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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUACAO BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE À RESISTÊNCIA BACTERIANA EM UMA UTI DE ADULTOS CLÁUDIA RIBEIRO MENEZES Belém-Pará 2013

MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO … · 1.3.2 Novos Antimicrobianos ... antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA

INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUACAO

BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS

MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO

ESTRATÉGIA DE COMBATE À RESISTÊNCIA BACTERIANA EM

UMA UTI DE ADULTOS

CLÁUDIA RIBEIRO MENEZES

Belém-Pará

2013

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CLÁUDIA RIBEIRO MENEZES

MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO

ESTRATÉGIA DE COMBATE À RESISTÊNCIA BACTERIANA EM

UMA UTI DE ADULTOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Biologia de Agentes

Infecciosos e Parasitários do Instituto de

Ciências Biológicas da Universidade Federal

do Pará como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Biologia de

Agentes Infecciosos e Parasitários.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ishak.

Belém-Pará

2013

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

_____________________________________________________________

Menezes, Cláudia Ribeiro, 1974-

Monitorização do uso de antimicrobianos como

estratégia de combate à resistência bacteriana

em uma UTI de adultos / Cláudia Ribeiro

Menezes. - 2013.

Orientador: Ricardo Ishak.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal

do Pará, Instituto de Ciências Biológicas,

Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes

Infecciosos e Parasitários, Belém, 2013.

1. Agentes antiinfecciosos. 2. Antibióticos.

3. Unidade de tratamento intensivo Pacientes. 4.

Drogas Resistência em microorganismos. 5.

Hospitais públicos Belém (PA). I. Título.

CDD 22. ed. 615.329

_______________________________________________________________

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1

CLÁUDIA RIBEIRO MENEZES

MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO

ESTRATÉGIA DE COMBATE A RESISTÊNCIA BACTERIANA EM

UMA UTI DE ADULTOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos

e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como

requisito para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e

Parasitários.

Orientador: Prof. Dr Ricardo Ishak

Laboratório de Virologia, ICB-UFPA

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Edvaldo Carlos Brito Loureiro

Instituto Evandro Chagas/SVS/MS

Profa. Dra. Karla Tereza Silva Ribeiro

Instituto de Ciências Biológicas, UFPA

Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado

Laboratório de Virologia, ICB-UFPA

Profa. Dra. Rosimar Neris Martins Feitosa (Suplente)

Instituto de Ciências Biológicas, UFPA

Belém, 11 de dezembro de 2013.

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“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”

Salmo 23:1

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, meu Senhor e Salvador, fonte inesgotável de misericórdia e amor.

Aos meus pais Samuel e Anete, pela dedicação e empenho para o provimento de

minha educação, pelo amor e valores transmitidos.

Ao meu esposo Fabrício e filhos Gabriel e Felipe, minhas fontes inspiradoras e eterna

alegria de viver, pelo amor, pela confiança e apoio nos momentos difíceis.

A minha irmã Giovanna e sua família, pelo apoio em todos os momentos de minha

vida.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo Ishak, pelos ensinamentos e paciência.

À Sandra Lima pelo apoio na parte estatística da pesquisa.

Ao Hospital de Clínicas Gaspar Viana - HCGV, por ter disponibilizado sua Unidade

de Terapia Intensiva (UTI) adulto para a pesquisa.

Ao programa de pós-graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários da

Universidade Federal do Pará pela oportunidade concedida.

A todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para que este projeto fosse

concluído.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................. 6

LISTA DE TABELAS E QUADROS .................................................................................................. 8

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................... 9

RESUMO ............................................................................................................................................. 10

ABSTRACT ......................................................................................................................................... 11

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12

1.1 INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA .................. 12

1.2 RESISTÊNCIA BACTERIANA ........................................................................................... 13

1.2.1 Mecanismos de Resistência Bacteriana ......................................................................... 13

1.2.2 Epidemiologia dos Organismos Multidrogarresistentes .............................................. 17

1.2.3 Monitoramento dos Organismos Multidrogarresistentes ............................................ 21

1.2.4 Fatores de Risco para Emergência de Resistência Bacteriana aos Antimicrobianos 22

1.3 ANTIMICROBIANOS ......................................................................................................... 24

1.3.1 Mecanismos de Ação dos Antimicrobianos ................................................................... 24

1.3.1.1 Interferência na Síntese da Parede Celular ........................................................................ 25

1.3.1.2 Alterações na Permeabilidade da Membrana Citoplasmática ........................................... 26

1.3.1.3 Interferência na Replicação do DNA ................................................................................ 27

1.3.1.4 Interferência na Síntese Proteica ....................................................................................... 27

1.3.2 Novos Antimicrobianos ................................................................................................... 27

1.3.2.1 Linezolida .......................................................................................................................... 27

1.3.2.2 Estreptograminas: Quinupristina/Dalfopristina ................................................................. 28

1.3.2.3 Carbapenem: Ertapenem ................................................................................................... 29

1.3.2.4 Oritavancina ...................................................................................................................... 29

1.3.3 Uso Racional de Antimicrobianos .................................................................................. 29

1.4 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 33

1.4.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 33

1.4.2 Objetivos Específicos ....................................................................................................... 33

2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................ 34

2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ........................................................................................ 34

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE ................................................................................ 34

2.3 COLETA DE AMOSTRAS .................................................................................................. 35

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2.4 MÉTODO LABORATORIAL DE CULTURA E ANTIBIOGRAMA ................................ 35

2.5 METODOLOGIA DA DOSE DIÁRIA DEFINIDA (DDD) ................................................ 36

2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................... 37

2.7 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................................ 37

2.8 RISCOS E BENEFÍCIOS DA PESQUISA ........................................................................... 37

3 RESULTADOS ............................................................................................................................ 38

3.1 PERFIL SÓCIO DEMOGRÁFICO E CLÍNICO DA AMOSTRA DE PACIENTES ................ 38

3.2 CONSUMO DE ANTIMICROBIANOS .................................................................................... 41

3.3 TOPOGRAFIA DA INFECÇÃO E PERFIL MICROBIOLÓGICO .......................................... 47

4 DISCUSSÃO ................................................................................................................................ 52

CONCLUSÕES ................................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 61

APÊNDICES ........................................................................................................................................ 70

ANEXOS .............................................................................................................................................. 71

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LISTA DE ABREVIATURAS

ATC – Anatomical Therapeutic Chemical (Classificação Anatômica, Terapêutica e Química)

CCIH – Comissão de Controle de Infecções Hospitalares

CDC – Centers for Diseases Control and Prevention

DDD – Define Daily Dose (Dose Diária Definida)

DDD1000 – Número de DDD por 1000 pacientes-dia

DNA – Ácido desoxirribonucleico

ECN – Estafilococos coagulase-negativo

EPIC – Estudo sobre a prevalência estendida de infecções em terapia intensiva

ERV/VRE – Enterococo resistente à vancomicina

ESBL – Extended spectrum b-lactamases (Betalactamases de espectro estendido)

HCGV – Hospital de Clínicas Gaspar Viana

ICARE – Intensive Care Antimicrobial Resistance Epidemiology

IH – Infecção Hospitalar

KPC – K. pneumoniae produtoras de carbapenemases

MDR/MDRO – Organismos multidrogarresistentes

MRSA/MARSA – Staphylococcus aureus resistente à meticilina e aminoglicosídeos

MS – Ministério da Saúde

MYSTIC – The Meropenem Yearly Susceptibility Test Information Collection

NNIS – National Nosocomial Infection Surveillance System

OMS – Organização Mundial de Saúde

PBP – Penicilin Binding Proteins

RNA – Ácido ribonucleico

SARI – Surveillance of Antimicrobial Use and Antimicrobial Resistance in Intensive Care

Units

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SENTRY – Programa de Vigilância Epidemiológica e Resistência Antimicrobiana

UTI – Unidade de Terapia Intensiva

WHO – World Health Organization

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8

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Página

Quadro 1 – Mecanismos de resistência bacteriana............................................. 15

Quadro 2 – Patógenos ESKAPE........................................................................ 20

Quadro 3 – Pares patógeno-antimicrobiano utilizados em estudos de

resistência............................................................................................................

22

Quadro 4 – Mecanismos de ação dos antimicrobianos...................................... 25

Tabela 1 – Tamanho da amostra, exclusões e perdas por ano............................ 38

Tabela 2 – Características gerais da amostra do estudo...................................... 39

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes da UTI adulto, HCGV, de acordo com

a procedência e cidade de origem........................................................................

40

Tabela 4 – Principais categorias de diagnóstico na admissão dos pacientes na

UTI adulto – HCGV (2011-2012).......................................................................

40

Tabela 5 – Grupos, subgrupos e dose diária definida dos antimicrobianos

sistêmicos segundo a classificação J01 do sistema ATC/DDD...........................

42

Tabela 6 – Taxa de consumo (DDD1000 pacientes-dia) de antimicrobiano nos

anos 2011 e 2012.................................................................................................

44

Tabela 7 – Topografia das infecções diagnosticadas na UTI adulto do HCGV

(2011-2012).........................................................................................................

48

Tabela 8 – Patógenos isolados nas culturas dos pacientes que apresentaram

infecções na UTI adulto do HCGV (2011-2012)................................................

49

Tabela 9 – Pares patógeno-antimicrobiano isolados nas culturas dos pacientes

que apresentaram infecções na UTI adulto do HCGV (2011-2012)...................

50

Tabela 10 – Correlação do perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos de

acordo com o tipo de internação..........................................................................

51

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1 – Distribuição dos antecedentes clínicos pessoais dos pacientes que

utilizaram antimicrobianos na UTI adulto do HCGV, Belém, Pará....................

41

Figura 2 – Densidade de consumo por ano: aminoglicosídeos.......................... 45

Figura 3 – Densidade de consumo por ano: cefalosporinas............................... 45

Figura 4 – Densidade de consumo por ano: fluorquinolonas............................. 46

Figura 5 – Densidade de consumo por ano: cabapenens.................................... 46

Figura 6 – Distribuição percentual do consumo por ano: outros

betalactâmicos......................................................................................................

47

Figura 7 – Densidade de consumo por ano: outros antimicrobianos.................. 47

Figura 8 – Distribuição percentual de patógenos Gram-positivo e Gram-

negativo...............................................................................................................

48

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RESUMO

A resistência bacteriana aos antimicrobianos é um problema de saúde pública emergente e de

dimensão mundial. O uso inadequado de antimicrobianos pode ser um fator predisponente ao

surgimento de infecções por micro-organismos multirresistentes. A monitorização do

consumo de antimicrobianos é uma importante estratégica do controle da resistência

bacteriana. Entre os métodos para mensurar o consumo de antimicrobianos a Organização

Mundial de Saúde (OMS) preconiza a metodologia da ATC/DDD (Anatomical Therapeutic

Chemical/ Defined Daily Doses) que tem como objetivo servir de ferramenta para análise da

utilização de medicamentos. É utilizada para converter dados sobre o consumo de

medicamentos de diferentes origens em unidades comparáveis e permite monitorar o consumo

de antimicrobianos e correlacioná-lo com a multirresistência. O objetivo da pesquisa foi

descrever o padrão de consumo de antimicrobianos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de

adultos do Hospital de Clínicas Gaspar Viana (HCGV) na cidade de Belém-Pará, no período

de 2011 a 2012 e, secundariamente, traçar um perfil epidemiológico dos pacientes atendidos

na UTI, descrever as bactérias isoladas de pacientes internados na UTI e o perfil de resistência

e suscetibilidade aos antimicrobianos rotineiramente utilizados, buscar associações entre o

tipo de internação, o consumo de antimicrobianos e a ocorrência de resistência bacteriana. O

presente estudo foi descritivo e retrospectivo. A amostra foi constituída de todos os pacientes

admitidos na UTI adulto do HCGV, totalizando 603 pacientes e correspondendo a 5.219

pacientes-dia. Após as exclusões, a amostra ficou composta de 378 pacientes, os quais

consumiram algum tipo de antimicrobiano sistêmico. Dos 378 pacientes inseridos no estudo,

verificou-se que a média de idade foi de 61,2 anos, 59,5% correspondiam ao sexo masculino.

O tempo de permanência apresentou a média geral de 13 dias, 49,5% dos pacientes possuíam

escolaridade de apenas o 10grau incompleto, 71,2%, uma renda familiar de 1 a 2 salários

mínimos, 97,9% dos pacientes procederam do próprio hospital, da cidade de Belém (49,8%),

sendo que 40,2% foram a óbito. A admissão por motivos clínicos, a categoria de diagnóstico

outras causas clínicas e a hipertensão arterial sistêmica foram mais frequentes (75,7%,

42,12% e 44,16%, respectivamente). Os antimicrobianos mais consumidos foram o

sulfametoxazol associado ao trimetropin (1.004,65 DDD1000), cefepima (690,91 DDD1000),

vancomicina (515,91 DDD1000), imipenem associado à cilastatina (475,83 DDD1000) e

ciprofloxacino (384,10 DDD1000). A infecção de corrente sanguínea, a infecção de ponta de

cateter central, a infecção do trato urinário e a pneumonia foram os principais diagnósticos

topográficos (20%, 31,1%, 23,9% e 20% respectivamente). Entre os isolados bacterianos, os

Estafilococos coagulase-negativo foram predominantes (65,1%). Dentre os pares patógeno-

antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana, os

Estafilococos resistentes à oxacilina, a P. aeruginosa resistente ao ciprofloxacino e à

ceftazidima foram os mais frequentes (11,2%, 11,2% e 10,2%, respectivamente). Não houve

correlação entre o consumo de antimicrobianos e a resistência bacteriana, nos pacientes

clínicos e cirúrgicos, quando analisados estatisticamente. Vale ressaltar a importância desse

estudo para o Estado do Pará, por constituir o primeiro desta natureza, envolvendo a

mensuração do consumo de antimicrobianos em UTI.

Palavras-chaves: Metodologia ATC/DDD, Unidade de Terapia Intensiva, Resistência

bacteriana.

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ABSTRACT

Bacterial resistance to antibiotics is an emerging public health problem and a global

dimension. The inappropriate use of antimicrobials may be a predisposing factor for the

emergence of infections by multiresistant microorganisms. Monitoring of antimicrobial

consumption is a strategic component of the control of bacterial resistance. Among the

methods to measure the consumption of antimicrobials to the World Health Organization

(WHO) recommends the methodology of ATC / DDD (Anatomical Therapeutic Chemical

/ Defined Daily Doses) that aims to serve as a tool for analyzing the use of drugs. It is

used to convert data on the consumption of drugs of different origins in comparable units

and to monitor the consumption of antimicrobials and correlate it with multidrug

resistance. The objective of the research was to describe the pattern of consumption of

antimicrobial Intensive Care Unit (ICU) adults of the Hospital de Clinicas Gaspar Viana

(HCGV) in Belém - Pará, in the period 2011-2012, and secondarily to draw a

epidemiological profile of patients treated in the ICU, describe the bacteria isolated from

ICU patients and the resistance profile and antimicrobial susceptibility routinely used for

associations between the type of hospital, the consumption of antimicrobial agents and

occurrence of antimicrobial resistance. This study was descriptive and retrospective. The

sample consisted of all patients admitted to the ICU adult HCGV, totaling 603 patients

and representing 5,219 patient-days. After exclusions, the sample was composed of 378

patients, which consumed some type of systemic antimicrobial. Of the 378 patients

enrolled in the study, it was found that the average age was 61.2 years, 59.5% were male.

