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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA - UNIPÊ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITOPRISCILLA LETÍCIA SALES PEREIRAANÁLISE DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS INERENTES ÀS DETENTAS DA PENITENCIÁRIA DE REEDUCAÇÃO FEMININA MARIA JÚLIA MARANHÃO2JOÃO PESSOA 2009.2PRISCILLA LETÍCIA SALES PEREIRAANÁLISE DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS INERENTES ÀS DETENTAS DA PENITENCIÁRIA DE REEDUCAÇÃO FEMININA MARIA JÚLIA MARANHÃOMonografia apresentada à Banca Examinadora do Departamento de Ciências Ju

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CENTRO UNIVERSITRIO DE JOO PESSOA - UNIP DEPARTAMENTO DE CINCIAS JURDICAS CURSO DE DIREITO

PRISCILLA LETCIA SALES PEREIRA

ANLISE DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS INERENTES S DETENTAS DA PENITENCIRIA DE REEDUCAO FEMININA MARIA JLIA MARANHO

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JOO PESSOA 2009.2

PRISCILLA LETCIA SALES PEREIRA

ANLISE DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS INERENTES S DETENTAS DA PENITENCIRIA DE REEDUCAO FEMININA MARIA JLIA MARANHO

Monografia apresentada Banca Examinadora do Departamento de Cincias Jurdicas do UNIP, como exigncia parcial para obteno do grau de bacharel em Direito. Orientadora Prof.(a): Petrnio Bismarck rea: Direito Penal

JOO PESSOA

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2009.2

PRISCILLA LETCIA SALES PEREIRA

ANLISE DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS INERENTES S DETENTAS DA PENITENCIRIA DE REEDUCAO FEMININA MARIA JLIA MARANHO

BANCA EXAMINADORA

___________________ ________Prof. Ms. Petrnio Bismarck Tenrio Barros Orientador

___________________________Prof. Membro da Banca Examinadora

___________________________Prof. Membro da Banca Examinadora

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JOO PESSOA 2009.2

Dedico este trabalho primeiramente ao meu bom Deus e Nossa Senhora das Graas pela luz e fora que me fizeram prosseguir at o fim, a minha av to querida Maria de Lourdes, por toda confiana depositada, a meus amados pais, por todo apoio, sabedoria, amor e presena sempre.

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E a minha irm Patrcia pelo incentivo e compreenso durante todo o feito.

AGRADECIMENTOSAntes de tudo e de todos, agradeo de toda minha alma ao meu Deus e Senhor, o princpio e fim de tudo em minha existncia, a verdadeira razo do que eu sou e tenho. O dono da minha vida, dos meus planos e sonhos, tudo em mim sempre esteve nas mos seguras e preciosas Dele. Agradeo por cada tropeo, por cada lgrima, e decepo, muitas delas comigo mesma, mas agradeo principalmente porque mesmo em meio a todas as tempestades que surgiram, o Senhor esteve ao meu lado, e me sustentou com sua destra amvel e terna, e enquanto eu chorava, o senhor acrescia em meu ser toda sabedoria e crescimento para no mais sofrer no futuro, Jesus, o meu amor maior nunca me desamparou, e fez dos meus dias os mais lindos e cheios de amor, seu jeito sublime de falar sobre as coisas da vida me fizeram o que eu sou hoje, e Sua presena em mim, supera o prazer de tudo o que eu possa conquistar. Ao Meu Senhor serei eternamente grata e viverei para louvar as maravilhas que Ele fez e ainda far mudando minha histria, enquanto eu respirar, viverei para ador-lo e honrar seu Santo nome. Essa vitria Dele, eu no sou digna de tamanha conquista e se aqui estou, unicamente por graa do meu Pai do cu que me presenteou. Graas eternas ao meu tudo e refgio. Eu o amo com todo o meu ser. Nossa Senhora das Graas, por ser minha guia durante todo esse percurso, intercedendo junto Jesus amado, por mim e pelo meu xito. Obrigada pela pureza e fidelidade que me fizeram entender que a mais sabia das virtudes a humildade. Foste sempre minha protetora e exemplo a ser seguido. Obrigada por ser minha doce Me e por tanto me ensinar sobre a vida. A ti mezinha do cu, agradeo por vencer mais uma etapa na minha vida, jamais me senti desamparada, pois sentia o seu amor me envolver. Tens o mrito de mais uma vitria alcanada; Ao meu Pai, toda minha estrutura, alicerce, porto mais que seguro, minha vontade de vencer na vida. Um anjinho chamado Jos Francisco Pereira, por ter me ensinado que nenhum esforo executado em vo, pois todo ele ser recompensado. Sua estria de vida foi e meu combustvel para crescer como pessoa e jurista, e minha razo de viver um dia poder proporcionar o orgulho imenso que sinto de voc. Obrigada por todo cuidado, dedicao e amor, quem dera um dia alcanar a graa de retribuir todo esse amor e confiana que voc depositou em mim e em meu futuro. Como Deus foi generoso ao me dar voc como Pai, Ele certamente sabia o quanto tinha a aprender com esse homem, a quem devo tudo o que sou e serei. s o melhor, em tudo. Te sou grata por seres meu melhor amigo, por entender minhas fraquezas, por cada preocupao desde quando eu ainda nem sabia andar, por cada alerta dado, por cada abrao acolhedor e conselhos inestimveis. Sem voc minha vida no teria graa, porque a graa no jeito com que voc me completa, me faz sentir que no estou aqui por acaso, e que o sentido de viver est em te agradar e te fazer feliz, porque exatamente o que voc me faz. Obrigada por tudo o que sou, por ser o mais admirvel espelho e mais lindo anjo protetor. Seu amor minha alegria de viver, e nem que viva cem anos, jamais

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poderei retribuir tudo o que fostes, s e sempre sers para mim. Amo-te muito meu heri. A minha Me, toda a verdade, refgio, fortaleza e amor. O outro anjinho que Deus me concedeu chamado Ana Lucia Sales Pereira, por ter me ensinado que preciso acreditar e ir luta para s ento ser livre. Sua vida exemplo de cuidado ao prximo. Toda a caridade e santidade por menores que sejam existentes em mim fruto dos seus ensinamentos. Pela incomparvel confiana que sempre teve em mim, serei eternamente grata, viverei para fazer jus esta certeza, alis, sem esta imensa f que tens em mim, jamais estaria aqui, tampouco conseguiria chegar onde chegaremos, digo isso porque a vitoria no ser minha, mas sua e de painho. Obrigada por esse amor incondicional, de forma to pura que, ainda que eu fosse o mais intil dos seres, o seu amor seria o mesmo, quo sublime esse sentimento. Obrigada por essa ternura, pela sua sabedoria admirvel proporcionada por Deus que me contagia. Sem voc minha vida no teria brilho algum, porque a tua luz que alimenta minha alma, e por voc existir em minha vida, que eu sou feliz, s e sempre ser a flor mais linda do jardim de Deus, e a minha flor mais bela. Obrigada por ser a mo que me segura, ter o privilgio de ser sua filha um mimo de Deus para mim. Amo-te muito minha flor mais bela. A minha querida irm Patrcia Mayara Sales Pereira, por toda a ateno e fora dados ao longo desse perodo de faculdade, e por me fazer servir de exemplo para que eu pudesse me espelhar e me dedicar na concretizao dos meus sonhos, voc foi e sempre ser meu orgulho de vida. Deus no me deu voc como irm por acaso, Ele sabia o quanto eu iria aprender contigo, agradeo a Ele por isso, te amo sempre minha linda boneca. Deus a abenoe e proteja sempre. E mais uma vez, meu muito obrigada por fazer parte dessa vitria e por existir em minha vida. Voc me faz acreditar que ainda existe pessoas com essncia nesse mundo, e apesar de seres a filha mais nova, sou eu quem aprendo com voc, eu quem te sigo, pois sei que para onde voc se direciona sempre mais seguro, quando penso em amizade e lealdade s penso em voc, porque sei que estaremos juntas para sempre, haja o que houver, voc jamais deixar de cuidar de mim, nem eu de voc(mesmo que do meu jeito desastrado!) Te agradeo por seres minha segurana. minha av Maria de Lourdes da Silva, exemplo de mulher, de me, de av, de perseverana a ser seguido, uma verdadeira guerreira a quem tanto admiro, a ti agradeo por todo o amor, apoio e pelas palavras repletas de doura que me estimulam a vencer os obstculos sempre com muita f e esperana. A senhora sem duvida a mais linda das avs, a segunda me que Deus me deu de presente, e que tanto acredita no meu sucesso e vitria na vida, que Deus me proporcione aprender teus ensinamentos cheios de sabedoria e verdade, e principalmente coragem para nunca desistir dos meus sonhos, s minha jia preciosa, e espero um dia poder dar-te o orgulho que me tenho em ser sua neta. s a base da nossa famlia. Que Deus e Nossa Senhora das Graas estejam sempre te protegendo, grande mulher e av que s, serei eternamente grata. Amo-te muito. Aos meus padrinhos Roberto Barroca e Maria Salete, por estarem sempre torcendo pelo meu crescimento, por todo carinho de sempre. Muito Obrigada.

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Ao meus tios Arimateia, urea, Dinha, Beto, Assis, Ftima, Iraci, Joo e Alade, que mesmo a distancia contriburam direta ou indiretamente para tudo o que est a se realizar em minha vida, e que com todo o orgulho, os tenho em minha caminhada para a concretizao desse sonho, que eu sei que tambm deles. Aos demais familiares que contriburam para mais uma vitria na minha vida, com todo o apio e incentivo; s minhas amigas, Delany, Fabiana, Renata L., Sara A., Raelma, Natlia Mariah, Dani, Baiana, Raquel, Camila, Dayara, Christianne Oliveira, Ana Paula, Nathlia Julinda, Tassyla, Samara, Challise, Ellen, Clara, Eliane Holanda, Lorena, Adinha, Sandra, Rhari, Daumara, Mariana Z., Kaline, Raissa, Morgana, Andrezza e Deborah, por toda a fora, incentivo, por acreditarem em mim, por proporcionarem momentos de descontrao e emoes inesquecveis durante todo o meu perodo de estudos, hoje ainda presentes, algumas distante, mais dentro do meu corao, e de uma forma ou de outra esto aliviando essa difcil etapa da minha vida. Meu obrigada a todas vocs, que Deus abenoe e proteja nossa amizade sempre. Aos meus amigos, em especial Hugo, Daniel, Renan, Rizoniel, Mrcio, Flix, Wyctor, Walter, Wantuil, Roderico, Philipe, Thiago, Nono, Rodrigo, Ricardo, Eduardo Morais, Durvaldo, Henrique, Darlan, Jonata, Agriberto, Lucilano, Yuri, Werton, Rainier, Eugnio e Adriano pelo apoio, pelas palavras de fora e coragem, e simplesmente, por ter vocs como amigos verdadeiros, de todas as horas; os admiro demais, e os guardo em meu corao, vocs so essenciais, meu obrigada sempre. Deus conserve nossa amizade. Aos mestres do Curso de Direito, em especial ao prof. Francisco Sarmento, Severino Augusto, Frederico Coutinho, Alrio, Odon Bezerra, Sandra Valado e Oswaldo Trigueiro, pela dedicao e pacincia na transmisso dos seus conhecimentos, e pela amizade conquistada durante o perodo acadmico, a vocs s tenho a dizer que sou muito grata; Aos professores Dalri e Socorro Lucena por terem me auxiliado na concretizao desse trabalho, vocs foram os melhores mestres; Obrigada por tudo. A duas amigas que me ajudaram de forma especial, Maria Julinda e Icilma Pmela, por terem a pacincia e dedicao em ajudar-me a cumprir mais essa etapa em minha vida, agradeo de corao, que Deus as proteja sempre; Ao meu orientador e querido Professor Petrnio Bismarck, por toda pacincia, dedicao, brilhantes ensinamentos prestados e por ter depositado sua confiana em mim, para que eu pudesse concretizar esse trabalho, contribuindo consideravelmente para mais uma realizao na minha vida. Tive o privilgio de t-lo como orientador, tenho a certeza de que Deus me presenteou com tamanho auxlio. Posso afirmar, que fostes mais do que um orientador, posso dizer que ganhei um grande amigo; Agradecida demais por tudo. Deus o abenoe sempre! todos aqueles que de uma forma ou de outra colaboraram na sua realizao.

