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    Requalificao de

    Edifcios Abandonadosno Centro de So

    Paulo para Moradia de

    Interesse Social

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    SUELLEN FERREIRA DA COSTA

    Reabitar o Centro

    Requalificao de Edifcios Abandonados

    no Centro de So Paulo para Moradia de Interesse Social

    Projeto de pesquisa como requisito avaliao da disciplina Trabalho Final deGraduao I do curso de Arquitetura eUrbanismo da Faculdade de Cincias eTecnologia UNESP, campus de PresidentePrudente.

    Orientadores: Profa. Dra. Elizabeth M. Arakaki; Prof. Dr. Hlio Hirao;

    Prof. Dr. Lus Antonio Barone; Profa

    . Dra. Neide B. Faccio

    Presidente PrudenteNovembro/ 2011

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    () the future city will be

    everywhere and nowhere, and it

    will be a city so greatly different

    from the ancient city or any city of

    today that we will probably fail to

    recognize its coming as the city at all.

    Frank Lloyd Wright

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    SUMRIO

    1. INTRODUO: ESTRUTURA DA PESQUISA1.1. Introduo ................................................................................................................... 05

    1.2. Justificativa e relevncia do tema ............................................................................... 08

    1.3. Objetivos e finalidade ................................................................................................. 10

    1.4. Metodologia ................................................................................................................ 12

    2. A CIDADE DE SO PAULO .................................................................................................... 13

    2.1. Breve histrico ............................................................................................................ 15

    2.2. So Paulo metrpole ................................................................................................. 20

    3. O ESVAZIAMENTO DOS CENTROS

    3.1. Os processos de renovao urbana........................................................................... 26

    3.2. A gentrificao ........................................................................................................... 28

    4. REFERNCIAS PROJETUAIS ............................................................................................... 30

    5. CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................... 32

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 33

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    1. INTRODUO: ESTRUTURA DA PESQUISA

    1.1. Introduo

    No h quem no fique chocado com sua dimenso, quilmetros de

    avenidas, milhes de casas, galpes espalhados, gigantescos arranha-cus e o

    movimento interminvel de pessoas que vem e vo a todas as direes.

    A pequena Vila So Paulo, fundada em 1554, por padres jesutas agora a

    sexta maior cidade do planeta com cerca de 20 milhes de habitantes. A cidade se

    expandiu de tal forma que acabou conurbando com municpios adjacentes que

    formam a Regio Metropolitana de So Paulo, atualmente um conglomerado com

    39 municpios ocupando uma rea de quase 8 mil quilmetros quadrados.1

    A desenfreada expanso urbana cada vez mais fomentada pelo mercado

    imobilirio e pelo capital incorporador gerou uma cidade desprovida de limites,

    ningum sabe ao certo onde ela termina. Em contrapartida, o centro que outrora

    possui grandes manses dos bares do caf, restaurantes requintadosfreqentados aps as sublimes apresentaes do Teatro Municipal, os jardins

    pblicos, a Praa da Repblica na qual jovens donzelas passeavam com longos

    vestidos, cafs e elegantes lojas.

    1 ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 54-55.

    Figura 1 Fundao da Vila So PauloFonte:

    Figura 2 Antigo Viaduto do Ch e TeatroMunicipal de So PauloFonte:

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    A regio central investida pelo urbanismo, destinada exclusivamente s

    elites. Porm, com o crescente fluxo migratrio e a necessidade de locomoo pelo

    tecido urbano, o Plano Rodoviarista de Prestes Maia abriu as portas para umprocesso que se tornou quase natural na maioria das metrpoles, o esvaziamento

    do centro.2

    Com a mobilidade garantida pelo nibus e depois pelo automvel, ao

    contrrio dos bondes e trens, a elite se desloca para a periferia at ento

    caracterizada pela moradia de baixa qualidade, autoconstruda. A verticalizao na

    rea central e o conceito de cidade-jardim fomentaram ainda mais a retirada dessa

    elite da rea central.3

    Os centros ureos de outrora com belas lojas, hotis chiques, bares

    requintados foram cedendo lugar a pontos sombrios, penses suspeitas, locais de

    bbados e prostitutas, como afirma Archimedes Raia (2008).4A dinmica espacial

    de segregao criada pelas elites que se moveram no espao urbano suscita a

    inverso das reas de maior status dentro da cidade: a periferia torna-se agora

    mais aprazvel, nas suas residncias de alto padro, enquanto o centro perde

    importncia e se deteriora.

    2 ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 33-35.3 ROLNIK, Raquel. Op. Cit. p. 42-43.4 JUNIOR, A. A. R. Bauru e o caso de uma era ferroviria. Disponvel em Acesso em: maio de 2011.