The residence time showed the overall average of 13 days, 49.5% of patients had

schooling only 10 grau incomplete and 71.2%, a household income of 1-2 minimum

wages. 97.9% of patients come from the hospital in the city of Belém (49.8%), and 40.2%

died. Admission for medical reasons, the diagnostic category other clinical causes and

hypertension were more frequent (75.7%, 42.12% and 44.16%, respectively). The

antimicrobials were the most consumed sulfamethoxazole plus trimethoprim (1004.65

DDD1000), cefepime (690.91 DDD1000), vancomycin (515.91 DDD1000), associated with

imipenem cilastatin (475.83 DDD1000) and ciprofloxacin (384.10 DDD1000). A

bloodstream infection, infection of the central catheter tip, a urinary tract infection and

pneumonia were the main topographic diagnoses (20%, 31.1%, 23.9% and 20%

respectively). Among the bacterial isolates, coagulase - negative staphylococci were

predominant (65.1%). Among the antimicrobial - pathogen pairs selected for identifying

the occurrence of bacterial resistance, oxacillin-resistant Staphylococci, P. aeruginosa

resistant to ciprofloxacin and ceftazidime were the most frequent (11.2%, 11.2% and

10.2%, respectively). There was no correlation between the consumption of antimicrobial

agents and antimicrobial resistance in clinical and surgical patients, when analyzed

statistically. It is worth mentioning the importance of this study for the State of Pará, as it

constitutes the first of its kind, involving the measurement of antimicrobial consumption

in ICU.

Keywords: Methodology ATC / DDD, Intensive Care Unit, Bacterial resistance.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

As infecções hospitalares (IH) são definidas pelo Centers for Disease Control and

Prevention (CDC) como infecções locais ou sistêmicas que ocorrem após 48 horas da

admissão hospitalar, até 48 horas após a alta da UTI e 30 dias após a cirurgia sem colocação

de prótese ou 01 ano após a colocação de prótese (PROAMI, 2011).

O paciente pode ter infecção de origem comunitária, quando já presente ou incubada

na época da admissão hospitalar, ou hospitalar, quando do surgimento após 48 horas de

internação (Machado, 2006).

No Brasil a taxa de mortalidade por IH e de 45 mil óbitos por ano e cerca de doze

milhões de internações hospitalares, apesar de já ter sido pior no passado, chegando a quase

100 mil óbitos por ano, devido à péssima estrutura hospitalar na maioria dos hospitais. O

custo desses trágicos índices é altíssimo, cerca de R$ 10 bilhões anuais (Martins, 2006).

As Unidades de Terapia Intensiva (UTI) constituem níveis de assistência à saúde de

alta complexidade, importantes para o suporte de vida para pacientes com falências orgânicas

graves, monitoramento intensivo imprescindível para o diagnóstico precoce e tratamento

adequado das intercorrências clínicas graves (Martins, 2006).

Nas UTI, equipamentos de alta tecnologia e potentes drogas antimicrobianas são

utilizadas para dar suporte na busca da estabilização do quadro clínico e a cura da doença. O

intervencionismo, também, é máximo nas UTI (Machado, 2006).

Há um risco mais alto para os pacientes admitidos na UTI de adquirirem IH, devido à

exposição aos procedimentos invasivos e equipamentos para o suporte de vida contaminados

e micro-organismos resistentes (Carneiro, 2006).

A despeito das especialidades médicas, os pacientes críticos hospitalizados em UTI

são mais vulneráveis à infecção hospitalar em comparação com as demais unidades. É

destacado que na UTI os pacientes têm de cinco a 10 vezes mais probabilidades de contrair

uma infecção hospitalar e que estas podem representar cerca de 20% do total de infecções de

um hospital. O risco de infecção é diretamente proporcional à gravidade da doença, as

condições nutricionais, a natureza dos procedimentos diagnósticos e /ou terapêuticos, bem

como, ao tempo de internação, dentre outros aspectos (Carneiro, 2006; PROAMI, 2011).

Além de elevada incidência não só de novos episódios de infecção, probabilidade 5 a

10 vezes maior que em outras unidades hospitalares, segundo Gusmão et al. (2004), como

surgimento de bactérias multirresistentes, com agravamento do quadro infeccioso e

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13

repercussões dentro da unidade e em todo o hospital, já que egressos da UTI se mantém como

reservatórios desses micro-organismos, disseminando-os intra e interinstitucionalmente

(Carvalho, 2003; Cavalcanti et al., 2005).

Algumas razões podem explicar o fato de que o perfil dos micro-organismos em uma

UTI seja diferente dos demais setores do hospital. A gravidade da doença aumenta a

possibilidade de uso de dispositivos invasivos, os pacientes internados possuem diversas

procedências, como outros hospitais, comunidade e outras unidades da própria instituição.

Pode haver ainda, a descontinuidade de técnica asséptica durante a realização de cuidados

críticos e o tempo de permanência pode ser longo, dependendo do tipo de UTI (Knobel,

2006).

Sendo assim, o problema da IH é agravado ainda mais quando há disseminação de

organismos multidrogarresistentes (MDRO), principalmente nas UTI. Estas representam áreas

de alto risco para a aquisição de infecções por essas bactérias (MDRO), devido ao tempo de

permanência do paciente, ao uso de antimicrobianos e imunossupressores, às doenças de base,

à nutrição do paciente e aos extremos de idade, além de outros aspectos (Martins, 2006).

Cabe lembrar que a problemática da multirresistência se constitui em ameaça à

sociedade, particularmente à indústria farmacêutica, que se encontra sem resposta terapêutica

(Damasceno, 2010; Andrade & Angerami, 1999).

1.2 RESISTÊNCIA BACTERIANA

1.2.1 Mecanismos de Resistência Bacteriana

Segundo PROAMI (2011), “resistência é a medida da redução de sensibilidade de um

agente antimicrobiano para inibir ou cessar o crescimento de um micro-organismo”.

Pouco tempo após a descoberta e a utilização das penicilinas nos tratamentos das

infecções, em 1946, o Staphylococcus aureus já era resistente à penicilina. Nos anos

seguintes, esta resistência já podia ser notada em 29% dos estafilococos isolados em hospitais

e no ano 1959, em hospitais americanos, atingia cerca de 80% (Bauer et al., 1960).

O conceito de micro-organismo multirresistente não é unânime. Segundo as diretrizes

do CDC, o conceito é arbitrário, de acordo com as necessidades e perfil de sensibilidade de

cada instituição (Shlaes et al., 1997).

Comumente, um micro-organismo é considerado resistente a um determinado

antimicrobiano quando a concentração inibitória mínima definida in vitro não pode ser obtida

Page 17: MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO … · 1.3.2 Novos Antimicrobianos ... antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana,

14

no plasma do paciente (Fuchs, 2004; Tavares, 2002). Torna-se usual, também, como critério

analisado, a resistência a dois ou mais antimicrobianos de classes diferentes, para os quais os

micro-organismos são originalmente sensíveis (Couto, 2003).

Portanto, desde o início do século XX, o fenômeno da resistência bacteriana vem

sendo estudado. Em meados de 1941, observou-se que esta poderia ser desenvolvida de forma

natural ou adquirida por cepas individuais dentro de uma população sadia (Damasceno, 2010).

Vários mecanismos de resistência bacteriana têm sido descritos na literatura (Muto et

al., 2003). Segundo PROAMI (2011) a resistência bacteriana pode ser intrínseca, adquirida ou

induzida. A intrínseca, também conhecida como natural, faz parte das características

biológicas dos micro-organismos, sendo observada em determinadas espécies bacterianas em

relação a diferentes antimicrobianos.

Estas determinadas espécies de micro-organismos são consideradas naturalmente

resistentes a uma ou mais classes de agentes antimicrobianos. Nesses casos, o micro-

organismo não possui o alvo molecular para a ação do antimicrobiano ou então são

impermeáveis a ele. Este tipo de resistência é também conhecido como primária e somente

concentrações excessivamente elevadas de antimicrobianos exerceriam efeito sobre estes

micro-organismos (Tenover, 2006; Lim & Webb, 2005).

Na resistência primária, há uma tendência de que todas as espécies de um determinado

micro-organismo sejam resistentes a todos os antimicrobianos daquela classe de

antimicrobianos (Tenover, 2006).

Em condições especiais de crescimento de micro-organismos que aderem nas

superfícies (biofilmes), ocorre a resistência fisiológica. Este mecanismo atua dificultando a

entrada de antimicrobianos e originando um ambiente propício para as trocas genéticas entre

os micro-organismos (Fuchs, 2004).

A resistência adquirida (secundária) ocorre por mutações no cromossomo bacteriano

ou pela transferência ou disseminação de genes de resistência de uma célula para outra, por

meio da inserção, na célula receptora, de fragmentos de DNA que contém esses genes

(PROAMI, 2011; Fuchs, 2004; Tenover, 2006).

Os mecanismos de resistência adquirida são variados e agem sinergicamente para

produzir um fenótipo resistente e incluem alteração nos receptores dos fármacos, redução da

permeabilidade da membrana celular, eliminação do fármaco por bomba de efluxo e

inativação de fármacos (Quadro 1) (Craig, 2004; Lim & Webb, 2005).

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15

Quadro 1 – Mecanismos de resistência bacteriana

Beta-lactâmicos (penicilinas,

cefalosporinas, carbapenêmicos,

aztreonam

Alteração do receptor (proteína

ligadora de penicilina)

S. aureus meticilina resistente

(MARSA), S. pneumoniae

resistente à penicilina, E.

faecium

Redução da permeabilidade Enterobacter spp, P. aeruginosa

Aumento do efluxo P. aeruginosa

Produção de beta-lactamases S. aureus, Enterobactérias

(incluindo ESBL), H. influenzae,

Moraxella catarrhais, N.

gonorrhoeae, E. faecalis

Aminoglicosídeos Inativação enzimática

(acetilação, adenilação,

fosforilação)

S. aureus, Enterococcus spp, P.

aeruginosa, Enterobactérias

Redução da permeabilidade Enterobactérias, P. aeruginosa,

Enterococcus spp

Aumento do efluxo P. aeruginosa

Diminuição da ligação do

ribossomo

S. aureus, E. faecalis e

micobactéria (Streptomicina)

Cloranfenicol Aumento do efluxo H. influenzae

Redução de permeabilidade Enterobactérias

Inativação enzimática

(acetilação)

S. aureus, S. pneumoniae,

Enterococcus spp,

Enterobactérias

Macrolídeos, clindamicina,

quinuspristim

Alteração do receptor (metilação

do RNA ribossomal)

S. aureus, S. pneumoniae,

Streptococcus spp e Bacteróides

fragillis

Aumento do efluxo (não

clindamicina)

S. pneumoniae

Redução da permeabilidade Enterobactérias

Inativação enzimática E. coli, K. pneumoniae, S.

aureus

Linezolida Alteração do receptor Enterococcus spp, S. aureus

Quinolonas Alteração do receptor (DNA

girase, topoisomerase IV)

Enterobactérias, S. aureus

Redução da permeabilidade Enterobactérias, P. aeruginosa

Aumento do efluxo E. coli, P. aeruginosa

Tetraciclinas Alteração do receptor

(ribossomo)

N. gonorrhoeae, Streptococcus

spp

Aumento do efluxo E. coli, S. aureus

Redução da permeabilidade Enterobactérias

Inativação do fármaco Bacteroides fragillis

Rifampicina Alteração do receptor

(subunidade B da polimerase)

E. coli, S. aureus

Sulfonamidas, trimetroprim Alteração do receptor

(dihidripteroato sintetase ou

dihidrofolato redutase)

Enterobactérias, Moraxella

catarrhalis

Aumento da produção do ácido

para-aminobenzóico

S. aureus, N. gonorrhoeae

Redução da permeabilidade P. aeruginosa, Enterobactérias

Vancomicina Alteração do receptor (sítio de

ligação do precursor do

peptideoglicano)

E. faecium, E. faecalis, S. aureus

Fonte: Craig, 2004.

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16

A resistência aos antimicrobianos por alterações no seu receptor geralmente é

adquirida por mutação cromossômica, sendo pouco frequente a participação de plasmídeos e

inclui qualquer modificação do alvo do antimicrobiano causando uma afinidade diminuída

para o mesmo, ou a troca de alvo por outro caminho. Este mecanismo pode ocorrer tanto em

micro-organismos Gram-positivo quanto nos Gram-negativo (Lim & Webb, 2005).

A diminuição da afinidade dos antibióticos beta-lactâmicos pelas proteínas ligadoras

de penicilinas (PBP), sítio natural de ação destes, pode ser a provável causa da resistência a

essa classe de antimicrobianos e pode ser observada, por exemplo, em cepas de Enterococcus

spp e Streptococcus spp (Jacoby, 1999).

A substituição dos receptores-alvo do antimicrobiano por um caminho alternativo é

mais bem ilustrada pelo enterococo resistente à vancomicina (VRE), onde um novo substrato

para a síntese da parede celular é usado, não sendo afetado pela vancomicina (Cetinkaya et

al., 2000).

A redução da permeabilidade da membrana celular geralmente acontece

sinergicamente com outros mecanismos, como a inativação de fármacos, para produzir

resistência clínica quando nenhum dos dois individualmente poderia fazê-lo (Lim & Webb,

2005). Esse mecanismo é influenciado pelo tamanho da molécula dos antimicrobianos e sua

hidrofilia, assim como a existência de porinas na membrana, possibilitando a passagem do

fármaco através dos poros (Nikaido, 1989; Jacoby, 2008).

O mecanismo da impermeabilidade aos antimicrobianos pode ser um dos fatores

responsáveis pela resistência de estafilococos à meticilina, dos micro-organismos anaeróbios

aos beta-lactâmicos e dos bacilos Gram-negativo às quinolonas. Resulta de alterações nas

porinas das membranas externas, com isto havendo o bloqueio da penetração dos fármacos

em seu local de ação (Leung & Williams, 1978; Nord et al., 1985; Jacoby, 2008).

A hidrofobia dos antimicrobianos explica a resistência intrínseca observada em muitas

bactérias Gram-negativo, tais como Stenotrophomonas maltophilia e Pseudomonas.

aeruginosa (Lim & Webb, 2005).

Nos dias atuais, a resistência por alteração na permeabilidade adquirida por mutação

passou a ter uma maior importância ao se descreverem cepas de S. aureus resistentes aos

glicopeptídeos. Estes micro-organismos mostram-se resistentes aos glicopeptídeos

provavelmente por apresentarem espessamento da parede celular, resultante do aumento de

sua síntese provocada por um maior número de proteínas ligadoras de penicilinas. É possível,

também que a resistência dos estafilococos aos glicopeptídeos seja decorrente do

aprisionamento destes antibióticos por resíduos de mucopeptídeo produzido em excesso, com

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17

isto reduzindo a quantidade do antibiótico que chega ao seu local de ação na membrana

citoplasmática (Hanaki et al., 1998; Jacoby, 2008).

Outro mecanismo de resistência bacteriana, o efluxo de fármacos, é a remoção ativa

do fármaco antes que ele se ligue ao receptor alvo (Lim & Webb, 2005). As bombas de efluxo

podem ser substrato-específicas como sistemas de efluxo de tetraciclina e de macrolídeos.

Outras atuam com antibióticos de classes diferentes, como o sistema MexABOprM que pode

exportar uma larga gama de substratos, produzindo resistência cruzada a um grande número

de agentes estruturalmente não relacionados (Poole, 2000). Este sistema foi identificado na P.

aeruginosa (Lim & Webb, 2005).

