século 4 [email protected]

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Memórias de Meio Século 5 [email protected]

ZITO

2011

MEMÓRIAS DE MEIO SÉCULO

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Memórias de Meio Século 6 [email protected]

Não por força Nem por violência,Mas pelo

Meu espírito, diz O Senhor dos Exércitos.

(Zac 4:6)

A Veneza Brasileira me traz agradáveis e profundas lembranças...

BB

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Memórias de Meio Século 7 [email protected]

Dedicatória 9

Apresentação 11

1. BEZERROS-PE (De 1961 a 1975)

Rua XV de Novembro, nº 70 17

Meus estudos e Gibis 28

Pai, o Marceneiro 34

Mamãe, a Costureira 47

Silva, o Caçula 55

Netinho, o Primogênito 58

2. RIO DE JANEIRO (De 1976 a 1977)

Um garoto tímido na Cidade

Maravilhosa 63

Meu 1º emprego oficial 67

Meu Pai X meu Tio 71

Meus dilemas de adolescente 76

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NOTA À EDIÇÃO EM PDF

Por motivos de tempo e impressão, você está recebendo logo

meu livro pela internet. Em breve, estarei enviando-lhe um volume

impresso. No Índice a seguir, acrescente sempre 2 ao número de cada

página.

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Memórias de Meio Século 8 [email protected]

3. RECIFE (De 1977 a 1978)

De uma capital para outra 83

Ateísmo fugaz 87

Cooper, meu passatempo predileto 89

Minhas poucas namoradas 93

4. BEZERROS (Retornando - de 1979 a 1980)

Meu 1º concurso 99

O pensamento de suicídio 105

Do ateísmo ao plano de ser frade 108

Os Adventistas do 7º Dia 109

O psicotrópico Aldol 114

A Venda do Sobrado 121

5. REMANSO-BA (1980)

Minha primeira empresa individual 125

6. SANTA INÊS – MA (1981)

Empreendimento frustrado 132

O Encontro com Cristo na Assembleia de Deus 134

A inscrição para o concurso da Caixa 138

7. SÃO LUIS – MA (1982)

Meu 1º emprego com carteira assinada 143

Achei ter atingido o Topo 147

8. IMPERATRIZ-MA (De 1982 a 1987)

Vivendo como crente 153

Vida de “rico” 159

Da CEF para o BB 161

Volto a Pernambuco e me caso 164

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Memórias de Meio Século 9 [email protected]

Experiência político-sindical 168

Nascem minhas filhas 170

Cargos e conflitos na Igreja 175

Calor amazônico e crise conjugal 179

9. MORENO, RECIFE, JABOATÃO - PE (De 1987 a 1998)

Mais alguns dias em Bezerros 185

Em Moreno 189

O Falecimento de Mamãe 192

O Discurso que não fiz 197

No Centro da minha Capital 203

Simpatia pelo Espiritismo, Rosacruz e Esoterismo 206

Viagens pelo Nordeste . 209

Faculdades de Psicologia e Direito 212

Múltiplas experiências conjugais 216

O Real Elvis Club e a Rádio Capibaribe do Recife 221

A Igreja Mórmon - SUD 226

CESEC Cais do Apolo – a “Madrugada” 230

Viagens aos Estados Unidos 234

Cálculos renais –meio Matemáticos 251

Morando à “Beira-Mar” 255

Dois Incidentes quase Fatais 266

A Igreja Presbiteriana 263

A IURD – Universal 265

O PVD do Banco do Brasil 267

A Memphis Vídeo 273

De taxista a corretor de imóveis 277

Retornos à Assembleia de Deus 283

10. BRASÍLIA –DF (De 1999 a 2004)

Na Casa de Silva e vários concursos 287

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Memórias de Meio Século 10 [email protected]

A Morte de Pai 292

Aprovado em mais 2 concursos para o BB 295

A Cooperativa de Vigilantes 300

Continuo o Curso de Direito 306

Saio novamente da Assembleia de Deus 309

Chamo a família para o DF 314

A separação conjugal 317

Meu escritório de Contabilidade 320

Descubro que era Hipertenso 314

Conheço minha atual Companheira 326

11. TERESINA – PI (De 2004 a 2011)

Assumo uma Faculdade-Titanic 331

Freqüento a Igreja Batista 340

Retomo o Curso de Direito de 20 anos atrás 342

Elvis de novo, rádios e TV‟s e Política 346

Visita a Pernambuco (2008) 349

A residência “dos meus sonhos” 358

7º Retorno e Batismo no Espírito Santo 362

1º emprego com CTPS após o BB(num Presídio) 369

Tempo de Vacas Magras 375

Minha Nova família 379

CONCLUSÃO 381

ANEXOS

O Aborto de um Sonho Acadêmico 387

Doutrinas e Preceitos de Homens 403

Testemunho 421

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Memórias de Meio Século 11 [email protected]

Dedico este Livro a todos aqueles que querem aprender com os seus próprios erros – e com os erros alheios também-; a todos os que não se cansaram de buscar a Verdade desta Vida – e da futura -, conforme está escrito – Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. (Jo 8:32). Dedico esta Obra a todos os meus parentes próximos e distantes, os quais fazem parte desta História, tendo contribuído com momentos positivos ou negativos. In memoriam, dedico-o à minha Mãe e ao meu Pai, os quais não poderão ler estas páginas nem tiveram a satisfação de verem mais alguns sucessos dos seus filhos que criaram, mas que foram o começo de tudo. Agradeço, sobretudo ao REI DOS REIS que me deu vida e saúde para ter condições de reunir estas Memórias e passá-las adiante através da perpetuidade do papel impresso – embora só a Sua Palavra permaneça para sempre (Mt 24:35).

Individualmente, a cada parente ou amigo, vou agradecendo à medida que cada um vai sendo citado.

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Memórias de Meio Século 13 [email protected]

Até aqui nos ajudou o Senhor. ISamuel 7:12

anos é a minha idade atual! Cinco décadas! Cinqüenta períodos de 365 dias!...Meio século de vida!.. 18.250 dias!...Um número para o qual eu

não fiz nenhum projeto de vida. Sempre admirei as pessoas idosas

como dignas de todo respeito por parte dos jovens e dos próprios adultos. Uma espécie de reserva moral e religiosa. Mas, nunca vislumbrei um dia eu mesmo chegar lá.

Hoje, 07 de agosto de 2011, inexoravelmente cheguei a este número! Não importa o que eu tenha feito ou deixado de fazer, o Senhor Tempo encarregou-se de me trazer até aqui. Como diz o Sábio Salomão no filosófico livro da Bíblia, o Eclesiastes: Há tempo para todo propósito debaixo do céu (Cap. 3)!E este é o meu. Naturalmente, durante todo esse período realizei vários dos meus sonhos.Fiz muitas coisas que jamais pensei que chegaria

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lá, como também várias outras das quais me arrependo e ficaram tantas mais que desejei implementar e, por um motivo ou outro, não consegui.

Todavia, de tudo isso fica uma experiência que preciso analisar criteriosamente para aprender com meus próprios erros, fazendo uma profundíssima reflexão sobre um passado que poderá trazer benefícios, tanto pelos acontecimentos louváveis como pelas fases nebulosas pelas quais passei. Conquanto nos esforcemos pela perfeição ela nunca chegará face à própria fragilidade original do ser humano.

Vaidade de vaidades; tudo é vaidade, é o que prega o primeiro livro

da Bíblia que eu conheci – o Eclesiastes (1:2). E, de fato: empregos, diplomas, carros, casas, dinheiro, fama, poder e até mesmo religião e família, é tudo passageiro e vão. Nada disso aproveita à Vida Eterna e, mais cedo ou mais tarde, deixaremos tudo para trás e seguiremos viagem Eternidade afora.

Jamais me dirigi a qualquer dos meus parentes da forma como me

dirijo agora, nestas páginas. Nem mesmo para minhas esposas ou para meu irmão mais íntimo eu pude extravasar todas as coisas que registro a seguir.

Faço isto com a insigne pretensão de querer deixar um registro dos nossos parentes– uma espécie de Anais da História Familiar – e, simultaneamente,o de transmitir a todos alguns aspectos da minha vida que, provavelmente, poucos conhecem ou sabem apenas através do popular “ouvi dizer”.

Obviamente, transmitir é diferente de justificar. Sei que cometi erros grosseiros. Não pretendo aqui justificar-me em tudo o que fiz nos vários momentos críticos desses 50 anos. Apenas falarei sobre o que fiz ou deixei de fazer, tentando mostrar os vários ângulos da situação vivida e apresentando as correspondentes desculpas às pessoas que, direta ou indiretamente, foram vítimas de atos meus inadequados ou mesmo sofreram pela minha omissão em não ter ajudado a contento (Pr 28:13; Tg 4:18), deixando que cada um tire suas conclusões.

Um fato que me deixa triste em só escrever estas palavras agora, depois de vários anos,quando, além de Mãe e Pai, outros tantos parentes partiram para a Eternidade. Depois que retornei do Maranhão para Pernambuco, com diversos planos do coração(em 1987), muitos familiares meus já faleceram.Segundo as últimas informações que me passaram na minha viagem de três anos atrás, esta a lista que consigo redigir:

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Memórias de Meio Século 15 [email protected]

1. Mãe

2. Pai

3. Tia Mariquinha, em Tabira-PE

4. Tio Paulino (?), “

5. Tio Severino

6. Tio Manoel – do Recife

7. Tio Manoel – do Rio de Janeiro

8. Madrinha Dulce

9. Marinha Santina

10. Tio Noé, de Remanso

11. Tia Izabel, “

12. Abelardo (de Ovídia), em Paratibe-Paulista-PE

13. Deninho, um dos filhos do Seu Cleodom Vieira,

no Recife

14. Robertinho, de Tia Socorrinho, em Caruaru

15. Tia Tide

Quando recebi o telefonema da morte de Robertinho, senti que ALGO estava acontecendo no meio dos meus parentes, em relação ao fator TEMPO.

Morrer não é algo anormal – todos nós faleceremos algum dia. Todavia, ANTES de partirmos, precisamos FAZER ALGO que torne a nossa vida e a dos que estão conosco mais agradável, mais feliz. Seja no aspecto material ou no espiritual. Uns conseguem mais na área financeira e outros não brilham tanto. Mas, o importante é que realizemos algo que sirva, de alguma forma, de ajuda e inspiração aos demais.

(E quem será o próximo da Lista? Eu?... Netinho?... Silva?... Qualquer um de nós, pois só Deus tem as Chaves da Vida e da Morte [Ap 1:18]) A todas estas 15 (quinze!) pessoas dedico também estes registros, in memoriam.

Acima de tudo, que estes registros enalteçam ao SENHOR JESUS CRISTO, o nosso ETERNO E INSUBSTITUÍVEL SALVADOR, e levem meus parentes e amigos a refletirem que

Só o Senhor é Deus. (Dt 4:39)

“Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em UNIÃO

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Memórias de Meio Século 16 [email protected]

(...) porque ali o Senhor derrama a VIDA e a BÊNÇÃO para sempre. (Sl 133)

Gostaria de apresentar um impresso de melhor qualidade gráfica. Mas, com escassos recursos de que disponho do momento, confeccionei este livro de forma artesanal, no qual me esforcei em fazer o melhor dentro dos limites tecnológicos e conhecimentos do meu computador. Devido às limitações da minha impressora de jato de tinta, o colorido de todas as fotos não saiu perfeito, assim como outras falhas podem ser verificadas.

Recebam-no não como um “livro”, mas como uma CARTA endereçada a todos os meus parentes.

Procurei tornar a leitura menos cansativa e mais atraente com a inclusão de diversas fotos, na sua maioria, do meu acervo pessoal.

Todavia, nada disto terá valor se você não ler, pelo menos, as partes que lhe interessarem. Rogo, portanto, a cada um dos meus parentes próximos e distantes que gastem um pouco do seu escasso tempo para dar uma lida, no mínimo, naqueles pontos que considera “importantes”. E, depois de lerem, caso permaneçam “dúvidas”, peço a fineza em se dirigirem a mim – evitando comentários enviesados – e, prontamente, darei todos os esclarecimentos e corrigirei algum posicionamento que se descubra errado da minha parte.

Para tanto, deixo aqui vários e-mails e vários telefones – além do meu próprio endereço postal-residencial no envelope de remessa deste exemplar -para que ninguém alegue depois “não consegui falar com ele”.

Que Deus abençoe e dê prosperidade material e espiritual a todos os meus parentes próximos e distantes.

E que, acima de tudo, DEUS SEJA LOUVADO! Cristãmente,

Teresina-PI, 07 de Agosto de 2011.

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RUA XV DE NOVEMBRO, Nº 70

Se o Senhor não edificar a casa Em vão trabalham os que a edificam.

(Sl 127:1)

Eu, de boné branco, em frente à nossa casa, ao lado do meu primo Berto, de Remanso-BA

sta casa de dois janelões e porta que se abria por um lado, arrastando-se pelo chão num característico barulho que servia de campainha, com postigos no estilo veneziana que permitia a entrada de ar, além dos quadrados vazios que nunca receberam vidros, mas que eu cheguei

certa vez a preencher com pedaços mal-cortados de duratex, ficava situada na segunda rua subindo da Praça Duque de Caxias, pela ladeira de Manoel de França.

Hoje, ela não existe mais. Hoje, já não existe mais vestígio desse casarão. Até o quintal com uma escada que era de madeira, e que pai, finalmente, mandou fazer de cimento depois de uma queda de mamãe, fora aterrado, conforme a atual moradora. Em seu lugar, além da residência da proprietária, há um confortável salão de beleza de uma moça que eu não conheço e que também não conhecera meus pais.

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Durante muito tempo, desejei que essa marcante residência se tornasse como um Museu da Família Joaquim – pelo menos para apreciação só dos parentes. Talvez fosse um capricho muito exorbitante, mas achei que pudesse fazer isso, de uma vez que os imóveis ali eram baratos,e seria significativo para todos nós – assim pensava eu. Parece-me que ela era alugada da igreja católica. Não sei de quanto era o aluguel nem se pai pagava em dias. Nem me lembro se vi alguma vez um recibo dele. Só sei que todos nós, os três filhos, nascemos ali.

A Rua 15 de Novembro é pequena – talvez só tenha uns 500m. Mas, logo na segunda esquina, ela se parte e ganha outro nome - Rua 9 de janeiro - e prossegue por mais uns 500m, terminando no Colégio Nª Sª das Dores. Não há razão geográfica para que esse seguimento de casas possua dois nomes. Preferiria se chamasse de “Rua XV de Novembro” que me soa mais bonito do que “9 de Janeiro” (que, a propósito, nunca soube o que de histórico houve nesta data).

A 1ª foto é de 2001, onde ainda havia parte da fachada a original.[A loja é da minha 1ª professora,

Da. Josete.] À dir., uma casa moderna e salão de beleza em seu lugar

Nessa fria casa de telhado alto, sem forro, piso em cimento vermelho, 2 quartos, quintal rebaixado com banheiro e sanitário ”lá embaixo”, eu nasci e vivi meus primeiros 14 anos de vida. O telhado me parecia tão alto que, quando ia dormir ficava um tanto amedrontado, olhando para aquelas telhas escuras e pensando milhões de coisas. Talvez por essa divagação, passei a balançar a cabeça, de olhos fechados, como uma forma de ninar a mim

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mesmo, até vir o sono. Se o sono demorava, ia balançando os ombros e a cintura e, dali a pouco, já estava balançando o corpo todo, de um lado para outro, como se estivesse num berço ou numa rede. Ainda hoje possuo esse hábito, de balançar suavemente a cabeça, quando o sono não chega logo. A instalação elétrica era antiga e as lâmpadas incandescentes tradicionais ficavam penduradas pelo meio das salas e dos quartos. Como faltava água com muita freqüência, era comum irmos pegá-la em latas de 18lt, na cabeça. Quando havia algum dinheiro de sobra, mamãe pagava ao Davi, que era um vizinho que vivia desse serviço e, vez por outra, sofria uns ataques neurológicos que o fazia sair pela rua gritando, mas sem agredir ninguém. Certa vez, eu vinha com a lata d‟água na cabeça e fui passando pela copa onde havia uma lâmpada entre a mesa e o armário de fórmica. A lata bateu na pêra-interruptor ligar e ela entrou na água dando-me um choque que me fez parar e soltar a lata que estatelou-seno chão, na minha frente, salpicando a caixa de som do rádio de pai. Esse incidente levou-me a concretizar uma antiga idéia minha de trocar a fiação e colocar interruptores nas paredes, no lugar daquelas desconfortáveis e perigosas peras. Tempos depois, arranjei uns fios rígidos de uma casa velha, comprei alguns interruptores e, sozinho, fui subindo nas paredes e trocando toda a fiação. Pai não reclamava – nem ajudava; só achava engraçado. Mamãe só ficava observando admirada. Nós costumávamos com-prar fiado na vendinha do Seu Chico Lulu. Mas, surgiu outra, bem na esquina que separa a XV de Novembro da 9 de Janeiro, do Rafael, que veio da zona rural. Lá, Netinho também bebia com os amigos e o Rafael se tornou bem conhecido na região. Hoje, não existe mais a do Seu Chico – nem a Padaria do Seu Manoel Lulu -; só o Rafael permanece. Na época,aquele beco me parecia enorme - hoje, vi que deve ter no máximo uns 3m de largura.

Rafael ainda possui a mesma Venda da Rua 9 de

Janeiro

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Memórias de Meio Século 22 [email protected]

Lá pelos meus 17 anos, no intuito de melhorar a imagem da nossa velha TV, e como diziam que “lâmpada fluorescente era bom”para captar o sinal, pedi a pai para preparar umas varas com as cavas para acomodá-las e subi naquele alto telhado com uma “engenhoca” de 6 lâmpadas com fios e uma vara para colocá-la em cima da antena. E as telhas, já velhas, se quebravam a qualquer movimento em falso. Tinha uma pessoa me ajudando, lá em cima – acho que era Silva. Algum tempo depois, deu um vento forte e a armação espatifou-se em cima das telhas. E a imagem não melhorou tanto assim, não...

Únicas anotações que temos sobre nossa família

Não sei detalhes sobre meu nascimento. O documento mais antigo que guardo sobre mim e meus irmãos é uma caderneta de Registro Civile outras do batismo católico onde Mamãe anotava as datas principais de cada um. Ali consta que ela se casou com pai em 26.10.1965 – sete anos depois do nascimento de Netinho -, que sua mãe nasceu em 26.04.1899, o mesmo mês dela, e que eu nasci em Bezerros. Certamente, nascemos todos na Maternidade - nem sei o nome daquela maternidade, pois usávamos essa denominação apenas para distingui-la do Hospital que ficava na BR 101 e se chamava Hospital Jesus Pequenino e ainda hoje existe. Parece-me que ainda não há outro, seja público ou particular, naquela cidade (até porque Caruaru fica a apenas 30km e quase tudo ainda se resolve naquela próspera cidade do Agreste pernambucano).

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Memórias de Meio Século 23 [email protected]

Dizem os simpatizantes do horóscopo que os leoninos são de temperamento dinâmico, impulsivo, irrequieto e fadados ao sucesso! Por muitos anos gostei de ver signo nas revistas e jornais. Depois descobri que as supostas previsões para mim cabiam também a qualquer outra pessoa nascida em qualquer outro mês do ano. Hoje, sei que, em Cristo, nós temos um destino mais sólido e promissor – se formos fiéis a Ele (Deut.cap. 28:1-68). Nasci a 7 de agosto de 1961, cinco dias depois do Barack Obama, havaiano negro e pobre que no ano passado se tornou o 1º presidente dos EUA. Como se vê: embora do mesmo signo, tivemos destinos bem diferentes! A Bíblia nos dá inúmeros conselhos sobre a vida em família, e um dos mais sábios é este:

Se o Senhor não edificar a CASA em vão trabalham os que a edificam (Sl 127:1). Eu só

vim a conhecer esse Senhor aos 19 anos, após um pensamento de suicídio em virtude de uma profunda decepção de um amor platônico.

Não falo isto para ofender aos meus pa- rentes católicos, não. Porém, sem dúvida, se um Deus vivo e eficaz estivesse presente na casa onde eu nasci e cresci, não somente o meu destino, mas o de todos nós ali, teria sido muito diferente, com bênçãos tais que, até mesmo os sucessos que eu vim a ter, ainda seriam pouca coisa. Não falo isto com empáfia de crente ou pregador, mas com a convicção de um cristão, como todos os meus demais parentes também o são, porquanto um Cristo Vivo é espiritualmente forte o bastante para vencer todas as influências negativas e forças malévolas que pairam sobre uma família que eventualmente não O busca dia após dia, através de orações, reuniões familiares, cultos e louvores a Deus (Efésios 5:22-6:4; ITs 5:17-18) – práticas estas que nunca tivemos em casa – salvo apenas a religiosidade de vovó, mãe de mamãe.

Quando falo um Deus vivo e eficaz não pretendo com isto ofender a religiosidade dos meus parentes. É Deus quem julgará tudo na nossa vida e, principalmente, no aspecto da FÉ. Cabe-nos o livre arbítrio para termos uma fé com obras de paz, amor, prosperidade, saúde e demais bênçãos divinas.

Minha 1ª foto – aos 6 meses

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Memórias de Meio Século 24 [email protected]

A centenária cidade de Bezerros, no agreste Pernambucano, que outrora fora a sede das vizinhas Gravatá e Caruaru, tornara-se a menor dessas três, sendo Caruaru, hoje, quase uma metrópole, e Gravatá, um agradável pólo turístico. Ela não me apresentava, na época, perspectivas em área nenhuma – fosse acadêmica, empresarial, religiosa, laboral ou de lazer. Mas, na verdade, eu não tinha ambições: vivia filosoficamente minha vida e achava que aquilo era tudo e duraria uma eternidade neste Planeta. Cheguei até a deixar o emprego no Foto Vieira, na casa do Seu Cleodon, no Recife, para vir “estudar e viver no clima agradável” da minha cidade natal! Morava também conosco, e não sei exatamente os motivos – se de saúde ou se de divergências entre ela e vovô - minha avó materna, Da. Maria José “de Jesus” (assim ela se autonomeava, mas parece-me que não era este seu sobrenome verdadeiro).Morava conosco, embora meu avô ainda vivesse e residisse num antigo casarão sem reboco externo nos quatro lados da casa, na Rua Princesa Isabel, próximo da BR 232, ainda no perímetro urbano.

A Matriz de S. José dos Bezerros, em festa de fim-de-ano - provavelmente 1981

Muito religiosa como era, e eu sendo o filho mais “educado e obediente”, tacitamentefui nomeado seu guia para levá-la às missas dominicais e às procissões do Frei Damião naquelas gélidas madrugadas, quando ele por ali aparecia, experiência esta que muito me incomodava, mas nunca reclamei pois gostava muito da minha querida vovó. No entanto, eu nada entendia de missas nem daquelas procissões. Às vezes, me chamava

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Memórias de Meio Século 25 [email protected]

atenção algumas gravuras nas páginas amareladas de um livrinho de catecismo que vivia por ali, em casa, por cima da mesa ou da televisão, e achava aquilo um tanto insípido, sem muito sentido. mesmo assim, não desprezava nem ridicularizava a fé da minha avó. Com certeza, eu teria gostado muito se mamãe tivesse até mesmo o fervor religioso de sua irmã, Tia Socorrinho, e também pudesse ter afirmado como Josué o fez, após suceder Moisés da árdua tarefa de conduzir o povo saído do Egito rumo a Canaã:

Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.

Josué24:15

Certa noite, só me lembro que mamãe mandou eu e Silva irmos avisar a vovô que vovó tinha morrido! Lá fomos nós, de madrugada – acho que eram umas 2horas da manhã – chorando pelas ruas, ao ponto de chamarmos a atenção de um vigia que perguntou o que tinha acontecido. Chegando nofim da cidade, vovô nos abriu a porta com o candeeiro aceso – pois não havia energia elétrica na sua casa - e voltou conosco para ver a sua esposa falecida.

Depois de algum tempo, vovô vendeu o velho casarão e comprou uma casa menor e mais perto da gente. Ele passou a viver conosco com mais freqüência e até dormia conosco. Ele era um hábil caçador e frequentemente levava tatus pra gente ver e comer e, nos mostrava – sem exibicionismo – um curioso hábito que, segundo ele, fazia bem á saúde: beber o sangue do tatu! Eu achava aquilo normal, mas nunca quis experimentar. Anos depois, ele passou a fazer um tratamento experimental no Hospital do Câncer do Recife, que lhe ministrava alguns remédios para tentar

Vovô gostava de caçar

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Memórias de Meio Século 26 [email protected]

conter e até curar, se fosse possível, um câncer na garganta – na faringe – que lhe surgiu em decorrência das muitas décadas do uso de fumo de rolo. Esta foi uma das últimas fotos dele, a qual eu bati no Foto Vieira, para a sua CTPS – se não me falha a memória, para a aposentadoria dele.

“Na rua” os garotos daquela cidadezinha de uns 30.000 habitantes – nos anos 60 – tinham sua prática de esportes, faziam suas amizades, aprendiam tudo sobre sexualidade, iam pra “zona”, que ficava numa rua pobre, na periferia, próximo do Rio Ipojuca e do centro, chamada Rua da Estrela -, arengavam por qualquer questiúncula, aprendiam a fumar, etc.Ainda não se falava de drogas ou doenças sexualmente transmissíveis – embora a gonorréia fosse muito popular e a sífilis [que afetou o amigo Eraldo – cunhado do Sr. Vieira, do foto no Recife] fosse a Aids da época.

Essa figura tenebrosa do que eu poderia aprender na rua me fazia ser mais caseiro do que meus irmãos e demais colegas. E isso me tornava cada vez mais tímido. Lembro-me de um episódio que me fez quase entrar chão adentro: minha mãe me fizera uma camisa verde e florida de um tecido brilhoso, tipo seda. Quando alguns colegas me viram ali, “na rua”, vestido as- sim – o que seria um moderno estilo havaiano para a época! -, caíram na gozação e insinuan-do sobre a minha “masculini-dade”... Voltei pra casa morrendo de vergonha e tirei a camisa que mamãe me dera com tanto carinho. Acho que até ela mesma sorriu quando lhe falei do motivo...

Outra ocasião em que minha timidez me bloqueou totalmente foi na cidade de Tabira: visitando a família de Tia Mariquinha, Zetinha e Ânge- la me levaram para passear na cidade, à noite. Paramos, em pé, numa praça, e, de repente, surgiu uma garota por trás de mim, alisando minhas costas e dizendo: “Que menino bonito!... Guarda ele pra mim...”, e prosseguiram, passeando. Aquele elogio me deixou gelado e duro como uma pedra! Quando

A famosa Ladeira de Manoel de França – ex-

farmacêutico local – bem perto de casa

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Memórias de Meio Século 27 [email protected]

a garota e suas amigas foram retornando da volta pela praça,falei logo pras minhas primas que queria voltar pra casa e elas, sorrindo, voltaram comigo. Anos depois, acho que eu tinha uns 13 anos, admirava uma loira que morava na esquina da R. XV de Novembro, em Bezerros, e, sempre que passava em frente à sua casa, a via debruçada na janela. (Parece-me que ela se chamava também Fátima.) Aquilo me enchia o coração, mas, como eu era muito tímido, mal tinha coragem de acenar para ela – só dava um ligeiro sorriso e ela sempre correspondia esperando algo mais da minha parte. E ela estudava no mesmo Cônego Alexandre que eu, mas em outra turma, à tarde.

Assim nossa formação e educação geral se deram na rua. No meu caso, eu me distraía lendo gibis e os livros da escola. Futuramente, fui me dedicando a assuntos de Psicologia, Filosofia, artes marciais, etc. Sobre educação dos filhos, a Bíblia nos ensina: Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.(Provérbios 22:6). Na verdade, não me lembro de nenhum momento em que mãe ou pai tenham falado para nós algo do tipo: “Hoje, eu vou conversar com você – ou vocês - sobre isto.”Como não tínhamos nenhum tipo de instrução objetiva, aprendíamos pelo olhar os outros meninos e pelas aulas na escola que, diferentemente dos dias de hoje, não falávamos nada especificamente sobre educação em família (o que mais se aproximava disso era a disciplina de Educação Moral e Cívica, que antes se chamara OSPB – Estudo dos Problemas Sociais e Políticos Brasileiros – um tanto irreais).

Da dir. p/esq.: Vovó, mamãe, Madrª Santina,

Tia Socorrinho, Vovô - e o último, acho que

não era parente.

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Memórias de Meio Século 28 [email protected]

As reprimendas vinham através de surras de cinturão, cascudos ou

infindáveis reclamações que mamãe vivia a liberar a partir do momento em que acordava. Não os culpo de maneira total e absoluta por tal forma de educar seus filhos (se é que se pode chamar isso de “educar”), pois que isso era considerado normal naquela região.

Embora não morássemos numa zona rural, meus pais nasceram e viveram em sítios boa parte de suas vidas e só estudaram até o 1º Grau incompleto - não passaram da Admissão, ou apenas os quatro primeiros anos básicos de aulas. Pai nasceu no Riacho Seco e mamãe no Riacho Verde, vilarejos pertencentes a Bezerros.

Aos domingos, quase sempre, mamãe nos levava até o extremo da cidade, para visitarmos casas de parentes próximo da BR 232, onde moravam vovô, tia Isabel, Tio Severino, Madrinha Santina e outros. Íamos caminhando tranquilamente, numa longa jornada, por aquelas ladeiras, algumas ruas sem calçamento ou asfalto e alguns becos.

Havia uma casa bem por trás da de vovô, cujo terreno era cercado por arame farpado, onde Tia Isabel morava com Tio Noé, Lourdinha e Berto. Na copa, tinha uma mesa de um pé só e uma toalha que dava um aspecto de cortina nos lados dela. Eu e meu primo Berto ficávamos embaixo dessa mesa brincando de celebrar missa, parece-me com um ou dois bonecos. Acho que eu tinha uns 5 anos. Dizem que, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse eu respondia que “queria ser padre”. Não me lembro dessa resposta, mas, acho que havia em mim um certo sentimento inato de religiosidade que bem poderia ter sido desenvolvido desde cedo com a devida orientação dos meus pais e uma educação religiosa adequada.

Uma das boas lembranças dessa casa, era a visita de Tia Socorrinho

com toda a família, sempre no dia 1º de cada ano. Ela sempre vinha de Caruaru com Tio Berto, em sua Kombi branca, com Robertinho, Robinho,

Os filhos de Tia Socorrinho e Tio Berto:

Robertinho, Robinho, Ronildo e Ronaldo

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Memórias de Meio Século 29 [email protected]

Ronaldo e Ronildo, todo ano novo. Aquilo trazia muita alegria para nosso lar. Pena que ninguém possuía câmera fotográfica nessa época e nunca registramos tais momentos de confraternização familiar.

Quando eu tinha 10 anos, pai, como a maioria dos nordestinos, foi para o “sul” – na verdade Sudeste, pois o Rio de Janeiro e São Paulo não ficam na Região Sul - e ficou lá por longos 08 anos. Quando fiz 14 anos, vendo o sofrer da minha mãe diante da ausência de notícias do meu pai, decidi ir ao Rio “buscá-lo”. Um amigo dele, um pedreiro, que já viajara para lá e para SP várias vezes, estava prestes a retornar e, assim, arranjaram minha passagem e fui com aquele senhor na minha primeira aventura real da vida , a qual narrarei mais adiante.

Como disse no início deste capítulo, eu queria transformar essa casa onde nasci e nossa família passou a maior parte da vida, num Museu da Família e fiquei feliz, quando, anos mais tarde, soube que Netinho a comprara através da Caixa Econômica. Pena que ele não conseguiu pagar todas as prestações e tiveram de deixá-la. Como eu já estava no Banco do Brasil, lamentei muito que não me comunicaram tal decisão, pois eu teria deixado de pagar até a minha própria casa, no Recife ou Imperatriz, para salvar a da XV de Novembro...

Tio Severino, a esposa Carminha, a sogra, e seu filho Edmilson (?) na sua famosa Brasília

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Memórias de Meio Século 30 [email protected]

Meus estudos e Gibis

Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.

(Provérbio 22:6) E ensinar-lhes-ás os estatutos e as leis, e lhes mostrarás o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer.

(Êxodo 18:20) Instrui ao sábio, e ele se fará mais, sábio;

(Provérbios 9:9)

edicava-me aos estudos como única atração e divertimento no qual sentia algum prazer, e desde criança, minha diversão era ler todos os tipos de gibis, especialmente os coloridos, da Walt Disney.

Meus primeiros livros da escola – 2º e 3º anos do Primário– de 1969 e 1970

Fiz todo o meu Curso Primário – hoje, Fundamental – no Grupo

Escolar Cônego Alexandre Cavalcante, cuja Diretora era a esposa do então prefeito, Sr. Romeu de Góes. Aliás, Silva e Netinho também estudaram ali, pois, provavelmente, era a melhor escola pública de Bezerros.Lembro-me que, até a 2ª série minhas notas sempre foram em torno de “100” (na época, a avaliação não ia de 0 a 10, como hoje). A partir da 3ª, foram baixando um pouco, mas ficando sempre acima dos 70, com algumas exceções. Lembro-me ainda do “excelente” trabalho escolar, de pesquisa, que fiz sobre o Homem

D

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Memórias de Meio Século 31 [email protected]

na Lua, em junho de 1969. Netinho comprou o jornal e, com a notícia quentinha, fiz minha pesquisa e foi o melhor trabalho da sala!

Dessa época, guardei ótimas recordações de duas professoras: Da. Josete – da 1ª e 2ª séries –, que morava na minha rua, e Da. Niedja – da 3ª série – cujo marido possuía uma lanchonete no centro e eu tinha o privilégio de ir pegar o lanche dela quase todos os dias, e lá me davam um saboroso salgadinho.

Mas, algumas recordações são meio tristes, como o dia em que fiz cocô nas calças porque a professora não me deixou ir ao banheiro (havia um certo horário para ir, durante as aulas) e eu não tive a iniciativa de insistir dizendo que era “urgente”. Voltei para casa com Netinho – que estava 4 séries à minha frente – sentindo o líquido gosmento escorrendo pelas pernas. E a gente só usava calça curta!...

Apesar da minha extrema timidez, e porque eu tinha a “cara de japonês” a professora me escolheu para fantasiar-me de chinês num dos desfiles de 7 de Setembro. (Foto a seguir.)

Isso não significa que eu também não tivesse minhas brincadeiras e amigos mais próximos. Corri muito, jogava bola de vidro (de gude) – no buraco -, lançava finca na terra, levei algumas topadas, jogando bola de pés descalços naquela Rua XV de Novembro, de calçamento de paralelepípedos...

Boletim da 1ª Série – 1968 - assinado por pai e a Profª Josete Vasconcelos

Mas, esse “brincar sozinho”, sem o acompanhamento e o carinho dos

pais, deixa a criança solitária e tendente a revoltas. Lembro-me, anos mais tarde, quando reuníamos amigos em casa para jogar time de botão e dominó

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Memórias de Meio Século 32 [email protected]

– apostando figurinhas – eu me descontrolei emocionalmente: um colega nosso, chamado Edilson, jogava dominó comigo e Silva, apostando as figurinhas. Cheguei a ganhar todas deles. Muito esperto, ele me pediu emprestado algumas para continuar jogando! O jogo deu uma reviravolta e fui perdendo seguidamente partida por partida. Ele me pagou as emprestadas e ganhou todo aquele fabuloso pacote de umas cem figurinhas que já tinha em minhas mãos garantidas! Muito revoltado com a minha burrice em ter perdido o que ganhara, fui calado para o quintal e, lá embaixo, no canto da parede do terraço, rasguei uma camisa de malha vermelha que vestia... Todavia, à medida que ia crescendo, fui percebendo que eu mesmo poderia mudar algumas coisas em mim, sem ninguém mandar. Assim foi que eliminei o hábito regional de usar a expressão “Aí” em tudo o que ia falar, como no dia em que queimei as pestanas numa garrafa velha que continha verniz de pai – quando me pediam explicação, eu com medo de dizer a verdade, só dizia que “Fui fazer cocô e aí...” – e nunca disse que, para ver o que tinha na garrafa suja que pai jogava no “lixo” do quintal, eu peguei a caixa de fósforos dele, pus o rosto na boca da garrafa e acendi o palito...

Os livros me enchiam uma lacuna afetiva. As minhas mais remotas lembranças de carinho por parte dos meus pais me levam à cama de colchão de capim onde eu dormia, talvez, pelos 5 anos, quando pai quase sempre ia me fazer cócegas com a boca soprando na minha barriga: tanto eu como ele caíamos na risada. Mas, beijo mesmo e de me pegarem no colo, eu não me recordo, pois não havia tais hábitos entre nós – pelo menos, pelo interior deste Nordeste de “cabra macho”.

Hoje, é a “Escola Estadual” Cônego Alexandre Canvalcanti.

À dir., a sala onde estudei os 2 primeiros anos

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Memórias de Meio Século 33 [email protected]

Devido aos preconceitos em torno de muitos aspectos do cotidiano, por exemplo, nunca víamos alguma mulher amamentar o seu próprio filho – fosse em casa, ou, muito menos, num ônibus ou em locais públicos – pois era algo “indecente”.Acho que todos nós, seus filhos, não fomos amamentados o tempo suficiente para adquirirmos a proteção natural de anticorpos que o leite materno transmite e possuirmos a fortaleza psicológica da certeza do amor materno em nossas mentes infantis. Acho que não compraram berço para mim. Lembro-me em casa de um certo berço que, parece-me, foi feito por pai que, pela época, fora usado por Silva, o filho mais novo. Assim, na falta de alguém me ninar, adquiri o já mencionado hábito de balançar a cabeça para dormir.Como eu não possuía a desenvoltura de Silva e Netinho, que achavam muita graça nas brincadeiras de rua e outras aventuras fora de casa, eu preferia passar mais tempo dentro casa. E como não existiam vídeo-games, computador ou não tínhamos condições de comprar brinquedos mais interessantes e criativos, eu me concentrava na leitura.

Além dos livros da escola – como o Alegria de Ler, que li em poucos dias -, eu passei a ler avidamente histórias em quadrinho [HQ] de Walt Disney e, mais adiante, gibis em geral: Almanaque Disney, Mickey, Pateta, Tarzan, Cheyenne, Capitão América, Tex, etc. Como não podia comprá-los, ficava ansioso para ir à casa de um amigo da escola, filho de um fazendeiro que morava bem no início da Rua 9 de Janeiro – era o Toinho, Antônio José de Souza Leão. Lá eu me maravilhava com caixas de gibis, especialmente os grossos Almanaques Disney que ele me emprestava sem limites, e eu voltava pra casa com os braços cheio de gibis... Cheguei a guardar uma caixa cheia deles– dos meus, quando passei a comprar no Rio de Janeiro - até ir morar no Maranhão. Mas, com algumas arrumações na casa de Bezerros, jogaram tudo no lixo - o que foi mais uma perda para a Memória da Família.

A leitura ocupava mais espaço também porque a televisão foi chegando precariamente pelo interior, através de antenas repetidoras que, no princípio, só funcionavam a partir das 15:00h ou 16:00h. Depois, foram ligando mais cedo, apesar de termos de usar antenas cada vez mais criativas para captar melhor a imagem.e nossa televisão, em P&B e usada, pegava com muitos chuviscos e a imagem se mexendo na vertical.

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Memórias de Meio Século 34 [email protected]

Até o final do Ensino Médio, eu ainda vivia num sentimento e esperança daquilo que o Apóstolo Paulo menciona na Bíblia, embora eu nunca lera o Liro Sagrado, vindo a conhecer tal poema só pelos 18 anos:

A suprema excelência do amor (ou caridade)

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não

se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

ICor 13

Vestido de Chinês, num desfile escolar

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Memórias de Meio Século 35 [email protected]

Eu gostava mais do Almanaque Disney – especialmente do perspicaz detetive Mickey- do que de Tex

Só que eu não sabia que esse tal “amor” era uma verdadeira utopia; ele não existia na face da Terra, nem mesmo entre os próprios evangélicos ou católicos (apesar de o próprio Cristo tê-lo vindo pregar insistentemente e resumido toda a sua Doutrina nele: Mt 22:36-40, 7:12; IJo 3:17-18; 4:8). Ele amor foi uma META que Deus pede que todos nós busquemos, porém, nem sempre atingimos. Eu só não sabia que, na luta pela sobrevivência do dia-a-dia, o egoísmo, via de regra, é predominante em todos os momentos da vida do homem, sejam parentes, amigos ou religiosos – obviamente, com raríssimas e louvabilíssimas exceções. Depois das HQ, à medida que ia crescendo, meu interesse por livros biográficos, psicologia e filosofia foram aumentando até, anos mais tarde, ter-me concentrado em assuntos religiosos – não só do catolicismo, protestantismo, mas de todas as religiões existentes no mundo.

Silva Netinho

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Memórias de Meio Século 36 [email protected]

Pai, o Marceneiro

Ouve a teu pai, que te gerou; e não desprezes a tua mãe, quando ela envelhecer.

(Prov 23:22)

odos nós três trazemos o nome “Joaquim”: Manoel Joaquim da Silva Neto, Severino Joaquim da

Silva, e José Joaquim da Silva Filho. Provavelmente, a mim, meu pai dedicou uma certa maior simpatia ao ter-me dado seu nome inteiro. (Semelhantemente, em homenagem à minha mãe, pus seu nome completo na minha caçula - Maria Engrácia da Silva Descendente, porquanto da sua avó ela descendeu.) Pai se casou aos 30 anos – mesma idade de mamãe - e, ainda hoje, acho que essa é a idade mínima ideal para um homem se casar, embora eu mesmo tenha “me precipitado” aos 21 anos apenas! Um fato curioso que descobri só recentemente sobre meus pais, embora tenha esta cópia da certidão de casamento deles desde quando pai morreu: Há poucos meses, revendo a Certidão de Óbito de pai, foi que descobri que, na verdade, ele só se casou com mamãe em 26.10.1965, quando Netinho já ia fazer 8 anos. Isso me retira algo da memória, de que ouvi alguém falar que mamãe tinha fugido de para se casar com pai, pois os pais dela não concordavam com alguma coisa naquele relacionamento. Eles viveram maritalmente durante 9 anos antes de oficializarem a união. Acho que nenhum de nós, seus filhos, sabia disso. O diálogo aberto dentro de uma família aumenta a união entre marido e mulher, pais e filhos. É através da aproximação de todos que a família se fortalece contra os males sociais e espirituais, tais como: depressão, falta de

T

O saudoso Sobrado, à Rua da Matriz, 63,

onde funcionou a Movelaria Ipojuca e,

tempos depois, o restaurante “O Casarão”

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Memórias de Meio Século 37 [email protected]

estímulo, problemas no emprego e no namoro, dúvidas existenciais. Não havia isto entre nós. A Bíblia nos orienta com singeleza e objetividade:

Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em UNIÃO. (...) Porque ali o Senhor derrama a VIDA e a BÊNÇÃO para sempre.

(Sl 133)

Ele possuía um Sobrado ao lado da Igreja da Matriz, no centro, onde

funcionava a sua Movelaria Ipojuca, cujo nome ele não pintava na parede externa do prédio. Apesar de ele pagar o aluguel da nossa casa, na XV de Novembro, havia uma residência no 1º andar do Sobrado onde moravam sua mãe - Vovó Mãezinha-, Tia Tide e sua filha, Anabel. Nunca conheci o ex-marido de Tia Tide: desde que me lembro ela foi sempre separada. Também nunca conheci meu avô paterno, que deve ter falecido antes do meu nascimento. Eu achava interessante ouvir meus próprios pés andando por cima daquele piso de madeira em toda a extensão do 1 º andar. De vez em quando, vinham passar algum tempo por ali Ângela e Nininho, filhos de Tia Mariquinha, de Tabira.

Seu Zé Marceneiro, como era conhecido em toda a cidade, tornou-se, certamente, o melhor marceneiro que Bezerros já conheceu. Lembro-me que ele tinha clientes de outras cidades. Quem queria algum móvel com melhor acabamento sempre procurava a Movelaria Ipojuca – que, por sinal, não tinha placas nem nome na fachada do velho Sobrado. Quando retornei ali, agora, em 2008, visitei a Farmácia Estado, do Sr. Zé Ferraz, e ele me mostrou orgulhoso o balcão com centenas de gavetas pequeninas para os remédios e as inúmeras prateleiras que pai fizera há 40 anos atrás! Ele tinha várias

Seu Ferraz e o balcão e prateleiras feitos por Seu Zé Marceneiro

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Memórias de Meio Século 38 [email protected]

habilidades: instalações elétricas, fundidor – derretia alumínio e fazia peças em perfeitos moldes -, encanador, etc. Certa vez, trouxeram-lhe de outra cidade um bilhar ou uma sinuca de 6 caçapas para ele consertar. Lembro-me das pesadas pedras pretas, parecendo de grafite, que formavam o tablado. Comecei a aprender a jogar bilhar e sinuca ali, mas Silva e Netinho é que se tornaram craques, especialmente Silva, que chegou a ganhar dinheiro em apostas.

Certa vez, ele fez um molde perfeito de madeira de um revólver que ele queria fabricar através da fundição em alumínio. Ele comprava os pistões de motor de carro, usados, derretia-os e despejava a borra na forma feita de barro. Outra obra prima de madeira foi um automóvel Aero-Willis que ele estava construindo para nós, seus filhos, podermos brincar. O carro tinha até rodas, também de madeira, revestidas de pneu – um pneu duro, sem câmara. Era uma réplica perfeita do original. Pena que ele começava algo e nem sempre terminava, e nós crescemos e o veículo nunca foi terminado. Não guardaram a lataria desse brinquedo e, mais uma Memória da Família foi eliminada. Outra obra de engenharia dele foi um avião que ele construiu de madeira, com um motor de ventilador. Ele o levava com uns 100 metros de fio para o asfalto da BR 232, num domingo de pouco movimento, e o ligava na tomada de alguma serraria por ali. Mas, como as asas eram curtas e o avião gordinho, ele sempre bicava e nunca alçava vôo. Depois de algumas tentativas, ele desistiu. Pena que pai não tinha conhecimentos matemáticos de aerodinâmica, nem tinha em mãos uma revista sobre aviões, pois ele era só prático – teoria não era com ele. (Talvez por isso – por não ter conseguido, ele mesmo, construir um foguete, ele não acreditava que o homem tivesse ido à Lua – nem mediante o meu trabalho escolar de 3ª série!...) Tia Tide era costureira e feirante, montando seu banco de confecções às quartas e sábados, em frente à Prefeitura. No princípio, Netinho, sendo o mais velho, era quem levava sua grande mala de madeira com as roupas, no carro-de-mão que pai fizera. Eu levava – noutro carro-de-mão ou na cabeça - um grande fardo amarrado com as roupas que Madrinha Dulce também vendia na feira – ela morava por trás do Cemitério, mas as roupas ficavam no Sobrado, que já era por onde a feira se estendia, pelos lados da Igreja da Matriz. Quando cresci um pouco mais, e Netinho já trabalhava no escritório de

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Memórias de Meio Século 39 [email protected]

contabilidade, passei a levar a bagagem de tia Tide e, a de Madrinha Dulce ficou com Silva. Tia gostava muito das novelas que passavam no rádio toda tarde. Como nenhum de nós ainda tinha televisão, era a maior diversão dela. Tanto Tia Tide como Vovó mãezinha me recebiam bem – não só a mim a mim como a Silva e Netinho -, naquele velho e enorme sobrado, oferecendo refrescos – os ponches – com lanche que, geralmente, eu não tinha com tanta freqüência na minha própria casa. Anabel já era professora, no Colégio das Irmãs – o Nª Sª das Dores-onde estudei um ano do 2º grau. Eu gostava de ir para o Sobrado ver os cartazes bem desenhados que ela fazia para seus alunos com aquela sua caligrafia caprichada. Ela gostava muito de revista de fotonovelas – Sétimo Céu, Contigo, etc. Mais adiante, ela arranjou um namorado que trabalhava e passava a semana em Jaboatão/Recife, na Microlite, então fábrica das pilhas Ray-o-Vac – parece-me que hoje essa empresa mudou de nome, mas ainda fabrica as amarelinhas. Eu gostava quando ele chegava por ali, pois vinha “da capital”e aquilo era uma novidade para minha mente de uns dez anos de idade. Ele era simpático e brincalhão, características essas que ainda hoje conserva num jeito jovial e bonachão.

Uma das últimas fotos de Tia Tide: com Tia Socorrinho, Zetinha, Ângela, Rosa, Naldo e alguns filhos

delas

Uma das poucas férias que nós tirávamos foi de alguns dias no sítio do pai de Lealdo, em Sairé. Ele tinha um irmão, o Ramos, que era muito alegre

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e nos levava para andar de cavalo, catar castanhas de caju e etc. Pela primeira vez eu e meus irmãos montamos num cavalo. Netinho, ao subir no animal, por algum motivo, foi perdendo o equilíbrio e caiu de costas no chão, bem em cima de um espinho de laranjeira. Apesar da dor dele, nós continuávamos sadicamente sorrindo do incidente. Catávamos castanhas por baixo do cajueiro que ficava forrado de cajus maduros que caíam do pé. Vendíamos por kilo e, assim, senti o prazer de obter um dos meus primeiros lucros financeiros da minha vida.

Pai não era de falar

abertamente com seus filhos. Embora gostasse de ler livros históricos e a Bíblia, ele não acompanhava os estudos dos filhos – apenas assinava mecanicamente o boletim escolar. Mas, parecia admirar-nos neste aspecto, especialmente a mim que me destacava dos meus irmãos na escola, pela dedicação aos livros e cadernos. Até essa época, ele costumava beber e, geralmente, perdia o controle emocional e chegava violento em casa. Numa dessas ocasiões, lembro-me que mamãe tentou acalmá-lo ou abraçá- lo e ele a empurrou de tal forma que ela caiu no chão, na porta da cozinha.Nesses momentos - acho que eu tinha uns 5 ou 6 anos -sempre se chamava Vovó Mãezinha, mãe dele – que conseguia acalmá-lo. Não sei quantas vezes isso aconteceu. Até porque ninguém na família ou os parentes mais distantes sequer comentavam fatos semelhantes a estes. Só me lembro

A Praça Narciso Lima, no seu aspecto original – hoje ela

está totalmente reformada (foto tirada da torre da Igreja da

Matriz)

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Memórias de Meio Século 41 [email protected]

dessa ocorrência. Depois disso, ele foi parando de beber e deixou totalmente. Essa traumatizante cena me ficou na memória até hoje – sem contudo eu recriminá-lo por tais atos, pois já o perdoei efetivamente.(Nota: Este e outros acontecimentos negativos são relatados aqui não com o intuito de denegrir a imagem de quem o praticou, mas, apenas como registro do fato, a fim de que todos nós possamos refletir.) Mas, quantas tragédias familiares não aconteciam naquela época e não acontecem ainda hoje nas famílias pelo Brasil e mundo afora simplesmente por falta de uns ingredientes elementares nos lares: amor, conversa aberta, entendimento, respeito, educação, perdão, compreensão, paciência e outras coisinhas mais do dia-a-dia, as quais vamos desprezando sistematicamente até formar uma bola de neve e explodir de forma dramática e, às vezes, fatal?!... Quando ele se mudou para o Rio de Janeiro, parece-me que sequer deu um beijo e um abraço em mamãe. Lembro-me, naqueles meus 10 anos, enquanto dormia no sofá de plástico verde e branco, na sala, que o vi pela fresta do lençol, passando pela sala, indo embora. Eram umas 6 horas. Ele não se despediu de mim nem deu um abraço ou um beijo nela – e acho difíciltê-la abraçado mesmo na cozinha, pois ele nunca tinha esse costume, porquanto beijos e abraços a gente não via por ali, exceto quando vinha visitas de fora.(Quatro anos depois nos encontramos e tomei a iniciativa de lhe dar um abraço na capital carioca - senão, ele só me olharia secamente ou com um discreto sorriso.) Como a maior parte dos homens nordestinos, meu pai costumava usar uma arma branca na cintura. Tratava-se de uma peixeira de, talvez, umas 7 polegadas (não me recordo ao certo desse tamanho, mas parecia grande), e ninguém tinha coragem de lhe tirar aquela arma. Como ele deixava a roupa na mesa da copa, em frente à porta do quarto onde sempre tirava uma soneca após o almoço, aproveitei uma dessas ocasiões e peguei o “objeto pavoroso”, embrulhei-o num jornal e escondi-o dentro do nosso pequeno guarda-roupa de duas portas do meu quarto. Ao acordar, ele perguntou pela peixeira, mas mamãe realmente não sabia onde ela estava e nada pôde dizer. Depois que ele saiu, eu disse para ela – sem dar o esconderijo. Dias depois, enrolei-a num jornal e fui jogá-la num terreno baldio bem distante de casa. Desde então ele nunca mais passou a andar armado. Nem precisou se defender de eventuais agressões.

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Memórias de Meio Século 42 [email protected]

O tema sexo era um tabu que ninguém ousava quebrar. Sua orientação se limitava a dizer, á semelhança da minha mãe – que me dizia para ir “pra rua” -, ele dizia à queima roupa: “Vai „machucar‟ as menininhas por aí!....” Praticar o sexo era, para ele, “machucar” alguém... Isto me deixava ainda mais receoso quanto às práticas daquilo que os homens da época pensavam – e faziam – acerca do sexo oposto, quando eu achava que isso devesse ser algo mais amoroso, romântico!

O Colégio Nª Sª das Dores não sofreu nenhuma reforma externa

Ele não vivia batendo em nós, seus filhos, como mamãe costumava fazer comigo e Silva. Porém, quando ia nos repreender era coisa pesada. Algumas vezes, quando eu e Silva brincávamos por qualquer tolice no almoço, e nos sentávamos juntos à mesa, ele pegava nossas cabeças e batia uma contra a outra... Eu achava que ouvia o crânio rachar com a pancada. Noutra ocasião, parece-me que Netinho tinha passado na banca de revistas para pegar algumas figurinhas e demorou um pouco para chegar ao almoço. Pai deixou-lhe entrar e não hesitou: pegou o cinto e foi ao banheiro onde ele tomava banho e deu-lhe uma surra...Essa foi a metodologia da nossa educação – e “das melhores”, comparadas com outros casos que ouvíamos de amigos... Os filhos eram considerados como “propriedade” dos pais.

Todavia, isso era “normal” naquela região do Brasil, tanto que tal “cultura educacional” é bem reproduzida nos primeiros trinta minutos do filme

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Lula – O Filho do Brasil, que, por coincidência, é o nosso conterrâneo ex-presidente, de Garanhuns. Mas, cá entre nós: isso não é mesmo uma forma um tanto desumana e anti-cristã de se criar uma pessoa?... Nós somos seres humanos e não animais selvagens! [E olhe que, até os animais, se nós os criarmos com gentileza e a devida disciplina,ele não nos atacará; pode ser até um leão.] Se tanta estupidez e crueldade resolvessem, o próprio povo judeu do Antigo Testamento teria resolvido o problema da maldade humana com aquelas leis do tipo escreveu não leu, o pau comeu e olho por olho, dente por dente, conforme ordenado:

Estes são os estatutos que lhes proporás: (...) Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.

êxodo 21:1,24-25

No aspecto de profissão, ele nunca nos perguntou se queríamos ser marceneiros, como ele era há décadas, ou professor ou doutor. Era cada um por si – e Deus que nos guiasse...

A Família em 1979, aprox.

Quando eu já era funcionário concursado da Caixa Econômica e passei também no concurso do Banco do Brasil – em 1982 – ele apenas se limitou a comentar indiretamente, sentado à mesa da cozinha: “Interessante: Zito com dois empregos bons e Netinho sem nenhum!...” Ele era do tipo durão: não ia a médico e dizia que, se uma comida lhe fazia mal, ele comia novamente “para o organismo se acostumar”, se alguém reclamava de algo que ele fazia, aí que ele fazia novamente, e homem que é homem não chora. Seu principal hobbie era ouvir música da Velha Guarda. Ele tinha uma coleção de centenas de discos de vinil de 70RPM – daqueles que se quebravam em vários pedaços ao cair no chão. Dentre as sua músicas, eu gostava de um famoso chorinho, ao cavaquinho, chamado “Delicado”, e das músicas de Ataulfo Alves – este já era num disco de 45RPM, do mesmo tamanho do de 70RPM, porém do mesmo material dos LP‟s e com várias

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Memórias de Meio Século 44 [email protected]

faixas de cada lado. A propósito, será que ele gostava da música Amélia Que Era A Mulher De Verdade, grande sucesso do Ataulfo, pensando que mamãe era essa amélia?... Noutra feita, numa das chuvas fortes e noturnas, e, porque o piso da nossa casa era cerca de 50cm mais baixo que o nível da calçada, e havia apenas um pequeno batente de uns 5cm à entrada, entrava muita água que corria pela sala, copa, cozinha até sair pelo terraço, minha mãe se desesperava em tirar a água com uma vassoura – não tínhamos rodo. Ele, entretanto, calmamente, sentava-se numa cadeira à mesa e dizia: “Deixa a água entrar. Amanhã vai estar tudo seco.” De fato, como a chuva parara durante a noite, na manhã seguinte, estava quase tudo seco e nenhum dano causou aos móveis ou outros objetos. Ele tinha essa tranqüilidade em enfrentar problemas, a qual não conseguia transmitir para nós através de diálogos. Talvez tenha sido essa sua frieza de coração, aplicada indevidamente também sobre as pessoas, que levou muito sofrimento ao coração de Mamãe que, bem diferente do dele, era sensível até demais.

Algum tempo depois de conhecer seu namorado, Anabel se casou com Lealdo e continuaram morando no Sobrado. Logo mais vieram o seu casal de filhos: Aldinho, que me chamava de Tuta, e Luciana, de rostinho redondinho e gordinho, muita simpática (foto a seguir). Hoje, ele se tornou o advogado Dr. Aldo – bem antes de mim, que quando comecei o curso, ele ainda era menino! -, e ela, a Professora Luciana, tal qual sua mãe. A Bíblia nos ensina que Deus derrama a vida e a bênção numa família que está unida (Sl

Eu com Luciana, filha de Anabel, na calçada de casa

– com meu cabelo a la Elvis

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133:3), e, pede,em Efésios 6:4:Vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos. E não provocar à ira significa também cuidar bem, zelar e amar os filhos... A falta de afetividade nos lares tem transformado muitos jovens em delinqüentes, baderneiros, desviados sexuais, irreligiosos, suicidas e, principalmente, rebeldes contra seus pais e todo tipo de autoridade existente na sociedade (policiais, professores, pastores, padres, políticos, etc.) Eu mesmo, depois de casado, devo ter falhado na aplicação desses conceitos na educação das minhas próprias filhas – o que lamento profundamente -, mas isso não quer dizer que tais ensinamentos bíblicos não sejam verdadeiros, pois, o fato de um médico fumar não impede que ele diga aos seus pacientes que o fumo faz mal...

Um dos pensamentos radicais de pai era:homem que é homem não chora. (Talvez por isso, quando eu me desmanchei em lágrimas sobre o caixão de mamãe, acharam que eu estava enlouquecendo ou tendo uma crise nervosa.)Ele achava que essas demonstrações de gentileza e afeto eram coisas para afeminados, tanto que dizia discretamente que todo padre era veado – não só pelos gestos afáveis da profissão sacerdotal como pelo fato de não poder ter mulheres.

Todavia, a Bíblia nos mostra inúmeras passagens em que verdadeiros homens de Deus choravam - e lutavam – (Is 38:2-5; Gn 27:38, 22:11; ISm 20:41; Mt 26:75). O próprio Jesus chorou (Lc 11:35, 19:41)! Mas, meu pai terreno não queria chorar. Porém, e graças a Deus, quando pai estava morrendo -pelo que me contaram - a caminho do hospital, ele chorou muito e dizia que “Maria é que era a mulher de verdade” (repetindo as palavras da música do Ataulfo Alves!). Acho que nesse momento ele derramou todas as lágrimas de toda uma vida de homem duro, e, consequentemente, dever ter pedido perdão a Deus que não o nega a ninguém, nem nos últimos minutos da vida (Lc 23:39-43). Nessa ocasião, eu estava morando em Brasília. Ele tinha uma tendência muito grande para leituras sobre História, países e temas relacionados com a Humanidade. Certa vez, dei-lhe um volume do Almanaque Abril, que trazia dados geográficos e políticos sobre todos os países do mundo, e ficou encantado com tantas informações condensadas em um só livro. Gostava de ler a Bíblia. Mas, concentrava-se mais nos aspectos históricos, pois admitia que a mensagem de Cristo era difícil para ele aceitar.

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Lembro-me de algumas passagens bíblicas que o deixavam encucado. Uma delas era aquela em que Jesus repreende um homem rico e exclama ao final: É mais fácil um camelo passar por um fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. (Marcos 10:17-25) Lendo isso, pai dizia: E como pode um homem entrar numa agulha?... O outro ensinamento de Cristo era o que se encontra em Mateus 8:21-22: Deixai os mortos enterrar seus mortos.Pai se remoia com isso: Ora, como pode um morto levar outro morto?!... E assim eram os “debates teológicos”de pai com sua família e seus filhos – mesmo depois que crescemos e, no meu caso, tornei-me evangélico e, portanto, conhecia a Bíblia em mais profundidade, ele nunca ia adiante nas suas elucubrações. Quando Mamãe chegou a falecer, fiz uma longa carta e xeroquei para todos os parentes, enviando-lhes pelo correio.Um anos depois,mandei uma foto dela, na cadeira de rodas, com uma mensagem de re-volta impressa no verso (reprodução na pág. 194). Atribui 100% da culpa da morte dela ao desprezo que ele lhe dedicou desde há muito, especialmente no período em que foi para o RJ.Meu ódio pelo meu genitor se mantinha, embora vários parentes pedissem para perdoá-lo, principalmente, Tia Socorrinho, católica fervorosa que sempre propugnou pela união entre os seus familiares. Mas, continuei irreconciliável.

Continuei Trabalhando no Banco do Brasil, no Recife e, vez por outra, visitava Bezerros e Caruaru.Depois de algum tempo vi que minha incriminação sobre meu genitor não era algo produtivo - e Deus é quem faz

Pai com minhas filhas, nos anos 80‟

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justiça plena segundo seu beneplácito e medidas exatas. Logo, não seria EU quem julgaria e condenaria meu pai, ou mesmo qualquer outra pessoa.

Estava surgindo a era do CD – compact disc - e fora lançada uma caixa de 3 desses discos do Orlando Silva, talvez contendo toda a discografia do cantor que ele muito admirava, tendo pai possuído dezenas de discos dovelho e quebrável vinil. Como ele não tinha toca-CD, gravei tudo em fitas K-7 no meu aparelho, comprei um rádio-toca-fitas portátil e pilhas, e, juntamente com a caixa dos CD‟s originais, levei para ele (foto a seguir). Assim, reaproximei-me daquele que eu desprezava por amor irrefletido à sua falecida esposa. Nessa ocasião, perguntei-lhe como ia o trabalho e se um salário-mínimo por mês lhe ajudaria em algo. Um tanto surpreso, ele apenas sorriu e disse que sim. Passei-lhe então a lhe dar essa ajuda por certo tempo até, eu mesmo, entrar em mais dificuldades financeiras que me impediram de continuar com tal ajuda. Quando fui aos Estados Unidos, perguntei-lhe o que ele queria de lá e ele, apenas admirado, sorriu timidamente e disse que podia ser um bandolim... Ora, bandolim é um instrumento essencialmente brasileiro – talvez o americano nem soubesse o que era um e muito menos conseguisse tocá-lo. Mas, ele pediu – e, infelizmente eu não pude lhe atender ao pedido, embora eu pudesse ter trazido algo semelhante dos EUA, e, chegando ao Brasil, compraria no Recife o seu bandolim para o dia dos pais ou o seu aniversário... Ele veio a falecer de noite, enquanto morava sozinho na casa que hoje, reformada, abriga Netinho e sua família. Nessa ocasião eu estava já

Pai ficou admirado com a caixa de CD‟s do Orlando Silva, seu ídolo

musical

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morando em Brasília-DF e recebi a notícia por telefone não tendo condições financeiras de tomar um avião para o enterro que seria logo no dia seguinte ao telefonema. Sei que Deus não levou em conta muitas coisas que ele praticou em relação á sua família – muitas por ignorância dos métodos adequados e outras por pressões de ordem financeira que todo pai de poucos recursos sofre ao tentar dar o mantimento aos seus entes queridos. Talvez,por essas atitudes do meu genitor, meus parentes, ex-esposa e até minhas filhas, achem que eu fui um mau pai e um marido pior ainda. Naturalmente, há influência dos pais sobre os filhos durante seu crescimento. Mas, a educação que tentei imprimir sobre minhas filhas, mesmo nas partes mais duras, nada tinha de inspiração da parte dele ou de qualquer outra pessoa. Agi de algumas formas rudes como que por uma espécie de “treinamento de resistência” para que elas pudessem ser garotas fortes e mais preparadas para os embates da vida.É lamentável queexagerei na aplicação e, portanto, não repetiria jamais tais “exercícios”hoje – nem com adultos, num exército ou mesmo sobre encarcerados! Igualmente, “não me inspirei nele” na minha convivência conjugal que culminou com a separação.

Como,por causa de um grito se perde uma boiada, se alguém me tivesse dado esse “grito” naquelas épocas, provavelmente a “boiada” não teria debandado pelos vales e campos da vida... Entrementes, tudo isso pode ser mudado se permitirmos o agir de Deus, conforme Ezequiel 11:19, onde Ele diz:

Tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um oração de carne.

Ele não era um homem ambicioso; também não sabia lidar com dinheiro, como alguns comerciantes locais. Provavelmente, trabalhando como marceneiro, depois de muitos anos, chegou a comprar o velho sobrado de 1º andar, no centro de Bezerros, bem ao lado da Igreja da Matriz. Quando voltou do Rio de Janeiro, pai vendeu seu único patrimônio material – parece-me que abaixo do preço que podia pegar, não sei ao certo -, deu-nos a cada um a parte da nossa herança, e o dinheiro desapareceu sem que ele aplicasse em algum imóvel ou mesmo abrisse novamente sua oficina toda aparelhada com as máquinas que possuíra antigamente – pois trabalhava de favor na oficina de um antigo colega que trabalhou na antiga Movelaria Ipojuca dele!

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Mamãe, a Costureira

Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor muito excede ao de jóias preciosas. O coração do seu marido confia nela, Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida.Ela busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com as mãos. (...) Abre a mão para o pobre; sim, ao necessitado estende as suas mãos. Faz para si cobertas; de linho fino e de púrpura é o seu vestido. Faz vestidos de linho, e vende-os, A força e a dignidade são os seus vestidos; (...) Olha pelo governo de sua casa, e não come o pão da preguiça. Levantam-se seus filhos, e lhe chamam bem-aventurada, como também seu marido, que a louva, dizendo: Muitas mulheres têm procedido virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas.

Provérbios 31:10-31

amãe não era apenas uma excelente costureira. Era também uma ótima cozinheira, doceira e confeitadeira – ou boleira. Era costume dela fazer sempre algum tipo de doce. Quase sempre a gente tinha

uma doceira cheia de arroz doce, doce de mamão, mungunzáe outros tipos. Lembro-me bem de uma doceira de vidro com uma decoração em alto relevo,muito bonita, que ela sempre colocava no meio da mesa ou em cima do nosso guarda-comida azul, cheia daquele delicioso doce de mamão...

Ela adorava cuidar bem da sua casa e da sua família, fazendo, além das roupas, tudo o mais para tornar o lar mais feliz, fosse uns jarros de plantas, uns enfeites na mesa do centro, cortinas e tudo o mais que não custasse muito dinheiro e tornasse nosso lar mais bonito e agradável.

M

Mamãe, na formatura do seu

Curso de Culinária

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Memórias de Meio Século 50 [email protected]

Parece-me que ela só tinha até a 4ª Série do antigo Primário. Pelos meus 7 anos, ela fez um Curso Comunitário de Culinária(bolos confeitados),no Colégio S. José – ou no Felismino Guedes – e, a partir daí, ela fazia nossos bolos de aniversário com uma cobertura à base do açúcar refinado Estrela, que eu adorava comer. Também aceitava encomendas de fora. Um desses bolos confeitados é o que aparece nesta foto, na 1ª Comunhão minha e de Silva, no qual ela também confeitou o próprio cálice com a hóstia (foto na pág. 51). Este foi um dos raros momentos em que tivemos uma festa com bolos e refrigerantes – mesmo que fosse um aniversário. Em época de São João, ela sempre fazia canjicas e pamonhas excelentes. Diante das agru-ras do nosso co-tidiano, creio que ela pro-curava compen-sar psico-logica-mente sua dis-tância do marido que passou quase 10 anos no Rio de Janeiro, com esses doces que fazia com tanta técnica e carinho. É como algumas pessoas dizem na expressão popular: Já basta de amargura a vida... Talvez daí tenha surgido inconscientemente a sua diabete(ou o diabetes, como já estão usando) que lhe levou à perda das pernas e, posteriormente, à morte.

O nome de solteira de mamãe era MARIA ENGRÁCIA DOS SANTOS, ganhando o sobrenome de pai, SILVA, no seu casamento oficial, somente em 1965, quando eu tinha 4 anos.

Ela era uma das costureiras mais conhecidas do centro de Bezerros. Tinha dezenas de clientes e eu ou Silva era quem fazia as entregas. Eu gostava de ir especificamente à casa de uma dessas clientes - a Maria

Eu com minha família e Maria Fernandes – ao centro

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Memórias de Meio Século 51 [email protected]

Fernandes, irmã do Seu Tilo que possuía uma padaria que fazia um ótimo Bolo Inglês e um biscoito amarelo chamado Tareco, e filha de Da. Ana, hoje falecida. Quando eu ou Silva chegávamos ali, ela ou sua mãe sempre nos davam bolos e biscoitos saborosíssimos, que comíamos e levávamos alguns para casa, os quais a gente nem tinha condições de comprar, de tão caros que eram -só podíamos comer se fosse naquela casa.

Eu, Mamãe e Silva e centro de fórmica amarela que pai fez

Maria Fernandes se tornou, além de cliente, amiga da gente e, à vezes, nos trazia alguma encomenda que pedíamos de Caruaru – e lhe pagávamos -, como um livro escolar ou mesmo meu primeiro Novo Testamento, anos mais tarde, quando decidi ser frade. Foi ela que me arranjou uma vaga na antiga CIBRAZEM – Companhia Brasileira de Armazenamento - de Caruaru, onde trabalhei por algumas semanas ou um mês.

Sendo ótima costureira, mamãe nunca comprava roupas para nós – fazia-as todas. Todo fim-de-ano, nós, os três filhos e ela,recebíamos roupas novas, o que era uma prática quase religiosa – nunca rompíamos um ano sem uma roupa nova. As fotos minha, de Silva e Netinho, até os meus 14 anos, que ilustro este Livro, são todas com roupas confeccionadas por ela.Isso me alegrava muito. Era a única época em que eu ganhava algum vestuário novo, juntamente com o sapato. Íamos aos bancos de sapato na

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Memórias de Meio Século 52 [email protected]

feira e escolhíamos felizes os “pisantes”. Lembro-me que, pelos 13 anos, na moda do “cavalo-de-aço” – parece-me que inspirada numa nova de mesmo nome, na Globo – eu comprei um desses calçados de salto altíssimo e, com uma calça boca-de-sino, abafava pela Rua da Matriz, onde havia a festa do final de ano – o réveillon -, porém, na minha timidez, nunca arranjava uma namoradinha.[Ainda não sei o motivo, mas nunca a vi fazer roupas para pai – também não o via comprando em lojas. Será que ele não gostava dos cortes dela?...]

Era nessa época de festa de Fim de Ano que, com as moedas que eu economizava carregando as roupas do banco de feira de Madrinha Dulce ou Tia Tide, eu tinha o maior prazer da minha vida em dar o presente de Natal de mamãe: um chocolate que eu comprava nos vários bancos e barracas ao

longo da rua, e corria pra casa para lhe entregar, antes que a noite do dia 31 chegasse – geralmente, era um Prestígio, da Nestlé – que era chocolate de rico! Silva também fazia o mesmo. Já Netinho, sendo mais velho, e ganhando mais, dava algum objeto de uso diário.

Ela não acompanhava nossos estudos. Eu sempre os fazia sozinho e, desde cedo, fui aprendendo isso com prazer. Inclusive Netinho agia assim. Quem tinha alguma dificuldade nos estudos era Silva. De vez em quando eu o ajudava Mas, ela, às vezes, assinava o boletim da escola, que era assinado por pai.

Quando voltei do Rio de Janeiro e passei a praticar corrida – cooper – e alguns golpes de karatê e Kung-fu e adotei uma dieta

de revistas de artes marciais, a qual consistia em tomar sempre uma colher de mel após o almoço. Como o mel de abelha puro era caro, descobri um feito a base de glucose de milho – o Karo – e mamãe sempre se preocupava em comprar no supermercado “o mel de Zito”.

Com o passar dos anos, fui percebendo que, dos três filhos, era a mim que ela dedicava mais atenção. Talvez porque eu tivesse nascido exatamente no dia em que ela perdeu sua única filha – a Carminha, de um ano apenas -

Tereza – uma amiga-vizinha,

Mamãe e Carminha – ex-esposa de Tio Severino

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Memórias de Meio Século 53 [email protected]

,que os médicos não conseguiram salvar. Acho que, quando fui trabalhar na CEF, ela deve ter ficado triste, porque eu ia partir, mas muito orgulhosa – embora nunca tenha se expressado por palavras ou mesmo por um beijo e um abraço calorosos. Já quando sua diabetes se agravou, ela aproximou-se forçosamente de Netinho; e morreu nos braços de Silva.(Lamento muitíssimo não ter correspondido a todas as expectativas dela, especialmente nos momentos em que ela mais precisou de mim – e eu achava ingenuamente que “ela não precisava de mais nada”. Realmente, eu não fazia idéia do que uma mãe ou um pai espera receber dos filhos, além de carinho e atenção...)

Uma das coisas nela que não me agradavam era seu descontrole emocional que a levava a reclamar da vida e de tudo em derredor. Lembro-

me que ela começava o dia reclamando que “faltava água”. De fato, em Bezerros, havia nessa época, esse crônico problema, em que a Compesa liberava água dia-sim-dia-não e, às vezes, demorava bem mais. Não agüentando mais aquilo, certa feita, eu desabafei: Mamãe, a senhora devia ser locutora de jogo de futebol (porque falava demais)! Prontamente, ela e quem estava ali perto, sorriram daquela minha colocação.

Entretanto, no meio disso tudo, ela devia ter clamado como fez o Salmista:

Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o

socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.

Carminha, com 1 ano, e Netinho, com 3. [13.02.1961]

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Memórias de Meio Século 54 [email protected]

Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não dormitará. Eis que não dormitará nem dormirá aquele que guarda a Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua mão direita. De dia o sol não te ferirá, nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; ele guardará a tua vida. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.

Salmo 121

A família toda na 1ª Comunhão católica minha e de Silva, com o bolo feito e confeitado por mamãe

Outra coisa que me incomodava – e muito mais! – eram as cinturãozadas que ela dava nas minhas pernas e nas de Silva, até uns 6 ou 7 anos de idade, quando, sem nem sabermos porque, estávamos na rua jogando bola ou fazendo qualquer outra coisa, ela gritava da porta da sala e, talvez porque demorássemos alguns minutos, ela já nos recebia com o impiedoso cinto que ardia nas nossas indefesas e cansadas perninhas... Mas, era a forma dura e sertaneja de educação que havia naquelas bandas – e era “das mais brandas”... Ela não era evangélica, mas, sem saber, usava os métodos bíblicos do Velho Testamento – como fazia a maioria dos pais e mães evangélicas, e muitos o fazem ainda hoje -, interpretando erroneamente versículos semelhantes a estes:

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Memórias de Meio Século 55 [email protected]

Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga.

(Prov. 13:24) A estultícia está ligada ao coração do menino; mas a vara da correção a afugentará dele.

(Prov. 22:15) Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá.

(Prov. 23:13) E a “vara” podia ser

de qualquer material ou árvore: um cipó, um graveto, um chicote, uma tabica ou mesmo um arame ou fio elétrico – se houvesse! Por esse conselho de Prov 23:13, que fala claramente “nem por isso morrerá”, se a criança não chegasse a falecer, valia tudo: espancamento que deixassem hematomas, pancadas fortes que até quebrassem um braço, uma perna ou até a cabeça, queimaduras, sufocamento, cortes, tudo enfim! A criança “só não podia morrer”! Se ela não chegasse a falecer, tudo bem! Ela podia até passar mal, vomitar, desmaiar, ter uma momentânea parada respiratória... Só não podia morrer!...

Alguns pais e mães ainda hoje fazem assim, conforme vemos pela mídia, apesar de já existirem no Brasil, em praticamente toda cidade, Conselhos Tutelares que protegem os pequenos indefesos. Como já falei, mas sem o intuito de repreendê-las, fiz alguns exercícios rigorosos com minhas filhas, ainda pequenas, mas jamais faria aquilo novamente.

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Memórias de Meio Século 56 [email protected]

Enfatizemos, portanto, que Salomão deu esses conselhos numa época em que não havia diálogo entre pais e filhos, entre marido e mulher, nem mesmo entre sacerdote e fieis! Filhos e mulheres eram como “propriedades” do pai e marido. O costume rígido e xiita era: Ver, Ouvir e Obedecer – e nunca discutir nada!... Aquilo era para uma época de pessoas de coração extremamente duro, conforme o próprio Salvador veio derrubando em Mt 19:8: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu... Mui

tristemente, muitíssimos Evangélicos ainda neste séc. XXI continuam com o coração endurecido pelas leis falsamente bíblicas, as quais são as doutrinas e preceitos de homens tão condenadas pelo nosso perseguido Mestre (Mt 15:7-9. Veja o 2º Anexo no final desta Obra).

