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MORAL GERAL A Moral geral tem por objeto estabelecer as condições mais gerais do dever ou, em outras palavras, os princípios universais que determinam a retidão dos atos humanos . Estas condições e estes princípios são: I. Extrinsecamente: 1. O fim último do homem. 2. A lei, que orienta o homem para seu fim último. 3. O dever e o direito, que resultam da lei. II. Intrinsecamente: 1. A vontade livre, condição essencial da moralidade dos atos humanos. 2. A moralidade (ou qualidade moral), que é: a) Objetiva, quer dizer, qualifica o ato humano em si mesmo, segundo sua relação com o fim último e com a lei moral. b) Subjetiva, quer dizer, que qualifica o ato humano enquanto procede da consciência moral. 3. As conseqüências dos atos morais, que são: a) A responsabilidade. b) O mérito e o demérito c) A sanção. d) A virtude e o vício. O FIM ÚLTIMO 1. O bem e o mal objetivos. — As coisas para as quais tende a atividade humana têm seu valor objetivo próprio. Há um bem e um mal objetivos, que existem independentemente do querer e que se impõem a este como coisas a perseguir ou evitar.

Moral

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Filosofia.

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MORALGERALA Moral geral tem por objeto estabelecer as condies mais gerais do dever ou, em outras palavras, os princpios universais que determinam a retido dos atos humanos. Estas condies e estes princpios so:I. Extrinsecamente:1. O fim ltimo do homem.2. A lei, que orienta o homem para seu fim ltimo.3. O dever e o direito, que resultam da lei.II. Intrinsecamente:1. A vontade livre, condio essencial da moralidade dos atos humanos.2. A moralidade (ou qualidade moral), que :a) Objetiva, quer dizer, qualifica o ato humano em si mesmo, segundo sua relao com o fim ltimo e com a lei moral.b) Subjetiva, quer dizer, que qualifica o ato humano enquanto procede da conscincia moral.3. As conseqncias dos atos morais, que so:a) A responsabilidade.b) O mrito e o demritoc) A sano.d) A virtude e o vcio.

OFIM LTIMO1. O bem e o mal objetivos. As coisas para as quais tende a atividade humana tm seu valor objetivo prprio. H um bem e um mal objetivos, que existem independentemente do querer e que se impem a este como coisas a perseguir ou evitar.2. Como determinar este bem e este mal objetivos? O que o bem e o que o mal? Responderemos brevemente que o bem o que nos faz realizar a perfeio de nossa natureza, quer dizer, atingir o fim ltimo de nossa natureza, e que o mal o que nos desvia desta perfeio, fim ltimo de nossa natureza.3. O problema moral. O problema consistir, pois, aqui, em definir qual a essncia de nossa perfeio, quer dizer, em que consiste o fim ltimo de nossa natureza. Por isto mesmo conheceremos a lei de nossa atividade moral e o que fundamenta o seu valor absoluto, como tambm a natureza do dever.I. EXISTNCIA DO FIM LTIMO1. Atos do homem e atos humanos. Falamos aqui dos atos humanos, quer dizer, daqueles que pertencem ao homem enquanto ser racional e, por conseguinte, que procedem de sua inteligncia e de sua vontade livre. Todos os atos do homem no so necessariamente atos humanos (digerir um ato do homem, mas no um ato humano).2. Todos os atos humanos tm um fim. Com efeito, a inteligncia no age ao acaso. As faculdades do homem tm um objeto determinado, que seu fim particular (a verdade o fim da inteligncia, a beleza, o fim do sentimento esttico etc), e elas so por sua vez ordenadas ao bem total do homem, que o objeto da vontade.3.O fim dos atos humanos conhecido como fim. Isto , prprios aos atos humanos. Aquele que cumpre estes atos conhece o seu fim: o homem no procura seu fim como a pedra ou o animal; ele o persegue conscientemente pela inteligncia que possui da relao de seus atos a seu fim. Quer dizer, ele possui a noo de fim e a noo de bem, noes que coincidem porque a vontade no pode querer seno o bem. Por isto, o fim ou o bem so o princpio e o termo dos atos humanos: princpio, enquanto o fim conhecido e o bem almejado que determinam o cumprimento dos atos, e termo, enquanto para a obteno do bem que tendem todas as atividades do homem.4. Todos os atos humanos tm um fim ltimo. Este designa o que desejado por si e subordina todo o resto como meio. Aquele que gosta do dinheiro no o faz por ele mesmo, mas pelos bens materiais que lhe proporciona, e estes, por sua vez, so desejados apenas como meios de realizar um fim mais alto e ltimo, nico fim verdadeiro, a felicidade. O homem s pode ter, pois, um nico fim ltimo.5.O fim ltimo, especifica os atos do ponto-de-vista moral.Os atos no so mais do que os elementos materiais da moralidade: o elemento formal, quer dizer, a maneira pela qual os atos procedem da razo e da vontade, em outras palavras, o fim ltimo o verdadeiro princpio especificador da moralidade, quer dizer, aquele que d ao ato sua espcie ou sua qualidade objetiva, boa ou m.II. NATUREZA DO FIM LTIMOO homem busca necessariamente a felicidade, quer dizer, o bem em geral, enquanto ele oposto do mal e atra toda vontade. A felicidade: eis, portanto, o bem supremo. Mas se todos os homens desejam necessariamente a felicidade como o bem supremo, no so todos unnimes em colocar a felicidade nos mesmos bens concretos. Uns pensam ach-la nos bens corporais, outros no exerccio das faculdades intelectuais, outros na virtude, outros no conjunto dos bens finitos etc. possvel, pois, distinguir duas espcies de fins ltimos: uma, subjetiva, que consiste na busca da felicidade em geral; outra, objetiva, que consiste no bem concreto, na posse do qual o homem pensa encontrar a felicidade.1. O fim ltimo subjetivo. , por definio, aquilo a que a natureza tende como ao termo ltimo de sua perfeio, a seu bem total e absoluto, na posse do qual todos os seus desejos sero tranqilizados e saciados e pelo qual seremos homens, to perfeitamente quanto possvel.Esta perfeio se traduz para ns pela felicidade completa, porque a perfeio, no somente o bem, mas tambm nosso bem. A felicidade: tal , pois, o fim ltimo subjetivo, o aspecto sob o qual todo bem tomado como fim visto e desejado. Quaisquer que sejam os bens concretos em que o homem pensa achar sua plenitude e seu repouso lhe aparecem necessariamente como fonte de beatitude e se identificam com a beatitude. Este fim ltimo subjetivo, o homem o quer com uma tendncia instintiva e fatal, e diz Pascal, mesmo quando ele vai-se enforcar, a felicidade, que busca. O homem no pode renunciar tanto felicidade quanto ao prprio ser,2. O fim ltimo objetivo. Mas qual , entre todos os bens que solicitam o homem, aquele que lhe trar a felicidade perfeita, para a qual tendem todos os seus desejos? Qual , objetivamente, o verdadeiro bem, fonte da verdadeira felicidade? S pode ser um bem absoluto, quer dizer, ltimo e almejado por si mesmo, excludo de todo o mal, estvel, e ao alcance de todos. Esta ltima condio se lhe impe com evidncia, porque o desejo da felicidade nasce da natureza e o bem que o saciar deve ser comum a todos aqueles que participam da mesma natureza, isto , a todos os homens. Ora, nestas condies:a)Nenhum dos bens criados deste mundo pode ser o supremo bem. Cincia, virtude, honrarias, sade, riquezas: todas estas coisas so bens, mas no o bem perfeito, porque so instveis, por sua natureza associadas a males diversos, encerram labor e dificuldade, e no so comuns a todos.b) O prprio conjunto dos bens criados no pode constituir o bem supremo, nem, por conseguinte, satisfazer ao desejo profundo do homem, porque estes bens tomados em bloco participam da fragilidade e da relatividade dos bens particulares, que eles totalizam.c) Apenas Deus nosso bem supremo. Somente Ele nos pode tornar felizes, porque somente Ele realiza o bem perfeito, que a inteligncia concebe e ao qual aspira a vontade. "Vs fizestes nosso corao para Vs, meu Deus, dizia AgostInho, e nosso corao estar inquieto at que repouse em Vs".III. A OBTENO DO FIM LTIMOA obteno da beatitude possvel a todos e obrigatria para todos.1. possvel a todos. Com efeito, todos os homens desejam a felicidade. Ora, repugna que um desejo natural no possa atingir seu fim, porque a natureza vem de Deus e traduz em suas tendncias profundas uma ordem desejada por Deus.2. obrigatria para todos. O homem, como tudo que existe, feito para Deus, e, para ele, tender para seu fim, isto , para Deus, conformar sua vontade ao fim necessrio de toda a criao. O homem no pode, assim, renunciar a seu fim, sem violar a ordem estabelecida por Deus, quer dizer, a ordem natural das coisas, segundo a qual tudo deve estar subordinado ao primeiro princpio do ser.3. Comea nesta vida, pelo conhecimento e o amor de Deus, mas a felicidade no pode consumar-se a no ser na outra vida, porque ser somente no alm que a alma conhecer a Deus e o amar to perfeitamente quanto possvel.4. A vida presente uma preservao para a beatitude. essencialmente o que se chama uma passagem, quer dizer, uma marcha frente, para um termo que ela no atingir neste mundo, mas de que aproximar, na medida em que se conformar ordem moral, condio necessria e suficiente da beatitude.