No entanto, o principal mecanismo molecular de resistência bacteriana é a inativação

dos antimicrobianos por enzimas produzidas pelos micro-organismos tais como,

betalactamases e proteínas de ligação à penicilina (Carneiro, 2006).

As betalactamases são enzimas produzidas pela indução de um grupo específico de

antimicrobianos, os betalactâmicos. Podem ser produzidas por micro-organismos Gram-

positivo e Gram-negativo (Siegel et al., 2007; Tavares, 2002; Veronesi & Focaccia, 2005).

As PBP, também são enzimas produzidas por bactérias, localizadas na membrana

citoplasmática, responsáveis pelo sítio de ação dos betalactâmicos (Brasil, 2010; Pereira et al.,

2010).

Algumas espécies de bactérias Gram-negativo são produtoras naturais de

betalactamase, tornando-as resistentes às cefalosporinas, entre elas estão os gêneros Proteus,

Klebsiella, Enterobacter, Pseudomonas e Serratia (Knobel, 2006).

A resistência induzida resulta de genes presentes nos cromossomos bacterianos que

são reprimidos em razão da presença de substância repressora. Trata-se de uma resistência

natural reprimida, que genotipicamente se manifesta como resistência adquirida (Tavares,

2002).

1.2.2 Epidemiologia dos Organismos Multidrogarresistentes

A resistência bacteriana possui características próprias de cada região e suas taxas vêm

aumentando progressivamente em todo mundo, desde 1990 (Carneiro, 2006). De acordo com

o CDC, de Atlanta, Estados Unidos, as IH causadas por micro-organismos multirresistentes

aumentaram dramaticamente no ano de 1990 (Murthy, 2001).

Os MDRO de maior prevalência nas unidades de assistência à saúde são:

Staphylococcus aureus, Enterococcus sp resistente à vancomicina (VRE), Enterobacteriaceae

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18

produtoras de betalactamase de espectro estendido (ESBL), Streptococcus pneumoniae

multidrogarresistente (MDR) e bacilos Gram-negativo não fermentadores (Pseudomonas

aeruginosa, complexo Acinetobacter baumannii, entre outros) (PROAMI, 2011).

Em UTI, de acordo com o estudo Programa de Vigilância Epidemiológica e

Resistência Antimicrobiana (SENTRY), na América Latina e no Brasil, que reuniu dados

relativos no período de janeiro de 1997 a dezembro de 2001, os micro-organismos mais

frequentes são S. aureus (21,7%), P. aeruginosa (18,1%) e Escherichia coli (11,7%) (Sader et

al., 2004).

Os primeiros casos isolados de S. aureus resistente à meticilina e a aminoglicosídeos

(MARSA) datam de 1968, alcançando taxas de prevalência de 50% em pacientes

hospitalizados na década de 1990. Em 2003, observou-se um aumento (59,5%) e posterior

queda nas taxas entre 2005 e 2008, provavelmente, devido à queda de infecções de pacientes

com acesso venoso central. No Brasil, as taxas de incidência se encontram entre 30 a 60% das

infecções em UTI (Brasil, 2010).

Em 1999, o National Nosocomial Infection Surveillance (NNIS) registrou que mais de

50% dos isolados de S. aureus de pacientes em UTI constituíam-se de MARSA. A crescente

prevalência também se destaca com VRE, que entre 1990 e 1997 aumentou de menos de 1%

para 15%. Em 2003, o NNIS registrou 28,5%. Para P. aeruginosa, entre 1999 e 2003 houve

um aumento de 23% para 29,5% a resistência às fluorquinolonas em UTI (Damasceno, 2010).

Os VRE também se tornaram um problema sério nas UTI. A prevalência das infecções

por esses micro-organismos vem aumentando progressivamente. Na década de 1990, era de

15% e em 2003, passou a 28,5%. No Brasil, os primeiros casos isolados de VRE são do ano

de 1996, e nos últimos anos, suas taxas estão em torno de 7% (Tavares, 2002; Brasil, 2010).

A evolução das infecções em UTI por Enterobacteriaceae produtoras de ESBL se deu

em grandes proporções. Em estudos do CDC, de 2006 a 2007, as taxas de prevalência

avançaram de 21 para 27%, para K. pneumoniae, e de 6 para 11%, para E. coli. No Brasil, o

predomínio é de E. coli, K. pneumoniae e espécies de Enterobacter e em 2006, foram

identificadas as primeiras cepas de K. pneumoniae produtoras de carbapenemases (KPC)

(Rossi et al., 2006; PROAMI, 2011).

Estudo multicêntrico em 75 UTI, realizado no Brasil, em 2006, demonstrou que a P.

aeruginosa resistente ao meropenem é a mais prevalente, com taxas entre 40 e 59%. Outros

estudos realizados em UTI da África, América Latina, Ásia e Europa, no período de 2003 a

2008, mostraram que 44% das cepas isoladas eram resistentes ao meropenem, 50% às

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19

fluorquinolonas, 78% à piperacilina associado ao tazobactam, 73% à cefepime e 13% à

amicacina (Siegel, 2007; Fraimow & Tsigrelis, 2011; Rossi et al., 2006; Sader et al., 2004).

Considerando os bacilos Gram-negativo não fermentadores, além da P. aeruginosa,

destaca-se ainda, o A. baumannii. No Brasil, assim como em outros centros, predomina o

complexo A. baumannii, entre os MDRO, com prevalência de resistência aos carbapenêmicos

de 25 a 45% (PROAMI, 2011).

De acordo com resultados do SENTRY para a América Latina e Brasil, os bastonetes

Gram-negativo não fermentadores (Acinetobacter spp. e P. aeruginosa) multirresistentes e as

Enterobacteriaceae (E. coli, Salmonella sp., Shigella sp. e P. mirabilis) produtoras de ESBL

constituem o principal problema de farmacorresistência. Observam-se altas taxas de isolados

resistentes, exceto às polimixinas, desde o início do programa, em 1997 (Damasceno, 2010).

A P. aeruginosa é a bactéria mais frequente em infecções em terapia intensiva,

variando de 3,4% em infecções de corrente sanguínea até 18,1% em pneumonias. As espécies

Acinetobacter sp são a quarta mais frequente com variações de 1,6% em infecções urinárias

até 6,9% em pneumonias (Gaynes & Edwards, 2005).

A resistência à oxacilina, entre os estafilococos representa um grande problema na

América Latina e nos Estados Unidos (Sader et al., 2004).

Uma análise do Meropenem Yearly Susceptibility Test Information Collection

(MYSTIC) em sete centros brasileiros, distribuídos entre São Paulo, Rio de Janeiro,

Florianópolis e Brasília, durante o ano de 2002, constatou que os micro-organismos mais

frequentes foram: P. aeruginosa e A. baumannii, com elevadas taxas de resistência a todos os

antimicrobianos testados, inclusive carbapenêmicos, imipenem e meropenem (Damasceno,

2010).

O estudo sobre a prevalência estendida de infecções em terapia intensiva (EPIC II),

realizado em 2007, coletou dados de um único dia em 1.265 UTI de 75 países e analisou

dados de 13.796 adultos (> 18 anos). No dia do estudo, 7.087 dos 13.796 pacientes (51%)

foram considerados infectados e 9.084 (71%) foram medicados com antibióticos. A infecção

era de origem respiratória em 4.503 (64%) pacientes, e os resultados de cultura

microbiológica foram positivos em 4.947 (70%) dos pacientes infectados, 62% das amostras

foram positivos gram-negativos, 47% foram gram-positivos e 19% eram fungos. Os pacientes

que estiveram mais tempo na UTI antes do dia do estudo tiveram taxas mais altas de infecção,

principalmente devido a infecções por estafilococos resistentes, Acinetobacter, Pseudomonas

spp e espécies de Candida. A taxa de mortalidade em UTI de pacientes infectados foi mais

que o dobro dos pacientes não infectados (25% vs 11%), assim como a taxa de mortalidade

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20

hospitalar (33% vs 15%). Nesse grande grupo, a infecção foi independentemente associada

com um aumento do risco de óbito hospitalar. A incidência de infecção causada por

Acinetobacter foi de 8,8%, variando desde 3,7% em países da América do Norte até 19,2%

em países asiáticos, enquanto a variação de infecções por Pseudomonas foi de 12,9% na

América do Norte até 28,9% em países do oeste europeu, com uma média mundial de 19,9%

(Vincent et al., 2009).

A exposição aos antimicrobianos e, consequentemente, seu uso inadequado, se

constitui no principal fator associado ao risco de desenvolvimento de resistência. Dentro deste

cenário, os principais patógenos associados à infecção nosocomial e que, ao mesmo tempo,

representam os maiores riscos em relação a padrões de resistência que limitem nossas

alternativas terapêuticas, foram agrupados em um acrônimo e são conhecidos como patógenos

ESKAPE (Quadro 2) (Boucher et al., 2009).

Quadro 2 – Patógenos ESKAPE

E – Enterococcus faecium (VRE)

S – Staphylococcus aureus (MARSA)

K – Klebsiella e Escherichia coli produtoras de ESBL

A – Acinetobacter baumanni

P – Pseudomonas aeruginosa

E – Enterobacteriaceae

Fonte: Boucher et al., 2009.

Apesar de não compartilharem os mesmos mecanismos de indução de resistência,

todos tem em comum uma prevalência que vem crescendo progressivamente em virtude da

pressão seletiva exercida pelas políticas, ou ausência delas, de uso de antimicrobianos,

principalmente nas UTI. Por outro lado, o desenvolvimento de novas drogas que pudessem

ampliar o arsenal terapêutico, minimizando assim o impacto clínico do aumento da

resistência, é extremamente restrito, não havendo neste momento drogas em desenvolvimento

para a maioria dos patógenos incluídos no conceito ESKAPE, especialmente Gram-negativo

(Cooper, 2011).

Page 24: MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO … · 1.3.2 Novos Antimicrobianos ... antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana,

21

1.2.3 Monitoramento dos Organismos Multidrogarresistentes

Os antimicrobianos revolucionaram o tratamento das infecções. Porém, o uso

indiscriminado destes, fez emergir rapidamente o surgimento de resistência bacteriana. Desde

o aparecimento de bactérias Gram-positivo resistentes às penicilinas, após a Segunda Guerra

Mundial, a resistência bacteriana apresenta prevalência crescente nas instituições de saúde

(Wannmacher, 2004).

Organizações internacionais, governos e sociedade civil têm se empenhado

exaustivamente no sentido de buscar iniciativas para o combate ao aparecimento e

disseminação de MDRO. Nas últimas décadas, destacam-se os monitoramentos da resistência

bacteriana e do consumo de antimicrobianos, como ações que têm sido colocadas em prática

(Hicpac, 2008; Silveira et al., 2006).

A prioridade dessas ações é conhecer o padrão de resistência e de utilização de

antimicrobianos. Esses dados são importantes para se conseguir estabelecer padrões que

servirão de base para a avaliação de intervenções destinadas a conter o aparecimento e a

disseminação da resistência bacteriana, assim como, melhorar a utilização dos

antimicrobianos (Hicpac, 2008; Silveira et al., 2006).

No Brasil, destacam-se algumas iniciativas, como o Programa de Vigilância

Epidemiológica e Resistência Antimicrobiana (SENTRY) para a América Latina e Brasil e o

estudo multicêntrico de vigilância anual Meropenem Yearly Susceptibility Test Information

Collection (MYSTIC) (Sader et al., 2004; Mendes et al., 2005).

O SENTRY foi planejado para monitorar a suscetibilidade aos antimicrobianos dos

micro-organismos causadores das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) e de

infecções na comunidade e as tendências da resistência bacteriana em escala global.

Similarmente, o MYSTIC é um programa de vigilância longitudinal que acompanha o padrão

de suscetibilidade de bastonetes Gram-negativo isolados de infecções nosocomiais aos

antimicrobianos (Damasceno, 2010).

A American Society for Microbiology Society for Healthcare Epidemiology of

America e a Infections Diseases Society of America vêm realizando estudos em hospitais com

o objetivo de monitorar e identificar a relação entre o uso de antimicrobianos e resistência

bacteriana em pacientes internados em UTI (Rossi et al., 2006).

O programa Intensive Care Antimicrobial Resistance Epidemiology (ICARE),

utilizado para avaliação de resistência bacteriana, estudou combinações de patógenos-

Page 25: MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO … · 1.3.2 Novos Antimicrobianos ... antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana,

22

antimicrobianos pré-selecionados (Quadro 3), que podem representar um problema clínico e

epidemiológico potencial.

Quadro 3 – Pares patógeno-antimicrobiano utilizados em estudos de resistência (Projeto

ICARE)

Patógeno Antimicrobiano A. baumanni Ceftazidima A. baumanni Imipenem ou meropenem A. baumanni Amicacina

E. coli Ceftazidima ou ceftriaxona ou cefotaxima E. coli Imipenem ou meropenem Enterobacter spp Ceftazidima ou ceftriaxona ou cefotaxima Enterobacter spp Imipenem ou meropenem Enterococcus spp. Vancomicina Estafilococos coagulase-negativo

Oxacilina ou meticilina

Estafilococos coagulase-negativo

Vancomicina Klebsiella pneumoniae Ceftazidima ou ceftriaxona ou cefotaxima P. aeruginosa Ceftazidima P. aeruginosa Imipenem P. aeruginosa Ciprofloxacino ou ofloxacino ou

levofloxacino P. aeruginosa Piperacilina/tazobactam P. aeruginosa Amicacina

S. aureus Oxacilina ou meticilina S. aureus Vancomicina Streptococcus pneumoniae Penicilina Streptococcus pneumoniae Ceftriaxona ou cefotaxima

Fonte: Carneiro, 2006.

1.2.4 Fatores de Risco para Emergência de Resistência Bacteriana aos

Antimicrobianos

As UTI são reservatórios frequentes de bactérias multirresistentes. O risco de um

paciente adquirir MDRO é diretamente proporcional ao número de dias de internação e de

exposição aos micro-organismos (Knobel, 2006).

Dependendo do tipo de unidade, os pacientes são admitidos na UTI com um quadro

infeccioso comunitário instalado ou associado à assistência à saúde ou desenvolvem no

decorrer da internação, culminando com o uso constante de antimicrobianos (PROAMI,

2011).

Os fatores de risco para IH podem ser divididos em intrínseco e extrínseco. O risco

intrínseco é a predisposição para infecção, determinada pelo tipo e gravidade da doença de

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base do hospedeiro, varia de intensidade e altera os mecanismos naturais de defesa (Carvalho,

2003; Couto, 2003; Couto & Pedrosa, 2005; Lima, 2007).

O risco extrínseco pode ser classificado de acordo com a estrutura (conjunto de

recursos materiais a disposição do trabalhador de saúde para que ele possa prestar assistência

- máquinas, equipamentos, insumos, número de pessoas e área física), com as agressões ao

hospedeiro (cateter venoso central, sonda vesical de demora e os ventiladores mecânicos,

entre outros) e com a qualidade do processo de trabalho ou cuidado dispensado ao paciente

pela equipe de assistência (Couto, 2003; Couto & Pedrosa, 2005).

Os fatores intrínsecos do paciente associado à pressão seletiva dos antimicrobianos

representa o maior fator de risco para o desenvolvimento de resistência bacteriana (Carneiro,

2006).