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A priso no so as grades, e a liberdade no a rua; existem homens presos na rua e livres na priso. uma questo de conscincia.

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Mahatma Gandhi

RESUMOO presente trabalho tem por escopo mostrar o estudo dos aspectos legais que cercam o Sistema Penitencirio Feminino de Joo Pessoa, a penitenciria de Reeducao Feminina Maria Jlia Maranho, nico estabelecimento prisional para mulheres na Capital da Paraba. Inicialmente foi explanada a evoluo histrica da pena no Brasil, em seguida os princpios constitucionais e a normatizao infraconstitucional protetora de todos os direitos inerentes populao carcerria. Abordar ainda, os principais problemas advindos da vida de um apenado, e a equiparao entre a realidade desses e o disposto na lei, ficando constatado que h um vcuo relevante entre um e outro, nem medida em que se a Lei de Execuo Penal fosse verdadeiramente aplicada, a situao no chegaria ao ponto que se encontra atualmente. Fora ento realizada uma pesquisa de campo com as detentas do Presdio Maria Jlia Maranho, feito este que proporcionou uma larga experincia e lies de vida, alm das informaes essenciais adquiridas. Observou-se que as principais causas que as fizeram procurar tais prticas criminais esto diretamente ligadas falta de oportunidades, excluso social e a mais freqente, induzimento ao crime e submisso destas mulheres para com seus companheiros e amigos. ndices comprovaram o quo so inofensivas sociedade, e em especial na Paraba. O trabalho tem por objetivo apresentar o outro lado muro da penitenciria em estudo, provocar e conscientizar a populao alheia a esse caos vivenciado por aquelas mulheres, para quem sabe colher mais atitude ao invs de tantos planejamentos sem concretizao. Para a elaborao desta pesquisa foram utilizados: a vertente metodolgica qualitativa, o mtodo de abordagem dedutivo, a classificao da pesquisa explicativa, bem como os mtodos de procedimento bibliogrfico e de pesquisa de campo, sendo, portanto, utilizadas as tcnicas direta e indireta. Palavras-chave: Pena, Lei de Execuo Penal, Sistema Penitencirio, Joo Pessoa, perfil da apenada, rotina prisional, ressocializao.

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SUMRIOINTRODUO....................................................................................11 CAPTULO I A PENA DE PRISO.....................................................14 1.1 Breve Histrico sobre a Origem de Pena no Brasil ................14 1.2 O Direito de Punir........................................................................16 1.3 O Direito Penitencirio e a Constituio de 1988.....................171.3.1 Princpio da pessoalidade das penas..................................................18 1.3.2 Princpio da individualizao das penas...............................................19 1.3.3 Princpio da humanidade das penas.....................................................19 1.3.4 Princpio da legalidade..........................................................................20 1.3.5 Princpio da irretroatividade..................................................................20

1.4 Comentrios sobre a Lei de Execuo Penal...........................22 CAPITULO II Aspectos Problemticos Morais e Sociais vivenciados pelos detentos dentro da priso......................................................26 2.1 A Dignidade do Preso.............................................................262.1.1 Desrespeito aos direitos dos detentos..................................................28 2.1.2 O problema da superlotao carcerria................................................30 2.1.3 Escassez de higiene e assistncia sade.........................................36 2.1.4 Violncia policial: Torturas e maus tratos.............................................38 2.1.5 Rebelies e fugas.................................................................................41 2.1.6 Trfico de drogas, armas e celulares....................................................42 2.1.7 No Assistncia educao e ensino profissionalizante....................44 2.1.8 O problema sexual nas prises............................................................46

2.2 Dos Estabelecimentos Penais...............................................48 2.3 Dados Estatsticos do Sistema Penitencirio do Brasil..........49 CAPTULO III ANLISE DO ESTABELECIMENTO PENITENCIRIO FEMININO DE JOO PESSOA JLIA MARANHO........................52 3.1 O Ambiente da Priso e sua Estrutura......................................523.1.1 Do trabalho............................................................................................58 3.1.2 Das assistncias asseguradas ao preso .............................................59 3.1.3 Das apenadas grvidas e do berrio......................................................66 3.1.4 Da visitao familiar e ntima............................................................... 68

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3.2 A reincidncia como Conseqncia da Ausncia da Ressocializao................................................................................71 CONSIDERAES FINAIS................................................................74 REFERNCIAS..................................................................................76

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INTRODUOO trabalho ora apresentado tem como cerne a anlise do Sistema Penitencirio Feminino de Joo Pessoa, em sua nica casa de deteno para mulheres, a Penitenciria de Reeducao Feminina Maria Jlia Maranho. O objetivo geral do trabalho principalmente conhecer de perto e minuciosamente o presdio em tela, bem como verificar se a realidade deste compatvel com a normatizao elencada na Lei de Execuo Penal (LEP). Para realizar tal conferncia ser efetivada uma pesquisa de campo, mediante visita ao estabelecimento prisional, juntamente a entrevistas com as apenadas, que proporcionaro um maior conhecimento da vida no crcere, tendo sempre como alicerce a lei. O tema foi escolhido com o fito de tornar publica a conjuntura das detentas, uma vez que as mesmas se encontram abandonadas pela mdia e consequentemente pela sociedade paraibana que em sua maioria desconhece a realidade do local. O primeiro captulo sob o titulo A Pena de Priso aborda inicialmente um breve relato histrico da pena no Brasil, apresentando a evoluo das diversas modalidades de punio ao transgressor. Foram explanados ainda, princpios de natureza constitucional cuja aplicabilidade fundamental para se alcanar xito na verdadeira finalidade de uma pena privativa de liberdade, qual seja a perda dessa em virtude do no cumprimento da norma, entretanto, necessrio e legal que se faa concomitantemente respeitabilidade da integridade moral e fsica, asseguradas na Carta Magna. Ainda no mesmo capitulo faz-se referencia a LEP que abrange o manual exemplar para a conduo de um estabelecimento penitencirio de forma organizada e eficaz. Num momento posterior ser averiguada a existncia da execuo satisfatria desta lei. O segundo captulo traz como titulo Aspectos problemticos e sociais vivenciados pelos detentos dentro da priso. O escopo desse captulo encontra-se na dignidade do preso, incluindo vrios fatores, todos relacionados aos direitos assistenciais assegurados nas normas infraconstitucionais, que devidamente postos

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em prtica constituem automaticamente a concretizao dos direitos fundamentais inerentes a pessoa humana. Menciona-se ainda, a questo dos estabelecimentos penais, e suas principais caractersticas e peculiaridades de acordo com cada situao, j que, o regime a ser determinado depende to somente do delito cometido e da posio processual em que se encontra o acusado, destarte contemplando o tipo de estabelecimento penal que foi submetido a tal exame crtico e construtivo, sendo este a penitenciria. A seguir fora constatado dados estatsticos acerca do ndice de criminalidade e um estudo superficial do perfil dos aprisionados no Brasil, foram colhidas informaes sobre os principais crimes praticados por homens e mulheres, a quantidade de presos em cada regime de priso, e as vagas disponibilizadas pelo Estado para tanto. Esse levantamento de dados desencadeia algumas concluses concernentes ao Sistema Penitencirio Brasileiro. Por fim, o terceiro captulo cujo contedo consiste na essncia do presente trabalho monogrfico, isto , a apreciao completa do Presdio Feminino de Joo Pessoa, sendo esta fundamentada basicamente na pesquisa de campo. Neste captulo o estudo mais detalhado e especfico, na medida em que ser focalizado apenas em uma casa de deteno, e com determinada categoria de transgressor, qual seja, as mulheres, alm disso, tendo em vista que trata-se de um conhecimento real dos fatos. Atendendo as normas da instituio, a pesquisa foi executada atravs de uma coletnea feita por um pronturio fornecido pela prpria instituio. Lamentavelmente, essas regras a serem respeitadas no sistema penitencirio estipulam risca, a proibio do acesso de pessoas estranhas a certas dependncias do ambiente, impossibilitando desta forma, um trabalho mais preciso com informaes a julgar ser necessrio ao conhecimento do pblico. Entretanto dentro das limitaes colocadas, foi produzido um trabalho de a abordagem direta s presidirias, quando cada uma respondeu a um questionrio elaborado sistematicamente com o objetivo de explorar ao mximo a investigao de maneira que expusesse a atual condio de vida naquele recinto. Com essa abertura aproximao junto s detentas se facilitou uma pesquisa mais aprofundada, quando se teve a oportunidade de ouvir relatos, queixas e sugestes.

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Visto isso, se tem uma viso mais ampla das problemticas atinentes ao Presdio Maria Jlia Maranho, e em conseqncia, a equiparao da realidade deste com as disposies legais que regem a vida dentro do crcere.

