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Estágio das pesquisas 4

Desafios e perspectivas 5

A pesquisa está avançando 7

Vacinas para HIV-positivos 8

Notícias breves 9

Diretrizes éticas 16

História das vacinas 20

Fiocruz faz cem anos 22

Instituto Butantan 23

Plano Nacional de Vacinas 24

Entrevista 25

Imunologia 28

Genes e proteínas 30

Índice

Ilustrações: Joaquim Torres-García,Catálogo da 22ª Bienal Internacional de São Paulo

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E ste novo número do Boletimde Vacinas Anti-HIV/Aids é

EM BUSCADE UMA VACINA EFICAZ

particularmente ambicioso. Aomesmo tempo em que são regis-trados avanços consideráveis naspesquisas, ganhando forças os ar-gumentos animadores favoráveisàs vacinas, deparamo-nos cominúmeros desafios.

O Brasil tem um Novo PlanoNacional de Vacinas Anti-HIV. Asconferências científicas trazemnovas perspectivas. A estrutura dovírus HIV é cada vez mais conhe-cida. Diferentes conceitos promis-sores são incorporados nas inves-tigações. Os países ricos anunci-am investimentos importantes naspesquisas. O EUA apontam o anode 2007 como o horizonte limitepara a descoberta de uma vacina.

Mas, concretamente, o núme-ro de vacinas em teste, seja paraprevenir ou tratar a Aids, ainda épequeno. E apenas uma vacina(preventiva) está sendo testada emlarga escala em seres humanos nomundo, sendo pessimista a avalia-ção prévia quanto à sua possíveleficácia. Assim, teremos ainda queesperar alguns anos até que umavacina demonstre efeito contra oHIV. Depois, mais algum tempoaté que ela chegue ao mercado.

Diante deste cenário, sem res-postas definitivas em curtíssimoprazo, a presente publicação en-frenta um outro desafio. Consti-tui um grande esforço para o lei-tor comum – e até para os edito-

res , que também são leigos –acompanhar o estágio atual de co-nhecimentos sobre pesquisas devacinas.

Mas é nesta dificuldade que re-side uma solução estratégica. O dis-curso leigo torna-se legítimo e trans-formador justamente no momentoem que se apropria de informaçõese saberes antes restritos a ambien-tes técnicos e científicos. Criamos,desta forma, condições de funda-mentar as nossas reivindicações, re-forçar o ativismo e apressar osurgimento de uma vacina.

Façamos um paralelo com osmedicamentos hoje disponíveispara tratar a Aids. Foi preciso en-tender o que era CD4, carga viral,protease, transcriptase reversa,análogo de nucleosídeo e tantosoutros “enigmas” para fundamen-tar nossas ações de ativismo, nos-so diálogo com a indústria, cien-tistas e governos, o que tanto temse traduzido em conquistas.

A exemplo dos tratamentos, oBrasil desponta no cenário mun-dial pelo seu envolvimento naquestão de vacinas. Não somente

pelo engajamento comunitário,pela produção e difusão de infor-mações cientificamente funda-mentadas, pelas pesquisas, mastambém devido aos compromis-sos governamentais, esboçadosno Plano Nacional de Vacinas doMinistério da Saúde, recém divul-gado. Mas tem sido no campo daética que temos dado as mais sig-nificativas contribuições.

Nesta edição o leitor poderáconferir não só a participação doBrasil, mas os avanços das pesqui-sas de vacinas no mundo, os obs-táculos e perspectivas, através deanálises de especialistas, artigos,notícias e cobertura dos últimosencontros científicos.

Trazemos ainda matéria espe-cial sobre os aspectos éticos dosestudos com seres humanos, ame-açados por possíveis mudançasem diretrizes internacionais; maisum capítulo da história das vaci-nas contra outras doenças, alémde uma entrevista que abordaativismo e esperança.

Que todos tenham uma exce-lente leitura.

EDITORIAL

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VACINASCONTRA A AIDS

Os cientistas enfrentam diversos desafios ao planejar e desenvolver efetivas e seguras vacinas contra a Aids, ao mesmo

tempo em que o progresso recente alcançado pelas pesquisas neste campo abre novos caminhos, trazendo esperançasquanto ao controle da epidemia. Conheça alguns destes desafios e argumentos animadores em defesa das vacinas.