É importante frisar que o paciente crítico é o epicentro do surgimento de MDRO nos

hospitais, e a partir daí, ocorrer disseminação para todo o hospital, atingindo também a

comunidade (Fraimow & Tsigrelis, 2011).

Segundo o PROAMI (2011), são considerados de risco para a colonização ou infecção

por MDRO, os pacientes que apresentarem uma das seguintes situações: internação em UTI

ou unidade de queimados; utilização prévia de antimicrobianos de amplo espectro;

cateterismos (vesical, vascular e central); co-morbidades associadas; vítimas de trauma;

egressos de hospital de longa permanência ou de casa de repouso; insuficiência renal;

ventilação mecânica; infecção de sítio cirúrgico; leito próximo ao de um paciente colonizado;

imunossupressão; lesão de partes moles; longa permanência hospitalar.

Portanto, múltiplos fatores de risco têm sido associados com a emergência e

disseminação de MDRO em hospitais. Micro-organismos resistentes podem ser introduzidos

em uma população por transferência de pacientes de outras unidades de atendimento médico

ou da comunidade. A exposição a antimicrobianos exerce pressão seletiva sobre essas

populações de micro-organismos e é fator decisivo para o crescimento das taxas de resistência

(Shlaes et al., 1997; Goldman & Huskins, 1997).

Padrões de prescrição de antimicrobianos têm sido associados à emergência de

resistência, como prescrição excessiva sem evidências clínicas ou microbiológicas

consistentes, uso de antimicrobianos de amplo espectro como profilaxia e tratamento empírico

de infecções, prescrição de antimicrobiano por tempo muito prolongado antes ou após

cirurgia, associações de antimicrobianos incorretas ou desnecessárias, tratamento de

colonizações interpretadas como infecção, doses e duração de tratamentos inadequados

(Shlaes et al., 1997; Murthy, 2001; CDC, 2003).

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Avanços no tratamento de câncer, transplantes e a própria AIDS têm gerado maior

número de pacientes imunossuprimidos que requerem tratamento empírico e contribuem para

a pressão seletiva dos antimicrobianos. Outros fatores importantes são a baixa adesão dos

profissionais às medidas de controle de IH e a influência da indústria farmacêutica (Shlaes et

al., 1997; Murthy, 2001; CDC, 2007; Goldman & Huskins, 1997).

Os antimicrobianos mais envolvidos com aquisição de micro-organismos

multirresistentes em pacientes hospitalizados são: fluorquinolonas, cefalosporinas de terceira

geração, ampicilina associado ao sulbactam e imipenem (Gaynes, 1997; Jacoby, 2008).

Vários estudos exploram a relação entre o uso excessivo de cefalosporinas de terceira

geração, especialmente a ceftazidima, e a seleção de Gram-negativo resistentes e MRSA.

Também é bem documentada a pressão seletiva de antimicrobianos para a ocorrência de

enterococo resistente a vancomicina nos hospitais (Ruttimann et al., 2004; Bantar et al., 2003;

Kolar et al., 2006).

1.3 ANTIMICROBIANOS

1.3.1 Mecanismos de Ação dos Antimicrobianos

Os antimicrobianos vêm sendo utilizados para o tratamento de infecções, contribuindo

de forma considerável para a diminuição da mortalidade e morbidade, desde o surgimento das

sulfas em 1935 e com as penicilinas em 1940 (Fuchs, 2004; Craig, 2004).

Podem ser caracterizados como substâncias que provocam a inibição do crescimento,

ou mesmo, a morte de micro-organismos. Classificam-se em antibacterianos, antivirais,

antifúngicos, antiprotozoários e antihelmínticos, de acordo com a origem, são divididos em

antibióticos, produzidos por micro-organismos (bactérias e fungos) e quimioterápicos, quando

sintetizados, parcial ou totalmente, em laboratório (Fuchs, 2004; Jacoby, 2008).

Os mecanismos de ação dos antimicrobianos são diversos e interferem em processos

metabólicos ou em estruturas do micro-organismo. Interferência na síntese da parede celular,

alterações na permeabilidade da membrana citoplasmática, interferência na replicação do

cromossoma e interferência na síntese proteica são exemplos dos mecanismos de ação

(Tenover, 2006). O Quadro 4 descreve os mecanismos de ação doa antimicrobianos com o

sitio de ação e seu efeito.

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25

Quadro 4 – Mecanismos de ação dos antimicrobianos

Agente Sítio de ação Efeito

Beta-lactâmicos (penicilinas,

cefalosporinas,

carbapenêmicos,

monobactâmicos (aztreonam))

Parede celular: proteínas ligadoras

de penicilina (PBPs).

Inibe a transpeptidação, impede

a síntese da parede celular.

Vancomicina, teicoplanina Parede celular: terminal D-alanil-

D-alanina do pentapeptídeo

precursor do peptideoglicano.

Inibe a polimerização dos

sacarídeos precursores de

peptideoglicano.

(transglicosilação), impede a

síntese da parede celular.

Aminoglicosídeos Síntese proteica: subunidade 30s do

ribossomo.

Inibe o alongamento do

peptídeo, causa leitura errada do

código genético, inibe a síntese

proteica.

Tetraciclina Síntese proteica: subunidade 30s do

ribossomo.

Inibe a ligação com tRNA, inibe

a síntese proteica.

Cloranfenicol Síntese proteica: subunidade 50s do

ribossomo.

Bloqueia a ligação amino-acil do

tRNA.

Macrolídeos Síntese proteica: subunidade 50s do

ribossomo.

Bloqueia a transferência do

aminoácido ao peptídeo, inibe a

síntese proteica.

Clindamicina Síntese proteica: subunidade 50s do

ribossomo.

Bloqueia a transferência do

aminoácido ao peptídeo, inibe a

síntese proteica.

Quinuspristina, dalfopristina Síntese proteica: subunidade 50s do

ribossomo.

Bloqueia a extrusão de cadeias

peptídicas, inibe a síntese

proteica.

Oxazolidinas (linezolida) Síntese proteica: subunidade 50s do

ribossomo.

Bloqueia a formação do

complexo de iniciação 70s, inibe

a síntese proteica.

Rifampicina Síntese do ácido nucleico:

subunidade B do DNA –

dependente RNA polimerase.

Inibe a síntese do RNA.

Metronidazol Síntese do ácido nucleico. Causa danos aos ácidos

nucleicos, inibe a síntese do

DNA.

Quinolonas Síntese do ácido nucleico: DNA

girase e topoisomerase IV.

Dificultam o espiralamento do

DNA, inibe a síntese do DNA.

Sulfonamidas Síntese do ácido fólico:

dipropteroato sintetase.

Inibição competitiva com a

síntese do diidrofolato para ácido

p-aminobenzóico, pteroato e

ácido glutâmico.

Trimetroprim Síntese do ácido fólico:

dihidrofolato redutase.

Inibe a redução do diidrofolato

ao ácido tetrahidrofólico.

Fonte: Craig, 2004.

1.3.1.1 Interferência na Síntese da Parede Celular

Este mecanismo proporciona atividade bactericida por provocar inibição da síntese da

parede celular. Esta serve como barreira osmótica, permitindo que as bactérias retenham

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26

nutrientes, proteínas essenciais e ácidos nucleicos no seu interior e mantenham certas

moléculas em seu interior (Koch, 2003; Jacoby, 2008).

As bactérias Gram-positivo e Gram-negativo possuem constituições diferentes da

parede celular, porém possuem um componente comum, conhecido como peptideoglicano

(Koch, 2003).

Nos micro-organismos Gram-positivos, esse mucopeptídeo corresponde a 60%

(sessenta por cento) da parede celular, sendo o restante constituído de ácidos teóicos,

ribonucleato de magnésio e carboidratos. Já nos Gram-negativo, o mucopeptídeo compreende

10% (dez por cento) da parede, formando, então, uma camada basal sobre o qual se situa uma

camada externa composta por lipopolissacarídeos, fosfolipídeos e proteínas (Opal & Cohen,

1999; Ginsburg, 2002).

A síntese desse mucopeptídeo ocorre em três etapas, sendo que as duas primeiras

ocorrem no citoplasma bacteriano e resultam na formação de um composto derivado do ácido

N-acetilmurâmico com um pentapeptídeo. Este será transportado para fora da membrana

citoplasmática através de um fosfolipídeo, juntamente com moléculas de N-acetilglicosamina.

A terceira etapa ocorrerá, então, no meio externo com as reações de transglicosilação e

transpeptidação (Mainardi et al., 2002).

As proteínas situadas na face externa da membrana citoplasmática que participam da

terceira etapa da biossíntese das novas moléculas de peptideoglicano, são conhecidas como

proteínas ligadoras de penicilina ou PBP (Penicilin-Binding Proteins). Estas possuem

atividade enzimática de transgloicosidases, transpeptidases, carboxipeptidases e

endopeptidases (Periti & Mazzei, 1999).

As PBP são os principais alvos dos antibióticos beta-lactâmicos (penicilinas,

cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactâmicos), inibindo sua ação e, consequentemente a

formação do peptideoglicano, ocorrendo a lise osmótica (Singh, 2004).

1.3.1.2 Alterações na Permeabilidade da Membrana Citoplasmática

É outro mecanismo de ação dotado de atividade bactericida. Ocorre alteração na

estrutura da membrana citoplasmática, por mecanismo físico-químico, o que determina a

alteração de sua permeabilidade, havendo a saída de elementos vitais à célula, como fosfatos,

íons, purinas e ácidos nucleicos, ou entrada de substâncias nocivas ao metabolismo

bacteriano, levando a morte bacteriana. A morte celular pode ocorrer, também, por alterações

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27

do sistema respiratório da célula. As polimixas e a tirotricina utilizam esses mecanismos de

ação (Yao & Moellering, 2007; Jacoby, 2008).

1.3.1.3 Interferência na Replicação do DNA

A rifampicina, o ácido nalidíxico e as quinolonas exercem atividade bactericidade

através deste mecanismo de ação, ligando-se à topoisomerase. No processo de replicação do

DNA, ocorrem dois fenômenos físicos: a desnaturação e a renaturação da dupla fita, ou seja,

fusão da dupla fita realizada principalmente pela topoisomerase, e reanelamento formando

uma nova fita (Waga & Stillman, 1998; Hardy & Cozzareli, 2003).

1.3.1.4 Interferência na Síntese Proteica

Esse mecanismo de ação tem atividade bacteriostática e bactericida, dependendo da

dose utilizada, evitando o desenvolvimento da síntese de proteínas. A síntese proteica pode

sofrer interferência em várias fases, como na formação dos RNA (RNA mensageiro, RNA

ribossomal e RNA de transporte), na fixação do mRNA ou tRNA ao ribossomo. As

rifampicinas, o cloranfenical, as lincosaminas, as tetraciclinas e os macrolídeos são exemplos

de classes de antimicrobianos que utilizam esse mecanismo de ação (Sachs et al., 1997;

Jacoby, 2008).

1.3.2 Novos Antimicrobianos

Novos antimicrobianos para uso em UTI foram apresentados como soluções para

problemas relacionados à emergência de resistência. Entretanto, seu uso deve ser limitado,

preferencialmente àqueles casos de infecções causadas por micro-organismos resistentes que

não possam ser resolvidos com antimicrobianos mais simples.

1.3.2.1 Linezolida

É a primeira oxazolidinona a ser comercializada para uso clínico contra infecções

causadas por bactérias Gram-positivo. É ativa contra o S. aureus resistentes à oxacilina e

vancomicina, S. pneumoniae resistente à penicilina e Enterococcus faecalis e Enterococcus

faecium resistentes à ampicilina e à vancomicina (Potoski et al., 2002; Paladino, 2002;

Yanagihara et al., 2002).

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28

Deve ser utilizado criteriosamente em pacientes com infecções graves, preferindo os

que não apresentam boa evolução com a vancomicina ou que apresentam resistência a esse

agente antimicrobiano revelado no antibiograma (Moyllet et al., 2003; Bimingham et al.,

2003) .

Atua inibindo a síntese proteica ao ligar-se à subunidade ribossômica 50S, deformando

o RNA transportador e inibindo sua ligação ao ribossoma e, dessa forma, inibindo o início da

formação da cadeia peptídica. Essa inibição é dependente de concentração do fármaco

(Stanton et al., 2002; Prystowsky et al., 2001).

1.3.2.2 Estreptograminas: Quinupristina/Dalfopristina

Estreptograminas são antibióticos com estrutura complexa em que um dos

componentes é um macrolídeo. A quinuspristina/dalfopristina é a primeira estreptograminas

disponível para uso comercial. É composta por duas moléculas semi-sintéticas derivadas do

Streptomyces pristinaespirali (quinuspristina – estreptogramina tipo I ou grupo B e a

dalfopristina – estreptogramina do tipo II ou grupo A) (Eliopoulos, 2003).

A mistura dessas moléculas na proporção de 30:70 proporciona atividade

antibacteriana sinérgica in vitro contra uma grande variedade de bactérias Gram-positivo

resultando em uma atividade antibacteriana 16 a 100 vezes maior que cada componente

isoladamente. Atua inibindo a síntese proteica ao se ligar na unidade 50S do ribossomo

(Eliopoulos et al., 2002).

Está indicada nas infecções causadas por bactérias Gram-positivo resistentes à

meticilina e à vancomicina. Dentre os Gram-positivo pode ser utilizada contra os

estafilococos resistentes aos glicopeptídeos e também nas infecções causadas pelo

Enterococcus faecium. Não é recomendada para o tratamento de infecções causadas pelo S.

pneumoniae com elevada resistência á penicilina (Manzella, 2001).

Especificamente em UTI, a quinuspristina/dalfopristina deve ser utilizada em casos de

estafilococo ou enterococo com comprovada resistência à vancomicina nos quais não se

possa, por algum motivo, fazer uso de linezolida. Relatos isolados de resistência à linezolida

têm surgido em pesquisas internacionais e a quinuspristina/dalfopristina deve ter seu uso

reservado a estas situações clínicas (Eliopoulos et al., 2002).

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29

1.3.2.3 Carbapenem: Ertapenem

Novo antibiótico betalactâmico, pertencente à classe carbapenem, com amplo espectro

de atividade bacteriana contra bactérias Gram-positivo, Gram-negativo e anaeróbios

(Friedland et al., 2002).

Suas características antibacterianas são semelhantes aos demais carbapenens

disponíveis no Brasil, o imipenem e o meropenem, diferindo destes principalmente pelas suas

características farmacocinéticas e pela maior atividade contra cepas de pseudômonas e

acinetobacter (Fuchs et al., 2001; Sundelof et al., 1997).

O ertapenem atua como os demais antibióticos betalactâmicos, inibindo a síntese da

parede celular através da sua ligação às PBP e consequente inibição do peptideoglicano, que

constitui um pré-requisito para a síntese da parede celular. A inibição da síntese da parede

celular provoca lise e morte da bactéria (Caierão et al., 2004; Singl, 2004).

Sua indicação em UTI seria após um tratamento inicial com outros carbapenens

(meropenem e imipenem). Entretanto, é necessário lembrar que muitas cepas, principalmente

de Acinetobacter e P. aeruginosa, são resistentes ao ertapenem e sensíveis aos outros

carbapenens, havendo sempre a necessidade de testes de sensibilidade (Caierão et al., 2004;

Friedland et al., 2002).

