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QUARTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2016 DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS 2 Empreendedorismo EXPORTAÇÕES Mercado externo é saída para queda de vendas Queda das vendas internas e alta do dólar fazem que micro e pequenas empresas tenham alta de 7,27% nas vendas para o exterior; no mesmo período, as exportações brasileiras caíram 15,09% Marleine Cohen São Paulo [email protected] O maior desafio para con- quistar o mercado externo não é o produto nacional em si, mas a cultura do empreende- dor brasileiro. Pouco capacitadas para a ex- portação, a maioria das PMEs não conta com uma gestão compatível com a operação in- ternacional e sequer consegue identificar parceiros potenciais no exterior. Mesmo com essa falta de cultura apontada por es- pecialistas, a boa notícia é que parte das pequenas empresas conseguiu aproveitar o cenário desafiador de forma positiva. Com a queda das vendas inter- nas e a alta do dólar, micro e pe- quenas empresas tiveram alta de 7,27% e 5%, respectivamente, nas exportações entre os anos de 2014 e 2015. No mesmo pe- ríodo, as exportações brasilei- ras, como um todo, registraram recuo de 15,09%. “As oportunidades no exterior para os pequenos empresários estão presentes. O que urge é a capacitação”, opina o consultor de comércio internacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP), Thiago Brandão. Sem logística ágil e eficiente, sem licença para operar fora, sem documentação para des- pache e na falta do bom hábito de prospectar no estrangeiro, “o empreendedor brasileiro per- manece engessado no modelo de atuação que herdou do regi- me militar – a reserva de merca- do” –, diz o supervisor de compe- titividade da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Tia- go Terra. Com a globalização, no entanto, há boas perspectivas para as no- vas gerações e empresas mais jo- vens. Segundo estudo global rea- lizado em 13 países, inclusive o Brasil, pela FedEx Corp., uma das maiores companhias de trans- porte expresso do mundo, as PMEs que exportam têm proba- bilidade 1,7 vez maior de crescer até dois dígitos, em comparação com as que vendem para outros mercados. “Com a crise econômica, o que se vê, nos últimos anos, é a mu- dança de postura e aumento ex- ponencial do interesse do em- preendedor brasileiro pela exportação”, avalia Terra, para quem “o mercado nacional já in- corporou a percepção de que vender para outros países pode ser uma alternativa viável e um bom negócio”. No Sebrae, a corrida pela capa- citação cresceu 38% neste ano – e 45% só nos últimos quatro me- ses, calcula Brandão. Ainda se- gundo a entidade, o volume de vendas externas realizadas pelo Estado de São Paulo até o mo- mento já alcança resultados po- sitivos: mais 0,7%. No mapa dos bons negócios não há atividade econômica que não tenha seu lugar. Ao lado do agronegócio, tradicional catali- sador dos esforços da Apex-Brasil para colocar o produto nacional no mercado exterior, há espaço para a confecção de moda praia e fitness; máquinas e equipamen- tos de pequeno porte; alimentos e bebidas, em especial orgânicos e exóticos; calçados; startups de TI; e equipamentos médicos e odontológicos. Ao todo, são 75 projetos com setores produtivos brasileiros, informa Terra. “De congelados a cimento, de motor de arranque a café verde, de joias a incubadoras neonatais, de móveis a produtos disrupti- vos, o mercado estrangeiro está aberto para o Brasil”, endossa o diretor do Departamento de Mi- cro, Pequena e Média Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mar- co Antônio dos Reis. Entre os parceiros mais promis- sores, ele aponta todo o hemisfé- rio Sul, com destaque para países latinos como Argentina, Paraguai e Uruguai e para a África. “Em se- te a 13 dias, o produto nacional chega de navio à Namíbia, ponto de distribuição para todo o conti- nente africano