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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Hítalo Wesley Rosa
NATAÇÃO INFANTIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Diamantina- MG
2019-2
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Hítalo Wesley Rosa
NATAÇÃO INFANTIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Educação Física da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
como parte dos requisitos exigidos para a
conclusão do curso de Bacharelado em Educação
Física.
Orientador: Prof. Geraldo de Jesus Gomes
Diamantina- MG
2019-2
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter chegado até aqui, e também a minha
família minha mãe Maria Aparecida Rosa e minha Irmã que foram meu alicerce e base
para que esse sonho fosse real e não ter me deixado desistir inúmeras vezes que a
vontade bateu a minha porta, em especial agradeço também aos meus grandes amigos
Jéssica Fernanda de Oliveira e Raphael Ferreira Rocha por toda ajuda suporte e
ensinamento, por fim agradeço a minha amiga e professora Cintia Regina ao meu
Orientador Geraldo Gomes, por todo ensinamento durante a graduação, também por me
acompanhar e me proporcionar todo suporte para que esse trabalho se concretizasse e a
conclusão desse tão esperado sonho se tornasse real.
RESUMO
O presente estudo trata-se de um relato de experiência acadêmica ocorrida em uma
academia de ginástica na cidade de Diamantina - MG, onde também eram ministradas aulas
de natação. O relato foi baseado no acompanhamento das atividades realizadas durante o
estágio supervisionado do Curso de Educação Física da UFVJM, na modalidade
bacharelado, que envolvia aulas de natação infantil para crianças na faixa etária de 3 a 6
anos de idade. O objetivo do trabalho foi de relatar à experiência vivenciada de maneira
contextualizada a luz da literatura específica, da faixa etária e da modalidade. Procurou-se
descrever e caracterizar os processos de ensino-aprendizagem experiência durante as aulas
de natação infantil, com destaque para a metodologia aplicada onde se privilegiou a
utilização da ludicidade como centro norteador deste processo. O trabalho procurou
inicialmente realizar uma caracterização das crianças envolvidas sob uma perspectiva do
seu desenvolvimento, abordando aspectos do comportamento psicomotor, cognitivo e
afetivo social, seguindo para uma análise mais específica no contexto da natação infantil,
onde se abordou as relações dos alunos com o ambiente aquático, professores e o processo
de ensino-aprendizagem e finalizando com uma abordagem das metodologias aplicadas
durante as aulas vivenciadas. As atividades desenvolvidas nas aulas acompanhadas foram
em três níveis de aprendizagem adotadas pela academia: bebês (6 meses a 3 anos de idade),
adaptação I (04 anos de idade) e adaptação II (05 e 06 anos de idade). Para a turma de bebês
somente foram analisadas as crianças na faixa etária de 03 anos de idade.
Palavras chaves: Desenvolvimento infantil. Natação infantil. Metodologia de ensino da
natação. Ludicidade e natação.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2.OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 9
2.1.Objetivos Específicos .............................................................................................. 9
3. METODOLOGIA ..................................................................................................... 9
4.QUEM SÃO AS CRIANÇAS DO ESTÁGIO ?! ...................................................... 11
4.1.Desenvolvimento infantil dos 03 aos 06 anos de idade .......................................... 11
4.1.1.Desenvolvimento psicomotor ............................................................................. 11
4.1.2.Desenvolvimento cognitivo ................................................................................ 13
4.1.3.Desenvolvimento afetivo .................................................................................... 15
4.2.Desenvolvimento infantil e natação ....................................................................... 17
5.METODOLOGIA DE ENSINO NA NATAÇÃO INFANTIL. VAMOS BRINCAR!!
................................................................................................................................... 23
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27
7.REFERÊNCIAS....................................................................................................... 28
6
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata-se da contextualização das experiências vivenciadas
durante um estágio supervisionado realizado em aulas de Natação Infantil para crianças
na faixa etária de 3 a 6 anos de idade. O estágio em questão foi requisito obrigatório
para o cumprimento da formação de graduação em Ed. Física na modalidade
Bacharelado.
O início das atividades caracterizou-se por um processo de adaptação e
familiarização com o espaço de realização das aulas e com os profissionais que ali
atuavam, obtendo-se acesso às informações referentes à metodologia de ensino utilizada
e aos materiais pedagógicos. Iniciou-se por um período somente de observação, onde
ocorria um feedback com os professores sobre as aulas ministradas e auxílio nas
montagens dos planos de aula para as próximas seções. Em um segundo momento do
estágio ocorreu a fase de intervenção direta, onde se deu o contato com o ambiente
aquático e com os alunos, sob a supervisão dos profissionais responsáveis.
Considerando que a natação de maneira geral é uma modalidade que reúne
praticantes de todas as faixas etárias, em espaços livres, como praias, rios, lagos e
cachoeiras, ou em espaços privados e públicos nas piscinas de clubes e academias, para
uma boa prática é necessária uma supervisão de profissionais adequados. Desta forma,
ressalta-se a importância da prática da natação para o desenvolvimento humano,
principalmente se tratando de natação infantil, onde o processo metodológico torne esta
prática uma atividade prazerosa para as crianças (LIMA, 2007).
Segundo Corrêa e Massaud (1999) apud Souza (2004), as atividades aquáticas
podem ser a chave para ampliação do repertório motor, assim como dos aspectos
afetivos e cognitivos, aumentando as possibilidades de sociabilidade e autoconfiança.
Queiroz (1998) apud Dias (2007) corrobora com estes autores quando indica que
a aprendizagem da natação, principalmente para crianças, trata-se da formação de
indivíduos e do aperfeiçoamento de seus atributos cognitivos, motores e afetivos.
Desta forma, é importante ressaltar o papel do professor que deve saber explorar
e ter habilidades observacionais que desvendem as relações dos alunos com a prática da
natação como a alegria, o medo, o altruísmo e o prazer, sabendo despertar cada vez mais
interesse dos alunos.
7
Leite (2002) apud Ferreira (2015) relata que tais informações são reconhecidas
pelo professor com ou sem a participação do aluno, devendo ele tomar decisões sobre
conteúdos a ensinar e objetivos a serem trabalhados durante um período.
Para isto, destaca-se a aplicação da ludicidade, caracterizada na prática como o
ato de construir e desenvolver músicas, jogos e brincadeiras, que facilitem o processo
ensino-aprendizagem e desenvolvimento humano da criança praticante de natação
infantil.
Soler (2006) defende que através da ludicidade a criança incorpora e amplia seus
conceitos sobre a concepção de mundo e aprendizado.