A LEIAps termos falado do fim ltimo do homem, devemos tratar da lei, regra extrnseca dos atos humanos. Estes sero bons ou maus, segundo estejam ou no conformes lei moral, isto , conformes, em dependncia da lei natural e das leis positivas que a explicam e a determinam, ao plano que Deus estabeleceu em sua sabedoria, para conduzir todas as coisas a seu fim.I.A LEI EM GERALToms define a lei: uma ordenao da razo, promulgada para o bem comum por aquele que dirige a comunidade.1.A lei uma ordenao da razo, no sentido de que se apia em consideraes que a justificam. , pois, o contrrio de uma ordem arbitrria, baseada no simples capricho.2.A lei tem por fim bem comum e no tal ou qual bem particular. Sem dvida, a lei obriga cada indivduo, mas se dirige a todos, tendo em vista o bem comum de todos. Ora, este bem comum de todos sempre, e necessariamente, o prprio Deus, fim ltimo do universo.3.A lei deve ser promulgada, sem o que no poderia obrigar, porque se dirige antes de tudo inteligncia e no pode ser obedecida se no for suficientemente conhecida.4. A lei sustentada por aquele que dirige a comunidade, quer dizer, por aquele a quem compete ordenar para o bem comum: Deus, de incio, depois todos os que exercem em seu nome a autoridade que no pertence seno a Ele.II.A LEI ETERNA1. Definio. Toda ordem tem seu princpio em Deus, criador e soberano senhor de todas as coisas. A lei eterna no nada mais do que a prpria ordem do universo enquanto se impe a cada criatura para a obteno de seu fim ltimo. Em outras palavras, ela , diz Santo Toms, o plano de governo de todas as coisas, tal como existe na inteligncia divina.2. Existncia da lei eterna. Que esta lei eterna existe o que ressalta com evidncia da considerao dos atributos divinos. Deus no pode dirigir as criaturas para seu fim ltimo a no ser segundo um plano, e um plano conforme razo. A criao no obra de uma fora cega, mas de uma vontade infinitamente sbia, que age em conformidade com a ordem estabelecida pela inteligncia divina.3. Como conhecemos a lei eterna? No podemos conhec-la tal como existe na inteligncia divina. Ns a conhecemos enquanto se acha impressa por Deus em nossa razo, sob forma dos princpios universais, que regulam a conduta moral, ou ainda pela Revelao.III.A LEI NATURAL1. Definio. A lei natural a lei que o homem conhece pela luz natural de sua razo, enquanto implcita na natureza das coisas. uma participao da lei eterna na criatura racional, uma impresso em ns da luz divina, pela qual podemos discernir o bem e o mal.2. Existncia.a) O testemunho da conscincia. A conscincia testemunha altamente a existncia da lei natural. Com efeito, a inteligncia no pode deixar de pronunciar certos juzos como tambm no pode deixar de consider-los evidentes, qualquer que seja a oposio que eles possam encontrar da parte de nossas paixes e de nossos preconceitos: " necessrio fazer o bem e evitar o mal" (primeiro princpio da moralidade); " necessrio dizer a verdade, respeitar o bem do prximo, ser fiel s suas promessas etc." Todos estes juzos nos so dados como exprimindo obrigaes morais s quais no podemos fugir sem incorrer na censura de nossa conscincia. a este conjunto de juzos prticos universais, que se chama lei natural (ou direito natural).b) As objees positivistas. Os positivistas modernos (Durkheim, Lvy-Brhl etc.) pretenderam destruir a noo de uma lei natural ou de um direito natural, observando que o bem e o mal resultam unicamente das influncias sociais (educao, leis, costumes, etc), e tambm que prticas consideradas hoje como ms foram outrora tidas por boas e legtimas (poligamia, sacrifcios humanos, assassnio de pais envelhecidos, etc).Estes argumentos no procedem. Com efeito, h atos que reconhecemos como bons (ou maus) em si mesmos e por si mesmos, independentemente da lei humana (como dizer a verdade, ser fiel palavra dada, amar a seus pais). Por outro lado, se ns nos reconhecemos obrigados a obedecer s leis humanas e aos preceitos transmitidos por nossos educadores, em virtude de uma lei natural que nos ensina que bom obedecer queles que esto investidos de uma autoridade legtima. Enfim, os fatos invocados pelos positivistas esto longe de provar que no h lei natural. Com efeito, eles constituem, ou falsas aplicaes da lei natural: os selvagens que matam seus pais, quando estes envelhecem, pensam manifestar-lhes seu amor filial, livrando-os das desventuras da velhice, ou ento estes fatos dizem respeito apenas a aspectos secundrios da lei natural: tal o caso da poligamia, que no absolutamente contrria aos fins primordiais do casamento.3. Natureza. Resulta do que dissemos que a lei natural possui:a) A imutabilidade intrnseca, quer dizer, a lei natural imutvel em si mesma, e seus primeiros princpios no podem desaparecer da conscincia: com efeito, a natureza humana, regida por esta lei, no manda, muito menos a razo divina de onde procede esta lei. necessrio, todavia, admitir a possibilidade e a realidade de certo progresso do direito natural, no sentido de que, pelo avano da civilizao, pelo desenvolvimento e extenso do saber, produz-se pouco a pouco um aperfeioamento das exigncias da lei natural. V-se, alm disso, que este progresso diz respeito apenas s aplicaes mais ou menos remotas dos princpios gerais do direito natural.b) A imutabilidade extrnseca. A lei natural tambm imutvel extrinsecamente, no sentido de que ilcito tanto ab-rog-la. transgredi-la, mesmo parcialmente, ou dispens-la (ao menos em suas prescries fundamentais), quanto impossvel criatura humana renunciar, no todo, ou em parte, a sua natureza.4. O primeiro princpio da lei natural. Este princpio que governa, enquanto primeiro princpio, toda a vida moral, o seguinte: necessrio fazer o bem e evitar o mal.a)Evidncia do primeiro princpio. O primeiro princpio da ordem prtica, como o primeiro princpio da ordem especulativa (princpio de identidade: o que , ), exprime uma evidncia absoluta e absolutamente primeira, luz da qual se desenrola toda a vida moral, como toda a cincia se constri sob a luz do princpio de identidade e de contradio.b) Origem do primeiro princpio. Como o primeiro princpio da ordem especulativa, o primeiro princpio da ordem prtica apreendido no ser, por uma intuio imediata. Do mesmo modo, como a inteligncia apreende imediatamente, no ser objetivo que se oferece a ela, a lei universal do ser, que a de ser conforme a si mesmo, assim tambm ela apreende imediatamente, no ser que se apresenta como o termo de nossas tendncias, quer dizer, como bem, a lei universal do bem, que a de ser querido e possudo, enquanto o mal aparece como o que contraria nossas tendncias e compromete nossa perfeio, devendo, portanto, ser evitado. Estas noes de bem e de mal so, pois, absolutamente primitivas como a intuio do ser, embora sejam submetidas, como o desenvolvimento da razo, a uma explicitao e uma preciso progressivas.5. Os preceitos da lei natural. A lei natural compreende, como o primeiro princpio, algumas aplicaes muito gerais deste primeiro princpio. So as seguintes:a)Enquanto ser vivo, o homem deve respeitar o ser que recebeu de Deus, o que o obriga a zelar pela manuteno de sua vida e de sua sade e o probe matar-se a si prprio.b)Enquanto ser racional, o homem deve conduzir-se como uma pessoa, quer dizer, desenvolver sua razo pela busca do verdadeiro, sua liberdade pelo domnio de suas paixes, sua vida moral pela religio.c)Enquanto membro de uma espcie, o homem deve poder contribuir pelo casamento (se tal sua vocao), pela procriao e educao das crianas, conservao da espcie humana.d)Enquanto ser social, o homem deve obedecer s autoridades encarregadas de assegurar o bem comum da sociedade.IV.A LEI POSITIVA1. Natureza. A lei natural devem-se acrescentar as leis positivas, divinas e humanas, para explic-las, e determinar-lhes as diversas aplicaes. Com efeito, a lei natural se estende a todos os atos humanos, mas seus preceitos, sendo muito gerais, se ressentem dti falta de determinao. Esta insuficincia se faz sentir especialmente na sociedade, que no pode viver e prosperar a no ser por meio de prescries numerosas e precisas. Donde a necessidade das leis positivas.A lei positiva , pois, uma ordenao da razo, decorrente da livre vontade do legislador, e que se acrescenta lei natural, para determinar-lhe as aplicaes.2. Diviso. A lei positiva pode ser:a)Divina. Esta nos ensinada pela Revelao e estudada pela Teologia tica ou moral.b)Humana. o conjunto das leis civis, contidas nos Cdigos.3. Condies de legitimidade. Para ser legtima, no basta que a lei positiva exprima a vontade do chefe ou a do maior nmero. A lei positiva deve, de incio:a)Ser conforme lei natural e no viol-la em nada. necessrio, em todo caso, que todas as decises do poder civil possam ser justificadas por alguma lei natural.b)Ser ordenada ao bem comum e sociedade, e no ao bem particular de um indivduo, de um grupo ou de um partido. Cumpre frisar que o bem comum no a soma dos interesses particulares, mas o bem da sociedade, como tal. Todavia, como a sociedade feita para assegurar a perfeio da pessoa humana, esta se beneficia sempre, de algum modo, do bem comum, ainda quando lhe deva sacrificar seus interesses individuais imediatos.c)No exceder o poder do legislador e no ordenar seno o que exeqvel.

O DEVER E O DIREITOI. O DEVER E A OBRIGAO MORAL1. Definies.a)A ordem da reta razo. Todo dever concreto, isto , que concerne a um caso particular, um juzo prtico moral, formulado como concluso de um raciocnio baseado num princpio geral da lei natural ou positiva e que impe uma obrigao. Este raciocnio pode ser simplesmente implcito, e ele o , normalmente, nos casos em que a aplicao da lei moral ao caso concreto se. faz sem dificuldade.b)Definio. Pode-se, por conseguinte, definir o dever como a obrigao moral de fazer ou no fazer alguma coisa.

2. Natureza. A essncia do dever consiste, pois, numa necessidade moral de tal ordem que a vontade no possa fugir a ele sem perturbar a ordem da razo, ou violar o direito de outrem.Esta necessidade moral nada tem em comum com a necessidade fsica ou com a fora. uma realidade interior, que age sobre a vontade, sem violent-la, mas que se impe como a expresso de |Ma ordem que exige absoluta e incondicionalmente a obedincia e o respeito, e que subsiste imutvel, apesar de todas as transgresses, de que a vontade pudesse tornar-se culpada.3. Fundamentos da obrigao moral. A obrigao moral, dizemos, aparece-nos como absoluta. Qual , pois, seu fundamento? Tm-se dado trs tipos de resposta: a razo, a sociedade ou Deus,a) A razo. Kant fundamenta a obrigao moral na razo, enquanto ela formula uma lei universal e absolutamente necessria. H, nesta teoria, uma confuso: a razo nos faz conhecer a lei, mas no a cria. Ao contrrio, a razo reconhece que a lei promulgada pela conscincia no possui verdadeira autoridade, a no ser que seja por sua vez a expresso da lei eterna.b)A sociedade. a teoria dos positivistas. A presso exercida pela sociedade sobre os indivduos acabaria, com o tempo, por interiorizar-se, e o que no era inicialmente para nossos antepassados seno uma injuno vinda do exterior, transformar-se-ia para ns, pelo exerccio do hbito e da hereditariedade, em obrigao de conscincia.Esta tese no pode ser admitida. Choca-se contra numerosas e graves dificuldades, particularmente: pelo fato de que certas presses sociais (a moda, por exemplo) no se transformam em obrigaes de conscincia. Podemos envergonhar-nos de no andar na moda, nunca, porm, teremos o sentimento de cometer uma falta moral por no seguir a moda; pelo fato de que as coaes sociais no impem respeito seno na medida em que se conformam s exigncias morais que lhes so, ento, anteriores e distintas; pelo fato de que a lei natural (ou o direito natural) tem uma universalidade e uma imutabilidade tais que aparece como independente das sociedades de formas to diversas que se sucederam na terra. Se a lei natural se originasse da sociedade, ter-se-ia diversificado como as sociedades humanas.c) Deus. Enfim, aparece unicamente Deus como verdadeiro fundamento da obrigao moral, enquanto princpio e fim ltimo de tudo o que existe. Obedecendo ao dever moral, obedecemos vontade de Deus, criador e legislador de nossa natureza. Somente esta vontade pode exigir de ns respeito absoluto. Por isso, devemos dizer, como o fizemos na Introduo, que a Moral exige, necessariamente, uma base metafsica.4. Os conflitos de deveres. O dever, que nos impe certas obrigaes graves, pode, algumas vezes, obrigar-nos a transgredir outras obrigaes, incompatveis com este dever. o que se chama de conflitos de deveres. Por exemplo: Pedro deve participar de um campeonato esportivo, onde sua presena necessria; mas, no mesmo instante, seu dever filial o obriga a permanecer junto a seu pai, gravemente enfermo.Estes conflitos, que se produzem quando impossvel o cumprimento, ao mesmo tempo, de deveres que se excluem mutuamente, so puramente aparentes, pois todo dever vem de Deus, e evidente que Deus, infinitamente sbio e justo, no pode obrigar a cumprir dois deveres incompatveis entre si. Em cada caso, ser ento o dever mais importante o mais grave, e, de fato, o nico dever e o que, por conseguinte, dever prevalecer.5. Diviso do dever. Divide-se o dever:a)Em razo de seu fim. Deste ponto-de-vista, distinguem-se os deveres para com Deus, os deveres para consigo mesmo e os deveres para com o prximo.b)Em si mesmo. Da se segue a distino entre deveres de justia e deveres de caridade.

