27
COTEJO DE MANUSCRITOS DO SÉCULO XIX Elias Alves de Andrade * Resumo: Este artigo tem por objetivo o estudo filológico de dois manuscritos do século XIX, o primeiro (Ms1), escrito em Mariana – MG, em 8 de fevereiro de 1812, e o segundo (Ms2), sem indicação de data e local, pertencentes ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, ambos cópias, sendo o Ms2 cópia do Ms1. Para tanto, foram feitas as edições fac-similar e semidiplomática, buscando-se, através do cotejo dos dois documentos, analisar as diferenças e semelhanças detectadas entre eles e efetuar os comentários paleográficos. Palavras-chave: Crítica textual; filologia; manuscrito; edição; paleografia. 1. Introdução Seguindo-se princípios da filologia e da crítica textual, este artigo tem por objetivo fazer o cotejo entre dois manuscritos do século XIX: o Ms1, datado de 08.02.1812, Mariana – MG, e o Ms2, sem indicação de data e local, pertencentes ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, acondicionados na lata 88, pasta 2, ordem 0–334, identificada como: “S. Manuscritos, T. C. Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Excursão do General Rodrigo Cesar de Menezes àquelas localidades, 1721–1822”, visando à abordagem de aspectos * Universidade Federal de Mato Grosso.

Andrade Manuscritos Seculo XIX

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Estudo sobre paleografia na língua portuguesa

Citation preview

  • COTEJO DE MANUSCRITOS DO SCULO XIX

    Elias Alves de Andrade*

    Resumo: Este artigo tem por objetivo o estudofilolgico de dois manuscritos do sculo XIX, o primeiro(Ms1), escrito em Mariana MG, em 8 de fevereiro de1812, e o segundo (Ms2), sem indicao de data e local,pertencentes ao Arquivo Pblico do Estado de So Paulo,ambos cpias, sendo o Ms2 cpia do Ms1. Para tanto,foram feitas as edies fac-similar e semidiplomtica,buscando-se, atravs do cotejo dos dois documentos,analisar as diferenas e semelhanas detectadas entreeles e efetuar os comentrios paleogrficos.

    Palavras-chave: Crtica textual; filologia; manuscrito;edio; paleografia.

    1. Introduo

    Seguindo-se princpios da filologia e da crtica textual, esteartigo tem por objetivo fazer o cotejo entre dois manuscritos dosculo XIX: o Ms1, datado de 08.02.1812, Mariana MG, e o Ms2,sem indicao de data e local, pertencentes ao Arquivo Pblico doEstado de So Paulo, acondicionados na lata 88, pasta 2, ordem0334, identificada como: S. Manuscritos, T. C. Minas Gerais, MatoGrosso, Gois, Excurso do General Rodrigo Cesar de Menezesquelas localidades, 17211822, visando abordagem de aspectos

    * Universidade Federal de Mato Grosso.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010162

    paleogrficos e das diferenas existentes entre ambos, fruto dasintervenes do escriba, copista ou amanuense.

    Tendo por suporte as edies fac-similar e semidiplomtica,alm de procurar mostrar os desafios que o editor enfrenta ao sedeparar com a tarefa de editar textos, quando se dispe de cpia(Ms1) da qual se origina outra cpia (Ms2) atestada, entretanto,por terceiro, espera-se contribuir para o estabelecimento dos textos,preparando-os para o trabalho do linguista.

    Essa atividade est articulada com os projetos de pesquisaEstudo do portugus em manuscritos produzidos em Mato Grossoa partir do sculo XVIII MeEL/IL/UFMT; e Histria e variedadedo portugus paulista s margens do Anhembi e Edio de textosliterrios e no literrios em lngua portuguesa FFLCH/USP.

    2. Paleografia

    2.1. Histrico e definies1

    A paleografia, definida etimologicamente pelo grego palaios(antigo) e graphien (escrita), a cincia que estuda a escritaantiga,2 atentando-se tambm para a dificuldade de leitura queessa escrita acarreta, pelo fato de a escrita antiga apresentarcaracteres diferentes dos da escrita atual.3

    Spaggiari e Perugi4 entendem que a paleografia, disciplinacomplementar codicologia, tem como fim o estudo dos caracteresgrficos antigos, nisto concordando com Acioli,5 que a define como

    1 O tratamento terico deste sub-item consta, no que se refere a contedo eforma, tambm em: ANDRADE. Aspectos paleogrficos em manuscritos dossculos XVIII e XIX, p. 149172.2 DIAS; BIVAR. Paleografia para o perodo colonial, p. 1138.3 ACIOLI. A escrita no Brasil Colnia, p. 5.4 SPAGGIARI; PERUGI. Fundamentos da crtica textual, p. 17.5 ACIOLI. A escrita no Brasil Colnia, p. 5.

  • 163ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    a cincia que l e interpreta as formas grficas antigas, determinao tempo e lugar em que foi redigido o manuscrito, anota os errosque possa conter o mesmo, com o fim de fornecer subsdios Histria, Filologia, ao Direito e a outras cincias que tenham aescrita como fonte de conhecimento.