De acordo com Bruhns (1993) apud Scharwtz (2005), o lúdico vai além da
diversão e do simples entretenimento, alcançando uma dimensão humana no
relacionamento com o meio.
Assim, a utilização da ludicidade assume um papel importante no processo de
aprendizado e desenvolvimento do indivíduo, principalmente se tratando de crianças em
processo de adaptação e iniciação às aulas de natação, onde acontece alguma resistência
e rejeição por determinadas atividades.
A natação infantil tem sua faixa etária classificada de 03 a 06 anos idade, sendo
estes primeiros cinco anos de vida, essenciais e formativos para o desenvolvimento da
criança (GESSEL, 1992 apud CORRÊA e MASSAUD, 2004).
Desta forma, utilizando-se dos elementos lúdicos de maneira adequada através
de jogos e brincadeiras, histórias e cantigas, o processo ensino aprendizagem- torna-se
mais acessível (KISHIMOTO, 2011).
Fernandes e Lobo da Costa (2006) observaram que quando o ensino da natação
desconsidera aspectos importantes do processo ensino-aprendizagem, como faixa etária,
etapas de desenvolvimento da habilidade do nadar, aspectos físicos e interesses pessoais
dos alunos, torna-se um processo monótono e sem significado para estes.
Sendo assim, o profissional envolvido deve ter destreza e consciência destes
fatos adotando uma metodologia que privilegie a presença da ludicidade em suas aulas
para que as tornem mais acessíveis aos alunos, principalmente as crianças.
Durante o estágio observou-se algumas estratégias aplicadas que se adequam a
estas perspectivas, quando os professores utilizam atividades lúdicas durante as aulas
como a dramatização de histórias, utilização de músicas dentre outras. Notava-se
claramente o despertar de interesse dos alunos para realizarem as atividades e a
expectativa de retornar as próximas aulas.
8
Outro aspecto importante observado durante o estágio, e um dos grandes
obstáculos no ensino da natação, eram os pais dos alunos que não entendiam a
importância de se trabalhar elementos lúdicos nas aulas de natação, não percebendo o
significado deste para o desenvolvimento da criança.
Allen (1999) apud Moisés (2006) corrobora com esta posição citada acima,
relatando em seus estudos que os pais estranharam quando os filhos diziam que tiveram
muita brincadeira durante as aulas.
Benda (1999) apud Moisés (2006) defende que atividades lúdicas como jogos e
brincadeiras devam estar presentes no processo de ensino da natação possibilitando a
ampliação da aprendizagem, principalmente com crianças.
Considerando esta importância da presença de atividades lúdicas, podem-se
notar resultados positivos durante o processo de aprendizagem e evolução do aluno,
quando são aplicadas em aulas bem planejadas. O professor precisa ir de mergulho na
criatividade e fantasia, entrando na piscina e participando de forma ativa de todo o
processo.
Porém, Benda (1999) apud Moisés (2006) ainda considera ser importante a
utilização de outras atividades não lúdicas, promovendo a alternância entre a
metodologia lúdica e a tradicional.
Ainda o mesmo autor destaca que a utilização dos jogos e brincadeiras nas aulas
de natação pode desencadear possibilidades de aprendizado, e devem estar presente em
ambientes de aprendizagem, principalmente com crianças. Este fato desencadeia
grandes influências, destacando o desenvolvimento de importantes aspectos
psicológicos, como autonomia, confiança, disciplina e outros, além de seus benefícios à
saúde.
Desta forma, este trabalho vai procurar demonstrar o mundo da natação infantil
encontrada no ambiente analisado durante o estágio, caracterizando a importância da
natação no desenvolvimento infantil, o emprego de metodologias adequadas a esta faixa
etária, enfatizando o emprego da ludicidade como um papel primordial em todo
processo ensino-aprendizagem.
Trata-se de uma abordagem importante sobre este tema já que a natação infantil
é uma prática bastante procurada nestas faixas etárias, devido aos grandes benefícios
que esta pode promover às crianças, que vão dos aspectos psicomotores aos
psicossociais, tornando-se bastante relevante uma análise crítica de como este processo
ocorre em um contexto real de prática.
9
2.OBJETIVO GERAL
Relatar de maneira contextualizada a experiência de uma atividade de estágio
obrigatório do curso de Educação Física da UFVJM (bacharelado) em aulas de natação
infantil na faixa etária de 03 a 06 anos de idade, em um estabelecimento na cidade de
Diamantina – MG.
2.1. Objetivos Específicos
- Caracterizar os alunos envolvidos nas aulas e estabelecer a relação destes com
os processos de ensino-aprendizagem na natação para a faixa etária estabelecida.
- Caracterizar o processo ensino-aprendizagem na natação infantil com
destaque parra a aplicação de uma metodologia que privilegia a abordagem lúdica nas
atividades.
3. METODOLOGIA
A metodologia para este trabalho baseou-se nas atividades do estágio obrigatório
do curso de bacharelado em Educação Física da UFVJM, em aulas de Natação Infantil,
onde se procurou realizar um relato das experiências vivenciadas durante o processo,
sob a luz da literatura específica da modalidade, abordando aspectos do
desenvolvimento infantil e metodologia de ensino da natação, com ênfase na aplicação
dos aspectos lúdicos no processo ensino-aprendizagem.
As atividades do estágio ocorriam semanalmente com duração de 1 hora e 50
minutos de segunda a sexta-feira, desenvolvidas sob a supervisão dos respectivos
professores responsáveis pelas turmas.
As aulas vivenciadas tratavam-se de diferentes turmas, faixas etárias, nível de
aprendizado e de desenvolvimento dos alunos. A academia adota os seguintes níveis de
aprendizagem com suas respectivas faixas etárias: Bebês - turma classificada para
crianças com faixas etárias entre 06 meses a 03 anos de idade; Adaptação I - para
crianças de 4 anos de idade; e Adaptação II - para crianças de 5 e 6 anos de idade.
Importante ressaltar que apesar da turma de Bebê incluir crianças a partir de 6
meses de idade, somente foram consideradas na análise deste trabalho aquelas com 03
anos de idade.
10
O primeiro contato acadêmico foi um processo de adaptação com o espaço,
professores e materiais utilizados para desenvolver as atividades. Foi desenvolvido
juntamente com os professores um planejamento semestral de estágio onde se detalhou
as atividades durante o período de estágio, contando com um período de familiarização,
observação, participação nas aulas com e sem intervenção, e participação na elaboração
de atividades para serem trabalhadas consecutivamente.