II.O DIREITO E O FUNDAMENTO DO DIREITO1. O DIREITO1.1. Noo.a) No sentido lato, da mesma forma que se chama direito, na ordem fsica, o caminho que conduz, sem desvio, de um ponto a outro, do mesmo modo, na ordem moral, o direito , etimologicamente, o que conduz o homem., sem desvio, a seu fim ltimo.b) No sentido prprio e tcnico, o direito o poder moral de possuir, fazer ou exigir alguma coisa.

1.2. Essncia do direito. O direito um poder moral, isto , um poder que se baseia na razo e na lei moral. Ope-se, assim, ao poder fsico, que se baseia na fora, A fora certamente, pode ser justa, mas no o direito.

1.3. Sujeito de direito.a) Somente a pessoa sujeito de direito. S o ser inteligente e livre, isto , a pessoa, pode ter direitos, porque s ele capaz de exercer um poder moral, de vez que o nico capaz de conhecer a lei e as obrigaes que dela derivam.b) As crianas e os dementes, e, em geral, todos os indivduos que uma debilidade congnita ou acidental priva de razo tm ou conservam todos os direitos prprios sua qualidade de seres racionais e livres. Podem, somente, ser privados, para seu prprio bem, do uso destes direitos, exercidos em seu nome por aqueles que tm o encargo, natural ou legal, de seus interesses.1.4. Objeto de direito. o ato moral que se pode cumprir ou exigir de outro. O homem pode reivindicar direitos sobre a substncia das criaturas irracionais e sua atividade, porque so feitas para ele. Mas no pode reivindicar direitos seno sobre a. atividade dos seres inteligentes, e no sobre suas pessoas, que no tm outro fim a no ser Deus. Donde, a ilegitimidade da escravido absoluta.1.5.Propriedades do direito. As principais propriedades do direito so:a) A inviolabilidade. a propriedade essencial do direito. Quaisquer que sejam os obstculos exteriores a sua realizao, qualquer que seja a violncia que sofra, o direito subsiste em toda a sua fora, porque exprime a ordem ideal estabelecida pela lei natural e a lei eterna, que coisa alguma, nem ningum, pode abrogar.b)A coao. O direito exigvel pela fora, e o privilgio da fora, sua nica razo de ser, servir o direito. No estado de sociedade organizada, todavia, a coao fsica (exceto no caso de legtima defesa) no pertence aos indivduos.c) A limitao. O direito tem seus limites, porque se apia numa lei que, por sua vez, visa a um fim determinado. Donde se segue que o direito no tal seno no limite preciso da lei.d) Os conflitos de direitos. Os direitos podem entrar em conflitos entre si: na realidade, este conflito no seno aparente, pois que no h direito contra direito: o direito anterior e superior anula o direito posterior e inferior. O direito que tenho de tocar piano anulado, noite, pelo direito mais importante que tm meus vizinhos de dormir.2. O FUNDAMENTO DO DIREITO2.1. O problema. Pode-se distinguir o fundamento do direito em geral, e o fundamento dos direitos concretos: este ltimo chama-se ttulo legal, isto , o fato contingente em virtude do qual um direito dado pertence a uma pessoa determinada. (Exemplos: uma escritura de propriedade; um ttulo de dvida pblica, uma aplice de seguro).A questo do fundamento do direito em geral, isto , da causa eficiente do direito como tal, do princpio supremo de que decorre, tem sido objeto de discusso, que podemos assim resumir sucintamente :a) Erros empiristas sobre a origem do direito. Os filsofos empiristas quiseram fundamentar o direito ora na necessidade (Helvetius): toda necessidade cria um direito, ora na fora (Hobbes, Nietzsche), ora nas leis da sociedade civil (Spencer, Durkheim).Estas teorias devem ser rejeitadas. Com efeito, a necessidade no pode criar o direito, pois como determinar o valor dos direitos que nascem de necessidades opostas? Seria necessrio recorrer a fora. Finalmente, o direito derivaria da fora. De outra parte, porm, a fora no pode servir de base ao direito, pois o direito um poder moral, enquanto que a fora de ordem fsica. Estas coisas so heterogneas, e a fora no pode produzir o direito tanto quanto do carvalho no pode nascer uma borboleta! Enfim, a sociedade no a fonte do direito, porque antes da sociedade civil existe a famlia, que j supe um sistema de direitos, e tambm (como j observamos) porque a prpria sociedade, para se fazer obedecer, apia-se no direito, o que quer dizer que, longe de servir de base ao direito, ela o supe.b) Erro racionalista. Kant quer que o direito se baseie na dignidade da pessoa humana, dignidade que se exprime na e pela liberdade moral. A liberdade seria, assim, o objeto de um respeito absoluto, como que constituindo o bem supremo do homem.Ainda a h um erro. A liberdade no um absoluto: nada vale por si mesma, mas pelo uso que dela se faz. Outrossim, ela se submete ordem moral, e a dignidade humana consiste em obedecer, livremente, a esta ordem moral. Definir-se-, pois, antes, pela obedincia do que pela liberdade, que meio e no fim.2.2. A lei, fundamento do direito. preciso, pois, ficar na doutrina que resulta de nosso estudo da lei, e segundo a qual o fundamento prximo do direito no difere da lei natural ou positiva legtima. Definimos, com efeito, o direito, como um poder moral; ora, s uma lei pode produzir um poder moral. Quanto ao fundamento ltimo do direito, encontra-se na lei eterna, donde derivam todas as outras leis, naturais e positivas, e, destas, os direitos e os deveres.III. A JUSTIA E A CARIDADE

1. A justia.

1.1. Definio. A justia consiste na vontade firme e constante de dar a cada um o que lhe devido.A justia supe, pois, duas condies necessrias:a) A distino de pessoas em que existem correlativamente o um direito e um dever de justia;b) A especificao de um objeto, que pertence a uma delas e que deve ser respeitado, devolvido ou restabelecido em sua integridade pela outra.1.2. Diviso. Distingue-se:a) A Justia comutativa. a que dirige e regula a igualdade das transaes entre os indivduos. Ela obriga, pois, a dar a outrem aquilo que lhe pertence, cuique sunm. Assim, devemos respeitar no operrio o direito ao justo salrio, no comerciante o direito ao justo preo da mercadoria, no comprador o direito de receber, em troca do preo justo, a quantidade e a qualidade correspondentes de mercadoria.b) A Justia distributiva. a justia que fundamenta o direito que tem a sociedade de exigir de seus membros o que necessrio para seu fim, e de tratar cada um segundo seus mritos e suas necessidades. esta a razo pela qual o Estado distribui os impostos e os outros encargos sociais, proporcionalmente fortuna de cada um de seus membros. A justia distributiva no satisfeita seno quando esta proporo observada to equitativamente quanto possvel. Tem seu correlativo por parte dos membros da sociedade, na justia legal, pela qual estes do sociedade o que lhe devido.

2. A Caridade2.1. Noo. A caridade consiste no amor do prximo. Vai, pois, alm da justia, que manda somente respeitar os direitos do prximo. Ela essencialmente o dom de si e daquilo que nos pertence, como conseqncia de um amor de benevolncia que nos impulsiona a querer fazer o bem ao prximo.2.2. Fundamento. O dever de caridade baseia-se na fraternidade dos homens entre si, enquanto que o dever de justia se fundamenta apenas nos direitos estritos da pessoa humana. Vemos, de fato, na Histria, que a idia de caridade progrediu ao mesmo tempo que a de fraternidade humana. o cristianismo que, revelando aos homens sua fraternidade natural e sobrenatural, condicionou o acontecimento histrico da caridade universal. 2.3. Caracteres. Os deveres da caridade so:a) Relativamente indeterminado nos pormenores de suas aplicaes: posso escolher (salvo caso de urgncia) as pessoas a quem farei a caridade, o momento e as circunstncias em que a farei, e a medida em que a farei.b) No exigveis pela fora. S a justia escrita pode recorrer fora para se fazer respeitar.

3. Justia e caridade

3.1. Pode-se reduzir a caridade justia? Certos filsofos quiseram negar a originalidade da caridade, sustentando que no seria seno a forma provisria da justia. A caridade, na Histria, dizem eles, transformou-se constantemente em dever de justia, paralelamente ao progresso das idias morais: outrora, libertar um escravo era um ato de caridade; hoje, seria um dever estrito de justia. O futuro ver, da mesma forma, a caridade de hoje tornar-se a justia de amanh.Estas idias so muito contestveis. Erram, de uma parte, por reconhecer apenas a esmola como forma de caridade, enquanto que existem tambm dons do corao muitas vezes mais preciosos; que justia futura os dirigir e regulamentar? De outro lado, se verdade que os deveres de caridade se transformaram em deveres de justia, isto implica numa emenda de certos erros de apreciao moral, mas de forma alguma na eliminao da caridade. Ao contrrio a caridade que contribui para realizar maior justia, por exemplo, pela mitigao e supresso da escravido, depois pela ruminao da servido e melhoria das condies de trabalho. A caridade , pois, bem distinto da justia.3.2. Relaes entre caridade e justia.O que acabamos de dizer no tocante distino entre justia e caridade mostra, com evidncia, que a justia e a caridade esto estreitamente ligadas. Com efeito:a) A caridade implica em respeito da justia. Quem ama seu prximo comea primeiramente por respeitar seus direitos. Um patro que se dispensasse de pagar a seus operrios o justo salrio, reservando-se a dar esmola aos mais necessitados, faltaria ao mesmo tempo justia e caridade.b) A justia deve ser temperada pela- caridade. preciso distinguir cuidadosamente a legalidade e a eqidade. A lei civil permite, por exemplo, que um rico expulse um pobre do aposento que no pode pagar. Mas isto contrrio eqidade, ao direito natural. o esprito de caridade que dever, pois, intervir nesse caso, para impedir que se perpetre em nome da legalidade uma injustia real. A caridade tempera, assim, constantemente, as reivindicaes da justia e trabalha, por sua vez, para a paz e concrdia sociais.A justia auxiliar da caridade, enquanto que contribui para tornar sua prtica racional e eficaz. A caridade, como o amor de que procede, facilmente cega e desliza com facilidade para a fraqueza: a esmola distribuda ao acaso arrisca-se a encorajar a preguia; os pais hesitam em castigar as faltas de seus filhos; um corao muito sensvel distribui perdes sem qualquer garantia etc. preciso, pois, que o cuidado da justia acompanhe constantemente o exerccio da caridade. Se a justia deve ser caridosa, preciso, tambm, que a caridade seja justa.d) A caridade auxiliar da justia. Como ficou demonstrado acima, a caridade, longe de ser empecilho para a justia, como se sups vrias vezes, trabalha constantemente para fazer admitir e praticar os deveres de justia, desconhecidos ou violados pelos indivduos e pela sociedade. Vai sempre na frente para abrir caminho a uma justia mais exata.Isto no significa que ela deva desaparecer em proveito da justia. Quando esta fosse completamente satisfeita (seria isso verdadeiramente possvel?) a caridade teria ainda um imenso papel a desempenhar, para aliviar as misrias morais, para fazer reinar nas relaes humanas, constantemente conturbadas pelas desigualdades naturais ou sociais, este esprito de doura e amizade fraterna, sem o qual no h verdadeira sociedade humana.--

MORAL ESPECIAL

A Moralespecial no nada mais do que a aplicao dos princpios universais da moralidade s diversas situaes da existncia e s relaes que mantemos com o prximo. Da asduas partesda Moral especial: a que tratados direitos e deveres dos indivduos, como pessoas privadas e a que tratados direitos e deveres do homem como ser social.