    Por sua vez, Blanco afirma que a paleografia a cinciaque ensina a ler corretamente toda a classe de documentosmanuscritos ou impressos, abordando tambm a origem eevoluo da escrita.6

    Cambraia,7 definindo tambm a paleografia, a exemplodos autores citados, como o estudo das escritas antigas, asseguraque, modernamente, ela tem finalidade tanto terica quantopragmtica: terica, porque expressa a preocupao em seentender como se constituram scio-historicamente os sistemasde escrita; pragmtica, porque visa capacitao de leitoresmodernos para avaliarem a autenticidade de um documento, combase na sua escrita, alm de poderem interpretar de maneiraadequada as escritas antigas.8

    Na mesma direo, Spina9 afirma que a paleografia oestudo das antigas escritas e evoluo dos tipos caligrficos emdocumentos, em material perecvel (papiro, pergaminho e papel),posio corroborada por Azevedo Filho,10 que assegura estar apaleografia voltada para o estudo grfico de textos antigos [...]

    6 BLANCO. Estudos paleogrficos, p. 13.7 CAMBRAIA. Introduo crtica textual, p. 23.8 CAMBRAIA (Introduo crtica textual, p. 23-24) afirma: A paleografiaconstitui-se como cincia bastante relevante para a crtica textual, uma vez queauxilia na fixao da forma de um texto, para o que necessrio decodificar aescrita em que seus testemunhos so lavrados.9 SPINA. Introduo edtica, p. 18.10 AZEVEDO FILHO. Iniciao crtica textual, p. 19.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010164

    escritos em material perecvel, como o papiro, o pergaminho e opapel.11

    De acordo com Dias e Bivar,12 as origens dos estudospaleogrficos remontam Guerra dos Trinta Anos (16181648),entre protestantes e catlicos, quando teriam sido constatadosdiversos casos de falsificao de documentos de posse oupropriedade sob litgio.

    Segundo Cambraia,13 a paleografia, que como campo deconhecimento sistematizado costuma ser situada no sculo XVII,foi estabelecida pelo jesuta Daniel van Papenbroeck (16281714),o qual, por ter-se deparado, em viagem pela Europa, com muitosdocumentos falsos, escreveu a obra Propylaeum antiquarium circaveri ac falsi discrimen in vetustis membranis, na Anturpia, em 1675,em que apresenta critrios para distinguir documentos falsos deverdadeiros. O monge beneditino Jean Mabillon (16321707), apropsito de crticas de Papenbroeck sobre documentos da Abadiade Saint-Denis, escreve a obra De re diplomatica libri IV, em Paris,em 1681, em que avana ainda mais na investigao dos tipos deescrita.14 A paleografia consolida-se como cincia, entretanto, apenascom a obra Paleographia graeca sive de ortu et processu litterarumgraecarum, escrita em Paris, em 1708, pelo beneditino Bernard deMontfaucon (16551741).

    11 SPINA (Introduo edtica, p. 17-18) faz distino entre:a) Memria objeto desprovido de inscrio: coluna, pirmide, arco triunfal,

    rvore plantada, edificao;c) Documento objeto da paleografia, o artefato feito em material mole,

    com inscrio: papiro, pergaminho e papel.b) Monumento objeto da epigrafia, o artefato feito de material duro,

    com inscrio:* Numria estudo das moedas;* Numismtica estudo das medalhas, atualmente tambm das moedas;* Lapidria estudo das inscries; e

    12 DIAS; BIVAR. Paleografia para o perodo colonial, p. 14.13 CAMBRAIA. Introduo crtica textual, p. 23.14 CAMBRAIA. Introduo crtica textual, p. 23.

  • 165ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Para Dias e Bivar,15 os estudos paleogrficos no mundoocidental podem ser divididos, desde sua origem, em trs perodosde anlise:

    a) paleografia antiga ou greco-romana do sculo V a.C.ao sculo VII d.C.;

    b) paleografia medieval do sculo VII ao sculo XV; e

    c) paleografia moderna do sculo XVI ao sculo XIX.

    Para que se proceda a comentrios de natureza paleogrficaa propsito da edio de um texto, a exemplo do que se propefazer aqui a partir das edies fac-similar e semidiplomtica de Ms1e de Ms2, Cambraia16 indica deverem ser abordados os seguintesaspectos:17

    a) classificao da escrita, localizao e datao;

    b) descrio sucinta de caractersticas da escrita, a saber:a morfologia das letras (sua forma), o seu traado ou ductus(ordem de sucesso e sentido dos traos de uma letra), o ngulo(relao entre os traos verticais das letras e a pauta horizontal daescrita), o mdulo (dimenso das letras em termos de pauta) e opeso (relao entre traos finos e grossos das letras);

    c) descrio sucinta do sistema de sinais abreviativosempregado na referida escrita;

    d) descrio dos outros elementos no-alfabticosexistentes e de seu valor geral: nmeros, diacrticos, sinais depontuao, separao vocabular intralinear e translinear,paragrafao, etc.;

    15 DIAS; BIVAR. Paleografia para o perodo colonial, p. 17-18.16 CAMBRAIA. Introduo critica textual, p. 24.17 ACIOLI (A escrita no Brasil Colnia, p. 7-63) aborda, a propsito, tambm osseguintes aspectos: superfcies, tintas e instrumentos utilizados na escrita, suaorigem, evoluo e tipos, sinais braquigrficos (abreviaturas) e estigmolgicos(pontuao e acentuao).