QUADRO 1:
PLANEJAMENTO SEMESTRAL DE ESTÁGIO.
1° semana Familiarização com o local da prática e conhecimento dos aparatos
utilizados durante as aulas.
2° semana Familiarização com os professores das aulas.
3° semana Observação das aulas.
4° semana Observação das aulas.
5° semana Observação das aulas.
6° semana Participação nas aulas sem interferir nas propostas do professor.
7° semana Participação nas aulas sem interferir nas propostas do professor.
8° semana Participação nas aulas sem interferir nas propostas do professor.
9° semana Participação nas aulas sem interferir nas propostas do professor.
10°
semana
Participação nas aulas auxiliando na elaboração das propostas
Metodológicas.
11°
semana
Participação nas aulas auxiliando na elaboração das propostas
Metodológicas.
12°
semana
Participação nas aulas auxiliando na elaboração das propostas
Metodológicas.
13°
semana
Participação nas aulas auxiliando na elaboração das propostas
Metodológicas.
14°
semana
Participação ativa nas aulas auxiliando ao aluno.
15°
semana
Participação ativa nas aulas auxiliando ao aluno.
16°
semana
Feedback sobre os métodos trabalhados durante as aulas.
11
4. QUEM SÃO AS CRIANÇAS DO ESTÁGIO?
4.1. Desenvolvimento infantil dos 03 aos 06 anos de idade
O desenvolvimento infantil é um processo que se inicia quando a criança
começa a adquirir capacidades funcionais, através de fenômenos de maturação,
diferenciação e também a integração de funções.
Vygotsky (1998) apud Rolim et al. (2008), acreditam que o processo de
evolução e desenvolvimento do indivíduo, vai além dos processos biológicos, sendo
também influenciados pelo contexto histórico e social em que está inserido.
A partir da experiência do estágio obrigatório foi possível observar que no
mesmo ambiente, em uma mesma aula, com alunos da mesma faixa etária podemos
lidar com diferentes contextos históricos, sociais, biológicos e diferentes experiências
motoras.
Já Corrêa e Massaud (2008) referenciados por Jean Piaget, caracterizaram o
desenvolvimento infantil em três aspectos: cognitivo, psicomotor e afetivo-social.
4.1.1 Desenvolvimento psicomotor
Gallahue (1982) apud Rodrigues (2003) define o comportamento motor como o
conhecimento das capacidades físicas da criança e sua aplicação na performance de
várias habilidades motoras, de acordo com a idade, sexo e classe social.
O padrão psicomotor para o desenvolvimento infantil de crianças entre três e
seis anos se processa por etapas de evolução.
Com três anos de idade inicia-se esse processo quando a criança desta faixa
etária é capaz de desenvolver atividades motoras básicas melhor que uma criança com
dois anos, como andar, correr, saltar, subir, arremessar, agarrar, chutar e rebater. Os
movimentos são mais uniformes e contínuos, o que propicia a criança conseguir saltar
por distâncias maiores com ambos os pés, com auxílio, e realizar uma série de pulos.
Cerca de 50% destas crianças são classificados como deficientes para subir em
barras, escadas, caixotes, tábuas inclinadas e outros, conseguindo realizar estas tarefas
de maneira mais eficiente, somente em uma idade superior.
O primeiro nível observado durante o estágio foi o nível de bebês, que incluía
crianças de 6 meses a 3 anos de idade, onde foi possível verificar estes comportamentos
das crianças nas atividades propostas pelos professores.
12
Os professores buscavam inovar e desenvolver atividades diferentes a cada aula,
adequando às diversas faixas etárias encontradas nas turmas. Desenvolviam os aspectos
psicomotores dos alunos com atividades, por exemplo, de caminhar/correr sobre
plataformas, realizavam a imersão (mergulho) e pegavam algum objeto no fundo.
Alguns conseguiam realizar a tarefa com mais facilidade, outros nem tanto.
Nesta faixa etária também já conseguem realizar o ato de agarrar objetos, e bolas
com os pés e mãos a partir de movimentos gradualmente sincronizados.
Na faixa etária de quatros anos de idade a criança realiza os mesmos
movimentos de forma mais ordenada e correta desenvolvendo atividades independentes,
tendo melhor controle de suas ações em desenvolver determinados movimentos,
buscando evoluir e desenvolver cada vez mais suas habilidades.
Com cinco anos a criança consegue agir com mais desempenho sobre suas
ações, sendo 80% desses indivíduos capaz de saltar facilmente sobre barreiras e objetos,
subir escadas com ambos os passos alternados e assimilar as atividades com seu dia-a-
dia. (CORRÊA E MASSAUD ,2004)
Nos outros dois níveis de aprendizagem observados no estágio, adaptação I e II
sendo, 04 e 05/06 anos de idade respectivamente, também foi possível verificar estas
características motoras presentes nos alunos.
Estes já possuíam um repertório psicomotor um pouco mais desenvolvido e
algumas das atividades realizadas na etapa anterior, eram bem aceitas e executadas com
menos dificuldade. Manterem-se apoiados em barras, tapetes, macarrões e outros
objetos, eram realizados com mais destreza comparados aos alunos do nível anterior,
além da maior capacidade de explorar estes objetos.
Para Rodrigues (2003) trabalhar experiências com movimentos fundamentais
como andar, correr, saltar, lançar, rolar entre outros, são de suma importância e vão
servir de base para a aquisição de habilidades das etapas seguintes.
Rodrigues (2003) ainda afirma que nos primeiros tempos de vida a criança
explora o mundo que a rodeia com os olhos e as mãos, através das atividades motoras,
com o aperfeiçoamento destas atividades ela se transforma numa criatura livre e
independente.
Foi possível verificar nas aulas em todos os níveis de aprendizagem, que esta
afirmação se faz correta, quando se observou que as crianças ao chegarem a um
ambiente novo, com muita informação a ser processada, tem a capacidade de observar
13
tudo ao seu redor e interagir com este meio através das atividades propostas pelos
professores, tornando-se cada vez mais independente no meio aquático.
4.1.2. Desenvolvimento cognitivo
Determinado como processo cognitivo a arte de percepção de acontecimentos ao
seu redor como a análise e a síntese, é a etapa do desenvolvimento infantil em que os
acontecimentos passam a ser selecionados e interpretados. O indivíduo começa a ter
melhor destreza e funcionamento sobre seus processos de visão e audição.