Levando-se em consideração otempo em que existe a pandemiada Aids, pode-se garantir que éinsuficiente o número de vacinasem fase de pesquisa, seja paraprevenir ou tratar a doença. Istoporque, depois de mais de 15anos de estudos, apenas uma va-cina está entrando em Fase III,que é o teste de eficácia em lar-ga escala em seres humanos. Esó um outro tipo de vacina aca-bou de passar para ensaios emFase II. Igualmente séria é a fal-ta de candidatas aos ensaios emfase I, período necessário para aprodução de qualquer medica-mento.

A maioria dos estudos para odesenvolvimento de vacinas uti-lizam partes específicas do víruspara ativar as defesas imuno-lógicas do organismo. Uma vezque o sistema imunológico temaprendido a reconhecer tais com-ponentes do HIV, o que se espe-ra é que seja possível “armar”uma defesa vigorosa quando ovírus real estiver em cena. A se-guir, trazemos um sumário sobrediferentes conceitos incorpora-dos nas atuais investigações so-bre vacinas contra a Aids:

VacinasrecombinantessubunitáriasÉ introduzida no organismo

uma porção (subunidade) inofen-siva de uma proteína do HIV.

Esta é a base da Aidsvax, a primei-ra vacina cuja eficácia está sendotestada em humanos e produzidaa partir da porção externa do HIV(envelope) da proteína chamadagp120. Trata-se de um principiosemelhante ao utilizado na vacinacontra a hepatite B.

Vacinas departículas viraisA utilização assemelha-se

àquela da vacina de subunidades.Mas apresenta partículas de dife-rentes tamanhos. Vacinas geradaspelo conceito de vírus como par-tícula são substâncias complexas,formadas por diversas proteínasmodificadas do vírus, para “imi-tar” partículas do HIV. Em con-traste, peptídeos sintéticos são pe-quenas porções de proteínas deHIV, escolhidas especificamentepara focalizar as respostas imuno-lógicas nas regiões mais importan-tes das produções virais. Ambas asestratégias prometem estimularrespostas imunológicas e oferecervantagens adicionais, no sentido defornecer muitos alvos para o siste-ma imunológico reconhecer oHIV.

Vacinas com ovírus atenuadoVêm sendo usadas global-

mente contra muitas doençasvirais como pólio (vacina Sabin)e sarampo. A técnica consiste emenfraquecer o vírus vivo, impe-

dindo-o de causar as doenças,mas mantendo a sua capacidadede infectar células e replicá-lasdentro do organismo. Depois deresponder ao vírus enfraquecido,o sistema imunológico é potencial-mente preparado para protegercontra futuras infecções das diver-sas linhagens patogênicas. Vacinascom o vírus atenuado SIV vêmconferindo a mais consistente e efe-tiva proteção em macacos contraeste vírus. Mas, neste caso, existea possibilidade de a vacina se tor-nar patogênica, ou seja, causarAids. A insegurança dessa aborda-gem é o principal problema.

Vacinas de vetoresrecombinantes vivosSão criadas através de enge-

nharia genética. Teoricamente,proporcionam vantagens sobreas vacinas de vírus atenuados,principalmente com relação à se-gurança. A vacina baseada emvetores usando canarypox, ino-fensivo para humanos, deve serprovavelmente a próxima vacinacontra o HIV testada em sereshumanos em fase III. Diversasoutras vacinas baseadas emvetores estão atualmente em de-senvolvimento, incluindo vetoresvirais contra o vírus da encefaliteeqüina venezuelana (VEE) e ví-rus adeno-associado, como tam-bém vetores bacterianos, porexemplo salmonela e shigella(que causam diarréia).

ESTÁGIO DAS PESQUISAS

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DESAFIOSÉ necessário um entendimentomais claro sobre quais respostasimunitárias são necessárias paraconferir proteção contra o HIVem seres humanos. O fato de nin-guém ainda ter se curado da Aidstorna complicada a tarefa doscientistas de identificar os meca-nismos de ação do vírus – e assubstâncias capazes de eliminá-lo– e determinar os indicadores deproteção contra a infecção. Den-tre as dificuldades está o fato denão existir um modelo animal ide-al para a realização de testes parafuturas candidatas a vacina.PERSPECTIVASRecentes estudos realizados comtrabalhadores africanos que se ex-puseram ao HIV e resistiram à in-fecção geraram importantes idéiassobre os mecanismos que o orga-nismo utiliza para manter a imuni-

