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MODERNISMO NO BRASIL 1 / Contexto Internacional A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tam- bém conhecida como Grande Guerra, foi um dos aconteci- mentos mais marcantes do século XX. Do ponto de vista da história da cultura, ela pôs fim a um período de relativa paz social, de desenvolvimen- to intenso das ciências e das artes no mundo europeu, co- nhecido como belle époque (termo mostra hegemonia cultural francesa no circuito internacional). Durante esse período, que se estendeu entre fins do século XIX e o início da Guerra, a burguesia sentia-se segura e acreditava que o sistema que ela criara garantiria essa segurança e o progresso. No entanto, a Pri- meira Guerra – que utilizou a ciência e a tecnologia para efe- tuar o maior massacre que a humanidade presenciara até então – mostrou fragilida- de do mundo capitalista e o quanto as ideias de progresso e segurança eram, na verdade, enganosas. Algumas das consequências desse processo nas artes foram, por um lado, o surgimento de uma visão de mundo sombria e pessimista (que marcará os primeiros anos do Modernismo europeu), e, por outro lado, o surgimento de um violento nacionalismo, principalmente nas nações que perderam com a Guerra. 2 / Contexto Nacional Enquanto isso, os artistas brasileiros também buscavam na Europa as novas téc- nicas para suas obras sem, no entanto, importar a temática do trágico e da angústia. A visão de mundo que orientou a maior parte do Modernismo no Brasil foi, a princípio, Tarsila do Amaral, Estrada de Ferro Central do Brasil, 1924. Óleo s/ tela, 142 x 100,2 cm.

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MODERNISMO NO BRASIL1 / Contexto Internacional

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tam-bém conhecida como Grande Guerra, foi um dos aconteci-mentos mais marcantes do século XX. Do ponto de vista da história da cultura, ela pôs fim a um período de relativa paz social, de desenvolvimen-to intenso das ciências e das artes no mundo europeu, co-nhecido como belle époque (termo mostra hegemonia cultural francesa no circuito internacional). Durante esse período, que se estendeu entre fins do século XIX e o início da Guerra, a burguesia sentia-se segura e acreditava que o sistema que ela criara garantiria essa segurança e o progresso. No entanto, a Pri-meira Guerra – que utilizou a ciência e a tecnologia para efe-tuar o maior massacre que a humanidade presenciara até então – mostrou fragilida-de do mundo capitalista e o quanto as ideias de progresso e segurança eram, na verdade, enganosas. Algumas das consequências desse processo nas artes foram, por um lado, o surgimento de uma visão de mundo sombria e pessimista (que marcará os primeiros anos do Modernismo europeu), e, por outro lado, o surgimento de um violento nacionalismo, principalmente nas nações que perderam com a Guerra.

2 / Contexto Nacional Enquanto isso, os artistas brasileiros também buscavam na Europa as novas téc-nicas para suas obras sem, no entanto, importar a temática do trágico e da angústia. A visão de mundo que orientou a maior parte do Modernismo no Brasil foi, a princípio,

Tarsila do Amaral, Estrada de Ferro Central do Brasil, 1924. Óleo s/ tela, 142 x 100,2 cm.

Conexões: Arte e Língua Portuguesa - os manifestos da arte

Os artistas modernistas, em suas discus-sões, manifestavam repúdio a modelos preesta-belecidos para a criação de arte. Para eles, to-dos podem ser influenciados por outras culturas e produções de artistas. No entanto, para criar uma obra própria, é preciso descobrir suas próprias refrências culturais e poéticas pessoais. Os artis-tas modernistas brasieliros defendiam a liberdade para fazer uma arte brasielira, uma arte sincera, cabocla, mulata em cores nacionais, mas com teor crítico, político e polêmico. Escritores, pintores, escultores, gravuristas, atores e músicos questionavam as influências e fórmulas clássicas de expressão artística herda-das da estética europeia, trazida para o Brasil pela Missão Artística Francesa, grupo de artis-tas europeus que chegaram em 1816 para fundar a primeira Academia de Arte no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e que estabeleceram um gosto acadêmico, neoclássico. Essas influên-cias teriam determinado o modo de criar arte no Brasil durante muito tempo, mas no movimento modernista essas regras começariam a mudar.

A Missão Artística Fran-cesa chegou ao Brasil em 1816, com o objetivo de fundar uma Academia de Belas Artes nos moldes da Academia Francesa. Dela faziam parte, entre outros artistas, Jean Batiste De-bret e Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny. O grupo fundou a Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.

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Aquarela de Debret (1768-1848), sem data. Esco

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“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão cor de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.”Oswald de Andrade. Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Correio da Man-hã, 18 de mar. 1924.