e zona de livre co- mércio, onde estão sendo cons- truídos 37 mil quilômetros de estradas e 200 mil casas popula- res”, enfatiza Reis, afirmando que “eles compram de tudo”. Quebra de paradigma Além das vantagens já incorpo- radas à atividade – reequilíbrio fiscal e redução da carga tribu- tária para empresas que expor- tam –, a internacionalização do produto brasileiro conta cada vez mais com o incentivo do go- verno e das entidades compro- metidas com o crescimento do comércio exterior. Tudo con- verge para um grande mutirão em prol da conquista do merca- do estrangeiro, desde o Exporta Fácil dos Correios, uma estraté- gia de desburocratização volta- da especialmente para o mi- croempresário, até o Simples Exportador, cuja implantação foi prometida para 2017. O principal desafio, segundo Reis, é acabar com a inseguran- ça do empreendedor, que “faz uso da internet para comprar, nunca para vender”. Para o dire- tor da Fiesp, os obstáculos são numerosos: “O empresário bra- sileiro tem não só medo de não falar a língua do seu parceiro, como também de não saber fa- zer uma boa proposta ou conse- guir entregar o produto nos pra- zos definidos”. Para ajudá-lo, um sem-nú- mero de ferramentas de capaci- tação está à disposição. Além das tradicionais rodadas de ne- gócios e feiras promovidas pela Apex-Brasil, há outras propos- tas. Ao lado dos cursos de EAD, o Sebrae lançou pela web o Auto- diagnóstico de Negócios Inter- nacionais, questionário on-line elaborado por especialistas em comércio exterior que tem por objetivo orientar o empreende- dor a viabilizar uma operação internacional. Na Fiesp, parcerias com o Ins- tituto de Pesquisas Tecnológi- cas (IPT), a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a Fundação Vanzolini e a própria Apex-Brasil deram origem a iniciativas como o Pro- grama de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex), uma ferra- menta tecnológica que visa for- talecer as PMEs nacionais, con- tribuindo para a sua inserção no mercado internacional, e redu- zir a taxa de mortalidade das ex- portadoras. Outra iniciativa é o Projeto Extensão Industrial Exportado- ra (Peiex), que coloca à disposi- ção do empreendedor uma equipe técnica que faz inter- venções pontuais na sua em- presa, implementando melho- rias necessárias para torná-la competitiva no exterior. também as Oficinas de Compe- titividade da Apex-Brasil, que oferecem treinamento para quem quer atuar fora do País, e as missões exclusivas que, neste ano, levaram 42 companhias brasileiras para a Bolívia e o Pa- raguai, gerando negócios no va- lor de US$ 46 milhões. Na web, também há soluções para PMEs. No Facebook, onde 60% dos perfis brasileiros estão conectados a uma empresa lo- calizada no exterior e mais de 96 milhões de pessoas ao redor do mundo mantêm conexão com uma página de negócio nacio- nal, segundo dados da própria rede, foi lançada uma nova con- figuração da ferramenta de seg- mentação de “públicos seme- lhantes”. O objetivo é permitir que os empreendedores intera- jam com consumidores de mer- cados similares aos de seu país. Além disso, a rede social aperfeiçoou uma nova capaci- dade de extensão de alvo, visan- do facilitar a seleção de novas regiões globais ou áreas de co- mércio por parte dos empresá- rios que pretendem exportar. Graças à tecnologia, o Facebook está capacitado, a partir de ago- ra, a entregar anúncios nas re- giões selecionadas e otimi- zá-los nas praças que dão mais retorno. 7,2% foi a alta de vendas para o exterior por MPEs em 2015 60 mi de dólares fo- ram obtidos com Paraguai e Bolívia DE STAQUE S Procura por capacitação para expor- tar teve alta de 45% no Sebrae-SP Argentina, Paraguai, Uruguai e África são mais pro- missores PMEs que exportam têm mais chances de crescer até dois dígitos Apex mapeou 75 projetos com setores produtivos brasileiros que apresentam boas perspectivas para pequenas e médias exportadoras DREAMSTIME