    Figura 3 Bonde YpirangaFonte:

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    Programas de renovao urbana financiados pelo Estado e pelo capital

    imobilirio buscam elaborar solues para reas degradadas, porm, em muitos

    casos sem considerar o passado. O investimento nessas regies revitalizadasacaba por expulsar moradores de menor renda que ali estabeleceram suas vidas,

    resultando num processo de gentrificao, que Paul Singer (1979) explica da

    seguinte maneira:

    No tendo poder aquisitivo para continuar na zona renovada, so obrigadosa se mudar, o que significa o mais das vezes maior distanciamento dotrabalho, quando no perda do mesmo, pagamento de aluguel mais elevado(porque a renovao urbana reduz oferta de alojamentos baratos) e a

    perda de relaes de vizinhana, o que, para pessoas pobres edesamparadas, pode ser o prejuzo mais trgico. Em ltima anlise, acidade capitalista no tem lugar para os pobres.5

    como se a histria do local no importasse, toda a influncia que o centro trouxe para a

    cidade fosse apenas parte de um passado que no cabe mais no presente, tampouco no futuro.

    Caberia aqui a definio de Rem Koolhaas (1995) sobre a Cidade Genrica:

    A Cidade Genrica a cidade liberada da escravido do centro, da camisade fora da identidade. A Cidade Genrica despreza este crculo vicioso dedependncia: nada mais que uma reflexo das necessidades de hoje e dacapacidade de hoje. a cidade sem histria. bastante grande para todos. cmoda. No requer manuteno. Se ela torna-se muito pequena, elasomente expande. Se ela fica velha, somente se autodestri e se renova. 6

    5 SINGER, Paul. "Uso do solo urbano na economia capitalista". In: MARICATO, E. (org.) A produocapitalista da casa (e a cidade) no Brasil industrial. So Paulo: Alfa-Omega, 1979. p.336 KOOLHAAS, R.; MAU, B. The Generic City. S,M,L,XL. Nova York: The Monacelli Press, 1995. p.1249-1250.

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    Neste contexto, portanto, este Trabalho Final de Graduao tem como

    proposta a interveno na rea central de So Paulo, atravs da escolha de um

    local para interveno arquitetnica e urbanstica, alm da proposio de possveisdiretrizes para a reforma de edifcios abandonados para uso como moradia de

    interesse social.

    1.2. Justificativa e relevncia do tema

    Nos ltimos 11 anos houve um nmero de evaso populacional alarmante

    na rea central, cerca de 400 mil habitantes deixaram o centro. As razes so

    variadas, mas em grande parte so devido ao preo elevado dos aluguis, levando

    a populao de menor renda a morar em conjuntos habitacionais mais afastados,

    mas com preos menores.7

    Grandes projetos de requalificao do centro esto sendo propostos e

    alguns j esto em andamento, a exemplo dos projetos Viva o Centro e Nova Luz

    que vem sendo desenvolvidos ao longo dos ltimos 20 anos. Porm, o foco dessesprojetos voltado em sua maioria, para equipamentos culturais e de lazer. Outra

    7JORNAL DA RECORD. Prdios abandonados no centro de So Paulo podem virar moradias populares para

    5.000 pessoas. 2010. Disponvel em Acessado em 01-11-2011.

    Figura 4 Propostas de Intervenes para oCentro Novo Projeto Viva o CentroFonte:

    Figura 5 Proposta Bulevar Rio Branco ProjetoNova LuzFonte:

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    medida implantada foi a transio do gabinete do prefeito para essa rea central,

    como tentativa de requalificao.

    A problemtica habitacional na cidade de So Paulo evidente, segundo o

    IBGE (2000) existem 612 favelas espalhadas pela RMSP. Esses loteamentos, em

    sua quase totalidade, so irregulares e desprovidos das mnimas condies de

    infra-estrutura necessrias para a sobrevivncia. As COHABs e os conjuntos do

    projeto Cingapura embora possuam melhor infra-estrutura e dignidade para os

    moradores, geralmente ficam locados em lotes afastados da rea central,

    obrigando os moradores a passar horas em transportes coletivos lotados ou no

    trnsito.

    Portanto, cabe questionar o porqu da no ocupao de prdios

    abandonados na rea central para moradia de interesse social. Para requalificar o

    centro necessrio reabit-lo, ou seja, preciso que a populao volte a morar no

    centro. Por ser uma rea consolidada existe uma super oferta de equipamentos,

    sobra infra-estrutura. Existem poucos lotes vazios, entretanto, h cerca de 200

    edifcios abandonados que poderiam ser reformados ou demolidos permitindo o

    novo uso.

    O que falta no centro essa dinmica de uso por parte de moradores,

    durante o dia existe uma grande movimentao devido aos comrcios e servios.

    Durante a noite, apenas alguns bares e restaurantes mais famosos permanecem

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    abertos at mais tarde, mas em geral, andar pelas ruas centrais caminhar s na

    escurido. O que se v so garotas de programa e usurios de drogas em pontos

    mais escuros das avenidas.

