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que é necessário. É justamente nessas horas que o peixe-boi procura alimentação fora do fundo dos lagos. So a paciência do caboclo pode conseguir, no grande silêncio gue domina então a natureza amazônica, a captura dêsses grandes herbívoros. Empregam para o apreender o arpão ou arpoeira; depois a morte ê f.eita por asfixia, com tornos de madeira nas narinas e cacetadas na cabeça. A arpoeira consta de uma haste de madeira pesada, geralmente de paracuúba, de três a qua- tro metros de comprimento, tendo na extremi- dade um "encaixado" (arpão de aço). Êsse arpão fica prêso por uma linha de doze braças mais ou menos (linha de algodão número 501). Parte da linha é prêsa à parte superior da ar- poeira, por um prego que tem a função de "es- ticador", como é chamado pelos nativos. Ocorre, guase sempre, a fuga rápida do peixe-boi, depois de arpoado, conduzindo às vêzes a grande distância arpão e corda, que são alcançados depois de longos e grandes esfor- ços. Com o auxílio das bóias pode verificar-se o lugar exato onde ficaram. Essas bóias são feitas de cortiça, ou, mais comumente, de "mo- lungu", madeira muito leve, que flutua. Dia a dia cresce o comércio e a industriali- zaçáo do peixe-boi e com êles a necessidade da criação dêsses animais. Facil e rendosa será para o criador, porque é apenas necessária a ajuda do homem aos meios naturais. Se a cria- ção do gado bovino lucro, apesar de não viverem êstes só de capim, o que não dará a criação de animais que vivem apenas do meio ambiente, tão fértil e natural? Como o peixe-boi vive geralmente em la- gos, é muito fácil fechar os meios de comuni- cação dêstes com outros lagos ou rios, impe- dindo gue escape nas grandes enchentes, sem contudo impedir o curso das águas. Isto de- ve ser feito para gue a espécie não seja extinta. Sendo a natureza amazônica pródiga em sua vegetação aquática, a alimentação dêsses herbívoros será sempre abundante, não haven- do necessidade senão de uma pequena a1'uda por parte do criador. Mesmo fora da regiã<; amazônica, a criação do peixe-boi poderia ser feita com muito proveito industrial, com pequena moclificação de meio ambiente, pois é facil a adaptação dêsse animal a outros meios. Conforme os lugares do Brasil onde são encontrados, tomam os seguintes nomes vulga- res: urauá, no Amazonasi uâcã-ntâ.dnha, na Bahia; guarabá, no Espírito Santo. MIMETISM uÀLeuER pessoa gue ouve falar na varie- dade infinita dos sêres, na riqueza da Íauna dos campos e florestas e resolve um dia penetrar num bosque ou caminhar pelos dêscampados, recebe dessa primeira visita a mais dolorosa decepção. Campinas e selvas parecem-lhe desertas, ouvindo apenas, de lon- ge em longe, o canto de um pássaro, o ruflar de uma asa ou, nas moitas, o trémolo de um grilo invisível, É que nesse emaranhado de ra- mos e cipós, é gue sob o ervaçal que ondula ao vento; quase tudo é luta e tragédia, escon- derijos e emboscadas, e mais probabilidades tem de vida e perpetuação quem se oculta me- lhor. E por isso mesmo, de um modo geral, to- dos os sêres de um mesmo meio apresentam um colorido geral semelhante. Milênios antes da C. or Mrro-LerrÃo Ex-prolessor de Zoologia do Museu Nacional estratégia humana ter verificado a vantagem de certas côres para indumentária dos ,exércitos em campanha e do poder defensivo da camu- flagem, os animais inferiores a vinham empre- gando com sucesso. A importância da coloração nas relações dos animais com o meio ou, como se diz hole, em sua ecologia, foi pela primeira vez regis- trada e bem definidamente estabelecida por um famoso pintor - miniaturista e naturalista de Nürenberg, chamado Boser voN RosrNnor, em meados do sáculo XVIII, sendo seguido em alguns casos por EnasMo DARwItt, antepas- sado de Canros DenwIN. As semelhanças dos animais com o meio são designadas, de um modo geral, como mime- tismo, embora êsse têrmo, criado por Berns, te- l2 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONAL

MIMETISM - museunacional.ufrj.br · ... sem contudo impedir o curso das águas. Isto de-ve ser feito para gue a espécie não seja extinta. ... de uma asa ou, nas moitas, o trémolo

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que é necessário. É justamente nessas horasque o peixe-boi procura alimentação fora dofundo dos lagos. So a paciência do caboclopode conseguir, no grande silêncio gue dominaentão a natureza amazônica, a captura dêssesgrandes herbívoros.