1.3.2.4 Oritavancina

É um glicopeptídio semi-sintético de segunda geração. Seu uso está sendo indicado

como um novo tratamento para infecções Gram-positivas, sendo sua maior vantagem à

atividade em bactérias Gram-positivas com resistência à meticilina e vancomicina (Allen &

Nicas, 2003; Barrett, 2001).

Encontra-se em fase III de pesquisa clínica e vários estudos estão sendo realizados

para provar a eficácia e segurança nestas indicações (Caierão et al., 2004).

1.3.3 Uso Racional de Antimicrobianos

Aproximadamente, 40% dos pacientes hospitalizados são tratados com

antimicrobianos, seja de forma profilática ou terapêutica. O uso adequado dos

antimicrobianos tem se tornado uma das principais preocupações mundiais, pois a

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30

inadequação nas prescrições desses medicamentos tem proporcionado o aparecimento mais

frequente de MDRO (Rodrigues & Bestoldi, 2010).

Em trabalhos publicados sobre o uso de antimicrobianos nos Estados Unidos, foi

constatado que mais da metade desse uso é inadequado. O seu uso excessivo em hospitais

contribui para o desenvolvimento de resistência bacteriana, aumentando os custos hospitalares

e os riscos de reações adversas a medicamentos (Damasceno, 2010).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso inadequado dos

medicamentos tem características como a prescrição em excesso, omissão da prescrição, dose

inadequada, duração inapropriada, seleção inadequada, gasto desnecessário ou risco

desnecessário (Hicpac, 2008).

Vários são os fatores que se entrelaçam para que se consiga o uso racional de

medicamentos, entendendo-se o mesmo como o processo que compreende a prescrição

apropriada, a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis, a dispensação em condições

adequadas, o consumo nas doses e pelo período de tempo indicados e nos intervalos definidos

de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade (Hicpac, 2008; Silveira, et al., 2006).

A OMS propõe que, para o uso racional de medicamentos, é preciso, em primeiro

lugar, estabelecer a necessidade do uso do medicamento; a seguir, que se receite o

medicamento apropriado, a melhor escolha, de acordo com os ditames de eficácia e segurança

comprovados e aceitáveis. Além disso, é necessário que o medicamento seja prescrito

adequadamente, na forma farmacêutica, doses e período de duração do tratamento; que esteja

disponível de modo oportuno, a um preço acessível, e que responda sempre aos critérios de

qualidade exigidos; que se dispense em condições adequadas, com a necessária orientação e

responsabilidade, e, finalmente, que se cumpra o regime terapêutico já prescrito, da melhor

maneira possível. Conceito semelhante também é proposto pela Política Nacional de

Medicamentos (Hicpac, 2008; Silveira et al., 2006).

De acordo com a definição do uso racional de medicamentos proposta pela Política

Nacional de Medicamentos, os requisitos para a sua promoção são muito complexos e

envolvem uma série de variáveis, em um encadeamento lógico. Para que sejam cumpridos,

devem contar com a participação de diversos atores sociais: pacientes, profissionais de saúde,

legisladores, formuladores de políticas públicas, indústria, comércio e governo (França &

Costa, 2006).

O Ministério da Saúde do Brasil criou o Comitê Nacional para a Promoção do Uso

Racional de Medicamentos por meio da Portaria n0 427/07, o que vem a atender uma

recomendação da OMS, com a finalidade de minimizar tal problema. O Comitê desenvolve

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31

ações estratégicas para ampliar o acesso da população à assistência farmacêutica e para

melhorar a qualidade e segurança na utilização dos medicamentos (Brasil, 2010).

De uma maneira geral, as soluções propostas para reverter ou minimizar este quadro

devem passar pela educação e informação da população, maior controle na venda com e sem

prescrição médica, melhor acesso aos serviços de saúde, adoção de critérios éticos para a

promoção de medicamentos, retirada do mercado de numerosas especialidades farmacêuticas

carentes de eficácia ou de segurança e incentivo à adoção de terapêuticas não medicamentosas

(Carneiro, 2006).

A prevenção da disseminação de bactérias resistentes nos estabelecimentos de saúde

se justifica pelas reduzidas alternativas de tratamento das infecções, devido a seu padrão de

não resposta a determinados antimicrobianos, apesar das manifestações clínicas semelhantes

àquelas originadas de organismos sensíveis. As infecções causadas por micro-organismos

resistentes prolongam o período de internação, elevam custos e provocam a mortalidade. As

repercussões são percebidas também nos altos custos sociais, com decréscimo da

produtividade e da qualidade de vida para os pacientes e familiares (Hicpac, 2008).

O impacto econômico da resistência bacteriana afeta de forma diferente os diversos

atores envolvidos no processo de fornecimento e uso de antimicrobianos. O prescritor tem o

custo da ineficácia da terapia convencional, com eventual perda de pacientes. O paciente tem

o custo da doença não solucionada e de eventual morte, onerando-se com a exigência de

medicamento alternativo. Por sua vez, o sistema público de saúde gasta excessivamente,

desequilibrando recursos geralmente escassos. Para a indústria farmacêutica, a resistência

bacteriana é um incentivo para desenvolver novos fármacos. Já na “visão social”, há uma

redução de fonte de saúde (infecções mais graves, menos fármacos eficazes para a população

(Rodrigues & Bestoldi, 2010).

As organizações de saúde e a comunidade científica em geral vêm lançando apelos

para incentivar o uso racional desses recursos. Recomendações abrangentes foram propostas

e, entre essas, a monitorização do uso dos antimicrobianos e da resistência bacteriana.

Entre os métodos para mensurar o consumo de antimicrobianos a Organização

Mundial de Saúde (OMS) preconiza a metodologia da ATC/DDD (Anatomical Therapeutic

Chemical/ Defined Daily Doses) que tem como objetivo servir de ferramenta para análise da

utilização de medicamentos. É utilizada para converter dados sobre o consumo de

medicamentos de diferentes origens em unidades comparáveis e permite monitorar o consumo

de antimicrobianos e correlacioná-lo com a multirresistência (Rossi et al., 2006)

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Em função deste quadro, é de grande interesse a realização de estudos de consumo de

antimicrobianos que permitam realizar comparações em distintos âmbitos sanitários e

localidades geográficas. Estes estudos servem principalmente de subsídios para que os

gestores possam revisar a política de antimicrobianos existente e avaliar sua aceitação e

cumprimento. O uso da metodologia ATC/DDD como forma de padronizar a quantificação

dos medicamentos utilizados, permite comparações de taxas de consumo através do tempo

(WHO, 2012).

Visando contribuir com a administração do uso de antimicrobianos, e um controle da

resistência bacteriana principalmente nos hospitais, este trabalho se propõe a descrever o

consumo dos antimicrobianos utilizados num hospital público, analisando as prescrições

médicas deste grupo de medicamentos na UTI de adultos, assim como o perfil de resistência

bacteriana encontrado.

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33

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Descrever o padrão de consumo de antimicrobianos na UTI adulto do Hospital de

Clínicas Gaspar Viana na cidade de Belém-Pará, no período de 2011 a 2012.

1.4.2 Objetivos Específicos

Descrever as informações demográficas, sociais e clínicas dos pacientes atendidos na

UTI;

Descrever as bactérias isoladas de pacientes internados na UTI e o perfil de resistência

aos antimicrobianos rotineiramente utilizados;

Buscar associações entre o tipo de internação, o consumo de antimicrobianos e a

ocorrência de resistência bacteriana.

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34

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

O presente estudo foi descritivo, retrospectivo, e indicou o consumo de

antimicrobianos e a ocorrência de isolados bacterianos resistentes em pacientes admitidos na

UTI adulto do Hospital de Clínicas Gaspar Viana (HCGV).

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE

O HCGV é uma Fundação Pública, referência estadual nas especialidades médicas de

psiquiatria, cardiologia e nefrologia, disponibilizando para a população atendimento

ambulatorial através de consultas especializadas (cardiologia, nefrologia, clínica médica,

neurologia, ortopedia, pediatria, pneumologia, psiquiatria adulto e infantil, proctologia,

urologia, ginecologia e obstetrícia, hepatologia, endocrinologia, dermatologia, cirurgia geral,

vascular e pediátrica), retorno e acompanhamento de egressos nas especialidades de

referência e serviço de hemodiálise.

O atendimento hospitalar é disponibilizado através de 245 leitos, distribuídos entre

clínicas médica, cardiológica, obstétrica/ginecológica, pediátrica, cirúrgica, psiquiatria,

emergência e UTI. Oferecendo ainda um serviço de triagem hospitalar emergencial voltada

para as clínicas de referência, centro obstétrico e internações hospitalares referenciadas. A

vigilância epidemiológica de infecções é realizada pela Comissão de Controle de Infecções

Hospitalares (CCIH) do hospital, que também monitora a utilização de antimicrobianos de

amplo espectro.

A UTI de adultos possui 11 leitos, sendo 01 leito de isolamento, equipe

multidisciplinar nas 24 horas do dia e atende principalmente ás necessidades de cuidados

intensivos do próprio hospital.

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35

2.3 COLETA DE AMOSTRAS

A amostra foi constituída de todos os pacientes admitidos na UTI adulto do HCGV, no

período de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2012, com uma estimativa de perdas de

10% das unidades amostrais.

As informações foram obtidas por meio da análise dos prontuários dos pacientes, do

sistema de informação da farmácia hospitalar, dos relatórios da Comissão de Controle de

Infecções Hospitalares e do setor de estatística hospitalar, de forma sistematizada, a partir de

um formulário de coleta de dados (Apêndice A). As variáveis coletadas incluirão informações

sobre sexo, idade, escolaridade, renda familiar, bairro e cidade em que residem, antecedentes

pessoais quanto à situação de saúde (hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade,

neoplasias, cardiopatias, insuficiência renal), registro, diagnóstico da admissão, data de

admissão no hospital, data de admissão na UTI, data de alta da UTI, tempo de internação,

desfecho da internação na UTI (alta/óbito), tipo de internação na UTI (clínico/cirúrgico),

procedência, topografia da infecção, procedimentos invasivos (ventilação mecânica, cateter

venoso central, cateter arterial, punção venosa periférica, intubação orotraqueal,

traqueostomia, aspiração traqueal, drenos), antimicrobianos utilizados (quantidade em gramas

diárias), duração do tratamento e vias de administração.

Como critério de inclusão foram utilizadas todas as prescrições dos pacientes

internados e registrados no livro de admissões e altas da UTI adulto, admitidos no período

definido para o estudo, que receberam pelo menos um tratamento com antimicrobianos

sistêmico durante o período de internação. Os antimicrobianos de uso tópico foram excluídos

do estudo pela dificuldade de dimensionar a quantidade recebida pelo paciente, assim como,

os pacientes com idade inferior a 14 anos, face ao critério que classifica uma UTI de adulto

(Portaria nº 2.918, do Ministério da Saúde, de 09 de junho de 1998). Também foram

excluídos os casos de readmissão, quando a alta e a readmissão ocorreram no mesmo dia.

2.4 MÉTODO LABORATORIAL DE CULTURA E ANTIBIOGRAMA

A resistência bacteriana aos antimicrobianos usualmente utilizados no HCGV foi

avaliada de acordo com o relato inserido nos prontuários. Os exames de cultura bacteriológica

e antibiograma, solicitados durante a internação dos pacientes, para traçar o perfil de

resistência e suscetibilidade aos antimicrobianos e correlacionar com o seu consumo observou

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a metodologia de processamento das culturas microbiológicas utilizada no laboratório de

análises clínicas e microbiológicas do HCGV.

A cultura é manual e utiliza meios de cultura (Ágar Sangue, Chocolate, MacConkey,

Manitol), dependendo do tipo de material clínico e micro-organismo, para o isolamento de

agentes bacterianos. Os meios foram incubados a 350 a 37

0 por até 48h, dependendo do caso.

Posteriormente, procedeu-se a contagem das colônias bacterianas formadas. Não foi

informada a quantidade de unidades formadoras de colônias para a cultura ser considerada

positiva.

Os métodos laboratoriais para isolamento e identificação de bactérias, utilizando o

método de difusão de disco, a partir de disco colocado na superfície de Agar para testar in

vitro a sensibilidade das bactérias isoladas aos antimicrobianos. Em seguida, foi procedida à

leitura do diâmetro do halo de inibição (mm) e a interpretação da sensibilidade foi de acordo

com os critérios estabelecidos. Os isolados foram considerados resistentes (R), intermediários

(I) e sensíveis (S) aos antimicrobianos testados.

Os antimicrobianos testados foram os recomendados do Clinical and Laboratory

Standards Institute (CLSI), através do documento M100-S17, Guia de Padronização para

Teste de Suscetibilidade Antimicrobiana (CLSI, 2007), seguindo os procedimentos técnicos

preconizados por Bauer et al. (1966) e CLSI (2007).

2.5 METODOLOGIA DA DOSE DIÁRIA DEFINIDA (DDD)

O consumo dos antimicrobianos nas UTI de adultos foi expresso em dose diária

definida (DDD) por 1.000 pacientes/dia. A DDD é uma unidade de medida única,

independente do preço e da forma farmacêutica, que permite avaliar as tendências no

consumo de medicamentos. Utilizou-se a classificação ATC/DDD (The Anatomical

Therapeutical Chemical Classification/ Defined Daily Doses) da Organização Mundial de

Saúde (OMS), versão 2012, para se obter a taxa de consumo de antimicrobianos ou grupo de

antimicrobianos.

O cálculo foi realizado mediante o levantamento da quantidade, em gramas, de cada

antimicrobiano prescrito ou dispensado para os pacientes internados e a divisão dos valores

obtidos pela dose diária definida (DDD) correspondente (os antimicrobianos para uso

sistêmico são classificados no código J01 da Anatomical Therapeutic Chemical)e, o número

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de DDD consumida foi dividido pelo número de pacientes/dia e multiplicado por 1000, e que

irá indicar a densidade ou taxa de consumo de antimicrobiano ou de um grupo de anti-

microbianos, expresso em DDD/1000 pacientes-dia ou DDD1000 (WHO, 2012).

2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

As informações obtidas foram registradas em planilha eletrônica do Microsoft Office

Excel 2007 e analisadas com o auxílio do programa BioEstat 5.0. (AYRES et al., 2007).

Para associar o tipo de internação, o consumo de antimicrobianos e a ocorrência de

resistência bacteriana foi utilizado o Teste Exato de Fisher.

2.7 ASPECTOS ÉTICOS

O projeto foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos do Hospital de Clínicas Gaspar Viana através do CAAE Nº 14593113.7.0000.0016

e seguiu as diretrizes e normas regulamentadoras contidas na Resolução 466/2012, do

Conselho Nacional de Saúde/MS.

2.8 RISCOS E BENEFÍCIOS DA PESQUISA

Os benefícios que a pesquisa trouxe envolvem a emissão de relatório com o número de

ocorrências de IH na UTI do referido hospital, o perfil epidemiológico dos pacientes

acometidos e das infecções, o qual contribuirá para a atualização de dados sobre a IH e seus

fatores de risco. Assim como, subsidiar projetos de atenção à saúde dos pacientes internados

em UTI, e fomentar educação em saúde como forma de prevenção de agravos.

Os riscos da pesquisa estão relacionados à manipulação de prontuários, podendo

ocorrer perdas ou danos ao mesmo.

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38

3 RESULTADOS

3.1 PERFIL SÓCIO DEMOGRÁFICO E CLÍNICO DA AMOSTRA DE PACIENTES

No período de 2011 a 2012, 603 pacientes foram admitidos na UTI adulto do HCGV,

correspondendo a 5.219 pacientes-dia (Tabela 1). No período de 2012, o número médio de

admissões reduziu em torno de 32,5% em relação ao ano anterior devido ao início das

atividades de uma Unidade Coronariana, com dez leitos, no referido hospital.

