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Com relação aos capítulos 4 e 5, pede-se: a) explicar como o dinheiro se transforma em capital; b) explicar o processo de trabalho e o processo de produzir mais valia IV – COMO O DINHEIRO SE TRANSFORMA EM CAPITAL 1- A fórmula geral do capital O capital tem origens históricas na produção de mercadorias e do comércio, desenvolvimento da circulação de mercadorias a partir do século XVI. A primeira forma que o capital se manifesta é o produto final da circulação de mercadorias, ou seja, o dinheiro, considerando apenas os aspectos econômicos da circulação. Mas o dinheiro normalmente é apenas dinheiro e se diferencia do capital pela forma de circulação. Pois a forma simples é M-D-M, a forma que o dinheiro-capital se movimenta é D-M-D. Na primeira há igual quantidade e diferença na qualidade e o processo é finito, já na segunda há igualdade na quantidade e diferença na qualidade, o que o move é o valor-de-troca, que objetiva ter mais dinheiro. O primeiro passa para diferenciar os circuitos é a sucessão inversa das fases, sendo M-D é venda e D-M compra. M-D-M’ representa uma economia mercantil, onde M é diferente de M’ (casaco vendido e calça comprada). É necessário vender para comprar. A quantidade é a mesma, pois o valor-de-troca é o mesmo, mas a qualidade é diferente, pois os valores-de-uso são diferentes. A mercadoria está presente no início e no fim e o dinheiro no meio. O dinheiro é gasto para que se obtenha um valor-de-uso diferente, buscando a equivalência. D-M-D’ o D deve ser diferente de D’, pois é natural que se compre por um preço e se venda por mais. É necessário comprar para vender. Há igualdade na qualidade, pois os valores-de-uso são iguais, mas há diferença na quantidade, pois os valores-de-troca são diferentes. A mercadoria fica no meio do ciclo enquanto o dinheiro fica no início e fim. O dinheiro é adiantado para que se obtenha, no final do processo,

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Com relação aos capítulos 4 e 5, pede-se: a) explicar como o dinheiro se transforma em capital; b) explicar o processo de trabalho e o processo de produzir mais valia

IV – COMO O DINHEIRO SE TRANSFORMA EM CAPITAL

1- A fórmula geral do capital

O capital tem origens históricas na produção de mercadorias e do comércio, desenvolvimento da circulação de mercadorias a partir do século XVI.

A primeira forma que o capital se manifesta é o produto final da circulação de mercadorias, ou seja, o dinheiro, considerando apenas os aspectos econômicos da circulação. Mas o dinheiro normalmente é apenas dinheiro e se diferencia do capital pela forma de circulação. Pois a forma simples é M-D-M, a forma que o dinheiro-capital se movimenta é D-M-D. Na primeira há igual quantidade e diferença na qualidade e o processo é finito, já na segunda há igualdade na quantidade e diferença na qualidade, o que o move é o valor-de-troca, que objetiva ter mais dinheiro.

O primeiro passa para diferenciar os circuitos é a sucessão inversa das fases, sendo M-D é venda e D-M compra.

M-D-M’ representa uma economia mercantil, onde M é diferente de M’ (casaco vendido e calça comprada). É necessário vender para comprar. A quantidade é a mesma, pois o valor-de-troca é o mesmo, mas a qualidade é diferente, pois os valores-de-uso são diferentes. A mercadoria está presente no início e no fim e o dinheiro no meio. O dinheiro é gasto para que se obtenha um valor-de-uso diferente, buscando a equivalência.

D-M-D’ o D deve ser diferente de D’, pois é natural que se compre por um preço e se venda por mais. É necessário comprar para vender. Há igualdade na qualidade, pois os valores-de-uso são iguais, mas há diferença na quantidade, pois os valores-de-troca são diferentes. A mercadoria fica no meio do ciclo enquanto o dinheiro fica no início e fim. O dinheiro é adiantado para que se obtenha, no final do processo, mais dinheiro, então, não é equivalente. O objetivo é acumular capital.

Enquanto na troca simples M-D-M o movimento está presente na diferença entre as mercadorias em que está encarnado o trabalho social. Já na circulação D-M-D não existe uma diferença qualitativa, pois ambos são dinheiro (representação das mercadorias na qual seu valor-de-uso é desprezado), e sim uma qualitativa, porque não tem sentido começar e terminar com a mesma quantidade de dinheiro, esse processo se realiza para conseguir mais dinheiro ao fim do processo. Por isso, a forma completa do processo é D-M-D’, sendo D’ a quantia inicial mais a variação, ele representa também a mais valia, um excesso. Ao valorizar-se na circulação transforma-se em capital. Na circulação simples, embora possam existir diferenças de valores, mas isso acontece por conseguir descontos ou ser enganado pelo vendedor, pois a equivalência entre eles é a condição normal.