Empregam para o apreender o arpão ouarpoeira; depois a morte ê f.eita por asfixia,com tornos de madeira nas narinas e cacetadasna cabeça.

A arpoeira consta de uma haste de madeirapesada, geralmente de paracuúba, de três a qua-tro metros de comprimento, tendo na extremi-dade um "encaixado" (arpão de aço). Êssearpão fica prêso por uma linha de doze braçasmais ou menos (linha de algodão número 501).Parte da linha é prêsa à parte superior da ar-poeira, por um prego que tem a função de "es-ticador", como é chamado pelos nativos.

Ocorre, guase sempre, a fuga rápida dopeixe-boi, depois de arpoado, conduzindo àsvêzes a grande distância arpão e corda, que sãoalcançados depois de longos e grandes esfor-ços. Com o auxílio das bóias pode verificar-seo lugar exato onde ficaram. Essas bóias sãofeitas de cortiça, ou, mais comumente, de "mo-lungu", madeira muito leve, que flutua.

Dia a dia cresce o comércio e a industriali-zaçáo do peixe-boi e com êles a necessidade dacriação dêsses animais. Facil e rendosa serápara o criador, porque é apenas necessária aajuda do homem aos meios naturais. Se a cria-ção do gado bovino dá lucro, apesar de nãoviverem êstes só de capim, o que não dará acriação de animais que vivem apenas do meioambiente, tão fértil e natural?

Como o peixe-boi vive geralmente em la-gos, é muito fácil fechar os meios de comuni-cação dêstes com outros lagos ou rios, impe-dindo gue escape nas grandes enchentes, semcontudo impedir o curso das águas. Isto de-ve ser feito para gue a espécie não seja extinta.

Sendo a natureza amazônica pródiga emsua vegetação aquática, a alimentação dêssesherbívoros será sempre abundante, não haven-do necessidade senão de uma pequena a1'udapor parte do criador. Mesmo fora da regiã<;amazônica, a criação do peixe-boi poderia serfeita com muito proveito industrial, com pequenamoclificação de meio ambiente, pois é facil aadaptação dêsse animal a outros meios.

Conforme os lugares do Brasil onde sãoencontrados, tomam os seguintes nomes vulga-res: urauá, no Amazonasi uâcã-ntâ.dnha, naBahia; guarabá, no Espírito Santo.

MIMETISM

uÀLeuER pessoa gue ouve falar na varie-dade infinita dos sêres, na riqueza daÍauna dos campos e florestas e resolve

um dia penetrar num bosque ou caminhar pelosdêscampados, recebe dessa primeira visita amais dolorosa decepção. Campinas e selvasparecem-lhe desertas, ouvindo apenas, de lon-ge em longe, o canto de um pássaro, o ruflarde uma asa ou, nas moitas, o trémolo de umgrilo invisível, É que nesse emaranhado de ra-mos e cipós, é gue sob o ervaçal que ondulaao vento; quase tudo é luta e tragédia, escon-derijos e emboscadas, e mais probabilidadestem de vida e perpetuação quem se oculta me-lhor. E por isso mesmo, de um modo geral, to-dos os sêres de um mesmo meio apresentam umcolorido geral semelhante. Milênios antes da

C. or Mrro-LerrÃoEx-prolessor de Zoologia do Museu Nacional

estratégia humana ter verificado a vantagem decertas côres para indumentária dos ,exércitosem campanha e do poder defensivo da camu-

flagem, os animais inferiores a vinham empre-gando com sucesso.

A importância da coloração nas relaçõesdos animais com o meio ou, como se diz hole,em sua ecologia, foi pela primeira vez regis-trada e bem definidamente estabelecida por umfamoso pintor - miniaturista e naturalista deNürenberg, chamado Boser voN RosrNnor,em meados do sáculo XVIII, sendo seguido emalguns casos por EnasMo DARwItt, antepas-sado de Canros DenwIN.