(Sobre atitudes minhas semelhantes a essas, explico mais adiante.) Durante os cerca de 8 anos que pai passou no Rio de Janeiro,

mamãe costurou com todas as suas forças e tempo disponíveis. Ela foi, deveras, uma guerreira, empunhando as armas de que dispunha. Netinho também ajudou muito nas despesas domésticas – talvez na maioria dos gastos, pois, embora ela costurasse para muitas clientes, cobrava um preço muito popular. O que ela faturava era praticamente só para cobrir os custos do material que usava; tanto que, depois de décadas de profissão, nunca conseguiu comprar uma máquina nova ou mesmo aquela simples prensa que colocava botões – o que aumentaria um pouquinho seu lucro, de uma vez que ela pagava para outras fazerem isto.

Quando eu estava no Banco, planejei várias vezes, comprar para ela uma moderna máquina Elgin que eu via nas lojas, e que mamãe poderia usar até sem as pernas. Mas, nunca realizei este sonho, e a costureira partiu...

Quando nos tornamos pais e mais maduros é que descobrimos como poderíamos TER FEITO MUITO MAIS PELOS NOSSOS PRÓPRIOS PAIS!

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Silva, o Caçula

Quão formosos os pés dos que anunciam boas novas!

Romanos 10:15

EVERINO JOAQUIM DA SILVA nasceu a 12.04.1963, no mesmo mês de aniversário de Mamãe, possuindo uma

maior afinidade com ela, e foi nos seus braços que ela veio a falecer.

Talvez, por ser o caçula era o mais levado, o mais moleque, o mais brtincalhão. Vivia a brincar com os colegas de rua e raramente parava em casa, a não ser para comer e dormir. Aprendeu bem a jogar bola e, na sinuca, tornou-se um dos melhores jogadores da nossa pequena cidade. Talvez, se houvesse uma escolinha de futebol em Bezerros – como a do Zico -, ele tivesse se tornado um grande jogador no Santa Cruz – pelo qual eu e ele torcíamos – ou no Náutico – que era o time de Netinho. Não gostava de estudar e nem chegou a terminar o 1º Grau, hoje, Fundamental, vindo a concluí-lo já depois de casado, por meio de supletivos. Sempre que ele tinha algumas moedas, corria para uma sinuca que havia num bar, apenas duas casas além da nossa, que era do Antônio Mendonça, um senhor baixinho e corcunda, conhecido compositor na cidade e que fez o Hino de Bezerros, que começa com estes versos:

Bezerros, cidade Centenária Terra querida onde eu nasci Torrão amado, berço adorado Quero render homenagem a ti

Havia também a sinuca do Solom, que ficava bem na cabeceira, no

outro lado da Ponte do Comércio, a qual foi destruída por uma histórica enchente no Rio Ipojuca, no início dos anos 2000. Porém, a principal, era um

S

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Memórias de Meio Século 58 [email protected]

grande salão de sinucas profissionais, que ficava bem no centro, em frente ao ainda centro Cívico.

Eu me dava melhor com ele do que com Netinho, já que éramos quase da mesma idade e, assim, brincávamos com mais freqüência. Ademais, Netinho era “mandão”. Devido àquele seu jeito irreverente, era mal compreendido e perseguido por todos da nossa família, tornando-se uma espécie de ovelha negra. Acho que foi pelos seus 15 anos – eu teria uns 17 – que ele decidiu sair de casa, quase fugido. Nesse dia, provavelmente uma manhã de sábado. Mamãe tinha saído para fazer a feira - que era ao ar livre. Ele não falou para ninguém seu plano. Na hora de disse. Peguei algum dinheiro que eu tinha, de algumas aulas particulares que eu dava, e lhe entreguei. Peguei sua mão e choramos juntos copiosamente, sentados no velho sofá de forro plástico verde e branco. Foi um dos momentos mais tristes até então. Ele pegou o ônibus – acho que não foi de carona - para o Recife, procurar emprego e viver uma vida de liberdade, que não possuía na própria casa. Uma família dilacerada pela distância, pela desunião, pela falta de conhecimento.

Conhecereis a Verdade e a verdade vos libertará. (Jo 8:32)

O meu povo padece porque lhe falta CONHECIMENTO.

(Oséias 4:6)

No Recife, fez diversas coisas, tendo conseguido um emprego de cobrador de ônibus na empresa Progresso, passando a ganhar “muito” dinheiro (muito, para ele que nunca tivera um salário fixo). Mas, ele gastava tudo aquilo com futilidades – semelhantemente a mim, futuramente.

Nessa época, o famoso cantor americano Elvis Presley veio a falecer e a RCA Victor relançou todos os seus discos. Assim, Silva, comprou todos os

Silva e Eu

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Memórias de Meio Século 59 [email protected]

que chegavam nas lojas do Recife. Por aí, comecei a gostar do Rei do Rock, chegando a visitar sua Mansão, a Graceland, nos EUA, anos mais tarde.

Logo após eu ter aceito a Cristo, passei a pregar para ele. Talvez por causa de tanta insistência minha, ele resolveu ir também para a Assembleia de Deus. Mas, depois que fui trabalhar no Maranhão, soube que ele se afastara da igreja. Quando foi morar em Brasília, batizou-se na Casa da Bênção e ali se casou. Chegou a lançar um CD com belas canções de sua própria autoria, cuja capa não reproduzo aqui porque perdi o meu exemplar. Hoje ele está muito satisfeito e feliz espiritualmente na Congregação Cristã no Brasil – CCB e me tem ultrapassado em fé e zelo. Separou-se dessa última mulher e permanece solteiro até o presente momento. Ele teve o privilégio, embora de forma triste, de ter sido a última pessoa da família que mamãe viu quando estava no hospital: mamãe morreu em seus braços. A própria vida de Silva, por si só, já daria um livro: viveu em diversas cidades, conheceu diversas capitais brasileiras, teve várias mulheres – e filhos -, passou por vários perigos, sentiu a dolorosa solidão desta vida, apesar de ter sido sempre um dom Juan, e passou por algumas igrejas também. Ao conhecer a Cristo, tomou outra direção de vida e, mesmo com decepções nas igrejas por onde passou, está hoje casado com o Salvador através da Congregação, e é estável funcionário público do Distrito Federal. Pode-se dizer que, hoje, ele está realizado – tanto materialmente como espiritualmente.

Silva, quando morava em Goiânia-GO, e em fotos recentes, com sua filha – do DF – e com sua neta

– no Recife/Olinda

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Netinho, o Primogênito

Quão bom e quão suave é Que os irmãos vivam em união.

Salmo 133:1

or ser o “irmão mais velho”, Netinho exercia o papel de “2º pai” sobre nós. Lembro-me, certa vez, que candidatei-me para uma vaga no 1º

supermercado que surgiu em Bezerros – o Novo Dia, que ainda existe lá – e fui escolhido. Na manhã em que eu me preparava para ir ao trabalho, ele fez seu discurso “semi-direto”- pois em casa não se falava diretamente - e cheio de indignações, tentando mostrar-me que aquele trabalho não era para mim e que eu

“merecia coisa melhor”. Diante de tanta insistência, desisti de ir ao novo emprego, embora estivesse intimamente indignado com a postura dele.

Todavia, ele acertava também.Quando estávamos em Sta Inês-MA, para instalarmos nossas empresas, foi mais uma das suas insistências a minha inscrição no concurso da Caixa Econômica.Ele até mandou o dinheiro da inscrição. E deu certo! Contudo, realmente é muito desagradável termos um cara nos perturbando em quase tudo o que fazemos, especialmente quando somos adolescentes! Seria bom que os filhos mais velhos compreendessem isso e pegassem de leve. Mas, o que fazer, quando nosso verdadeiro pai estava distante e nossa mãe, trabalhando e cuidando da casa não tem tempo para lazer e descanso?... (Entrementes, quando estamos em situações delicadas, e conforme nossa bagagem cultural e psicológica, muitas vezes agimos grosseiramente no intuito de obtermos o resultado positivo...)

A tradição judaica dizia que o filho mais velho tinha direito a porção dobrada da herança. (Dt 12:17). Indiretamente, mas também como uma tradição tácita, pelo nosso país, naqueles anos, também havia uma crença semelhante. Assim, o filho mais velho era considerado uma espécie de vice-pai. Porém, nem o próprio do Código Civil Brasileiro daquela época – o de

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Memórias de Meio Século 61 [email protected]

1916, que foi substituído em 2001 por um mais moderno – admitia tal discriminação em detrimento dos demais filhos mais novos: a partilha da herança já era feita em partes exatamente iguais – confira com o art. 1.271 daquele CC (de 1916). O primeiro emprego dele, lá pelos 13 anos, foi de office-boy no escritório contábil de Ayrton Santa-cruz – ORTEC – Organização Técnico-Contábil -, lá mesmo, na nossa R. XV de Novembro. Ali, foi prosperando e chegou a dominar toda a técnica contábil, vindo a tomar conta total daquele escritório, sendo o braço direito do Ayrton.

Com esse patrão, adquiriu o hábito deingerir bebidas alcoólicas e foi se aprofundando cada vez mais nesse passatempo. Houve vários incidentes ligados a essa prática, os quais deixavam a todos nós muito preocupados, principalmente a mamãe que, num momento de desespero, chegou a dizer para todos nós que “se ele não deixasse de beber ela se mataria”.

Foi ganhando peso cada vez mais peso – chegando a uns 120 ou 130kg - e, depois de passadas algumas décadas nesse hábito, veio nos últimos anos a ter complicações cardíacas, vindo a sofrer um princípio de enfarte, tendo sido submetido a angioplastia e outros desconfortáveis tratamentos médicos.

Ainda hoje,ele está com excesso de peso, hipertensão, dificuldades de andar e outros males físicos que lembram muito a figura de mamãe, que adornava seu armário com caixas e mais caixas de medicamentos. Bom seria se ele exercesse sua gigantesca força de vontade e perdesse uns 30 kg,o que é possível sem o auxílio de redução de estômago e outras ci-

Netinho, Nice – filha do Seu Cleodon -, Nininho, nosso primo e eu,

quando trabalhava no Foto Vieira, na Praia de Piedade (Jaboatão/Recife)

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Memórias de Meio Século 62 [email protected]

rurgias.Todavia, e acima de tudo, ainda há o Médico dos Médicos – Jeová Rafá, conforme as Sagradas Letras registram sobre doenças, stress e várias outras enfermidades:

Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.

Mt 11:28-30

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.

Is 4:53

Contudo, Neto foi um baluarte na nossa família! Foi ele quem trouxe nossa primeira TV – usada e ainda em preto e branco -, nossa primeira geladeira e tantos outros objetos para casa. Lembro-me que era ele quem se inquietava quando ia chegando o sábado e tínhamos de fazer feira! E Pai, no Rio de Janeiro, ao que me lembro,só mandou dinheiro umas duas ou três vezes para mamãe.

Clinton,Netinho e Rose, em casa, e com o Sem. Cristóvão Buarque-DF, quando visitando PE

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Memórias de Meio Século 63 [email protected]

Rio

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Memórias de Meio Século 64 [email protected]

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Um garoto tímido na Cidade Maravilhosa

Se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito?

Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.

Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua força. Juízes 6:13-14

elos 14 anos, comecei a alimentar a idéia de ir buscar meu pai que, há 4 anos fora para o Rio de Janeiro e

não dava mais notícias. Era, de fato, uma atitude muito ousada para um adolescente. Mas, minha mãe aceitou a idéia e, finalmente, conseguiu algum dinheiro para comprar a minha passagem de ônibus. Assim, no início de 1976, acompanhado de um conhecido pedreiro que sempre viajava para São Paulo, e agora ia pro Rio, lá fui eu na minha missãode adolescente sonhador. Nunca tinha ido a uma cidade grande além do Recife - e poucas vezes - lá pelos 7 anos de idade, com a Tia Tide que fazia compras pelo centenário Mercado São José, para vender na feira de Bezerros, ou com minha mãe para visitar sua prima Ovídia, na cidade de Paulista. (Numa dessas viagens de Tia, ela me comprou um trem de lata no Mercado, que me fascinou, apesar do risco de a lata me arranhar.)

A capital carioca me causou certo impacto e passei a sentir outra realidade, com jovens mais dinâmicos e garotas mais afoitas do que no meu interior pernambucano. Fiquei morando na curta rua sem asfalto ou calçamento, chamada Itapetininga, no bairro de Vicente de Carvalho, com meu Tio Manoel, irmão do

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Aos 14 anos – última foto tirada em

Bezerros, antes de viajar para o Rio de Janeiro em Jan/1976

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Memórias de Meio Século 66 [email protected]

meu pai que, nessa altura desligara-se profissionalmente dele, indo morar na sua própria oficina no bairro de Irajá. Meus contatos paternos eram rápidos e às vezes ríspidos.

Embora pai tenha me recebido com certa alegria reprimida, levando-me a uma loja no Centro – na Rua Direita?... – onde comprei “muita roupa” como nunca tinha comprado – acho que foram: 2 calças de padronagem igual – só mudando as cores principais, sendo uma rosa suave, 2 bermudas, também da mesma padronagem, e acho que mais 2 camisetas. Fiquei um

tanto maravilhado com a atitude do meu pai que nunca me tratara com tanta atenção. Aliáseu nunca entrara numa loja para comprar roupas, pois minha mãe, costureira hábil, sempre fazia nossas roupas.

Depois desse banho de loja, nunca mais tivemos uma maior aproximação, até porque, já era de costume, lá em casa, nunca haver relacionamento franco e aberto entre nós, na família. No Rio, Não passeávamos juntos e eu sempre ia lhe procurar – não só para pedir algum dinheiro, embora eu estivesse trabalhando em alguns empregos ali, como também para falar da

situação de mamãe, sobre o que, não raro, discordávamos. Logo após chegar à Cidade Maravilhosa, matriculei-me na 8ª Série do 1º Grau, no saudoso Colégio Meira Lima (existirá ainda hoje?...), que eu pagava com o meu salário mínimo– ou na falta, meu pai e meu tio, me ajudavam. Meu Tio Manoel Joaquim da Silva Filho, irmão do meu pai, morava maritalmente com uma mulata forte numa casa de propriedade dela, em cujo quintal havia outra casa, onde moravam parentes dela. No Rio é comum um terreno só conter várias residências, por economia de espaço de cidade grande que cresce assustadoramente. Fazia só uns 3 anos que o Estado da Guanabara passara a se chamar Estado do Rio de Janeiro, o mesmo nome da capital.

Em 1976, logo após chegar ao Rio de

Janeiro, com a calça cor de rosa recém-comprada

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Foi aí que comecei a ter meus primeiros contatos com garotas. Obviamente, não eram namoradas fixas. Mas as meninas cariocas eram bem mais afoitas que as minhas conterrâneas interioranas, e eu, na minha extrema timidez, não conseguia me libertar dessa prisão psicológica que tanto me angustiava e continuava na minha virgindade física.

Pela primeira vez fui a estádio de futebol. Foi o gigante do Maracanã. Nem me lembro qual foi o jogo, mas acho que um dos times era o Flamengo pois fui com os vizinhos dos fundos da nossa casa e eles torciam por esse. Talvez fosse o clássico FLA-FLU (Flamengo X Fluminense) – e eu comecei a alimentar uma certa simpatia pelo Flu. Pena que não bati nenhuma foto – até porque foi de noite, no meio da semana, e o flash era descartável – queimava-se e jogava-se fora. (Ainda hoje mantenho essa câmera fotográfica portátil Kodak que tio Manoel me deu.) Como nunca gostei de carnaval, não me interessava em ir à Marquês de Sapucaí – na época ainda não existia o Sambódromo, do Oscar Niemeyer -, apesar de os meus vizinhos – pai e filhos – comprarem suas fantasias e saírem alegres naqueles desfiles.

O carioca sempre foi muito bossal e brincalhão. Nessa época era forte o preconceito contra os nordestinos que, não importando o estado de origem, eram chamados de Paraíba. Um desses meu vizinhos amigos era um cara bem gaiato que dava aquela gargalhadas estraladas e sarcásticas. Certa vez, ele apareceu com uma camiseta onde estava escrito “MIAMI”. Como eu ainda começava a descobrir a cultura americana e a aprender um pouco de inglês, não tinha ouvido falar muito dessa grande e litorânea cidade turística do estado da Flórida. Olhei para a camiseta e li assim: Mi-a-mi – com a pronúncia da primeira sílaba em “i” mesmo! Esse meu amigo caiu numa gargalhada escandalosa que me deixou sem graça, apesar de eu continuar sorrindo por causa da risada dele, e berrou pra mim: É Maiami, Paraíba!...

Pai, numa foto do Rio de Janeiro

(a única que tenho dele ali)

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Memórias de Meio Século 68 [email protected]

Voltei para Pernambuco, e, quatorze anos depois, em 1989, quando fiz minha primeira viagem aos EUA, coincidentemente, tive de pegar o avião no Rio e aproveitei para passar na casa de Tio Manoel. Fiquei só uma hora aproximadamente, mas foi o bastante para esse meu amigo aparecer por ali – pois ele morava ainda com a família na casa dos fundos. Então eu o cumprimentei e disse-lhe: Maurício, eu estou indo pra Mi-a-mi (com o mesmo “i” daquela época)... Ele sorriu meio sem graça, esquecendo totalmente aquela gargalhada zombeteira de outrora.

É como está escrito: Não por força nem por violência, mas pelo meu espírito. (Zacarias 4:6) E, bem apropriadamente, ensina-nos a Palavra:

Não vos vingueis a vós mesmos, mas daí lugar á ira de Deus. (Rm 12:19)

Apesar da minha

presença e insistência, pai não quis – ou não pôde – voltar comigo ao Nordeste, e “minha missão” não fora cumprida...

Voltei para Pernambuco sem o meu pai mas já com um emprego certo – auxiliar de fotografia na própria casa-foto de um primo de minha mãe, no Recife, no bairro de Areias (o Foto Vieira, do Sr. Cleodon Vieira).

Com Tio Manoel e Gininha, minutos antes de embarcar para os EUA – 1989. (Por trás, o Morro do Juramento)

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Meu 1º emprego oficial

Do suor do teu rosto comerás o teu pão,

Gênesis 3:19

igorosamente, meu primeiro emprego foi mesmo em Bezerros, pelos 13 anos, quando comecei a ajudar a Netinho como office-boy – na época não existia esse nome – no escritório de contabilidade onde ele já

trabalhava há alguns anos. Naturalmente, era totalmente informal: sem carteira assinada, sem cartão de ponto, sem salário mínimo – só uma gratificação semanal. Na cidade do Rio, já consegui o meu primeiro salário mínimo integral! E batendo aqueles característicos cartões de ponto que eu via nos livros e filmes! Era um salário e tanto para mim! Embora não fosse com carteira assinada – o que hoje não existe mais, numa cidade grande como aquela e numa empresa daquele porte -, eu batia o cartão, pegava ônibus para ir e vir e almoçava de marmita. Era num bairro próximo,na zona norte,o de Ramos, na Fábrica de Velas Nª Sª de Fátima, as quais, por sinal, eram vendidas para todo o Brasil, inclusive eu as conheci na minha terra. Não me lembro como descobri tal vaga. Acho que foi pelo jornal, pois meu Tio costumava comprá-los aos domingos e, várias vezes, saíamos pelos vários bairros cariocas buscando terrenos ou máquinas para seu trabalho.

R

Pai trabalhava próx. da Av. Getúlio Vargas, no Catumbi. Estou em pé

no cano (1976)

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Memórias de Meio Século 70 [email protected]

O curioso é que, após alguns dias de trabalho, o dono da empresa, um holandês branco e gorducho me chamou ao escritório e me deu o cargo de vice-supervisão! Com apenas 14 anos de idade, aquilo me surpreendeu enormemente, pois eu não tinha idéia do que era supervisionar um grupo de empregados em real atividade. Assim, fui chefiar a minha bancada onde separávamos e encaixávamos as velas. Éramos um grupo de uns seis adolescentes, todos na minha faixa etária. O mais velho era um negrão (sem nenhuma conotação preconceituosa) de uns 16 anos, com cabelo black-power – que era moda na época – e que não admitia que eu, mais novo na idade - e talvez também na empresa – lhe desse ordens. Certa ocasião, ele não me obedeceu. Discretamente, dirigi-me ao supervisor e narrei-lhe o ocorrido. Prontamente, o supervisor e eu dirigimo-nos ao colega rebelde, e o supervisor, um delicado e educado negro, conversou com ele ali mesmo e, inevitavelmente, teve de demiti-lo sumariamente. Com o seu gingado tipicamente carioca, o recém-demitido empregado se virou para mim, na frente de toda a bancada, menos na do chefe, e apontou o dedo para mim ameaçando-me: Lá fora a gente se encontra! Todos nós sabíamos que, às 16:00h, ia haver um acerto de contas na saída da fábrica. Eu, que gostava de praticar em casa várias posições de karatê e até comprei um grosso livro dessa arte marcial – que eu já pretendia comprar pelo reembolso postal desde Pernambuco -, analisei minha calça para ver se podia usar as pernas com liberdade. Eu vestia uma calça boca-de-

sino marrom listrada, de um tecido grosso semelhante a lycra que deixava as pernas totalmente livres. Assim,

preparei-me psicologicamente

para o confronto. E os colegas ficaram como que torcendo caladinhos para ver a briga.

O Pão de Açúcar, que não visitei na época – somente agora, em 2007

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Memórias de Meio Século 71 [email protected]

As 16:00h chegaram, peguei minha marmita, bati o cartão de ponto e saí para a rua naquele bairro de Ramos – onde atualmente o ex-governador Garotinho construiu o Piscinão à beira-mar: olhei para um lado e outro e nada! Pensei que o negrão rebelde poderia estar me esperando em qualquer ponto até a minha parada de ônibus. Fui andando cautelosamente e meu oponente não apareceu. Essa foi a única ocasião que tive até hoje de poder testar minha habilidades em artes marciais de uma forma pública, mas, felizmente, não deu. Apesar de eu não ser evangélico então, sequer lia a Bíblia, posso afirmar como está escrito:

O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra.

(Sl 34:7) Não me recordo exatamente o que houve depois desse episódio, mas o fato é que eu não demorei muito nesse emprego. A propósito, a partir desse incidente, percebi que essa era uma função muito comprometedora para meus tenros 15 anos. Acho que não quis ficar nem mesmo no meu cargo anterior – o de encaixador de velas. Durante esses cerca de 14 meses que fiquei nessa cidade, trabalhei também durante um mês aproximadamente, vendendo o entãoMontepio GBOEX – hoje Gboex Previdência Privada - Sobrando-me tempo e Tio Manoel vendo que eu gostava de trabalhar, ele me levou para sua oficina de marcenaria para eu lhe ajudar. A oficina era um velho casarão localizado no bairro Catumbi, pelo Centro, próximo da Av. Getúlio Vargas, do famoso Presídio da Frei Caneca e do grande prédio da Cervejaria Brahma que foi implodido neste ano de 2011 para dar maior expansão ao sambódromo. Esse casarão era uma espécie de condomínio de marceneiros, onde havia vários profissionais, cada um com sua bancada num determinado espaço aberto. Creio que, como era uma antiga construção, também deve ter dado espaço a algo mais moderno. Havia a serra circular, a serra de fita, a tupia, o desempeno, a lixadeira elétrica e outros maquinários que era de um certoproprietário que alugava o espaço aos marceneiros. Meu tio ficava no 1º andar, que era de piso de madeira, com varandas e uma área aberta que dava vista para o salão no térreo. Ao lado da bancada de Tio, havia um português que era muito simpático e, vez por outra, me dava uns lanches gostosos.tio tinha um

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Memórias de Meio Século 72 [email protected]

dedicado empregado chamado Morais que era militar e, parece-me, por causa do Exército (?), deixou o serviço ali. Com a presença paterna do meu tio, fui aprendendo a envernizar, lixar, e fazer pequenos móveis, como uma caixa de madeira de tamanho semelhante ao de uma pasta de executivo, que eu folheei com folhas de jacarandá, envernizei e coloquei uma pequena fechadura. Ele ainda me dava uns trocados como pagamento. O trabalho em família enriquece a família não só financeiramente,mas, e principalmente, moralmente e fraternalmente, pois torna a família mais unida aumentando os laços entre pais e filhos – ou tios e sobrinhos, como no meu caso.Além de se poder, desde cedo, aprender a lidar com dinheiro (sabendo-se economizar e a entender o real valor dele – e que falta ele faz), não se deve criar os filhos na ociosidade, excesso de lazer e mimos, nem exigir demasiado da sua capacidade física e mental para eles tenham um crescimento saudável e natural, coisa que não acontecia pelo interior daquela minha terra, com crianças no trabalho rural desde pequenina ou mesmo carregando pesadas latas de água na cabeça – até mesmo nas cidades, onde não havia água da rede públicatodos os dias.

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Memórias de Meio Século 73 [email protected]

Meu Pai X Meu Tio

omo eu saíra da minha casa ao encontro do meu genitor numa outra cidade, obviamente, ele é que deveria me acolher na residência onde habitasse. Porém, pai morava num barraco, um pequeno quarto de

tijolos num terreno onde ele estava tentando instalar uma tornearia mecânica no bairro de Irajá e não possuía as mínimas condições para receber um garoto estudante de 14 anos, salvo se fosse mesmo a última opção. Como Tio Manoeltinha sua casa com um quarto sobrando, este me hospedou por tempo indeterminado. Ele morava com sua companheira, Da. Maria, e a filha de ambos Alexandra, uma simpática loirinha de cabelos encaracolados que devia ter uns 5 anos naquela época e a Gininha, que era uma filha adotiva ou afilhada –nunca soube ao certo - da sua companheira.

A Praia do Leme, na zona Sul, que só via de longe na adolescência. Aqui, em Dez/2000.

Na oficina de torneiro mecânico de pai, ainda sendo instalada, eu ia sempre conversar com pai e fazer um cafezinho num velho fogareiro que ele tinha. Havia umas telhas inglesas, grandes, que ele estava usando para terminar o telhado da oficina. Praticando meu karatê, eu costuma empilhar algumas e metia a mão para quebrá-las. Um dia, ele começou a estranhar tantas telhas quebradas – e eu não entendia que estava atrapalhando o futuro telhado dele... Numa dessas visitas, falando sobre mamãe, ele se zangou e me perguntou se eu “não me mancava” de estará cobrando aquilo dele – como se os filhos não devessem defender a mãe ou se envolver nos

C

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Memórias de Meio Século 74 [email protected]

problemas da família. Prontamente, eu lhe rebati: O senhor é que devia se mancar... Eletinha tido vários casos com mulheres dali e, por último, tinha um relacionamento bem forte com uma viúva negra, literalmente, que tinha um apartamento num pequeno prédio bem ao lado da sua oficina. Ela até que me recebia muito bem e me servia lanche com refresco de vinho com gelo em formato de bolinhas. Eu gostava daquela sua gentileza. Aos domingos, Tio costumava sair comigo para conhecer os bairros do Rio. Comprava um jornal e ia procurando maquinários ou terrenos. Eu gostava muito desses passeios.

Quando eu comecei a trabalhar e estudar, era somente nos finais de semana que a gente se via. É curioso como a vida na cidade grande é agitada: ele saía bem cedinho para trabalhar, eu, como trabalhava bem mais perto, saía uma hora mais tarde, mas voltava pelas 17h; ele chegava pelas 19h, quando eu já estava no colégio; quando eu voltava da aula, ele já estava dormindo. E, assim, todos os dias úteis da semana. Só no sábado, quando ele trabalhava apenas até o meio-dia, é que nós dois podíamos nos ver. E o domingo era folga para todos nós. Nunca falávamos da situação de pai e nossa família. Parece-me que já havia se desentendido com ele e, portanto, preferia se manter distante agora. Mas, me tratava com seu próprio filho.

Nas minhas horas de folga – e eram muitas -, eu ficava lendo meus livros e gibis que passei a comprar com mais facilidade – pois agora possuía algum dinheiro e mais acessos – ou fazia algum serviço braçal com Tio ou mesmo sozinho. Como morávamos bem no sopé do Morro do Livramento – onde, posteriormente, viveu o famoso traficante Escadinha, que veio a se converter ao Evangelho depois de preso -, vinha muita água das chuvas e uma das duas tubulações de manilha de cerca de 50cm vivia cheia de areia de outras enxurradas. Assim, decidi que tiraria toda aquela areia ao longo de uns 20m de canos que passavam pela lateral da casa. Peguei ali umas ferramentas de Tio – enxada, pá e outras – esgueirei-me por dentro da manilha e fui cavando, saindo e tirando a areia. Engatinhava até lá dentro, sentindo um gostoso frio da areia molhada, e voltava puxando pacientemente a areia.

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Memórias de Meio Século 75 [email protected]

Tio Manoel (à dir.), com seu empregado e sogro (à esq.) na sua marcenaria, em 1989

Quando Tio viu aquele meu serviço, ficou admirado, me elogiou e, na sua criatividade, cavou comigo um buraco no meio do percurso, ao lado meu quarto, e fez uma abertura na manilha de cimento, por onde eu podia entrar e continuar cavando, diminuindo assim a distância para trazer a areia para fora. Isso ajudou em muito meu trabalho de tatu. No final, ele fez uma fôrma de madeira, em duas bandas, penduradas por arame, e colocamos cimento, perfazendo o contorno superior daquele cano. Depois foi só cortarmos os arames que a seguravam e puxar pelos outros que ficaram por dentro da tubulação até o exterior, pela horizontal. Nunca mais as chuvas inundaram aquela casa.

Ele gostava de tocar violão e, quando bebia um pouco em casa, saía cantarolando e caminhado como um trovador. Foi dele que eu ganhei meu melhor presente até então.

Num dos meus gibis vi o anúncio de um microscópio e desejei comprá-lo. Mas, era um pouquinho caro e, na ocasião, eu estava sem emprego. Tio perguntou-me então se eu o queria mesmo e prontamente mandou-me encomendá-lo. Aquela dádiva chegou pelo reembolso postal. Como as instruções eram em inglês, tive meu primeiro trabalho de tradução: traduzi quase todas as cerca de dez páginas, e fui datilografando o texto. Reproduzo aqui algumas dessas páginas que ainda conservo, juntamente com o rascunho. Foi aí que eu comecei a gostar de língua estrangeira. Pena que, através das minhas várias mudanças, quem estava do meu lado não

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Memórias de Meio Século 76 [email protected]

gostava de guardar essas coisas como lembrança para a posteridade, e meu querido microscópio desapareceu. Lembro-me de tê-lo deixado no apartamento, em Jaboatão, antes de me mudar para Brasília.

Assim, Tio Manoel foi, de fato, mais presente naquela fase da minha

vida do que meu próprio pai.Quase sempre que eu me encontrava com Pai, procurava puxar assunto sobre mamãe e ele, que nunca gostou de conversar com a família, sempre se irritava com minhas colocações. Lembro-me que num dos nossos debates queima-roupa, ele se reclamou comigo: Você não se manca, não? Eu prontamente retruquei: Eu?!... O senhor é que devia se mancar! Mamãe lá em casa esperando... E assim, eu tinha de me afastar para os ânimos não se inflamarem mais, e voltava para Vicente de Carvalho caminhando uns vinte minutos até chegar àcasa doeu Tio.Às vezes, eu pedia dinheiro e ele me dava alguns trocados. Mas, nunca o suficiente para pagar meu colégio ou comprar roupa ou livros. (As roupas foram só aquelas da farra na loja, logo assim que cheguei ao Rio, porque, parece-me, ele recebera uma quantia razoável por algum serviço, mas o dinheiro acabou logo.

As instruções do microscópio japonês que comecei a traduzir, em inglês – 1976

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Memórias de Meio Século 77 [email protected]

[Obs. A página da direita não corresponde á da esquerda, pois só localizei estas.]

A Bíblia já orientava aos pais judeus (e isso ainda vale para hoje):

Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele

(Prov 22:6).

Anos depois que deixei a Cidade Maravilhosa, Tio Manoel se mudou com a família para o interior, a cidade de Resende. Cheguei ainda a receber uma carta da Alexandra, que se tornara professora. Tio chegou a fazer uma visita a Bezerros, durante aqueles 20 anos, até vir a falecer há uns 10 anos atrás, aproximadamente.

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Memórias de Meio Século 78 [email protected]

MEUS DILEMAS DE ADOLESCENTE

Alegra-te, mancebo, na tua mocidade, e anime-te o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do

teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas Deus te trará a juízo.

Afasta, pois, do teu coração o desgosto, remove da tua carne o mal; porque a mocidade e a aurora da vida são vaidade.

Eclesiastes 11:9-10

ão obstante eu fosse muito pensativo, deixava sempre transparecer uma atmosfera de vai tudo bem e de uma felicidade infinita. Até certo ponto era verdade, pois que eu não me preocupava tanto com meu

futuro como outros adolescentes naquela situação familiar em que eu me encontrava. Mas, temas como sexualidade, relacionamento com garotas e mesmo amizades com meninos da minha idade, profissão a escolher e outros ainda não tinham sido debatidos com ninguém e eu apenas me virava como podia com os livros que comprava, pois nunca gostei de conversar sobre esses assuntos que eu considerava sérios demais para serem abordados com expressões de baixo calão e de maneira depreciativa ou mesmo sem uma base sólida. Mas, quem já escapou de passar por certa “crise da adolescência”?

N

Na esquina da fábrica Brahma - demolida agora, em 2011 – próx.

do trabalho de pai, no Catumbi

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Memórias de Meio Século 79 [email protected]

Essa minha desinformação era tamanha que me aconteceu um evento no qual cometi a maior gafe da minha vida, acredito que até hoje.Perto da nossa casa, havia uma vizinha mulata, alta de corpo esbelto e esguio, somente um ano mais velha que eu, que me chamava a atenção. Mas, tímido como eu era, jamais teria coragem de chegar até ela e propor namoro, ou mesmo puxar uma conversa trivial.Eu só ficava de longe admirando-a e sorrindo, e, quando ela ia lá por casa, meu coração fervia, mas só saía um oi sorridente e pronto!

Ela me convidara para a festa do seu aniversário, ali mesmo, na casa

dela, a umas três casas rua abaixo. Preocupado em levar um presente que não fosse muito fraco, e com pouco dinheiro que tinha, passei numa farmácia e escolhi nas prateleiras o frasco de perfume que fosse mais atraente – nem me preocupei com a suavidade da fragrância, o exterior impressionaria mais! Assim, paguei por aquele belo frasco e pedi embalagem para presente. Saí contente com o pequeno embrulho. Na noite da festa, quando a bonita aniversariante abriu o meu pacote, deu um sorriso sem graça, mas agradeceu!... Eu não conhecia o produto que dei á moça dos meus sonhos: eu lhe dera um cosmético da marca exclusivamente masculina - Denin – uma loção após a barba! Como o vendedor da farmácia devia ter achado que aquilo era para meu próprio uso, apesar de eu ainda não ter nem um fiapo de bigode, ele ficou calado. Ali, no meio das amigas e amigos dela, fiquei tão

A 1ª vez que fui a um Museu (o Nacional) e a um zoológico (na Quinta da Boa Vista-?)

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Memórias de Meio Século 80 [email protected]

envergonhado que nem tive coragem de pedir desculpas a ela, e acho que nunca mais falei direito com aquela morena alta. Mas, ela, sempre alegre como era, ainda me cumprimentava com um sorriso - mas um sorriso meio diferente.

Tio Manoel molha as manilhas que ele mesmo fez – iguais àquelas em que entrei para desentupirhá

13 anos (Foto de 1989)

Gafes como essa seriam facilmente evitadas se eu tivesse tido as devias instruções dos meus pais, como uma família normal, na qual todos podem conversar abertamente acerca de todos os temas da vida, com o devido respeito mútuo. Mas, comunicação não era uma virtude entre nós. E já dizia o conterrâneo Chacrinha: Quem não se comunica se trumbica. E a Bíblia mui acertadamente adverte:

Comunicai com os santos nas vossas necessidades. (Rom 12:13)

Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. (Sl 127:1)

Certa vez, como eu ia frequentemente ia à marcenaria de Tio Manoel e pai, no centro, eu tinha de pegar o ônibus 347 – Vaz Lobo-Tiradentes. Como eu não tinha dinheiro – e não o pedira a Tio -, e copiando o costume dos amigos cariocas, sentei-me antes de passar pela a roleta – que ficava atrás do

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Memórias de Meio Século 81 [email protected]

ônibus – para eu poder descer quando alguém fosse subir. Como já estávamos chegando ao terminal, ninguém ia subindo, só descendo! O jeito foi me angustiar até o terminal, na Pça Tiradentes, confessar o crime ao cobrador e voltar caminhando uns 3km até o Catumbi... No aspecto religioso, eu nãotinha dilemas, como também não tinha fé. Até porque Tio Manoel e pai nunca professaram nenhuma fé prática. Como a grossa maioria dos católicos nominais do Brasil, eu também não praticava nenhum credo. Como fazia anos que eu não ia mais às procissões e missas com minha falecida avó e, na minha família, nem Mamãe tinha o costume de ir à igreja católica os domingos, eu não possuía nenhuma fé religiosa com a qual pudesse me valer nas minhas angústias existenciais.

Porém, foi diante da realidade diária que vi ali, naquela que era e é uma das maiores e mais populosas cidades do mundo, que se desenvolveu no meu coração e mente a sutil idéia da não existência de um Deus que eventualmente se preocupasse com o destino das massas humanas. Não foi um pensamento de revolta ou ódio ao Catolicismo ou às demais religiões existentes. Foi algo, digamos assim, empírico e sem fanatismos. Nas páginas seguintes, explico como isso se deu, principalmente como encontrei um mentor dessa idéia ateísta no Recife.

Mesmo já apreciando leituras de natureza psicológica e de auto-ajuda– que, na época, não se chamava assim -, eu não tinha ninguém que me mostrasse verdades palpáveis – na Bíblia ou fora dela - como esta:

Quem observa o vento, não semeará, e o que atenta para as nuvens não segará.

Eclesiastes 11:4

Nisso tudo, a ausência diária de um pai ao meu lado, influenciou demais no meu equilíbrio emocional e, embora eu fosse um tanto “calmo”, pensativo e estudioso, não pude evitar tirar o meu primeiro e único ZERO na escola! Aquilo foi a pior tragédia que me aconteceu ali, no “Sul”. Ei-la: A matéria era Matemática, e o assunto: Radiciação. De fato, um tema ligeiramente delicado e que requer uma maior atenção e concentração. Ao receber a prova, rasguei-a e amassei-a discretamente com muito ódio... Após terminar a aula, refleti melhor, fui à lixeira e peguei o paguei amassado e guardei-o, pois, apesar de tudo era “a minha prova”. Quatro meses depois,

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Memórias de Meio Século 82 [email protected]

respondi sozinho a toda as questões e datilografei o resultado numa folha á parte. Consegui recuperar-me nas provas seguintes e concluí o 1º Grau naquela capital.

A fatídica PROVA DE MATEMÁTICA – 8ª Série – em que eu tirei o único ZERO da minha vida de

estudante

Enquanto me preparava para voltar à minha terra natal, mamãe arranjou para mim uma ocupação de auxiliar de fotografia na própria casa de um primo terceiro dela, no Recife. Fiquei muito feliz com a notícia, pois eu sairia de uma capital para outra.

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Memórias de Meio Século 83 [email protected]

Rec

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Memórias de Meio Século 84 [email protected]

Após voltar do Rio, em frente de casa

Mesmo não sendo evangélico, nessa época, fui assistir ao Pr. americano Rex Humbard, no

Geraldão, no Recife

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Memórias de Meio Século 85 [email protected]

De uma capital para outra

etornei como “herói”: mesmo não tendo trazido o chefe da família, trazia no meu peito uma alegria, uma ufanação rara como nunca sentira. Esforçava-me para falar sempre o “carioquês” com todas as

gírias de que me lembrava. Procurei adaptar todo o gingado carioca mas sem o pedantismo de muitos deles. Recebi dezenas de visitas: tios, tias, primos, primas, ex-colegas de escola, vizinhos, etc. Tornei-me uma “celebridade urbana”. Era uma espécie de “bobo da corte” e todos achavam isso engraçado – ou, no íntimo riam de mim, e eu é que não percebia naqueles meus tenros e ingênuos 15 anos... Só fiquei ali uma semana e fui logo para a Capital pernambucana – mas não fazia questão disto, pois podia mesmo continuar na minha pacata Bezerros.

O Recife sempre me fascinou. (Essa foto era ainda da época do “INPS”.)

No Recife, deparei-me com uma realidade que não me surpreendeu pois que já conhecera um pouco da agitação do Rio de Janeiro. Embora a Veneza Brasileira fosse uma cidade menor e menos agitada que a Cidade Maravilhosa – mas já era a 3ª ou 4ª capital do Brasil, emparelhando-se com

R

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Memórias de Meio Século 86 [email protected]

Belo Horizonte -, eu tive atividades e emoções bem mais intensas e significativas do que o tempo que passei no Sudeste.

De imediato, matriculei-me no 1º Científico, numa escola particular – o Colégio Independência - no vizinho bairro de Estância, às margens da Av. Recife que era uma das saídas da cidade, dando acesso à BR 232, passando pela Ceasa. Por essa saudosa Avenida, iniciei o prazeroso hábito – que mantenho até hoje, apesar de ter relaxado – de correr até a praia de Boa Viagem (meu patrão, o Seu Vieira, gozava de mim quando eu saía de bermuda para correr!)

Residência e Foto Vieira – não existe mais: foi reformada e deu lugar a uma empresa

A Cidade das Pontes se tornou para mim uma “cidade-mãe” pois ali tive a minha “Nova York”, bem pertinho do meu torrão natal – há apenas 100km, distância esta que, depois que tomei gosto pelo “cooper”, passando a correr daquele bairro até a Praia de Boa viagem, pus na cabeça o sonho de realizar o percurso Recife-Bezerros.O meu novo patrão, Sr.Cleodon Vieira, possuía uma irmã, Ovídia, casada com Abelardo que trabalhara na construção da Barragem de Sobradinho-BA, que inundou a cidade de Remanso, onde Moravam Tio Noé e Tia Izabel. Abelardo e Ovídia eram muito simpáticos para conosco. Lembro-me que, quando criança, eles nos visitaram em Bezerros e

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Memórias de Meio Século 87 [email protected]

me deram de presente um avião de plástico da extinta VARIG, chegando a tirarem uma foto minha agachado com o avião no chão da Praça Duque de Caxias – pena que esta foto foi extraviada depois da morte de mamãe. Desta vez, em 1977, ali mesmo, no Foto Vieira, Abelardo me deu um binóculo que guardo até hoje. Eles moravam em Paratibe, bairro de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, onde morava também o soldado Luizinho, outro saudoso parente nosso, que foi assassinado por bandidosque,certamente, ele já tinha prendido ou vivia perseguindo. Silva, de vez em quando, ia ao Recife, e passava alguns dias comigo. Por essa época, lançaram o filme Grease – Nos Tempos da Brilhantina, com John Travolta e Olivia Newton-John, um berlíssimo e animado musical romântico dos anos 60, cuja música principal era You are The One. Silva gostou tanto desse filme que o assistiu umas 7 ou 14 vezes seguidas e adquiriu o compactor com a música para escutá-la inúmeras vezes. Eu o assiti também –mas só uma vez -, assim como aos Embalos de Sábado à Noite, no ano seguinte, com o mesmo John Travolta. este era um outro musical, também romântico, mas com drama passado nos anos 70. Gostei muito dos dois filmes e, posteriormente, comprei os dois álbuns duplos que foram lançados. Ainda hoje possuo o DVD com o Grease. Mesmo morando num foto e tendo realmente batido várias fotografias, infelizmente, não consegui localizar nenhuma imagem do Seu Vieira para incluir aqui, mas sei que elas ainda existem pelas minhas coisas mal organizadas.

Era 1977 e, no dia 16 de agosto, Elvis Presley veio a falecer. Aquela notícia me impactara, como a todo o resto do mundo – dizem que houve até

Abelardo e Ovídia Vieira, em sua casa

em Paratibe-Paulista

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Memórias de Meio Século 88 [email protected]

suicídios! - e comprei meu primeiro álbum do Rei do Rock – um álbum duplo, com um grande foto ao meio das duas capas, contendo 40 hits, pela gravadora Som Livre. A partir daí, Silva, que estava trabalhando de cobrador na empresa de ônibus Progresso e outras, comprava todos os cerca de quarenta discos de vinil que foram relançados do Rei do Rock.

Com Eraldo, irmão de Neusa

Com Jaqueline e Cleiton, filhos do Sr. Cleodon com Neusa

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Memórias de Meio Século 89 [email protected]

Ateísmo fugaz

Diz o néscio no seu coração: Não há

Deus. (Sl 14:1)

omo eu não possuía nenhuma posição religiosa ou filosófica de forma ortodoxa ou xiita, eu,

simplesmente, não assumia nenhum credo religioso, mas, depois de passar pela “cidade grande” do Rio de Janeiro, fui desconfiando que não poderia existir um Deus visto que Ele “não fazia nada” em relação ás injustiças e pobres deste mundo... O Sr. Vieira – ou Cleodon, para os parentes – era ateu assumido e possuía um amigo marinheiro aposentado que viajara pelo mundo e também defendia avidamente a idéia ateísta. Eu gostava de ouvir as defesas filosóficas desse marinheiro e fui, assim, sendo influenciado sutilmente pelo sentimento de ausência de religião.

Todavia, nunca busquei livros ou associações com os “ateus reunidos do Brasil ou do mundo”. Eu tinha idéias ateístas, mas eram idéias pacíficas e educadas – nunca detratei as religiões nem preguei meu sentimento pelo mundo afora. Por isso, acho que poucos dos meus parentes sabem que eu “era ateu”. Entrementes, eu nem imaginava que a própria Bíblia – com a qual eu me depararia logo depois – já nos alertavadizendo que os ateus são tolos (loucos, néscios):

Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. (Sl 14:1)

C

No Saudoso FOTO VIEIRA – Recife, aos 15 anos

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Aniversário da Jaqueline, filha do Seu Cleodon. À esq., Cleide, sua Filha mais velha

Essa minha fase na vida demonstra o perigo de certas amizades que nossos filhos têm durante sua infância e adolescência porquanto elas influenciarão pesadamente da formação do caráter deles. É o que diz o ditado popular: Diz-me com quem andas e te direi quem és. Algo semelhantemente, a Bíblia BM apropriadamente nos adverte:

Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.

Provérbios 22:6

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Cooper, meu passatempo predileto

Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.

ICoríntios 6:19-20

uando voltei do Rio de Janeiro, procurei inovar em tudo tornando minha vida totalmente diferente do que era antes. Mudei minha maneira de falar, incorporando muitas gírias cariocas, passei a usar um colar no

pescoço e, acho, só não fiz uma tatuagem nem coloquei um piercin porque ainda não era tão populares quanto hoje. E um desses hábitos, foi o do pedestrianismo. Na é poça, nem sabia que havia essa palavra para o hábito de uma pessoa correr pelas ruas, ou seja: o hábito americano criado pelo médico batista Kenneth Cooper, recebendo seu nome como homenagem. Essa prática ainda engatinhava no Brasil, especialmente pelo Sul-Sudeste, e pelo Recife, eram poucos os atletas de rua. E, em Bezerros, não existiam mesmo – talvez um outro caso isolado que nunca víamos.

O famoso Mercado de S. José, no Recife

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Memórias de Meio Século 92 [email protected]

O Foto Vieira ficava no Bairro de Areias, próximo da Av. Recife, que o separa da Estância, outro bairro onde eu estudei os dois anos que passei por ali. Depois de algumas idas, de ônibus à Praia de Boa Viagem, calculei que eu poderia fazer aquele percurso a pé! Assim, comprei um sapato de pano marrom, barato, uma espécie de mocacim, para a minha prova atlética. Só que eu deveria comprar um tênis, que era mais apropriado e macio e que deveria existir a um preço acessível ao meu bolso. O meu patrão, que era bonachão e falador, zombava de mim, dizendo que eu nunca conseguiria chegar à praia correndo. Por fim, aquele domingo chegou e, calcei meu mocacim fininho e saí de casa sozinho, sem nem meu patrão me ver – parece-me que ele ainda dormia ou tinha saído. Eram umas 8h. Eu morava na Av. Dr. José Rufino, bem ao lado do Mercado de Sta Luzia – parece-me que, em seu lugar, existia uma fábrica de móveis, quando voltei lá por volta de 2001, quase em frente à extinta fábrica de óleo e margarina Sanbra – esta foi adquirida pela multinacional Bünge, da margarina Primor.

Fã do Bruce Lee, eu procurava me tornar versátil com o corpo. (Na casa-Foto Vieira)

Quando peguei a reta da Av. Recife, acendeu-me o vigor do enfrentamento para um grande desafio. Tomei um ritmo lento e cadenciado e soltei as pernas. Passei pela favela do Caçoá, prossegui pela vila do IPSEP e, quando avistei o viaduto sobre a Av. Mal. Mascarenhas de Moraes, me alegrei. No outro lado já era o populoso bairro de Boa Viagem!

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Memórias de Meio Século 93 [email protected]

Como eu queria mesmo era ir para a praça de N.Sa. de Boa Viagem, o ponto central da praia, desviei-me para a direita e segui até o Aeroporto dos Guararapes para virar à esquerda, tomando a Av. Barão de Sousa Leão que me levaria direto ao mar. Finalmente, depois de uma hora aproximadamente – fui sem relógio – venci pela primeira vez na vida minha maratona! Tomei meu banho no mar, bronzeei-me um pouco e peguei o ônibus de volta para casa, solitariamente, onde, não encontrando mais ninguém – pois tinham saído para visitar os parentes em outros bairros, ou só havia uma pessoa daquela grande família – tomei meu banho, pus meu almoço e descansei diante da televisão. Meu pés começaram a se ressentir. Como o sapato não era adequado e muito fino, ganhei, como troféu dessa corrida, uma série de bolhas nos pés que fizeram meu patrão cair na gozação – já que ele viu que errou quanto ao seu pensamento retrógrado. Assim adquiri esse hobbie que conservo até hoje, mesmo já tendo chegado aos 106kg (em Imperatriz) e tenha me desleixado muito na continuidade dos exercícios. Gostei tanto de correr que cheguei a planejar fazer o percurso do Recife até Bezerros – 100km. Pena que, hoje, com estes 50 anos, só se fosse um milagre – como está escrito:

Com o nº 408, corro na 1ª Corrida de Rua de Bezerros [1979, aprox.].

À dir., anos mais tarde e com vários kilos a mais, corro no Recife, no Pq. 13 de Maio [1990, aprox.]

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Memórias de Meio Século 94 [email protected]

O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça

Habacuque 3:19

Agora, imagine: se meu patrão, que morava na capital, tinha essa idéia acerca da prática de esportes, imagine o pessoal da minha interior Bezerros... Entretanto, quando voltei para minha cidade natal, continuei meus coopers e até consegui formar um grupo de uns oito amigos, e até quando aderi à Assembleia de Deus, eu continuei correndo e ia à construção de uma igreja que estavam fazendo em Encruzilhada, a 12km dali. A partir daí, passei a participar de corridas de rua, inclusive em Bezerros – como mostra a foto acima [não tenho foto de quando eu corria pelo Recife]. Meu maior percurso foi de 33 km, quando eu fui até Caruaru, e numa das vezes, Silva me acompanhou de bicicleta. Noutra ocasião fui correndo até Gravatá, que é um pouco mais perto.Nunca ganhei prêmio algum, pois nunca me preocupei com velocidade, mas com resistência. Eu era, portanto, um fundista. Apesar de estar hoje com 93kg, continuo correndo, praticando o joging – mistura de cooper com caminhada. Neste fim de ano, de 2010, cheguei a participar da corrida de 10km – a Volta da Cajuína aqui, em Teresina -. Pensei que não fosse concluir o percurso, cheguei entre os últimos, mas ficaram ainda uns cinquenta corredores atrás de mim, e até bem mais jovens. Resultado: passei uma semana com o joelho esquerdo inchado e quase um mês sem andar direito... É claro que não atingi nem atingirei mais o desempenho da adolescência. Contudo, o importante é competir!

Ler e estudar eram de fato o meu 1º passatempo. (No Foto Vieira.) Nessa época, recebia Silva

[na Praia de Piedade]

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Minhas poucas namoradas

evido ao meu jeito tímido e introspectivo, mergulhado nos meus livros como sempre vivi, nunca tive

habilidade com as mulheres, fato que não acontecia com Silva que, logo cedo, começou acolecionar garotas.

E, pelos relatados fiascos que cometi no Rio, já se percebeu que eu precisaria de um bom empurrão para conseguir minha primeira namorada. Mas, como voltei da Cidade Maravilhosa cheio de ginga, foi mais fácil aproximar-me do sexo oposto.

[Esta foto em homenagem aos meus 15 anos, batida pelo meu patrão, fui eu mesmo que revelei. Fiz também o meu primeiro pôster, tam. 50 X 60cm, que foi uma das minha obras-primas da fotografia. Conservei-o no meu apartamento, em Piedade, até a minha saída pra Brasília, quando ele começou a se deteriora e foi destruído. Nessa época, quase todas as fotos eram em preto e branco e as coloridas não tinham a qualidade de cores que as de hoje.]

Na minha capital, tive algumas poucas namoradas.

Rapidamente.Nada definitivo. Era muito tímido e sempre me mantive sexualmente virgem, apesar de muitos amassos e uma DST (na época não se chamava assim) cutânea que me deixou por uma semana me coçando desesperadamente na região púbica, mas que, com muita pomada, sarou. Como as garotas do Recife eram mais assanhadas do que as de Bezerros – porém, bem menos do que as do Rio -, tive uns três ou quatro namoricos que não passaram de algumas semanas. Uma dessas garotas eu conheci casualmente numa exposição do Exército Brasileiro, no pátio em frente à Casa de Detenção – a qual o saudoso Tio Manoel, que fora taxista por ali, chegou a conhecer por dentro, devido, provavelmente, à sua bebedeira, que lhe levou à morte anos mais tarde. Tínhamos entrado num trailler que exibia itens militares e, ao descer, vi uma

D

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Memórias de Meio Século 96 [email protected]

simpática garota atrás de mim e estendi-lhe a mão num gesto de cavalheirismodiferente para um jovem adolescente daquela época. Ela gostou daquilo e fomos conversando mais até prometermos nos encontrar de novo. Ainda não existia celular ou e-mail nemtínhamos telefone fixo, que era um bem difícil de se adquirir pela companhia telefônica e o aluguel de um custava uns dois salários-mínimos ao mês! Consegui me encontrar novamente com aquela garota, ali mesmo, no centro da cidade, e já pudemos trocar uns discretos beijos. Peguei então seu endereço dizendo que eu gostava de correr e, qualquer dia, tentaria aparecer pelo seu bairro a pés. Assim, com aquela chama de quem está apaixonado, num domingo de sol, saí correndo pela Av. Recife e, uns 3km adiante, virei à direita, pelo Hiperbompreço, e fui em busca da minha amada que morava no Ibura, grande bairro que se dividia em várias UR‟s – Unidades Residenciais. Ela morava na UR-11. Era um lugar alto, com várias ladeiras que representavam um grande desafio a um atleta e ainda chegava a dobrar o percurso que eu fazia até a praia. Quando cheguei ao portão da sua casa e gritei seu nome, ela saiu alegre e meio tímida. Acho que nem entrei, pois eu queria continuar logo a corrida. Bebi um pouco d‟água, dei-lhe um rápido beijo e, assim, o cavaleiro andante (neste caso, cavaleiro corredor) prosseguiu sua jornada, triunfante, até o litoral pernambucano. Não sei se essa garota achou esse meu gesto uma excentricidade ou se ela se sentiu elogiada pela visita de forma tão inusitada, mas o fato é que esse namoro não durou muito tempo apesar – ou por conta – disso.

Mesmo morando na capital, conheci uma moça alta,

Contemplativo e brincalhão ao mesmo tempo – mas solitário por dentro (Foto

Vieira – Recife – 1975)

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Memórias de Meio Século 97 [email protected]

quase da minha altura, bonita e muito delicada, que morava em Bezerros. Seus patrões possuíam um apartamento – parece-me que pelo bairro de Graças – e ela frequentemente ia ao Recife. Encontramo-nos algumas vezes, mas, como ela era empregada doméstica, não encontrei muito apoio social e familiar para tal relacionamento, embora a família da sua patroa torcessem muito para dar certo.

Durante todas essas aventuras, permanecia no meu peito uma inexplicável solidão interior que eu tentava disfarçar com sorrisos com os quais eu tentava colorir o mundo e leituras de cunho esotérico e humanista. Mas, continuava virgem, não obstante o fervilhar inquietante da minha sexualidade adolescente e as várias oportunidades que eu vinha tendo deste o Rio de Janeiro. (É curioso observar que, depois de casado, é que passei a namorar muito mais do que quando solteiro. Isto também falarei mais adiante.) Eu não conhecia ainda o trecho bíblico sobre esse vazio existencialista:

Que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida (ou alma – ARC)?

(Mt 16:26)

Fiquei na cidade dos Rios Capibaribe e Beberibe só por dois anos. Mas, no final do primeiro ano, eu “quis voltar pára Bezerros” por simples saudades.

Entretanto, um ou dois meses depois, no início do ano seguinte, meu ex-patrão chegou a falecer e seu filho, Deninho, taifeiro da Aeronáutica, me convidou para retornar ali, para tomar conta do foto com sua irmã, (Cleo)Nice, que ia aprendendo a fazer reportagens fotográficas e até a revelar as fotos e,

Ao

entardecer,

no açude da Fazenda Boa

Esperança-

Bezerros

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Memórias de Meio Século 98 [email protected]

assim, poderia também me ensinar algo mais da profissão. Aceitei o convite e me matriculei novamente no Colégio Visão (?), no 2º ano do Curso Científico.

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Meu 1º Concurso

pesar das aventuras amorosas, do emprego certo e de estudo melhor e possibilidade de fazer qualquer faculdade, como um filósofo que sabia firmemente o que queria da vida, achei-me saturado da cidade grande e

quis voltar para o interior, para estudar. Hoje, 30 anos depois, reanalisando esse passado, vejo que deixei para traz todas as oportunidades de que um adolescente precisava: emprego, bons colégios, faculdades à escolha, garotas, praia cinemas, passeios, enfim tudo o que o jovem normal deseja. Porém, eu vivia em meus pensamentos filosóficos e não possuía tais ambições. Achava que a vida não era para ser vivida com tamanha avidez, só pelas conquistas materiais, e todo mundo corria atrás disso o tempo todo. (Por outro lado, eu não era um Platão ou mesmo um profeta ou evangelista de qualquer igreja – mesmo que fosse católica, ou até mesmo umbandista!)

Não sei se foi o meu fracasso com as garotas e a timidez impedindo que eu me destacasse entre meus colegas por onde passasse – apesar do apoio e admiração que meus familiares sempre me deram, mesmo de forma indireta -, que me fizeram decepcionar-me com o mundo tal qual ele era. O fato é que deixei o Recife e voltei para Bezerros sem nenhum projeto a não ser apenas terminar o último ano do 2ºGrau - que comecei ali, no Científico.

Desde a minha infância, em Bezerros, não havia rádio nem jornais. Um jovem idealista instalou uns auto-falantes do tipo corneta, na Rua da Matriz, e criou a Divulgadora Ipojuca, que tocava músicas, notícias e a propaganda dos comerciantes locais.

A

A minha poesia no Jornal Regional nº 10, de

Ago/80

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Memórias de Meio Século 102 [email protected]

Mais adiante, ele criou o Jornal Regional, ainda impresso em tipografia. Na sua edição de nº 10, de agosto de 1980, à pág. 5, foi publicado um dos meus poemas, intitulado Divagação, reproduzido aqui. De vez em quando, o dono do jornal, Fernando de Andrade Lima, punha um poema meu. Já existia o bar O Casarão, do Lealdo, no Sobrado de pai. Como eu estava desempregado, sugeriram-me a vaga de garçom naquele bar que Netinho também freqüentava. Lembro-me certa noite, após um dos meus artigos saírem no jornal, Netinho, ao me chamar para servir à sua mesa, elogiou-me pelos meus escritos,diante dos seus colegas. Fiquei um tanto acanhado, pois nunca gostei de elogios –acho que eles reduzem a sua vigilância na qualidade do trabalhado que se executa com denodo, embora meus parentes e conhecidos tenham me elogiado muito desde a infância. Concluí meu Ensino Médio no Colégio São José. Pela primeira vez ia participar de uma formatura. Uma dinâmica colega de Gravatá tratou dos preparativos para a festa e a colocação de uma placa comemorativa – não sei se ainda existe, pois não visitei o Colégio em 2008 – e eu fui escolhido como o Orador. Eu iria fazer meu primeiro “discurso oficial”. Até então só tinha escrito muitos pensamentos e alguns poemas. Nesta foto, batida pelo exímio fotógrafo Zezé – nosso vizinho, filho do Seu Manoel Lulu -, meu colega de turma e de corridas, Roberto Brayner, segura o microfone, enquanto seu tio, o Monse- nhor Florentino medita nas minhas palavras, no seu conhecido gesto interrogativo. Foi nessa época que surgiu o 1º supermercado de Bezerros. Inscrevi-me e fui convocado para trabalhar. Não fui por oposição de Netinho, conforme já narrei. Mas, eu já ganhava alguns trocados dando algumas aulas particulares a domicílio e em casa mesmo. Um dos meus alunos era o filho do Seu Zé

Faço o discurso de formatura do 2º Grau.

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Memórias de Meio Século 103 [email protected]

Ferraz, da Farmácia Estado – o Ferrazinho. Ele era um garoto hiperativo e fazia diabruras no conservador Colégio das Freiras. Eu dava as aulas na sua casa e sempre recebia um saboroso lanche da sua preocupada mãe. Procurava deixá-lo bem à vontade, mas sempre puxando sua atenção aos estudos. Certa vez, assim que cheguei na sala atapetada, no 1ºandar, o garoto de uns 11 anos subiu na mesa e pulou nas minhas costas, sorrindo. Levei aquele gesto na brincadeira até ele espontaneamente descer das minhas costas e começarmos a aula. Ele sempre fazia comigo alguma brincadeira desse tipo, pelo que percebi de imediato sua carência de atenção e amor. O desempenho dele foi rapidamente melhorando e passou a tirar boas notas no colégio vindo a passar de ano facilmente. Seus pais ficaram muito felizes. Acho que foi também nesse período que me arranjaram um emprego de professor de Inglês na 7ª ou 8ª série, no Colégio Municipal Felismino Guedes, cujo diretor era o chefe dos Correios de Bezerros, o educado Maurício. Como eu nunca gostei de bagunça, tive um atrito com uma aluna meio irreverente, a qual, após eu ter mandado sair de sala, recusou-se, então, lhe dei um ausente no livro de chamada. Ela viu isso, zangou-se e, finalmente, saiu. Como eu não tinha idéia do que era “falta de dinheiro” – porque eu não valorizava moeda -, simplesmente, cerca de apenas um mês depois de entrar, deixei esse emprego que poderia ser minha carreira profissional futura – assim como o foi do colega Roberto e sua irmã - sobrinhos do padre da cidade. Em 1980, como o IBGE faz o recenseamento a cada dez anos, surgiu o concurso para recenseador. Fi-lo e fui aprovado em 1º Lugar na cidade. Esta foi a minha primeira conquista significativa na vida – depois daquela corrida até a praia! Porém, como, na época, os concursos eram realizados e acompanhados de forma muito precária e duvidosa, nem cheguei a começar a trabalhar nesse Censo. Veja o que aconteceu:

O IBGE designou como responsável geral o filho de um vereador famoso, que já tinha um cartório em Bezerros. Antes do início dos trabalhos, entregaram o material (manual, formulários, pasta e etc., que eu recebi

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Memórias de Meio Século 104 [email protected]

depois) e, anunciaram um dia para o sorteio dos setores a serem recenseados, incluindo a área rural. Eu, como 1º colocado, teria direito a escolher meu próprio setor e, obviamente, escolheria o melhor, que seria o do centro, que incluía a minha própria rua, provavelmente o Setor nº 1. Como tudo pelo interior naquela época era precário, o aviso desse sorteio foi dado de boca-a-boca e, como nunca tive telefone ali, eu não soube do sorteio e fizeram a distribuição dos setores. Na minha ausência, como havia um setor na zona rural que, por sinal, era numa área de litígio entre os moradores – a Serra dos Mendes, já na fronteira com Caruaru – passaram-me esse sem nem me avisarem de nada! (Alguém chegou a me dizer que este setor fora sorteado para algum amigo deles e, como eu tinha faltado, trocaram-no pelo meu!)

Mamãe ao lado de Ovídia (por trás do balão) e ao lado de Nice (à dir.), filha do Seu Cleodon, no

aniversário de Cleysson, filho dele com a Neuza – 1ª à esq., na frente do seu irmão Eraldo. (Esta é uma das fotos que fiz ali, no Foto Vieira.)

Num domingo antes do início dos trabalhos, peguei a velha Monark que Netinho tinha e disse a mamãe que ia ver meu setor e voltaria logo para o almoço. Não levei dinheiro nem mochila, pensando que essa Serra dos Mendes fosse perto! Pedalei umas 3 horas subindo e descendo ladeiras em estrada de terra. Quando cheguei ao meu tão esperado setor de pesquisa, fui sendo recebido por pessoas armadas e desconfiadas!Parecia aquele cenário cinematográfico do sertão dominado pelos cangaceiros de Lampião! O mais simpático deles mostrou-me uma grande cicatriz na barriga que seu vizinho

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lhe tinha feito com um golpe de peixeira – apontou-me para a casa onde ele morava, a apenas uns 200m dali – e perguntou se eu podia arranjar um revólver para ele! (Imagine...) Comecei a entrar num pânico controlado e fui me despedindo logo para poder chegar em casa o quanto antes. Esse morador ainda quis me oferecer almoço, mas recusei peremptoriamente. A partir dali, a fome e a sede começaram a me debilitar e eu mal estava conseguindo manter-me sentado na sela da bicicleta. Mais adiante, pedi água noutra casa e jovem senhora, com suas filhas ao redor, meio desconfiada, foi à cozinha e me trouxe uma água barrenta que me aliviou a terrível sede. Continuei tentando atingir a pista, em cujo asfalto eu poderia descansar voltando montando na bicicleta direto para meu lar-doce-lar... Cerca de uma hora depois cheguei à BR 101 e, de tão fraco, deito-me um pouco à margem da pista, encostado numas moitas de agave (?). Eu estava pra lá de Encruzilhada, há uns 18km de Bezerros! Foi quando senti a maior fome da minha vida. (Embora fosse tacitamente ateu, eu procurava manter meu auto-controle baseado nos livros de psicologia, filosofia e ioga que eu lia e praticava.) Mesmo com as nádegas e todo o corpo doloridos, fui pedalando um pouco e andando muito mais, vagarosa-mente, até chegar ao vilarejo de Encruzilha-da. Foi uma eterni-dade! No único restaurante local fui pedir comida – sem dinheiro – e quase as palavras não saiam de tão fraco que estava. Imediatamente, o dono percebeu e disse Você quer comida, não é?... Mandou-me trazer um almoço com bode, carne essa que eu nunca comi, pois também não comia gorduras nem músculos, e também não gostava da tradicional buchada de bode. Trouxeram-me aquele apetitoso e quente prato de feijão com arroz e pedaços de carne de

Recebendo o Certificado de um curso livre de Liderança. O 1º, à

esq., era o dono da Divulgadora Ipojuca e do Jornal Regional

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bode com gordura e tudo o mais!.. Comi aquela divina iguaria tão avidamente que o suor desceu pelo rosto, e fui explicando ao dono que não podia pagar pelo prato devido aquele imprevisto, e contei-lhe a trágica aventura. Ele não fez a mínima questão pois, certamente, meu estado de debilitação era tão patente que tava na cara. Foi a melhor comida que já tive até então... Agora, com as forças renovadas já dava para ficar montado na bicicleta mais tempo, apesar de os glúteos continuarem terrivelmente doloridos.

Finalmente, depois de umas seis horas de tortura – mais psicológica do que física - cheguei em casa e lancei-me no sofá da sala semi-morto– nem tive coragem de tomar banho logo – e só disse pra mamãe que não ia mais praquele serviço– expliquei depois. Na segunda-feira, logo cedo, enquanto todos os demais colegas concursados estavam recenseando, eu fui ao Centro Cívico – prédio público onde estava a base do IBGE, presidida por aquele filho do vereador, e diretamente a ele, devolvi todo o material de trabalho e disse que não queria mais fazer aquelas pesquisas. Ele, simplesmente ficou calado – e acho até que deve ter dado um sorrisozinho sarcástico. Se alguém mais esclarecido tivesse conseguido tirar aquele meu trauma ou tivesse ido comigo conversar como pessoal do IBGE, eu poderia ter recebido outro setor para trabalhar, até pelo direito natural adquirido pela minha ótima classificação no concurso.

Anos depois, passei e consegui trabalhar nos Censos do IBGE de 1990, 1995 e 2000, e descobri que nunca são distribuídos logo aos recenseadores todos os setores – sempre ficam vários, que vão sendo entregues àqueles que primeiro forem terminando suas tarefas. E o salário é por produção. Nas duas primeiras contratações, eu trabalhava no Banco do Brasil, de noite, e fazia as pesquisas de dia e finais-de-semana.em 2000, no DF, o contrato temporário foi sendo renovado, mensalmente, até dois anos, que era o máximo permitido.

Perdi esse 1º concurso conquistado, mas Deus iria me darvitória noutros 15, ao longo dos anos vindouros.

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O pensamento de suicídio

legando que “queria me dedicar aos estudos” (como se no Recife não houvesse mais

recursos para isso e muito mais chances de concurso, etc, etc...) dispensei a casa e o emprego certos da capital, e retornei mais uma vez ao aconchegante interior pernambucano. Meu Diploma de 2 Grau é de Técnico em Contabilidade, título esse que, uns 25 anos depois, no DF me concedeu a profissão pelo Conselho Regional de Contabilidade-CRC, e que ainda hoje me cobram anuidade, mesmo 5 anos depois de ter deixado a Capital Federal... No ano seguinte, uma amiga de um outro sobrinho desse Padre, passava por dificuldade psicológicas e eu, como “metido em psicologia”, propus-me a conversar regularmente com ela no intuito de aconselhá-la. Ela ainda estudava no mesmo colégio onde me formei, mas eu não. Assim, passamos a nos encontrar nua praça – a das Tamarinas (sic – Tamarindos), logo após seu curso de datilografia (este era o curso de “digitação” da época!). Nesses diálogos profundos e cheios de amor dela pelo meu amigo – que não queria lhe namorar – fui mergulhando e, como numa armadilha do amor, acabei apaixonando-me pela minha amiga-consulente! Aquela realidade um tanto agitada e dinâmica demais para meu espírito interiorano me levou a uma óbvia e sutil conclusão que, após passar a morar e trabalhar com aquele patrão fotógrafo do Recife, o qual era ateu convicto e tinha um amigo ex-marinheiro, de uns 80 anos, mais convicto ainda: não existia Deus pois, se existisse, como poderia permitir tantos sofrimentos na Humanidade! A falta de um Deus Consolador e da correspondência ao amor por parte daquele minha amiga (Dorinha, que depois, veio mesmo a namorar

A

Com dois conhecidos, na Rua 15 de Novembro, na

1ª Corrida Rústica de Bezerros - 1979

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aquele meu amigo, o Rômulo, e depois de alguns anos se casaram) me levou a uma depressão profunda que me fez me refugiar na casinha do meu avô que já dormia na minha e ele só ia lá alguns dias para dar comida ao seu cachorro e arrumar as coisas.

Fiquei ali isolado durante três dias. Ninguém me visitava – só Silva que levava o almoço e voltava logo. Eu estava com alguns poucos livros, uma radiola portátil, de plástico azul royal do meu irmão Netinho, e esborrava-me de chorar ao pensar na minha “amada”, ouvindo o LP de sucesso da época – que era de Silva - com a única faixa que me interessava: Love is in The Air, do Paul Young, que, por sinal, foi tema de uma novela da TV Globo há alguns anos, e, recentemente, aqui, em Teresina, foi durante muito tempo o tema de abertura do Programa de um repórter cabeleireiro, o qual me entrevistou por três vezes – o Mariano. Quando a dor é muito intensa e contínua, instintivamente buscamos uma forma de aplacá-la. Não havendo analgésicos ou um consolo espiritual-emocional (fé, amor, esperança), a saída mais fácil e disponível é pôr fim à própria existência.

Caruaru ainda é para mim como uma Princesa do Agreste

Ao 3º dia, planejei meu suicídio com fios elétricos que me “livrariam de forma rápida do daquele sofrimento”. Todavia, um pensamento me dissuadiu deste macabro intento: o que não sentiria minha mãe ao ver seu filho ali, sentado na sala, “tostadinho” pelo choque elétrico?... Não tive outra alternativa senão entregar-me ao “fracasso” – por não ter conquistado minha amada nem resolvido o problema da dor amorosa (no

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entanto, eu já tinha sarado essa dor com essa atitude em deixar aquele cativeiro – era já Deus agindo!... Naqueles meus 18 anos, e numa manhã ensolarada, saí da casinha do meu avô, onde eu nem abria os “postigos” da porta, nem da janela do quarto, que dava para a calçada – sem muros –, peguei minha mochila, a radiolazinha, o LP e demais discos e livros e voltei para minha casa à R. XV de Novembro, sentindo aquela brisa característica de Bezerros batendo no meu rosto (não era frio, mas havia um gostoso aroma no ar...), fui caminhando por aquelas ruas, algumas ainda sem calçamento, passando por alguns tortuosos e estreitos becos, e cheguei ao meu lar-doce-lar. Não me lembro de ter contado este fato aos meus parentes – até porque, entre nossos parentes, “não éramos de conversar” aberta e francamente. Talvez, eu só tenha comentando depois com Silva, principalmente porque era ele quem levava as refeições e conversava um pouco comigo naquelas ocasiões.

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Do ateísmo ao plano de ser Frade

O meu povo padece Porque lhe falta conhecimento

(Oséias 4:6)

inha mãe, como sempre, estava sentada à sua antiga e resistente máquina de costura Singer preta, logo à entrada, na sala, costurando as roupas das suas clientes, quando eu retornei do meu

enclausuramento voluntário. Apenas cumprimentei-a com um “Bença, mãe!” e fui entrando e tirando a mochila. Não havia mais ninguém em casa. Na mesa da copa – entre a sala de estar e a cozinha, estava a Bíblia católica do meu pai – que, por sinal, ele só a lia nos temas históricos ou para censurar algumas palavras de Cristo. Mesmo sendo “ateu”, mas como a curiosidade de quem gosta muito de livros, não importa qual o tema, abri aquele livro de capa vermelha e, instantaneamente – e, hoje vejo que fui guiado por Deus – meus dedos e visão caíram no livro de ECLESIASTES, no Capítulo Primeiro que, como uma seta atingindoo alvo na mosca, me dizia claramente e de forma muitíssimo especial e exclusiva naquele momento das minha elucubrações e sofrimento existencial: VAIDADE DE VAIDADES! TUDO É VAIDADE

diz o Pregador (1:2) !!

Pronto! Era disso de que eu

precisava e não sabia! NUNCA EU TINHA LIDO ALGO SEMELHANTE! Nunca alguém me falara coisa tão certa e tão realista para mim naquela ocasião de total vazio espiritual e emocional!

M

Capa do Imitação de Cristo, de Tomás

de Kempis, [Ed. Martin Claret, 2001]

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Memórias de Meio Século 111 [email protected]

Lendo aquilo, pus a mochila por ali, acho que peguei um pouco d‟água e um lanche qualquer, tomei aquele Livro Especial e continuei a ler o Eclesiastes que ia apresentando um Deus que eu ainda não conhecia. A partir daí, mergulhei avidamente na leitura da Bíblia sagrada e, em poucos meses, li-a completamente, de capa a capa. Um livro católico que muito me influenciou foi o Imitação de Cristo, escrito pelo frade Tomás de Kempis, no século XV. (Esta reprodução não é da capa da edição que eu usava, que era de sobrecapa plástica, preta, e no formato bolso.) Há muitos conselhos úteis a todo ser humano, no tocante à humildade e ao desapego às coisas deste mundo tangível.

Porém, num exagerado zelo de servir a Deus, interpretei com excesso o capítulo 1 do primeiro livro dessa obra, intitulado Imitação de Cristo e o desapego de todas as vaidades do mundo, o qual, por coincidência, é uma interpretação do capítulo 1 do Eclesiastes (Vaidade de Vaidade, tudo é vaidade).

Eu cantava no Coral e ajudava na leitura da Bíblia nas Missas da Matriz de S. José (Foto de Abr/79)

Dessa forma,erroneamente eu procurava evitar todo tipo de conforto

físico possível: dormir em cama muito macia, apreciar roupas bonitas e luxos em geral. Passei a comer a comida mais simples possível – que já era mesmo assim, devido ás nossas posses da família – e, como sobremesa, eu gostava de pão com água que eu molhava no próprio copoem que bebia. Tudo isso

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para, erroneamente, mortificar o corpo, como, por sinal, era prática comum entre os padres e frades (alguns colocavam pedras nos sapatos e cintos para se sacrificarem...) e, ainda hoje, em menor escala, ainda o é para os religiosos mais rígidos. Todavia, o Apóstolo Paulo nos adverte sobre esses exageros ascéticos:

Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne.