Tabela 1- Tamanho da amostra, exclusões e perdas por ano.

2011 2012 2011-2012

Frequência absoluta (n)

N0de Leitos

11

11

11

Admissões 360 243 603

Exclusões 140 59 199

Perdas prontuário 11 16 27

Amostra final 210 168 378

Pacientes-dia 2.481 2.738 5.219

Dos 603 pacientes admitidos, 02 pacientes foram excluídos com idade inferior a 14

anos e 197 pacientes por não terem utilizado, durante sua internação na UTI adulto, qualquer

tipo de antimicrobiano sistêmico. Ocorreram 27 (6,7%) de perdas em decorrência da não

localização do prontuário. Após as exclusões, a amostra ficou composta por 210 pacientes

para o ano de 2011 e 168 pacientes para o ano de 2012, totalizando 378 pacientes.

De acordo com a avaliação dos 378 pacientes, verificou-se que a média de idade foi de

61,2 anos (desvio padrão = 18,34) e que 225 (59,5%) correspondiam a pacientes do sexo

masculino (Tabela 2). O tempo de permanência de cada paciente apresentou a média geral de

13 dias (desvio padrão = 16,76) e a mediana de 7 dias (mediana/2011 – 6 dias e mediana/2012

– 10 dias). Os pacientes apresentaram, em grande parte (49,5%) escolaridade apenas até o 1o

grau incompleto e 71,2%, uma renda familiar de 1 a 2 salários mínimos.

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39

Tabela 2 - Características gerais da amostra do estudo.

n %

Total de pacientes

378 100

Sexo

Masculino 225 59,5

Feminino

153 40,5

Escolaridade

Analfabeto

10 grau incompleto

10 grau completo

20 grau incompleto

20 grau completo

30 grau incompleto

30 grau completo

Sem informação

78

187

30

22

35

3

9

14

20,6

49,5

8,0

5,8

9,2

0,8

2,4

3,7

Renda familiar

Sem renda 75 19,8

1 a 2 salários mínimos 269 71,2

3 a 5 salários mínimos 8 2,2

Sem informação 26 6,8

Geralmente, os pacientes procederam de setores do próprio hospital, sendo 28,9% das

clínicas de internação, 44,7% da emergência, 16,9% do centro cirúrgico, 1,9% do setor de

hemodiálise e 5,5% outros setores do hospital. Apenas em 2,1%, os pacientes vieram

transferidos de outro hospital (Tabela 3).

Quanto ao município de origem, 49,8% procederam da cidade de Belém, 17,7% da

região metropolitana de Belém e 31,2% são do interior do estado do Pará. Apenas 1,3% são

procedentes de outros estados (Tabela 3). Do total, 152 pacientes foram a óbito (40,2%).

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40

Tabela 3 - Distribuição dos pacientes da UTI adulto, HCGV, de acordo com a

procedência e cidade de origem.

n %

Total de pacientes

Procedência

378 100

Emergência 169 44,7

Clínicas de internação 109 28,9

Centro cirúrgico 64 16,9

Setor de hemodiálise

Outros setores do hospital

Outros hospitais

Cidade de origem

Belém

Região Metropolitana de Belém (RMB)

Interior do Estado

Outros Estados

07

21

08

188

67

118

05

1,9

5,5

2,1

49,8

17,7

31,2

1,3

A admissão por motivos clínico ou cirúrgico correspondeu a 75,7% e 24,3%,

respectivamente. Os diagnósticos de admissão foram distribuídos em categorias e de acordo

com o motivo clínico ou cirúrgico (Tabela 4). A categoria referente a causas cardiológicas foi

diagnosticada em 156 ocasiões (38,42%) e por motivo cirúrgico tórax/abdômen, em 17,2%.

Tabela 4 – Principais categorias de diagnóstico na admissão dos pacientes na UTI adulto –

HCGV (2011-2012).

Diagnósticos n %

Causas cardiológicas

156

38,42

Causas obstétricas 6 1,48

Outras causas clínicas 171 42,12

Cirúrgico cabeça/pescoço 0 0

Cirúrgico tórax/abdômen 70 17,24

Cirúrgico MMSS/MMII 3 0,74

Total 406 100

Dentre os antecedentes pessoais, destacam-se a hipertensão arterial sistêmica

(44,16%), diabetes mellitus (23,8%), cardiopatia (16,93%) e insuficiência renal crônica

(14,42%), como pode ser observado na Figura 1.

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41

.

Figura 1- Distribuição dos antecedentes clínicos pessoais dos pacientes que utilizaram

antimicrobianos na UTI adulto do HCGV, Belém, Pará.

3.2 CONSUMO DE ANTIMICROBIANOS

Os antimicrobianos analisados estão de acordo com a padronização pelo setor de

Farmácia do HCGV (Apêndice 01). Os antifúngicos e antivirais, assim como os

antibacterianos orais e tópicos, não foram analisados.

No total foram computados dados sobre o consumo de 31 tipos diferentes de

antimicrobianos. Entre os 378 pacientes que usaram antimicrobianos, o consumo de mais de

um tipo foi frequente, com a média de 3,16 e a mediana de 3 tipos de antimicrobianos por

paciente. Destaca-se que cinco pacientes da amostra chegaram a utilizar até nove tipos

diferentes de antimicrobiano durante sua internação na UTI adulto do HCGV.

A taxa geral de consumo de cada antimicrobiano por período foi obtida através da

quantidade total de antimicrobiano consumido em DDD e dividida pelo número de pacientes-

dia (Tabela 5). A soma da quantidade, em DDD, de todos os antimicrobianos e a divisão pelo

número de pacientes-dia de todo o período de estudo foi de 893,05 DDD1000.

DM 24%

HAS 44%

Obesidade 1%

Neoplasias 0%

IRC 14%

Cardiopatia 17%

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42

Tabela 5 - Grupos, subgrupos e dose diária definida dos antimicrobianos sistêmicos segundo a classificação J01 do sistema ATC/DDD.

Grupo Subgrupo Antimicrobiano DDD(g)

J01C Beta-lactâmicos J01 CA Penicilina espectro estendido Ampicilina 2

J01 CE Penicilina sensível beta-lactamase Benzilpenicilina 3,6

J01 CF Peniclina resistente beta-lactamase Oxacilina 2

J01 CR Penicilina + inibidor de beta-lactamase Ampicilina/sulbactam(componente

penicilina)

2

Amoxilina/clavulanato (componente

penicilina)

3

Piperacilina/tazobactam (componente

penicilina)

14

J01 DB Cefalosporinas 1a geração Cefalotina 4

Cefazolina 3

J01 DC Cefalosporinas 2a geração Cefoxitina 6

Cefuroxima 3

J01 DD Cefalosporinas 3a geração Ceftriaxona 2

Ceftazidima 4

Cefotaxima 4

J01 DE Cefalosporina 4a geração Cefepima 2

J01 DF Monobactâmicos Aztreonam 4

J01 DH Carbapenens Imipenem 2

Meropenem 2

Ertapenem 1

J01 E Sulfonamida e trimetropima J01 EE Trimetropina + sulfametoxazol Componente trimetropima 0,4

J01 FA Macrolídeos Eritromicina 1

Claritromicina 1

Azitromicina 0,5

J01 FF Lincosaminas Clindamicina 1,8

J01 GB Aminoglicosídeos Amicacina 1

Gentamicina 0,24

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43

Tabela 5(continuação) - Grupos, subgrupos e dose diária definida dos antimicrobianos sistêmicos segundo a classificação J01 do sistema ATC/DDD.

Grupo Subgrupo Antimicrobiano DDD(g)

J01 MA Fluorquinolonas Ciprofloxacino 0,5

Levofloxacino 0,5

Moxifloxacino 0.4

J01 XA Glicopeptídeos Vancomicina 2

Teicoplanina 0,4

J01 XB Polimixinas Polimixa B 0,15

J01 XD Imidazóis Metronidazol 1,5

(a) De acordo com The Anatomical Therapeutic Chemical Classification System with Defined Daily Doses (ATC/DDD), Organização Mundial de Saúde

– versão 2013 (disponível em www.who.int/classifications/atcddd)

(b) Listados somente os antimicrobianos padronizados na UTI-HC

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44

Os antimicrobianos analisados foram agrupados e classificados segundo a metodologia

ATC/DDD (Tabela 6), sendo que os mais consumidos foram: sulfametoxazol/trimetropim

(1.004,65 DDD1000), cefepima (690,91 DDD1000), vancomicina (515,91 DDD1000),

imipenem+cilastatina (475,83 DDD1000) e ciprofloxacino (384,10 DDD1000). Representando

aproximadamente 67,8% do quantitativo em DDD de antimicrobianos prescritos.

Tabela 6: Taxa de consumo (DDD/1000 pacientes-dia) de antimicrobiano nos anos 2011 e

2012.

Consumo

Antimicrobianos

2011 2012 %Δ

Amicacina

1.57 28.96 1744.6

Amoxicilina + Clavulanato

0.00 0.00 0.00

Ampicilina + Sulbactam

14.81 88.75 499,2

Ampicilina sódica

0.81 2.56 216.1

Benzilpenicilina benzatina

0.00 0.01 0.00

Cefalotina

4.94 5.11 3.44

Cefazolina

15.99 4.02 - 74.8

Cefepima

473.60 217.31 - 54,1

Ceftazidima

6.15 11.50 86.9

Ceftriaxona

137.85 79.44 - 42,4

Cefuroxima

0.71 1.19 67.6

Ciprofloxacino

162.19 221.91 36.8

Claritromicina

90.29 60.99 32.4

Clindamicina

8.68 47.36 445.6

Gentamicina

0.81 0.49 - 39.5

Imipenen + Cilastatina

272.67 203.16 - 25.5

Meropenen

46.65 165.54 254.8

Metronidazol

37.35 42.73 14.4

Moxifloxacino

7.66 9.13 19.2

Oxacilina

118.20 18.26 - 84.5

Penicilina Potássica

0.90 0.25 - 72.2

Piperacilina + Tazobactam

74.69 91.57 22.6

Polimixina B

4.84 38.96 704.9

Sulfametoxazol + Trimetropim

440.15 564.50 28.2

Teicoplanina

75.37 113.04 49.9

Vancomicina

259.88 256.03 - 1.5

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45

Observa-se ainda, uma tendência ascendente ou descendente do consumo ao longo do

tempo, assim como a ocorrência de um padrão estável para determinados antimicrobianos,

como mostra as figuras de 3 a 7.

Figura 2 – Densidade de consumo por ano: aminoglicosídeos

Figura 3 – Densidade de consumo, em DDD1000, por ano: cefalosporinas

0

5

10

15

20

25

30

35

2011 2012

DD

D1

00

0

amicacina

gentamicina

20,93

0,71

144 473,6

9,13

1,19

90,94 217,31

cefalosporinas 1a cefalosporinas 2a cefalosporinas 3a cefepima

2011 2012

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46

Figura 4 – Densidade de consumo por ano: fluorquinolonas

Figura 5 – Densidade de consumo por ano: carbapenens

0

50

100

150

200

250

2011 2012

DD

D1

00

0

ciprofloxacino

moxifloxacino

0

50

100

150

200

250

300

2011 2012

DD

D1

00

0

imipenem

meropenem

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47

Figura 6 – Distribuição percentual do consumo, por ano: outros betalactâmicos

Figura 7 – Densidade de consumo por ano: outros antimicrobianos

3.3 TOPOGRAFIA DA INFECÇÃO E PERFIL MICROBIOLÓGICO

De um total de 378 pacientes que utilizaram antimicrobianos, o sítio de infecção

confirmada através de cultura foi de 180 (47,6%). A infecção de corrente sanguínea, a

infecção de ponta de cateter central, a infecção do trato urinário e a pneumonia foram os

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

ampicilina+sulbactam oxacilina piperacilina+tazobactam

2011 2012

0

100

200

300

400

500

600

DD

D1

00

0

2011

2012

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48

principais diagnósticos topográficos encontrados e corresponderam respectivamente a 20%,

31,1%, 23,9% e 20% dos casos (Tabela 7). A identificação da topografia da infecção foi

realizada conforme a classificação adaptada do sistema NNIS (Anexo 01).

Tabela 7 – Topografia das infecções diagnosticadas na UTI adulto do HCGV (2011-2012).

Topografia da infecção n %

Pneumonia 36 20

Infecção venosaa

56 31,1

Infecção de corrente sanguínea

36 20

Infecção do trato urinário 43 23,9

Infecção de sítio cirúrgico 03 1,7

Infecção de pele e tecido mole 05 2,8

Outras topografiasb

01 0,5

Total 180 100

(a) Ponta de cateter central

(b) Infecção de ouvido

A solicitação de cultura de material clínico foi realizada pela equipe médica e não

houve distinção entre isolados responsáveis por infecção ou colonização. Foram identificadas

nas culturas 43 bactérias Gram-positivo e 137 Gram-negativo (Figura 8).

Figura 8 – Distribuição percentual de patógenos Gram-positivo e Gram-negativo

Entre os isolados Gram-positivo, os estafilococos coagulase-negativo foram

predominantes (65,1%). Os S. aureus foram isolados em 15 ocasiões. Em relação aos isolados

Gram-negativo, destacam-se as bactérias não-fermentadoras de glicose: P. aeruginosa,

24%

76%

Gram-positivo

Gram-negativo

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49

Pseudomonas spp., Acinetobacter spp e A. baumanni, seguida das enterobactérias

(Klebsiella, Enterobacter, E. coli) (Tabela 8).

Tabela 8 – Patógenos isolados nas culturas dos pacientes que apresentaram infecções na UTI

adulto do HCGV (2011-2012).

Patógenos n %

Acinetobacter baumanni

04 2,2

Acinetobacter spp. 10 5,6

Escherichia coli 18 10,0

Estafilococos coagulase negativo

28 15,6

Klebsiella spp

Klebsiella pneumoniae

Proteus mirabillis

Proteus spp

Enterobacter spp.

Serratia spp.

11

19

05

09

10

06

6,1

10,5

2,8

5,0

5,6

3,3

Pseudomonas aeruginosa

30 16,7

Pseudomonas spp. 15 8,3

Sthafilococos aureus

Total

15

180

8,3

100

Dentre os pares patógeno-antimicrobianos selecionados do programa ICARE para

identificação da ocorrência de casos de resistência bacteriana, foram identificados 118(65,6%)

dos 180 confirmados laboratorialmente. Estafilococos coagulase-negativo resistentes a

oxacilina e P. aeruginosa resistente ao ciprofloxacino foram os mais encontrados, de acordo

com a Tabela 9.

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50

Tabela 9 – Pares patógeno-antimicrobiano isolados nas culturas dos pacientes que

apresentaram infecções na UTI adulto do HCGV (2011-2012).

