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MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DO SUDESTE; DINAMISMO
DEMOGRÁFICO E MIGRAÇÕES INTERNAS
Ralfo Matos*
Carlos Lobo**
Nayhara Freitas Martins Gomes***
RESUMO: Classificar municípios para selecionar determinadas características
necessárias para investigar dimensões demográficas derivadas de fluxos migratórios é
um desafio que se impõe. Isso porque os últimos censos excluíram os quesitos de
migração interna que permitiam controlar a procedência rural e urbana. Diante disso
esse trabalho propõe selecionar um conjunto de municípios no Sudeste com feições
agro-rurais por meio de dados sobre densidade demográfica e população ocupada na
agricultura, pecuária e extrativismo. A despeito de essa classificação não resolver
definitivamente a questão de quais os municípios da região são tipicamente rurais a
expectativa é que o esforço taxonômico gere resultados verossímeis. Alguns exercícios
com dados migratórios dos dois últimos censos serão testados, mapeados e discutidos.
PALAVRAS-CHAVE: Municípios de Pequeno Porte; Migrações Internas; População;
Sudeste.
* Doutor em Demografia. Professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-Graduação
em Geografia e em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do Instituto de Geociências da UFMG. ** Doutor em Geografia. Professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-Graduação em
Geografia e em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do Instituto de Geociências da UFMG.
Subcoordenador do Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGC/UFMG. *** Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGC/UFMG.
INTRODUÇÃO
A região Sudeste é de longe a mais dinâmica do Brasil. Reúne grandes
metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro e uma formidável infraestrutura produtiva.
Cerca da metade de tudo o que o país produz se deve ao Sudeste, embora sua população
não ultrapasse 40% da população brasileira. Nas últimas décadas, a despeito do tamanho
das economias instaladas nas grandes áreas metropolitanas do Sudeste (CANO, 1999 &
MATOS, 1995) sabe-se que outros subespaços têm se destacado na rede de localidades
da Grande Região, a exemplo das chamadas cidades de porte médio (LOBO, 2009 &
MATOS, 2000). Se a população é um dos fatores que dinamizam o protagonismo do
Sudeste, o que os dados dos últimos censos apontam se a região for pensada em classes
de tamanho de municípios?
A relevância acadêmica deste estudo reside no fato de que as migrações têm sido
estudadas como fenômenos típicos de grandes centros urbanos, enquanto nos
municípios de pequeno porte demográfico, a emigração foi historicamente
predominante e pouco estudada nas áreas emissoras, embora tenha sido responsável por
grandes mudanças, geralmente espoliadoras de recursos de capital e força de trabalho,
os quais impactam a dinâmica local (MATOS & BAENINGER, 2001). Também sobre
essa perspectiva são poucos os estudos existentes na atualidade. Desse modo, o presente
trabalho buscou verificar como as migrações nos municípios de pequeno porte
demográfico do Sudeste contribuem com a dinâmica socioespacial destas localidades a
partir dos dados dos censos de 2000 e 2010. Assim, primeiramente, foi feita uma síntese
dos efeitos experimentados pelos pequenos municípios da região Sudeste derivados da
taxa de crescimento da população e dos saldos migratórios. Em seguida, identificam-se
algumas tendências locacionais da população destas localidades por meio do método
Anselin Local Moran – LISA, de geoestatística espacial.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Os municípios do Sudeste foram classificados inicialmente em três classes de
tamanho: municípios de Grande Porte demográfico (aqueles com população superior a
750.000 habitantes); municípios de Porte Intermediário (população inferior a 750.000 e
superior a 50.000 habitantes) e municípios de Pequeno Porte demográfico (população
inferior a 50.000 habitantes). Em sequência essas classes foram estratificadas segundo a
densidade demográfica. Para isto, calculou-se a densidade demográfica média dos
municípios do Sudeste, obtendo-se o valor de 194 hab/Km2, arredondado para 200
hab/km2. É evidente que, mesmo no Sudeste, a imensa maioria dos municípios têm
densidade inferior a esse valor e alguns poucos exibem densidades muitíssimo mais
altas. Assim, resolveu-se arbitrar essa linha de corte para classificar os municípios de
densidades “superiores” e “inferiores”, ou simplificadamente: municípios de Alta e
Baixa densidade demográfica. Entre os municípios de Grande Porte todos são de alta
densidade. Já os municípios de Porte Intermediário foram divididos em de Porte
Intermediário de Alta Densidade e municípios de Porte Intermediário de Baixa
Densidade. Analogamente, os municípios de Pequeno Porte populacional também foram
subdivididos em dois grupos, os de Alta Densidade e os de Baixa Densidade (a grande
maioria).
