Música e a Criança Com Distúrbios de Comunicação

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  • Palavras-chave: Expresso musical, Distrbios de comu-nicao e linguagem, Actividades

    Resumo

    Este artigo procura alertar para o uso da msica comoestratgia e suporte de apoio a crianas com Distrbios deComunicao e Linguagem: distrbios de articulao,gaguez, distrbios de voz, alteraes na linguagem ver-bal e outras deficincias em que a comunicao e a lin-guagem estejam comprometidas. Sendo a msica umexcelente meio de desenvolvimento, permitindo que acriana possa usufruir de satisfaes imediatas, consi-dera-se que esta pode contribuir ao nvel da comunica-o verbal e no-verbal, no que diz respeito a aspectoscognitivos, afectivos/emocionais e motores, ao mesmotempo que promove a interaco e o auto-conheci-mento. por isso importante que, a criana sinta quetem ali a oportunidade de explorar os seus sentimentose de os exteriorizar sem ter que os verbalizar Pretende --se, demonstrar de que modo que professores e edu-cadores podem usar, esta rea, de forma consciente epedaggica, mesmo que no tenham conhecimentostcnicos de msica.

    1. A expresso musical

    A msica uma forma de manifestao artstica e est-tica, e a beleza da criao musical fundamental para oenriquecimento da vida humana (Nye, 1985:5). , por-tanto, uma arte que faz parte da vida tornando-seimportante que as crianas se apercebam dos sons que sepodem ouvir e obter. Deste modo necessrio desen-volver nelas a sensibilidade, o sentido artstico e esttico.

    Msica , assim, uma arte afectiva baseada nos sentimen-tos que no podem ser, por isso, postos de lado. umaarte abstracta e os seus estmulos provocam respostas quevariam conforme as percepes que temos, primeiro emrelao a pequenos e simples sons para chegar aos maisdifceis e complexos. Ao mesmo tempo, tambm umaactividade social, uma actividade comunitria em que aexecuo musical trocada com os outros, j que enri-quece mais a experincia do que outras reas pois, desen-volve os sentimentos e permite apercebermo-nos deforma mais intensa das outras culturas.A experincia esttica permite estimular a imaginao, esentimentos nas crianas enquanto que a experinciaartstica permite a criao de bases para que a cognio,conceitos, juzos e aces se desenvolvam, e ao desen-volver a imaginao desenvolvem-se tambm as ideias,os valores, os objectivos e as teorias.A experincia musical permite, por seu lado, tocar,manipular, ver, examinar, ouvir, usar o corpo e msculosem interpretao de ritmos, por exemplo, desenvol-vendo assim os sentidos e fornecendo ao mesmo tempoconhecimentos e prazer pelo trabalho musical.A criana tem a capacidade de perceber sons desde oquinto ms da sua vida intra-uterina, adquirindo assim,esta capacidade antes de falar ou andar. Tomatis (inMaudale, 2007:1) defende que a audio influncia emmuito o movimento, a linguagem e a aprendizagem dacriana. Para o autor, escutar ouvir e ter a motivaode ouvir. Define ouvir como sendo a faculdade que acriana tem de receber sons e escutar como a capacidadeque requer a habilidade de seleccionar os sons que lheinteressam entre toda a diversidade que lhe chega aosouvidos. Deste modo, ouvir um acto passivo enquantoque escutar um acto activo e voluntrio.Ao saber escutar a criana consegue perceber com preci-so a informao que deseja. Maudale (2007:2) fazainda referncia aos sons emitidos pela prpria crianaatravs do aparelho fonador, sendo a criana capaz de

    A Msica e a Criana com Distrbios de Comunicaoe Linguagem

    Ana Maria Paula Marques GomesAlexandra SimesEscola Superior de Educao de Paula Frassinetti

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  • escutar e concentrar-se na sua lngua materna, mol-dando aos poucos a sua prpria linguagem. Ao escutar-mos msica sentimos, muitas vezes vontade de nosmovimentarmos de diferentes formas de acordo com oque ouvimos, demonstrando, desta forma, que os sonsinfluenciam directamente o nosso corpo.Segundo o autor referenciado, o objectivo principal daescuta que esta permite estabelecer a comunicaoentre a criana e o seu meio ambiente. E esta capacidades se desenvolve se a criana se sentir motivada a comu-nicar com o mundo que a rodeia.Deste modo, a msica muito importante para o ensinoe desenvolvimento das caractersticas musicais de cadaum, pois desenvolve trs aspectos fundamentais na vidado Homem. So eles:a motricidade, quando nos movemos ao som de algo,quando batemos o ritmo com o p; a cognio e criatividade, quando analisamos o que ouvi-mos, tocamos e quando improvisamos;a afectividade, quando sentimos algo enquanto ouvimosdeterminada msica, suscitando-nos inmeros tipos desentimentos e reaces, como por exemplo, sentir umarrepio na pele quando se ouve algo de que gostamos ouque nos toca sem sabermos como nem porqu.A importncia dada msica como um dos elementosprincipais na educao no recente. Alis, podemosencontrar escritos desde a Grcia Antiga, civilizao quevalorizava a arte e se preocupava com a formao doindivduo assim como buscava permanentemente, atra-vs da msica, o belo e o prazer para a formao saud-vel do esprito.Esta preocupao persistiu e persiste at aos nossos dias,na opinio de Read (2001:241) que defende o ensino daarte para o crescimento e desenvolvimento harmoniosodo indivduo. Atravs da msica a criana poder desenvolver o seupensamento musical, podendo ouvir, discriminar asestruturas sonoras, conhecer a literatura musical, inter-

    pretar, cantar, tocar e danar em conjunto, compor, criar,improvisar e elaborar estruturas musicais.No entanto, sem imaginao a criatividade e inteligncia perdemtodo o seu valor (Nye, 1985: 4) e a educao musical quea orienta e desenvolve, logo, esta no deve ser deixada aoacaso mas sim, ser apoiada e orientada no jardim-de --infncia. Deste modo, a msica, juntamente com todasas outras reas de conhecimento e expresses, permiteformar uma cultura slida que abrange todos os pontos.No jardim-de-infncia pode-se associar a msica aoutras reas e actividades educativas podendo-se tam-bm, realizar actividades musicais associadas a outrasformas de expresso tais como: a mmica, o movimento,a dana, a expresso corporal, a expresso dramtica,verbal e plstica.Conclui-se ento, que a msica tem em si um valor pr-prio e que por todas as suas caractersticas deve estarincluda no currculo escolar. Da que se deva ensinar edesenvolver logo nos primeiros anos de vida, j que sabido que o Homem est em contacto permanentecom a msica desde o seu nascimento (at mesmo den-tro do tero materno), sendo influenciado pela msicaconsciente ou inconscientemente.