dade. E mais: diversas substâncias– incluindo a vacina mais efetivapara a prevenção da “tosse com-prida” durante a infância – vêmsendo desenvolvidas sem o conhe-cimento preciso ou correlatos paraimunidade. Outras, contra o sa-rampo, caxumba e rubéola, porexemplo, alcançaram sucesso, ape-sar dos modelos animais serem ain-da indisponíveis ou estarem longedo ideal. Ensaios de vacinas con-tra o SIV (vírus da imunodeficiênciasímia) em macacos estão trazendoaos estudiosos informações precio-sas a respeito dos mecanismosimunológicos do corpo.

DESAFIOSO HIV possui múltiplos cami-nhos e formas de transmissão.É transmitido sexualmente, porvia intravenosa ou da mãe para

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Vacinas DNATambém conhecidas como

“DNA nu” ou “ácido nucleico”,estas vacinas usam os verdadei-ros genes do HIV. Uma vez in-troduzido na pele ou no múscu-lo, o material genético alia-se àscélulas do organismo, que passama produzir proteínas de HIV. Osistema imunológico pode, então,“montar” respostas contra as pro-

teínas do vírus. Vários produtosexperimentais utilizando estanova tecnologia contra outrasdoenças têm demonstrado suces-so em proteção, como algumasvacinas experimentais para a pre-venção de SIV em macacos. Noinício de 2000, a Merck preten-dia iniciar o primeiro ensaio devacinas de DNA contra o vírusda Aids.

Combinação de vacinasAliam várias substâncias já

mencionadas. Neste caso, os cien-tistas baseiam-se na premissa deque a proteção contra o HIV re-quer amplo espectro de respostasimunológicas. Uma vacina destetipo em fase II, combina a subs-tância canarypox (da vacina devetores) e a gp 120, proteína reti-rada da superfície externa do HIV.

o feto, e pode infectar ainda quenão seja identificado no orga-nismo. Por exemplo, um ho-mem cujo sangue contém car-ga viral indetectável pode car-regar células infectadas no sê-men e transmitir a infecção.Também está entre os compli-cadores a constatação de queuma vacina efetiva requerestimulação de todos os maio-res mecanismos humanos derespostas imunitárias, incluindohumoral (respostas de anti-corpos); celular (células citotó-xicas e células T auxiliares) elocal (respostas imunológicasnas mucosas).PERSPECTIVASExistem hoje instrumentospara planejar vacinas que esti-mulem um amplo espectro de

DESAFIOS E PERSPECTIVAS

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respostas imunitárias, compreen-dendo a imunidade humoral,celular e nas mucosas. Em ma-cacos, a vacinação contra o ví-rus da imunodeficiência símiavem demonstrando certa eficá-cia contra células infectadas einfecção sistêmica. O efeito pro-tetor se mantém ainda que a in-fecção aconteça meses depois daadministração da vacina. Outroargumento: cientistas conse-guem resultados positivos atra-vés da vacinação contra a hepa-tite B que, tal qual o HIV, é trans-mitido por múltiplos caminhos.

DESAFIOSO HIV possui vários subtipospelo mundo. E mesmo os subtiposindividuais sofrem mutação rapi-damente.PERSPECTIVASJá são produzidas vacinas capazesde imunizar contra outros agentespatogênicos em que variações ex-

tensivas ocorrem, como pneumo-coccus, influenza e pólio. Reaçõescruzadas de anticorpos e respostascelulares imunitárias para o HIVtambém vêm sendo identificadas,gerando, assim, candidatas à vaci-nas anti-Aids.

DESAFIOSO HIV se incorpora ao própriomaterial genético, dentro doqual são “guardadas” as chavesreguladoras do sistema imu-nitário, e rapidamente estabe-lece reservatórios de vírus, quepodem manter-se por anos.PERSPECTIVASPesquisadores já encontraramvacinas contra outros agentesde ação lenta, como o vírus daleucemia felina e da anemiaequina infecciosa. Vírus comoo do sarampo, também causa-dor de imunossupressão, é con-trolado por vacinas duranteanos após infecção.