Patógeno-Antimicrobiano n %

Estafilococos coagulase-negativo - oxacilina

13 11,2

S. aureus – oxacilina 3 2,5 P. aeruginosa – ceftazidima 12 10,2 P. aeruginosa – imipenem 7 6 P. aeruginosa – ciprofloxacino 13 11,2 P. aeruginosa – piperacilina + tazobactam 5 4,2 P. aeruginosa – amicacina

A. baumanni – ceftazidima

A. baumanni - imipenem

3

4

3

2,5

3,9

2,5 A. baumanni – meropenem

A. baumanni – amicacina 2

0

1,7

0 Klebsiella spp – ceftazidima 6 5,0 Klebsiella spp – ceftriaxona 6 5,0 Klebsiella spp – imipenem 0 0 Klebsiella spp – meropenem 0 0 Enterobacter spp – ceftazidima 3 2,5 Enterobacter spp – ceftriaxona 2 1,7 Enterobacter spp – imipenem

Enterobacter spp – meropenem 0

0

0

0 E. coli – ceftazidima 11 9,3 E. coli – ceftriaxona 11 9,3 E. coli – ciprofloxacino 10 8,5 E. coli – amicacina 4 3,4 Total 118 100

Para cada grupo de antimicrobianos foi verificada a ocorrência de testes para

resistência e sensibilidade, de acordo com os antibiogramas dos pacientes que apresentaram

infecção confirmada laboratorialmente, por tipo de internação clínica ou cirúrgica. A partir de

então, tentou-se correlacionar o perfil de suscetibilidade do patógeno isolado ao

antimicrobiano testado. Foi utilizado o teste exato de Fisher que mostrou correlação negativa

para todos os antimicrobianos testados, conforme a Tabela 10.

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51

Tabela 10: Correlação do perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos de acordo com o tipo

de internação.

Grupo de antimicrobianos Cirúrgico Clínico

R S R S p*

Aminoglicosídeos 6 14 47 68 0,4597

Penicilina espectro estendido 2 1 17 1 0,2714

Penicilina sensível beta-lactamase 3 1 1 1 0,4000

Penicilina resistente beta-lactamase 2 5 16 14 0,4048

Penicilina+inibidor de beta-lactamase 7 8 31 50 0,5751

Carbapenens 7 18 26 98 0,4369

Cefalosporinas de 1a geração 12 4 43 3 0,0661

Cefalosporinas de 2a geração 5 2 18 2 0,2692

Cefalosporinas de 3a geração 18 8 101 39 0,8138

Cefalosporinas de 4a geração 9 9 45 28 0,4270

Clindamicina 4 2 25 5 0,5729

Fluorquinolonas 11 12 71 50 0,3652

Glicopeptídeos 0 7 0 24 1,0000

Macrolídeos

Metronidazol

0

0

1

1

0

0

0

0

1,0000

1,0000

Polimixina B 0 3 0 4 1,0000

Trimetropina+sulfametoxazol 9 7 46 24 0,5669

*Teste exato de Fisher; R- resistente; S- sensível

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52

4 DISCUSSÃO

A descrição do padrão de utilização dos antimicrobianos da UTI adulto do HCGV foi

apoiada nos recursos metodológicos indicados pela OMS para estudos

fármacoepidemiológicos. Tanto a mensuração como a classificação do sistema ATC/DDD

foram utilizadas para que houvesse a possibilidade de comparação entre pesquisas ao longo

do tempo, contribuindo para o aprimoramento do controle desses medicamentos no âmbito

hospitalar. Além disso, tentou-se também, traçar um perfil epidemiológico e reunir

informações sobre resistência bacteriana.

A caracterização dos pacientes admitidos na UTI adulto do HCGV foi obtida da

amostra selecionada e indicaram traços do perfil da população durante o período da pesquisa.

Aspectos como a gravidade dos pacientes e taxa de procedimentos invasivos, não puderam ser

obtidos ou não atingiram a confiabilidade necessária, inclusive por limites da abordagem

retrospectiva.

Para as variáveis relacionadas ao paciente, observou-se discreta predominância do

sexo masculino (225/ 59,5%) em relação ao sexo feminino (153/ 40,5%), corroborando com a

pesquisa realizada em três UTI no Distrito Federal, com a predominância de pacientes do sexo

masculino (Santos & Laurie-Pires, 2010).

A pesquisa encontrou a média de idade em anos de 61,2. O número de pacientes

idosos internados foi bastante expressivo, já que essas pessoas necessitam de internação

hospitalar para cuidar de suas condições clínicas. Os idosos são mais suscetíveis a adquirir

infecções que o adulto jovem devido a alterações fisiológicas do envelhecimento, além de

procedimentos invasivos (Villas Boas & Ruiz, 2004; Jacoby, 2008).

Houve uma redução do número de admissões ocorridas de 2011 para 2012 e

consequente aumento médio do tempo de internação, que pode estar relacionado à abertura de

uma UTI coronariana no HCGV. De fato, foi observado um aumento da mediana do tempo de

permanência no segundo ano da pesquisa. É importante salientar também que mesmo com a

redução de admissões, o consumo de antimicrobianos foi mantido, provavelmente, devido ao

aumento do tempo de permanência, gerando complicações infecciosas.

A média do tempo de permanência foi um pouco superior às médias encontradas em

outros estudos, que variaram de 5,5 a 11,2 dias. A diferença entre as médias está relacionada

ao tipo de paciente atendido em cada hospital, às especialidades médicas disponíveis e aos

tratamentos executados, podendo oscilar em diferentes períodos do ano de acordo com as

causas da internação (Spiandorello et al., 2006; Basseti et al., 2001).

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53

Expressar o consumo de antimicrobianos através do número de DDD por pacientes-dia

(ou leitos-dia) permite comparar a utilização desses medicamentos entre instituições,

independente das diferenças na composição do formulário, da potência do antibiótico e do

censo hospitalar. No entanto, essa medida de consumo pode sofrer influência do tipo de

denominador utilizado. Quando o tempo de permanência das instituições for significati-

vamente diferente, aquela com menor tempo de permanência terá a medida de consumo

superestimada (Kuster et al., 2008).

Entre as pesquisas analisadas sobre o consumo de antimicrobianos em UTI, não foram

encontrados resultados que avaliassem aspectos como escolaridade, renda familiar, município

de origem e antecedentes pessoais, dificultando a comparação dessas variáveis estudadas. A

maioria dos estudos se deteve apenas a aferição do consumo de antimicrobianos.

Quanto à procedência da amostra estudada, apenas a pesquisa realizada em três UTI

no Distrito Federal analisou esta variável, com resultados indicando uma frequência mais

elevada para procedência de outras Instituições de Saúde, 45,3%, 32,5% e 10,7%,

respectivamente (Santos & Laurie-Pires, 2010). Diferentemente do que foi observado no

presente estudo, onde a frequência de pacientes externos foi de apenas 2,1%.

A mortalidade hospitalar também foi avaliada na pesquisa realizada em três UTI do

Distrito Federal, mostrando resultados de 40,7%, 37,5% e 7,8%, este último, não sendo

compatível com o resultado encontrado nesta pesquisa de 40,2% (Carneiro, 2006).

A UTI adulto do HCGV recebeu no período analisado, pacientes clínicos e cirúrgicos

na proporção de 3 para 1 respectivamente. O paciente clínico consumiu aproximadamente

0,65 DDD ao dia e o paciente cirúrgico 0,21 DDD ao dia. Este resultado pode ser explicado

por diferenças no tipo de paciente clínico e cirúrgico. Entre os casos ocorridos nos pacientes

cirúrgicos podem ter predominado os casos graves e com complicações infecciosas. Alguns

estudos multicêntricos apontaram que o padrão de consumo de antimicrobianos entre as UTI

clínicas e cirúrgicas foram diferentes (NNIS, 2004; Kem et al., 2005; Meyer et al., 2004).

A redução da proporção de pacientes com causas cardiológicas é indicativa da

ocorrência da mudança de perfil clínico dos pacientes da UTI adulto do HCGV. Estas

informações exemplificam dificuldades existentes nas pesquisas de séries temporais, onde as

alterações de características da população podem ocorrer e dificultar a análise das variações

de frequência em que os eventos acontecem (Carneiro, 2006). Dessa forma, o padrão de

consumo de antimicrobianos pode ter sofrido influências dessa modificação do perfil de

pacientes.

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54

A utilização de antimicrobianos é relativamente frequente em UTI. No presente

estudo, a maior parte dos pacientes internados que utilizaram antimicrobianos recebeu até dois

medicamentos e uma pequena parcela recebeu cinco ou mais. Estas proporções de número de

antimicrobianos por paciente estão de acordo com outro estudo realizado no interior do Rio

Grande do Sul em outro hospital privado com 144 leitos, onde dos 1.166 pacientes que

usaram antimicrobianos, 92,6% utilizaram até dois medicamentos, 5,8% utilizaram de três a

quatro e 1,5% utilizou cinco ou mais medicamentos (Spiandorello et al., 2006).

Quanto ao consumo de antimicrobianos na UTI adulto analisada, a média do consumo

geral foi de 2.256,40 DDD1000. Contudo, os resultados apresentados nessa pesquisa estão

acima da ampla faixa de valores indicados por outros estudos.

De acordo com o consumo mensal, a pesquisa realizada em um hospital geral de

Brasília informou a média de 1.918,0 DDD1000 (Santos et al., 2007). Estudo realizado na UTI

adulto do Hospital Regional de Taguatinga registrou consumo geral de antimicrobianos de

1.487,1 DDD1000 (Carneiro, 2006).

A densidade média de consumo de antibacterianos em pesquisa realizada em três UTI

consideradas em conjunto, duas de hospitais públicos (Hospital Regional de Ceilândia – HRC

e Hospital Regional de Taguatinga – HRT) e uma de hospital privado (Hospital Santa Luzia –

HSL) encontrou o valor de 1.689,0 DDD1000 (Santos & Laurie-Pires, 2010).

Outra pesquisa realizada em 35 UTI na Alemanha informou a mediana de 1300

DDD1000. A mesma pesquisa classificou ainda as UTI de acordo com a especialidade e

apresentou o consumo de cada uma delas: 1.483 DDD1000 (UTI clínicas), 1.386 DDD1000 (UTI

cirúrgicas) e 1.252 DDD1000 (UTI interdisciplinares) (Meyer et al., 2003).

Estudo envolvendo 29 UTI da Suécia distinguiu as UTI de acordo com os níveis de

complexidade dos hospitais e observou que as maiores taxas de consumo de antimicrobianos

foram encontradas em hospitais universitários, com mediana de 1391 DDD1000, seguido dos

hospitais distritais (1.201 DDD1000) e hospitais locais (983 DDD1000). O consumo de

antibacterianos de 30 UTI dinamarquesas mostrou valores extremos de 490 e 2.640 DDD1000.

Nesta pesquisa não houve distinção entre os tipos de UTI e incluiu os antifúngicos (Carneiro,

2006).

Os estudos sobre o consumo de antibacterianos em UTI, utilizando o sistema

ATC/DDD, são relativamente recentes e surgiram na década passada. As principais

publicações se concentram na Europa (Suécia e Alemanha) e nos Estados Unidos da América.

A comparação dos resultados desses estudos com a nossa pesquisa tem algumas limitações

porque são realizados em nações desenvolvidas que mantêm programas para o combate à

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resistência bacteriana. Outro aspecto que pode limitar a comparação é a época em que foi

realizado o estudo, pois o padrão de consumo de antibacterianos se modifica com o correr do

tempo (Santos et al., 2007).

É conhecimento usual que o uso de antimicrobianos nos hospitais tem sido

considerado inapropriado, desnecessário ou excessivo (Maldonado et al., 2002). Os micro-

organismos, que antes eram sensíveis aos antimicrobianos comuns e que se restringiam a

causar infecções dentro do ambiente hospitalar, sendo a uma das principais causas de

morbidade e mortalidade nos pacientes internados, mais recentemente estão se espalhando

para a comunidade e causando doenças severas na população anteriormente saudável (Alanis,

2005).

O alto consumo de antimicrobianos pode estar relacionado à ausência de uma política

de controle dos medicamentos prescritos no hospital e à falta de protocolos de uso de

antimicrobianos, gerando excesso de prescrições. As consequências do alto consumo de

antimicrobianos, diferentemente de outros tipos de medicamentos, associado ao aumento de

micro-organismos resistentes, afetam não somente o paciente que está com a infecção, mas

também o paciente internado na cama ao lado, ou mesmo pacientes que já estiveram

internados no hospital e que levam os micro-organismos resistentes para a comunidade

(Philmon et al., 2006).

Com isso, podem ser desencadeadas infecções que requerem tratamentos mais

complexos e onerosos, gerando maiores gastos com saúde, que vão desde uma maior

permanência do paciente no hospital, englobando gastos com exames mais sofisticados e

procedimentos, utilização de antimicrobianos mais potentes até gastos indiretos representados

pela perda de produtividade do paciente (Goldman et al., 2007; Larson et al., 2007).

Quanto ao consumo específico de antimicrobianos torna-se fundamental a discussão

de acordo com os achados, particularmente, tratando cada antibiótico de forma específica

como a seguir.

Ao longo do estudo houve um elevado aumento no consumo de amicacina.

Observando-se uma variação positiva de 1.744,6% do ano de 2011 para 2012. Pesquisas

realizadas em UTI dinamarquesas, suecas e alemãs, sem distinção de especialidade,

informaram mediana de 95,23 DDD1000 e 54 DDD1000, respectivamente (Hanberger et al.,

2004; Petersen et al., 1999; Meyer et al., 2004).

Entre as cefalosporinas, as de 3a e 4

a geração possuem amplo espectro de ação e foram

avaliadas em conjunto em alguns trabalhos (NNIS, 2004; Meyer et al., 2004). Na UTI adulto

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do HCGV, no período do estudo, o consumo anual variou de 617,60 DDD1000 e 308,25

DDD1000, com tendência decrescente para ambas. Em sentido contrário, o consumo de

cefalosporinas de 1ª e 2ª geração, com tendência crescente para a segunda categoria,

provavelmente, em decorrência, da mudança na rotina de prescrições de cefalosporinas de 1ª

geração (cefalotina, cefazolina) como antibioticoterapia profilática nos pós-operatórios de

cirurgias para cefalosporinas de 2ª geração (cefuroxima).

As variações no consumo das fluorquinilonas, representado pelo ciprofloxacino e

moxifloxacino, foram relativamente reduzidas quando comparadas com outras classes de

antimicrobianos. O ciprofloxacino ocupou o 5º posto com consumo de 384,10 DDD1000. Em

61 UTI médico-cirúrgicas do sistema NNIS, as fluorquinolonas foram o segundo grupo de

antimicrobianos mais consumidos, com mediana de 167,4 DDD1000 (NNIS, 2004).

O consumo de carbapenens na UTI adulto do HCGV foi de 475,83 DDD1000,

representando 10,5% do consumo total e com variações anuais entre 272,67 DDD1000 e 203,15

DDD1000. Pesquisa realizada na UTI do Hospital Regional de Taguatinga, em Brasília,

encontrou valores de 282,4 DDD1000, representando 19% do consumo total dessa classe de

antimicrobianos (Carneiro, 2006).

Porém, estudos multicêntricos indicaram valores bem inferiores. Uma pesquisa do

sistema NNIS com 61 UTI médico-cirúrgicas foi relatada mediana de 26,88 DDD1000 (NNIS,

2004). Outra pesquisa realizada em 14 UTI interdisciplinares do projeto SARI, na Alemanha,

informou mediana de 42,2 DDD1000 (Meyer et al., 2004).

Foram consumidas 269,82 DDD1000 de penicilinas associadas ao inibidor de beta-

lactamases, representadas pela ampicilina associado ao sulbactam (103,56 DDD1000) e

piperacilina associado ao tazobactam (166,26 DDD1000). A oxacilina apresentou consumo de

136,46 DDD1000, com uma variação negativa de 84,5%. No estudo realizado na UTI do

Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal, foram apresentados consumos de 104,4

DDD1000 de penicilinas associadas ao inibidor de beta-lactamases e 107,9 DDD1000 de

oxacilina (Carneiro, 2006).

