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  • Editorial3 Alegrai-vos Frei Severino

    Voz para Vs4 O meu filho homossexual Frei Jos Carlos Matias5 Fragmentos da Memria

    Ponte, passagem para a outra margem

    Arlindo de Magalhes HomEm E sociEdadE6 Para alm das evidncias

    A escravatura nos nossos diasNuno Santos

    8 O caminho das pedrasMoral e tica, Fernando Regateiro

    10 Bloco de NotasPeregrinao ecumnicado Papa TurquiaFrei Bento Domingues

    12 Traos de uma PresenaEstar onde a vida aconteceJuan Ambrosio

    14 Ver e saborearUm novo anoAntnio e Hlia Bracons

    EspEcial15 Figuras franciscanas

    O cardeal Neto e o seu tempoArlindo de Magalhes

    igrEja a caminHo23 Horizontes

    Despertar a vida consagrada para despertar o mundoAblio Pina Ribeiro

    24 Espao nova geraoJovens e... os desafios do Papa FranciscoLus Leal

    26 PersonalidadesPe. Joaquim CarreiraAntnio Marujo

    27 Publicidade

    28 A teologia do fragmentoFrei Bento DominguesAntnio Marujo

    cultura28 Artes e Letras

    Exposies/LivroAntnio MarujoVdeo/DVDValdemar Jorge

    pginas antonianas30 Pgina franciscana

    Os frades menores conventuais e a vida consagrada

    Frei Jos Carlos Matias32 Devoo

    Oraes a Santo Antnio33 Santo Antnio aos quadradinhos

    De Pdua ou de Lisboa?34 Santo Antnio, mestre da palavra

    Apresentao do menino Jesus no Templo

    contracapa36 Contracapa

    Peregrinao Antoniana a Medjugorge

    Janeiro 2015 | N 1 | Ano XXXI

    Sumrio

    AGNCIAS ECClESIA E luSA (PortuGAl) SIr (ItlIA)

    Associado

    Frades franciscanos saindo em misso.Santurio de Santo Antnio, Camposampiero, Itlia

    DiretorFrei Jos Augusto Marques(Carteira Profissional TE-101)AdministradorFrei Domenico CelebrinRedaoFrei Severino CentomoSecundino Correia

    Proprietrio e EditorAssociao CulturalMensageiro de Santo Antnio(Pessoa Coletiva n. 505 333 937)

    Redao e AdministraoEstrada de Assafarge, n. 63040-718 Castelo ViegasTelefone e fax 239 438 190

    Correio [email protected]

    Atendimento: segunda, quarta e sexta-feira,da parte da manh

    Preo da assinatura anualPortugal: 20 Europa: 30 Fora da Europa: 40

    Amigo (Portugal): 40 Benemrito 100

    Preo avulso: 2,00 Nmeros atrasados: 3,50 (inclui despesas de envio)

    NIB da ACMSA(transferncia bancria)0010 0000 42510410001 59IBANPT50 0010 0000 42510410001 59SWIFT/BIC: BBPIPTPL

    ImpressoG. C. Grfica de Coimbra, Lda.Palheira 3049 Coimbra Codex

    Nmero de Registo: 113.612Depsito Legal n. 26.837/89

    O MENSAGEIRO de Santo Antnio propriedade da ACMSA,entidade sem fins lucrativos

    Visite o nosso site na Internetwww.mensageirosantoantonio.com

    Tiragem do nmero anterior:3.000 exemplares

    O Mensageiro de Santo Antnio segue as normas do Acordo Ortogrfico, desde janeiro de 2012.Alguns autores optaram, no entanto, por manter a antiga ortografia.

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    O nascimento do Salvador foi marcado por uma grande alegria que abrangeria todo o povo (Lc 2, 10). O fruto do nascimento da Igreja foi o anncio, em todas as lnguas, das maravilhas de Deus (Act 2, 11). A misso da Igreja, esposa de Cristo, a continuao da obra dEle, isto , oferecer o anncio alegre (o Evangelho da alegria) aos po-

    bres, curando os coraes atribulados e libertando os que so prisioneiros do mal (cfr. Is 6, 1-2).

    Dentro da Igreja h um dom, dado pelo Pai por meio do Esprito, que suscita homens e mulheres para se dedi-carem a Cristo de corao indiviso, isto , deixando tudo para estar com Ele e colocando-se, como Cristo, ao servio de Deus e dos irmos (cfr. VC 1). Estamos a falar dos reli-giosos/as e dos membros da Vida Consagrada.

    O Papa Francisco dedicou este ano (de 30 de novembro de 2014 a 2 de fevereiro de 2016) Vida Consagrada. Numa entrevista concedida revista Testimoni, o Cardeal Joo Braz de Aviz, prefeito da Congregao Vaticana para a vida consagrada, comenta assim esta escolha do Papa: A vida consagrada uma prola para a Igreja. Durante toda a sua histria, tivemos cristos e crists que trouxeram uma luz particular do Evangelho para a Igreja inteira e para a hu-manidade. Uma luz a quem o Conclio Vaticano II deu uma nova fora, reconhecendo o seu prprio lugar dentro do povo de Deus, no apenas em si e para si mesma. Enfim, se a misso da Igreja estar com Jesus e anunciar com alegria o seu Evangelho, a misso dos que seguem a Jesus na vida consagrada serem testemunhas vivas desta alegria, con-forme o ttulo da Carta circular da referida Congregao Alegrai-vos.

    Um dia, conheci uma mulher, pequena de estatura mas corajosa e destemida. Vestia um simples sari branco e cala-va sandlias. Tinha uma cruzinha como alfinete para segu-rar o vestido, mas parecia segurar uma grande cruz. Parecia uma pobre mulherzinha de aldeia, mas dos seus olhos saia uma luz catalisadora que deixava sem palavras. O seu falar era submisso e pacato, mas extremamente claro e convin-cente. No pedia nada, mas interpelava e oferecia. O sorriso que tinha no rosto no era de fachada, mas inspirava uma grande paz. O seu nome? Anjez Gonxhe Bojaxhiu, conhe-cida como Madre Teresa de Calcut.

    um dos muitos exemplos de mulheres e homens que, estando com Jesus, alegraram a Deus e aos homens.

    H duas imagens bblicas que se aplicam com frequncia aos religiosos/as: os belos ps que anunciam a paz e a sentinela que perscruta e indica o caminho da luz e da vida. Apesar de todas as limitaes, os religiosos/as sempre cumpriram a sua misso de caminhantes e de sentinelas, em favor de todos os homens, sem dis-tino de cor, raa, cultura e religio.

    Alegrai-vos

    Frei Severino

    Editorial

  • Voz para Vs

    4 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    Senhor Padre, estou desesperada, nunca tive sorte com a minha famlia. O meu marido deixou-me com quatro filhos e tive dificuldade em cri-los sozi-nha. Fui pai e me e no foi fcil. Mui-tas vezes tive conflitos com os filhos, mas com um deles era diferente. Este meu filho foi sempre muito prudente e com ele tive sempre uma relao muito serena, nunca me deu desgostos, ouvia--me e ajudou-me a superar muitas difi-culdades.

    Ultimamente, porm, andava es-tranho: tivemos uma conversa, onde me disse que homossexual, que gosta dum homem e gostava de ir viver com ele. Fiquei chocada; no sei como agir, nem o que fazer. As minhas amigas fa-lam de ns e os meus vizinhos gozam com ele.

    No consigo falar do assunto com o meu filho, sinto-me uma me antiga porque sinto muito embarao em falar disso.

    Ester

    Cara leitora, no temos espao aqui para aprofundar o assunto que aborda. Na carta pessoal que lhe escrevo, dou-lhe algumas in-dicaes como a cara amiga pode informar-se mais sobre o assunto e tambm alguns contactos de pes-soas que a podem ajudar a lidar melhor com a situao que est a viver.

    Informe-se mais sobre a ho-mossexualidade, mas penso que neste momento o que mais ur-gente e a primeira coisa que deve fazer recuperar a relao com o seu filho. Tente falar serenamente das suas dificuldades com o seu fi-lho. Ele j deu um passo quando se abriu consigo, faa o mesmo. Este filho que sempre a ajudou, ago-ra precisa do seu apoio, procure

    saber o que est a viver e a sentir. Neste momento precisa de uma me que o escute e que o acolha.

    No ligue aos comentrios dos seus vizinhos, quanto s suas ami-gas, se so mesmo amigas, exija--lhes respeito por si e pelo seu fi-lho. Esteja ao lado do seu filho e procure manter um dilogo fran-co e aberto.

    Coragem cara amiga, vai estar na minha orao e no que for ne-cessrio conte sempre comigo.

    joVEm Em misso

    Senhor Padre, o nosso Papa Fran-cisco convida todos os cristos e princi-palmente os jovens a serem Mission-rios, a no terem medo de anunciarem aquilo em que acreditam. bom ouvir

    Frei Jos Carlos Matias

    O meu filho

    homossexual

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    Ponte, passagem paraa outra margem

    As trs primeiras pontes lanadas sobre o Douro foram a das barcas, a Pnsil e a de D. Lus. A das barcas, vinte barcas ligadas por cabos de ao, inaugurada em 15 de agosto de 1806, ruiu na 2 invaso francesa, seria depois reconstruda e, em 1842, substituda pela Pnsil.

    Ponte Pnsil, quer dizer Ponte suspensa, dependurada em cabos de ferro fixados em pilares de cantaria. Oficialmente chamou-se Ponte de D. Maria II.

    Foi desmontada (ainda existem os pilares) pouco depois de inaugurada a de D. Lus, por onde passa hoje o Metro do Porto. Em 1887.

    A foto, que pode ser de um fotgrafo chamado George Tait, do pequeno espao de tempo em que, inaugurada a de D. Lus, estava ainda de p a ponte de D. Maria (entre 1886 e 1887).

    Todas as demais pontes sobre o rio Douro foram construdas j no sculo XX.Sim, de facto, pois que a ponte uma passagem para a outra margem, no tem sentido nenhum

    duas pontes, ao lado uma da outra, uma a servir e outra, como na Rgua. Materiais ou imateriais, h pontes que no do passagem para a outra margem!

    Arlindo de Magalhes

    FragmEntos dE mEmria

    estas palavras, entusiasmam-me, mas depois olho para mim e vejo que sou incapaz de o fazer, sou pecador e no tenho capacidades ou qualidades para aceitar o desafio. Lus, Guimares

    Caro amigo, as suas palavras fazem-me recordar uma cena da vida de So Francisco. Um dia, um Frade estava intrigado e per-guntava a So Francisco porque que todos vinham ter com ele. Porque que era to famoso? Por-que toda a gente o seguia? Ento So Francisco disse-lhe com toda a serenidade que era porque quan-do Deus olhou para os homens e contemplou os bons e os maus, no encontrou entre os pecadores, ningum mais vil, mais ignorante, nem mais pecador do que ele. Para

    levar a cabo a maravilha que que-ria dizia So Francisco esco-lheu-o para confundir a grandeza do mundo. Para que se reconhea que todas as virtudes e todo o bem Lhe pertencem e no criatura.

    Caro amigo, no podemos ter medo de Evangelizar, de anunciar Cristo e aquilo em que acredita-mos. Somos pequenos, somos pe-cadores, sentimos falta de capaci-dades, ou qualidades humanas e temos defeitos, mas temos de ter confiana. Como diz So Paulo, no nos pregamos a ns mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus (2 Cor 4,5).

    Temos qualidades e defeitos e devemos esforar-nos por ser me-lhores, mas anunciar Cristo no

    depende das nossas qualidades ou defeitos, mas depende de termos Cristo no nosso corao. Traze-mos, porm, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinrio poder de Deus e no nosso (2 Cor 4,7).