Fonte: IAVI (Iniciativa Internacional por uma Vacina contra a Aids). Home page: www. iavi.org

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A pesquisa de vacinas contra aAids tem vivido retrocessos eavanços. Há quinze anos predo-minava um otimismo ignorante.Acreditava-se que uma vacinacompletamente segura e eficazestava ao alcance das mãos, gra-ças às tecnologias novas de DNA.

Porém, logo a extensão da va-riedade de antígenos produzidospelo HIV começou a ser conside-rada e temida. A facilidade comque o HIV cultivado em labora-tório foi inativado através deanticorpos não foi reproduzida naspessoas infectadas. A promessa deproteínas recombinantes tambémnão se materializou. A balançapesou para o outro lado, e teve iní-cio profunda depressão. Essa fasefoi aliviada quando uma vacina dotipo Salk (com partículas de vírusinativado) foi testada em macacos,há dez anos. Em meados dos anos80 a probabilidade de se obter umavacina foi ridicularizada. Isso porcausa do potencial de infecção re-sidual nos preparados de vacina ea suposição de que os antígenosrecombinantes eram tão bonsquanto os antígenos do vírus parasuscitar respostas protetoras do sis-tema imunitário.

Porém, quando foram imuni-zados macacos com SIV (o simi-lar do HIV em macacos) inati-vado e depois desafiados com ovírus homólogo, eles foram com-pletamente protegidos. Mas, infe-lizmente, havia uma falha nestas

experiências que levou mais deum ano para ser resolvida.

Nem tudo estava perdido, por-que estes achados iniciaram umalinha de pesquisa interessante(embora sem êxitos até o momen-to) na qual foram exploradosantígenos celulares como imunó-genos de vacinas potenciais.

Em seguida, veio outro balan-ço positivo: a possibilidade deusar vírus vivo atenuado (tipoSabin, a vacina contra a pólio)como vacina. Só no último ano osplanos para testar tais vacinas emhumanos foram abandonados,quando foi percebido que os ví-rus atenuados, embora pudessemproteger contra o estabelecimen-to subseqüente de vírus de desa-fio mais virulento, também erampatogênicos, ou seja, tinha possi-bilidade, mesmo que pequena, decausar a Aids.

Durante os últimos anos, aciência testemunhou uma série desucessos secundários e fracassosem experiências com modelosanimais. Mas os sucessos erammuito frágeis. Assim, nós come-çamos a considerar a atenuação

da doença e a redução da freqüên-cia da transmissão como resulta-dos de vacinas realistas e desejá-veis. Finalmente, começaram emhumanos pesquisas de fase IIIsem um raciocínio baseado emdados, mas na convicção de queeram necessários dados de ensai-os clínicos. Quer dizer, nunca sa-beríamos se a vacina funciona, anão ser que um ensaio de eficáciafosse realizado.

Nós temos agora ensaios de va-cinas em curso. Mas ninguém real-mente acredita que funcionarão.Não temos nenhuma estratégia cla-ramente vencedora em curso. Ape-sar destes fatos, devemos ser maisotimistas do que em qualquer ou-tro momento no passado recente.

Mais de 40 vacinas candidatasforam avaliadas em mais de 3000sujeitos. Também nós estamosaprendendo finalmente comocriar e inserir antígenos para in-duzir respostas imunitárias poten-tes. Nós não sabemos o quanto asrecentes abordagens serão efetivaspara suscitar a imunidade prote-tora, mas a ciência tem registradomuitos avanços neste sentido.

A PESQUISAESTÁ AVANÇANDO

JAMES I. MULLINSOPINIÃO

Edição e adaptação a partir de texto de James I. Mullins, relato da 7ª Conferência de Retrovirus e InfecçõesOportunistas, em São Francisco, EUA, fevereiro de 2000. Publicado originalmente pela revista Medscape.

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É crescente o interesse por testesde vacinas terapêuticas anti-HIV,para indivíduos já infectados, quevem somar-se às pesquisas de dro-gas cada vez mais potentes.

Os pesquisadores passaram aestudar vacinas candidatas comoimunoterapias, a partir da evidên-cia de que respostas imunitárias ce-lulares específicas ao HIV podemajudar no controle da infecção.

Estudos em animais sugeremque algumas vacinas geram res-postas significativas de célulasCD8, o que é muito importanteem vacinas terapêuticas.