A fim de verificar a variabilidade espacial dos saldos migratórios (Imigrantes -
Emigrantes) experimentados pelos municípios de pequeno porte demográfico do
Sudeste, utilizou-se o método Anselin Local Moran (LISA). Nunes (2013) advoga que
enquanto os indicadores globais, como o índice de Moran, fornecem um único valor
como medida da associação espacial para todo o conjunto de dados, os indicadores
locais produzem um valor específico para cada caso, permitindo assim, a identificação
de agrupamentos de casos com valores de atributos semelhantes (clusters), objetos
anômalos (outliers) e de mais de um regime espacial. Segundo Anselin (1995), um
LISA tem que atender à dois objetivos: i) permitir a identificação de padrões de
associação espacial significativos; ii) ser uma decomposição do índice global de
associação espacial. O LISA utilizado neste trabalho deriva do Índice Local de Moran.
Uma das formas de representação deste índice, em função dos elementos básicos, é:
Ii = zi . Wzi / σ2, onde:
Ii: índice local para o objeto i;
zi: valor do desvio do objeto i;
Wzi: valor médio dos desvios dos objetos vizinhos de i;
σ2: variância da distribuição dos valores dos desvios.
Em termos gerais, o Indicador Local de Associação Espacial (LISA) é um
parâmetro estatístico que fornece valores proporcionais àqueles da estatística global, ou
seja, permite descrever o grau de semelhança ou diferença de cada evento no que diz
respeito aos eventos mais próximos, e que a soma total da LISA de todas as áreas é
proporcional ao valor obtido para o índice global, sendo o indicador local uma
decomposição do indicador global (ANSELIN, 1995). Por fim, os resultados obtidos
pela LISA foram representados cartograficamente em ambiente ArcGIS 10.3.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Tabela 1 deixa evidente que os municípios mais populosos da região têm
experimentado no período 2000/2010 um crescimento relativamente baixo, tanto quanto
os mais de 1.300 municípios de baixa densidade e pequeno porte: 0,73% ao ano. O rol
dos municípios de porte intermediário destaca-se ao exibir crescimento demográfico
superior a média brasileira, mas entre eles, os de alta densidade tiveram um crescimento
surpreendentemente alto, 2,21% ao ano.
Esses números devem traduzir fenômenos pouco examinados na região,
porquanto estão a sugerir que os municípios de pequeno porte (os com menos de 50 mil
habitantes em 2010), perdedores históricos de população para os de maior porte
estariam mostrando certa reversão de tendências. Algo pouco óbvio deve estar
ocorrendo em centenas de pequenos municípios, a ponto de vários deles estar reunindo
estoques populacionais expressivos a lhes conferir a condição de Alta Densidade. Se são
municípios que historicamente perdiam população para os grandes, qual a expressão
demográfica desses subespaços no último censo? Os mesmos dados da Tabela 1
indicam que os municípios de pequeno porte reuniam em 2010 mais de 17,8 milhões de
habitantes, o que correspondia cerca de 22,2% dos 80,4 milhões da população do
Sudeste. Embora os dados deixem evidente o aumento do protagonismo dos municípios
de porte intermediários, particularmente os classificados como de Alta Densidade (26,5
milhões em 2010), não há como ignorar a importância dos municípios de pequeno porte
mais recentemente.