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010166

    e) descrio de pontos de dificuldade na leitura e assolues adotadas.

    2.2. Comentrios paleogrficos de Ms1 e Ms2

    2.2.1. Tipos de letras

    Os documentos Ms1 e Ms2 editados sob a forma fac-similare semidiplomtica a seguir so manuscritos produzidos por moshbeis, ou seja, os escribas, copistas ou amanuenses queproduziram Ms1 (cpia, a partir do original, provavelmente) e Ms2,que cpia de Ms1, neste caso elaborado a pedido de um terceiro,constituem-se de pessoas letradas, tendo, por ofcio ou porformao, certamente sido submetidas a instruo formal.

    Prova disso que Ms1 e Ms2 registram escrita regular quantoao traado das letras, homogeneidade de seu tamanho, semborres ou rasuras, respeito pauta, regularidade na inclinaoda escrita direita, uniformidade nas margens do flio esquerdae direita, recto (r), e verso (v) ,18 dentre outras caractersticas.

    A escrita usada em Ms1 e Ms219 foi a humanstica ouitaliana, com tipo de letras cursivas, caracterizadas por serem corridas,traadas sem descanso da mo, apresentando muitas vezes nexosintravocabulares, alm, noutras vezes, do no estabelecimento defronteira entre palavras, especialmente em Ms2, o que pode levara uma maior dificuldade de leitura em algumas situaes, emborano seja este o caso dos documentos em anlise.20

    18 Denomina-se recto (r) a face da frente e verso (v) a face de trs do flio.19 Spina (Introduo edtica, p. 35) afirma que O Renascimento [...] relegouo estilo gtico pela sua profuso de artifcios, e voltou as suas simpatias paraum tipo de letra mais simples e mais pura, reabilitando a antiga minsculacarolina, redundando na escrita humanstica ou italiana.20 SERRO (Dicionrio de histria de Portugal e do Brasil, p. 296) afirma que asletras podem ser classificadas como encadeadas, formando uma espcie decadeia contnua, com raras separaes de palavras e aspecto aparentemente deuniformidade indissolvel.

  • 167ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Acioli21 assegura que os tipos de letras utilizados no Brasilnos sculos XVIII e XIX diferem muito pouco daqueles utilizadosatualmente, como se pode observar em Ms1 e Ms2, que tambmregistram diferenas paleogrficas, dentre elas, quanto ao ss( ) em (Ms116),22 ou ( ), em (Ms224), z ( ), em (Ms214), ou ( ), em (Ms126), ocorrncias que tambm corroboram ainformao da autora.

    2.2.2. Caractersticas ortogrficas

    A ortografia portuguesa, segundo Coutinho,23 tem suahistria marcada por trs perodos: fontico, pseudo-etimolgicoe simplificado. Gonalves,24 por sua vez, afirma existirem quatro tiposde sistema ortogrfico: etimolgico, misto, filosfico e simplificado.

    O perodo fontico, que coincide com a fase arcaica doportugus, indo desde os primeiros documentos at o sculo XVI, caracterizado pela busca de facilitao da leitura, aproximandoa escrita, na medida do possvel, lngua falada, sendo a lngua[era] escrita para o ouvido, segundo Coutinho.25 Nesse perodo,chamado de filosfico por Gonalves,26 busca-se restabelecer abiunivocidade entre a oralidade e a escrita.

    O perodo pseudo-etimolgico, que se inicia no sculo XVIindo at 1904, com a publicao da Ortografia Nacional, de GonalvesViana, foi influenciado pelo Renascimento, quando, ao seremredescobertos os escritores clssicos gregos e romanos, a escrita

    21 ACIOLI. A escrita no Brasil Colnia, p. 62.22 Leia-se Ms116 como Manuscrito 1, linha 16.23 COUTINHO. Pontos de gramtica histrica, p. 71-80.24 GONALVES. As idias ortogrficas em Portugal e pronunciar com acerto alngua portuguesa de Madureira Feij a Gonalves Viana (17341911), p. 40.25 COUTINHO. Pontos de gramtica histrica, p. 71.26 GONALVES. As idias ortogrficas em Portugal e pronunciar com acerto alngua portuguesa de Madureira Feij a Gonalves Viana (17341911), p. 40.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010168

    submeteu-se influncia etimolgica, capitaneada pelos pseudo-etimologistas, os quais, retornando origem do vocbulo em latim,restabeleceram letras h muito em desuso. Nesse perodo, deconformidade com Coutinho,27 conviveram vrias ortografias,dado que a etimologia [...] era uma cincia que dependia, emgrande parte, da fantasia de cada escritor.

    O perodo etimolgico, de acordo com Gonalves,28 marcadoprincipalmente pela publicao, em 1734, de Orthographia ouarte de escrever e pronunciar com acerto a lingua portugueza, deJoo de Morais Madureira Feij, plasmado na recuperao darepresentao grfica dos timos.