    2. Distrbios de comunicao e linguagem

    Kirk e Gallagher (2002: 277) definem distrbios decomunicao como distrbios de fala e linguagem, cha-mando a ateno para o facto de que muitas crianascom patologias como a deficincia mental, dificuldadesde aprendizagem, surdez, etc., apresentam distrbios decomunicao ao nvel da fala e linguagem. Deste modo,estes tipos de distrbios caracterizam-se por um estado emque o indivduo no demonstra um conhecimento das necessidades dosistema lingustico proporcional norma esperada.

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  • Segundo a American Speech-Language-Hearing, distr-bios de comunicao so definidos como deficincias na articu-lao, na linguagem, na voz ou na fluncia (in Kirk e Gallagher,2002:279).A criana para falar necessita de realizar movimentosrpidos e bem coordenados da cavidade orofarngea, aqual constituda pelos lbios, lngua, maxilares e palato,assim como, emitir correctamente a voz. No entanto, aproduo verbal oral depende ainda da laringe e sistemarespiratrio e precisamente a boa articulao entre ostrs sistemas fonatrio, respiratrio e articulatrio que permitir realizar a fala. Mas, quando um destes sis-temas no funciona correctamente, a criana pode apre-sentar inmeras patologias das quais se destacam comomais comuns: distrbios de articulao, gaguez, distr-bios da voz, alteraes de linguagem verbal (atraso dedesenvolvimento, afasia de desenvolvimento emutismo) e deficincias associadas.

    2.1. Distrbios de articulao

    Os distrbios de articulao so definidos como desvios dafala caracterizados por substituies, distores, omis-ses e adies de sons da fala (fonemas). Estas dificul-dades podem dar-se nas reas dos articuladores cujacoordenao da lngua, lbios, dentes, maxilares e palato imperfeita fazendo com que a cavidade oral seja alte-rada devido ao movimento dos maxilares, lbios e lnguaresultando numa fala imperfeita (Kirk e Gallagher,2002:286).Outros factores que podem provocar distrbios de arti-culao so os orgnicos, ou seja, os desvios na lngua,faringe, laringe, lbios, dentes, palato duro e mole emecanismos de respirao. Estes factores devem-se pro-vavelmente a um ambiente de privao, persistnciainfantil, bilinguismo, problemas emocionais ou amadu-recimento lento.

    Segundo Marcelli (2005:144) as perturbaes articula-trias so frequentes e comuns at aos 5 anos, devendo --se recorrer a uma reeducao caso estas persistam.Bautista (1997:87) distingue trs problemas especficos,so eles as dislalias, as disglosias e as disartrias. As dislaliasdefinem-se como perturbaes na articulao de um ouvrios fonemas, tanto por omisso como por substitui-o, distoro ou acrescentamento. Pascual (in Bautista,1997:87) classifica as dislalias em 4 tipos: dislalia evolutiva oufisiolgica os rgos articulatrios precisam de matura-o neuromotora a fim de poderem pronunciar correc-tamente os diversos fonemas; a dislalia auditiva deve-seao facto de a criana no ouvir bem, o que faz com queno articule correctamente; a dislalia orgnica deve-se smalformaes dos rgos da fala; e a dislalia funcional apesar de no haver qualquer causa orgnica aparente, osrgos articulatrios funcionam mal, podendo-se dis-tinguir causas como o insuficiente controlo psicomotor,dificuldades de descriminao auditiva, deficincia inte-lectual, perturbaes espcio-temporais, factores diver-sos relacionados com o meio ambiente.As disglosias tratam-se de perturbaes na articulao dosfonemas, tais como substituies, omisses, distores eacrescentamento, as quais podem ter origem atravs deleses fsicas ou malformaes dos rgos perifricos dafala. Bautista (1997:87) refere assim, vrios tipos de dis-glosias dependendo do rgo afectado, assim podemosdistinguir: disglosias labiais lbio leporino, freio labialsuperior, fenda do lbio inferior, paralisia facial, macros-tomia, feridas labiais, nevralgia do trigmio; disglosias man-dibulares resseco dos maxilares, atresia mandibular,disostosis maxiofacial, hereditariedade; disglosias dentais prteses, ortondncia, etc; disglosias linguais glossecto-mia, macroglosia, paralisia da lngua e a disglosia do palato fenda palatina, palato em ogiva, perfuraes palatinas,palato curto, etc.Por fim, as disartrias nas quais as perturbaes de articu-lao se devem a leses no Sistema Nervoso Central,

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  • manifestando dificuldades na articulao de todos osfonemas que dependam da zona lesionada. Bautista(idem) distingue, deste modo cinco tipos de disartrias: adisartria flcida localizada ao nvel do neurnio motorinferior provocando dificuldades como hipernasalao,respirao arquejante, diminuio dos reflexos muscula-res, fonao, ressonncia e prosdia; a disartria espstica aqual se encontra ao nvel do neurnio motor superiorprovocando espasticidade, alteraes emocionais, lenti-do da fala, alteraes respiratrias, e ainda grande difi-culdade na articulao e na prosdia; a disartria atxicaque se d no cerebelo provocando movimentos impreci-sos, alteraes da marcha e do equilbrio, alteraes pro-sdicas, fonemas prolongados; a disartria hipocintica queest localizada no sistema extrapiramidal, provocandomovimentos lentos, limitados e rgidos, hipocinesia eprincipalmente grandes alteraes ao nvel da fonao eprosdia; por fim a disartria hipercnita localizada tambmno sistema extrapiramidal mas manifestando movimen-tos involuntrios e grandes alteraes na fonao, resso-nncia, prosdia e articulao.