    O Reino cresce no pelas nossas capacidades, mas se encontramos Cristo no O podemos esconder, temos de O anunciar. Temos de falar do seu amor, do seu perdo, da sua salvao. s vezes no so necessrias grandes coisas, nem grandes capacidades, basta sermos ns mesmos, humildes, mas que a nossa boca, o nosso corao e os nossos gestos, possam falar de Cristo Jesus.

    Caro amigo, bom trabalho, co-ragem e boa evangelizao.

  • 6 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    A histria da escravido uma das pginas mais escuras e trgicas da histria da humanidade. Redu-zir um ser humano a um escravo, vend-lo, compr-lo, us-lo sem lhe reconhecer algum direito foi

    aceite e praticado durante mil-nios. A prpria Igreja aceitou que isso acontecesse sem quase contes-tar (excerto de uma homilia de Pe. Nuno Gonalves, sj,).

    A mensagem do Papa Francis-co para o 48. Dia Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro de 2015, apresenta-nos precisamente uma longa e profunda reflexo sobre a escravido dos nossos dias, in-titulada: J no escravos, mas ir-mos.

    Mas a escravatura no foi j abolida? Faz sentido falar de escra-vatura hoje? Quais sero as novas escravaturas? Haver escravatura nos pases considerados mais de-senvolvidos?

    Pe. Nuno Santos

    Apesar de a comunidade internacional ter adotado nu-merosos acordos para por termo a esta prtica, o Papa recor-da-nos oportunamente que ainda hoje milhes de pessoas crianas, homens e mulheres de todas as idades so privadas da liberdade e constrangidas a viver em condies semelhan-tes s da escravatura.

    A escravaturanos nossos dias

    para alm das EVidncias

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    Comecemos pela etimologia da palavra escravo. Trata-se de uma palavra que vem do latim medieval sclavus cuja acepo primitiva era eslavo. Esta associao de ideias tem a ver com o facto de, nos sc. VIII e IX, Carlos Magno e os seus sucessores terem aprisionado um grande nmero de eslavos que co-locaram em cativeiro (Dicionrio etimolgico de Antnio Cunha).

    A escravatura tem a ver, como podemos compreender pela raiz etimolgica, com o facto de al-gum tornar uma pessoa numa propriedade, ou seja, capturar o outro, priv-lo da sua liberdade, torn-lo dependente. No fundo, trata-se de fazer do outro um ob-jeto que posso usar, privando-o da sua liberdade e dos seus direitos.

    j no H EscraVos,mas irmos

    No deixa de ser interessante que o Papa escolha este tema para o dia mundial da paz, porque en-quanto houver escravos a paz nun-ca ser plena. Efetivamente, a paz muito mais do que a ausncia da guerra. A paz a possibilidade de celebrarmos a fraternidade uni-versal, de sermos irmos indepen-dentemente da cor, da religio, da cultura, das capacidades, das geo-grafias ou das filiaes polticas.

    O Papa recorda-nos que j S. Paulo tinha pedido a Filmon para acolher o seu escravo Onsimo como irmo. Eis a marca de uma revoluo iniciada com Jesus. Uma marca que nos desafia a todos, em todas as geografias e circunstn-cias, a olharmos para todos como irmos e a termos gestos concretos de total recusa da escravatura.

    a EscraVatura, HojE

    Apesar de a comunidade inter-nacional ter adotado numerosos acordos para por termo a esta pr-tica, o Papa recorda-nos oportuna-mente que ainda hoje milhes de pessoas crianas, homens e mu-

    lheres de todas as idades so pri-vadas da liberdade e constrangidas a viver em condies semelhantes s da escravatura (n3).

    Dentro deste horizonte e no se-guimento da mensagem, podemos falar de vrias formas de escravatu-ra: trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores; muitos mi-grantes que, ao longo do seu traje-to dramtico, padecem a fome, so privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados fsica e sexualmente; pessoas obrigadas a prostiturem-se, entre as quais se contam muitos menores; pessoas que so objeto de trfico e comer-cializao para remoo de rgos; aqueles que so recrutados como soldados; os que so usados para servir de pedintes, para atividades ilegais como a produo ou venda de drogas, ou para formas disfar-adas de adoo internacional.

    globalizar a FratErnidadE

    Por isso, insiste que funda-mental globalizar a fraternidade, no a escravido nem a indiferena (n 6). Eis o grande desafio globa-lizar a fraternidade, globalizar os gestos e as palavras concretas que fazem do outro um irmo e no um objeto, que fazem do outro uma pessoa e no uma mercadoria.

    to fcil globalizar a indife-rena, to fcil ignorar a escra-vido dos nossos dias. to fcil passar ao lado da situao daquele que precisa de ajuda. Mas o desa-fio da construo da paz profunda passa precisamente pela fraterni-dade alargada a todos os homens e a todas as mulheres de todas as idades e de todas as geografias.

    Nas vrias consequncias desta atitude o Papa Francisco sublinha particularmente que, a par da res-ponsabilidade social das empresas, precisamos de assumir a respon-sabilidade social do consumidor. Na realidade, cada pessoa deveria ter conscincia de que comprar sempre um ato moral, para alm de econmico (n5). Por isso, de-veramos tentar saber se aquilo que compramos produzido por empresas justas com os seus cola-boradores; deveramos denunciar e fiscalizar a linha de produo de muitos produtos que adquirimos.

    Por tudo isto, que a declarao comum pela erradicao da escra-vatura at 2020, assinada recente-mente no Vaticano, seja uma rea-lidade. Uma iniciativa que o Papa classificou como histrica e que envolveu catlicos, anglicanos, muulmanos, hindus, budistas, judeus e ortodoxos.

    Declarao dos leaders religiosos para a erradicao da escravatura at 2020Vaticano, 2 de dezembro de 2014

  • 8 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    O homem um ser com vida de relao um viver gregrio, liga-do ao outro, -lhe mais favorvel do que um viver em isolamento. Determinados comportamentos, costumes e crenas ter-se-o insta-lado nos agregados humanos pe-las vantagens a eles associadas, em termos de sobrevivncia, de repro-duo e crescimento do agregado, de ascendente sobre outros.

    Instintivamente, os comporta-mentos, os costumes e as crenas associadas a vantagens foram sen-tidos como um bem e adotados e passados de gerao em gerao. E, empiricamente, a razo humana (coletivamente considerada para cada agregado) identificou-os, valorizou-os (faz deles um pro-duto imaterial e simblico) e co-dificou-os como normas morais a serem obedecidas pelos elementos de uma comunidade.

    as normas moraisE o bEm comum

    As normas morais respondem s necessidades coletivas de uma geografia humana e fsica e de uma poca. Por isso, divergem de agregado para agregado e, num mesmo agregado, evoluem ao lon-go do tempo.

    As normas morais de uma co-munidade no so escolhas do in-divduo, tm uma direo de fora para dentro so geradas em funo do bem comum e obrigam todos os elementos integrantes da comunidade em causa. Cada indivduo ganha em abrir mo de graus de liberdade pessoais, em favor do bem comum. Assim, no viver gregrio, em comunidade, a liberdade individual no um absoluto o agir humano cali-brado pelas normas morais, ainda que acarretem algum desconforto ou contrariedade e os limiares da autonomia se estreitem.

    Para alm de vantagens biol-gicas que estaro na sua origem, o cumprimento das regras morais de uma comunidade gera credibilida-de e confiana entre as pessoas as decises e os atos individuais so previsveis, no arbitrrios. Indo mais alm, haver ainda outra re-compensa o reconhecimento so-cial dos que cumprem as normas morais como homens ntegros, j que tero uma conduta assente em prvio e escrupuloso escrutnio do que bem e do que mal no seu agir. E este o cerne da pondera-o tica, da filosofia e da moral.

    Sendo multifacetadas as defi-nies de tica, socorro-me da que tive o privilgio de consensualizar com o saudoso Prof. Lus Archer: tica uma rea do saber que in-vestiga sobre o que bem no agir do homem na busca do compor-tamento que conduza plena rea-lizao da pessoa, no mbito de uma solidariedade com os outros que seja globalmente justa.

    a tica VEmdE dEntro para Fora

    Assim, o agir humano em bases ticas vem de dentro (do indiv-duo) para fora (para a sociedade). A tica no assenta em leis, nor-mas ou prescries externas.

    Fernando J. Regateiro

    Moral e ticaPilares

    do bem comum

    o caminHo das pEdras

    Sendo multifacetadas as definies de tica, socorro-me da que tive o privilgio de consensualizar com o saudoso Prof. Lus Archer: tica uma rea do saber que investiga sobre o que bem no agir do homem na busca do comportamento que conduza plena realizao da pessoa, no mbito de uma solidariedade com os outros que seja globalmente justa.

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    Na perspetiva das finalidades dos nossos atos, o agir humano eticamente calibrado tem, na vi-so de Aristteles, uma finalidade suprema a felicidade atravs das virtudes. Agir em bases ticas ex-pressa critrios validados por valo-res, concede aos atos transparn-cia das finalidades, gera respeito pelo autor da ao.

    A pendente da tica normativa bate-se pela universalizao do que considera um bem para o homem, no se inibindo de julgar negati-vamente o agir do outro, quando um bem que se deseja universal violado, como seja o direito vida. Nesta perspetiva, entende como dever tico condenar as violaes dos direitos humanos e agir soli-dariamente no sentido de proteger as pessoas, mesmo que estas este-jam inseridas noutra comunida-de, noutra cultura com diferentes normas morais. Ainda assim, corre um risco o de transformar uma escolha tica em dogma que ten-der a impor aos outros.

    o rElatiVismo tico

    Em sentido contrrio, haver os que, num exerccio de relati-vismo tico, apenas diro, face violncia exercida sobre uma pes-soa, qui a uma execuo por in-vocada violao de norma moral feita lei: eles l sabem porqu. Ou seja, para o relativismo tico, quando uma norma moral feita lei violada noutra comunidade com diferentes normas morais, e ain-da que esteja em causa um direi-to inalienvel do homem, como a vida humana, tal no ser bastante para um agir solidrio. Ainda que seja bvia a aberrao: uma norma moral, que devia ser um meio ao servio da vida humana, trans-formada num fim em si; e a vida humana, que um fim em si, passa a ser um meio ao servio da nor-ma!

    Examine-se, finalmente, a con-dio em que seja reconhecido conscincia o poder absoluto para estabelecer, autonomamente, os critrios que delimitam o que bem e o que mal e o consequente agir. Aqui, a ponderao tica pode

    servir a sacralizao da liberdade individual, em particular quando, numa sociedade, ocorra, concomi-tantemente, a dissoluo da moral e uma conexa falha do respeito pelo outro e, qui, da tolerncia. Cada um ter a sua tica ti-ca individualista. Nestes casos, o que estar um indivduo disposto a dar do seu espao de liberdade para viver com o outro? Pouco ou nada! Pois se a conscincia lhe d as necessrias autojustificaes do seu agir, ainda que conducente a usurpao do espao de liberdade do outro, porqu duvidar? Pelo contrrio, tudo isto far, conscien-te e seguro de que estar a trilhar o caminho certo e, logo, sem senti-mento de culpa!

    A tica individualista contr-ria tica kantiana, em que a von-tade dirige a delimitao do espao de liberdade individual, mas com a razo a pautar o agir em funo do sujeito e do outro. E tambm contrria tica de raiz crist, em que a liberdade e o livre arbtrio servem de referenciais para que a razo encontre o caminho para o outro, centrada no bem comum.

    Bairro ilegal Terras da Costa, Caparica, onde est em marcha um projeto comunitrio de construo de uma cozinha comunitria.

  • 10 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    1. Neste Bloco de Notas, optei pela peregrinao ecumnica do Papa Francis-co Turquia, fundamental para o renascimento das Igrejas. Comeo por selecionar duas respostas descontradas a perguntas dos jornalistas, no voo de regresso a Roma . Depois, irei fonte dessas preocupaes.

    O Papa Bergoglio tinha afirmado que, para chegar suspirada plenitude da unidade, a Igreja catlica no tem inteno de impor qualquer exigncia. Da a questo: estaria a referir-se ao Primado (do Bispo de Roma)?.