MORAL PESSOAL

A Moral pessoal comportadeveres para com Deus, deveres para consigo mesmo e deveres para com o prximo.

I. OS DEVERES PARA COM DEUS

Os deveres para com Deus se resumem nareligio,que se exprime pelocultoe pelaprece.

1. A RELIGIO

1.Noo de religio. A palavra religio pode ser tomada em diversos sentidos:a)Materialmente,religio oconjunto de doutrinasque tratam das relaes do homem com Deus;b)Subjetivamente,religio avirtude que faz com que serendam a Deus todas as homenagens que lhe so devidas;c)Objetivamente, o conjunto de deveres do homem para com Deus.2.A religio o primeiro dos deveres. Com efeito, ao homem compete fazer o bem e evitar o mal: tal a primeira lei promulgada por sua conscincia. Ora, um bem que se sobrepe aos outros esta ordem moral, em virtude da qual toda criatura racional se submete a seu Autor, reconhece-lhe a perfeio suprema, e imita-o segundo a sua natureza e o seu poder.

3. O amor supremo de Deus. Todos os deveres de religio convergem, acima de tudo mais, para o amor de Deus. Com efeito, subordinar tudo ao bem, e, portanto, ao prprio Deus, reconhecer sua infinita perfeio e declarar nossa dependncia total, eis a base da religio. Mas tambm o amor de Deus que reina sobre todos os outros amores. Assim, no somente possvel ao homem um amor natural por Deus, acima de tudo, como ainda obrigatrio, e no h outro dever mais imperioso.

2. O CULTO

1. Noo. A religio supe o culto, porque deve traduzir-se por atos. O culto , pois, oconjunto de atos pelos quaisareligio se exprime.Ora, estes atos podem ser internos(culto interior),ou externos(culto exterior: particular ou pblico).

2. O cultode direito natural. Efetivamente, a lei natural nos impe honrar a Deus, soberano Senhor de todas as coisas. Ora, devemos faz-lo:a)Interiormente,pela homenagem de nossa inteligncia e o amor de nosso corao.b)Exteriormente.Assim o exige a natureza humana: feito de um corpo e de uma alma unidos em uma mesma natureza, dotado tanto de sensibilidade como de razo, e no podendo exercer esta ltima sem recorrer ajuda dos seus sentidos e ao apoio de uma expresso exterior, o homem deve render a Deus um culto ao mesmo tempo interior e exterior.c)Socialmente.O culto pblico indispensvel, uma vez que a sociedade vem de Deus e lhe deve sua homenagem, como a seu Autor e benfeitor supremo. Por outro lado, nada to eficaz para promover a religio quanto as manifestaes pblicas, onde todos comungam, com um mesmo sentimento de amor e adorao.

3. A PRECE

1. Noo. A prece o atopelo qual a criatura racional testemunha a Deus seu respeito e lhe pede seu auxlio.Nada convm tanto ao homem quanto reconhecer a sua condio de criatura, confessar seu nada em face da onipotncia divina e solicitar a Deus a ajuda de que necessita para obedecer lei do dever.

2. Necessidade da prece. A prece no um luxo facultativo. umaobrigao natural,que decorre de nossos deveres de justia para com Deus. Se devemos reconhecer os benefcios que recebemos da mo dos homens, com muito mais razo devemos proclamar nossa total dependncia em relao a Deus, e agradecer-lhe por todos os bens que a sua Providncia nos outorga.

II. DEVERES DO HOMEM PARA CONSIGOMESMO

Entre os deveres do homem para consigo mesmo, uns se referem aocorpo,outros se referem alma.

1.Deveres para com o corpo.

O homem forado aprover sua manuteno e conservao da vida,a fim de ficar apto a satisfazer convenientemente seus deveres de estado. Este dever acarreta obrigaes positivas e obrigaes negativas.1. Obrigaes positivas. Resumem-se no emprego dosmeios ordinriospara assegurar a conservao da sade corporal. Mas o dever de manter e proteger sua vida no de tal ordem que possa absolutamente (a no ser em certos casos excepcionais) impor um recurso aos meiosextraordinrios.

2. Obrigaes negativas. Estas obrigaes so de dois tipos:temperana e interdio do suicdio.a)A temperana(moderao no beber e no comer, castidade), preservao dos excessos da sensualidade, que arrunam a sade, mais rapidamente ainda que as suas privaes;

b) Interdio do suicdio.O suicdio viola o direito natural,porque o homem no pertence a si mesmo:ele no autor e senhor da sua vida, e a ela no pode, portanto, renunciar a seu alvedrio. Matando-se, o homem peca, pois, gravemente,contra Deus.Peca, tambm,contra si mesmo,privando-se do primeiro dentre os bens deste mundo, que a vida. Sem dvida, este bem pode ser penoso ao sofredor; mas esta vida a preparao para uma outra, que proporcionar as compensaes necessrias. Do ponto-de-vista moral, nada to belo quanto a virtude suportando o infortnio, e ainda uma forma de vitria conservar a vida, apesar do sofrimento, ainda que ela parea humanamente intil e sem objetivo.Enfim, aquele que se mata pecacontra a sociedade,primeiro por priv-la de um dos seus membros, e, depois, por recusar-lhe o exemplo da virtude e da pacincia na adversidade.

2. Deveres para com a alma.

Estes deveres so de grande importncia, pois o homem homem pela inteligncia e pela vontade, que so faculdades espirituais. Incumbe-lhe exercitar e desenvolver estas faculdades, se lhe for possvel, em sua mxima plenitude.1. O homem deve instruir-se em todas as verdades metafsicas e morais que lhe forem necessrias e teis para atingir seu fim ltimo.Deve adquirir os conhecimentos que lhe so necessrios para exercer perfeitamente seus deveres de estado. De qualquer modo, o homem no pode elevar-se a no ser na medida em que conhece, e todo progresso moral est subordinado, de alguma forma, ao progresso da inteligncia.2.O homem deve elevar-se moralmente. O fim do conhecimento a prtica do bem. Instrudo sobre sua natureza, sua origem, seu destino, seu papel na sociedade, o homem dever colocar toda a sua inteligncia ao servio de uma boa vontade. Adquirir a virtude, tal o dever do homem, e o dever de toda a sua vida.

III. OS DEVERES PARA COM O PRXIMO

Os deveres para com o prximo pertencem ordem da caridade e ordem da justia. J definimos acima o papel da caridade. Resta-nos, aqui, determinar os diferentes deveres de justia para com o prximo. Estes deveres referem-se pessoa fsica, pessoa moral, propriedade e ao trabalho alheios.

1. Deveres para com a pessoa fsica alheia.O respeito que se deve ter pela vida do prximo exclui o homicdio e a violncia, a multido e o duelo.

1. O homicdio e a violncia.a)"No sers jamais homicida".O homicdio amorte de um inocente.Isto vai, evidentemente, contra o dever que incumbe a todo homem de respeitar a vida do prximo. Mas a proibio do homicdio no est limitada ao assassnio propriamente dito; estende-se, ainda, a tudo aquilo que importa em atentado grave vida e sade alheias, quer dizer, em geral, a todaviolncia injusta,que oprime o prximo em sua pessoa ou liberdade fsicas.b)A legtima defesa.A interdio do homicdio e da violncia no se referem, pois, nem ao caso dapena de morteou doscastigos corporais,infligidos regularmente pelo Poder Judicirio, em nome do bem superior da sociedade, em punio a um crime nem ao caso delegtima defesa.Aquele que atacado injustamente tem o direito de se defender por todos os meios a seu alcance, mas esta defesa, por ser legtima, no pode ser exercida seno no limite do malefcio a evitar.2. A mutilao. Chama-se mutilao a amputao de um membro ou de qualquer outra parte do corpo humano. A mutilao legtima e permitida quando se trata de umaoperao cirrgica,destinada a provocar um bem fsico. criminosa quando resulta de umaviolncia injusta,quer dizer, fora do caso de legtima defesa e quando praticada sob o pretexto deeugenia,quer dizer, na inteno (pretensa) de assegurar a pureza da raa humana. Com efeito, as mutilaes operadas pela eugenia no somente constituem uma violncia criminosa contra a integridade de um ser humano, como esto, muito ao contrrio, longe de atingir o fim a que se propem: tm, muito ao contrrio, fsica, moral e socialmente, conseqncias desastrosas.O consentimento do paciente no basta para legitimar estes mtodos de eugenia, porque, como foi visto acima, o homem no senhor absoluto de seu corpo mais do que de sua vida.3. O duelo. O duelo, ou luta particular, supremamente injusto e irracional.Injusto,porque ningum tem o direito de intentar contra a prpria vida ou a do prximo, e o duelo reveste a dupla malcia do homicdio e do suicdio irracional,porque absurdo apelar para o acaso, ou, se se prefere, para a fora bruta, a fim de decidir uma questo de direito.

2.Deveres para com a pessoa moral alheia.Por "pessoa moral entendemos aquitodos os bens espirituais que constituem a dignidade prpria da pessoa humano, e fundamentam o seu direito verdade, liberdade e honra.

1. O respeito pela verdade.a) Fundamento do dever de veracidade.A finalidade da palavra, falada ou escrita, permitir aos homens comunicar-se entre si nas suas diversas necessidades. Ora, a primeira condio para que a palavra cumpra a sua funo que ela exprima a verdade. Nenhuma vida em comum ser possvel se no pudermos apoiar-nos na veracidade alheia, por isto que amentiratem uma tripla malcia,viola o respeito que se deve ao prximo, desmerecendo a sua confiana, perturba a ordem social,pondo em perigo a concrdia mtua dos homens, degrada moralmente o mentiroso,que desvia a sua palavra do seu fim natural, que a expresso da verdade.b)Natureza da mentira.Pode-se definir a mentira comoo ato de falar em desacordo com seu pensamento,quer se tratem de sinais ou palavras propriamente ditas. O fato de enganarinvoluntariamenteao prximo, por ignorncia ou erro, e falando de acordo com o que se pensa, no , portanto, uma mentira. Para, que seja mentira propriamente dita, necessrio e suficiente que a palavra exprima voluntariamente algo oposto ao que se saiba, ou pense.A mentira intrinsecamente m, e, conseqentemente, totalmente ilcita.Sua gravidade se mede pelagravidade das conseqnciasque pode ter para o prximo ou, quaisquer que sejam estas conseqncias, pelainteno gravemente perniciosaque a tenha ditado.c)Espcies de mentira.A mentira pode ser, segundo a diviso corrente, jocosa (em forma de brincadeira ou de jogo) oficiosa(quando se trata do prprio interesse de quem fala ou do interesse de um terceiro), eperniciosa,quando visa, expressamente, a prejudicar o prximo (calnia). preciso admitir que certas maneiras de se expressar, apenas por polidez (O Sr. X no est") ou, nos casos em que se tem um segredo a guardar, ou velar, as respostas evasivas, inexatas ou falsas no constituem mentiras. Com efeito, no primeiro caso, cada um deve saber com quem est tratando, e, no segundo caso, h apenas uma simples recusa de responder.