Neste sentido Myklebust (1971) apud Corrêa a Massaud (2004) ainda pondera
que a imagem é um processo que diferencia a percepção da memória. O processo
cognitivo representa a imagem como principal fator, acreditando que a repetição seja
um exemplo prático. Quanto mais repetições, mais as chances de aperfeiçoamento. A
estimulação de receptores é classificada por três principais registros sensoriais: visão,
audição e tátil quinestésico, capazes de assimilar o que é ou não relevante para você
naquele momento.
Durante as atividades do estágio foi possível verificar que para os três níveis
observados, estas informações acontecem a medida que a criança tem mais facilidade
em desenvolver ou realizar as atividades propostas pelos professores, quando passam a
experimentá-las com mais frequência. Estas atividades procuram estimular todos os
elementos dos sistemas sensoriais citados: visão, quando é trabalhada a questão das
cores, por exemplo; audição, na realização de cantigas e histórias; e tátil na manipulação
e interação com os objetos utilizados nas aulas.
Piaget propôs quatro estágios de desenvolvimento cognitivo: o período sensório-
motor, pré-operacional, operações concretas e formais.
O sensório motor é o primeiro deles, desenvolvido desde o nascimento até a
aquisição da linguagem. Nesta fase a criança progressivamente já começa a ter
experiências de assimilar o mundo ao seu redor com as experiências da visão e audição,
em interação física com objetos através de ações como agarrar, arremessar e chutar.
Em algumas aulas foi possível perceber estas afirmações quando, ao entrarem na
água, a primeira reação das crianças é de curiosidade, jogar água para cima, bater pernas
e braços, pular, mergulhar, agarrar tudo o que vê, pegar os materiais na borda da
piscina, tudo isso como intuito da curiosidade de saber o que é e qual a utilidade
daquele objeto.
14
Nesta fase o desenvolvimento da permanência do objeto é uma das conquistas
mais importantes. Esses acontecimentos vão desde o nascimento até aproximadamente
os dois anos de idade, onde a criança já aprende a manipular os objetos mesmo que não
possam entender a permanência desses, fora do seu alcance ou sentidos. Desta forma, a
fase sensório motor fica caracterizada como a primeira fase onde a criança começa ter
conhecimento e perspectiva dos acontecimentos ao seu redor.
A maior conquista dessa etapa é a criança entender que mesmo não estando em
seu alcance de visão, aquele objeto ou pessoa não deixa de existir, aumentando sua
sensação de segurança. Essa etapa é adquirida no final do estágio e representa a
capacidade de manter uma imagem mental do objeto.
Já na fase seguinte do desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget temos o
segundo estágio: o estágio pré-operacional. Neste estágio foi observado que as crianças
ainda não entendem a lógica concreta e não podem manipular mentalmente as
informações. Desta forma, a utilização do jogo/lúdico torna-se essencial, porém, a
criança ainda não tem total domínio sobre as situações de diferentes pontos, tornando o
jogo apenas simbólico. Suas observações de símbolos exemplificam a ideia de brincar
com a ausência de objetos reais em questão.
O estágio pré-operatório é escasso e logicamente inadequado em relação às
operações mentais. Ele é dividido em dois subestágios: das funções simbólicas e do
pensamento intuitivo.
O subestágio da função simbólica é quando as crianças conseguem entender,
representar, lembrar objetos e imagens em sua mente sem ter o objeto a frente delas. Já
o subestágio do pensamento intuitivo é quando as crianças tendem a propor as perguntas
de por que e como chegar lá.
Para Rodrigues (2003) a criança de três a seis anos se organiza em novas
funções mentais, e já apresenta significativo processo intelectual e memória mais
apurada. Suas perguntas são mais sérias e com o intento de obter informação. Nessa fase
a criança mostra grande riqueza de imaginação e gosta de alimentar sonhos e histórias.
No estágio estes fatores puderam ser vivenciados quando os professores
utilizavam o conto de histórias com personagens de sereias, princesas e super-heróis,
despertando grande interesse e motivação dos alunos que realizavam as atividades com
mais interesse.
15
O terceiro estágio de operações concretas ocorre de sete a onze anos,
caracterizado pelo uso da lógica onde o pensamento de uma criança começa a ser mais
desenvolvido e maduro “como um adulto”.
O quarto estágio ou estágio final do desenvolvimento cognitivo proposto por
Piaget é denominado como operacional formal. Caracterizado após os 12 anos
(adolescência e fase adulta), onde nesta etapa o indivíduo é capaz de raciocinar e
interpretar determinadas informações.
4.1.3. Desenvolvimento afetivo
Para Rodrigues (2003) o desenvolvimento sócio afetivo está relacionado aos
sentimentos e as emoções, implicando numa pauta de interesse, solidariedade,
cooperação, motivação, respeito, entre outros.
Durante a evolução do indivíduo no contexto histórico e social no qual está
inserido, ele se sujeita a vários conceitos que podem afetar adversidades que existem
emocionalmente nos seres humanos, gerando momentos de frustrações, tristezas,
angústias, autodepreciação, entre outros. Mas, também gera sentimentos como amor,
satisfação, prazer e boa autoestima que fazem parte do ser humano em sua
complexidade. Sabe-se que as crianças possuem certa facilidade de absorção dessas
emoções e isso pode interferir em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
Nessa faixa etária entre 3 e 6 anos sabemos que as crianças começam a
desenvolver aspectos sócios afetivos e demonstrar situações como amor, carinho, raiva,
frustração, medo entre outros. É nesta etapa onde começam a ter uma percepção mais
específica sobre o que está ao seu redor onde começam a desenvolver suas emoções, e
também questionar sobre o porquê de determinadas funções que estão sendo atribuídas a
eles.
Corrêa e Massaud (2004) relatam que neste período pré-escolar onde o contato
com outros indivíduos aumenta, é onde eles começam comparar o realismo moral
característico, com o relativismo moral, reunido a um igualitarismo progressivo e uma
crescente capacidade de avaliar os atos independentemente da autoridade adulta.
Durante a observação do estágio foi possível verificar que por alguns fatos e
acontecimentos externos, algumas crianças podem chegar às aulas com comportamentos
rebeldes, não aceitando os comandos do professor, e não participando das aulas, e em
algumas vezes até solicitam para sair da aula, mas em outras apenas continuam com
16
suas atitudes. Assim, o professor tenta dialogar e trazer o aluno novamente para o
ambiente e participação das aulas.
Para a criança da primeira infância a necessidade de ser aceita constitui uma
segurança emocional que determinará os acontecimentos posteriormente em sua
conduta de evolução (RODRIGUES, 2003).
