Modelos Pedag Manual

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    1/54

    Formao: Tcnico/a de Aco Educativa

    Mdulo: Modelos Pedaggicos

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    2/54

    Formadora: Isabel Saraiva Barbosa

    2

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    3/54

    Tudo o que necessitava de saber sobre a vida, aprendi-o no Jardim de Infncia

    Tudo o que devo mesmo saber para viver, o que fazer e como devo ser, aprendi-o com as

    minhas educadoras. A sabedoria no estava no cimo da montanha, no instituto, na universidade,

    mas ali, aos ps do escorrega, na areia. Estas so as coisas que aprendi:

    Partilha tudo.

    Joga limpo.

    No batas nas pessoas.Volta a pr as coisas onde as encontraste. Limpa sempre o que sujaste.

    No leves o que no teu. Pede perdo quando magoas algum.

    Lava as mos antes de comer.

    As bolachinhas quentes e o leite frio so bons.

    Vive uma vida equilibrada; aprende e pensa, desenha, pinta, canta, baila, brinca e trabalha um

    pouco em cada dia.

    Dorme a sesta todas as tardes.

    Quando sares para a rua, tem cuidado com o trnsito, d a mo aos adultos e no te afastes.

    Continua atento ao maravilhoso.

    Recorda a pequena semente no vaso: as razes descem, a planta sobe e ningum sabe,

    realmente, como nem porqu, mas todos somos assim. Os peixes de cores, os hamsters e os

    ratinhos, brancos e, mesmo a pequena semente do vaso, todos morrem. E ns tambm.

    E ento, lembra-te de uma das primeiras palavras que aprendeste: v.

    Tudo o que necessitas saber est ali, algures. A Regra de Ouro: o amor e a higiene bsica. A

    ecologia e a poltica, a igualdade e a vida s. Pega em qualquer destes princpios, tradu-los em

    termos adultos sofisticados e aplica-os tua vida familiar ou ao trabalho, ao teu pas ou ao teu

    mundo, e manter-se- verdadeiro, claro e firme.

    Pensa em quo melhor seria o mundo se todos todo o mundo comssemos bolachinhas com

    leite todas as tardes e nos enroscssemos nas nossas mantas para dormir a sesta.

    Ou se todos os governos tivessem como poltica bsica voltar sempre a pr as coisas onde as

    encontraram e limpar tudo o que sujaram.

    Robert Fulghum

    3

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    4/54

    Mdulo: Modelos Pedaggicos

    Objectivos:

    Identificar os modelos psicopedaggicos adequados a creches e jardins

    de Infncia;

    Identificar os factores e reconhecer a importncia da organizao dos

    espaos e actividades pedaggicas.

    Contedos:

    Percursores da educao pr-escolar;

    Principais correntes pedaggicas no perodo contemporneo:

    - Movimento educao nova;

    - Pedagogia da educao popular;

    - Pedagogia no directiva;

    - Pedagogia construtivista;

    Modelos pedaggicos e organizao dos espaos educativos.

    4

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    5/54

    Apresentao

    A actividade da etapa infantil configura-se, hoje em dia, como uma autntica

    etapa de aprendizagem cuja estrutura, organizao e programao se devem realizar porprofissionais com formao especializada, destinada a educar e cuidar de crianas de

    ambos os sexos dos 0 aos 6 anos.

    Durante este perodo, as crianas vem-se imergidas em inmeras alteraes em

    todos os mbitos da sua pessoa, tanto a nvel interno como externo. Atendendo a estas

    alteraes, um dos principais objectivos que deveria cumprir qualquer centro de educao

    que acolhe estas crianas serie o de oferecer um ambiente estimulante, acolhedor, seguro

    e rico em experincias. Assim, o lar, a creche e o jardim-de-infncia convertem-se em

    espaos adequados para que esse desenvolvimento se d com as mximas garantias.

    imprescindvel que os professores possam distribuir o espao e o tempo disponveis de

    forma adequada e eficiente fomentando, assim, ao mximo as potencialidades de cada um

    dos alunos. A organizao das experincias bsicas de aprendizagem dever basear-se no

    conhecimento das principais teorias e mtodos pedaggicos e na utilizao dos recursos

    didcticos adequados.

    Para oferecer criana experincias interessantes que impliquem um correcto

    crescimento fsico e intelectual preciso considerar a importncia de unir os esforos de

    escola e famlia.

    Durante o perodo que vai desde o nascimento at aos 6 anos ocorrem inmeras

    alteraes no desenvolvimento psicolgico. As crianas adquiriram novas formas de se

    relacionarem com o mundo que as rodeia, e o desenvolvimento fsico deu-lhes a

    possibilidade de caminharem de forma independente, manipularem coisas interessantes e

    entrarem em contacto com elas de forma cada vez mais aperfeioada.

    Podemos considerar o ponto inicial do caminho como sendo a predisposio com

    que o ser humano nasce para a aco, para o desenvolvimento e para a aprendizagem. Ao

    nascer, o beb inicia o caminho cheio de experincias, aces e interaces que o levaro

    a conhecer, compreender e estabelecer relaes com o meio, com as coisas e com as

    pessoas que povoam o seu ambiente. Trata-se tanto de aces que o beb realiza no seu

    meio como de aces que o meio exerce sobre o beb.

    5

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    6/54

    Percursores da educao pr-escolar

    Anteriormente ao sculo XVIII, a Educao era feita mediante as classes sociais a

    que pertenciam e s actividades exercidas na poca correspondente. Esta educao era

    apenas feita aos indivduos do sexo masculino, enquanto as raparigas ficavam em casa aaprender as actividades do lar. Mesmo de entre os indivduos do sexo masculino, nem

    todos tinham direito educao, s apenas os de classes sociais mais elevadas, uma vez

    que se dizia que s a estes valia a pena porque s eles um dia poderiam adquirir algum

    conhecimento e aproveit-lo em seu benefcio.

    Com o passar dos tempos e os contributos dos vrios filsofos e pedagogos, essa

    mentalidade foi-se alterando e registaram-se significativas evolues. Contudo, a infncia

    nunca era vista da forma como a temos actualmente. As crianas no eram tratadas comocrianas, mas sim como adultos, at mesmo o seu vesturio era idntico ao dos adultos.

    Por isso, a criana no tinha tempo de ser criana e de experienciar as mais diversas

    vivncias e, obter as suas significativas aprendizagens.

    Contudo, com o contributo de Jean Jacques Rousseau (1712/1778 nasceu em

    Genebra), comeou a dar-se mais importncia e a valorizar-se mais o tempo de ser

    criana e de lhe dedicar mais tempo. Comeou tambm nesta poca a criar-se roupa maisapropriada para a infncia para tambm assim ser uma forma de os distinguir. O grande

    contributo do filsofo Rousseau foi o de despertar para as caractersticas das crianas, e

    estas serem vistas como crianas antes de serem consideradas como adultos. Rousseau

    focava esse ponto continuamente Abstenhamo-nos de revelar a verdade ao que no se

    encontra em estado de a compreender, porque tal significa pretender imiscuir o erro.

    Pretende-se ensinar a verdade adulta criana; mas dado que a criana no est em

    condies de a apreciar nem de a compreender devidamente, dela retira apenas hbitos de

    mentira, hipocrisia e vaidade; participa precocemente nos vcios dos adultos em lugar de

    assimilar as virtudes. Defendia que deveria existir um desenvolvimento apropriado,

    removendo assim todas as restries e deixando as tendncias naturais se manifestarem

    livremente. Ele considera a necessidade de haver educao desde a primeira infncia.

    Prope que o professor ajude a natureza humana a conseguir o seu mximo

    desenvolvimento potencial. Cr que so importantes a liberdade, a independncia e a

    espontaneidade, j que desta forma, o ser humano tem a possibilidade de ser autnomo

    fsica, social e intelectualmente. Deste modo, considera que a sua aprendizagem seja

    6

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    7/54

    realizada pela prpria experincia despertando a sua curiosidade. E isto porque a

    infncia tem maneiras de ver, de pensar, de sentir que lhe so caractersticas.

    Assim se ele se enganar, deixa-o fazer, no lhe corrijais os erros, esperai em

    silncio que esteja em condies de v-los e corrigi-los por si mesmo, ou, no, mximo,

    em momento favorvel, apresentai-lhe algum modo de faz-lo sentir. Se nunca se

    enganasse, no aprenderia to bem.

    Em suma, podemos ver a preocupao que este filsofo tinha em relao ao ser

    criana, que a mesma deveria ser tratada como tal, ter uma educao adequada sua

    idade e sua vivncia, e no a mesma que ministrada ao adulto, para que desta forma o

    ser puro que ela , no se corrompa na sociedade que em que habita.

    Posteriormente, surge o Henri Pestalozzi (1746/1827), que tem como seu tema

    de cruzada a ideia de que preciso que em todos ns evolua a pessoa, a pessoa em

    funo da qual se deve organizar a vida poltica e em que o progresso material deve

    servir e no dominar. A primazia pertencia ento educao. Contudo, quando ele se

    refere educao, no pensa em primeiro plano na escola. Para ele no havia dvida de

    que a escola se lhe apresentava como um momento essencial, permitindo ajudar a criana

    a enriquecer a sua experincia de vida pessoal e comunitria num esquentamento mais

    vasto do que o da famlia e mais homogneo do que o da Cidade. A fora informadora

    cuja bno era para ele insubstituvel residia na famlia, no senso paterno e amor

    materno.

    S depois de a criana ter recebido esta educao bsica e a da escola, que lhe

    parece estar apta para receber o ensino da vida. Assim, Pestalozzi considerava a educao

    escolar como um complemento da educao domstica e como um meio de preparao

    educao pela vida.

    Froebel (1782 / 1852) foi o criador de asilos para crianas abandonadas e

    jardins-de-infncia.

    Para ele, o homem deve ser um ser activo e criador, por isso, a sua preocupao

    no deve consistir em fazer com que os alunos aprendam uma certa quantidade de

    conhecimento, mas com que se instruam pela actividade, pela iniciativa, fazendo

    desabrochar as suas faculdades.

    7

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    8/54

    Assim a sua pedagogia pode definir-se como uma pedagogia de aco e, muito

    especialmente atravs do jogo. Acriana para se poder desenvolver, no deve apenas

    olhar e escutar, mas agir e produzir.

    O jogo deve ser a base de instruo, dos 3 aos 9 anos, no Jardim-de-infncia, onde

    considera que esto as razes e os fundamentos de toda a educao.

    O jardim-de-infncia feito para a criana, desta forma, ela encontrar objectos-

    brinquedos, que a levaro ao conhecimento e sua expresso pela linguagem.