    2.2. Gaguez

    A disfemia, mais conhecida como gaguez, interfere com afluncia da fala. Esta d-se quando a corrente da fala interrompida anormalmente por repeties ou prolon-gamentos de um som, slaba ou posio articulatria oupor comportamentos de fuga e luta interna. Webster eBrutten (in Kirk e Gallagher, 2002:291) identificam ascaractersticas mais importantes de um indivduo quegagueja como: (1) falta de fluncia da fala devido repetio involuntria ou aoprolongamento de sons e slabas; (2) grande proporo de repetiese prolongamentos nas mesmas palavras; (3) falta de fluncia asso-ciada estimulao emocional; (4) esforos voluntrios para enfren-tar ou encobrir as ocorrncias involuntrias da gagueira, atravs de

    respostas verbais e no-verbais, isto , repetindo palavras e frases,mudando a velocidade e intensidade da fala, piscando os olhos, fran-zindo os lbios e assim por diante.Bautista (1997:89) distingue trs tipos de gaguez, umaligada a aspectos lingusticos em que o indivduo recorre aouso, em excesso dos sinnimos, produz um discurso incoe-rente, manifesta desorganizao entre o pensamento e alinguagem, entre outros; outro tipo ligada aos aspectos com-portamentais caracterizados pelo mutismo, retraimento,ansiedade, bloqueios, etc., e uma terceira caracterizadapelos aspectos corporais e respiratrios como so o caso dostiques, espasmos, alteraes respiratrias, rigidez facial, etc.O autor, refere ainda que, estes sintomas tendem a surgirpor volta dos 3 anos de idade, mas so considerados nor-mais, fazendo parte do desenvolvimento da linguagem,tornam-se preocupantes a partir do momento em queestejam presentes por volta dos 10 anos. Apesar de existirem vrias teorias sobre a causa dagaguez, as quais se dividem entre causas hereditrias ecausas ambientais, a verdade que ainda no se conse-guiu chegar a um consenso quanto sua origem e forma.

    2.3. Distrbios da Voz

    So quatro os componentes bsicos da voz: a intensi-dade, o tom, o timbre e a durao, os trs primeiros soproduzidos na laringe, ou seja, a voz produzida atravsda corrente de ar que sai, passando entre as cordas vocaise a laringe. A partir da laringe o som passa para cimaatravs das vrias cavidades, como a garganta, boca enariz, devendo produzir um tom claro (fonao), emi-tido a partir da vibrao das cordas vocais, o qual deveser adequado quanto intensidade (nem demasiadobaixo, nem demasiado alto). A qualidade da voz um dos defeitos mais comuns nestesdistrbios, segundo Kirk e Gallagher (2002:296)encontram-se: na fonao (produo de sons) e na res-

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  • sonncia (direco do som na colocao da voz). A fona-o, que tem origem na laringe, apresenta por vezes faltade ar e rouquido as quais podem ser causadas por defi-cincias estruturais que provocam, por sua vez, umaincapacidade das cordas vocais em produzirem as vibra-es correctas do fluxo de ar. A ressonncia depende daestrutura das cavidades oral, nasal, larngea (rea defonao) e farngea (parte de trs da garganta). Quandoh alteraes nalguma(s) destas cavidades, podem surgirdois tipos de dificuldades, a fala hipernasal e a fala anasal.Na primeira os sons so emitidos atravs da cavidadenasal pelo que todos os sons soam nasalados. Na fala ana-sal existe uma ausncia ou inadequao da ressonncianasal.No que diz respeito intensidade e altura da voz estes pro-blemas com o tom demasiado alto ou baixo que a crianatem, fazem com que o ouvinte se sinta incomodado peloexcesso ou que no o entenda por falar demasiado baixo,ocorrem, principalmente, na fase da adolescncia nosrapazes aquando da transio da voz para um registomais grave. Muitas vezes a voz soa a falsete o que leva aque se retraiam sempre que tentam falar, principal-mente porque, normalmente, nesta fase a intensidade demasiado alta. As raparigas manifestam, por vezes, ooposto, ou seja, a intensidade demasiado baixa podendoapresentar os mesmos problemas que os rapazes, emtermos de ajustamento de intensidade.Segundo Bautista (1997:86) na maior parte das vezes asalteraes da voz devem-se ao seu uso inadequado, tantoem excesso como por defeito. Como causas possveis oautor distingue: bronquites crnicas; asma; adenides;laringite e ainda distingue etiologias traumticas,ambientais, funcionais e orgnicas. Refere ainda, doistipos de distrbios da voz a disfonia que se caracterizapela alterao de qualquer uma das caractersticas davoz; e a afonia onde existe uma ausncia total da voz.

    2.4. Alteraes de Linguagem Verbal

    A linguagem assim fundamental para o Homem, peloque qualquer anomalia sria em relao s normas esta-belecidas e desempenhos normais chamam a ateno dediversos profissionais. Bloom e Leahy (in Kirk e Gallag-her, 2002:301) consideram que a linguagem envolve trsfactores fundamentais, so eles a interaco do contedo(ideias sobre os objectos e acontecimento do ambiente),a interaco da forma (sistema convencional de regras decombinao de sons e palavras a fim de formar frases esentenas) e a interaco do uso (modo como se utiliza alinguagem). Caso um destes factores esteja alterado,ento, segundo os autores, estaremos perante um casode distrbios de linguagem.Tendo em conta a linguagem verbal, podem-se distin-guir trs categorias de distrbios de linguagem verbal: oatraso de desenvolvimento da linguagem, a afasia do desenvolvi-mento ou afasia congnita e o mutismo.O atraso de desenvolvimento da linguagem trata-se de umdesenvolvimento organizado que progride num ritmomais lento do que o normal, sendo o desempenho infe-rior quando comparado em termos de idade cronolgicada criana. Como caractersticas principais Nieto (inBautista, 1997:90) considera: quando s depois dos doisanos surgir o aparecimento das primeiras palavras; se ataos trs anos a criana ainda no faz associao de pala-vras; se aos quatro anos o vocabulrio for bastante redu-zido; se a criana demonstrar desinteresse ao comunicar;se a compreenso for maior que a expresso; se mani-festar o uso excessivo de gestos para comunicar; sedemonstrar imaturidade na dominncia lateral.Bautista (1997:91) distingue como causas possveis doatraso de linguagem o ambiente familiar, as variaes socio-culturais e outros.Kirk e Gallagher (2002:303) destacam como possveiscausas: a perda auditiva, a deficincia mental, os proble-mas de comportamento e a privao ambiental.