    Resposta: A questo do Primado no uma exigncia; um acordo porque tambm os ortodoxos o desejam. um acordo para encontrar uma modalidade que seja mais conforme com a dos primeiros sculos. Aquilo que sinto de mais profundo acerca deste caminho da unidade est na homilia que fiz, ontem, sobre o Esprito Santo. Ele mostrar-nos- onde est o ponto decisivo. Ele criativo

    Talvez isto seja uma autocrtica, mas corresponde, mais ou menos, ao que eu disse nas congregaes gerais, antes do Conclave, o problema est no seguinte: a Igreja tem o defeito, o hbito pecador, de olhar demasiado para si mesma, como se imaginasse que possui luz prpria. Mas, como sabem, a Igreja no tem luz prpria. Deve voltar-se para Jesus Cristo!

    Igreja, os primeiros Padres chamavam-lhe mysterium lunae, o mistrio da lua, porqu? Porque d luz, mas no tem luz prpria; a que lhe vem do sol. E, quando a Igreja olha demasiado para si mesma, aparecem as divises. Foi o que sucedeu depois do primeiro milnio.

    ...Eles aceitam o Primado [do Bispo de Roma]. Hoje, na Ladainha, rezaram

    pelo Pastor e Primaz. Como diziam? Aquele que preside. Reconhecem-no; disseram-no, hoje, na minha frente. Mas, quanto forma do Primado temos de ir um pouco ao primeiro milnio para nos inspirarmos. Eu no digo que a Igreja errou, no. Percorreu a sua estrada histrica. Mas, agora, a estrada histrica da Igreja aquela que pediu Joo Paulo II: Ajudai-me a encontrar um ponto de acordo luz do primeiro milnio.

    Este o ponto-chave. Quando se fixa em si mesma, a Igreja renuncia a ser Igreja para ser uma ONG teolgica.

    2. Uma jornalista interpelou-o acerca da histrica inclinao que ontem o Papa Francisco tinha feito diante do Patriar-ca de Constantinopla: como pensa agora enfrentar a crtica de quem talvez no entenda estes gestos de abertura?Resposta: Atrevo-me a dizer que no se trata de um problema s nosso; tambm um problema dos ortodoxos. Eles

    tm o problema de alguns monges, de alguns mosteiros que esto nessa estrada. Por exemplo, h um problema que se discute desde os tempos de Paulo VI: a data da Pscoa. E no nos pomos de acordo! Mas porqu? Porque, se a fizssemos na data da primeira lua depois do 14 de Nisan, com o avano dos anos, correramos o risco os nossos bisnetos de ter de a celebrar em Agosto. E devemos procurar Paulo VI props uma data fixa concordada, um domingo de Abril.

    bloco dE notas

    Peregrinao ecumnicado Papa Turquia

    Frei Bento Domingues, O.P.

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    3. Bartolomeu foi corajoso, sublinhou o Papa. Na Finlndia, ele disse peque-na comunidade ortodoxa: festejai a Pscoa com os luteranos, na data dos luteranos, para que num pas de minoria crist no haja duas Pscoas. E o mes-mo problema vivem os orientais catlicos. A data da Pscoa importante. H resistncia a isto por parte deles e nossa. Quanto a estes grupos conservadores, devemos ser respeitosos, sem nos cansarmos de explicar, catequizar, dialogar, sem insultar, sem os denegrir nem criticar porque tu no podes arrumar uma pessoa dizendo: este um conservador. No. Este to filho de Deus como eu. Mas convidemo-lo: vem c, falemos! Se no quer falar um problema dele, mas eu respeito-o. Pacincia, mansido e dilogo.

    4. Em boa cronologia, era prefervel seguir outra ordem, como j disse. Pare-ceu-me, no entanto, mais interessante comear pelo dilogo do Papa com os jornalistas, no voo de regresso da Turquia e ir, agora, fonte donde nasceram as questes.

    A peregrinao durou trs dias muito cheios. Destaco, pela sua significao, as declaraes sobre o Islo, para no se confundir esta religio com aqueles que a usam para o terrorismo, em nome de Deus. Temos de ter cuidado, porque, ao lon-go da histria, em nome da Igreja catlica tambm se cometeram muitos crimes.

    O Papa Francisco, numa atitude que lembra muito a coragem de Joo XXIII, apressa-se a enfrentar os problemas da Igreja e do Mundo. A Turquia uma fronteira de muitas fronteiras: fronteiras polticas, religiosas e crists. No foi dar lies. Foi manifestar o caminho que quer percorrer para a paz no Mdio Oriente, o dilogo inter-religioso e revigorar a proximidade crist com o mundo da Ortodoxia.

    No foi para exigir nada, mas para acolher e partilhar, com gestos e pala-vras, a vontade de congregar energias para percorrer, com todas as pessoas de boa vontade, os caminhos que sirvam a justia e a paz, vendo o mundo a partir das vtimas, dos pobres e dos excludos. Alguns gestos e palavras marcaram este desgnio.

    5. Depois de se referir ao horror da islamofobia, da cristianofobia e de realar a importncia do dilogo inter-religioso, ele prprio explicou a alma da sua viagem: Eu fui Turquia e fui como peregrino, no como turista. De facto, o que me levou, o motivo principal, foi a festa de hoje: fui precisamente para a partilhar com o Patriarca Bartolomeu; foi um motivo religioso. Mas depois, quando fui Mesquita, no podia dizer: No! Agora sou turista! Isto no; era tudo religioso. E vi aquela maravilha! O mufti explicava-me bem as coisas, com tanta serenidade e mesmo com o Alcoro, onde se fala-va de Maria e de Joo Baptista, explicava-me tudo... Naquele momento, senti necessidade de rezar. E disse: Rezamos um bocado? Sim, sim! disse ele. E rezei pela Turquia, pela paz, pelo mufti... por todos... por mim, que bem preciso... Rezei verdadeiramente. E sobretudo rezei pela paz, disse: Senhor, acabemos com a guerra!. Assim mesmo. Foi um momento de orao sincera.

    6. Ao participar na Orao Ecumnica, na Sede do Patriarcado, fez e disse algo, que talvez irrite os fanticos da superiori-dade catlica, qual as outras igrejas se devem render: (...) Que grande graa, Santidade, poder ser irmos na esperan-a do Senhor Ressuscitado! Que grande graa e que grande responsabilidade poder caminhar juntos nesta esperana, sustentados pela intercesso dos Santos irmos Apstolos Andr e Pedro! E saber que esta esperana comum no desilude, porque est fundada, no sobre ns e as nossas pobres foras, mas sobre a fidelidade de Deus.

    Com esta jubilosa esperana, transbordante de gratido e trepidante expectativa, formulo a Vossa Santidade, a todos os presentes e Igreja de Constantinopla os meus votos cordiais e fraternos pela festa do Santo Patrono.

    E peo um favor: de nos abenoar, a mim e Igreja de Roma.

  • 12 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    No exerccio da minha misso docente, tenho tido a oportunida-de de participar em variadssimos encontros e debates que tm sido, muitas vezes, uma fonte de inspi-rao para o meu trabalho.

    Hoje, partilho convosco uma dessas experincias. Num encon-tro onde refletamos acerca das pistas e desafios apontados pela Exortao Evangelii Gaudium, al-gum se lamentava pelo facto de um nmero cada vez maior de pes-soas parecerem estar a organizar a sua vida sem terem minimamente presentes aqueles valores que, nor-malmente, tinham servido para dar sentido existncia. Segundo ele, esta realidade acontece porque as pessoas tm afastado a sua vida da religio.

    No dilogo que em seguida se estabeleceu, um dos participantes reagiu a esta afirmao, dizendo que a razo apontada era s uma meia verdade, uma vez que a outra meia residia no facto da religio se ter afastado da vida das pessoas.

    a rEligioaFastou-sE da Vida?

    Esta reao rpida e contun-dente foi motivo para continuar-mos a reflexo, sem medo de ir um pouco mais alm dos lugares co-muns a que habitualmente nos re-metemos neste tipo de encontros.

    As razes que nos podem ajudar a perceber a situao em que nos encontramos a este nvel, so, sa-bemo-lo bem, muitas e complexas. No ganhamos, pois, nada em en-saiar respostas nicas e simplistas, uma vez que elas no nos ajudaro a encontrar os rumos necessrios para ousar outros caminhos. Mas parece-me justo reconhecer o que de verdade existe nesta maneira interpelante de dizer que a religio se afastou da vida das pessoas.

    Com isto no pretendo mini-mamente afirmar que o cristianis-mo (centremo-nos agora nele) dei-xe de ser autntico e s faa meias propostas, de modo a poder agra-dar mais. No disso que se trata evidentemente, mas sim de estar onde a vida acontece.

    Tambm com isto no quero afirmar que temos de aceitar como vlido tudo o que sucede e de estar de acordo com todas as maneiras de viver. Como bvio, tambm no disso que se trata, mas se no estamos presentes nessas si-tuaes, se no dialogarmos com esses modos de vida, ento no seremos jamais capazes de os ilu-minar com a luz do Evangelho e o cristianismo correr o risco de no ser verdadeiramente significativo para a vida das pessoas.

    cHEgar alma das cidadEs

    Ao referir os desafios levanta-dos pelas culturas urbanas, no n 74 da EG, o Papa Francisco diz com toda a clareza:

    Torna-se necessria uma evangelizao que ilumine os no-vos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o am-biente, e que suscite os valores fundamentais. necessrio chegar aonde so concebidas as novas his-trias e paradigmas, alcanar com a palavra de Jesus os ncleos mais profundos da alma das cidades.

    O sublinhado meu, e com ele pretendo destacar esta absoluta necessidade de estarmos onde a vida acontece. Sabemos at que muitas vezes ela no acontece da melhor maneira e, outras tantas, infelizmente, nem sequer de ma-

    Quando Deus se quis dizer a si mesmo e partilhar connos-co o seu sonho, encarnou, ou seja, disse-se onde a vida acon-tece.

    Juan Ambrosio

    Estaronde a vida

    acontece

    traos dE uma prEsEna

  • | 13

    neira digna, mas a que ela acon-tece e se quisermos iluminar essas histrias e esses paradigmas, com os quais se vai narrando a existn-cia nos nossos dias, no julgo que exista outra alternativa que no passe pelo estar presente.

    a Via da bElEza

    Tambm ao falar na via da beleza como um dos caminhos a que a catequese deve prestar mui-ta ateno na realizao da sua misso, a proposta vai no mesmo sentido:

    preciso ter a coragem de en-contrar os novos sinais, os novos smbolos, uma nova carne para a transmisso da Palavra, as diversas formas de beleza que se manifes-tam em diferentes mbitos cultu-rais, incluindo aquelas modalida-

    des no convencionais de beleza que podem ser pouco significati-vas para os evangelizadores, mas que se tornam particularmente atraentes para os outros. (EG 167)

    Percorrer este caminho da bele-za parece-me ser um dos melhores itinerrios, porque a proposta cris-t no vai contra a vida, mas, pelo contrrio, quer sublinhar e desta-car tudo o que de belo nela existe, facilitando o alargar dos seus ho-rizontes.

    A atitude no a da sobran-ceria de quem se julga melhor do que os outros, de quem tem a res-posta certa para todas as dificul-dades e todas as dvidas, mas a humildade e a convico de quem quer partilhar aquele precioso te-souro que d sentido e significado

    profundo sua vida, sustentando--a nas dificuldades que surgem e projectando-a nas possibilidades que se abrem.

    O desafio a que estamos convo-cados verdadeiramente apaixo-nante. Trata-se de trazer a religio, o cristianismo, para o corao da vida, testemunhando, com o exer-ccio da prpria existncia, como este significativamente uma mais-valia para o viver.