“A partir disso, podem surgirargumentos teóricos excelentesque apontem para o funcionamen-to de vacinas”, disse o imuno-logista de Oxford, Andrew Mc-Michael durante a Conferência. Aequipe de McMichael, com apoioda IAVI, desenvolveu vacinas deDNA do HIV, que podem passarpara ensaios de Fase I em voluntá-rios HIV-negativos. Também pla-neja testá-las como imunoterapiasem pessoas infectadas.

A vantagem das pesquisas comvacinas terapêuticas é que os cien-tistas ficam sabendo rapidamentese elas são eficazes no controle doHIV. Uma alternativa seria admi-nistrá-las juntamente com as dro-gas anti-HIV. Depois, a terapia se-ria suspensa e os pacientes moni-torados quanto ao nível de HIV.Essa hipótese foi estudada emmacacos por Genoveffa Franchini,

do Instituto Nacional do Câncerdos EUA, mas ainda não há con-clusões.

Outra novidade em vacinas te-rapêuticas foi apresentada porMarty Markowitz, do Centro dePesquisa de Aids Aaron Diamond(Adarc). Markowitz mostrou quedois pacientes recentemente infec–tados que foram tratados com o“coquetel” e uma vacina cana-rypox (ALVAC vCP1452) pare-ciam controlar o HIV quando a te-rapia foi suspensa. “Nenhuma con-clusão pode ser feita a partir dedois pacientes”, diz David Ho, che-fe do Adarc. Mas a meta em estu-dos futuros, de acordo com Ho, “éperceber se, usando imunoterapia,podemos afastar as pessoas dasdrogas”.

As vacinas terapêuticas para oHIV teriam um mercado lucrati-vo nos países desenvolvidos. Osfabricantes certamente colocariamaltos preços nas vacinas, estiman-do a economia gerada, uma vezque os pacientes sairiam da tera-pia anti-HIV, que é cara e prolon-gada. Além disso, o tratamento alongo prazo com drogas anti-HIVpode causar efeitos adversos sig-

nificativos em alguns pacientes,geralmente ligados a desordensmetabólicas. Também os pacien-tes de países em desenvolvimen-to podem se beneficiar de um tra-tamento mais barato, com menorquantidade de drogas, se combi-nado com uma vacina anti-HIV.

As indústrias claramente “fare-jam” as oportunidades e algumasjá estão realizando análise de cus-tos e de mercado potencial, o quenunca foi feito em relação às vaci-nas preventivas.

A utilidade das vacinas terapêu-ticas ainda precisa ser demonstra-da. Poucos estudos em humanostiveram início e nenhum benefícioclaro foi demonstrado. Os pesqui-sadores pensam em testar as vaci-nas preventivas nas pessoas jáinfectadas, para ver se funcionam.

Essa é uma idéia que o pesqui-sador Jonas Salk levantou anosatrás. Mas naquele momento nãoexistiam drogas poderosas quereduziam drasticamente a cargaviral. Também não havia perspec-tiva de vacinas que estimulassemuma boa resposta imunitária ce-lular. Hoje, o cenário é bem maisanimador.

DAVID GOLD

VACINASPARA HIV-POSITIVOS

David Gold é editor do Boletim da IAVI (Iniciativa Internacional por uma Vacina contra a Aids). Edição de texto produzido

após a Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, em São Francisco, EUA, fevereiro de 2000.

ATUALIZAÇÃO

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BANCOMUNDIALO Banco Mundial divulgou docu-mento sobre vacinas anti-Aids,após ter consultado os países ricosque integram o G-7, além deTailândia, África do Sul, Índia eBrasil. A Força Tarefa, criada peloBanco para vacinas contra a Aids,ressalta no texto que uma vacina éindispensável para o futuro da hu-manidade e que em muitos paísesa Aids ameaça o desenvolvimentolocal. Dentre as recomendações aoBanco, que incentivam o esforçocoletivo internacional, destacamos:

1. Permitir que os países emdesenvolvimento possam ser me-lhores parceiros no desenvolvi-mento de vacinas anti-Aids, atra-vés de diálogos e empréstimos fi-nanceiros;

2. Expandir a imunização in-fantil nos países em desenvolvi-mento, com objetivo de reforçaro mercado e a infraestrutura paraas vacinas já existentes;

3. Gerar novos conhecimen-tos sobre a demanda potencialpública e privada para uma vaci-na anti-Aids nos países em desen-volvimento e seu uso estratégicoem programas de prevenção deAids;

4. Adotar novos mecanismospara assegurar o financiamentoadequado de uma vacina anti-Aidsem países em desenvolvimento,que possam servir como uma ga-rantia de um mercado futuro.