2. O respeito liberdade alheia. No se pode tratar aqui seno daliberdade exterior,que a nica que pode ser atingida diretamente pela violncia. Esta liberdade consiste em exercer, sem nenhuma coao e com plena independncia, as atividades externas, sejam corporais(liberdade fsica),sejam espirituais(liberdade de conscincia).Esta liberdade um direito fundamental do homem,que, sendo racional e dotado de livre-arbtrio, deve poder agir com toda a independncia, na medida em que sejam respeitados os direitos do prximo, quer sejam corporais ou espirituais.a)O respeito liberdade fsica.A liberdade fsica do prximo suprimida ou diminuda pela escravido e pela servido.A escravido o estado de uma pessoa que possuda por uma outra como urna coisa ou um animal e que depende em tudo de seu proprietrio.Este estado contrrio lei natural, pois transforma a pessoa humana em um puro meio,quer dizer, numa coisa servio de seus semelhantes.A servido um estado intermedirio entre a escravido e a liberdade.O servo est "ligado gleba" ( terra do senhor), mas senhor do seu trabalho e de sua pessoa. A servido no , portanto, contrria absolutamente lei natural, mas constitui umestado inferiorpara o homem, pois pouco favorvel a seu pleno desenvolvimento intelectual e moral.b)O respeito liberdade de conscincia.Por liberdade de conscincia entende-se a liberdade de comunicar o pensamento, oral mente ou por escrito(liberdade de pensar) ou de agir de acordo com as suas convices, sobretudo religiosas(liberdade de conscincia propriamente dita).Evidentemente, um dever respeitar a liberdade de conscincia do prximo, pois pela conscincia que o homem se afirma como pessoa moral.Todavia, nenhuma conscincia humana um absoluto. A conscincia falvel, sujeita a ignorncias, erros e desvios numerosos. Eis por que devem existirlimites,no na prpria liberdade de conscincia, mas namanifestao exterior do pensamento das convices pessoais,que devem respeitar por sua vez a verdade, a justia e os bons costumes.

3. O respeito honra alheia. h duas formas uma interior(juzo temerrio) outra exterior(maledicncia e calnia)de faltar ao respeito que se deve honra do prximo.a)O juzo temerrio.Chama-se assimo ato de pensar mal do prximo sem razo suficiente. O juzo temerriodeve ser, portanto, distinguido da simplessuspeita,que no de modo algum deliberada.b) Maledicncia e calnia.A maledicncia consiste emrevelar, sem motivo imperioso, as faltas ou defeitos ntimos do prximo.Acalnia(ou mentira perniciosa) consisteem atribuir a outro faltas que ele no cometeu, ou intenes ms que ele no teve.Em ambos os casos hinjustiacontra o prximo, e estainjustia pode ser grave,tanto sob a forma de maledicncia, quando a matria grave e capaz de arruinar a honra do prximo, quanto sob a forma de calnia.

3. Deveres relativos propriedade alheia.O respeito que se deve ter pela propriedade alheia impede a um tempo orouboe adanificaoinjusta, infligida ao bem do prximo e obriga reparao do prejuzo injustamente causado ao prximo.1. O roubo. O roubo consiste emapossar-se do bem alheio contra a vontade, expressa ou presumida, do proprietrio.Ao roubo podem ligar-se areteno injusta,que consiste em guardar, sem direito, contra a vontade do prximo, o bem que lhe pertence e odano injusto,que consiste em causar danos ao bem alheio.Destas trs formas atinge-se no somente os direitos do prximo sobre seu prprio bem, mas tambm a sociedade, cuja ordem e paz exigem o respeito aos direitos de todos. Julga-se a gravidade da falta pelo prejuzo causado, visto no duplo ponto-de-vista social e individual.2. O dever de restituio. A restituio o ato pelo qual se repara uma falta ou uma injustia,seja devolvendo o objeto roubado, seja, o que mais freqente, entregando um valor equivalente (compensao). As regras relativas restituio aplicam-se, proporcionalmente, a toda danificao injusta, causada aos bens materiais ou espirituais do prximo.A justia exige que o direito violado seja reparado: esta reparao obrigatria pelo tempo que for possvel.A gravidade do dever de reparao se mede pela gravidade do dano causado ao prximo.Todavia, certas razes podem, por vezes, dispensar a restituio: tais so os casos de impossibilidade absoluta (ou fsica), de impossibilidade moral (quando a restituio comportagraves dificuldades), os casos de extino da obrigao moral por condenao (ou remisso da dvida, ou por sentena judiciria). 4. Deveres relativos ao trabalho alheio294 bis O contrato de trabalho d origem a obrigaes particulares de justia, por causa dos bens morais, que esto em jogo. por isso que convm estudar estas obrigaes em separado.1. O trabalho humano. O trabalho humano no uma mercadoria comum, ao contrrio do que pensavam os economistas liberais do sculo XIX.O homem no uma mquina. uma pessoa racional e livre, que aluga seu trabalho, que algo dele mesmo, a fim de assegurar sua subsistncia e a dos seus. O contrato que estabelece com aquele a quem julga seu trabalho comporta, por isso, condies especiais, que visam a salvaguardar a dignidade moral do trabalhador, ao mesmo tempo que seu inalienvel direito de viver, e sustentar os seus com o fruto de seu trabalho.2. A retribuio do trabalho. A dignidade do trabalho humano, que tem umvalor qualitativo e -pessoal,e no, como julga-o o liberalismo, um valor puramente quantitativo, faz com que o "mercado do trabalho" no se deva submeter lei da oferta e da procura, e que a retribuio do trabalho no se regule com um simples contrato de permuta. O contrato de trabalho supe, na realidade, a justia distributiva, cuja finalidade consiste em repartir equitativamente o bem comum entre os membros da sociedade (264).a)inaplicabilidade da lei da oferta e da procura.A "lei da oferta e da procura" (lei segundo a qual os preos baixam quando sobram as mercadorias, e sobem quando as mercadorias se tornam raras) apenas umfato econmico,do qual no seria possvel levantar uma lei moral. No se poderia, neste caso, estabelecer a lei do trabalho humano, a no ser tratando-o como mercadoria comum e, conseqentemente, desprezando o essencial de sua natureza, como a dignidade e as responsabilidades do trabalhador.b)Os elementos do salrio justo.Estes elementos so os seguintes :Mnimo vital. O trabalhador (no sentido mais geral desta palavra) deve receber, desde logo, o que se chama o mnimo vital, quer dizer,aquilo que necessrio para manter decentemente o trabalhador individualmente e sua famlia, e para permitir-lhe, pela economia, garantir a si e aos seus contra os riscos de maior gravidade(doena, velhice). Este mnimo vital, portanto, aumentar, muito justamente, com o crescimento dos encargos de famlia (salrio suplementar de famlia).Qualidade e quantidade. O valor do trabalho deve ainda ser apreciado conforme a sua qualidade, conforme as aptides profissionaisque exija, e tambm conforme a suaquantidade.Condies especiais do trabalho. Chegou, por fim, a ocasio de levar em considerao uma causa de variao, determinada pelas condies especiais do trabalho: certos trabalhos envolvemriscos fsicos particulares, uma fadiga que ultrapassa o normal, certos riscos de invalidez temporria etc.c)Os contratos coletivos de trabalho.Chamam-se assim oscontratos estabelecidos por entendimento,no entre patro e trabalhadores individuais, mas entrepatroou sindicato patronal e sindicato trabalhador.Este sistema de contrato representa para o trabalhador uma garantia em favor do respeito de seus direitos e de sua dignidade.3. As condies materiais e morais do trabalho. A dignidade do trabalhador exige, evidentemente, que sejam tomadas precaues para assegurar ahigiene fsica e moraldas oficinas, dos estaleiros e dos escritrios, a fim de restringir o trabalhoao que possam suportar as foras fsicas, e a fim deno exigir uma excessiva durao de trabalho,a tal ponto que o trabalhador no possa ter o lazer suficiente para seu necessrio repouso e para viver a sua vida de famlia.4. As associaes profissionais. A associao dos trabalhadores entre si,sob as diversas formas em que se possam realizar (sindicatos, corporaes, beneficncias, cooperativas etc), de direito natural,e representa um bem garantido para o trabalhador, quando estas mesmas organizaes so feitas de acordo com princpios conformes s exigncias da Moral e da justia social.5. Os deveres dos trabalhadores. O trabalhadorno tem apenas direitos.Tem tambm, para com aquele que o emprega, deveres de justiaa cumprir, pela execuo exata, em qualidade e quantidade, das tarefas que lhe so confiadas, e por um esprito de devotamento ao progresso da empresa que lhe fornece trabalho.

MORAL SOCIAL

A Moral social tem por finalidade solucionar os problemas morais, que se referem aos trs graus da vida social, a saber:a sociedade domstica, a sociedade civil e a sociedade internacional.

I.NOO DE SOCIEDADE1. Definio. Geralmente, uma sociedade humana aunio moral estvel, sob uma nica autoridade, de vrias pessoas, fsicas ou morais, que tendem a um fim comum.Por conseguinte, um homem no pode formar uma sociedade por si s. Da mesma forma, no seno impropriamente que se fala de sociedade de animais, pois que, entre eles, no pode haver autoridade, j que no h razo.2.Elementos de qualquer sociedade. Qualquer sociedade comporta dois elementos, que so:a)os membrosque a compem(matria da sociedade);b)o fim comumque eles tm naturalmente, ou que assumem livremente(forma da sociedade). este fim comum, e, portanto, a autoridade, que lhe assegura a realizao, que especifica a sociedade.3.Diviso. Podem-se distinguir diversos tipos de sociedade, conforme nos coloquemos:a)Do ponto-de-vista de sua origem.Distinguem-se, neste caso,as sociedades naturais:que resultam de uma necessidade natural (sociedade domstica e sociedade civil), associedades contratuais:que resultam de uma conveno livre entre pessoas fsicas ou morais (sociedades esportivas, sociedades de auxlio mtuo, sociedade industrial etc.b)Do ponto-de-vista de sua finalidade.Teremos, neste caso: asociedade civil,cujo objetivo proporcionar a segurana e a prosperidade material e moral de seus membros (bem comumtemporal), asociedade religiosa,cuja funo essencial conduzir cada um de seus membros a seu ltimo fimpessoal.O homem, sendo ao mesmo tempo membro de uma famlia, membro de uma sociedade civil e membro de uma sociedade religiosa, ter deveres a cumprir segundo estes pontos-de-vista.