    Para exercitar a sua actividade ldica, posta disposio da criana uma srie de

    jogos educativos que a devem ajudar no desenvolvimento das suas faculdades.

    Um outro percursor o pedagogo Ovide Decroly (1871/1932). Decroly descreve

    o seu programa numa frmula que merece nfase, concedeu s condies do

    desenvolvimento infantil, especificamente no facto de considerar a escola um meio de

    vida em que a criana exerce uma actividade pessoal, isto , a escola pela vida para a

    vida.

    Para Decroly, as necessidades e interesses so inquestionavelmente a chave para o

    desenvolvimento da criana. Esta concepo est intimamente ligada com o exerccio das

    funes naturais da criana. Assim, os seus impulsos e hbitos devem ser interpretados.

    Considera-se como autntico pedagogo, aquele que graas sua experincia e

    cincia, capaz de ver nos interesses das crianas, no s como pontos de partida para a

    educao, mas tambm as funes que contm possibilidades e que levam a um fim ideal.

    O interesse para a criana ento a satisfao das suas necessidades, tudo aquilo que

    desenvolve os seus processos mentais, no esquecendo, a sua significao biolgica, o

    seu papel vital e a sua utilidade para a aco presente e futura.

    As suas estratgias desenvolvem-se numa vertente tripla. Situar a criana num ambiente adequado;

    Dar-lhe actividades que a atraiam e ao mesmo tempo a preparem para se

    adaptar ao ambiente no qual viver em adulta.

    Que a finalidade que se deseja conseguir seja proporcional s capacidades

    fsicas e mentais da criana.

    O autor prope na sua metodologia os centros de interesse, estratgia que parte de

    considerar a actividade espontnea da criana e as necessidades que tem.

    8

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    9/54

    Esses centros de interesse partem das principais necessidades que o autor

    considera que as crianas da etapa da educao infantil tm:

    Alimentar-se,

    Lutar contra a intemprie; Defender-se dos perigos e actuar,

    Relacionar-se com o meio (famlia, escola, sociedade, animais, plantas,

    terra, sol, )

    Na relao com essas actividades bsicas, Decroly cria cinco centros de interesse

    bsicos que ajudaro a criana a conhecer-se a si prpria e a conhecer tudo o que a

    rodeia.

    A criana e a escola, A alimentao,

    O vesturio,

    A via pblica,

    A casa.

    Para trabalhar esses centros temticos concebem-se vrios tipos de jogos:

    Jogos visuais e motores (como blocos, cubos, puzzles, jogos de classificao

    e outros.) Jogos auditivos e motores,

    Jogos de iniciao leitura-escrita,

    Jogos de iniciao matemtica.

    John Dewey (1859/1952), defende que o programa adequado para a

    concretizao das suas finalidades desejadas, devem ser necessariamente de carcter

    experimental. Um programa destes reflectir naturalmente a dupla feio daexperincia, implicar simultaneamente o acto de fazer e sofrer as consequncias.

    Dewey queixava-se de um erro muito frequente que era o de os programas

    serem para os alunos uma mera forma de acumularem simplesmente informao, no a

    utilizando de forma a transform-la em conhecimento. Aprendem-nos com vista apenas a

    finalidades escolares, mas no se apercebem da sua relao com a vida quotidiana.

    Assim, para Dewey o primeiro indcio de um bom programa era o deste se

    relacionar com as preocupaes da experincia pessoal da criana onde ela vai buscar asua origem. O segundo indcio reside em que ao actuar de acordo com este programa a

    9

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    10/54

    criana consiga uma viso mais clara no ntimo da sua experincia, bem como um

    acrscimo de eficcia de execuo.

    Em suma, Dewey defende a teoria do aprender fazendo. Assim para que haja

    actividade o aluno dever vivenciar uma situao de investigao que suscite e estimule

    os seus interesses, partindo das suas necessidades de compreender, de se exprimir, de

    agir, de realizao pessoal.

    Desta forma, podemos afirmar que esta filosofia de pedagogia activa se baseia no

    princpio de que o ser humano se forma agindo, se desenvolve pela sua aco sobre o

    meio e da influncia que este exerce sobre ele.

    Maria Montessori (1870/1952), criou um mtodo, o da pedagogia cientfica,

    baseado na ordem e no respeito pela criana e pela sua actividade espontnea. Procurava

    exercitar os sentidos atravs da criao de espaos preparados para a actividade

    sossegada e materiais idealizados para a prtica e autocorreco.

    Montessori apresenta muitos exerccios que contribuem basicamente para a

    educao e desenvolvimento dos sentidos, de forma a contriburem para o

    desenvolvimento motor, sensorial e intelectual.

    atravs dos sentidos que a criana recebe a informao do exterior. Dando-lhe a

    possibilidade de trabalhar as vias sensoriais que favoream:

    A percepo das partes de um objecto e do objecto como um todo;

    A percepo da forma, do tamanho, da figura, da cor e da textura dos vrios

    objectos;

    A percepo da temperatura: quente, morna, fria; distino da textura: um objecto

    liso e um rugoso.

    As suas ideias encaminham-se no sentido de considerar o docente como

    responsvel por potenciar o conhecimento da criana, que organiza o seu ambiente e a

    sua actividade, a ajuda a ser intelectualmente autnoma, lhe possibilita os materiais para

    realizar a auto-aprendizagem e a auto-avaliao. um profissional que no ensina mas

    ajuda a criana a trabalhar utilizando o material e o ambiente adequados que lhe

    permitem concentrar-se e aprender.

    A atitude da professora a de um adulto que no quer dominar a criana, mas est

    consciente do papel que ocupa entre o material e a mente, portanto o protagonismo do

    docente destronado a favor de um professor mais humilde, paciente e disposto acolaborar quando a criana o solicita.

    10

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    11/54

    Intencionalidade Educativa

    A educao pr-escolar no apenas uma preparao para a escolaridade

    obrigatria, mas sim um primeiro contacto e familiarizao com contextos ricos e

    culturalmente estimulantes, capazes de despertar a curiosidade e o desejo de aprender,

    uma preparao para educao ao longo da vida. Mas mais do que isso, compete-nos

    garantir as condies de futuras aprendizagens com sucesso, promovendo um contacto

    com a cultura e com os instrumentos que sero teis criana para que continue a

    aprender ao longo da vida.

    Contudo, surgem-nos algumas questes de como faz-lo? Que metodologia

    seguir? H uma metodologia melhor / pior, mais ou menos adequada?

    A resposta a estas questes baseia-se na forma como ns educadores

    desempenhamos o nosso papel.

    Vrias so as metodologias existentes, cada uma com concepes de criana,

    famlia, aprendizagem, desenvolvimento e papel do educador distintas e bem definidas,

    cada uma com tcnicas e formas de actuao especficas, mas nenhuma delas pode ser

    considerada mais adequada que as restantes. O importante que as nossas prticas

    assentem num mtodo estruturado, com base numa organizao intencional e sistemtica

    do processo educativo.

    O tipo e organizao do equipamento e material prende-se com o modelo

    pedaggico definido/concretizado por cada um de ns, facilitando ou condicionando as

    aprendizagens que a criana pode fazer. Assim, existe uma reflexo permanente sobre a

    adequao do espao e as suas funes educativas dos materiais que permitir que a

    organizao v sendo modificada de acordo com as necessidades e evoluo do grupo,

    evitando, desta forma, a criao de espaos estereotipados e padronizados, pouco

    desafiadores para a criana.

    11

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    12/54

    Modelos pedaggicos e organizao dos espaos educativos.

    O que so Modelos Pedaggicos?

    So uma representao ideal de premissas tericas, polticas, administrativas e

    componentes pedaggicas de um programa destinado a obter um determinado resultado

    educativo. Deriva de teorias que explicam como as crianas se desenvolvem e aprendem,

    das noes sobre a melhor forma de organizar os recursos e oportunidades de

    aprendizagem para as crianas e, de juzos de valor acerca do que importante que as

    crianas saibam. Podemos assim dizer que o conceito de modelo pedaggico se refere a

    um sistema educacional que se interpreta pela combinao entre a teoria e a prtica. Desta

    forma, o modelo curricular assim, simultaneamente, um referencial terico paraintegrar a criana e o seu processo educativo e, um referencial prtico para pensar antes-

    da-aco, na aco e sobre-a-aco.

    Podemos, dizer que um conjunto articulado de teorias, mtodos e tcnicas de

    ensino. Um modelo de ensino que pressupe uma coerncia lgica entre as finalidades da

    educao, as metodologias, as tcnicas e os instrumentos de avaliao.

    No mbito da educao de Infncia sabemos que existem vrios modelos

    curriculares sendo eles, o High/Scope; o MEM (Movimento da Escola Moderna); ReggioEmlia e o Joo de Deus, sendo estes dois ltimos utilizados em instituies prprias para

    esse fim, visto que utilizam caractersticas especficas de determinado contexto. Existem

    tambm depois duas Metodologias que podem vir a acompanhar qualquer um dos outros

    modelos, sendo eles a Pedagogia de Projecto, e a Pedagogia de Situao.

    Passaremos, agora a abordar cada um destes modelos de forma a descrever as suas

    caractersticas.

    Modelo Pedaggico MEM (Movimento da Escola Moderna)

    O MEM considerado uma metodologia que assenta na autoformao cooperada

    entre docentes cujas prticas educativas constituem ensaios estratgicos e metodolgicos

    sustentados por uma reflexo terica permanente e numa forte componente de interaco

    com as famlias e comunidade, estabelecida na herana sociocultural a redescobrir com o

    apoio dos pares e dos adultos.

    12

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    13/54

    Desta forma, a escola apresenta-se como um espao de iniciao s prticas de

    cooperao e solidariedade de uma vida democrtica, no qual os educadores actuam

    como uma comunidade de partilha das experincias culturais de cada um.

    Tendo como influncias tericas, Freinet (que se situa na valorizao da

    expresso livre da criana, o esprito cooperativista e a entreajuda), Vigotsky

    (promovendo a interaco com os outros junto da zona de desenvolvimento prximal e

    transferindo o ambiente sociocultural dos adultos para as crianas) e Bruner (vendo a

    criana como ser capaz de seleccionar, codificar, ordenar e elaborar as informaes que

    recebe do exterior e valorizando a aprendizagem pela descoberta e resoluo de

    problemas), o MEM parte da concepo da aprendizagem assente no ensaio e no erro e,

    evolui para uma perspectiva desenvolvimentalista da aprendizagem apoiada nos mtodos

    desenvolvidos para cada rea cientfica ou cultural ao longo das suas respectivas

    histrias. Favorecendo a criao de circuitos de informao e trocas sistemticas entre

    alunos/crianas, bem como a negociao progressiva desde a norma/avaliao.