    O sistema misto, segundo a mesma autora, constitui-se daconvergncia de vrios princpios como a etimologia e a pronncia,podendo verificar-se verses mais ou menos fortes de etimologia, degrafias histricas, de adopo de grafias fonticas, ou de sujeio ao uso.

    Aps a publicao da Ortografia Nacional, de GonalvesViana, em 1904, foram estabelecidos dois sistemas simplificados:o portugus e o luso-brasileiro, com a definio de vrios princpiosortogrficos, de maneira a se buscar uniformidade da escrita, porum lado, mas tambm, a simplificao da ortografia, por outro.

    Segundo Santiago-Almeida,29 apesar dos acordos na buscade unificao ortogrfica do portugus,

    a ausncia de uma norma de fato para a escrita fez com que,principalmente no sculo XVIII, se apresentasse uma grafia varivel,oscilante, emergindo ainda traos da modalidade oral, resquciosda fase da ortografia fontica, prpria do perodo arcaico, em queos textos, segundo Maia (1986, p. 302), revelavam freqentessituaes de polivalncia e de poligrafia.

    27 COUTINHO. Pontos de gramtica histrica, p. 71.28 GONALVES. As idias ortogrficas em Portugal e pronunciar com acerto aLngua Portuguesa de Madureira Feij a Gonalves Viana (17341911), p. 40.29 SANTIAGO-ALMEIDA. Aspectos fonolgicos do portugus falado na baixadacuiabana: traos de lngua antiga preservados no Brasil (manuscritos da pocadas Bandeiras, sculo XVIII), p. 181.

  • 169ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Quanto s caractersticas ortogrficas, verifica-se em Ms1e Ms2 o uso de:

    a) consoantes dobradas de g, c, f, l e n, como em (Ms13), 30 (Ms22/3), (Ms121/22), (Ms17 e Ms27), (Ms12 e 27), (Ms21 e 30), (Ms12 e 27), (Ms110 e Ms210), (Ms116), (Ms122), (Ms 224), (Ms17 e Ms26).

    b) h, como em (Ms16 e Ms25), (Ms114 e Ms215), (Ms113/14), (Ms214/15), (Ms15 e Ms24).

    c) ou, como em (Mss1 e 26).

    d) z, como em (Ms111 e Ms212), (Ms114), (Ms1 16), (Ms218), (Ms122 e Ms225), (Ms113 e Ms214), (Ms226).

    e) oens, como em (Ms18/9), (Ms29), (Ms117 e Ms218), (Ms118 e Ms220).31

    2.2.3. Dimenso e traado das letras

    A dimenso das letras, maisculas e minsculas, comhastes ascendentes e descendentes, mesmo com pequenosrebuscamentos, no prejudica a leitura dos manuscritos, uma vezque seus traos dificilmente avanam os limites da pauta posterior,como se pode ver nas reprodues abaixo:

    30 A barra ( | ), como em , indica mudana de linha no manuscrito.31 Cf. ANDRADE. Estudo paleogrfico e codicolgico de manuscritos dos sculosXVIII e XIX: edies fac-similar e semidiplomtica, p. 316318.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010170

    Figura 1 Figura 1 Figura 1 Figura 1 Figura 1 Detalhe de Ms1 (linhas 1 a 11, recto)

    Figura 2 Figura 2 Figura 2 Figura 2 Figura 2 Detalhe de Ms2 (linhas 1 a 11, recto)

    Os detalhes de Ms1 e Ms2 mostram que h padronizaoda escrita, muito prxima da atual, com inclinao das letras direita, respeito pauta, apresentando regularidade das margensda mancha, esquerda e direita, tratando-se, portanto, de textosbem cuidados.

    Alm disso, o traado das letras marcado por pressoconstante do instrumento de escrita sobre a matria subjetiva, no

  • 171ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    havendo borres nem excesso desigual de tinta, provavelmenteem razo da melhor qualidade da tinta e do papel utilizados.32

    A morfologia das letras, o seu traado ou ductus (ordemde sucesso e sentido de seus traos), o ngulo (relao entre seustraos verticais e a pauta horizontal), o mdulo (dimenso das letrasem termos de pauta), e o peso (relao entre os traos finos egrossos)33 so regulares, evidenciando as mos hbeis dos escribas,que demonstram habilidade e sedimentado conhecimentocaligrfico.

    Observando-se, por fim, os dois manuscritos, verifica-seque Ms1, cpia, possui o texto e a assinatura com as mesmascaractersticas caligrficas, sendo, portanto, apgrafo.34 J Ms2, emboraregistre diferenas caligrficas entre o corpo do texto linhas 1 a34 e a frase (Ms235) e a assinatura pelo (Ms236),trata-se tambm de testemunho lavrado por um copista, apgrafo,35

    portanto, uma vez que, produzido por um amanuense, no foiconferido por seu autor intelectual, mas por quem solicitou acpia.