Uma série de questões interpõe-se à reflexão diante dessas constatações. Afinal,
se parece haver pequenos municípios relativamente atraentes demograficamente, qual é
a importância que assumem do ponto de vista dos saldos migratórios? Ademais, onde
estão os municípios mais dinâmicos? Principalmente no estado de São Paulo (o mais
desenvolvido da Federação) ou estão dispersos, distribuídos pelos quatro estados da
região, não raro delineando clusters municipais com características similares?
Tabela 1 - Classes de tamanho e densidade dos municípios do Sudeste, participação relativa e
taxa de crescimento demográfico anual (%) entre 2000 e 2010.
Sudeste e classes de tamanho por
densidade População Total Taxa de
Crescimento 2000 % 2010 %
Grande Porte 23.864.440 32,95 25.667.688 31,94 0,73
Intermediário de Alta Densidade 22.968.924 31,71 26.543.182 33,03 1,46
Intermediário de Baixa Densidade 9.138.431 12,62 10.281.682 12,79 1,19
Pequeno Porte de Alta Densidade 989.183 1,37 1.230.285 1,53 2,21
Pequeno Porte de Baixa Densidade 15.469.215 21,36 16.641.573 20,71 0,73
Sudeste 72.430.193 100,00 80.364.410 100,00 1,04
Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010 - Dados Trabalhados pelos autores
Na região Sudeste em 2010 o censo demográfico registrava a presença de 1.429
municípios de pequeno porte (Tabela 2). A maioria deles, 787, estava em Minas Gerais,
secundada por São Paulo, com 521 municípios. As duas outras Unidades da Federação,
bem menores, agregavam juntas, um total de 122 municípios.
Minas Gerais é o único estado do Sudeste que apresentou saldos migratórios
negativos nos dois períodos de data fixa (1995/2000 e 2005/2010), embora no
quinquênio 2005-2010 os níveis de perda tenham diminuído significativamente. Os
outros estados mostraram saldos crescentemente positivos, sendo que São Paulo chegou
a integralizar um saldo positivo de 248.002 pessoas, o que vale ao incremento de quase
33% de pessoas em relação ao período de 1995/2000.
Entre 2005/2010, 55,4% dos municípios de pequeno porte de Minas Gerais
experimentaram crescimento negativo. No Espírito Santo este percentual chegou a
38,8%, no Rio de Janeiro 32,7% e em São Paulo 24,8% do mesmo período.
Evidentemente, a quantidade de municípios com crescimento negativo em Minas Gerais
rebaixa os números totais do Sudeste (42,6%). Contudo, convém sublinhar que em todas
as quatro unidades da federação, os saldos migratórios relativos ao período de
2005/2010 revelam ganhos populacionais em relação ao período de 1995/2000.
Esses mesmos dados poderiam ser comparados com a taxa de crescimento dos
municípios de pequeno porte, procurando estabelecer alguma correlação entre esses
resultados, no caso considerando apenas a migração no quinquênio 2005/2010. O
número de municípios com crescimento negativo no período de 2000/2010 é semelhante
como poderia se esperar ao número de municípios com saldo negativo de 2005/2010?
Se não quais fatores explicaram tal diferença? No caso de Minas Gerais, 34,2% dos 787
municípios apresentaram crescimento negativo, mas o número de municípios com saldo
negativo é bem maior (167). No outro estado do Sudeste digno de nota, São Paulo, os
contrastes foram menores, afinal foram 104 municípios com crescimento negativo e 129
com saldos migratórios negativos. Em ambos os casos o número de municípios com
saldos negativos é maior que o número de municípios com crescimento negativo. O
mesmo se aplica aos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Tabela 2 - Número de Municípios de Pequeno Porte das Unidades da Federação do Sudeste,
com discriminação dos municípios de crescimento negativo entre 2000 e 2010 e saldos
migratórios nos períodos 1995/2000 e 2005/2010
Unidades da
Federação Número de Municípios Saldo Migratório
Total
(1)
Crescimento
Negativo
(2)
Proporção
(2)/(1)
Com Saldos Negativos 1995/
2000
2005/
2010 1995/2000 2005/2010
Minas Gerais 787 269 34,18 401 436 -65.333 -16.948
Espírito Santo 67 17 25,76 32 26 120 11.652
Rio de Janeiro 55 7 12,73 15 18 28.841 35.930
São Paulo 521 104 19,96 174 129 186.948 248.002
Sudeste 1429 397 27,78 622,00 609,00 150.576 278.637
Fonte: IBGE, dados trabalhados.