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  • A afasia de desenvolvimento ou afasia congnita diz respeito aum sndrome identificvel que precisa de ser conside-rada parte, entre as causas orgnicas do atraso da lin-guagem. Ao contrrio do atraso de desenvolvimento dalinguagem, h aqui uma perda ao nvel da fala devido auma leso ou trauma cerebral sem que haja leses dasvias auditivas ou motoras responsveis pela fonao(Eisenson, in Kirk e Gallagher, 2002:303). SegundoNieto (in Bautista, 1997:92), podem-se distinguir asseguintes caractersticas da afasia do desenvolvimentotais como: dificuldades de interpretao da linguagemverbal; descoordenao motora geral; fala difcil deentender; linguagem telegrfica, ecollia; hemiplegia;atraso de linguagem consoante a funo da patologiaorgnica.Bautista (1997:93) distingue trs tipos de afasia: (1) aafasia sensorial ou receptiva que se caracteriza pela dificul-dade em compreender o significado das palavras apesarde poderem falar, se bem que com alguma dificuldade;(2) a afasia motora ou expressiva em que o indivduo com-preende o significado mas no consegue expressar-se;(3) e a afasia mista que apresenta as caractersticas dasanteriores.O mutismo caracteriza-se pelo desaparecimento da lin-guagem de forma progressiva ou repentina, sendo maiscomum na criana que no adulto. Podem-se distinguirdois tipos de mutismo (Bautista, 1997:90): o mutismoneurtico o qual pode ser electivo associando-se, muitasvezes, a outras manifestaes e quando se mantm paraalm dos 6 anos de idade pode provocar limitaes fun-damentais tanto ao nvel escolar como social; e o mutismopsictico em que a criana apresenta, por volta dos 3 e 6anos, caractersticas autistas. As causas podem ter ori-gem num choque emocional, ser de tipo histrico, pro-vocado por uma doena larngea, etc.

    2.5. Deficincias com distrbios de comunica-o e linguagem associados

    No que respeita s deficincias com distrbios de comunicaoe linguagem associados, apenas abordaremos a comunica-o e linguagem da criana autista e da criana com para-lisia cerebral, isto porque a primeira envolve questes maisao nvel da comunicao afectiva, interaco social edesenvolvimento da linguagem, e a segunda envolve osaspectos motores mais ao nvel da articulao e interac-o social.Segundo Pereira (2005:9), o autismo trata-se de umacondio ou estado de algum que manifesta uma ten-dncia para o alheamento da realidade exterior, aomesmo tempo que toma uma atitude de permanenteconcentrao em si prprio. visto, hoje em dia, comouma Perturbao Global do Desenvolvimento, a qual, anvel social se apresenta atravs de disfunes na relaocomunicacional e a nvel individual, se apresenta atravsde insuficincias afectivas e de jogo imaginativo assimcomo atravs da realizao de um nmero de actividadesrestritas e repetitivas. Tudo isto reflecte-se no contextoindividual, familiar e social.Kanner (in Pereira, 2005:12) distingue trs caractersti-cas principais, so elas: a falta de capacidade manifestadano relacionamento vulgar com as pessoas e situaes; adificuldade de comunicao e a ansiedade obsessiva pelamanuteno do mesmo estado de coisas, tambm deno-minado de sameness.Estas crianas revelam, deste modo, uma falha no con-tacto afectivo. Parecem viver num mundo parte, sdelas. Para alm desta ausncia de manifestaes afecti-vas, parecem apresentar mutismo ou uma determinadalinguagem, normalmente, no dirigida para as relaesinterpessoais. Alis, mesmo quando so dotadas de lin-guagem, tm grandes dificuldades em iniciar e manterum dilogo. Segundo um estudo de Kanner (in Pereira,2005:13) apesar de as crianas autistas poderem demons-

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  • trar uma grande capacidade de memria, estas quandodiziam rimas, lengalengas, etc., faziam-no como se esti-vessem apenas a emitir sons sem que percebessem o sig-nificado das palavras, tratava-se de um acto mecanizadoe no acrescentavam qualquer expresso afectiva, porexemplo quando realizavam actividades com parentesprximos. Os seus comportamentos verbais podem-secaracterizar por dois aspectos: a ecollia imediata e tardia,a qual se pode encontrar nas repeties de palavras oufrases memorizadas e a inverso pronominal a qual se notaquando a criana, por exemplo, se refere a si prpriausando o tu ou ele(a) e no o eu e mim.O autor faz ainda referncia, capacidade normal deinteligncias que as crianas autistas apresentam. Narealidade a sua grande dificuldade encontra-se nas rela-es sociais e na sua incapacidade primria em estabele-cer relaes interpessoais.O dsm-iv-tr (in Pereira, 2005:39) considera que o espec-tro do autismo envolve limitaes ao nvel das relaes sociais, dacomunicao (verbal e no-verbal ) e da variedade de interesses ecomportamentos.Deste modo destacam trs caractersticas fundamentais:

    o dfice qualitativo na interaco social, o qual pode sermanifestado pelo dfice acentuado no recurso a vrioscomportamentos no verbais como so o contacto ocu-lar, a expresso facial, a postura corporal e os gestos, aincapacidade de desenvolver relaes interpessoais; aausncia de partilha com outros prazeres, interesses ouobjectos, e a falta de reciprocidade social e emocional. os dfices qualitativos na comunicao, que se revelam atravsdo atraso ou ausncia total da linguagem oral; pelagrande incapacidade na competncia de iniciao ou demanuteno do dilogo com os outros; atravs do usoestereotipado ou repetitivo da linguagem ou linguagemidiossincrtica; e pela ausncia de jogo realista espont-neo, variado, ou de jogo social imitativo de acordo como seu grau de desenvolvimento.

    os padres de comportamento, interesses e actividades restritos,repetitivos e estereotipados, tais como a preocupao comum ou mais padres estereotipados e restritivos de inte-resse que resultam anormais ao nvel do objectivo eintensidade; a adeso a rotinas ou rituais especficos nofuncionais, os maneirismos motores estereotipados erepetitivos; e a preocupao extrema com partes deobjectos.

    Cahuzac (in Bautista, 1997:293) define paralisia cerebralcomo uma desordem permanente e no imutvel da postura e domovimento, devida a uma disfuno do crebro antes que o seu cres-cimento e desenvolvimento estejam completos. Deste modo no evolutiva, susceptvel de melhoras, no est relacio-nada ao nvel mental e pode surgir durante o perodo dodesenvolvimento cerebral.O crebro possui inmeras funes as quais esto inter --relacionadas com diferentes reas, uma leso cerebralpode abranger mais do que um aspecto podendo assimestar associado s perturbaes motoras outras altera-es ou distrbios ao nvel da linguagem; audio; viso;desenvolvimento mental; carcter, epilepsia e/ou trans-tornos perceptivos.Segundo Lima (2000:224), a paralisia cerebral apresentadiferentes alteraes da comunicao manifestandodiferentes graus ou nveis de alteraes que se podemcaracterizar de trs modos:

    competncias comunicacionais prximas do normal; leves ou graves alteraes da motricidade; graves atrasos na aquisio da linguagem ou ausncia damesma.

    Tudo depende da rea cerebral afectada, e da forma quepode comprometer ou no a autonomia do indivduo.Podem-se, por isso, encontrar diversos nveis de dficemotor os quais, podem chegar a atingir comportamen-tos motores mais primitivos ou reflexos.