Mercado externo é saída para queda de vendas · (Sebrae-SP), Thiago Brandão. Sem logística ágil e eficiente, sem licença para operar fora, sem documentação para des- ... vendas

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QUARTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2016 � DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS2

Empreendedorismo

E X P O RTA Ç Õ E S

Mercado externo é saídapara queda de vendas

Queda das vendas internas e alta do dólar fazem que micro e pequenas empresas tenham alta de

7,27% nas vendas para o exterior; no mesmo período, as exportações brasileiras caíram 15,09%

Marleine CohenSão Paulor e d ac a o @ d c i . c o m . b r

�O maior desafio para con-quistar o mercado externo nãoé o produto nacional em si,mas a cultura do empreende-dor brasileiro.

Pouco capacitadas para a ex-portação, a maioria das PMEsnão conta com uma gestãocompatível com a operação in-ternacional e sequer consegueidentificar parceiros potenciaisno exterior. Mesmo com essafalta de cultura apontada por es-pecialistas, a boa notícia é queparte das pequenas empresasconseguiu aproveitar o cenáriodesafiador de forma positiva.Com a queda das vendas inter-nas e a alta do dólar, micro e pe-quenas empresas tiveram altade 7,27% e 5%, respectivamente,nas exportações entre os anosde 2014 e 2015. No mesmo pe-ríodo, as exportações brasilei-ras, como um todo, registraramrecuo de 15,09%.

“As oportunidades no exteriorpara os pequenos empresáriosestão presentes. O que urge é ac a p a c i t a ç ã o”, opina o consultorde comércio internacional doServiço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas(Sebrae-SP), Thiago Brandão.

Sem logística ágil e eficiente,sem licença para operar fora,sem documentação para des-pache e na falta do bom hábitode prospectar no estrangeiro, “oempreendedor brasileiro per-manece engessado no modelode atuação que herdou do regi-

me militar – a reserva de merca-d o” –, diz o supervisor de compe-titividade da Agência Brasileirade Promoção de Exportações eInvestimentos (Apex-Brasil), Tia-go Terra.

Com a globalização, no entanto,há boas perspectivas para as no-vas gerações e empresas mais jo-vens. Segundo estudo global rea-lizado em 13 países, inclusive oBrasil, pela FedEx Corp., uma dasmaiores companhias de trans-porte expresso do mundo, asPMEs que exportam têm proba-bilidade 1,7 vez maior de cresceraté dois dígitos, em comparaçãocom as que vendem para outrosm e rc a d o s.

“Com a crise econômica, o quese vê, nos últimos anos, é a mu-dança de postura e aumento ex-ponencial do interesse do em-preendedor brasileiro pelaexpor tação”, avalia Terra, paraquem “o mercado nacional já in-corporou a percepção de quevender para outros países podeser uma alternativa viável e umbom negócio”.

No Sebrae, a corrida pela capa-citação cresceu 38% neste ano – e45% só nos últimos quatro me-ses, calcula Brandão. Ainda se-gundo a entidade, o volume devendas externas realizadas peloEstado de São Paulo até o mo-mento já alcança resultados po-sitivos: mais 0,7%.

No mapa dos bons negóciosnão há atividade econômica quenão tenha seu lugar. Ao lado doagronegócio, tradicional catali-sador dos esforços da Apex-Brasilpara colocar o produto nacionalno mercado exterior, há espaço

para a confecção de moda praia efitness; máquinas e equipamen-tos de pequeno porte; alimentose bebidas, em especial orgânicose exóticos; calçados; startups deTI; e equipamentos médicos eodontológicos. Ao todo, são 75projetos com setores produtivosbrasileiros, informa Terra.

“De congelados a cimento, demotor de arranque a café verde,de joias a incubadoras neonatais,de móveis a produtos disrupti-vos, o mercado estrangeiro estáaberto para o Brasil”, endossa odiretor do Departamento de Mi-cro, Pequena e Média Indústriada Federação das Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp), Mar-co Antônio dos Reis.

Entre os parceiros mais promis-sores, ele aponta todo o hemisfé-rio Sul, com destaque para paíseslatinos como Argentina, Paraguaie Uruguai e para a África. “Em se-te a 13 dias, o produto nacionalchega de navio à Namíbia, pontode distribuição para todo o conti-nente africano e zona de livre co-mércio, onde estão sendo cons-truídos 37 mil quilômetros deestradas e 200 mil casas popula-re s”, enfatiza Reis, afirmando que“eles compram de tudo”.