    Esse processo de requalificar centros histricos para moradia j foi utilizado

    em Nova York, Milo e Barcelona. uma forma de olhar para dentro da cidade e

    no apenas pensar na extrapolao de seus limites. se apropriar de modo

    diferenciado daquilo que j existe.8

    A necessidade de moradia to expressiva que existe um grupo

    denominado Frente de Luta por Moradia que tem como objetivo a luta por polticassociais de melhoria para a populao de baixa renda, inclusive uma poltica de

    ocupao de prdios abandonados, lotes subutilizados e no edificados da rea

    central.9

    1.3. Objetivos e finalidade

    O principal objetivo deste trabalho o estudo do esvaziamento do centro darea central da cidade de So Paulo e a proposta de um processo de renovao

    8 PIZA, Daniel. No centro, morando com a histria. Estado. Publicado em 03 de novembro de 2007.Disponvel em

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    urbana e arquitetnica que busque alternativas para moradia popular e no

    contribua com os processos de gentrificao.

    Assim, os objetivos secundrios so:

    Propor solues para requalificao de uma determinada rea na parte

    central da cidade de So de Paulo privilegiando usos pblicos;

    Elaborar diretrizes de reforma para edifcios abandonados, de modo que

    estes possam ser utilizados como moradia de interesse social;

    Discutir a questo da habitao em uma metrpole e da infra-estrutura

    necessria para sua implantao. Discutir a dinmica econmica dos processos de renovao urbana com

    nfase nos interesses do capital incorporador e de outros atores sociais.

    Preservar a identidade local e manter os diferentes estios arquitetnicos

    adquiridos ao longo dos anos na poro central da cidade.

    A finalidade deste trabalho , portanto, a formao de uma base terica para

    o desenvolvimento de um projeto urbano e arquitetnico com enfoque na

    requalificao de edifcios abandonadas no centro da Cidade de So Paulo, queser desenvolvimento na prxima etapa do processo de concluso de curso, com a

    disciplina de TFG II.

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    1.4. Metodologia

    Inicialmente foram levantadas as bibliografias referentes aos assuntos que

    este trabalho busca abordar, como o histrico da c idade de So Paulo, reportagens

    e publicaes a respeito do momento atual da cidade, o estudo dos processos de

    renovao urbana, as possveis causas do processo conhecido como gentrificao

    e demais publicaes e artigos relacionados a estes de forma subsidiria.

    Foi realizada uma visita de campo a rea central da cidade, no qual foi

    realizado um levantamento fotogrfico e uma anlise qualitativa da localidade

    atravs do mtodo de pesquisa de Avaliao Ps-Ocupao desenvolvido porRHEINGANTZ (2009), num primeiro momento realizando a etapa de walktroughe

    mapeamento visual.

    Assim, na segunda etapa sero realizadas entrevistas e aplicados

    questionrios para compreender como os usurios vivenciam a rea central de So

    Paulo. Assim como, contatar os coordenadores e/ou responsveis pelos projetos j

    vigorantes de renovao do centro, a exemplo dos projetos Viva o Centro e Nova

    Luz. Contatar tambm os participantes e responsveis da Frente de Luta porMoradia (FLM).

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    2. A CIDADE DE SO PAULO

    Jorge Wilheim, arquiteto, publicou em 1982 o livro Projeto So Paulo e

    recebeu recentemente o convite para reedit-lo, curioso com o convite perguntou ao

    editor por que o desejo de relan-lo. O editor espantando respondeu:

    A cidade est parcialmente alagada, o congestionamento faz com quetrabalhadores gastem mais de quatro horas por dia em desconfortveisveculos, a classe mdia vive apavorada, o mercado imobilirio geracondomnios cercados por imensos muros que pretendem dar segurana aesses guetos, dois teros das construes da cidade so irregulares, SoPaulo se expande incessantemente e nem sabemos onde ela termina!10

    Este o cenrio que se descortina no sculo XXI, uma cidade reconstruda

    sobre o mesmo assentamento, que cortou e recortou a geografia original, mantendo

    poucos testemunhos de uma So de Paulo de vrzeas, vales e colinas.11

    Aquele que dela se aproxima, impactado por seu tamanho: quilmetros de

    avenidas, com suas casas e galpes e blocos de edifcios. (ROLNIK, 2009) A

    cidade que no pra, o movimento das pessoas e objetos que circulam 24 horas

    por dia (ROLNIK, 2009) por uma cidade de grande dinamismo e tenso, e nela se

    desenvolve: uma cidade contendo riscos, porm cheia de oportunidades.

    (WILHEIM, 2011)

    10 WILHEIM, Jorge. So Paulo: uma interpretao.So Paulo: Ed. Senac So Paulo, 2011. p. 1311

    ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 8.

    Figura 7 Centro de So PauloFonte: Nilton Fukuda/AE

    Figura 6 Regio da Ladeira Porto GeralFonte: Lcia Pantaleoni

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    O ponto mais alto da cidade, o espigo da Paulista, foi escolhido pelos bares

    do caf e capites da indstria como residncia no incio do sculo 20. Sculos a

    frente, o carter residencial foi totalmente trocado por torres envidraadas dos anosdo milagre econmico. Por fim, a emisso eletrnica desenha antenas iluminadas

    sobre essas torres, anunciando uma nova transformao.12

    Enquanto isso, os rios, como o Tiet e o Pinheiros, que antigamente seespalhavam por largas vrzeas, transformaram-se em canais de esgotoespremidos entre vias expressas, onde carros, nibus, caminhes, carretas emotocicletas disputam o espao a qualquer hora do dia, noite, madrugada.Em certos pontos de suas margens se vem, sob os anncios iluminados,barracos de madeira e tijolo com varais de roupas pendurados e anncios de

    borracheiros, manicure e vende-se geladinho; em outros, esqueletos deconstrues inacabadas ou falidas, runas totalmente cobertas por inscriesem grafias incompreensveis ao lado de edifcios profusamente pintados eiluminados. Mais adiante conjuntos de torres inteligentes, brilhando em ao evidro, refletem a paisagem marcada pela crueza desses contrastes.13