(Col 2:30-22)

Como eu lia e estudava de forma muito apaixonada a Bíblia e tudo o que a ela se relacionasse, pegava pelas ruas qualquer folheto que tivesse versículos bíblicos e ia conferir nas Escrituras. Só que os folhetos eram

evangélicos e, naturalmente, eles continham muita coisa contra o Catolicismo o qual eu pensava em servir como sacerdote/frade. À medida que eu ia lendo as sagradas escrituras, fui sentindo uma satisfação enorme naquela Sabedoria. Parecia que tudo que eu

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procurava estava ali – não precisaria mais andar procurando em outra obras – psicologia, filosofia, etc. Como já possuía a aproximação com a família do irmão do Padre da cidade (Da. Edielza, Sr. Antônio, Roberto, Rômulo, Marcos e Mônica), fui contando ao Roberto, que era o auxiliar nas missas, da minha descoberta de Deus através da Bíblia. Ele se maravilhou e passou a me acompanhar e a me introduzir cada vez mais na Igreja da Matriz de S. José dos Bezerros. Certo dia – não me lembro se à tarde ou de manhã, dirigi-me a um terreno baldio, onde havia uma grande abertura na cerca de arame farpado, e, sozinho com o Além, ajoelhei-me e chorei copiosamente como talvez nem tivesse chorado durante aqueles 3 dias de confinamento - por causa do meu amor não correspondido. Disse a Deus que, para compensar meu tempo de incredulidade, só me restava o caminho do Sacerdócio – era a única forma que eu via de me redimir com Ele. Desde então tornei-me cada vez mais íntimo da “família do Padre” de Bezerros – o saudoso e manso Monsenhor Florentino - e comecei a cantar no coral e a ler os trechos bíblicos durante algumas missas. Sentia-me no caminho certo – e, principalmente, FELIZ: aquele vazio que sentira por causa da falta de um amor feminino (eros) foi preenchido pelo amor ágape de Deus. Lia avidamente a Bíblia e livros católicos.

Passei também a fazer parte da Sociedade São Vicente de Paula - SSVP, instituição internacional de caridade, à qual eu me dedicava com muito afinco, chegando a criar a minha própria “convenção”, embora sem sede própria nem registros. Reuni alguns amigos católicos e contatei comerciantes que passaram a fazer doações semanais para as 4 ou 5 família que cadastramos em Bezerros.

Numa tentativa de arrecadar mais recursos, cheguei a rifar o meu moderno Spote Globe

Este era o guia que orientava à localização dos pontos

no Spote Globe

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Memórias de Meio Século 114 [email protected]

eletrônico, que era um globo com um raio de luz interna que, após posicionarmo-lo nas latitude e longitude correspondentes, de acordo com um “livro de bordo”, indicava exatamente o ponto na Terra procurado. Era importado e distribuído pela Borges & damasceno, da Seleções do Reader‟s Digest. Aquele objeto me era fascinante e era o meu bem material de maior valor. Datilografei os bilhetinhos da rifa, grampeei os bloquinhos e dei para um dos membros vender. Imprecavidamente – e confiando demais -, não recolhi antecipadamente os bilhetes que sobraram e, no dia seguinte ao sorteio – pelo “jogo do bicho” – um dos meus mais próximos companheiros daquela “convenção” vicentina disse-me laconicamente que “o bilhete sorteado fora o seu”! Como nunca fui dado a brigas por coisas materiais, entreguei-lhe o prêmio e, tempos depois concluí que fui enganado por quem “andava comigo”. (Tempos depois, ele foi mesmo para o Convento Franciscano, mas, logo depois saiu de lá.)Conforme aconteceu com o nosso próprio Mestre:

O que mete comigo a mão no prato, esse me trairá. (Mt 26:23)

O meu fervor em beber a Palavra que viesse de Deus me fazia ler tudo que via pela frente. Até pegava pelas ruas os panfletos evangélicos que o povo recusava e lançava fora.Esses folhetos jogados pelo chão foram me aproximando dos evangélicos. Nunca tive parentes ou mesmo amigos “crentes”. Aliás, sempre via os evangélicos com indiferença – ou seja: sem preconceitos - pois nunca me interessaram nem se dirijam a mim. Lembro-me apenas que, várias noites, antes de dormir, eu ouvia a música e os cultos deles, que vinha de um alto-falante tipo corneta, de uma Igreja Batista à beira da linha de ferro, depois do Rio Ipojuca, há uns 2km da minha casa, mas que, devido ao relevo – minha casa ficava num certo alto e a igreja noutro, e o rio no meio. Nessa fase, Tia Isabel, de Remanso-BA, passou um tempo em casa, fazendo tratamento médico, e deram a ela o livro A Verdade que Conduz à

O 1º livro das Testemunhas de Jeová

que conheci

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Vida Eterna, das Testemunhas de Jeová, publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, o qual eu li com gosto – e fui aprendendo a apreciar todas as publicações da Torre de Vigia, chegando, anos mais tarde, a assinar a revista Despertai em inglês e outros idiomas, e ainda hoje possuo várias publicações suas. Diante de tantas descobertas doutrinárias, achei por bem redigir, na nossa velha e boa máquina datilográfica elétrica – umaOlivetti metálica, cinza - que Netinho tinha, uma lista de 35 Questões e passei para o Monsenhor Florentino poder me ajudar a esclarecê-las. O tempo se passou, aquele padre veio a falecer e nunca me respondeu àquele questionamento. Respeitadas as devidas proporções, essas foram semelhantes às“95 Teses” que deixaram Martinho Lutero fora do Catolicismo. Assim, fui desistindo de entrar para o Convento dos Frades Franciscanos, em Maceió – AL.

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Os Adventistas do 7º Dia

Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes.

Nós, entretanto, pelo Espírito aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.

Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que

opera pelo amor. (Gal. 5:4-6)

nquanto isso, conheci outra família de religiosos. Eram membros da Igreja Adventista do 7º Dia que, por sinal, ainda não possuíam congregação em Bezerros. Como aqueles jovens gostavam também de

praticar cooper, íamos freqüentemente à Fazenda Boa esperança, que distava 5km da cidade. Tanto os jovens como seus pais me davam toda a atenção mostrando-me os pontos principais da sua doutrina, tais como: a segunda vida de Cristo – de que eu nunca ouvira falar -, a guarda do sábado, o uso da cevada, os livros da Ellen G. White, etc. Obviamente, no fulgor da nossa juventude, eu e o filho mais novo daquele família vez por outra brigávamos sobre nossas doutrinas. Lembro-me que, para dar uma satisfação geral a todos eles, datilografei e lhe entreguei um texto com o título Por que Não Sou Adventista do 7º Dia. Em inesperada resposta ele escreveu, a mão mesmo,

umas páginas intituladas: Por Que Não sou da Assembleia de Deus. Eu não tinha mais nada a dizer para aquele impetuoso religioso.

Acerca desse tema

verdadeiramente insignificante,

[quem querer ofender aos amigos

E

Com os Adventistas do 7º Dia (a família do Sr. Moisés – de chapéu)

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adventistas] o Senhor Jesus exclamou objetivamente: O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado.

(Mc 2:27)

Eu, de sunga preta, com o amigo Jailson, da Igreja Adventista do 7º Dia,no trampolim que

construímos no açude da Fazenda Boa Esperança, a 5 km de Bezerros - À dir., o mesmo local, já

com calçamento e arborizado - 2008

Mas, encontrávamo-nos com tanta freqüência que participei de alguns cultos sabatinos e, logo após, degustava aquele saboroso almoço mais á base de verduras, preparado fielmente até o amanhecer da sexta-feira anterior.

Tempos depois, Ele me ofereceu um serviço de venda de calendários em várias cidades de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, com o pastor da sua igreja em Caruaru, e viajamos juntos por uns sete dias. Ficávamos hospedados onde nos oferecessem apoio. Certa vez, foi numa Assembleia de Deus, quando dormimos nos próprios bancos da igreja e tomamos um delicioso e divino café-da-manhã.Alguns anos depois, retornando a Bezerros, soube que ele se mudara para São Paulo, casou-se e gravou uma fita K-7 com composições próprias – umas das quais ele cantava para mim antigamente. Que Deus o abençoe na sua vocação. Embora, não aceitasse toda sua doutrina, gostei muito dos ensinamentos adventistas ao ponto de adquirir inúmeros livros publicados pela Casa Publicadora e, posteriormente, quando me casei e morei no Recife, coloquei minhas filhas na escola adventista da sede regional da Igreja, na R. Gervásio Pires, Boa Vista, no centro da capital pernambucana.

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O psicotrópico Aldol

O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura.

(ICoríntios 2:14)

epois da descoberta de Deus, em 1979, planejei entrar para o sacerdócio católico como única

forma de recuperar meu tempo de ateísmo perante Deus. Meu pai, que não simpatizava muito com padres, achou que eu estava mesmo era ficando louco, e falou para mamãe me levar a umpsiquiatra.

Como eu mergulhei de corpo e alma na questão religiosa - lembrava-me muito do próprio Cristo que, como ovelha fora levada ao matadouro (Is 53:7) -, não me opus à desconfiança do meu pai e, eu mesmo, fui ao Pronto Socorro de Caruaru e me consultei com um psiquiatra da rede pública. No consultório, o Dr. Isnardo – acho que hoje ele já se aposentou - formulou apenas uma ou duas perguntas eprescreveu-me um medicamento chamado Aldol (não me lembro se de 2 ou 5mg – ou mais).

Voltei para Bezerros e tomei aquele remédio conforme indicado. Não senti nada e um mês depois voltei ao mesmo médico que, vendo que não houve nenhuma reação, receitou o mesmo medicamento, porém, 4 vezes mais forte. Quando passei a tomar esse poderoso medicamento, lá pelo 2º ou 3º dia – ou 2ª semana, aconteceu-me algo estranho que vim a saber depois se chamar impregnação, ou seja: reação adversa ao medicamento com forte contrações musculares.

D

Nesta foto (de 1989) percebe-se o repuxa-

mento no lado esquerdo do rosto

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Memórias de Meio Século 119 [email protected]

Certo dia, após almoçar, comecei a sentir uma certa inquietação. Fui deitar-me.Meus membros – perna e braço esquerdos – começaram a se mexer involuntariamente. Em silêncio, levantei-me, peguei a Monark de Netinho e disse pra mamãe que ia dar uma volta. Saí pedalando em direção da BR 232. Já próximo da casa onde meu avô tinha morado, na Rua Princesa Isabel, meu corpo faz um movimento involuntário que puxou a bicicleta para o lado esquerdo. Segui o impulso, fiz a curva e aproveitei para retornar para casa. Ao chegar em casa, fui logo para a cozinha tomar um pouco d ‟água. Sentei-me e minha mãe começou a ficar aflita. Meu pescoço ia se contorcendo poderosamente para o lado direito da cabeça e nada nem ninguém conseguia trazê-lo de volta. Doía muito. Mesmo assim, balbuciei algumas palavras para minha mãe não se preocupar que estava tudo bem. Chamaram Netinho que trouxe o carro da pedreira onde estava trabalhando e me levaram à maternidade – o hospital ficava na BR, mais distante - onde me aplicaram uma injeção. O músculo do braço já estava tão rígido que chegou a entortar um pouco a agulha da seringa. De volta ao lar, minha mãe e alguns vizinhos estavam apreensivos. Lembro-me de uma atitude heróica de Silva: No meio daquela aflição, no seu jeito calado, mas de pavio curto e objetivo, ele esbravejou e quase gritou: “Zito não tem nada não!!!” e foi saindo da cozinha, zangado.Ele foi o único a se levantar contra essa situação. Silva foi sempre presente em muitas coisas que eu fazia. Dia seguinte, pacientemente, peguei o restante dos comprimidos Aldol e esmaguei-os no tanque de lavar roupas. Fui ao médico de Caruaru e contei-lhe o ocorrido informando que decidi não mais tomar remédio nenhum. No típico estilo de “saúde pública”, esse psiquiatra simplesmente ficou me olhando (certamente, até com desdém) e simplesmente não disse uma palavra. Despedi-me dele e saí do consultório, sem perceber o dado que já tinha sido causado no meu queixo.

Só tempos depois foi que descobri que aquele remédio era um poderoso psicotrópico, só indicado para casos de patologia psiquiátrica grave do tipo esquizofrenia ou depressão profunda. E eu não tinha nem uma coisa nem outra. Eu apenas queria ser padre!

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Alguns anos se passaram – pois, naquela época do ocorrido eu devia estar com uns 18 anos - e não percebi até então nenhuma seqüela no meu corpo ou mesmo na mente – parte mais importante do ser humano! Porém, ao observar mais atentamente minhas fotos pós-impregnação, fui descobrindo que fiquei com a mandíbula esquerda arriada devidoá forte pressão exercida pelo remédio na hora da reação concentrada, e, consequentemente minha boca ficara desnivelada para baixo nesse lado, conforme se pode ver nesta foto. Há 4 anos fiz meu primeiro tratamento odontológico completo, depois que saí do Banco – com um amigo, pois tinha muito medo de dentista - e pude corrigir, internamente, a lacuna que ficou entre a arcada dentária superior e a inferior – uma diferença de cerca de 5mm que foi preenchida pelo prolongamento dos dentes das próteses.

A propósito, será que isso foi uma espécie de vingança, da parte do macho man do meu pai, em virtude de um incidente ocorrido entre mim ele? Certa vez, ele estava aborrecido com mamãe, e ela chorando, sentada, à mesa, na cozinha. Entrei em defesa dela e disse-lhe que ela estava assim porque suspeitava e realmente ele tinha uma amante, ao que ele perguntou-me quem me dissera aquilo. Ingenuamente, revelei para ele o nome da pessoa, como se isto não fosse abalar a amizade dele com o meu “informante”. Anos depois - eu já estava no Banco - surgiu uma garota por lá, já com uns 14 anos na época, que se dizia filha dele, provavelmente com essa

O Dr. Gustavo, fã do Elvis, fazendo meu tratamento dentário, com o

DVD do cantor rodando

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Memórias de Meio Século 121 [email protected]

senhora. Cheguei a vê-la apenas de foto. Silva é que teve um contato mais próximo com ela, pelo que me disseram. Ela deve ser a nossa meia-irmã. Naturalmente, pai agiu da forma como fora educado e criado. Sei que muitos jovens também sofreram – e ainda devem sofrer nas cidades mais atrasadas deste vasto Brasil - por tais desinformações e preconceitos, tendo sido discriminados e desprezados como “loucos” por causa de algum comportamento diferente da maioria. Convém mencionar que Bezerros tinha uma certa fama maliciosa de ser tida como “a cidade dos doidos” – era como se mandassem para lá todos os desajustados mentais e comportamentais das cidades vizinhas. Assim, eu via com muito pesar vários doidinhos pela rua, sofrendo as risadas e sarcasmos da população. (havia um deles, o Noro [nome correto: Honório], que, nas feiras do sábado, perguntavam para ele seu nome e ele começava meneando a cabeça e dizia num tom de recitação de um poema: Noro, filho de Zé Filinha, de... e contava quase toda a sua genealogia. Outro era este que ficava nas feiras, pedindo esmola. Fotografei-o casualmente na BR, quando da minha visita de 2008. Parece-me que ele é cego e tem dificuldades de locomoção – talvez, tenha sofrido paralisia infantil, mal que uma simples dose de vacina resolveria...

Sempre é importante que se respeite o modo de pensar alheio, por mais absurdo que possa parecer. Podemos até criticar, mas não atacar e ofender. O respeito ao próximo também é sinônimo de amor ao próximo.Até Jesus se preocupou com os loucos, no sentido de nos advertir quanto ao tratamento dado a eles:

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo.Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar

contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca (louco), será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu

do fogo do inferno.

Este é um dos indigentes da época da minha

infância.

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Memórias de Meio Século 122 [email protected]

(Mt 5:21-22)

Quanto a este incidente, não guardei nenhum rancor contra pai. Fiquei muito ressentido, sim, mas foi quando mamãe veio a falecer! Porém, após alguns anos e a intervenção de Tia Socorrinho – tanto pessoalmente como por orações -, cheguei a reconhecer meu julgamento precipitado e perdoei-lhe chegando a dar-lhe mensalmente certa ajuda financeira, num momento em que seu trabalho na marcenaria do Seu Zezinho não ia muito bem. Além do versículo bíblico que abre este tópico, cito outra singular verdade que não pode ser ignorada:

A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.

(ICor 13:19)

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A VENDA DO SOBRADO

patrimônio de pai resumia-se no Sobrado da Rua da Matriz, 63, Centro, ao lado da Igreja da Matriz. Vendo-se sem dinheiro e sem muito sucesso na antiga profissão de marceneiro, pai resolve vender

seu prédio. Lealdo já estava instalado ali há vários anos, tendo começado com o bar O Casarão e estava agora com uma loja de colchões. Anabel era professora do Estado e, parece-me, através do IPSEP, conseguiu um financiamento que deu para comprar o imóvel. Não sei se pai tinha ou não algum projeto em mente, mas o fato é que não comprou nenhum outro imóvel nem investiu em outro negócio ou qualquer outra coisa. Distribuiu nossa parte da herança – eu nem imaginava que tivesse algum direito nos bens. A Netinho deu uma quantia maior, e ele planejo um engarrafamento de bebida no Maranhão. Para mim, uma quantia menor que me impulsionou a instalar um foto na Bahia. E, a Silva, deu uma parte menor ainda, e ele não investiu em algo em específico. E a rainha do lar... essa, acredito que não recebeu nada, apesar de ter direito (por lei!) à metade daquele Sobrado. Mas, simples e pacata como ela sempre foi, não fez caso disso, até porque também nunca chegou a ter uma quantia razoável de dinheiro em mãos nem tinha ambições nesta área, apesar de ser uma empresária - costureira. Também não vi nada de presentes que ele tenha dado a ela, nessa ocasião, tais como, uma nova máquina de costura, uma máquina de chulear, roupas novas, roupas de cama e mesa, móveis novos para casa, etc. Dessa forma, Mamãe e Silva foram os menos beneficiados na partilha da nossa primeira herança material.

Hoje o Casarão deu lugar à luxuosa e espaçosa loja de modas Rio Center

O

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Memórias de Meio Século 124 [email protected]

Certamente que pai não fez uma partilha correta como mandava o Código Civil vigente na época (o de 1916, cujo art. 1.721 já dizia que a metade dos bens era a herança dos filhos – em partes iguais -, sem contar a parte do cônjuge, que era a outra metade), até porque, de leis a gente não tinha nenhum conhecimento – nem eu me interessava por isso, nos livros que lia avidamente. Entretanto, se ele fosse outro pai, ainda mais rude, poderia até ter gastado todo o dinheiro com qualquer coisa – e até mulheres - sem dividir nada conosco...

Assim, cada um de nós, seus filhos, estava com uma poção mágica nas mãos para transformar no que bem entendesse.

Uma das últimas fotos d‟OCasarão.

[Ao lado, a loja de peças de bicicleta do Djalma – meu ex-professor de ginástica]

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Rem

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980

)

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Remanso em foto atual (da internet)

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Minha primeira empresa individual

Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.

(ITim 5:23)

as pou-cas fé-rias es-

colares que eu tirava, pude vi-ajar várias vê-zes para Re-manso, na bo-léia do cami-nhão de tio Noé, dirigido por Israel, o qual frequente-mente vinha comprar mate-rial para o em-chimento de bebidas do seu patrão-sócio, o Paulo das Sandálias. Ele levava a famosa Aguardente Pitu, açúcar, muitos mantimentos para a família e, enfim, carregava sua Mercedes 1212 (ou era 1111?) que tinha um focinhocurto onde ficava o motor. Assim, pelos 7 anos, eu já conhecia a grande casa de Tio Noé, onde funcionava o engarrafamento de bebidas e que ficava exatamente na beira do Rio São Francisco. Eu tomava muito refrigerante chamado cajuada que, de caju, não tinha nada [era apenas uma essência tutti-frutti], com pão doce (o pão do Macarrão, como Lourdinha chamava o rapaz magro que vendia pão de porta-a-porta, todas as tardes, e ouvia muito Waldick Soriano – que eu detestava pelo fato de ele não ser cachorro, não – e Evaldo Braga, cujas canções passei a apreciar, como a Sorria, meu bem. Foi aí onde assisti ao

N

Na casa de tio Noé: Tia Izabel, ele, Israel, Lourdinha, eu

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Memórias de Meio Século 128 [email protected]

meu primeiro show – num cinema: o do Genival Lacerda –e ainda hoje renego a Butique da Severina Xique-xique. Anos depois, a Chesf construiu a Barragem de Sobradinho, onde o Abelardo de Ovídia – de Paulista-PE – trabalhou como eletricista, e toda a cidade de Remanso foi inundada, sendo construída uma nova a alguns quilômetros acima.

De posse da minha primeira herança na vida, a idéia de todos era uma só: como eu tinha aprendido a arte da fotografia no Recife, no Foto Vieira, poderia perfeitamente abrir um foto, assim pensavam, onde não houvesse e, Remanso, na Bahia, onde Tio Noé morava com Tia Isabel, irmã de mãe, parecia ser uma cidade ideal. Assim, comecei a comprar umas máquinas fotográficas usadas com os fotógrafos de Bezerros, pai fez dois belos banco de madeira para os clientes, mamãe costurou uma grande cortina para eu levar e preparei outros acessórios que pudessem ir no caminhão de Tio Noé na próxima viagem dele a Pernambuco, para comprar matéria prima para seu engarrafamento na cidade baiana. Assim, parti rumo à minha primeira profissão. Chegando em solo baiano, pelo conhecimento de Tio Noé, consegui alugar uma sala numa residência bem próximo da praça central e fui instalando o “PHOTO – Serviço de Fotografia”. Ainda em PE, Silva me perguntou por que eu não colocava um nome em inglês. Eu lhe respondi que essa palavra era foto em inglês mesmo – só que eu tinha pensado antes no latim ou num português antigo, quando se escrevia pharma-cia, com ph. Mandei fazer uns talões de pedido numa gráfica local e comecei a funcionar.

Mamãe lava louça. Por trás, a Serra Negra e as Torres da Matriz de Bezerros

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Memórias de Meio Século 129 [email protected]

Remanso já estava bem maior do que aquela que conheci quando criança. devia ter agora uns 20.000 habitantes, cerca da metade da população de Bezerros. Como eu não tinha conseguido comprar todos os equipamentos necessários para revelar e cópias boas fotos em preto e branco, a qualidade do meu serviço era realmente precária, lembrando aqueles fotos lambe-lambe que antes condenava quando trabalhava no foto do Recife. Lembro-me que eu nem tinha uma câmara escura. Para fazer as fotos, eu esperava chegar a noite e, mesmo com a luz que vinha da casa da vizinha – a dona da minha sala-loja -, eu me cobria com um grande lençol para não deixar a luz passar. O tempero que Tia Isabel ou Lourdinha usavam na comida já era bem no estilo baiano – afinal, elas já moravam ali há vários anos. Como a comida que Mamãe me fazia era bem mais suave, todas as vezes que eu almoçava ali ficava com azia. Era um desconfortável ardor que eu não conseguia evitar nem se comesse apenas a metade da comida. Como eu não gostava de tomar um sonrizal toda vez que isso acontecesse, esperei surgir outra solução. Em Bezerros, lendo a Bíblia, que eu descobrira há pouco tempo, encontrei esta curiosa passagem bíblica, onde o Apóstolo Paulo diz para seu discípulo Timóteo:

Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.

ITm 5:23

Da esq. p/dir.: Israel, Tias Izabel, Lourdinha e seu namorado, tio

Noé com o “Havaí”, e Berto [Jan/1981]

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Memórias de Meio Século 130 [email protected]

Resolvi então fazer tal experiência: sempre que terminava o almoço,

eu colocava dois dedos de vinho (tinto suave) num copo com dois dedos de água e bebia. Para minha surpresa, a azia foi desaparecendo e nunca mais aquele tempero me incomodou. A partir de então, descobri que, efetivamente, não somente o vinho, mas qualquer bebida pode ser útil á saúde do ser humano, se usada com a devida moderação. Nesse sentido, mesmo proibindo os excessos – pois, uma coisa é usar e outra coisa é abusar -, a própria Bíblia dá vários conselhos a favor da bebida alcoólica. Eis mais alguns trechos:

Dai bebida forte ao que está para perecer, e o vinho ao que está em amargura de espírito. Bebam e se esqueçam da sua

pobreza, e da sua miséria não se lembrem mais. (Prov 31:6-7)

Fazes crescer erva para os animais, e a verdura para uso do homem, (...) o vinho que alegra o seu coração, (...) e o pão

que lhe fortalece o coração. (Sl 14:14-15)

Dos religiosos não-católicos (evangélicos) que conheço, somente as Testemunhas de Jeová e a Congregação Cristã no Brasil é que permitem oficialmente o uso moderado de bebida alcoólica, especialmente vinho e cerveja. Tia Izabel costumava viajar com tio Noé para Pernambuco e ficava alguns dias lá em casa. ela sofria de bócio e, num desses tratamentos, demorou mais tempo e comprou um cachorro pequenez que apelidou de Havaí. Todos nós gostávamos muito dele, especialmente eu quando o via correndo desesperadamente pela casa e esbarrava por entre as pernas das seis cadeiras da sala de copa. Tia viajou e me deu o pet. fiquei muito feliz, mas, depois, ela mudou de idéia e levou o Havaí a Bahia. O movimento no Photo ia melhorando gradativamente. Eu revelava os filmes coloridos dos meus clientes em Petrolina. Consegui um desconto ali e passava uma duas semanas colhendo filmes dos clientes, ajuntava com as fotos que eu batia e pegava o ônibus até aquela cidade fronteiriça de

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Pernambuco. Porém, uma tragédia técnica aconteceu e quase que eu desisto dessa profissão. A filha do dono da minha loja ia fazer sua formatura do 2º grau e me convidou para fazer a sua reportagem fotográfica. Era meu primeiro grande serviço. Na noite marcada, levei meu material com filmes coloridos de reserva e fui – sozinho, porque ainda não tinha condições de pagar a nenhum empregado. Gastei uns dois ou três filmes de 24 poses na minha velha e boa Yashica reflex de filme-120 e voltei feliz para casa, com a certeza de ganhar um bom dinheiro com aquela formatura. Quando entrei no meu laboratório e revelei os filmes em preto e branco, gelei: só se via uma sombra de todo o baile e cerimônias da formatura nos negativos!... Simplesmente eu, sem muita experiência profissional em reportagens, fechei muito o diafragma da câmera, deixando entrar pouquíssima luz. Parece-me que eu devia ter usado a abertura “8” e deixei em “16” ou “32” – praticamente toda a lente fechada. Lembro-me que, para consolo, ainda so-braram algumas Fotos coloridas, que eu mandava revelar em Petrolina. Mas, a moça ficou totalmen-te frustrada e me vi forçado a inventar alguma desculpa es-farrapada para justi-ficar meu erro técnico. Felizmente, parece-me, outras colegas levaram câmeras ou fotógra-fos próprios e, assim, puderam sal-var o evento. Ainda bem que não era um casamento...Mas, não foi por isso que fechei meu Photo em Remanso, não. Como Netinho queria aplicar sua herança num engarrafamento de bebidas em um local de clima quente, pensou logo no Maranhão, e Tio Noé e família era quem sabia da técnica de refrigerantes e bebidas, convidou-o para

Meu quarto com o escritório de estudos e o espelho oval que eu

usava para os clientes se pentearem no Photo. Pela janela, a gélida vista da Serra Negra

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se mudarem para Santa Inês-MA para implementarem esse novo projeto. Já que eu estava na casa deles e não pensei em ficar sozinho na Bahia, desmanchei meu foto e segui no caminhão com aquelas duas famílias rumo ao outro estado nordestino. Acho que fiquei só uns 6 meses na Bahia. Não deu nem para fazer amizades ou mesmo conhecer a igreja do meu Tio, que era o único evangélico da família. Apesar de ser fotógrafo, tirei poucas fotos desta cidade, e, dessas poucas, não localizei nenhuma para publicar aqui – exceto estas duas, tiradas na cassa de Tio Noé (págs. 119 e 121). Anos depois, Tia Izabel veio a falecer – acho que eu morava em Brasília. Quando retornei a Pernambuco, agora, em 2008, soube que tio Noé, que já morava em São Paulo, também partira para a eternidade – não sei se ele ainda permanecia na Assembleia de Deus, para onde me levou. Lourdinha continua no Estado de São Paulo, tendo contraído Aids do companheiro que já faleceu, provavelmente sendo evangélico também. Israel parece estar morando em Minas Gerais, talvez com seus filhos, dentre eles o “Pinóia” – que era o mais velho. Tentarei conseguir os endereços deles para enviar um exemplar destas Memórias.

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Santa Inês, em foto atual (da internet)

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Memórias de Meio Século 135 [email protected]

Empreendimento frustrado

Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se

cansarão; andarão, e não se fatigarão. Isaías 40:31

caravana de imigrantes que seguia da Bahia rumo ao Maranhão era composta de 2 famílias com 7 adultos e 3 crianças, sem contar Netinho, que vinha direto de Pernambuco. Ao atingirmos as terras maranhenses,

que, por sinal, nenhum de nós conhecia – parece-me que só Tio Noé -, ficamos numa grande e baixa casa de pau-a-pique num subúrbio de Santa Inês. Como era desconfortável, ainda mais para 10 pessoas, alguns dias depois, Netinho conseguiu outra residência bem maior e de perfeito acabamento em alvenaria. Tio Noé e seus filhos Israel e Berto iam se encarregando da montagem dos equipamentos para o engarrafamento dos refrigerantes e bebidas. Netinho ia trazendo semanalmente insumos e alimentos em grande quantidade de Pernambuco. E eu ia procurando um ponto para instalar meu foto, naquela cidade onde eu não conhecia ninguém nem tinha idéia de como era o mercado fotográfico. Entretanto, houve algum tipo de desentendimento entre Netinho e Tio Noé - que até hoje realmente não sei o que foi – e o projeto do engarrafamento foi abortado. Eu, simplesmente, fiquei escutando a decisão deles e, não desejando mais voltar para Remanso, preferi regressar para Bezerros. Nem cheguei a conseguir um endereço para o Photo. Dessafeita, Tio Noé e Israel voltaram com suas famílias para a Bahia, e eu e Netinho, para Pernambuco. Todavia, é sobremodo surpreendente como Deus pode utilizar todas as coisas erradas e qualquer fracasso dos homens para converter em algum tipo de benefício para quem Ele deseja abençoar, não importando o que pensam esses mesmos homens! É o que veremos a seguir.

A

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Memórias de Meio Século 136 [email protected]

O Encontro com Cristo na Assembleia de Deus

A religião pura e imaculada para com Deus é esta: Visitar os órfãos e viúvas nas suas tribulações

e guardar-se da corrupção do mundo. (Tg 1:27)

Anos é a minha idade evangélica. São já 3 décadas desde quando recebi a Cristo como meu salvador. É mais da metade da minha vida em diversas igrejas e organizações religiosas distintas.

Diante do impasse religioso em que eu me encontrava – já que eu não podia mais ficar numa igreja em que nasci e descobri possuir vários erros doutrinários em confronto com a Bíblia – restou-me continuar lendo a Bíblia e demais livros correlatos e aguardar uma indicação divina para minha congregação mais adequada.

Púlpito da Assembleia de Deus-Sta Inês-MA e o ônibus da Obra

Eu e todos os meus parentes nascemos dentro do Catolicismo. Acho mesmo que nunca houve um protestante dentro da nossa linhagem. Porém, não basta alguém ser nascido nesta religião ou mesmo no Protestantismo, ser batizada e até receber os outros sacramentos para ela ser salva espiritualmente, pois a Salvação é algo que se obtém por meio da fé – não é nem pelas obras – ou por merecimentos -:

Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.

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Memórias de Meio Século 137 [email protected]

(Ef. 2:8-9)

Também ninguém é salvo por Hereditariedade, sendo indispensável a confissão individual da pessoa:

Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo;

(Rom 10:9)

A única igreja Assembleia de Deus que existia em Bezerros, onde eu me congregava

Enquanto estávamos ali, em Santa Inês, Tio Noé convidou-me para visitar sua igreja, a Assembleia de Deus. Eu já havia falado para ele algo sobre minha busca espiritual e que desistira do desejo de ser frade.

Osjogos esportivos com estádios lotados transmitem uma alegria fenomenal a quem deles participa ou mesmo assiste pela televisão. Imagine-se um FLA-FLU num Maracanã lotado! (Naquela época, estes dois times eram os mais queridos no RJ.)Ao chegar àquela Congregação assembleiana, vendo e ouvindo os “crentes” bradando sem cerimônia GLÓRIA A DEUS! ALELUIA!pelos quatro cantos do templo, fui tomado de uma inefável e inexplicável alegria que me fazia lançar por terra todas aquelas questões teológicas, não importando quais fossem as respostas tecnicamente engendradas por padres, pastores, rabinos ou quem quer que fosse!

Meu coração se debulhava literalmente em lágrimas diante das

palavras do pregador. Tio Noé permanecia do meu lado, apenas calado, com

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Memórias de Meio Século 138 [email protected]

sua Bíblia na mão e aquele simpático sorriso que o diferenciava dos meus demais parentes. Na hora do apelo para aceitar a Cristo, um diácono chegou ao lado do banco onde eu estava e me perguntou: Você não quer aceitar a Cristo?... Eu levantava a cabeça, olhava para ele e apenas respondia “Agora não.”, e voltava a chorar copiosamente, aos soluços. Creio que chorei ali bem mais do que naquele terreno baldio em Bezerros, alguns anos atrás, quando descobri a Deus, deixando de ser ateu. A resposta que eu dei ao diácono, de “agora não” tinha ainda um firme impedimento que urgia fosse removido: as questões bíblicas tinham de ser dirimidas ao longo da próxima semana. Aí sim, no domingo seguinte eu poderia fazer a decisão mais acertada! Por fim, naquele outro domingo, retornei decidido a receber a Cristo no meu coração. Sem mais tantas lágrimas, assisti inteiramente ao culto e, na hora do apelo, fui um dos primeiros a me levantar e ir á frente naquele púlpito ereceber a Cristo no meu coração ali, naquela IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS DE SANTA INÊS-MA. Não sei se eles ainda têm os meus registros daquela data.Mas, localizei recentemente o site dela (www.adsantainês.com) e solicitei meus possíveis registros ali e baixei estas fotos. inclusive de um confortável e moderno ônibus que serve à Obra.

O majestoso prédio do Templo Centgral da Assembleia de Deus no Recife – Av. Cruz Cabugá

Não me lembro da data exata – foi pelo início de 1981 -, nem sei se

era no centro da cidade ou no subúrbio, não sei o nome daquele pastor nem

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Memórias de Meio Século 139 [email protected]

recebi nenhum cartão de membro ou carta de recomendação, mas pretendo retornar ali em breve para ver e reproduzir o registro da minha conversão no livro da Igreja. Enquanto isso, Deus já trabalhava na minha vida e preparava-me algo como se fosse um presente de boas-vindas ao seu Novo Reino.

Pai conversa comigo em Bezerros, casa do Matadouro [1980, aprox.)

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Memórias de Meio Século 140 [email protected]

Inscrição no Concurso da Caixa Econômica

esse ínterim, Netinho estava em viagem a PE.Ele me telefonou dizendo que abriram inscrições para o concurso da Caixa Econômica Federal. Mais uma vez, fiquei aborrecido com meu irmão mais velho, que vivia

se metendo na vida da gente. Ademais, eu já tinha minha profissão – fotógrafo - e minha empresa (agora, imaginem, que renda mensal eu ainda ia ter com um pequeno foto que nem estava instalado...). Mesmo assim, ele disse que estava mandando o dinheiro para eu fazer a inscrição. Saquei o dinheiro e fui à Caixa inscrever-me naquele concurso e voltei às minhas preocupações de instalação do meu estabelecimento profissional.

Todavia, não obstante todos os característicos esforços de Netinho, o projeto do engarrafamento de bebidas não logrou êxito. Não sei quais os motivos, pois não tínhamos reuniões – era tudo entre ele e tio Noé. Eu nem sabia se havia um nome de fantasia para a empresa. Só sei que houve “aborrecimentos”. Quais os motivos dos mesmos, ainda ignoro.

Não tendo conseguido me instalar nem conhecendo ninguém naquela cidade maranhense, tive deretornar com meus parentes. Tio Noé e Israel voltaram com suas respectivas esposas e filhos para a Bahia. Como não tinha mais ânimo para retornar ao meu antigo local do Photo, decidi rumar para minha terra natal.

Na praia de candeias, com amigos de Netinho, vindos de Bezerros. Silva está ao lado do tronco

N

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Memórias de Meio Século 141 [email protected]

Ao retornar para Bezerros, sem o sucesso da instalação do meu foto - mas com o advento da minha conversão ao protestantismo – agora eu “era crente”! -, fui vendendo os equipamentos fotográficos, pois eu não queria enfrentar os dois bons fotógrafos que existiam no centro da cidade, nem um amigo, na minha própria rua, que era também bem melhor profissional do que os outros dois. Sem emprego nem mais aulas regulares, visto que eu já tinha terminado o 2º Grau e não pensava em faculdades, passei a estudar para aquele concurso para o qual Netinho insistira que eu me inscrevesse. Paralelamente, conheci uma moça, na Rua 9 de janeiro – a continuação da minha rua -, que era filha de um conhecido fazendeiro da cidade e também ia fazer o concurso da CEF.. Comprei uma apostila barata e passamos a estudar juntos. À medida que nos aproximávamos fomos nos apaixonando e surgiu aquele namoro platônico. Com isso, nossos estudos ficaram mais saborosos e excitantes. Sua irmã já trabalhava no BNB – Banco do Nordeste do Brasil, e frequentemente me falava da vida de bancário, além de possuir um lindo álbum com uns dez LP‟s do músico clássico Chopin, que eu gostava de ouvir sempre quando ia estudar – e namorar. Esse romance me levou a estudar tão profundamente aquela apostila e outros livros que minha namorada tinha, que obtive o melhor desempenho da minha vida numa prova ou num concurso – não obstante esse ter sido apenas o meu 2º concurso a enfrentar. Como eu tinha feito a inscrição no Maranhão, eu teria de fazer a prova em São Luis, no bairro de Fátima, e nem possuía dinheiro para essa viagem. Assim, minha namorada confiando na minha possibilidade de bons resultados, emprestou-me dinheiro para a viagem. Ela ia fazer a aprova em Caruaru mesmo. Mas, eu tinha outro plano.

De posse do dinheiro da viagem para S. Luís, na sexta-feira, viajei para o Recife e fui à Sede da Caixa Econômica tentar conseguir autorização pra fazer a prova ali mesmo, na minha capital. A atendente me mandou esperar e foi falar com seus chefes. Fiquei esperando. Caso tivesse que viajar mesmo para a outra capital, eu pegaria o ônibus dali mesmo, que daria tempo chegar até o domingo, antes da prova. Mas, a notícia me chegou favorável: eu podia fazer a prova ali mesmo, no Recife! Fi-las, portanto, e me senti seguro no certame.

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Memórias de Meio Século 142 [email protected]

Saí-me muito bem! Só não esperava que, num universo de mais de 10.000 candidatos no Estado do Maranhão, eu fosse aprovado - e em 2º (segundo!) lugar!

Dessa forma Jeová Jiré proveu esse belíssimo presente para mim – e me “fez vingança” quanto à falcatrua daquele concurso do IBGE, em Bezerros.Com certeza, essa vitória me veio como uma recompensa material

por eu ter antes buscado primeiro o Reino dEle, conforme consta em Mt 6:33

Buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

A minha amiga-namorada não foi aprovada e o namoro platônico foi se extinguindo espontaneamente. (Pouco tempo depois, ela conseguiu uma vaga no então Banco Econômico, em Caruaru.) Desimpedido assim, fui me aproximando de outra garota, na minha própria igreja Assembleia de Deus. Fátima era muito tímida e não deu para conversarmos muito. Tivemos contatos apenas uma poucas vezes, sobre a peça que ela preparava para uma festividade da Igreja, na qual eu interpretava o João do Apocalipse, quando ele dizia; “Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino, e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.” (Ap. 1:9) Tanto eu era tímido em relação a mulheres como, mais ainda, ela, apesar de ambos nos admirarmos “de longe”. Assim, quando chegou minha convocação para a Caixa – o que aconteceu em poucos meses! - eu tive, mais uma vez, de fazer outra mudança de endereço.

Pça das Tamarinas-Bezerros-PE

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Memórias de Meio Século 145 [email protected]

MEU PRIMEIRO EMPREGO COM CARTEIRA ASSINADA

A bênção do Senhor é que enriquece e não acrescenta dores.

(Provérbios 10:22)

o chegar na capital do Maranhão, para tomar posse no meu primeiro emprego com CTPS assinada, não imaginava que aindatinha mais bênçãos me esperando! Realizei a bateria de exames admissionais de praxe, os quais, por sinal,

eu nunca fizera. Ao fazer o de sangue, detectou-se uma taxa de glicose ligeiramente elevada, pelo que me pediram outro teste: uma curva glicêmica, que consistia em beber um copázio com um coquetel vermelho de sabor horroro-so durante algumas horas para o médico analisar a evo-lução da glico-se. Lembrei-me da diabete de mamãe... Mas, graças a Deus, deu um índice aceitável e fui tomar posse na agência Gonçalves Dias da CEF, no centro, na Praça dos Correios.

A

Meu novo local de trabalho, a Agência Gonçalves Dias, da Caixa,

em S. Luis-MA (1982)

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Memórias de Meio Século 146 [email protected]

Ao apresentar-me, minha surpresa foi maior ainda, pois, como eu fora aprovado em 2º lugar em todo o Estado do Maranhão, tinha o privilégio de escolher a agência onde queria ficar, dentro do estado, e, se fosse fora de S. Luis, teria direito a 3 meses de salário como ajuda-de-custo, passagem até de avião – para mim e para esposa e filhos, se os tivesse! - e até minha mudança, se eu também tivesse, seria transportada até mesmo pela Granero!... Eram muitas vantagens de uma só vez para um jovem adolescente interiorano que nem tinha o dinheiro para poder chegar ali e tomar posse desse disputado emprego!

Como eu não tive a visão de ficar na capital para fazer uma faculdade mais facilmente, e pensando apenas nos 3 meses de salário adicionais, optei por Imperatriz que, me disseram, era uma próspera cidade do interior.

Assim, de imediato realizei vários sonhos na minha vida:

1) emprego bom e estável; 2) elevada quantia em dinheiro de uma só vez; 3) primeira viagem de avião; 4) morar numa casa grande e luxuosa – do Conjunto CEF; 5) e tudo isso sendo crente evangélico – pelo que podia usufruir tudo isso com mais proteção divina!

Para a minha passagem porS. Luís, procurei uma hospedagem que fosse de evangélicos, guiando-me pela idéia preconcebida de que “tudo de crente é bom, correto, justo, honesto e abençoado”, não importando quem seja ele ou ela ou quais sejam as condições materiais e visíveis a olho nu...

Assim, uma irmã que conheci no Templo Central da Assembleia, me levou a uma pensão da Ir. Mundoca, na antiga Rua do Dique (hoje, R. Rio de Janeiro - na verdade, é um beco estreito), no S. Luis Antigo, dando “vista para o mar” – a Praia Grande - exatamente ao lado do famoso Convento das Mercês, onde o ex-presidente José Sarney pretendeu recentemente se perpetuar com a criação do seu museu com faraônico mausoléu.

Apesar de ser um casarão dos antigos, lembrando as casas mal-assombradas dos filmes - com piso de madeira, com um subterrâneo um tanto obscuro -, fiquei ali, mesmo sentindo um certo medo e receios vários, pois predominava o fator evangélico pelo que eu achava que não devia fazer exigência envolvendo confortos e outros mais erroneamente considerados

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Memórias de Meio Século 147 [email protected]

“vaidade” pela maioria evangélica daqueles anos. Mas, aquela jovem senhora proprietária era muito simpática para com todos e para comigo.Era próximo do trabalho e dava para ir a pés também para a Sede da Assembleia de Deus onde me congreguei chegando a cantar uma ou duas vezes no coral. Fiquei nessa capital apenas por uns 2 meses. Esta foto é de 2006, com o casarão já totalmente reformado, onde mora hoje uma simpática senhora católica que me recebeu muito bem, permitindo-me fotografar todas as dependências, até o porão-subterrâneo.

A Pensão foi totalmente reformada (não havia 1º and.), mas o sub-solo continua o mesmo. (A

parede vermelha, no fim da rua, é do Convento das Mercês, e a garota de amarelo e vermelho é a Rebecca)

Nessa ocasião, visitei a casa da irmã que me recebia naquela época.

Ela estava separada do marido que era um dinâmico jovem maestro, cuja mãe morava em Caxias, no bairro de Trisidela (quando trabalhei no presídio ali, em 2010, tentei certa vez procurar a congregação da Assembleia, mas não me lembrei mais). Antes da separação, como ele trabalhava em empresa de aviação, fizeram juntos uma viagem aos Estados Unidos. Ela voltara a morar no mesmo casarão onde, em 1982, seu pai matava porcos – certa vez ouvi os chiados dos suínos sendo executados na parte de baixo daquela centenária casa... Embora se tratasse realmente de um emprego invejável, um funcionário de início de carreira da Caixa Econômica Federal não ganhava tanto dinheiro que desse para ele se manter numa capital, se casar e ainda ajudar parentes a vida inteira! Essa foi uma das minhas primeiras idéias

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errôneas a respeito de DINHEIRO, com o qual – ainda hoje, devo confessar – não sabia lidar, usando só o estritamente necessário e poupando o restante para uma aplicação adequada num futuro qualquer. É como dar uma fortuna a uma criança... Logo de início, com uma conta corrente (que também eu nunca a ter uma antes!) recheada de 3 meses antecipados de salário bruto, mais o salário do próprio mês que foi chegando, eu passei a mandar bonificações para meus parentes e para pagar as pequenas dívidas que deixei – como as contas telefônicas dos diversos telefonemas que eu dava para S. Luís, para tratar da própria posse na CEF. Ainda hoje guardo as vias das Ordens de Pagamento – OP que eu mesmo preenchi e transmiti via telex, pois trabalhava nesse setor. Como sempre gostei de livros e, sendo agora evangélico, passei a comprar todos os livros que via pela frente – pois, afinal de contas, agora eu tinha dinheiro!

Fazendo o Curso de Caixa Executivo em São Luis

Ao começar a fazer minhas primeiras compras em supermercado, passei a colocar itens supérfluos demais no carrinho: chocolates, doces, sabonetes melhores e outros produtos considerados de rico. Resultado: com essas práticas infantis de gastar meu tão precioso e invejável salário num dos melhores empregos do Brasil, simplesmente eu ia ficando sem dinheiro tão rápido quanto ele entrava na minha conta. Lembro-me bem que NUNCA CONSEGUI GUARDAR DINHEIRO DE UM MÊS PARA O OUTRO! Sinto-me feliz como pai por saber que Graça passou no concurso da Caixa há nuns 3 anos e está trabalhando satisfeita numa agência em Brasília.

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Achei que já tinha atingido o Topo

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?

Jeremias 17:9

erta vez, Deus olhou para a Terra e lamentou a triste situação dos

seres humanos através das seguintes palavras: O meu povo padece porque lhe falta conhecimento.(Os 4:6) Teologicamente, Ele se

dirigiu ao Seu povo – Israel -, mas, pela Sua Misericórdia, podemos estender essa expressão à toda a raça humana.

Visitando Alcântara, onde se construía a atual Base Aero-espacial

Ao tomar posse na Caixa Econômica, eu fui colocado dentro de um Palácio Real onde tinha praticamente tudo que eu quisesse! Ou seja: eu passava a ter todas as coisas que nunca tive: bom e estável emprego, dinheiro em certa abundância, crédito nos bancos e lojas, casa boa, boas faculdades, condições de adquirir um carro, chance de ajudar meus pais pobres, namoradas (e ricas, da própria empresa, inclusive...), amigos ricos, certo destaque na própria igreja, enfim tudo o que um jovem anseia para prosperar na vida material, familiar e social neste Planeta. Entrementes, for falta de conhecimento da vida real e diária, eu não soube usufruir

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adequadamente de todas essas grandes oportunidades! Ou seja: eu simplesmente não sabia o que fazer com tudo aquilo que me chegava àsmãos! Achava que aquilo “não tinha valor” e que eu poderia conseguir quando bem quisesse! E, com o passar dos anos, fui perdendo gradativamente todas aquelas bênçãos!... É sabido que o Reino Deus não cogita dessas coisas que acabo de mencionar e todos podemos ser felizes, na abundância ou na escassez de bens materiais, conforme nos ensinou o Mestre:

A vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui. Lc 12:15

Mas, Deus também proporciona todo o conforto possível aos Seus a

fim de que deem frutos cada vez mais viçosos e vistosos para que o mundo possa ver as boas obras em nome de Deus! (Mt 5:16)

Assim, Deus foi por demais generoso para comigo. Eu, no entanto, agi praticamente como o Filho Pródigo(Lc 15:11-24).

Umas das

minhas grandes

mancadas que

cometi ao chegar a São Luís foi o de querer ir

para Imperatriz. Como eu tinha sido

classificado em 2º lugar naquele concurso, pude escolher qualquer cidade em todo o estado do Maranhão. Disseram-me então que Imperatriz era uma cidade em franco desenvolvimento e a CEF tinha casas como alojamento lá. Além do mais, eu ganharia de imediato três meses de salário integral como

Diante da minha ex-agência Gonçalves Dias, na Praça dos Correios, em 2006

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ajuda de custo e iria de avião para lá!... Pronto! Isso para mim era demais: muito dinheiro de uma só vez,ia fazer minha 1ª viagem de avião e ia morar numa casa de laje, cerâmica, garagem – “casa de rico”! Não pensei duas vezes e aceitei na hora.

Todavia, hoje me questiono: não teria sido mais sábio e prudente eu ter ficado aqui mesmo, na capital, com uma diversidade de opções para meu futuro?... Só Deus pode responder com exatidão. Ainda bem que Ele usa tudo com um propósito benéfico para nós.

Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. Rom 8:28

Lembro-me que, quando fui deixando Bezerros, rumo à esta minha posse, comentei imprudente e enfaticamente com Netinho, que me acompanhava pela Ladeira de Manoel de França: Agora, nós vamos ter dinheiro!... Mas, que “dinheiro tão grande” era esse?... E quem era esse “nós”, se o que eu ganhava eu aplicava mal e não sobrava para ninguém mais?...

Diante de tudo isso, devo admitir que tomei muitas decisões precipitadas e não sábias ao longo da minha vida. Não aprendi com o trecho bíblico a seguir:

Aprendei, ó simples, a prudência; entendei, ó loucos, a sabedoria.

Ouvi vós, porque profiro coisas excelentes; os meus lábios se abrem

para a equidade. Porque a minha boca profere a verdade, os meus lábios abominam a impiedade.

Justas são todas as palavras da minha boca; não há nelas nenhuma coisa

tortuosa nem perversa. Todas elas são retas para o que bem as entende, e justas para os que acham o

conhecimento. Aceitai antes a minha correção, e não a

prata; e o conhecimento, antes do que o

Diante de um palácio do governo

maranhense (1982)

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ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que as joias; e de tudo o que se deseja nada se pode comparar com ela. Eu, a sabedoria, habito com a

prudência, e possuo o conhecimento e a discrição. Prov. 8:5-12

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A Pça. Brasil, Imperatriz, onde ainda fica a saudosa CEF (foto atual, da internet)

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Vivendo como crente

Vós sois o sal da terra; (...) Vós sois a luz do mundo. (...) Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

Mateus 5:13-16

uando aquele Boing da Varig – companhia aérea que ainda existia, e era a maior de todas - pousou no Aeroporto de Imperatriz, que eu não conhecia mas, na hora da escolha, me disseram que era uma cidade

próspera e em franco crescimento, senti-me como um aventureiro que vai começar um novo desafio em todos os aspectos da sua vida.

Fui recebido por um simpático colega que me levou no seu carro até o confortável alojamento da CEF, que era um conjunto de 6 casas grandes, de laje, com 3 quartos, suíte, garagem e pequeno muro na frente. Eu, que nunca morara numa casa forrada sequer de gesso, ia moram numa “casa de rico”, como eu via na minha infância...

Como não havia ônibus urbanos de forma regular e numa capilaridade que atendesse a todos os bairros, eu tinha de ir e vir do trabalho de carona dos colegas-vizinhos, tive de providenciar logo meu transporte próprio. E como a maior parte da população imperatrizense usava bicicleta como meio de transporte, tratei de comprar logo uma pra mim: era uma Brandani marrom, que me deixou cheio de orgulho por ser meu “primeiro veículo próprio” – pois, aquela Monark, do incidente com o remédio, em Bezerros, como falei, era de Netinho. A agência da CEF onde eu ia trabalhar ficava na Praça Brasil. Hoje, ela continua na esquina da mesma praça, porém com o endereço oficial de “Rua Pernambuco”...

Quando cheguei ao Maranhão, procurei fazer tudo na minha vida diária com a chancela de um evangélico pentecostal. Fosse no vestir, no andar, no falar, no comer, nas diversões, no trabalho e tudo o mais que eu fizesse.

A idéia que geralmente se tem de um crente no Brasil, especialmente, pelo Nordeste, é de uma pessoa alienada da realidade social, que procura se

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esquivar de tudo que tida respeito a lazer e que é alguém especial demais para viver neste mundo cheio de pecados. Assim, eu procurava fazer diferente para mostrar a todos que eu era efetivamente um evangélico!

Lembro-me quando ainda morava numa das casas do Conjunto da

Caixa Econômica, que um colega caixa, o Alfredo Alves, meu vizinho também, convidou a todos nós para uma ceia de Natal em sua casa. Todos foram exceto eu que fiquei sozinho numa mesa que mandei um irmão marceneiro fazer, naquele casarão sem mobília nem TV! De repente, o colega, no seu louvável jeito espontâneo e gentil, chega até a minha sala e leva um copo de vinho que, mesmo não sendo para crente beber nada, eu cedi àquele inesperado gesto de gentileza e verdadeiro espírito cristão. (Fiquei muito surpreso quando, agora, em 2010, entrando no elevador do estacionamento do Hiperbompreço daqui, de Teresina, cruzei com esse mesmo colega que levava sua mãe numa cadeira de rodas, para fazer compras. Ele mora hoje em Fortaleza e continua na Caixa. Quase 30 anos depois!)

Confortável casa do “Conjunto CEF” onde morei até me casar. (Sou o da dir.)

Outro hábito que adquiri foi o de fotografar todas as dezenas de congregações que a Assembleia de Deus possuía na cidade e redondeza próxima. Na época, eram cerca de 25 e eu consegui visitar, de bicicleta, quase todas elas. Hoje, surpreendi-me sobremodo quando soube que já são umas 150 igrejas!

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Sempre comprava livros e artigos evangélicos – chaveiros, marcadores de página, etc. – na Livraria Baraquel – não sei se ela ainda existe. Neste ponto, sempre fui perdulário e jamais soube economizar: sempre, depois do saudoso dia 20 de cada mês, eu já ia gastando meu salário! Havia um amigo-irmão que trabalhava no Armazém Paraíba, o Ir. Aguiar que, vendo uns LP‟s de música clássica (Beethoven, Chopin, etc.) na minha coleção, e preocupado com minha vida espiritual, propôs-me trocá-los por outros de música instrumental evangélica. Aceitei e, assim, ele me aparece um dia, na sua inseparável bicicleta, com dois discos do famoso maestro evangélico Matheus Ienssen. (Não sabia ele que até a famosa marcha nupcial - que se toca até nos casamentos evangélicos - é de um compositor não-evangélico da safra daqueles que eu tinha – A Midsummernights DreamWedding, de Mendelssohn.) Achei aquilo engraçado, mas lhe dei os discos mundanos e agradeci pelo cuidado. Esse irmão me deixou uma palavra que, na época eu sorria quando ele a pronunciava, mas hoje, depois de três décadas, vejo a verdade que ela continha: PRUDÊNCIA! Ele sempre me dizia, sorrindo simpaticamente, para eu ser prudente. E, eu que nunca ouvi seu sábio e amigável conselho, nunca fui cauteloso nas minhas atitudes do dia-a-dia e, perdi aquele emprego, perdi aquela família e até perdi aquela igreja – que hoje tento custosamente readquirir! Também procurei gostar dos trabalhos de evangelização ao ar livre ou na cadeia pública. Íamos de bicicleta. Nunca vi algum irmão nos acompanhar de carro, mesmo os que eventualmente tivessem – talvez porque só iam mesmo os que não tinham. Nessa cadeia, lembro-me de uma quartinho, no pequeno pátio, onde se lia ironicamente acima da porta de entrada: Ceuzinho. Podemos imaginar as atrocidades praticadas ali dentro, numa época em que não se respeitava a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, embora o Brasil já fosse signatário dela.

Realmente, eu não gostava de evangelizar pois, além de ser em casa simples de pessoas indoutas, era também em ambientes um tanto deprimentes, como essa cadeia, eu nunca concordei em se pregar usando os mesmos jargões já batidos por tantos outros missionários de porta-a-porta. Em toda abordagem, eu sempre estudava o ambiente em que a pessoa se encontrava e procurava encaixar um diálogo atual e ocasional a fim de despertar real interesse do ouvinte e nunca usava a tática do ataque ao

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Catolicismo ou outra religião. Ademais, eu achava que já havia muitos programas em rádios e televisão, pelo que não era mais necessário essa estratégia de evangelização. Mas, eu ia porque gostava do Evangelho – não para satisfazer á igreja à qual eu pertencia. Nunca pensei em visitar outras denominações, nem mesmo para conhecer, assistir a um culto ou mesmo fazer amizades– não que eu achasse isso “proibido”. Certamente, isso foi um erro elementar que cometi, pois devemos conhecer todas as variantes de uma determinada organização para fazermos as necessárias comparações visto que são obras de mãos humanas, embora em nome Deus, pelo que se cometem muitos abusos sobre pessoas incautas e imaturas na fé – exatamente o meu caso. Tivesse eu feito tal comparação, até mesmo através de estudos teológicos das respectivas doutrinas interdenominacionais, muitas coisas eu teria evitado até hoje.

Eu e Fátima com o grupo de evangelização na Cadeia de Imperatriz, em 1983

Lamentavelmente, aceitar a Cristo como Salvador naquela época significava apenas: não beber, não fumar, não jogar, não dançar, não namorar fora da igreja, não ouvir músicas populares e outro conjunto de coisas contidas na Cartilha das doutrinas e preceitos de homens que a respectiva denominação evangélica impusesse sobre o neo-convertido. Sempre foi assim e continua sendo nas mais antigas congregações protestantes, mesmo sendo este ano o do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil. (Serão

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necessários pois “mais 100 anos” para termos um Evangelho sem Doutrinas e Preceitos de Homens?!...) Entretanto, a Bíblia nos mostra uma realidade bem diferente, que consiste da prática da fé e da Palavra de Deus, pois a fé sem obras é morta. (Tg 2:14-26) Aqui, Tiago – o irmão sanguíneo de Cristo -, faz um belo sermão acerca das obras materiais-sociais, ou seja: a caridade, a filantropia! Ele diz frontalmente:

Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma

irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes

derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? (VV. 14-16)

E, em Romanos ICor 4:20 lemos queO Reino de Deus não consiste em Palavras, mas em virtudes (ou em poder, conforme a tradução). No

entanto, quando nos convertemos numa igreja, não aprendemos de imediato essas verdades práticas básicas. E alguns irmãos chegam mesmo a nunca aprender isso, pois acham que a vida cristã está limitada apenas ao relacionamento do homem para com Deus, e pronto! Eles não lembram que o

O púlpito superior da Sede da A. Deus – Imperatriz-MA

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2º Grande Mandamento é Amar ao próximo como a si mesmo! (Mt 22:36-39) Assim, eu não tinha ainda esse senso crítico dentro daquela

minha primeira igreja evangélica, embora eu já tivesse feito parte ativa da SSVP – Sociedade São Vicente de Paula -, uma organização filantrópica católica.

Aqui, no Maranhão, recebi uma carta da Presidente dos Jovens da Igreja de Bezerros. Ela pegara meu endereço com uma senhora irmã. Apesar de eu sempre ter gostado de escrever cartas, levei alguns endereços de irmãos e conhecidos – mas o dela mesmo, não. Então, passei a me corresponder com uma senhora chamada Ir. Julieta que se tornou nosso cupido. Passamos a trocar correspondências e, após umas 10 missivas, prontamente, propus-lhe casamento! A princípio, percebe-se que em poucos meses, e através de cartas, é muitíssimo difícil alguém conhecer outra pessoa; ainda mais no tocante a um futuro compromisso que pretende durar para “a vida inteira”. Foi por aqui o erro inicial do nosso relacionamento. Se tivéssemos pais, ou mesmo amigos, que nos orientassem “conjugalmente”, certamente, teríamos nos aproximado antes e nos conhecido melhor. E aquela pequena congregação assembleiana bezerrense não possuía um(a) “conselheiro(a) conjugal” para atender neste espinhoso terreno da vida humana. (Talvez a esposa do pastor tenha lhe falado “alguma coisa”, pois que sua própria mãe, idosa, analfabeta e de rígida origem rural, acho que sequer lhe mencionou algo sobre casamento – pelo menos acho assim, ela própria nunca mo disse.) Em resposta ao meu pedido de casamento, Fátima disse “eu não tenho atributos que lhe sejam favoráveis....” (Ainda tenho as cartas que trocávamos.) Insisti em que aquelas diferenças apenas culturais não impediriam de sermos felizes, etc., etc...

Fátima e Ir. Julieta, já falecida

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Vida de “Rico”

O reino de Deus não consiste em comida nem bebida. Romanos 14:17

u sei que, depois que passei nos concursos da Caixa e do Banco do Brasil, muitos parentes meus passaram a pensar que “Zito agora ficou rico e vai se esquecer da gente!...” Não, isso não era verdade. Se eu,

de alguma forma, me esqueci, não foi por ter mais dinheiro do que antes. Como nós não tínhamos costume com algum tipo de vida folgada - pois tudo era difícil para todos- um emprego público era comocoisa de rico. Infelizmente, eu mesmo é que era um tanto desligado dos meus próprios parentes.

Em Alcântara-MA, com colegas da CEF, e na casa da Caixa, em Imperatriz

Entretanto, sem perceber, eu passei mesmo a agir de uma forma como se meu salário e meu emprego nunca fossem acabar. Gastava logo tudo o que ganhava. Nunca cheguei a ter uma poupança para economizar. Nunca pensei em investir num terreno ou num negócio próprio, como vários colegas meus faziam. Talvez, para suprir uma necessidade psicológica de satisfazer minhas necessidades básicas, passei a fazer grandes compras em supermercado, enchendo o carrinho com itens que eram luxo antigamente, tais como: marmelada, azeite, chocolate, várias sobremesas, muita carne, shampoos e sabonetes bons (lembro-me que eu gostava de um que vinha enrolando num papel delicado e era fabricado pelos Matarazzo, de São Paulo – o Francis.

E

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Hoje, ele está mais popularizado e mais barato – e, portanto, não está mais com a mesma qualidade). Quando, no Recife, gostava de ir às extintas Lojas Arapuã e Mesbla e comprava tapete, quadros de pintura e outras coisas supérfluas. Livros e discos em geral, especialmente de Elvis Presley, eu chegava a comprometer até os cartões de crédito, especialmente quando comprei a coleção completa de 12 volumes das Obras de Sigmund Freud... (mas, isso foi no Recife, na extinta Livraria Livro 7.) Achando tresloucadamente que Mamãe nem minha antiga família não precisavam de algo, eu não comprava nada que servisse de uma grande lembrança para ela - pai, irmãos ou demais parentes.

Foi por aqui onde eu cometi um grande – e talvez, imperdoável – erro: eu não soube fazer a política da boa vizinhança – mas com sinceridade e amor - com meus próprios entes queridos, procurando agradar-lhes adequadamente e á altura, principalmente, quando fazia minhas viagens até minha terra natal. Acredito que até na minha última visita, agora, em 2008, eu não levei o que deveria levar... Então, aquela “vida de rico” era mera ilusão, pois o que eu ganhava já estava devendo cada santo mês... E, quando sobrava, gastava ingenuamente – como no caso das viagens ao exterior. Mas, essa suposta e fugaz vida de rico se foi e permaneceu uma

única realidade: Vaidade de vaidade, tudo é vaidade. (Ecl 1:2)Devemos,

antes de tudo, plantar no Reino Espiritual, pois tudo isso é perecível, conforme nosso Salvador - que por sinal, era paupérrimo – nos ensina ainda hoje:

Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e

roubam;mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam

nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

(Mt 6:19-21)

Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

(Mt 6:33)

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Da CEF para o BB

s bênçãos de Deus são, muitas vezes, tão grande que nós, simples humanos pecadores, nem sabemos direito como proceder.

Paralelamente, À medida que a bênção vai chegando, o Inimigo das nossas almas vai atrás, como um gaiato, tentando derrubar a bandeja ou colocando tropeço para tropeçarmos e cairmos. Acho que foi isso o que aconteceu comigo em relação aos meus dois melhores empregos que já tive. Foi diante dessas duas grandes propostas de emprego (CEF e BB), quando visitei Bezerros para me casar, que pai chegou a fazer aqueleproverbial comentário: Que coisa: Enquanto Netinho não tem nenhum emprego, Zito tá com dois empregos bons! (Na época, Netinho tinha deixado de trabalhar no escritório de contabilidade do Airton Santa Cruz e estava tentando montar seu próprio negócio.) Quando trabalhava na Caixa Econômica, não era considerado bancário, mas economiário, que era uma categoria especial e que ainda não possuía sindicato. Como Auxiliar de Escritório Nível 132, eu tive a escolha entre dois salários: um, para a carga horária de 6 horas diárias, e outro, para carga horária cheia, de 8 horas. Como eu não possuía outra ocupação, obviamente, escolhei o salário do horário integral. Alguns meses depois da minha posse naquela empresa pública,. Surgiu o concurso do Banco do Brasil, uma empresa mista, parte pública e parte da iniciativa privada, através das ações vendidas. Mesmo sem ter estudado nada, resolvi fazê-lo quase como uma brincadeira. Mas, não é que essa brincadeira deu certo e fui aprovado novamente? Fiquei surpreso quando os colegas da própria Caixa me disseram certo dia que eu tinha passado no concurso do BB! Fui até a agência ver o resultado e lá estava meu nome no 5º lugar na cidade! E agora? Onde ficar? Na CEF ou no BB?...

Rômulo era um dos meus amigos com quem eu corria até a Fazenda Boa esperança, a 5km de Bezerros. Ele era sobrinho do Monsenhor Florentino e já tinha passado no concurso do BB, que eu também ia fazer, mas por uma

A

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razão que não me lembro agora, foram canceladas todas as inscrições feitas na cidade de S. Bento do Uma. Ele estava trabalhando em Gravatá-PE. Escrevi-lhe contando minha situação e perguntando sobre as vantagens que eu poderia encontrar no BB. Prontamente, ele me respondeu dando valores dos salários e vantagens em geral.

O Prof. Antônio Nunes foi um dos meu professores que conheci no Colégio S. José e Nª Sª das Dores, e trabalhava no BNB – Banco do Nordeste do Brasil. Também escrevi para ele que me contou da realidade no seu banco, que era semelhante à do BB. Pediu-me cautela e desejou-me boa sorte.

Comparando os dois salários, concluí que, mesmo trabalhando como Caixa executivo – pois eu acabara de fazer o curso com apenas 4 meses de Caixa -, eu ganharia o mesmo sem tal responsabilidade, se fizesse 2 horas-extras diárias no Banco do Brasil. E, sem o cargo de caixa, eu ganharia o dobro no Banco do Brasil. Sem dimensionar outras vantagens, imediatamente decidi sair do emprego atual e ir para o novo, que me esperava ali mesmo, a apenas 2 quarteirões, na Av. Getúlio Vargas, Centro, Imperatriz. Fui convocado logo e, como já estava namorando a Fátima, esperei algumas semanas, desliguei-me da Caixa e viajei para Bezerros para me casar e, após uma semana de lua de mel, voltei para o Maranhão e assumi no Banco. Assim procedi. Desliguei-me da CEF em 31.12.82 e assumi no BB em 03.01.83. Eu devia ter me casado ainda sendo funcionário da CEF para ganhar mais alguns dias de salário. Mas, vejam a reviravolta que aconteceu.

A agência do BNB, na época, onde trabalhava o Prof. Antônio

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Poucos anos depois, através da mobilização deles, os ex-colegas economiários conseguiram o status de bancário e, consequentemente, se sindicalizaram, passando a lutar mais pela sua melhoria salarial. Assim, a carga horário na Caixa baixou para 6 horas diárias, mantendo-se o mesmo salário. Poucos anos mais adiante, conseguiram também a equiparação salarial com o Banco do Brasil! Assim, o que para mim fora uma vantagem, deixou de sê-la agora. Anos mais tarde, comentaram de que ele conseguiram também equiparação com o pessoal do Banco Central, que era o banco que melhor pagava no Brasil. Além desse avanço, devo mencionar que, durante os 12 anos e meio de BB nunca fiz um curso sequer – só o concurso interno para o Nível Superior que, segundo os comentários, me garantiria um cargo de chefia mas que, após minha aprovação e outros cinco colegas, o gerente da nossa agência simplesmente trouxe gente de fora para ocupar os cargos disponíveis. Na Caixa, logo com um ano de emprego, tínhamos direito a financiamento imobiliário quase pela metade do preço normal, ao ponto de alguns colegas terem dois ou mais financiamentos de casas em estados diferentes. Ironicamente, comprei também a minha, porém, pelo valor normal, quando comecei a trabalhar no banco do Brasil. E a CEF sempre tratou melhor o funcionário: fazíamos um curso de introdução durante uma semana, com tudo pago. O BB simplesmente mandava a gente pegar as CIC‟s – Codificação de Instruções Circulares – e aprender o serviço. Afinal, o contingente do BB era, na época, de cerca de 80.000 funcionários, enquanto que a CEF tinha apenas cerca de 20.000. Naturalmente, alguns anos depois me arrependi de ter saído daquele meu primeiro emprego-bênção. Hoje eu estaria trabalhando na mesma empresa em que minha filha mais nova já trabalha há uns dois anos. Contudo, ainda credito que

Tudo contribui para o bem dos que amam a Deus. (Rom 8:28)

Ainda hoje tenho todos os contra-cheques, papéis das férias e outros documentos desses dois empregos. Ainda guardo de memória as minhas duas matrículas (na CEF, 494875-3, e 5.583.5230-1,no BB)!

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VOLTO A PERNAMBUCO E ME CASO

Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só;

far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. (Gênesis 2:18)

ertamente, e de forma um tanto maliciosa, al-

guns parentes meus fazem um paralelo entre eu e meu pai quanto a este assunto: como ele desprezou minha mãe e arranjou mulheres fora do casamento eu faria o mesmo! O 10º Manda-mento da Lei de Deus, em Êxodo 20:17, nos ordena a não desejarmos/cobiçarmos a mulher do próximo – assim como se refere “à casa do teu próximo, seu servo, sua serva, seu boi, seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo”, em suma: qualquer coisa de propriedade de outra pessoa, seja bem material, título, posição, beleza, etc. E o mandamento 7º enfatiza: “Não adulterarás.” (v. 14) Ainda aos 21 anos de idade, eu era sexualmente inexperiente, ou seja, virgem, e assim me casei por amor com uma jovem de 20 anos que achei ser a mais bonita daquela congregação evangélica, em Bezerros, pois, sendo crentes, éramos orientados a “casar só com crente”! Recordo-me da sua beleza quando a via na “Rua da Ladeira da Delegacia”, com o seu vestido rosa do tecido chamado volta-ao-mundo, elegantemente com seu caquinho de maças. Ela me parecia uma princesa. Eu jamais “pularia a cerca” do meu casamento simplesmente por um fugaz prazer ou, pior ainda, apenas para provocar ou atingir aquela que tomara por esposa, até porque gostava muito dela assim como sempre amei

C

Mâe e pai no meu casamento

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nossas filhas. Mas eu era muito ingênuo e não tinha idéia da importância que uma mulher convencional dá à fidelidade dentro do casamento.

Na lua-de-mel, em frente à casa de Tia Socorrinho – 1º portão, branco. à esq. Por trás, o Monte de

Caruaru, com uma antena de TV, e meu primo Ronaldo dando um salto (no destaque)

Fátima era uma jovem simples, ainda não tinha concluído o 2º grau (parece-me que nem o 1º). Parara de estudar até por “sábia orientação” do seu pastor que achava as escolas “mundanas” um tanto propícias ao pecado (sic). Ela nasceu e viveu na área rural de Sairé até seus 13 anos, quando se mudou com seus pais para Bezerros, e desde criança era evangélica como seus pais o eram também. Aquela singela loira tinha muitos sonhos e, dentre eles, certamente, o mais importante era o de encontrar seu Príncipe Encantado, ou o seu “Isaque” – uma alusão ao relacionamento bíblico desse filho de Abraão com Rebeca (Gênesis, cap. 24). E, eu, conforme revelação que sua própria mãe tivera, seria esse tal. (Nessa revelação, a Ir. Maria, teria visto um jovem com um paletó que era o mesmo que usei no nosso casamento.)

Certamente, pelo fato de eu não ter tido muitas experiências com garotas – fosse namoro ou mesmo amizade – eu realmente era um tanto rude com minha esposa, e não tinha a sensibilidade de um verdadeiro gentleman capaz de compreender os desejos mais íntimos e a solidão do coração feminino - ainda mais mergulhado na minha “insensibilidade evangélica”, que

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não pregava/prega o cultivo da paixão sensual e romântica entre homem-mulher – e, particularmente, quando atingi meus 116kg de peso, sendo minha então esposa de menor estatura que eu!

Reconheço pesarosamente: fui rude com ela, bem como com as minhas filhas, embora as amasse e tentasse agradar-lhes dentro do que estivesse ao meu alcance – não obstante ter viajado duas vezes sozinho para os EUA e ter deixado desagradáveis lembranças em suas mentes distanciando-as de mim. Assim, casei-me em 23.12.1982, tivemos nossa lua-de-mel no Grande Hotel S. Francisco, em Caruaru. E Silva foi o fotógrafo oficial com a minha Yashica automática, de filmes 135, durante todo o casamento, tanto na igreja quanto no coquetel na casa do Ir. Alexandre e Ir. Maria. Aqui estão algumas fotos que ele bateu. Alguns dias depois, partimos rumo às margens do Rio Tocantins, tendo do outro lado ainda o Estado do Pará – o Estado do Tocantins ainda não existia.Fomos morar numa casinha alugada de 2 quartos, minúsculo quintal de talvez 1m de comprimento e forro de gessoapenas no nosso quarto e na sala de visitas. Eu bem que poderia ter conseguido algo bem melhor se fosse mais atencioso e prudente na escolha – e nas economias financeiras.

Assino o livro de Casamento da

Assembleia de Deus,

em Bezerros. Mamãe está à esq., por trás de Fátima,

e Netinho à esq,

dela, com sua namorada – Geane. No 1º plano, à dir., o

celebrante - Pr.

Severino Joaquim, de Gravatá

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Naquela nossa juventude, tínhamos tudo para sermos um casal feliz para sempre, caso soubéssemos – mais eu do que ela – conduzir todos os nossos passos a partir daquele momento solene.

Ainda me lembro do versículo bíblico que era desenhado na parede do púlpito da

Igreja onde nos casamos: Foi o Senhor que fez isto e é coisa maravilhosa aos nossos olhos. (Salmo 118:23) Entrementes, eu era muito ingênuo acerca da realidade prática da vida. Eu tinha os recursos: material – um bom emprego – e culturais – bom nível

de escolaridade. Mas, não tinha a sabedoria do dia-a-dia. Provavelmente, eu deveria ter esperado mais uns 5 ou 10 anos para me casar. Mais ou menos como meus pais que se casaram aos 30 anos. Só passei uns 15 dias em Pernambuco e voltei para Imperatriz, para tomar posse no Banco do Brasil. Morei na rua Magalhães de Almeida, onde Silva foi me visitar e ficou algum tempo trabalhando numa indústria dali.

Silva e eu tínhamos acabado de dar um passeio -

ele na minha Brandani e eu ia praticando cooper

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Experiência político-sindical

Quando os justos governam, alegra-se o povo;

mas quando o ímpio domina, o povo geme. Prov. 29:2

ercebendo minha facilidade em escrever, o colega do BB Uílio Oliveira me convidou para ser o redator de um jornal da delegacia sindical que ele estava instalando naqueles confins do Maranhão. Aceitei de pronto

e não fiz nenhuma objeção ou questionamento acerca das suas posições políticas.Aceitei de pronto, esperando adquirir alguma experiência numa área em que nunca entrara – o sindicalismo que, depois descobri, sempre caminhava de mãos dadas à política. Assim, passei a redigir o boletim mensal de 2 páginas batizado indefectivelmente de O Bancário. Era impresso ali mesmo, em Imperatriz, em gráficas tipográficas. A partir do nº 4, o Uílio conseguiu que a Sede do SEEB-MA - Sindicato dos Empregados em Estabelecimento Bancário – Maranhão -, em São Luís, imprimisse nosso boletim em off-set, com o apoio da CUT – Central Única dos Trabalhadores. Reproduzo aqui essa edição, de agosto/1986. Como aquele sindicato já era ligado ao PT – Partido dos Trabalhadores, oPTei por filiar-me a esse partido embora eu fosse contra o radicalismo dos socialistas e comunistas. Como eu já era membro ativo da

P

Jornal do Sindicato do Maranhão com um artigo de minha

autoria – antes, imprimíamos o nosso, em Imperatriz

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Memórias de Meio Século 171 [email protected]

Assembleia de Deus, essa também não apoiava greves ou pensamentos comunistas. Não cheguei a fazer nenhum discurso nem participei de grandes congressos ou manifestações. Embora tenha escrito um artigo intitulado Um país feito de greves, eu não concordava com o uso desse direito legal a torto e a direito. Eu era, na verdade, até meio pelego, ao ponto de, não concordando com certa greve, anos mais tarde, em Jaboatão-PE, colegas grevistas me surpreenderam na agência fechada, trabalhando com o gerente – e esse mesmo gerente depois me passou a perna, dando certo cargo comissionado para colegas de outra agência e não para mim e outros colegas recém-aprovados no concurso interno do nível superior do Banco.