    Assim, os educandos responsabilizam-se por colaborarem com os professores no

    planeamento das actividades curriculares, por se inter-ajudarem nas aprendizagens que

    decorrem de projectos de estudo, de investigao e de interveno e por participarem na sua

    avaliao.

    Ao partir-se das necessidades e interesses da criana, este modelo leva a que os

    profissionais da educao estabeleam com elas a partilha da gesto do tempo, recursos e

    contedos escolares, apresentando como objectivo o envolvimento e a responsabilizao

    das crianas na prpria aprendizagem. Tudo isto, visa uma maior qualidade educativa,

    tanto no aumento dos conhecimentos da criana e no seu prazer em aprender, como um

    maior desenvolvimento pessoal e social dos mesmos, por meio da prtica de uma

    formao democrtica para o exerccio da cidadania. Isto leva-nos a sublinhar o facto de

    se tratar () de uma verdadeira aprendizagem democrtica que estimula a liberdade de pensamento e de expresso que permite orientar as aprendizagens consoante as

    capacidades e necessidades dos alunos e ao mesmo tempo exp-los a um ambiente que os

    estimula descoberta, resoluo de problemas, ao trabalho de grupo ou entre pares e ao

    saber viver em grupo.

    Podemos perceber que a aco educativa recorre a um estilo centrado nas crianas

    como actores da sua trajectria de aprendizagem realizadas em cooperao com os

    colegas e com o educador, apoiando-se sempre em instrumentos e tcnicas que vo aoencontro das necessidades de todos e de cada uma das crianas.

    13

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    14/54

    Segundo, Srgio Niza, o modelo assenta em determinados conceitos nucleares,

    sendo estes a comunicao, a cooperao e a participao democrtica.

    Assim as ideias chave pelas quais se operacionaliza o modelo so: a expresso

    livre da criana;a criao de um clima afectivo, onde seja possvel acolher, estimular

    e valorizar os trabalhos das crianas; as aprendizagens em interaco e o sentido social

    das aprendizagens.

    A organizao do espao e dos materiais elaborada de forma estruturada e

    cooperada para permitir que as crianas efectuem actividades diferenciadas, tendo em

    conta as suas necessidades, interesses e ritmo, partindo sempre dos contextos vivenciados

    pela criana.

    com base num sistema de organizao que so tomadas decises acerca das

    actividades, dos tempos, dos meios, das responsabilidades e da sua regulao. O

    participar na negociao progressiva e directa processa-se o treino democrtico de

    maneira explcita em momentos de grande grupo. Deste modo, promove-se a construo

    de normas de vida em grupo, definem-se valores e as significaes que ocorrem na

    interaco social. tambm nesta interaco cooperativa que o conhecimento

    assimilado e integrado.

    O espao educativo est organizado por reas de trabalho de modo a permitir que

    as crianas realizem actividades previamente escolhidas e por uma rea polivalente para

    trabalho colectivo. A escolha e realizao das actividades pressupem um compromisso e

    uma responsabilizao por parte delas. Os materiais encontram-se ao alcance e sua

    disposio para que elas possam estar nas reas de trabalho sozinhas, em pares ou em

    pequeno grupo. Todo o espao da sala enriquecedor com as produes das crianas que

    retratam e do sentido vida do grupo, apoiam as aprendizagens, sugerem e provocam

    projectos.

    Aps termos a noo do aspecto geral do que o MEM (Movimento da EscolaModerna), passamos agora a descrever alguns aspectos essenciais a ter em conta, como os

    autores de referncia; a organizao do grupo; a organizao do espao; a organizao do

    tempo e o papel do educador.

    Autores de referncia do modelo:

    Comeamos ento por abordar os autores de referncia, os quais so: Francisco

    Ferrer (1859-1909); lvaro Viana de Lemos (1881-1972), Srgio Niza (1940-), JohnDewey (1859-1952), Vigotsky (1896-1934) e Freinet (1896-1966).

    14

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    15/54

    Francisco Ferrer foi com ele que a Escola Moderna foi fundada, e surge em

    Espanha em 1901. Desta forma, em 1908, existem vrias escolas modernas em

    Barcelona e muitos outros pases.

    lvaro Viana de Lemos foi ele quem introduziu a pedagogia de Freinet nos

    anos 30, na Escola Normal de Coimbra. o correspondente de Freinet e introduz em

    Portugal a imprensa escolar e outras tcnicas utilizadas por este modelo.

    Srgio Niza foi o membro fundador do MEM em Portugal. Em 1966, ocorreu a

    filiao do MEM portugus, sendo Niza e Rosalina de Almeida, delegados do movimento

    em Portugal.

    John Dewey defende que a escola no uma preparao para a vida, a prpria

    vida. Para que seja vida, a criana deve ser colocada em condies naturais em que a

    actividade determinada pelo interesse.

    Vigotsky diz que as crianas aprendem interiorizando os resultados das suas

    interaces com os adultos e com os pares. Refere ainda que os adultos tm o papel de

    organizao social das aprendizagens, e no o da funo de ensinante.

    Freinet construiu com os seus alunos prticas pedaggicas vivas partindo dos

    interesses da criana. Recomenda o princpio pedaggico da livre expresso, onde se

    favorece a escrita. A sua pedagogia evoluiu e constitui-se como uma forma de

    organizao do trabalho, onde os alunos se organizam por ateliers de imprensa, de artes

    plsticas, de trabalhos manuais, etc.

    Organizao do grupo

    No que diz respeito organizao do grupo defende-se que a constituio deste

    deve integrar crianas de diferentes idades e culturas de forma a garantir () o respeito

    pelas diferenas individuais no exerccio da inter-ajuda e colaborao formativas que

    pressupe este projecto de enriquecimento cognitivo e sociocultural.

    a partir de acontecimentos do quotidiano, que aparecem quase sem importncia,

    que o grupo vai criando as suas prprias regras de socializao.

    A organizao cooperada a nvel do espao, dos materiais estruturada, para que

    as crianas possam realizar, espontaneamente, actividades de acordo com as

    necessidades, ritmo e interesse de cada uma delas. Este molde de organizao social do

    grupo, s se tornar possvel pela responsabilizao de cada criana, por uma tarefa que

    rotativamente assumem.

    15

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    16/54

    Organizao do espao

    No que se refere organizao do espao, este est organizado de modo a

    permitir que as crianas realizem em simultneo, actividades diversificadas em diferentes

    modalidades de trabalho: em pequenos grupos, interpares, individualmente e emcolectivo.

    Ao longo do ano, o espao vai sendo reorganizado com as crianas e enriquecido

    com as suas produes que retractam e do sentido vida em grupo, apoiam as

    aprendizagens, sugerem e provocam projectos. Em suma, criam um ambiente propcio s

    aprendizagens num espao acolhedor, agradvel e estruturante.

    Desta forma, podemos dizer que o sistema educativo se desenvolve a partir de um

    conjunto de reas bsicas de trabalho especfico, nomeadamente: Biblioteca e documentao um pequeno centro de documentao, que dispe

    geralmente de um tapete com almofadas que convidam consulta dos documentos

    que esta contm. Aqui existe uma estante, onde os livros esto organizados e

    sinalizados segundo os critrios combinados entre a educadora e as crianas. Na

    parede, h pinturas, desenhos e textos produzidos pelas crianas.

    Oficina de escrita e reproduo esta integra a mquina de escrever ou o

    computador com a impressora. Neste espao, expe de preferncia, os textos

    enunciados pelas crianas e captados para a escrita pela educadora e as tentativas

    vrias de pr-escrita e escrita realizada nesse espao ou noutro qualquer.

    rea de expresses Artsticas - Neste atelier podemos encontrar os dispositivos

    para a pintura, desenho, modelagem e tapearia. Esta organizao diferenciada do

    espao favorvel para a utilizao de estratgias de diferenciao do trabalho.

    Facilita a comunicao das crianas entre si e com a educadora. Promove a

    cooperao e a autonomia das crianas, uma vez que tm livre acesso a todos as

    materiais e instrumentos de trabalho: dispositivos para a pintura, desenho,

    modelagem, cavalete, cadeiras, tintas e pincis.

    Espao de carpintaria e construes esta serve para a produo, construes

    improvisadas ou concebidas para servir outros projectos, como por exemplo a

    montagem de maquetes ou de instrumentos musicais. Esta rea dispe de uma

    grande diversidade de materiais como: martelo, pregos de vrios tamanhos,

    serrote, parafusos, alicate, arame, chave de fendas, cola, etc.

    16

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    17/54

    Espao de laboratrio de cincias e experincias aqui proporcionam-se

    actividades de medio e de pesagem, livres ou aplicadas, criao e observao de

    animais, roteiros de experincias em ficheiros ilustrados. Os registos das

    variaes climatricas (mapa do tempo) e outros materiais de apoio ao registo de

    observaes e resoluo de problemas no mbito da iniciao cientfica.

    Espao de brinquedos, jogos e faz de conta neste espao que as crianas

    dispe de uma arca que guarda roupas e adereos que as ajudam a compor as suas

    personagens para actividades de faz de conta e projectos de representao

    dramtica. Por vezes integra uma tradicional casa de bonecas. Inclui tambm uma

    cozinha que um espao de educao alimentar e de regras de higiene, onde

    existem livros de receitas e vrios utenslios de confeco alimentar. Aqui

    aproveita-se para se exporem as regras de higiene ditas e ilustradas pelas crianas,

    bem como as normas sociais de estar mesa.

    rea polivalente constituda por um conjunto de mesas e cadeiras suficientes

    para todo o tipo de encontro do grande grupo, e que vai servindo de suporte para

    outras actividades de pequeno grupo, individuais ou de apoio do educador s

    tarefas de escrita e de leitura ou de qualquer outro tipo de ajuda a projectos e

    actividades que se vo desenrolando a partir das reas respectivas.

    rea da matemtica nesta rea esto disposio dos alunos, materiais

    estruturados como: material cuisenaire, blocos lgicos, geoplanos, bacos,

    balana, pesos e medidas.

    O ambiente geral da sala deve ser agradvel e altamente estimulante utilizando as

    paredes como expositores permanentes das produes das crianas, onde rotativamente se

    revem nas suas obras de desenho, pintura, tapearia ou texto. Ser tambm numa das

    paredes, de preferncia perto de um quadro preto sua altura, que as crianas poderoencontrar todo o conjunto de mapas de registo que ajudem na planificao, gesto e

    avaliao da actividade educativa participada por elas.

