6
Referência Momento estético no encontro analítico. Denise Lopes Rosado Antônio. (p.79-96) BERGGASSE 19 – Revista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto. – Vol. III nº 1, (maio 2012). Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto, 2012. Fichamento A autora vai dividir seu texto em tópicos de forma a desenvolver a partir do conceito de momento estético, as ideias a respeito desse momento na experiência emocional do par analítico e de seus possíveis destinos. Relacionando com as comunicações verbais e não verbais. Momento estético O objetivo principal nesse momento é abordar as ideias a respeito do momento estético na experiência emocional do par analítico e seus possíveis destinos, transformações. A autora propõe que esses momentos representem alguma percepção de aspectos da realidade psíquica que existem e permanecem como algo desconhecido de si mesmo, como se de súbito um “mistério” fosse desvendado. Então ela traz da semiótica um dos conceitos de “Momento estético”; é descrito como sendo aquele instante em que se dá uma quebra na continuidade de algo rotineiro ou repetitivo (“feito um lampejo que surgiu no mundo”). (p.79- 80), segundo ela essa quebra se dá no encontro do sujeito com o objeto, sendo um momento de “reflexão” de sensações de descontinuidade. Ainda na semiótica é um momento de deslumbre, passageiro. Após esse momento tem-se uma tentativa de volta à disjunção, na busca de dar continuidade ao seu percurso segundo Greimas (1987). Favorecendo assim uma nova qualidade na percepção do objeto e do mundo.

Momento Estético-fichamento

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Momento Estético-fichamento

Referência

Momento estético no encontro analítico. Denise Lopes Rosado Antônio. (p.79-96)

BERGGASSE 19 – Revista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto. – Vol. III nº 1, (maio 2012). Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto, 2012.

Fichamento

A autora vai dividir seu texto em tópicos de forma a desenvolver a partir do conceito de momento estético, as ideias a respeito desse momento na experiência emocional do par analítico e de seus possíveis destinos. Relacionando com as comunicações verbais e não verbais.

Momento estético

O objetivo principal nesse momento é abordar as ideias a respeito do momento estético na experiência emocional do par analítico e seus possíveis destinos, transformações. A autora propõe que esses momentos representem alguma percepção de aspectos da realidade psíquica que existem e permanecem como algo desconhecido de si mesmo, como se de súbito um “mistério” fosse desvendado.

Então ela traz da semiótica um dos conceitos de “Momento estético”; é descrito como sendo aquele instante em que se dá uma quebra na continuidade de algo rotineiro ou repetitivo (“feito um lampejo que surgiu no mundo”). (p.79-80), segundo ela essa quebra se dá no encontro do sujeito com o objeto, sendo um momento de “reflexão” de sensações de descontinuidade. Ainda na semiótica é um momento de deslumbre, passageiro. Após esse momento tem-se uma tentativa de volta à disjunção, na busca de dar continuidade ao seu percurso segundo Greimas (1987). Favorecendo assim uma nova qualidade na percepção do objeto e do mundo.

Sendo essa experiência estética capaz de produzir novas possibilidades de organizações emocionais e serem construtoras de sentido e significados para futuras referencias emocionais desse sujeito, “nuvens de probabilidades convertem-se em nuvens de possibilidades” (Bion, 1965/2004, p.131). (p.80)

De acordo com a autora é como se nesse momento “algo” preconstruído inconscientemente chegasse à consciência, transitasse por um tempo ínfimo e logo retornasse ao seu lugar, fazendo aflorar emoções e daí nova experiência emocional que poderá levar o sujeito a se evadir ou a se expandir através de transformações. Para Freud essas transformações poderiam ser experimentadas através de associações livres, para Bion através de pensamentos oníricos de vigília.

A autora traz ainda que segundo Likierman (1989/1994, p.298), “a vivência preconceitual não pode ser outra se não estética, pois a falta de conceitos deixa apenas os sentidos na sua extremidade receptora”. Juntamente com as ideias de Bion,

Page 2: Momento Estético-fichamento

Likierman segue afirmando que a necessidade inicialmente é uma preconcepção ao invés da busca de “algo” separado.

Momento estético no encontro analítico

Como já citado anteriormente o momento estético se dará do encontro do analisando- analista, mas para que essa experiência venha a ser proveitosa é necessário que o analista que está ali consiga colher tais momentos. O par deve ter a capacidade de suportar a intensidade das emoções despertadas pelo contato e acreditar que algo novo na mente poderá surgir do que lhe é desconhecido.

Para isso é necessário suportar a ausência de sentido do momento estético, para que em algum momento surja um fato selecionado, para que então alguma compreensão seja alcançada. Lembrando que o desenvolvimento emocional do analisando está diretamente ligado ao do analista, para tanto este deve ter disponibilidade para viver transformações distintas daquelas do analisando.

Meus sonhos de vigília

Nessa parte do texto a autora vem exemplificar alguns momentos estéticos e seus desdobramentos. Primeiro ela apresenta o caso do Mito de Narciso, que se caracteriza por um momento estético que permaneceu em estado de paralização emocional, as impressões sensoriais não sofreram simbolizações.

Um segundo exemplo está no conto A Legião estrangeira (1987) de Clarice Lispector, que escreveu sobre Ofélia, que após intensos sentimentos com relação ou pinto que piava na cozinha, brinca, ama, mas não suporta tamanha experiência e mata o pinto. O terceiro exemplo é de um filme; 2001- Uma Odisseia no espaço, que mostra um hominídeo sobrevivendo à duras penas, lutando diariamente por espaço. Em um momento se sentido não suficientemente capaz de sobreviver sem uma ajuda externa ele desenvolve uma primeira arma, com um osso femoral de um animal. Esse primeiro hominídeo foi capaz de tolerar a dor de sentir-se impotente, e buscou alternativas para sua proteção e autonomia.