Outro fato observado foram os aspectos competitivos durante as aulas em
determinas atividades. As crianças buscam se superar ou fazer mais que os colegas em
alguns tipos de atividades como nas imersões, onde buscam ir mais fundo e pegar mais
objetos que o outro. Isto pode ser um fator benéfico para o desenvolvimento das aulas,
onde os alunos têm algo e alguém para se superar gerando um maior nível de motivação
e maiores chances de aprendizagem.
Corrêa e Massaud (2004) corroboram com estes comportamentos quando
afirmam que nessa idade as crianças se dedicam a melhorar a si mesmas e as suas
próprias capacidades, com importantes componentes competitivos, dos quais tentam sair
com o menor dano possível, evitando sentimentos de inferioridade e incompetência.
Para Almeida (1999) apud Pina (2003), no desenvolvimento infantil, a família,
os amigos, a escola e todos os outros que estão envolvidos no processo de socialização,
têm papel importante no desenvolvimento afetivo social da criança.
Nesta etapa do desenvolvimento cada criança pode se comportar de uma
maneira, de tal forma demonstrando: medo, angústia, felicidade, raiva, satisfação entre
outros.
Com base nas informações expostas anteriormente pelos autores, conhecemos as
características das etapas do desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo-social das
crianças na faixa etária dos 03 aos 06 anos de idade. Estas informações são bastante
relevantes ao passo que devam ser a base concreta para elaboração das aulas de natação
infantil, ao passo que se considera a criança como o centro dentro do processo ensino-
aprendizagem. Com o conhecimento destas informações pode-se adequar de maneira
eficaz os conteúdos das atividades propostas para as aulas das crianças nesta faixa
etária, atendendo assim as características nos três aspectos: cognitivo, psicomotor e
afetivo-social.
17
4.2. Desenvolvimento infantil e natação
Sabemos que a natação pode auxiliar no desenvolvimento global da criança, ou
seja, desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo. É nesta fase que o professor precisa
integrar a criança com suas especificidades e a água (CORRÊA e MASSAUD, 2004).
Como visto anteriormente, existem características motoras, cognitivas e afetivas
que são inerente a toda criança de acordo com seu desenvolvimento.
No estágio realizado foi possível observar como estas características das etapas
de desenvolvimento da criança estão presentes nas atividades das aulas.
Inicialmente pode-se verificar que as turmas são divididas respeitando este
processo de desenvolvimento, tendo os seus conteúdos específicos de acordo com cada
faixa etária, divididos em níveis de aprendizagem.
As categorias abaixo são atividades desenvolvidas respectivamente em cada
nível de aprendizado, tal metodologia é de caráter próprio da academia onde foram
desenvolvidas as atividades de estágio.
Bebê (6 meses a 3 anos):
- Ambientação / Adaptação ao meio aquático;
- Equilíbrio no tapete / plataforma;
- Sustentação na barra;
- Descolamento com auxílios;
- Balanço e execução de movimentos com estímulos musicais;
- Flutuação em decúbito dorsal;
- Respiração (borbulhas);
- Imersão;
- Coordenação motora global com iniciação a coordenação motora fina;
- Interação com o professor.
Adaptação I (4 anos):
- Adaptação ao meio líquido;
- Habilidade de sobrevivência;
- Controle da respiração;
- Equilíbrio no tapete e plataforma, sustentação na barra com deslocamentos;
- Flutuação em decúbito dorsal;
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- Saltos rudimentares, mergulhos e imersões com auxílios;
- Deslocamentos curtos;
- Movimentos Rudimentares de braços e pernas;
- Coordenação motora global e fina.
Adaptação II (5 e 6 anos):
- Adaptação ao meio líquido;
- Habilidade de sobrevivência;
- Controle da respiração com imersão;
- Equilíbrio no tapete, plataforma e materiais;
- Flutuação em decúbito dorsal e ventral;
- Mergulhos e imersões com deslocamentos;
- Deslocamentos variados;
- Movimentos rudimentares de braços e pernas;
- Saltos e giros;
- Coordenação motora global e fina
Nota-se, que de acordo com os conteúdos propostos para cada nível de
aprendizagem, o processo de desenvolvimento infantil está sendo levado em conta e se
fazem presentes para a elaboração das aulas, principalmente no que tange os aspectos do
desenvolvimento motor.
Nas aulas de bebês que incluem as crianças de até três anos de idade, o foco
concentra-se na ambientação e adaptação ao meio líquido que é processo inicial e
essencial no processo ensino-aprendizagem da natação. Fazer com que a criança se sinta
acolhida e que aquele ambiente se torne o mais agradável para as aulas despertando
cada vez mais o interesse e até que ela sinta-se a vontade em realizar as aulas somente
com o professor.
Corrêa e Massaud (2004) corroboram neste sentido quando afirmam que a
criança durante o período de adaptação irá apresentar sintomas de desinteresse,
insegurança, ansiedade e medo. Sendo assim, o educador deve estar atento a
determinadas tarefas que poderão ser mais complexas para o aluno tornando seu
processo de adaptação ainda mais difícil.
As atividades continuam através dos deslocamentos, sendo eles curtos ou
longos, com ou sem auxílio estando presente em todas as aulas, através de jogos/
ludicidade que estimulem as crianças em sempre superar o dia anterior. Todos os tipos
19
de deslocamento são importantes, sejam longos ou curtos, com e sem auxílio, de frente
ou de costas (CORRÊA e MASSAUD, 2004).
Nas aulas observadas estes deslocamentos eram desenvolvidos com auxílio de
equipamentos como as pranchas e macarrões, que propiciavam maior segurança para
execução das atividades.
Já no processo de flutuação, sabemos que algumas crianças possuem facilidades
e habilidades que outras crianças não possuem, sendo este comportamento
individualizado.
A habilidade de flutuar pode influenciar no sucesso de aprendizagem de
determinadas atividades, mas o professor deve tornar esse processo o mais prazeroso
possível para o aluno (CORRÊA e MASSAUD, 2004).
Este aspecto da flutuação foi um elemento constantemente trabalhado em todos
os três níveis observados, principalmente por questões de segurança, sendo
desenvolvida principalmente a flutuação ventral e dorsal, (estrelinha do mar e estrelinha
do céu). Pôde ser observado que destas atividades, a flutuação dorsal, era aquela em que
os alunos possuíam maior dificuldade na execução, onde a posição corporal e o contato
das orelhas com a água, trazia um desconforto e tornavam o processo mais difícil.