II.A SOCIEDADE DOMSTICA

A sociedade domstica se subdivide emsociedade conjugalentre esposos, esociedade paternal,entre pais e filhos, e estes dois elementos formam a famlia, que pode ser definida como: um grupo de pessoas que se ajudam mutuamente, juntos enfrentando as necessidades correntes da vida, comendo na mesma mesa e aquecendo-se no mesmo fogo. Mais resumidamente, a famlia asociedade do marido e damulher, assim como dos filhos que ainda no tenham construdo seu prprio lar.Em um sentido amplo, a famlia engloba todos os membros do mesmo parentesco, resultante de laos de sangue.

1.A SOCIEDADE CONJUGAL1. A sociedade conjugal de direito natural. O casamento pode-se definir como: a unio do homem, e da mulher, da qual resulte uma comunidade de vida e uma s pessoa moral, objetivando a procriao e a educao dos filhos e a mtua assistncia moral e fsica.O casamento dedireito natural,porque o nico meio proporcionado pelo qual o homem pode realizar as finalidades de sua natureza: propagao da espcie e assistncia mtua entre o homem e a mulher.2. O casamento no obrigatrio. evidente, com efeito, que o casamento um dever mais social que individual e, se pode tornar-se um dever para a maioria, permanece facultativo a muitos: nem todos tm a aptido, o gosto, os meios, a sade ou as virtudes que este estado exige. Outros possuem tendncias mais altas e absorventes, para a Arte, a Cincia, e, principalmente, para a religio e a caridade.3. O casamento deve ser monogmico, quer dizer, ele s pode existir legitimamente entre um s homem e uma s mulher, porque pela monogamia que as finalidades da sociedade conjugal so mais seguramente atingidas.4. O casamento deve ser indissolvel. O divrcio, com efeito, ope-se perfeita realizao das finalidades do casamento; constituio e estabilidade da famlia, educao dos filhos e apoio mtuo dos esposos. , pois, contrrio ao direito natural, pelo menos em suas prescries secundrias.5.Deveres dos esposos. Os esposos tm, um em relao ao outro, deveres que se podem reduzir a trs principais: devem um para com o outro:amor e fidelidade,colaborao generosa e perseverante para a constituio e a prosperidade do larapoio mtuo nas provaes e nas dificuldades da vida.Se bem que os esposos possam abster-se de ter filhos, contando que estejam de acordo, o t-los, entretanto, conforme com o seu estado, e eles prestam com isto um grande servio sociedade.

2.A SOCIEDADE PATERNA

A sociedade paterna cria deveres para os pais em relao aos filhos, e dos filhos em relao aos pais.

A.Deveres e direitos dos pais.1.Deveres dos pais. Os pais so obrigados, pela lei natural, a dar aos filhoseducao fsica, moral e intelectual,que lhes seja necessria para enfrentar as obrigaes que lhes so devidas.2.Direitos dos pais. Os direitos dos pais decorrem de seus deveres:a)O direito natural dos pais.Eles tm o direito de dar a seus filhos, por si mesmos ou por um mestre de sua escolha, educaofsica, moral e intelectual.A est umdireito naturalque o Estado no pode reivindicar, porque o filho pertence aos pais, antes de pertencer ao Estado.b)O papel do Estado. O Estado, entretanto, deve ajudar os paisa cumprir convenientemente seu dever natural de educadores, subvencionando escolas, velando pela boa observao das regras de higiene, de moralidade, de capacidade profissional, que se impem aos educadores, tomando a seu cargo as crianas sem famlia e, se for necessrio, substituindo os pais indignos ou incapazes.Mas o Estado usurparia os direitos essenciais dos pais atribuindo-se o monoplio do ensino e da educao.

B.Deveres dos filhos.Os filhos devem aos pais:amor e reconhecimento,pois so eles seus primeiros benfeitores, obedincia,pois s pais so os delegados naturais de Deus para dirigir os filhos no caminho do dever, assistncia e piedade filial,quando seus pais, envelhecidos, tenham necessidade de seu auxlio.

III.A SOCIEDADE CIVILA sociedade familiar a primeira de todas, cronolgica e logicamente, e todas as outras sociedades civis so, de qualquer forma, a ela subordinadas, no sentido de que esto normalmente ordenadas ao bem material e moral da famlia.

1.NATUREZA DA SOCIEDADE CIVIL.

1.Origem da sociedade civil.a)O estado social natural ao homem.A sociedade, considerada em si mesma, e no em certas modalidades que lhe so acidentais, resultado da natureza.O homem,com efeito, eminentemente socivel.Est sujeito a mil necessidades diversas, igualmente imperiosas, de ordem fsica, intelectual e moral, que no podem encontrar sua plena satisfao a no ser na sociedade e pela sociedade. Alm disso, ele procura instintiva e reflexivamente a companhia de seus semelhantes, comunica-lhes suas alegrias e suas tristezas. Toda perfeio humana tambm se acha, por sua vez, ligada ao estado social: fora de qualquer sociedade, no h seno esterilidade, degradao e morte.b)Teorias do contrato social.Hobbes e J. J. Rousseau sustentaram teorias, segundo as quais a sociedade seria efeito de uma conveno ou de um contrato entre os indivduos. Para o primeiro, em sua obraLeviat,a humanidade encontrava-se originalmente numestado de anarquia e de guerra;este estado natural aos homens. Para remediar os males que ele traz, os homens decidiram viver em sociedade e abdicar de seus direitos individuais, deixando-os nas mos de um dspota, Rousseau, em sua obraO Contrato Social,sustenta que a humanidade, nas suas origens e naturalmente, se encontrava numestado em que o homem, deixando sua livre natureza, foi bom e pacfico.A instituio social, produto de uma conveno entre os indivduos, teve como resultado corromperohomem, ensinando-lhe o egosmo e a injustia.Estas teorias so igualmente contrrias aos melhores fatos estabelecidos e a tudo quanto sabemos sobre a natureza humana.O homem,efetivamente, um ser social por natureza,devido mesmo a sua fragilidade original e suas necessidades; ele faz parte, necessariamente, de uma sociedade domstica, que se alarga naturalmente em cl, tribo ou Estado por associao das famlias. Por mais que se recue s origens humanas, verifica-se sempre a existncia de uma sociedade civil, mesmo rudimentar. Quanto a dizer que o homem bom por natureza e que a sociedade o corrompe, h a uma viso utpica, que a experincia de forma alguma justifica.

2.O fim da sociedade. Podem-se distinguir um fim principal e um fim secundrio, que resulta do primeiro:a)Fim principal.O fim prprio e dominante da sociedade civil, que , essencialmente, uma sociedadetemporal,no pode ser outro senoa felicidade desta vida,a sua felicidade, e, conseqentemente, a felicidade de seus membros, pois a felicidade da sociedade se compe, afinal, das felicidades individuais, de sua soma, de alguma forma, e, melhor, ainda, de seu conjunto.O homem no feito, portanto, para a sociedade ou o Estado como o professam certas doutrinas polticas modernas, que divinizam o Estado e a ele subordinam todas as atividades individuais. a sociedade que feita para a pessoa humana, a fim de lhe ajudar a cumprir seu destino,que de ordem moral e espiritual.b)Fim secundrio.A sociedade tem por fim, ento, no somente a prosperidade e a felicidade materiais de seus membros, mas, ainda, embora secundariamente, seubem moral e espiritual.Este fim decorre do primeiro, porque no existe felicidade digna deste nome sem a virtude, e a prosperidade material da cidade terrestre s se pode estabelecer e durar pelas virtudes individuais de seus membros.

3. Os aspectos da sociedade civil. A sociedade civil pode ser encarada sob o aspecto econmico ou sob o aspecto polticoO ponto-de-vista econmicose refere produo, circulao e distribuio das riquezas e d nascimento ao que se chama aquesto social. O ponto-de-vista polticose refere ao governo dos membros da sociedade, em funo do bem comum.

2.A VIDA ECONMICA.

1. A Economia Poltica. Chama-se assim a cincia queestabelece as leis da atividade humana no domnio da produo e da distribuio das riquezas materiais.Uma vez que se trata da atividadehumanae dos atos humanos, aEconomia Poltica depende das leis da Moral. Sem dvida, ela comporta todo um conjunto de leis naturais. Mas estas leis, que no so mais do quefatos econmicos,podem e devem ser dirigidas para o bem comum da sociedade, da mesma forma que as leis fsico-qumicas so postas, pelaCincia, a servio do homem.

2. A diviso do trabalho.a)Racionalizao e padronizao.A vida econmica moderna tende a dividir, cada vez mais, o trabalho, quer dizer, a especializar de uma forma constantemente mais restrita as diferentes funes econmicas, a fim de obter uma produo mais rpida e menos dispendiosa.Os mtodos da racionalizao e padronizao tiveram como resultado seguro o imenso acrscimo de rendimento do trabalho, principalmente se se levar em conta que omaquinismocada vez mais desenvolvido veio simplificar a um tempo as tarefas humanas, diminuir a mo-de-obra necessria fabricao industrial, e aumentar consideravelmente o ritmo da produo.b)O homem e a mquina.Estes fatos econmicos tm seus inconvenientes. A especializao excessiva tende a atrofiar as faculdades intelectuais do operrio e a suprimir todo o esprito de iniciativa, pela execuo de uma repetio mecnica dos mesmos gestos. O trabalho em srie agrava ainda estes inconvenientes perigosos. Por outro lado, o maquinismo, favorecendo a padronizao e racionalizao, tende a provocar a superproduo das mercadorias industriais e agrcolas, e precipitar achaga social do desemprego generalizado e permanente.Diante destes perigos, certos moralistas quiseram condenar o maquinismo. H a um excesso.A mquina deve tornar-se auxiliar do homem e contribuir para o bem geral da sociedade.Para isto, necessrio que a ordem econmica no seja levada anarquia, como se ela pudesse encontrar por si mesma uma base para seu equilbrio e estabilidade, mas que seja regulada de uma forma racional, tanto numa nao como na sociedade internacional.

3.A QUESTO SOCIAL.

1. Noo. Chama-se questo social oconjunto de problemas sociais que dizem respeito s desigualdades sociais, ao regime do trabalho, e, em particular, s relaes do capital e do trabalho.