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CAPTULO I A PENA DE PRISO1.1 Breve histrico sobre a Origem da Pena no BrasilA priso um meio acerbo, porm em alguns casos imprescindvel, de punir um indivduo, e certamente a forma de pena mais rgida. Desde os primrdios da civilizao e do convvio desta, j existia a pena, no regulamentada como atualmente, mas a essncia permanece a mesma, sofrendo apenas algumas modificaes. No incio a penalidade era embasada na vingana privada, ou seja, aquela praticada pela prpria vtima, ou seus familiares, com o intuito de retribuir ao ofensor todo mal causado, s que tal reao, era desprovida de proporcionalidade entre o crime e a punio, da a procedncia da Lei de Talio, a qual pregava o conhecido ditado: Olho por olho, dente por dente, a falta de limite ao se revidar a agresso muitas vezes tinha como conseqncia at a morte. Logo aps surgiu o sistema de vingana divina, tendo a pena como forma de castigo dos deuses pelo ato infrator praticado. Carrara define a justia provinda de Deus:A pena no uma simples necessidade de justia que exija a expiao do mau moral, pois s Deus tem a medida e a potestade de exigir a expiao devida, tampouco uma mera defesa que procuram o interesse dos homens as expensas dos demais; nem fruto de um sentimento dos homens, que procuram tranqilizar seus nimos frente ao perigo de ofensas futuras. A pena no , seno, a sano do preceito ditado pela lei eterna, que sempre tende conservao da humanidade e proteo de seus direitos, que sempre procede com observncia s normas de Justia, e sempre responde ao sentimento da conscincia universal. (CARRARA, 2009, p. 34).

Os povos primitivos interpretavam o delito como sendo uma no submisso e at desrespeito para com os dogmas e cultos religiosos, a civilizao naqueles tempos era regida to-somente pela igreja, por isso discriminavam tanto os ofensores desta, as normas se misturavam com os mandamentos, bem como o direito com a religio.

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Junto evoluo da sociedade, vem a necessidade de se ter uma regncia mais concreta e eficaz, assim emerge a vingana pblica, que se assemelha aplicao de pena de hoje em dia, no que concerne ao rgo detentor do direito de punir e de executar a pena, que o Estado, porm esta ainda apresentava carter de vingana. Agora j no era a vtima ou os sacerdotes que aplicavam penas e sim uma autoridade publica na pessoa do Prncipe, Rei ou Regedor, este nomeado pelo Rei para desempenhar tais atividades, munidas de arbitrariedade. Ao colonizar o Brasil, Portugal tentou de imediato introduzir seu Regime Jurdico no pas, no obtendo xito visto que, nesse momento o Brasil estava sob o domnio das chamadas Capitanias Hereditrias. No entanto, com o passar do tempo, O Brasil colnia enveredou pelos caminhos do ordenamento jurdico de Portugal o que se fazia perceber no modo altamente violento e cruel com que se penalizava os crimes cometidos, tornando-se legais at a pena de morte, a pena privativa de liberdade j existente nessa poca, era apenas de carter Preventivo. Em 1551, foi implantada no Brasil a primeira priso, localizada em Salvador, que era a sede do Governo-Geral do Brasil, constitua estrutura e ordenamento bem diversos dos previstos hoje, como destaca o autor Adeildo Nunes, em sua obra: A Realidade das Prises Brasileiras:Estas prises serviam para custodiar desordeiros, escravos fugitivos e acusados espera de julgamento. No eram cercadas por muros e os presos mantinham contato com as pessoas que transitavam em suas proximidades, e atravs das grades recebiam alimentos, roupas e informaes do que estava acontecendo fora das prises. (NUNES, 2005, p.40).

O Cdigo Criminal do Imprio, instaurado depois do ano de 1830, trouxe consigo relevantes mudanas no tratamento dispensado ao criminoso e na forma de puni-lo, extinguindo as penas mais cruis como a flagelao do preso, torturas, e marcas de ferro quente, e dando espao a um procedimento mais humanitrio, exaltando o principio da humanizao. Evoluiu tambm quanto menoridade penal reconhecendo-a como atenuante de pena, bem como estabeleceu que os menores de 14 anos deveriam ser julgados de maneira especial, e por fim, determinou que a penalidade seria dosada de acordo com cada caso particular. Mais frente, j no perodo cientfico comeou a determinao da pena para cada tipo especfico de crime praticado, tomando como critrio a periculosidade

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deste e do infrator. Ao final do sculo XIX, foram introduzidas nas leis penais algumas mudanas provenientes da Abolio dos Escravos e da Proclamao da Repblica. Em 1890, o Cdigo Penal da Repblica j fazia conjeturas a vrias modalidades de priso, como a recluso, a priso disciplinar, a priso com trabalho forado e a priso celular, estando cada um desses modelos sujeitos a um estabelecimento penal especfico. As mudanas regressivas no sistema prisional brasileiro j apareciam no incio do sculo XX, expressando debilidade de condies, como a superlotao e a no diviso entre presos condenados e aqueles ainda no condenados, permanecendo esses em custdia durante a instruo criminal. E s com a chegada do nosso atual Cdigo Penal em 1940, que se inicia uma nova fase manipulada pelo princpio da moderao por parte do poder punitivo do Estado. Todavia, o Poder Pblico j discriminava essa forma de execuo da pena, no sentido de total desateno aos diversos problemas j existentes, como a escassez de espao para os presos, a falta de respeito entre eles, a inobservncia dos princpios de relaes humanas, e principalmente a carncia de direcionamento do detento tendo em vista sua regenerao. Finalmente, nasce em 1945 e vigora at os dias atuais, a fase da Nova Defesa Social, na qual se aposenta a vingana como inteno precpua, e adota como maior finalidade a recuperao e reeducao do preso, para assim melhor proteger a sociedade. Essa idia desencadeou veio acompanhada de uma maior reflexo sobre a real destinao do presdio, ampliando a viso da sociedade, que passou a vislumbrar um verdadeiro sentido para esta penalidade, o de amoldar o infrator ao ponto de reingress-lo ileso e restaurado comunidade, para que desse modo seja efetivada a ressocializao.

1.2 O Direito de PunirO Direito Penal foi criado para tutelar os bens jurdicos de maior relevncia, e ainda proteger a sociedade contra os ataques mais violentos. Ele tambm probe e exige certas condutas da sociedade, visto que, imprescindvel elencar algumas restries, para se conseguir viver em uma sociedade com menor incidncia de

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conflitos. Entretanto, no basta estabelecer limites, mas tambm, enumerar sanes para um eventual descumprimento de norma, como uma espcie de castigo em decorrncia do desvio de conduta por parte do indivduo. Esse poder de punir foi devidamente delegado ao Estado, que o nico ente com legitimidade e o dever de garantir a segurana de todos, j que este dotado de imparcialidade, requisito essencial para se regulamentar ou julgar qualquer caso concreto, como assevera o autor Fernando Capez, em seu Curso de Processo Penal:A atuao Jurisdicional a tarefa por que o Estado, substituindo as partes em litgio, atravs de seus rgos jurisdicionais, pe fim ao conflito de interesses, declarando a vontade do ordenamento jurdico ao caso concreto. Assim, o Estado-Juiz, no caso da lide penal, dever dizer se o direito de punir procede ou no, e, no primeiro caso, em que intensidade pode se satisfeito. (CAPEZ, 2008, p.2).

Ao tratar do jus puniendi, de imprescindvel valor, ressaltar as teorias que tentam explicar a imposio e aplicao das penas, so elas: a teoria absoluta ou retributiva, a teoria relativa ou preventiva e a teoria mista ou ecltica. A teoria absoluta ou retributiva traz pena o cunho de vingar, retribuir o mal causado pelo infrator, acreditando ser este o meio mais eficaz de recompensar o autor do delito, limitando-se pois, a esse propsito, e sem nenhuma finalidade subjetiva. J a teoria relativa preventiva apresenta um alvo maior, o de atravs da pena, prevenir a prtica de mais crimes, visa conscientizar tambm, o preso de que aquela conduta transgressora no lhe trar benefcios, efetivando assim a ressocializao, com a correo deste em decorrncia do cumprimento da pena. Essa pena comporta mais possibilidades, a de prevenir delitos e reeducar os infratores para que estes no cometam novos crimes, assim direcionada sociedade em geral, incluindo os que infligem s normas. Por fim, a teoria mista ou ecltica que emergiu da juno das duas primeiras teorias, uma complementando a outra.

1.3 O Direito Penitencirio e a Constituio de 1988A noo de Direito Penal, como se sabe, est diretamente vinculada ao bemestar social, e conseqentemente aos valores essenciais da vida humana, entretanto, essas normas penais so limitadas pelos elementos constitucionais, visto

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que a procedncia das normas penais vem desta, do contrrio, seriam vislumbradas como inconstitucionais. O Direito Penitencirio deve ser interpretado de maneira ampla, atingindo no s a questo do estabelecimento penal em si, mas tambm todas as entidades e princpios relacionados a execuo da pena e das medidas de segurana. Essa denominao foi instituda no ordenamento jurdico ptrio a partir da Constituio de 1988, determinando a competncia concorrente da Unio e dos Estados para legislar sobre o Direito Penitencirio (art. 24, I, CF). O princpio constitucional da dignidade da pessoa humana notoriamente o mais importante e o orientador dos demais princpios do Direito, a tutela desse princpio d ensejo criao de outros princpios em todos os ramos do Direito, incluindo no Direito Penal. Como dispe Capez:Da dignidade humana, princpio genrico e reitor do Direito Penal, partem outros princpios mais especficos, os quais so transportados dentro daquele princpio maior. Desta forma, do Estado Democrtico de Direito parte o princpio reitor de todo o Direito Penal, que a dignidade da pessoa humana, adequando-o ao perfil constitucional do Brasil e erigindo-se categoria de Direito Penal Democrtico. (CAPEZ, 2003, p.9).

So elencados explicitamente na Constituio Federal os princpios norteadores do Direito Penal, so eles: o princpio da pessoalidade das penas, da Individualizao das penas, da humanidade das penas, da legalidade, e o princpio da anterioridade, como se verifica, todos correlacionados pena. 1.3.1 Princpio da pessoalidade das penas Consagrado no art. 5, XLV CF, esse princpio relata que nenhuma pena poder passar da pessoa do condenado, estabelecendo assim a responsabilidade penal personalssima. Ningum responder por um delito, se no o tiver executado ou no mnimo cooperado para tal feito. Tambm salienta que se faz necessrio a existncia do nexo de causalidade entre a conduta do infrator e o resultado para que se configure o crime. bvio que a pena poder sim causar danos a pessoa diversa do condenado, como por exemplo a sua famlia, que acaba se envolvendo no problema e se tornando tambm vtima do delito cometido pelo sentenciado, uma vez que

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sofre pela penalidade imposta ao filho ou parente. A LEP se preocupou em amparar tal conjuntura ao citar no inciso XVI do art. 22 que compete ao servio social orientar e amparar, quando necessrio, a famlia do internado e da vtima". Assevera ainda, no pargrafo 1, "b", do art. 29 que o produto da remunerao do trabalho do preso dever atender "a assistncia famlia", entre outros objetivos. (In: DJi, 2009) 1.3.2 Princpio da individualizao das penas o principio que regula a individualizao das penas em suas seguintes fases, a legislativa (cominao da pena), a fase judiciria (aplicao da pena) e a judiciria (execuo da pena), est previsto no inciso XLVI do art. 5 da CF. Esse dispositivo constitucional prev que a aplicao da pena, dever obedecer a determinados critrios para cada caso concreto. Desse modo, p art. 59 do Cdigo Penal vem estabelecer algumas hipteses para fixao da pena. Esse princpio ser aplicado tambm no que tange execuo da pena, sendo todo esse processo de execuo movido em face da individualidade do preso, atingindo todas as etapas administrativas e judiciais da execuo. Iranilton Silva acrescenta ainda:A prpria Carta Magna j d incio ao processo individualizador da sano penal, prevendo no mesmo inc. XLVI do art. 5, a adoo de diversas modalidades de pena pelo legislador, dentre elas aquelas expressamente referidas no dispositivo: privao ou restrio da liberdade, perda de bens, multa, prestao social alternativa e suspenso ou interdio de direitos. Como cada espcie de infrao penal merece um enfrentamento individualizado, o legislador poder adotar esta ou aquela modalidade de sano, de acordo com a necessidade, a proporcionalidade e outros fatores a serem verificados na edio da norma penal incriminadora. A individualizao inspira tambm o disposto no art. 5, XLVIII, que determina o cumprimento da pena em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. (SILVA, 2001, p. 36 - 38).