    2.2.4. Abreviaturas (sistema braquigrfico)

    Acioli36 afirma que houve, por vezes, ao longo da histria,um uso excessivo de abreviaturas na produo de manuscritos,buscando a economia do material de escrita, raro e caro pocae a lei do menor esforo, que levava o escriba a abreviar as palavras

    32 BECK (Manual de conservao de documento, p. 7-8) afirma que, entre 1809e 1810, instalou-se a primeira fbrica de papel no Brasil, no Andara Pequeno,Rio de Janeiro, seguindo-se outras, em 1837 e 1852.33 CAMBRAIA. Introduo crtica textual, p. 24.34 Idigrafo o manuscrito produzido por um escriba ou copista, mas revistopor seu autor intelectual.35 Apgrafo o manuscrito produzido por terceiro, no caso, cpia.36 ACIOLI. A escrita no Brasil Colnia, p. 46.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010172

    para dispensar menos tempo e energia no seu trabalho. Eramutilizadas por hbito ou conveno, para imprimir maior velocidadeao texto, dada a sua recorrncia e previsibilidade, dentre outrosmotivos, permanecendo, alis, seu uso, em determinados tiposde texto, at os dias atuais.

    Spina37 classifica as abreviaturas como sendo por:

    a) sigla representao da palavra pela letra inicial;

    b) sncope supresso de elementos grficos no meio dapalavra com letra(s) sobreposta(s);

    c) numeral inicial com letra(s) sobreposta(s);

    d) apcope supresso de letra(s) ao final do vocbulo.

    A seguir, sero apresentadas as abreviaturas encontradasem Ms1 e Ms2, com desdobramento indicado por Flexor,38

    organizadas, pela ordem em cada linha, em edies fac-similar,diplomtica e semidiplomtica,39 recorrendo-se nesta aos caracteresitlicos para a explicitao do(s) elemento(s) suprimido(s).

    a) Sigla40

    Ms212

    Ms231

    37 SPINA. Introduo edtica, p. 44-49.38 FLEXOR. Abreviaturas: manuscritos dos sculos XVI ao XIX.39 Para definies de edio semidiplomtica, cf. item 3 adiante e nota 41.40 ACIOLI (A escrita no Brasil Colnia, p. 46) classifica esse tipo de abreviaturacomo por suspenso ou apcope.

  • 173ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    b) Sncope com letras sobrepostas

    Ms212

    Ms23

    Ms236

    Ms233

    Ms227

    Ms218

    Ms131

    Ms21

    Ms216

    Ms131

    Ms21

    Ms236

    Ms215/16

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010174

    Ms236

    Ms219

    Ms233

    Ms131

    Ms21

    3. Edies fac-similar e semidiplomtica41

    Sero apresentadas a seguir as edies de Ms1 e Ms2: afac-similar, reproduo mecnica, xerogrfica e fotogrfica dotexto, que, de acordo com Spina,42 reproduz com muita fidelidadeas cactersticas do original; e a semidiplomtica, ou diplomtico-interpretativa, que representa um grau baixo de interveno doeditor no manuscrito, com a transcrio tipogrfica do texto e odesdobramento das abreviaturas.

    41 SPINA (Introduo edtica, p. 7785) define, alm desses, os seguintestipos de edio: diplomtica, paleogrfica e crtica. CAMBRAIA (Introduo crtica textual, p. 91103) apresenta classificao de tipos de edio, em que,concordando com Spina quanto s edies fac-similar, diplomtica e crtica,chama de paleogrfica a semidiplomtica e a diplomtico-interpretativa,acrescentando a interpretativa, resultado do grau mximo de interveno doeditor, e a modernizada, marcada pela modernizao lingustica do texto.42 SPINA. Introduo edtica, p. 7881.

  • 175ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Na edio semidiplomtica de Ms1 e Ms2, tendo-se porreferncia as orientaes para a transcrio de manuscritos43

    estabelecidas no II Seminrio para a Histria do PortugusBrasileiro, realizado no perodo de 10 a 16 de maio de 1998, emCampos do Jordo (SP), sero adotados os seguintes critrios:

    a) As linhas sero numeradas de cinco em cinco.

    b) As abreviaturas sero desdobradas e os caracteres nelassuprimidos expressos em itlico.

    c) Os diacrticos (til, apstrofo, etc.), a acentuao, apontuao e demais sinais sero mantidos como nos originais.

    d) A ortografia ser mantida como nos originais.

    e) As fronteiras de palavras sero mantidas como nosoriginais.

    f) O s caudado ( )ser representado por s.

    g) As assinaturas sero indicadas entre diples (< >).

    43 MEGALE, H. et al. Normas para a transcrio de documentos manuscritospara a histria do portugus do Brasil, p. p. 553-555.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010176

    Ms1 Flio 1r

  • 177ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Transcrio 1 Flio 1r

    CDIGO DE IDENTIFICAO: APESP: 88292

    ASSUNTO Relato de diligncias em andamento para a priso de certopeo, que tem seis dedos em um p, assassino de autoridademilitar, que teria fugido para Campanha MG ou So Paulo.