Estas disparidades se explicam por razões ligadas ao crescimento vegetativo e
também pelo fato de o período de data-fixa referir-se à segunda metade do decênio
2000/2010. É provável que esta segunda causa seja mais significativa em face do
segundo governo Lula, período no qual a atividade econômica ganhou dinamismo e o
número de empregos aumentou.
Em comparação com o censo de 2000, a população do Sudeste apresentou um
crescimento médio de 1,05%, quando para o mesmo período, a taxa brasileira situou-se
em torno de 1,17%. Neste ínterim, observam-se diferenciações territoriais relativas ao
crescimento populacional dos municípios do Sudeste, como representado na Figura 1.
Para este decênio, 401 municípios apresentaram crescimento negativo, em
contrapartida, 542 municípios exibiram um crescimento populacional acima da média
da região Sudeste. Por outro lado, 725 municípios mostraram ter crescimento superior a
0 e inferior à média do Sudeste. Os subespaços que apresentaram taxas de crescimento
positivas concentraram-se, sobretudo, em áreas interioranas dos estados de São Paulo e
Minas Gerais, particularmente, nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e São
Paulo, bem como no Triângulo Mineiro. Ademais, observa-se que o eixo da hidrovia
Tietê-Paraná configura um vetor importante de crescimento no estado de São Paulo. No
caso dos estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo, o crescimento positivo localiza-se
principalmente em subespaços litorâneos. Nas periferias das frações espaciais
interiorizadas de crescimento positivo identificam-se áreas onde as taxas de crescimento
da população apresentaram-se negativas1.
Figura 1: Classificação dos municípios de pequeno porte do Sudeste por tamanho e densidade
demográfica e suas respectivas taxas de crescimento populacional
Ao examinar os dados mais desagregados sobre a migração interna no Sudeste,
convém inicialmente assinalar que, diante da transição demográfica que o país
1 Convém mencionar que os municípios de Governador Lindenberg e Mesquita, nos estados do Espirito
Santo e Rio de Janeiro, respectivamente, foram excluídos desta análise, visto que não apresentavam
população para o ano de 2000, devido à emancipação recente.
experimenta há quase meio século, é de se esperar que isso afete o volume migratório,
que tenderia a reduzir-se a cada novo censo. Assim, os números do quinquênio
2005/2010 são comumente menores que os do quinquênio 1995/2000 e isso não
deveria causar surpresa. Nos estados mais populosos, São Paulo e Minas Gerais essa
assertiva é evidente nos totais relativos aos imigrantes, emigrantes e saldos
migratórios. Essa afirmação parece ser simples e lógica, ao se considerar o crescente
declínio do ritmo de crescimento da população brasileira nos últimos decênios. Caso
contrário, assiste-se a expansão das forças de atração das localidades em análise, e essa
evidência pode ter significados socioespaciais diversificados e intrigantes, como se
verificará em sequência.