Assim, o legislador atravs dos benefcios, atenuaes de pena, formas privilegiadas ou qualificadoras de aplicao das penas, dentre outras, molda-as a cada indivduo conforme seu grau de infrao. 1.3.3 Princpio da humanidade das penas O direito de punir do Estado precisa ser dotado de ponderao no que diz

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respeito ao bem jurdico da vida e da dignidade da pessoa humana, que esto hierarquicamente acima de qualquer outro bem protegido, por esse motivo, so fontes de limitaes para a deliberao das penas. Esse princpio regido pelo inciso XLVII do art. 5 da CF, que assegura no ser admitidas no Brasil, penas de morte, com exceo dos casos de guerra externa declarada; pena de carter perptuo; pena de banimento; pena de trabalhos forados e penas cruis. A pena privativa de liberdade s deve ter como propsito a restrio nica e exclusiva da liberdade, desse modo, o detento no poder carecer de outras regalias garantidas na constituio, j que este acima de tudo, um sujeito de direitos. Os direitos fundamentais amparados na Constituio Federal acrescentam a este princpio da humanidade das penas, a garantia de ser-lhe assegurado o disposto no art. 38 da Lei Magna, O preso conserva todos os direitos no atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito sua integridade fsica e moral. . O artigo que discorre sobre os direitos fundamentais na constituio, assevera, alm disso, que a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; e ainda no art. 5 da CF, h um inciso concernente s mulheres presas, consolidando que s presidirias sero asseguradas condies para que possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao. 1.3.4 Princpio da legalidade Esse princpio atesta que no h crime sem lei anterior que o defina, bem como, no h pena sem prvia cominao legal, como explicita o inc. XXXIX do art. 5 da CF e o art. 1 do CP. H ainda que se falar acerca desse princpio, em duas vertentes de interpretao do mesmo, a primeira delas traz a idia de que apenas a lei em sentido estrito, emanada do poder Legislativo, em sua atividade Tpica, poder criar as normas de Direito Penal. Nesses termos, a Medida Provisria no poder tratar de matria penal, com exceo de um caso, em que a doutrina defende a possibilidade de Medida Provisria Pro Reo. competncia privativa da Unio legislar sobre Direito Penal, (art.22 CF), porm possvel atravs de Lei Complementar transferir aos Estados competncia sobre temas especficos. A segunda vertente interpreta o principio da legalidade como o principio da

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taxatividade, ou seja, reza que a lei penal tem que ser completa e precisa, marcando exatamente a conduta incriminada. 1.3.5 Princpio da irretroatividade Previsto no inc. XL do art. 5 CF, declara que a lei penal no retroagir salvo para beneficiar o ru. A lei no poder abranger fatos anteriores ou posteriores sua vigncia, constituindo assim o princpio do tempus regit actum. Entretanto o princpio supracitado vai de encontro com esse princpio penal, que declara exceo nesse sentido, nas situaes em que houver uma lei mais severa, ou seja, o princpio da irretroatividade garantir a retroao da norma mais propcia ao ru. Enfim, antes de qualquer outro princpio, a Carta Maior destacou o da dignidade da pessoa humana, que se desdobra em todos os direitos fundamentais, destinados toda espcie de pessoa humana, tratando pois igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, assim, notrio que esse princpio demonstra o grande valor da pessoa humana, tornando explcito o fato de essa dignidade precede todos os outros direitos. O jurista Geder Gomes afirma:Desse modo, s se justifica a construo de um tipo penal que busque a proteo de bens tidos como necessrios a garantir a dignidade humana, que devem ser extrados dos ideais constitucionalmente consagrados. (GOMES, 2008, p.73).

Destarte, todo regulamento penal dever antes ser filtrado pelas normas constitucionais, e primordialmente pelo princpio da dignidade da pessoa humana, pois do contrrio, voltaramos a um sistema de punio retrgrado, primitivo, cruel e desumano. Esse embasamento do sistema punitivo brasileiro numa poltica de segurana pblica envolvida nos direitos humanos tem como fundamental conseqncia a reintroduo do apenado ao mbito social, a chamada ressocializao, embora no seja essa a nossa realidade, j que a grande falha se encontra no sistema penitencirio brasileiro que no disponibiliza no momento, de um tratamento adequado para tal fim. Ao se falar em poltica de segurana social, se faz mister lembrar que da vem

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a origem de tudo, ou seja, a segurana to almejada, principalmente pela classe menos favorecida, depende de polticas scias. Uma sociedade bem estruturada e sem a privao do que lhe necessrio a uma vida digna, provavelmente no ter razo para reivindicar algum direito usando de sua prpria justia para tanto, destarte o ndice de criminalidade diminuiria consideravelmente. bvio que as polticas sociais de justia penal voltadas natureza repressiva so de extrema importncia, todavia, diante do que foi exposto, imprescindvel para que se erradique o enraizamento de toda a criminalidade, que se realizem polticas de carter preventivo. importante fazer meno critica de Silena Jaime a respeito de tal assunto:Esperar que a Poltica Criminal, sozinha, possa conduzir a sociedade a um osis de paz e segurana atribuir-lhe responsabilidades que ela no tem, e que pertencem, antes, s Polticas Econmica e Social. muito cmodo, em perodos de grave comoo pblica, utilizar-se da edio de leis penais severas para acalmar e satisfazer a populao que clama por medidas urgentes. No entanto, tal atitude no passa de um tnue vu, que objetiva turvar a viso, impedindo que se enxerguem os verdadeiros males que violentam a sociedade: a ausncia de investimentos na rea social e o descaso poltico para com parcela significativa da comunidade. (JAIME, 2006, p. s/n).

Assim, nota-se que, para que haja uma ordem social, preciso primeiramente aproximar a sociedade a um parmetro de vida adequado subsistncia desta, pois que, do contrrio se ter uma perptua poltica criminal deficiente.

1.4 Comentrios sobre a Lei de Execuo PenalInstituda em 11 de julho de 1984, a Lei de Execuo Penal (LEP) completou atualmente 25 anos de vigncia no ordenamento jurdico brasileiro. A Lei de n 7.210 consolida em seu art. 1 que a execuo penal tem por finalidade primordial levar a efeito as disposies de sentena ou deciso criminal, alm de proporcionar ao condenado ou internado condies harmnicas para que este se reintegre sociedade. (In: DJi, 2009). A Lei de Execuo Penal aplicada aos condenados das justias comuns estaduais e federais, bem como aos condenados da justia eleitoral e militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito jurisdio ordinria. Os artigos 5 ao 11 desta lei, referem-se Comisso Tcnica de Classificao existente obrigatoriamente em

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cada estabelecimento penal, composta segundo a L.E.P. para os condenados de penas privativas de liberdade por, dois chefes de servio, um psiquiatra, um psiclogo e um assistente social, todos sob a superviso do Diretor do estabelecimento, cuja responsabilidade se efetua na realizao do exame criminolgico do condenado, tendo esta o fito de designar o estabelecimento adequado a cada tipo de infrao e infrator respectivamente, bem como compete esta Comisso a escolha dos mtodos de tratamento dispensado a cada um dos presos, de modo a classificar qual o regime superveniente a cada caso especfico, e ainda estabelecer no decorrer do procedimento criminal o estudo do binmio delitodelinqente promovendo assim o exame de personalidade. (In: DJi, 2009). A Comisso Tcnica de Classificao elabora o programa individualizador da pena, submetendo ao exame criminolgico obrigatoriamente, os condenados a regime fechado e se solicitado, os condenados a regime aberto, porm, a Lei n 10.792/03 revogou os artigos 6 e 112 da Lei n 7.210/84, dispensando o parecer da Comisso tcnica de Classificao e o respectivo exame criminolgico nas situaes de converses de pena, livramento condicional, progresses e regresses de regime, indulto e comutao, mantendo entretanto, sua exigncia para a classificao do preso, devendo esta ser realizada ao incio da execuo, embora seja importante frisar que na prtica, este exame no tem sido efetivado. (In: DJi, 2009). A nova redao das leis supracitadas preceitua:Art. 6 A classificao ser feita por Comisso Tcnica de Classificao que elaborar o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisrio." (NR) Art. 112. A pena privativa de liberdade ser executada em forma progressiva com a transferncia para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerrio, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progresso. 1 A deciso ser sempre motivada e precedida de manifestao do Ministrio Pblico e do defensor. 2 Idntico procedimento ser adotado na concesso de livramento condicional, indulto e comutao de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes. (NR) (In: DJi, 2009).

A Lei de Execuo Penal pode ser vislumbrada como uma forma de regulamentao que poderia ser auto-suficiente se aplicada na ntegra, devido ao seu grau de abrangncia da liberdade da pessoa e do respectivo tempo vivenciado por esta. O Estado dispe totalmente desse poder de manipulao da vida do

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detento, da podendo se incluir a educao dispensada a este, suas atividades, seus momentos de repouso, a quantidade e a durao das refeies, a condio dos alimentos, o tempo reservado para sua orao, a jornada de trabalho, os limites permitidos at para seu comportamento. Diante de toda essa potncia de deliberar sobre os atos do condenado dentro de uma priso, o governo tem em suas mos a possibilidade e o dever de moldar aquele indivduo que se encontra numa situao de grande vulnerabilidade, e justamente se aproveitando dessa ocasio que o Estado na propriedade do Jus Puniendi poder formar no preso uma nova realidade, um novo olhar diante da vida por trs dos portes da priso, enfim ressocializando-o. Todavia o que vemos concretizado bem distinto dessa idealizao aparente na Lei de Execuo Penal. Ainda sobre aplicabilidade da lei, Julio Mirabete aduz:

Embora se reconhea que os mandamentos da Lei de Execuo Penal sejam louvveis e acompanhem o desenvolvimento dos estudos a respeito da matria, esto eles distanciados e separados por um grande abismo da realidade nacional, o que a tem transformado, em muitos aspectos, em letra morta pelo descumprimento e total desconsiderao dos governantes quando no pela ausncia dos recursos materiais e humanos necessrio a sua efetiva implantao. (MIRABETE, 2007, p. 29).