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  • Na realidade, a linguagem desenvolve-se mesmo quandoexiste leso cerebral. No entanto, a leso motora do apa-relho fonador e articulatrio pode provocar perturba-es articulatrias (Marcelli, 2005:304). normal existirem repercusses ao nvel da linguagemnas crianas com paralisia cerebral. Deste modo, as formasde expresso como a mmica, o gesto e as palavras, soaquelas que esto mais comprometidas uma vez quedependem da coordenao motora.Logo que nasce, a criana apresenta dificuldades no usodos rgos responsveis pelo acto da alimentao (refle-xos de suco, deglutio, mastigao e vmito), os quaispodero manifestar-se insuficientes ou em excesso paraa concretizao do acto e so estes mesmos rgos que,mais tarde, iro influenciar a produo da linguagem. Quando nos referimos s dificuldades na linguagem expres-siva, estas do-se devido a espasmos dos rgos respira-trios e fonatrios, caracterizando-se por uma maiorlentido da fala, modificaes da voz e, mesmo, ausnciadesta, dificuldades na produo das palavras (fala palavras e frases interrompida devido s dificuldadesrespiratrias).Quanto ao atraso de desenvolvimento da linguagem compreen-siva, este pode ser provocado por perturbaes auditivas,leses suplementares das vias nervosas, falta de estimu-lao lingustica ou modelos lingusticos insuficientes.s vezes, sente-se ainda a falta de retroalimentao, ouseja, a criana no consegue, ou tem muita dificuldadeem se ouvir a si mesma devido linguagem verbal queproduz ser insuficiente ou nula, tendo, por isso, dificul-dade em alargar o seu vocabulrio.A produo da fala, tambm se pode encontrar alteradanos casos de deficincias motoras, sendo denominada dedisartria, ou seja, dificuldades de expresso devido a alteraes dotonus e dos movimentos dos msculos fonoarticulatrios, secund-rios a leses do sistema nervoso central (Lima, 2000:231).A criana com paralisia cerebral com dfices articulatriosacentuados acaba por ter uma grande dificuldade ao nvel

    da integrao no meio social que pertence. Isto porque, asociedade detm uma forma prpria de comunicaooral e escrita a qual dever ser, partida, dominada portodos, seja na sua execuo, seja na sua interpretao. No entanto, uma criana com paralisia, acaba por ter difi-culdades em interagir com o meio, o qual vai contribuirpara o desenvolvimento da linguagem, e nos primeirosanos de vida, quando a criana se expressa maioritaria-mente atravs do gesto, que os problemas de desenvol-vimento de linguagem tm incio, uma vez que estascrianas tm dificuldade em controlar os seus movimen-tos, dependendo, por isso, da audio e da viso,tomando uma atitude mais receptiva do que activa.Cabe-nos assim, a tarefa de levar o mundo at estascrianas, para que o possam explorar de acordo com assuas capacidades. ao manipular objectos, e vivenciando diferentes expe-rincias, que a criana vai formando os seus conceitos edotando significados, criando ainda a sua linguageminterna dos conhecimentos que vai adquirindo e for-mando o seu prprio vocabulrio, ou seja a linguagemfalada e/ou escrita. Porm, na criana com paralisia cere-bral, o sistema nervoso pode estar afectado quanto dis-tribuio do tnus muscular tal como, a paralisia de umaou vrias estruturas relacionadas com o movimento(amplo ou fino). Tudo isto pode estar total ou parcial-mente presente na criana provocando dificuldades aonvel da compreenso, da expresso ou de ambas. Osfactores ambientais, tal como j foi referido, so essen-ciais aprendizagem atravs dos quais, as experinciasvivenciadas e exploradas pela criana, se traduzem emlinguagem reflectindo o conhecimento adquirido.Segundo Lima (2000:240), a fala um acto motor.Muitas vezes os dfices de comunicao da criana comparalisia cerebral inibem a actividade verbal espontnea,isto, por sua vez, faz com que o estmulo exterior acabepor se tornar reduzido, uma vez que as pessoas, errada-mente e por falta de conhecimento, consideram, pelas

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  • dificuldades que a criana apresenta, que o problemano s motor mas tambm cognitivo, acabando porno investir no desenvolvimento e estimulao a estenvel.Quanto ao domnio fontico a criana apresenta frequentesalteraes nos fonemas que necessitam de uma grandepreciso na coordenao de movimentos tais como oformato silbico Consoante/Vogal/Consoante (CVC)ou elevao do pice lingual como acontece nos fonemas/l/ e /r/. As consoantes fricativas /s/, /z/, /x/ e /j/ podemtambm sofrer alteraes nos padres de movimento.Em relao ao domnio fonolgico a criana pode omitirtanto consoantes como slabas principalmente nas pala-vras polissilbicas.No dominio morfossintctico a criana utiliza estruturas ele-mentares, pode omitir palavras sem contedo imediato(ex.: advrbios, preposies, conjunes, artigos e pro-nomes).Tambm apresenta dificuldades ao nvel da semnticaonde a criana apresenta um vocabulrio pouco extensoe dificuldades ao nvel da performance lingustica.Os atrasos de linguagem podem ser de trs tipos:

    Por dfice cognitivo:Independentemente das capacidades ao nvel cognitivodestas crianas para a aprendizagem da linguagem, estadeve ser estimulada em relao sua reproduo em si,em relao aos domnios de conhecimento que estarequer, ou seja, entender aquilo que se est a dizer eno falar por falar. Por dfices perceptivos (auditivos e motores):Provocam dificuldades na aprendizagem da linguagem efala. Quando h perda de audio, torna-se mais compli-cado pois a criana deixa de ter acesso aos modelos dafala ficando impossibilitada de reproduzir os seus conhe-cimentos ou de manifestar sentimentos e emoes;As noes do espao e tempo esto relacionadas com omovimento corporal, uma vez que a criana se movi-

    menta num determinado espao e durante um determi-nado tempo;Nas crianas com paralisia cerebral, cada caso um caso, noentanto, todos apresentam alteraes de maior oumenor gravidade do tonus muscular o qual interferecom a postura e movimento. Por factores psicossociais:Muitas vezes a criana v-se confrontada perante asociedade e a sua imagem, provocando problemas aonvel da qualidade da linguagem, pois sente-se inibida,outras vezes apresenta atraso ao nvel da quantidade delinguagem devido s suas limitaes.A criana com paralisia cerebral, ao perceber que no entendida pelos outros ou que estes fazem um grandeesforo para a perceber com muita dificuldade, acabapor desanimar, deixando de investir neste aspecto.Outras vezes a prpria famlia a primeira a cortar oesforo realizado pela criana, antecipando as suas res-postas no permitindo, por isso, que esta desenvolva assuas capacidades lingusticas.