    Podemos ainda referir que no MEM existem dois tipos de materiais utilizados na

    sala do jardim:

    1) Materiais utilizados como fontes de informao para aprendizagens de

    contedos pragmticos fichas, manuais, trabalhos dos alunos, livros;

    17

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    18/54

    2) Elementos que apoiam a organizao das actividades pedaggicas e

    tambm permitem o processo de avaliao. So determinados por instrumentos de

    Pilotagem, porque permitem acompanhar, avaliar, orientar, e reorientar o processo

    de aprendizagem do grupo e de cada criana. Como: planos dirios, planos

    semanais, planos mensais, mapa de presenas, mapa de tarefas, quadro de

    aniversrios, quadro de responsabilidades, jornal de parede, quadro de presenas,

    escala de crescimento.

    Organizao do tempo

    Relativamente, organizao do tempo, podemos dizer que o dia-a-dia no

    Jardim de Infncia se subdivide em duas etapas. Na etapa da manh, centra-seprincipalmente no trabalho ou nas actividades ldicas escolhidas pelas crianas sob a

    orientao imperceptvel da educadora. A etapa da tarde compreende sesses integrais de

    informao e de actividade cultural, dinamizadas pela educadora, pelas crianas e alguns

    convidados.

    Assim, o dia organiza-se em nove momentos distintos:

    1. - Acolhimento: momento de conversa, permite que todas as crianas

    elaborem uma primeira conversa, sendo esta mediada pela educadora. A partir das coisas

    ditas e vivenciadas pelas crianas.

    2. - Planificao em conselho: seguindo as sugestes das crianas dadas no

    momento do acolhimento ou ento a partir do balano registado no dia anterior.

    3. - Actividades e projectos: depois de escolhida a actividade ou projecto a

    desenvolver, cada criana, individualmente ou em grupo, regista-a no Plano de

    Actividades, realizando-a em seguida. Neste perodo, o educador ir apoiando de forma

    discreta o desenrolar das actividades, desafiando as crianas para novas descobertas, quer

    no mbito lingustico ou lgico matemtico.

    4. - Pausa: lanche e recreio livre: quer estejam ou no terminadas as actividades

    ou projectos, as crianas realizam da parte da manh uma pausa..

    5. - Comunicao (de aprendizagens feitas): Aps o momento da pausa, todas

    as crianas se renem volta da rea polivalente, para que aquelas que aprenderam algo

    possam dar informaes ou ensinarem aquilo que aprenderam, aos restantes colegas

    6. - Almoo:

    7. - Actividade de recreio: canes, jogos tradicionais e movimento orientado;

    18

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    19/54

    8. - Actividade cultural colectiva: voltam a reunir-se na rea polivalente para

    um ponto da situao e para um tempo de animao colectiva. Este compreende

    diferentes actividades mediante o dia da semana em questo.

    9. - Balano em Conselho: discutem-se brevemente, mas com solenidade os

    juzos negativos (). Aplaudem-se as pessoas implicadas pelos juzos positivos. Toma-

    se conscincia das realizaes significativas e orientam-se as sugestes para

    compromissos a assumir e aces a agendar a partir da segunda-feira. Para alm dos

    juzos negativos e positivos, faz-se uma avaliao das responsabilidades que as crianas e

    educador assumem semanalmente, a partir da planificao realizada segunda-feira.

    Papel do Educador

    No que se refere ao papel do educador no MEM, ele atribui grande importncia

    socializao e possibilidade de vivncia dos processos de vida democrtica no seio do

    grupo. Ele revela ser um parceiro mais velho, papel que privilegia a sua interaco com

    as crianas, favorece tambm a relao entre pares, a possibilidade e o desejo de juntar

    crianas com diferentes nveis de desenvolvimento.

    Podemos entender que o papel do educador deve:

    Proporcionar vivncias em grupo;

    Zelar pelo registo e acesso s decises que originam atitudes das crianas no

    grupo;

    Desenvolver a solidariedade;

    Estar do lado dos marginalizados;

    Aconselhar formas de negociao dos conflitos entre crianas;

    Ajudar a clarificar os poderes;

    Assumir emoes/ansiedades; Realar o prazer que d decidir em colectivo;

    Ter a autoridade do saber, mas dever distinguir esse poder de decidir sobre os

    domnios auto-geridos;

    Contribuir para clarificar, desocultar e revelar situaes;

    Criar situaes de partilha de poder em grupo;

    Fomentar nos alunos uma atitude de reconhecimento de situaes bem

    sucedidas;

    19

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    20/54

    Garantir o cumprimento das decises anteriores;

    Fazer com que as crianas colaborem nas tarefas.

    Atravs deste processo no dia-a-dia do jardim-de-infncia, as crianas recebemvalores transmitidos pelo educador, tais como: cooperao; socializao; moralidade

    (resoluo de conflitos em conselho); responsabilidade; autogesto e solidariedade.

    Sendo estas as caractersticas essenciais do MEM.

    Modelo Pedaggico Reggio Emilia

    Este modelo caracteriza-se pelo trabalho educacional em todas as formas de

    expresso simblica, pelo envolvimento dos pais, famlias e comunidade na equipa

    educativa das creches e jardins-de-infncia.

    Este modelo surge aps a Segunda Guerra mundial (1945), em Villa Cella, perto

    da cidade de Reggio Emilia, onde os cidados se unem para construir uma escola para as

    crianas pequenas. Participando como voluntrios os pais e as mes das crianas, unidos

    por um forte sentimento de cooperao e colaborao. Devido colaborao prestada

    pelos pais, rapidamente so construdas vrias escolas por toda a regio.

    Os professores destas escolas debatem-se com vrios problemas, dos quais se

    destacam uma enorme pobreza e alguns casos de m nutrio que afectam estas crianas.

    Ainda outro problema com que se deparam refere-se dificuldade de comunicao oral

    professor / aluno, pois nesta regio h geraes que se fala em dialecto. Como sempre,

    pedida a colaborao dos pais das crianas para resolver problemas e encontrar formas

    onde todos cooperem de um modo efectivo, integrando as diferentes experincias de cadaum.

    Em 1968, surge a primeira escola municipal, quebrando assim o monoplio que as

    instituies privadas detinham em relao aos educao de infncia. Esta uma

    mudana necessria numa sociedade em mutao.

    Assim, comea a trabalhar um primeiro grupo de professores, conscientes das

    suas responsabilidades e ansiosos por encontrar uma identidade cultural que os torne

    conhecidos e respeitados. da necessidade de dar a conhecer o seu trabalho a toda acomunidade que surge a ideia de, uma vez por semana, transportar a escola para a cidade.

    20

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    21/54

    Um dos objectivos primordiais dos educadores deste modelo criar um ambiente

    agradvel e familiar, onde as crianas se sintam como em casa.

    Neste modelo tambm o ouvir e o falar so privilegiados, aqui as crianas so

    incentivadas a levantar questes, a procurar respostas e onde lhes so proporcionadas

    mltiplas oportunidades de fazer escolhas, tomar decises e resolver os problemas com

    que se encontram.

    Assim, as crianas so encorajada a explorar o ambiente e a se expressarem

    usando diversas formas de linguagem ou modos de expresso, incluindo palavras,

    movimento, desenho, pintura, modelagem, colagem, jogo dramtico e msica. Nas

    actividades que as crianas realizam inclui-se o saber observar; saber colocar questes;

    saber representar. Devendo ser capazes de representar observaes, ideias, memrias,

    sentimentos e novos conhecimentos, numa diversa variedade de formas que vo desde o

    jogo ao desenho.

    Com as diferentes formas de expresso permite-se que a criana comunique com

    os pares e os adultos sobre as diferentes experincias vividas e os conhecimentos

    adquiridos. Desta forma, as crianas tm o privilgio de aprender atravs das suas

    comunicaes e experincias concretas.

    Assim utilizam-se as diferentes formas de expresso, quer verbal ou grfica, para

    representar um mesmo tema, o que permite criana desenvolver-se e aprofundar os seus

    conhecimentos acerca do mesmo.

    Autores de referncia do modelo:

    Este modelo tem vindo a sofrer vrias influncias ao longo dos tempos. E muitos

    foram, os que se evidenciaram com os seus contributos de perspectivas tericas. Desta

    forma, destacamos apenas dois: Vigotsky e Piaget.

    Vigotsky enfatiza a interaco social com os adultos, especialmente, em casa,

    como factor chave na experincia das crianas. Assim a aprendizagem torna-se portanto

    centrada na criana. Devido a esta interagir com o meio ocorrendo troca de saberes, assim

    considera que o desenvolvimento psicolgico das crianas depende da interaco de umas

    com as outras, com os adultos, com os objectos e com o meio em que vivem. Sendo

    assim, a finalidade da aprendizagem, resulta da assimilao consciente do mundo fsico,

    21

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    22/54

    mediante a interiorizao gradual dos actos externos e das suas transformaes em aces

    mentais.

    O conceito mais conhecido de Vigotsky o de Zona de Desenvolvimento

    Prximo, nesta zona as crianas podem quase, mas no totalmente realizar uma

    actividade por si s. No entanto, com o tipo de ensino adequado podem realiz-la com

    sucesso. Ou seja, considera-se a Zona de Desenvolvimento Prximo, a distncia entre os

    nveis de capacidades expressados pelas crianas e os seus nveis de desenvolvimento

    potenciais, alcanveis com o auxlio de adultos mais avanados. Assim aplica-se a

    metfora dos andaimes, sendo considerado este, o suporte temporrio que os pais,

    professores ou outros adultos fornecem a uma criana para desempenhar uma tarefa at

    que ela consiga fazer sozinha.

    Piaget, na sua teoria defende que a criana um ser activo que estabelece relao

    de troca com o meio-objecto (fsico, pessoa, conhecimento) num sistema de relaes

    vivenciadas e significativas, uma vez que este o resultado de aces do indivduo sobre

    o meio em que vive, adquirindo significao ao ser humano quando o conhecimento

    inserido numa estrutura, isto , o que domina por assimilao e acomodao.

    Organizao do grupo

    No que se refere s caractersticas da organizao do grupo as crianas tm

    diversas oportunidades de escolha, podendo trabalhar sozinhas, em pequeno grupo no

    atelier ou mini-atelier, na piazza, nas diversas reas da sala ou no recreio. Ao longo do

    dia, as crianas podem estabelecer diferentes tipos de interaco e trabalhar em diferentes

    espaos e com matrias variados.

    Em cada projecto contam com o apoio de um educador e do artista plstico e

    trabalham em pequenos grupos de 4 a 6 crianas.

    Tambm desempenham tarefas como dar apoio na cozinha, ajudando a cozinheira

    a preparar as refeies, pr a mesa do refeitrio, tratar das plantas ou das gaiolas dos

    pssaros ou de outros animais, limpeza dos materiais do atelier e mini-atelier.