Um exemplar regimento interno para um estabelecimento penitencirio se faz atravs da concretizao de todos os direitos e deveres envolvendo o Estado e o detento, de maneira que, a execuo de sua devida pena no implicar to-somente no cumprimento de obrigaes por parte deste, mas tambm na efetuao de prerrogativas inerentes quele. relao Estado-condenado. Para melhor adentrar no mbito cerne deste trabalho monogrfico se faz mister mencionar os direitos e deveres respeitantes aos membros de um sistema prisional, apresentando-os de forma sucinta para posteriormente, no terceiro captulo que trata exclusivamente do presdio a ser analisado, expor suas mincias. Sobre os direitos e deveres inerentes ao detento, a LEP preceitua :Art. 39 - Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentena; II - obedincia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subverso ordem ou disciplina;

Desse modo, o rol de deveres deve caminhar

paralelamente ao de direitos, para que se obtenha um equilbrio e harmonia entre a

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V - execuo do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submisso sano disciplinar imposta; VII - indenizao vtima ou aos seus sucessores; Vlll - indenizao ao Estado, quando possvel, das despesas realizadas com a sua manuteno, mediante desconto proporcional da remunerao do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservao dos objetos de uso pessoal. Pargrafo nico - Aplica-se ao preso provisrio, no que couber, o

disposto neste artigo.Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentao suficiente e vesturio; II - atribuio de trabalho e sua remunerao; III - previdncia social; IV - constituio de peclio; V - proporcionalidade na distribuio do tempo para o trabalho, o descanso e a recreao; VI - exerccio das atividades profissionais, intelectuais, artsticas e desportivas anteriores, desde que compatveis com a execuo da pena; VII - assistncia material, sade, jurdica, educacional, social e religiosa; VIII - proteo contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cnjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto s exigncias da individualizao da pena; XIII - audincia especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representao e petio a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondncia escrita, da leitura e de outros meios de informao que no comprometam a moral e os bons costumes. Pargrafo nico - Os direitos previstos nos incisos V, X e XV podero ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. (In: DJi, 2009).

O captulo a seguir traz como titulo Aspectos problemticos e sociais vivenciados pelos detentos dentro da priso. O escopo desse captulo encontra-se na dignidade do preso, incluindo vrios fatores, todos relacionados aos direitos assistenciais assegurados nas normas infraconstitucionais, que devidamente postos em prtica constituem automaticamente a concretizao dos direitos fundamentais inerentes a pessoa humana. Menciona-se ainda, os problemas que giram em torno do descumprimento dos artigos supracitados, que compreendem um roteiro especfico para quando eficazmente aplicado, tornar a vida dentro crcere produtiva ao invs de destrutiva.

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CAPTULO II ASPECTOS PROBLEMTICOS MORAIS E SOCIAIS2.1 A Dignidade do PresoNossa Lei Magna aspirou resguardar o mnimo de dignidade para a pessoa humana atravs dos direitos fundamentais assegurados nesta, mantendo uma escala de relevncia entre os principais, sendo eles respectivamente, o direito vida, liberdade e dignidade da pessoa humana. A desobedincia por parte do Estado e de seus agentes s normas de regime interno dos presdios traz como visvel conseqncia as condies de vida subumanas em que se encontram os presos, e isso infelizmente j se converteu em realidade no sistema prisional brasileiro, ou seja, esse tratamento precrio j no mais exceo, constitui nos dias atuais, a regra. Os detentores de poder resguardam-se da nica funo a eles confiada, mascaram-se de uma realidade onde vigora a plena satisfao social e instituies polticas altamente aperfeioadas, mas lamentavelmente por trs dessa mscara criada por estes, h um crescente aprofundamento dos problemas vivenciados no sistema penitencirio do nosso pas, problemas esses cada vez mais notrios e de uma maior proporo. Na concepo de Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade humana constitui-se em:Qualidade intrnseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e considerao por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condies existenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar e promover sua participao ativa e co-responsvel nos destinos da prpria existncia e da vida em comunho com os demais seres humanos. (SARLET, 2002, p. 62).

A

violncia

exacerbada,

e

das

mais

variadas

formas

dentro

do

estabelecimento prisional, provoca um inchao no interior destes, desencadeando o avano considervel da criminalidade naquele ambiente degradvel, dando origem assim uma sociedade amedrontada diante desse estigma, e esse medo se alastra at aos prprios detentos, que ora so violentados por seus companheiros de cela,

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ora pelos carcereiros ou outras autoridades do presdio. No h outro modo ento de se isentar das agresses e de suas conseqncias seno o revide, visto que, de fora, muito cmodo analisarmos o cotidiano dos presos e concluir que o presdio no passa de um amontoado de vndalos, mas o fato que no h quem resista ao tratamento dispensado a eles ao longo do cumprimento da pena. Por isso a sociedade to severa ao julg-los, porque sabem que enquanto reclusos no foram sujeitos recuperao, reeducao e um trabalho srio de ressocializao, ao contrario, foram alunos da escola de aperfeioamento de marginais. Cezar Bitencourt salienta:Considera-se que a priso, em vez de frear a delinqncia, parece estimul-la, convertendo-se em instrumento que oportuniza toda espcie de desumanidade. No traz nenhum benefcio ao apenado; ao contrrio, possibilita toda sorte de vcios e degradaes. (BITENCOURT, 2004, p. 157).

Ao estudar a situao carcerria e seus integrantes, verifica-se que, o cidado-preso desde a intimao realizada pelo Estado, bem como em sua rotina de aprisionado, no se encontra privado to-somente de sua liberdade, mas tambm sua dignidade, bem jurdico no atingido na sentena condenatria, e muitos menos em lei, e vale enfatizar ser este de estimado valor, constituindo assim uma automtica conseqncia da perda daquela. O Estado age de tal forma se valendo do pretexto de que se deve garantir a ordem e segurana sociais, porem a atitude ora mencionada apresenta incoerncia, visto que esse preceito incompatvel com o tratamento dispensado aos presos. O individuo passa a ser dominado de maneira brusca, humilhado e maltratado como indigente, levando o prprio a ilao de que exatamente isso que ele , e que no representa absolutamente nada para a sociedade exemplar que vive fora daquele lugar. E com esse mesmo modo de pensar e desacreditar num futuro promissor afora dali, que o egresso, posteriormente ao seu cumprimento de pena, retorna vida em sociedade, vida esta que, jamais, de forma alguma ser a mesma de antes da execuo do delito, porque, seja qual for a comunidade em que este queira integrar, e passe o tempo que passar, ningum o perdoar de tal ato, visto que j esto todos completamente treinados com uma forma de lavagem cerebral, que os fazem acreditar que o carter criminoso de qualquer pessoa perptuo,

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impassvel de mudanas, evolues e restauraes, foi o estigma conveniente de ser criado para justificar tal excluso. A partir dessa realidade, questiona-se ento, quais as possibilidades e expectativas de vida de um egresso includo num mbito social to preparado ao ataque, bem como ao trancamento de todas as portas possveis, seja de empregos, educao, ateno, amizade, afeto, igualdade, dentre outros claro, o egresso est permanentemente excludo de todos esses requisitos para a convivncia em conjunto, e isso ocorre por qu? Pela prtica de um delito j compensado com uma pena subitamente multiplicada pelo deprimente crcere onde viveram certamente a pior parte de suas vidas. E diante de tudo o que foi exposto, existe alternativas de sobrevivncia e subsistncia que no volta ao mundo do crime, j que este ao contrrio do mundo lcito s proporciona incluso, atrao e facilidades. Essa mudana no sistema penitencirio e respectivamente na vida do detento no poder ocorrer repentinamente, pois necessita primeiramente de um interesse, de um maior empenho poltico, social e financeiro objetivando medidas de carter urgente e eficaz, uma vez que a gravidade do quadro relevante e que o bem jurdico lesionado um preceito fundamental. 2.1.1 Desrespeito aos direitos dos detentos A sociedade hodierna, no que diz respeito ao individuo preso tem sua opinio embasada no preconceito destes, que so vistos no como pessoas comuns com desvio de conduta, porm, sujeitas de direito, mas so de antemo rotuladas de marginais ou pior nomenclatura, considerados sempre uma ameaa paz e ordem social, no importando sequer a natureza do delito de cada transgressor ou mesmo a gravidade e causas que o levou a pratic-lo. Destarte sucumbem todos os direitos reservados aos condenados criminalmente, passando estes a serem desprovidos de dignidade e de civilidade. O resultado dessa descriminao excessiva o modo de vida deprimente e preocupante que os detentos levam, eles simplesmente so desprezados, largados nas prises sombrias, com todas as suas necessidades vitais passando despercebidas, reinando assim, o total desrespeito, onde nem eles prprios reconhecem em si seres humanos.

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Infelizmente a conseqncia no poderia ser outra, a natureza contribui ainda mais para o desenvolvimento da criminalidade, visto que ao invs do encarcerado evoluir no que tange ao comportamento e demais aspectos, este passa muitas vezes a adotar um procedimento de vingana movido pelo dio para com a sociedade que a seu ver a grande e nica culpada de tudo o que lhe acontecera e que ainda lhe suceder, e essa atribuio de toda a culpa sociedade se d pelo fato de este, acreditar ser aquela a responsvel pela ausncia de um emprego, ou de instituies de ensino pblico de uma qualidade compatvel com as privadas, enfim, essa culpa advm da no prestao queles mais necessitados de condies de subsistncia, abrindo assim uma lacuna para que possam se virar do jeitinho deles. Na concepo desses, o delito executado foi estimulado pela sociedade, j que se esta no o tivesse dado motivos para tanto, o crime no precisaria ser realizado. demasiado oportuna a viso de Salo de Carvalho sobre o polemico assunto: preciso compreender que o preso conserva os demais direitos adquiridos enquanto cidado, que no sejam incompatveis com a "liberdade de ir e vir", medida que a perda temporria do direito de liberdade em decorrncia dos efeitos de sentena penal refere-se to-somente locomoo. Isso, invariavelmente, no o que ocorre. (CARVALHO, 2001, p. 192-193).

A Lei de Execuo Penal assevera muitos deveres, e todos eles so cumpridos pelos presos, com raras excees, mas por outro lado tambm determina muitos direitos, alguns expressos nesta lei, e outros assegurados tacitamente como prev o art. 3 quando atesta que todos os direitos no atingidos pela sentena criminal ou pela lei sero resguardados aos encarcerados. O referido artigo demonstra implicitamente que tambm so direitos do recluso, e por isso devem ser respeitados, dentre outros, o direito a uma cela limpa e em condies de abrigar seres humanos, a completa higienizao pessoal e do local, uma alimentao saudvel e digna, um lugar arejado e com espao suficiente para dormir, pois na maioria dos estabelecimentos penitencirios a cela se faz minscula diante da quantidade de apenados que a compe, tendo estes que, muitas vezes, revezarem uma dormida no cho, esses so alguns dos direitos no atingidos pela sentena condenatria, e que, por conseguinte, no so concretizados, deixando a vida do detento cada vez mais insuportvel. (In: DJi, 2009).