Na circulação simples, a forma dinheiro serve apenas para possibilitar a troca, pois assume o valor das mercadorias. A circulação D-M-D visa à expansão do dinheiro, pois uma quantidade maior deve ser conseguida ao final do ciclo, então, diferente da simples, o dinheiro e a mercadoria trabalham apenas

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como modos de existência diversos do próprio valor, sendo dinheiro a forma geral e a mercadoria o particular.

Nas circulações os valores mudam constantemente de forma. “O valor de expansão tem formas alternadas de manifestar-se no ciclo de sua vida, examinando-as, chegamos às proposições: capital é dinheiro, capital é mercadoria”. O valor, através das contínuas transformações dinheiro-mercadoria, modifica-se, e nos processos de expansão adquire valor excedente.

2- Contradições da formula geral

O dinheiro se transforma em capital através de uma forma de circulação que contradiz as leis já estudadas sobre a natureza da mercadoria, do calor do dinheiro e da própria circulação. Desse modo ao se analisar os dois tipo de circulação é possível conectá-las a fim de entender a transformação. As perguntas giram em torno de saber se a circulação realmente permite expansão do valor, para que um excedente seja formado, ou seja, se a circulação (ou o comércio) forma a mais valia.

Não é diferente quando o dinheiro é mediador entre as mercadorias, fazendo a distinção da compra e venda. O valor das mercadorias está impresso no seu preço antes mesmo de entrarem em circulação. Nos ciclos, a troca de um valor-de-uso por outro, é apenas uma mudança de forma da mercadoria (metamorfose). O mesmo valor, o mesmo trabalho social cristalizado fica nas mãos do possuidor da mercadoria, primeiro na forma de mercadoria, depois na de dinheiro e, por fim, novamente em mercadoria. Essas mudanças não implicam em alterações de valor, pois apenas a forma dinheiro muda.

A circulação de mercadorias apenas provoca mudanças na forma valor, pois a troca é feita entre equivalentes. Se ambos os envolvidos na troca de valores-de-uso ganham, isso não acontece no valor-de-troca, pois embora as mercadorias possam ser vendidas com desvios de preço real, isso representa uma violação da lei reguladora. É uma troca de equivalente, por isso, não é nenhum meio de acrescentar valor.

Condillac comete um engano, confundindo valor-de-uso com valor-de-troca ao afirmar que nas trocas cada uma das partes entrega um valor menor por um maior, pois ambas trocam coisas supérfluas por outra útil. Em consequência, outro erro é cometido ao afirmar que o comércio gera excedente, o que não ocorre, pois se trocam objetos de igual valor-de-troca, equivalentes, por isso são permutáveis. Isso acontece porque mesmo que o vendedor consiga colocar o preço acima do que realmente custa, ao assumir a posição de comprador, também terá que comprar mercadorias acima do valor, gastando o possível excedente. Algo assim só seria possível se houvesse uma classe que apenas vendesse, o que certamente é inexistente. Assim, a formação da mais valia e a transformação do dinheiro em capital não pode ser explicado pelo comércio. Colocar uma taxa em cima de algo não cria uma riqueza, apenas a transfere, pois o vendedor vira comprador.

A formação de excedente não pode ser explicada dentro da esfera da circulação, então ela teria sura origem fora da circulação? Se a circulação é a soma de todas as relações mútua dos possuidores de mercadoria, como essa origem viria de fora? Dentro da circulação o possuidor pode gerar valor através do seu trabalho, por exemplo, se possui tecido, pode fazer uma calça, que consequentemente terá

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maior valor que apenas o tecido. Isso mostra que é impossível que o produtor de mercadorias consiga expandir um valor, por precisa estar em contato com as mercadorias e os outros possuidores, que estão na circulação. Então a transformação de dinheiro em capital não pode originar-se na circulação nem fora dela.

3- Compra e venda da força de trabalho

A mudança do valor do dinheiro que se pretende transformado em capital não deriva do próprio dinheiro, pois, ao assumir o papel de meio de compra ou de pagamento, ele apenas realiza o preço da mercadoria e também não decorre da revenda da mercadoria. Assim, a mudança tem que ocorrer no ato D-M, através do valor-de-uso e não do seu valor. Isso acontece porque o possuidor deve encontrar um meio de extrair da mercadoria uma utilidade mais valiosa para o consumo, para isso ela precisa ser fonte de valor e a partir disso ele empregará outra coisa encontrada no mercado, a força de trabalho.