A comparação mais pormenorizada dos saldos migratórios dos dois últimos
censos permite sublinhar três grupos de conclusões:
a) A primeira diz respeito ao estado de São Paulo, onde o agregado dos grandes
municípios (São Paulo, Guarulhos, Campinas e São Bernardo do Campo) representa o
único caso de perda de população nos quinquênios 1995/2000 e 2005/2010, sobretudo
no primeiro (-408.025 pessoas). Certamente, o processo de desconcentração
demográfica da cidade de São Paulo tem um papel destacado na redistribuição de
população em todo o interior paulista2. Já os municípios intermediários de alta
densidade apresentaram ganhos similares nos dois períodos de data fixa e muito
significativos (518.274 entre 2005/2010), enquanto o rol dos pequenos municípios (de
alta e baixa densidade) mostraram saldos menores, mas claramente positivos e
aumentados no quinquênio 2005/2010, o que não se verificou nas três outras classes de
tamanho;
b) O segundo estado do Sudeste em população, Minas Gerais, exibe um
comportamento bem distinto do de São Paulo, sobretudo por causa de seus pequenos
municípios de baixa densidade, que mostraram reiterados saldos negativos nos dois
quinquênios. Seu único município de grande porte, Belo Horizonte, repetiu o saldo
negativo entre 2005/2010, enquanto os três conjuntos espaciais subsequentes
alcançaram saldos migratórios positivos, embora declinantes. Os números positivos
2 Ver entre outros os seguintes trabalhos: RICHARDSON (1980); WOOD (1994); CANO (1999);
MATOS (1995); NEGRI (1996); PACHECO (1998); MATOS (2000); MATOS e BAENINGER (2001);
SANTOS, M e SIVEIRA, M.L. (2001); IBGE (2008); LOBO, C. (2009).
relativos aos municípios de porte intermediário de alta densidade destacaram-se nos
dois quinquênios;
c) Nos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, discrepando das tendências
de redução dos estoques de migrantes como observado acima, os saldos foram
crescentemente positivos, sobretudo nos municípios de porte intermediário de alta
densidade, embora o agregado dos quatro grandes municípios do estado do Rio (Rio de
Janeiro, São Gonçalo, Duque de Caxias e Nova Iguaçu) aponte saldos negativos em
expansão (-75.955 em 1995/2000 e -112.027 em 2005/2010). Espírito Santo e Rio de
Janeiro são estados relativamente pequenos geograficamente e por isso mesmo detêm
um menor número bem menor de pequenos municípios se comparados a Minas e São
Paulo. Curiosamente, em ambos os casos esses municípios de pequeno porte parecem
estar aumentando o grau de atração de migrantes, especialmente os de baixa densidade
(cujos saldos aumentaram significativamente entre 1995/2000 e 2005/2010);
Para além dos saldos migratórios, as proporções de migrantes (imigrantes e
emigrantes) indicam conclusões relevantes porque exprimem graus de circularidade
migratória e níveis de participação significantes nas trocas de população. Revelam
situações distintas entre as quatro Unidades da Federação do Sudeste.
Enquanto em Minas Gerais as centenas de municípios de pequeno porte
(principalmente os de baixa densidade) respondem pelas maiores frações das trocas
migratórias (mais de 38,0% entre 1995/2000 e mais de 45,0% no quinquênio
2005/2010, tanto na imigração quanto na emigração), no Espírito Santo o
protagonismo migratório situa-se nos fluxos migratórios referidos aos municípios de
porte intermediário de alta densidade (o estado não contava com municípios com mais
de 750 mil habitantes). No Rio de Janeiro, a participação mais significativa variou nos
últimos dois censos, embora no quinquênio 2005/2010 os quatro maiores municípios
devem ter experimentado alta circulação de imigrantes (40,3% na imigração e 54,8%
na emigração). Já o estado de São Paulo, mostrava claramente o protagonismo dos
municípios intermediários de alta densidade (46,3% e 45,9%) entre 1995/2000, embora
no quinquênio 2005/2010 tenha voltado a primazia dos municípios de Grande Porte
(40,95% na imigração e 37,53% na emigração), a despeito de os saldos migratórios
terem se revelado negativos nessa classe de tamanho de municípios e somente nelas,
porquanto nas demais classes (como visto acima) os saldos foram claramente positivos,
especialmente no conjunto de municípios de porte intermediário de alta densidade).