    A maior parte do trabalho das crianas, no Reggio Emilia, realizado em

    pequenos grupos. Todo o ambiente informal, semelhante ao da comunidade, parece ser

    melhorada pela flexibilidade de tempo. As crianas tm a liberdade para ser

    interrompidas, uma vez que elas tm grande responsabilidade por algumas das tarefas

    22

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    23/54

    reais envolvidas na vida em grupo, durante o dia inteiro, reforando um ambiente de vida

    em comum.

    Organizao do espao e dos materiais

    Quanto organizao do espao e materiais neste modelo podemos ver que se

    reflectem as ideias, valores, atitudes e patrimnio cultural de todos os que nele trabalham.

    Deste modo, em cada escola existe um espao comum, a piazza, volta do qual

    esto dispostas as trs salas de actividades. Junto de cada uma destas salas, existe um

    mini-atelier para apoio aos projectos que vo surgindo. Ainda comum a toda a escola

    existe um atelier, uma biblioteca com computadores, um arquivo, uma sala para guardar

    materiais, uma cozinha, um refeitrio e diversas casas de banho. Estes espaos comuns

    permitem a todos os intervenientes, crianas e adultos, estabelecer interaces,

    envolverem-se em actividades comuns e partilhar experincias, conhecimentos, espaos e

    materiais.

    Em cada sala, o espao est dividido por reas, sendo utilizadas para isso

    divisrias baixas que permitem criana a visibilidade do espao global e das diferentes

    possibilidades de trabalho que cada espao oferece.

    Em cada rea, existem materiais caractersticos do tipo de jogo ou brincadeira que

    nela se podem realizar.

    Assim, as reas que poderamos incluir numa sala de crianas com trs anos

    seriam: a rea de motricidade, ampla e aberta, coberta por uma carpete e vrias

    almofadas, encontrando uma diversidade de materiais como: cordas, tubos de diferentes

    cores, tamanhos e dimetros, bolas, caixas, etc. Outra rea de prolongao da motricidade

    a rea das construes.

    Existem, no entanto, outras reas mais protegidas e escondidas destinadas ao jogosimblico, onde a criana pode encontrar material de disfarce, tambm os espaos onde a

    criana pode ouvir msicas e canes da sua preferncia pessoal e ler ou ouvir histrias

    contadas por outras crianas ou por adultos.

    Podemos encontrar em cada sala, caixas individuais onde as crianas guardam os

    seus objectos de uso pessoal, sendo estas identificadas atravs do smbolo criado por cada

    criana. Tambm esse smbolo serve para marcar os colches e camas de cada criana.

    23

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    24/54

    Os materiais seleccionados pelos adultos so cuidadosamente escolhidos de

    acordo com o contexto cultural da comunidade em que a escola est inserida, indo de

    encontro s necessidades, nveis de desenvolvimento e interesses das crianas.

    Tambm o espao exterior pensado de forma a permitir dar uma continuidade do

    espao interior e dos trabalhos que a se realizam. Uma vez que este espao se torna

    bastante utilizado para realizar actividades relacionadas com os projectos que esto a

    decorrer nas salas. Nele poderemos encontrar zonas de sombra, de solo irregular e terreno

    uniforme, zonas com guas e areias e outros materiais que permitem realizar uma

    diversidade de experincias lgico-matemticas. Existem ainda estruturas onde eles

    podem brincar tais como baloiar, escorregar, trepar, saltar, ultrapassar obstculos, etc.

    Este espao permite que as crianas possam cultivar plantas e legumes, criar animais

    construindo os seus respectivos habitats.

    Todos os espaos e materiais so cuidadosamente planeados e organizados de

    forma a criar um ambiente agradvel e familiar onde educadores, pais e crianas se

    sintam como em casa.

    As escolas de Reggio Emilia so conhecidas pela importncia que dada sua

    organizao esttica dos espaos. Esta preocupao bem visvel nas cores neutras da

    paredes e mobilirio, nas grandes janelas, portas ou paredes de vidro que separam

    espaos interiores entre si, e por vezes, separam os espaos interiores dos exteriores.

    Os refeitrios so decorados com pratos de barros e outros materiais e objectos

    caractersticos da regio. Tambm aqui existe disposio das crianas, um menu dirio,

    com fotografias dos alimentos que so servidos em cada um dos dias da semana.

    Na entrada de cada escola, existem cadeiras que convidam os pais a sentarem-se e

    a conversarem uns dos outros, com as crianas e com os professores.

    As paredes destas escolas servem de espao temporrio ou permanente de

    exposies de trabalhos das crianas. Por toda a escola existem placares onde se expe ostrabalhos das crianas, muitas vezes acompanhados de fotografias e textos escritos pelos

    educadores que documentam as conversas das crianas.

    Ainda nos placares se pode encontrar informaes para os pais, como o horrio do

    pessoal do centro, horrios das refeies e horas de sono das crianas, convites para

    reunies de pais, menu da semana, plano semanal, etc.

    Desta forma, podemos verificar que o espao deve ser flexvel, estar aberto s

    mudanas das crianas e educadores de modo a dar resposta s suas necessidades e lhespermitir serem os protagonistas do seu conhecimento.

    24

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    25/54

    Organizao do tempo

    De seguida, vamos ver a sua organizao do tempo encontrando-se estes

    estabelecimentos de ensino abertos de segunda a sexta-feira, das 8:00h s 16:00h. Pararesponder s necessidades das famlias, existem em alguns centros uma extenso do

    horrio da manh, sendo este realizado das 7:30h s 8:00h, e na parte da tarde das 16:00h

    s 18:20h.

    No se pode considerar que h uma rotina, com um tempo predeterminado para

    cada uma das diferentes actividades. No entanto, h uma organizao do tempo de forma

    a proporcionar s crianas oportunidades de estabelecer diferentes tipos de interaco.

    Desta forma, as crianas podem brincar sozinhas, juntar-se a outras para, em pequenosgrupos realizarem as investigaes e projectos comuns e ainda realizar actividades que

    envolvam todas as crianas de uma mesma sala.

    Assim, cerca das 9:00h, aps todas as crianas terem chegado, cada grupo se

    rene na sua sala com os respectivos educadores.

    no decorrer destas reunies que as crianas escolhem as actividades que querem

    trabalhar, de seguida, seleccionam os materiais e instrumentos necessrios para levar a

    cabo o que se propuseram a realizar. Os materiais a utilizar so facilmente seleccionados

    pelas crianas, uma vez que se encontram ao seu alcance e colocados em recipientes

    transparentes.

    Na realizao dos projectos habitualmente trabalham-se em pequenos grupos de 4

    ou 6 crianas com o apoio de um educador e do artista plstico. Este trabalho em

    pequenos grupos proporciona a construo social, cognitiva, verbal e simblica. Ao longo

    do dia de trabalho as crianas renem-se vrias vezes com as restantes crianas e adultos

    para conversar, partilhar descobertas, dificuldade, problemas e planear as suas

    actividades.

    Sempre que necessrio so organizadas visitas ou passeios ao exterior, para

    observar ou explorar tpicos ou temas de projectos em que as crianas esto envolvidas e

    que serviro de base para debates, trocas de pontos de vista, diversas representaes

    grficas.

    Papel do Educador

    25

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    26/54

    No modelo de Reggio Emilia o papel do educador o de quem organiza o

    espao e o ambiente de modo a que seja rico e estimulante no que respeita a materiais e

    equipamentos. Devendo ir ao encontro das necessidades e interesses do grupo

    proporcionando-lhe uma ampla variedade de experincias, de modo a promover a sua

    aprendizagem cognitiva, social, fsica e afectiva.

    Sendo as crianas protagonistas activos que se contemplam atravs do dilogo e

    interaco com os outros, onde o adulto serve de apoio, guia e fonte de recursos para a

    aprendizagem.

    Cabe ao educador estabelecer uma relao pessoal com cada criana e ajud-la a

    relacionar-se no sistema social da escola. A criana precisa de aprender a ouvir os outros,

    considerar as suas ideias e comunicar com sucesso. Compete ao educador ajudar a

    criana a centrar-se num dado problema ou dificuldade procurando que ela levante

    hipteses e encontre solues em vez de as fornecer.

    Sempre que surja uma nova ideia ou pensamento o educador observa-a e analisa-a

    de forma a dar o apoio necessrio resoluo de um dado problema que possa aparecer,

    sem lhe dar a sua soluo. Com o aparecimento de novas ideias ou pensamentos, compete

    ao educador saber como e quando intervir mantendo uma atitude de constante reflexo

    sobre a sua prtica pedaggica.

    Sendo assim, os educadores interagem a partir do grupo sendo a memria do

    mesmo: fotografando, fazendo gravaes de actividades e de discusses das crianas.

    O educador trabalha a partir do centro do grupo de crianas e, quando necessrio,

    desde um ponto afastado. Neste mbito, o papel do educador passa por ouvir, observar,

    entender a estratgia que as crianas utilizam numa dada situao de aprendizagem e

    proporcionar novas oportunidades.

    No que respeita relao entre educadores e pais, visto que o mesmo educador

    que permanece durante trs anos com as mesmas crianas, esta relao torna-se forte eestvel. No entanto, o papel dos pais difere do dos professores, permitindo que cada um

    complete a contribuio do outro de um modo diferente, tendo em vista promover o

    crescimento, aprendizagem e desenvolvimento da criana.

    Em suma, o trabalho dos educadores passa por promover o bem-estar das

    crianas, pois entendem que ambos aprendem melhor atravs da comunicao, do

    conflito e da aco em conjunto.

    26

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    27/54

    Neste modelo, podemos tambm estar atentos s caractersticas que se nos

    apresentam por parte dos pais e da comunidade envolvente. J desde longo tempo que a

    sua participao verificada devido sua iniciativa na participao da promoo de

    servios educacionais, contribuindo para a sua construo.

    Criaram-se tambm comits escola-cidade, que se formaram para a

    administrao democrtica da escola para as crianas pequenas e que envolveram tanto as

    pessoas ligadas escola como as que se encontravam na periferia. Tendo como finalidade

    uma escola que envolvesse os pais, os educadores, os cidados e os grupos de vizinhos,

    no s na administrao da escola nas tambm na defesa dos direitos da criana.

    A participao das famlias to essencial, quanto a participao das crianas e

    dos educadores.

    As ideias que as famlias levam para a escola, o intercmbio de ideias entre pais e

    professores, favorecem o desenvolvimento de um novo modo de educar.

    Neste modelo podemos tambm estar atentos ao papel do atelierista e do atelier.