No primeiro contato do indivíduo com meio aquático a etapa de exercícios
respiratórios e imersão pode ser o mais frustrante, podendo ser associada a algum
trauma anterior do aluno com água ou simplesmente por medo, tornando mais difícil o
processo de adaptação do aluno. Neste sentido, é importante o educador ter consciência
de tornar esse processo o mais acessível para o aluno.
O processo respiratório na natação é diferente daquele realizado fora do meio
aquático, já que inspiramos pela boca e não pelo nariz, e nessa faixa de idade devemos
ilustrar de forma bem nítida esse fato através de repetidas atividades para que a criança
assimile melhor este mecanismo (CORRÊA e MASSAUD, 2004).
Este processo era desenvolvido nas aulas observadas de uma maneira bastante
prazerosa através da ludicidade. O professor buscava explorar o que o aluno gosta de
fazer ou até mesmo outras experiência prévias em outros ambientes como a escola.
Atividades como assoprar uma velinha de aniversário imaginária, ou estimular a
lembrança de quando a mãe vai limpar o nariz. Todas estas estratégias envolvendo
aspectos lúdicos tornavam as atividades a ser realizadas de forma prazerosa pelos
alunos.
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Normalmente algumas crianças já submergem o rosto na água por curiosidade
ou por imitação. Essa experiência é muito gratificante para elas, devido ao fato de
estarem vencendo um desafio. Esta atitude deve ser sempre premiada, por exemplo,
com caricias e aplausos (CORRÊA e MASSAUD, 2004). Lembrando que esse processo
pode variar de indivíduo para indivíduo.
Nas aulas observadas, para alguns, este processo de colocar o rosto na água era
bastante complicado. Neste ponto entrava a habilidade do professor em utilizar
estratégias em forma de desafios para estimular a imersão e visão subaquática dos
alunos, como a contagem do número de dedos mostrados dentro d’água. “... vamos
contar quantos dedinhos à tia (o) esconde embaixo d’água?!...”.
Ainda no aspecto da imersão, foi possível observar que o salto para dentro da
piscina pode ser algo desafiador para algumas crianças, sendo que para outras nem
tanto.
Corrêa e Massaud (2004) corroboram com este aspecto quando afirmam que no
início, as atividades de salto devem ser realizadas da borda com a criança sendo
conduzida pelo professor até a água, e colocada no colo. Fazendo assim com que a
criança adquira confiança até conseguir realizar esse processo sozinha. O professor
também pode utilizar como estímulo para o salto, o método de arremesso de objetos.
Durante as aulas é perceptível a evolução e dificuldades dos alunos, assim o
professor deve possuir uma visão sobre esses aspectos e tornar cada vez mais prazeroso
o interesse e participação dos alunos nas aulas de natação.
Levando em consideração que a natação é um processo de aprendizagem
contínuo, o nível de bebês pode ser considerado uma preparação da criança para a
próxima etapa denominada como adaptação I.
Neste nível de aprendizagem da natação existe uma continuidade das aulas de
bebês envolvendo processos semelhantes nas atividades de adaptação ao meio líquido,
porém, com um pouco mais de complexidade e aumento de algumas técnicas dos
nados/habilidades de sobrevivência. Nestas atividades a criança aprende a manter-se
sozinha e sem perigo dentro da piscina, seja fazendo uma estrela do céu/mar (flutuação
dorsal/ventral), fazendo o nado cachorrinho ( flutuando com movimentos alternados e
rudimentares de braços/pernas) ou o canguru até chegar a um local seguro para se
apoiar.
Nos níveis de adaptação I e II vivenciados, estas habilidades eram bem
desenvolvidas pela maioria dos alunos, e às vezes até de uso espontâneo durante as
21
aulas. Em alguns momentos até perguntavam:“... posso fazer um canguru?...” isto
tornava o processo de desenvolvimento dessas habilidades ainda mais acessível e
prazeroso.
Outro item muito importante para esse nível de aprendizagem é o controle da
respiração juntamente com a imersão, podendo ser realizados exercícios educativos até
mesmo em casa embaixo do chuveiro para que na hora da aula não haja tanta
dificuldade.
Para Corrêa e Massaud (2004) o primeiro passo deve ser molhar a cabeça de
forma gradativamente e em seguida a imersão, de forma que seja prazerosa e não
transmita medo e insegurança ao aluno. Se ainda nesse processo tiver dificuldade por
parte do aluno, o professor deve utilizar como estímulo, molhar sua própria cabeça para
que a criança o imite.
Durante as atividades observadas ouvi relatos dos responsáveis pelos alunos que
a dificuldade em molhar o rosto existe até mesmo em casa na hora do banho. Desta
forma, para maior acesso e realização dessas atividades os professores utilizavam de
jogos, brincadeiras, cantigas, materiais como regadores, permitindo que os alunos
molhem a si mesmo e ao professor. Sempre que este fato acontece é considerado um
avanço e deve sempre ser reconhecido e recompensado, mas sempre atento ao limite do
aluno para não causar nenhuma experiência negativa.
Dando ênfase também nos aspectos de coordenação motora global e início da
coordenação motora fina, realiza-se neste nível exercícios que estimulem equilíbrio,
dinâmico e estático, com e sem material, além de atividades que estimulem raciocínio,
escrita, encaixe de molduras e outros.
Em contato com os materiais utilizados nas aulas, evidenciou-se que existem
alguns materiais mais específicos que facilitam esse processo como ábacos, pranchas
com figuras geométricas, argolinhas entre outros. Os professores estimulavam bastante
os alunos através de atividades que exploravam bem estes materiais, facilitando o
processo de aprendizagem.
Nesse nível de aprendizado também já podemos dar início aos movimentos
rudimentares de braços e pernas, com deslocamentos curtos e mais longos com auxílio
de flutuadores. Para essa etapa de aprendizado os jogos são de grande importância para
estímulos de deslocamentos e movimentação de braços e pernas (CORRÊA e
MASSAUD, 2004).
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Nas aulas do estágio estas atividades eram desenvolvidas com uso de
flutuadores e utilizavam jogos e cantigas, tornando-as mais aceitas pelos alunos, de
modo que podiam explorar intensamente suas habilidades. Em alguns momentos, após
realizarem as atividades propostas, foi vivenciado que os alunos pediam aos professores
para que os deixassem dançar, cantar livremente. Como exposto anteriormente,
reconhecer e recompensar os avanços dos alunos é importante para o processo de
desenvolvimento, e estes momentos estimulam realização das próximas atividades com
mais aceitação pelos alunos.