    Assim, se molda a cidade fragmentada por muros visveis e invisveis,

    habitada por diversas tribos, com a imagem contraditria de opulncia e misria. Um

    aglomerado metropolitano de 17 milhes de habitantes, ultrapassando seus limites

    fsicos, fagocitando os municpios ao redor. Cidade de acirrada competio

    desgovernada de projetos individuais, do sonho de sucessivas geraes de

    imigrantes que buscaram oportunidades, alguns que conquistaram, outros que se

    12ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 9.

    13ROLNIK, Raquel. Op. Cit. p. 9.

    Figura 8 Favela de Paraispolis nobairro MorumbiFonte: Nilton Fukuda/AE

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    afundaram na cidade que aparenta no ser fruto da ordem, mas filha do caos.

    (ROLNIK, 2009)

    2.1. Breve Histrico

    Fundada em 1554 por padres jesutas que a partir do litoral de Santos,

    subiram o despenhadeiro coberto de Mata Atlntica, conhecido como Serra do Mar.

    No planalto, os padres guiados por ndios chegaram vrzea onde vislumbraram

    um bom local para aportar, em frente a uma ngreme ladeira. (WILHEIM, 2011)

    E desse ponto, voltando-se para o norte pde avistar amplo panorama: aos

    ps da colina, o Tamanduate e o primeiro porto; em frente, a vastaplancie e a vrzea que poderia fornecer gua abundante; ao longe, a mataciliar e os meandros de um grande rio, ento chamado Anhembi; nohorizonte longnquo, uma serra (a Cantareira) estendendo-se de nascente apoente. Investigando o outeiro plano, descobriu que, ao sul, ele terminavaabruptamente sobre o vale de outro rio, o Anhangaba, formado por doiscrregos, o Bexiga (hoje sob a avenida Nove de Julho) e o Saracura (hojesob a 23 de Maio). O stio, portanto, era propcio para a implantao de umavila na colina, fcil de defender. (WILHEIM, 2011)14

    A cidade de So Paulo s comeou a ganhar importncia a partir de meados

    do sculo XIX com a expanso cafeicultura no interior. Porm, foi na cidadebandeirista que desde o sculo XVII saram entradas e bandeiras, que tinham

    como objetivo explorar o territrio na busca de minrios preciosos e escravos.

    14WILHEIM, Jorge. So Paulo: uma interpretao. So Paulo: Ed. Senac So Paulo, 2011. p. 31-32.

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    O crescimento do cultivo do caf mudou radicalmente a posio econmica

    na ento provncia de So Paulo. Iniciou-se no vale do Paraba e comeou a

    ocupar o oeste paulista por volta de 1850. Nessa poca, cerca de um tero dapopulao residente era negra ou mulata, devida a crescente necessidade de

    escravos. (ROLNIK, 2009)

    O problema da mo-de-obra para lavoura s foi resolvido com a entrada de

    milhares de imigrantes europeus, sobretudo italianos e espanhis, para trabalhar

    nas fazendas da provncia. (ROLNIK, 2009)

    Em meados do sculo XIX, surge um fato novo a modificar radicalmente opalco: a exportao da crescente safra de caf exigia um meio de

    transporte, e os ingleses se encarregaram de implant-lo: constroem umaferrovia. Descobre-se, ento, que o trem no conseguiria subir colina ondea cidade se situava! Em conseqncia, constroem-se estaes fora dela: naLuz, prxima a um mosteiro, na Barra Funda e no Brs. Como ocorreu emtodos os pases, surgiu, em tono de cada estao, um aglomeradoconstitudo por hotis, estabelecimentos para refeies, pequeno comrcio,residncias, bordis, oficinas de implementos agrcolas, caa e pesca, ecomrcio atacadista relacionado com as atividades rurais. (WILHEIM,2011)15

    A estrada de ferro no conseguiria subir a colina, assim, para evitar a

    elevao ela se desenvolveu pelos vales do rio Paraba (na direo do Rio de

    Janeiro) e do rio Tamanduate (na direo de Santos), acarretando a canalizao

    parcial deste ltimo, para que no cruzasse o traado retilneo da ferrovia.

    (WILHEIM, 2011) Assim, o progresso comeava a alterar, de forma grave, o stio

    15WILHEIM, Jorge. So Paulo: uma interpretao. So Paulo: Ed. Senac So Paulo, 2011. p. 36.