As semelhanças dos animais com o meiosão designadas, de um modo geral, como mime-tismo, embora êsse têrmo, criado por Berns, te-

l2 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONAL

nha sido aplicado por êle e por Warrecr nu-ma acepção muito estreita. Denwtu, que derauma grande importância a essa semelhança decoloridô no desenvolvimento de sua teoria daseleção, fala de côres simpáticas. Mais tarde,essa simples identidade de coloração se chamouhomocromia,

Tais os casos, tantas vêzes referidos, decôr branco-suja dos animais que vivem na areiada praia, como o caranguejo grauçá, o tatuí,um besouro muito comum em nossas praias(Cicindela niuea), as esperanças e gafanhotosverdes, vivendo de preferência nas fôlhas, otom pardo dos animais que vivem na casca dasárvores, etc.

Em alguns casos mais notáveis foram ob-servados certos animais de uma mesma espécieem gue ha individuos de duas ou mais côresdiferentes, cada forma encontradiça principal-mente, se não exclusivamente, no meio de igualtom. Numa colheita feita em nossa Guana-bara, encontrei, em um maciço com algas par-das e verdes e briozoários (animais que tam-bém parecem algas) esbranquiçados, pegueni-nos crustáceos rastejantes, de forma extrava-gante, as caprelas, com três tons diferentes:pardo, verde e esbranquiçado, segundo o habi-rar escolhido.

Alguns animais superiores ou mudam decolorido com a estação (como o ptarmigá, le-bre alpina - pardacento no verão e branco noinverno) ou mesmo, passando de um ponto aoutro, com diferente coloração de fundo, mu-dam o próprio colorido. Sêo exemplos bemconhecidos o camaleão africano e o polvo, masqualquer pessoa pode verificar o mesmo fatonessa comuníssima lagartixa das paredes denossas casas. De dia, sôbre uma parede alvaverão que ela é tão pálida, que quase se con-funde no fundo claro; capturem-na e fecheÍl-Írâdentro de uma caixa de charutos. Meia horadepois, aberta a caixa, verão que seu tom se tor-nou pardo escuro.

A homocromia não compreende só êssetom geral do meio, baixando na maioria dos ca-sos até o desenho. As borboletas pousam ge-ralmente de asas fechadas, ao contrário dasmariposas que pousam de asas abertas. Ora,há entre nós um grupo de borboletas, as agerô-mias, de asas escuras com pontilhado branco,lembrando o aspecto da casca das árvores,manchadas de líquen, e que pcusa de asas aber-tas e nos velhos troncos cheios dêsses calófitos.

O colorido protetor já pode ser observadodesde o ôvo. Nas aves de ninho em taça, lar-

Um "bicho-pau" (fasmideo), confundindo-s:,J:-* :T,ffi::? :::1

gamente exposto e pouco defendido, os ovossão geralmente coloridos e manchados de ne-gro ou de pardo, de modo a se confundirem como fundo do ninho, encontrando-se ovos brancosguando o ninho é fechado ou bem protegido,fabricado em lugares quase inacessíveis. Nosanimais marinhos inferiores escapam êles àvista tornando-se inteiramente transparentes,como as pequenas medusas, certos crustáceos,etc .

Um pouco mais e a semelhança não é sô-mente de colorido e de desenho, mas igualmentede aspecto.

Ainda não é agui o mimetismo rigoroso dosbiologistas, mas uma de suas modalidades, de-signada por homomorfismo (igualdade de [or-ma ), ou melhor, homeopsia (igualdade de as-pecto). Essa semelhança perfeita com os oble-tos, principalmente com partes de vegetais, deulugar a certas abusões do povo.