A força de trabalho é “o conjunto das faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie. Assim, ela só ser encontrada como mercadoria no mercado, ao ser oferecida ou vendida pelo seu possuidor. Por isso é preciso que o possuidor, para vende-la como mercadoria, seja o seu proprietário, assim possa cedê-la ao comprador provisoriamente, alienando-se sem perder sua propriedade, o que não é o caso de um escravo.

Aquele interessado em vender produtos que não provenham da própria força de trabalho deve possuir meios de produção, como matéria prima e instrumentos, meios de subsistência, para poder viver. Depois que os produtos assumem a forma de mercadoria precisam ser vendidos para suprir as necessidades do responsável pela produção, pois o tempo que leva para ser vendido é acrescido aos custos da produção.

Há algumas condições para que o dinheiro seja transformado em capital; o possuidor do dinheiro precisa encontrar alguém disposto a vender a sua força de trabalho e esse trabalhador deve, unicamente, possuir a sua própria força de trabalho para vender, sua única mercadoria.

A força de trabalho tem seu valor determinado como qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário a sua produção e, consequentemente, reprodução. A partir disso, é necessário encontrar meios para a manutenção, pois o indivíduo precisa de meios de subsistência. Ao trabalhar, o indivíduo despende energia, seja pelo desgaste muscular ou cerebral, e precisa se renovar. Ao aumentar esse dispêndio é necessário também aumentar a remuneração, mas possui um limite, porque o interesse do contratante é que no dia seguinte o trabalhador esteja apto a produzir da mesma forma, seguindo uma linha normal. Além disso, a capacidade de trabalho quando não é vendida não tem valor, pois essa é dessa forma que o trabalhador conquista meios para efetuar trocas e satisfazer necessidades.

O consumo da força de trabalho, como o de qualquer outra mercadoria, realiza-se fora do mercado, fora da esfera de circulação. Esse espaço abandonado, onde ocorrem as transações comerciais, “é realmente um verdadeiro paraíso dos direitos inatos do homem. Só reinam aí a liberdade, igualdade e Betham”.

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Liberdade para vender, igualdade devido à troca de equivalentes, propriedade, pois cada um oferece o que é seu e Betham, porque cada um só cuida do que é seu.

Resumindo o processo do trabalho depende de dinheiro para comprar força de trabalho e matéria prima para produzir uma mercadoria que valerá mais dinheiro que o empregado no início. Assim o dinheiro se transforma em capital no processo de produção, compra e venda da força de trabalho para produzir um excedente, mais valia e mais dinheiro: o capital.

V – PROCESSO DE TRABALHO E PROCESSO DE PRODUZIR MAIS VALIA

1- O processo de trabalho ou o processo de produzir valores de uso

Para que o trabalho, vendido e comprado como força de trabalho, aparecer novamente como mercadoria, necessários que seja transformado em valor-de-uso, algo que sirva para satisfazer necessidades. O que o trabalhador produz a mando do capitalista é um valor-de-uso particular.

O trabalho é um processo de interação entre o homem e a natureza, o ser humano modifica as forças naturais para que adquira uma forma útil aos homens. Acontece uma humanização, transformação histórica da natureza. Aponta-se a diferença entre o trabalho primitivo e a força de trabalho. A sociedade não teria se desenvolvido se ainda fosse primitiva. Não é possível chamar o que os animais executam de trabalho, pois o fazem instintivamente, não planejam um produto final.

O processo trabalho possui alguns elementos componentes, como o próprio trabalho, objeto em que se aplica o trabalho, como a matéria prima e o instrumento, que é usado para modificar a matéria prima. Há uma diferença muito grande no que se produzia centenas de anos atrás, e mais ainda referente aos meios de produção, enquanto se usavam animais domesticados hoje se usam máquinas especializadas. Essa diferença é muito importante para distinguir épocas econômicas, através de como se faz e não do que se faz.

No processo de trabalho, o homem realiza a transformação no objeto sobre o qual operam os instrumentos. Ao termino desse processo, o produto é um valor-de-uso, natureza adaptada para ser útil ao homem. O trabalho está incorporado ao objeto. Nesse processo, meio e objeto de trabalho são meios de produção e o trabalho é trabalho produtivo.

A terra e a natureza são os objetos ou matérias primas principais para a confecção de produtos. Um valor-de-uso pode ser considerado matéria-prima, meio de trabalho ou produto, dependendo da sua função e posição que ocupa no processo de trabalho, variando sua natureza. Por exemplo, uma laranja, é valor-de-uso, mas pode ser matéria prima para o feitio de suco de laranja.