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    natural. (WILHEIM, 2011) A cidade passa por uma grande transformao

    urbanstica, econmica, tnica e poltica. (ROLNIK, 2009)

    Nos anos seguintes a 1900 a cidade viveu seu grande boom habitacional,devido aos grandes grupos de imigrantes portugueses, espanhis, italianos, srios,

    libaneses, judeus e um ltimo grande grupo, o japons, a partir da segunda dcada

    do sculo XX. (ROLNIK, 2009)

    Nesse contexto ocorre o primeiro grande surto de urbanidade na cidade,

    quando se implantaram os servios de gua encanada, o transporte por bondes

    eltricos, a iluminao pblica, a pavimentao das vias. (ROLNIK, 2009)

    No Centro Histrico, a colina original estruturada em torno das igrejas eordens coloniais Carmo, So Francisco e So Bento e seus largos sofreu uma primeira grande reforma urbanstica, com a implantao de umprojeto do francs Bouvard, no vale do Anhangaba. O Teatro Municipal esua esplanada sobre o vale, o viaduto do Ch e o alargamento de ruas evielas coloniais configuraram a cidade do tringulo (So Bento / Direita / 15de Novembro) e o principio da ocupao do chamado Centro Novo (regioem torno da praa da Repblica) com boulevards, jardins pblicos, cafs elojas elegantes e equipamentos culturais, expresso da mudana radical daidentidade proposta para a cidade da elite.Enquanto isso, nos bairros populares, a paisagem misturava as chaminsde fbrica alta densidade das vilas e cortios, e a infraestrutura urbana se

    resumia praticamente ao bonde.16

    16ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 17.

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    Na cidade escravocrata, o centro era local de moradia e trabalho de todos,

    marcado pela presena de escravos e do comrcio. Nas ruas e praas do centro

    misturavam grupos sociais e atividades. (ROLNIK, 2009) A periferia era o cinturo

    caipira e local de ricas chcaras. (ROLNIK, 2009)

    A transformao urbana que foi marcante na cidade do caf, foi aconfigurao de uma segregao espacial bem definida, com os bairros proletrios

    e loteamentos burgueses, contra uma apropriao e reforma do centro urbano

    pelas novas elites dominantes. (ROLNIK, 2009)

    Em 1879, dois alemes, Glete e Nothman, compram uma chcara e abremali ruas espaosas e alamedas arborizadas e grandes lotes. Assim nascia o

    Figura 9 O tringulo histrico da cidade de So Paulo (1810)Fonte: So Paulo antigo plantas da cidade

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    bairro dos Campos Elseos: um Champs-Elyses paulistano, que definiria omodelo de bairro aristocrtico, exclusivamente residencial e de alta renda.Em 1890, a vez do recm-aberto bairro de Higienpolis concentrar ospalacetes mais elegantes da cidade. Em seguida, a avenida Paulista,inaugurada em 1891. [...] Contava com rede de gua e esgoto, iluminao episo macadamizado com pedregulhos brancos. Em 1894, Joaquim Eugniode Lima, incorporador da Paulista, consegue aprovar uma leiexclusivamente para a avenida, obrigando as futuras construes aobedecer a um afastamento de dez metros de cada lado, a serem ocupadospor jardins e arvoredos. Dessa forma, por meio de leis que definem ummodo de construir ao qual corresponde clara e exclusivamente umsegmento social, garantiu-se ao longo da histria da cidade que os espaoscom melhores qualidades urbansticas fossem destinados a esses grupos,apresar da imensa presso representada permanentemente pelocrescimento populacional das massas imigrantes.17

    A Companhia City controlava os servios pblicos de transporte, energia e

    telefones, detendo o monoplio dos mesmos. Esse monoplio permitiu a empresa

    um grande poder de gerar valorizaes de determinadas reas urbanas. Porm,

    quando o contrato deveria ser renovado, o ento prefeito Antnio Prado, deu

    parecer contrrio a prorrogao. A populao comemorou, pois estava descontente

    com o abusivo valor das tarifas e da pssima qualidade dos servios. (ROLNIK,

    2009)Assim, na dcada de 1930 a cidade ultrapassou a marca de 1 milho de

    habitantes e o quadro na cidade era de escassez, especulao, inflao. [...]

    17ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 19.

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    Nesse contexto, acirravam-se todos os tipos de tenso e conflito: social, tnico,

    cultural, poltico e econmico. (ROLNIK, 2009)18

    2.2. So Paulo metrpole

    A Companhia Light passava por uma situao politicamente delicada devido

    a no prorrogao do contrato, em contrapartida uma nova proposta para abertura

    de vias, privilegiando a indstria automobilstica foi a chave para outra mudana

    espacial que estaria por vir.

    O plano rodoviarista de Prestes Maia se opunha a qualquer obstculo fsicopara o crescimento urbano ou a qualquer definio a priori de um limite para o

    crescimento de cidade. (ROLNIK, 2009) A posio tomada foi totalmente

    compatvel com a necessidade de espalhar uma cidade considerada densa e

    explosiva. (ROLNIK, 2009) Assim, surge a flexibilidade do servio de nibus, ao

    contrrio dos bondes e trens, cujo raio de influncia era limitado pela distncia

    entre estaes, combinada com um modelo de expanso horizontal, trazia a

    soluo para a crise de moradia com a auto-construo em loteamentos na

    periferia. (ROLNIK, 2009)19

    18ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 27.