Tabela 3 – Imigrantes e emigrantes internos, participação relativa e saldo migratório de subespaços das Unidades da Federação da região Sudeste
nos quinquênios 1995/2000 e 2005/2010
Unidades da Federação e
Classes de Tamanho
Imigrantes Emigrantes Saldo Migratório
1995/2000 % 2005/2010 % 1995/2000 % 2005/2010 % 1995/2000 2005/2010
Minas Gerais 1.547.818 100,00 1.397.612 100,00 1.453.526 100,00 1.328.461 100,00 94.292 69.151
Grande Porte 142.349 9,20 122.889 8,79 249.791 17,19 219.594 16,53 -107.442 -96.705
Intermediário de Alta Densidade 448.426 28,97 369.854 26,46 208.455 14,34 209.786 15,79 239.971 160.067
Intermediário de Baixa Densidade 325.944 21,06 302.208 21,62 298.848 20,56 279.472 21,04 27.096 22.736
Pequeno Porte de Alta Densidade 30.902 2,00 31.867 2,28 12.046 0,83 13.423 1,01 18.856 18.444
Pequeno Porte de Baixa Densidade 600.197 38,78 570.794 40,84 684.386 47,08 606.186 45,63 -84.189 -35.392
Espírito Santo 329.144 100,00 317.660 100,00 283.105 100,00 239.542 100,00 46.039 78.118
Grande Porte -
-
-
-
- -
Intermediário de Alta Densidade 173.023 52,57 160.124 50,41 130.797 46,20 110.930 46,31 42.226 49.195
Intermediário de Baixa Densidade 46.390 14,09 53.402 16,81 42.696 15,08 36.131 15,08 3.693 17.271
Pequeno Porte de Alta Densidade 6.814 2,07 5.359 1,69 2.669 0,94 2.985 1,25 4.145 2.373
Pequeno Porte de Baixa Densidade 102.917 31,27 98.774 31,09 106.942 37,77 89.495 37,36 -4.025 9.279
Rio de Janeiro 916.671 100,00 824.312 100,00 834.787 100,00 753.188 100,00 81.884 71.124
Grande Porte 401.196 43,77 300.378 36,44 477.151 57,16 412.405 54,75 -75.955 -112.027
Intermediário de Alta Densidade 329.321 35,93 332.250 40,31 221.057 26,48 209.715 27,84 108.265 122.535
Intermediário de Baixa Densidade 91.536 9,99 97.909 11,88 70.803 8,48 73.223 9,72 20.733 24.686
Pequeno Porte de Alta Densidade 17.568 1,92 16.682 2,02 4.787 0,57 7.058 0,94 12.781 9.623
Pequeno Porte de Baixa Densidade 77.050 8,41 77.093 9,35 60.990 7,31 50.786 6,74 16.060 26.307
São Paulo 3.483.311 100,00 3.067.707 100,00 3.020.070 100,00 2.541.422 100,00 463.241 526.284
Grande Porte 828.766 23,79 658.660 21,47 1.236.790 40,95 953.895 37,53 -408.025 -295.235
Intermediário de Alta Densidade 1.613.659 46,33 1.408.400 45,91 1.022.311 33,85 890.026 35,02 591.348 518.374
Intermediário de Baixa Densidade 298.608 8,57 258.140 8,41 205.638 6,81 202.998 7,99 92.970 55.143
Pequeno Porte de Alta Densidade 95.468 2,74 101.076 3,29 40.133 1,33 41.710 1,64 55.334 59.366
Pequeno Porte de Baixa Densidade 646.810 18,57 641.431 20,91 515.197 17,06 452.794 17,82 131.613 188.637
Fonte: Dados Amostrais dos Censos Demográficos de 2000 e 2010 – Dados trabalhados pelos autores
A VEROSSIMILHANÇA ESPACIAL
Em sequência apresenta-se uma análise espacial mais específica sobre as
centenas de municípios de pequeno porte de baixa densidade e os saldos migratórios por
eles experimentados, por meio do método Anselin Local Moran (LISA), indicador que
busca a identificação de padrões de associação espacial significativos. Nunes (2013)
expõe que o LISA permite examinar os padrões de dados espaciais em uma escala de
maior detalhe, quando a dependência espacial é mais acentuada. Neste sentido, com
base nos dados amostrais disponibilizados pelo IBGE sobre os volumes de imigração e
emigração por municípios do Sudeste, para os quinquênios de 1995/2000 e 2005/2010,
tornou-se possível evidenciar aquelas porções espaciais que possuem maiores
semelhanças e, portanto, que geraram agrupamentos espaciais do tipo “clusters”.