    3. A expresso musical como instrumentode apoio a crianas com distrbios decomunicao e linguagem

    A expresso musical precisa de ser valorizada, tendo emconta o contributo que esta pode dar ao desenvolvi-mento do indivduo, independentemente das influn-cias culturais e da sociedade. Algumas pessoas vem amsica como uma linguagem, como estruturas e padresque levam at mente associaes particulares e signifi-cados. Outras, pensam a msica como uma estrutura desmbolos do sentimento humano, que vem ao de cimacom a experincia emocional. Como um idioma e caracterstica de emoo nas nossasvidas quotidianas, deve haver elementos de verdade em

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  • ambas estas convices. Como indivduos, ns relacio-namos a msica a vrios nveis, porque temos a capaci-dade de dar sentido, como uma forma de linguagem,contudo, ao mesmo tempo, podem gerar-se dentro dens emoes considerveis. Os psiquiatras encorajaram frequentemente o uso derelaxamento atravs de msica gravada nos seus pacien-tes. Lowenstein (in Durant e Welch, 1995:8) relata queescutar msica uma terapia efectiva tratando casos detimidez extrema em crianas mal-ajustadas.O maior inimigo do educador/professor do ensino regu-lar, quando nos referimos msica, que muitas vezescaem no erro de pensar que a msica apenas se cinge execuo instrumental, vocal e a provas de formaomusical. Esta , na realidade, s uma parte de educaomusical; poderia ser uma parte importante, mas no otodo. No se pretende subestimar a contribuio vitalque o ensino instrumental d ao indivduo e sua vidacultural, mas h uma parte significativa da educao demsica que pertence sala de aula com o professor gene-ralista. Deste modo, devem-se educar musicalmente ascrianas de forma a desenvolver, nelas, no s o potencialcriativo mas tambm as suas habilidades, estendendo oconhecimento das funes da msica e encorajando umentender mais profundo da mesma, como uma forma delinguagem e smbolo de sentimento humano. Isto nopode ser feito simplesmente quando ensinamos sobremsica; necessrio encorajar as crianas a participaremactivamente nas experincias musicais.So inmeras as actividades que se podem realizar atra-vs da msica, antes de mais convm perceber, que estase trata de um sistema prprio, com uma notao(escrita) prpria, a qual s pode ser composta, lida eexecutada por aqueles que dominam a sua linguagem,tendo ainda a grande vantagem de ser universal. Noentanto, o que a torna num elemento rico no trabalhocom crianas com deficincias cognitivas e motoras, ofacto de que no necessrio dominar a sua tcnica para

    a escutar, para a sentir, para a vivenciar. A msica dasartes mais completas neste aspecto, pois envolve-nos,no necessitamos de nos dirigir na sua direco comoacontece quando vamos ao teatro ou ver um bailado, assuas sonoridades envolvem-nos e entram dentro dens, quer queiramos quer no. Mesmo tapando os ouvi-dos sentimos as suas vibraes no nosso corpo.A msica pode ser trabalhada individualmente, onde acriana expressa o que sente, tal como em conjunto, pro-movendo a interaco com os outros e o sentimento depertena a um determinado grupo de forma activa.Tendo em conta que a msica uma linguagem no-verbal,esta pode dividir-se em dois tipos: a msica instrumental e amsica vocal. A primeira d toda a liberdade de interpreta-o e manifestaes expressivas, atravs de vivncias atra-vs do movimento, relaxamento e meditao. A segunda,quando contm textos com determinados significados,condiciona a interpretao ao seu significado.Segundo Alvin (in Sousa, 2005:127) a msica instrumental um excelente meio de desenvolvimento mental, fsico,afectivo e social permitindo que a criana possa usufruirde satisfaes imediatas, independentemente da gravi-dade da sua patologia, uma vez que aquilo que a crianaescuta e o modo como a interpreta so uma criao quevem dela e que corresponde s suas experincias fsica,intelectual e emotiva. Bang (in Sousa, 2005:130) consi-dera que a msica pode estabelecer um contacto sempalavras podendo mesmo promover o desenvolvimentoda linguagem. Tendo em conta que a msica produz ummeio de comunicao de carcter sobretudo emocional,ela torna-se importante e aplica-se precisamente onde acomunicao verbal no se utiliza, isto , quando no compreendida, ou inexistente.Quando se desenvolvem actividades de expresso musi-cal com crianas pequenas e com crianas com distrbiosde comunicao e linguagem, no se pretendem desenvolvertcnicas especficas da msica como leitura, execuo ecomposio, mas sim, usar a msica como meio. A msica

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  • ser como um objecto que dever ser explorado livre-mente pelas crianas de modo a que estas se identifiquemcom as sonoridades que lhes so dadas, ou que inventemas suas sonoridades, recorrendo ao seu corpo (batimen-tos, voz) e aos instrumentos convencionais ou no con-vencionais (objectos, instrumentos construdos commaterial reciclado, por exemplo).Deve ser a criana a escolher o seu instrumento, depen-dendo, naturalmente, das suas capacidades e limitaes.E o educador/professor dever ter isso em ateno, demodo a poder ter instrumentos que possam ser utiliza-dos por todos, e se necessrio adapt-los. Se o educa-dor/professor deixar os instrumentos expostos, acriana, com distrbios de comunicao e linguagem e,surpreendentemente para o adulto, saber a qual se diri-gir e qual o que lhe convm para se expressar.A msica vocal permite que a criana utilize o seu corpocomo instrumento, experimentando a voz como umaextenso directa de si prpria e aos poucos, concen-trando-se na melodia e nas palavras, a sua memria vaifazer com que tome conscincia conforme canta, dosignificado do que est a dizer fazendo com que ascapacidades perceptivas, cognitivas e expressivas este-jam a trabalhar em conjunto. Os tipos mais eficazes decanes para crianas com distrbios de comunicao elinguagem so aquelas sobre actividades que acontecemdentro das canes, ou sobre coisas ou eventos que ascrianas conhecem, ou podem imaginar, ou podemcrescer para entender. Estas canes tm uma realidadepessoal para eles e provocam um maior envolvimento.Nordoff e Robbins (2003:23) consideram mesmo, quequando se canta na sala, o educador/professor deveincluir canes sobre assuntos com os quais as crianasse possam identificar como: os dias da semana; otempo; a contar o nmero de meninos presentes; asoletrar nomes; a nomear partes do corpo; as roupas; ascores; os animais, sentimentos; aniversrios; higienepessoal; etc.