    Este um espao que permite novas combinaes e possibilidades criativas entre as

    diferentes linguagens simblicas das crianas. Mostra como estas pensam e se expressam,

    o que produzem e inventam com as suas prprias mos e com a sua inteligncia; como

    brincam e jogam umas com as outras e at como discutem hipteses. um espao rico

    em materiais, ferramentas e onde encontramos pessoas com competncia profissional.

    Segundo Vecchi o atelier tem duas funes. Em primeiro lugar um local onde as

    crianas se podem tornar mestres em todos os tipos de tcnicas, tais como: pintura,

    desenho e trabalhos em argila todas as linguagens simblicas. Em segundo lugar, o

    atelier ajuda os educadores a compreenderem como as crianas inventam meios

    autnomos de liberdade expressiva, cognitiva e simblica, bem como vias de

    comunicao.

    O objectivo deste tipo de escolas de construir uma escola confortvel, onde as

    crianas, professores e famlias se sintam em casa. Exige um pensamento e planeamento

    cuidadosos em relao aos procedimentos, s motivaes e aos interesses.

    Modelo Pedaggico High Scope

    27

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    28/54

    O modelo High Scope passou por diversas fases, desde a sua iniciao, 1960, at

    s caractersticas que hoje se nos apresenta.

    Assim as caractersticas actuais deste modelo so a reduo do papel directivo do

    adulto e a form-lo de outras formas que permitam criana maior aco, maior

    iniciativa e maior deciso.

    No quer isto dizer que o papel do educador se minimize na sua actividade, ele

    continua a ser activo, inicia e toma decises, contudo ele nunca pode ter uma atitude

    intrusiva em relao actividade da criana. No pode dirigi-la ou paralis-la, a sua

    actividade realizada antes das actividades da criana preparando o espao, materiais e

    experincias.

    Aps a criana iniciar a sua actividade, o papel do adulto, na maior parte das

    vezes de observar, apoiar e, posteriormente analisar a observao e tomar decises ao

    nvel de novas propostas educacionais para a criana individual.

    Nesta ltima fase, foram melhorados os instrumentos que permitem esta atitude

    do adulto na prtica assim criou-se o Perfil de Implementao do Programa e o Registo

    de Observao da Criana.

    A anlise destes instrumentos de trabalho, permitem ao educador observar a

    criana e tomar decises ao nvel da planificao da actividade educacional e da prtica,

    mostrando que o centro da aco educativa a criana.

    Aprender a observar a criana exige a apropriao de instrumentos de observao

    sistemtica. Atravs da observao sabe-se muito sobre cada criana: o que faz sozinha, o

    que faz apoiada, o que lhe desperta interesse e sustm a sua ateno, o que ambiciona

    fazer, aquilo de que gosta e aquilo que no gosta. Em suma, o que pensa, o que sente, o

    que espera, o que sabe e o que pode vir a saber. No h aco educativa que possa ser

    mais adequada do que aquela que tenha a observao da criana como base para a

    planificao educativa. que isso permite ao adulto programar e agir com base na tensocriativa entre uma perspectiva curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real

    dos interesses, necessidades, competncia e possibilidades da criana.

    Pode-se dizer que a criana se tornou decisivamente o motor central do programa

    e que se clarificou quer o papel do adulto quer o papel da teoria no programa curricular.

    Autores de referncia do Modelo High Scope:

    28

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    29/54

    Piaget: o conhecimento percepcionado pela criana no vem apenas do exterior,

    mas tambm se constri no interior da criana; assim a aprendizagem baseia-se na

    criana;

    Kohlberg: a criana considerada o centro do processo educativo;

    Vygodsky: na zona de desenvolvimento prximo as crianas possuem uma certa

    autonomia, levando ao desenvolvimento;

    Dewey: defende a teoria do aprender - fazendo, a criana adquire uma certa

    autonomia, levando a que assimile novas aprendizagens e as organize de acordo

    com as suas necessidades.

    Organizao do grupo

    O grupo homogneo no que se refere s idades, uma vez que so grupos de

    crianas com idades semelhantes, e de diferentes culturas.

    As crianas partilham momentos de grande e de pequeno grupo, sendo

    considerada a rotina diria como uma forma de se planear, fazer e rever, partilhando os

    seus planos e as suas realizaes, aprendendo com as suas experincias e ideias dos

    outros. Proporcionando-lhes a capacidade para a resoluo de problemas.

    Organizao do espao

    Este modelo baseia-se numa teoria interaccionista e construtivista que defende

    que a criana aprende pela manipulao e contacto directo, quer com os objectos, quer

    com as pessoas e acontecimentos.

    o espao que deve motivar a criana para aprender activamente nele e com ele.

    Numa sala deve existir espao para os materiais e equipamentos ao dispor das

    crianas, espao para os seus objectos pessoais, espao para guardar materiais que apenasso usados em determinadas alturas e espao para que as crianas realizem trabalhos

    sozinhas ou em grupos.

    Este espao alm de ser estimulante deve estar logicamente organizado.

    O ambiente no dever possuir materiais em excesso que distraiam as crianas,

    que no as motivem ou que no estejam adequados s necessidades do grupo. No inicio

    do ano conveniente a existncia de pouco materiais, uma vez que facilita o momento da

    escolha das actividades e o momento de arrumao.

    A criana deve sentir-se vontade nos diferentes espaos e conhec-los bem.

    29

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    30/54

    Desta forma, a organizao da sala compreende reas distintas, claramente

    divididas. Assim, a sala de actividades divide-se na rea da casa, rea da expresso

    plstica, rea dos blocos, rea de actividades repousantes, rea das construes, rea de

    msica e movimento, rea de animais e plantas, rea de areia e gua e a rea de recreio ao

    ar livre. Contudo, ao longo do ano podero surgir novas reas conforme os interesses

    demonstrados pelas crianas.

    Estas reas devem encontrar-se bem definidas e separadas, para que a criana

    tenha a noo de organizao.

    Passemos agora a uma breve descrio das diversas reas:

    rea da casa - esta rea d-lhes a possibilidade de trabalharem em

    conjunto, de exprimirem sentimentos e ideias e de utilizarem a linguagem paracomunicarem os seus papis. Em termos de equipamento a rea da casa no poder

    dispensar material de cozinha idntico ao usado normalmente pelos adultos, embora

    com cuidado com certos aparelhos, como o fogo e o frigorfico. Embora seja

    importante que estes tenham dimenses que permitam s crianas utiliz-los. O

    mesmo se diz para as roupas ou adereos que a criana possa utilizar para se

    mascarar e, desta forma, desempenhar papis.

    rea de expresso plstica nesta rea reside o processo deexperimentao, aqui as crianas imaginam e experimentam conforme os seus

    interesses. fundamental a existncia de lavatrios, para que as crianas possam

    lavar as mos sempre que necessrio. necessrio uma grande diversidade de

    materiais, normalmente papel de jornal, de embrulho, de seda, papel crepe ou at

    sobras de papel de parede; materiais para pintar, desenhar e misturar; materiais para

    ligar e separar; materiais para fazer representaes a trs dimenses, desde o barro ou

    a plasticina, massa de farinha, carrinhos de linhas vazios, botes, molas, etc. Para

    isso necessrio que este espao tenha uma mesa grande e resistente, com bancadas

    e painis para se expor os trabalhos elaborados.

    rea dos blocos deve ser espaosa, bem equipada e apetrechada. Visto

    que para a construo de blocos necessrio espao, no s pela aderncia de

    diversas crianas, mas porque os blocos podem utilizar-se de vrias forma e maneiras

    diferentes. Enquanto a criana brinca com os blocos um momento adequado para o

    adulto observar a criana a explorar, construir colectiva ou independentemente, a

    30

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    31/54

    seleccionar, a agrupar, a comparar e a dispor objectos, a representar experincia e a

    desempenhar papis.

    rea de actividades repousantes: esta rea est recheada de livros, puzzles,

    pequenos jogos e materiais de manipulao, aqui as crianas podem trabalhar

    sozinhas ou com os amigos. Esta rea convm situar-se ao lado de reas menos

    barulhentas, para que possam percepcionar que uma rea mais sossegada do que as

    outras. Os materiais devem ser os mais variados possveis como peas de encaixar e

    desencaixar (anis de enfiar num suporte, blocos de legos, figuras geomtricas de

    encaixar, conjunto de porcas e parafusos, puzzles de madeira, imanes, ); materiais

    para seleccionar e construir (contas e fios, blocos de diferentes texturas e tamanhos,

    tacos, botes, pedras, frascos de perfume, conchas, berlindes, ); materiais para

    ordenar e construir (caixas, anis, conjunto de latas, encaixes para tubos, varinhas

    mgicas, ) materiais para descodificar e simular (jogo do loto, cartas, fantoches,

    livros de gravuras, )

    rea de construes: os materiais nesta rea devem ser verdadeiros, para

    que possam aprender novas tcnicas, resolverem problemas e fazerem

    objectos/representaes resistentes do que se podem pintar e usar noutras reas de

    trabalho ou em casa. Podendo o equipamento ser de grande dimenso e utilidade

    como: uma bancada resistente, grampos, pregos, aparas de madeiras, alicates,

    serrotes, berbequim manual, chave de fendas, parafusos, lixa, etc.

    rea de msica e movimento: sendo esta uma rea cativante e

    simultaneamente instrutivo. Esta rea permite a oportunidade de experimentar e

    apreciar capacidades rtmicas e musicais que so a base de posteriores expresses

    mais complexas. Criam tambm aqui os seus prprios conjuntos, mistura de sons,

    ritmos e movimentos que trabalham com determinadas ideias, rpido/lento,

    primeiro/seguinte. rea de gua e areia: aqui as crianas fazem experincias e descobrem

    texturas, quantidades e atributos, uma vez que elas misturam, resolvem, amontam,

    despejam, cavam, enchem, esvaziam, deitam de um lado para o outro, batem,

    peneiram e moldam. A gua e areia podem tambm utilizar-se na representao e

    desempenho de papis fazendo bolos, pizzas e hambrgueres, construindo estradas

    e casas. Os bibes impermeveis devem surgir como material indispensvel nestas

    actividades. Os materiais podem arrumar-se em caixas identificadas com imagens,

    31

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    32/54

    arrumadas debaixo da mesa, em prateleiras baixas ou penduradas num quadro

    etiquetado.

    rea de animais e plantas: a rea em que as crianas observam o

    crescimento e a mudana dos seres vivos. Aprendem a alimentar, a regar ou a dar de

    beber, e a cuidar dos animais e plantas. uma rea que requer o mnimo de espao

    para bem cuidar destes seres vivos, e deve situar-se extra sala, uma vez que deve

    conter um espao mais significativo. Sendo esta uma rea deveras educativa,

    incutindo s crianas o amor e respeito pela natureza.

    rea de recreio ao ar livre: este espao serve para dar liberdade s

    crianas de expulsarem as suas energias. Este espao deve ser delimitado por

    rvores, arbustos, sebes, pedras, troncos, elevaes de terrenos para as crianas se

    aperceberem dos limites e sobretudo para sua segurana. O equipamento de ar livre

    deve variar entre: objectos para trepar e baloiar, objectos para se baloiar; objectos

    para escorregar; objectos para entrar e passar por baixo; objectos para saltar para

    cima e por cima, objectos para empurrar, puxar e montar, objectos para dar pontaps,

    atirar e servir de alvo; objectos para fazer construes de vrios tamanhos, troncos de

    rvores, caixas, lenis, cobertores, pneus e tubos de borracha.