Manifestação dos trabalhadores em Imperatriz. à esq., de costas e roupa azul, o colega do BB Uílio,

Delegado Sindical; à dir.; a passeata com a bandeira do PC do B

Tentando reacender esse sentimento político, recentemente, aqui, em Teresina, tentei lançar-me a vereador pelo PV – Partido Verde, porém tive uma grande decepção antes mesmo de registrar minha candidatura graças a deslealdade dos próprios companheiros. Devemos exercer nossa cidadania lutando por melhores condições de vida. Entretanto, toda luta deve respeitar princípios éticos e cristãos, evitando-se por todos os meios o uso de armas, violência e badernas.

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Nascem minhas duas Filhas

Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

(Salmo 127:3)

amais imaginei como é ser pai. Meus questionamentos eram do tipo: como é o universo? Quem é Deus? Por que o sofrimento? Por que um ser humano se lança contra o outro? Por que roubar, matar e prejudicar

ao próximo?.... Todavia, como seria pegar um bebê nos braços? O que fazer quando ele chorasse? Como cuidar da sua saúde? E o que comprar para ele? Tudo isso eram perguntas que eu nunca me fiz e nunca tive a mínima tendência para ler ou pesquisar em livros e revistas. Naturalmente, a mulher é quem mais se preocupa com isso, mas o homem-pai deve também dividir essa incumbência.

Quando Fátima estava para ter nosso primeiro filho, no caso, uma filha, eu procurei comprar tudo do melhor que existia nas lojas de Imperatriz: Berço, colchão, lençóis, roupinhas, fraldas, produtos de limpeza, remedinhos, chupetas, uma infinidade de itens, inclusive coisas que eu nem conhecia como um belíssimo saco amarelo bordado, para carregar o bebê nos braços, lembrando aqueles sacos que os índios peruanos usam para carregar seus filhinhos nas costas. Este era um dos artigos que gostaria de ter guardado como lembrança dela. Acho que a sua mãe também não guardou.

J

Sarah nascendo

à 0:35h de

15.012.83,

deitada sobre a

barriga da mamãe que

estava radiante

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A assistência médica da mãe foi das melhores da cidade, pela CASSI do Banco do Brasil, no Hospital Santa Isabel de um simpático médico baiano, Dr. Deusdeth, o qual – eu soube disto agora, em 2011 – veio, mais tarde, a tornar-se prefeito de Imperatriz.

Como eu não tinha câmera de vídeo, ás 0:35h do dia 15.12.1983, comecei a disparar o flash da minha Yashica automática para fotografar cada momento do parto, conforme se vê nestas fotos. Fotografei explicitamente cada detalhe da vinda das minhas duas filhas ao Mundo. Hoje, eu não teria disposição física e neurológica para fazer tal coisa – não gosto nem de entrar mais em hospitais. Tais fotos eu planejei mostrar a elas quando cada uma fizesse 15 anos. Mas, a curiosidade – minha – foi maior e acabei mostrando-lhes quando elas tinham uns 10 ou 12. Ainda recentemente lhes mandei também por e-mail. HOGLA SARAH MONTEIRO DA SILVA foi um nome bonito e diferente que encontrei na Bíblia misturando com minha paixão por inglês. Nas Escrituras, Hogla está em Números 36:11. Ela era a terceira das cinco filhas de Zelofeade. Por se tratar de um nome hebraico, acho que a tradução em

português deve ser Olga. Eu devia ter usado a preposição e no lugar do popular da, para ficar Monteiro e Silva. Mas, não sei como me atrapalhei no cartório e ficou assim mesmo. Inevitavelmente, o primeiro filho chama mais a atenção dos pais que se desmancham em cuidados excessivos. Sarah era bem redondinha, cabeça graúda (“cabeção”como o pai!...) com cabelinhos lisos e crescia sorridente e angelical. Até parecia

Sarah nos braços de sua mãe

Sarah após um banho

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um “bebê Johnson”. Eu a mimava muito e procurava evitar que ela chorasse pela mínima coisa. Certa vez, um inseto picou sua mãozinha que inchou e levei-a ao hospital onde o Pediatra, apesar de realmente muito delicado e atencioso, não conseguiu impedir que ela chorasse no momento em que ele estourou a bolha para fazer o curativo e, lembro-me, irritei-me com o médico, chegando ele a se desculpar depois. Mas, no meu furor de pai, achei que ele tinha maltratado a minha indefesa filha. Noutra feita, não me recorde se ela tinha já 1 ou 2 anos, ela estava sentada na nossa poltrona de módulo, sem braços, e eu sentado na outra, nasala. De repente ela, soltinha, foi tombando e caiu de lado do módulo. Num saldo, lancei-me da outra poltrona-módulo e me estiquei com o braço esquerdo, como voando rente ao chão. Consegui pegá-la no ar antes que sua cabecinha atingisse o chão. Com o inevitável susto, ela desandou a chorar, mas abracei-a e logo ela se consolou.

Apenas 13 meses depois, em 25.01.1985, quase na mesma hora da sua irmã – à 0:50h -, nasceu minha 2ª filha: MARIA ENGRÁCIA DA SILVA DESCENDENTE. Não foi no mesmo hospital, mas foi na mesma cidade maranhense. Não tanto como no nascimento da outra, porquanto eu já estava vivendo endividado – com cartões de crédito de cheque especial, todos no limite e devendo -, compramos seu enxoval e, para usarmos o mesmo berço de Sarah, compramos uma pequena cama de solteiro para esta dormir, já que estava com um aninho.

Graça nascendo

às 0:50h de

25.01.85, ainda

com ocordão

umbilical

pendurado. Sua mãe estava

muito feliz

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Memórias de Meio Século 175 [email protected]

Escolhi este nome em homenagem à minha mãe. Como eu nunca pude dar algo de que ela precisava, achei que esta homenagem lhe agradaria. E, para não usar o popular neta, resolvi inovar usando a último nome Descendente, porquanto da sua avó ela descendia. Mas, mamãe nunca me comentou este detalhe, e passamos a chamar a pequena de Graça ou Gracita.

Gracita chegou em meio ao início de uma crise financeira que se estendeu por vários anos naquela cidade. Assim, seu enxoval já não teve o mesmo glamour do de Sarah, embora eu ainda tivesse a mesma câmera fotográfica e pude fotografar também todo seu nascimento. Meses depois, vim a vender essa câmera, fato

coincidente que fez também com que eu tirasse menos fotos dela do que de Sarah. (Talvez isto ainda hoje lhe martele a mente. Espero que ela entenda que eu não tinha uma câmera disponível a toda hora como antes, e que não havia as digitais de hoje, que basta um cartão de memória para guardar milhares de imagens.) Naturalmente, também gostei de Mimi – como ela futuramente fez questão de se chamar. Todavia, como o primeiro filho parece encantar mais os pais por ser “novidade”, talvez, sem perceber eu não tenha dado a Graça a mesma atenção que dei a Sarah. Meu amor pelas minhas duas filhas se manifestavam diariamente, em tudo o que elas faziam e em todas as horas de suas vidas. Fotografei-as a partir dos primeiros segundos de vinda a este Mundo e as fotografava sempre que havia algum engraçado e tinha uma câmera em mãos. Cheguei a trocar fraldas – embora o cheiro não fosse bom... -, a colocá-las para dormir – embora tenha sido impaciente certa vez. Tinha sempre o cuidado de evitar situações de acidentes: quedas, cortes, choques elétricos e evitar que ficassem sozinhas. Sempre que a mãe estava na cozinha cuidando das

Graça parecia um anjinho

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Memórias de Meio Século 176 [email protected]

refeições, eu a orientava a colocá-las sentadas em cadeiras ao seu lado, com um dos meus cintos pela barrigas delas, passando por trás das cadeiras para evitar qualquer queda. Ainda guardo alguns itens naturais dos seus corpos, como o primeiro corte de cabelo de Sarah – feito por Fátima -, em 15.10.88: tenho guardado o tufo de 15cm de cabelo, num envelope pardo do BB; também guardo dois dos primeiros dentes de Graça que caíram em 26.01.91 (foi o 2º) e 29.03.93, às 06:30h [tinha também um de Sarah, que caiu em 10.02.93, mas ele se desprendeu da fita durex que o prendia). É lamentável que a separação conjugal tenha lançado tudo isso abaixo. Mas, espero, algum dia, poder conversar com elas e poder falar aberta e especificamente sobre cada item que lhes ofendeu tão profundamente...

Catão de crédito

que mandei fazer

para SARAH [com 7 anos],

em Jan/90,

mesmo sabendo

que ela jamais

poderia usá-lo

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Cargos e Conflitos na Igreja

empre fui bem recebido nas congregações por onde passei, e em Imperatriz mais ainda. Os irmãos eram muito simpáticos comigo. Em breve, eu estava cantando no coral, embora nunca tenha tido uma boa

voz para cantar. Silva é que tinha – mamãe já dizia desde quando éramos pequenos.

Procurei dedicar-me aos ensaios e apresentações dominicais do Coral da Igreja, mas isso não me preenchia. Comprei os hinários que o maestro indicava – lembro-me de um certo Bona, que parecia ser mesmo “bom”).

Havia um irmão que trabalhava num atacadão próximo da minha agência da Caixa, com quem eu gostava de ir conversar – tanto lá como em sua casa. Era o Ir. Airton Agostinho. Ele e sua esposa me recebiam bem. Tinham um filho recém-nascido. Ele era muito ungido na pregação e, tão logo começava a pregar, inspirado pelo fulgor do Espírito Santo, começava a dar pulos e a falar com ousadia. Normalmente, ele era tímido. Há poucos meses, consegui um telefone seu, pela internet, e liguei. atendeu-me seu filho, de mesmo nome, perguntei se se lembrava de mim. Foi quando recebi a triste notícia de que seu pai falecera há poucos anos. Esse rapaz era aquele recém-nascido que eu conhecera e sua mãe não estava no momento da minha ligação.

S

O Presb. e hoje

falecido Ir. Airton

Agostinho

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Memórias de Meio Século 178 [email protected]

Nunca tive pretensões de chegar a diácono, presbítero, evangelista ou mesmo pastor. Aquele meu desejo de me tornar um sacerdote católico se desvaneceu à medida que saí do Catolicismo e me casei. Minha sede da Palavra de Deus também não era a mesma de quando descobri a Bíblia. Talvez porque vi tanta gente pregando o Evangelho e, especialmente no Maranhão, com uma população de evangélicos tão grande, achei que não havia mais necessidade de evangelismo. Eu não considerava o que Cristo fala quanto à seara:

Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.

Mt 9:36-38

Entretanto, os líderes locais me olhavam com bons olhos e me passavam cargos. Mais adiante, o Ministério da Sede planejou criar um Grupo de Evangelismo e perguntaram se eu queria ser o presidente. Fiquei surpreso com o convite e aceitei de pronto. Nessa época, eu me comunicava pelos correios com uma editora - a W.M. Press, Inc. - dos Estados Unidos que me mandava caixas e mais caixas com milhares de livretos muito conhecidos na época – Auxílio do Alto era o mais conhecido, e este que reproduzo aqui.

Um dos livretos que eu recebia em caixas dos EUA, para evangelização

A Igreja era grande – com umas 30 congregações de templos grandes, além de pontos de cultos – e não possuía ainda um jornal. Surgiu

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Memórias de Meio Século 179 [email protected]

então a idéia de um periódico que divulgasse os eventos e informações sobre a Sede e todas as congregações. Mais uma vez, fui surpreendido com a indicação do meu nome para redator-chefe. Como meu redator-auxiliar foi nomeado o Ir. Raul Cavalcante Batista, também bancário, que trabalhava no Bradesco. Imitando um pouco o Mensageiro da Paz, jornal de circulação nacional das Assembleia de Deus-Missão, publicado pela CPAD, batizamos o nosso de MENSAGEIRO DA FÉ. Como me afastei da igreja pouco adiante, cheguei a lançar os dois primeiros números, um dos quais reproduzo aqui.

O Mensageiro da Fé que eu publicava e Sarah sorri rodopiando no ar – na nossa primeira casa

própria no Jd. Cristo Rei, Imperatriz-MA

Na verdade, a igreja me parecia fastiosa por causa do excesso de proibições que me remoíam por dentro. Eu não conseguia aceitar um Jesus tão exigente e proibitivo. Todo aquele exagero de Doutrinas e Preceitos de Homens me angustiavam e, por isso, eu não achava conforto naquele grupo religioso. Frequentemente eu me lembrava das sábias palavras do Mestre:

Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim.

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Memórias de Meio Século 180 [email protected]

Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.

(Mateus 15:7-9) Contudo, aqueles irmãos tinham o coração verdadeiramente em Deus, mas, por medo, certamente, “protegiam” com uma longa cartilha de proibições.

O Ir. Raul, que devia ser diácono, manteve-se firme e perseverou. A

Igreja construiu um grande templo num terreno, cuja pedra fundamental foi lançado quando eu ainda era membro dali, e hoje é um dos maiores templos do Nordeste. Ele saiu do Bradesco, foi aclamado Pastor Presidente de todo o campo daquela grande cidade e, segundo as fotos que vi pela internet, tornou-se também laureado Capitão Capelão da Polícia Civil. Que vitória verdadeiramente divina!... Alguns anos depois que saí de Imperatriz, retornei ali como vendedor de calendários – daquele pastor adventista de Caruaru – e o Pr. Raul me recebeu muito bem na sua grande e aconchegante residência ainda inacabada (e eu sempre censurava no meu íntimo “quem começava uma casa e não terminava”, deixando-a feia, sem pinturae cerâmica e, muitas vezes, até sem reboco por fora e por dentro...). Desde então fiquei com uma grande dívida de gratidão para com ele. Certo dia, imprimindo o rótulo de um dos CD‟s de músicas internacionais que gravei, num bairro daqui, deparei-me com um jovem ex-padre que estava ali fazendo a edição de um DVD das férias do Raul com sua esposa nas montanhas cobertas de neve no Chile! Fiquei sobremodo alegre e dei-lhe um dos meus discos para entregar ao saudoso amigo. Não sei se ele o repassou de fato. Não obstante as atenções que me davam, havia-me uma insatisfação com tudo aquilo que eu via na Assembleia. Era como se faltasse algo que desengessasse tudo aquilo dentro de mim! Enquanto morei em Imperatriz, acho que só visitei Bezerros uma ou duas vezes. Numa dessas viagens, estava o substituindo o Pr. Félix, o dinâmico Pr. Dorgival, um pouco mais alto do que eu, forte e de bigode. Ele possuía uma voz firme e forte e, quando eu aparecia na igreja, mesmo estando eu um tanto chateado com a denominação, ele me convidava até para ficar no púlpito. Certa vez, a mensagem e os cânticos me tocaram tão profundamente que, não aguentando de tanto choro, saí do púlpito e entrei envergonhado na secretaria e, ali, terminei de chorar.

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Calor Amazônico e Crise Conjugal

omo minha esposa não possuía uma cultura mais apurada, em relação à minha exigente pessoa, e querendo eu lhe dar tudo o que eu possuía, inclusive meus conhecimentos, através dos livros e outros meios de

que dispunha, fui lhe mostrando todo aquele universo de letras e, quando ia para o Banco, deixava-lhe “tarefas de casa” para ela fazer, obviamente, depois das naturais tarefas domésticas que ela tinha mesmo de executar como dona-da-casa – até porque não tínhamos ainda empregada. Passado o 1º ano de vida em comum, tendo nos mudado para uma casa maior, exatamente em frente à nossa, o que facilitou a mudança, comecei a exigir mais dessa “fidelidade” dela, no intuito de, curiosamente, “dar-lhe o melhor”, apesar de ela mesma não ter se demonstrado interessada em “negócios de cultura”. Comprei a famosa “A Bíblia do Bebê”, do Dr. Rinaldo DeLamare (que eu queria tanto guardar de lembranças das meninas, mas ela, já em Bezerros, a emprestou a sua cunhada e nunca mais vi esse memorável livro) e tudo o mais que eu visse que ela precisava e eu podia lhe proporcionar. No intuito de aumentar esses conhecimentos, eu comprava também livros dos mais diversos tipos: Como Organizar e Dirigir seu Lar, Como Tirar Manchas de Roupas, de culinária,

C

Sem perceber, eu abusava da minha autoconfiança.

Aqui, Sarah é o “bebê-voador”

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Memórias de Meio Século 182 [email protected]

testemunhos evangélicos, estudos bíblicos, sobre países, etc, etc. Mas, o calor abafado daquela região do “Portal da Amazônia” me deixava cada dia mais inquieto e desesperado. Com a pressão financeira, o afastamento gradual da Igreja e nenhum parente ou amigo por perto para poder, eventualmente, me ajudar e orientar, a tendência inevitável era surgirem profundas crises conjugais e familiares em geral!

No quintal da Casa do Jd. Cristo Rei-Imperatriz: lendo na sombra, com uma toalha molhada nas

costas, e com Graça e Sarah (Fátima bateu as fotos - Mar/86)

Por essa altura, um engenheiro que estava construindo, talvez o primeiro conjunto habitacional de Imperatriz – o Conj. Cristo Rei – e que já me oferecera uma casa ali quando eu trabalhava na CEF, mais uma vez insistiu, e no mesmo condomínio aberto. Aceitei e meu cadastro foi prontamente aprovado. Na nossa nova residência, a idéia imediata era de que passaríamos a viver melhor. Já tínhamos Sarah e Graça conosco. Mas, a esperada felicidade não veio e aumentavam nossos desentendimentos, pelas mesmas coisinhas do dia-a-dia e, hoje reconheço, endividado como sempre vivi (já me casei contraindo empréstimos no BNB, usando o cartão do saudoso Cheque Azul da recém-deixada Caixa Econômica, e, depois, era empréstimo-para-cobrir-empréstimo infinitamente), EU VIVIA IRRITADIÇO e mergulhava cada vez mais nos meus pensamento solitários!

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(Abro aqui este parêntese para explicar aos meus parentes por que não ajudei a todos aquele que eu deveria, especialmente, aos que me pediram diretamente. Como eu nunca aprendi a lidar com dinheiro, mesmo tendo um razoável salário de bancário federal, gastava muito – em comida, em roupas, em algumas viagens – isto, foi mais quando voltei pra Pernambuco – e coisas menos expressivas, e, assim, achava que “meu dinheiro não dava”. E, como todos sabem, ainda mais naquela época de inflação galopante, os juros dos empréstimos bancários corroíam o pouco que sobrava. Porém, se eu me lembrasse que, antigamente, eu vivia, com bem menos do que aquilo, logo daria...) Nós não tínhamos outro lazer que não fosse a igreja. Imperatriz não tinha cinema nem shopping Center. A praia era do Rio Tocantins e eu nunca gostei de rio. Não tínhamos carro. Nunca viajamos a S. Luís a passeio. Fátima só conheceu a capital por ocasião do nosso retorno de Pernambuco. Eu não frequentava a AABB (parece-me que ainda não existia, havia apenas um certo terreno com piscina) – nunca me interessei até porque a Igreja era contra “esse tipo de lazer”. Em suma, éramos uma família repleta de problemas sem uma válvula de escape – pois nem a nossa fé em Cristo era ativa.

Sempre tive vontade de voltar para a minha terra natal, e, tão logo pude, entrei com o pedido para o Recife e agências próximas dali. Dizia-se que “era muito difícil” se conseguir transferência, especialmente para capitais. Porém, Netinho encabeçou a idéia de colocar mamãe como minha dependente econômica e, assim, gozar da assistência médica da CASSI e, com esse argumento, também ganhei a mudança para minha tão saudosa terra natal! Assim, 5 anos depois de cheguei a Imperatriz, consegui a voltar para PE. Fui trabalhar na Agência Jaboatão, Centro, cidade emendada ao Recife, onde eu calculei milimetricamente que poderia

Graça, já em Jaboatão, na Igreja

Mórmon, e a esposa do Ir. Calazans

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Memórias de Meio Século 184 [email protected]

mudar radicalmente minha vida, vivendo a liberdade social, financeira e filosófica que tanto sonhara. (Para quem não a conhece direito, apenas uma avenida faz a divisa entre uma e outra, nos bairros de Piedade/Boa Viagem.)

Todavia, eu não conseguia ver algum Plano de Deus na minha Vida:

Muitos são os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá.

Prov. 19:21

Vendi o ágio – ou “chave” - da simpática casa do Jd. Cristo Rei para um senhor que, anos mais tarde, atendendo a uma campanha nacional de liquidação de débitos habitacionais antigos pela CEF, localizou-me em Brasília, através de sua filha que mora lá, e me pediu outra procuração para quitar aquele imóvel que era meu e me guardava tantas recordações da minha família.

Com Sarah na nossa simpática casinha branca

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Memórias de Meio Século 185 [email protected]

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1988

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Memórias de Meio Século 186 [email protected]

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Mais alguns dias em Bezerros

Muitos são os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá.

(Prov. 19:21)

ptei por colocar as cidades independentes de Moreno, Recife e Jaboatão dos Guararapes num único capítulo por serem cidades-irmãs da Região metropolitana do Recife. Sendo tão emendadas à capital,

costumamos considerar tudo como “Recife”, embora sejam totalmente autônomas, com seus respectivos prefeitos e vereadores.

Almoçando com Mãe, Pai e Silva, na nova casa, do Matadouro. Fátima e Nadja estão de costas

(Nem eu nem ninguém percebíamos o vazio no coração de mamãe.)

Tanto esperneei e insisti junto aos setores competentes do Banco que

consegui minha transferência para o Recife. Não era exatamente para a capital, mas eu poderia depois chegar mais perto. Embora tivesse morado ali, não conhecia exatamente Jaboatão. E foi na agência centro de lá onde fui trabalhar, sem imaginar que distava apenas uns 20km do centro do Recife, e apenas uma avenida divide um município do outro.

O

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Tinha em mente que, voltando para minhas origens, tudo ou quase tudo na minha vida iria mudar, de uma vez que eu me achava ali, no Maranhão, como um Estranho no Ninho – parodiando o famoso filme de Jack Nickolson, dos anos 70, onde este ator age como um louco, o que, na verdade, acho que eu ia me tornar se continuasse morando naquele portal da Amazônia. Assim, tive problemas na saída e na chegada, em Bezerros. Como eu nunca tinha feito uma mudança por ônibus, mandei fazer três grandes caixotes de madeira quase de 1m³ e procurei enchê-los ao máximos com nossas roupas e livros – que eu tinha muitos -. Ainda sobrou um caixote que deixei no quintal de casa. Para levá-los numa caminhonete fretada já foi um sacrifício. Quando fomos colocar no ônibus, o motorista quase que não permitiu, e perguntou por que eu não dividi a bagagem numas 20 caixas menores que facilitaria colocar e tirar. Ainda bem que os ônibus já estavam possuindo bagageiros com portas gigantescas, senão os caixotes nem entrariam. Quando desembarcamos na BR, em Bezerros, um dos caixotes rachou quando caiu do ônibus. Só nessa mudança gastei mais da metade do dinheiro que tinha conseguido com o repasse da chave da nossa casa no recém-construído Jd. Cristo Rei.

Não pedi para alguém procurar uma casa ou apartamento pelo Recife. Assim, falei com mamãe para eu ficar na sua casa, agora no bairro do Matadouro – não era mais aquela da XV de Novembro – com Fátima e Sarah (com 4 anos) e Graça (com 3). Ela já tinha perdido as duas pernas e morava com Netinho – que ainda era solteiro -, Silva, sua esposa Nadja e seu filho Germisson.

A graciosa Gracinha, com uns 3 anos (no Recife]

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Fiquei alguns meses na sua nova casa alugada – mamãe nunca teve o prazer de possuir uma casa própria, por pequena que fosse. Eu ia e vinha diariamente ao trabalho, a 110km dali, no centro de Jaboatão. Pegava o ônibus pelas 9h e retornava pelas 19:30h. á não estava mais suportando o barulho do motor do ônibus da Caruaruense, embora fosse confortável. Era muito estante, até eu poder alugar uma casa pelo Recife que, a bem da verdade, se eu tivesse me concentrado nisto, teria conseguido dentro de uns poucos dias – mas esperei ainda alguns meses! E quase sempre encontrava em casa um ambiente meio tenso! A vida ali era um tanto agitada, pois Silva e a esposa estavam desempregados (parece-me que era Netinho quem mantinha a casa) e mamãe com todo o drama de anos de luta contra o Diabetes, hipertensão e outros distúrbios, vivendo numa cadeira de rodas, já estava com o sistema nervoso totalmente dilacerado, ingerindo dezenas de comprimidos por dia, insulina, etc, tudo isto deixava Fátima um tanto desesperada com as nossas crianças por ali. Numas dessas minhas vindas, cheguei meio zangado e fui direto pra cama, e, em posição de lótus – uma característica posição de yoga, sentado com as pernas cruzadas e braços estendidos -, sentei-me na cama para relaxar e tomar banho. Nisso, Fátima vem por trás e me abraça. Como numa instantânea reação elétrica, desferi-lhe um tapa com o dorso da mão direita que a lançou para longe, sem derrubá-la. E me mantive na mesma posição. Para minha surpresa, minha então esposa não desistiu: foi novamente à cama e me abraçou de novo – pelo mesmo lado! A bem da verdade, eu não podia ser tão insensível e me endurecer diante de uma gesto tão eloqüente de amor: desarmei-me daquela “meditação” e lhe correspondi ao seu abraço e

Mamãe segurando Sarah

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nos beijamos e pedi-lhe mil desculpas. Então, ela pôde explicar o clima que reinava naquela casa um tanto conturbada.

Dias depois, houve um momento em que mamãe estava muito contrariada – parece-me que pediu algo e não levaram logo -, deu um grito histérico e desesperado do quarto! No meu também nervosismo, e ao invés de ir até ela procurando saber o que acontecera e tentar acalmá-la amavelmente, zanguei-me e achei que “aquilo era demais” e resolvi sair imediatamente dali.

Não tendo para onde ir, levei aquela mudança de objetos pessoais para a pequena casa da minha sogra, a Ir. Maria, que morava no bairro Novo, próximo da BR 101. O quarto onde ficamos era muito pequeno e mal cabia uma casa de solteiro. Como um dos meus cunhados morava com ela, as minhas meninas dormiam na sala. Depois que Mamãe morreu, passei a imaginar como ela não deve ter se sentido arrasada com essa minha atitude arrogante e irrefletida: ela, que me queria tanto, desejando que eu ficasse ali, ao seu lado, dando o verdadeiro amor de filho e apoio moral com minha presença, depois de eu ter passado cinco anos morando longe, no entanto estava desprezando-o na cara e saindo daquela forma tão dolorosa, culpando a pessoa dela, enquanto que ela, por dentro, devia estar morrendo de vontade de dizer que me amava e que eu não fosse embora... (Como eu lutava para evitar as emoções que servem para aproximar os seres humanos, e procurava ser um homem filosoficamente calculista...)

Como exclamou o Apóstolo Paulo: Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?(Rom 7:24)Se eu pudesse voltar

os ponteiro do relógio do tempo, daria a ele TUDO o que uma mãe espera que seu filho lhe dê, especialmente no estado de saúde irreversível em que ela se encontrava!... Porém, Inês é morta – neste caso: Maria é Morta!

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Em Moreno-PE

sta é uma pequena cidade da Região Metropolitana do Recife, a cerca de 10Km de Jaboatão dos Guararapes, que girava praticamente em função do grande e extinto Cotonifício Moreno – fabricante

especialmente de uns antigos cobertores de lã, de cor arroxeada, muito utilizados pelo Exército, e, por ser acessível, muito consumido pela maioria da população da redondeza e, talvez, no resto do país. Como eu trabalhava na cidade vizinha de Jaboatão, e por causa dos preços de aluguel, disseram-me que ali seria uma boa opção de moradia, pois eu não via aspectos como shopping Center, cinemas, praias, escolas, faculdades, praças, supermercados e igreja – a qual eu já havia abandonado em Imperatriz. Consegui uma pequena casa meio antiga, de dois quartos e cozinha minúscula, sem forro, num terreno de uns 50m X 50m, com jambozeiros e coqueiros, parecendo uma chácara, à margem de um riacho que transbordava na época de chuva. Dava até para eu praticar meu cooper. Sarah e Graça gostavam de brincar entre as árvores.

Em 2003 visitei a casa-chácara onde moramos cuja cor ainda permanecia a mesma

E

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Depois de certo tempo, Silva apareceu, procurando emprego pelo Recife. Ele já era casado com Nadja e tinha 2 filhos, deixando-os com sua sogra, em Bezerros. Nessa época, ainda com a influência assembleiana de restrição – não muito rígida - quanto ao uso de televisão, eu não tinha comprado jamais um aparelho de TV. Assim, com a esperança de emprego de Silva, e como eu vivia sempre apertado, firmamos um acordo para comprarmos uma e dividirmos a prestação. Como eu estava desatualizado quanto às tecnologias da época, insisti com ele “se as cores eram perfeitas mesmo”, pois ainda me vinham à mente as TV‟s antigas onde os vizinhos colocavam uma tela vermelha na frente do tubo de imagem para produzir um colorido artificial. Assim, comprei meu primeiro aparelho de televisão, um Toshiba ou Mitsubich de 21”, muito chique para mim, que nunca tive um aparelho a cores novo – e o de casa, quando solteiro, era bem usado. Um pouco mais adiante, aproveitei e comprei também um vídeo-game Atari que se tornou um grande passatempo, não só para as meninas, mas para todos nós, os três adultos também. Eu chegava a passar mais de uma hora apenas numa partida do Pac-Man, que era um jogo de sucesso mundial: a máquina não me ganhava, a mão começava a doer e, várias vezes, eu tinha de entregar o joinstick para quem estivesse perto de mim - para ir perdendo e acabar o jogo. Pena que Silva não conseguiu emprego dessa vez, mas paguei todas as parcelas daquele abençoado eletrodoméstico. Ele ficou conosco só alguns meses e voltou para Bezerros. Nunca gostei de alugar casa – mas, se eu não comprava logo e da forma correta a minha, como escapar? Essa casa era de uma senhora viúva da cidade, que exigiu um mês de aluguel adiantado, como fiança, o que por sinal, ainda hoje se faz, embora seja um procedimento totalmente ilegal ao que os coitados dos inquilinos se sujeitam face à necessidade de moradia. Na época, ainda vivíamos na inflação galopante. Na hora de eu devolver a casa, aquela senhora irmã queria porque queria que eu descontasse a dita fiança sem a correção monetária. Tentei explicar-lhe, sem conseguir, que, ao alugar sua residência, eu havia pago o equivalente um mês de aluguel, logo, agora, que eu estava saindo, não deveria pagar nada daquele último mês. Ela não aceitou, não cedi e saí aborrecido com ela – e ela comigo. Parece-me que sua filha, mais sensata, compreendeu minha posição, mas não queria contrariar a própria mãe, e ficou calada. Mesmo sendo membro da Assembleia de Deus local, aquela senhora não aceitava as atuais regras de economia, embora a

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própria Bíblia dela advertia: A balança enganosa é abominação para o Senhor; mas o peso justo é o seu prazer. (Prov 11:1)

Saí dessa cidade para o um apartamento bem no centro do Recife, no 4º andar. Mas continuei trabalhando na agência de Jaboatão. Mais adiante, tendo gostado daquela arborizada cidade, resolvi comprar dois lotes de terra que o antigo Cotonifício ainda estava vendendo, de uma vasta região da cidade que possuía durante décadas – ou séculos. Só que escolhi um bairro muito distante e de acesso difícil, sem calçamento ou asfalto e nenhum tipo de infraestrutura. Mudei-me daquela cidade, saí do Banco e nunca construí nada ali. Por fim, cheguei a passá-los para o Condomínio onde eu morava, quando era síndico.

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O Falecimento de Mamãe

Quando eu era filho aos pés de meu pai, tenro, e único em estima diante de minha mãe,

(Prov 4:3)

ronicamente, depois de eu ter passado cinco anos no Maranhão tentando sempre uma transferência para Pernambuco, logo após conseguir esse sonho, logo no primeiro ano, Mamãe chega a falecer!

Ela já vinha sofrendo muito, durante muitos anos. A Diabete, a Hipertensão, varizes e outras complicações foram debilitando seu organismo ao ponto de chegar a perder as duas pernas numa traumática amputação em virtude da gangrena em virtude da má circulação sanguínea. Nem todos os médicos, com todas as especialidades da medicina, bons hospitais e laboratórios de última geração; nem as viagens de avião até Belo Horizonte - ou qualquer outra parte do Brasil ou até do exterior, se fosse necessário -, tudo isso pago pelo Banco do Brasil, nada disso foi suficiente para salvar Da. Maria Engrácia que ainda não tinha chegado aos 60 anos!

Diversos amigos e parentes no Funeral de Mamãe. Netinho e eu íamos na frente. Pai e Silva estão

por trás - no círculo branco.

I

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Assim, o coração não resistindo mais, em 25.09.1987, ela veio a sofrer um enfarto no miocárdio e expirou no Hospital Nelson Chaves, em Boa Viagem, no Recife, nos braços do seu filho caçula! Certamente, Silva guarda essa como uma das mais tristes lembranças de sua vida. Eram umas 5 horas da manhã quando o motorista que Netinho usava para levá-la ao tratamento médico no Recife, chegou em minha casa, ainda em Moreno. (Não me lembro se pai estava com o motorista.) Eu dormia com minha família. Acordei, atendi-os, agradeci naturalmente pelo aviso e disse que mais tarde eles voltassem para me pegar e irmos para Bezerros, pois eu ia terminar de dormir e me aprontar.

Certamente, todo mundo, ao saber dessa minha reação, deve ter censurado “meu amor” por mamãe, reconheço. Erroneamente, eu agi de forma mecânica e inconveniente. A morte da minha mãe era um acontecimento diante do qual eu não podia mais nada fazer para salvá-la. Assim, pude calcular imediatamente: o motorista ainda ia voltar para o hospital onde Netinho, Silva e os enfermeiros iam preparar o corpo para o traslado, etc., achei que minha presença de urgência ali, no hospital, não iria ajudar em nada. Entretanto, mesmo sem fazer “dramas”, eu deveria imediatamente acompanhar aquele pessoal e me dirigir logo para Bezerros com eles!

Algumas horas depois, quando o motorista chegou com mais alguém dentro do carro, eu estava pronto e fui com eles para Bezerros. (Fátima e as meninas, ainda pequenas, ficaram em casa, quando eu devia ter arranjado um carro para levá-las num momento tão solene – mesmo que fosse de ônibus!.)

Quando, fomos nos aproximando da minha cidade - agora, sim - foi chegando a hora para eu chorar! Fui entrando por aquelas ruas de calçamento em paralelepípedos de tantas lembranças, chorando sem parar e, ao chegar em casa, vendo o caixão da minha Mãe ali, demonstrando que tudo se acabara para ela – até a chance de, algum dia, seu filho bancário lhe proporcionar uma vida mais tranqüila -, eu me abracei com o caixão e chorei copiosamente como uma criança desmamada.

Enquanto eu abraçava Mamãe, eu dizia para Silva: Silva, sabe o que é isso?... É falta de amor! Família desunida!... E Silva continuava a chorar silenciosamente...

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Acredito que ninguém chorou tanto a morte de Mamãe quanto eu! Silva chorou, Netinho chorou muito, até pai deve ter chorado.

Nessa ocasião, Anabel que estava ali, ia saindo e, do portão, gritou para

me darem água com açúcar – demonstrando a idéia equivocada de que quem chora, ou chora muito, está com os nervos descontrolados e precisa de um calmante, enquanto que chorar é muito normal e faz muito bem à saúde emocional da pessoa. (Salvo, obviamente, o pranto descontrolado em que a pessoa pode entrar em histeria e até partir para agressões ou auto-agressão, o que não era nem de longe o meu caso.)

Como desabafo familiar, meses depois do medonho enterro, redigi uma carta acusando meu pai pela morte dela, e mandei por correio para todos os parentes. No 1º ano de aniversário do enterro, mandei revelar 100 fotos 10 X 15 dela sentada à cadeira de rodas, no corredor do hospital de Belo Horizonte, e imprimir na gráfica uns pensamentos revoltados no verso das fotos. Cheguei a citar a célebre expressão do poeta Carlos Drummond E agora, José?. Sempre acusando pai. Mandei tudo para parentes e amigos mais próximos. Não recebi nenhuma resposta de ninguém. Com certeza, se eu tivesse feito qualquer discurso na hora, no enterro, mesmo que fosse algo mal-feito ou cheio de emoções e revoltas, isso teria surtido mais efeito sobre as pessoas do que os papéis e fotos que mandei depois.

A Bíblia diz peremptoriamente: Uma casa divida não subsistirá.(Mt

12:25)Mais adiante, no salmo 133:1-3:

Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! (...) porque ali o Senhor ordena a bênção, a vida para sempre.

Outro salmo também vaticina:

Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. (Sl 127:1)

E isso mesmo o que aconteceu conosco. Nosso maior problema não era a falta de dinheiro – como a maioria das famílias pobres pensam! Nossa carência número 1 era: FALTA DE AMOR! Amor da parte de Deus e amor entre nós mesmos! A própria, universal e única Lei Genuinamente de Deus! (E

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não um amor de palavras e de boas intenções, mas de obras e fatos – IJo 3:18!)

Eu e Tia Socorrinho contemplando o jazigo (“carneira”) de Mamãe – até a cruz foi decepada (2008)

Eu não era afeito – ou não considerava por julgar desnecessários -

aos cuidados familiares e demais carinhos que devemos ter para com nossos parentes e amigos. Quando eu estava morando pelo Recife, era o momento mais do que propício – já que, no Maranhão, ficava um pouco distante – para, juntamente com Netinho, Silva e outros parentes, coletarmos recursos e construirmos um túmulo grandioso e majestoso, com todos os adereços e detalhes dignos da pessoa da nossa mãe e demais defuntos. Mas, ninguém tomou a iniciativa.

Entretanto, numa das minhas visitas a Bezerros, cheguei a contatar o administrador do Novo Cemitério, o filho de Zezinho (ou Joaquim) Saroba, e com Netinho presente, cheguei a negociar dois terrenos ali. Ficou de Netinho confirmar os detalhes finais e me repassar as informações e custos – caso ele não pudesse arcar sozinho, já que “era tudo barato” naquela época - e outras providências. Não sei o que houve, mas o tempo passou, o Novo Cemitério já está praticamente lotado, e nunca conseguimos algo melhor para o repouso dos corpos físicos de mamãe, vovô, vovó, Carminha – nossa única irmã – e mais alguns parentes que jazem na estreita carneira onde permanecem há uns 50 anos ou mais, com apenas alguns azulejos quebrados e sem nenhuma planta ou flor (vide foto).

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Não tínhamos conhecimento de um Deus Vivo e Eficaz. Vovó apenas seguia os rituais e as procissões de Frei Damião e não sabia o verdadeiro significado daquilo tudo. Mamãe às vezes orava com o seu terço, mas nunca vi uma novena lá em casa nem qualquer outro sinal que indicasse que alguém lá em casa fosse mesmo um praticante do catolicismo – assim como, por exemplo, tia Socorrinho era e ainda é. Vejo muitos erros doutrinários e bíblicos no Catolicismo, mas se ele for praticado com fé, perseverança, esperança e amor, com certeza Deus responde às orações (porquanto Ele não vê títulos de denominações). Mas, a nossa religião ali, na nossa casa, era apagada e praticamente inexistente.

Diferentemente de tudo aquilo que vivi em Bezerros, podemos hoje

ver claramente o cumprimento das bênçãos que existem nesses trechos bíblicos a partir do momento em que eu mesmo me tornei evangélico! Todos você viram como Deus foi me abençoando – apesar de eu não ter sabido usufruir nem distribuído corretamente as dádivas divinas recebida – como também viram e estão vendo o resultado do distanciamento real do Deus Vivo e que é Espírito!

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O Discurso que não fiz

entre os poucos discursos e as várias pregações que fiz até hoje, houve um que eu devia ter feito, num momento derradeiro e extremamente emocionante e familiarmente envolvente, no qual

ninguém nada falou e, ainda por cima, eu me debulhei em lágrimas diante de pessoas – quando deveria ter-me debulhar sim, mas, em palavras verdadeiras, incisivas e defensivas – em defesa da própria “vítima” que, de fato, já não necessitava mais de defesa, e que, àquela altura, adquirira algum descanso tanto esperado!

Os mortos em Cristo ressuscitarão... ( ITess 4:16 )

Esse grand moment foi no enterro de mamãe – em 24.09.87! Ali, no Cemitério de Bezerros, ao lado do seu caixão, à beira da sepultura da Família Silva, eu devia ter pronunciado pelo menos meia dúzia de palavras, mais ou menos nestes termos:

Aqui jaz o corpo de alguém que foi vítima de uma doença mundial e crônica, que é invisível nos seus sintomas iniciais, mas cruel e escandalosa nas manifestações de suas conseqüências sorrateiras e fatais.

Aqui jaz mais uma vítima da Falta de Amor, que tal qual um câncer epidêmico, espalhou-se por sobre toda a Humanidade e afeta

D

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mais atrozmente países e famílias de poucos recursos materiais e cultura menos esclarecida.

Aqui jaz mais um ser humano que amou muito, à sua maneira, e sofreu mais ainda, como um irônico pagamento pelo seu zelo e amor dedicado à sua própria família e todos aqueles que dele precisavam. Eis o resultado da desunião.

Eis o fruto da inexistência de um amor real e prático. Eis o troféu de alguém que carregou em seus ombros e no coração o peso da solidão, da falta de recursos materiais, e, principalmente, da falta de perspectivas, de esperança, para si, para seus filhos e até para seu próprio marido – ou ex-marido – que permanecera distante por longos anos, mesmo estando próximo geograficamente nos últimos momentos de sua vida.

Os inexoráveis, sutis e traiçoeiros sintomas dessa doença são, dentre muitos outros: desunião, desentendimento, desesperança, desnorteamento, bebedeira, falta de fé, desrespeito mútuo, falta de amor próprio, complexos psicológicos, delinqüência e agressões morais, verbais e até agressões físicas. E a contaminação se dá pelo vírus que é transmitido e até produzido por cada um de nós, inconsciente e inconscientemente. É transmitido pelos governantes corruptos que não proporcionam oportunidades para a melhoria do

bem-estar da população – e isto passa de geração a geração! -, pelos médicos públicos que maltratam e vão literalmente matando seus pacientes que não podem pagar, pelos maridos que desprezam e traem suas

Mamãe no Aeroporto de Belo Horizonte-MGH

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esposam mal-amadas, também pelas esposas que não cuidam dos seus lares com sabedoria e maltratam seus filhos, pelos próprios filhos que não respeitam ou não ajudam financeiramente seus pais que trabalharam para criá-los – e dentre estes me incluo arrependidamente por não ter ajudado em tudo o que ela precisava – mesmo que fosse só “um pouquinho”, dentro da minha descontrolada vida financeira...

O mais letal e funesto dos sintomas dessa infame doença é o desprezo, principalmente se ele vem do cônjuge, da própria cara-metade a quem, outrora – e ainda hoje, em menor escala -, as mulheres dedicavam suas forças, seu tempo, sua cultura, seu trabalho, enfim toda a sua vida, numa cultura machista que tirava toda a liberdade pessoal de viver sonhos individuais.

Os efeitos subliminares são os distúrbios orgânicos: pressão alta, nervosismo, estafa (stress) e a diabetes – que acabou dando-lhe o golpe de misericórdia a partir da amputação dos seus membros inferiores.

Agora, meus queridos parentes, vizinhos e amigos, nada mais

podemos fazer. “Morreu, enterra!” É o que se diz popularmente, mas de forma irresponsável e quase já se esperando o próximo corpo, o próximo velório, a próxima vítima! Mas, o que podemos fazer para, pelo menos, diminuir essas tragédias? Mamãe, que morreu agora, com apenas 56 anos, bem que poderia estar ainda em nosso meio, até os 80, 90 ou 100 anos, vendo o sucesso dos seus filhos e o crescimentos dos seus netos”!

Não fui, de fato, o filho do qual ela queria

Na sua 1ª e única viagem de avião

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realmente se orgulhar e que sempre elogiava enquanto vivi ao seu lado, aqui, em Bezerros.Reconheço amargamente que devia ter feito muito mais por ela, além de uma simples assistência médica proporcionada pela empresa onde trabalho, a qual apenas tentava diminuir seu sofrimento dos últimos anos de sua vida. Graças a isso, ela pôde até fazer sua primeira viagem de avião. Mas, bom seria se fosse uma viagem de férias com seus filhos e netos para usufruir o lado bom desta vida passageira que nós temos por este Planeta, e do qual ela pouco ou nada conheceu.

Como diz o Salmista no salmo 127:1: “Se o Senhor não edificar a casa em vão trabalham os que a constroem.”

(...)

Frente e verso da foto do 1º Aniversário do falecimento de Mamãe com a minha mensagem

incriminatória ao meu pai no verso Naturalmente, eu não deveria usar termos muito rebuscados para não

me tornar pedante ou cansativo. Não pronunciei tal discurso na hora que deveria fazê-lo. Ao revés, apenas abaixei a cabeça, chorei e calei-me vendo o corpo da minha mãe ir para o pó da terra, de onde viemos e para onde todos

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Memórias de Meio Século 203 [email protected]

iremos. Como que para não ficar totalmente calado, meses depois mandei uma carta-acusação e a foto de mamãe na cadeira de rodas, ressacando a atitude de pai, que eu julgava como o principal culpado de sua morte. Quando, de fato, TODOS NÓS, em maior ou menor participação, fomos responsáveis pelo seu definhamento físico e emocional!

De fato, fui covarde naquela ocasião tão significativa. Nascido e ainda

influenciado por uma cultura em que as pessoas, ou sofrem caladas e resignadamente, ou não falam controladamente o que sentem uns para com os outros – exceto em desabafos cheios de impropérios ou agressões verbais e/ou físicas -, acovardei-me na vastidão dos meus solitários pensamentos diante da multidão que conduzia calada e passiva o corpo de mais uma vítima do desamor que eu presenciei desde a minha mais tenra infância!

Eu não agi como a Menina judia que falou para sua chefa que o profeta Elias poderia orar pelo centurião Naamã que sofria de lepra (IIRs 5:1-3), nem como a outra garotinha, a irmã de Moisés, que tomou a iniciativa e sugeriu à filha do faraó que contratasse uma mãe de leite para criar o bebê, e foi e chamou a própria mães deles, a qual criou Moisés são e salvo (Ex 2:1-9). Nenhuma dessas duas meninas foram tímidas ou medrosas e com suas iniciativas salvaram vidas. Eu também não atentei para o que diz a Bíblia quanto á timidez e covardia:

Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé? (Mc 4:40)

Quanto aos medrosos (ou tímidos – ERC*), e aos

incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a

todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.

(AP 21:8)

Porque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.

(IITim 1:7)

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Ressalto que, o fato de não sermos covardes não significa sermos agressivos ou violentos, não! O mesmo versículo bíblico que fala da ousadia, fala também de moderação e amor...

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No centro da minha Capital

Disse eu a mim mesmo: Ora vem, eu te provarei com a alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade.

(Ecl 2:1)

Com Graça e Sarah na R. 7 de Setembro c/Av. Conde da Boa Vista, no Centro [Fátima bateu foto]

Sarah e Graça sorriem felizes ante minha câmera

epois de uns 12 meses naquela chácara, consegui outra transferência para o BB do Recife, bem no centro da capital – a Ag. 7 de Setembro -, fato que, comumente, era considerado muito difícil. Aí, na rua de

mesmo, também consegui alugar um apartamento de um quarto só, mas grande, com armário embutido, mas que cabia nossa cama de casal e o beliche de Sarah e Graça, e uma banheira antiga, daquelas dos filmes, na qual eu tomava demorados banhos, lendo alguns livros, ouvindo música suave e mesmo sorvendo algum drink. E esse Ed. Ypiranga ficava exatamente ao lado da saudosa Livraria Livro 7, uma das maiores do Brasil e que sempre aparecia na Revista Veja informando os livros mais vendidos, inclusive o síndico do meu edifício era o pai do dono da livraria. Pouco tempo depois, entrei para a FAFIRE – faculdade de Filosofia do Recife, que ainda fica a apenas uns 500m dali.

Tudo parecia perfeito: eu trabalhava, estudava e morava bem no centro da minha capital, tudo num raio de menos de 1km. Tinha shopping centers, escolas paras as crianças, cinemas, praias - e, depois, até garotas foram aparecendo.

D

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Memórias de Meio Século 206 [email protected]

Certo dia, vindo de uma cidade distante do interior e sem ter notícias dele a muitos anos, surgiu por ali um primo que queria procurar emprego e perguntou se podia ficar uns dias comigo. Prontamente, concordei e ele passou a dormir no sofá da sala. Após uns 15 dias, minha então esposa me diz abalada que ele estava dando em cima dela. Fiquei surpreso com aquilo, pois nunca imaginei que um parente meu fosse tentar seduzir minha própria mulher, ainda mais na minha própria casa – e eu dando guarida a ele! Naquela noite, depois de chegar do Banco, chamei-o à sala, fechei a porta – que dava para o corredor – e conversei sozinho com ele. Obviamente, ele negou tudo. Com aquele seu sorriso característico, ele apenas dizia que jamais faria uma coisa daquela.Mas entre ele e minha esposa, em quem eu poderia acreditar?

Disse-lhe que eu gostaria que ele saísse dali e, para não atrapalhar

seu novo emprego, eu ia lhe pagar uma semana de um hotel ali perto, até ele poder pagar por conta própria. Naquela mesma noite, fui caminhando com ele até a rua da Imperatriz e lhe deixei ali. Ele nem se dirigiu à Fátima para se desculpar.

Sarah – de costas, vê o Jaspion na TV – e Graça descansam em cima de mim enquanto leio

Diante do velho Ed. Ypiranga, na R. 7 de Setembro – o nosso AP era no 4ºand., à esq.

(Curiosamente, alguns anos depois que eu estava visitando Bezerros, encontrei-me casualmente com a mãe desse meu primo, ela que também viera de sua cidade visitar o pessoal, e, para minha surpresa, ela me encarou

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Memórias de Meio Século 207 [email protected]

com uma característica fisionomia de desprezo. Cumprimentei-lhe com naturalidade e ela apenas respondeu mecanicamente e nada mais falou. Fico imaginando qual terá sido a versão que meu primo deu para sua mãe, tentando explicar-lhe porque eu o “expulsei” do meu apartamento...) Depois dessa, trabalhei no Cesec cais do Apolo (no prédio da ag. Centro), Cesec Imbiribeira e Ag. Prazeres, onde me desliguei do Banco, aderindo ao PDV – como veremos mais adiante.

Colegas no Curso de Prevenção de Acidentes, os recém-eleitos da CIPA, Maio/89. (Sou o 1º

sentado, à dir.)

Na 7 de Setembro, fiz a denúncia, à Dirge – Direção Geral, Brasília – do gerente que estava pagando a uma empresa terceirizada, o cafezinho de mais de cem colegas daquela agência, duas vezes ao dia, sem o serviço ser prestado. Pouco tempo depois, fui para o Cesec Apolo, e ele foi transferido para outra agência – não sei se por punição ou não. Quanto a mim: eu nem recebi uma carta de agradecimento do DF – embora tenha mandado cópias das notas e relatórios, pois eu trabalhava nesse setor...

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Memórias de Meio Século 208 [email protected]

Simpatia pelo Espiritismo, Rosacruz e Esoterismo

esta altura eu me tornara um livre prensador, procurando o significado da vida em todas as religiões que encontrasse, especialmente as que me trouxesse algo de papável.

As obras de Allan Kardec foram as que primeiro me atraíram. Eu possuía um colega de trabalho que era espírita, o Ferruccio, que morava pelo 10º andar de um dos quatro espigões que construíram bem à margem do Rio Beberibe, num bairro ao lado de Casa Forte. A doutrina kardecista merece louvores no que tange à forma lógica com que apresenta os segredos do Universo - conquanto Deus tenha confundido a sabedoria humana devido à sua desobediência(ICor 1:19-21) – e à prática do amor e da fé, através da caridade (=filantropia), cumprindo exemplarmente Tiago 2:17 (A fé sem obras é morta.). Tal exemplo deveria ser seguido por todos os cristãos – e de forma gigantesca!

Com colegas do BB no Metrô do Recife, voltando do trabalho, em Jaboatão

Aceitei o convite do meu colega e fui a uma de suas reuniões com

passes e orações a meia-luz, num ambiente de muita harmonia. Não cheguei a penetrar nas práticas mediúnicas, embora tenham me dito que eu tinha de desenvolver minha mediunidade. Adquiri dezenas de livros da FEB, incluindo

A

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os psicografados pelo Chico Xavier, e apreciei de modo particular a alegoria do Paraíso apresentada na obra Nosso Lar, que virou filme recentemente. A AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz – me atraiu pelo simbolismo do misterioso. Contatei a sede no Paraná, associei-me e fui recebendo as monografias – livretos de estudos – pelos correios. Conheci o pequeno grupo do Recife, mas não quis congregar-me com frequencia, preferindo realizar minhas meditações no meu sanctum doméstico – que era o ambiente que reservávamos na nossa casa para orar e meditar, sentado numa mesinha com dois castiçais com velas suaves e a monografia em ãos. Atingi apenas o início do 3º Atrium. O objetivo dessa organização é levar o homem a se conhecer a si mesmo para atingir o equilíbrio interior que o levará à felicidade. Louvável pretensão. Pregam o amor ao próximo, especialmente de uma lei específica pela qual devemos fazer um gesto de bondade a outrem quando recebermos um benefício gratuito de alguém. Tudo o que fosse esotérico e exótico me atraía: Hari-krishna, Orto Templis Orientis, Islamismo, Budismo, LBV, etc. Procurava comprar livros sobre tudo isso e escrever ou contatar pessoas praticantes ou ligadas a algum tipo de religião ou filosofia diferente. Não aderi a nenhuma delas de forma absolutista, até porque, ainda hoje, não posso condenar qualquer religião que seja só pelo fato de não professarem o mesmo credo que eu. A única exceção é se pregarem a prática do que seja maléfico e prejudicial ao homem, pois a Bíblia nos orienta sobre qual seja a Religião Verdadeira:

A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo. (Tg 1:27),

Capa da Monografia do Atrium 3

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Acerca das inúmeras denominações existentes hoje, o Apóstolo

Paulo dá uma dica:ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! senão pelo Espírito Santo.(ICor 12:3). Ainda o próprio Salvador disse: Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. (Jo 10:16)

Todavia, nenhuma dessas linhas de raciocínio e práticas me preenchiam plenamente. Havia uma perene insatisfação em mim que me deixava inconstante, não obstante eu possuir um dos empregos mais invejados do país e uma família adequada para mim.

Assim, não aderi a nenhum grupo religioso-fisolósico com exclusividade.

No nosso apartamento do centro do Recife, na mesma rua do Banco

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Viagens pelo Nordeste

u não tinha idéia de que deveria economizar para investir em algum terreno, alguma viagem com toda a família, os estudos das filhas ou para qualquer outro projeto futuro. Tudo o que eu ganhava eu gastava

imediatamente – às vezes, ates mesmo antes de receber! Achava que o Banco do Brasil seria para sempre e, assim, sempre eu teria dinheiro para uma vida folgada!... Ledo engano.

Com esse pensamento, certa vez fiz uns cálculos e percebi que meu salário, livre de outras despesas, me permitia viajar com a família pelo menos uma vez por mês! Assim, passei a conhecer o nordeste.

Passeando por ruas de João Pessoa-PB

Eu, Fátima e as crianças, viajamos por: João Pessoa, Maceió, Sergipe, Natal, Porto de Galinhas – sem contar Bezerros e Caruaru, que visitávamos com mais freqüência. Certa vez, chamei-a para irmos para Fortaleza. Como estávamos brigados, ela desistiu e eu, zangado, disse que ia sozinho, mas enquanto me arrumava, desisti.

Era uma tolice de quem não sabe o que fazer com dinheiro e não imagina que possa haver imprevistos na área financeira mesmo de um

E

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bancário do BB – apesar de eu ver vários colegas com outras atividades ou investidos em construções ou empreendimentos. Eu não me preocupava em poupar ou investir num terreno, numa casa ou num automóvel que pudesse revender futuramente e comprar um melhor. Era como um bobo na corte, na ilusão de que viveria eternamente aquela alegria frívola e inconsistente. Eu não dava atenção às sábias palavras do Mestre:

47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante: 48 É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs os alicerces sobre a rocha; e vindo a enchente, bateu com ímpeto a torrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque tinha sido bem edificada. 49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.

Lucas 6:47-49 Esta foi, pois, mais uma das inúmeras besteiras que eu fazia quando o dinheiro vinha às minhas mãos!

Em Caruaru: Casa de Tia Socorrinho (na Vila Kennedy): Robertinho, eu, Roninho,Ronaldo e Robinho –

sentado, mais dois amigos

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Com o primo

Luizinho, soldado da Polícia Civil, com sua filha, após

minha vinda dos EUA. Anos depois, ele foi assassinado na porta de casa,

por bandidos

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Faculdades de Psicologia e Direito

s bênçãos de Deus continuam caindo sobre mim. Pouco depois de ter-me mudado de Moreno para o centro do Recife, consegui transferência para a agência 7 de Setembro, exatamente na mesma rua onde eu

morava, a apenas uns 200m, mais precisamente no outro quarteirão. Da janela do meu apartamento avistava o prédio de 7 andares do BB. Não somente isso, fiz o vestibular para o curso de Psicologia e passei. A FAFIRE – Faculdade de Filosofia do Recife, sob a responsabilidade de umas freiras, ficava também ali perto, a uns 500m apenas. Em suma: eu tinha tudo perto – residência, trabalho e estudo. Psicologia sempre foi uma paixão minha, sem ter pretendido ser um profissional na área. Assim, que comecei essa faculdade comprei os 12 volumes das obras completas de Sigmund Freud, o fundados da Psicanálise, de que eu já lera alguns fragmentos. Fiz essa aquisição também na vizinha Livraria Livro 7, uma das maiores do Brasil, que aparecia sempre na revista Veja quanto às pesquisas dos livros mais lidos da semana,

Ao amanhecer, lendo por trás da faculdade de Direito. Sarah, no destaque, faz pose. [Acho que foi

Graça quem bateu a foto.]

A

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Memórias de Meio Século 215 [email protected]

Nas primeiras aulas, fiquei extremamente sensibilizado com o que a ciência psicológica poderia fazer pelo ser humano. Uma das pesquisas de campo que fiz foi sobre a situação dos menores abandonados nas ruas do Recife, cujo tema era mais ou menos assim: Como se sente o Menor Abandonado? Segundo a professora, era uma presunção querermos saber como alguém se sente, porém eu queria que a Psicologia fosse mais prática e menos teórica, o que, infelizmente, ela ainda hoje é. Lembro, neste caso, o que a Bíblia diz sobre teoria e prática: A fé sem obras é morta. (Tg 2:26) Depois dessa pesquisa, cheguei a trazer um garoto que vivia em frente ao nosso edifício: chamei-o para tomar um banho – que deixou a banheira literalmente suja -, dei-lhe uma roupa nova e um sapato – o qual, infelizmente, em poucos dias ele perdeu. Algo tempo depois, esse garoto de uns 13 anos, sumiu daquela redondeza. Os meses foram se passando, e, conversando com colegas e vendo o mercado para a Psicologia, percebi que, quando eu me formasse passaria a ganhar algo em torno do mesmo salário que já ganhava no banco, o que não me parecia inteligente, e só cheguei a concluir dois períodos desse maravilhoso curso. Fui tolo porque, futuramente o mercado poderia melhorar – o que aconteceu [como quando saí da Caixa para o BB] – e, de posse de um diploma de nível superior eu poderia fazer vários concursos com salários bem superiores ao que eu ganhava na época. Pouco tempo depois, seguindo um antigo conselho do meu ex-professor, Prof. Antônio Nunes de Carvalho, fiz o vestibular para Direito, na UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco. Fui aprovado e iniciei esse outro belíssimo curso em 1990.

Sarah ganhou seu primeiro troféu – uma garrafa de Coca-Cola prateada em tamanho natural – nestacorrida da Praia de Boa

Viagem

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Eu trabalhava no Setor da Madrugada, no BB, e, pelas 6h da manhã, ia de carro para o estacionamento da Universidade, onde cochilava um pouco antes da aula. Achando eu que estava muito apertado financeiramente, tranquei o curso por tempo indeterminado, tendo concluído até o 5º Período desse curso. No entanto, não fui humilde o bastante para reconhecer o valor de todas essas bênçãos que Deus estava me proporcionando (a transferência do Maranhão para “minha capital”, faculdades, emprego, família, parentes, saúde, amigos, viagens, etc.) e, sem saber fazer BOM USO e agradecer-Lhe, fui, paulatinamente, desperdiçando tudo o que chegava às minhas mãos, de uma forma tão sutil e sistemática que ainda hoje me surpreendo como pude deixar escoar pelos meus dedos todo aquele “pó de ouro”...

Fátima com Graça e Sara, e Silva com Nadja e Germisson, seu filho mais velho, na Praia de Boa

Viagem. (Não apareço porque eu que bati a foto.)

Isso possui muita semelhança com a parábola do Filho Pródigo, cujo cumprimento final está-se me ocorrendo nos dias atuais:

11 Certo homem tinha dois filhos.

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Memórias de Meio Século 217 [email protected]

12 O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres. 13 Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. 14 E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. 15 Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. 16 E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. 17 Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. 20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 21 Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.

(Lc 15 11-21)

Eu e família com Abelardo na sua casa, em Paratibe-PE

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Múltiplas experiências conjugais

uando alguém se casa, normalmente, nunca é pensando em trair a

pessoa amada. Circunstâncias posteriores, em face da instabilidade em que possa se achar o casamento, é que permitirão ou não algum ato que venha a abalar a confiança mútua do casal. Muralhas altas e firmes são uma proteção praticamente imbatível para a cidadela do casamento. Eu e a minha primeira esposa passamos nossos primeiros 5 anos de casados em Imperatriz-MA. Ali, nossa vida se limitava à Assembleia e ao Banco. Raramente viajávamos, até porque S. Luís era muito distante dali, a capital mais próxima. Quando nos mudamos para Pernambuco já tínhamos saído da igreja e eu queria conhecer uma certa liberdade que não possuía no Maranhão, visto que aquela cidade não possuía praias, shopping-centers, cinemas e outras capitais próximas como eu tinha agora pela Veneza Brasileira. O homem – às vezes, a mulher também – tem a ilusão de que, se vivesse atendendo seus apetites sensórias totalmente e até mesmo exageradamente, seria CAD vez mais feliz. Se ele comesse tudo o que quisesse – fartos banquetes, chocolates, etc. -, se possuísse os carros, casas e muito dinheiro, e até se tivesse toda a fama do mundo com todas as pessoas lhe bajulando, ele ou ela seria plenamente feliz! Assim, se pudesse fazer sexo 24 horas por dia com todas as mulheres – ou homens - do mundo e de todas as formas preencheria o vazio da sua alma, satisfazendo-se plenamente e, portanto, vivendo “feliz eternamente”! Ledo engano!... Tudo

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Em Porto de Galinhas, no velho Santana 82 com o

adesivo do Real Elvis Club na porta

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isso é apenas uma satisfação do corpo humano – que é físico, sensorial e psicológico. Passada a satisfação, passa o desejo. Passado o desejo, aquilo perde seu valor.

O prédio na cabeceira da ponte é da Ag. Centro do BB e do Cesec, onde trabalhei na madrugada

A propósito, se isso fosse realmente verdadeiro, Jesus e todos os profetas não seriam os primeiros a serem muito ricos e poderosos politicamente e não teriam nos ensinado insistentemente as táticas de obtenção do poder e das riquezas financeiras?... A Bíblia não seria quase toda um compêndio como As 48 Leis do Poder, de Robert Greene e Joost Elffers (Ed. Rocco, RJ, 2000), o Príncipe, de Maquiavel, e tantos outros, do tipo “Como Ficar Rico Trapaceando”?!... Só os reis Salomão e Davi foram as exceções a essa regra, demonstrando que Deus não condena a riqueza, mas a cobiça e ganância. Agora vá um adulto querer convencer a criança de que aquele gostoso chocolate é coisa tola... É necessário pois a criança virar adulto. (Queiram meditar em: Cl 3:5; Mc 4:19, 7:21-23; Rm 14:17.) Assim, imbuído dos meus desejos carnais, passei a comprar revistas adultas que facilitavam o encontro de pessoas, inclusive casais, que quisessem se conhecer através de contatos por caixa postal. Mostrei aquilo à minha esposa de então e ela resolveu experimentar comigo tais relacionamentos. Aluguei uma caixa postal na agência central dos Correios do Recife e passamos a escrever para os casais e pessoas daquela mesma

B

B

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cidade e de outros estados próximos. Logo formamos um pequeno grupo local e tivemos os primeiros encontros - e a minha esposa me acompanhando sempre. Com a evolução dessa experiência, disse-lhe que, tanto eu como ela, poderíamos ter outros contatos que não fossem com nós dois juntos. Ela também aceitou. Dessa forma, eu tive meus contatos extraconjugais sem a presença dela, bem como ela também teve os seus sem a minha pessoa. Naturalmente, isso não era o suficiente para nós vivermos bem, pois eu exigia muitas outras coisas da personalidade dela. Como já vínhamos nessa prática com certa habitualidade, quando estávamos aborrecidos um com outro, às vezes eu não lhe contava minhas aventuras, vindo a falar somente depois do ocorrido. Tive vários casos amorosos nesses termos – porém, eu sempre contava para minha esposa, às vezes até em detalhes íntimos. Desses acontecimentos, eu posso destacar o relacionamento mais duradouro, de cerca de 4 anos, o qual era do pleno conhecimento da titular. Só anos depois da separação é que vim saber que ela não concordava com aquilo; mas fazia apenas para me agradar. Fatalmente, tal atitude não é boa para a saúde do casal, pois, mesmo discordando, um deve saber o que outro pensa, e, em casos mais extremos, a pessoa que se achar inibida, coagida e com medo, pode procurar ajuda da igreja, de um parente, de um amigo ou mesmo de um profissional na área.

Fazendo ginástica com o meu ex-

cunhado Reginaldo, na casa de Jd. s.

Paulo - Recife

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Memórias de Meio Século 221 [email protected]

Embora Fátima lutasse para controlar seu ciúme – e neste ponto, faço-lhe um elogio, pois nunca ela chegou a demonstrá-lo em nenhuma cena de escândalo, certa ocasião, ela não resistiu e explodiu. Eu estava com uma garota dentro do meu carro numa rua deserta à beira de uma praia, na frente do muro de um condomínio residencial, e, muito coincidentemente (?!), uma vizinha nossa saiu exatamente dali, onde fora visitar uma amiga, e viu meu carro, confirmando que era eu mesmo dentro do veículo – e com uma garota – não era comum o uso de vidro fumê na época! Prontamente, ao chegar no nosso condomínio, ela comunicou tal fato a Fátima que pegou um ônibus e foi lá checar. Desceu do ônibus e aproximou-se de onde estava o carro e presenciou o fato. Não fez nenhum escândalo nem se manifestou a mim: só voltou para casa, pegou uma garrafa de licor que tínhamos e foi bebendo ela quase toda.

Chegando eu ao nosso apartamento, ela foi se aproximando de mim com um sorriso de sarcasmo e tentando me pegando pelo pescoço. Nunca foi costume dela agir assim, com violência, mas seu desespero era incontrolável para ela. De pronto, segurei-lhe os braços, procurando não derrubá-la nem machucá-la nos móveis, e fui levando-a para o nosso quarto. Nisso eu gritava para Sarah e Graça tirarem as garrafas de bebida e jogar no lixo, e a mãe, desesperada, gritava mais ainda para as meninas não jogarem... Consegui deixá-la dentro do quarto e fechei a porta por fora, indo direto ao apartamento de um irmão mórmons, num bairro vizinho.

Deitado à piscina, com Fátima à mesa, em chalés da Praia de Porto de Galinhas-PE

Voltei para casa com aquele casal e encontramo-la já mais tranqüila, deitada. Ela vestiu-se, foi para a sala e conversamos com o casal religioso.

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Fizemos as pazes e, graças a Deus, nunca mais ocorreu algo semelhante – embora, confesso, eu tenha voltado a ter alguns contatos fora do casamento, porém evitando transtornos de tal gravidade.

A casa de Jd. S. Paulo, com o Chevette Hatch – meu primeiro automóvel

Entrando e saindo de igreja para igreja, eu ia rompendo ou reativando tais contatos femininos conforme as minhas necessidades físico-espirituais. Após sair do Banco do Brasil, fui encerrando tais relacionamentos e nunca mais cheguei a ter outro, nem mesmo no Distrito Federal, onde vivi sozinho durante 4 longos anos, até levar minha família para lá, e, então, lamentavelmente, veio a nossa separação definitiva. Só depois da separação, já morando aqui, no Piauí, percebi que eu não devia de fato ter-me separado. Hoje, porém, só me resta tentar reconquistar a atenção das minhas filhas, desafio que já é bem maior do que as minhas forças e atuais condições gerais. Que a mãe delas viva bem com seu atual homem e sejam felizes em todos os aspectos de uma vida a dois.

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Real Elvis Club e Rádio Capibaribe do Recife

A minha glória não a darei a outrem, Isaías 48:11

uando voltei da primeira viagem aos EUA, tendo visitado a casa onde viveu o cantor criador do rock, Elvis Presley, fiquei deslumbrado com a magnitude da sua fama, que não é bem reconhecida aqui, no Brasil. Fazendo algumas compras na loja de departamento Arapuã, hoje

extinta, ouvi no som ambiente uma música desse cantor. Perguntei ao vendedor se era gravação ou rádio e ele me disse que foi um colega dele que trouxe uma fita K-7 para tocar ali. Dirigi-me àquele jovem que me apresentou posteriormente ao grupo de fãs que havia no Recife. Fazia parte do Eternal Elvis Club há vários anos e eu nunca ouvira falar deles. Assim, agreguei-me àquele pessoal e, em pouco tempo, me elegeram presidente do fã-clube. Passei então a divulgar ao máximo nosso trabalho na mídia disponível. Planejei logo festas na AABB e noutros clubes. Paguei do meu próprio bolso um programa semanal na extinta rádio Capibaribe-AM, e sempre aparecíamos nos jornais, demais rádios e TV‟s locais.

Esperado para entrar em Graceland, a casa do Elvis, em Memphis-Tennessee – USA

Havia um cover do Elvis chamado Denny Michel que, apesar das óbvias diferenças do próprio personagem, cantava esforçadamente e fazia vários shows pelo Recife, tendo inclusive gravado um LP que ainda não tinha

Q

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Encontro dos fãs no Pq. 13 de Maio, Recife – aprox. 1991

sido amplamente divulgado. Passei a apoiá-lo e até a fazer com ele mesmo, no quintal da casa do seu pai, as capas do disco e cartazes dos shows em serigrafia que ele também conhecia. Mas, a maioria do fã-clube não gostava dele. Aliás, é raro um fã-clube, especialmente do Elvis, que goste de covers. Não admitem eles que, por pior que seja o imitador, é sempre uma homenagem que se faz ao cantor titular. Essas e outras divergências foram me distanciando daquele grupo e fundei o meu – o Real Elvis Club -, na época em que surgiu a nova moeda doreal. Continuei bancando o programa de rádio e realizando shows com o Denny, no Sesc e outros locais. Mas, também o interesse geral dos meus amigos associados não foram o suficiente e culminou com a minha saída do Banco, e, mesmo com a Memphis Vídeo possuindo diversos filmes, discos e livros sobre o rei do rock, não foi possível manter o novo fã-clube e encerrei ali essas atividades de lazer.

Quero ressaltar que eu não possuía uma espécie de adoração pelo Elvis Presley, não. Inclusive, nunca concordei com a igreja que fundaram no exterior – a Igreja Presleyteriana do Divino Elvis – onde ele é adorado explicitamente, inclusive com o Evangelho Segundo Elvis, santa ceia, casamentos, e etc. Apenas, como eu era o presidente de uma associação, procurei dedicar-me a ela como se fosse minha segunda profissão. Era um passatempo, mas um lazer que eu levava a sério para poder realizar todos

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aqueles eventos da melhor maneira possível, embora eu não tivesse prática nenhuma do mundo artístico e de fã-clubes. Nos shows e festas realizadas em clubes, eu só organizava e apresentava, e só cantei uma vez, e por cima da voz de um cantor que gravou uma música do Elvis (Burning Love).

Entrevistando o Jerry Adriani – que lançou um disco com versões do Elvis – [Reb ao lado, com a

camiseta do TEC] e o Reginald Rossi, pernambucano que também gravou várias versões do Rei Numa dessas festas, eu cheguei a levar uma das garotas com quem tive um affair um tanto prolongado e chamei Fátima para dançarmos os três juntos, de mãos dadas. Embora, um tanto constrangida, ela aceitou e dançamos pelo menos uma música. Algum tempo depois, entrei para a Igreja Universal e, mesmo fazendo a garota chorar muito, tive coragem de romper aquele relacionamento extra-conjugal. (Certamente, mais ainda deve ter chorado a minha própria esposa, e eu não percebia a gravidade daquela minha prática, mesmo com o suposto consentimento da legítima.) Futuramente, em Teresina, mesmo sem querer, fui sendo conduzido a fundar outro fã-clube, conforme relatarei mais adiante. Nessa ocasião, passei a ter contato com ícones da música nacional – e quase com um da internacional -, como o Jerry Adriani, Reginaldo Rossi, Zezé di Camargo e Luciano, dentre outros.

Vale salientar também que esses empreendimentos artísticos nunca me deram lucro; ao contrário: se eu não quisesse bancar o dinheiro que faltasse para sua realização, eu jamais poderia fazer algo. Como eu

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realmente amava a obra daquele cantor, resisti por muito tempo – e com a ajuda de poucos fãs, comerciantes ou não. Mas, exatamente por isso, tudo foi se acabando gradativa e silenciosamente. Ademais, descobri que, no Brasil, só existe um fã-clube, mesmo incluindo todos os demais cantores – nacionais e internacionais – que mantém uma atividade constante, com eventos praticamente a cada mês do ano, e cujo presidente já foi á casa do Elvis – a Graceland, umas 30 vezes: a Gang Elvis, do amigo Terciani, de São Paulo, capital, o qual me recebeu fraternalmente em seu apartamento que é totalmente decorado com os milhares de itens elvísticos que ele coleciona desde antes da morte do cantor. Ele foi um dos raros fãs brasileiros que receberam o título oficial de Cidadão de Tupelo (tupelense) que é a cidade onde Elvis nasceu, no estado do Mississipi, cujo documento ele mostra na foto a seguir.

No túmulo onde estão: Elvis, sua mãe, seu pai, seu tio, sua tia e um espaço dedicado ao seu irmão gêmeo natimorto – À dir., Valteir Terciani (SP) com um pôster autografado pelo próprio Elvis e o

diploma da prefeitura da cidade onde o cantor nasceu

Sempre admirei o lado gospel do Elvis, em todas as quase 100 canções evangélicas que ele gravou, tendo ganhado os 3 únicos grammies com esse tipo de música. Ele, que era membro vitalício da Assembleia de Deus, sempre tinha a Bíblia como seu livro principal, tendo chegado a exigir que cada dependência de suas mansões tivesse uma Bíblia, inclusive no banheiro.

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Memórias de Meio Século 227 [email protected]

Mas, ainda hoje aquele grupo de fãs recifenses se reúne nas suas casas e, pelo que vi através da internet, já realizam as festas do mês de agosto – aniversário da morte do cantor – em churrascarias. Que Deus os abençoe e que lembrem-se do Rei dos Reis, o qual é bem superior ao Rei do Rock.

Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não a darei

Isaías 42:8

Debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos.

Atos 4:12

Após retornar para a igreja, viajei para Brasília e deixei todo o meu material elvístico, incluindo um quadro emoldurado de uma grande toalha quase em tamanho natural,na banca de revistas antigas de um dos fãs, a Banca Elvis, na Rua do Imperador, próximo do Palácio da Justiça e dos cartórios. Pena que houve uma grande enchente que invadiu sua banca e, segundo o amigo, estragou todo o acervo.

Nelson Gonçalves autografa minha caixa de 5 LP‟s recém-lançada. A canção White Christmas (Natal Branco) foi gravada por ele e Elvis também. (Foto tirada na casa de shows Cavalo Dourado (?), no Prado-Recife.) À dir., Com Fátima e Abelardo, numa passarela sobe a BR 101, no Distrito Industrial de Paulista-PE.

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Memórias de Meio Século 228 [email protected]

A Igreja Mórmon

Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.

Gálatas 1:9

O Templo-Sede mundial em Salt Lake City-Utah; e analisando o Livro de Mórmon, no quintal de casa,

em Jd. S. Paulo

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como a Igreja Mórmon, foi uma das organizações religiosas que fizeram parte da minha vida.

É interessante quando a gente fala de certas religiões – ou seitas - sem conhecer profundamente, e faz julgamentos precipitados. Quando nos aproximamos sinceramente dela, vemos que não é algo tão misterioso assim. Claro que há diferenças doutrinárias e teológicas; mas não quero aqui fazer nenhum juízo de veracidade desta instituição. Assim como todas, esta teve um grande significado na minha vida.

Como eu relatei anteriormente, fazia tempo que eu saíra da Assembleia de Deus e estava vagueando pelo Espiritismo, esoterismo e Rosacrucianismo. Vendo aqueles missionários americanos passarem pela minha calçada, no bairro de Jd. S. Paulo, aproximei-me deles para falar que visitei seu país, inclusive a sede mundial deles, no estado de Utah, em Salt Lake City (Cidade doLago salgado). Eles se maravilharam eperguntaram se eunão queria receber a visita deles para falarsobre o Livro de Mórmon.

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Memórias de Meio Século 229 [email protected]

Sem nenhuma pretensão religiosa, só por educação, aceitei que eles nos visitassem semanalmente.