    LOCAL E DATA Mariana MG, 8 de fevereiro de 1812

    ASSINATURA Apgrafo

    Copia.Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor. = Prosseguindo com amaior energia nas diligencias de descobrir os aggressores do assassinio feito ao Capita Mr Antonio Alvares Pereira, de no =

    5 vo ocorre vehemente indicio contra Joa Ignacio, Pia quetem seis dedos nhum p; o qual esteve neste Termo dousannos com pouca differena em caza dos Jorges de Bento Ro =drigues, de quem fra algum tempo camarada; e pelas combi =naoens, que tenho na Devassa, se ajusta a suspeita contra

    10 o mesmo: e como elle, ou se ter a esta hora escapado, ou paraa Campanha, aonde costuma estar, e em caza do SargentoMr Branda; ou para Sa Paulo; e para qualquerdas partes ser necessaria, para o melhor rezultado da a =prehena, huma pozitiva Ordem de Vossa Excellencia; vou novamen

    15 te rogar a Vossa Excellencia se digne quanto antes expedi-la comas cautellas necessarias para se proceder prizo do ditoPia; com as recomendaoens nos Registos para obviar apassagem, e fazer as devidas averiguaoens: e quando seno verifiquem as suspeitas, ficar-me-h a satisfaa de no

    20 ficar na duvida, e de haver cumprido com os meus deveres,que tanto mais insta, quanto se tem multiplicado os suc =cessos daquella ordem neste Termo, sendo espantozo quedentro em quinze dias proximos na menos de tres mortesviolentas tem havido nas vizinhanas da Cidade. = Deos

    25 Guarde a Vossa Excellencia Marianna oito de Fevereiro de miloito centos e doze. = Eu sou com os sentimentos da maisalta veneraa, e respeito. = Illustrissimo, e ExcellentissimoSenhor Conde de Palma. = DeVossa Excellencia fiel subdito=

    30 Esta conformeNos empedimentos doSecretario desteGoverno

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010178

    Ms2 Flio 1r

  • 179ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Transcrio 2 Flio 1r

    CDIGO DE IDENTIFICAO: APESP: 88292

    ASSUNTO Relato de diligncias em curso para a priso de um peo,que tem seis dedos em um p, assassino de autoridademilitar, que teria fugido para Campanha MG, ou So Paulo.

    LOCAL E DATA No definidos

    ASSINATURA Apgrafo

    Copia.Illustrissimo eExcellentissimo Senhor Proseguindo com ama -ior energia nas deligencias dediscobrir os aggres -sores do assassino feito aoCapita Mor Antonio AlvesPereira, dinovo occorre vehemente indicio contra

    5 Joa Ignacio, pia, quetem seis dedos nhum p,o qual esteve nesteTermo dous annos compoucadifferena emcaza dos Jorges deBento Rodrigues,dequem fora algum tempo camarada, epelascombinaoens, quetenho naDevassa, seajusta

    10 a suspeita contra omesmo; ecomo elle ou sete -r esta hora escapado, oupara aCampanha,onde costuma estar, eemcaza do Senhor Alvarez Branda,oupara Sa Paulo; epara qualquer das partes se -r necessario para omelhor rezultado da apre

    15 hena huma positiva Ordem deVossaExcellencia, vou no =vamente rogar aVossaExcellencia sedigne quanto antes expe -dila com as cautelas necessarias para seprocederpriza dodito pia; com as recomendaoens nosRegistos para obviar apassagem, efazer as devi -

    20 das averiguaoens: equando na severifiquemas suspeitas ficar-me-ha asatisfaa denaficar naduvida, edehaver cumprido com os meusdeveres, quetanto mais insta, quanto setem mul -tiplicado os sucessos daquella ordem neste Ter -

    25 mo, sendo espantozo quedentro em quinze diasna menos detrez mortes violentas tem havidonas vezinhanas daCidade. = Deos GuardeaVossaExcellencia Marianna 8 deFevereiro de1812 /.Eu sou com os sentimentos damais alta ve -

    30 neraa erespeito = Illustrissimo eExcellentissimo Senhor Con -de dePalma = DeVossaExcellencia Fiel Sbdito = = EstaConforme = Nos empedimentos doSecretario desteGover -

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010180

    Ms2 Flio 1v

  • 181ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Transcrio 2 Flio 1v

    Governo = =35 Esta conforme

    OJuizdeFora

    4. Cotejo de Ms1 e Ms2

    As intervenes do escriba na transmisso de manuscritosocorrem, em geral, em razo de seu grau de instruo, cansao,longa jornada de trabalho ininterrupto, cultura, condies deconservao dos originais, censura prpria ou de superior, doestado ou da igreja, pressa, tempo exguo para se executar umatarefa, disponibilidade e qualidade do papel, da tinta, doinstrumento de escrita e do princpio de economia de papel.

    Em Ms2, que cpia de Ms1, sendo Ms1 identificado como (Ms11), essas intervenes, ao que tudo indica, foramdeliberadamente feitas pelo copista, dado o expressivo nmerode abreviaturas e o no estabelecimento de fronteiras entreconsidervel quantidade de palavras.

    Parece haver evidncias sinalizando que Ms1 tenha sidoutilizado para se fazer a cpia (Ms2), uma vez que a expresso (Ms232/33) pertence tambm primeiracpia (Ms130).

    Refora essa tese o fato de que (Ms235)guarda diferenas caligrficas evidentes com (Ms232/33), que, por sua vez, revela semelhanas caligrficas como corpo de Ms2, exceo de (Ms235/36), muitosemelhantes caligraficamente entre si, por se tratar de um segundopunho, diferindo, no obstante, do restante do texto (Ms21/34).