SEGURANÇANACIONALO Governo dos EUA conside-ra a Aids uma ameaça para a se-gurança nacional, capaz de der-rubar governos de outros países,provocar conflitos étnicos e aca-bar com anos de esforços paraconsolidar a democracia no ex-terior, informou recentemente ojornal Washington Post. O Con-selho de Segurança Nacionalnorte-americano, que até agoranão havia se envolvido na lutacontra a pandemia, está reali-zando uma reavaliação da polí-tica do Governo frente à doen-ça, revela o jornal. Um grupode trabalho da Casa Branca foiencarregado de estudar osmeios para fortalecer as medi-das internacionais para lutarcontra a doença, incluindo o in-vestimento em pesquisa de va-cinas contra a Aids. A decisãoé preocupante, tendo em vistaa recente história da AméricaLatina, marcada por ditadurase atrocidades realizadas emnome da Segurança Nacionalenquanto doutrina.

REMUNEO Instituto Nacional de Saúdedos Estados Unidos vai iniciarum amplo teste com a vacina ex-perimental Remune contra o ví-rus HIV, segundo o fabricante

Immune Response Corp. informouem um comunicado oficial. A va-cina será ministrada junto com ocoquetel padrão de drogas contraa Aids.

A Remune é uma das chama-das vacinas terapêuticas que vi-sam estimular o sistema imuno-lógico para destruir as célulasinfectadas pelo HIV. O teste, pa-trocinado pelos órgãos públicosde saúde americanos, tem por ob-jetivo determinar se ela pode serusada em combinação com as te-rapias padrão, reforçando os me-dicamentos que reduzem os níveisdo vírus na corrente sanguínea.

Os testes clínicos serão feitoscom 472 pessoas e as primeirasanálises serão iniciadas 48 sema-nas (quase um ano) depois. Ha-verá um grupo de controle ao qualnão será ministrada a vacina.

VÍRUS DA RAIVACientistas da UniversidadeThomas Jefferson, na Filadélfia,desenvolveram uma vacina con-tra a Aids à base do vírus causa-dor da raiva. A vacina, testadaem ratos de laboratório, conse-guiu ativar o sistema imuno-lógico das cobaias, fazendo comque elas fabriquem anticorpospara combater o HIV. A pesqui-sa foi publicada na revista daAcademia Nacional de Ciênciasdos Estados Unidos.

A seguir, algumas notícias relevantes que tem impacto direto ou indireto nas pesquisas de vacinas. As informaçõesforam apresentadas na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunista, em fevereiro de 2000 nos EUA. Tambémusamos como fonte o IAVI Report, boletim do IAVI (Iniciativa Internacional por uma Vacina contra a Aids), além deagências de notícias e grande imprensa.

NOTÍCIASBREVES

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ser isolada: é preciso trabalhar tam-bém na educação, com os grupos derisco e promover mudanças de com-portamento como o uso da camisi-nha”, completou o presidente daSociedade Internacional de DoençasInfecciosas, Eduardo Gotuzzo.

PREVISÃOPARA 2007De acordo com o pesquisadorJohn Lambert, do Instituto deVirologia Humana da Univer-sidade de Maryland (EUA) econsultor do laboratório GlaxoWellcome, em Londres, o de-senvolvimento de uma vacinacontra a Aids não deverá acon-tecer antes de 2007. SegundoLambert, o Brasil deverá ser umdos países onde serão testadasas vacinas em fase de desenvol-vimento por diferentes laborató-rios no mundo. No início desteano, médicos canadenses iden-tificaram o primeiro caso dereinfecção de um paciente soro-positivo por um segundo tipo devírus HIV. A confirmação dessaantiga suspeita dos especialistasé tida como dificuldade para odesenvolvimento de uma vacinacontra a Aids. O paciente, soro–positivo desde 1989, foi reinfec-tado em 1997 após fazer sexocom outro paciente do Hospitalde Ottawa, no Canadá. (Ver pá-gina13: “Superinfecção”)

Ao usar o vírus da raiva en-fraquecido, os pesquisadoresafastaram o risco de infecção porvacinas anti-Aids que usam oHIV vivo. Para “enganar” o or-ganismo e fazê-lo fabricar anti-corpos contra o vírus da Aids,eles injetaram no vírus da raivaum gene de uma das proteínasintegrantes do HIV, a gp-160.