    19ROLNIK, Raquel. Op. Cit. p. 33.

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    A ilimitada expanso horizontal foi coerente com o prprio modelo

    radioconcntrico de sistema virio proposto pelo plano, sendo um dos principais

    elementos que ajudou a configurar a metrpole que temos hoje. (ROLNIK, 2009)

    Figura 10 Diagrama terico do Plano de Avenidas de Prestes MaiaFonte: Raquel Rolnik, 2009

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    Somada ao espraiamento progressivo e dimuio da densidade da cidade

    graas a mobilidade criada pela industria automobilstica, a verticalizao nas

    zonas centrais permite a configurao do desenho urbano que hoje encontramosna metrpole. As imigraes comeam a cessar e o processo de migrao

    aumenta, a cidade torna-se mais diversificada culturalmente. Da estranha mistura

    de pastel, pizza, quibe e cheeseburger obrigatria em qualquer lanchonete de

    esquina s dezenas de sushimen nordestinos espalhados pelos restaurantes da

    cidade, so muitos os sinais dessa presena mesclada. (ROLNIK, 2009)

    Do ponto de vista urbanstico, os anos 70 marcaram o deslocamento do

    centro de consumo das elites, da cidade do Centro Histrico em direo AvenidaPaulista e Jardins. (ROLNIK, 2009) A metrpole contava at essa data, com um

    nico centro dividido em duas partes: o Centro Tradicional (regio do tringulo),

    constitudo durante o perodo da industrializao (1910-40), e o Centro Novo (da

    praa Ramos praa da Repblica), que se desenvolveu no ps-guerra (1940-60).

    (ROLNIK, 2009)

    A vida cultural, econmica e poltica de todos os grupos sociais da

    metrpole compartilhava um espao que abrigava simultaneamente a bocado lixo e a do luxo, a sede das grandes empresas e uma multido devendedores ambulantes, engraxates, pastores e pregadores do fim dostempos, homens-sanduche e os magazines elegantes da rua Baro deItapetininga, os apartamentos luxuosos da avenida So Lus e os chamados

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    treme-treme feitos de kitchenettes superpovoadas na baixada do Glicrio ena Bela Vista. 20

    Portanto, a partir dos anos 60 inicia-se o lento processo de evaso de sedes

    de empresas e bancos para a regio da Avenida Paulista, que se caracterizar

    como centro financeiro da metrpole por muitos anos. No mesmo perodo, os

    equipamentos pblicos passam a exibir sinais de deteriorao. Assim, pela primeira

    vez na histria, o Centro Histrico deixa de ter o metro quadrado mais caro da

    malha urbana. (ROLNIK, 2009)

    Reforando uma circulao radiocntrica, o metr acabou atraindo para area central os grandes terminais de nibus e ocupando a rea central com

    mega-reas de transbordo. Por outro lado, a entrada da indstriaautomobilstica no pas disseminou o uso do carro particular, relegando aotransporte pblico apenas os mais pobres, que no podiam compr-lo. nesse momento que se implantam os calades da rea central,transformando as principais ruas em reas exclusivas de pedestres. Assim,desenhou-se para a rea central um destino de mxima acessibilidade portransporte pblico e restrio para os automveis, no momento em que aselites e classes mdias da cidade se confinavam definitivamente dentro deseus carros, deixando de ser pedestres. Estavam lanadas as bases parauma popularizao do centro e seu abandono progressivo pelas elites.21

    A poltica habitacional difundida pela COHAB nos anos 1970 contribuiu deforma decisiva para a evaso dos centros. A construo de imensos conjuntos

    horizontais uniformes e exclusivamente residenciais em reas de extrema periferia,

    sem nenhuma infraestrutura prvia, distanciou e segregou ainda mais o espao da

    20ROLNIK, Raquel. So Paulo. 3. ed. So Paulo: Publifolha, 2009. p. 45

    21ROLNIK, Raquel. Op. Cit. p. 46.

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    cidade. Ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, em outras periferias tambm

    se construram os grandes condomnios fechados das elites, os quais so dotados

    de tamanha infraestrutura que os moradores quase no precisam sair dentro dosmuros para realizar as atividades cotidianas. (CALDEIRA, 2003)

    E o panorama atual? A cidade est em crise. Ao que tudo indica a cidade

    mostra sinais de esgotamento de um paradigma interno de estruturao da vida

    urbana do que propriamente de uma crise econmica. A caracterizao dessa crise

    se revela de forma peculiar: sob o impacto de uma rpida transformao do

    cenrio econmico global, a cidade vive simultaneamente a decadncia e a

    pujana. (ROLNIK, 2009)

    E a paisagem urbana, como se encontra? Melhor que no inicio do sculo

    XXI, devido lei municipal22 que proibiu a publicidade externa e os mutires de

    limpeza de monumentos. A leitura do ambiente deveria permitir ao cidado se

    localizar na cidade, porm em So Paulo, a sensao de estar perdido em meio

    a uma floresta de prdios de escassa identidade. (WILHEIM, 2011)

    Grande parte da paisagem urbana constituda pelos volumes, fachadas,texturas e cores de suas edificaes(WILHEIM, 2000 apud WILHEIM 2011).No se pode esperar, em So Paulo ou em qualquer outra cidade, que todoedifcio seja belo: a mdia de qualidade esttica dos edifcios costuma serdesinteressante em qualquer cidade. Para qualificar a paisagem urbana,interessa que ela seja pontuada por alguns edifcios exemplares de rara

    22Lei da Cidade Limpa (Lei Municipal n 14.223/06).