    Fazendo-se o cotejo entre Ms1 e Ms2, podem serobservadas as seguintes caractersticas:

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010182

    a) Variao do nmero de linhas

    O Ms2 possui 36 linhas (33 no flio 1r e 3 no flio 1v),sendo mais extenso em razo, dentre outros fatores, de ter duaslinhas a mais do que o Ms1: (Ms235) e (Ms236), e de considervel nmero de abreviaturas vinte e duas. J oMs1, menos extenso, tem 32 linhas, todas no flio 1r, mesmoregistrando (Ms123), palavra suprimida no Ms2,alm de possuir apenas oito abreviaturas.

    b) Datao

    O Ms1 est datado de 08.02.1812, enquanto o Ms2, cpiade Ms1, no possui data nem local onde foi escrito.

    c) Fronteiras de palavras

    O Ms1 possui apenas trs ocorrncias do no estabeleci-mento de fronteiras de palavras: (Ms128), (Ms131) e (Ms131).

    J o Ms2 apresenta sessenta e sete ocorrncias, dentre elas,apenas para ilustrar: (Ms23), (Ms24), (Ms26), (Ms27), (Ms28), (Ms210), (Ms213), (Ms219), (Ms2-22), (Ms227) e (Ms231).

    Esses exemplos so evidncias de que o escriba, amanuenseou copista, de Ms2 optou por alterar Ms1, nesse aspecto,aumentando significativamente o nmero do no estabelecimentode fronteiras entre palavras, de trs, em Ms1, para sessenta e sete,em Ms2.

    d) Abreviaturas

    O Ms1 contm nove abreviaturas, enquanto o Ms2 vinte equatro. A ttulo de exemplo, vejam-se:

  • 183ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    Ms1 Ms2

    (Ms12)44 (Ms21)

    (Ms14) (Ms23)

    (Ms117) (Ms219)

    (Ms127) (Ms230)

    e) Uso de maisculas.

    Observem-se, como exemplos:Ms1 Ms2

    (Ms15) (Ms25)

    (Ms117) (Ms218)

    f) Pontuao.

    Observem-se, como exemplos:Ms1 Ms2

    (Ms15) (Ms25)

    (Ms16) (Ms25/6)

    (Ms18) (Ms28)

    (Ms110) (Ms210)

    (Ms127) (Ms229/30)

    (Ms127) (Ms230)

    g) Acentuao.

    Observem-se, como exemplos:Ms1 Ms2

    (Ms110) (Ms211)

    (Ms119) (Ms221)

    (Ms119) (Ms221)

    44 A indicao (2) refere-se ao nmero da linha na transcrio.

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010184

    h) Supresses e acrscimos.

    So as seguintes as ocorrncias:Ms1 Ms2

    (Ms123) (Ms225/26)

    (ao final de Ms1) (Ms235)

    (Ms236)

    i) Outras caractersticas

    H outras caractersticas, de natureza diversa, conformese pode observar, a ttulo de exemplo no quadro a seguir, comopoligrafia (1 a 5), traos de oralidade na escrita (6 e 7), empregode advrbios (8), colocao de pronome antes ou depois doadvrbio de negao (9), duplicao de consoantes (10 e 11) e usode apstrofo (12), que distinguem os dois manuscritos. Observem-se:

    Ms1 Ms2

    1. (Ms12/3) (Ms23)

    2. (Ms114) (Ms215)

    3. (Ms121/22) (Ms224)

    4. (Ms123) (Ms226)

    5. (Ms129) (Ms232)

    6. (Ms13) (Ms22)

    7. (Ms14/5) (Ms24)

    8. (Ms111) (Ms212)

    9. (Ms118/19) (Ms220)

    10. (Ms116) (Ms217)

    11. (Ms122) (Ms224)

    12. (Ms129) (Ms232)

  • 185ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    5. Concluso

    O papel do fillogo e do crtico textual deve ser o de procurarrestituir o documento, manuscrito ou impresso, sua forma genuna,de maneira a preservar, no seu trabalho de edio, a vontade ltimado autor, efetuando, para isso, anlises, dentre elas a paleogrfica,como no presente caso, preparando o texto para publicao.

    As atividades do labor filolgico devem ser desenvolvidascom o devido cuidado a fim de que o resultado obtido seja de valiapara o crtico literrio, o linguista, o historiador e demais profissionaisde reas afins que, assim, podero dispor de material de estudo confivelpara empreenderem suas pesquisas com maior segurana.

    Foram feitas aqui as edies fac-similar e semidiplomticade Ms1 e de Ms2, ambos cpias, como visto, realizando-se o cotejoentre os dois documentos, com o objetivo de se proceder anlisede suas caractersticas paleogrficas e das diferenas que h entreeles, fruto de intervenes do escriba, copista ou amanuense,intencionais ou no, que os caracterizam como testemunhosoriundos de original no abordado aqui.

    Enfim, as anlises que se procuraram fazer neste artigo,em especial as relativas s diferenas entre os dois manuscritos,so evidncias de que o estudo da tradio dos documentos,concretizada por sua transmisso at os dias atuais, exige dofillogo dedicao e empenho redobrados com vistas a levar a bomtermo a rdua tarefa de fixao do texto.