Todos conhecem os bichos-pau, gafanho-tos de marmeleiro, dos nordestinos (fasmídeos,dos naturalistas) e a semelhança extraordináriaque êles apresentam com os gravetos, ficandohieràticamente imóveis nos ramos secos durantelongos minutos. Diz o povo que êles se formamdêsses ramos murchos e, de pessoa das mais fi-

DBZEMBRO, 1941 13

Exemplosdemimetismo batesiano: os ns. 1e7 sáo abelhas (himenópteros)

- com ferrão, portanto; mas os ns. 2, 3, 4 e 5 são môscas, da Iamíliados asilíCeos, mimetizando os precedentes. O n.' I é môsca mimetizandomaribondo-caçador (n.' 9). O n." 10 é mariposa gue imita maribondo.O n.' 11 também é mariposa, mas imitando pirilampo (coleóptero), re.presentado em o n.o 12. O n.' 13 é mosca representando vespa, e o n." 14

ê môsca mimetizando abelha (n.' 15).(Fotografia de Moacir Leáo)

voaram, pois muitos dêsses acúleos eram insetosque reproduziam notàvelmente o aspecto eri-çado do ramo. Tão perfeitos eram a forma e ocolorido, que se tornava impossível, mesmo apeguena distância, distinguir os animais dosacú1eos.

Todos os livros referem, como de homeopsiaperfeita, a borboleta indiana Katlima inachis,que, de colorido brilhante na parte superiordas asas e muito vistosa voando, quando pou-sada e fechando as asas se confunde inteira-mente com as fOlhas sêcas da planta onde cos-tuma pousar. Não menos perfeita é a imitaçãode nossos gafanhotos-rosa (esperanças do gêrieroPterochroza) lembrando, em repouso, Iôlhas ata-cadas pela ferrugem e com a borda já um poucoroída. Certas aranhas do gênero Mastophoralembram tão exatamente as dejeções de avesque, de uma delas diz HornaBERG, poderia serresumida tôda a descrição no adletivo - orni-tocopróides.

Passemos, porém, ao verdadeiro mimetis-mo, como o estudaram Beres, Fnttz Mür,rene War,racE, os dois primeiros tendo em vistaprincipalmente animais brasileiros.

Quando o primeiro dêsses naturalistas, queviveu durante doze anos na Amazônia, aí coli-gia borboletas, teve ocasião de verificar, pelaprimeira vez, essa semelhança perfeita entreespécies de familias diferentes.

São abundantíssimas nessa região, comoaliás em tôda zona tropical americana, borbole-tas de côres vistosas e asas estreitas, os helicô-nidas, que são desprezadas pelas aves. Entreelas, com o mesmo colorido e aspecto, encontroupiéridas, muito menos freqüentes, e pertencen-tes a uma família muito perseguida. Observoumais que, para cada localidade, havia um piéridaimitando a espécie de helicônida aí mais comum.Os entomologistas já conheciam alguns dos taispiéridas para os quais havia sido criado o gê-nero Dyomorphia, que quer dizer forma erradaou aberrante, pela forma de suas asas, muito di-ferente da dos outros gêneros da família. Ia onaturalista francês Borsouvar, chamara a aten-ção para essa curiosidade da naturezâ, âpÍesen-tando algumas vêzes várias espécies de famÍliasmuito diferentes com o mesmo aspecto, e dava oexemplo de três bcrboletas africanas. Mas cou-be a Barrs apresentar a hipótese de um papelprotetor, com essa semelhança, da espécie menosdefendida e menos prolífica.

Caso ainda mais notável é o de uma borbo-Ieta africana (Papilio meropse) : o macho é deum belo amarelado, com peguena cauda na asa

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-ÉÊri

REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

dedignas, ouvi, de uma feita, que observara tãoextraordinária transformação: na parte anteriorjá se moviam as pernas estando fixa na plantaa porção posterior, ainda vegetal. Nesses curio-sos bichos os ovos parecem sementes, como Íe-gistou Cosre Llvte, dando as figuras de algunsdêles. Os gordiáceos, vermes pardos, finos e

longos como cabelos, são dados pelos matutoscomo resultantes da transformação de crinas decavalo, cortadas, dentro ,d'água.

Em sua maioria, as espécies de uma Íami-lia de homópteros (ordem a que pertencem as

cigarras ) , o. membrácidas, lembram acúleos e

ceÍta vez, nas matas de Friburgo, tendo á aten-ção chamada para uma planta com os acúleosmuito contíguos, fui arrancar um dêles e vários

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posterior; a fêmea tem inteiramente o aspecto deuma danaida (família de borboletas igualmentepoupadas pelas aves), imitando em Natal a Da-nais echeria e no Cabo a duas outras espécies

muito diferentes (Danais chrgsippus e Amaurisniauuis). Vimos aqui um imitador imitandotrês espécies diferentes; outras vêzes, ao contrá-rio, encontramos uma espécie bem defendida,sendo imitada por várias.