    Pode-se assim afirmar que as canes so menos eficazes seas palavras forem demasiado adultas, abstractas, infanti-lizadas, ou faltando obviamente verdade. As palavrasdevem ser simples e francas; se forem cuidadosamenteescolhidos para dizer o que eles tm que dizer com clari-dade de expresso, no precisam de rimar. Isto particu-larmente verdade se a colocao meldica e rtmica depalavras importantes enfatizar o valor expressivo destas.Assim sendo, deve-se ter em ateno os seguintes aspectos:

    A colocao das palavras na msica a relao mais ntimaentre palavras cantadas e faladas o facto que ambastm inflexo tonal e tenso-nfase (acento) em certas sla-bas de palavras e em palavras, particularmente numafrase. Na fala estas acontecem espontaneamente comoparte da ordem natural e o uso expressivo de idioma.Nas canes, a inflexo tonal dada a palavras pela melo-dia, e a tenso-nfase pelo acento rtmico. Logo, umacolocao musical de palavras que aumentam as infle-xes naturais e acentos de fala, acrescenta significaodestas e intensifica o valor expressivo das mesmas. Paraas crianas com distrbios de linguagem ao nvel da falaisto torna-se num estimulante, pois ao participar can-tando com maior conscincia verbal, reforam os seusesforos e a formao de fala. O ritmo das slabas na fala quotidiana damos nfase adeterminadas slabas enquanto falamos. Por exemplo, asegunda slaba de tapete, a primeira de pato, oltimo de ol. Nas canes ou jogos rtmicos (lenga-lengas, rimas, etc.) deve-se ter o cuidado de manter osmesmos apoios da fala pelo que as acentuaes deverocoincidir, precisamente, com as slabas que na fala tmmais nfase. Um jogo engraado fazer este tipo deexerccio com os nomes das crianas, por exemplo:Jos; Paula; Tiago; Catarina. Desta forma,todos sentem que fazem de facto parte da actividade. As inflexes da fala e as colocaes tonais quando falamostambm damos nfase atravs do tom as variaes

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  • em altura agudo e grave da fala, ou seja, o tom que nsusamos para expressar significados e sentimentos. Asslabas nas quais a voz que fala naturalmente faz eleva-es devem, quando est a cantar, estar em tons maisaltos que nas slabas onde se do as quedas de voz. A frase meldica e as frases faladas quando uma frase defala ou uma linha de um poema so fixadas na msica,s s palavras e slabas acentuadas importantes ao nvelexpressivo que se deve dar nfase atravs de prolon-gao do tom. Para as palavras de importncia secund-ria e slabas no acentuadas devem ser determinadosvalores de tempo mais curtos e, geralmente, num tommais grave. Pode-se dar como exemplo a cano doCoelhinho, existe uma associao meldica em rela-o ao texto quando se canta aos saltos bem altos nasegunda parte da estrofe, onde se nota que a melodiasobe, fica mais aguda, e volta a repousar quando secanta Eu sou um coelhinho dando a sensao de final defrase. Este exemplo tambm se encontra na canoO balo do Joo quando se canta Sobe, sobe pelo ar. A qualidade emocional das canes quase todas crianascom deficincia, motora ou cognitiva, ou so perturba-das emocionalmente ou so emocionalmente imaturas.A cano pode-se tornar numa verdadeira ferra-menta para trabalhar as suas emoes. Cada canotem um contedo emocional que pode dar s crianasque cantam uma grande variedade de canes com mui-tas qualidades emocionais diferentes permitindo-lhes: experimentar alguns aspectos de vida emocional; despertar nas crianas a excitao, a alegria, o prazer, acalma, a meditao, etc.; atravs dos sentimentos serenos que uma canopode dar, a conscincia das crianas pode ser aprofun-dada e estabilizada; tal variedade de experincia emocional vital aumen-tando a responsabilidade do grupo e simultanea-mente nutrindo o desenvolvimento pessoal de cadacriana dentro deste.

    4. papel do professor e do educador doensino especial

    Quando se trabalha a msica trabalha-se com emoes,e para que resulte, o educador no se pode esquecer quea sua entrega ter que ser total. Dever estar bem segurodas actividades que realiza, conhecendo muito bem asmsicas instrumentais e vocais que vai utilizar com ascrianas, de modo a que estas sintam essa mesma segu-rana. Se o educador no domina os conhecimentos tc-nicos musicais, ento dever fazer um trabalho deinvestigao, estudo e adaptao msica que vai esco-lher. Deve comear por procurar msicas simples queconsiga cantar, ou acompanhar com palmas, instrumen-tos simples como por exemplo o tambor, ou tentaradaptar letras a melodias, e aos poucos, com a prtica,este tipo de trabalho ser cada vez mais fcil.Outro aspecto importante a ter em ateno a flexibili-dade que dever ter, pois, por exemplo, uma msica que agradvel para uma criana pode no o ser para outra,assim como uma msica que o educador considere eficazpode no o ser, ou pode no haver interesse por parte dascrianas e o educador dever de imediato alterar a sua acti-vidade. Outro aspecto importante que muitas vezes se caino erro de colocar msica de fundo, na sua maioria msicadita clssica, no entanto esquecemo-nos, mais uma vez,que cada criana tem as suas caractersticas prprias e o que relaxante para uma pode no o ser para outra, assim comouma msica que parece ser eficaz e interessante pode, deum momento para outro tornar-se aborrecida. Alm disso,a msica de fundo uma boa estratgia mas tambm importante que as crianas tenham e sintam momentos desilncio. Deste modo, o educador dever estar atento aossinais das crianas de forma a poder adequar o melhor pos-svel as suas estratgias.

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  • 5. Propostas de actividades

    Tendo em conta o que foi descrito ao longo do artigo,propomos as seguintes actividades de msica instru-

    mental e vocal, as quais, devero ser variadas e flexveis,de acordo com as patologias e problemas existentes nosgrupos de crianas com que se trabalha.

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    MSICA INSTRUMENTAL

    Actividade Descrio Cuidados a ter

    "Msicas Calmas"

    Escuta Livre(introspeco)

    A criana escuta msicas variadas, numa posio confortvel,de modo a fazer a sua prpria interpretao e explorar o seu"eu", os seus sentimentos e afectos.

    Escolher msicas de estilos e andamentos variados, promoverum bom ambiente na sala, por exemplo, apagar a luz para quea criana se concentre na audio.

    Escuta + explorao individual(exteriorizao)

    A criana escuta as msicas e movimenta-se, individualmente, ouno, de acordo com o que sente, exteriorizando os seus afectos.Enquanto escuta, a criana sopra bolas de sabo ou brinca comum balo, com plumas, movimenta-se com um leno, faz umdesenho livre, escolhe um instrumento para acompanhar, etc.