    Resumen: Este trabajo se propone estudiar dosmanuscritos del siglo XIX. El primero (Ms1), escrito enMariana, Minas Gerais, el 8 febrero de 1812; el segundo(Ms2), sin fecha y local. Los dos documentos pertenecenal Archivo Pblico de So Paulo.Ambos son copias, elMs2 es copia de Ms1. Para este estudio se hicieron lasediciones fac-similar y semidiplomtica, con el objetivode hacer la comparacin de los dos manuscritos paraanalizar las similitudes y diferencias que hay entre

  • CALIGRAMA, Belo Horizonte, v.15, n.2, p. 161-187, 2010186

    ambos, bien como hacer los comentarios paleogrficos,con el objetivo de preparlos para el trabajo lingstico.

    Palabras-llave: Crtica textual; filologa; manuscrito;edicin; paleografa.

    Referncias

    ACIOLI, Vera Lcia Costa. A escrita no Brasil Colnia: um guia paraleitura de documentos manuscritos. 2. ed. Recife: Fundao JoaquimNabuco; Massangana, 2003.

    ANDRADE, Elias Alves de. Estudo paleogrfico e codicolgico demanuscritos dos sculos XVIII e XIX: edies fac-similar esemidiplomtica. Tese (Doutorado), Faculdade de Filosofia, Letras eCincias Humanas, Universidade de So Paulo, 2007.

    ______. Aspectos paleogrficos em manuscritos dos sculos XVIII eXIX. Filologia e Lingustica Portuguesa, So Paulo, n. 10/11,p. 149-172, 2008/2009.

    AZEVEDO FILHO, Leodegrio A. de. Iniciao crtica textual. Rio deJaneiro: Presena Edies/EdUSP, 1987.

    BECK, Ingrid. Manual de consevao de documentos. Rio de Janeiro:Arquivo Nacional Ministrio da Justia, 1985.

    BLANCO, Ricardo Romn. Estudos paleogrficos. So Paulo: Laserprint,1987.

    CAMBRAIA, Csar Nardelli. Introduo crtica textual. So Paulo:Martins Fontes, 2005.

    COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramtica histrica. 7. ed. Riode Janeiro: Ao Livro Tcnico S/A, 1976.

    DIAS, Madalena Marques; BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein.Paleografia para o perodo colonial. In: SAMARA, E. de M. (Org.)Paleografia e fontes do perodo colonial brasileiro. So Paulo:Humanitas/FFLCH-USP, 2005. (Estudos CEDHAL, nova Srie, 11). p.11-38.

    FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: manuscritos dos sculosXVI ao XIX. 2. ed. So Paulo: Editora UNESP/Edies do ArquivoPblico do Estado de So Paulo, 1991.

  • 187ANDRADE, E. A. de. Cotejo de manuscritos do sculo XIX

    GONALVES, Maria Filomena. As idias ortogrficas em Portugal epronunciar com acerto a lngua portuguesa de Madureira Feij aGonalves Viana (17341911). Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian-Fundao para a Cincia e TecnologiaMCES, 2003.

    HIGOUNET, Charles. Histria concisa da escrita. Traduo da 13. ed.corrigida por Marcos Marcionilo. So Paulo: Parbola Editorial, 2003.

    LEO, Duarte Nunes de. Ortografia e origem da lngua portuguesa.Introduo, notas e leituras de Maria Leonor Carvalho Buescu.Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983.

    MAIA, Clarinda de Azevedo. Histria do galego-portugus. Lisboa:Fundao Calouste Gulbenkian - Junta Nacional de InvestigaoCientfica e Tecnolgica, 1986.

    MEGALE, Heitor. Pesquisa filolgica: os trabalhos da tradio e osnovos trabalhos em lngua portuguesa. Estudos Lingsticos, So Josdo Rio Preto, v. XXVII, p. 3-28, 1998.

    MEGALE, Heitor et al. Normas para a transcrio de documentosmanuscritos para a histria do portugus do Brasil. In: MATTOS E SILVA,Rosa Virgnia. (Org.). Para a histria do portugus brasileiro: primeirosestudos. So Paulo: Humanitas / Fapesp, 2001. v. II, p. 553-555.

    SANTIAGO-ALMEIDA, Manoel Mourivaldo. Aspectos fonolgicos doportugus falado na baixada cuiabana: traos de lngua antigapreservados no Brasil (manuscritos da poca das Bandeiras, sculoXVIII). Tese (Doutorado), Faculdade de Filosofia, Letras e CinciasHumanas, Universidade de So Paulo, 2000.

    SERRO, Joel. Dicionrio de histria de Portugal e do Brasil. Lisboa:Iniciativas Editoriais, 1971.

    SPAGGIARI, Barbara & PERUGI, Maurizio. Fundamentos da crticatextual. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

    SPINA, Segismundo. Introduo edtica: crtica textual. So Paulo:Cultrix, 1977.

    Recebido para publicao em 26 de setembro de 2010

    Aprovado em 9 de dezembro de 2010