Fazia pouco tempo que eu tinha deixado o apertado apartamento (um verdadeiro apertamento) da rua 7 de Setembro e ido morar no bairro de Jd. S. Paulo, próx. da Ceasa. Lembro-me que, quando fui olhar a casa que alugaríamos, passei com Fátima e as crianças, a pés, em frente ao imóvel e comentei: “Já pensou se fosse esta?..” Dei mais uns dois passos adiante e falei: “É essa mesmo!”. Era a maior e melhor casa em que já tínhamos morado: toda na laje, grande, 2 quartos, um escritório, terraço, quintal amplo que cabia vários carros – até mesmo caminhões -, jardim, de esquina e com muro

baixo com curtas grades por cima. Depois de uns 2 ou 3 meses de estudos em conjunto com os missionários mórmons, eu lancei um desafio: Vejam bem: sua religião disto isto e as outras dizem aquilo outro. Se a sua religião é realmente verdadeira como vocês dizem, quero que Deus se manifeste a mim durante a próxima semana. Pode ser através de trovões, raios e o que mais Ele quiser! Vou ler a Bíblia, seus livros e orar todas as noites, após chegar do trabalho! Eles acharam meio engraçado esse desafio, mas disseram que iam orar a respeito. Nessa época, eu gostava de beber whisky e outras bebidas quentes – a cerveja me dava dor de cabeça. Quando chegava do trabalho,

Graça, ou Mimi, sempre foi engraçada. Na casa de Jd.

S. Paulo - Recife

Sarah dublando Xuxa num show

de talentos na capela Mórmon

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depois das 22h, eu colocava minha dose da bebida, pegava a Bíblia e demais literaturas mórmons e me sentava no escritório que havia ao lado do quarto de casal. Já na quarta-feira, eu fui vencido pelos argumentos espirituais e, diante da minha secura da alma, vi que não podia mais protelar minha re-comunhão com Deus, independentemente de qual fosse a igreja aqui na terra. Assim, decidi tornar-me um mórmon. No Banco do Brasil, devido a reformas administrativas, eu tinha sido transferido para o CESEC do bairro da Imbiribeira, no horário das 16h às 22h, e se falava muito da cobiçada madrugada no outro CESEC cais do Apolo, onde o ATN – adicional de trabalho noturno – era de 60% e, quando havia, a hora-extra era de 50%, e, assim, o salário poderia dobrar! Porém, havia uma fila de espera enorme e as vagas eras bem limitadas. Obviamente, fiquei interessado na idéia. Certo dia, sem mais nem menos, resolvi telefonar para o chefe daquele Cesec, da Madrugada. E, para minha surpresa, ele atendeu o meu telefonema e, em questão de segundos, disse-me para eu comparecer ao supervisor tal e começar, imediatamente, a trabalhar na tão esperada Madrugada! Fiquei estupefato e não perdi tempo. Como está escrito: Qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem? (Mt 13:9-11)

Eu e Fátima nos batizamos no mesmo dia, pelos missionários americanos que nos discipularam. O

Bispo Edson, de bigode, era funcionário do Banco Central.

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Memórias de Meio Século 231 [email protected]

Isso me aconteceu exatamente pelo final da semana do Desafio Mórmon, logo após a minha decisão por aderir àquela Igreja. Foi, portanto, uma magnífica e praticamente inconteste resposta de Deus. Não debato isso com os demais irmãos assembleianos ou de outras igrejas, mas posso crer que isso foi uma grande bênção e um inefável sinal da parte do nosso Pai Celestial. Uma coisa é certa: se eu tivesse seguido os ensinamentos de sabedoria financeira e de vida conjugal daquela Igreja, eu ainda estaria no Banco do Brasil – e bem, financeiramente – e, principalmente, eu estaria feliz com a minha primeira família.

A capela Mórmon que eu freqüentava, em Jd. Piedade – Jaboatão, e o Certificado de Ordenança

(Batismo) de 23.12.90

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CESEC Cais do Apolo – A Madrugada

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem

busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á. Mateus 7:7-8

ste foi o momento de minha maior ascensão dentro do Banco do Brasil. Além de ter o salário dobrado, pude financiar outra residência pela Caixa, estava fazendo faculdade, morava numa grande cidade

litorânea, fazia parte de uma igreja em que eu acreditava e tinha minha família integral.

De bigode e camisa vermelha, à dir., com colegas do BB, do Setor da Madrugada, no extinto CESEC-Cais do

Apolo-Recife

Nessa ocasião, pude comprar um apartamento de 80m² financiado, em Piedade, através do INOCOOP e Caixa Econômica. Foi aí também, quando fiz a segunda viagem aos Estados Unidos, tendo sido vítima da empresa recifense de turismo que deu um gigantesco golpe em mais de quatrocentos clientes e nos deixou lá, não pagando o vôo charter de retorno. Pela primeira vez, pude trabalhar com um conterrâneo de Bezerros. Era o Nivaldo, parente de Dade Pascoal, que era nossa vizinha na XV de Novembro, sendo que ele, antigamente, morava num casarão em frente ao Barracão de Farinha, na Dantas Barreto. (Também no Recife, temos outra Av. Dantas Barreto onde há também outra grande agência do BB.) Ele, sorridente

E

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mas compenetrado no que fazia, era espírita. Com suas passadas curtas e ligeiras, era chamado pelos colegas de Niva. Para atenderem à demanda de mais de 100 funcionários e estagiários naquele 7º andar daquele prédio no cais do Apolo, bem na cabeceira da ponte em frente ao centenário Teatro Santa Isabel (vide foto da pág. 4), foi construída uma bonita e equipada lanchonete no último andar do prédio, com uma privilegiada vista para o mar que tornava mais saboroso os lanches extras a que tínhamos direito ao amanhecer – por ocasião das horas-extras. Com tudo isso – apesar de todas as bênçãos financeiras -, eu ainda não sabia zelar pelo emprego que possuía e passei a arranjar encrencas justiceiras com todos os colegas da equipe, tal qual um solitário Dom Quichote de La mancha. Como nós preparávamos os malotes de cerca de 50 agências da capital, região metropolitana e interior, que tinham de sair pontualmente até umas 5h da manhã, diante de qualquer imprevisto dos computadores, os colegas arranjavam pretextos para esticar mais o horário e atingir as tão desejadas horas-extras. Isso me aborrecia, pois, visivelmente, aquilo era uma malandragem e, como seu fosse dono ou acionista de peso daquele Banco, eu defendia o BB batendo boca com os colegas. Cheguei a citar o fato em reuniões, redigi isso nas atas e fui até interpelado pelo Chefe daquela centro de processamento. Assim, numa das reformas tecnológicas implementadas no banco, quando os Cesecs começaram a ser extintos, os meus superiores pretenderam me transferir para a cidade mais distante que havia na área metropolitana do Recife – para não parecerem injustos, seria ainda dentro da “área metropolitana” -, ou seja: a cidade litorânea de Ipojuca, a 100 km dali [seria a mesma distância de Bezerros, de quando eu tinha chegado do

Eu, de camiseta amarela, na AABB, com colegas, após uma noite de trabalho – Vista da janela do prédio do BB

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Maranhão e trabalhava na agência de Jaboatão dos Guararapes... Talvez, isto tenha até dificultado a negociação da minha dívida com o BB, quando eu fui convocado novamente, em 2003 - no DF -, pois um dos colegas da Madrugada era quem me atendia por telefone...]

O salto de um bancário, retornando do trabalho, no alvorecer da Praia de Boa Viagem

Até para sermos justos e honestos precisamos ter, antes de mais nada, sabedoria inteligência. Veja que, na história fictícia de Miguel de Servantes, o Dom Quichote decide resolver as injustiças do mundo todo e pega sua lança e seu cavalo, acompanhado do seu companheiro – o Sancho Pança – e investe contra moinhos gigantescos que, para ele, são monstros terríveis que devem ser destruídos. Para evitarmos isso, Salomão nos adverte:

Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?

Eclesiastes 7:16 Mesmo assim, depois que voltei dos EUA, disseram-me que um dos colegas estava planejando fazer uma vaquinha entre os demais madrugueiros para eu poder comprar outra passagem de volta. Como eu tinha deixado uma certa quantia estratégica na minha conta, no Brasil, comprei o bilhete da volta através de parentes do próprio empresário golpista (?) e, no Recife, eles mandaram alguém pegar o dinheiro com minha esposa.

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O prédio da Ag. Centro e do Cesec tinha 10 andares, mas como eram muito espaçosos e altos, correspondia a uma altura de 20. Eu gostava muito de ver o sol nascer pelos janelões de vidro do majestoso prédio no bairro central do Cais do Apolo. Regozijava mais ainda quando passava, no meu Santana cor de vinho, pela praia de Boa viagem. Às vezes, eu parava o carro e contemplava o mar e, outras vezes, pulava na areia, sem camisa e de calça. Como resposta a um dos meus questionamentos a Deus, esse posto de trabalho no Banco foi onde eu tiver meus melhores salários. Porém, como nos demais, nunca soube aplicar, economizar e investir da forma comercial e familarmente correta.

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Viagens aos Estados Unidos

Vaidade de vaidades; tudo é vaidade! Eclesiastes 1:2

sta também foi umas das bênçãos que Deus me proporcionou e pela qual eu não esperava! E também foi uma das minhas infantilidades no uso de dinheiro que, na minha infância – e ainda hoje – me foi tão

escasso! Sempre admirei os EUA, curtindo muito a música americana – especialmente a do Elvis Presley -, seus filmes bem produzidos em Hollywood, seu modo de vida que sempre nos pareceu econômica e socialmente mais evoluído que o nosso, e até comecei a estudar Inglês pelos 16 anos, através da saudosa caixa azul de 24 compactors de vinil e 5 livros da Borges & Damasceno – representante da Seleções do Readers Digest – cujo curso ainda uso, inclusive, para dar aulas.. Mas, pôr os pé na América do Norte, realmente, nunca esperei.

Las Vegas à noite – nem precisei de filme especial para bater esta foto – quando ainda não

existiam câmera digitais

E

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Memórias de Meio Século 237 [email protected]

Deus permitiu-me ir à maior e mais poderosa nação da Terra duas vezes: em 9189 e 1992. Os eventos a seguir relatados se misturam nessas datas. Quando falo “maior e mais poderosa” não o digo por simples paixão minha. Todas as estatísticas demonstram isso e, apesar das recentes crises econômicas e da modernização mais globalizada para todos os países do mundo, os EUA continuam tendo essa primazia. Quer queiramos ou não, eles são, de fato, bem mais organizados e desenvolvidos do nós – ainda hoje. Imagine pois há 20 anos! Assim, em 1989, pouco tempo depois de ter chegado do Maranhão e trabalhando da Agência do Banco do Brasil em Jaboatão (ainda não “dos Guararapes”), “deu-me na telha” em ir àquele País tão longínquo. Fazendo uso das vantagens financeiras de uma das férias, decidi de um mês para o outro e prometi à Fátima e às crianças que, “depois eu levo vocês”. (Promessa essa que nunca consegui cumprir!).

Na Universal Studios – Holywood, Califórnia – e numa rodoviária na fronteira com o México –

vacilei em não ter ido à terra do Chaves e Chapolim Colorado

Imediatamente, em 08.03.89 tirei o meu Passaporte de nº CC 998402,

e, no mesmo dia, peguei meu visto no Consulado – com validade para quatro anos -, ali perto de casa, no centro do Recife – na Boa Vista. Comprei uma passagem em promoção, saindo do Rio de Janeiro. Como o Plano real, do Fernando Henrique Cardoso, estava sendo instalado, o dólar valia menos um pouco do que o nosso recém-criado real. Assim, peguei um ônibus para o Rio e, em 17.03.89, no velho Aeroporto do Galeão, embarquei no avião que me levaria para a “Grande Nação”. Toda essa decisão, que, normalmente, levaria meses, eu tomei e resolvi em apenas 09 (nove) dias! Graças a Deus, que não houve nenhuma burocracia - nem na Polícia Federal nem no Consulado, onde

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eu vi uma moça da classe média preocupada e com uma pasta cheia de documentos para tentar convencer o cônsul a lhe dar o visto. Cheguei à Cidade Maravilhosa, fui direto à casa de Tio Manoel, onde morei aos 14 anos. Revi a Da. Maria, sua companheira, e a Gininha, sua filha – ou enteada, ainda hoje não sei ao certo. Não vi a Alexandra que, na minha época devia ter uns 5 ou 7 anos, porque, ao que me lembro ela estaria trabalhando naquele pedaço de dia que passei por ali, até pegar o avião pelas 18:00h. (Anos depois, cheguei a receber uma carta de Alexandra, quando já moravam em Resende, no interior do Rio. Ela era professora. Respondi-lhe, mas nunca mais tive notícias dela. Tio Manoel veio a falecer e nem o endereço deles tenho mais.) Encontrei-me também com a família dos antigos amigos que moravam nos fundos, em casa construída no mesmo terreno, e falei para o que zombara de mim – conforme já narrei - porque pronunciei errado o nome da famosa cidade da Flórida, treze anos atrás: “Pois é, Maurício, hoje à noite, vou viajar pra „miami‟...”. Falei propositalmente com a pronúncia errada no “i” para relembrar-lhe. Dessa vez, mal se viu o seu silencioso sorriso tímido.

Despedi-me então do meu Tio e dos demais e peguei o ônibus rumo à

agência de viagens, próxima do Aeroporto, para pegar a passagem que comprara via telefone. Cheguei na agência umas 18:05h, e o pessoal só estava me esperando. Mandaram-me correr pois o avião ia partir pelas 18:45h – nem considerei o tempo para o check-in. Peguei um táxi e fui o último a

Em Memphis-TN, conheci o tio do Elvis – Mr. Vester Presley – e este era um do seus aviões-

residência

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Memórias de Meio Século 239 [email protected]

subir no avião que levantou vôo imediatamente. Ainda me deu tempo de comprar na agência do banco do Brasil do Aeroporto US$ 800,00 em travellers cheques e US$ 200,00 em espécie. (Se fosse hoje, eu teria perdido o vôo, como, por sinal, me ocorreu quando estava voltando de são Paulo e, por isso, perdi também duas provas finais na faculdade de Direito, tendo de repetir tais matérias no semestre seguinte...) Umas dez horas depois – incluindo algumas demoradas escalas -, estava eu em solo americano, encantando-me com tudo: o próprio aeroporto gigantesco – Orlando-FLO -, um clima fresquinho – final de inverno! Parecia o Paraíso! Fotografei tudo que via pela frente! Tendo total liberdade de trânsito, pois não fui agregado a uma excursão ou grupo de amigos, comprei um mapa e descobri que a Greenhound, empresa nacional que cobria todo o País, vendia o “Ameripass” que consistia em passes livres para qualquer linha da empresa nos dias compreendidos. Assim, comprei logo para 30 dias, e pude entrar em qualquer ônibus da empresa para o lugar que quisesse. Descobri depois que a Greenhound viajava também para o México e Canadá. Pensei até em entrar num ônibus que ia pro México e titubeei: fiquei pensando “Mas, conhecer o México que é mais pobre que o Brasil?!... É melhor gastar meus dias por aqui, que tem muitas coisas para se ver!” Assim, perdi a chance de acrescentar um País no meu passaporte. Igualmente, não consegui um carimbo no Canadá, para ver as Cataratas do Niágara – as maiores do mundo -, bem como Quebec, Otawa e outros lugares, simplesmente porque não agüentei o frio tão forte naquela altura do Hemisfério Norte.

O Mickey desfila na proa do navio no Disneyworld – Metrô suspenso em Los Angeles-CA

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Memórias de Meio Século 240 [email protected]

De posse do mapa, fui vendo os Estados e cidades famosas que eu poderia visitar: Miami (que aprendi a pronunciar corretamente!), Memphis, Dallas, Las Vegas, Alabama, Washington, Nova York, Chicago, Utah, Los Angeles, Texas, Califórnia, etc, etc. Ao todo, percorri uns 20 Estados e umas 50 cidades, tendo batido uns 20 rolos de filme de 36 poses (que falta fez câmera digital das de hoje!)

O Desfile do Mickey, na Disney – FLO – Jantando com o casal George & Ivani (brasileira), que me

hospedou em sua casa cinematográfica, em Birmigham

Passei dois dias em Orlando – Flórida, mas é impossível se conhecer toda a Disney – Disneyworld [Mundo de Disney], pois a Disneyland [Disneylândia]fica mesmo em Los Angeles – Califórnia, onde tudo começou. Em seguida, fui subindo, para o norte, pela costa leste. Passei três dias na casa de uma prima distante de mamãe, a Ivani, cujo endereço o saudoso soldado Luizinho me deu, na cidade de Birmighan. Este casal era da Igreja Prebisteriana, sendo ele americano que a conheceu numa visita sua ao Brasil, e me ofereceram um lauto jantar de despedida, como se vê na foto. Um ano depois da minha viagem, eles visitaram o Brasil e falei com o George por telefone, enquanto trabalhava no Banco, não dando para anos encontrarmos pessoalmente, pois retornaram logo aos EUA.

Prossegui rumo a Memphis, no estado do Tennessee, onde está Graceland, a casa onde Elvis viveu e morreu, sufocado no tapete do banheiro em 16.08.77. Ali tirei esta foto com o tio dele, o Sr. Vester Presley, único parente seu ainda vivo, mas que veio a falecer oito anos depois.

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Memórias de Meio Século 241 [email protected]

Colorado Springs é uma agradável cidade do estado do Colorado, onde vivia – e ainda deve viver – o missionário e pastor Nick Cruz -, famoso porto-riquenho, certamente naturalizado americano, que viveu no gueto de Nova York, no Brooklin, nos anos 50, tornando-se líder da então temível gang dos Mau-Maus. O Pr. David Wilkerson, da Assembleia de Deus do interior do estado de Nova York, saiu de sua pequena cidade pela direção divina em pregar àqueles jovens que estavam sendo sentenciados pela justiça local, conforme matéria que ele lera numa revista. Nick tornou-se então um grande pregador e personagem principal do Livro a Cruz e o Punhal, o qual se transformou em filme. Tal coragem do Pr. Wilkerson gerou a criação do mundial trabalho de recuperação de drogados, o Desafio Jovem – Teen Challenger. E eu estava ali para tentar falar com o jovem Nicky. Peguei seu telefone na lista telefônica que fica nos orelhões e liguei para seu escritório. Sua secretária me atendeu e, para minha surpresa, Nick Cruz estava ironicamente aqui, no Brasil, para pregar no ginásio do Maracanãzinho – nome que a secretária teve dificuldade de pronunciar. Disse-lhe que era brasileiro e tinha recebido um Novo Testamente em capa de couro vermelha que o ministério dele me enviara em 1982. Fotografei o que achei interessante pela cidade e prossegui no meu périplo. Ao chegar ao terminal rodoviário, avistei um grupo de pessoas com homens vestidos de calça preta, camisa branca, chapéu preto e barba. De imediato, identifiquei-os com os Amishes que foram mostrados no recente filme A Testemunha, com Harrison Ford. Aproximei-me de um deles, um loiro

Os amishes aparecem ao fundo, à esq., enquanto estou com fones de ouvido – Em Buffalo – NY, a

neve cai

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Memórias de Meio Século 242 [email protected]

alto, e puxei conversa. Perguntei-lhe sobre o que sua comunidade achou do filme e ele, sem hesitar, disse sorrindo que não gostaram, mesmo eu insistindo em que aquela película estava difundido mais suas ideias e crenças..Pedi para bater uma foto ao seu lado, mas ele não achou bom. Despedi-me dele e afastei-me pedindo para alguém (ou pus a câmera num local alto, usando o automático) bater esta foto, onde os menonitas aparecem ao fundo. Os amishes possuem uma grande comunidade-fazenda no Estado da Pensilvância e, no Brasil, concentram-se no rio Grande do Sul, sendo chamado de menonitas, em homenagem aoseu fundador Menon

A Ponte Golden Gate – CA - estava coberta de nevoeiro. Não pude ver a beleza desta foto da

internet

Tudo nos Estados Unidos é bem feito e possui um encantamento único. Eles se esforçam em fazer tudo da melhor forma que lhe for possível. Eu via nas paradas de ônibus o slogan We don’t want just survive. We want to be the Best. (Nós não queremos apenas sobreviver. Queremos ser os melhores.) Todavia, tudo isso, todo aquele conforto e abundância podem ser mal utilizados, conforme Satã quis oferecer a Jesus, quando Ele foi tentado: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.

Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o Diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram.

Mateus 4:9-11

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Memórias de Meio Século 243 [email protected]

Chegando a San Francisco – Califórnia, quis fotografar a tão filmada ponte Golden Gate que eu via nos filmes. Peguei um ônibus urbano e falei para o motorista que gostaria de descer logo após a ponte, em um local onde eu pudesse pegar outro ônibus para retornar. O tempo estava fechado – era final de inverno. O nevoeiro era tão denso que eu não conseguia ver o vermelho das ferragens da ponte nem em cima dela, de dentro do ônibus! Quando desci do veículo, percebi que estava simplesmente no meio do mato e embaixo de uma temperatura de quase zero grau – e eu sem luvas e só com um simples paletó. Eu não me lembrava que por ali fica uma ilhota onde funcionou o famoso Presídio de Alcatraz, que, acho, já estava desativado.

Uma Delegacia de Polícia em Memphis-TN – Fazia frio em Salt Lake City-UTAH

Ainda tentei tirar uma foto de uma casa que avistei lá embaixo, próximo do rio (veja aqui o nevoeiro não permitindo ver quase nada). Olhei para os lados e não vi nada que indicasse ser uma bus stop [parada de ônibus]. Alguns ciclistas subiam de volta, mas como estavam um tanto ligeiros fiquei acanhado em interrompê-los – se é que eles parariam para dar informações a um latino. Mais alguns minutos e apareceu um ônibus, mas era de turismo. Mesmo assim, pedi parada. Para minha surpresa, o motorista abriu a porta, mas me alertou se tratar de ônibus que não pegava passageiros pelo caminho. Apenas sorri e disse O.K. No problem e ele me deixou subir. Expliquei-lhe que era do Brasil e ia fotografar a ponte Golden Gate. O motorista mandou-me sentar na poltrona logo atrás dele, pegou o aparelho de comunicação interna – como dos rádios dos carros de polícia – e foi perguntando a todos os passageiros: Quem sabe qual é a capital do Brasil? Um deles respondeu: Rio de Janeiro. Eu sorri dizendo que não. Outro gritou:

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Brasília! Assim, nesse clima festivo - por causa do erro ou sacanagem daquele primeiro motorista - parei mais adiante num famoso bairro, também conhecido em filmes – a Chinatown, praticamente só de chineses. Ali só comprei um chinelo chinês para Fátima – pois meus dólares estavam bem escassos – e, como já era tarde, fui caminhando em direção da rodoviária para visitar outra cidade no dia seguinte.

Em Washington, a Capital Federal - pois existe outro Washington, que é um estado no extremo noroeste, o qual não deu para eu visitar -, quando fui tomar um lanche numa lanchonete da Burger King, aconteceu-me algo que me fez começar a refletir sobre as razões de um famoso preconceito norte-americano. Depois que paguei e peguei meu lanche, sentei-me cansado e, de repente, senti uma espetada na bunda. De imediato achei que fosse a chave do guarda-volumes da rodoviária, onde eu sempre deixava minhas malas. Ao passar a mão, peguei um percevejo, daqueles que usamos para prender papéis em murais. Olhei em derredor e haviam percevejos em diversas cadeiras. Umas duas mesas á direita, estavam três jovens negros sorrindo de mim, disfarçadamente, com um daqueles enormes gravadores que se usavam na época. Fui recolhendo todos os percevejos, cheguei perto deles e falei: We cannot do this! - Não se deve fazer isso. Levei os grampinhos à moça do caixa – também negra -, apontei para eles e fiz a reclamação. Não sei se ela tomou alguma providência, mas não esperei para ver, pois eu só queria continuar minha viagem em paz, dali a poucas horas. Este fato, aliado a outro que me ocorreu em Nova York, me fizeram pensar sobre o preconceito racial naquele país.

Na casa Branca [The White House], em Washington-DC

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Memórias de Meio Século 245 [email protected]

Nova York é a maior cidade desse estado de mesmo nome, cuja capital é Albany. Esse foi um dos poucos lugares onde eu realmente senti medo de perambular sozinho, livremente, como fiz por todo aquele país norte-americano (Lembrando que a América do Norte não são só os Estados Unidos: há também o Canadá e o México.) Eu queria visitar o World Trade Center, o Central Park, a Estátua da Liberdade, o Brooklim, de Nick Cruz e Pr. David Wilkerson (d‟A Cruz e o Punhal), andar na maior rede de metrô do mundo, visitar a casa onde John Lennon viveu, fotografar Times Square, a Broadway dos teatros famosos, etc. etc. Mas, esse desejo se desvaneceu quando cheguei de madrugada na rodoviária e, como ela já estava fechada (as rodoviárias americanas fecham após certo horário), só tinha um caminho de saída para a rua, com catraca sem retorno. E fazia muito frio lá fora. Tive de voltar e ficar ali, no subsolo, vendo uns poucos ônibus que chegavam e aguardar o amanhecer, junto a umas vinte pessoas de várias etnias e níveis sociais. De repente, um homem branco gorducho começou a discutir com um moreno claro barbudo. Não entendi o que gritavam. Falavam muito sério e chegaram a se aproximar, enquanto outros os apartaram. Finalmente, o sol apareceu e pude sair dali.

Barco de shows no Rio Mississipi, em Memphis-TN – No ônibus da Greenhound – meu hotel

Fui à agência do Banco do Brasil, num antigo prédio de uns três

andares, na 5ª Avenida e tentei sacar algum dinheiro da minha conta no Brasil, pois eu só tinha algo em torno de US$ 10,00 para gastar por dia [mais adiante, essa reserva caiu para cinco dólares/dia] – e eu tinha mais uns 13 dias de permanência naquele país! O próprio gerente me atendeu e lamentou minha situação. As leis eram mais rígidas do que hoje e eu não podia sacar

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nada daqui para lá! Só se eu tivesse um cartão de crédito internacional, para fazer despesas por ele, e esse tipo de cartão era, na época, um luxo do qual eu não ouvira falar nem mesmo sendo bancário. Mesmo assim, ele pôde me emprestar US$ 100,00 e me pediu para fazer um depósito na conta de uma parenta sua que morava em São Paulo. Assim que retornei, na minha própria agência, fiz a transferência.

A Times Square – onde o Pr. David Wilkerson fundara uma Assembly of God – e os conjuntos

habitacionais Fort Greene, dos anos 50, no Brooklin, onde viveu Nick Cruz

Subi numa das duas Torres Gêmeas, que eu conhecia desde a Revista Seleções que relatou a aventura do equilibrista francês Philip Petit que atravessou de uma torre à outra, quando ainda estavam em construção. O WTC - World Trade Center [Centro Mundial do Comércio] era de fato imponente e elegante. Paguei o ingresso e subi até o 107º andar. Como ainda estava frio, o terraço, onde havia um restaurante, estava fechado. Quando foi construído, eram os maiores prédios do mundo. Anos depois, veio o Sears Tower, com 117 andares, que também visitei em Chicago,

Que crime bem elaborado foi então o ataque de Osama Bin Laden sobre essas relíquias da arquitetura mundial!... Hoje já existem outros prédios bem maiores do que os americanos, pelo oriente. E, ironicamente, a própria família Bin Laden, dona de grandes construtoras, pretende erigir a maior torre do mundo, com mais de 1.000m.

Em Chicago, no Estado de Illinois, não procurei muita coisa. Cheguei

ao Sears Tower e, para não gastar mais com ingressos, tentei subir discretamente pelos vários elevadores dos clientes corriqueiros, pois eu sabia que havia um específico para os turistas, como no WTC. Quando cheguei pelo

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60º andar e ia me dirigir ao outro elevador, dois seguranças me abordaram e me mandaram descer. Na rua, depois de andar muito, tive de bater duas fotos para emendar o prédio, uma sobre a outra, pois a imagem não coube na lente da câmera fotográfica. Andei vários quarteirões para pegar um ângulo completo do edifício, batendo esta foto. A Sears é uma grande rede de loja de departamento que, no Brasil, existe em São Paulo.

Como perdi o controle dos dólares que levei, vendo tanta coisa bonita

para comprar e gastar – e não conseguindo sacar nada da minha conta no Brasil, nas cerca de cinqüenta agências do meu querido BB que havia por lá -, procurei uma igreja evangélica. Avistei um prédio de uns vinte andares ali, pelo centro de Chicago, que tinha um pináculo de igreja no topo, e fui até lá. Era uma Igreja Presbiteriana. Falei com uma funcionária mas ela me encaminhou para outros locais. Insisti até que ela me levou ao pastor que era um indiano moreno de bigode. Apresentei-lhe minha situação esperando que ele entendesse, mas, apenas me encaminhou a um endereço de albergue, onde ajudam aos necessitados e andarilhos – como eu, naquela ocasião... Senti o quanto o americano é mão de vaca – diferentemente de nós que, às vezes, podemos até exagerar nas caridades [todavia é melhor exagerar do que se omitir!] Cumpriu-se ali, comigo, o que o Apóstolo Tiago:

As Pontes do Brooklin na majestosa Nova York que despertou o ódio de Osama Bin Laden há 10

anos sobre as saudosas Torres do World Tarde Center –WTC – que ruíram ao chão

Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em

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paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?

Tiago 2:14-16

As duas Torres Gêmeas do WTC; o Empire State Building – o maior do mundo nos anos 60 -, em

Nova York; e a casa onde nasceu e viveu o Pr. negro Martin Luther King, Jr., em Atlanta

Sendo eu mórmon naqueles anos, quis visitar Salt Lake Sity [Cidade do Lago Salgado] em Utah que, ao lado de Idaho, são estados fundados e colonizados pelos mórmons, especialmente pelo líder Bringham Young, cujos personagens apareciam com freqüência nos filmes de faroeste [daí o termo far West = oeste distante]. Fotografei o grande Templo-Sede mundial, que fica na Temple Square, um grande quarteirão murado onde há também: museu, o ginásio Tabernáculo, capela e praças. Este é geograficamente o marco zero da cidade, a partir de onde as ruas são contadas e numeradas conforme os pontos cardeais.

Como ainda não tínhamos telefone em casa, no Brasil – pois teríamos de alugar ou comprar um linha – eu usava o da vizinha, do apartamento ao lado da porta do nosso, e ligava até a cobrar – quando falava muito ou o dinheiro tinha acabado. Morrendo de saudades da família, eu telefonava quase todos os dias. Ligava tanto que gastei mais de US$ 600 de conta telefônica com chamadas internacionais de até cerca de uma hora. E olhe que a passagem aérea, ida e volta, me custou apenas US$ 650,00! Tinha dado até para ter levado a esposa, pois a reserva que deixei em conta daria muito

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bem!... Eis, portanto, mais uma burrice minha! Resumindo, nessa viagem, que foi a primeira, gastei algo em torno de US$ 2.000, mais a conta telefônica, um valor relativamente pequeno para hoje, mas que podia perfeitamente ser investido, naquela ocasião, na compra de um terreno no bairro de Jd. S. Paulo, por exemplo.

O Sears Towers,com 117andares, em Chicago, Eu com o irmão mórmon Kevin, após um culto-

apresentação no Tabernáculo do Templo-Sede, em Utah

O tempo passava e, como obtive um visto de quatro anos no consulado americano, em 1992, ainda podia retornar à terra do Tio Sam sem burocracias – pelo menos locais! Assim, movido por “saudades daquela terra”, mais uma vez “me deu na telha”, dentro de uns quinze dias antes do gozo de outras férias, e, mais uma vez “prometendo à família que, „quando eu quisesse iria‟ e levaria todas elas”, fiz de novo as malas e viajei à América do Norte. Aqui pude ver, através de inúmeros incidentes, que realmente não foi da vontade divina tal 2ª viagem!

Dessa vez, assim que cheguei ao Aeroporto de Orlando, aluguei um carro – que teria sido mais fácil por aqui mesmo, devido a só aceitarem cartão de crédito internacional ou uma caução, como a que deixei. Era um “Tempo” automático, da Ford, do ano, cheirando a zero. Tão luxuoso que nem consegui tirá-lo sozinho do estacionamento e, quando fui abastecer, não sabia que havia um botão do botão luvas que liberava a tampa do tanque. Além de todo elétrico, tinha toca-fitas, ar ou aquecimento, quatro portas e o banco do

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motorista subia e ia pra frente ou para trás conforme um motorzinho que o movimentava. Era semelhante ao Escort ou Vectra do Brasil. Dois dias depois, fui a Miami, usufruindo o verdadeiro tapete que é o asfalto das US’s [no Brasil, são as BR‟s]. Quando retornei, peguei dois caronas no albergue pago de Orlando, um canadense e o outro, israelense, e fomos ao Cabo Canaveral, onde fica a NASA e vimos o lançamento de um pequeno foguete. Diante de tantas belezas que eu via, não podia deixar de considerar as palavras do mestre:

Que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma [ou vida, ou paz]? ou que dará o homem em troca da sua alma?

Mateus 16:26

Na segunda viagem, embarquei direto do Recife, através da empresa GDN – Viagens e Turismo que fretou um avião americano – vôo charter, pela American Airways – e que, no retorno de uns quatro vôos, não honrou o contrato e a AA recusou-se a nos trazer. Porém, eis os quatro (04!) principais incidentes dessa viagem que demonstram, dentre outros, que essa minha decisão não foi segundo a vontade de Deus:

Museu da Coca-Cola em Atlanta – Geórgia

1. Logo ao chegar à América, nos desviamos para o Aeroporto de

Porto Rico – uma ilha do Caribe, onde, por sinal, viveu o

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Missionário Nick Cruz, e quase me negavam o visto de entrada por suspeitarem que eu voltara para ficar por ali;

2. Tive minha 2ª crise renal em pleno território americano; 3. Minhas 2 malas, com toda a bagagem e lembranças que eu

trazia para o Brasil, foram extraviadas num dos ônibus que peguei lá, e só vim a recuperá-las (sem os eletro-eletrônicos que tinha nelas, confiscados pela Alfândega), dois anos depois! (Até o cheque de cerca de USS 250 do seguro pela bagagem extraviada, que a empresa de ônibus Greyhound me mandou pelo correio eu perdi porque devolvi exigindo “dois” pelas duas malas”

4. E o pior: o vôo de retorno no avião americano da AA - American Airlines, fretado pela empresa recifense, foi cancelado por falta de pagamento do contrato!(Tive assim, de gastar mais dinheiro, comprando outra passagem que foi até mais cara do que a que comprei antes – de ida e volta!)

Através das lunetas do WTC fotografei a Estátua da Liberdade e o Centro Gráfico dasTtestemunhas

de Jeová [Betel]

Num dos trajetos dos ônibus da Greenhound [acabei comprando uma

perfeita miniatura de plástico que conservo até hoje], conheci um casal de brasileiros que ia para Boston. Eles me convidaram para ficar em sua casa e me arranjariam emprego no restaurante onde eles lavavam pratos. Achei a idéia absurda. Eles insistiram tanto que me irritei e disse-lhes que “trabalhava no Banco do Brasil e tinha família...”. Despedi-me deles e nem peguei seu endereço. Hoje vejo a oportunidade de ouro que desperdicei, pois eu podia

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perfeitamente pedir uma licença não remunerada de até 3 anos, ao banco, e, se não desse certo no território americano, pelo menos eu teria garantido o emprego e adquiriria uma experiência maravilhosa. Foi mais uma das mancadas na minha vida.

Todas estas duas viagens ao exterior coincidiram com as duas primeiras crises renais que tive na minha vida. A primeira, quando estava voltando, de ônibus, do Rio de Janeiro, onde desembarquei do avião, eclodiu quando passávamos por Sergipe. A segunda, lá mesmo, quando eu ia, de ônibus também, para Washington. Os detalhes desses incidentes são relatados no próximo capítulo. Além de não ter levado minhas filhas e minha então esposa, lamento muito também não ter podido mostrar a mãe e pai as fotos tiradas nos “Estados Unidos”. De todos os meus parentes, quem mais se empolgou com estas minhas viagens foi Robertinho que, sempre que eu ia a caruaru, ele me fazia perguntas sobre a terra do Tio Sam. Falar sobre os Estados Unidos daria mais um livro à parte. Quando voltei ao Brasil, cheguei com o desejo que transcrever todas as quase 400 páginas do meu diário que escrevia andando por lá. Ainda tenho esse diário, mas nunca realizei esse projeto do livro. Quem sabe, se Deus me permitir, algum dia, voltar lá, eu faça o relato das três viagens. (Agora, só se for da Vontade Dele!...)

Minha família me recebe de volla dos EUA com um bolo com a inscrição

“Welcome”

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Cálculos Renais – meio matemáticos

Tu, ó justo Deus, provas o coração e os rins.

Salmo 7:9

também é o número de anos em que sofro de determinada e misteriosa disfunção orgânica, demonstrando, mais uma vez que o homem foi feito do pó da terra. (Gn 2:7)

Os cálculos renais também podem ser adquiridos por influência hereditária ou genética. Assim como Mamãe tinha pressão alta, problemas de circulação sanguínea – varizes -, diabetes, e problemas cardíacos e renais, nós todos, seus filhos, temos herdado algo dela. Netinho está com complicações cardíacas, pressão alta, diabetes, problemas nas pernas e algo mais – não sei exatamente quais todos; eu já fui hipertenso, tive ameaças de diabetes – conforme já falei de quando fiz os exames para a Caixa Econômica – e tinha, ou tenho, esta produção de cálculos renais; Silva possui elevadas varizes, e só – ele parece ser o que tem menos dessa herança [ele sofreu por um bom tempo de algo no estômago, como uma úlcera, mas foi curado].

Mesmo tendo alguns cuidados com a saúde, como praticar ginástica sempre – mesmo com sobrepeso ou o peso dos anos -, não pude evitar algumas disfunções orgânicas, como a hipertensão - que não me incomoda mais. Nessas minhas viagens aos EUA, descobri mais uma: foi a capacidade de meu corpo produzir pedras. Parece estranho que nosso corpo, que é de carne, sangue e osso, fabrique um tipo de minério sólido e concretíssimo. A gente ouve muito falar disso nas outras pessoas, mas quando é

20

Pela 1ª vez numa ambulância, já em Teresina [2007]

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conosco, demoramos a acreditar. Desde 1989, quando voltei da minha primeira viagem aos EUA,

descobri de forma mui dolorosa essa capacidade do meu corpo. Assim, já são vinte e dois anos. Como já mencionei nestas páginas, é provável que haja algo de hereditário ou genético nesta disfunção, de uma vez que mamãe também sofria dos rins.

Ao usar o termo “cálculos... matemáticos”, eu não quero apenas fazer um jogo de palavras. Parece-me de fato que Deus quer me falar algo com essas crises que venho tendo ao longo dessas duas décadas – e espero sinceramente poder entender logo tal mensagem, mediante o conselho de Jó:

Deus fala de um modo, e ainda de outro se o

homem não lhe atende. Jó 33:14

Pois bem: a primeira dessas crises aconteceu exatamente à meia-

noite da terça-feira, 18.04.1989, dentro do ônibus, quando eu voltava do Rio de Janeiro, onde desembarquei do avião vindo de Orlando-FLO. O Motorista parou num posto de saúde da cidade de Laranjeiras, em Sergipe, e prosseguiu com os demais passageiros. Aplicaram-me três injeções e, duas horas depois peguei outro ônibus da Itapemirim. Todavia, chegando em Palmares-PE, as dores voltaram e o veículo parou noutro posto, bem na BR. Mais algumas horas de repouso e analgésicos e pude continuar viagem até o Recife onde, acho que, dias depois, fiz alguns exames, aproveitando a assistência técnica do Banco, pela saudosa CASSI, mas não levei o caso tão a sério.

Três anos depois – e aqui começa a matemática dos cálculos! – quando estava dentro dos próprios Estados Unidos da América, ocorreu-me a segunda dessas crises mensageiras. Eu estava dentro de outro ônibus também, indo para Washington assistir aos desfiles militares do Independency Day – em 4.jul.1992. Ao meu lado, na poltrona, havia coincidentemente um jovem médico brasileiro que, de imediato, me disse que poderia ser crise dos rins. Ele comunicou ao motorista que parou no próximo posto de gasolina, e um jovem dali me levou em seu carro à clínica de uma cidadezinha próxima – Radford-VA (Virgínia). Eu não tinha o plano de saúde internacional que me ofereceram na agência de viagem, no Brasil. Por isso, deixei o endereço do meu amigo mórmon para mandarem a cobrança – era clínica particular, eu

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não sabia que não existia saúde pública naquele país (somente agora, com o Pres. Barack Obama, é que criaram serviço público de saúde, o que é bastante curioso). Aproveitei para perguntar à médica se a água de coco era mesmo boa para os rins ou se era apenas mito. Estranhando aquilo que eu queria dizer, ela sorriu e disse que não – qualquer líquido era o que importava ingerir. Perguntou-me ela se eu era alérgico a alguma medicação. Na ocasião, eu ainda não era. Depois, descobri-me alérgico ao anti-térmico dipirona – que tem no Baralgim Composto que tomei nessas crises renais. A conta de US$ 85,00 chegou ao endereço do amigo, e ele me enviou para o Brasil, fazendo-lhe eu o devido reembolso.

De volta à minha terra, fiz mais exames, porém, mais uma vez, achei

que aquilo ia passar. Três anos depois, a crise se repetiu, desta vez, no Recife mesmo. Nos

anos seguintes, a freqüência dessas produção ia diminuindo para dois anos, ano e meio, um ano, seis meses e, hoje, não há mais um aviso-prévio. Ainda conservo seis dos cálculos liberados pela urina, entre 1999 e 24.09.2009, quando se deu a última dessas 21 crises, aproximadamente.

Os últimos exames demonstram a predominância de oxalato nos

cálculos que têm cerca de 4 a 7mm, pelo não podem ser retirados por cirurgia ou laser. Os últimos médicos me receitaram Citrato de Potássio como única substância capaz de diluir esses corpúsculos e o eficiente Codaten é o comprimido que me tem aliviado completamente as cólicas, nem precisando de injeções.

O Apóstolo Paulo fala de certo “espinho na carne” que lhe

incomodava. Já li que isso poderia ser uma alusão a crises nos seus rins. Outras fontes levantam hipóteses diferentes. Mas, é ele próprio que de certa bofetada de um mensageiro de Satan – resta saber se aqui temos uma linguagem figurada ou não:

Para que me não exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte demais

IICoríntios 12:7

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Todavia, assim como fui curado da hipertensão, espero em Jeová Rafá que é o Fabricante do nosso corpo, como consta nas sagradas páginas:

Tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe.

Sl 139:13

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Morando na Beira-mar

Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol,

todos os dias da tua vida vã; porque este é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes

debaixo do sol. Eclesiastes 9:9

endo comprado o apartamento em Jaboatão dos Guararapes, no lado sul do Recife, eu tinha de me mudar assim que possível, e parar de pagar o aluguel da casa grande em Jd. S. Paulo, que era, no mínimo, o dobro do tamanho do Ap, sem contar quintal, jardim, oitão. No entanto, seria próprio. Ao invés de pagar por um imóvel de outra pessoa,

passaria a pagar pelo que era meu mesmo. Este era o meu segundo imóvel residencial adquirido com os proventos do Banco do Brasil.

Na entrada do Condomínio Costa do Sol-D, meu último endereço em Recife/Jaboatão, e vista da varanda no

AP

O Cond. Costa do Sol-D era um dos seis ou oito conjuntos que foram construídos pela Cooperativa Inocoop. Eram compostos de 6 blocos de 4 pavimentos com 16 apartamentos de 80m², totalizando 96 unidades. Fica a cerca de 1.000m da praia de Piedade, exatamente no Jardim Piedade. O

T

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asfalto e calçamento chegava a 100 da entrada no condomínio. Havia todo o pátio entre-blocos para estacionamento. Mudei-me, mas continuei a trabalhar no Cais do Apolo. Porém, logo mais, houve outra reforma administrativa pelos Cesec‟s do Brsil todo e reduziram o número de funcionários ali, recambiando-os para as agências. Optei pela de Prazeres, um bairro quase vizinho ao meu. Estava, assim, mais perto de casa, mas o salário caía bastante. A agência era muito pequena e tinha apenas cerca de 20 funcionários. Foi aí onde terminei minha carreira de bancário, aderindo ao PDV, conforme veremos a seguir. Neste apartamento, Fátima passou a fazer iogurte caseiro e, certo dia, tivemos a idéia de fazer para vender. Eu comprava garrafas plásticas de 1 litro e ia levando em isopor com gelo para os colegas do Banco. Com o tempo, a clientela foi aumentando, e eu chegava a levar, no grande porta-malas do Santana, 40 litros ou mais de iogurtes que, por sugestão dos colegas, em vista do programa Encontro com Elvis que eu apresentava, que foram batizados de Iogurte JJ. Cheguei a colocar anúncio em jornais e, certo tenente da PM começou a comprar conosco e gostou tanto ao ponto de autorizar-me a vender dentro do próprio quartel. Porém, foram surgindo as bebidas lácteas em sacos plásticos, como de leite, que, embora não sendo o iogurte puro como vendíamos, tinha um preço muito competitivo com o nosso e tivemos de ir deixando o negócio. Com os rendimentos advindos, Fátima chegou a colocar armários e prateleiras na cozinha e na casa toda.

Após o primeiro mandato de síndico desse Condomínio, perguntaram se eu não queria me candidatar. Pensei um pouco e resolvi aceitar. Tendo sido eleito, passei a adotar uma

Na AABB - Recife

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administração transparente, publicando mensalmente um boletim onde constavam as contas e as notícias dos moradores, além de algumas reflexões. Além de melhorar a iluminação entre os blocos e outras pequenas melhorias, tentei asfaltar ou calçar o trecho de rua em frente ao condomínio, tentando fazer uma parceria com o Costa do Sol-C que era de frente para o nosso. Sempre querendo economizar para os condôminos, no Natal de 1996, comprei umas ripas de 3m e alguns pisca-piscas de camelôs construí uma gigantesca estrela e a coloquei, sozinho, para o lado da rua, na caixa-d´água de uns vinte metros de altura – o zelador ficou embaixo guiando-a com uma corda. Lamentavelmente, com a minha saída do BB e a falência da videolocadora, passei a ter as mais sérias dificuldades financeiras até então. Mesmo trabalhando de taxista - em taxi alugado - ou de corretor de imóveis, não dava conta das despesas. Assim, várias vezes vi-me obrigado a pegar emprestado do caixa do condomínio para, posteriormente, quando a situação melhorasse, eu repor aquelas quantias.

Silva com seu 1º carro – o Passat; e o Boletim da minha gestão no Cond. Costa do Sol- Jd. Piedade

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Num dado momento, recorri a Silva, que era funcionário público em Brasília. Mas, como ele também estava apertado, e, sensibilizando-me com a minha situação, tomou a iniciativa inusitada de vender seu primeiro carro – um Passat – e me socorreu de forma muito altruísta e fraternal. Quando vendi meu terreno aqui, enviei-lhe certa quantia, mas ainda não restituía todo o favor que ele me fez.

Todavia, não consegui

controlar a situação, pois o mercado de trabalho estava realmente fechado para mim por ali. Cheguei ao final do meu mandato de síndico e, terrivelmente, não consegui fazer a reposição total. Como eu possuía dois terrenos na cidade vizinha de Moreno, fiz uma procuração particular transferindo os imóveis ao condomínio e, graças a Deus, numa assembleia, a maioria aceitou. Pelo menos, pelo valor que eu paguei por eles, devem ter dado para cobrir o débito. Não resta dúvida da pressão psicológica que a falta de recursos financeiros exerce sobre um pai quando vê sua família precisando do básico para a sobrevivência. Esta foi uma das maiores vergonhas que passei em minha vida, diante daquela assembleia prestes a me degolar. O livramento que Deus me deu foi tamanho que até o ex-síndico que era meu arqui-inimigo – e que, noutra assembleia, partira para me agredir fisicamente – levantou-se agora a meu favor! Agradeço muitíssimo a Deus Jeová como cantou Davi:

1 Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. 2 Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio. 3 Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa.

Como síndico com o ex-síndico

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7 Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido. 11 Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. 12 Eles te susterão nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra. 15 Quando ele me invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei, e o honrarei.

Salmo 91

Este foi também o meu último endereço em Pernambuco. Alguns meses adiante, Silva, vendo que minha situação piorava na nossa terra, convidou-me para ir para o Distrito Federal, pois lá sempre há concursos diversos e outras oportunidades. Nunca pensei em deixar minha família dessa forma; até porque isso me lembrava aquela atitude infrutífera do meu pai, indo para o Rio, quando eu tinha 10 anos. Porém, eu não tinha outra saída. Conseguimos emprestado o dinheiro a passagem e viajei para não mais voltar a morar na minha terra natal. Um amigo vizinho, também crente e funcionário da Polícia Judiciária, me deu carona em seu carro até o TIP – Terminal Integrado de Passageiros. Chorei copiosamente durante todo o percurso, como se estivesse perdendo minha família – enquanto isso acontecia de fato no coração da minha então esposa e filhas [e eu nem desconfiava], veio a ocorrer de fato poucos anos depois, no DF.

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Dois incidentes quase Fatais

Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.

Mateus 10:30

gratificante saber que, mesmo com nossas falhas, existe um Deus que observa todos os nossos passos e se preocupa conosco, possuindo um plano para cada um de nós. Enquanto eu morava em Jd. Piedade, aconteceram-me dois fatos

que demonstram isso na confirmação de outro fato mais significativo ainda. Enquanto eu era síndico do condomínio, no afã de fazer o máximo com o mínimo de gasto, resolvi eu mesmo eliminar os ratos que se multiplicavam por entre os blocos, ao invés de contratar uma empresa dedetizadora. Assim, comprei um poderoso veneno conhecido como “1001”, peguei dois pães franceses e chamei meu cunhado, o Reginaldo, que passava uma temporada ali, conosco. Ele ia tirando os pedaços do pão, eu pingava o raticida e jogava onde eu indicava. Colocamos umas cem iscas ao redor de todos os nove blocos, pelos capins e cantos de muros possíveis. Ao final, sobrou um pedaço do pão, no gesto brincalhão, eu peguei e ia comê-lo. No momento exato em que pus um pedaço do pão na boca, meu sangue subiu para a cabeça como se estivesse pegando fogo. Tão forte que era, só o cheiro impregnou o restante daquele pão e eu estava sendo envenenado irreversivelmente. Corri para o meu apartamento, no 4º andar, para procurar leite e beber – e se não tivesse?... Eu não costu-mava comprar leite – salvo quando fazíamos iogurtes. Mas, nessa ocasião, certamente por providência divina, eu havia comprado um saco que ainda estava fechado, na geladeira.

É

Com a família no salão de festas do Condomínio Costa do Sol-D,

onde quase morri por duas vezes

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Abri-o rapidamente e ingeri logo um copo. De imediato, o sangue desceu para o resto do corpo e o coração voltou a bater normalmente. Graças a Deus – e às lições de primeiros socorros que tive no colégio-, achei o antídoto certo para aquele tipo de veneno, pois leite não serve para todos. Meu cunhado, ia atrás de mim só sorrindo, achando que aquilo fazia parte da minha encenação de brincadeira. Não me lembro qual foi a reação de Fátima e das meninas, mas depois disso, não mais quis mexer no “1001”. Felizmente, só os ratos desapareceram. Noutra ocasião, poucos meses depois que voltei dos EUA, tive uma grande dor de dente, por ocasião de um canal que estava caindo. Como eu andava com uma 4ampola de Baralgim Composto e uma seringa na pasta – por causa das crises renais que eu começava a ter -, calculei que ele me serviria também para aquela dor insuportável. Peguei o material e eu mesmo o injetei no meu braço esquerdo. Em questão de segundos, comecei a ficar com a respiração ofegante. Sentei-me na varanda do apartamento e a vista foi se fechando permitindo-me ver tudo apenas em tom alaranjado e fosco. Meu coração ia parando. Procurando controlar a respiração, balbuciei para Fátima chamar um ex-irmão mórmon, o Dr. Calazans, médico da Secretaria de Saúde do município de Jaboatão, que morava a cerca de 300m do condomínio. Enquanto ele não chegava, fui forçando a respiração e conseguindo respirar com mais alívio. Quando o Calazans chegou, eu já estava quase em estado normal. Ele prontamente confirmou que aquilo fora um choque anafilático, devido à alergia – desconhecida – do remédio, e que, eu só não morri porque Deus não quis! Agradeci a presença do ex-irmão, fizemos uma oração, bebi algo e voltei à vida novamente. A partir daí, passei a por uma etiqueta autoadesiva na minha carteira de identidade com a expressão

À entrada no nosso Bloco – Jd. Piedade

[Foto de 2002, quando eu estava em Brasília]

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“Alérgico à Dipirona”. Anos depois, descobri também que sou alérgico a sulfa, dropropisina e ao Tramal. O tempo passava e saí do Banco, perdi a micro-empresa, as dívidas se avolumavam e eu não via saída. Para receber alguma resposta de Deus, eu entrava em qualquer igreja evangélica que me parecesse simpática – tanto espiritualmente como socialmente. Assim, ainda dirigindo o Fiat Uno marrom, vagueei pela orla marítima, em direção ao fim de Jaboatão. Na curva da avenida que beira o mar - pois, a partir de Piedade, os prédios é que ficam à beira da praia, e a avenida passa pela frente deles – descobri uma igreja instalada numa bonita e grande casa de piscina. Mas, o culto já estava terminando. Quase que eu passava adiante. Mas, como sei que até a oração e as palavras finais de uma adoração possuem valor, parei o carro e entrei ficando por trás das pessoas que estavam em pé, orando. Tão logo eu ia pondo os pés ali, o jovem pastor, que pelo sotaque, parecia ser latino, disse ao microfone: Você, que Deus lhe livrou da morte duas vezes, venha aqui na frente, que Deus tem um plano para você! De pronto, senti ser aquela mensagem para mim, mas minha timidez falou mais alto e relutei:Não!Como pode ser isso comigo?... Não sou daqui, ninguém me conhece...É chato eu ir ali na frente, como que me exibindo. E se outro irmão for também?... E o pastor repetiu aquele chamado: Você. Deus lhe livrou da morte por duas vezes...Nem eu nbem outro alguém foi à frente atendendo àquele chamado divino,,, O culto terminou e, ainda acanhado, preferi sair dali sem ir falar com o pastor para confirmar tal mensagem divina – nem ao menos cumprimentei qualquer pessoa. Liguei o carro e voltei para casa com aquele pensamento martelando. Somente, anos mais tarde é que descobri a verdade e a força daquela mensagem: como poderia aquele desconhecido pastor saber daquilo? Eu nunca estivera ali! Será que foi um chute que os pregadores dão com certa freqüência? E por que ele só falou aquilo naquele exato momento, em que eu entrei, e no finalzinho do culto?... Apesar da minha constante relutância, espero ainda ser útil, de alguma forma, à Seara Divina, nestes meus 50 anos já gastos na estrada da vida. Como está escrito:

Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.

Eclesiastes 3:1

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A Igreja Presbiteriana

Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.

João 3:37

oão Calvino, também considerado um dos reformadores, pregou uma curiosa Teoria da Predestinação, a qual é rebatida pela maioria das igrejas evangélicas.À princípio, eu também não concordava, mas, depois

de certa explicação que me deram os irmãos da Igreja Presbiteriana de candeias, afiliei-me a essa denominação.

Cantando com o Almir ao teclado, e com sua família na Igr. Presbiteriana de Candeias

Na Agência de Prazeres, onde trabalhei pela última vez no BB, o esposo de uma colega era pastor presbiteriano. ela me convidara a aparecer por lá. Depois do PDV, e premido pelas agruras materiais, apareci naquela congregação dirigida pelo dinâmico Pr. Harley que foi muito simpático e generoso para comigo.Aí, procurei mais a Deus. Certa manhã, quando estávamos num momento de oração, para o qual ele convidara toda a igreja, mas só apareceram eu e ele, e a nave estava vazia. Eu senti tanto a presença do Espírito Santo em mim como jamais sentira. Chorei muito e, não me contendo com tanto pentecostalismo, saí correndo pelos corredores dos bancos, gesticulando e orando fervorosamente, e com certa revolta. O Harley me apoiou neste gesto e deu-me mais conselhos. Noutra ocasião, sabendo ele das minhas dificuldades financeiras pós-PDV, cumprimentou-me ao final de um culto, na entrada da igreja, e pôs-me no bolso da camisa uma cédula de quantia razoável. fiquei estupefato e

J

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Memórias de Meio Século 266 [email protected]

envergonhado, mas não podia recusar tal auxílio porquanto era inegável minha carência. Mesmo fazendo parte de uma determinada denominação, nunca deixei de visitar qualquer igreja evangélica. Assim, certa ocasião, fui à Universal, de Tejipió e, lá, após o culto, certa moça manifestou-se com um espírito maligno e o pastor perguntou a ela porque ela estava assim. De pronto, ela apontou para mim e balbuciou algo como Por causa dele. Achei aquilo muito estranho e espiritual, mas o pastor assegurou-me que Deus tinha algo de especial para mim.

A partir daí, achando que aquilo fora de fato um sinal especial de Deus para mim, fui me aproximando dessa outra igreja, deixando gradativamente a Presbiteriana. Pequei em, pelo menos, não ter comunicado nada desse acontecimento aos irmãos que me acolheram tão bem ali, especialmente o Pr. Harley. Tempos depois, soube alegre que ele fora a um congresso na Coréia do Sul.

Irmãos da Presbiteriana celebram culto no meu Condomínio.

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Memórias de Meio Século 267 [email protected]

A IURD – Universal

Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.

Lucas 12:15

ízimos e ofertas são conseqüência das bênçãos materiais que Deus nos dá. Logo, elas vêm depois da bênção, e não antes. Ou melhor: Jesus nos ensinou a buscar antes o Reino de Deus e, depois, as coisas materiais virão naturalmente. Consulte Mateus 6: 31-33:

Não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir?(Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

A IURD – Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977 por Edir Macedo, trouxe algo de que o povo evangélico brasileiro realmente necessitava: a Teologia da Prosperidade. Entretanto, acho eu, ela peca por permanecer na busca incessante da prosperidade material com uma certa fachada de espiritualidade prioritária, quando, na prática, o que se demonstra é uma busca incessante de prosperidade financeira, física e material.

No dia do nosso batismo na IURD teclado, em Afogados – Recife: Sarah, Fátima, Graça, eu

D

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Memórias de Meio Século 268 [email protected]

Em 1995, após aquele vento da revelação da moça possessa, que já relatei, achei que ali era meu lugar.

Duas ou três vezes por semana, eu levava até a igreja do bairro de Tejipió, toda a família no Fiat Uno, que foi o último carro que possuí por ali. O jovem pastor foi gostando da nossa presença e chegou a levar dois carros com obreiros para ungirem nosso apartamento, por duas vezes. Em certo culto de domingo, pela manhã, apesar de certa ventilação – pois estávamos pelo meio do salão que tinha aquelas duas grandes portas de aço dobrável abertas-, Graça passou mal e a levamos para os fundos, ao ar livre. Ali, os obreiros oraram e o mal-estar foi passando. Pareceu algo espiritual, mas ela ficou calada o tempo todo – nem falou nada depois. Se ela teve algum visão ou revelação, nunca me disse.

Ainda no Centro do Recife, quando a igreja funcionava num grande galpão próximo da Central do Metrô e noutro galpão maior, após o Pq. 13 de Maio, tive profundas experiências espirituais antes os milagres e orações que presenciei.

Enquanto estive nessa igreja, houve muitas profecias e esperanças – tanto materiais quanto espirituais e eclesiásticas, mas nenhuma se concretizou. Percebi que estavam me cotando para ser pastor também. Houve um incidente que me decepcionou muito: conheci um obreiro que chegou a anunciar no programa de rádio que já tinha uma chácara, uma empresa de venda de cimento, uma segunda empresa – que seria aberta em sociedade comigo – e outras vantagens materiais mais. A verdade era: a chácara onde ele morava, ele adquiriu sob a condição de pagar tantos sacos de cimento e, como ele só cumprira uns dois meses, estava sendo obrigado a deixar o imóvel; a empresa que tinha era um pequeno quarto alugado, onde ele armazenava alguns sacos de cimento, e os negócios estavam quase falindo; e a empresa que íamos abrir ainda dependia de muita coisa, dentre elas que eu não tinha nenhum dinheiro disponível nem ele mostrava o novo local nem as condições da nova sociedade.

Após ouvir tal testemunho irreal, fui com Fátima conversar com ele, na nova congregação que ele estava dirigindo, perto do nosso condomínio. Levei um micro-gravador escondido e perguntei a ele como ele podia falar de bênção que ainda não recebera. A resposta foi taxativa: Irmão, eu vivo por fé!

A partir daí, fui me decepcionando com mais uma organização religiosa e me aproximando da antiga Assembleia de Deus.

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Memórias de Meio Século 269 [email protected]

O PDV DO BANCO DO BRASIL

Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.

Lucas 6:49

Com o Sub –Gerente Urbano, o Supervisor Cavalcanti e o Apoio Joel

m 1995, FHC – o Presidente Fernando Henrique Cardoso -, na sua política de privatização, implementou o PDV – Programa de Desligamento Voluntário para o BB – Banco do Brasil e outras empresas públicas ou mistas. Como eu vinha um tanto chateado (mas sem razão) com aquele meu emprego, queria liberdade e, de

imediato, percebi que era a minha oportunidade para abrir meu próprio negócio e viver sem mais chefes antipáticos me dando ordens! Foi um ledo engano! A princípio, ao ouvir essa boa-nova, exclamei que, se minhas contas com o Banco dessem pelo menos dez mil reais, eu aceitaria de imediato. Que ingenuidade: deram um total de quase quatro vezes mais aquela minha previsão e, no entanto, dei-me muitíssimo mal ao sair daquela Casa! Tão mal que, depois, tentei voltar, passando em mais dois concursos, e não consegui, como falarei mais adiante.

E

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Memórias de Meio Século 270 [email protected]

Todos os meus direitos trabalhistas, com a multa de 40% e o saque do FGTS, totalizaram quase R$ 40.000 – quarenta mil reais -. Era a “maior fortuna” que eu já tinha pego naquela época, em 1995! Sem carro, tratei logo de comprar um que, pela urgência, foi mais barato, e era o de Fátima. Para mim mesmo, eu compraria depois, um Vectra, com ar condicionado e quatro portas. Nem comprei outro carro e tive, ainda por cima, de vender o da própria mulher!

Despedida aos colegas pedevistas. Fomos três: eu, o Joel e o Urbano – sub-gerente

Um dos principais motivos – e talvez o maior deles – da minha falência após a saída do Banco do Brasil, creio ter sido a sonegação do Dízimo, como é exigido dos servos de Deus, com bênçãos subseqüentes, conforme prometido no livro do Velho Testamento de Malaquias (3:10-11):

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós tal bênção, que dela vos advenha a maior abastança.Também por amor de vós reprovarei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; nem a vossa vide no campo lançará o seu fruto antes do tempo, diz o Senhor

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Memórias de Meio Século 271 [email protected]

dos exércitos.E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.

A última agência onde trabalhei [Prazeres-Jaboatão-PE] e os cartazes da propaganda que fiz

Diferentemente, do que pregam algumas denominações, como a CCB – Congregação Cristã no Brasil – da qual Silva faz parte, creio que a prática de dizimar mantém o equilíbrio financeiro de qualquer igreja e aumenta a aproximação com Deus. Mesmo sendo “da Velha Lei”, nada impede que o façamos, de uma vez que traz inquestionáveis benefícios para ambas as partes. (Se a CCB troca os dízimos por ofertas, não faz diferença. Aliás, “ofertas” também são coisas do Velho Testamente, e mais ainda, com inúmeros tipos de ofertas, conforme se vê abundantemente nas extensas leis delineadas nos sete primeiros capítulos de Levítico.) O importante, porém, é

que “haja mantimento na casa do Senhor” (Ml 3:10).

É curioso observar que há no Brasil a cultura da sonegação de impostos – até porque, a bem da verdade, há muita corrupção quanto ao erário público -. Portanto, torna-se muito mais difícil para o homem natural, dar, de mãos beijadas, quase quatro mil reais para uma igreja (ICor 2:14). Embora naquele exato momento eu não estivesse congregando em nenhuma delas, firmemente, eu sabia dessa obrigação – mais espiritual que financeira – e eu poderia até mesmo ajudar diversas igrejas, dando uma parte a cada uma delas ou mesmo a qualquer casa de caridade ou mendigos nas ruas.

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Memórias de Meio Século 272 [email protected]

E o final do trecho bíblico ainda assegura:E todas as nações vos chamarão bem-aventurados. Comigo se deu também, neste sentido, exatamente o contrário. Nos últimos dias de trabalho, um dos PM‟s que faziam plantão na agência, ofereceu-me um revólver calibre 38 por uns duzentos reais. Achei aquilo engraçado e, não achando nada demais, apesar de a procedência da arma ser obviamente duvidosa, fiquei com o objeto e paguei a quantia pedida. Meses depois, quando a situação se reverteu, sabiamente, minha ex-esposa, disse que um irmão policial de Bezerros teria se interessado pela arma e levou-a até lá e vendeu-a por uns trezentos e cinqüenta reais. Deixei o dinheiro com ela mesmo e ainda hoje não sei realmente qual foi o destino daquele objeto que, em certas circunstâncias, é realmente necessário à defesa pessoal do cidadão – mas que, naquela minha situação crítica poderia servir para um desfecho indesejável. E pensar que a última assembléia de que participei no Sindicato dos Bancários, no Recife, eu fui o único – ou um dos 2 ou 3 bancários – a falar ao microfone a FAVOR do PDV!... E, empolgado com aquela possibilidade de “Iiberdade”, cheguei a escrever uma carta à Revista IstoÉ que a publicou na sua edição de nº1.348, em 02.08.1995, conforme aqui reproduzo.

Até hoje já sonhei umas vinte vezes retornando ao trabalho no BB... Até que descobri, por impulso de um desses sonhos, a existência de um grupo de pedevistas no Google – o MDBB-BA ([email protected]) - que impetrou no Congresso Nacional vários Projetos de Lei de Anistia, sendo o mais recente o de nº 7546/2010, que já teve parecer favorável do relator e

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está sendo encaminhado a votação. Há também outros PL‟s para os servidores estatutários. Que Deus (Jeová Jiré e Tsidkenu) oriente os políticos de bem e cristãos deste País e que haja o milagre da aprovação e do RETORNO AO BB para salvar o restante dos sobreviventes pedevistas que não tiveram êxito nos seus projetos – como eu. Encetei um movimento por aqui, contatando todos os pedevistas existentes e marquei reuniões no sindicato, mas não houve grande interesse dos ex-colegas. Contudo, o Projeto virando Lei beneficiará tanto aos que lutam como aos que só observam e esperam – assim foi com a invenção do telefone, do rádio e de todos os demais equipamentos e instrumentos que a Humanidade utiliza.

Comemorando a minha saída do BB.(Eu e o colega Joel, em pé, fomos alguns dos que não se deram

bem com o PDV. Já o sub-gerente Urbano [de mão levantada] foi bem-sucedido, ajudou-me na Memphis e já deve ter se aposentado pelo próprio BB.)

Só este capítulo daria outro livro que, nos momentos de solidão,

andando por entre os majestosos prédios das Sedes do BB, no Setor Bancário Sul, em Brasília, em pensei em escrever e vender ali mesmo, nas portas das agências.

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Memórias de Meio Século 274 [email protected]

O meu último contra-cheque no BB, de Ago/95

Se creres verás a glória de Deus.(Jo 11:40)

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Memórias de Meio Século 275 [email protected]

A Memphis Vídeo

Sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.

Efésios 5:20

sta foi oficialmente a minha primeira empresa, pois o meu foto da Bahia e a banca de revistas em Bezerros não possuíam registros. De posse da

indenização trabalhista, incluindo o rechonchudo

saque do FGTS, não hesitei e, de imediato, comprei 1.000 fitas de vídeo de uma locadora que estava fechando em Olinda. Em seguida, comprei um carro – um Fiat Uno – que coloquei no nome de Fátima – apesar de ela não saber dirigir -, planejando depois comprar um Vectra para mim. Aluguei uma loja com a entrada toda em vidro blindex, no bairro privilegiado de Boa Viagem – zona nobre com praia famosa do Recife -, cujo aluguel, na época, já era de seiscentos reais. Aluguei também uma linha telefônica – que na época não se conseguia tão facilmente como é hoje. Como a sala era grande e tinha uma sobreloja dentro, aluguei também um condicionador de ar de uns 18.000BTU‟s. Arranquei o piso de carpete e coloquei, com as próprias mãos, outro, de cerâmica. Pintei tudo e gastei mil e quinhentos reais numa placa luminosa de acrílico de 2m com o nome MEMPHIS VIDEO, em homenagem ao Elvis Presley, cujo fã-clube eu ainda possuía Tentando oferecer fitas mais novas, ainda comprei mais algumas dezenas de títulos com o Ourocard, o limite do Cheque-Ouro ou mesmo no boleto; e fui me endividando!

Ingenuamente, eu pensava que iria faturar, logo nos primeiros dias, uma média de cem reais por dia. Só de aluguel da sala, eram R$ 600,00 – há 16 anos! Assim, fui mergulhando cada vez mais no cartão de crédito e no cheque especial do BB, pecado este que veio a me custar o meu próprio retorno, por duas vezes, anos mais tarde!

E

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Memórias de Meio Século 276 [email protected]

Preparei uma inauguração da melhor forma possível: comprei taças de vidro, salgadinhos, bebidas e um litro de whisky genuinamente importado, de 8 anos – o Tennessee, que é o estado onde fica a cidade de Memphis – nome da Locadora. Esta bebida era legítima mesmo, a qual comprei no Hiperbompreço – mão eram aqueles uísques do Paraguai que eu comprava no Banco, aonde um atravessador levava em sacos de papel para nos vender.

Todo esse glamour só durou seis meses! Como todo negócio, a princípio, não dá o lucro esperado, é indispensável a empresa ter uma reserva estratégica. Mas, eu já iniciei as atividades devendo muito. Cheguei ao ponto de não ter mais limite no cartão de crédito nem crédito no cheque especial. Tudo estava se fechando, com as contas correndo. Antes de fechar, aind apelei para o sub-gerente, Urbano, também pedevista [porém, saiu com mais vantagens por ter mais de 20 anos de Banco e continuou pagando a Previ que lhe garantiria a aposentadoria com o mesmo salário], o qual me emprestou certa quantia e outro colega, o Supervisor Cavalcanti, tinha sido meu fiador no contrato de aluguel. Este último começou a ficar aflito pois o Banco estava numa nova e rígida filosofia de relação com o funcionário – e cobranças poderiam atrapalhar a carreira. Vendi então o Uno para pagar o restante das dívidas, entreguei o ponto comercial e revendi todo a cervo de fitas VHS.

A Memphis Vídeo ficava nesta Galeria, em Boa Viagem. Embaixo da marquise estava o

nosso Fiat Uno marrom.

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Memórias de Meio Século 277 [email protected]

Só depois de iniciei o negócio, descobri que havia 12 grandes locadoras nas proximidades – e eu era a menor e menos guarnecida. Sem capital de giro – nem conhecimento do mercado – eu não tinha condições de enfrentar aqueles grandes concorrentes. A saída mais inteligente foi mesmo lançar a toalha e tentar recomeçar do zero. Pus anúncio em jornais e, em poucos dias, apareceu um chinês interessado nas minhas fitas, expositores e alguns móveis da locadora. Não me lembro por quanto vendi, mas senti certo alívio em poder ter algum dinheiro vivo em mãos. Paguei algumas dívidas imediatas. Não deu para comprar outro carro. Fui guardando o restante para as despesas diárias e fiquei a meditar no que poderia fazer dali para frente a fim de ter uma renda fixa. (Obs.: A principal dívida [terrena], que era o Cheque-ouro e Ourocard, com o Banco do Brasil, “deixei rolar”. Isto me custo o sagrado retorno quando passava novamente nos concursos – conforme narro adiante. E a outra dívida, que era a do dízimo, que eu cria e creio ser importante ao crente [ou “ofertas”,como queiram nomear, mas que se dê algo para a casa do senhor!], eu também sequer amortizei!) Netinho nunca me contara suas dificuldades financeiras [aliás, na nossa família, nunca houve diálogos assim, abertos, em que cada um pudesse contar suas angústias aberta e tranquilamente]. Mas, nessa época, ele trabalhava como corretor de imóveis em Bezerros, e me falou de certo sítio que ele estava vendendo em Sairé e que era um “ótimo negócio”. Ele compraria a propriedade e, quase imediatamente, vendê-la-ia com um bom

ganho, pois já tinha comprador em vista. Era questão de uns 30 dias. Pediu-me então emprestado cinco mil reais. Prontamente, e sem imaginar qualquer imprevisto naquela negociação, me dispus a ajudá-lo, mas enfatizei a ele que aquele era o

Sarah e Graça com sua amiga-vizinha no centro, e os LP‟s e livros

do Elvis à venda

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Memórias de Meio Século 278 [email protected]

único dinheiro que me restava da venda da locadora. Na verdade, eu só ia ficar com uns 300 reais, o que daria para as despesas básicas somente por um mês. Assim, fiz o depósito na conta dele. Todavia, devido às intempéries desta vida, os meses foram se passando e se transformando em anos. E, cinco anos depois, quando eu morava em Brasília, ele me ligou dizendo que, finalmente, vendera o referido sítio, e, finalmente, fez-me um depósito que muito aliviou minha situação ali. Estes foram os últimos centavos que eu peguei da saudosa Memphis Vídeo. Nem o poderoso nome do Elvis me salvou daquela bancarrota. Meses depois, descobri que o Pr. Dorgival, que passou pela Assembleia de Bezerros, morava ali perto de mim – no bairro de Candeias. Localizei sua grande casa de 1º andar e, quando lhe falei que tinha aderido ao PDV, ele lamentou e disse que, se eu tivesse me aconselhado com ele antes, ele teria me dissuadido daquele intento.

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Memórias de Meio Século 279 [email protected]

De Taxista a Corretor de Imóveis

Procureis viver quietos, tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos

ITessalonicenses 4:11

onquanto nenhuma profissão seja, de si mesma, ignóbil para o homem honesto, verdade seja dita, depois que experimentamos certo status na vida, dói no peito termos de executar algumas tarefas que jamais

imaginamos ter de fazer pois as mesmas nos pareciam inferiores. Mas, a necessidade é quem manda e, ou entregamos os anéis ou eles vão com dedo e tudo. Como disse Jesus:

Culto do Grupo Taxistas de Cristo – GTX que ajudei a fundar, quando era taxista

Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.

(Mt 23:12)

Mesmo achando-me incapaz de tomar conta de um automóvel de terceiros, obtive o alvará de Taxista Auxiliar – aquele que não possui carro próprio – na Prefeitura do Recife e comecei a rodar. Enquanto exercia essa profissão, sofri meu 1º assalto a mão armada. Tendo eu saído do Shopping Guararapes, em Piedade, próximo da praia,

C

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Memórias de Meio Século 280 [email protected]

onde era meu ponto, com as compras de supermercado de uma cliente, com destino a uma cidade da área metropolitana, pelas 18:00h, fui imprudente no retorno. Já tinha escurecido e, na BR daquele povoado, quatro jovens deram sinal de para mim. Eram três homens e uma mulher, e, por causa da presença feminina, achei que não haveria perigo. Mas, a jovem ficou e os outros jovens entraram no taxi. Imediatamente estranhei aquele procedimento, mas não quis ser muito desconfiado e apenas perguntei Para onde? – quando eu devia, naquela hora, ter inventado uma desculpa qualquer e não ter pego aqueles passageiros muito suspeitos. Já chegando na quase deserta Praia de Barra de Jangada – a última da Capital -, eles me mandaram entrar numa estrada de terra, beirando a praia. Ali havia poucas casas e, à noite, era mais deserto ainda. Num dado momento o passageiro atrás de mim, bruscamente, anuncia o assalto, dando-me uma forte gravata e colocando uma arma na minha cintura. O da minha direita já foi pegando meu celular e abrindo o porta-luvas. O terceiro aguardava. Pediram aflitos meu dinheiro e fui colocando a mão no bolso, ao que eles disseram nervosos para eu não abaixar as mãos. Disse-lhes que tinha de tirar o dinheiro que estava no bolso. Eu sentia aquele revólver não tinha a textura de uma arma de metal maciço. Assim, quando pus a mão no bolso, passei discretamente na suporta arma e confirmei que era apenas o dedo do ladrão. Entreguei apenas uma parte do dinheiro ao da minha direita e pus o braço esquerdo na porta do carro, com a mão no trinco e, quando me posicionei, abri a porta com força e forcei meu corpo para fora. Os meliantes de trás inda tentaram me segurar, mas só conseguiram rasgar minha camisa. Ao sair, gritei por socorro, enquanto os jovens fugiam do taxi. Ainda tentei agarrar o que saíra pela minha porta – era um carro só de 2 portas -, mas eu estava muito fraco devido a apertada gravata deles no meu pescoço e apenas trisquei no ombro dele. Imediatamente, entre no Scort e arranquei no encalço deles. Mas, como havia muitos terrenos baldios, apenas parei na frente, no mato, com os faróis em luz alta e saí. Eles saíram desse terreno e foram para outro matagal, desaparecendo. Ainda gritei bem alto: Deus pegue vocês! (Algum dia saberei como Deus os pegou, pois sei que Ele estava comigo durante todo aquele percurso:

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Memórias de Meio Século 281 [email protected]

O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra (Sl 34:7).

Respirei fundo e voltei para casa, encerrando meu expediente de taxista naquela sexta-feira. Não prestei queixa porque, sabendo da ineficácia da nossa polícia (ainda hoje....), eu não queria mais manter aquela atmosfera de perigo e criminalidade, até porque o fato já passara.