No início do século XX, as cidades começaram a crescer em todo Brasil. O cinza do concreto iniciou sua contraposição à visão da natureza e suas cores tropicais. A vida das pessoas na cidade se diferenciava das cenas encontradas nos campos, e esse mundo moderno em contraste com o mundo natural foi tema de muitos poemas e pinturas, entre outras produções deixadas pelos artistas modernistas brasileiros. A estética e a ideologia que compunham a produção artística brasileira do Modernismo podem ser lidas e estudadas nos manifestos e nas obras de arte da época. Desta forma, o modernismo foi um momento de revisitar os valores propriamente brasileiros e de, acima de tudo, questionar: por que ainda estamos copiando os modelos de mais de 300 anos, originários da Renascença? Por que aprendemos arte em Academias*? Por que o Brasil reflete estes interesses colo-niais?

*As academias de arte foram criadas em diversos países da Amé-rica colonizada por espanhóis e portugueses. Essas instituições propunham-se a incentivar um tipo de vida artística e cultural dos “novos” países (assim eram chamados os países coloniza-dos, mesmo não sendo de fato novos), com formas de arte que reproduziam as ideias estéticas mais conservadoras da Euro-pa. Mais uma vez na nossa história, vemos acontecer o surgi-mento de um novo modelo cultural importado (portanto re-levante ao colonizador), pois o modelo já existente aqui não parecia interessar à nenhuma instância de poder aqui instaurado.

de um relativo otimismo, uma crença na “nova civilização” que emergia de um país agrário atrasado. Vivendo a euforia do dinheiro proveniente da plantação e comércio do café e a possibilidade de unir essa riqueza agrária à nova riqueza industrial e cos-mopolita que a metrópole paulistana prometia, os modernistas brasileiros buscaram inventar a cultura desse novo país utópico: uma cultura que mesclasse as técnicas da arte moderna europeia com uma certa visão da “cultura brasileira”, planejando uma nação modernizada. O modernismo no Brasil tomou corpo em São Paulo e, fundamentalmente para São Paulo. A maior parte do Modernismo foi escrita com um olho na Europa, outro na Paulicéia desvairada – a nascente metrópole industrial povoada de burgueses & proletários, caipiras & estrangeiros, palacetes tradicionais & arranha-céus que vaga-mente começavam a despontar -, como chamava Mario de Andrade, escritor e mu-sicólogo modernista. Toda essa mistura foi retratada nas pinturas. Em literatura e artes visuais, a questão era: como pensarmos a nossa identidade nacional? Em 1928, o escritor Oswald de Andrade responde aos questionamentos sobre como nos definimos: só a ANTROPOFAGIA NOS UNE.

São Paulo, Avenida São João, 1929. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo.

Conexões: Arte e Matemática - a tangência perfeita“Encontrei a tangente que vai permitir que a cúpula pareça apenas pousada na laje.”Fala de Joaquim Cardozo a Oscar Niemeyer em relato presente no documentário O artista e o ma-temático, de Sérgio Zeigler. In: ZEIGLER, Sérgio. Arte & Matemática. São Paulo, TV Cultura 2001.

Na época em que Brasília estava sendo construída, o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e o engenheiro calculista Joaquim Cardoso (1897-1978) procuravam criar as formas em curvas que hoje compõem a paisagem da capital do Brasil. Niemeyer fez o esboço do projeto, mostrando formas curvas ao amigo engenheiro, que tinha como tarefa fazer cálcu-los matemáticos para que a estrutura em concreto comportasse as formas suaves. Muitas horas de cálculos e reflexão foram necessárias até que Joaquim Cardozo encontrasse as equações que resolvessem a apresentação sa tangências adequadas, o que permitiu que as suaves linhas curvas, criadas na mente do arquiteto, pudessem se materializar ans cons-truções que hoje compõem o Patrimônio Artístico e Cultural tombado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como obra urbanística. Joaquim Cardozo e Oscar Niemeyer entraram em “estado de vigília criativa”. Esse estado mental acontece quando nos colocamos imersos na busca para dar forma ao que queremos criar. Ambos procuravam aquilo que consideravam a beleza traduzida em formas curvas, representada tanto em imagens desenhadas nos croquis do arquiteto como nos cálculos do engenheiro. Esse trabalho colaborativo entre artista e calculista é um exemplo dos processos de criação na parceria entre Arte e Matemática.

Anéis de aço da cúpula invertida do Palácio do Congresso Nacional em construção c. 1958-60 (à esquerda). Con-gresso Nacional, Esplanada doa Ministérios, em Brasília, Distrito Federal.

QUESTIONÁRIOLeia atentamente o texto acima, e faça anotações no caderno, levantando suas dúvidas para serem esclarecidas em aula. Responda:1) a)O que são Academias de arte? b) Qual o seu modelo de instrução?c) Quando e onde foram criadas originalmente?d) Por que o modelo das Aacdemias foi usado no Brasil? Explique como se deu a formação artística no Brasil, no início do século XIX.2) Observe as imagens da pintora Anita Malfatti para responder:

IMAGEM 1

IMAGEM 2

IMAGEM 3 IMAGEM 4

Considerando os elementos que constituem a linguagem visual, quais as principais diferenças entre as imagens 1, 2, 3 e 4? Justifique a sua resposta apontando os elementos nas imagens.3) Quais seriam as imagens com influências e fórmulas “clássicas” de expressão? Pesquise sobre a estética clássica para responder.