    Organizao dos materiais

    No que se refere ao mobilirio, este deve responder s exigncias e necessidades

    do grupo de crianas que frequenta.

    O mobilirio que divide as diversas reas deve ser baixo para que as crianas

    possam ver todas as reas.

    Todo o mobilirio deve proporcionar posturas correctas para as crianas e ainda,

    favorecer actividades individuais ou em grupo.

    As superfcies devem ser lavveis, resistentes, no txicas e sem esquinas ou

    salincias aguadas que ponham em perigo a segurana das crianas.

    Devem existir materiais que possam desenvolver todas as potencialidades das

    crianas, fsicas e intelectuais. Assim, poderemos agrup-los segundo os objectivos a que

    se propem:

    Materiais para desenvolver a psicomotricidade que servem para

    favorecer o descobrimento e autonomia do esquema corporal, potencializar a marcha,

    desenvolver a orientao espacial, o equilbrio, etc;

    32

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    33/54

    Materiais que desenvolvam a linguagem devem favorecer as estruturas

    lingusticas, a capacidades de se expressar, enumerar, descrever e interpretar;

    Materiais para a educao sensorial devem estimular na criana a

    capacidade de perceber as diferentes propriedades do objecto (forma, tamanho,

    figura, cor, textura);

    Materiais de dominante lgica e numrica devero favorecer a aquisio

    de noes de conjunto e lgica, relaes, correspondncia e noo topolgica;

    Materiais de observao e experimentao devem ser motivantes de

    modo a fazer com que as crianas se interessem por eles, os observem e

    experimentem.

    Materiais para a educao plstica, musical e corporal devero

    estimular a actividade artstica e expressiva, desenvolvendo a imaginao e a

    criatividade da criana, assim como o sentido de esttica e interpretao artstica.

    Num jardim-de-infncia so imprescindveis materiais que desenvolvam, o

    pensamento, a linguagem e o domnio corporal. Ao manter-se em contacto com os

    materiais, a crianas vai acumulando conhecimentos sobre o mundo que a rodeia,

    permitindo-lhe, assim, dominar as operaes mentais elementares, como a classificao

    (comparao, associao) e seriao (ordenao lgica).

    Desta forma, importante que seja a prpria criana a realizar a criatividade, pois

    s assim concretiza a sequncia: manipulao, percepo, representao, conceito,

    sntese, para que possa vir a resultar na aprendizagem.

    O educador deve estar consciente das diferenas do tipo de material colectivo e

    individual, sendo que os primeiros ajudam o grupo a criar relaes de solidariedade entre

    ajuda, colaborao, partilha e convenincia, visto que so utilizados por vrias crianas

    ao mesmo tempo. Enquanto os materiais individuais reforam a autonomia, fsica eintelectual, tornando a criana mais responsvel por esse material enquanto o utiliza e o

    de organizao.

    Neste modelo utiliza-se a etiquetagem dos materiais de forma a ajudar a criana a

    saber onde esto as coisas no momento que necessita de as utilizar e, no momento de as

    arrumar. Uma vez que a maior parte das crianas no compreende as etiquetas escritas,

    podemos utilizar outras etiquetas mais simples que se refiram directamente ao objecto,

    como fotografias, decalques, gravuras, esboos ou desenhos desse mesmo objecto.Quando nalgum do local no para utilizar determinado material, devemos colocar a

    33

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    34/54

    mesma etiqueta com referncia ao dito objecto e uma cruz por cima, de modo a que as

    crianas possam percepcionar que no o podem utilizar nesse local.

    Os materiais devem estar organizados por tamanho, formas, cores ou funo, de

    modo a permitir criana desenvolver a sua capacidade de classificao (a que grupo

    pertence um determinado objecto, atendendo, a uma caracterstica que tenham em

    comum) e seriao (qual a ordem dos objectos atendendo a uma caracterstica varivel).

    Organizao do tempo

    Este modelos prope uma rotina diria que passa sempre pelos memos momentos,

    embora por vezes possam ser alterados em dias ou pocas especiais.

    A rotina diria consistente pretende ajudar a criana a compreender o tempo pelasequncia dos acontecimentos. Desta forma, torna-se mais fcil para a criana situar-se

    no tempo, de modo a saber o que est a fazer e o que ir fazer de seguida, permitindo-lhe

    uma certa orientao durante o dia e, uma certa autonomia por parte do adulto, uma vez

    que conhece bem a rotina e no necessita de lhes questionar sobre o que vai fazer a

    seguir. Este conhecimento antecipado dos tempos que se seguem faz com que a criana se

    sinta mais segura e confiante.

    Esta rotina desenvolve a capacidade de planear, tomar decises, e executar

    projectos, proporcionando vrios tipos de interveno: trabalhos individuais, em pequeno

    grupo e no grande grupo (crculo), com adultos ou com crianas e em ambientes diversos

    (na sala, nas vrias reas, ao ar livre e at fora da escola).

    Os tempos de planeamento, trabalho e reviso tm de acontecer sempre por esta

    ordem.

    Deste modo, a rotina diria estrutura-se da seguinte forma:

    Tempo de acolhimento: o momento onde as crianas tm a oportunidade

    de entrarem na rotina diria e de partilharem as suas experincias. o tempo de dar

    os bons dias e de marcar as presenas. Conversa-se de forma informal sobre o que

    aconteceu no dia anterior ou mesmo sobre esse mesmo dia de manh, pode tambm

    ler-se uma histria, cantar-se uma cantiga ou fazer-se um jogo simples;

    Tempo de planeamento: neste momento que as crianas pensam acerca

    do que vo fazer durante o tempo de trabalho, decidindo as actividades que vo

    desempenhar e comunicando-as detalhadamente ao educador, podendo para issoutilizar as mais variadas tcnicas apontar para a rea que quer ir trabalhar; nomear

    34

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    35/54

    o nome da rea e descrever a actividades que quer desenvolver. O educador deve

    ajud-las quando necessrio na clarificao das suas ideias, e registar cada plano.

    Depois, a criana coloca o seu smbolo na rea onde pretende trabalhar, de forma a

    consciencializar a criana sobre a opo escolhida e tambm observa se h muitas

    crianas ou no nessa rea;

    Tempo de trabalho: aps a escolha do trabalho a desenvolver a altura de

    exercer o trabalho. neste momento que as crianas aprendem pela interaco com

    os materiais, e descobrem tambm que so capazes de realizar uma coisa que

    planearam, interagindo tambm com as outras crianas e adultos da sala. Neste

    momento, o papel do educador de observar cuidadosamente as crianas nas suas

    actividades, encoraj-las a trabalhar e ajud-las quando necessrio. Deve insistir com

    elas na questo do que esto a fazer e como o esto a fazer, tem tambm como

    compromisso o aviso do final do tempo de trabalho e fazer com que as crianas o

    respeitem, devendo contudo existir alguma flexibilidade quanto a isso;

    Tempo de arrumar: este tempo destina-se arrumao dos materiais (no

    stio prprio) usados no tempo de trabalho e tambm dos possveis trabalhos que

    foram realizados (desenho, etc., eventualmente arrumar-se-o tambm os trabalhos

    no concludos que podero ser retomados numa prxima oportunidade. Arrumandoos mateiras no seu devido lugar (guiando-se pela etiquetagem), as crianas vo tendo

    a oportunidade de CLASSIFICAR (ao agrupar os objectos segundo as caractersticas

    comuns, separando os diferentes), SERIAR (arrumando por ordem crescente ou

    decrescente os vrios objectos iguais nas de tamanhos diferentes), desenvolver a

    NOO DE ESPAO (quando percebe que um objecto no cabe num determinado

    stio ou dentro de um outro objecto);

    Tempo de reviso: neste instante a criana faz uma retrospectiva do

    trabalho que realizou, reflectindo sobre o que fez ao mesmo tempo que o transmite

    aos outros, partilhando as suas experincias. Este momento de modo a no se tornar

    maador para todos deve fazer-se pelos grupos formados no momento do

    planeamento. So diversas as formas de fazer reviso: falar sobre o que se fez,

    mostrar o que se fez, mostrar os materiais usados, usar mmica, fazer o desenho do

    que se fez, indicar num mapa da sala a rea em que trabalhou;

    35

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    36/54

    Tempo de refeio: pode ser uma refeio ligeira ou um almoo, para o

    caso das crianas que ficam na escola at tarde, quando isto acontece segue-se

    posteriormente um tempo de dormir ou de descansar. Contribui para que aprendam a

    tomas conta das suas necessidades preparando o seu lanche sozinhas, distribuindo a

    comida e limpando as suas coisas e as dos outros;

    Tempo de crculo: providencia a experincia das crianas se econtrarem

    em grande grupo, dura geralmente 10 a 15 minutos, e rene toda a gente para a

    mesma actividade. As actividades desenvolvidas podem ser: cantar canes, contar

    histrias, dizer lengalengas, recitar poesia, tocar instrumentos, mover-se ou gesticular

    ao som da msica, fazer jogos de grupo, discutir um acontecimento ou data especial.

    o momento propcio realizao de experincias chave na rea do

    desenvolvimento social uma vez que se encontram todos juntos, e a criana tem a

    oportunidade de interagir com os outros e troca as suas relaes. Este tempo pode ser

    flexvel, h quem o faa no incio do dia ou no final;

    Tempo de pequeno grupo: este tempo dura geralmente entre quinze a vinte

    minutos, formando-se grupos de cinco a oito crianas e um adulto. As actividades

    so planeadas pelo educador, procurando responder aos interesses, capacidades enecessidades das crianas. No entanto, ele apenas prepara cuidadosamente o material

    mas no impe nada quanto forma de o usar. Neste momento, alm de ser

    introduzir a utilizao de novos materiais, um bom momento para uma observao

    atenta das crianas e do seu desempenho. O educador deve conversar com elas sobre

    o que esto a fazer e desafi-las para irem ainda mais longe nos seus objectivos.