Também podemos destacar um aspecto de grande importância para o
desenvolvimento da criança que é a interação com o professor. Este pode ser um
processo complicado de se desenvolver inicialmente, devendo acontecer gradativamente
começando da borda da piscina.
Segundo Corrêa e Massaud (2004) esta relação pode ser exemplificada no
processo de entrada na piscina pelos alunos. O professor deve conseguir chamar a
atenção da criança com objetos que o atraiam até a borda da piscina, ganhando a
confiança do aluno. Posteriormente o professor deve construir maneiras de atrair a
criança para dentro da piscina, como exemplo, inserindo objeto em cima do tapete
fazendo com que ela se sinta estimulada a ficar dentro a água.
Após esses processos podemos utilizar jogos e brincadeiras para que estimulem
os alunos a entrarem e sair da piscina sozinha, até que adquiram confiança. Exemplos
deste tipo de atividade vivenciado no estágio foram jogos como morto/vivo: morto
(dentro da piscina) e vivo (fora da piscina); torre de materiais fora da piscina; jogo da
velha; saltos da borda dentro de círculos; atravessar ponte de tapetes; escorregador de
tapetes; formar palavras/nomes no tapete fora da piscina; encher o pote de água
apertando espuma, entre outras.
O próximo nível de aprendizagem, observado durante o estágio, foi o nível de
adaptação II onde ainda existem algumas dificuldades no processo ensino-
aprendizagem, mas na maior parte das vezes os alunos já estão adaptados ao ambiente
aquático. As aulas dão continuidade aos níveis anteriores aumentando um pouco a
complexidade das atividades para que estimulem os alunos a superar seus limites. Os
estímulos de movimentação de braços característicos dos nados também passam a
integrar as atividades deste nível, sendo desenvolvidos primeiramente o nado crawl e o
costas, por serem movimentos semelhantes um do outro.
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Para Corrêa e Massaud (2004) o trabalho de aprendizado dos 4 nados é
equivalente ao que muitos chamam de adaptação. Porém, a diferença é que neste
trabalho não nos preocupamos somente com o fato da sobrevivência no meio aquático,
mas também em prepará-los para atividades globais aquáticas onde o mesmo tenha um
desenvolvimento mais completo sobre suas habilidades. Importante ressaltar que nesta
etapa a utilização de jogos ainda se faz presente para adaptação dos alunos.
Nas atividades observadas para aprendizagem de movimentos rudimentares de
braços e pernas dos nados crawl e costas, quando existiam dificuldades por parte dos
alunos, também surgiam à rejeição por estas, com o desânimo, e desinteresse pelas
aulas. Deste modo, logo o professor percebia que deveria optar por aulas mais
dinâmicas e com atividades que fossem de menos complexidade, como por exemplo,
substituindo os equipamentos auxiliares utilizados na atividade. Desta forma, os alunos
conseguiam se adaptar melhor, não se sentindo inferiorizados por não conseguirem
realizar as tarefas propostas, tornando as aulas mais prazerosas para os alunos.
5. METODOLOGIA DE ENSINO NA NATAÇÃO INFANTIL. VAMOS
BRINCAR!!
Para Brougere (1998) apud Souza et al. (2011), torna-se necessário enfatizar que
o lúdico alcança objetivos, mas não se presta a atingir um objetivo em específico a
priori e sim, é possível com sua inserção alcançar aprendizagens essenciais com sua
vivência, sem contudo possuir finalidade imediata.
Assim, conseguimos compreender que o lúdico é de grande importância no
processo de desenvolvimento e aprendizagem, não somente no meio aquático e com
crianças, mas de maneira geral. Através do lúdico conseguimos nos conectar com
nossas maiores dificuldades e fazer com que essas dificuldades se desenvolvam de
forma produtiva.
Durante as atividades observadas isso foi possível de vivenciar nitidamente
onde, através do lúdico, crianças com dificuldade de interação, coordenação,
desenvolvimento psicomotor, social e afetivo, desenvolvia mas atividades de maneira
eficiente.
Algumas crianças possuem dificuldade com o processo de adaptação ao meio
líquido, e com algumas atividades de caráter lúdico propostas durante as aulas, este
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processo era facilitado. Neste sentido, a ludicidade vem como um meio de intervenção e
quebra dessas dificuldades.
De acordo com Freire (2004) apud Tahara (2007), as propostas se direcionam
especificamente para a possibilidade do trabalho com as brincadeiras em meio líquido
como um espaço para manifestação do lúdico, ou seja, uma forma de expressão artística
que permita o encontro entre professor e aluno, num processo que antecede o ato de
nadar, mas que facilita sua ambientação em meio líquido.
Nas brincadeiras, ao estabelecer vínculos sociais com seus semelhantes, a
criança descobre sua personalidade, aprende a viver em sociedade e se prepara para as
funções que assumirá na idade adulta (CORRÊA e MASSAUD, 2004). Com isso, a
ludicidade é utilizada como forma de interferência pedagógica, que facilita o processo
de aprendizagem e aumenta o interesse das crianças por atividades com objetivos pré-
estabelecidos.
Cacilda (2013) afirma que crianças são a expressão da autêntica ação do
movimento livre e despojado de simbologia, já que o mundo infantil vive o imaginário
como uma aprendizagem de ser “gente grande”.
Assim, pode-se compreender que a aplicação da ludicidade no meio aquático,
pode ser uma ponte de acesso as dificuldades dos alunos e facilitador do processo de
aprendizado.
Elas aprendem brincando, imitando e fantasiando situações, portanto, cabem aos
profissionais respeitarem suas limitações e utilizarem jogos e brincadeiras como
estratégia de aprendizagem.
Foi observado durante o processo de estágio que as aulas contam com turmas
variadas em questões físicas, biológicas e sociais. Em uma única turma o professor
atende alunos de diferentes contextos históricos, sociais e diferentes faixas etárias.
Desta forma, os professores utilizavam uma metodologia própria com o objetivo
de integrar todas essas especificidades em uma mesma aula, adotando como mediador
do processo de ensino-aprendizagem a ludicidade, favorecendo o aprendizado de cada
aluno.
Segundo Queiroz (1998) apud Corrêa e Massaud (2004), as aulas de natação no
seu aspecto lúdico, estão mais voltadas para orientar e facilitar a capacidade de explorar
o meio aquático, dando condições à criança de desenvolver a possibilidade de
conhecimento e uso do próprio corpo com certa autonomia e harmonia. Portanto, a
natação a partir de um contexto lúdico, objetiva o desenvolvimento das aptidões físicas,
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cognitivas e afetivas sociais da criança, com o uso de jogos e brincadeiras que
possibilitam a vivência de diferentes experiências através do prazer que o brincar
proporciona.