    O Mistrio da Encarnao, que to recentemente celebrmos de uma maneira to especial no tem-po de natal, no deixa qualquer margem para dvidas. Quando Deus se quis dizer a si mesmo e partilhar connosco o seu sonho, encarnou, ou seja, disse-se onde a vida acontece.

    Encontro do Papa Francisco com futebolistas, no salo Paulo VI, antes de um jogo a favor do fim dos conflitos no mundo

  • 14 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    VEr E saborEar

    Comeou em setembro um novo ano letivo, no incio de de-zembro um novo ano litrgico, co-mea agora um novo ano civil. Um ano, o tempo que o planeta leva para percorrer uma volta em torno do sol, o tempo em que medimos as nossas vidas.

    Simbolicamente, acolhemos a entrada de cada novo ano em fes-ta, com alegria, com esperana, com confiana, com f.

    Um ano novo, um novo ano. Na sucessiva sucesso dos dias, um dia para parar, para sentir que um novo ciclo comea.

    Um tempo para avaliar. Um ano que finda, um ano que inicia. Ano novo, vida nova, diz o povo, com a razo de novas perspetivas, da esperana de uma vida melhor. A continuidade ou a mudana que mudana quero, que mudana Deus me inspira? Que atitude face

    realidade que me rodeia? Que gestos, que palavras, que atitudes?

    A esperana da Paz e o primei-ro dia para a ter presente no s a paz exterior, mas tambm in-terior. E a esperana de um tempo melhor, com melhores condies de vida, no s pessoal, familiar,

    profissional, mas tambm social, econmica, poltica, global. Saber aceitar o que no posso mudar, coragem para mudar o que posso mudar e sabedoria para distinguir uma coisa da outra.

    Um novo ano. Tempo de re-nascer, de viver, de crescer, de dar graas. De confiar em Deus, essa pessoa inabalvel que me acolhe sempre, que torna tudo o mais re-lativo, porque Ele o absoluto.

    Ano de reflexo. A Alegria do Evangelho, exortao apostlica que o Papa Francisco nos deu h j um ano, instrumento e ferra-menta preciosa para compreender o nosso tempo, desafio para me-lhor viver, de forma atenta, com-prometida e empenhada, o tempo presente e futuro.

    Ano de preparao e do Sno-do dos Bispos de 2015, convocado pelo Papa Francisco, ano de prepa-rao ou de realizao do Snodo Diocesano em vrias dioceses.

    Ano da Vida Consagrada: reli-giosas, religiosos e leigos consagra-dos, ano para, de modo particular, rezarmos por aqueles que dedicam a sua vida ao servio de Deus, que colocam Deus no centro da sua vida e a vivem em funo dessa entrega, numa atitude de servio, no mais importante, mais urgente, onde se est, onde Deus quer que esteja.

    Um ano comea. Que seja um ano de esperana, de confiana, de f!

    Um ano como os outros, dife-rente como os outros. Especial. nico.

    Antnio e Hlia Bracons

    Um novoano

  • Figuras franciscanas

    O cardeal Neto e o seu tempo

    Uma pgina da histria franciscana portuguesa

    Arlindo de Magalhes

  • 16 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    A mudana foi muito difcil. Atacavam de um lado, contra-ata-cavam do outro, guerra civil, a pa-lavra Liberdade deu entrada ao Li-beralismo e aqui, sobretudo, que tudo se complicou. A Igreja por-tuguesa, h muito empobrecida, e parte importante do Antigo Re-gime, misturou-se Poltica com Religio, de um lado e do outro, e ao fim os historiadores vo-me ! quase tudo ficou na mesma pois que, ao tempo, tudo somado,

    que remdio teve a Igreja seno adaptar-se o melhor que pde ao Liberalismo.

    Talvez seja forte esta palavra adaptar-se. Houve ruturas e afron-tamentos, houve o anticlericalis-mo

    Cardeal D. Amrico (1830-1899), Padre Sena Freitas (1840-1913) e Abndio da Silva (1874-1915); houve tambm Antero de Quental (1842-1891) e Alexandre Herculano (1810-1877); e no podemos passar avante sem lem-brar Joaquim Antnio de Aguiar (1792-1884), Doutor em Leis pela Universidade de Coimbra, talvez a figura mais popularizada de todo o sc. XIX. Era ministro da Justia quando redigiu o relatrio ex-tintor das ordens religiosas, cujo texto fora da iniciativa de D. Pedro IV, contra o parecer do Conselho de Estado, assistindo [com]o mi-nistro da Justia, pessoalmente, impresso, no maior sigilo, e aban-donando a tipografia s quando o diploma j circulava nas ruas, o que lhe valeu a alcunha de Mata--Frades (Domingos Maurcio).

    Foi sobretudo ao longo de todo o sc. XIX que se desarti-culou o chamado Antigo Regime. Tudo comeou muito atrs no tempo. Vieram depois as invases francesas, o desarticular do imprio, o sapere aude! ousa saber! do Iluminismo, e muitas coisas mais. E o Antigo Regime do poder, do pensa-mento, da organizao da vida pessoal, familiar e social, e do prprio crer, abriu as portas a um Novo Regime.

    O cardeal Netoe o seu tempo

    EspEcial

    Quadro pintura do convento do

    Varotojo

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    No propsito deste trabalho fixarmo-nos no sculo do Libera-lismo e do Romantismo; quere-mos antes chegar mais adiante um pouco. Foi ao fim da primeira d-cada do sculo XX.

    Depois da guerra civil entre miguelistas e liberais (1828-1834), restabelecidas (1841) as relaes entre Portugal e o Vaticano o Papa Gregrio XVI concederia mesmo rainha D. Maria II a Rosa de Ouro, a maior distino pon-tifcia tudo rolava em ebulio velada. O maior problema era o do regime: Monarquia ou Repblica?

    Em 1910, chegou esta ltima, a Repblica, que foi acompanha-da das maiores violaes e ataques ao clero e s casas religiosas, com assaltos, insultos, assassinatos (Roque de Almeida). Males h que vm por bem!, diz o Povo.

    Sobre este segundo momento de conturbao social e poltica que se sentia tambm, e de que maneira!, no terreno religioso muito haveria que contar. Mas uma figura da Igreja portuguesa de ento pouco conhecida j que aqui se quer recordar: um fra-de franciscano, Patriarca de Lisboa e Cardeal, Jos Sebastio Neto.

    Antes porm, apresenta-se uma figura incontornvel da primeira Repblica Portuguesa, o Dr. Afon-so Costa (1871-1937).

    Ministro da Justia logo depois de 5 de Outubro de 1910, repos-tas as leis pombalinas que tinham conseguido a expulso dos Jesutas e as do Mata Frades que haviam ilegalizado as Ordens Religiosas, voltou-se, no fundo, ao problema: o da separao da Igreja e do Esta-do, grande deciso, mas carregada de dio e de politique dabord, sobre tudo a poltica, como dizia Maur-ras (1868-1953).

    neste contexto, que Afonso Costa e Cardeal Neto (1841-1920) se encontram.

    O pOder intrOmetendO-se nO religiOsO

    Ordem Real dada ao Cardeal Patriarca, ao tempo D. Patrcio I (1826-1840)

    Eminentssimo e Reverendssimo Senhor:Estando a Autoridade de Sua Majestade felizmente restabelecida nesta Capital, es-

    pero que V. Eminncia se sirva dar as suas Ordens para que no domingo 28 do corrente se cante solenemente na Santa Igreja Patriarcal o Hino Te Deum Laudamus, para dar graas ao Todo Poderoso por to assinalados acontecimentos. E outrossim que V. Emi-nncia se sirva dar as suas Ordens, a fim de que em todo o Distrito do Patriarcado se diga na orao da Missa daqui por diante: Reginam Nostram Maria, et Imperatorem Nostrum Regente cum Prole Imperiali. (Oremos) Por Maria, nossa Rainha, por nosso Imperador Regente, mai-la sua prole imperial.

    Deus guarde a V. Eminncia.Lisboa, em 26 de julho de 1833, Manuel Antnio Vellez Castello Branco

    Monumento a Joaquim Antnio de Aguiar, Coimbra, foto de Carlos da Cruz, 2010

  • 18 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    o cardEal nEto

    sempre muito simples a bio-grafia de um franciscano autnti-co.

    Diz o bigrafo Bartolomeu Ribeiro que nasceu [em Lagos, em 20 de janeiro de 1841] num bero quase pobre e num prdio

    humilde. Modestos propriet-rios eram seus pais. Em 1855, entrou no Seminrio diocesano de Faro, onde em 62 terminaria o curso de Teologia. Em 65 era pres-btero. Nesse mesmo ano seria no-meado coadjutor de Boliqueime.

    Em 1870, tentou ou tentaram--no a concorrer paroquialidade do Ameixial, concelho de Lou-l, mas no. Em 1875, entrou no Convento franciscano de Varatojo, junto a Torres Vedras, com o nome de Frei Jos dos Santssimos Cora-es.

    Nem o bigrafo percebeu por-que que o Pe. Neto ter pensado entregar-se vida paroquial e qua-se logo optado pela conventual. Recordo que, no h muito tem-po, em maio de 2013, aqui se falou desta casa ou ramo franciscano,

    particularmente entregue mis-sionao interna, num pas que comeava j a dar sinais claros de profunda descristianizao.

    Em 1880, tinha ele 39 anos, inesperadamente, mas j depois de vrias recusas, num dia em que lhe competia varrer o claustro e o estava a fazer, entregaram-lhe uma carta do Nncio Apostlico em Lisboa a dizer-lhe, bispo no-meado, acabaram as recusas, apre-sente-se imediatamente em Luan-da. Assim aconteceu. De facto, h tempos que vinham tentando aceitasse o bispado, o que ele sem-pre recusou.

    EspEcial

    pObres egressOs!

    Alexandre Herculanoa chorar o que a extino das Ordens religiosas procovou:

    Quantos factos dolorosos se passaram naquela poca por todos os ngulos de Portugal! Poderia contar-vos mil, e cada um deles fora uma nova cena de agonia. Os mrtires primitivos morriam nos ecleos, nas garras das feras, nos leitos de fogo; no eram, porm, condenados a assentar-se em cima das runas de todos os seus afetos, clamando ao Senhor durante anos: Erue me! Erue me! Tira-me daqui!

    Fizestes uma coisa absurda e impossvel: deixastes na terra cadveres vivos e as-sassinastes os espritos.

    Ao menos que esses cadveres no sintam traspass-los o vento que sibila nas saras, a chuva que alaga as campinas, o frio que entorpece as plantas e os membros dos animais.

    Po para a velhice desgraada! Po para metade dos nossos sbios, dos nossos homens virtuosos, do nosso sacerdcio! Po para os que foram vtimas das crenas, minhas, vossas, do sculo, e que morrem de fome e de frio!

    Cumpri ao menos a vossa brutal promessa. Podem nessas almas ser profundas as trevas, e todavia respeitardes as regras mais triviais de uma probidade vulgar.

    Seno, que os pobres monges inclinem resignados a fronte na cruz do seu mar-trio, e alevantem uma orao fervorosa ao Senhor para que perdoe aos algozes, que nela os pregaram. este o exemplo que na terra lhes deixou o Nazareno.

    (Alexandre Herculano - Opsculos, Vol. 1, Bertrand, 7 ed., pp. 150-151) Tomada de posse na S de Lisboa, do patriarca Jos Neto, Histria Religiosa de Portugal, direo de Carlos Moreira

    Azevedo, Vol. 3, p. 54

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    Deixemos falar dele um ho-mem que merece todo o crdito, o Pe. Alves Correia (1886-1951): A ida para a diocese angolana do grande homem e santo que foi o bispo D. Jos Sebastio Neto foi o incio duma era de renovo espi-ritual para a nossa frica Ociden-tal.

    Mas estava ainda para chegar o mais inesperado. De facto, Deus exalta os humildes (Lc 1,52): dois anos e meio depois, inesperada-mente, seria nomeado para a S Patriarcal de Lisboa. Ele prprio espantado com tal, em 7 de setem-bro de 1883, tomaria posse.