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O pargrafo nico tambm do art. 3 da LEP afirma que: No haver qualquer distino de natureza racial, social, religiosa ou poltica. Na teoria um artigo demasiado honroso e plausvel, entretanto, no o que de fato ocorre, essa disparidade notria, por exemplo, quando nos deparamos entre o modo de vida, tratamento e demais privilgios dispensados a uns presos, que dispem de cela individual com eletrodomsticos, cama confortvel para uma dormida equiparada sua residncia , ao passo que outros so mantidos em um modo de vida onde s vigora a lei da escassez de alimento, de um espao para dormir, entre outras prerrogativas de carter necessrio, essa divergncia de tratamentos reflete em desarmonias e transtornos entre os apenados, causando nos menos favorecidos at a revolta. (In: DJi, 2009). A esperana de reordenamento dos presidirios est absolutamente comprometida, visto que, numa penitenciria, o ambiente agressivo e hostil se encontra gradativamente maior medida que o tempo passa, a maneira desumana como estes so tratados l dentro, muitas vezes at com a pratica de tortura, levanos a acreditar que a lei regulamentadora dos presdios limita-se a apenas palavras organizadas e postas num papel e que jamais se concretizaro ou produziro algum efeito, impedindo os reclusos de exercerem os nus que He so devidos na pessoa de sujeito de deveres e direitos, alis, a real situao do preso em nosso pas de muito mais sujeito de deveres do que de direitos, e isso j quase uma regra no sistema penitencirio nacional. devido legalmente ao Estado dar com presteza assistncia material, sade, jurdica, educacional, social, e religiosa ao apenado com o fito de prevenir a incidncia da criminalidade bem como direcionar o detento para os caminhos que o levaro a retornar civilizao de forma integra e digna, preparado para uma nova vida e para as oportunidades que a acompanha. 2.1.2 O problema da superlotao carcerria Este problema aflige grande parte dos estabelecimentos penitencirios do pas, a superlotao vem acompanhada de uma srie de conseqncias malficas e de grande abrangncia na sociedade. Como todos os administradores de presdios tm cincia, prises superlotadas apresentam um alto teor de periculosidade em virtude de, estas

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tornarem maior a tenso existente naquele ambiente, dessa maneira aumentando a violncia entre os presos, elevando o numero de fugas devido facilidade que isto proporciona, alem de elevar tambm as ocorrncias de ataques aos carcereiros. No por menos que, parte relevante de incidentes como, greve de fome, rebelies e demais formas de protesto nas penitencirias brasileiras, sejam diretamente imputados ao fator superlotao carcerria. Primeiramente essa carncia de espao significa uma afronta vergonhosa ao preceito constitucional de que garantido ao preso o respeito sua integridade fsica e moral, sem contar que a dignidade da pessoa humana tambm maculada com essa realidade, confere um dos fundamentos do Estado Democrtico de Direito, direito este tambm previsto constitucionalmente. Ademais, consta no Art. 88 da lei de Execues Penais que O condenado ser alojado em cela individual que conter dormitrio, aparelho sanitrio e lavatrio., e ainda determina a rea mnima destinada a este, como sendo de seis metros quadrados, todavia segundo uma reportagem realizada no Presdio localizado no Esprito Santo foi declarado:Presos em nibus. A superlotao nas delegacias do Esprito Santo provocada pela superpopulao de presos, aliada a falta de vagas em carceragens e presdios criou um hbito que j se arrasta por anos: a manuteno de presos em micronibus. Na sede da Diviso de Homicdios e Proteo Pessoa (DHPP), em Vitria, 16 homens estavam em um veculo da polcia, localizado no ptio da delegacia, que j foi batizado de "Mosespinho", uma referncia ao Presdio de Segurana Mxima Mosesp. A cena deprimente. Sem agentes penitencirios, os presos se utilizam de garrafas para fazer as necessidades fisiolgicas, e no tm direito ao banho de sol. Eles ficam espremidos dentro do carro, em um espao de um metro de comprimento e 80 centmetros de largura, sem condies de fazer um revezamento para dormir. O perodo de permanncia no local assusta: um dos presos est h 14 dias no camburo. A situao fica ainda mais problemtica medida que mais presos chegam Diviso, devido superlotao carcerria em todo o Estado. Para o presidente da Associao de Investigadores da Polcia Civil (Assinpol), Jnior Fialho, a polcia est cometendo um crime de tortura. " degradante e desumano. O indivduo no precisa passar por isso para cumprir uma pena", disse. (In: Imprensa Sindasp, 2008).

Depois de se contemplar tais informaes, difcil conceber a intensidade do descumprimento existente para com a alnea b do pargrafo nico do art. 88 da LEP, no h como se comparar a disparidade entre o tamanho do recipiente citado com o estipulado em lei, sem falar na quantidade de encarcerados que tambm absolutamente desproporcional, e alem disso o desrespeito tambm do art. 85 da

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Lei de Execues penais ao certificar que O estabelecimento penal dever ter lotao compatvel com a sua estrutura e finalidade. Ento, se levarmos esse dispositivo ao p da letra, que sentido ter, essa finalidade mencionada seno o de marginalizar sobretudo cultivar dio e revolta aos detentos? Parece complicado ser um jurista e ter que assistir a esse e outros diversos fatos ocorridos nesse mbito e ter que silenciar diante dessa ignomnia. (In: DJi, 2009). Um dos alvos tambm atingido por essa catstrofe so as cadeias pblicas que abrigam presos que ainda no foram condenados e, alm disso, abrigam tambm os que j foram condenados tendo em vista que j no h mais espao suficiente para acomod-los nas penitencirias em funcionamento, tumultuando, igualmente, esses estabelecimentos. Outros reflexos dessa falta de estrutura das prises so o aumento do nvel de violncia entre os encarcerados, um exemplo disso ocorre quando alguns deles condenados pena de regime semi-aberto e que quando possvel so encaminhados s cadeias para o repouso noturno, do origem a revolta por parte daqueles que querem, como de direito, essa regalia, e se sentem injustiados e descriminados pela no disponibilizao de Colnias Agrcolas suficientes para abrig-los, assim dando ensejo violncia fsica e sexual entre eles, que constitui uma conseqncia mais degradante. Vale salientar que isso ocorre tambm de forma contraria, ou seja, a inexistncia de cadeias o bastante para confinar presos provisrios, acarreta a superlotao dos presdios uma vez que aqueles tm que imigrar para estes. A presena de substncias entorpecentes eleva ainda mais o grau de constrangimento fsico e moral entre eles, originando confuses internas. A escassez de uma higienizao provoca graves problemas de sade, principalmente no tocante enfermidades ligadas ao sistema gastrointestinal. Alm de tudo isso a superlotao ainda contribui para a transmisso rpida de doenas infectocontagiosas, influenciando rebelies que por sua vez, tambm desencadeia uma diversidade de conseqncias apavorantes. Dados cientficos comprovam que, um em cada trs detentos encontra-se em condio irregular, isto , deveriam estar reclusos nos devidos presdios, porm se acham em cadeias pblicas ou delegacias. Situaes do tipo em que, detentos com menor potencial ofensivo dividirem a mesma cela daqueles de alto nvel de periculosidade geralmente dotados de toda experincia no mbito, acabando de

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algum jeito se envolvendo de forma ntima com a criminalidade, elo esse que dificilmente tem um fim, e justamente o que reputa aos presdios de hoje em dia a idia de serem escolas do crime, isso porque da convivncia com esses praticantes mais habituais e hbeis eles extraem, como se esperado, apenas maus ensinamentos se que se pode nomear disso. Acerca disso, Basileu Garcia firma de forma perspicaz que: A infmia pode resultar do crime., acrescenta ainda que: No deve decorrer da pena, cuja funo social reerguer moralmente o sentenciado, estimulando-o regenerao e emenda (GARCIA, 1980, p. 455). Questiona-se ento, o que se pode considerar mais fcil e aparentemente de imediata soluo, despejar os presos em crceres inadequados a seus determinados regimes ou individualizao da pena, que um preceito constitucional, ou ao menos tentar organiz-los conforme manda a lei para que, assim sendo, consiga-se alcanar a to almejada reabilitao? A resposta que se consegue vislumbrar a de que, se configura menos dispendioso para o Estado enveredar pela primeira opo, portanto deduz-se ser a escolhida por este. O percentual de incidncia de crimes cresce assombrosamente no decorrer dos anos, fazendo aumentar igualmente o numero de condenados e respectivamente presos, o que se torna por demais preocupante, j que o sistema prisional brasileiro continua inerte no que refere-se tomada de providncias que equilibre essas vertentes. No se edifica sequer planos para restaurar estruturas ou mesmo para a construo de novos estabelecimentos, que atualmente seria a soluo mais eficaz e vivel a todos. Contudo para que isso ocorra se faz preciso, antes de qualquer coisa, a conscientizao de que no o bastante to somente jogar os indivduos num crcere superlotado, como se est sendo feito em regra, pois que isso no caracteriza um centro de tratamento do detento e sim um mero reservatrio de indigentes sem o mnimo de dignidade da pessoa humana, qui expectativas de reeducao para reinsero na civilizao. O art. 1 da LEP assevera que a execuo criminal tem como objetivo precpuo proporcionar condies para a harmnica integrao social do condenado e do internado, s que a situao hodierna no condiz em nada nem com metade do que essa parte final do artigo citado acrescenta. Destarte, torna-se preciso a criao de vrios outros presdios, e ainda urge recuperar, reestruturar os j existentes no

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sistema do nosso pas, afinal, de que adiantar para a sociedade e principalmente para o detento, que este sobreviva num espao e numa posio degradante na sociedade, por uma viso lgica, percebe-se que quase impossvel que este sujeito excluso dos direitos no venha a se revoltar diante de tamanho esnobismo e abandono das nicas entidades que poderiam e deveriam manifestar um propsito, uma resoluo para essa situao embaraosa. (In: DJi, 2009). A respeito do disso, merece destaque o trecho de um artigo citado no site do Instituto Latino Americano das Naes Unidas para a preveno do delito e tratamento do delinqente:Faltam presdios, como faltam hospitais e escolas, so carncias reconhecidas. Mas a superlotao de presdios pode perfeitamente ser solucionada, no nvel da legislao ordinria, sem dispndio de verbas e at mesmo com reduo de gastos: o condenado preso chega a custar ao Estado dez vezes mais que o condenado sujeito a um eficiente e proveitoso regime de pena restritiva de direitos ou de livramento condicional (In: Ilanud, 1998).