Foram observadas durante as atividades realizadas que, quando as crianças
demonstravam dificuldade em realizar algum exercício, logo os professores associavam
atividades lúdicas com o que estava sendo trabalhado, facilitando o processo de
aprendizagem e obtendo maior aceitação.
Sabendo que trabalhar com crianças é um desafio, principalmente pelo fato de
serem turmas heterogêneas, todo dia pode ser um desafio e ou oportunidade para um
novo aprendizado e conhecimento.
Nesse período etário as crianças começam a demonstrar interesse por alguns
objetos. Neste momento, o professor deve captar essa informação e utilizar a seu favor e
ir além de sua imaginação para conseguir se conectar com o aluno e tornar cada vez
mais prazerosa a aula. Um simples flutuador (macarrão), por exemplo, pode se
transformar em uma moto, barco, bicicleta, cavalo e outros.
Durante o período de estágio das turmas de bebês e adaptação I observou-se
algumas crianças com dificuldade em adaptação com alguns materiais como a
pranchinha por exemplo. Por ser um material pequeno e leve as crianças levam em
consideração que vão afundar, assim, o professor usa como método deitar-se sobre o
material, subir em cima para surfar, mostrando que o material não vai afundar. Mesmo
assim, ainda se torna um processo um pouco complicado, e o professor toma iniciativa
usando a seguinte frase: “quem quer dar uma volta de barco?”, e os alunos ficam todos
animados e se entregam ao material ganhando confiança no professor.
Segundo Velasco (1996) apud Souza (2004), durante o desenvolvimento das
atividades lúdicas, tudo pode divertir, ser divertido, transformar-se em brinquedo e
brincadeira.
Para a imersão, que ainda é um obstáculo, existem crianças que chegam com
todo aquele entusiasmo e também aquelas que possuem maiores dificuldades, assim, os
professores utilizavam muito de cantigas para estimular as crianças a executarem a
respiração, até que façam uma imersão completa, contando também com auxílio de
materiais que afundam.
Apesar do uso da ludicidade (brincadeira) nas aulas como instrumento
metodológico, foi observado que ainda existem alguns obstáculos para sua utilização
efetiva. Porém, notou-se que quando é proposto aulas com aspectos lúdicos, a tendência
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da aula ser mais prazerosa e render mais conhecimentos e aprendizagens aos alunos, são
ainda maiores, devido ao despertar do interesse das crianças.
Le Boulch (1992) apud Corrêa e Massaud (2004), corroboram neste sentido, que
a natação em seu aspecto recreativo para crianças de três a seis anos, está baseado em
uma infinidade de ofertas e experiências. Com a utilização de cantigas, brincadeiras, e
jogos, o interesse dos alunos em participar das aulas se torna cada vez maior, e o acesso
a interação entre professor e outros alunos se torna cada vez mais acessível.
Para Velasco (1996) apud Souza (2004), tudo pode significar a busca de novas
descobertas e ou a troca de experiências no convívio com outras crianças.
Foi possível verificar que durante as aulas observadas, quando alguma nova
criança chegava à turma, e esta já possui alguma outra conhecida, seja da escola ou de
algum outro lugar, o interesse em fazer a aula era ainda maior, transmitindo maior
confiança para aquele que está iniciando.
Levando em consideração a motivação, Corrêa e Massaud (1999) apud Souza
(2004), ressaltam que para a criança um dos principais objetivos para conseguir um bom
desenvolvimento, é o gosto pela prática através de ações lúdicas e prazerosas sem muita
complexidade nas atividades. Destacam ainda, que o principal fator que vai despertar
essa motivação dos alunos é o prazer de estarem na água e descobrirem as boas
sensações que ela os proporciona.
Uma constatação muito importante no aspecto metodológico das aulas que pôde
ser verificado durante o estágio, relaciona-se ao professor conseguir entrar no mundo da
criança e descobrir o que o aflige, incomoda, provoca medo. Isto é essencial e deve-se
buscar contornar estes fatos de alguma forma, tornando-os algo prazeroso.
Também é importante descobrir o que o aluno gosta, ter a participação dos pais
em algumas aulas, mesmo que fora da piscina, permitir que o aluno traga um brinquedo
favorito, buscar saber seus desenhos e super-heróis preferidos, suas cores prediletas,
entre outros.
Dar autonomia aos alunos também é um fator relevante, de modo que eles
possam ser agentes ativos no processo ensino-aprendizagem permitindo, por exemplo,
que possam escolher o material a ser utilizado em uma atividade, ou até mesmo dizer
que naquele momento ele será o professor e vai escolher as atividades da aula. Todos
esses pequenos processos trazem maior prazer em participar das aulas, e fazem total
diferença no processo de adaptação e aprendizagem do aluno.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização deste trabalho, pode-se constatar que a prática da natação é
uma modalidade de grande importância para o desenvolvimento infantil, sendo ela
caracterizada pelas etapas e evolução dos alunos.
Com a análise dos aspectos abordados foi possível observar as características
dos alunos de cada faixa etária envolvida, do ponto de vista do desenvolvimento
psicomotor, cognitivo e afetivo social, através do ensino da natação.
Outro ponto importante a ressaltar, trata-se da presença da ludicidade nas aulas
de natação como facilitador do processo ensino-aprendizado, considerando as
características de cada indivíduo. A utilização desta metodologia com componentes
lúdicos nas atividades é de suma importância para o desenvolvimento da criança durante
as aulas. São perceptíveis tanto as dificuldades como também a evolução dos alunos,
devendo o professor possuir uma visão sobre estes aspectos e tornar cada vez mais
prazerosa e estimulante a participação dos alunos nas aulas de natação, através da
aplicação da ludicidade como princípio básico em suas atividades.
Após a realização das atividades do estágio supervisionado obrigatório ficou
nítido a sua importância para a compreensão dos inúmeros benefícios proporcionados
pela prática da natação. Ressalta-se ainda, que este seja fundamental e indispensável a
formação do acadêmico pois, proporciona vivências práticas fundamentais para a
evolução profissional e pessoal, possibilitando o desenvolvimento de técnicas de
expressão, aprofundamento de conhecimentos específicos e principalmente
possibilitando uma experiência profissional em um contexto real de prática.
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