    Sabendo tu que no apeteces-te tal dignidade mas que a ela fos-te chamado pela vontade divina manifesta por Nosso intermdio, preciso que transformes todo o receio que te pode incutir a cons-cincia da fragilidade humana em

    confiana na misericrdia divi-na assim se lhe dirigiu o Papa Leo XII, depois de ter recebido do Bispo de Luanda o pedido de que, mais uma vez, fosse dispensado de tal cargo.

    Ao tempo, o Patriarca de Lis-boa, para alm de ser bispo da Dio-cese, era outras coisas: Par do Rei-no (deputado nobre da nao) e Capelo da famlia real. Num lado como no outro, cuidou sempre de defender a sua independncia po-ltica e religiosa.

    Mas foi na prtica pastoral pro tempore, para aquele tempo, que melhor se afirmou: protegendo as Ordens religiosas, cuidando particularmente do episcopado portugus (bispos por ele escolhi-dos foram, por exemplo, Antnio Mendes Belo, do Algarve e depois Patriarca de Lisboa, e Manuel Viei-ra de Matos, da Guarda e depois

    Plcio da Mitra ou dos Arcebispos, em Loures, para onde o cardeal Neto se retirava com alguma frequncia

  • 20 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    EspEcial

    As figuras centrais da faco Republicana da Implantao da Repblica Portuguesa, Jos Mattoso, Histria de Portugal, Roque Gameiro (1864-1935)

    Arcebispo de Braga; etc), e refor-mando o Seminrio e toda a Pas-toral diocesana. No h bom nem mau povo numa diocese; h bons e maus procos, dizia o Cardeal.

    Por isso, O Patriarcado foi talvez a diocese em que a admi-

    nistrao eclesistica conseguiu eximir-se mais rapidamente de in-fluncias estranhas ao poder ecle-sistico e onde era mais estreita a unio entre os pastores e o seu Prelado, o Pastor diocesano (Bar-tolomeu Ribeiro).

    Ao fim de 24 anos, depois de ter pedido por quatro vezes a sua resignao, o Cardeal Neto deixou a cadeira patriarcal. A sua renn-cia deixou a espantada a diocese e o prprio pas: Acatamos os de-sgnios da Providncia, como nos cumpre, mas no nos dispensamos de testemunhar por esta forma a saudade que nos deixa na alma a perda de um Prelado insigne, que foi tambm para todos ns um pai extremoso assim disseram pro-fessores e alunos do Seminrio de Santarm.

    o cardEal nEtoE a rEpblica

    Em novembro de 1907, o Car-deal Neto resignou do Patriarcado e acolheu-se a uma casa da ordem franciscana, a que pertencia, o Co-lgio da Portela, em Leiria. Em ja-neiro de 1909, passar-se-ia ao con-vento do Varatojo.

    A sepArAO dA igrejA e dO estAdO

    O ministro da Justia e autor da Lei da Separao da Igreja e do Estado,Afonso Costa, determinou assim:

    1. A religio catlica, apostlica, romana deixa de ser a religio do Estado e todas as igrejas e confisses religiosas so igualmente autorizadas, como legtimas agremia-es particulares.

    2. A Repblica no reconhece, no sustenta nem subsidia culto algum e, por isso, sero extintas as cngruas e quaisquer outras imposies destinadas ao exerccio do culto catlico.

    3. livre o culto pblico de qualquer religio nas casas para isso destinadas, mas deve subordinar-se s condies legais do exerccio dos direitos de reunio e as-sociao.

    4. Considera-se culto pblico o que realizado nos lugares especialmente destinados ao culto ou em alguma outra parte com interveno de mais de 20 pessoas e ainda o ensino religioso onde quer que se ministre.

    Em jeito de comentrio. Vinha ainda longe o que diria o Vaticano II sobre este assunto: Se por autonomia das realidades terrestres se entende que as coi-sas criadas e as prprias sociedades tm leis e valores prprios, que o homem ir gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, perfeitamente legtimo exigir tal autonomia (GS 36).

    Afonso Costa (1871-1937), inicial-mente Ministro da Justia e, mais tarde, Presidente do Ministrio e

    Ministro das Finanas de Portugal, Hemeroteca Digital - Portugal na

    Guerra : revista quinzenal illustrada (N. 3, 15 Set. 1917)

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    priso E intErrogatrio do patriarca rEsignatrio dE lisboa, cardEal d. jos nEto

    Em 9 de outubro de 1910, um domingo, s 10 da noite, na estao do Cacm, foi preso o patriarca resignatrio de Lisboa, cardeal D. Jos Neto, sendo conduzido por Frana Borges para a estao do Rocio e da para o Quartel-General.

    O cardeal, ao ser detido, invocou as suas imunidades parla-mentares de Par do Reino. Cerca das trs horas da madrugada, na sala do Ministrio da Guerra, onde se reuniam os Conselhos de Ministros do Governo Provisrio, Afonso Costa informa a im-prensa que, como delegado do governo, se vai deslocar ao quar-tel-general, acompanhado pelo seu secretrio Germano Martins, para interrogar, o cardeal Neto. Foi assim o interrogatrio:

    - Queira V. Exa. sentar-se. O cardeal senta-se fatigadamente numa cadeira de braos. O dr. Afonso Costa interroga-o: - O seu nome? - Jos Sebastio Neto, patriarca resignatrio de Lisboa. - Cardeal? - Sim, cardeal sou. - V. Exa. pertence a alguma comunidade religiosa?.... V. Exa,

    decerto vai usar para com o ministro, que representa o governo, da mxima sinceridade.

    - No h dvida. Eu dei-me sempre bem com todos os go-vernos.

    - Vive, portanto, em comunidade religiosa. - Vivo. - A que Ordem pertence? - de S. Francisco de Assis. - Quantas casas tem essa Ordem em Portugal? O cardeal Neto hesita, rememora mentalmente, conta pelos

    dedos e por fim diz: - Quatro: Braga, S. Bernardino, Brancanes ...A ltima, os seus lbios mal a murmuram. Depois, o dr. Afonso Costa explica que o governo vai fazer

    respeitar a legislao de [Marqus de] Pombal e de [Joaquim An-tnio de] Aguiar em vigor, e que, portanto, necessrio que o cardeal Neto, para permanecer em territrio portugus, prometa que no voltar a viver em comunidade e apenas a vida de fam-lia, com os seus parentes naturais, ou um amigo e com os criados necessrios para o seu servio.

    - Promete V. Exa... O patriarca resignatrio replica imediatamente com doura,

    num tom de voz que no oferecia dvida: - Prometo. O dr. Afonso Costa prosseguindo: - V. Exa, sempre que mudar de domiclio, ter de o participar

    para o ministrio da Justia... - Mesmo quando for para a Parede? - No, pode ir para o campo, para uma praia, por dez, por

    vinte dias, isso uma coisa provisria. O governo s deseja ter informao de mudana de domicilio, da residncia habitual. E compreende-se que assim seja, pois que de outra forma a inspe-

    o seria impossvel e a lei seria iludida, sofismada, posta lamen-tavelmente de lado.

    - E agora?.... Agora V. Exa. Para onde se retira? - Vou para Espanha passar algum tempo, o que alis j era in-

    teno minha mesmo antes dos acontecimentos. Alguns amigos meus de h meses que me solicitam. Estava decidido a partir...

    - E volta para Portugal? - Sim, senhor. Sou portugus. - O governo da Repblica no expulsa cidados portugueses,

    pelo contrrio, atra-los- ptria, proteg-los- sempre que se coloquem sob a proteo clara das leis.

    Redigido o auto, nele se regista que o cardeal Neto ser, de novo, entregue liberdade. Ele e o ministro assinam a folha de almao azul.

    E o ministro da justia pergunta ainda: - V. Exa, demora-se em Lisboa? - Eu desejava partir o mais breve possvel para Leiria, afim de

    arranjar as minhas malas para me pr a caminho de Espanha. - Em que comboio? No da tarde? - Sim, senhor. Mas desejava tambm pedir que algum me

    acompanhasse. - No h dvida. O governo da Repblica garantir a V. Exa

    toda a proteo e facilitar-lhe- os meios eficazes para chegar ao seu destino.

    - Poderia ir ao convento da Graa? - Tem Vossa Exa urgente necessidade de falar a algum dali? - Apenas queria recolher os meus hbitos. - Pois bem, o cardeal Neto receber tudo o que lhe pertence.

    O governo provisrio far-lhe- chegar tudo s mos. O cardeal Neto repete: - Eu dei-me sempre bem com todos os governos.O dr. Afonso Costa insiste em explicar: - A atitude de V. Exa vale pela sua alta situao, atitude que

    por certo influir decididamente em muitos outros que estejam em igualdade de circunstncias e facilitar a obra da Repblica que se acaba de implantar em Portugal para a redeno da Ptria.

    Por fim, Afonso Costa determina que o cardeal Neto ser acompanhado pelo Dr. Germano Martins e ir descansar para um hotel e que s sete da tarde seguir para Leiria.

    O sr. cardeal Neto pergunta: - Poderei esperar por um rapaz que me acompanhava? - Sem dvida. Sente-se V. Exa. Pode assistir ao seu interroga-

    trio. Algum parte a conseguir quartos num hotel, o que absolu-

    tamente impossvel e o cardeal Neto, ento, resigna-se a esperar pelo comboio da manh, das 7 e 10, para nele partir para Leiria.

    (Documento guardado na Fundao Mrio Soares, Arquivo & Bi-blioteca, Cronologia; dele se fez uma transcrio fiel, mas em ortografia atual)

  • 22 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    Logo depois da revoluo de outubro de 1910, no falta-ram perseguies e martrios ao Patriarca resignatrio, posto que velho e alquebrado. Encontrava-se ele ento numa propriedade que possua na Parede, onde soube das perseguies religiosas que se esta-vam fazendo em Lisboa. Receando violncias, foi refugiar-se no Mon-te Estoril em casa de D. Alice Lima Carneiro, no propsito de tomar no dia seguinte, o comboio na es-tao do Cacm, para se dirigir a Espanha. Efetivamente partiu de madrugada numa carruagem para a estao, onde os revolucionrios o prenderam, depois de lhe te-rem apedrejado o carro ao passar por Albarraque. Foi conduzido ao Quartel-general, em Lisboa, e interrogado pelo ministro Dr. Afonso Augusto da Costa (peran-te quem fora levado sob priso e entre

    chufas soezes, desde a Estao de S. Tia-go de Cacm, depois de ter sido interro-gado pela autoridade administrativa em Sobral de Monte-Agrao [Bartolo-meu Ribeiro]) , perante quem se apresentou com a nobre altivez de mrtir(Fortunato de Almeida).

    Retirou-se depois para Espa-nha e no mais voltou a Portu-gal(Fortunato, III, p. 561). Foi isto em 9 de outubro de 1910. Foi viver no convento francisca-no de Fuente del Maestre, em Ba-dajoz. Depois, em 30 de maio de 1913, passou-se para o convento de Villario de Ramallosa, cerca de Bayona, na Galiza. Ali morre-ria, anos depois, em 1920, ele que nada mais quis nesta fase da sua vida que viver com a comunidade portuguesa exilada no pequeno e pobre conventinho de Villario.

    EspEcial

    Foto digitalizada de Cardial Netto [Esboo biogrfico], Braga, 1928 (de

    Bartolomeu Ribeiro)

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    2015 , por deciso do Papa, o Ano da Vida Consagrada. O ann-cio desta iniciativa apanhou todos de surpresa. Pretendia-se dar visi-bilidade a esta forma de vida crist que, nos ltimos anos, teria sido objeto de certa desestima e menos-prezo? Ou, simplesmente, dirigir o foco para a situao atual da mes-ma, cheia de bnos, no h d-vida, mas tambm de limitaes e abandonos, especialmente no he-misfrio norte?