O processo de trabalho tem como finalidade criar valores-de-uso, de transformar os elementos naturais de acordo com as necessidades humanas. “É condição necessária no intercâmbio material entre o homem e a natureza e também é condição necessária natural eterna da vida humana”.

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As relações de trabalho se baseiam no fato de o empregado trabalhar sob controle do capitalista, quem pertence seu trabalho. O capitalista fiscaliza a produção, observando os meios de produção que devem ser aplicados e verificando se matéria prima não é desperdiçada. Outro ponto, é que o produto é propriedade do capitalista, e não do trabalhador.

2- O processo de produzir mais valia

Os capitalistas não produzem por amor aos valores-de-uso. Eles pretendem produzir valor-de-uso, que possuam também um valor-de-troca, para que sejam mercadorias destinadas à venda. Além disso, eles querem produzir uma mercadoria de valor mais elevado do que foi gasto para produzi-la, assim será um valor-de-uso além do verdadeiro valor-de-uso, restando um excedente (mais valia).

O valor da matéria-prima está na mercadoria final, pois o tempo de trabalho exigido na produção é parte necessária a sua produção, e por isso está contido nela.

Embora os trabalhos executados pelos trabalhadores sejam diferentes para produzir variados produtos, pois cada um exige técnicas e capacidades diferentes, a meta de produzir trabalho é a mesma, o que torna o trabalho igual. Durante o processo de trabalho, o trabalho se transforma em ação de ser, “fermento vivo”, o movimento vira produto concreto. Pois, ao final do processo de produção, uma determinada quantidade de trabalho e tempo de trabalho social (que cria valor) estão contidos na mercadoria.

O trabalhador executa as tarefas exigidas pelo capitalista e recebe pelo trabalho. O capitalista argumenta que o trabalhador não pode ser auto-suficiente, pois depende da matéria prima e dos meios de produção fornecidos pelo contratador. Assim o trabalhador recebe pelo trabalho que executou, pois se o empregado for pago em um valor x, devolverá um valor x acrescido na mercadoria.

O importante é perceber que se o trabalhador conseguir a remuneração necessária pelo dia inteiro durante algumas horas de trabalho não significa que ele não pode trabalhar mais. Por isso o valor da força de trabalho e o valor que ela cria no processo de trabalho são, portanto, duas magnitudes distintas. Desse modo, o empregador paga o valor diário da força de trabalho, pertencendo-lhe o uso dela durante todo o dia. Embora a manutenção desse dia custe apenas meia jornada, a força de trabalho pode operar durante uma jornada inteira. Assim o valor que cria em um dia é o dobro do valor-de-troca. Isso é ótimo para o comprador sem que seja injusto para o vendedor.

A partir disso fica claro um excedente na produção, pois ao final do processo há mais dinheiro que no início, assim o dinheiro se transforma em capital. Não há nenhuma violação, pois os equivalentes são permutados e o comprador pagou a mercadoria pelo valor: matéria e trabalho. Depois, ao ser colocada em circulação, a mercadoria, é retirado um excedente das vendas. Essa é a transformação do dinheiro em capital, dentro e fora da esfera de circulação: por intermédio da circulação, por depender da compra da força de trabalho e fora por servir apenas para se chegar à produção da mais valia, que ocorre na produção.

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O processo de produzir valor se diferencia do processo de produzir mais valia pelo fato de o segundo se prolongar além de certo ponto. Assim, enquanto o valor força de trabalho é substituído por um equivalente tem-se o processo de produzir valor, ultrapassando esse ponto, esse processo passa a produzir mais valia. Desse modo a mais valia se origina de um excedente de trabalho não remunerado.

Como o objetivo da produção é o lucro, a acumulação, a exploração do trabalhador e a mais valia é indispensável. Antigamente, as jornadas era maiores, pois a mais valia absoluta era essencial e os trabalhadores não possuíam muitos dinheiros, com essas conquistas os capitalistas encontraram uma forma de continuar lucrando. Com as revoluções tecnológicas foi possível aumentar a mais valia relativa, ou seja, aumento de produtividade, não de tempo de trabalho como na mais valia absoluta. Por isso diz-se que as máquinas não são para diminuir o sofrimento do homem, e sim para aumentar a produtividade.

Como conclusão é possível destacar que está envolvido certo fetiche em relação ao salário, pois o trabalhador não recebe exatamente pelos serviços, se não geraria o lucro. O único consciente do seu trabalho sem remuneração era o servo, que deveria trabalhar parte do tempo para o senhor e parte para si, ou ceder para de sua própria produção.