Dentre os demais antimicrobianos, a clindamicina apresentou uma variação positiva

importante de 445,6% em seu consumo no período analisado, com valores de 8,68 DDD1000 e

47,36 DDD1000, respectivamente. Já o metronidazol, apresentou consumos reduzidos (80,08

DDD1000) em relação as outras classes de antimicrobianos.

Pesquisa realizada em 23 UTI da Suécia informou mediana de consumo de 34

DDD1000 (Hanberger et al., 2004). A UTI do Hospital Regional de Taguatinga, em Brasília,

informou um consumo de 124,4 DDD1000, ocupando a 5ª posição dos antimicrobianos mais

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consumidos (Carneiro, 2006). Em relação ao metronidazol, estudos multicêntricos relataram

medianas de 126 DDD1000 na Dinamarca, 64 DDD1000 na Suécia e 55,2 DDD1000 na Alemanha

(Hanberger et al., 2004; Petersen et al., 1999; Meyer et al., 2004).

O consumo de sulfametoxazol associado ao trimetropin encontrado foi de 1.004,65

DDD1000 no período de estudo, sendo o mais consumido de todos os antimicrobianos.

Resultado diferente foi encontrado na pesquisa realizada na UTI do Hospital Regional de

Taguatinga que indicou um consumo de 51,2 DDD1000, bem inferior ao registrado neste

estudo (Carneiro, 2006).

A avaliação do consumo dos glicopeptídeos, representados pela vancomicina e

teicoplanina, indicou o consumo total, ao longo do estudo, de 515,91 DDD1000 e 188,41

DDD1000, respectivamente. Esses valores foram superiores àqueles encontrados em estudos

multicênctricos, sobretudo os realizados na Dinamarca, Suécia e Alemanha, que mostraram

valores inferiores a 19 DDD1000 (Hanberger et al., 2004; Petersen et al., 1999; Meyer et al.,

2004). Valores diferentes foram encontrados na pesquisa realizada na UTI do Hospital

Regional de Taguatinga, 139 DDD1000 (Carneiro, 2006).

A caracterização do padrão microbiológico da UTI adulto do HCGV foi realizada a

partir das informações registradas nos prontuários, de acordo com os resultados das culturas e

antibiogramas. As informações sobre espécie bacteriana e a sensibilidade aos antimicrobianos

foram aqueles que a equipe médica e a CCIH utilizaram para as decisões de terapêutica

antimicrobiana.

Os isolados bacterianos obtidos de hemoculturas ou de outros materiais clínicos como

secreção endotraqueal, ponta de cateter vascular, urina, entre outros. A identificação da

topografia da infecção foi realizada a partir desses materiais já mencionados. A infecção

venosa foi à topografia mais encontrada com 31,1% dos casos. Pesquisa realizada em três UTI

no Distrito Federal apresentou taxas de infecção urinária/sonda vesical de demora,

pneumonia/ventilação mecânica e corrente sanguínea/cateter venoso central. Este último,

inclusive, estatisticamente significativo, quando correlacionado entre as UTI. Dessa forma,

não informando a proporção de material ou a densidade de isolados por material (Santos &

Laurie-Pires, 2010; Santos et al., 2007).

A observação em 29 UTI na Suécia mostrou proporção diferente entre os tipos de

material: 12% sangue, 14% urina, 29% trato respiratório e 45% feridas e outros materiais

(Hanberger et al., 2004). Essa diferença em relação aos resultados desta pesquisa pode ser

consequência de diferenças no quadro de infecções ou de perfil epidemiológico.

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Os isolados bacterianos mais frequentes foram: Gram-positivo (Estafilococos – ECN e

S. aureus), bactérias Gram-negativo não-fermentadoras (P. aeruginosa) e Enterobacteriaceae

(Klebsiella spp e E. coli). Trabalhos publicados informaram resultados semelhantes (Carneiro,

2006; Hanberger et al., 2001; Mendes et al., 2005).

Quanto à avaliação dos pares patógeno-antimicrobiano do Programa ICARE, proposta

pela pesquisa, e de importância epidemiológica para o meio, pode-se destacar os ECN, P.

aeruginosa e E. coli, como os principais isolados resistentes, apresentando frequência de 13,

40 e 36 isolados, respectivamente.

Nas pesquisas analisadas, de forma geral, a proporção de ECN resistentes à oxacilina

foi elevada. Estudos multicêntricos em UTI de países europeus e estadunidenses apresentaram

proporções de isolados resistentes na faixa de 70% a 84,8%, exceto nas UTI canadenses cujo

valor foi de 20,6%. Em UTI brasileiras, pesquisa apontou proporções de isolados resistentes

na faixa de 88% (Carneiro, 2006; NNIS, 2004; Jones et al., 2004; Meyer et al., 2004).

Pesquisas indicam que o MRSA apresenta-se de forma hiperendêmica em alguns

hospitais brasileiros. Em uma UTI de um hospital brasileiro informou que 40% dos pacientes

estavam colonizados no momento da admissão e entre os não colonizados, 52% tornaram-se

colonizados durante a internação (Korn et al., 2001; Sader et al., 2001). Portanto, a proporção

de MRSA encontrou correspondência com a situação descrita em outros hospitais brasileiros.

A P. aeruginosa foi o principal isolado resistente entre as bactérias Gram-negativo,

atingindo uma frequência de 40 isolados, destacando-se a proporção elevada de isolados

resistentes ao ciprofloxacino. Pesquisas realizadas em outros países registraram valores

inferiores aos encontrados neste estudo, indicando proporções entre 18,2% e 27,8% para

imipenem, 13,4% e 31,3% para ceftazidima, 9% e 22% para piperacilina associado ao

tazobactam e 30,2% e 40,6% para ciprofloxacino (NNIS, 2004). E para a amicacina 4% e

30% (Meyer et al., 2004).

No Brasil, estudo realizado em sete UTI localizadas em quatro cidades pertencentes

AP programa de vigilância MYSTIC encontrou proporção elevada de isolados resistentes em

relação à ceftazidima, piperacilina associado ao tazobactam e imipenem (Mendes et al., 2005;

Santos & Laurie-Pires, 2010).

Isolados resistentes de E. coli a cefalosporinas de 3ª geração foram encontrados neste

estudo com proporção de resistência de 18,6%. Essa proporção é bem superior às relatadas em

estudos com foco em UTI, nos países europeus e da América do Norte com valores de até 9%,

excluindo-se apenas uma UTI na Turquia que registrou proporção de 26% (Hanberger et al.,

2001; 2004; NNIS, 2004; Jones et al., 2004).

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Um estudo do Projeto MYSTIC, em 2002, realizado no Brasil, relatou proporção de

13,2% de E. coli produtoras de ESBL (Mendes et al., 2005). Outro estudo realizado em UTI

brasileira apontou proporção de 30% para cefalosporinas de 3ª geração e 22% para

ciprofloxacino (Carneiro, 2006). Estudo de revisão em UTI de países europeus relatou

proporções de isolados resistentes à amicacina entre 0 e 2% (Hanberger et al., 2001).

À semelhança desta pesquisa, trabalhos envolvendo a associação entre o uso de

antimicrobianos e a resistência bacteriana nem sempre é demonstrada ou, ao contrário, pode

até ser evidenciada uma correlação negativa (Carneiro, 2006). Porém, esses resultados não

devem ser interpretados no sentido de descartar a importância do uso do antimicrobiano na

causa da resistência, mas são sugestivos de que outros fatores podem interferir no

desenvolvimento da resistência.

Estudo comparativo entre dois métodos de avaliação do uso de antimicrobianos e

resistência em bactérias Gram-negativo evidenciou correlação quando utilizados dados

individualizados e o mesmo não aconteceu quando utilizados dados agregados (Harbarth et

al., 2001).

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60

CONCLUSÕES

- O perfil dos pacientes examinados foi de idosos, do sexo masculino, com tempo médio de

internação acima de uma semana, escolaridade baixa e renda familiar de até dois salários

mínimos;

- Os pacientes foram, em sua maioria, do setor de emergência do próprio hospital, da cidade

de Belém e as causas clínicas foram os principais diagnósticos de internação na UTI, seguidas

dos pacientes submetidos a cirurgias do tórax e abdômen;

- A frequência da utilização e o consumo dos antimicrobianos analisados apontaram para um

padrão diverso quando analisados individualmente, sendo que o sulfametoxazol associado ao

trimetropim foi o antimicrobiano mais consumido, seguido do cefepime, vancomicina,

imipenem associada a cilastatina e ciprofloxacino;

- A infecção venosa, seguida da infecção do trato urinário, foram os principais diagnósticos

topográficos encontrados e a P. aeruginosa foi o micro-organismo mais isolado nas culturas

de materiais clínicos;

- A resistência bacteriana foi encontrada nos pares patógeno-antimicrobiano P. aeruginosa

resistente a ciprofloxacino e estafilococos coagulase-negativo resistente à oxacilina com

maior frequência nos antibiogramas analisados; não houve correlação entre o consumo de

antimicrobianos e a resistência bacteriana, nos pacientes clínicos e cirúrgicos, quando

analisados estatisticamente;

- A utilização do sistema ATC/DDD de monitorização do consumo de antimicrobianos

revelou-se útil para descrever a situação epidemiológica relacionada a este tema e deve ser

aplicado continuamente na rotina de unidades de terapia intensiva para planejar o uso racional

da terapia com antibiótico.

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70

APÊNDICES

Apêndice 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA

INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUACAO

BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS

PESQUISA: MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO

ESTRATÉGIA DE COMBATE À RESISTÊNCIA BACTERIANA EM UMA UTI DE

ADULTO FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS

REGISTRO: SEXO:

( ) M ( ) F

CIDADE:

BAIRRO: ESCOLARIDADE:

RENDA FAMILIAR:

IDADE:

ANTECEDENTES PESSOAIS:

( ) HAS ( ) DM

( ) OBESIDADE ( ) NEOPLASIAS

( ) INS. RENAL ( ) CARDIOPATIAS

DIAGNÓSTICO DA ADMISSÃO:

PROCEDÊNCIA:

DATA DE ADMISSÃO NO HOSPITAL:

TOPOGRAFIA DA INFECÇÃO:

DATA DE ADMISSÃO NA UTI:

TEMPO DE INTERNAÇÃO:

DATA DA ALTA DA UTI:

TIPO DE INTERNAÇÃO NA UTI:

( ) CLÍNICA ( ) CIRÚRGICA DESFECHO DA INTERNAÇÃO NA UTI:

( ) ALTA ( ) ÓBITO

PROCEDIMENTOS INVASIVOS:

( ) VM ( ) AVC ( ) CATETER ATERIAL

( ) AVP ( ) TOT ( ) TQT ( ) ASPIRAÇÃO TRAQUEAL ( ) DRENOS

ANTIMICROBIANOS

UTILIZADOS

QUANTIDADE EM g

DIÁRIAS

DURAÇÃO DO

TRATAMENTO

VIA DE

ADMINISTRAÇÃO

MICRO-ORGANISMO ISOLADO:

RESISTÊNCIA:

( ) S ( ) N

ANTIBIOGRAMA:

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ANEXOS

Anexo 1

CRITÉRIOS NNIS DE INDICADORES DE INFECÇÃO HOSPITALAR

SÍTIO PRINCIPAL: SÃO 13 CATEGORIAS PRINCIPAIS

SÍTIO ESPECÍFICO: SÃO 43 LOCAIS OU TIPOS ESPECÍFICOS DE INFECÇÃO PARA OS

QUAIS ADOTARAM OS CRITÉRIOS. OS LOCAIS ESPECÍFICOS FORAM AGRUPADOS EM

13 CATEGORIAS PRINCIPAIS, PARA FACILITAR A ANÁLISE DOS DADOS.

SÍTIO PRINCIPAL CÓDIGO SÍTIO ESPECÍFICO CÓDIGO GERAL

Infecção do Trato

Urinário

UTI - Infecção sintomática de

trato urinário;

- Bacteriúria

assintomática;

- Outras infecções do

trato urinário.

SUTI

ASB

OUTI

Infecção de Sítio

Cirúrgico

SSI - Infecção de sítio

cirúrgico superficial;

- Infecção de sítio

cirúrgico profunda;

- Infecção de sítio

cirúrgico por órgão e

espaço.

SUP

DEEP

(BONE*, BRST*,

CARD*, DISC*,

EAQR*, EMET*,

ENDO*, EYE*,

GIT*, IAB*, IC*,

JNT*, UR*, LUNG*,

MED*, MEN*,

ORAL*, OREP*,

OUTI*, AS*, SINU*,

VASC*, VCUF*)

Pneumonia PNEU Pneumonia PNEU

Infecção de Corrente

Sanguínea

BSI - Septicemia;

- Infecção da

corrente

sanguine

confirmada por

exame

laboratorial

CSEP

LCBI

Infecção Óssea e

Articular

BJ - Osteomielite;

- Articulação ou

bursa;

- Espaço

intervertebral.

BONE

JNT

DISC

Infecção do Sistema

Nervoso Central

CNS - Infecção intracraniana;

- Meningite ou

ventriculite;

- Abcesso de coluna sem

meningite.

IC

MEN

AS

Infecção de sistema

cardiovascular

CVS - Infecção venosa ou

arterial;

- Endocardite;

VASC

ENDO

Page 75: MONITORIZAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS COMO … · 1.3.2 Novos Antimicrobianos ... antimicrobianos selecionados para a identificação da ocorrência de resistência bacteriana,

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- Miocardite ou

pericardite;

- Mediastinite.

CARD

MED

Infecção de olhos,

ouvido, nariz,

garganta ou boca

EENT - Conjuntivite;

- Olhos, exceto

conjuntivite;

- Ouvidos, mastoide;

- Cavidade oral (boca,

língua ou gengiva);

- Sinusite;

- Trato respiratório

superior, faringe, laringe,

epiglote).

CONJ

EYE

EAR

ORAL

SINU

UR

Infecção de Sistema

Gastrointestinal

GI - Gastroenterite;

- Trato gastrointestinal;

- Hepatite;

- Intra-abdominal, não

específica em outro

local;

- Enterocolite

necrotizante.

GE

GIT

HEP

IAB

NEC

Infecção do Trato

Respiratório Inferior,

exceto Pneumonia

LRI - Bronquite,

traqueobronquite, sem

evidência de

peneumonia;

- Outras infecções do

trato respiratório inferior.

BRON

LUNG

Infecção do Aparelho

Reprodutor

REPR - Endometrite;

- Episiotomia;

-Fundo de saco vaginal;

- Outras infecções do

aparelho reprodutor

masculino e feminino.

EMET

EPIS

VCUF

OREP

Infecção de Pele e

Tecido Mole

SST - Pele;

- Tecido mole;

- Úlcera de decúbito;

- Queimadura;

- Abscesso de mama ou

mastite;

- Onfalite;

- Pustulose infantil;

- Circuncisão de recém-

nascido.

SKIN

ST

DECU

BURN

BRST

UMB

PUST

CIRC

Infecção Sistêmica SVS - Infecção disseminada DI

Referência:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual do Sistema Nacional de Informações para Controle

de Infecção em Serviços de Saúde – SINAIS. Versão 2.6 – julho de 2006.