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    qualidade. [...] Convm notar que a relativa m qualidade esttica dapaisagem construda decorre do abandono do critrio de homogeneidadedas fachadas sobre as ruas e da legislao recente, que estabeleceu umatipologia dominante: a do edifcio alto e isolado. (WILHEIM, 2011)

    Nessa perspectiva, se caracteriza atualmente o centro de So Paulo, com

    poucos exemplares de uma arquitetura relevante e preservada e muitos

    abandonados23, por motivos diversos que sero discutidos na prxima etapa de

    apresentao desse trabalho.

    23Figuras 11, 12, 13, 14, 15 16, 17 e 18. Centro da cidade de So Paulo. Fonte do Autor: COSTA, 2011.

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    3. O ESVAZIAMENTO DOS CENTROS

    3.1. Os processos de renovao urbana e a gentrificao

    Aps dcadas de desconcentrao e suburbanizao, os coraes das

    cidades esto voltando a ganhar o foco de atores polticos, econmicos e sociais,

    sendo objeto de dinmicas mltiplas e de reinvestimentos importantes. (BIDOU-

    ZACHARIASEN, 2006) No mbito social, os processos de gentrificao tambm

    participam dessas dinmicas.

    Muitos autores utilizam o termo gentrificao, segundo HAMNET (1984

    apud BIDOU-ZACHARIASEN, 2006) o termo poderia ser explicado da seguinte

    maneira:

    A gentrificao um fenmeno ao mesmo tempo fsico, econmico, social ecultural. Ela implica no apenas uma mudana social, mas tambm umamudana fsica do estoque de moradias na escala de bairros; enfim, umamudana econmica sobre os mercados fundirio e imobilirio. estacombinao de mudanas sociais, fsicas e econmicas que distingue agentrificao como um processo ou conjunto de processos especficos.

    Cabe ressaltar que muitos so os fatores que acarretam nos processos de

    gentrificao e que eles ocorrem de maneira diferenciada em vrias metrpoles aoredor do mundo, devido muitas vezes ao processo de constituio do centro, ou

    seja, a histria do local. A gentrificao, portanto, no concerne segundo o que

    muitos autores a definiram, simples revitalizao de antigos bairros da elite, mas

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    sobretudo mudana funcional dos antigos bairros que eram industriais, ou

    operrios, e sua transformao sociolgica. (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006)

    O Brasil foi por muito tempo influenciado pelo movimento moderno e pelaideologia funcionalista, j que o desenvolvimento das cidades se deu pela forma de

    uma expanso urbana crescente, assim, com o aumento cada vez mais acentuado

    da fragmentao social e espacial urbana, os poderes pblicos procuram se

    afastar do modelo norte-americano que havia servido de referncia no perodo

    precedente, para buscar inspirao nas polticas europias. (BIDOU-

    ZACHARIASEN, 2006)

    A respeito da cidade de So Paulo, nos bairros da S e da Repblica,

    correspondentes ao antigo centro administrativo e de negcios, residem desde os

    anos 30 famlias com renda mdia. Atualmente esses bairros so bastante

    degradados, e sua populao, em regresso numrica. [...] No entanto, nessa

    regio ainda existe uma intensa atividade comercial popular, e sobretudo informal.

    (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006)

    Durante a administrao da prefeita Marta Suplicy24 foi elaborado um projeto

    urbano para a requalificao do centro, constitudo de espaos diversificados e

    integrados, para onde tanto os habitantes quanto as atividades econmicas

    deveriam regressar. O plano tratava-se de:

    Preservar e restaurar os espaos de interesse histrico; de favorecer asatividades ligadas ao turismo, lazer e cultura; de realizar programas

    24Gesto administrativa de 2000-2004.

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    habitacionais para famlias de diferentes nveis de renda e reciclar antigosimveis que se transformaram em cortios; e de solucionar problemas docomrcio ambulante a fim de requalificar o espao pblico, entre outrasmedidas. O financiamento de tal projeto foi concebido como resultante de

    parcerias estabelecidas entre o rgo pblico, o setor associativo e asONGs, alm de certamente contar com investidores privados. (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006)

    Pode-se concluir que h, portanto, uma crescente preocupao com essas

    reas centrais degradadas e com o processo de expulso dos moradores atuais

    que esse processo de requalificao pode causar.