Nos exemplos que acabamos de referir,modêlo e imitador pertencem à mesma ordem, demodo que as modificações são relativamente pe-quenas. Não é raro, poréo, gue pertençam aordens ou mesmo a classes muito diferentes. Umdos mais belos exemplos de mimetismo foi des-coberto por GrnstÀECKES na coleção entomoló-gica do Museu de Berlim. Aí encontrou, namesma gaveta, espetados lado a lado, como du-plicatas do mesmo animal, um besouro de umverde metálico e dois pequenos grilos, tão seme-lhantes ao coleóptero que haviam enganado opróprio olhar do entomólogo.

Essa imitação de um animal por outro qua-se sempre vai além do simples aspecto externo,acompanhando-se de modificações profundasnos próprios hábitos do imitador: vôo, marcha,alimentação preferida, procurando êsse o maispossível os lugares normalmente preferidos pelomodêlo. São imitados sempre animais bem de-fendidos por seu gôsto desagradável (como asborboletas que referimos ) , por seu cheiro nau-seabundo (como certos percevejos do mato ) ,couraça de revestimento muito resistente (comoos besouros) ou posse de ferrão peçonhento.(como as formigas e maribondos).

Entre os insetos são especialmente imitadospor outros, ou mesmo por aracnídeos, os hime-nópteros, principalmente vespas e formigas.

Abelhas solitárias são imitadas por môs-cas de famílias muito distintas, apresentando tô-das o abdome arredondado, tórax densamentepiloso, vôo ruidoso e visitando as flores.

Nossos grandes maribondos-caçadores dogênero Pepsis são imitados por uma grande môs-ca, por um grilo negro e por duas ou três mari-posas.

Contam as formigas igualmente com gran-de número de imitadores, lembrados nos nomesdados aos gêneros miméticos por seus descobri-dores: temos assim um Minicitum entre os be-souros, Mynecophana, entre as esperanças,Myrmecium, Mirmarachne, entre as aranhas.

Dois curiosos miméticos de formiga tiveocasião de observar: uma larva de louva-a-deus.

Dois "louva-a-deus" (mantídeos) estão sôbre esta casca de árvore. Umdêles é mais ou menos visível; o outro. . .

(Fotografia de Moacir Leão)

que apanhei há uns guinze anos nas Paineiras,caminhando e agitando as antenas como essagrande formiga preta tão comum por tôda par-te, e uma pequena aranha pega-môsca (do gê-nero Mirmarachne), que descrevi de Petrópolis,onde a apanhei num caminho de pequenas for-migas amarelas, entre as quais caminhava, namesma corrida em zigue-zague, agitando as pa-tas anteriores adiante da cabeça, como faziacom as antenas o modêlo.

O mimetismo aparece não só em espéciespouco protegidas, imitando um modêlo maisabundante e bem defendido, como em espéciescarniceiras que se confundem com espécies ino-fensivas, como meio de passarem despercebidasàs suas vítimas.

Assim, para o caso das formigas, do be-souro e da esperança, o mimetismo é de defesa;no louva-a-deus e, provàvelmente, na aranha, é

agressivo.

Outro tipo de mimetismo, que tem sido mui-to pouco estudado, é aquêle em que o animalparece procurar ÍrâSCâfâr-Sê, cobrindO-se departículas estranhas ou cercando-se delas, Ílumacomo camuflagem. Muitos caranguejos cobrem-se de algas, plantando-as no corpo com' suaspinças.

Algumas aranhas, na elaboração de suasteias, dispõem pequenos gravetos, presos em umgradeado em escada especial, e formando asquatro pontas de um X, que é completado guan-,do elas se põem em repouso, no centro da teia,as patas estendidas duas a duas.

Quando se procura penetrar na complica-ção de todos êsses fatos, as hipóteses são tenta-doras, mas não resistem à crítica e ainda hojedão margem a acesas controvérsias.

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