Com o grupo de fundadores taxistas (que eu me lembro: o 2º, Ir. Cosme, eu, Ir. Jorge Vila Real

(da Igr. Batista); Ir. Wilson; e o taxi em que sofri o assalto

Noutra ocasião, o carro, sem passageiro, falhou ao fechar o sinal, numa movimentada avenida de Boa Viagem. Tive de empurrá-lo sozinho, quando o sinal abriu e, na agitação – pois ainda estava chuviscando -, não atentei para os roliços e enormes postes de luz que existiam no canteiro, e a porta do motorista bateu cheio nele. Ainda bem que a pancada pegou exatamente em cima da fechadura e absorveu todo o impacto, só ficando um quase imperceptível amassamento de alguns milímetros apenas! Naquele ponto do Shopping Guararapes havia diversos colegas evangélicos que, periodicamente, fazia um culto ali mesmo, pelo estacionamento, enquanto aguardávamos passageiros. Logo mais, estávamos usando uma sala no outro lado da avenida, ao lado do Supermercado Bompreço. Sugeri então ao Ir. Jorge Vila Real, da Igr. Batista, que criássemos o Grupo Taxista de Cristo, à semelhança dos Atletas de Cristo tão conhecidos pelo Brasil afora. Ficou então o nome: GTX – Grupo Taxistas de Cristo, sendo

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Memórias de Meio Século 282 [email protected]

a sigla o mesmo nome da marca de um óleo de ótima qualidade da Castrol, e o “X” que é a abreviatura de Cristo em grego. Nossos cultos iam aumentando de freqüência e o dono da galeria, que também era evangélico, chegou a nos conceder um salão onde funcionava uma academia de ginástica, com amplas vidraças no 1º andar daquela galeria. Eu digitava ou datilografava um jornalzinho mensal e até compus uma música que concorreria ao hino oficial com a composição de outro irmão, o veterano Ir. Cosme. Em dois desses cultos, sendo um de vigília e outro no auditório do Sindicato dos Taxistas, no bairro da Imbiribeira, eu convidei o cantor José Carlos, recifense que lançou os discos Eu Vejo Deus e Filadélfia, sucessos não só em Pernambuco mas no resto do Nordeste e Brasil. Nessa ocasião ele estava lançando seu novo trabalho, Tradição, com a inspirada canção Resoluto, ainda em fita K-7, a qual, juntamente com outras e alguns CD‟s, vendi todas para o cantor e fiquei sem a minha.

Poucos meses depois, tornei-me corretor de imóveis e fui me afastando do GTX. Logo depois, mudei-me para Brasília e, mesmo aqui, escrevi para o Jorge dispondo-me a redigir o jornalzinho de lá, caso ele e o grupo se interessassem. Mandaram-me ainda seu novo jornal com a notícia de um programa que conseguiram na Rádio Maranata, em Prazeres, do então Deputado Salatiel de Carvalho. Neste final de julho/11, por ocasião do aniversário da Assembleia de Deus Missão, num bairro próximo daqui, tive a grata surpresa de encontrar-me com o saudoso e querido José Carlos! Com os cabelos mais brancos e parecendo o Cid Moreira, não me reconheceu, mas lembrou-se logo quando falei da Ponte Duarte Coelho, no centro do Recife, onde nos conhecemos e do CD do Elvis com a canção Why me Lord? que eu lhe dei porque ele fizera um versão, o qual fora levado num assalto ao seu apartamento. Lembrou-se também do grupo irlandês U2, sobre quem comentamos na época e lhe dei uma K-7 com o disco Joshua Tree. Sua voz inconfundível permanece a

Cantor Gospel José Carlos, Pr. Robson, eu [Jul/11]

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Memórias de Meio Século 283 [email protected]

mesma, e com seu jeito jovial e simpático, nem parece que já é quase um sexagenário. Pude então comprar seu Tradição, agora em CD. Recebeu-me muito espontâneamente a mim e ao Pr. Robson e esposa no hotel onde estava, em uma entrevista para outro programa de rádio que estou arranjando. Nessa ocasião, o Pr. Robson apresentou-lhe a idéia de fundar um fã clube seu nesta cidade de Teresina, o que lhe deixou sobremodo contente. Aproveitei e dei-lhe uma seleção de algumas faixas dos CD‟s que gravei com interpretações do Elvis. Todavia, o faturamento estava baixo para todos os taxista na época, ali pelo Recife. Quem era proprietário ainda se safava. Depois de pagar a diária e abastecer, sobrava pouco para minhas despesas pessoais e familiares – e, ás vezes, nem sobrava, tendo eu de aguardar o dia seguinte para recuperar algo. Assim, depois de uns dos ou três meses nessa profissão, tive de entregar o veículo, partindo para outra área que, por sinal, surgiu através de uma comunicativa passageira que peguei ainda quando taxista. Iniciei na maior imobiliária do Recife e, simultaneamente, comecei o curso de Corretor de Imóvel. Durante um mês, nada vendi. Porém, ao cabo desse período, no majestoso prédio que aparece nesta foto, vendi um apartamento de cerca de cento e cinqüenta mil reais. Minha comissão era de apenas 1% - ficando o restando dos 5% legais para a Imobiliária e gerente. Como o cliente dera uma caminhonete Blaiser – era a Hilux da época – como parte da entrada, a imobiliária só quis pagar a minha parte quando vendesse o carro. O tempo passava e, mesmo sabendo que aquela retenção era ilegal, pois ela devia me repassar logo a comissão, independentemente de vender ou não o bem, nada me adiantavam. Nesse ínterim, Silva me convidou para Brasília. Como eu não recebia amigavelmente a comissão e percebia claramente a enrolada da empresa, entrei com uma ação contra a famosa imobiliária e pedi para minha ex-esposa comparecer à segunda audiência, dando-lhe a competente procuração – pois, na primeira, não houve acordo, apesar de uma quantia tão insignificante para uma imobiliária que, certamente, faturava milhões por mês!

Viajo para o DF e, infelizmente, Fátima não conseguiu conduzir a questão jurídica e, ainda mais porque estava arisca comigo, sequer ela me mandou cópia da ata da audiência, e, assim, aquela empresa adicionou mais

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esse lucro o seu patrimônio – ou ficou mesmo com aquela alta e simpática gerente de vendas que eu conhecera quando taxista... Certamente a estes ricaços ímpios aplica-se como uma luva o trecho bíblico a seguir:

Ai daquele que edifica a sua casa com iniqüidade, e os seus aposentos com injustiça; que se serve do trabalho do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário;

Jeremias 22:13

Como corretor de imóveis na frente de um dos prédios que vendia

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Memórias de Meio Século 285 [email protected]

Retornos à Assembleia de Deus

A letra mata, mas o espírito vivifica. IICoríntios 6:3

so o substantivo no plural porque, de fato, foram vários retornos que ocorreram comigo a essa Igreja após eu ter ido do Maranhão pra Pernambuco.

De fato, eu deveria me envergonhar de perambular por tantas igrejas e não decidir onde finalmente ficar. Ainda hoje, apesar do batismo no Espírito Santo, passo por certa indefinição porque sei que em toda igreja, inevitavelmente, tem sempre a intervenção da duvidosa mão humana. Infelizmente, tudo o que Deus faz ou fala para a Humanidade passa pela intermediação de um ou vários seres humanos que, geralmente, levados por sentimentos egoístas e ambiciosos e, de posse da preciosidade recebida, vai manipulando a seu bel-prazer, segundo as suas conveniências, deixando a real necessidade do povo em segundo ou terceiro plano.Se tivermos a ventura de termos pessoas verdadeiramente sinceras e fiéis ao próprio Deus, receberemos a mensagem inviolável. Porém, só se houver 100% de pureza. E onde achar esse quilate na face da Terra?... Humanamente, é impossível!

Eu, Fátima, Sarah e Graça com o taxi que eu dirigia, na Assembleia de Deus de Prazeres

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Depois que afastei-me da AD em Imperatriz, mudei-me para Pernambuco e ainda retornei mais uma ou duas vezes. Fiquei sem igreja por um tempo até batizar-me no Mormonismo. Saí desta, fui para a Presbiteriana, depois Universal e, quando perdi o Banco e minha videolocadora, voltei para a Assembleia, de novo A Assembleia possui uma espiritualidade diferente das demais, mesmo das que são pentecostais. Assim, sempre me fascinou essa igreja. Havia uma congregação em Prazeres e, como taxista, às vezes, eu parava o taxi ali e entrava para orar, tanto em cultos de oração como em cultos normais, conforme se vê nesta foto. Levei a família algumas vezes ali e passamos a nos congregar por um tempo.

Logo depois, localizei a congregação de Jd. Piedade, também da Missão, e, passando por uns atalhos entre os conjuntos habitacionais, dava para irmos a pés até aquela igreja. Foi aí onde peguei minha Carta de Mudança para Brasília.

Mesmo em Brasília, saí mais algumas vezes dessa denominação.

Embora Silva tenha também aceitado a Cristo na AD, passado pela casa da Bênção e hoje está na Congregação Cristo no Brasil – mais rígida, em certos aspectos -, eu é que buscava outras fontes de Água Viva. Mesmo tendo retornado para minha casa espiritual, minha situação financeira não melhorava – até porque não é por interesses materiais que devemos ir a Cristo, como faz o pessoal da IURD -, e, vendo a situação ficar sem controle, vi-me obrigado a aceitar o convite do meu irmão e, mais uma vez, mudar de endereço.

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Na casa de Silva e vários concursos

Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque no Seol, para onde

tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.

Eclesiastes 9:10 s portas estavam praticamente todas fechadas para mim ali, pelo Recife. Especialmente, depois do incidente no Condomínio.Como corretor de imóveis eu só tinha vendido um apartamento com uma comissão de mil e quinhentos reais, mas a empresa espertamente só ia me pagar quando vendesse uma Blaser que o comprador dera como

parte da compra. Nisso, Silva me convida para ir para sua casa, no Distrito Federal –

em Taguatinga Sul, e já me mandava, via sedex, uma apostila para o concurso do Tribunal de Justiça dali.

Eu com Silva na Biblioteca da ETB, onde iniciei o curso de Informática

Ele morava com a Maurizana, com os três filhos dela – a filha tida com ela veio a nascer depois que eu saíra do DF – e já era funcionário público do GDF – Governo do Distrito Federal -, trabalhando como monitor na ETB – Escola Técnica de Brasília. Vale ressaltar que este foi, provavelmente, o único concurso público que ele fez na vida e, incontestavelmente, foi um milagre a

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sua aprovação e convocação, tendo ele mal concluído os estudos a nível de ginasial. E é esse abençoado emprego que lhe permite hoje ter uma folga financeira melhor do que qualquer um de nós, seus irmãos. Uma prova viva de que Deus exalta a quem é humilhado, como escrito está:

Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.

(Mt 23:12) Não passei no

concurso do TJPI, mas fiz vários outros, tendo sido aprovado em 08 deles.

Logo mais, o IBGE abriu inscrições. Fiz, passei e fui convocado logo. Esta foi a 4ª vez em que tive êxito quanto a essa agora Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Com esse salário, pude sair da casa de Silva e alugar um barraco próximo dali, no mesmo bairro.

Enquanto eu trabalhava fazendo

pesquisas de casa em casa e em algumas empresas, também fui vendendo uniformes e jalecos médicos para um diácono da igreja que tinha uma confecção profissional com sua esposa. Quando saí do IBGE, criei informalmente minha própria SIÃO – Uniformes Profissionais, passando eu a comprar o tecido, gola e botões e pagando diretamente às costureiras e, assim, aumentava um pouco minha margem de lucro. Cheguei a aprender a fazer estampas simples em serigrafia, e produzi algumas camisetas de gola pólo para os colegas do Instituto, que me compravam, aumentando minha renda mensal.

Na frente do meu barraco, com o companheiro Eurípedes e

seu Kadett

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No intuito de agradar à minhas filhas e esposa, e sem recursos para comprar bons presentes para elas, preparei da melhor forma 03 camisas de malha e gola pólo, e enviar por correio. Pena que elas não gostaram da encomenda, esperando que eu enviasse “algo de melhor qualidade”. Porém, aquilo era tudo o que eu podia fazer na época.

Trabalhando no IBGE do CONIC, próx. do Conjunto Nacional. Essa colega era da Assembleia também.

O trabalho de um Agente de Pesquisa não é tão perigoso se não for

na área rural. Fui escalado para fazer o mapeamento das chácaras na Arniqueira, por trás do Areal, onde eu morava. Ao subir, a pés, numa certa colina, avistei uns cinco cachorros. Parei. Como iam passando umas pessoas locais, achei que poderia acompanhá-las a salvo. Quando ia já ultrapassando os cachorros e achei que tinha conseguido, sinto uma brusca mordida na minha bunda: era um traiçoeiro fila que, tendo ficado quietinho para eu passar, pegou-me pelas costas. Uma daquelas senhoras me levou á sua casa, ali mesmo, e me deu álcool. disse-me que o cachorro era da casa da frente e os donos estavam fora. Voltei ao escritório do IBGE – na época, já estava na Rodoviária de Taguatinga – e o chefe voltou comigo à chácara no carro oficial. Os moradores tiveram tanto medo, que nem abriram a porta da casa onde fui socorrido. E o fila estava por ali, zombando de quem passava...

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Fui ao posto de saúde e tomei as vacinas necessárias, e fui dispensado por aquele dia.

Mais adiante, surgiram outros 2 concursos para o saudoso Banco do

Brasil! Fiz, passei de novo e fui convocado para ambos!... Mais diante explicarei por que não assumi novamente.

Passei em outros dois certames – do CNPQ – Conselho Nacional de

Pesquisas Científicas – e do SERPRO – Serviço de Processamento de Dados do Senado Federal, mas, como vacilei – em virtudes de determinadas preocupações da época -, só consultei o resultado pela internet uma semana depois, perdi o prazo da apresentação dos documentos. Ainda impetrei uma ação judicial alegando problemas de saúde que teriam me impedido de levar os documentos, mas só gastei dinheiro com uma advogada que era minha professora na faculdade.

Um fato inusitado me aconteceu quando fui aprovado no concurso da

Polícia Civil de Goiás. Chamaram-me para fazer os testes físicos e exames médicos em Goiânia e foi tudo bem, Porém, reprovaram-me no exame psicotécnico sem nenhuma justificativa. Constituí mais uma advogada e entrei com recurso. Infelizmente, não foi aceito e desisti de ser escrivão policial – quando passaria a andar com um três-oitão [só no estrito cumprimento do dever]. Posteriormente, quando da Cooperativa de Vigilantes, vim a fazer o curso de tiro.

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Barraco onde morei com o Ir. Eurípedes, após eu sair da casa de Silva. à dir. se vê um mural que fiz com fotos da família

Os outros concursos foram os vestibulares para a ETB – Escola

Técnica, onde Silva trabalhava, e para a UCB – Universidade Católica, vizinha dali. Comecei a fazer o curso de Técnico em Eletrônica, para, mais adiante, formar-me em Técnico em Informática, se quisesse. Nesse ínterim, passei no vestibular da Católica e, como não estava mesmo conseguindo me afinar com aqueles cálculos complexos e umas multiplicações bem diferentes do nosso tradicional sistema decimal, abandonei esses estudos e fui continuar meu saudoso curso de Direito que eu havia deixado há alguns anos, na Católica do Recife.

Não há limites para se fazer livros; e o muito estudar é enfado da carne.

Eclesiastes 12:12

Desde 1980, quando fiz e fui aprovado no primeiro concurso em minha vida, passei e fui convocado para 17 (dezessete) certames – concursos para diversos órgãos públicos e vestibulares particulares em cidades distintas. Ei-los:

1. IBGE – Censo 1980 2. CEF – 1982 3. BB – 1983 4. UNICAP – Univ. Católica de Pernambuco - 1989 5. IBGE – 1990 6. FAFIRE – Fac. de Filosofia do Recife - 1990 7. IBGE – 1995 8. IBGE – 2000 9. BB – MG - 2001 10. BB – GO – 2001 11. CNPQ – DF – 2002 12. SERPRO – DF – 2002 13. UCB – DF –Universidade Católica de Brasília - 2002 14. ETB – DF – Escola Técnica de Brasília - 2002 15. Polícia Civil – Escrivão – GO 16. FSA – Teresina 17. IBGE - 2011

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Apesar dessa lista, atualmente, ainda ando fazendo mais concursos, tanto no PI, como no RJ e SP.Em 2008 fui a AL e PE, mas o bati o motor do meu carro e enjoei no ônibus logo ao sair de Caruaru rumo a Maceió para a realização das provas dos dois que ia fazer ali. Todavia, ainda não consegui passar nem mesmo no do IBGE – que vou repetir agora, novamente -, que foi um dos mais fáceis! Acho que devo parar e me preparar para o futuro Exame da Ordem dos advogados do Brasil...! (Finalmente, e graças a Deus, neste mês de Dez/2011, confirmei minha provação no meu primeiro concurso conquista nesta Capital – depois de um vestibular particular. Foi nesse, do IBGE, mencionado no parágrafo anterior, onde aprouve aos Céus conceder-me uma das 32 vagas reservadas para Agente de Pesquisa em Teresina. Aguardo a convocação que deve se dar até início de Jan/12. Louvado seja Deus! Pena que não tenho nenhuma foto da casa de Silva, embora eu tenha conseguido bater, com a câmera de alguém, uma ou duas.)

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A Morte de Pai

Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.

Êxodo 20:12

esses primeiros anos de Brasília, recebi a notícia da morte de pai. Parece-me que eu já possuía um aparelho de BIP, para cuja

central qualquer a pessoa ligava e passava o recado o qual era digitado e a mensagem nos chegava escrita. Netinho (ou foi outra pessoa de Pernambuco) me mandara a mensagem e fui ao orelhão – Silva não possuía telefone fixo em casa. Foi então que ele me deu a notícia e perguntei-lhe detalhes da sua a morte e quando seria o enterro. Infelizmente, nem eu nem Silva tínhamos condições de comprar, de última hora uma ou duas passagens de avião, ida e volta, até o Recife, e, lá, pegar o ônibus até Bezerros, para chegar a tempo do enterro. (Principalmente, porque não havia ainda as promoções de passagens tão baratas como hoje existem.) Voltei para a casa de Silva, onde eu estava hospedado, e contei-lhe a triste notícia, ao que oramos juntos e derramas algumas lágrimas de saudades por aquele que, dentro dos seus limites e cultura, nos trouxe à existência neste Planeta. Ainda hoje não sei ao certo qual a efetiva causa da morte do meu pai, mas, que Deus o tenha em bom lugar, sabendo ele que eu já o tinha perdoado desde quando eu morava no Recife.

O um relacionamento com pai, durante alguns poucos anos, foi rancoroso em virtude do falecimento de mamãe, conforme já narrei. Mas, esse rancor não implicava em brigas, perseguições desmedidas e outras manifestações de ódio.

Como eu vi a forma como ele a tratou até a minha primeira infância, a fase difícil da sua permanência no Rio de Janeiro, a luta dela contra a Diabete, vindo a perder as duas pernas – e ele se mantendo distante, e chegando

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mesmo a dormir fora de casa após certo tempo, já em Bezerros -, culminando com a morte física dela, eu atribuí todo esse sofrimento ao desprezo que ele lhe dedicou ao longo dos anos, conforme já mencionei nestas páginas

Todavia, o perdão nunca deve ser

negado – embora pai nunca fosse de “pedir perdão” – e devemos concedê-lo até mesmo antes de o suposto ofensor se dirigir a nós, conforme a Universal Oração do Pai-Nosso:

e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores.

Mateus 6:12

Sem dúvida que, se ele ainda fosse vivo, eu o compreenderia bem mais do que naqueles anos de BB – mesmo eu tendo lhe ajudado por algum tempo – e lhe acolheria em todos os sentidos, não obstante minha atual situação financeira desfavorável. O que eu pensei sobre meu pai se encaixa bem num poema popular em que vai demonstrando como o filho vê o pai ao longo dos anos, a partir da infância até a velhice. Não que eu diga hoje que ele tinha razão em tudo o que fez em relação à sua família, mas, é lá, pelos 40 anos de idade, que o filho descobre que seu pai “tinha razão”:

Pai no Rio de Janeiro [1975]

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Aprovado em mais 2 concursos para o BB

Tudo o que o homem

semear, isso também

ceifará.

(Gál 6:7)

Bíblia nos ensina essa

inexorável verdade

diretamente. Tivesse eu, desde há muitos anos, semeado o hábito da pontualidade nos compromissos financeiros, inclusive tendo aprendo com os próprio irmãos mórmons que pregam o evitar dívidas, simplesmente eu já teria voltado ao melhor emprego que tive em toda minha vida. E isso já há 10 anos atrás! Como já falei aqui, fiz o concurso para o Banco do Brasil de Minas Gerais. Mesmo tendo feito a prova em Brasília, procurei uma região mais próxima e de provável menor concorrência e a minha opção de trabalho foi MG. Para a minha grande alegria fui aprovado e, após curto tempo, convocado para a cidade de Manga-MG. Verifiquei no mapa, arranjei o dinheiro da passagem e estada por lá até terminar os exames médicos e viajei já fazendo alvissareiros planos de mudar de endereço!... Fiquei lá uns dois dias. Na hora de preencher os documentos da posse, o simpático jovem detecta, pelo meu CPF, que eu tinha débitos com o banco! Aquilo foi uma água fria na fervura. Toda aquela minha alegria foi se desvanecendo imediatamente e a solução seria: eu tentar negociar ao máximo com a última agência do BB onde trabalhei para diminuir aquele exorbitante montante – mais de 50.000 reais! – e parcelar o restante em contra-cheque, dentro da margem consignável permitida pelo Banco Depois de muitos contatos com o Recife (no caso, Jaboatão), a dívida caiu para cerca de R$ 35.000. Mas, ainda não cabia dentro da margem consignável permitida. Continuei insistindo e nada. Observe-se que essa dívida era de uns três mil reais de Ourocard e outro tanto do Cheque-Ouro, mas, com os juros exorbitantes, desde 1996, subiram estratosfericamente.

A

Vários prédios de bancos, no Setor Bancário Sul-DF. O preto, no centro,m é o Sede-III do Banco do Brasil

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Memórias de Meio Século 298 [email protected]

Num ato de desespero, apelei para vários conhecidos, mas nada. Finalmente, fiz uns panfletos no computador e fui para a porta da agência Central do BB, no Setor Bancário do Plano Piloto de Brasília. No panfleto eu pedia para, quem quisesse ajudar, fazer um depósito do quando desejasse em minha conta. Alguns chegavam a me dar ali mesmo. Para minha surpresa, encontrei alguns ex-colegas que trabalharam comigo nas agências do Recife, e uma delas, muito sensibilizada, pegou vários panfletos e disse que ia fazer campanha junto aos seus colegas. Depois de alguns dias, minha conta bancária só acusava umas poucas centenas de reais. Vencido pela minha prodigalidade financeira, desisti dessa áurea oportunidade de recuperar meu tão querido e abençoado ambiente de trabalho que eu perdera com as minhas próprias mãos. Todavia, a bênção – ou a repreensão – me perseguia. Certa vez, morando sozinho ali mesmo, no Areal, tive uma crise de rins á tarde e dirigi-me á pequena farmácia que ficava em frente à assembleia onde morei e me congreguei. A dor aumentou e não deu tempo de tomar o analgésico. Caí agonizando e pedi para o balconista ligar chamando Sara – que eu estava namorando -. Enquanto ainda estou no chão, dentro da farmácia, esperando o efeito do remédio, aproxima-se uma irmã da igreja com uma carta para mim. Era outra convocação do BB! Desta vez, para ali bem pertinho: Valparaíso de Goiás! Desta vez, achei que iria voltar ao meu querido BB! Tirei uma nova carteira de trabalho – para não mostrar o antigo carimbo de admissão, como o

Carta da Ag. Manga-MG condicionando minha posse à

regularização do débito

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Memórias de Meio Século 299 [email protected]

próprio banco não mantivesse os registros por décadas... – e fui até aquela cidade da região do Entorno de Brasília. Receberam-me muito bem na pequena agência, encaminharam-me aos exames médicos admissionais e fui contente aos consultórios. Nessa ocasião, semelhante à minha posse na Caixa, descobri que tinha outro sintoma de saúde que merecia cuidados: minha pressão arterial estava subindo sensivelmente. O médico me deu o aparelho para fazer o MAPA – o mapeamento das oscilações da pressão durante 24 ou 48 horas – e me receitou 5mg de maleato de enalapril duas vezes ao dia. Mas, fui aprovado em todos esses exames e voltei à agência já para trabalhar. Todavia, tal qual na outra cidade, minhas dívidas abertas com o conglomerado me impediam de tomar posse! Desta vez, escrevi à Direção Geral do Banco e não obtive resposta positiva. Escrevi até ao próprio conterrâneo Presidente Lula, cuja equipe apenas encaminhou minha carta á DG do BB. Daí, entrei com uma ação judicial, não negando o débito, mas pedindo para tomar posse e, lá dentro, o banco fazer o desconto em contra-cheque durante vários anos.

Perdi na 1ª instância. Recorri; fui á audiência no TJDF e ouvi os desembargadores darem seu parecer favorável ao Banco porquanto o edital era soberano em suas exigências. Meu advogado – um ex-colega também pedevista que atuou filantropicamente, para eu pagar-lhe se e quando tomasse posse – ainda me perguntou se eu queria continuar recorrendo à instância superior. Como eu estava na cooperativa de vigilantes, pedi para desistir

Carta da Ag. Valparaiso-GO me convocando novamente

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da demanda. Assim, por duas vezes, eu perdi a oportunidade de retornar à casa onde eu tive minha melhor fase financeira de forma contínua em toda minha vida terrena. Entrementes, conquanto seja doloroso e sintamos essa verdade na própria pele – especialmente, quando o bolso aperta -, a Palavra de Deus nos consola afirmando sabiamente:

Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.

(LC 12:15) Não andeis ansiosos quanto ao que haveis de comer e beber.

(Mt 6:25) Todavia, a minha maior decepção não foi a de não ter podido retornar àquela Casa Monetária que eu tanto amava e de que tanto necessitava.

Nessa ocasião, aconteceu-me uma decepção bem maior e que ainda venho tendo: com as igrejas. Se eu conseguisse, na época, pelo menos, 5.000 reais para amortecer aquela dívida, eu poderia salvar a situação. Recorri então à “rica” sede da Assembleia de Deus-Madureira, em Taguatinga Norte, cujo majestoso templo possui um grande relógio na torre, e

cujo vice-presidente era também o então Vice-Governador do Distrito Federal. Falei antes com meu pastor local, o qual em encaminhou ao Pastor-Presidente. Num certo culto matutino, fui até ali e, no final, aquele pastor falou muito rapidamente do meu caso, como se fosse algo trivial, e solicitou à queima-roupa uma coleta aos irmãos que lotavam aquela nave. Depois, ele me

Eu, agachado, recebendo Silva e família e o irmão Eurípedes, no quartinho da Igreja

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manda chamar na secretaria e me passam a simbólica quantia de R$ 50 (cinqüenta reais)... Obviamente, não é que “eu simplesmente queria porque queria” ser ajudado, não! Era uma questão quase “de vida ou morte”! Diante de tão grave situação em que eu me encontrava, tendo à minha frente aquela tão concreta e esperada possibilidade de MUDAR A MINHA VIDA FINANCEIRA E FAMILIAR PARA SEMPRE, eis algumas falhas óbvias e sintomáticas nessa ajuda, as quais demonstram inequivocamente o egoísmo do espírito religioso hoje tristemente predominante no meio evangélico (obviamente, com louváveis exceções): 1)Para enfatizar e respaldar mais a importância e a gravidade do pedido,o meu pastor imediato deveria ir comigo àquele culto e me apresentar pessoalmente ao pastor-presidente; 2) o pastor-presidente deveria ter-me dado uns 10min para eu poder explanar aos irmãos presentes a delicadeza da situação; 3) Não atingindo um montante razoável – o que era esperado -, o Pr-Presid. deveria analisar melhor a situação á parte e ver o fundo disponível da igreja; 4) e até ter-me proposto um empréstimo! Afinal, o seriam alguns milhares de reais para um campo que possuía as maiores igrejas, políticos, juristas, advogados e grandes empresários no seu rol de membros, e, provavelmente, uma arrecadava de dízimos e ofertas em torno de um milhão de reais?!... A propósito, esse mesmo pastor vice-presidente, que foi vice-governador e depois deputado pelo DF, recebia propina no caso do Mensalão do Governo Arruda, conforme a filmagem exaustivamente televisada para todo o Brasil. Ele faleceu recentemente.Eu relato esse episódio num outro livro que escrevi, alguns dos cujos capítulos ponho nos Anexos deste (vide nota de rodapé na pág. 389a seguir). São estes fatos que causam indignação – uma santa indignação – ao vermos o povo que se diz “de Deus”, que fala muito e, na prática, negam a eficácia da verdadeira piedade e religião, conforme está escrito.

Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.

(Tiago 2:14-17)

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Memórias de Meio Século 302 [email protected]

A Cooperativa de Vigilantes

As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

ICoríntios 2:9

o barraco que aluguei depois de consegui meu primeiro salário no DF, em pouco tempo, surgiu um irmão da igreja que quis dividir o aluguel comigo. Ele

trabalhava de vigilante na Universidade Católica e, após algum tempo, a UCB resolveu demitir todos eles e criar uma cooperativa praticamente para seu uso próprio. E ele me perguntou se eu queria fazer parte desse projeto. A princípio relutei um pouco pois nunca tinha trabalhado nessa área nem portado arma – pelo menos, tinha chegado a possuir uma ao sair do BB, mas nunca a usei – nem tinha treinamento. Na verdade, eu achei aquela função um tanto inferior para mim, mas, naquela situação em que eu me encontrava não podia me dar ao luxo de recusar qualquer oferta de trabalho honesto e legal, pois o salário do IBGE era pequeno e iria acabar no final do contrato. Assim, aceitei e compareci ás reuniões de organização. Era a FECOOP-DF,a través do SESCOOP, que estava coordenando todo o processo de capacitação e formação daquela cooperativa de trabalho. Ao concluirmos o Curso de Cooperativismo, fomos formar a chama para a administração e a instrutora me indicou ao cargo de um dos diretores e todos aceitaram. O grupo era forma por funcionários e não-funcionários da Universidade. Reunimo-nos para a formação da chapa e só o presidente era funcionário. Este foi um dos momentos em que eu senti recuperar todas as coisas que eu tinha antigamente, no Banco do Brasil: O salário era equivalente ao de lá, eu tinha liberdade de horário, mantinha meu escritório contábil em casa,

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pude retomar os estudos de Direito, fiz várias viagens de avião, consegui levar a família para o DF. Achei que, finalmente, tudo iria retomar o equilíbrio de outrora. Mas, o inimigo das nossas almas não fica quieto, mesmo sabendo ele que o Leão da Tribo de Judá não dorme nem toscaneja (Sl 121:3-4). Como possuía algum conhecimento jurídico, fiz parte da comissão para elaboração do estatuto e demais documentos de fundação da cooperativa. O nome escolhido foi Cooperage – Cooperativa de Trabalho de Agentes Patrimoniais. A Universidade contrataria 80 vigilantes e a Diretoria teria de fazer o pagamentos dos salários, reservas de fundos que sugeri, compra e confecção de uniformes e toda a obrigação de recursos humanos e de logística que uma empresa normal possui. Fomos tendo certo sucesso e expandimos nossas atividades para outras empresas e condomínios. Já tínhamos cerca de 5 contratos fora da UCB e, ao todo, trabalhavam cerca de 100 pais e mães de família – e solteiros também. Minha meta, como Diretor Comercial, era expandir a cooperativa por todo o DF e até fora, procurando inclusive a legalização junto à Polícia Federal. Todavia, a universidade pretendia uma cooperativa apenas para ela.

Colegas da Diretoria e o Pres. Jorge, ainda na sede que funcionava numa sala da UCB;

Participei, junto com a colega Diretora Administrativa, do Congresso Internacional Rio Cooperativo 2000, no Centro de Convenções RioCenter, vendo a força do cooperativismo mundial. No jantar de despedida, sentamos ao lado do presidente de uma universidade-cooperativa da Bélgica, e pude assim praticar um pouco meu inglês enferrujado.

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O jornalzinho que idealizei, produzi e publiquei e tendo Aula de Tiro no Curso

Conquanto eu fosse apenas Diretor Comercial, ajudei em tudo o que era necessário: estatuto, contra-cheques, cálculos de fundos e salários, uniformes, carteiras, computadores, parte elétrica, compra de móveis e utensílios, reuniões, assembleias, etc. Dediquei-me de corpo e alma a esse empreendimento, procurando torná-la conhecida em todo o universo coope- rativo e no mercado de vigilantes patrimoniais – que não portam armas, mas tínhamos o curso de tiro e eu planejava futuramente obter portes de arma além de um carro-forte. Talvez esse tenha sido o meu mal, por não ter usado de prudência comercial e política...

Mergulhei de tal forma nessa minha nova aocupação que, sem perceber, passei a despertar um tipo de suspeita da própria Universidade que passou a me isolar dentro da própria diretoria e a mostrar aos demais cooperados que eu era persona non grata e espelharam a notícia de que, após findo o contrato, a instituição não renovaria o contrato caso eu continuasse na diretoria. Havia um padre, que era justamente o pró-reitor ao qual se subordinava a incubadora que estava nos criando e acompanhando nos primeiros meses, que possuía um ódio quase mortal contra mim, especialmente, sabendo que eu era evangélico e que, vez por outra, realizava cultos nos mesmos auditórios das assembleias. Até a própria Federação das

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Cooperativas, cujo presidente fora candidato a deputado distrital, estava contra mim, enquanto que, no começo, até me indicaram à diretoria daquela cooperativa No intuito de me denegrirem diante de todos os colegas, fizeram uma devassa na minha vida creditícia – e, provavelmente, nas áreas policial e jurídica também - e descobriram meu débito com o Banco do Brasil. Numa importante assembleia, que geralmente eu organizava e conduzia, imprimam esses dados com alegações difamatórias de que eu não podia assumir um cargo público – por causa daquela restrição, o que, obviamente, não era verdade – e no estilo X-9, começaram a distribuir no banheiro do auditório a todo o pessoal que ia chegando – e o auditório estava praticamente lotado. Na hora em que abri a assembleia já fui fazendo menção do papel apócrifo e anônimo e o próprio provável responsável pela distribuição se levantou na platéia e lhe perguntei diretamente se fora ele quem fizera aquilo. Evidentemente, ele negou e formou-se um certo tumulto, o Presidente da Cooperativa, ex-funcionário da Universidade, tentou acalmar os ânimos. Embora ele procurasse me defender, o clamor geral tinha o patrocínio da empresa patroa, que possuía mais de 10.000 alunos e que falava bem mais forte, e, mesmo com uma carta de cerca de 30 páginas distribuídas a todos os cooperados, explicando todos aqueles pontos da difamação, não consegui reconquistar nada daquela simpatia que despertei neles no começo do projeto

empreendedorista, e, naturalmente,

ninguém foi punido por essa anticoope-rativista e gritante transgressão ao próprio Código de Ética da Cooperage – talvez, eu é que fosse penalizado.

Nas eleições seguintes, lancei minha chapa com um colega que eu trouxe da igreja Presbiteriana - onde eu estava

Com o Presidente e um cooperado do Cons. Fiscal

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freqüentando -, e uma amiga de um juiz criminal, meu ex-professor, ali mesmo na UCB, e outros colegas, mas, perdi fragorosamente. Era uma desigual luta de um pequeno Davi – sem a funda com as pedras – e um impiedoso - porém, religioso – gigante Golias.

No dia da eleição, após a contagem dos votos, saí silenciosamente do auditório com Sara, passamos em casa, vesti uma bermuda, peguei o violão e fomos para o Parque da Cidade refletir sobre o que uma instituição poderosa – mesmo se autodenominando religiosa – pode fazer para denegrir e derrubar impiedosamente um ser humano, apesar de ser ela dirigida por pessoas consideradas até mesmo pias (=piedosas, misericordiosas).

Colegas da minha chapa á Presidência da Cooperativa da Univ. Católica de Brasília

Mas, tudo isso já foi profetizado há cerca de 2.000 anos atrás, quando o Apóstolo Paulo nos advertiu:

Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos;

pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, (...)

mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder.

Afasta-te também desses. (IITim 3:1-2,5)

Decepcionado, nem quis continuar como vigilante – pois o salário seria quase o mesmo, e ainda com a vantagem de trabalhar apenas dia-sim-

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Memórias de Meio Século 307 [email protected]

dia-não. Preferi dedicar-me ao meu escritório de contabilidade. Naquela grande e verdejante campus que eu tanto admirava – e às vezes, até praticava Cooper na sua pista de atletismo – eu continuei indo apenas para dar continuidade ao curso de Direito, até interrompê-lo e vir para Teresina. A Cooperage me foi uma bênção divina e grande experiência com grandes esperanças de vitória financeira. Mas, devido a intervenção humana, tornou-se-me uma dolorosa decepção.

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Memórias de Meio Século 308 [email protected]

Continuo o Curso de Direito

Pereceu da terra o homem piedoso; e entre os homens não há um que seja reto; todos armam ciladas para sangue; caça cada um a seu irmão com uma rede. As suas mãos estão

sobre o mal para o

fazerem

diligentemente; o

príncipe e o juiz

exigem a peita, e o

grande manifesta o desejo mau da sua alma; e

assim todos eles tecem o mal.

Miquéias 7:2-3

anos é o tempo que faz que comecei meu curso de Direito, na saudosa Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP, no Recife. Quando estava no DF, fazia 10 anos. Eu nem tinha

perspectiva de ali, morando de favores e com renda mínima, poder voltar a estudar numa faculdade particular e, finalmente, ter a chance de terminar meu curso tão útil. Ainda não terminei esse curso. Netinho já terminou o dele – é o primeiro advogado da família. Talvez, a filha dele, Jercyka, também já tenha se tornado advogada. Robertinho também concluiu o de Contador. Até Aldinho já é advogado também – o 2º entre meus parentes. Minha filha mais nova, Graça, já se formou em Sistema de Computação. Quem sabe, Hogla Sarah também tenha concluído seu curso de Química Industrial e o esteja utilizando na Petrobrás. E eu ainda por aqui, dando milho aos pombos...

20

Fazendo um curso no STF – Supremo tribunal Federal-DF

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Memórias de Meio Século 309 [email protected]

Todavia, a ausência de um diploma não deve nos preocupar tanto, pois a Bíblia também nos consola neste sentido, mostrando a perene sabedoria:

De fazer muitos livros não há fim; e o muito estudar é enfado da carne.

(Ecl 12:12), (...) Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens

(ICor 1:24-25) Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia;

(ICor 3:19)

Ademais, veja o caso do nosso conterrâneo Lula que chegou ao cargo mais alto do país possuindo apenas um diploma de Torneiro Mecânico, do Senai.

Dentro daquele contexto da minha vida, eu me sentia cada vez mais

recuperando o meu passado perdido: eu tinha um salário fixo, numa instituição de credibilidade, também possuía meu escritório próprio, morava sozinho e num ambiente relativamente agradável, freqüentava uma igreja, e, agora, podia Dara continuidade aos meus estudos jurídicos numa das melhores faculdades do Distrito Federal, que possuía professores que vinham até de São Paulo apenas para dar aulas.

Um desses professores, de fora, era um Desembargador, de meia idade, muito simpático. Numa de suas aulas, no sábado, ele nos perguntou se o devedor poderia protestar um título. Como ninguém respondia, e eu confundindo protestar com questionar, respondi que sim. Surpreso, ele me inquiriu novamente, aproximando-se de mim. Meneei a cabeça e lhe justifiquei: A priori, não. Mas,... De pronto ele me interrompeu: Pronto! Fique só no a priori. e a turma toda caiu numa gargalhada, e essa minha expressão “a priori” ficou marcada.

Brasília vista da Torre de TV

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Memórias de Meio Século 310 [email protected]

Eu me sentia envaidecido estudando naqueles prédios recém construídos com a melhor engenharia existente ali. Eram amplos blocos de uns 5 andares, com belos jardins pelo meio e salas confortáveis. e eu fazia parte do grupo que cuidava da segurança de todo aquele império. Foi nesses luxuosos auditórios que eu organizava as turbulentas assembleia para uma turma que, com o crescendo das fofocas e, quiçá, das invejas, me enchotou daquele empreendimento que era exclusividade daquela universidade – e eu queria, ingenuamente, uma cooperativa aberta a todo o DF e até o resto do país. Mas, quem era eu para lutar contra o poderio de uma instituição particular das mais caras, de mais de 10.000 alunos?...

Porém, isolei-me nas minhas idéias e sentimentos, embora estivesse constantemente em reuniões com os diretores e até cooperados.

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Memórias de Meio Século 311 [email protected]

Saio novamente da Assembleia de Deus

Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor; e tornaram-se pasto a todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As minhas ovelhas andaram desgarradas por todos os montes, e por todo alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as procurasse, ou as buscasse.

Ezequiel 34:2-6

Espírito Santo de Deus atua sobre a vida de quem busca a Deus da forma como Ele quer. Não podemos ter o coração endurecido, portanto:

O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

João 3:8

O

Em frente à Assembleia de Deus – Madureira – Areal – Taguatinga Sul-DF

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Quando saí do Recife, o presbítero que me deu a carta de transferência – mais exatamente da congregação de Jd. Piedade-Jaboatão – orientou-me a procurar uma Assembleia de Deus “da Missão”. Nunca dei atenção a esse detalhe de ministérios – achei que, sendo Assembleia, era o bastante.

Interior da A. Deus-Madureira (estou à dir. com Fátima e Silva, à esq., com Maurizana e seus filhos,

no culto da Cooperativa - E o dirigente, Pr. Alexandre

Assim que cheguei em Brasília, procurei alguma igreja dessa para me

congregar ali, onde Silva morava – no Areal. Para minha surpresa, só naquela pequena vila, havia 03 ou 04 Assembleias de Deus: 02 pequenas, 01 média e outra grande, com um majestoso templo na Avenida Águas Claras. Como sempre achei que, numa igreja maior, haveria menos problemas de relacionamento, - porquanto as pessoas se aproximam menos e, assim, há menos fofocas -, optei pela igreja grande.

Certa manhã, bem cedo, fui àquela Assembleia de Deus que era do

Ministério Madureira – o que mais cresce no Centro-Oeste. O pastor morava noutra quadra e só estava ali o morador-zelador. O templo era solto nos lados, tendo um amplo estacionamento, cercado por uma alta cerca de tubos metálicos. Parecia o “lugar ideal” onde eu poderia me congregar. Entrei ali com Silva.

Apresentei-me ao sorridente irmão zelador e fui entrando e admirando o vasto salão que não era comum nas igrejas de Pernambuco. Em frente ao púlpito de madeira, ajoelhei-me no primeiro banco e orei e chorei. Chorei copiosamente como se Deus estivesse ali querendo me dizer algo e eu

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apenas me sentia com uma missão evangélica, porém sem saber exatamente qual, de uma vez que eu não possuía nenhum título ou cargo na igreja de origem.

Logo o Pr. Alexandre, o vice, os presbíteros e todos os irmãos simpatizaram comigo e fui me congregando ali de forma bastante confortável. Frequentava a casa de um dos presbíteros – o Ir. Francisco -, cuja esposa fazia um ótimo pão de queijo e, frequentemente eu ia lá de tarde, já que ficava muito próximo da casa de Silva. Este casal me deu muita força, dentro dos seus limites, pois o próprio irmão fora recentemente demitido de um ótimo emprego público – cuja empresa fora extinta. Mais adiante, confiaram-me a classe de adultos da Escola Bíblica Dominical e passei a dar aulas mediante a revista da EBD. Ainda guardo comigo a caixa de giz com a etiqueta com o meu nome e a classe, como faziam para todos os professores daquela igreja.

Eu também cantava no coral e até tentei implementar um Curço de

Purtuguêis – assim mesmo, com erros de grafia no título, para chamar atenção – e fui ganhando certo espaço naquela congregação de cerca de 100 membros ativos.

Porém, como sempre me preocupei demais com questões de doutrinas e preceitos de homens dentro da Igreja, especialmente, quanto à forma de um pastor tratar seus membros, ia ouvindo e vendo as queixas dos irmãos – e até alguns presbíteros mais íntimos me confidenciavam seus incômodos com o jeito não muito delicado com o qual aquele pastor tratava o seu rebanho.

Isso foi me irritando, por ver tantos gemidos ante uma opressão, e

cheguei a redigir algumas páginas no computador com sugestões que achei imperativas para a igreja e entreguei ao pastor local. Ele me convidou para uma reunião a sós e conversamos por umas duas horas. Depois, outra reunião, com parte do ministério, e mais algumas horas de debate. Ele chegou a me perguntar se eu queria tomar o lugar dele, ao que fiquei simplesmente estupefato pois aquilo jamais me passara pela mente e eu só fazia aquilo em benefício de toda a igreja – o que foi o meu erro fatal, pois, na verdade, ninguém demonstrou apoio direto à minha pessoa e, quem me apoiava, ficava caladinho. Distribuí uma carta de sete páginas de casa em casa, com todo o resumo daquele dilema e confirmei minha saída dali. Alguns irmãos nem me recebiam em suas casas pra, ao menos, pegar a carta e ler o conteúdo. Só uma simpática irmã pegou e a guardou – mas, cautelosamente, não comentou

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Memórias de Meio Século 314 [email protected]

com ninguém. Isso só demonstra que, na grande maioria, todos os evangélicos ou religiosos fiéis” se acomodam totalmetne ao que os pastores ordenam e têm medo – ou comodismo – em simplesmente debater as várias “proibições” impostas. Nunca sairia um Martinho Lutero desse meio, diferentemente do que diz a Bíblia:

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.

Oséias 6:4

Ainda cheguei a morar num quartinho ao lado do templo, dentro da área da igreja. Pelo que só tenho a agradecer a atenção daquele Pr. Alexandre, o qual era motorista da Presidência da República.

Fiquei sem igreja e passei a freqüentar uma Presbiteriana na Vila

Dimas, próximo dali, onde freqüentava um irmão que ocasionalmente conheci ainda no Areal.

Enquanto era membro dessa, fui a uma festa na Assembleia da Vila Dimas, ali perto, e filmei o culto onde cantava o o primeiro cantor gospel brasileiro a ganhar um Disco de Ouro – Oséias de Paula. enquanto filmava soluçava relembrando os saudosos idos de Imperatriz...

Antes de deixar a igreja, e

enquanto trabalhava no IBGE, um irmão ofereceu-me um barraco de madeira onde funcionara uma borracharia, na chácara do seu pai, através e um simbólico aluguel. Confesso que fiquei pasmo quando vi o local, que ficava exatamente no final do muro da ETB, onde Silva trabalhava.

Mas, como eu não tinha opção mais barata, fiquei ali por cerca de 01 ano e, bebendo água diretamente do poço, sem filtrar, contraí uma terrível infecção intestinal que me levou ao hospital com dores lancinantes. Esse episódio me

Com o Cantor gospel Oséias de Paula – de Cem

Ovelhas

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pareceu uma reprimenda de Deus pelo que fiz ao sair da Igreja e, dias depois, vi-me compelido espiritualmente a voltar para aquela mesma Assembleia Madureira e pedir perdão ao pastor e aos irmãos. Todos me receberam bem.

A ex-borrachariada chácara do pai do Ir. Calimério [com seu cachorrinho no branco],onde morei,

quando trabalhava no IBGE – DF e iniciei na Cooperage

Nesse ínterim, voltei a Pernambuco e levei a família para o DF, e elas

ficaram se congregando ali comigo. Infelizmente, aquele retorno ainda não me foi o bastante, pois a doutrina assembleiana ia me angustiando pelas vísceras. Fui me afastando gradualmente – desta vez, sem nenhum ato de protesto ou rebeldia – e aproximando-me da Igreja Batista Central, que ficava no Pistão Sul e era conhecida pelos milagres operados através do seu pastor bastante famoso em todo o DF e entorno. A propósito, será que essa minha saída e posterior retorno foram responsáveis por eu não ter tido êxito naquela investida de pedido de apoio ao Templo Central, quando tentei negociar minha dívida no Banco do Brasil para poder retornar àquele ambiente de trabalho?...

Alguns anos depois, quando saí da Madureira, o pastor daquela outra Assembleia, a da Missão, tornou-se meu cliente em contabilidade e fechei um negócio com ele que me trouxe para este outro Estado e mudou o rumo da minha vida, como falarei mais adiante.

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Chamo a família para o DF

Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.

Gênesis 2:18

om a Cooperativa, eu pensava que minha sorte estava sendo restaurada: tinha um salário equivalente ao antigo, no Banco do Brasil, voltei a usar terno e gravata, possuía um cargo de diretor, voltei a viajar de avião e estava tendo a oportunidade de retomar meus estudos de Direitos, parados há 10 anos! Assim, achei que podia

trazer minha família toda para poder continuar a vida conjugal que eu deixara em Pernambuco há 03 anos. Aproveitei minha viagem de avião para o Rio de Janeiro – para participar daquele encontro internacional de cooperativismo – e, ao retornar,

peguei uma folga de uma semana na cooperativa e, alguns dias depois, peguei outro avião para o Recife! Era o meu retorno triunfal! Chegando na minha terra, fui recebido no aeroporto pela família que fora no carro de um irmão da igreja, e dirigimo-nos ao bairro de Piedade, passando pela minha mente

centenas de imagens do passado, tanto recente, como da minha adolescência.

C

A família chegando no Aeroporto de Brasília, vindo do Recife

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Memórias de Meio Século 317 [email protected]

Nosso apartamento continuava o mesmo, com algumas mudanças nos móveis e ambiente. Revi alguns vizinhos e fiz alguns contatos com a Federação de Cooperativas de Pernambuco, sendo convidado para a confraternização de Natal deles. Inclusive um dos diretores morava num dos conjuntos de apartamentos por trás do meu. Eu ainda acreditava em poder voltar a viver normalmente com a família que eu formara e na qual tinha tido duas lindas filhas, além da esposa que eu conhecera na Casa de Deus – a Assembleia de Deus. Eu ainda nutria essa esperança, mas estava enganado. Na verdade, eu estava ironicamente levando minha família para Brasília para lá haver a separação conjugal definitiva! Parece realmente um contrasenso, mas, infelizmente, foi isso que efetivamente aconteceu pouco tempo depois. Eu devia ter sido mais sábio e perceber que, no Recife, fui recebido pela minha esposa e minhas filhas com uma frieza e uma alegria maquinalmente calculada. Mas, eu era ingênuo quanto a essas nuanças do temperamento humano.

Graça, Sarah e Fátima, numa das últimas fotos

Depois de passar ali uns 15 dias, deixei acertado com Fátima que ela passaria a chave do apartamento para alguém e se mudaria com Sarah e Graça para o apartamento-casa onde eu morava, no DF.

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Peguei o avião no Aeroporto dos Guararapes e retornei às minhas atividades esperançoso de, em breve, finalmente, ter minha família ao meu lado, me apoiando para realizarmos vários projetos e sonhos juntos... Meses depois, minha ex-esposa conseguiu repassar o apartamento financiado pela Caixa e viajou com as meninas para conhecerem uma nova capital – e enfrentar os desafios de uma nova vida.

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Memórias de Meio Século 319 [email protected]

A Separação Conjugal

Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo? (Amós 3:3)

omparo a separação de um casal a amputação de uma mão comprometida pela gangrena que se tem de fazer, e, muitas vezes, sem anestesia: ou você amputa-a ou o resto do corpo vai morrendo

implacavelmente. Eis porque Cristo disse em Mc 10:7-8: 7: Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne. O Senhor Jesus diz nas Escrituras que o homem não deve deixar a mulher a não ser em virtude de fornicação, ou seja, por causa de sexo ilícito, ou ainda, em razão de adultério ou infidelidade – Mt 5:31-32:

Também foi dito: Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a

faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério.

Naturalmente, os copistas da Bíblia usaram suas palavras - de acordo com a cultura local - para registrarem as palavra de Cristo – isto porque Ele mesmo nada escreveu de próprio punho. Nesse trecho, vemos curiosamente

C

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Memórias de Meio Século 320 [email protected]

que a mulher não podia repudiar o marido – apenas o marido podia se separar dela. E, acontecesse o que acontecesse, o marido não podia deixá-la, exceto por infidelidade. O motivo da separação nunca poderia ser: um trabalha num estado e o outro bem distante, os graus de instrução são diametralmente opostos, os gênios de ambos são totalmente incompatíveis por terem idéias absurdamente inconciliáveis. Até porque, nos anos em que Jesus viveu naquele país, a mulher era considerada inferior e totalmente submissa ao homem – de fato, uma escrava, que até o chamava de “senhor” – como, por sinal, ainda hoje é em muitos países mulçumanos, vizinhos dali.

Com Sarah, na sua Formatura de 2º Grau no Colégio Elefante Branco-DF; e

Graça e ela em umas das últimas fotos que recebi aqui, em Teresina Eu já havia me afastado novamente da Assembleia de Deus quando decidi colocar uns poucos móveis e minhas roupas num pequeno caminhão que fretei ali, no Areal, e me mudar para a kitinete que aluguei naquela mesma avenida, a apenas uns 200m dali1.

1Quando eu estava terminando de carregar o pequeno caminhão de frete, minha ex-esposa chegou e,

surpresa, resolveu ficar conversando no armarinho e papelaria que ficava no térreo e era da dona do prédio, enquanto eu partia. De dentro da boléia, ainda pude ver de relance a expressão dela, conversando

com a outra moça. Hoje me pergunto se aquela expressão era de surpresa e tristeza ou de alegria e sensação de liberdade... De uma forma ou de outra, hoje, eu não teria jamais feito aquilo – nem pela razão bíblica da infidelidade -, pois sei que essa amputação é, não somente dolorosa para o cônjuge que a faz, mas,

principalmente, para os filhos, que, dificilmente compreendem os motivos.

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Memórias de Meio Século 321 [email protected]

O consolo é que, na comparação que fiz no início, uma outra mão vai surgindo à medida que você conhece outra pessoa e enfrenta os novos desafios da vida. Nunca é igual à mão anterior, mas é sempre uma mão.

Simultaneamente, e já planejando minha separação, aluguei uma sala em um prédio de 1º andar, novo, que dividi fazendo um quarto-e-sala. Na verdade, se uma simples viagem de um membro de uma família deixa a todos inquietos e com saudades, imagine então uma separação conjugal! Diante disso, relutei muito em me separar. Talvez se tivesse havido a intervenção profissional ou de alguém de bagagem em conflitos conjugais, numa igreja, não tivesse havido o rompimento do meu casamento que, por sinal, ainda não foi rompido totalmente – procedi apenas à separação judicial. Desde quando saí de Jaboatão, minhas filhas e a esposa se consideraram separadas de mim. Isso eu já vinha percebendo quando eu enviava longas cartas e fitas K-7 com gravações chorosas e eu só recebia respostas frias e calculadas e com uma longa demora. Fátima chegou mesmo a pedir que eu desse entrada ao divórcio. Mas, eu, na minha ingenuidade, insistia em tentar recuperar meu casamento falido. Todavia, não considerei tais sinais amarelos entre um casal e, quando estava com certa estabilidade financeira, voltei a Pernambuco e acertei com a família sua ida para Brasília. Mas, foi uma ida só para a separação, pois não havia mais amor ou mesmo uma tentativa robusta de recuperação do casamento, por parte de uma mulher com o coração ferido... Contudo, a iniciativa para a separação não devia ter partido de mim. Quem sabe, com paciência e tempo, tudo pudesse ter sido remendado. Durante alguns anos ainda alimentei a esperança de uma possível reconciliação, tanto que, ainda hoje, não entrei com o pedido de divórcio junto à separação judicial. Entretanto, ela já vive com outra pessoa que, parece-me, foi seu primeiro namorado na adolescência. Assim, em 25.03.2002, o cartório de Taguatinga-DF expediu o mandado da averbação da minha separação consensual que deverei, em breve, converter em divórcio.

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Memórias de Meio Século 322 [email protected]

Meu Escritório de Contabilidade

Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.

Hebreus 13:5

nquanto estava na Cooperage, resolvi abrir um escritório de contabilidade na sala-kitnet que aluguei quando estava me separando. Eu pagava o aluguel da casa no primeiro andar do prédio da irmã viúva,

cunhada do Ir. Calimério, da chácara- pra a minha família - e também pagava o desta sala recém-construída, no primeiro andar de outro prédio da Av. Águas Claras, de frente para os fundos do campus da Universidade Católica – Taguatinga Sul. Na verdade, a luta inglória pela sobrevivência material neste mundo nos distancia do Mundo Superior, de uma vez que damos atenção demais e/ou somos absorvidos pelas preocupações e excesso de prazeres e conforto cotidianos, deixando de lado o louvor e gratidão a Deus pelas coisas belas da vida que Ele nos dá. Em alguns, é a cobiça e a ambição desmedida que os movimenta. Em outros, é a necessidade pela simples manutenção diária. Este era o meu caso.

Minha residência-escritório no Areal-Águas Claras-DF

E

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Memórias de Meio Século 323 [email protected]

Os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e

a cobiça doutras coisas, entrando, sufocam a palavra,

e ela fica infrutífera. (MC 4:19)

Olhai por vós mesmos; não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de

embriaguez, e dos cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha de improviso como um laço.

(LC 21:34)

Pela primeira vez, fiz uso profissional – como autônomo - do meu

Diploma de 2º Grau, de Técnico em Contabilidade, concluído em 1979 no saudoso Colégio S. José, em Bezerros. Submeti-me ao exame de suficiência do CRC-DF e adquiri minha carteira de profissional liberal e passei a atender pequenos clientes, com suas empresas ou uma simples declaração de rendimento – a Decore. E assim, consegui uma certa renda que, adicionada à dos honorários como diretor da cooperativa, me dava uma folga semelhante à dos tempos antigos, no Banco do Brasil, e, mesmo quando saí da Cooperage, me permitia pagar o aluguel, a faculdade e despesas pessoais, além de ajudar à família da qual me separara.

Dentre esses clientes, havia um pastor assembleiano que possuía várias faculdades em instalação em diversas partes do Brasil. Uma delas ficava exatamente em uma das várias Assembleia de Deus que vi quando ali cheguei, sendo esta, do Ministério da Missão. Eu cuidada da sua instituição dali, cuja escrituração contábil não era completa e as demais faculdades tinham seus próprios contabilistas.

Desconfiando que poderia estar havendo desvios financeiros na unidade de Teresina-PI, o pastor me convidou para vir até aqui fazer uma auditoria, embora eu não fosse contador formado, como exige a lei, para tal trabalho. Mas, para ele, era o bastante e aceitei a missão. Deixei Sara com Rebecca no meu escritório e fui passar duas semanas no Nordeste.

Com um membro do conselho fiscal daquela instituição, cheguei aqui quase de surpresa. Mesmo assim, fomos bem recebidos pela irmã fundadora e administradora da FAETEDIF – Faculdade de Educação Teológica do Distrito Federal -, que trabalhava com seus dois filhos, alguns funcionários e

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Memórias de Meio Século 324 [email protected]

mais de vinte professores. Havia mais de 600 alunos. O meu companheiro de viagem e de auditoria retornou logo na primeira semana. Depois dessa semana de investigação de papéis e alguns desentendimentos, a Diretora Administrativa abruptamente me disse que não ia mais me passar documento algum.

Como eu não tinha muita liberdade de telefonar dali mesmo, à noite, eu ligava do hotel para o pastor que laconicamente apenas me disse para retornar pois ele ia convocar a diretora para uma reunião ali, no DF.

Meu escritório no Cruzeiro Novo. Ao lado do nosso Tempra está o amigo-cliente Poeta, de Ilhéus-BA

Retornei para Brasília sem poder confirmar se a rebeldia da fundadora

era um indício de ela estava realmente ocultando desvios e irregularidades várias na administração ou simplesmente se tratava de uma revolta contra a mantenedora que, segundo ela, só queria dinheiro e não se preocupava com a conclusão do processo de legalização da faculdade junto ao MEC – o qual já estava chegando ao fim e necessitava de mais dinheiro urgente.

Com o meu retorno ao Areal, o pastor planejou destituir aquela diretora e formar outra diretoria da qual eu faria parte como administrador. Enquanto isso, a diretora veio do Piauí, participou da reunião-assembleia, voltou com mais poderes ainda e, mesmo assim, foi destituída do cargo depois.

Não usando de devidas atitudes administrativas e até civilizadas e cristãs, o pastor enviou uma equipe – da qual eu não fiz parte -, que foi verdadeiramente uma tropa de choque, e tomou o poder daquela faculdade, nomeando ad hoc, uma diretoria que seria “provisória”. Tal gesto truculento

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causou um verdadeiro terremoto ali, conforme falarei mais adiante, em capítulo específico.

Durante a minha Alpha Contábil, apareceu por lá um folclórico senhor,

uma espécie de andarilho boêmio, que andava sempre de terno e gravata e seu indefectível chapéu. Ele tinha um projeto junto à Secretaria de Educação do GDF para gravar seu primeiro CD com suas composições. Era o Jocelino, de Ilhéus-BA, com seu disco Tororomba – O Trovador de Ilhéus. Ele queria que eu o acompanhasse na documentação e detalhes da gravação pois não tinha ninguém que o fizesse e determinado irmão do estúdio de gravação estava enrolando-o de certa forma. Ele ia ao meu apartamento, almoçava às vezes. Pude acompanhar sua documentação e levou-me para conhecer pessoalmente o dono do estúdio, no Gama, um evangélico assembleiano. Pude perceber que, de fato, aquele irmão, estava mesmo embromando e apenas sugando o pouco dinheiro que ia sendo liberado pelo governo, para o projeto daquele indefeso compositor. Aconselhei-o a procurar logo a justiça antes que fosse muito tarde, pois o projeto tinha uma pauta para ser cumprida. Ele relutou um pouco mas acabou entrando com um processo e, em audiência, fizeram um acordo. Saí do DF e não soube mais se ele conseguiu realizar seu sonho dos 1.000 CD‟s.

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Memórias de Meio Século 326 [email protected]

Descubro que era Hipertenso

Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de

Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que excede todo o entendimento,

guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que

é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,

nisso pensai. Filipenses 4:6-8

uando fui convocado pela segunda vez para o Banco do Brasil – agora para a Ag. Valparaíso-GO, vizinho ao DF, fiz uma bateria de exames. Na medida da pressão sanguínea, o médico percebeu uma discreta elevação

no índice e receitou-me 5mg de maleato de enalapril pela manhã e à tarde. Tomei esse medicamento por algum tempo e, achando que não era “nada grave”, parei, pois não queria ser como mamãe – que tomava tantos remédios. Mesmo tendo tido um dia normal, na minha residência-escritório, certa tarde, comecei a me sentir inexplicavelmente fraco. A fraqueza foi aumentando e chamei sara para irmos ao médico. Ela telefonou para o pastor que era meu cliente e ele me mandou um carro para me levar ao hospital. Desci a escada do 1º andar escorado no ombro de Sara. Durante a inquietante espera pelo atendimento público, quase me arrastando, pedi a uma enfermeira para medir minha pressão: estava em torno de 14 X 9, mais ou menos. Não é muito, mas, para mim, era como seu eu “estivesse morrendo lentamente”. O médico me deu 10mg de um comprimido e, mesmo sentado pelo corredor daquele hospital, foi passando o mal-estar. A partir daí, fui obrigado a tomar diariamente, 20mg do maleato duas vezes ao dia. Creio que essa herança me foi dada em decorrência da fundação e administração da Cooperage, à qual me dediquei como um pai se dedica aos

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filhos, tendo até levado um rádio HT para o barraco onde eu morava e, de lá, monitorando os vigilantes em plantão, mandando mensagens aos aniversariantes e outras instruções necessárias. Aqui, no Piauí, tive diversas crises de pressão, tendo de ser internado. Acho até que uma delas foi um princípio de AVC. Mas, isso era a pressão psicológica pela falta de trabalho e dinheiro, depois da falência, pois, mesmo quando enfrentei todos aqueles problemas da faculdade, nunca tive um aumento de pressão, embora continuasse tomando os medicamentos.

Todavia, depois que retornei para a Igreja, através de várias campanhas, e especialmente pela oração de um pastor, fui curado, conforme passo a narrar.

Em certo culto de domingo à noite, comecei a ter outra crise de hipertensão e não levei comigo o comprimido, como costumava. O pastor da igreja mandou-me levar para seu gabinete enquanto Sara ia com outro irmão pegar o medidor de pressão, que ela comprara no Curso de Enfermagem, e o maleato de enalapril que era a única solução nesses casos. Enquanto o culto transcorria, o Pr. Carlos Nogueira se dirigiu a mim com o Pr. Sávio que orou fervorosamente e, ao final, eu me levantei e as forças foram voltando ao meu corpo e pude descer para continuar a assistir ao culto. Que Deus aperfeiçoe mais e mais esse dom do Pr. Sávio, e abençoe ao Pr. Carlos que teve iniciativa de levá-lo a orar por mim, e que sempre me recebeu muito bem em sua igreja Madureira. Nunca antes isso me acontecera, pois só o remédio resolvia e, às vezes, eu tinha de ir para o hospital. Conforme está escrito no Manual do Fabricante do Ser Humano:

A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg 5:16)

Outro fator que também deve ter colaborado para eu manter minha

pressão sob controle, evitando o stress do desemprego e da famigerada falta de dinheiro, foi o cargo de monitor de disciplina que a Joana e o Aécio – amigos fãs do Elvis, e ela cunhada de uns deputado e prefeito de Timon - me conseguiram no presídio, conforme relato num capítulo adiante. Assim, diminuindo a dosagem paulatinamente até chegar aos 5mg e, finalmente, há uns dois anos não preciso mais tomar nenhum remédio para esse mal. Minha pressão atual fica sempre pelos 12 X 8mm/hg.

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Conheço minha atual Companheira

A mulher sábia edifica a sua casa.

Provérbios 14:1

uma das minhas últimas convocações de mãos-de-obra que fiz por jornal – pois ampliamos a área de atuação na cooperativa, fornecendo também escriturários, secretárias, telefonistas, etc., conheci uma

pessoa que mudaria o rumo daminha vida. De posses dos currículos, telefonei para alguns candidatos e ela, apesar de umas duas ligações minhas, compareceu á reunião de boas-vindas. Durante essa reunião, com cerca de 10 candidatos de ambos os sexos, teve uma que, enquanto eu falava do destino de cada um ali, escreveu um bilhete e sorrateiramente me passou sem dizer uma palavra. terminada a reunião, como já eram cerca de 22h, e aquela trecho de Taguatinga era um tanto escuro, ofereci-lhe minha residência-escritório, informando que só havia uma cama e não existia sofá. Mas, prometi ser bem comportado. Assim, ela dormiu ali e, conforme eu lhe prometi, não toquei nela. Mas, de madrugada, deu-nos certa insônia e ofereci-lhe uma pizza que eu tinha na geladeira. Depois desse lanche é que surgiu um clima mais favorável e fomos nos aproximando cada vez mais. Ela não tinha cultura elevada nem bens materiais ou mesmo uma renda elevada. Mas, admirei-lhe pela sua simplicidade e desejo de vencer na vida.

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Foto tirada no bairro de Robertinho – Caruaru, 2008

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Memórias de Meio Século 329 [email protected]

Ela era divorciada e possuía uma garotinha de 5 anos. Estava passando por sérios problemas – tanto financeiros como familiares – e, naquela noite, depois de quase não conseguir chegar à Cooperage, ela encontrara finalmente uma solução para os seus problemas – conforme me confessou depois. Depois de namorarmos um mês ou dois, convidei-lhe para morar comigo, e a Rebecca ficaria no Cruzeiro Novo durante a semana, pois estudava ali. Minha sogra, a Inês, foi me conhecer e ver o local onde eu morava e concordou com tal união. Assim, estamos juntos há oito anos. Embora haja diferenças entre nossas personalidades, cremos que Deus pode fazer muito mais do que imaginamos e, se nos esforçarmos, ambos poderemos realizar ainda muitos sonhos juntos, como termos um – ou mais - filhos, por exemplo. Os que se

submetem agradavelmente à vontade Deus – pois muito vivem a resmungar da própria sorte -, com certeza obterão vitória, pelo que as próprias circunstâncias conspirarão a seu favor (Rom 8:22). Hoje, ela insiste por um filho [lembrando aqui que a Rebecca não é minha, conforme minha família pesou quando a viu, no DF] embora eu a considere como filha legítima. Todavia há várias metas que ela precisa antes atingir, para melhor segurança sua e minha, e, só então, estaremos em condições de receber esse novo membro na família. A oficialização poderá até mesmo vir antes disso.

Foto tirada na nossa residência-escritório

Alpha Contábil – DF - 2003

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Memórias de Meio Século 333 [email protected]

Assumo uma Faculdade-Titanic

O meu povo padece porfalta de conhecimento.

Oséias 4:6

inha passagem por Teresina, por si só, já daria todo este livro. Cheguei a iniciar um registro desse sobre a aventura que foi administrar a faculdade que adquiri em Brasília.

Aqui, na capital do Estado nordestino do Piauí, vim administrar certamente o maior desafio que já enfrentei em toda a minha vida: uma Faculdade de Filosofia com 300 alunos restantes, em fase de regulamentação pelo MEC e que, por um escândalo ocorrido poucos meses antes da minha vinda, a justiça deu em cima, a imprensa meteu o malho e a metade daqueles 600 alunos debandaram! Conforme já narrei introdutoriamente, houve uma turbulência na destituição da então diretora-fundadora e a que foi nomeada ocasionalmente, que era a própria contadora da faculdade, prometeu adquirir o empreendimento, mas só estava embromando e se apossando espuriamente de todo o patrimônio e dos alunos também.

Os três primeiros endereços da Faetedif-Isefit

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Memórias de Meio Século 334 [email protected]

No escritório da Diretoria nos dois 1ºs prédios

Vendo que o pastor, no DF, só ficava à distância, sem tomar uma atitude enérgica e eficaz, propus-lhe as minhas condições e pedi as informações sobre a situação atual da instituição. Ele me disse que comunicara àquela diretora que o negócio estava sendo passado para mim, que eu estava indo para o Piauí, e que só havia um “probleminha” com alguns alunos que saíram, mas “estava tudo sob controle”. Apenas conseguindo o dinheiro suficiente para a minha passagem de avião e alguns trocando sobrando e deixando outros para Sara se manter, deixei-a ali, no nosso escritório-residência e embarquei para minha nova aventura empresarial. Vale ressaltar que até para aquela tropa de choque vir no início do ano de 2004, foi necessário Sara emprestar cheques dela para o pastor comprar as passagens e/ou cobrir outras despesas do deslocamento, cujos cheques voltaram sem fundos e já começou provocando muitos transtornos para nós – eu e ela. Aterrissando aqui pela segunda vez, a atual diretora sequer permitiu que eu assumisse a instituição que eu adquiri com ata da assembleia registrada em cartório! Simplesmente, o pastor não comunicara nada da minha negociação a ela, que, aleivosamente, já tinha tirado outro CNPJ e pintado na parede da instituição outro nome de fantasia (Fac. Tomaz de Aquino)!

Liguei para o pastor que, lacônica e singelamente, apenas me disse que retornasse para o DF que ele me daria outra faculdade, na Bahia! De

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Memórias de Meio Século 335 [email protected]

pronto, respondi-lhe que não ia voltar, pois eu achava que Deus me mandara mesmo para cá e eu ia lutar este meu direito. Mesmo sem dinheiro e sem conhecer ninguém, consegui um jovem advogado que impetrou uma com pedido de liminar, para receber os honorários depois. Enquanto isso, a esperta e maquiavélica diretora foi ao gerente do hotel onde eu estava hospedado informar-lhe que a faculdade não ia pagar minhas despesas ali. Assuntando, o gerente me questionou e eu tentei tranqüilizá-lo com a possibilidade do deferimento da liminar pelo juiz. A incerteza era grande, pois uma medida judicial dessa pode demorar até meses, aguardei confiante e, 3 dias depois, com a ajuda de dois oficiais de justiça e dois advogados, expulso aquela diretora usurpadora. Chispando fogo pelas ventas, ela foi pegando seus pertences e várias pastas de documentos que, ingenuamente, permiti-lhe diretamente que levasse. Num momento em que eu estava no corredor, longe da vista dos advogados e oficiais que permaneciam na sala, ela aproximou-se de mim e rosnou uma mal-criação qualquer. Apenas sorri. Depois, por boatos, soube que ela era praticante de magia negra. Entretanto, Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 3:18)

Uma das últimas aulas. Estou apresentando a empresa da formatura

Despachei os advogados e paguei uma parte da taxa de cumprimento de mandado dos oficiais de justiça, dando um cheque pré-datado, e fiquei

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Memórias de Meio Século 336 [email protected]

sozinho ali, na “minha mesa”, naquela confortável sala acarpetada e com ar condicionado, o que, dentre outros, demonstrava a dedicação com que a diretora-fundadora construiu tudo aquilo a partir literalmente do zero, convocando alunos nas igrejas pessoalmente.

A formatura dos alunos no Centro de Artesanato Mestre Dezinho, e Eu, Sara e a vibração da

Rebecca, ao lado do apresentador João Neto, da TV Globo/Clube local

Fiz uma oração. A partir dali eu teria pela frente o grande desafio de

colocar a casa em ordem. E praticamente sozinho e sem dinheiro! Como o telefone ainda não fora cortado, fui dando uns telefonemas,

chamando alguns professores pra irmos conversando e fazendo reuniões a fim de eu me atualizar de toda a situação caótica da faculdade. E o rombo era grande.

Na conta-corrente, a ex-diretora deixou só uns R$ 600, mas já deu para pagar o hotel e adquirir credibilidade ali, onde eu permaneci por mais alguns dias até ir para um local mais barato.

Nesse ínterim, enquanto a notícia se espalhava e os alunos iam aparecendo mais alegres – até alguns que tinham se afastado -, aconteceu algo inusitado e que era o menos provável de ocorrer.

Certa manhã, o interfone do meu quarto do hotel tocou e uma senhora me falou dizendo ser a “Maria José”. Eu não me lembrava mesmo quem era até que ela insistiu: era a diretora-fundadora que fora destituída de forma truculenta no início do ano! Como eu não tinha nada diretamente contra ela, desci e recebi-a juntamente com seu namorado na sala de espera.Nessa conversa, ela me contou o drama vivido, inclusive com seqüelas psicossomáticas e de como estava até passando necessidades materiais.

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Memórias de Meio Século 337 [email protected]

Diante daquele quadro compungente e não tendo eu, de fato, detectado nada naquela auditoria que vim fazer no ano anterior e, ainda mais aquela visita dela, que demonstrava ela não ter aparentemente culpa, convidei-lhe para voltar a trabalhar na instituição e, juntos, tentaríamos reerguer aquele projeto, tentando assim salvar o Titanic que estava afundando. Ela aceitou e acertamos alguma ajuda de imediato até que as finanças se reequilibrassem.

O rombo no casco do Titatnic era grande: havia uns seis meses que os professores não recebiam salário, totalizando R$ 25.000 – e eles já estavam preparando um golpe para assumir a instituição; o débito de energia elétrica era de mais de R$ 3.000 e seis contas de água estavam abertas; uma máquina de Xerox havia sido vendida sem autorização de Brasília; vários objetos, equipamentos e centenas de livros desapareceram; uma queixa-crime com pedido de fechamento da instituição; os jornais locais já execraram a faculdade; as televisões se aproveitaram sórdidamente; e 300 alunos já tinham, debandado, ficando a ameaça de outros mais saírem. Entretanto, descobri depois, aquela diretora oportunista tinha recebido mais de R$ 40.000 em mensalidades dos poucos alunos que ainda acreditavam na instituição!

E eu tinha a incumbência de tentar resgatar tudo isso e, principalmente, injetar esperança no restante dos alunos que permaneciam ali, confiando que, de alguma forma, uma solução definitiva chegaria.

O solene momento da formatura dos meus alunos;à dir., um dos professores

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Um mês depois, voltei para Brasília para levar Sara e Rebecca. No meu velho Tempra 2.0 que deixei na garagem externa do conjunto onde minha sogra morava, no Cruzeiro Novo, coloquei a casa de casal, as roupas, o computador ficou no porta molas, e enchi o carro com o que pude trazer, deixando na nossa kitnet do DF alguns móveis e vários livros que não valia o trabalho de vender no sebo. Sara era minha Diretora Financeira. Aliás, a diretoria toda, ficou resumida em apenas duas pessoas: eu e ela.

A 1ª casa [o térreo, lado direito] onde moramos por seis meses em Teresina; e a alegria na

Formatura dos Alunos Remanescentes e Vitoriosos

Minha primeira medida foi fazer um comunicado informando aos alunos sobre a Nova Diretoria e fazendo uma reunião logo no primeiro dia de aulas. Expliquei detalhadamente quem eu era e o que pretendia fazer com a instituição, qual seria a minha estratégia. Usei do máximo de transparência e honestidade para que todos pudessem dar um voto de confiança e, mais vez, poderem obter seus diplomas tão desejados. Implementei imediatamente um jornal mensal com as notícias do andamento dos convênios que eu ia tentando fazer com outras faculdades que pudessem aproveitar aqueles estudos e, portanto, conceder o diploma necessário. A grande maioria dos alunos era de professoras e professores do estado e do município que, para atenderem às novas exigências da legislação, deveriam possuir nível superior em áreas pedagógicas. De imediato, peguei os documentos que tínhamos junto ao MEC e corri atrás do Juiz e do Promotor de Justiça que já tinha determinado o fechamento da minha faculdade. Havia um promotor muito simpático que,

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Memórias de Meio Século 339 [email protected]

descobri depois, era membro de uma Igreja Batista, a qual, sem saber, passei a freqüentar até retornar para a Assembleia. A imprensa metia o malho. Numa das reportagens, dirigi-me ao Jornal Meio Norte que me deu o direito de resposta. Já outro, mais sensacionalista, nem uma detalhada carta de três laudas em papel timbrado da instituição convenceu e nada falei em minha defesa. Depois descobri que esse jornal era do dono de outra faculdade existente aqui. A televisão também nos perseguia e, numa ausência minha, entrevistaram a minha secretária com a câmera ligada discretamente, sem ela saber.