2.O capital e o trabalho.a)Noes de capital e de trabalho.O capital e o trabalho representam os dois fatores da produo. Ocapitalpode ser definido como um bemeconmico real, de qualquer natureza, no qual se apia a produo(uma pedreira, um bosque de carvalhos, um terreno para a vinha etc.)ou qualquer riqueza acumulada, que produz um rendimento (aluguel, juros etc.)para seu proprietrio. O trabalho a atividade humana que confere ao capital um valor econmico novo (o ferreiro d ao ferro de que faz uma carroa um valor maior; o canteiro aumenta, pelo seu trabalho, o valor das pedras etc).b)Teoria socialista.O trabalho o fator mais importante da produo. Mas no o nico fator do valor econmico, ao contrrio da teoria de Karl Marx, que pretende queo lucro devido ao capital(ou aos capitalistas, quer dizer, queles que forneceram os materiais ou meios de produo, fora o trabalho) um roubo feito ao operrio.H nisto um grave erro, que vicia toda a teoria de Karl Marx.O capital valorizado pelo trabalho do operrio(diretor, engenheiro, especialista, servente),mas ele representa,como matria da produo, ou como instrumento (mquinas, construes)um valor econmico real, merecendo ser remunerado segundo sua categoria e importncia.c)Os limites do capitalismo.No se pode, portanto, condenar o princpio do capitalismo.Em si, o capitalismo no injusto:o capital , com efeito, resultado da economia ou do acmulo de frutos do trabalho, por poupana, lucro legtimo ou herana.Todavia,o capitalismo est sujeito a abusos que a Moral social reprova.O capital tende, por vezes, a monopolizar a maior parte dos lucros, em detrimento dos direitos do trabalho. Principalmente, o capitalismo torna-se condenvel quando chega, pelo jogo dos trustes, por intermdio das sociedades de crdito, bancos, sociedades annimas, e pela especulao, a pr enormes fortunas nas mos de um pequeno nmero de homens, que adquirem, assim, um poder formidvel e invisvel sobre os organismos polticos de um pas, e at mesmo sobre as relaes internacionais.Ocapitalismoexige, portanto, para ser moral, ocontrole ativodo Estado, encarregado do bem comum da sociedade, particularmente no que toca s sociedades de crdito e s instituies bancrias.d)O liberalismo econmico. Este direito e este dever do Estado foi completamente desconhecido e negado, nos sculos XVIII e XIX, pelas doutrinas econmicas e sociais de Adam Smith, Cl. Frdric Bastiat e J. B. Say. Estes economistas partem do princpio de que as leis econmicas so to necessrias e fatais quanto as do mundo fsico-qumico, e que no se pode intervir na sua trama. A regra ser ento (segundo a frmula de Quesnay) a do "laissez-faire" e do "laissez-passer", quer dizer, a liberdade ilimitada do trabalho, da produo e da concorrncia, do comrcio e das transaes. Automaticamente, as leis de ordem econmica, deixadas a seu livre exerccio, produziro efeitos favorveis prosperidade material da sociedade e ao bem geral dos indivduos. Da o nome de liberalismo econmico, dado a estas doutrinas.O erro fundamental do liberalismo econmico consiste naconfuso entre a lei fsica e a lei moral.Que haja "leis econmicas" inevitveis, certo. Mas estas constituem apenas fatos, como os da natureza, e no se segue da que o homem no deva intervir no seu processo, assim como intervm na trama das foras naturais para orient-las em seu favor. O homem, como um ser moral, superior natureza e compete a ele faz-la servir a seus fins morais.Por outro lado,a liberdade de fazer e de agir no um absoluto,est limitada pela justia e pelos direitos alheios. Deixada a si mesma, sem controle, nem contrapeso, ela s poderia gerar a iniqidade e a anarquia. O direito do mais fraco ficaria constantemente sacrificado; em nome da liberdade instaurar-se-ia um regime de arbitrariedade e de fora. O liberalismo , na realidade, responsvel em grande parte pelos atuais transtornos sociais e pela anarquia econmica em que se debate o mundo contemporneo.e)A liberdade do trabalho.O liberalismo no assegura, pois, na realidade, seno a liberdade do capital, mas torna o trabalho servil. A expresso "mercadoria de trabalho", to empregada hoje, caracteriza bem um regime em que o trabalho, tratado como mercadoria, deve obedecer lei do mais forte, sob pena de ser excludo do "mercado".No haver verdadeira, liberdade de trabalho seno quando for restabelecida uma igualdade suficiente entre o empregador e o trabalhador.O sistema de contrato coletivo contribui, de certa forma, para assegurar esta igualdade, mas de uma maneira excessivamente mecnica. A soluo racional parece consistir na instaurao de umregime comunitrio,em que os instrumentos de trabalho sejam propriedade comum da profisso organizada. A judiciosa administrao coletiva dos instrumentos de trabalho ter como conseqncia suprimir a anarquia da produo, e, em conseqncia, garantir aos operrios o direito ao trabalho, e, aos chefes de empresa, o exerccio livre de suas faculdades criadoras, uma vez que o regime liberal fez deles, juntamente com os operrios, servidores do dinheiro e escravos do lucro. Este regime, como se v, seria completamente diferente do regime coletivista que, transferindo ao Estado os instrumentos da produo (sob forma de "nacionalizaes"), acentua a escravido proletria e ora fornece ao Estado os meios de exercer a mais impiedosa das tiranias, ora o submete (pela greve dos servios pblicos) a presses que comprometem sua independncia.