    Um olhar ao passado para nos alegrarmos com este dom da Vida Consagrada o primeiro objetivo. O tempo decorrido desde o Con-clio Vaticano II, rico de frutos de renovao, embora com bastantes nuvens mistura, merece um lou-vor harmonioso de todo o Povo de Deus. A existncia deste milho e tanto de pessoas, alistadas em centenas de institutos, interessa a toda a Igreja, sendo como tesou-ro e parte irremovvel da mesma. Que seria da Igreja sem os Reli-giosos! disse Jesus a Santa Tere-sa. Que seria da Igreja e do mundo no campo da espiritualidade, da sade, da educao, da solidarie-dade, das misses

    Viver o presente com f e pai-xo o segundo desafio. Uma ex-celente ocasio para os Consagra-dos reforarem a sua autoestima vocacional, reavivarem o encanto

    da sua consagrao, refrescarem o seu primeiro sim.

    E, depois, abraarem o futuro com esperana. A vida, como dizia algum, s pode ser compreendi-da olhando para o passado, mas s pode ser vivida olhando para a frente. Tudo isto para despertar o mundo.

    So Francisco e Santo Antnio despertaram o mundo. Converte-ram todo o seu corpo em lngua e testemunho de evangelho. Teresa de Calcut despertou o mundo, tocando a carne viva de Cristo nas feridas dos pobres.

    O Ano da Vida Consagrada no para que ela se concentre em si mesma, numa atitude de auto-complacncia e narcisismo, mas para que revalide o compromisso de fiel entrega a Cristo e de servio cada vez mais eficaz e generoso humanidade. Um estmulo a dei-xar a zona de conforto para sair ao

    encontro dos pequenos, dos doen-tes, dos que no tm Deus no seu horizonte, dos que precisam de Po ou de Palavra. Um convite aos Consagrados para serem testemu-nhas e mensageiros da alegria do Evangelho.

    Ablio Pina Ribeiro

    Despertara vida consagrada

    para despertar o mundo

    HorizontEs

  • 24 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    No artigo de maro passado, dava nota da perceo (pessoal) de estar em curso uma verdadeira revoluo silenciosa na Igreja Catlica, enca-beada pelo Papa Francisco: uma revoluo a partir de dentro mas que pretende, simultaneamente, ser eco e concretizao do que, por toda a orbe, se vai j vendo, julgando e fazendo em conformidade com os novos sinais que o Esprito eterno e os tempos presentes vo suscitan-do aos fiis e aos seus pastores.

    No entanto, e no obstante este novo lan que o atual Papa trans-porta consigo (nos gestos e nas pa-lavras), penso que, por vezes, se po-der tornar difcil impedir que essa simplicidade que lhe caracterstica ofusque a firmeza e o convite ra-dicalidade do testemunho com que

    nos tem iluminado ao longo deste seu ainda muito jovem (mas deveras promissor) pontificado.

    Assim, simplicidade e firme-za so, como no quadro do Filho Prdigo de Rembrant, as duas mos com que o atual Papa parece abraar (e querer fazer-nos a ns tambm abraar) este desafio/misso de le-var a todos a alegria do Evangelho. Permitam-me que volte a citar aqui alguns trechos da sua primeira Exor-tao Apostlica, que ilustram cla-ramente este modo de ver/dizer do Papa Francisco, especialmente patente nas referncias ao trabalho pastoral com os jovens.

    Assim, no n 105 da referida Exortao, o Papa assinala que:

    A pastoral juvenil, tal como es-tvamos habituados a desenvolv-

    -la, sofreu o impacto das mudanas sociais. Nas estruturas ordinrias, os jovens habitualmente no encon-tram respostas para as suas preocu-paes, necessidades, problemas e feridas. A ns, adultos, custa-nos ou-vi-los com pacincia, compreender as suas preocupaes ou as suas rei-vindicaes, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem.

    Ressaltam aqui trs problemas srios: o da particular permeabilida-de dos jovens s mutaes sociais (e a permanente necessidade de descons-truo/reconstruo dos processos--projetos de ao pastoral a eles de-dicados/destinados); o do crescente distanciamento entre os dinamis-mos (de formao, de celebrao, de reflexo, de proposta transformado-ra) utilizados pelos agentes das es-truturas ordinrias e as reais preo-cupaes, necessidades, problemas e feridas por eles sentidas; e ainda o do fosso lingustico entre as vrias geraes/agentes envolvidos. Consi-derados isoladamente ou em conjun-to, como hoje tantas vezes acontece, tais problemas levam concluso, to dolorosa quanto realista (e com a qual facilmente concordaremos): as propostas educacionais no pro-duzem os frutos esperados. No en-tanto, o realismo do ver no deve obstar a utopia do vislumbrar que, nas asperezas do caminho, crescem pequenas (mas verdadeiras) flores brancas de esperana. Por isso, no de somenos que o Papa tambm re-fira que:

    Lus Leal

    Jovens e...os desafios

    do Papa Francisco

    Espao noVa gErao

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    A proliferao e o crescimento de associaes e mo-vimentos predominantemente juvenis podem ser inter-pretados como uma ao do Esprito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertena.

    Esta constatao (1) esclarece que o horizonte do ver deve abarcar a realidade nas suas mltiplas faces/perspetivas de anlise, impedindo que nos fixemos uni-camente no seu plo negativo; (2) situa o nosso exer-ccio de julgar luz do que somos, temos e podemos vir a ser/fazer; (3) relembra que so o Evangelho e o Espri-to (que sopra quando, onde e como quer - cf. Jo 3,4-8) os diapases pelos quais deveremos afinar esse nosso julgamento. Por outro lado, reconhece a positividade do fator contracorrente que o crescimento do associa-tivismo juvenil significa no quadro de uma sociedade/cultura tida comumente como individualista e indi-ferente (e especialmente aquele que se reveste de uma identidade religiosa) mas o rigor da sua anlise (mais pastoral do que sociolgica) leva-o tambm a concluir/exigir que necessrio tornar mais estvel a participa-o destas agregaes no mbito da pastoral de conjunto da Igreja.

    sinais dE EspErana, conVitEs alEgria

    E, no n 106, o Papa Francisco continua:Embora nem sempre seja fcil abordar os jovens,

    houve crescimento em dois aspetos: a conscincia de que toda a comunidade os evangeliza e educa, e a urgncia de que eles tenham um protagonismo maior. Deve-se reco-nhecer que, no atual contexto de crise do compromisso e dos laos comunitrios, so muitos os jovens que se so-lidarizam contra os males do mundo, aderindo a vrias formas de militncia e voluntariado. Alguns participam na vida da Igreja ().

    No fundo, os problemas, alguns novos, outros de sempre, a exigirem novas respostas Uma ideia que vol-tou a repetir, em dezembro passado, aos participantes no IV Congresso Europeu da Pastoral Juvenil promovido pelo Conselho Pontifcio para o Apostolado dos Leigos:

    Sabemos bem que h muito a fazer. [Mas] mais do que na promoo de uma srie de atividades para os jo-vens, esta pastoral [a juvenil] consiste em caminhar com eles, acompanhando-os pessoalmente nos contextos complexos e, por vezes, difceis em que se encontram.

    Regresso Evangelii Gaudium (n 106), para citar a sua certeza, da qual tambm nos deveremos deixar conven-cer:

    Como bom que os jovens sejam caminheiros da f, felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praa, a cada canto da Terra!.

    Neste ano que agora se inicia, s me atrevo a desejar/orar: que assim seja, Santo Padre assim seja!

    Com certeza que j ouviste falar de Taiz, a pequena

    Comunidade Ecumnica do sul de Frana que, durante todo o ano, tem as suas portas abertas a todos aqueles que andam em busca da fonte de gua viva e de reconciliao consigo mesmos, com os outros, com Deus

    Pois este ano de 2015 um ano muito especial para esta Comunidade, uma vez que nele coincidem vrias celebraes simbli-cas e fundamentais

    da sua Histria: em primeiro lugar, a Comunidade celebra o seu 75 Aniversrio (foi em 1940 que o seu fundador, o Irmo Roger, com apenas 25 anos de idade, lanou os alicerces desta comunidade); depois, comemora-se o 100 aniversrio do nas-cimento do irmo Roger; e, finalmente, os 10 anos passados so-bre a data do seu nascimento para Deus. Assim, para assinalar estes to marcantes acontecimentos, a Co-munidade est a preparar o Encontro por uma nova solidarie-dade, a ter lugar entre 9 e 16 de agosto, uma semana que ser o ponto culminante das celebraes do ano 2015 e tambm o auge de trs anos dedicados procura de uma nova solidarie-dade, uma proposta de reflexo/formao lanada na Carta de 2012 do atual prior, o Irmo Alois.M@ve-te rumo a uma nova solidariedade!

    Neste primeiro ms de 2015, regresso com mais uma pro-

    posta para te ajudar a rezar: a aplicao Click To Pray, uma proposta do Apostolado da Orao em Portugal (e em parceria com o DNPJ Departamento Nacional da Pastoral Juvenil).

    De forma ritmada (trs vezes ao dia), e de acordo com a mais antiga e profunda tradio da Igreja, a aplicao (que tambm uma rede social de orao, pois dispe de um mural onde podes deixar as tuas intenes de orao e/ou rezar pelas intenes dos outros utilizadores), disponvel para Android e iOS (Iphone), apresenta-te trs propostas muito simples e bre-ves, que criam uma atitude de disponibilidade para fazer aquilo que Deus te ir pedir nesse dia. E vers que cada dia diferente, como podes ler no site oficial: https://clicktopray.org/

    Acrescente-se ainda a possibilidade de rezar pela inteno de orao indicada pelo Papa a cada ms, criando assim uma verdadeira corrente universal de orao.

    Agora j sabes: lig@-te ao Click to pray. s clicar e re-zar e deixar que Jesus traga uma nova cor ao teu dia, fazendo toda a diferena!.

  • 26 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    O Memorial do Holocausto de Jerusalm, Yad Vashem, declarou o padre Joaquim Carreira, reitor do Colgio Pontifcio Portugus, de Roma, entre 1940 e 1954, como Justo entre as Naes. O ttulo, o mesmo que foi atribudo antes a Aristides Sousa Mendes, o cnsul portugus de Bordus, distingue no-judeus que, durante o Holo-causto, tenham arriscado as suas vi-das para salvar judeus.

    Para a atribuio do ttulo, basta ter salvo uma pessoa. A condio que o tenha feito arriscando a pr-pria vida e sem receber nada em

    troca. No caso de Joaquim Carreira, foi suficiente o testemunho de Elio Cittone, que na altura dos aconteci-mentos tinha 16 anos. Sete dcadas depois, em declaraes ao Pblico quando a reportagem sobre o padre Carreira foi publicada, h dois anos, Elio recordava: Era muito gentil. O jovem Cittone foi levado pelo tio, Isacco e, de acordo com o relatrio do padre Carreira, tambm pelo pai, Roberto embora agora Elio j no se recorde da presena do pai duran-te aquele ms e meio de refgio no Colgio Portugus. Nunca mais o vi, dizia Elio Cittone, em 2012, re-ferindo-se ao padre portugus. Mas estou-lhe muito grato e recordo sempre o facto de ele me ter salvo a vida.

    Nascido em 1908, na Carangue-jeira, aldeia prxima de Ftima, Joa-quim Carreira foi ordenado padre, em 1931. Tirou depois, em Abril de 1940, o brevet de piloto de avio foi o primeiro padre portugus a faz-lo e ter realizado 200 horas de voo. Logo em Maio, foi chamado a trabalhar como vice-reitor do Col-gio Portugus de Roma.

    A chamada a Roma no ter dei-xado o padre Carreira, ento com 32 anos, muito satisfeito. Joo Mnico, seu sobrinho e tambm padre, conta na biografia que escreveu sobre o tio Monsenhor Joaquim Carreira Apsto-lo do Bem, na Guerra e na Paz, que ele no aceitou, de incio, a ideia da par-

    tida. Mas, um ano mais tarde, por morte do antecessor, Joaquim Car-reira assumiu mesmo o cargo de rei-tor do Colgio Pontifcio Portugus, onde se alojam padres portugueses que estudam em Roma.