Quebra de paradigmaAlém das vantagens já incorpo-radas à atividade – reequilíbr iofiscal e redução da carga tribu-tária para empresas que expor-tam –, a internacionalização doproduto brasileiro conta cadavez mais com o incentivo do go-verno e das entidades compro-metidas com o crescimento docomércio exterior. Tudo con-

verge para um grande mutirãoem prol da conquista do merca-do estrangeiro, desde o ExportaFácil dos Correios, uma estraté-gia de desburocratização volta-da especialmente para o mi-croempresário, até o SimplesExportador, cuja implantaçãofoi prometida para 2017.

O principal desafio, segundoReis, é acabar com a inseguran-ça do empreendedor, que “fazuso da internet para comprar,nunca para vender”. Para o dire-tor da Fiesp, os obstáculos sãonumerosos: “O empresário bra-sileiro tem não só medo de nãofalar a língua do seu parceiro,como também de não saber fa-zer uma boa proposta ou conse-guir entregar o produto nos pra-zos definidos”.

Para ajudá-lo, um sem-nú-mero de ferramentas de capaci-tação está à disposição. Alémdas tradicionais rodadas de ne-gócios e feiras promovidas pelaApex-Brasil, há outras propos-tas. Ao lado dos cursos de EAD, oSebrae lançou pela web o Auto-diagnóstico de Negócios Inter-nacionais, questionário on-lineelaborado por especialistas emcomércio exterior que tem porobjetivo orientar o empreende-dor a viabilizar uma operaçãointer nacional.

Na Fiesp, parcerias com o Ins-tituto de Pesquisas Tecnológi-cas (IPT), a Escola Superior dePropaganda e Marketing(ESPM), a Fundação Vanzolini ea própria Apex-Brasil deramorigem a iniciativas como o Pro-grama de Apoio Tecnológico àExportação (Progex), uma ferra-menta tecnológica que visa for-talecer as PMEs nacionais, con-tribuindo para a sua inserção nomercado internacional, e redu-zir a taxa de mortalidade das ex-por tadoras.

Outra iniciativa é o ProjetoExtensão Industrial Exportado-ra (Peiex), que coloca à disposi-ção do empreendedor umaequipe técnica que faz inter-venções pontuais na sua em-presa, implementando melho-rias necessárias para torná-lacompetitiva no exterior. Hátambém as Oficinas de Compe-titividade da Apex-Brasil, queoferecem treinamento paraquem quer atuar fora do País, eas missões exclusivas que, nesteano, levaram 42 companhiasbrasileiras para a Bolívia e o Pa-raguai, gerando negócios no va-lor de US$ 46 milhões.

Na web, também há soluçõespara PMEs. No Facebook, onde60% dos perfis brasileiros estãoconectados a uma empresa lo-calizada no exterior e mais de 96milhões de pessoas ao redor domundo mantêm conexão comuma página de negócio nacio-nal, segundo dados da própriarede, foi lançada uma nova con-figuração da ferramenta de seg-mentação de “públicos seme-l h a n t e s”. O objetivo é permitirque os empreendedores intera-jam com consumidores de mer-cados similares aos de seu país.

Além disso, a rede socialaperfeiçoou uma nova capaci-dade de extensão de alvo, visan-do facilitar a seleção de novasregiões globais ou áreas de co-mércio por parte dos empresá-rios que pretendem exportar.Graças à tecnologia, o Facebookestá capacitado, a partir de ago-ra, a entregar anúncios nas re-giões selecionadas e otimi-zá-los nas praças que dão maisretor no.

7, 2 %foi a alta devendas para oexterior porMPEs em 2015

60 mide dólares fo-ram obtidoscom Paraguaie Bolívia

DE STAQUE SProcura porc a p ac i t a ç ã opara expor-tar teve altade 45% noS e b ra e - S P

Argentina,Pa ra g u a i ,Uruguai eÁfrica sãomais pro-missores

PMEs queexpor tamtêm mais

chances decrescer atédois dígitos

Apex mapeou 75 projetos com setores produtivos brasileiros que apresentam boas perspectivas para pequenas e médias exportadoras

D R E A M ST I M E

rodrigo.alexandre
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