    Se a criana se consegue movimentar, o material dever estardisponvel para que escolha o que mais lhe convm nomomento, importante que haja material possvel de ser utili-zado por todos.

    Escuta + sensao tctil A criana deita-se no cho, numa posio confortvel e aoandamento da msica, o adulto ou outra criana, lentamentepercorre os corpos das crianas com um leno da cabea aosps.

    As crianas devem estar deitadas, espaadas, para que o adultose possa movimentar e chegue a todas as crianas.

    Escuta + Movimento(interaco)

    Jogo do espelho o educador e mais tarde uma criana, rea-liza movimentos que devero ser imitados por todos. Destemodo a criana encontra aqui uma forma de interagir com oadulto ou com outra criana de um modo informal, sem gran-des presses.Dana de Pares: "Espelho" (as crianas so colocadas frente afrente e encostam as palmas das mos uma outra movimen-tando-se ao som da msica).

    O ambiente dever ser calmo e o grupo no dever ser dema-siado grande, numa primeira fase o ideal ser grupos de 6 a 8crianas.

    "Msica Rpida"

    Escuta + Exploraoindividual (exteriorizao)

    A criana escuta as msicas e movimenta-se, individualmente,ou no, de acordo com o que sente (marchar, correr, mexer bra-os, rebolar no cho, etc.).

    Escolher msicas de estilos e andamentos variados, promoverum bom ambiente na sala.

    Escuta + Exploraoindividual(exteriorizao/expresso)

    Enquanto escuta, percute com o prprio corpo (palmas, baterps, bater nas pernas) e/ou toca um instrumento sua escolha,de acordo com o ritmo e/ou pulsao.

    Ter os materiais disponveis para que as crianas escolham oque mais lhes convm no momento.

    Escuta + Movimento(Interaco)

    Dana de pares e danas de roda, atravs das quais as crianasdevem aprender a "trabalhar" em conjunto, promovendo aincluso e acima de tudo a interaco entre as crianas criandonestas a necessidade de comunicar.

    As coreografias devem ser simples, necessrio ter em aten-o as capacidades motoras das crianas com deficinciasassociadas.

  • Consideraes finais

    A expresso musical uma rea bastante rica e multifa-cetada no apoio a crianas com distrbios de comunica-o e linguagem. por isso, importante chamar aateno para o uso desta rea muitas vezes deixada aoacaso e pouco valorizada pelos educadores e professo-

    res, que muitas vezes se cingem s canes que conhe-cem e se defendem com a falta de conhecimentos tc-nicos. Na verdade, com um pouco de investigao eesforo, possvel trabalhar esta rea desenvolvendo ascompetncias destas crianas, no esquecendo, natural-mente as suas caractersticas e capacidades. Por outrolado, procura-se fazer com que estes mesmos professo-

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    MSICA VOCAL

    Actividade Descrio Cuidados a ter

    Respirao Fazer exerccios de expirao e inspirao, a criana, deitada debarriga para cima, dever colocar as mos na barriga e sentir oseu movimento enquanto respira.Soprar bolas de ping-pong de forma a fazer um determinadopercurso.Soprar plumas que esto em cima da palma da mo sem queestas voem (obriga a um maior controle durante a expirao).

    Crianas que tenham dificuldade em realizar uma respirao"apoiada" no diafragma, mesmo estando deitadas, deve-se pres-sionar um pouco essa rea, com as mos ou apertando mais ocinto criana ou ainda colocando pesos (livros, etc.) para quesinta presso enquanto respira.

    Vocalizar A criana emite sons sem significado, variando na intensidade ealtura, a fim de explorar o aparelho fonador e articulatrio deacordo com as suas capacidades (dizer Ah!, Oh!, P!, Zigali,Pugali, etc.).

    A criana no dever forar em demasia a voz.Dever imitar os sons propostos promovendo assim, tambm ainteraco adulto/criana.

    Ritmo das Palavras De acordo com o ritmo natural das palavras bater o ritmo sila-bicamente e a pulsao.

    As palavras devem ser familiares criana abordando diferentestemas do dia a dia, ou trabalhando a letra de uma cano, rimasou lengalengas.

    Melodia das Palavras De acordo com a nfase natural das palavras a criana deveento-las utilizando sons que se adeqem s suas capacidadesvocais.

    As palavras devem ser familiares criana abordando diferentestemas do dia a dia, ou trabalhando a letra de uma cano, rimasou lengalengas.

    Canes Para cantar deve-se seguir as seguintes fases:1. O educador canta toda a cano e observa as reaces dascrianas (se gostaram, se mostraram interesse, se perceberam otexto, etc.).2. Explorao do texto o educador diz o texto de forma livrealterando a voz, intensidade e altura (dramatizando voz"grossa", alto, baixinho, etc.) e as crianas imitam.3. Ritmo o educador diz o texto, primeiro em pequenas par-tes, de acordo com o ritmo da cano e as crianas imitam.4. Melodia o educador canta por partes a cano as quais acriana deve imitar (em grupo e individualmente).5. Cantar toda a cano em grupo e individualmente.6. Mais tarde o educador entoa a melodia da cano e as crian-as devem reconhecer qual a cano.

    O educador dever procurar usar canes temticas (Bons-dias,A Primavera chegou, etc.), canes ldicas (Coelhinho, O balodo Joo, etc.) assim como cancioneiro tradicional.A linguagem verbal dever ser conhecida da criana e deve estarbem colocada na msica, de acordo com as suas flexes e nfasesnaturais.O educador dever ter o cuidado de dar tempo para que todasas crianas consigam cantar e dever observar as reaces espon-tneas que as crianas manifestam, principalmente quando can-tam em grande grupo.

  • res tomem conscincia das muitas actividades que reali-zam, mas que no entanto, no so aplicadas com inten-cionalidade para o apoio a crianas com distrbios decomunicao e linguagem.Outro aspecto, a ser levado em conta, o facto de, mui-tas vezes nos cingirmos comunicao de ideias e dasnecessidades bsicas, havendo uma grande preocupaoem que as crianas articulem e sejam capazes de comu-nicar de forma eficaz. Desta forma, tem-se dado maisateno a estes aspectos fsicos e mais racionais, do quepropriamente comunicao dos seus afectos, do seusentir. A msica , neste caso, um instrumento essencialpara a livre expresso destes ltimos, permitindo que acriana se exprima livremente de acordo com as suascapacidades, independentemente da sua patologia.

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