No mito de Narciso ou na história de Ofélia, os personagens evadem à dor gerada nesse momento estético. Permaneceram aprisionados a emoção impactante. Os processos envolvidos no aprisionamento supõe a autora, são por não terem desenvolvido adequadamente a função alfa, capaz de transformar aquelas impressões em pensamentos oníricos ou por conta do predomínio da parte psicóticas de suas personalidades (Bion, 1957/1988). (p.84-85)

No caso do Narciso ele fixa, fica preso a identificação e não desenvolve alteridade. No caso de Ofélia há uma predominância de seu lado psicótico, que não permitiu que ela pensasse a respeito do experimentado para aprender. Já no filme tem o exemplo do momento estético seguido de múltiplas transformações, que Bion chama de conhecimento (K), tendência do ser humano buscar conhecimento e desenvolvimento psíquico.

Page 3: Momento Estético-fichamento

Momento estético em análise

A autora nesse momento de sua produção vem trazer exemplos de momentos estéticos na sua clínica.

Primeira vinheta clínica

A autora esta na sala de espera, e o analisando chega adiantado cinco minutos. Ao se deparar com ela perturba-se, verbaliza de forma agitada que precisa ir ao banheiro e solicita um minuto. Imediatamente olha no relógio. Ele estaria buscando se acalmar ela pensa. Ele diz: Ah! Não. Tenho alguns minutos ainda.

Quando chamado ele olha novamente no relógio. Em um primeiro momento de silencio a analista olha no relógio e percebe que chamou o paciente um minuto antes, sentindo-se mal após essa constatação. Surgem algumas lembranças da sessão anterior que o paciente havia zombado dela, brincadeiras que não a deixara confortável.

Depois de um momento o paciente apenas fala que esta desanimado e não tem muito o que falar. Ela responde então falando das duas olhadas no relógio, a anterior a entrada na sala e em seguida durante o inicio da sessão. Ele já responde em tom de brincadeira que ela estaria mais generosa naquele dia já que daria a ele, um minuto a mais de seu tempo, a analista replica então perguntando se isso o assustará ou ele olhou no relógio por outro motivo. Ele responde que foi por outro motivo, porque não faltaria mais, nem ficaria sem falar, senão ela ficaria ansiosa e o recriminaria.

De acordo com Bion (1965/2004) sobre Transformações em Alucinoses o paciente estava sem a analista/real estava ocupado com a analista/criada, ao encontra-la na sala de espera e entrar um minuto antes para a sessão ele se depara com a analista/real, isso o impactou. Já no ciclo seguinte a analista continua com o acontecido no dia anterior na cabeça, em alerta para possíveis ataques, dois medrosos e assustados na sala.

Pensando se poderiam passar por essa turbulência ela tenta se mostrar interessada no que se passa com a relação, e mostra isso a ele. Ele responde então que existe um grande problema. Dizendo que não acreditava nesse interesse genuíno, em valorização de sua pessoa, para ele todas as pessoas são interesseiras. Segundo ele não tem confiança em ninguém. Contudo a partir desse momento o paciente começa a falar com ela. Voltam a falar até do momento do encontro na sala de espera. E após sua primeira intervenção ele realiza transformações projetivas. De forma a acreditar que a analista, seu objeto estético tem todos os possíveis sentimentos negativos e destrutivos com relação a ele.

Dessa forma esse paciente utiliza a maior parte do tempo para se livrar dos conteúdos mentais, projetando-os na analista, evade-se assim de pensar e de examinar seus próprios processos mentais e principalmente do seu sentir. (p.90)

Page 4: Momento Estético-fichamento

Segunda vinheta

A paciente está na sala de espera a terapeuta chega e a cumprimenta rapidamente, dizendo apenas oi. A paciente entra na sala e começa a falar sobre suas vivencias na ausência de seu marido e pensamentos que tivera após a sessão anterior, contudo não demostra envolvimento. A analista já se sente enfadada sem interesse no que a paciente conta, é então que ela desperta e pergunta: O que esta sentindo quando conta essas vivencias de quando não estava mais comigo?

Logo a paciente já responde que nada, só falou porque pensou que fosse importante para a analista saber. Então começam a falar desse vazio, essa falta de sentido. Até que a paciente diz: É, mas eu não estava assim antes de vir para cá. E depois de refletir um pouco continua, só se for pelo que pensei quando nos encontramos, você falou um ‘Oi’ ‘micho’; oi.. não foi um ‘oi fulana’...

Dessa forma o esvaziamento do encontro assim se fez, o objeto amado e necessitado (analista) não satisfez a necessidade da analisanda; foi criado um meio de transformações, da alucinose e , a partir daí, a analisanda passou a construir o ciclo de transformações. Para dar conta de evadir-se totalmente desse momento estético, quase apaga-lo, a analisanda realiza transformação em movimento rígido, modelo que ela constrói da ausência do marido, no lugar da ausência da analista, seria essa uma interpretação possível, porem essa poderia ocultar o movimento primordial da analisanda na sessão, que era a evasão da dor insuportável, ao se sentir sem existência, ou que não foi acolhida da maneira que necessitava. (p.91-92)

Considerações finais

Dessa forma a autora pretende mostrar com essas vinhetas como o afloramento de emoções geradas no momento estético podem pode levar a dor e/ou transformações em conhecimento, tanto na mente do analisando quanto do analista. No entanto, a intensidade de emoções geradas pelo contato com o objeto presente vai exigir que o analista seja capaz de vivenciar essas experiências e usar de uma linguagem capaz de gerar significados emocionais assimiláveis pelo analisando.