Nesse contexto, mediante a utilização do algoritmo “Inverse Distance”, obtém-
se a conformação de dois agrupamentos espaciais de valores semelhantes para ambos
períodos, a saber: alto-alto e baixo-baixo. Este índice de correlação local determinou a
autocorrelação espacial para cada pequeno município conforme o saldo migratório por
ele apresentado, identificando-se os agrupamentos, ou conjuntos de agrupamentos
(clusters), onde a associação espacial foi significativa (Figura 2).
Ao examinar a figura 2 abaixo, conclui-se que para o quinquênio de 1995/2000,
o agrupamento Alto–Alto, relativo à cor azul no mapa, constitui-se em um cluster onde
há a ocorrência de municípios vizinhos com valores altos de saldo migratório. Portanto,
pode-se dizer que 100 municípios de pequeno porte correspondentes a estes
agrupamentos apresentam alto saldo migratório, ou seja, exibiram um ganho
populacional, situando-se principalmente no estado de São Paulo, na porção sudeste do
estado, em áreas próximas da região metropolitana, sobretudo, no Alto do Paraíba e
conexões com municípios do sul de Minas, além de outros grupamentos dispersos no
interior paulistas orientados pelas bacias Tietê-Piracicaba-Paraná.
Ainda para este período, outro agrupamento encontrado, denominado de Baixo–
Baixo, representado pela cor vermelha, representa um cluster de valores baixos e
próximos. Neste agrupamento encontram-se 108 municípios de pequeno porte com
baixo saldo migratório (perda de população) expresso principalmente no estado de
Minas Gerais, nas porções norte-nordeste (Vale do Jequitinhonha, Mucuri e Alto Rio
Doce). Em suma, no LISA, tanto os altos valores, quanto os baixos são influenciados
pelos valores dos seus respectivos vizinhos. Para este mesmo período, apresentam-se na
cor cinza os municípios de pequeno porte que não se relacionam com os demais, assim,
tornam-se casos insignificantes, por não possuírem correlação expressiva. Também,
notam-se valores de outlier, aqueles valores discrepantes altos ou baixos e que portanto,
também não se agruparam.
Para o quinquênio de 2005/2010, identificou-se também dois agrupamentos
significativos. O agrupamento Alto–Alto representado pela cor azul foi composto por
144 municípios significativamente correlacionados por apresentarem saldo migratório
elevado. A comparação com o quinquênio 1995-2000 mostra uma significativa
expansão desse agrupamento no interior de São Paulo, a partir do litoral santista e
capital e conexões com alguns municípios do sul de Minas.
Já o agrupamento Baixo–Baixo evidenciado pela cor vermelho sofreu redução se
comparado ao período anterior, apresentando 100 casos correspondentes ao baixo saldo
migratório. Percebeu-se também, que os valores insignificantes decresceram ao
considerar o período anterior. Ademais, pode-se identificar os agrupamentos de casos
em zonas de transição nos Alto-Baixo e Baixo-Alto em ambos os períodos tratados,
estes clusters representam comportamentos opostos de um município considerando os
seus vizinhos. Assim, o método LISA permitiu a criação e compreensão de padrões
espaciais por semelhança através da correlação entre os vizinhos identificando
agrupamentos com valores de atributos semelhantes, áreas de transição e situações
atípicas.
Figura 2: Agrupamentos dos municípios de pequeno porte de baixa densidade demográfica por Saldo
Migratório pelo Método Anselin Local Moran (LISA)
OS PEQUENOS DO SUDESTE; CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região Sudeste, a mais dinâmica do Brasil em todo o século XX, possuía 1668
municípios em 2010, dos quais 1.429 (85,4%) podem ser classificados como de
pequeno porte, pois nenhum deles ultrapassa a marca de 50 mil habitantes. Tamanha
extensão geográfica evidentemente agrega muitos municípios que devem discrepar da
histórica tendência de perdedores de população para os maiores municípios, geralmente,
detentores de cidades nas quais a atividade econômica geradora de fatores
multiplicadores intersetoriais se instalou primeiramente e deflagrou economias de
aglomeração que geraram efeitos de causação circular cumulativos que acabavam
reificando a condição de primazia dessas localidades.