A sociedade alienada de hoje, acredita ser o bastante para erradicar a criminalidade e a ameaa que esta causa, o simples encarceramento do infrator, mesmo que em condies aviltantes, como as existentes em praticamente todos os estabelecimentos penitencirios do Brasil, todavia essa falsa praticidade no passa de um bice repleto de aspectos negativos para a reconstituio do preso e, conseqentemente, uma maior segurana e ordem social. Uma priso sem a estrutura adequada servir apenas de estimulante de mais violncia e sentimento de vingana por parte dos reclusos para com a sociedade que em sua concepo foi quem o colocou naquela conjuntura, funcionando o sistema simplesmente como um contraproducente, ou seja, desenvolvedor de resultados inversos aos esperados representando indubitavelmente um fato gerador da criminalidade. Nas ltimas coletneas de dados realizadas pela Secretaria de Justia e Segurana Pblica, em junho de 2009, foram comprovadas que em nosso sistema penitencirio a capacidade existente de 299.392 (duzentos e noventa e nove mil e trezentos e noventa e duas) vagas. Entretanto, estatisticamente segundo a Secretaria de Justia e Segurana Pblica, a populao carcerria nacional de 469.546 mil presos, sendo 409.287 (quatrocentos e nove mil e duzentos e oitenta e sete) mil custodiados no Sistema Penitencirio e 60.259 (sessenta mil e duzentos e cinqenta e nove) na Policia e Segurana Pblica. Sendo assim, a escassez de

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vagas nos estabelecimentos prisionais do pas de 170.154 mil vagas faltantes para suportar de forma legal e principalmente humana essa verdadeira multido de presos. (In: InfoPen, 2009). Nesse contexto, comprovada pela Secretaria de Justia e Segurana Pblica que precisa-se da construo de ao menos 200 novos estabelecimentos prisionais, para atenuar a conjuntura do sistema atual, isso sem mencionar que tais estatsticas no so absolutamente transparentes, no sentido de que informaes extra-oficiais de quem trabalha de perto com os sistema carcerrio , atestam que algumas vagas tm sido ocupadas em mdia por aproximadamente de cinco a seis encarcerados configurando assim uma realidade deteriorada pelo parasita da superlotao carcerria. Em alguns Estados, as condies de habitao nas delegacias ou mesmo pequenas cadeias publicas, chegaram a tal ponto de precisarem transferir as mulheres para as celas masculinas, culminando assim no estupro destas. (In: InfoPen, 2009). Roberto Antonini em sua proposta para prevenir a superlotao dos presdios, relata:Efetivamente, para superar os graves conflitos e inconvenientes causados pela superlotao, pouco mais seria necessrio que acrescentar ao art. 85 da Lei de Execuo Penal os seguintes pargrafos, transformado em 1 o seu atual pargrafo nico 2 O limite de capacidade determinado pelo Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria, conforme o estabelecido no pargrafo primeiro, no poder ser excedido em hiptese nenhuma. 3 Faltando vaga para recolhimento do condenado, poder o juiz da execuo abri-la, abreviando a libertao de outro, mediante aplicao substitutiva de pena restritiva de direitos, ou concesso de antecipado livramento condicional, segundo o seu critrio e de acordo com listas previamente elaboradas. 4 A libertao de que trata o pargrafo anterior depender de que se presuma que o preso no voltar a delinqir e de que tenha cumprido, em proporo, maior tempo da pena imposta, atendidos tanto quanto possvel os requisitos dos artigos 44, caput, ou 83, do Cdigo Penal. 5 As listas a que se refere o pargrafo 3, elaboradas com participao do Ministrio Pblico e da mesma forma confirmadas ou alteradas trimestralmente pelo juiz da execuo, sero registradas em livro prprio. Frise-se no entanto o carter excepcional da soluo proposta: somente se admitir a ruptura do sistema de penas do Cdigo Penal, pela forma inslita ora apresentada, na conjuntura excepcional, no antevista pelo legislador, de o sistema penitencirio local mostrar-se insuficiente para acolher os condenados. Impe-se, nessa situao excepcional, alcanar o equilbrio entre a oferta e a demanda de vagas nos estabelecimentos penais, de forma que se preserve, a todo o transe, o imperativo fundamental da legalidade da ao do Estado. (ROBERTO, p. s/n, 2002).

Essa proposta traria uma soluo imediata e sem dispndio econmico s autoridades, que muitas vezes admitem com franqueza ser a priso um lugar de

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estrutura e tratamento subumano, posto que utilizaria dois requisitos primordiais para o enquadramento dos devidos presos nesse abreviamento de priso destes, seriam os requisitos de justia, no tocante ao maior tempo de cumprimento da pena, entre eles, e os requisitos para o proveito da segurana social, que so os casos em que houver ausncia de periculosidade do detento. O plano corrente configura tambm a ruptura do abuso de poder causado pelas autoridades na relao Estado-condenado, abuso este prenunciado nas alneas a e b do art. 4 da lei n 4.898/65, que estipulam as hipteses em que as autoridades permitem ou executam prises utilizando do abuso de poder, por vezes submetendo o preso a situaes e condies no amparadas por lei, ou seja, constrangimento ilegal. (In: DJi, 2009). 2.1.3 Escassez de higiene e assistncia sade Conforme conceituao do Dicionrio Aurlio, a palavra higiene significa ramo da medicina que visa preveno da doena. Essa definio por si s, faz-se chegar a concluses esmeras sobre o consectrio da no observncia desta em qualquer que seja o ambiente. Est diretamente ligada sade. Ao tratar-se de estabelecimentos penitencirios, do conhecimento de todos que o modo de viver dos detentos marcado pela falta de higiene num grau bastante elevado, provocado pela prevaricao dos responsveis por esta, e pelo abandono a que o preso est constantemente submetido. O art. 10 da LEP assevera que a assistncia ao preso e ao internado dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno convivncia em sociedade. E o artigo 11 elenca respectivamente esses direitos de assistncia assegurando no inciso II do mesmo artigo a assistncia sade, negligenciada demasiadamente nos presdios. Garante e especifica essa assistncia tambm, o caput do art. 14 da Lei de Execues Penais, ao determinar A assistncia sade do preso e do internado, de carter preventivo e curativo, compreender atendimento mdico, farmacutico e odontolgico. (In: DJi, 2009). Os maiores alvos dessa falta de assistncia sade constituem as mulheres, pois que, estas carecem de exames ginecolgicos com grande freqncia em virtude da falta de higiene naquele espao, dos relacionamentos muitas vezes com mais de um parceiro, da ausncia at de exames de rotina essenciais a manuteno

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saudvel do corpo, afora isso, em alguns estabelecimentos prisionais, os detidos no dispem de transporte para em casos de necessidade de consultas mdicas, ou idas hospitais, ou at mesmo em casos de emergncia, utilizarem esse meio, como assegura o 2 do art. 14 da LEP: Quando o estabelecimento penal no estiver aparelhado para prover a assistncia mdica necessria, esta ser prestada em outro local, mediante autorizao da direo do estabelecimento. (In: DJi, 2009). (In: DJi, 2009). De um modo geral, os esse tipo de prestao fornecida pelo presdio so dadas conforme a preciso dos homens, as autoridades responsveis pelas penitenciarias simplesmente esquecem que as mulheres possuem uma srie de peculiaridades, atinente, por exemplo, ao estado de gravidez destas, que indubitavelmente precisam de um local e tratamento especficos, embora na prtica isso no seja efetivado como se deveria, o legislador se preocupou com tal ocasio ao deliberar no 3 ainda do art. 14 da LEP que: ser assegurado acompanhamento mdico mulher, principalmente no pr-natal e no ps-parto, extensivo ao recm-nascido. ( In: DJi, 2009). No que se faz aluso higiene, vale salientar que a precariedade toma conta do critrio em tela, os sanitrios para uma coletividade sem uma devida higienizao diria, pode-se imaginar a conjuntura decorrente disso. Relaes promiscuas e a falta de informao dos detentos, e ainda a desateno psico-social, resultam no contgio amiudamente repetido da AIDS entre os encarcerados, desconhecendo a maioria a doena que esto contaminados. A direo dos presdios por sua vez, deixam descumprir a assistncia devida a esses que, por conta dessa ausncia de cuidado, atingem o estado terminal. Porm, h muito mais doenas descuidadas no se limitando apenas AIDS, segundo afirma um relatrio da Inter-American Commission Reports & Documents, sobre a situao dos direitos humanos em nosso pas, muitos detentos se queixam de doenas como gastrites, dermatites, pneumonias, e ulceras, no sendo, pois acompanhados de forma adequada, afirmando esse relatrio que muitas vezes sequer havia remdios bsicos suficientes para tratar dessas patologias. (In: Jornal Correio Braziliense, 1998). Ainda constata o mencionado relatrio que muitos encarcerados sequer tm direito alimentao e vesturios bsicos, garantidos ambos no art. 12 da LEP, que reza: A assistncia material ao preso e ao internado consistir no fornecimento de

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alimentao, vesturio e instalaes higinicas. O que causa-lhes muito frio, em dias chuvosos passam o dia inteiro com roupas ensopadas acarretando gripes fortes e pneumonias, tudo isso pela falta de prestao de um direito seguramente previsto em lei. (In: DJi, 2009). Com o intuito de conseguir melhores condies de vida sem tantos sofrimentos desnecessrios alguns presos ou ate mesmo seus familiares e visitantes usam de suborno para com os carcereiros oferecendo-lhes um reforo pecunirio em troca de melhores tratamentos, esses guardas por receberem remuneraes injustas para tal trabalho, aceitam com facilidade tal beneficio. 2.1.4 Violncia policial: Tortura e maus tratos A violncia nos recintos penitencirios acontece das mais diversificadas formas e por diferentes motivos. Quando essa violncia se d por parte dos guardas da priso, ela vem como um modo de repreenso por algum comportamento desvirtuado dos detentos, ou poder vir com o fito de impor autoridade a algum interno quando este no quer obedecer s ordens e regramentos do presdio, bem como usam a violncia para obterem confisses de desordens e at crimes cometidos nos crceres. Quando a violncia decorrente de desavenas entre os detentos, estes geralmente no tm limites e muitas vezes chegam ao extremo dessa, causando at a morte do outro, isso ocorre tambm pela falta de monitoramento das autoridades que quando vm tomar alguma providencia ou menos querer apartar uma briga grave, o pior j tem acontecido, o desinteresse em apaziguar os conflitos internos e a inrcia dessas autoridades que agravam as ocorrncias naquele ambiente. Constituem hipteses de maus tratos e tortura, elencados na Lei n 9.455/97, que trata apenas do crime de tortura:I - constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental: a) com o fim de obter informao, declarao ou confisso da vtima ou de terceira pessoa; b) para provocar ao ou omisso de natureza criminosa; c) em razo de discriminao racial ou religiosa; II - submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violncia ou grave ameaa, a intenso sofrimento fsico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de carter preventivo. ( In: DJi, 2009).