    3.2. A necessidade de moradia

    Em entrevista para o jornal Estado, o arquiteto Roberto Toffoli diz que paraum projeto de requalificao do centro de So Paulo dar certo, a questo

    habitacional fundamental, [...] sem ela, no se revitaliza de verdade o centro de

    So Paulo.25

    Um estudo da Universidade de So Paulo (USP) feito a pedido da Prefeitura

    apontou 200 imveis vazios na regio central, mas nem todos podem ser

    reformados. As reformas so muito complexas, pois esses edifcios foram feitos

    em uma poca em que a legislao no estava preocupada com incndio, com aacessibilidade universal, disse Fbio Mariz, arquiteto e pesquisador da USP26

    25PIZA, Daniel. No centro, morando com a histria.Estado. Disponvel em

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    A Frente de Luta por Moradia (FLM) um grupo de luta por moradia,

    formado por representantes de movimentos autnomos que juntam esforos para

    reivindicar projetos habitacionais. Os movimentos que integram a Frente socomprometidos com a implantao de polticas sociais destinadas populao de

    baixa renda. A Frente vem desenhando sua estratgia de ao tendo como

    balizadores alguns pontos fundamentais. A luta da FLM por uma reforma urbana

    em que os pobres tambm morem na regio central, que ocupem os espaos j

    consolidados da cidade, no sentido de diminuir os impactos ambientais com a

    expanso horizontal da cidade. Luta para que os imveis de devedores da Unio,

    do Estado e do Municpio sejam espaos para construir moradia popular. Luta por

    participao popular e por mutires auto-gestionados.27

    Agrupando as trs perspectivas expostas, evidente a necessidade de

    moradia na cidade de So Paulo e a aceitao por parte de estudiosos, de que

    ocupar de forma legal os edifcios abandonados uma das melhores alternativas

    para requalificar a rea. O centro de So Paulo dotado de toda a infraestrutura,

    gua, luz, esgoto, telefonia, internet, transporte, portanto, torna-se necessrio

    analisar com maior apreo essa alternativa de moradia.

    27 FLM. Site oficial: http://www.portalflm.com.br/. Trecho extrado do site.

    Figura 19 Avenida IpirangaFonte: Andr Lessa/AE

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    4. REFERNCIAS PROJETUAIS

    Projeto de Urbanismo para o Rio de Janeiro, Le Corbusier, 1929

    A cidade deveria favorecer o aumento da densidade da rea central, adequando o fenmeno dos novos meios de

    circulao, metrs, carros e bondes, visando modificao da concepo da rua. Le Corbusier utiliza a sinuosidade do trao

    para justificar a forma livre, acomodando s lminas habitacionais topografia dos morros, assim idealiza viaduto-habitados,

    com via expressa na cobertura, a 15 m de altura.

    Projeto de Urbanismo para So Paulo, Le Corbusier, 1929

    Figura 20 Croqui do projeto urbanoFonte: http://www.jauregui.arq.br/leitura.html

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    Para no sobrecarregar a cidade com seus veculos, Le Corbusier sugere ligar de cume a cume, as colinas da cidade,

    os congestionamentos acabam por sobrecarregar e desvalorizar a cidade (Imagem x). Estes viadutos deveriam ser

    construdos em estrutura de concreto armado com pilotis, para que fosse vivel a ocupao das reas sob o tabuleiro, comedifcios de habitao e de escritrios.

    Figura 21 Croqui do projeto urbanoFonte: http://thevillasavoye.blogspot.com/

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    5. CONSIDERAES FINAIS

    Atravs dos estudos realizados e das publicaes lidas evidente a

    preocupao com essas reas degradadas no centro da cidade. Muito se discutido, algumas coisas so propostas, mas muito trabalho ainda se deve fazer

    para buscar um plano adequado de requalificao.

    O processo de gentrificao um dos grandes fatores que atrapalha no

    plano urbano de requalificao, porm, atravs de recursos urbansticos, a

    exemplo do zoneamento, possvel e plausvel que se consigam instalar

    moradores de baixa renda nas reas centrais.

    Embora a dinmica econmica, e todos os interesses envolvidos nessasgrandes obras acabem por sobrepor os interesses das famlias que ali residem

    ainda se pode propor, cabe ao arquiteto buscar alternativas, esse o papel que ele

    deve desempenhar socialmente, acreditar que possvel esses interesses

    coexistirem, e ao invs de extrapolar os limites da cidade, olhar para dentro dela,

    de modo que a cidade possa se refazer, se reinventar sobre ela mesma.

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    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BIDOU-ZACHARIASEN, Catherine. (Coord) De volta cidade: dos processos de gentrificao s polticas de revitalizao dos

    centros urbanos. So Paulo: Editora Annablume, 2006.CALDEIRA, Tereza P.R. Cidade de muros: crime, segregao e cidadania em So Paulo. So Paulo: Edusp/Editora 34, 2003.

    CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade: urbanismo e modernizao em So Paulo. So Paulo: Editora Senac SoPaulo, 2002.

    FIX, Mariana. So Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem.So Paulo: Boitempo, 2007.

    KOOLHAAS, R.; MAU, B. The Generic City. S,M,L,XL. Nova York: The Monacelli Press, 1995.

    PIZA, Daniel. No centro, morando com a histria. Estado. Disponvel em