    Quando Roma foi ocupada pelos nazis, em Setembro de 1943, o padre Carreira ofereceu abrigo a pessoas perseguidas pelos alemes, incluin-do trs membros da famlia Cittone: Elio, o seu pai Roberto e o seu tio Isacco. No relatrio de 1943-44, so-bre a actividade do colgio, Carreira escreveu: Concedi asilo e hospitali-dade no colgio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas.

    Tal como os outros edifcios da Santa S, o Colgio tinha um aviso do comando militar alemo proi-bindo buscas no seu interior. Apesar disso, pelo menos uma vez, os mili-tares alemes entraram no edifcio, procura de refugiados. Todos os que estavam escondidos conseguiram refugiar-se em stios que o reitor in-dicara previamente.

    Elio Cittone recorda essa ida dos alemes ao Colgio. Foi esse epi-sdio que levou o tio de Elio a sair do Colgio e procurar outro abrigo. Nunca mais vi ningum, mas estou muito grato ao reitor, confirma Elio Cittone, que esteve no Colgio entre Outubro e Dezembro de 1943. Vivamos em Milo, tnhamos ido para Roma para fugir aos alemes.

    pErsonalidadEs

    Antnio Marujo

    Pe. Joaquim Carreirajusto

    entre as naes

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    O pai e tio eram vendedores de tape-arias antigas. Um outro tio, o advo-gado Alberto Luppolli, que talvez j conhecesse Joaquim Carreira, pode ter conseguido aquele refgio.

    dias longos,EntrE a capEla E a lEitura

    O quotidiano era montono: De manh fazamos as camas e arrumvamos os quartos de modo a no parecer que ali estava gente. Depois, passevamos no corredor e comamos. Tambm a comida no era muito variada: pequeno-almoo, arroz e massas. Era o que tnha-mos.

    Era tambm o que o padre Car-reira arranjava, com alguma dificul-dade. As necessidades de assegurar uma alimentao s e, tanto quanto possvel, abundante aos alunos, para lhes garantir a boa sade, constituiu um problema grave, escreve no rela-trio. O problema tinha de ser resol-vido quase dia a dia numa cidade que, praticamente cercada durante sete meses, via cada dia mais a serem consumidas as suas reservas alimen-tares e os preos a aumentar expo-nencialmente. Joaquim Carreira ia, ele mesmo, procurar comida: Se no conhecesse tantos moleiros nos arredores de Roma, os meus hspe-des teriam passado muita fome.

    Entre os refugiados inesperados, estavam tambm mdicos famo-sos. Um deles, Giuseppe Carona, reitor da Universidade de Roma e dirigente do Partido Popular/De-mocracia Crist, confirmava na sua autobiografia que no havia muito para fazer naqueles dias, no Colgio Portugus: Os dias eram longos. Passava-se o tempo entre a capela, a sala de almoo, algumas breves esca-padelas ao terrao e na leitura, rela-tava Carona que tinha, ele prprio, ajudado a esconder outros judeus e perseguidos, escondendo-os no hos-pital, como se estivessem contagia-dos por doenas graves.

    Outra personalidade famosa, Ce-sare Frugoni, nascido em 1881, era o director da Clnica Mdica Geral

    da Universidade de Roma e mdico pessoal de Guilherme Marconi (que morrera em 1937), do maestro Artu-ro Toscanini, do lder fascista Beni-to Mussolini e de Palmiro Togliatti, dirigente histrico dos comunistas italianos. Recordo sempre a grande cortesia [e] amabilidade com que fui acolhido por si e o sentido de tran-quilidade que me veio da sua soli-dariedade espiritual e da ajuda [de todos], escreveu ele numa carta ao padre Carreira, no Natal de 1949.

    Joaquim Carreira passa a ser o quarto portugus a ser declarado Justo (entre mais de 25 mil, oriun-

    dos de 49 pases diferentes). O pri-meiro foi Aristides de Sousa Men-des, o cnsul portugus em Bordus que, contrariando as ordens de Sa-lazar, atribuiu vistos a mais de 10 mil judeus que fugiam dos nazis; seguiu-se Carlos Sampayo Garrido, embaixador de Portugal na Hun-gria, que ter salvo uns mil judeus, atribuindo-lhes documentao por-tuguesa e colocando-os a salvo em casas da embaixada; e Jos Brito Mendes, operrio portugus casado com uma francesa e residente em Frana, que salvou uma menina, fi-lha de judeus.

    Colgio Pontifcio Portugus de Roma, na dcada de 40

  • 28 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    ExposiesSete mil milhes de rostos de Deus

    Antnio Marujo

    imperioso gastar uma manh ou uma tarde a ver esta exposio nica. Composta basicamente de vdeos e, apesar de os filmes poderem ser todos vistos na internet, a experin-cia de os ver acompanhados com dezenas de outros visitan-tes d-nos, desde logo, uma percepo diferente, em relao profunda com o prprio objectivo da mostra.

    7 Mil Milhes de Outros um projecto de Yann Arthus--Bertrand (o mesmo de A Terra Vista do Cu), iniciado em 2003. As seis mil entrevistas de resposta a um questionrio de 45 perguntas foram gravadas durante sete anos, em 50 lnguas diferentes e 84 pases do mundo. As perguntas tra-tam de questes to variadas quanto o trabalho e os sonhos, a famlia e a educao, a natureza e a vida, o sentido da exis-tncia e Deus, a orao e a morte.

    Na exposio um conjunto de vdeos sobre temas como o amor, a felicidade, o perdo, o sentido da vida, os sonhos, o alm, Deus e outros temas podemos perscrutar o mistrio da encarnao, tal como proposto pela teologia crist: cada um dos sete mil milhes de rostos do planeta imagem de Deus.

    O projecto nasceu quando Bertrand ficou retido numa aldeia do Mali, por causa de uma avaria no helicptero onde se deslocava em reportagem: Passei um dia inteiro conver-sa com um aldeo. Ele falou-me do seu dia-a-dia, das suas es-peranas, dos seus medos; a sua nica ambio era alimentar os filhos. (...) Olhou-me diretamente nos olhos sem qualquer indcio de queixume, exigncia ou ressentimento. (...) fui ca-tivado pela sua cara, pelas suas palavras.

    esse capacidade de cativar que tantos rostos nos trans-mitem nesta exposio, transfigurando milhares de rostos num Rosto maior.

    7 Mil Milhes de OutrosMuseu da ElectricidadeAv. Braslia, Central Tejo LisboaTera a Domingo, das 10h s 18h, at 8 de Fevereirohttp://www.7billionothers.org/pt/

    Imanncia e transcendncia

    O que tm em comum um Agnus Dei, pintado por Josefa de bidos no sculo XVII, e a imagem vdeo de uma rapariga sobre um caminho pedregoso? Ou a instalao original de Jos Pedro Croft, com ferro galvanizado e espelhos?

    A exposio To alto quanto os olhos alcanam culmina o tra-balho de inventariao do patrimnio artstico da diocese de vora, feito durante 12 anos, propondo um dilogo entre es-sas marcas do passado e a contemporaneidade, naquilo que ambas reflectem da transcendncia ou da sua nostalgia.

    O exemplo das peas referidas remete para o simblico que a arte prope. E todas elas sugerem tambm uma rela-o entre imanncia e transcendncia que desde sempre este-ve presente e visvel na chamada arte sacra.

    Como escreve no catlogo o curador da exposio, Del-fim Sardo, os artistas continuam a manifestar uma ambio de relao com instncias transcendentes no seu trabalho. Basta recordar, acrescenta, nomes como Kandinsky, Chagall, Matisse, ou a espiritualidade da Bauhaus, para entender que o destino da criao artstica o confronto prprio com o que nos transcende e com a nossa condio de pos-sibilidade (com a transcendncia e com o transcendental).

    Mesmo se houve rupturas entre o cristianismo e a arte moderna e contempornea, hoje j no essa a questo, escreve ainda Delfim Sardo. E esta exposio prope um itinerrio que, colocando em confronto diferentes tempos histricos e artsticos e diferentes ideias da arte a sacra e a profana, desde logo , aponta para esse simblico que, afinal, a linguagem prpria quer do religioso quer do artstico.

    To alto quanto os olhos alcanamImagens de Transcendncia Sc. XV XXI Frum Eugnio de Almeida Largo do Conde de Vila Flor, voraTera a domingo, das 10h s 19h, at 15 de Marowww.forumea.pt

    artEs E lEtras

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    LivroO totalitarismo e cada um de ns

    A filsofa Hannah Arendt ajudou-nos a entender a ba-nalidade do mal, no seu livro Eichmann em Jerusalm Um relato sobre a banalidade do mal. Nessa obra, publicada em Portugal pela Tencitas, a pensadora judia de origem alem descreve o julgamento de Adolf Eichmann que, no tendo um passado de antissemitismo, se defendia argumentando com o cumprimento do dever e das ordens que recebia. Ou seja, como uma pessoa considerada normal podia ser capaz da pior barbrie.

    Em As Origens do Totalitarismo, publicado em 1951, antes da crnica do julgamento de Eichmann, Arendt ensaia uma explicao das maiores tragdias que assolaram o sculo XX: desde o crescimento do antissemitismo durante o sculo XIX at aos imperialismos, racismos e nacionalismos, chegando depois ao totalitarismo da ideologia e do terror representado pela Alemanha nazi e pela Rssia estalinista e nas quais a propaganda, a massificao e a criao de uma mquina de terror so condies fundamentais.

    Nesta obra essencial da filosofia poltica contempornea e da reflexo sobre a condio humana tema de outro livro de Hannah Arendt , a filsofa prope que a solido (que se manifesta sobretudo na companhia de outras pessoas) um fundamento para o terror e essncia do governo totali-trio. E acrescenta que o que prepara o domnio totalitrio o facto de a solido (...) ter passado a ser, no nosso sculo, a experincia diria de massas cada vez maiores. Mas, apesar do pessimismo desta leitura e dos sinais que nos rodeiam na actualidade, Arendt termina a sua reflexo com uma nota de esperana: O homem foi criado para que houvesse um comeo, disse Santo Agostinho. Cada novo nascimento ga-rante esse comeo: ele , na verdade, cada um de ns.

    A.M.

    Vdeo/DVDRedescobrir o amor familiar

    Valdemar Jorge

    Antes da habitual sugesto, desejo a todos os leitores de O Mensageiro de Santo Antnio um Bom Ano Novo. Que 2015 seja um ano positivo onde imperem os valores e a solidarie-dade.

    Formulado o desejo, propo-nho dois ttu-los. O primeiro O Caminho entre o Bem e o Mal, de Scott Frank, um filme de ao/drama, e o segundo Num Outro Tom, realizado por John Carney, uma divertida comdia.

    O Caminho entre o Bem e o Mal tem como protagonista Liam Neeson, no papel de Matt Scudder, um polcia honra-do e respeitado que um dia v a sua reputao perder-se num assalto mo armada num caf que frequentava. Uma bala perdida tirou a vida a uma criana de sete anos. O incidente traumtico f-lo desistir da carreira e passar oito anos em te-rapia. Para sobreviver, regressa ao ativo como detetive parti-cular. Abordado por Danny Ortiz, homem ligado ao trfico de drogas, este pede-lhe que encontre o assassino da mulher. Segundo Danny, apesar de ter pago um pedido de resgate, ela acabou por ser torturada e assassinada. Relutante, Scu-dder aceita o trabalho e com o desenrolar das investigaes, percebe que outras pessoas estaro em perigo.