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Todavia, questiona-se que, a integridade moral e a fsica, previamente asseguradas constitucionalmente esto sendo cumpridas dentro das prises? Quando se estuda sobre o modo de tratamento dispensado aos internos, no h como se constatar a efetividade dos princpios includos na Carta Magna. Isso sem fazer meno disparidade de tratamento entre as classes denominadas pelas autoridades de perigosas, que na maioria das vezes so os mais desprezados por serem desprovidos de uma boa condio financeira, mulatos ou negros, sem nenhum grau de instruo, esses j so considerados indignos de um acolhimento humanitrio, porque de acordo com suas caractersticas, so acolhidos pelos policiais e carcereiros como marginais formados, indivduos incompatveis com a expresso regenerao. Em 11/04/2001 na 57 Sesso das Comisses de Diretos Humanos das Naes Unidas no Brasil, para analisar a situao de tortura em nosso pas, foi enviado o relator especial das Naes Unidas Nigel Rodley. (In: DHnet, 2009). A situao mais assombrosa na opinio do Relator Especial foi a presenciada nas celas policiais, onde os indivduos permaneciam nelas por um tempo bem maior do que o legalmente previsto que de vinte e quatro horas. Foi notria explicitamente aos olhos do Relator a violenta e desumana maneira com que os detentos eram tratados nos presdios, e em seu relatrio indagou no conceber palavras que conseguissem expressar tamanha agresso, relata tambm que a situao sequer foi amortecida para o preparo sua chegada, e que nada adiantou o aviso antecipado de que iria analisar toda aquela conjuntura, pois que, nada foi promovido para um eventual disfarce de melhora, a aparncia continuara a mesma. Parte do relatrio mencionado destaca:Os detentos relataram que em 28/8 houve uma revista geral nas celas aps uma tentativa de fuga na noite do dia 26 em outra cela. Eles no sabiam porque haviam sido escolhidos, uma vez que a tentativa havia ocorrido em outra cela. Aps a revista, alguns detentos reclamaram porque itens pessoais tinham desaparecido. Acredita-se que por causa destas reclamaes, eles foram levados pelo chamado corredor polons at o ptio, onde foram espancados por 50 guardas acompanhados por membros de foras especiais da polcia usando pedaos de pau e de ferro, alguns com fios ao redor, por cinco ou seis horas. O diretor e sub-diretor encarregados da segurana foram acusados de participar do espancamento. Segundo eles, um dos detentos teria sido gravemente machucado. No mesmo dia, ele teria que aparecer a um juiz, que ordenou sua transferncia imediata a um hospital. Todos os 70 detentos que estavam na mesma cela tinham marcas visveis e recentes (contuses,

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hematomas e arranhes em vrias partes do corpo), condizentes com suas declaraes. (ONU. Relatrio sobre a tortura produzido no Brasil pelo relator especial sobre a tortura da comisso de direitos humanos da organizao das naes unidas. Genebra, 11 de abril de 2001. (In: DHnet, 2009).

Segundo Nigel Rodley comiserador o estado em que vivem aqueles pobres, que o usava como uma vlvula de escape para desabafar tudo o que passavam naquele lugar, declaraes lastimosas e merecedoras de compaixo, diziam eles nos tratam como animais e esperam que nos comportemos como gente quando sairmos daqui., realmente torna-se complicado entender tal exigncia. (In: DHnet, 2009). Todos os depoimentos foram aferidos e comprovadamente efetivados, inclusive a existncia de instrumentos de pau e ferro para a prtica da tortura tal como foram descritos pelas vitimas e encontrados nas delegacias, fora informado tambm pelos presos que havia pedaos de pau grandes e o que pior talhados, sendo descoberto pelo Relator Especial que aquele ajuste tinha sido efetuado pelos prprios oficiais da lei, assim, no restando incertezas sobre o uso dessas armas. Depois de tantas descobertas e analisando o perfil de todos os encarcerados, foi concludo pelo supracitado Relator que h uma classe predominante ao tratar de maus tratos e de tortura realizada pelos policiais e guardas penitencirios, so os infratores negros, pobres, e visivelmente excludos pela sociedade, os crimes cometidos por esses, so os mais brandos. Essa informao coletada s confirma o que j havia sido citado no inicio da explanao sobre o assunto. (In: DHnet, 2009). Em trecho de sua obra sobre o Carandiru, Druzio Varella assevera:O mdico Druzio Varella, em sua obra Estao Carandiru (1999, p. 99104), observou que os internos esto sujeitos s normas formais de controle do comportamento existentes na priso. Entretanto, os internos seguem um cdigo de tica criado por eles mesmos. Esse cdigo de conduta estipula desde aspectos mais simples existentes no cotidiano do preso, como, por exemplo, se um indivduo utilizar o banheiro enquanto o outro companheiro de cela estiver fazendo a sua refeio caso passvel de espancamento e at assunto de vida ou morte. Se um detento furtar objetos de um colega de cela punido imediatamente, devendo cumprir a sua pena em ala isolada, tambm conhecida como pavilho de seguro. Dvidas consideradas graves, delao de comparsas autoridade competente recebem a pena capital, ou seja, a morte. Para julgar e zelar por esse cdigo de conduta elaborado pelos presos eleito uma espcie de juiz ou autoridade mxima da instituio penal, que aceito nessa funo pelos demais reclusos, funcionrios e at pela diretoria do estabelecimento. Esse cdigo, embora no seja escrito, deve ser seguido e

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cumprido pelos presos com absoluto rigor. O controle interno das prises feito pelas faces criminosas, que mantm seu poder atravs de intimidao ou de uso de ameaas pessoais e familiares. Essas faces controlam a venda de drogas nas celas, alugam telefones celulares, estipulam quais locais da priso podem ser utilizados pelos internos e vendem lugares nas celas. Nesse local a ociosidade a regra; a intimidade no existe; a alienao, como causa da falta de atividades adequadas inevitvel. nesse ambiente, onde no existe uma proteo efetiva contra as influncias negativas, que nasce o sentimento de revolta do interno, em decorrncia da ascenso dos mais fortes contras os oprimidos. (VARELLA, 1999, p. 99-104).

As faces criminosas hodiernamente predominam quase em todos os presdios brasileiros. Mesmo enclausurados nas penitencirias, os detentos, utilizando-se de celulares conseguidos e permitidos atravs de ameaas feitas aos guardas bem como outras autoridades prisionais e a suas respectivas famlias, criam a oportunidade de realizar crimes organizados do interior das prprias prises. Os presos elegem um lder que monitorar esses crimes, que em suma so cometidos com o intuito de obter fundos para subsistncia de algumas regalias que por vez lhe seriam de direito, conforme o texto da constituio, mas que lhe so bruscamente negados. Esses lderes alm de controlarem crimes fora dos estabelecimentos prisionais, organizam, digam-se de passagem, fatores como fugas e rebelies em vrios presdios, muitas vezes ocorridas ao mesmo tempo, ou seja, essas faces criminosas do-lhes o poder de serem onipresentes mesmo estando privados de suas liberdades. 2.1.5 Rebelies e fugas Como j supracitado, no Brasil o regimento interno dos presdios contam com uma colaborao de alguns dos seus integrantes, configurando ento as conhecidas faces criminosas, e que esto no domnio interno e externo concomitantemente s autoridades publicas, sendo assim as grandes culpadas e organizadoras de delitos fora do crcere e ainda por cima protagonistas de fugas e rebelies. Exemplos como o ocorrido na antiga penitenciaria mais famosa do pas, conhecida popularmente como Carandiru, onde houve rebelio trgica e marcante em toda a histria dos presdios, com a efetivao de mais de cem mortes dos detentos por falta de um melhor planejamento de erradicao desses manifestos,

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com a imprudncia e desumanidade da policia que no enxergara outro modo de acabar com aquilo seno a eliminao dos elementos como assim os denominam. Outro grande e recente exemplo foi o ocorrido aqui em Joo Pessoa - PB, por volta das 8h30m da sexta feira do dia 23/10/2009, no presdio Roger (Penitenciaria desembargador Flsculo da Nbrega), registrou mais de seis vitimas, todas mortas no presdio, os presos atearam fogo nos colches, lenis e ventiladores, no pavilho trs da penitenciaria, que continha 70 detentos, todos condenados por estupros ou homicdios, pelo menos 40 presos saram feridos, uns gravemente, encaminhados para o Hospital de Trauma da capital. Um dos agentes penitencirios do estabelecimento, com o nome de Anderson Cleiton atestou: As paredes foram quebradas com marretadas, mas nem todos conseguiram sair das celas. (In: JPB, 2009). Embora no seja este um assunto to miditico, indubitavelmente freqente nas prises brasileiras. uma forma de reivindicao temperada com certo grau de revolta por parte dos encarcerados que j no agentam a atual situao vivida e promissora de pioras, porque ao sair daqueles portes estes no encontraro o mundo de braos abertos para receb-los, ser exatamente o contrrio. Se como detento eles vivem numa escassez de qualidade de vida como m alimentao, pssimas condies de dormida, superlotao dentre outros, como individuo egresso tero escassez na integra, ou seja no disporo sequer das poucas concesses que o presdio os disponibilizava. Talvez aparentemente essas rebelies apresentem carter um tanto vndalo, no entanto isso no passa de uma interpretao superficial dos reais motivos que os incitam a realizar tal ato. Se analisarmos os meios pelos quais a policia e outras autoridades do poder publico utilizam-se com a finalidade de por fim nesses esquemas das faces criminosas ou mesmo nas rebelies e fugas, nos depararemos com condutas severamente desproporcionais ao problema em foco, tendo muitas vezes conseqncias fatais, desencadeando a morte dos que s queriam mais vida. A ttulo de curiosidade convm ressaltar que a polcia de So Paulo foi considerada a mais violenta do mundo segundo estudos de um professor de Direito da Universidade de Nova York chamado Paul Chavigny, alegando tambm que a mesma polcia matou em apenas um ano, quatro vezes mais do que a ditadura

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militar no decorrer de quinze anos. Dados assustadores, mas que demonstra um pouco o outro lado da moeda. (In: DHnet, 2009). 2.1.6 Trfico de drogas, armas e celulares A reside mais uma questo motivada pelos abrangentes problemas que assolam a populao carcerria, trata-se do uso de celular e trfico de drogas e armas. A presena destes trs itens nos crceres resulta em planos mirabolantes de fugas, ameaas, rebelies e subornos, o ambiente se torna ainda mais tenebroso dentro das prises. Cada instrumento tem sua respectiva finalidade, a droga utilizada como patrocnio para a realizao de tais feitos anteriormente citados, pois que, atravs de sua venda entre os presos, arrecada-se uma quantia consideravelmente bastante para prover as despesas de uma fuga bem sucedida. As prprias autoridades admitem a idia de que os agente