3. A questo da propriedade. Os abusos do regime capitalista (acmulo de riquezas ou o que represente riqueza) por um pequeno nmero de proprietrios (concorrncia desenfreada que provoca os baixos salrios e o desemprego etc.) induziram os tericos socialistas (Karl Marx, Proudhon, Lassale, Guesde etc.) a considerar ora a propriedade privada, ora simplesmente o regime atual da propriedade privada, como segundo as causas das doenas que sofrem as sociedades modernas.De fato, a palavra socialismo envolve concepes muito diversas entre si, e que vo do comunismo ou do coletivismo ao simples socialismo de Estado.a)O coletivismo comunista a forma mais radical do socialismo.Condena toda espcie de propriedade privadae quer que todos os bens se tornem comuns de forma que cada um possa abastecer-se conforme suas necessidades, mas no mais, de todos os bens que lhe so necessrios.??????Esta a teoria. ATarealidade, um tal comunismo nunca existiu e no seria vivel,nas condies comuns da humanidade, porque suporia entre os membros mais ativos ou improdutivos (por preguia ou incapacidade fsica), que o herosmo tornar-se-ia a regra geral de uma comunidade tal.O comunismo, a despeito de seus princpios, tende, portanto, para formas menos radicais e, em particular, para o socialismo de Estado. Cada vez que se tentou aplic-lo, quer parcialmente, sob a forma coletivista (como na Rssia sovitica, de 1917 a 1920), produziu tais desordens (dissipao, fome e misria universal, anarquia, dissoluo da famlia etc), que foi preciso renunciar a ele, to rapidamente possvel, e recorrer ao despotismo mais tirnico, sob pena de ver soobrar a sociedade numa completa e irremedivel runa.b)O socialismo de Estado.Chama-se assim aconcepo social que atribui ao Estado a propriedade ou, o controle direto das grandes empresas de interesse pblico(correios, estradas de ferro, estradas, armamentos etc),das grandes indstrias, fumo, minas etc. e dos organismos de crdito e de seguro.Em geral, esta forma do socialismo reconhece a legitimidade e a necessidade da propriedade privada, mas quer regular estritamente as suas modalidades, de forma aimpedir,inicialmente, aconstituio de fortunas muito grandes,pela supresso da herana, pelo menos em linha colateral, e a limitao estrita da herana em linha direta, por impostos progressivos sobre a fortuna adquirida, etc depois, de forma aestender a todos o benefcio da propriedade privada, baseada unicamente no trabalho.304 4. A propriedade privada de direito natural.a)O principio.O direito de propriedade privada resulta da prpria natureza do homem e se manifesta pela inclinao inata a se apropriar das coisas. Apropriedade privada, com efeito,necessria ao indivduo,para assegurar sua subsistncia de uma forma regular e estvel, aopai de famlia,para educar seus filhos e fornecer-lhes os meios de proverem por si mesmos a sua subsistncia, ao homem como pessoa,quer dizer, como indivduo raciona] e livre, para assegurar sua independncia real em relao ao prximo enfim, aocidado,que s estimulado ao trabalho de uma maneira ativa e perseverante, na medida em que se pode beneficiar pessoalmente dos frutos de seu trabalho.b)O papel do Estado.Segue-se deste princpio que oEstada no pode intentar suprimir a propriedade individual,mas ao contrrio deve favorecer o acesso do maior nmero possvel de cidados propriedade privada, garantia de segurana, de liberdade e de dignidade contanto que,por outro lado,venha regular as modalidades de acesso propriedade, fixar-lhes as condies de uso e prevenir e reprimir os abusos.c)Erros do socialismo. O comunismo e o coletivismiovo, evidentemente, contra as exigncias do direito natural, contra as tendncias mais profundas da natureza humana e, por conseguinte, contra o bem dos indivduos e da sociedade.Quanto aosocialismo de Estado,se no to nocivo, devido s atenuantes que traz ao princpio coletivista, comporta, entretanto, graves inconvenientes. Primeiramente, inspira-se emidias materialistase professa, erradamente, que a sociedade no exige,-para ser perfeita, seno transformaes de ordem econmica. O vcio e a virtude, a sade pblica e a Arte, na sua concepo, so rigorosamente funes do Estado econmico, como se a primeira fonte de desordem social no fosse o egosmo e o desejo de gozar, isto , fatores de natureza moral. Por outro lado, o socialismo se baseia numateoria errnea do valor econmico, que discutimos acima(301), e que leva a menosprezar o papel e os direitos do capital, quer dizer, os frutos economizados e acumulados do trabalho. Alm disso, transformando a maior parte dos trabalhadores em funcionrios,o Estado-Padro,to caro ao socialismo,encarregar-se-ia de tarefas de extrema complexidade,que no est apto a cumprir, esuprimiria um dos fatores mais eficazes da produo, que o interesse pessoal do trabalhador.Enfim, um tal Estado se exporia,no caso de conflito com a enorme massa de assalariados que emprega,ao perigo de ver gravemente comprometida a marcha regular dos servios pblicos, e das indstrias essenciais vida econmica do pas.d)Situaes que justificam a propriedade coletiva.As observaes que precedem no significam que a propriedade coletiva deva ser excluda em todos os casos, e sob todos os aspectos. Com efeito, a propriedade coletiva muito extensa (reservas florestais, terrenos da Unio, edifcios pblicos etc). De direito, ela uma necessidade, e, como tal, favorvel ao bem comum.Por outro lado, parece normal que o Estado reserve a si o controle dos grandes meios de produo e de crdito (minas, transportes, comunicaes, bancos), que conferem um poderio econmico to extenso que poderiam, deixados, sem restrio, nas mos de pessoas privadas, tornar-se um perigo para o bem pblico. Mas parece que ao regime daestatizao(propriedade pura e simples e gesto direta do Estado) deveria ser preferido umregime de propriedade coletiva privada controlada pelo Estado.A propriedade coletiva pblica deveria permanecer como exceo.Por outro lado, para as outras empresas, a participao dos trabalhadores na sua gesto levaria a generalizar umregime de propriedade coletiva privada das empresas,que seria, sob muitos aspectos, favorvel prosperidade e paz pblicas. Com efeito, a inferioridade atenuada e mesmo suprimida, nas pequenas empresas, em que o bem comum a todos to facilmente sentido como o bem de cada um, e nas empresas mais importantes seria compensado pelo crescimento dovalor humanodo trabalho e da dignidade do trabalhador, subtrado a partir de ento aos restos de servido que as grandes exploraes capitalistas continuam a fazer pesar sobre ele. 4. A VIDA POLTICA305 1. Noo de poder civil. O poder civil o poder moral eindependente na funo de ordenar os atos dos cidados para o bem comum da sociedade.a)Poder moral.Com efeito,a autoridade civil um poder moral e no uma fora fsica,porque tem sua origem na razo,e deve sempre apiar-se na razo. Donde, confundir a autoridade com a violncia, e o dever com o arbtrio, colocar o poder quer na lei do nmero, quer nas mos de um s.b)Poder independente na sua funo,ou seja, que no est submetido a nenhum poder do mesmo gnero. Mas este poder pode estar submetido e, de fato, est sempre submetido a um poder superior : deve, com efeito, obedecer lei moral, e, na exata medida, autoridade especificamente moral.306 2. Estado, Nao, Ptria. Estas trs palavras no so rigorosamente sinnimas. Designam, com efeito, realidades que podem ser materialmente idnticas, mas que no o so necessariamente, nem sempre.a)O Estadoresulta de um agrupamento de famlias submetidas a leis comuns, sob umgoverno autnomo,que vivam numterritrio prprio e independente.Este o aspecto material do Estado. Num sentido mais formal, oEstadodesignar o prprio governo e asede do poder poltico,assim como os servios gerais necessrios ao governo do pas.b)A Naorepresenta, antes, umaunidade moral resultante da comunidade de raas, ou, pelo menos, de tradies, costumes e lnguas.Naes diversas podem formar em conjunto um s Estado, que tende geralmente ao federalismo, para garantir melhor a cada nacionalidade o respeito e a manuteno daquilo que a caracteriza.c)A Ptria,etimolgicamenteterra paterna,terra onde dormem os mortos, a nao considerada como uma grandefamlia,que se enraza na distncia das idades passadas e se prolonga para o futuro, e cujos membros esto ligados entre si por laos especiais de afeto mtuo e solidariedade.3. Origem do poder. Toda autoridade vem de Deus. A sociedade civil natural em sua origem e em sua natureza, como j mostramos acima. Se bem que numerosas sociedades particulares sejam formadas pela livre associao de seus primeiros membros, como o estado social necessrio ao homem, as sociedades assim formadas no so menos naturais nem menos intencionadas por Deus. Portanto,a autoridade,sem a qual no h sociedade,origina-se sempre de Deus, como de sua fonte primeira.4. Funes essenciais do poder civil. O poder civil exerce trs tipos de funes: estabelece leis{Poder Legislativo),ordena e dirige a sua execuo{Poder Executivo) julga os diversos delitos{Poder Judicirio).307 5. As diferentes formas do poder civil.a)As formas-tipos de governo.Costumam-se distinguir trs formas-tipos de governo: o tipomonrquico,quando o poder reside numa nica pessoa, o tipoaristocrtico,quando a autoridade exercida em comum por vrias pessoas, e o tipodemocrtico,quando o poder exercido pelo prprio povo, seja direta, seja indiretamente, por intermdio de seus representantes.b)As formas mistas.O poder civil , na maioria das vezes, de natureza mista, quer dizer, comporta umacombinao mais ou menos equilibrada das trs formas-tipos: certas constituies monrquicas so verdadeiras democracias ("o rei reina, mas no governa") ; constituies democrticas admitem, sob formas diversas, uma parte da aristocracia (cmaras dos lordes ou dos pares, senadores vitalcios etc.) ; outras democracias se aproximam da monarquia eletiva.c)As ditaduras.A ditadura antiga consistia em colocar nas mos de um homem todos os poderes do Estado,por um perodo limitadoe no interesse da salvao pblica. A ditadura moderna umsistema poltico em que o poder absoluto delegado por toda a vida a um s homem, como representante de um partido ou de uma classe,que se consideram como nicos qualificados para assegurar a prosperidade do Estado. A maior parte destas ditaduras tendem aototalitarismo.A tendncia totalitria no , alis, estranha a certas democracias, onde as maiorias se tornam, pelo desprezo do direito, verdadeiros instrumentos de tirania.ART. IV.A VIDA INTERNACIONAL308 1. A sociedade internacional.a)As relaes internacionais.As diferentes sociedades polticas, organizadas em Estados, so perfeitas sociedades. Mas no se segue da que possam viver isoladas umas das outras. O isolamento no seria compatvel com seu interesse nem com seu dever. Os diversos Estados so levados, com efeito, a manter relaes comerciais e culturais que criam toda umarede cerrada e complexa de obrigaes recprocas, reguladas e garantidas pelo direito internacional, publico e privado(direito das gentes).Alm disso, a autonomia dos Estados no absoluta, ao contrrio do que pretendem as concepes nacionalistas do Estado. Com efeito, os Estados se acham, primeiramente, submetidos como tais, moral internacional,que impe o respeito de sua independncia mtua, a observncia dos tratados, e garante, ao mesmo tempo, para os Estados que seriam objeto de agresso injusta, o direito de serem protegidos, ajudados e defendidos pelos outros Estados, igualmente interessados em manter a justia entre as naes. Por outro lado, e pela mesma razo, h umbem internacional,que o da comunidade humana em toda a sua extenso, cujas diversas sociedades polticas esto solidrias e exigem uma autoridade superior aos Estados, se bem que essa autoridade no esteja ainda reconhecida universalmente, nem suficientemente organizada.b)A organizao internacional.A Liga das Naes (criada em 1919) nasceu do sentimento de solidariedade dos Estados e de sua subordinao ao bem internacional, e, tambm, praticamente, do desejo de regular os conflitos eventuais por outros meios que no a guerra, em particular pela arbitragem, quer dizer,do desejo de colocar da por diante o direito em lugar da fora, nas relaes internacionais.A idia da Liga das Naes estava, portanto, conforme s exigncias da moral internacional. Mas no pde ter completa eficcia, por no haver includo na organizao de Genebra o conjunto dos grandes Estados e, sobretudo, por no ter podido dispor de uma fora capaz de fazer executar suas decises.c)O futuro.Mesmo em meio ao maior conflito que o mundo j conheceu, nada impede que se olhe o futuro com a confiana que os homens almejam, enfim, que se procure o processo eficaz desubstituir o reino da fora pelo reino do direito.Levando em conta as mltiplas tentativas de organizao internacional do passado, o Papa Pio XII props ao mundo, na vspera de Natal de 1939, sete princpios que definem as condies pelas quais se poderia restabelecer e manter a paz no mundo. Estes princpios so os seguintes:I Direito de todas as naes, grandes e pequenas, vidae independncia. II Reduo dos armamentos e precaues contra os abusos da fora material. III Reconstituio das instituies internacionais, levando em conta as experincias que revelaram lacunas ou insucesso. IV Criao de instituies jurdicas destinadas a garantir a execuo das convenes internacionais; e, em caso de reconhecida necessidade, rev-las e corrigi-las. V Tomar em considerao as necessidades efetivas e justos anseios dos povos, assim como das minorias tnicas. VI Reviso justa e sbia dos tratados, e procura, pelos caminhos pacficos, de um acordo amigvel, nos pontos em que for necessrio. VII Restaurao nos costumes pblicos do sentido de responsabilidade e de justia social.309 2. A colonizao.a)Legitimidade da colonizao.O direito de colonizao se baseia nointeresse que pode ter para o bem geral da humanidade a valorizao dos territrios que os silvcolas so incapazes de explorar;no dever de caridade, que incumbe s sociedades civilizadas,de fazer penetrar, nos pases material e moralmente inferiores, os benefcios da civilizao.b)Condies morais da colonizao.Para que a colonizao seja justa, opais colonizador deve respeitar os direitos materiais e morais do povo colonizado,evitando ao mximo recorrer, no ato de colonizao, a meios violentos e brbaros, deve abster-se, portanto,de explorar para seu lucro exclusivo os recursos do pas,e transformar em escravos, pela prtica do trabalho forado, os nativos colonizados, deve, por outro lado,ocupar-se em elevar o nvel moral dos silvcolas,favorecendo, pelas escolas, pelas instituies tcnicas, o acesso do maior nmero a um nvel superior de cultura, deve, finalmente, conceder ao povo colonizado, desde que seja possvel, uma parte na administrao e no governo de seu prprio pas, com o propsito deprepar-lo para a emancipao e a autonomia,quando o exerccio de uma tutela econmica e poltica se tornar intil.ART. V.A SOCIEDADE RELIGIOSA 1. Necessidade social da religio310 1. A sociedade religiosa natural ao homem. O homem, com efeito, tem deveres para com Deus, que so os seus primeiros deveres e que ele no poder cumprir seno como membro de uma sociedade religiosa. Esta tem por objeto o culto exterior, a orao pblica, assim como a perfeio moral dos homens, e, por fim, sua salvao eterna. Mesmo que no tivessem uma revelao e uma religio sobrenatural, os homens deveriam reunir-se num corpo religioso mais ou menos distinto do corpo poltico.2. A sociedade religiosa uma verdadeira sociedade. Ela, com efeito, composta de homens, e no de espritos. exterior, visvel e perfeita, porque tem todos os rgos essenciais a uma sociedade completa: poder de legislar, de administrar, de julgar.3. Independncia do poder religioso. Esta independncia decorre da prpria natureza do poder religioso. Pelo seu prprio fim ele superior a todos os poderes civis; no pode, pois, de maneira alguma, depender deles, e so eles que, nos limites que vamos apontar, dele dependem.Por conseguinte, a sociedade religiosa pode, com toda a independncia, ensinar, instituir ordens e congregaes, possuir bens temporais necessrios ao exerccio do culto e de suas outras funes sociais. 2. Relaes com o poder civil311 1. A unio dos dois poderes natural e desejvel. Se a subordinao dos fins impe ao poder civil trabalhar pelo bem moral dos seus membros, como poderia faz-lo melhor, seno colaborando com o poder religioso e favorecendo suas iniciativas, proporcionando-lhes proteo e respeito?2. O poder civil est indiretamente subordinado ao poder religioso. Com efeito, o fim temporal da atividade humana est subordinado ao fim espiritual da felicidade na outra vida. Para ajudar o homem a.atingir cada um de seus fins, Deus instituiuduas sociedades distintas,a sociedade civil e a sociedade religiosa. Mas a prpria ordem dos fins e sua subordinao essencial determina umaordem de dependncia entre as duas sociedades,encarregadas de velar pela felicidade do homem.a)Nas questes puramente temporais(trabalhos pblicos, organizao dos transportes etc), o poder civil independente.b)Nas questes puramente espirituais,o poder civil no deve intervir e o poder religioso governa com absoluta soberania.c)Nas questes mistas(legislao familiar, organizao do trabalho etc), que pem em jogo interesses a um tempo espirituais e temporais, o poder civil acha-seindiretamente dependentedo poder religioso, enquanto as providncias temporais que tomar tiverem repercusses morais e espirituais.* * *312Assim termina o estudo da Filosofia, que agora vemosg:-s , no apenas uma cincia, mas tambm sabedoria, uma vez que, considerando as causas mais altas do real e os princpios absolutamente primeiros de todo o saber, domina de certa maneira todas as outras cincias, unificando-as e dirigindo-as para seu supremo fim comum.Mas esta sabedoria metafsica, se obedece a seu prprio dinamismo, aspira a ultrapassar-se a si mesma, e experimenta, deste ponto-de-vista, um sentimento de frustrao. Somente a Teologia poder satisfazer esta inquietude, no em continuidade ao objeto da Filosofia, mas como efeito de uma luz super abundante e super eminente, que a da Revelao divina.A filosofia crist propriamente aquela que, permanecendo constante e estritamente submetida ao critrio da evidncia racional, admite e evoca esse conforto subjetivo da inteligncia que resulta da virtude infusa da f, que, confirmando de cima as certezas racionais fundamentais, lhes confere uma luz e uma fora particulares, e ilumina, em benefcio da razo filosfica, todo o campo do saber.