Algumas das manchetes sobre a faculdade – estas, sobre a prisão dos diretores

anteriores Diante dessas notícias, e a cada semestre que passava, sem conseguir o tão esperado convênio, vários alunos ia saindo para outras instituições que aceitassem nosso histórico de aulas. Havia uma faculdade, de um padre da Igreja Católica Ortodoxa, que, somente ela, recebeu quase cem alunos nossos. Os outros iam para outras faculdades particulares e os demais desistiam mesmo. No final do primeiro semestre da minha gestão, durante as férias de julho, quando eu pensei que já tinha controlado a situação na esfera jurídica, eis que uma bomba explode nos jornais locais: uma certa juíza manda prender quatro diretoras e diretor da administração anterior à minha! (Vide o Diário do Povo de 16.07.04 – apenas dois meses após a minha chegada – a seguir reproduzido.) De jornal em punho, ligo imediatamente para o Fórum e consigo falar com a dita juíza. Identifico-me como sendo o novo diretor da referida

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faculdade, que estava tentando colocar a casa em ordem, e perguntei-lhe singelamente se ela não vira o despacho que o outro juiz titular colocara na própria capa do processo, pedindo para aguardarem o juiz (titular da causa) voltar de férias. Ela, sem a mínima cerimônia, apenas respondeu que não viu, não, e que se eu quisesse ir falar com ela, ela me receberia, pois, naquele momento estava muito ocupada... Preparei novamente outro comunicado para os alunos, explicando mais esse incidente, tentando assegurar-lhes de que aquela atitude da juíza fora incorreta e desnecessária e que eu estava lutando para reverter a situação. Nesse momento, liguei para Brasília comunicando o fato ao pastor, ex-presidente da instituição, cujo cargo agora era meu, e para a ex-diretora-fundadora que voltou a trabalhar comigo, a qual, providencialmente, estava tirando férias em Minas Gerais, por ocasião das bodas de ouro dos seus pais. Com meu advogado, entrei com uma ação para revogar a prisão dela. Duas das diretoras chegaram a ser presas e ficaram um dia ou dois detidas. O pastor, achou mais prudente evadir-se para São Paulo, e deve ter tomado suas medidas judiciais em sua defesa. Depois de várias tentativas, alguns até frustradas pela má fé, inclusive, de gente evangélica, consegui um acordo com duas faculdades, por sinal, de pastores da Assembleia de Deus. Ainda hoje, parece que estão entregando os diplomas aos alunos, cujo remanescente ficou em apenas uns cem. Para se ter uma melhor idéia desse desafio, coloco na parte dos Anexos, algumas páginas do livro que eu ia escrever para todos os alunos, por ocasião da formatura, mas, por falta de tempo, não o fiz e, portanto, perdeu o sentido de publicação.

Procurando convênios para a faculdade, visitei

Juazeiro do Norte-CE. Sem preconceito

religioso, visitei o Pe. Cícero

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Memórias de Meio Século 341 [email protected]

Durante a permanência no primeiro prédio do Isefit, tentando aproveitar o espaço, pois só usávamos as salas aos sábados, abri um Cursinho Preparatório chamado LOGOS. Mandei imprimir alguns milhares de panfletos e distribuir pela Praça Saraiva e redondezas. Não consegui alunos suficientes e desisti totalmente da idéia, não preparando assim alguma segunda opção quando viesse o encerramento efetivo das atividades da faculdade. Anos mais tarde, depois que tudo acabou definitivamente vendi o Tempra que tínhamos adquirido em consórcio no nome de estava no nome de Sara, e, assim premido pela necessidade, aluguei duas salas num prédio de dois andares na Av. Miguel Rosa e abri o DYNAMIC Concursos. Mandei imprimir mais panfletos em policromia. Aguardei quatro meses ali e não consegui alunos bastante, novamente. Continuei vivendo de algumas quantias que recebia esporadicamente dos ex-alunos que ficaram devendo.

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Freqüento a Igreja Batista

unca gostei de ficar longe de alguma igreja – também não queria mais afiliar-me de carteirinha. Não basta termos fé para termos uma vida espiritual fortalecida. O convívio – saudável e equilibrado – com demais pessoas da mesma crença ajuda-nos a enriquecer-nos espiritualmente além do que favorece o relacionamento social, tão

importante ao ser humano – não somos uma ilha, nem mesmo uma “ilha espiritual”. Mesmo não querendo me afiliar de carteirinha a nenhuma outra denominação evangélica, depois de várias decepções na Assembleia, eu freqüentava algumas igrejas de Teresina. Nunca analisei a fundo a história e doutrina Batista. Sei que há um segmento que aceita o Pentecostes – é a Batista Renovada – e o maior segmento que é chamado de “Tradicional” e, parece-me, nem reconhece a existência de milagres na era atual. A mais antiga de todas essas congregações aqui, em Teresina, é a 1ª Igreja Batista, no centro, na Pça João Luis, com mais de meio século de existência. A 2ª Batista, pela ordem numérica, aparenta ser também antiga, mas possui um novo prédio em arquitetura moderna – ao lado do pequeno prédio antigo -, cujo telhado lembra uma asa delta, por cujo apelido também é conhecida, à semelhança da Baleia, a Assembleia Madureira, no DF.Visitei também outras menores, inclusive a própria Universal, que, como de costume, possui grandes templos. Escolhi portanto freqüentar com mais assiduidade a 2ª Igreja Batista. Dirigida por um pastor conterrâneo, o Pr. Georgivaldo - que, sem o saber, chegou a se matricular num dos cursos que eu estava oferecendo em parceria com outro pastor –essa igreja é bem climatizada, lembrando um ginásio e composta de irmãos muito simpáticos e a maioria jovem e alegres. Era dessa congregação o Promotor de Justiça a quem dei explicações jurídicas sobre a situação da Faetedif perseguida. Era membro dela também um graduado funcionário da Cepisa - companhia de energia do Piauí, que hoje, com a federalização, virou Eletrobrás -, fato que certamente facilitou a minha negociação do alto débito do prédio da minha então faculdade.

N

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Memórias de Meio Século 343 [email protected]

Por essa época, no primeiro semestre de 2006, Sarah me manda um e-mail comunicando de sua convocação do concurso da Petrobrás e perguntando se eu podia lhe ajudar na passagem aérea de Brasília até Salvador-BA, pois tinha apenas uns 3 dias para se apresentar. Embora com os recursos da minha faculdade bastante escassos, depositei na conta dela a quantia solicitada para ela ir à Bahia e tomar posse no seu maravilhoso emprego. tomou posse num,a das instalações de Feira de Santana, próximo da capital onde, poucos tempos, ela voltou a fazer seu Curso de química Industrial na Universidade Federal da Bahia. Que Deus lhe mantenha nesse emprego e conclua logo seu curso – se é que já não o concluiu – e não venha a ceder a nenhuma tentação de aderir a algum PDV, como eu fiz. Para evitar maiores intimidades, embora eu forçosamente tivesse de conversar, rapidamente, com um ou outro irmão, ou mesmo com o pastor que ficava á saída cumprimentando a todos, eu procurava ir ali só uma ou duas vezes por mês! Minha outra Sara [sem “h”] se agradou demais da gentileza e organização dos trabalhos eclesiásticos ali realizados. Fiquei nesse ambiente religioso por cerca de dois anos até retornar à mesma Assembleia de Deus de outrora sendo, neste caso, no Ministério de Madureira.

Hogla Sarah com suas colegas da

Petrobrás (2006, aprox.)

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Retomo o Curso de Direito

minha faculdade não possuía o curso de Direito – eram apenas: Teologia, Filosofia e Pedagogia. Eu estava tão absorto nos problemas administrativos e jurídicos que não possuía mente suficiente para

abraçar outra preocupação como o retorno ao curso que comecei há cerca de 20 anos atrás, no Recife. Dois anos depois de chegar nesta capital, aproveitei uma pequena folga de tempo e de dinheiro e resolvi procurar uma faculdade perto de casa ou do trabalho, conseguindo uma transferência para a Faculdade Santo Agostinho, uma das melhores daqui., entrando pelo 5º período, com alguns trabalhos para fazer e aproveitar as disciplinas de Brasília e Recife. Não era uma faculdade do porte gigantesco da UCB de Brasília, com seus prédios novos de cinco andares, mas possuía instalações novas de 1º andar, com todas as salas climatizadas. Aliás, ar condicionado por aqui não é luxo, é necessidade. Até as escolas públicas, neste ano de 2011, estão recebendo climatização. Apesar das dificuldades financeiras, ainda fiz quatro períodos ali. A situação de recursos se agravou e tive de trancar novamente. Obviamente, eu era um dos poucos coroas das turmas onde eu pagava as demais disciplinas. À medida que eu ia passando de sala a sala, fui encontrando alguns conhecidos bem próximos: dois professores da minha própria faculdade de Filosofia e o hoje pastor João Barbosa que fora um dos meus últimos chefes no Banco do Brasil de Jaboatão dos Guararapes, Centro. todos eles fazendo o mesmo curso que eu. Nesse ínterim, a Faetedif ia falindo e tive de ir encerrando suas atividades, cujas aulas passaram de semi-presenciais, aos sábados, para apenas uma por mês numa sala alugada no colégio onde Rebecca ainda hoje estuda. A arrecadação foi diminuindo cada vez mais, ficando apenas alguns débitos que os alunos para nobres me pagaram até mesmo em atendimento

A

Será que essa pose jurídica tinha

alguma significado futurístico?...

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Memórias de Meio Século 345 [email protected]

em praças e dentro do meu próprio carro. Ainda cheguei a atendê-los em expedientes sabatinos no escritório de um famoso advogado daqui, membro da Igreja Universal e que queria que eu gravasse umas composições suas. Sem recursos, fui obrigado a, pela terceira vez, trancar o curso e ficar por dois anos ausente de salas de aula.

Em 2010, tendo conseguido o emprego no presídio, ouvi que a Faculdade S. José, de Timon-MA, dava bolsa de 50% a egressos de outras instituições. reabri então o curso e fiz ali o 9º Período. Só não considerei que aquela bolsa era apenas para um semestre. Não consegui a renovação.

Hoje, trabalho como parceiro num escritório de advocacia, adquirindo experiência, aliada ao estágio que fiz em Brasília, onde peguei minha carteira 4724-E de estagiário da OAB-DF. Espero concluir o curso e fazer o exame da Ordem no próximo ano.

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Elvis de novo, Rádios e TV’s e Política

1ª Festa do Elvis, na AABB, em 16.08.2006, com o cover Gerard Presley, de Fortaleza-CE, e a Banda

Túnel do Tempo; e colegas colaboradores do Teresina Elvis Club

esde quando fui para Brasília, não me interessei pelo assunto “Elvis”. Até porque a Assembleia não é nada “fã” dele – como de nenhum outro cantor não-evangélico, embora ele tenha gravado quase cem músicas gospel. Nem imaginei que por estas terras nortistas, onde é mais forte a influência do forró moderno do que no Recife, pudesse

haver admiradores daquele cantor. Um dos alunos da minha faculdade possuía um programa diário numa

rádio comunitária numa cidade próxima daqui.. Enquanto lhe atendia certa vez, falei-lhe que, antigamente, eu possuíra um programa do Elvis Presley numa rádio do Recife. Assim, convidou-me para aparecer por lá. Só que era na cidade de José de Freitas – a uns 50km daqui. Aceitei o convite e, certo domingo, apareci na sua rádio. Achei que ele fosse o apresentador, mas foi logo me passando o microfone e me deixando totalmente no comando do “Especial do Elvis”, apenas com o operador da mesa de som. Poucos minutos depois, o dono dela apareceu por lá e gostou das músicas – ele já admirava o Elvis – e disse que eu podia continuar com o programa pelo tempo que desejasse. Assim, fiquei viajando todos os domingos, pela manhã, até José de Freitas para apresentar o Encontro Com Elvis – nome este que eu ressuscitei daquele programa de 15 anos atrás, na saudosa Rádio Capibaribe, do Recife.

D

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Para não ter um programa solteiro, desvinculado de uma organização por trás, criei o Teresina Elvis Club. Depois, vim a saber que, há uns trinta anos, a apresentadora da TV Cidade Verde-SBT, Elvira Raulino, fundara outro, mas fechou-o por orientação do então bispo católico.

Nisso, contatei uma rádio que, mesmo sendo evangélica, para minha surpresa, vendeu-me uma hora todos os sábados. Era a Rádio Filadélfia, também comunitária, veio a ser fechada pela Anatel há uns dois anos. Assim, eu não precisava mais viajar tanto para apresentar meu programa e deixei a Rádio Cidade de José de Freitas. Passei dois anos na Filadélfia e desisti á medida que o dinheiro ia me sendo escasso e os próprios fãs não contribuíam a contento. Depois surgiu outra, em Timon – a Rádio Planalto Formosa, onde,

Minha última apresentação, em 2009; a Reb Presley dublando e Zezé di Camargo e Luciano – que lançaram

uma versão de Always on My Mind – grande sucesso do Elvis

por módica quantia, permaneci também por outros dois anos. Depois, veio outra Rádio Cidade, aqui, em Teresina. Embora, fosse gratuito o programa, fiquei só uns dois meses também. Por fim, consegui surpreendentemente um espaço também gratuito na Rádio Clube-AM, do grupo afiliado à TV Globo. Meu sonho era poder ir para a FM, mas, mesmo sendo AM, tinha excelente audiência. Os últimos programas que apresentei foram ali, tendo ficado no ar por cerca de mais dois anos.

Dentre os amigos que permanecem desse entretenimento, está o

Presidente do Sindicato dos Fotógrafos do Piaui – Sindfespi, o João Cruz que deu um grande apoio – não somente ao fã-clube como também à pessoa do JJ -, tendo-me convidado para cantar em alguns dos seus eventos.

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Ao todo, houve

tempo em que eu apresentava o Encontro com Elvis simultaneamente em quatro estações de Rádio, entre a sexta, o sábado e o domingo. Foram, ao todo, uns trezentos programas semanais. Ainda existem cerca de 1.000 fotos no site www.flogao.com.br/teresinaelvisclub

Hoje, está surgindo outra oportunidade de ressuscitar tal passatempo,

embora eu esteja solicitando à rádio um de cunho evangélico – o qual consegui para a igreja da qual eu fazia parte e que foi fundada recentemente.

Em 2008, tomando por base a experiência que tive na extinta faculdade e nesse fã-clube, pensei em arranjar uma vaga para me candidatar a vereador. Não pelo simples afã de ser político – até porque deploro essa casta de políticos de há décadas corroi as riquezas do nosso Brasil. Mas, para tentar fazer algo de útil pela população carente de Teresina que, como todos sabem, é a capital mais pobre do país. Assim, filiei-me ao PV – Partido Verde. Fui bem recebido, cantei as músicas do Elvis num evento do grupo e me preparava para lançar candidatura pois haveria espaço – embora as vagas fossem limitadas face à quantidade mais de candidatos. Certa feita, um dos candidatos me convidou para jantarmos numa churrascaria e lá havia um tecladista com música ao vivo. Pedi permissão para cantar algumas canções e fui. As pessoas gostaram e algumas começaram a dançar. Quando voltei à minha mesa, meu amigo correligionário me perguntou à queima-roupa se eu não queria apoiar a candidatura dele – e, conseqüente, renunciar à minha... Sem nenhuma experiência política e tendo meu amigo sido candidato em Fortaleza, e é filho de ex-político, achei que seria realmente melhor apoiá-lo sob a promessa de um cargo após sua eventual vitória. Assim, ele

Com o João Cruz e o Ir. Rogério falando num Seminário do

Sindicato

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Tive coragem de gravar este 1º CD com músicas do Elvis

prometeu mais algumas coisitas. Os dias se passaram e aquele suposto amigo foi se distanciando até não haver mais espaço para mim e eu ter perdido o prazo para inscrever minha candidatura. Após isso, uma conhecida apresentadora daqui, que fora prefeita numa cidade do interior, ao saber do ocorrido, de rompante, convidou-me para sua campanha, também pelo mesmo PV. Aceitei e, mais uma vez, após um singelo almoço, ela foi me escanteando semelhante àquele outro candidato.

Com colegas locutores da Rádio Clube e um fã, e na Rádio Filadélfia

Assim, pude sentir na própria pele que política e hipocrisia andam

acasaladas – embora possa haver exceções conforme o caráter do candidato, indep3endentemente do credo religioso – pois até os evangélicos têm se deixado seduzir pelo poder e mergulham também na corrupção, como foi recentemente no escândalo do Mensalão de Brasília, com pastores da

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Assembleia de Deus – Madureira e da Casa da Bênção envolvidos – e filmados.

Cartaz do penúltimo evento do Elvis que

realizei com amigos-fãs– em

Ago/2008.

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Visita a Pernambuco (2008)

Foi em vão que labutei. Gastei o meu próprio poder para irrealidade e vaidade.

Isaías 49:4 (TNM)

minha primeira visita á minha terra natal, depois de que cheguei à Teresina, foi em Set/2008. Embora eu não estivesse folgado financeiramente, aproveitei o restante de dinheiro que sobrava do

terreno que vendi – e com o qual planejei terminar meu curso de Direito e manter minha família até lá -, e pus a bagagem no pequeno Fiesta branco. Fui com Sara e, devido às suas aulas, Rebecca ficou com a Ir. Dulce, fiel zeladora da saudosa faculdade,

Uma das últimas fotos que tirei com ROBERTINHO, ele ao lado seu esposa Nilda, Tio Berto, Tia

Socorrinho, Sara e eu

Escolhi essa época – e não de férias escolares – em virtude do calendário das provas de dois concursos para o TRE – Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas que eu ia fazer. Seria uma prova pela manhã – de nível médio – e outra á tarde – de nível superior -, na cidade de Maceió. Seria assim mais uma oportunidade de revisitar essa capital nordestina bem como mostrar outras praias à brasiliense Sara que só conhecia as praias do Piauí e de S. Luis.

A

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Eu não conhecia a estrada daqui até lá, mas o asfalto estava perfeito, dormimos as duas noites em pequenos hotéis e chegamos de manhazinha a Caruaru. Aqueles 1.000km poderiam ser feitos até na metade do tempo que gastei, mas, preferi ir mais devagar e não dirigir muito à noite. Também saímos de Teresina já pelas 14h, e quando íamos chegando a Caruaru, ainda faltavam uns 400km e não quis incomodar Tia Socorrinho chegando pela meia-noite ou mais. Fomos calorosamente recebidos por Tia Socorrinho e Tio Berto que, agora, já moravam sozinhos, com todos os filhos casados e um no sacerdócio leigo católico. Ela gostou imediatamente da espontaneidade e simplicidade de Sara, embora um tanto exageradas. Passamos o dia visitando alguns pontos e Morro de Caruaru. No dia seguinte, fomos a Bezerros. Não reconheci direito a casa de Netinho, onde pai tinha vivido seus últimos dias, e agora esta bem reformada. Enquanto perguntava aos transeuntes e vizinhos, descobri que Aldinho, filho de Anabel, já era advogado e tinha numa daquelas casas o seu escritório. Ele era solteiro e, parece-me, morava ali mesmo. Rose, sua esposa sempre sorridente, nos recebeu e Netinho não estava. Chegou minutos depois. Com sua indefectível barba, continuava bem acima do peso e se queixava do caminhar, pelo que, quando necessário, fazia uso de uma bengala. Jercyka, sua filha mais velha, estava forte e alta, com cerca de 1:80m, muito bonita, totalmente diferente de quando a vi, quando era apenas uma garotinha de uns sete anos que lembrava o rosto de mamãe. Jeyson Clinton – em homenagem ao ex-presidente dos EUA Bill Clinton -, era o filho mais novo e se mostrava muito vivaz e era atleta no seu colégio, tendo jogado na cidade piauiense de Floriano. O clima frio da minha cidade natal me trazia velhas lembranças...

Av. Dantas Barreto – a rua da feira – e a antiga Pça do Coreto - Bezerros

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Almoçamos fartamente e fomos, eu e Sara, dar um giro pela minha cidade, revendo velhos pontos e antigos amigos e conhecidos: a saudosa Rua XV de Novembro, cuja casa natal já não existia mais, a Rua da Matriz, onde passei parte da minha infância - na Movelaria Ipojuca, do Sobrado – as Praças Duque de Caxias e a Narciso Lima, o hoje “Colégio” Cônego Alexandre Cavalcante, onde todos nós três fizemos o Curso Primário, a Assembleia de Deus onde me congreguei por algum tempo, e onde pudéssemos ir pela pequena cidade.

Com Rose na sua casa [reformada], com sua loja “Rosy”, eu e Sara.

Pai morou aí nos seus últimos dias

Revi também o Prof. Antônio de Carvalho, aposentado do BNB, que foi meu mentor durante o tempo em que morei em Bezerros e Recife – e pela sua sugestão, entrei no Curso de Direito -, a Da. Edielza, cunhada do Monsenhor Florentino, e sua filha Mônica, o Sr. Zé Ferraz, da Farmácia Estado, cujo filho hiperativo, o Ferrazinho, foi meu aluno mais marcante. Enquanto eu estava com a Da. Edielza, seu filho Rômulo ligara do Recife. Ele ainda trabalhava no Banco do Brasil e se casara com a Dorinha, que fora a minha paixão platônica e fatal não correspondida, conforme já falei aqui. Pude então falar rapidamente com ele. Sempre íamos fotografando e filmando – na mesma câmera – o que víamos pela frente. Uma semana antes da viagem, tentei comprar uma

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câmera de filmar, de mini-DV, pela internet, mas, apesar de o objeto estar aqui perto – em Fortaleza -, não acreditei que chegasse em dois dias, e perdi aquela grande oferta de preço. Anabel e Lealdo estavam agora morando quase em frente à nossa antiga casa da XV de Novembro. Na época, eles moravam no Sobrado-Casarão. Tia Tide – Erotides – que estava com o Mal de Parkinson, morava com ela. Deitada na sua cama, num quarto, no quintal da casa, ela passava ali seus últimos dias da sua vida. ela me reconheceu, mas não conseguia abrir mais do que os olhos. Tirei várias fotos, inclusive com minhas primas de Tabira que chegaram ali alguns dias depois. Tia Tide veio a falecer dois anos depois. Enquanto estávamos ali, chegou o Dr. Aldo, o “Aldinho”.Quando o vi pela última vez – bem como á sua irmã, Luciana -, era um garotinho que me chamava de “Tuta”. Só quando Silva me visitou no Piauí, dois anos depois, vim a saber que ele é meu terceiro parente evangélico e possui o blog malucoporjesus.wordpress.com na internet. Que Deus lhe ilumine e lhe fortaleça vigorosamente para ser mais uma luz evangélica na nossa parentela, lembrando sempre que não é por persuasão humana que convenceremos, pois, como está escrito:

Não por força nem por violência, mas pelo meu espírito, dis o Senhor dos exércitos.

(Zac 4:6)

Para sentir mais intensamente os velhos tempos, saí cedo de Caruaru, com Sara, e pegamos uma van com destino a Bezerros. Fui de bermuda e tênis, chapéu e camiseta.

Eu, Lealdo, Anabel, e seus filhos: Luciana e Aldo (2008)

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Desci na Fazenda Boa esperança, à margem da BR 232 e ela seguiu par a casa de Netinho. Eu ia correndo, como antigamente. Só que, agora, eu não iria agüentar todo o percurso de 5km só correndo – teria de intercalar caminhadas.

No Alto do Moura e no Centro - Caruaru

Preparei-me psicológica e espiritualmente, estiquei um pouco os músculos e tendões, preparei a câmera fotográfica e comecei aquela jornada que tantas vezes fiz – sozinho ou com amigos da igreja católica e adventistas. Chuviscava um pouco e pensei que fosse parar por causa de alguma chuva forte. mas, eu queria continuar até o fim. Mais adiante, um cachorro quis me estranhar, mas parei de correr e passei andando. Depois de uns 40min cheguei á entrada da cidade, totalmente modificada pela moderna duplicação da BR – de S. Caetano ao Recife -, o que alterou a paisagem melancólica que eu tanto conhecia. Prossegui andando e aproveitei e procurei pela antiga madeireira que um irmão da assembleia tinha por ali, e que chegara a fazer-me uma banca de revistas que eu ia instalar para Silva tomar conta – quando eu trabalhava no BB do Recife. (Essa banca ficou mesmo numa das lojas do Terminal Rodoviário, mas durou pouco tempo.) Mais uns 20min de caminhada e cheguei á casa de Netinho, no outro lado da cidade, após a famosa Ponte de Ferro. Mas, foi apenas uma pequena relembrança. Toda aquela região, e mais ainda o próprio Recife, cresceu assustadoramente, lembrando até um certo “desenvolvimento americano”. No Sábado, logo cedo, já em Caruaru – onde sempre dormíamos -, saímos no nosso simplório Fiestinha – 1.0 rumo ao Recife. Queríamos tomar banho nas praias pernambucanas e rever meu antigos endereços

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residenciais, alguns amigos fãs do Elvis, e, quem saber, me deparar com algum ex-irmão mórmon. empolgado com a retidão e perfeição do asfalto das novas pistas duplicadas, acelerei o pequeno veículo com consciente e moderada vontade. Atingi os 150km. O ar-condicionado e o CD ligado nos davam uma sensação de liberdade agradável. entretanto, esse prazer durou poucos minutos. De repente, ouviu-se um estranho barulho no motor, como um grunhido. Quando debreei, o acelerador não mais respondia. Estávamos próximos de Gravatá, em frente à Cerâmica 2 Irmãos – cujo trecho eu conhecia de algumas corridas que fiz, saindo de Bezerros. O motor do Fiestinha estava batido! Esperamos que aparecesse um carro que nos socorresse. Acenei para diversos veículos e, em pouco tempo, um caminhão parou e nos rebocou gentilmente até a primeira oficina mecânica. eram cerca de 10h da manhã daquele sábado. Após consultar uns dois mecânicos, constatou-se que tinha de ser feita uma retífica no motor.

Eu e Sara na Praia de Boa Viagem – Set/2008

Liguei para Caruaru e Robertinho foi com Ronaldo e outro amigo e rebocamos o carro para um antigo e conhecido Abrigo de Velhos ali mesmo, na BR. Como eu tinha acabado de fazer um seguro pela Caixa Econômica, cuja vistoria foi feita pelas 18:00h do dia anterior á minha saída de Teresina, liguei para o número de emergência e em poucas horas chegou o guincho que levou o veículo até Caruaru. Tivesse eu guinchado o carro até Teresina – e parece-me o seguro dava-me esse direito -, não haveria o transtorno maior do que esse próprio incidente, conforme narrarei a seguir. A minha grande e infantil falha foi comprar um veículo usado e confiar que o dono realmente tinha trocado direito o óleo do Motor! E o dono insistia

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para eu fazer um serviço que um mecânico me disse custar muito, e, como ele teria mesmo trocado o óleo, viajei sem gastar um pouco mais com apenas 3 litrinhos de óleo abençoado... (Quando o motor foi aberto, se descobriu que havia uma certa borra do óleo que entupia determinada tela que impediu o óleo de lubrificar corretamente o motor. Isto porque o antigo dono, ao trocar o óleo, apenas completava o que faltava, sem efetivamente fazer a troca total.) Voltei para Caruaru com Sara, no próprio caminhão-guincho. Passei por Bezerros. Levei o carro direto para a oficina de um conhecido. Fui para a casa de tia Socorrinho desolado e pensando nas provas do dia seguinte. Passei logo na rodoviária e informei-me das passagens para Maceió. Após a meia-noite, Tio Berto me levou na sua Kombi para a Rodoviária. Na ida, esqueci-me de algo e voltei imediatamente à Vila Kennedy. No horário aprazado, o luxuoso ônibus chegou. Despedi-me de Sara e deles e subi no comboio. Logo após a saída, quase como num sinal sobrenatural, comecei a me inquietar. Fui ao banheiro na esperança de passar. Coloquei o fone de ouvido e tentei ouvir música. O mau-estar foi aumentando ao ponto de, em cerca de 10 min., eu me dirigir ao motorista e pedir para ele parar no próximo posto de gasolina e ou ponto de ônibus para eu descer.

o Centro Turística Luiz Gonzaga e a subida do Morro - caruaru

Estávamos na BR 104. O ônibus parou na cidade seguinte, que era Agrestina, a uns 30km, na frente de um posto de gasolina. Naquela hora estava fechado, mas com os vigias dormindo ali mesmo e me falaram de um hotel por trás. Já era muito tarde e não tinha como pegar outro ônibus

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voltando para Caruaru – nem dava para incomodar alguém e pedir para me pegarem ali. Liguei para Tia Socorrinho e disse para Sara do ocorrido e que iria pernoitar ali para retornar logo cedinho. eu não tinha mais condições físicas e psicológicas de ir para Maceió fazer as provas – nem que fosse num carro, salvo se fosse eu mesmo dirigindo, pois, certa vez, até um amigo dirigindo em Imperatriz, em enjoei no seu carro. Nem de helicóptero eu conseguiria chegar intacto para ter mente sã o bastante para enfrentar os certames marcados deste o Piauí. Se eu fosse de carro, o plano era partirmos do Recife na noite de Sábado, pernoitar já em Maceió, deixar Sara numa das praias enquanto eu fazia a primeira prova; no intervalo eu me encontraria com ela e até poderia dar um mergulho; à tarde, após a outra prova, daríamos um giro pelo centro da cidade e viajaríamos só na segunda-feira, com destino a Caruaru.

Robertino com Nilda, sua esposa, e seu filho mais velho, eu e Sara na casa deles,em Caruaru

Quando entrei no hotel daquela pequena cidade – que era, de fato, um motel – duas rãzinhas me deram as boas-vidas – que não eram tão boas assim. Ao deitar-me ligo a TV e, após passar pelos característicos canais daquele ambiente, deparo-me com um filme evangélico. Deixei ali. Era o Filme Jeremias e eu sintonizara no momento em que os filhos do rei Zedequias eram executados por Nabucodonozor. A história restante do Profeta me impactou, fazendo-me sentir que eu não estava efetivamente fazendo o que Deus tinha para minha vida!...

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No ano passado, adquiri dos vendedores de DVDs pirataso mesmo filme, com o ator americano Patrick Dempsey no papel de Jeremias, e já o assistiu algumas dezenas de vezes. Pelas 5h da manhã, saiu uma lotação do centro daquela cidade, e peguei-a na saída. Em Caruaru, peguei o outro ônibus par a Vila Kennedy. Ao chegar em casa, abracei-me chorando com Sara e lhe disse: Deus me fez vir até aqui só para me fazer assistir o filme de Jeremias! Tia Socorrinho, religiosa católica como sempre foi, enfatizou: Não esqueça isso, Zito!

O plano de viagem original era, logo após o concurso, regressar para o Piauí. Por causa da batida do motor, tive de espera mais dez longos e inquietantes dias! O serviço da retífica do Fiesta Hatch – 1.0 – 2001 remontou a R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), exatamente o dobro se o serviço tivesse sido feito aqui, em Teresina – constatei isso depois de chegar – e, mesmo ali, no Agreste, daria para fazer em torno dos dois mil reais, conforme longas pesquisas que fiz por telefone, dando todos os dados do estado do motor, e vendo todas as possibilidades de compra e recuperação das peças! Como a própria questão já estava na justiça para o ex-dono se responsabilizar pelos danos materiais, e eu descobri, ao retornar, que a reserva de dinheiro que eu tinha estava crítica, depositei pouco mais da metade do valor cobrado, com a esperança de, ganhando a causa, depositar-lhe o restante, mesmo sendo exorbitante tal valor. Lamentavelmente, não transcorreu assim. Essa viagem foi semelhante à minha segunda aos EUA, ou seja: prejuízo sobre prejuízo.

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A Residência “dos meus sonhos”

eus já me proporcionou adquirir dois imóveis financiados pela CEF: uma casa em Imperatriz-MA e um apartamento em Piedade-Jaboatão/Recife, residências essas que repassei a terceiros, conforme

já mencionei anteriormente. Além destes, comprei diretamente com as imobiliárias quatro terrenos: dois nas praias de Goiana-PE, na região metropolitana do Recife – os quais, descobri depois, pelos jornais, eram de propriedade de outrem, e uma segunda imobiliária, provavelmente conivente, exigia quase o mesmo valor que eu e centenas de mutuários pagamos -, e outros dois lotes em Moreno-PE, também no Grande Recife, onde morei, quando voltei do Maranhão – os quais, transferi-os ao Condomínio do qual fui síndico, como já relatei páginas atrás. Recentemente, apesar de toda turbulência que enfrentei nesta capital piauiense, consegui comprar mais um terreno, do qual também me desfiz e sobre o qual discorrerei neste capítulo.

O jardim da nossa casa com o Tempra, e passeando com o saudoso Elvis

Quando cheguei à Teresina, passei algumas semanas em hotéis. Para trazer Sara e Rebecca, consegui alugar uma casa térrea, conjugada com à da dona, no seu prédio de 1º andar. Porém, ela falava muito e vivia em derredor, fiscalizando tudo – e reclamando também. Com seis meses, não suportamos mais e, quase pelo mesmo preço, nos mudamos para outra, no dobro do tamanho, seminova, toda na cerâmica e na laje, 3 quartos, sendo 2 suítes, mais banheiro social, vaga para vários carros, jardim, quintal, armários

D

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embutidos no nosso quarto e na cozinha, totalmente solta e murada. Era quase o total oposto da anterior e, Sara ficou encantada com ela.

O Dono morava em Alagoas e estava desocupada havia vários meses. Ele pretendia reservar para um amigo seu que viria trabalhar aqui. Para sensibilizar o corretor responsável, ofereci três meses de aluguel adiantados. Para nossa alegria, o proprietário aceitou.

Essa residência não era tão bonita e confortável como a de 1º andar do Robertinho, em Caruaru, com piscina, mas era, até aquele momento, a melhor moradia em que eu já estivera. Vendi um terreno equivalente ao preço dela, mas não consegui segurar o dinheiro: não comprei uma casa, ou terreno, nem paguei meus estudos. Só comprei um carrinho 1.0 e o dinheiro misteriosamente evaporou-se... Mais uma vez, não dei o DÍZIMO, embora, não estivesse novamente filiado a nenhuma igreja “de carteirinha”. Para não dizer que não doei nada, mandei certa quantia para Silva e uma irmã de Sara, a igreja onde ela congregou, no DF, e outras pequenas doações.

Foi nessa residência que fui assaltado, pela primeira vez em casa. Certa noite, após chegar da faculdade com certa quantia volumosa, que serviria para pagar aos professores no sábado próximo, mais algumas dezenas de cheques de alunos – os quais não quis depositar no banco para não ter o trabalho de emitir vários cheques como pagamento -, fomos dormir tranqüilos após o jantar e algum programa trivial de televisão. Pela madrugada, coincidentemente, faltou energia e, sem ar condicionado, o calor veio rápido. Levantei-me e abri a janela da copa, a do meu quarto bem como a porta deste para provocar uma corrente de ar. Mais adiante, acordo com um toque de sara na minha coxa: ela me dizia que tinha um ladrão no nosso banheiro.

De pronto, levantei-me e fui á janela da copa. Ali, vi os objetos da bolsa de sara pelo chão e um cabo de vassoura, com o qual o ladrão pegou a sacola dela onde estavam as chaves da casa. Peguei o cabo de vassoura e corri para o terraço já com a porta da sala aberta. No terraço, papéis e documentos espalhados pelo chão, minha pasta executiva aberta, um celular numa cadeira, a chave do carro noutra e o meliante simplesmente desapareceu silenciosamente com a agilidade de um gato, até porque havia um poste de luz bem encostado no nosso muro, que servia de perfeita escada e eu nunca desconfiei disso nem pus cerca nem cães de guarda. Ao rodear

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pela casa, vi a janela da sala com um dos pés da grade arrancado, pois tentaram arrancar a grossa grade de ferro, mas como viram a janela aberta e a bolsa de Sara dando sopa, foi mais fácil usar as chaves legítimas.

Com amigos (Aécio e Família) e vizinhos (Francisco, Rosa e amaiga) assistindo aos jogos da Copa-

2006; e Rebecca com a Priscilla, mãe do saudoso Elvis

Imediatamente, chamamos a polícia que, a bem da verdade, veio logo. Um vizinho, usou uma lanterna e espingarda para vasculhar um terreno baldio mas murado, bem no lado da janela que estava aberta. Mas, não havia nenhum vestígio dos ladrões, provavelmente dois, conforme Sara disse ter visto. Logo cedo, fomos à delegacia preencher um B.O., só por pura formalidade – pois nunca mais ouvimos falar do produto desse roubo. Houve até uma fugaz suspeita sobre certo rapaz que vivia por lá, pois, de fato, alguém devia saber que eu estava com dinheiro naquela noite! Depois disso, e já que eu não queria me arriscar em deixar dinheiro no banco, por causa das ações trabalhistas que existiam e vieram A surgir, comprei um cofre de parede que, coincidentemente, possui um segredo que é a minha data de nascimento. Não tenho mais tanto dinheiro para guardar nele, mas ainda mantenho esse saudoso cofre. Foi uma pena eu não ter recebido Silva no terceiro quarto dessa casa, quando ele apareceu por aqui, em ago/10. A partir desse assalto, uma aluna me arranjou um cachorro tipo pé-duro que batizei de Elvis. Ele veio a adquirir pedras da vesícula e tivemos que operá-lo. Adquiri uma fila que veio a falecer misteriosamente. Comprei uma pit-bull que, em duas semanas, faleceu também. Comprei mais uma, do

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mesmo dono, e a terceira Priscilla vingou e gerou filhotes, dentre eles o novo Evisque chegou a pesar 35kg, mas morreu com 1 ano e meio de outra misteriosa infecção que lhe corroeu o intestino, evacuando sangue. Corri para o hospital duas vezes, mas, mesmo com várias injeções, não resistiu àquela pavlovirose. todos nós gostávamos muito do Elvis desta foto. Não pensei que eu fosse gostar tanto de animais, especialmente dos temidos pit-bulls. [Mas, é só criá-los com carinho e não com violências como, comumente, se faz.]

O justo olha pela vida dos seus animais; porém as entranhas dos ímpios são cruéis.

Prov 12:10

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7º Retorno à AD e Batismo no Espírito Santo

anos é a minha atual idade evangélica! Três décadas! Trinta períodos de 365 dias! 1/3 de século de vida! São 30 páscoas que fazem que eu deixei a minha religião de nascimento e aceitei a Cristo naquela Igreja Assembleia de Deus, em Santa Inês-MA,

conforme já relatei em páginas passadas. Já falei também das várias crenças e igrejas por onde passei, mesmo

já tendo abraçado o Protestantismo Pentecostal, as quais foram:

1. Catolicismo 2. Ateísmo 3. Assembleia de Deus (saí e retornei diversas vezes) 4. Espiritismo 5. Rosacruz 6. Igreja Mórmon (De Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias) 7. Igreja Universal do Reino de Deus 8. Igreja Presbiteriana 9. Igreja Batista 10. Assembleia de Deus – (Mais um retorno.)

Templo-Sede da Assembleia de Medus – Madureira – Campo Monte Castelo-PI; e com o Vereador Ir.

Ananias Carvalho, ao centro, e seu Trio Elétrico, na Marcha para Jesus - 2009

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Naturalmente, pode não parecer louvável tal peregrinação ou turismo religioso. Dá a entender que eu não era sincero na igreja ou filosofia onde me encontrava. entretanto, afirmo que, em todas elas, me esforcei para absorver e aceitar ao máximo toda a doutrina que era pregada em cada segmento; mas sempre havia algo com o qual eu discordava e isso me trazia conflitos interiores e, às vezes, exteriores também.Porém, se é para o homem encontrar a Verdade, que ele vagueie por toda a face da Terra, mas que a encontre, e só assim será realmente livre, pois, como está escrito:

Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (Jo 8:32)

Deus colocou a ASSEMBLEIA DE DEUS no meu caminho,

certamente, com um propósito especial, pois, para onde eu vou “ela me persegue”!

Eu adquiri essa faculdade de um pastor assembleiano, e na época eu

estava afastado da outra – também Assembleia Madureira, porém de Brasília. Essa instituição teve seu primeiro vestibular nos bancos do templo de outra Assembleia Madureira, no bairro de Monte Castelo. Depois de eu lutar muito, contatando diversas outras faculdades – até com uma visita em vão ao interior do estado de São Paulo, fronteira com o Mato Grosso do Sul -, foram exatamente duas delas, dirigidas por pastores assembleianos, que me salvaram – apesar de algumas “sacanagens evangélicas” que tentaram me fazer. Minha atual companheira é filha de um falecido presbítero assembleiano (da Missão). E outros sinais mais que sempre me conduziram para o seio da Assembleia de Deus.

Durante a faculdade, quando estávamos no terceiro prédio, onde

funcionava o Colégio Metropolitano, de repente deparo-me, no volante de um carro parado dentro do prédio, no estreito corredor externo onde estacionávamos os nossos veículos, o meu ex-supervisor da Ag. Jaboatão do Banco do Brasil, o João Barbosa Lopes. Ele já morava em Teresina há sete anos e fazia parte do ministério da Assembleia Missão, do qual era também o pastor proprietário daquele colégio ao qual eu estava aliado, tentando também ajudar através de uma forma de fazer os alunos, egressos de outro colégio falido, voltarem a pagar suas mensalidades. Quando fui aos Estados

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Unidos pela primeira vez, foi o Barbosa que me deu o endereço de três irmãos

assembleianos que moravam na Califórnia. Mais adiante, deparo-me novamente com esse pastor ex-colega do BB na Faculdade Sto Agostinho, onde fiz com ele algumas matérias. Saí, tranquei o curso, mas ele continuou e já se formou. Neste mês de julho/11, o Pr. Robson,presidente da ASSIP – Associação Interdeno-minacional de Pastores, me convidou para a entrega do título de Utilidade Pública à sua

entidade, e lá, depois de alguns anos, encontro o ex-colega, que hoje é tesoureiro do campo da Missão no Piauí e Superintendente do campo Aeroporto, na capital. Aproveitei a oportunidade e entreguei-lhe meu currículo e meu projeto do English Gospel para sua igreja, caso lhe interesse.

No início de 2009, depois de ter acabado todo o dinheiro do terreno que vendi, idealizei um curso de inglês para evangélicos, usando a Bíblia e cânticos como base de estudo – o English Gospel. O primeiro pastor que me veio à mente para tentar implementar tal projeto foi o Pr. Carlos Nogueira, presidente da mesma Assembleia de Deus - Madureira, Campo Monte Castelo – que abrange todo o Estado do Piauí, com mais de cem congregações. Foi naquela sede onde a própria faculdade começou, em 2001, na gestão do seu antecessor pastor, cujo filho - o excelente cantor Edmésio - ainda se congregava e morava. No momento em que falei do assunto ele concordou prontamente e me convidou para fazer a explanação do curso no culto daquele domingo próximo.

Nessa ocasião, estava programado um Seminário de Líderes,

ministrado pelo jovem e simpático Pr. Windson, de Goiás. Aceitei o convite de participar, apesar de nem poder pagar minha própria inscrição – e a de Sara e

Ver. Cel. Edvaldo Marques, eu. Pr. Barbosa, Major

Avelar, Pr. Robson

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Rebecca, que mesmo sendo inda pequena, ganhou seu certificado de participação.

Durantes esses três dias de evento, aconteceram coisas interessantes na minha vida, lembrando em muito o meu início no evangelho, em S. Luis-MA e noutras cidades. E a conclusão de tudo é que, aquilo que eu buscara por muitos anos na Assembleia, e que era e é perseguido por todo crente pentecostal, eu adquiri sem imaginar que fosse ali, naquele local: O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.

Para os que não acreditam, trata-se de um momento de grande

alegria espiritual, no qual louvamos a Deus por tudo e nos arrependemos de todos os nossos pecados de uma forma muito profunda e celestial, podendo ou não falar em línguas estranhas, que, necessariamente não é uma língua oficial de algum pais – como em Atos 2:1-8 -, mas uma língua dos anjos o que, para nós, expressa-se como um engrolar da língua. Sara permanecia sentada na cadeira, ao meu lado, e Rebecca, depois de me ver, orando e chorando e de braços erguidos, levantou-se e ficou ao meu lado.

Sara, Pr. Carlos Nogueira – Presid. do Campo -, eu, Evang. Pr. Windson, Rebecca, no dia da nossa

decisão em nos congregarmos naquela Igreja

Diante de tal inquestionável e extremamente audível sinal, após o culto, chamei aquele pastor e disse-lhe que queria reconciliar-me com a Assembleia. De pronto, ele deu um glória alto e chamou o pastor preletor e oraram por mim., No culto da noite, naquele domingo, 29.04.2009, retornei

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publicamente à igreja onde eu conhecera um povo que adora a JESUS CRISTO sem timidez e com expressa alegria espiritual.

Com Sara, Reb e o filho do Presidente Nacional das Assembleia de Deus-Madureira,

Pr. Samuel Câmara, do Brás, São Paulo; e cantando o inglês gospel na minha congregação do

Monte Castelo, Teresina (2009)

(Este testemunho a seguir, nos Anexos e no site:

http://www.webservos.com.br/gospel/testemunhos/testemunhos_show.asp?id=2990&cat=6 [Em: Bênçãos Diversas – Test. nº 483] Obs.: O e-mail ali mencionado está inativo.)

Assim, prestes a completar três décadas de evangelho em minha vida – embora, tendo transitado por outros nomes, mas com o mesmo “espírito de amor de conhecimento do evangelho de Jesus Cristo” – voltei ao ponto de partida.

Passados quase dois anos desse meu regresso, um jovem pastor da cidade vizinha de Timon, ligado ao Ministério do qual eu fazia parte, resolveu se desligar daqui e abrir sua própria igreja. embora ele tivesse falhado enormemente comigo quanto a alguns compromissos que marcamos – pelo que eu lhe apelidei de “Mateus 5:37” (onde Jesus condena a quebra de palavra) -, fui visitá-lo, inclusive, num bairro vizinho ao meu.

A partir desse encontro, ele já me encomendou um jornal para sua igreja – semelhante ao que eu fizera para a minha igreja – e fui me aproximando. Mais adiante, convidou-me para pregar. Não saí do meuministério, mas fui me tornando cada vez mais assíduo ali – praticamente,

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todo dia eu ia lá. Doei uma mesa para o púlpito, um armário de aço para seu futuro gabinete, uma cadeira estofada, e uma divisória naval que fora do meu escritório da antiga faculdade, a qual instalei na sua igreja, fazendo o seu gabinete pastoral, e ajudei em todas as demais necessidades materiais daquela neo-denominação. Aparentemente, tudo ia se encaixando.

Fui ao meu pastor, e me despedi de sua igreja. O atual jovem pastor

acenou com promessas de ajuda material e grande projetos nacionais e até internacionais. Fui cantando, preparando estatuto e até arranjei um programa de rádio para a igreja. Disse-me ele que eu já era o secretário da sua igreja.

Entrementes, uma senhora formulou uma anti-cristã calúnia (se é que existe calúnia cristã) contra Sara e, como ele não tomava partido nem providências pastorais, eu e ela fomos nos afastando. Ele me ligou depois e retornei. Mas, ainda aconteceram gestos de desorganização e descaso para com a minha própria pessoa e resolvi se afastar até alguma manifestação concreta da sua parte – fato que não aconteceu mesmo. Assim, colecionei mais esta decepção religiosa, o que demonstra com cristalinidade espantosa a verdadeira “carnalidade” existente nas igrejas de hoje - e que não é tão combatida como as doutrinas e preceitos impostas por homens (vide Anexo) -, conforme o Apóstolo Paulo lamenta:

Cantando na neo-igreja

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E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Leite vos dei por alimento, e não comida sólida, porque não a podíeis suportar; nem ainda agora podeis; porquanto ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja e contendas, não sois porventura carnais, e não estais andando segundo os homens?

ICor 3:1-3

Poucos meses após a minha saída, essa igreja fechou a sede e uma congregação que abrira, tendo o jovem pastor voltado ao ministério anterior, ficado com algumas ferramentas minhas e uma peça da academia de ginástica que ele me comprara e devolvera pouco tempo depois...

Depois de tudo isso, vi-me compelido a retornar à mesma Assembleia que, embora seu Pentecostalismo me agrade e se encaixe nas minhas necessidades espirituais, sofro muito com tantas proibições desnecessárias que, na verdade, são apenas imposições dos homens que a dirigem e que, com o passar das décadas têm caído, aqui e ali, uma ou outra dessas Doutrinas e Preceitos de Homens.

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1º emprego com CTPS após 15 anos de BB

(num Presídio)

Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também.

Lucas 6:31

epois de ter passado o ano de maior depressão financeira me minha vida, especialmente, depois da falência da faculdade, consegui um emprego de carteira assinada no início de 2010.

O cunhado da Joana - esposa do Aécio, cuja família foram praticamente os únicos amigos que restaram do extinto Teresina Elvis Club – fora prefeito de Timon e deputado estadual - inclusive proprietário da Rádio Planalto Formosa, em Timon, onde mantive o Encontro com Elvis por cerca de 2 anos. Através dos seus contatos políticos, ela me ofereceu uma vaga de monitor de disciplina, que é o mesmo que carcereiro terceirizado no Presídio de Caxias-MA. A princípio estranhei tal profissão, embora já possuísse o curso de vigilante, mas minha necessidade era maior do que minhas preferências ocupacionais e, assim, prontamente aceitei. Houve um pequeno treinamento no Batalhão da PM de Timon, com aulas teóricas e prática de defesa pessoal e, finalmente, em Fev/10, assumi no presídio daquela cidade maranhense a cerca de 60 km de onde eu morava. Pela minha natureza filosófica e religiosa este seria o último dos últimos lugares onde eu pensaria em trabalhar algum dia. O máximo que fiz – e com certa relutância – foi aquele concurso para a Polícia Civil de Goiás, conforme já narrei, e ter sido um dos diretores da cooperativa de vigilantes, em Brasília. No dia da posse, com a presença do Secretário de Administração Penitenciária do Estado do Maranhão, o instrutor, agentes penitenciários, todos os monitores e alguns parentes, eu comecei a contemplar o ambiente em que passaria meus turnos de 12 X 36h, preferencialmente à noite, face ao meu plano de voltar a estudar. Enquanto via alguns presos soltos, circulando por ali e uma outra presa [ou interna, como éramos orientados a tratá-los] sorrindo para mim, fui imaginando coisas e minha pressão sanguínea começou a subir inexoravelmente. Comecei a me preocupar se realmente

D

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aquilo era para mim e se eu iria agüentar aquele ambiente de trabalho. Orei, respirei fundo e me controlei até terminar a solenidade da posse.

Saindo do meu plantão noturno, do Presídio Regional Jorge Vieira – Timon-MA

[Sara bateu esta foto enquanto Silva me esperava no seu carro.]

O mal-estar foi passando e o inspetor [nada gentil!...] foi formando as equipes que já estariam trabalhando a partir daquele instante. Eu tinha sido escalado para aquele mesmo turno diurno. Mesmo a contra-gosto do inspetor, recorri ao instrutor que me permitiu ficar na equipe noturna e começar na noite seguinte, pois eu não tinha como cochilar um pouco por ali, a fim de poder passar uma noite inteira acordado.

As primeiras noites de trabalho foram de muita expectativa: o ambiente era tenebroso, conforme eu já sabia por livros e reportagens – fatos que sempre me revoltaram, especialmente no tocante a torturas físicas, que eu esperava nunca presenciar por ali. A nossa comida vinha de fora, pois não havia cozinha naquele presídio – uma Casa de Custódia. Era um prédio antigo com um vasto terreno onde os próprio internos plantavam milho, verduras e demais legumes. Após a nossa chegada, por determinação do diretor, meu xará, pararam de plantar. As celas eram pequenas, imundas, insalubres e quase sem ventilação. Certa noite, um interno tentou – ou simulou – um enforcamento de si próprio e eu mal consegui entrar naquele cubículo, deixando os demais colegas irem para o fundo do cubículo tirar o rapaz pendurado na grade do banheiro – peguei-o pelos pés. Coincidentemente, tal ocupação vinha perfeitamente ao encontro da minha monografia – O Sistema Prisional de Teresina -, permitindo-me ter uma idéia in loco daquela realidade que, frontalmente e em diversos aspectos, viola

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as determinações da Lei de Execuções Penais e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, não somente por esta região, mas praticamente em todo o Brasil, pelo que – e antes disso - todo policial e agente penitenciário deveria observar o mandamento de Cristo que abre este capítulo (Lc 6:31) - será que eles gostariam de serem tratados, se presos fossem, como tratam um preso?... Quando de plantão, eu não os tratava a pão-de-ló, mas como a seres humanos, carentes de mínimas coisas, tal como uma simples caneta... Eu ia sempre de Teresina a Caxias ainda no meu Fiesta. Para diminuir os gastos, às vezes levava um ou dois colegas ou mesmo passageiros da beira da estrada. Depois tive de vender o carro e, de van e ônibus, saía mais caro ainda, além de aumentar o tempo gasto no percurso. Mesmo com a rigidez burocrática e visivelmente desprezadora da empresa, cuja sede fica em Fortaleza e possui um escritório em S. Luis, consegui enviar um e-mail para o então simpático instrutor – cuja esposa era membro da IURD - e, finalmente, consegui transferência para Timon, a apenas uns 10km de casa. No Presídio de Timon, eu teria de passar pelo menos um mês durante o dia até poder conseguir uma vaga à noite. Agüentei o tranco – pois o serviço é realmente mais forçado e bem mais movimentado do que á noite, principalmente por conta do sol, em virtude da inexistência de guaritas apropriadas para proteção contra sol e chuva. Voltei para a noite e, no 2º semestre de 2010, entrei noutra Faculdade de Direito. Como esse serviço faz parte de um projeto de privatização dos presídios brasileiros, cuja ocupação de “monitor de disciplina” ainda não existe oficialmente, pelo que também não existem sindicatos, comecei a alimentar aideiada fundação do nosso sindicato e a disseminei entre os colegas. Pronto! A partir daí, meus superiores começaram a me olhar com desconfiança, apesar da consideração que, a princípio, eles tinham por mim – eu era o segundo mais velho daquela leva de funcionários contratados – cerca de oitentatreinados.Eu queria fundar o SINTERPRI – Sindicato dos Monitores de Disciplina Terceirizados no Sistema Prisional do Estado do Maranhão. Naturalmente, eu não queria ser ingrato aos meus amigos que me conseguiram tal ocupação, inclusive após profunda necessidade. Entrementes, eu não podia compactuar com tantos descasos e desrespeitos – tanto contra a minha pessoa mesmo como a dos colegas ales de vários

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desrespeitos à legislação trabalhista vigente. Por conta disso e de outros pensamentos conservadores e intimidadores, ninguém tinha coragem de ousar sequer questionar o cálculo do adicional noturno que deveria ser, de no mínimo, 20%, e que eu descobri logo no primeiro contra-cheque, que era-nos creditado apenas cerca da metade! Nem isso a empresa respeitava integralmente, não obstante um contrato de mais de duas centenas de milhões de reais anuais com o governo do estado...

Silva com seus dois filhos e Netinho, à beira-mar de Olinda - 2010

Preparei jornaizinhos e distribuí panfletos para nossas reuniões. Solicitei o plenário da Câmara dos Vereadores em Timon e marquei o dia da nossa Assembleia de Fundação: ninguém compareceu – nem aqueles que pretendiam fazer parte da chapa!... O medo generalizado era intransponível! Tendo um colega X-9 (espião) levado uma das minhas cartas enviadas aos colegas de uma equipe – pois eu já vinha sendo remanejado deoutra -, uma diretora de Fortaleza e o Inspetor de s. Luis, sabatinaram-me sobre a tentativa de fundar o sindicato. Poucos dias após tal reunião, eu fui desrespeitosa e autoritariamente transferido para o dia. Esperei alguns dias, na esperança de voltarem atrás, mas tive de entrar com uma ação judicial trabalhista para retornar ao serviço noturno, pois eu tinha de continuar meus estudos.

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Depois de dois meses sendo frontalmente perseguido pelo inspetor e seus puxa-sacos, e tendo batido boca de forma incisiva, mas educada e dentro dos meus direitos de defesa proletária, ganho a causa e retorno imediatamente ao turno de origem. Entretanto, não dando o braço a torcer, com menos de um mês do meu retorno, quando eu já ia me fortalecendo sindicalmente e preparava a efetiva assembleia da fundação do sindicato, a empresa me demite sumariamente, sem ao menos permitir-me cumprir o aviso-prévio de praxe – pagando-mo em espécie, na rescisão. Mais uma vez, impetro outra ação, com pedido de liminar, mas o juiz não viu necessidade de deferi-la e tive de aguardar sete meses para ter a sentença. Embora, após a minha saída, tivessem demitido cinco colegas que pretendiam fazer parte da diretoria do futuro sindicato, todos estavam com medo – e muito – de depor a meu favor. Só na terceira audiência é que consegui levar a principal das três testemunhas, sendo uma delas o funcionário da CUT-Teresina, que militava há vários anos na fundação – e perseguição, recebida – de sindicatos. E, mesmo assim, essa terceira testemunha titubeou ao final e simplesmente disse que “não se sentiu perseguido pela empresa”... Conquanto eu tenha adicionado jornais, panfletos, ofícios, até fotos, e ter feito uma embasada petição de dezesseis páginas, além de outras demonstrações, o juiz – sobre quem até surgiu um boato de ser primo da atual prefeita, que é esposa do deputado influente na empresa do presídio – julgou no final de junho como não havendo indícios de perseguição sindical, mas concedendo-me o cálculo correto do adicional noturno mais o valor do transporte de Teresina a Caxias, cujo depósito deverei receber a qualquer momento. Estou recorrendo quando à perseguição e o pedido de reintegração ao serviço.

Um dos panfletos do futuro Sindicato que

distribuí entre os colegas do presídio

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Memórias de Meio Século 376 [email protected]

O valor total dos meus direitos trabalhistas, felizmente, calculados corretamente – salvo uma insignificante verba, que eu já tinha ganho no primeiro processo -, permitiu-me comprar logo uma moto Honda-Fan 2005 a fim de eu parar de andar de ônibus - especialmente, para poder retornar ao trabalho -momentos em que eu tinha de pegar quatro comboios. Quando eu estudava na faculdade que também fica em Timon, chegava a pegar de 07 a 08 ônibus num período de 24 horas. Diante desse confronto, suspeito que a família dos meus amigos fã-elvis não gostaram muito da minha atitude, conquanto fosse pela defesa dos meus direitos. Não querendo ofendê-los, sequer entrei no mérito da questão quando dou-lhes alguma notícia. Gostaria que entendessem que não foi nada pessoal, e muito menos direcionado à pessoa do ex-político parente deles. Sinceramente, agradeço a todos eles e que Deus os recompense, principalmente, dentro da honestidade e da justiça que são características intrínsecas do próprio Deus. Ainda espero retornar ao trabalho –e fundar o sindicato!” - e/ou ganhar uma justa indenização.

Meu novo veículo de transporte familiar e profissional

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Tempo de Vacas Magras

A mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam,

para o bem deles. Esdras 8:22

relato da revelação do sonho do Faraó do Egito, feita pelo servo de Deus José, registrado em Gênesis 41:14-32, nos traz a lição de que devemos ser sábios e prudentes no manuseio dos recursos materiais

que são, naturalmente, exauríveis. Sem dúvida, aquele José do Egito foi bem melhor administrador do que este aqui. Infelizmente, até a bem pouco tempo, eu não aprendi tais estratégias nesse sentido. Teresina, quando cheguei aqui, era tida como a capital de menor renda per capita do Brasil, igualmente o estado do Piauí. Hoje, depois do mandato duplo do simpático Governador Wellington Dias, do PT, o Estado passou de último para penúltimo – já foi uma evolução. A capital permanece com sua posição. É portanto uma das cidades de menores perspectivas para emprego e investimentos empresariais, apesar de grandes supermercados que surgiram nos últimos sete anos. Mas, praticamente, não há indústrias. A Bike Houston parece ser a maior fábrica de bicicletas do Brasil, do grupo Claudino, da famosa rede de lojas de departamentos chamada Armazém Paraíba, Mas, as outras são pequenas ou micro-indústrias.

Sara com Silva e seu EcoSport, em sua visita – Ago/10, em frente à nossa atual residência, e eu e

ele em frente à nova Ponte Estaiada de Teresina

O

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Memórias de Meio Século 378 [email protected]

Todavia, acho que foi Deus que me enviou para cá. A faculdade seria um grande projeto, se vingasse. Hoje, haverá mais algo para mim, por aqui? Esta é uma das perguntas que faço a Deus constantemente – e estou buscando uma resposta través de orações e sinais. O que me restou dessa faculdade foi um terreno que, providencialmente, comprei na época quase pela metade do preço. Em questão de dois anos, pressionado pelas necessidades, vendi-o pelo dobro do preço. Só depois, descobri que, em apenas um ano, ele dobrou novamente de valor, e, hoje, estaria valorizado numa cinco vezes mais aquela quantia que paguei há seis anos atrás. Isso correspondia exatamente ao valor da bela casa onde residimos durante cinco anos, que relatei em páginas passadas.Mas, quando o vendi, era pouco mais da metade do que o proprietário da casa pedia – e eu não tinha o restante. De posse do dinheiro, fui pagando dívidas, comprei um carro pequeno e reservei o restante para a conclusão do meu curso de Direito e a manutenção mensal por cerca de dois anos. Que cálculo errado eu fiz!... Em apenas seis meses, o dinheiro evaporou e, depois da minha viagem a Pernambuco, com a batida do motoro do carro, a situação piorou aos extremos. Fui vendendo – e ainda estou - o que me restou da empresa falida: carteiras universitárias, lousas, livros, mesas, cadeiras e tudo o mais que pudesse gerar algum dinheiro. A minha igreja me ajudou várias vezes com cestas básicas. Espalhei currículos com políticos e grandes e pequenas empresas. Tentei ser vendedor de purificadores de água. Por fim, no início de 2010, consegui aquele emprego no presídio, conforme já mencionei. Uma das comidas da minha infância de que eu realmente não gostava era cuscuz. Nem com leite me agradava, muito menos só com margarina! Hoje, muitas vezes, cuscuz com margarina tem sido meu café da manhã e o jantar... Como está escrito:

Derrama as inundações da tua ira, e atenta para todo soberbo, e abate-o. Olha para todo soberbo, e humilha-o.

Jó 40:11-2

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Eu andei exaltado por muito temo.Logo,foi chegada a hora do meu processo de humilhação. Cheguei a ganhar a última administradora da minha faculdade, a qual me impediu de tomar posse, execução essa que tento efetuar apesar de ela ter mudado de endereço e eu não estar achando bens em seu nome.

Últimas Fotos (provavelmente tiradas na Bahia.)que tenho das minhas filhas – obtidas pelo Orkut:

Sarah com seu marido, à esq., e Graça e Fátima, à dir. Na 2ª foto, Graça e Sarah.

Em agosto de 2010, recebi a surpreendente visita de Silva na minha humilde casa – não era aquela outra “suntuosa” residência dos meus sonhos. Visitamos alguns endereços da sua Congregação Cristão no Brasil, ele me levou ao presídio, onde eu estava trabalhando, várias vezes e tomamos lautos e saudosos café e lanches em lanchonetes que há tempos eu não visitava. Comprou alguns itens para nossa cozinha e encheu-nos de presentes e benesses. Após retornar ao DF, passou a enviar-me certa ajuda mensal que perdurou até a pouco. Isso, aliado ao meu pequeno salário, permitia-me manutenção da família, desconsiderando escola da Reb e minha faculdade – que, mais uma vez, tive de trancar. De todos nós três, visivelmente, Silva é que detém a melhor situação econômica, já tendo sua casa própria, um belo e confortável carro, tudo isso proporcionado por um emprego público do GDF – Governo do Distrito Federal – que hoje lhe garante um invejável salário e outras vantagens trabalhistas. Essa posição era, antigamente, ocupada por mim, durante muito tempo. Mas, tanto ele quanto eu sabemos que, diferentemente do que a sociedade prega [“o homem vale pelo que ele tem materialmente.”], Jesus nos ensina o oposto:

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Memórias de Meio Século 380 [email protected]

A vida do homem não consiste na abundância dos bens que possui.

Lucas 12:15

Obviamente, pela falta de pagamento, perdi meus planos de saúde. e foi nessa ocasião, em 2009, que tive minha mais dolorosa crise renal, conforme relato no capítulo específico. No meio de tudo isto, gostaria de sentir o espírito das sábias palavras ditas pelo apóstolo Paulo que, depois de perseguir mortalmente os cristãos, tornou-se um crente fervoroso e, portanto, passou a ser perseguido tenazmente pelos seus próprios ex-companheiros de religião e de política:

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte.

(IICor 12:10)

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Minha Nova Família

amília verdadeira é aquela em que há amor, respeito, cooperação e alegria, pois onde Deus está presente, essas virtudes também reinam. Não é pelo fato de se ter assinado um documento que um casal irá se

amar de verdade. Atualmente, meu estado civil é “separado judicialmente”. Vivo com a Sara maritalmente, ou seja: é, juridicamente falando, um concubinato Os evangélicos condenam tão ajuntamento e o denominam de fornicação, conforme a Bíblia quererá dizer. Pessoalmente, não vejo por esse lado. Conforme já relatei, conheci sara na Cooperage, aonde ela foi para trabalhar, atendendo um anúncio de jornal que pus. Ela era divorciada, tinha uma filha e morava com sua mãe, num apartamento do Cruzeiro Novo – Brasília. Em pouco tempo de namoro, passamos a morar juntos, em Taguatinga, e a Rebecca, passava a semana no Cruzeiro, com a sua avó, por causa dos estudos no Colégio Ciman. Aqui, em Teresina, ela foi a minha Diretora Financeira no Isefit, e concluiu o curso Técnico em Enfermagem. A Reb – como gosto de chamar a Rebecca – tem 13 anos e faz o 8º ano no Colégio CPI, onde os alunos da minha ex-faculdade tiveram suas últimas aulas.

Numa festa junina e noite de autógrafos no colégio CPI

F

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Uma família é construída pela união, não apenas dos corpos, mas dos esforços de cada um dos cônjuges e, posteriormente, com a colaboração dos filhos que vão crescendo e sendo responsáveis. Se o chefe familiar pode manter tudo sozinho, ótimo. Porém, se ele se torna insuficiente em certas ocasiões, logo a presença marcante da companheira ou dos filhos, torna-se indispensável para a manutenção da felicidade desse lar. Família não é apenas o ajuntamento, sob o mesmo teto, de várias pessoas unidas pelos laços de parentesco Se pudermos afirmar como o sucessor de Moisés, teremos mais chances de termos êxito e prosperidade conjunta:

Eu e a minha casa serviremos ao Senhor. Josué 24:15

Rebecca com a nossa Priscilla

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Memórias de Meio Século 383 [email protected]

Conclusão

As coisas que olhos não viram, nem ouvidos

ouviram, nem penetraram o coração do homem, são

as que Deus preparou para os que o amam.

ICor 2:9

e você leu até aqui, agradeço muito pela sua preciosa atenção. Se não leu, peço-lhe encarecidamente que LEIA ao menos as partes que lhe interessarem a fim de que possa ter uma idéia mais verdadeira e

realista do que chegou ao seu conhecimento pelo famoso “ouvi falar”.

Esta Obra é, de fato, inconclusa. Pela misericórdia divina, cheguei até este final, e espero algo mais pela frente. Talvez, não obtenha a outra metade deste meio século – se bem que louvaria muito a Jeová por tal bênção -, mas estará de bom tamanho a metade disso – naturalmente, sempre com saúde e lucidez. Já passei por 26 endereços diferentes, em 11 cidades de 06 estados brasileiros. Mas, ainda não posso dizer que vou parar, pois só Deus sabe do nosso real futuro. Decerto que os acontecimentos aqui relatados mereciam uma bem maior atenção, com mais detalhes. Porém, isso daria muitas mais páginas mais, que, se Deus mo permitir, quem sabe, eu o faça futuramente. Hoje (Dez/2011), faço um estágio-parceria num escritório de advocacia em Timon-MA e aguardo a convocação do IBGE para uma das 32 vagas de Agente de Pesquisa e Teresina – o mesmo concurso em que passei em Brasília e, sendo temporário, fiquei 2 anos – e espero ficar no tempo máximo ali. Em Jan/12 devo matricular-me numa faculdade para fazer o último período de Direito e, talvez antes mesmo de terminá-lo, fazer logo o Exame da OAB.

Devido a impedimentos vários para poder concluir, imprimir e postar esta Carta no mês de Agosto, como pretendi,esta Conclusão só está sendo feita neste final de ano, depois de mais uma visita de Silva - que passou por Bezerros - juntamente com o Ir. Severino, de Bezerros-PE, que, verdade seja

S

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dita, veio aqui enviado(s) por Deus para me socorrer – tanto materialmente, como espiritualmente -, inclusive, trazendo-me generosa dádiva de Netinho. Saíram de Teresina com destino à Brasília em 08.11.11. Com esta visita espiritual, percebi que, a despeito dos anos e das insuficiências minhas, devo cumprir aquele meu desejo de adolescente, que é o de servir a Deus, independentemente da placa de denominação eclesiástica ou de meios. Um dos vários (talvez, muitos) sinais que Deus me tem dado foi, como já narrei, o filme Jeremias, que Ele me compeliu a assistir, quando fui a Pernambuco – sob o pretexto de fazer provas de concursos em Maceió -, ocasião em que bati o motor do carro, passei mal no ônibus e fui obrigado a hospedar-me num motel à beira da estrada e a ligar a TV. Sei que não tenho a habilidade de relações humanas que os pastores devem ter, e outros atributos necessários. Todavia, Deus pode me guiar através das várias situações para levar Sua Palavra e Seu Consolo a este Mundo que, não muito diferente do que eu via quando garoto e jovem sonhador, perece pela ganância e materialismo já cristianizado pela esperteza de muitos. Dentre os vários projetos que ainda pretendo realizar, tenho: abrir meu escritório ou continuar da atual parceria jurídica, fazer mais concursos na área jurídica, dar alguma contribuição no campo evangélico, poder reconquistar o coração das minhas filhas, estabelecer metas para uma feliz e profícua vida conjugal e familiar, dentre outros. Estes são “os meus”! Entrementes, se Deus não puder ratificar estes projetos e possui outros planos na minha vida, QUE SEJA FEITA A SUA VONTADE, mesmo que em detrimento da minha! Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, e eu respondia que queria ser padre, do Alto, esta Palavra certamente me era dirigida:

Antes que eu te formasse no ventre materno te conheci, e antes que saísses da madre te consagrei e te constituí profeta às nações.

Jeremias 1:5

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Lamentável foi que não respondi prontamente como o jovem Samuel:

O Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui.

ISamuel, Cap. 3

Sobretudo, há ainda muitas promessas inesgotáveis e atemporais do nosso Deus para cada um de nós, como está escrito:

Eu sou Deus; também de hoje em diante, eu o sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?

Isaías 43:13,18

Daí porque eu achar que esta obra está INCONCLUSA.

Que Deus abençoe a todos! Com muitas saudades!

Zito

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Memórias de Meio Século 386 [email protected]

Ane

xos

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ABORTO

DE UM SONHO

ACADÊMICO

Janeiro - 2007

Livro que planejei escrever e distribuir entre os alunos por ocasião

da Formatura, mas faltaram-me tempo e recursos financeiros.

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Memórias de Meio Século 389 [email protected]

O meu povo padece por falta de conhecimento. (Oséias 4:6)

Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 8:31)

ÍNDICE

ANTECEDENTES

PROLEGÔMENOS

2004.01

2004.02

2005.01

2005.02

2006.01

2006.02

CONCLUSÃO

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Memórias de Meio Século 390 [email protected]

2004.01

a tarde de 24 de maio de 2004, sozinho, desembarquei no Aeroporto

Internacional Petrônio Portela de Teresina-PI, carregando, nas mãos, uma

mala com poucas roupas e uma pasta de documentos; e no coração a

expectativa alvissareira de administrar uma instituição que estava passando por uma fase

quase terminal e que eu nem sabia do diagnóstico completo. Não conseguia imaginar os

desafios que enfrentaria.

Peguei um táxi que me levou ao Hotel S. José, apenas duas ruas transversais

abaixo da Faculdade, o qual possuía e possui uma agradável piscina para atenuar o

causticante calor desta Capital – “conforto” este que me fez deixar de lado o mais bonito e

equipado Piauí Palace Hotel, onde fiquei hospedado por uma semana com o meu

“acompanhante fiscal”, no ano anterior.

Almocei, descansei um pouco, cochilei um pouco e fui logo para a piscina,

preparando-me psicologicamente para o dia seguinte.

Ainda pela tardinha, dei uns telefonemas dos contatos que trouxe de Brasília e

com quem já estivera no ano passado

À Noite, jantei, dei uma rápida volta pelas escuras ruas do Centro, nas

proximidades do Hotel, passando pela Pça Saraiva, indo até à Pça. Pedro II, cenários esses

que me deixavam pensativo quanto à “arquitetura moderna” que encontraria em Teresina,

cidade onde eu iria residir por um bom tempo – até quando Deus mo permitisse.

(...)

No mesmo dia em que cheguei, contatei um advogado indicado pelo pessoal do DF, o qual poderia me ajudar. Encontramo-nos naquele mesmo dia. Ele era – ainda deve

ser – funcionário da Prefeitura daqui e, então fiquei sabendo,, fora advogado da própria

diretora escolhida “interinamente” na época do “choque” , e, assim, ele se mostrava

“impedido” de adentrar comigo àquela dependência para a minha tentativa de posse. Tive

de ir sozinho.

No Dia seguinte, logo cedo, preparei-me, peguei a pasta com a ata de nomeação e

posse e me dirigi ao prédio que ficava à Rua São Pedro, a apenas uns 200m do Hotel onde

eu me hospedara.

Havia só uns dois funcionários da faculdade – a zeladora, Ir. Dulce, era uma

delas. Parece-me que havia também um dos professores. A diretora me recebeu com

cinismo, dizendo à queima roupa: “Trouxe dinheiro (para investir na Instituição)?” Percebendo o cinismo dela, respondi-lhe prontamente algo do tipo “Vamos primeiro

N

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Memórias de Meio Século 391 [email protected]

analisar a situação”. Dei-lhe cópia da ata da minha posse no cargo de Diretor-Presidente,

substituindo plenamente o antigo diretor do DF, possuindo pois plenos e totais poderes

sobre a Instituição que ela estava provisoriamente administrando.

Lendo o documento, com um nervoso sorriso sarcástico, ela meneou a cabeça e

ligou logo para sua advogada que ficou de ir ali no dia seguinte. Tentei contemporizar a

situação, mas ela foi inflexível e até zombeteira. Cumprimentei-lhe e retirei-me

executivamente.

No dia seguinte, ela reuniu sua cúpula, formada por seu marido, certo

engenheiro, uma das professoras e sua secretária. Sozinho, entrei, cumprimentei

individualmente a todos e me sentei na ampla sala que eu deveria ocupar por legítimo

direito. Esperamos sua advogada que ligou informando de certa audiência, pelo que só

poderia vir no dia seguinte, na mesma hora.

Mesmo assim, iniciei a reunião explicando da minha posse e de que eles deveriam

entregar seus cargos, até porque aquela nova instituição que eles espuriamente criaram

sobre a antiga – pois já tinham agido aleivosa e rapidamente na criação de outro CNPJ – não tinha nenhum valor legal sobre a verdadeira e antiga faculdade.

Mais uma vez, recusaram-se a reconhecer o valor legal dos documentos que eu

lhes apresentei e marcamos a reunião seguinte, dessa vez, com a presença da advogada

deles. Cumprimentei individualmente a todos e retirei-me polidamente daquele recinto.

Durante o resto dia fui me aproximando do 1º DP, na Pça Saraiva, onde estava a

queixa contra a Instituição, e eu precisava ver o teor da mesma para as devidas

providências de defesa à Casa que eu pretendia administrar e deseja colocar logo “o trem

nos trilhos”.

À noite, procurei ler meus papéis e anotações, orar, ver algum programa de TV

local para conhecer melhor a os fatos da cidade onde eu iria morar pelo tempo que Deus

permitisse. No 3º dia, de posse dos meus direitos irrevogáveis e plenos, retornei àquele

prédio. O mesmo grupo de diretores já se encontrava. Faltava a advogada que, alguns minutos depois. chegou.

Embora houvesse ali uma doutora da lei, já era de se esperar que, mesmo na

mais cristalina razão a meu favor, aquela senhorita não cederia facilmente à minha

petição amigável. Até o PCC tem seus advogados que, obviamente, defenderão os direitos

dos seus meliantes.

Enfatizei à doutora e a todos, indicando-lhes a ata de posse e demais

documentos, que eu era o legítimo diretor daquela Instituição e que eles estavam obstruindo a minha posse legal, líquida e certa.

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Memórias de Meio Século 392 [email protected]

Nada adiantou, foram frios, inflexíveis e, até certo ponto, irônicos: não me

concederiam sentar-me naquela poltrona, naquela sala!

Uma vez mais, individualmente, cumprimentei a todos e saí daquela sala

diplomaticamente, sem perder em momento algum a compostura, a minha certeza e

esperança de assumir o cargo e a Instituição para a qual me desloquei mais de 2.000km. A

Ir. Dulce estava por ali, como que orando pelo destino daquela, embora ferida e

bombardeada, amável Casa.

Todavia, e para minha surpresa, vale salientar aqui o propósito maquiavélico e

ardiloso daquela diretora espúria: conquanto eu tivesse, o tempo todo, usado de polidez

para consigo e toda sua equipe, depois dessas nossas reuniões, ela teve a frieza de ir a

uma delegacia e abrir um Boletim de ocorrência registrando que eu entrei naquelas

dependências “com violência e palavras de baixo calão”e etc. e tal!

Veja-se pois até que ponto a criatura humana feita “à imagem se semelhança de Deus”

pode se transformar na indesejável figura do Demo....