    Quando se aproxima o final do tempo deve avisar-se as crianas, para que falem

    sobre a actividade que desenvolveram, e proceder-se arrumao do material e a um

    registo das actividades desenvolvidas por cada criana.

    Tempo de recreio ao ar livre: neste momento proporcionado criana

    realizar actividades no mbito do movimento e desenvolvimento fsico, uma vez que

    no exterior que se encontram as estruturas estimulantes para a actividade fsica.

    Assim a criana pode correr, saltar, trepar, escorregar, andar de baloio, gritar, etc.

    Usufrui tambm de um contacto com a natureza onde se pode observar animais,

    plantas, coleccionar folhas ou pedras, etc. o que lhes permite desenvolver tambm no

    36

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    37/54

    que respeita classificao (ex.: quando seleccionam folhas de diferentes tipos), ou

    mesmo de espao (ex.: quando querem passar por um tnel e se apercebem que no

    cabem nele).

    Papel do educador

    Neste modelo o educador essencialmente um auxiliar do desenvolvimento da

    criana, sendo um fomentador da autonomia da prpria criana. O adulto deve criar um

    ambiente que d o mximo de oportunidades, tanto ao nvel do ambiente fsico como ao

    nvel do ambiente scio-afectivo, em que o educador deve criar um ambiente aceitante

    entre os pais. De modo, a programar reunies de pais, a dar oportunidade aos pais de

    participarem nas actividades dos seus filhos, e mostrando o que eles so capazes de fazer,organizando visitas s casas das crianas a fim de retirar dados do meio onde a criana

    vive e informar os pais dos progressos do filho no jardim-de-infncia, estimulando

    sempre os pais e as crianas.

    Ele pode participar nas actividades das crianas, perguntando-lhes o que esto a

    fazer, como e que materiais utilizam e porqu. Pode tambm dar sugestes e ideias

    mostrando-lhes os objectivos/utenslios a que pode recorrer. Tendo neste momento no s

    o papel de observador, mas tambm de avaliador. Isto permite ao educador o mtodo decomo trabalhar com as crianas de forma a proporcionar os materiais e criar reas para

    dar resposta s suas necessidades.

    O educador deve tambm ser um modelo lingustico e cultural da criana, para

    que a criana se exprima de forma correcta, necessrio que para isso tambm ela oua a

    linguagem correcta. Desta forma, o educador deve dar suporte expresso verbal,

    provocando o dilogo e as trocas. Este deve encontrar-se ao nvel da criana, isto ,

    quando o educador fala com a criana deve estar altura da mesma, aninhar-se, sentar-se

    no cho, para uma melhor comunicao entre ambos.

    O educador deve ambientar as crianas na sala, indicando-lhe os respectivos

    lugares de cada material e integrando-as na organizao das reas e nos trabalhos

    desempenhados pelo educador como, a arrumao de novos materiais, na etiquetagem, na

    modificao e criao de reas, etc.,

    De uma forma geral, o papel do educador pode dizer-se que como de um

    incentivador de actividades para a resoluo de problemas.

    37

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    38/54

    Pedagogia de Projecto

    A Pedagogia de Projecto, pressupe a elaborao de um plano de aconormalmente construdo pelas crianas em conjunto com a educadora. Este plano de

    aco bastante flexvel e as actividades predominantes so do tipo pintura, modelagem,

    contar histrias e brincar ao "faz-de-conta". O objectivo principal promover a

    autonomia, a criatividade e a socializao da criana, consistindo o papel do educador em

    informar e coordenar as aces desenvolvidas pelas crianas.

    Efectivamente, tem que se conhecer o Homem e utilizar a pedagogia que estiver

    mais de acordo, que estiver ao nvel da concretizao do que se pretende. Depois, a partir

    destes pressupostos, estabelece-se o "Projecto Pedaggico".

    Com efeito, o Projecto Pedaggico um projecto que surge por parte dos

    Educadores, depois de conhecerem minimamente a criana e o seu ambiente.

    Um educador trabalhar totalmente no vazio, se no souber verdadeiramente o

    que deseja ver os seus educandos a fazer, no fim da sua actividade pedaggica.

    A Pedagogia de Projecto pois, uma Pedagogia que tem objectivos para atingir o

    Projecto Pedaggico e desta forma, uma pedagogia activa, vivida como meio para atingir

    um fim e que surge sempre da vida das crianas.

    Em Pedagogia de Projecto, temos a considerar:

    - a motivao, o motor que desencadeia a aco (pode partir da criana,

    de um pequeno grupo, surgir do grande grupo ou por parte do educador);

    - o projecto (a planificao);

    - a avaliao.

    Assim, alguns autores distinguem cinco funes principais da Pedagogia de

    Projecto:

    - uma funo econmica e de produo, ligada parte financeira, para chegar

    a um produto material;

    - uma funo teraputica de motivao dos alunos relativamente s

    aprendizagens, permitindo-lhes construir o sentido dos seus actos;

    - uma funo didctica de aquisio de novos conhecimentos, tocando

    diversos domnios;

    38

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    39/54

    - uma funo social e mediadora, tendo em conta os parceiros, de uma

    abertura a outras instituies e outras socialidades;

    - uma funo poltica de formao do cidado, segundo uma perspectiva de

    participao activa na vida pblica.

    O trabalho de projecto uma metodologia que se desenvolve em grupo e implica

    a participao de todos os elementos desse mesmo grupo. Envolve trabalho de pesquisa

    no terreno, tempos de planificao e interveno, com o pressuposto de responder a

    problemas detectados, problemas que despertem o interesse do grupo em questo. O

    trabalho de projecto exige, ainda, recolha e tratamento de dados, estudo de propostas de

    soluo e avaliao contnua.

    Cada projecto envolve, geralmente, pequenos grupos de crianas que se agrupam

    para estudar um tema comum a todos. Este trabalho, em pequenos grupos, permite uma

    aprendizagem mais intensa e uma maior troca de ideias.

    Para alm do trabalho em pequenos grupos, podem surgir, tambm, projectos que

    envolvam todas as crianas de uma sala, podendo alargar-se a outras salas. Estes

    projectos podero durar dias, semanas e at meses, dependendo do nvel etrio e interesse

    das crianas. O Trabalho de Projecto ajuda as crianas a aprofundar e a perceber melhor o

    sentido dos acontecimentos e os fenmenos que ocorrem no ambiente que as rodeia.

    No que diz respeito escolha dos temas dos projectos, estes podem surgir dos

    interesses manifestados pelas crianas; como tambm podem surgir da observao atenta

    por parte dos educadores, que identificam as necessidades do grupo com que trabalham;

    ou ainda podem surgir outro tipo de projectos que correspondem a objectivos

    curriculares.

    Desta forma, depois do tema ter sido escolhido, os educadores renem-se e

    discutem as vrias possibilidades e hipteses de potenciais direces que o projecto pode

    seguir. Formulam-se, ento, questes que permitem dar incio ao Trabalho de Projecto e

    avaliar, ao mesmo tempo, o nvel de conhecimento das crianas acerca do tema a

    investigar. , tambm, nesta fase inicial que as crianas decidem quem quer participar no

    projecto formando-se, desta forma, um pequeno grupo de trabalho.

    Assim na primeira fase do projecto, as educadoras juntamente com as crianas e,

    atravs do dilogo identificam os conhecimentos e experincias das crianas em relao

    ao tema a ser tratado. Esses conhecimentos sero depois registados (normalmente atravsdo desenho).

    39

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    40/54

    Na segunda fase, as crianas vo planeando, fazendo, reflectindo e analisando as

    suas realizaes. Aqui enquadram-se as visitas ao exterior ou convites a pessoas da

    comunidade para se aprofundarem os conhecimentos. So partilhadas experincias,

    sucessos e insucessos, onde as crianas colocam questes e desenham o que observam.

    Estes trabalhos, de cada criana, sero usados para debate e discusso com o grande

    grupo e o educador.

    de referir, que medida que a criana se vai envolvendo nas actividades do

    projecto, a criana est a desenvolver inmeras capacidades, como por exemplo, o

    conversar, o negociar, o intervir, a leitura, a escrita, a investigao, o uso de

    conhecimentos matemticos, etc.

    E por fim, na terceira fase do Trabalho de Projecto, os trabalhos j acabados so

    revistos e avaliados. So seleccionadas amostras representativas para serem expostas a

    todas as crianas e adultos da escola, aos familiares e restantes membros da sociedade.

    No final feita uma releitura de todos os passos do projecto, de forma a todas as

    crianas da escola tomarem conhecimento das experincias realizadas. Aqui as crianas

    so capazes de transmitir conhecimentos adquiridos, ensinar tcnicas que aprenderam e

    pensar j, em possveis formas de os utilizar em novos projectos que possam surgir no

    futuro. Organizar a informao para apresentar a todas as crianas e adultos clarifica e

    consolida o conhecimento que as crianas adquiriram com o seu trabalho, permitindo aos

    adultos avaliar os progressos das crianas.

    Autores de referncia do Modelo

    John Dewey - O programa de Dewey tem forosamente uma dimenso activa em

    impregn-lo e envolv-lo. um programa essencialmente experimental: a criana

    projecta, faz e sofreas consequncias do que faz, tendo, desta forma, uma dinmica temporal. O passado s

    interessa como impulso para explorar o presente e construir o futuro.

    Outra caracterstica fundamental do programa, ele ser uma fonte de

    conhecimento e no um assimilar de informao, devendo desta forma, ser ntima e

    permanente a relao da criana com as suas prprias experincias.

    William Kilpatrick - O contributo original dado por Kilpatrick pedagogia pode

    sintetizar-se no mtodo dos projectos por ele elaborado e praticado. Entendia por

    40

  • 8/3/2019 Modelos Pedag Manual

    41/54

    projecto, um plano de trabalho livremente escolhido pela criana, com o fim de realizar

    qualquer coisa que o motivasse.

    Organizao do Grupo

    Tal como j vimos anteriormente, a concepo de educao de Dewey era a de

    que a sala de aula devia espelhar a sociedade como um todo e ser um laboratrio para a

    aprendizagem da vida real. A pedagogia de Dewey exigia aos professores que criassem,

    dentro dos seus ambientes de aprendizagem, um sistema social caracterizado por

    procedimentos democrticos e processos cientficos.

    Deste modo, os procedimentos especficos de sala de aula, descritos por Dewey (e

    pelos seus seguidores), enfatizam a organizao de pequenos grupos de resoluo