    Num Outro Tom uma comdia sobre o amor e as opor-tunidades da vida. a histria de Gretta e Dave, um casal de namorados com um sonho em comum: tornarem-se estrelas no mundo da msica. Deixam tudo para trs e tentam a sor-te em Nova Iorque. Dave consegue um contrato e deslum-brado com o sucesso decide deixar Gretta. Esta, apesar da desiluso no desiste. Acaba por conhecer Dan, um produ-tor que se interessa pelo seu trabalho e a lana no mundo do espetculo.

    Ttulos disponveis em janeiroO Caminho entre o Bem e o Mal (14 de janeiro);O Dador de Memrias (21 de janeiro);Num outro Tom (28 de janeiro).

    AutoraHannah ArendtEdioPublicaes Dom Quixote

  • 30 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    Desde o dia 30 de novembro, a Igreja est a viver um ano dedicado vida Consagrada, segundo o desejo do Papa Francisco. Tambm ns, Frades Menores Conventuais, como consagra-dos que somos, nos sentimos desafia-dos pelas palavras do Papa e por este ano que nos dedicado.

    Nesta nova rubrica dedicada nos-sa vida Franciscana, queria comear por um olhar sobre a Delegao dos Frades Menores Conventuais em Por-tugal. Desafiei um grupo de jovens a conduzirem uma entrevista/dilogo com o nosso Delegado Provincial, o Frei Fabrizio Bordin. Vamos ver os fru-tos deste desafio.

    Como surgiram os Frades Meno-res em Portugal?

    A Ordem Franciscana chegou a Portugal por volta de 1217, contando entre os primei-ros conventos os de Guimares, de Alenquer e de Santo Anto dos Olivais, em Coimbra.

    Desde o princpio da sua fundao, a Or-dem Franciscana comeou a diversificar-se em vrios ramos, conforme os carismas e as circunstncias da vida. Em 1568, o ramo dos franciscanos conventuais em Portugal, foi ex-tinto. S em 1967, regressaram a Portugal, em Coimbra, constituindo, em 1978, a pri-meira comunidade franciscana conventual em Santo Antnio dos Olivais, onde Fernan-do de Bulhes se tornou frei Antnio.

    Porque que vieram depois para Lisboa?

    No incio anos 80, o patriarca de Lisboa Dom Antnio Ribeiro foi a Pdua, para o en-cerramento do centenrio de Santo Antnio, e ali fez o pedido para os frades abrirem uma presena em Lisboa. Em 1983, chegaram os primeiros frades a Chelas, que era um lugar que nos dizia muito a ns Franciscanos, com casas pr fabricadas, uma zona pobre, uma zona de mistura de pessoas. Para ns era um lugar mais Franciscano.

    Como surgiu o nome de So Maxi-miliano de Kolbe?

    Em 1982, So Maximiliano de Kolbe ti-nha sido canonizado pelo Papa Joo Paulo II e era nosso desejo dar a esta parquia o nome de um Franciscano Conventual Polaco. Creio que foi a primeira Parquia dedicada a S. Maximiliano.

    Como foi implementar a espi-ritualidade franciscana nesta Zona oriental de Lisboa Chelas?

    Seria interessante falar com os frades da-quela poca sobre isso. Eu cheguei a Portugal h 20 anos, saboreei um pouco o ambiente que havia. Cheguei em 1994 e os frades vi-viam num pequeno apartamento na Zona J - atual Bairro do Condado - e vivamos como uma famlia. Isto permitiu uma grande pro-ximidade com as pessoas e a realidade social. Por exemplo, lembro-me que quando desca-mos as escadas do prdio, estava sempre uma senhora sentada e que pedia a bno a cada frade que passasse por ali. Criou-se uma rela-o forte com aquele bairro. Vivamos uma vida de missionrios.

    O vosso trabalho aqui e de uma forma geral, sempre foi muito rduo ou sentiram alguma vez que podiam respirar um pouco?

    A finalidade mais importante era anun-ciar o Evangelho. Esta zona no tinha muito contacto com a cidade, no tinha artrias de acesso, estava um pouco isolada, era um guetto, Chelas. Os jovens daquela poca viam a Igreja como um local de encontro, de convvio e de relaes humanas importantes.

    Frei Jos Carlos Matias

    Os fradesmenores conventuais

    e a vida consagrada

    pgina Franciscana

    Os documentos que saram sobre a Vida Consagrada, ci-tando o incio da Carta Apostlica de Joo Paulo II Novo Millennio Ineunte, desafiam os religiosos a olharem para o seu passado com gratido, para o seu presente com paixo e para o seu futuro com esperana.

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    Falando da sua vocao: qual foi o papel dos frades mais velhos na sua entrada para a famlia Franciscana?

    Tive duas vocaes na vida Franciscana. A primeira, quando ingressei no seminrio aos 12 anos, encantado com o campo de fu-tebol que l havia s mais tarde descobri a minha vocao. No seminrio, foi uma vida muito certinha, acadmica e com muitas amizades, mas quando cheguei a Lisboa com 33 anos e 7 anos de vida de padre, comeou uma nova vocao, porque encontrei uma outra realidade com uma parquia, comu-nidade em construo. Foi uma experincia muito significativa que normalmente s se vive nas misses.

    Como que a vossa presena em Coimbra e Lisboa se alargou para Vi-seu?

    Coimbra e Lisboa so parquias. Ns, Franciscanos, sentimos a necessidade de ter tambm uma casa que no fosse parquia, para respeitar o nosso carisma Franciscano. Os frades no nasceram para serem procos.

    Esse lugar serviria tambm para viver-mos em comunidade e ajudar a formar jo-vens que quisessem seguir a nossa Ordem.

    No ano de 1995, passaram por Portugal as relquias de Santo Antnio de Pdua que visitaram vrias cidades em Portugal. Passa-ram tambm por Viseu e os frades ficaram encantados com o lugar. Estes encontraram um bispo franciscano capuchinho que estava interessado na nossa presena naquela zona e foi a igreja de S. Francisco, da Ordem Ter-ceira de S. Francisco, que nos acolheu.

    Da nossa presena em Viseu j surgiram duas vocaes: o Frei Jos Carlos e o Frei Ed-gar.

    Os Freis vivem este esprito mis-sionrio, deixando para trs a famlia e saindo da zona de conforto. O que que sentiram com todo este cenrio desconhecido? Como o comear de novo? Como se gere este turbilho de sentimentos?

    O que nos ajuda muito a dimenso comunitria: eu no fao isto ou aquilo so-zinho; importante ter noo que apesar de sermos 3 equipas em Portugal trabalhamos como comunidade, como grupo, como uma famlia. Dividimos tarefas, reunimo-nos para programar o ano e toda esta envolvn-cia ajuda a eliminar a zona de desconforto.

    O que me custou mais, no foi tanto ter deixado a minha famlia, mas sentir que todo o dia vivamos para as pessoas. Quase todas as noites e de madrugada as pessoas vinham bater porta, quando ainda estva-mos no apartamento em Chelas, para pedir dinheiro e que nem sempre era para comer. Lembro-me da D. Fernanda, batia porta todos os dias s 5:00 da manh para pedir um cigarro!

    O esprito de famlia, amizade, a idade que havia entre ns permitia aguentar o rit-mo, sendo que eu era o mais novo.

    Quando o Patriarca vos pediu para virem para Chelas, o que pensaram? Valeu a pena? Olhando para trs, foi positivo ter vindo para Chelas?

    No sei o que tinha em mente o Pa-triarca e nem sei se os frades sabiam onde vinham meter-se, mas quem veio e quem passou por c acho que viveu o presente com paixo. Chelas um lugar que cativa e cativou sempre os frades. Mesmo os que che-gam com mais idade. Acho que no houve a preocupao de onde que nos metemos? Foram criados laos muito profundos com as pessoas, atravs dos grupos de jovens e das fa-mlias. E isto reconhecido pelo patriarcado.

    Passados estes 20 anos, quais so as expectativas para o futuro a nvel Franciscano?

    A minha esperana que haja mais vo-caes, isto porque uma famlia que no tem filhos est destinada a desaparecer. A minha esperana que outros jovens possam seguir

    este ideal franciscano. Antigamente havia frades mais novos, hoje j no h tantos jo-vens. Espero que o desafio do Papa de chegar s periferias, nos ajude a saber identificar as periferias na nossa zona de Lisboa. Ns que temos de ir ao encontro dos outros, no para converter ningum, mas para partilhar a nossa alegria.

    Nos dias de hoje e tendo em con-ta a diminuio de frequncia das pessoas na Igreja, quais as formas de cativar as pessoas para frequentarem as igrejas? Ser atravs da criao de mais atividades com as crianas e adultos ou teremos que regredir ao mtodo inicial de bater porta a por-ta?

    Acho que as duas formas podem convi-ver; o que preciso ter discernimento para escolher a forma mais indicada. Hoje so as violas e amanh sero outras atividades. Houve um momento em que os Freis decidi-ram implementar os Escuteiros, que foi uma criao de raiz desta comunidade que deu e dar bastantes frutos. Houve outro momen-to, em que os freis acharam que os jovens no sabiam rezar e ento decidimos ir a Taiz...

    Que sonho tem para o futuro?O meu sonho que os Freis continuem

    aqui em Portugal com este ideal missionrio e que surjam mais vocaes franciscanas por-tuguesas.

  • 32 | MENSAGEIro dE SANto ANtNIo | JANEIro 2015

    Meu grande amigo Santo Antnio, do teu Alberto, emigrante para os Estados Unidos, um forte abrao por cuidares de mim e da minha famlia. No me esqueo de ti e sinto que tam-bm no te esqueces de mim e no nos abandonas! Que bom, sermos amigos! Assim deveria ser o mundo. Consagro--te os meus familiares, a esposa, os filhos, os netos e os genros. Pede por todos ns a Jesus, teu amigo, que reine sempre a paz entre ns. E d-nos f e amor no meio de todos os males. Um grande abrao deste teu amigo. Um dia encontrar-nos-emos no cu. Alber-to

    Diligentssimo e amantssimo San-to Antnio, peo sade, felicida-de e realizao pessoal e profissional para o meu filho e para a sua noiva. Para mim, quero muita sade, luci-dez e realizao pessoal. Que esta seja a primeira de muitas viagens at este santurio. Que eu consiga sempre ad-ministrar a minha vida, seguindo os mandamentos de Deus. Joana

    Vitorioso e poderoso Santo Ant-nio, ando desanimada e sem espe-rana. Ajuda-me a conseguir um tra-balho para o meu sustento. Ajuda-me a ser me e, acima de tudo, a ser uma pessoa honesta, humilde e altrusta. Tu sabes quanto tenho sofrido e quan-to sofro por chegar aos 38 anos sem trabalho, sem um marido e sem filhos. Por favor, intercede junto de Jesus para que consiga alcanar estas graas

    e seja feliz. Abenoa a minha famlia e amigos e, acima de tudo, aqueles que mais sofrem. Muito obrigada. Suzana

    Amvel Santo Antnio, obrigada por todas as graas que o Senhor, nosso Deus me concedeu e a graa que, por tua intercesso, o meu filho, quando foi submetido em dezembro s anlises, lhe tenham passado as alergias que o faziam sofrer tanto. Pe-o-te tambm que o meu marido tenha sucesso na sua nova empresa, pois ele se tem esforado muito para ter bons resultados. Vs sabeis, querido Santo Antnio, do que precisamos. Por isso, olha por ns. Obrigada. Cristina

    Felicssimo Santo Antnio, vim vi-sitar esta Igreja pela primeira vez, pois vim a Coimbra para fazer um exa-me aos ossos. Sofro muito por causa da artrite. Peo-te que me cures. Sou uma tua devota h muito tempo! Na minha freguesia temos tambm uma esttua e, na capelinha dedicada a ti, rezamos todos os anos a Missa cam-pal. Continuo com muita f a rezar-te. Protege toda a minha famlia. Antnia

    Milagroso Santo Antnio, Santo dos milagres, protege a minha fi-lha Joana. Une-a com a tua fora a to-dos os Santos e Nossa Senhora do