A pergunta sobre como vêm se comportando esse conjunto de municípios pode
ser respondida por meio de exercícios simples que sublinhem a dinâmica demográfica e
a localização espacial relativa dos agrupamentos de municípios mais ou menos
dinâmicos. Entre os quatro estados da região, Minas Gerais e São Paulo, abrigavam o
maior número de municípios de pequeno porte, embora o ritmo de crescimento
demográfico varie muito conforme as frações espaciais que se examinam nesses dois
estados e nos dois outros, Espírito Santo e São Paulo.
De todo modo, o número de municípios que experimentou crescimento positivo
na região é muito expressivo, já que mais de 76% do total não obteve taxas de
crescimento negativa entre 2000 e 2010. Desse total (1269), 1034 eram municípios de
pequeno porte que conheceu crescimento positivo na primeira década do século XXI.
Isso quer dizer que cerca de 62% do total de municípios do Sudeste se refere a
municípios de pequeno porte que seriam demograficamente dinâmicos no período? Para
que essa última assertiva se verifique, restaria verificar quantos desses municípios
tiveram saldos migratórios não negativos no período.
Os dados aqui trabalhados indicam que 888 municípios tiveram crescimento
positivo e saldo migratório positivo. Em muitos deles, certamente a contribuição da
migração de data fixa ultrapassou os efeitos do crescimento vegetativo. Em uma
situação distinta observou-se a existência de outros 381 municípios de pequeno porte
que tiveram crescimento positivo entre 2000 e 2010, mas saldos migratórios negativos,
o que significa que a despeito das perdas migratórias o crescimento vegetativo deve ter
sustentado as taxas positivas da maioria desses municípios.
Por outro lado, os municípios que tiveram crescimento negativo e perdas
migratórias (principalmente nas áreas setentrionais de Minas Gerais) foram 289, número
relativamente grande. Já os que tiveram crescimento negativo e saldo positivo, 108,
revelam uma situação curiosa porquanto em muitos deles o crescimento vegetativo não
é suficientemente expressivo para tornar o crescimento positivo (o que pode traduzir
situações em que no passado, tais municípios estavam exauridos demograficamente pela
emigração prolongada e mais recentemente tenha voltado a atrair população jovem para
seus territórios).
Com os mesmos dados demográficos aqui organizados, foi possível concluir que
centenas de municípios de pequeno porte da região Sudeste apresentam de fato, uma
dinâmica demográfica que lhes confere a condição de dinâmicos do ponto de vista
demográfico. Diante de centenas de unidades territoriais com características similares,
foi possível aplicar o método Anselin Local Moran – LISA, que permitiu conhecer a
localização relativa dos agrupamentos dos municípios mais atraentes em termos de
saldos migratórios, os quais se concentram, sobretudo, na periferia das regiões
metropolitanas dos estados de São Paulo e Minas Gerais, além do Triângulo Mineiro,
bem como nas zonas litorâneas dos estados do Espirito Santo. Da mesma forma,
constatou-se em quais subespaços predominam clusters onde a emigração supera a
imigração conforme os dados do formulário amostral dos dois últimos censos
demográficos do país.
É evidente, que as conclusões até então alcançadas sugerem uma série de novos
estudos mais detalhados que possam trazer à luz outras características dessas centenas
de municípios de pequeno porte, especialmente no tocante ao perfil das atividades
econômicas neles instaladas que parecem estar lhes proporcionando o dinamismo
demográfico aqui explicitado.
AGRADECIMENTOS: Ao bolsista do Laboratório de Estudos Territoriais – LESTE,
Guilherme Francisco do Nascimento Pinto, que colaborou na confecção dos
cartogramas deste estudo.
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