Fui direto para o Hotel, ajoelhei-me e busquei uma orientação calma, sensata e forte o bastante para derrubar a muralha que se levantava contra mim. Tomei banho,

almocei, descansei e dei uns telefonemas locais e interurbanos.

(...)

Através do amigo advogado da Prefeitura que, por sinal, emprestou-me o

dinheiro para as despesas processuais, consegui um jovem profissional que simpatizou

com a minha causa e prontificou-se a entrar com um processo com pedido de liminar, sem

honorários antecipados, na esperança de eu assumir imediatamente na Instituição para a

qual fui designado e, então, poder retribuir-lhe o seu trabalho profissional.

Enquanto isso, várias coisa significativas iam acontecendo ao meu redor: certa

tarde de sábado, vários alunos, sabendo que eu chegara do DF, foram me procurar no Hotel, em cuja sala de espera recebi uns sete deles, os quais mostravam seu interesse em

permanecer na Instituição e que eu pudesse resolver o impasse. Disse-lhes que aquela atual diretora me impedia de tomar posse mas eu estava lutando na Justiça e, mais cedo

ou mais tarde, conseguiria entrar ali e conduzir o Barco rumo ao nosso Porto Seguro.

Outro fato que me chamou a atenção foi o surgimento da própria diretora

escorraçada pela Mantenedora, do DF, a qual, ironicamente, aborrecera-se comigo quando

aqui cheguei, no ano anterior, tentando fazer a auditoria contábil. Ela chegou na portaria

do Hotel e, pelo ramal telefônico, atendi-lhe estranhando e não me lembrando da pessoa,

quando ela relembrou o fato da sua expulsão. Vendo pois que ela vinha “em paz”, e não

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Memórias de Meio Século 393 [email protected]

parecia aquilo que dela me falaram quando parti para cá, convidei-a a subir ao

restaurante para conversarmos melhor.

Ela estava acompanhada pelo seu namorado – um funcionário da Univ. Federal do

Piauí. Conversamos abertamente e sem ressentimentos. Nesse primeiro contato, senti que

ela estava sendo injustiçada, porém, eu mesmo, não tinha elementos documentais para

asseverar tal hipótese. Marcamos outro encontro, ali mesmo, n hotel, quando ela traria as

várias pastas de documentos que ainda possuía e mos mostraria.

(...)

Como Estudante de Direito e ex-estagiário na Universidade Católica de Brasília –

UCB, eu sabia muito bem que tal medida podia levar semanas ou meses para ser deferida

– ou não – por um Juiz. Contudo, acreditei na garra do jovem advogado e, principalmente,

no Advogado dos Advogados – Jeová Tsidkenu.

Para minha extrema e indispensabilíssima alegria, em apenas 02 dias recebi a

resposta positiva da minha liminar! Ao 3º dia, de posse do mandado judicial ordenando-me

a devida investidura no cargo e que entregassem “todas as chaves e me abrissem todos os acessos da dependência”, encontrei-me com o advogado e um colega seu, solicitei a

presença de 02 oficiais de justiça e, assim, conduzindo um pelotão de 04 “homens da

justiça”, voltei àquele prédio da R. S. Pedro, já encontrando no portão fechado um

porteiro-guarda.

A oportunista diretora nem ninguém podia mais impedir minha legal e tão

esperada posse naquele Estabelecimento. Coincidência ou não, a dita advogada já estava

lá. Nem o marido dela nem o engenheiro ou outro dos “sócios-diretores espúrios” estavam

presentes.

(...)

O sábado chegou e todos se admiraram com o regresso da antiga diretora. Pedi

aos professores para ajuntarem todos os alunos na maior sala que havia, no 2º andar, onde cabiam cerca de 150 pessoas sentadas e em pé.

Cheguei lá com a querida senhora deles e ouve uma ovação com um misto de alegria e apreensão. Apresentei-me e falei da minha “auditoria” do ano anterior, a qual

não foi concluída pelo desentendimento entre o PI e o DF e que não pude constatar nada

contra a então diretora. Mostrei-lhes meu empenho em, de imediato, conseguir um

convênio com uma faculdade que fosse devidamente reconhecida pelos órgãos oficiais de

ensino superior a fim de complementar os nossos estudos.

Eu ainda estava sozinho – Sara permanecia no DF apreensiva quanto a tudo e

decepcionada com a reação e total falta de apoio da Mantenedora e meu antecessor que me lançou como a “um cego no tiroteio”.(...)

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Memórias de Meio Século 394 [email protected]

Somente o Jornal Meio-Norte publicou matéria de resposta com as explicações

que dei pessoalmente. O outro jornal, que me esquivo de mencionar o nome, porém ele é

tido como um tanto sensacionalista, disse-me por telefone que eu expusesse as contra-

razões por carta e lhe entregasse.

Redigi carta timbrada de umas 03 folhas, entreguei pessoalmente na portaria do

referido diário e aguardei sua publicações. mas, não quiseram publicá-la.

(...)

Há mais de 06 meses os 24 professores não recebiam salário integral. Alguns, à

vezes, recebiam pequenos valores por conta. O passivo total era de cerca de R$

33.000,00. E eu tinha de honra-lo para, ao menos, recuperar a confiança do corpo

docente, sem o qual nada poderia fazer.

Não consegui ver o inquérito policial, pois ele já tinha sido encaminhado ao

Ministério Público, conforme informação telefônica do próprio delegado encarregado do

mesmo – depois de várias tentativas minhas. Identifiquei a Vara Criminal para onde ele

fora encaminhado, virando processo. (...)

Estávamos prestes a entrar de férias – faltavam só 02 aulas sabatinas para esse

1º semestre do ano. De repente, o Jornal Meio norte voltou a atacar: “MP quer o

fechamento de faculdade particular”! Como ainda não era assinante dele, assim que soube

da notícia mandei comprar um exemplar e me consternei ao lê-lo: como são

menosprezados por aqui aqueles que a imprensa ou mesmo a polícia ou mesmo o

Judiciário, pois apenas dizem serem “suspeitos” e já como se já tivesse havido um justo

julgamento com direito à defesa e tudo! – Nem me procuraram para ouvir “o outro lado da

moeda”.

Além de errarem até a sigla da faculdade, puseram algumas inverdades, dentre

elas a de que tínhamos na ocasião os cursos de Filosofia, Teologia e Pedagogia, quando eram apenas o curso de livre de Filosofia, o qual carecia de Complementação – que foi

esta que agora conseguimos. O Promotor também pedia “a prisão preventiva de todos os denunciados” – exceto eu, graças a Deus, que não era parte processual.

Na mesma tarde procurei o JMN que, através da Editoria Geral, me ouviu

calmamente e, logo no dia seguinte, publicou minhas palavras da seguinte forma: “Diretor

diz que a faculdade está legalizada”. Não foi exatamente isto que lhe demonstrei pelos

documentos apresentados, mas no primeiro parágrafo o jornalista diz: “O diretor-

presidente do Instituto (...) disse que a faculdade tem um processo de regularização (...)

junto ao Ministério da Educação”. E isto era verdade e era o cerne da questão que muitos não viam ou queriam aceitar. Falou também que eu procurara o Juiz Substituto

Page 395: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 395 [email protected]

responsável pelo processo “para prestar esclarecimentos, explicando que houve um mal-

entendido”, fato este que realmente aconteceu, conforme já mencionei Nesta Obra.

Curiosamente,seu eu sequer imaginar, essa matéria saiu com uma segunda

parte: um dos nossos professores dava aulas também par a diretora que expulsei – e ele,

provavelmente, seria um dos seus sócio-diretores -, e ele disse ao repórter que “a

Faculdade (...) estava registrada com o alvará (...) e o CNPJ (...)”, como se isto bastasse

para deixar a “sua” instituição plenamente regularizada perante todos os ógãos oficiais.

Foi isto, por sinal, o pivô do desentendimento que tivemos dias depois, quando ele foi

aceitar seus direitos trabalhistas – pois eu o exonerara depois de ter descoberto que ele

era testemunha da ex-diretora, em cuja defesa ela dizia muitas inverdades como o do B.O.

que ela abriu sobre a minha maneira de adentrar às instalações do nosso 1º prédio.

Contudo, depois fizemos as pazes, conforme registro mais adiante.

(...)

Uns 10 dias depois do JMN, o Diário do Povo, da família Damásio, logo na primeira

página alardeava: “Justiça manda prender diretoras da faculdade”! No miolo do jornal relatava que uma das últimas diretoras – era apenas interina - fora presa no dia anterior

e as duas outras e o principal, do DF, estavam sendo procurados.

Para o outro sábado seguinte, redigi outra Nota de Esclarecimento de 02 páginas

e distribui novamente para todos os alunos lerem e tirarem pelo menos a metade das suas

dúvidas.

Uma das coisas que estranhei nesta Instituição, foi a inexistência de um boletim

periódico que passasse aos alunos as informações gerais de tudo o que acontecia por

aqui. Assim, fiz uma enquête para que sugerissem um nome para o jornalzinho e uma

sugestão que surgiu foi o nome de “Renascer”, que até lembrava a igreja Renascer em

Cristo, e que, de fato, retratava bem a nossa situação, porquanto estávamos renascendo

das cinzas – fato este que indicava outro nome apropriado – Fênix. Porém, devido à minha formação e a origem evangélica da Faculdade, aceitei a sugestão, e o jornal Renascer

passou a ser mensal. Publicava informes sobre nosso PDI no Mec, datas de provas e início de aulas, poemas de alguns alunos, etc.

Esse Boletim, a princípio, era xerocado. Eu preparava as notícias com algumas

ilustrações rudimentares no computador e copiava na nossa velha máquina de xérox.

Variava de 02 a 04 páginas, tamanho A4. Quando completamos o primeiro ano de

publicação, inspirado no jornal da Igreja Batista que freqüentava, contatei a mesma

gráfica, e passamos a fazer o Renascer com uma melhor qualidade.

Page 396: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 396 [email protected]

2004.02

Odavia meus comunicados tentando esclarecer a situação melindrosa em que a

Instituição fora estupidamente lançada não conveceu a todos e, mais uma vez, perdi

mais uns 100 estudantes.

Os “pepinos e bombas” iam aparecendo e explodindo a todo instante nas áreas e

de pessoas que eu menos esperava. No final de julho/04, perto do meio-dia, entra na

minha sala – que, embora comprida, não tinha uma ante-sala com secretária para

controlar o ingresso das pessoas que queria me falar – um dos 24 professores que

tínhamos ali e que tive de dispensar por excesso de contingente, e veio tratar de sua

pendência trabalhista. Eu estava atendendo duas alunas e uma candidata a secretária,

todas dentro da ampla sala.

Foi logo dizendo que não gostou do meu comunicado colocado no cavalete à

entrada, onde menciono seu nome pelas suas declaração feitas ao Jornal maio-Norte – as

quais não eram totalmente contrárias à faculdade, mas não apresentavam apoio à mesma.

Irritou-se – embora não fosse nada inverdade nem ofensivo à sua pessoa -, e alterou-se

de forma nada cristã – pois que ele era pastor. Vendo eu que não havia momento para

negociações, pedi gentilmente para ele retirar-se ao que retrucou dizendo que não ia sair

e ameaçou: “E mande me tirar!”.

Fiquei em pé ao seu lado enquanto ele descarregava sua ira e, após alguns

minutos, fui contemporizando com ele que, paulatinamente, foi relaxando e prometi agilizar

seus direitos trabalhistas, de acordo com a entrada de receita. Saímos juntos da sala,

apertamo-nos as mãos e desejei-lhe boa-sorte por onde fosse lecionar.

Para mais uma agradável surpresa minha – e como eu precisava de boas novas,

pois que muitas notícias terríveis me bombardeavam! – cerca de uma semana depois, num

sábado, em meio a muitos alunos na mesma sala e preocupações várias, recebo uma tele-

mensagem de encorajamento administrativo, semelhante a um Salmo – pena que não

gravei tal ligação nem consegui escrever logo seu teor – e, ao final a operadora disse: “Sr.

Joaquim sabe quem lhe mandou esta mensagem? Foi o Prof. Fulano e fulana (sua

esposa).” Agradeci-lhe imensamente sorrindo muito satisfeito. Este foi um dos momentos

emocionantes que tive ao longo desta jornada, o que prova que mesmo os inimigos mais

viscerais poderão se tornar seus amigos a despeito de tudo e que não devemos deixar a

ira tirar o nosso bom senso ao ponto de não podermos contornar a situação agressiva

visando o menor poder ofensivo das ações humanas em momentos extremos. (...)

T

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Memórias de Meio Século 397 [email protected]

Não consegui segurar por muito tempo o aluguel de R$ 3.000,00 mensais do

prédio de dois andares da R. S. Pedro, não obstante os vários acordos e a real boa vontade

do seu proprietário –alto executivo do Grupo Claudino, o famoso e tradicional Armazém

Paraíba – o qual me traz boas memórias de 20 anos atrás em Imperatriz-MA, em cuja filial

trabalhava um gentil irmão da igreja e em cuja cidade nasceram minhas duas saudosas

filhas. Fui obrigado a lançar a toalha e a procurar outro local, provavelmente em caráter

de sub-locação.

Todavia, enquanto nos inquietamos com muitas coisas, lá do Alto, surgem saídas

que nem imaginamos!

Com a oportunidade de ocuparmos uma sala para a administração e o número

adequado de salas para as aulas sabatinas, firmei um acordo, como sub-locatário, com o

diretor do colégio Pentágono que ficava exatamente no mesmo quarteirão m frente ao

nosso antigo endereço, a cerca de apenas uns 200m. Que mudança tranqüila não seria!

Mas, havia um empecilho: onde colocar todas as nossas quase 300 carteiras já

que aquele colégio possuía as suas e não havia no seu prédio espaço suficiente para alugá-las?

Mas uma vez, a Providência nos permitiu que houvesse um depósito desocupado

exatamente em frente ao futuro colégio, bastando atravessar a estreita rua que os

separava. Consegui alugá-lo provisoriamente, e de modo informal, por alguns meses, com

o seu simpático proprietário donos do demais imóveis vizinhos e de uma casa comercial à

esquina do quarteirão.

Todavia, apesar de ter sido providencial, este prédio deixava a desejar em alguns

aspectos de acabamento e segurança, e isto os alunos foram sentindo e se queixando.

Tínhamos pois de procurar atender aos seus reclamos e procurar outro local mais

adequado.

Cheguei a fazer uma reunião de complementação com um pastor da Assembleia

de Deus, o qual representava uma faculdade de Boa Vista-RO. Mas, como ele só oferecia o curso de Teologia, a grande maioria dos meus alunos não aceitou.

Meses depois, esse mesmo pastor fundou o Colégio Metropolitano na Rua David

caldas, no mesmo prédio onde funcionou antigamente o tradicional Colégio Sena e,

posteriormente, a Faculdade Religare que, a nível de regularização de ministério federal,

estava em situação muito assemelhada á nossa.

No Colégio Pentágono desses professores da Igreja Adventista do Sétimo Dia

ficamos este semestre. Este foi nosso segundo endereço, após a minha administração.

Page 398: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 398 [email protected]

2005.01

uando ainda funcionávamos no Pentágono, o pastor assembleiano que nos

oferecera, em reunião com os alunos, a complementação em Teologia, de

uma faculdade de Boa Vista-RR, aparecera e me falara de um projeto seu

para abrir um colégio, convidando-me a participar dele. Não achei que fosse algo tão de

imediato e esqueci da a proposta – e ele não me procurou mais.

Nesse período de férias acadêmicas (entre parte de Dez/04 e Jan/05),

limitei-me ao depósito, aproveitando uma sala com um ar condicionado que já havia ali e

um simpático frigobar, e passei a atender aos alunos ali mesmo, em meio às carteiras,

mesas e todo o mobiliário que buscava nova fixação de endereço.

(...)

Como eu já havia procurado diversas outras alternativas – e não tínhamos mais

razão para alugar todo um prédio somente para nossos alunos - de imediato, acertei um

preço com o diretor desse Colégio Metropolitano e já naquele final-de-semana mesmo

arranjei o caminhão para trazer as carteiras, mesas, bebedouros, quadros, livros,

cadeiras de rodízios e tudo o mais que havíamos “estocado” no armazém defronte ao

Colégio onde estávamos, há apenas uns 500m dali. Estávamos em Janeiro/05 e tínhamos

ainda um bom espaço de tempo para fazermos nossa 3ª mudança.

Este novo endereço traria alívio para todos, de uma vez que o o local anterior era

um tanto precário – se bem que foi bastante providencial na ocasião em que precisamos

dele – com o piso de material plástico se desgarrando, dentre outros detalhes, e minha

sala de esquina e 1º and. Recebia diretamente o sol da tarde – às vezes nem o ar-

condicionado era suficiente.

(...)

Um dos nossos alunos possuía um programa diário numa rádio. Enquanto lhe

atendia certa vez, falei-lhe que, antigamente, eu possuíra um programa do Elvis presley

numa rádio do Recife. Assim, convidou-me para aparecer por lá. Só que era na cidade de

José de Freitas – a uns 50 ou 80km daqui. Mas, aceitei o convite, certo domingo, apareci

na sua rádio.

(...)

Sempre confiei no povo teresinense, considerando esta como uma das mais

pacatas capitais do país. Assim, várias vezes, já dormi com alguma janela da minha casa

aberta – seja a do meu quarto ou da copa – para pode entrar alguma ventilação que amenize o calor campeão desta região. Numa noite de Março/06, coincidiu (terá sido isto

Q

Page 399: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 399 [email protected]

c com firmeza e até ternura que eu estava tentando fazer o possível para ajudá-la (tanto

que até convidei-a de volta à Instituição, para trabalhar ao meu lado, administrando tudo

novamente, como ela fazia antes, mas ela só ficou uns 2 meses!). Meus argumentos não

lograram êxito!

A conversa se inflamou e ela passou a usar de impropérios e a chorar

descontroladamente. A minha secretária Mirelle tentou consolar-lhe e ela diz que está

“passando fome”. Estarreço-me com aquilo e dou-lhe uma cédula de R$ 20,00. Peço para

ela sair da sala. Quando penso que ela ia embora, recomeça as lamúrias no corredor,

junto ao portão da calçada, diante de todos os alunos e, quanto chego perto para lhe pedir

para sair, chora desesperadamente e lança a bolsa no chão. (Só posteriormente, vim a

saber que o Pr. Araújo, esposo da irmã que cuidava da cantina da faculdade, era quem

estava na calçada e lhe conduziu à parada de ônibus.)

(...)

Nossa máquina de xérox – recuperada da venda ilegal feita pela diretora

transitória – funcionava plenamente apesar dos seus limites tecnológicos. O cavalete na calçada atraía os clientes que passavam pela estreita R. David Caldas. Um deles era um

jovem simpático e bem-falante que era professor e dono de um curso preparatório bem

conhecido nesta Capital. Ele passou a tirar cópias para pagamento no final de cada mês.

Costumávamos conversar longamente sobre política, o povo do Piauí e tudo o

mais que propiciasse um agradável bate-papo. Falou-me de uma casa sua no litoral do

interior deste Estado e de festas em residências de políticos locais, prometendo-me

convidar algum dia.

Meses depois, ele passou a procurar novo endereço para seu curso que

funcionava numa antiga casa grande próximo do meu estabelecimento. Como eu e o

Pastor, dono do Colégio one eu funcionava então, precisávamos de alguém que dividisse o

já pesado aluguel daquele prédio de 02 andares, oferecemos-lhe algumas salas. Ele ficou de analisar.

O tempo foi passando, ele chegou a estabelecer uma data para sua mudança, não veio e mudou-se para outro endereço, bem menor do que o anterior. Ficamos sem

entender o porquê daquela atitude anti-ética já que estávamos negociando sobre o

assunto. Nesse ínterim, deixou comigo acima de 1.000 xerox não pagas.

(...)

Aproveitei o período de recesso e aventurei-me a tirar 05 dias de férias, indo às

praias de S. Luis-MA e na volta, passar pela cidade maranhense da Faculdade que firmara

conosco o convênio de complementação.

Page 400: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 400 [email protected]

Foi nessa cidade, quando já retornávamos pela MA (ou BR?), que recebi um

telefonema no meu celular, de um dos sócios do pastor do colégio, que, alterado, me dizia

que “certo delegado me procurava e que não espera „isso de mim‟, e etc. e etc.” Deixei-lhe

falar e lhe expliquei que não era nada de mais, que o diretor do Colégio já sabia da

situação delicada da minha Faculdade, que eu não lhe tinha escondido e que, tão logo

chegasse à Teresina eu iria à casa do pastor e, posteriormente, iria ao encontro da

referida autoridade.

A Profª Antonina se mostra interessada e me ajuda a redigir o PDI da nova

faculdade que eu planejo criar, já que o antigo do Isefit, não tinha mais chances de ser

recuperado – até porque, por certa sacanagem o antigo diretor-presidente, meu

antecessor, prometeu e não me forneceu a senha que o Mec concede ao responsável pela

movimentação da documentação naquele Ministério. Ela vai adaptando o antigo PDI do

Isefit à atual realidade e passando os manuscritos que a nossa secretária Mirelle

diligentemente vai digitando.

2005.02

inda alguns oficiais de justiça “me perseguiam”. Tive a visita deles e

respondi às exigências legais, como sempre vim fazendo, tentando proteger

os alunos e o patrimônio da Instituição, levando em conta que alguns

professores insatisfeitos – e até ingratos, podemos assim dizer – recorreram para pedir

quantias exorbitantes e irreais.

(...)

Devido à intimidade com esse pastor – e pela formação evangélica assembleiana

– dispus-me a ajudar na dificuldades pelas quais o Colégio passava e até aventei com a

proposta de uma certa sociedade com ele.

Porém, a inadimplência dos jovens do Curso Médio, aliada a uma administração

ineficaz e método de cobrança quase inexistente, a arrecadação foi minguando cada vez

mais e o Colégio teve de ser fechado e o prédio, obviamente, tinha de ser devolvido ao

proprietário que, coincidentemente, era o mesmo do nosso primeiro endereço – o da Rua

S. Pedro!

Como fizemos amizade com um conhecido professor fundador de um curso preparatório, e ele já vinha sendo cooptado pelo pastor para sub-locar as salas ociosas e,

A

Page 401: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 401 [email protected]

assim, dividir o aluguel, este professor aluou uma salas numa ua quase de esquina com a

central Av. frei Serafim, o coração de Teresina.

Precisamente, no dia 29.12.05, às vésperas do ano novo e envolto a problemas

dos mais variados matizes, faço a 3ª mudança mesmo sem ter um endereço definitivo,

mas apenas conjecturas e buscas não muito concretas.

Um dos alunos se propôs a acolher a maior parte da carteiras - o que me aliviou

bastante – e o restante de todo o matéria enfiei dentro de casa, buscando cada espaço da

minha residência de 03 quartos e 03 WC‟s – até o terraço e os “oitões” ficaram cheio de

móveis.

2006.01

niciamos o ano no nosso 4º endereço: o curso do nosso amigo professor, usando

apenas uma parte da suas duas salas de aula como ponto para atendimento dos alunos

– depois, pusemos a mesa junto á dele, num espaço um tanto apertado. Usávamos suas

duas salas apenas aos sábados.

Deliberadamente, afastei-me do atendimento direto aos alunos, depois de muitas

“bordoadas”, incompreensões, bate-bocas, visitas ao Procon e até quase agressão física –

pois, agressão verbal, houve – e procurei alguns professores de maior confiança para se

ornarem gerentes nessa área.

Um deles aceitou, sendo sua jornada de trabalho apenas de 3 dias por semana e

o sábado. Mas, também, em virtude do tratamento dado a ele pelos alunos, desistiu,

permanecendo como professor.

A partir daí, determinei que o atendimento se faria apenas no dia de aula, e,

durante os outros dias, usaríamos o celular e marcaríamos um local qualquer não centro

para receber pagamento e/ou entregar documentos.

Mas, nosso relacionamento ficou chamuscado pelas suas exigência talvez

descabidas no tocante à limpeza e etc., atritando-se com a Sara e,conseqüentemente,

comigo que, tive logo de buscar outro local quando ele, sem nenhum aviso, simplesmente

trocou os cadeados da porta e, ao chegarmos para a aula sabatina, não pudemos abrir –

nem seu celular atendia.

I

Page 402: Memorias de meio seculo - Zito (José Joaquim S. F.)

Memórias de Meio Século 402 [email protected]

Em regime de emergência, ligamos a outro Colégio, com quem já vínhamos

negociando, e de pronto, nos cederam duas salas, salvando-nos desse vexame deselegante

e um tanto traiçoeiro.

Esse terceiro Colégio a nos acolher superou em tudo, quanto às dependências e

nível cultural e social dos alunos

O Colégio CPI é um dos mais modernos de Teresina e chega a patrocinar shows

de artistas famosos , como o da dupla Bruno Marrone, de quem a Sara gosta muito.

FALTA ABORDAR

5º ou 6º end. – colégio CPI – sem escritório – foi assim, por sinal que

tudo começou na história desta Instituição – há 06 anos.

Aluna ex-secretária nos procura novamente – com ameaças de justiça

Encerro todos os períodos para ficar só com a complementação

Fico só com uns 4 professores

Minha filha Sarah passa na Petrobrás, e Graça para a Aeronáutica

Vou a SP, fronteira com Mato Grosso do Sul, para tentar firmar

convênio de pedagogia com faculdade indicada pelo MA – viagem em

vão

2006.02

ontinuamos no CPI, mas com apenas uma aula por mês. É a reta final da

Complementação.

FALTA ABORDAR

Aulas só uma vez por mês

Só um professor por dia/aula

1ª festa pública do Elvis – AABB

Preparação final para a formatura

Meu sonho – 30.set/06 – bem realista sobre cura de enfermos em

nome de Jesus...

C

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Memórias de Meio Século 403 [email protected]

Alegria dos primeiros alunos ao receberem os diplomas.

Meu futuro profissional

Formatura no Auditório do Centro de Artesanato Mestre Dezinho – bem

ao lado de onde estávamos

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Memórias de Meio Século 404 [email protected]

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S U M Á R I O

Introdução 7 1. O Reino de Deus não consiste em palavras 16 2. Não é pelo muito falar que seremos ouvidos 24 3. Seja o vosso falar: Sim, sim, Não, não 27 4. Não toques, não proves, não manuseies 30 5. Afasta-te de mim que sou mais santo do que tu 37 6. Misericórdia quero e não sacrifício 42 7. Não vos submetais a jugo de escravidão 48 8. A religião pura e imaculada 53 9. Sepulcros caiados 56 10. Não julgueis para não serdes julgados 63 11. O Maior dom é o amor 66 12. Devemos nos amar uns aos outros 71 13. Dai, e ser-vos-á dado 75 14. Tive fome e me deste de comer 77 15. O Reino de Deus não é comida nem bebida 80 16. Não é o que entra pela bocado homem 83 17. Não ameis o mundo nem o que no mundo há 90 18. A vida do homem não consiste em seus bens 97 19. Não ajunteis tesouros na terra 101 20. O sábado foi feito por causa do homem 103 21. Tuas esmolas chegaram aos céus 110 22. Aquele que sabe que deve fazer o bem 113 23. Fazeis acepção de pessoas 116 24. A fé sem obras é morta 119 25. Deus não nos deu espírito de covardia 122

Não seria melhor então?... 125

Conclusão 127

Considerações Finais 131

Apêndice - Comentários sobre a Revista da EBD–Assem- bléia Deus – Madureira – Tema: LEGALISMO[2ºTri/2009] 133

Bibliografia 139

Abreviaturas Usadas 139

ESTE LIVRO ESTÁ EM FASE DE REVISÃO.

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Memórias de Meio Século 406 [email protected]

I N T R O D U Ç Ã O

7Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso

respeito, dizendo: 8 Este povo honra-me com os lábios; o seu

coração, porém, está longe de mim.

9 Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.

Mateus 15

13 Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os

seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o seu temor para

comigo consiste em mandamentos de homens,

aprendidos de cor; Isaías 29

20 Se morrestes com Cristo quanto aos

rudimentos do mundo, por que vos sujeitais

ainda a ordenanças, como se vivêsseis no

mundo, 21 tais como: não toques, não proves, não

manuseies

22 (as quais coisas todas hão de perecer pelo

uso), segundo os preceitos e doutrinas dos

homens?

23 As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade

fingida, e severidade para com o corpo, mas não

têm valor algum no combate contra a satisfação da carne.

Colossenses 2 6 O meu povo padece porque lhe falta

CONHECIMENTO.

Os 4

e determinado procedimento cristão está claramente contido – ou não há nada a respeito, permitindo-se assim a S

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Memórias de Meio Século 407 [email protected]

liberdade de ação - na Bíblia, que é a nossa Carta Magna (nossa Constituição Espiritual2), POR QUE as Igrejas determinam coisas de formas tão diferentes e antagônicas do texto sagrado, gerando infindáveis conflitos de ordem social e moral, com profundas consequências espirituais? Legalismo, formalismo e fundamentalismo são iguais manifestações de INTOLERÂNCIA RELIGIOSA que acontecem

dentro e entre as nossas denominações evangélicas, e em outras religiões radicais e ortodoxas. Embora não tenha sido praticado por cristãos evangélicos, convém ilustrar as consequências do FANATISMO RELIGIOSO com um dos mais recentes casos de extremismo dos fundamentalistas do Talibã3 no Afeganistão (um paupérrimo país árabe e

mulçumano), cujo mais proeminente líder é o terrorista Osama Bin Laden: em 11.09.2001 eles sequestraram 2 aviões comerciais de passageiros nos EUA e os lançaram contra as torres gêmeas de 107 andares de Nova York – o World Trade Center – WTC (Centro do Comércio Mundial) -, matando mais de 3.000 pessoas de mais de 30 nacionalidades diferentes e destruindo um dos pontos turísticos mais conhecidos dos EUA e do mundo! Ali, naquele momento, poderia estar eu ou você4. E tudo isso em nome de um Deus – Alá! O Talibã

possui inclusive muitos fiéis homens-bomba que se suicidam em prol da guerra santa.

Um tanto semelhantemente, nas nossas ocidentais igrejas evangélicas, o membro é tratado quase como um soldado talibã: há um rol de proibições, do que pode ou não pode fazer dentro da sua sociedade! Ele não pode questionar nada daquilo e passa a viver uma vida fiscalizada quase nos seus mínimos detalhes! O ensinamento do

2Na esfera Jurídica Secular, “a lei não é para ser discutida, mas para ser OBEDECIDA”. Depois do

cumprimento dela, o inconformado pode constituir um advogado e, perante, o próprio Judiciário, questionar

a aplicabilidade daquela norma. O Poder Legislativo, que cria as leis, é quem detém a competência para

revogá-las ou modificá-las conforme as alegações apresentadas em Plenário. No tocante às Leis de Deus,

como elas passam pelo crivo do frágil e supeito ser humano,todos nós podemos e devemos questionar os líderes religosos acerca do porquê de tantas proibições impostas. 3O TALIBÃ é uma das seitas mais xiitas do ISLAMISMO, que tomou o poder político do Afeganistão em 1996

através de um sanguinário golpe militar que ceifou a vida de milhares de civis e implantou uma Teocracia (“Governo de Deus”). [Imagine-se vc. sendo um cidadão do governo de um deus desse...] 4Graças ao nosso Deus (que não é o Alá da Dita Guerra Santa, mas o JEOVÁ SABAÓ da Guerra Espiritual!),

que pude visitar aquela esbelta e majestosa arquitetura noutra ocasião, vários anos antes dessa tragédia!

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próprio Cristo de que misericórdia quero e não sacrifício (Mt 9:13, Os 6:6) não parece ter importância, pois o que importa para os pastores é o sacrifício, o caminho estreito! Por se tratar aqui de um simplesensaio, não há espaço para analisarmos detalhadamente cada item da vasta e infinita legislação que todas as igrejas evangélicas impõem – em maior ou menor intensidade. Apraza a Deus que, algum dia, eu consiga discorrer minuciosamente sobre: música, esportes, bebida, dança, roupas, cabelo, bares, shows, estádios, maquiagem, sexualidade, cinema, praia, jornais e revistas, internet, etc., etc., etc. Enquanto isso, por aqui, darei apenas algumas pinceladas para levantar o debate.

(...) ... hipócritas líderes do Farisaísmo5, os quais perseguiram, expulsaram da Sinagoga e mataram o nosso próprio Cristo! [Analise atentamente os detalhes dessa expulsão histórica em Lc 4:16-30])! E esse “tá na Bíblia” se espalhou pelos quatro ventos, e tudo o que o crente vai fazer, os pastores orientam a ver se efetivamente “tá na Bíblia”! Se “tá na Bíblia”, pronto! Pode fazer que “é da vontade de Deus”! (Esquecem eles que nas Sagradas Escrituras existem muitas infantilidades espirituais, crueldades e atrocidades terríveis praticadas por vários homens e mulheres e até mesmo a mando do próprio Deus6!...)

5Note-se bem que os Fariseus eram os “separados” do Judaísmo; eram santos por excelência: uma

espécie hoje de crente pentecostal em relação ao crente tradicional – ou “crente morno”, como aleivosamente o chamam. 6Deus mesmo mandava matar os parricidas, os matricidas, os homossexuais, os feticeiros, os rebeldes, e

até, de uma só vez, ordenou ao próprio Profeta Elias eliminar - certamente com a ajuda de dezenas de

auxiliares seus – 850 profetas de Baaal (450 deste) e de Asera (400) [veja a matança em IRs 18:18-40]. Já

pensou se alguém lê esse trecho isoladamente, fora do contexto social e religioso da época, e sai por aí matando os “profetas de Baaal” que encontrar hoje por aí?... E isso não é uma crueldade para nós, nos dias

atuais? E o que dizer daqueles conselhos de “usar a vara no filho, pois mesmo assim, ele não morrerá” [ou seja: se o(a) garoto(a) não morrer, vale tudo: pode meter a chibata...] (Pr 23:13; 19:18)? Não havia Conselhos Tutelares naquela época, e, à semelhança da MULHER, os FILHOS eram tidos como uma espécie de

“propriedade” dos pais! – Também não havia o amor de Cristo nos corações... Deus mandava proceder

assim por causa da DUREZA DO CORAÇÃO daquele povo (Mt 19:8). Hoje, depois de tanta tecnologia e livros

e cursos nenhum seguimento evangélico deveria mais agir “com cerviz dura”!Portanto, devem predominar

o BOM SENSO e a MISERICÓRDIA!

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(...) Entrementes, alguns irmãos mais conservadores hão de rebater: É... Mas vc. não é obrigado a ficar nesta Igreja! Cada uma tem a sua “doutrina” e a nossa tem esta! (É o velho princípio de Os incomodados que se mudem!... Claro que, depois de vc. insistir muitas vezes, vc. não será idiota em permanecer em tal meio e o jeito será mesmo sair. Mas, até lá, pode-se fazer uma mudança!) Por isso mesmo, uma igreja não é um clube social (ou, pelo menos,

não deveria ser!) onde um homem ou um grupo de “sábios” manda e determina o que é CERTO OU ERRADO! E quem é que estabelece

todas as proibições impostas sobre os membros?!... Muitas vezes gostamos da espiritualidade de determinada igreja e precisamos mergulhar mais em Deus, mas as ordenanças dos pastores dali criam uma BARREIRA INTRANSPONÍVEL para nós, como seres humanos e sociais que somos, pois NÃO SOMOS ANJOS – nem espírito apenas).

(...)

E o que vem a ser realmente TABU?

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, escreveu em 1913 a obra Totem e Tabu (Imago Editora, Vol. XIII, RJ, 2002) na qual trata

dessa questão religiosa da crença e de relações conjugais. O TOTEM era um símbolo ou uma estátua de madeira

colocada no meio da tribo indígena, representando uma entidade (animal, vegetal ou fenômenos naturais), uma espécie de deus. Sempre que os índios – ou aborígines – precisavam de proteção para as batalhas ou pesca, iam ao totem, dançavam e clamavam àquele deus. TABU7 é, para a sociedade atual, uma prática “proibida”, algo

inaceitável pelo grupo, um tema intocável que aceitam como regra inviolável, uma crença que consideram “divina”, imutável, infalível, inquestionável, e que, para viverem bem precisam obedecer ao mesmo cegamente. Ao longo dos séculos, esses tabus foram sendo

7Freud, na obra citada, pág. 37, assim o define: Tabu é um termo polinésio. (...) A palavra era ainda corrente entre os antigos romanos, cujo „sacer‟ era o mesmo que o „tabu‟ polinésio. Também o „ayos‟, dos gregos, e o „kadesh‟ dos hebreus devem ter tido o mesmo significado (,,,) Para nós significa, por um lado, „sagrado‟, „consagrado‟, e, por outro, „misterioso‟, „perigoso‟, „proibido‟, „impuro‟. (...) Assim, „tabu‟, traz em si um sentido de algo inabordável, sendo principalmente expresso em proibições e restrições. Nossa acepção de „temor sagrado‟ muitas vezes pode coincidir em significado com „tabu‟.

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derrubados e nenhum deles trouxe qualquer “maldição” ou prejuízo à sociedade normalmente equilibrada e esclarecida.

Assim, ao longo da nossa história familiar e social, nas últimas décadas e séculos, vivemos sob a égide de muitos tabus: era

perigoso comer manga com leite, chupar cana e beber água, tomar café e sair até o alpendre, dava azar varrer a casa levando o lixo pela porta da sala, expulsava as visitas indesejáveis o ato de colocar uma vassoura de cabeça para baixo, o padre ou o pastor estavam sempre certos, a conservação da virgindade8,a mulher evangélica não pode cortar o cabelo nem usar calça comprida, o crente não pode beber nem fumar nem dançar nem usar sunga ou biquíni, ou ir ao cinema ou a um campo de futebol, etc, etc. Tudo isso são tabus (ou dogmas, mitos, superstições) que, SE VC. QUISER FALAR SOBRE O ASSUNTO COM O PRATICANTE OU QUEM O IMPÔS, geralmente, ELE NEM QUER DISCUTIR A QUESTÃO! (É pra se cumprir e pronto! É pegar ou largar!) E ISSO NÃO REFLETE A SERIEDADE DE UMA CRENÇA NEM A INTELIGÊNCIA QUE DEUS CONCEDEU A CADA UM DE NÓS e precisa ser lançado por terra caso queiramos nos libertar para CRESCERMOS! (Os 4:6, 6:3; Jo 8:32)

(...) Existe uma grande e inesgotável preocupação dos evangélicos convencionais quanto às seguintes proibições:

bebida, cinema, esportes (futebol, etc.), fumo, roupas, cortes de cabelo, dança, maquiagem, televisão, nudez, etc.

No entanto eles se descuidam do outro lado da moeda, qual

seja a prática e inúmeras falhas de personalidade, no dia-a-dia, tais como:

desrespeito, desamor, sacanagens, invejas, contendas, colocar tropeços, mentiras, não pagar por má-fé, falsidades, hipocrisia, lorotas, bajulação, corrupção, tramas, complô, homicídio, baderna, etc.

(...)

8De todas as formas de relações humanas (sociais, profissionais, jurídicas, comerciais, médicas,

acadêmicas, familiares, amistosas e religiosas), com certeza, é na SEXUALIDADE onde se concentra o

maior número de tabus! (Será porque, forçosamente, onde houver algum tipo de prazer para o ser humano

tem de haveruma proibição correspondente?...)

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A propósito, o nobre leitor acha mesmo que, com tanto desamor no mundo atual, tanta violência (urbana, moral, religiosa e de idéias), tanta corrupção (política, comercial, industrial, cultural, filosófica e religiosa), tantas famílias dilaceradas, tantos jovens rebeldes e sem apoio, tanta gente passando e morrendo de fome diariamente, tantas riquezas concentradas em poucas mãos, tantos trabalhadores explorados por um mísero salário, tantas catástrofes (terremotos, tsunamis, enchentes e degelo), tantas doenças incuráveis, tanta pobreza e tantos outros tipos de sofrimento pelos quais a Humanidade inteira passa, em maior ou menor intensidade, vc. acha mesmo que Deus está preocupado com o tipo de roupa

que vc. veste?... Com os locais que vc. freqüenta?... Com aquilo que vc. bebe?... Se vc. pratica ou não esportes?... Se vê isto ou aquilo outro?... Se vai ou não à praia ou piscina?... Se vc. fala ou não gírias?... Se vc. pratica ou não os rituais da sua igreja terrena?... Será que o nosso Deus Altíssimo e Poderoso irá se ocupar com essas picuinhas mesquinhas que os próprios homens criaram fraudulentamente em Seu nome?... Pense bem!

Mui apropriadamente o nosso próprio Salvador explodiu em certa ocasião:

Coais 1 mosquito e engulis 1 camelo!!! (Mt 23:24)

É de fato uma questão difícil e, por que não querem chegar a um consenso, torna-se sem solução! Essas discussões, não raro, levam a desentendimentos e às vezes, até a agressões verbais e físicas, deixando um lastro de mágoas e ódios incuráveis, gerando divisões de ministérios e igrejas! Ressalvadas as proporções, veja-se o que aconteceu com o Martinho Lutero e os outros Reformadores...

Gostaria muito de ouvir sua opinião. Que o ESPÍRITO SANTO lhe esclareça mais e mais (Tg 1:5), em nome do Nosso Senhor JESUS CRISTO. AMÉM!

Teresina (PI), Janeiro de 2011.

Joaquim

[email protected] www.twitter.com/doutrinashomem

(86) 9956.0161 (Tim) 8822.2611 (Oi)

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1. O REINO DE DEUS NÃO CONSISTE EM PALAVRAS

19 Em breve, porém, irei ter convosco, se o

Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas o poder.

20 Porque o Reino de Deus não consiste em

palavras, mas em virtude. I Corintios 4

7 Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso

respeito, dizendo: 8Este povo honra-me com os lábios; o seu

coração, porém, está longe de mim.

9 Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas

que são preceitos de homem.

Mateus 15

Isaías 29:13

m geral, nós, os evangélicos, somos os mais loquazes de

todos os religiosos que conhecemos na nossa sociedade e as “virtudes” são limitadas a um simulacro de santidade externa9. É uma lamentável pena. Veja-se que o católico, geralmente, não fala da sua religião. Prefere falar de dinheiro, de mulher, de negócios e até da vida alheia, mas nunca ou raramente tocam no tema “religião”. O espírita, embora

bem letrado nos temas espirituais, preferem não atacar outras religiões nem mesmo puxar conversa sobre o assunto, a menos que sejam provocados ou solicitados sobre algum tema. O judeu anda

quase sempre cabisbaixo, calado, pra lá e pra cá, com seu traje preto, chapéu preto e camisa branca e sua barba comprida, cuidando dos seus negócios e da sua vida. O mulçumano também anda calado,

fazendo suas negociações como bons mercadores que são. O budista, o hari-krishna e outros religiosos orientais, mesmo andando

9Obviamente, há honráveis exceções de irmãos que, NA PRÁTICA, arregaçam as mangas e pôem a mão no

arado, ajudando ao próximo indistindamente de religião! Porém, são poucos. A maioria prefere ficar de

largo, observando e fazendo suas críticas íntimas mesmo que a dor do próximo seja indisfarçável e insurpotável. Ficam apenas “orando e vá em paz” (Tg 2:14-17), ou seja: TE VIRA!

E

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com roupas exóticas e características, também vivem calados sobre religião, mesmo quando distribuem algum panfleto ou vendem seus incensos na ruas. Assim, se você analisar todas as religiões do nosso conhecimento, seus seguidores não são exaltados no falar, na palavra, como os evangélicos convencionais o são – embora a nossa própria Bíbliaensine o contrário!

(...)

Será que o Apóstolo Tiago também estava errado quando anunciou que Todo homem seja pronto para ouvir e tardio para falar? (1:19) Para muitos, hoje em dia, ele teria dito no manuscrito original: Todo homem seja tardio para ouvir e pronto para falar!..

(...) A política, o comércio e os advogados usam muitas balelas, blefes, blandícias, lorotas, falsidades das mais absurdas que a gente possa imaginar! O mundo já está cheio de PALAVRAS, PALAVRAS, PROMESSAS, PROMESSAS, PROJETOS E PROJETOS – COM AS MAIS “BOAS INTENÇÕES”. São tudo apenas palavras! E NADA ou quase nada de concreto ou verdadeiro há nesses discursos e sermões! Por que, então, quando o pregador vai ao púlpito usa e abusa tanto dos recursos da oratória? Nas pregações, vemos de tudo: berros, estrebuchamentos, pulos, pancadas, encenações, o pregador se ajoelha, engatinha, se arrasta, gesticula, tira o paletó e lança-o a qualquer um, e tudo o mais que possa chamar a atenção da igreja!

(...) Quais são os evangélicos que, p. ex., denunciam ao Conselho Tutelar a vizinha que espanca constantemente sua filhinha indefesa

que clama por algum adulto que a possa defender daquela mãe furiosa e desequilibrada?... Ou que toma a frente quando policiais estão desrespeitando os direitos humanos daquele pobre preso que

furtou um simples celular?... Quais os crentes que conversam, ajudam e até tiram das ruas os mendigos que se sentem como desprezados até pelo próprio Deus?... Cruzar os braços ou passar de largo,

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Memórias de Meio Século 414 [email protected]

como fizeram o sacerdote e o levita10 na Parábola do Bom Samaritano, é a atitude mais correta? É esse o papel do sal da terra?.. (Lc 10:30-37) Devemos, cada um de nós, SALVOS NO SANGUE DO SENHOR JESUS CRISTO, ser um SAMARITANO em

cada rua, em cada esquina, em cada ambiente de trabalho, em cada escola, em cada universidade! Cristo já disse que Nem todo que diz „Senhor, Senhor‟ entrará no Reino dos Céus (Mt 7.21).

(...)

Se o Reino de Deus não consiste em palavras (que são, em verdade, o próprio Evangelho e a Bíblia, as pregações e os milhões de revistas, jornais e publicações cristãs espalhadas pelo mundo), ele consiste em quê, afinal?!... - EM VIRTUDES11!... E o que são “virtudes”?

(...) Então, vamos ver o que diz Paulo em Gálatas 5:

22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. 23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.

(...)

Veja, portanto, o que é mais fácil: PRATICAR ESSA VIRTUDES ou APENAS FALAR DELAS??!!... Por isso que a maioria prefere apenas dizer que se preocupa com a situação do próximo,

quando, na prática, não move uma palha. (...)

10Essa Parábola nos traz muitos pontos de reflexão profundos: 1) Quem era o SACERDOTE? – Era o

Representante de Deus, um Mediador que oferecia os sacrifícios cruentos (morte dos animais) em propiciação dos pecados do povo. 2) Quem era o LEVITA? – Era o membro da Tribo de Levi, escolhido

especialmente para SERVIR NO TEMPLO – eram cantores, porteiros, zeladores, etc. AMBOS ERAM PESSOAS “PRÓXIMAS DE DEUS” e, no entanto, na hora de PRATICAR O AMOR DESSE DEUS, passaram de largo... 11Algumas versões bíblicas usam o termo “PODER” que, finalmente, quer dizer a mesma coisa, pois a

VIRTUDE é uma FORÇA/PODER que nos leva a PRATICAR AS BOAS OBRAS. E, tanto faz a “virtude do Espírito

Santo”, como os teólogos usam, como a “virtude humana”, pois se a primeira está contida nos “Frutos do

Espírito” relacionados por Paulo em Gl 5:19, temos apenas um resumo das VIRTUDES HUMANAS que devemos possuir: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. a mansidão, o domínio próprio.

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Memórias de Meio Século 415 [email protected]

5. AFASTA-TE DE MIM QUE SOU MAIS SANTO DO QUE TU

3 povo que de contínuo me provoca diante da minha face, sacrificando em jardins e queimando

incenso sobre tijolos;

4 que se assenta entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; que come

carne de porco, achando-se caldo de coisas abomináveis nas suas vasilhas; 5 e que dizem: Retira-te, e não te chegues a

mim, porque sou mais santo do que tu. Estes

são fumaça no meu nariz, um fogo que arde o dia todo.

Isaías 65

or que, então, os membros das várias denominações evangélicas, além das não-evangélicas, ou para-

evangélicas12, se consideram com tanta ênfase mais santos do que aqueles da outra igreja, ou até mesmo “salvos”, enquanto aqueles outros “não são salvos” ou, na melhor das hipóteses, são “crentes mornos”? É desagradável ouvirmos aqueles comentários aleivosos dos pentecostais sobre os batistas, presbiterianos, anglicanos, metodistas e demais evangélicos tidos como “tradicionais”. E, às vezes, até

12 Trata-se dos Mórmons, Testemunhas de Jeováe outras denominações que alguns teólogos e pastores

não consideram segmentos evangélicos, e, em alguns casos,nem mesmo “cristãos”.

Há uns 8 anos, a Revista da EBD, CPAD, da Assembleia de Deus-Missão, sob o tema “Seitas e Heresias”, dedicou uma lição toda ao Grupo Musical VOZ DA VERDADE, taxando-o de “seita”. Essa ofensa frontal fez

aquele belíssimo e inspirado Grupo-Ministério a enviar gatuitamente pelos correios milhares de um CD especial com sua defesa teológica e três faixas musicais, no qual, mesmo sendo agredidos, o Moysés sequer mencionou o nome da Igreja agressora ou da revista! Uma coisa é estudarmos TODAS AS RELIGIÕES

EXISTENTES NO MUNDO – por mais absurdas que pareçam ser, até mesmo a Igreja de Satanás! – de forma

técnica, acadêmica e respeitosa1 Outra coisa é criticá-las acerbamente, depreciá-las, zombar delas,

pois, agindo assim, também se atingem seu seguidores que são humanos como nós e merecem RESPEITO! A propósito, pela Lei da Reciprocidade (fazer ao próximo o que gostaríamos que ele nos fizesse – Mt 7:12),

GOSTARÍAMOS NÓS TAMBÉM de sermos discriminados dessa forma atroz, como fizeram os Católicos contra os protestante por longos séculos, desde a reforma até há poucos anos?!... Então, por que julgamos e

condenamos os de outra crença?

P

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incrementam o desprezo ao considerar os hábitos “mundanos” de muitos deles. Também acontece assim, p. e.x, reciprocamente, entre os adventistas e mórmons, testemunhas de Jeová e espíritas, menonitas e mulçumanos, e etc. É sempre o julgamento precipitado e faccioso entre os religiosos destituídos de um ESPÍRITO SANTO SUPERIOR a todas essas picuinhas! (...) O conceito de santidade pregado hoje está cheio de

sentimentos mesquinhos e de facção de líderes que vêem pecado em tudo para onde se viram! Principalmente, na área sexual, praticamente tudo é pecado! Antigamente, a mulher crente não deixava o marido ver a sua nudez e o ato sexual era feito no escuro e ela ainda vestida com a sua protetora camisola! (Só faltava usar cinto de castidade – se é que, quem podia mandar fazer um, não usava mesmo!) E, hoje em dia, nas congregações mais xiitas, ainda é mais ou menos assim – ou mesmo exatamente assim, se a igreja estiver nas regiões mais distantes deste vasto Brasil! Igualmente, estabelecem que para a mulher ser santa, ela não pode: se depilar, cortar ou pintar o cabelo, usar calça comprida, vestir blusa sem manga, usar um biquíni ou maiô, colocar um brinco (muito menos um piercing!) ou qualquer bijuteria, pintar as unhas, se

maquiar, etc., etc., etc. Procuram com isso fazer uma comparação com Jezabel, como se o pecado dessa perversa esposa de Acabe – mau rei de Israel - fosse a sua exagerada atenção dada à beleza física, quando o seu mal real era a arrogância, a soberba, o ódio e assassinatos (elementos estes de natureza moral, e não aquelas inofensivas práticas exteriores - IRs 19:1-2; 21:7-16)! É uma pena ainda hoje vermos senhoras andando com pernas cabeludas ou longos cabelos maltratados pelo tempo, belas jovens com longas saias ou roupas fora de moda e nem um pingo de maquiagem que poderia realçar seus delicados rostos, numa visível interpretação errônea de que santidade deve ser sinônimo de desleixo, deselegância e falta de bom gosto. O Pr. Gondim mostra, no seu livro É Proibido, págs. 63 e 64, a punição que determinada igreja reserva para a mulher que violar

seu cabelo: É proibido as irmãs cortarem o cabelo, mesmo aparar as pontas, usarem perucas, bobes, pintarem o cabelo ou esticarem (sic), usarem penteados vaidosos que chamem a atenção.

Punição

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Memórias de Meio Século 417 [email protected]

1a vez - Seis meses de suspensão. 2a vez - Um ano de suspensão 3a vez - Exclusão.

O ministério não concorda baseado na Bíblia em Sl 4:2,1Co 11:14-16; Ef 4:17; Tt 2:12; 1 Pe 3:3-5.

(...) O Apóstolo Paulo diz que, se nós temos FÉ, devemos guardá-la para nós (Rm 14:22). Isso não significa dizer que não devemos divulgar o Evangelho. Muito pelo contrário! Porém, não podemos sair por aí apregoando que somos santos, estamos na crença certíssima, que todos vão para o inferno se não crerem, que somos mais justos do que os de outras igrejas, bla-bla-blá e bla-bla-blá.

De que interessa para nosso vizinho se compramos um carro zero ou andamos de bicicleta? De que interessa ao governador se eu vou me casar ou não? Assim, de que interessa a alguém se vc. morre e vai pro céu ou para o inferno? Quem vai sofrer ou gozar as delícias eternas não será vc.?! (...) Os Fariseus, por excelência, presumiam-se mais justos e santos que toda a população. Cristo os repreendia frontalmente:

14 Os fariseus, que eram gananciosos (avarentos), ouviam todas essas coisas e zombavam dele. 15 E ele lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações;

Lucas 16

Jamais o crente pode se arvorar isto ou aquilo diante de Deus! Nossa salvação ou santidade estão patentes diante dos Seus olhos. Não importa o que queremos ser para os homens; importa que pratiquemos as obras adequadas que Ele nos manda fazer! Nos dias de hoje, têm até aqueles irmãos que nem cumprimentam um mendigo, um alcoólatra, uma prostituta e outros

“pecadores do mundo”, contrariando o mandamento do próprio Salvador que assim reza:

47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os gentios também o mesmo?

Mateus 5

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Memórias de Meio Século 418 [email protected]

Lamentavelmente, seguem seus próprios ventres, passando de largo como o fizeram aquele sacerdote e o levita de 2.000 anos atrás... Decerto que, hoje, esses condenariam o próprio Cristo, que

“comia com pecadores”:

11 E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. 13Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.

Mateus 9

Alguns também pensam que, para Cristo agir, é indispensável que a pessoa aceite-O logo como seu Salvador. Entrementes, quantos daqueles que Cristo - ou Pedro e Paulo – curaram eram fiéis seguidores do Judaísmo? – O cego de Jericó? O Leproso? A mulher

do fluxo de sangue? A prostituta? Lázaro? O coxo? O esmoler da Porta Formosa?... A qual deles Paulo exigiu que antes aceitasse aquele Cristo?... Isso é apenas pretensa santidade e exigência descabida!

22. AQUELE QUE SABE QUE DEVE FAZER O BEM

17 Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o

faz, comete pecado.

Tiago 4

or que, então, nossos irmãos só praticam uma boa ação quando é solicitado e depois de muitos rogos, até mesmo

entre os íntimos na fé, quando, a regra deveria ser até SE ANTECIPAR quando se soubesse da carência?! Tiago, o irmão sanguíneo do Senhor, foi muito feliz quando mencionou uma hipótese de fato muito comum na época e hoje em dia, qual seja alguém que passa fome:

P

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Memórias de Meio Século 419 [email protected]

14 Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? 15 Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano. 16 e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? 17 Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. 18 Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. 19 Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem.

Tiago 2

Quantos de nós já não passamos por isso! (Pelo menos eu, já passei várias vezes, não obstante ter estado outrora num melhor patamar sócio-financeiro13.) Quantos ainda não são humilhados

13O relatoseguinte é uma dolorosa prova dessa tão negligenciada passagem bíblica. Aconteceu em 2002: sou pedevista do Banco do Brasil, onde trabalhei por 12 anos. Depois de falir na microempresa, tentei várias

ocupações debalde. Nesse ano fiz novamente o concurso para o BB, e duas vezes! E fui aprovado e chamado para as duas cidades, em 2000 (para Manga-MG) e 2003 (para Valparaíso-GO)! Eu morava

então em Brasília-DF e fazia parte de uma grande (e rica igreja, cujo vice-presidente era também o Vice-

Governador do DF). Como eu tinha deixado dívidas no Banco, tinha de, pelo menos amortecer o débito para

poder tomar posse de novo naquele tão querido, amado e inesquecível emprego! Apelei para o Pastor-Presidente do meu campo: num culto de casa cheia, ele, de maneira rápida e sem me permitir explicar ao

microfone a gravidade da situação perdiu à igreja uma “oferta especial”. Ao final do culto, aquele pastor me deu R$ cinquenta reais.... (Minha dívida bancária era de cerca de R$ 35.000,00!...) Resultados:Perdi as

convocações desses 2 concursos (bênção esta que ainda hoje ando tentando); por essas e por outras,

entristeci-me e desliguei-me daquela Igreja; surgiu-me uma porta que pensei ser minha redenção

financeira, vim para o Piauí, e hoje estou na mesma situação daquela época – ressalvadas várias diferenças sociais, familiares, eclesiásticas e acadêmicas e o fato de eu estar na dispensação do Senhor. (Achei que, apelando para os pastores terrenos eu estaria apelando ao nosso próprio Sumo Pastor...)

(Curiosamente, dessa mesma Igreja-Sede, nas eleições distritais de 1998, saíram centenas de milhares de um panfleto apócrifo [e anti-cristão!] associando o PT – Partido dos Trabalhadores - a supostas práticas e ideologias satânicas, eliminandoassim as chances de o atual Senador Cristóvão Buarque derrubar em 2º

turno o então candidato ao Governo do DF, Joaquim Roriz – cujo vice era o próprio vice-presidente da

igreja, que, hoje, como Deputado, está envolvido no ESCÂNDALO DO MENSALÃO encabeçado pelo atual

Gov. Arruda, o qual já está preso com outros, inclusive parentes - juntamente com outro pastor que é

filho do fundador de uma igreja nacional!...)

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Memórias de Meio Século 420 [email protected]

diariamente ao se dirigirem a uma igreja, procurando um apoio material, e, muitas vezes, recebem apenas um “ide em paz! Estou orando por você”, quando na verdade, o caixa de igreja pode estar com sobras ou há no rol de membros alguns irmãos de condições financeiras abençoadas!... Há no Código Penal Brasileiro o art. 135 que condena a OMISSÃO DE SOCORRO, que se dá quando alguém que pode

ajudar outrem em situação de perigo não o faz, cruzando os braços:

Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública; Pena – detenção de 1 a 6 meses, ou multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e

triplicada se resulta a morte.

Imaginemos pois se Deus utilizasse o nosso CP! E o “Código” Divino não será até mais abrangente e rígido no cumprimento do amor ao próximo? Não será que Ele exige que estendamos a mão muito além do que em “situações de perigo”? E a pena dele não será até maior do que apenas 1 a 6 meses de detenção?... Talvez essa seja uma das maiores falhas do evangélico convencional! Esse conformismo em relação às dores alheias –

tanto dentro da própria congregação como fora, para com sua sociedade! Além do pecado da omissão, como narrado na NR 63, temos a corrupção política de pastores que se candidatam: adianta ter títulos eclesiáticos e diplomas e, no dia-a-dia ser um crente corrupto? Cristo o justificará só porque é pastor?...

Não podemos cruzar os braços diante de uma tragédia decorrente de uma enchente, diante de uma cena de crime, diante de

Irmãos e irmãs, tenhais piedade de vós próprios; NÃO AMEIS SÓ DE PALAVRAS – essa vossa fé está MORTA

e não vos valerá na “hora H” – sejais um gari ou um governador! –Sl 41:1-3. Não podeis servir a Deus e a

Mamom!)

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um casal se estapeando, diante de um pai ou mãe que espanca cruelmente seu filho, diante de gente que passa fome na nossa frente, diante de desempregados que se desesperam! Que tipo de cristãos seremos nós se formos omissos

enquanto que o próprio Mundo se mobiliza no combate a intempéries da natureza como tsunamis, terremotos, guerras civis, para cujos países a ONU envia forças de paz e as nações mais ricas encaminham víveres, medicamentos e até soldados?... (E nós, os donos da Verdade, não fazemos nada – ou quase nada?...) Será mesmo que o “bem” que o evangélico deve fazer é

apenas levar a Palavra de Deus e pronto?!...

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Memórias de Meio Século 422 [email protected]

TESTEMUNHO

Batismo Com O espírito Santo

http://www.webservos.com.br/gospel/testemunhos/testemunhos_show.asp?id=2990&cat=6

(Em: Bênçãos Diversas – Test. nº 483) Em 8/5/2009 por: José Joaquim [email protected] Teresina / PI Nome: JOSE JOAQUIM E-mail: [email protected] Igreja/Ministério: ASSEMBLEIA DE DEUS - MADUREIRA - Bairro Monte Castelo Região: TERESINA-PI

Tudo me aconteceu ao longo de 10 dias, concentrando-se os fatos nos últimos 3 dias! Levado por necessidades financeiras, e depois de ter tentado diversas alternativas em Teresina-PI, na sexta-feira (17.04.09) visitei o Pastor Presidente da Assembleia de Deus - Madureira, onde a minha ex-faculdade falida iniciou há 7 anos, noutra administração - com o vestibular sendo feito nos bancos daquela Casa de Deus, cujo pastor eu ainda não visitara neste ano.

Nessa visita, propus-lhe a implementação de um curso de inglês em que eu ensinaria aos seus membros o Novo Testamento e cânticos gospel - o English Gospel - a um preço popular. Alegrei-me muito quando ele, sem opor nenhum obstáculo, aceitou! Mostrei rapidamente como se daria, usando (novamente!) as dependências da Igreja, e me propus a contribuir com o DÍZIMO de tudo o que entrasse. O Pr. Carlos disse que divulgaria a novidade no Seminário de Pastores que haveria no outro final-de-semana, e que eu poderia ir falar

pessoalmente do projeto, até mesmo naquele domingo próximo! Saí dali disposto a fazer logo uns cartazes e panfletos para o dia seguinte - sábado. Preparei imediatamente o material publicitário, e, logo na manhã do dia seguinte, deixei as xerox em sua casa, enquanto ele estava na Universidade Federal, fazendo seu Curso de Pedagogia. Naquele domingo à noite, fui com a Sara e a Reb, e expus a todos o projeto. Ao final, o Pr. me convidou para o Seminário de Líderes que aconteceria naquela semana, com um preletor vindo de Goiânia-GO, e que me bastaria pagar a metade das duas inscrições - minha e dela.

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Disse-lhe que, pelo menos eu iria ao evento. Logo na 2ª-feira, em programa de grande audiência, às 8:00h, pela Rádio Filadélfia - onde mantive por 2 anos o Progr. Encontro com Elvis -, o Pr. Carlos foi divulgar seu evento e aproveitou para falar do meu projeto, dando seu

telefone residencial. Para sua - e minha- surpresa, ao voltar para casa, sua esposa tinha recebido dois telefonemas de interessados pelo inglês! E o locutor, o Pr. Antônio, da Igreja O Brasil para Cristo, também se interessara pelo mesmo! (Ao ligar-lhe, já em casa, o Pr. Carlos me falara que acabara de chegar da rádio. Ainda liguei para a emissora duas vezes no intuito de tentar falar ao vivo, mas o próprio apresentador me atendeu dizendo estar terminando o programa.) Chegando o dia do Seminário - a sexta-feira -, logo pela manhã, liguei

ao Pr. informando-lhe da minha impossibilidade de ir ao evento - embora eu desejasse de fato -, por "motivos materiais". Prontamente, ele disse que eu poderia pagar quando recebesse dos meus futuros alunos! Assim, confirmei minha presença com minha companheira, a qual queria levar Reb, mas disse-lhe ser apenas "para adultos" - o que, depois, constatei ser como um culto normal, aberto a todos, e havia várias crianças também. Na sexta á noite, fomos uns dos primeiros a chegar. O Preletor era um simpático e loquaz jovem, alto e ligeiramente gordinho, proveniente do

interior de Goiás, residindo hoje na capital. A princípio, nada me chamou muito a atenção, por achar que se tratava de "um seminário como os demais de que participei"! O evento se estenderia até o domingo, culminando com o culto, passando pela Santa Ceia, no sábado. No dia seguinte, acordamos cedo pois queríamos tomar lá o café-da-manhã, pelas 7:00h. Aproveitei o e-mail da capa da apostila do Seminário e mandei uma questão para o jovem Preletor abordar no

encontro, pensando eu que ele, que portava notebook, se conectaria à internet a qualquer momento. Passamos na casa-condomínio de outro pastor para receber certa quantia crucial - o que não conseguimos -, e seguimos ao Seminário. Tomamos nosso módico mas abençoado desjejum e nos posicionamos na nave da Igreja - fomos os primeiros a entrar. Quando pensei que a palestra começaria pelas 8:00h, Sara me diz que seria somente às 9:30h. Enquanto isso, oramos ajoelhados e cantamos vários hinos. No horário aprazado, o simpático preletor quebrou o gelo e abriu os trabalhos. Colocou-se um pedestal com

microfone - o qual sugeri depois ao auxiliar que pusesse mais próximo do público - para as participações dos interessados.

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Memórias de Meio Século 424 [email protected]

Fiz então uma colocação incisiva: Como o Preletor via a atitude autoritária e "cultural" dos pastores assembleanos, que, apesar das mudanças já havidas, ainda existem muitos desses "cascas grossas", especialmente pelo interior do Brasil... Obviamente, ele não quis bater

de frente com qualquer liderança - quem sabe até receando haver ali alguns desses - mas, citou um caso curioso do Pr. Paulo Leivas Macalão - Fundador da AD Madureira - que, ao entrar no Templo da Baleia -DF, um vento levantou sua gravata para o ombro. Ao verem aquilo, todos os pastores e demais irmãos imediatamente puseram suas gravatas pra cima também!... E citou, de forma elegante, outros casos demonstrando o absurdo dessas atitudes herméticas. Perguntou-me se respondeu á minha pergunta, ao que lhe disse: "Politicamente correto!".

Tivemos de sair alguns minutos antes das orações finais para pegarmos a Reb que nos esperava há quase duas horas no colégio, onde fora fazer 3 provas. (Quando chegamos à Praça do Fripisa, nossa pequena estava até um pouco pálida de tanto esperar - e de fome!). Enquanto eu mostrava uns livros usados para um vendedor que se mostrou interessado e providenciava mais xérox do cartaz e dos panfletos do Curso de Inglês, dei-lhe algum dinheiro para ela fazer um lanche com sua mãe. Logo mais retornamos à Igreja para aproveitarmos o almoço, pois a Sara não tivera tempo de preparar algo

em casa. No caminho, retornamos àquele mini-condomínio para tentar receber a pequena quantia. Para nossa surpresa, o proprietário tinha acabado de chegar de Vitória-ES, onde fora participar das eleições da CGADB, e ele mesmo me fez o devido e tão esperado pagamento. Ao chegarmos à Igreja, devido ao nosso atraso, o almoço coletivo já tinha se acabado, mas a esposa do pastor anfitrião nos levou para sua casa e ali, ao lado dele, do Preletor e demais irmãos, almoçamos um

macio frango assado com coca-cola. Como a palestra só recomeçaria às 15:00h, decidi ir pra casa descansar um pouco e retornarmos logo. Naquela tarde de sábado, chegamos exatamente no início da preleção. A Reb ficou em casa para se restabelecer do cansaço. Sara aproveitou para fazer algumas perguntas e colocações, mesmo sem usar o microfone que ainda estava ao seu lado. Não quis ficar para o jantar pois ainda me sentia um tanto desgastado (afinal há tempo que não participava de um seminário assim - ainda mais numa igreja, onde eu

gostava de ir uma vez e só voltar por ali uns quinze ou 30 dias depois!).

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Chegando em casa, tomei banho e me foi desvanecendo o ânimo de voltar, até porque ainda haveria mais seminário no dia seguinte - domingo. (Tinha até me esquecido que se daria a Santa Ceia naquela

noite - só me lembrei alguns minutos depois de me sentar no Templo!) Como já tinha tomado meu remédio da pressão, reuni o restinho de força que tinha enquanto navegava pela internet - buscando o resultado das eleições da Assembleia - Missão, a CGADB, e o site do Preletor Wyndson, ainda em construção - e decidi voltar àquela Igreja que me convidara para um Seminário de Liderança e Crescimento! Eu, Sara e Reb chegamos pelas 19:10h, encontrando a estreita rua do bairro de Monte Castelo cheia de carros, mas consegui estacionar bem

perto da entrada do templo. Encontramos a igreja lotada e com dezenas de pessoas em pé - até a galeria que não estava sendo usada durante o Seminário, estava lotada! Ficamos ali atrás, em pé, avistando o púlpito repleto de pastores das diversas congregações daquele Campo pastoral. O preletor foi o pregador da noite. Ele citou duas vezes o meu humilde curso de língua. No momento da entrega da Ceia uma tristeza invadiu-me alma: mais uma vez eu ficaria de fora daquele Banquete. Oramos e, mais adiante, fez-se o convite a quem quisesse aceitar ou se reconciliar com Cristo! Não senti nenhum

desejo excepcional em ir à frente, até porque nunca me considerei "desviado". Revimos a Ir. Dulce, que fora nossa auxiliar de limpeza da faculdade e demos-lhe pequena ajuda financeira, conforme fazemos sempre que podemos - embora, ali mesmo já estávamos tirando de um outro compromisso atrasado e talvez não sanável... O Seminário se aproximava do fim. No domingo, mais uma vez, fomos uns dos primeiros a chegar. Como sempre, o Preletor iniciou seus trabalhos e, ao final, achou por bem chamar à frente QUEM NÃO

TINHA AINDA RECEBIDO O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO! A princípio, não quis ir, até porque já tivera belíssimas experiências em orações fortes, na própria AD, e realmente estava temendo que me acontecesse ali uma "reação esquisita" que me colocaria em situação deselegante e constrangedora diante de tanta gente... (Já pensou: Eu, "o professor que estava ali para implementar um curso de inglês"?...) Todavia, não resisti por muito tempo e, quando me levantei para ir, a multidão já estava bem ao lado da minha fileira de cadeiras

(estávamos na 3ª). Logo após mim, veio a Rebita que ficou no meu lado direito. Abracei-

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Memórias de Meio Século 426 [email protected]

lhe rapidamente e continuei postado, cabisbaixo e orando baixinho, quase sem ânimo especial algum! À medida que o Preletor insistia no descer do Espírito Santo e que nós "falássemos em línguas", eu me dispus a glorificar a Deus por todas as coisas belas do Universo e

pedir-lhe perdão por tudo na minha vida que estivesse incorreto e que Ele me orientasse, iluminasse, etc, etc... Tão logo fui esticando meus braços para o alto, como que tentando tocar no próprio Trono de Deus, minhas mãos foram se aquecendo e uma espécie de fogo sublime (que arde mas não queima!) penetrou todo o meu corpo como se, literalmente, me purificasse da cabeça aos pés, deixando totalmente envolvido naquela "purificação ígnea"!

Passei a sentir minhas mãos querendo subir, como se ALGO OU ALGUÉM me puxasse, me levantasse, me sustentasse! E eu não conseguia abaixar os braços - nem se quisesse! Nisso, meus braços passaram a tremer descontroladamente e fico a gritar no restinho de voz que ainda tinha - pois já tinha bradado muito "GLÓRIA A DEUS! ALELUIA! GLÓRIA A DEUS! ALELUIA!" Meus braços brandiam como que cheios de uma corrente elétrica que não me causava danos nem me dava medo. Pelo contrário: TUDO AQUILO ME ERA A EXPERIÊNCIA MAIS PURA E DIVINA QUE JÁ TIVE! (Até mesmo mais do que quando, há 29 anos atrás, na minha cidade natal, sendo eu ateu,

descobri a Deus e, ajoelhado naquele terreno baldio, perto de uma cerca de agave, desmanchei-me no maior pranto da minha vida até então!). Enquanto isso, vários Obreiros que passavam pela multidão, impuseram suas mãos sobre mim e me senti realmente especial para Deus. Um deles , pegou minha mão, e, não conseguindo abaixá-la, foi-me conduzindo para o púlpito, onde estavam os demais irmãos que acabaram de ser batizados.

Ao passarmos pelo Preletor que continuava orando - creio que foi ele -, ele me pôs o microfone à boca e, lembro-me só saía um "aleluia enrolado" ao que ele constatou que eu realmente FALARA EM LÍNGUAS ESTRANHAS! (Todavia, O MAIOR SINAL DESSE DIVINO ESPÍRITO FOI TODO O FRAMIR DO MEU CORPO E O ENLEVO ESPIRITUAL QUE EU ESTAVA VIVENDO NAQUELE MOMENTO!) Eu quase não conseguia andar! Minhas pernas fraquejaram como

quando minha pressão subiu a 18 X 10 mm/hg certa vez . Chegando ao púlpito, ele me trouxe uma cadeira, e quase sem abrir os olhos, continuei chorando copiosamente e louvando ao ESPÍRITO SANTO!

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Memórias de Meio Século 427 [email protected]

Pus a cabeça na mão esquerdo, apoiando-me na cadeira de plástico louvando a Deus e chorando, e levantei o braço direito bem alto, "segurando novamente Aquele que me sustentava"! Continuei assim por mais uns 10 min... A essa altura, comecei a ficar envergonhado: eu

fui detectado no meio daquela multidão e ainda me puseram sentado numa cadeira como se eu fosse um velho ou um inválido!... Que vergonha para mim que atento tanto para as poses e posturas e etiquetas - embora já tenha me desleixado muito neste aspecto ao longo dos anos! Reunindo um pouco de forças que eu sentira que me chegara, fui me levantando enquanto os irmãos já cantavam com a banda local. Nisso, aproxima-se o Pr. Presidente da A.D. Madureira - Monte Castelo, Pr. Carlos da Silva Nogueira, o qual me convidara para

aquele grandioso e inesquecível evento! Abracei-o como há muito tempo não abraçara alguém, com tanta força e afago, e pedi a Deus que abençoasse aquela Igreja e todos os pastores e chorei mais um tanto por mais um tempo... Salvo outra informação mais abalizada, de alguém que assistiu a tudo de fora - pois as fortes emoções desrespeitam o relógio do tempo! - acho que essa experiência demorou de 20 a 25 minutos. O Pr. Preletor foi dispensando os recém-batizados no Espírito Santo e voltei cabisbaixo para meu assento, sentindo-me envergonhado, com o rosto

todo molhado de lágrimas (eu tinha até deixado o lenço na cadeira, junto à Bíblia!) e o óculos embaçado! Ao sentar-me, não agüentei novamente e caí noutro pranto copioso, com o lenço aberto tentando sufocar o som do meu profundo choro, enquanto se preparava a entrega dos certificados do seminário. Achei que não ia ter condições físicas para me levantar novamente e ir á frente pegar o meu. Após a oração final, procurei o Pr. Carlos e, sentado à direita, no púlpito, manifestei-lhe meu desejo de RECONCILIAR-ME COM A IGREJA "ASSEMBLEIA DE DEUS"! De pronto, ele chama o Preletor, Pr.

Wyndson, e ele também se alegrou dizendo-me que eu não iria me reconciliar a noite, não; mas ali mesmo, naquela hora! AJOELHEI-ME E, IMBUÍDO DE UM PODER SUPERIOR QUE AINDA ME ENVOLVIA A ALMA E O CORPO, DECIDI RETORNAR À MINHA QUERIDA IGREJA-MÃE, onde há 28 anos eu conheci um Deus-Vivo e especialíssimo! ESTAVA RESTAURADO! (Como disse o jovem Conferencista, em grego: TETELESTAI - ESTÁ CONSUMADO "!)

Ao sair dali, vários irmãos que ainda não me conheciam, vieram me cumprimentar e parabenizar. De pronto, procurei um salão de beleza para cortar meu cabelo que estava desgrenhado, pois eu queria,

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ànoite, estar "impecável"! Bem na frente da Igreja há um salão, mas estava fechado. Informei-me com a vizinha que informou outros e fui procurando nas redondezas. Andei por uns 5 locais, mas no único aberto, a cabeleireira ainda estava com dois clientes e ainda seu

almoço... Voltei para casa, e o meu profissional habitual, cujo salão é na sua própria casa, o qual estava jogando sinuca no bar ao lado, não se recusou em me atender. Naquele domingo à noite (dia 26.04.2009), vesti meu melhor terno e, junto com minha atual família, fomos à frente e nos "entregamos à Assembleia" - pois vários anos antes já havíamos nos entregado a Cristo!

Durante as apresentações dos visitantes, o Pr. Carlos mencionara minha reconciliação como sendo um dos fatos mais significativos daquele Seminário. De fato: eu disse ao Pr. Wyndson, o preletor do SEMINÁRIO DE LIDERANÇA E CRESCIMENTO, que aquela data e aquele evento marcaram minha vida, sendo o seu certificado "o maior importante diploma em minha vida acadêmica"! Como crítico religioso que sempre fui, e tendo passado por umas cinco denominações religiosas diferentes, é verdade que ainda tenho

algumas coisas contra a doutrina assembleiana, mas sei que o próprio ESPÍRITO SANTO será meu Professor-Teólogo a me esclarecer e me orientar nos labirintos da exigente "ciência humana". O que importa agora é que ELE TOCOU-ME e SEI QUE ALGUÉM MAIOR DO QUE TODOS NÓS ME AMA! Agradeço ao Pr. Carlos pelo divino convite, ao Pr. Wyndson pela sua genialidade e por ter aceito o convite dessa Igreja e a todos os demais irmãos. (Depois da experiência, até um jovem irmão que se interessara

pelo meu curso, e, sem me conhecer, disse que estava orando por mim..)

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A nova Ponte estaiada de Teresina

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rostosobre ti,

e tenha misericórdia de ti;o Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te dê a paz.

(Números 6:24-26)

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2011 Deus é Tremendo

Deus é Fiel 2012