“O vírus da raiva foi o veí-culo encontrado para que a gp-160 se manifeste e ganhe aten-ção do sistema imune”, disseRoger Pomerantz, chefe da Di-visão de Doenças Infecciosas ediretor do Departamento deVirologia Humana da Univer-sidade Thomas Jefferson.

A equipe de Roger inocu-lou o vírus modificado por en-genharia genética num grupode ratos, dos quais quase 100%responderam ao ataque. Segun-do o infectologista, o sistemaimunológico das cobaias foicapaz de reconhecer a proteí-na adicionada ao vírus da rai-va e começou a produzir anti-corpos e linfócitos, que destru-íram as células infectadas.

Durante os testes, no entan-to, os pesquisadores tiveram deinjetar nos ratos uma outra pro-teína do HIV, a gp-120, parareativar as defesas do organis-mo e conseguir que ele conti-nuasse liberando os anticorpos.

Para o bioquímico MathiasSchnell, que também coorde-nou o estudo, a vacina é pro-missora, mas não definitiva, eirá passar por novos testes naUniversidade da Califórnia.

PESSIMISMOApesar de as expectativas da opi-nião pública se centrarem na possi-bilidade de desenvolvimento deuma vacina contra a Aids, especia-listas de todo o mundo confirma-ram no 9° Congresso Internacionalde Doenças Infecciosas, que ocor-reu recentemente em Buenos Aires,que tão cedo ela não estará dispo-nível, embora diversas pesquisas arespeito estejam em andamento.

“Estamos empenhados na bus-ca de uma vacina, mas, do pontode vista mais otimista, faltam unsquatro ou cinco anos para que elasdemonstrem efeito e muitos outrospara que cheguem ao mercado”,explicou King Holmes, diretor doCentro de Aids e Doenças Sexual-mente Transmissíveis, as DST, daUniversidade de Washington.Holmes advertiu sobre o perigo dasDST, consideradas “a porta para aentrada do vírus”, e a importânciade um diagnóstico rápido e de umtratamento adequado para sífilis,gonorréia, herpes genital e clamídia.

“Diagnosticar e tratar essas doen-ças é o básico, mas para reduzir aepidemia de Aids a ação não pode

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GENE VARIANTEPesquisadores estudaram deter-minados genes relacionados aosistema imunológico dos porta-dores do vírus HIV que não de-senvolveram a Aids, comparan-do com genes de soropositivosque apresentam uma evoluçãoclássica da doença (multiplica-ção do vírus e queda no númerode células CD4). Com isso, des-cobriram que um dos genes, ba-tizado de HLA e responsávelpela produção de uma proteínaque permite ao vírus entrar nascélulas, pode aparecer sob umaforma diferente, batizada deHLA B*5701. Notou-se que 85%dos 13 pacientes estudados pos-suíam a variante HLA B*5701,para apenas 9,5% de um grupode 200 soropositivos com umaevolução normal da doença. Issosugere, destacam os autores doestudo, que se algumas pessoasnão desenvolvem a Aids, apesarde serem soropositivas e não re-ceberem tratamento, é porquetêm propriedades genéticas par-ticulares e não porque foram ifectadas por um vírus enfraque-cido.

EUROPA E JAPÃOA União Européia e Japão que-rem coordenar uma grandeação mundial contra doençascomo a Aids, a tuberculose e a

malária. A próxima reunião decúpula do G8 (os sete paísesmais industrializados e Rússia),que deve acontecer na ilha ja-ponesa de Okinawa no final dejulho, será possivelmente o pal-co de um compromisso dosgrandes países para combateras piores doenças que afligema humanidade. O esforço con-junto para se descobrir umavacina contra a Aids estará napauta das discussões.

VACINA ORALO infectologista Robert Gallo,um dos descobridores do víruscausador da Aids, anunciou emmaio que uma nova vacina oral epreventiva contra a doença devecomeçar a ser testada em Uganda,dentro de um ano e meio. A vaci-na, desenvolvida pelo Instituto deVirologia Humana, fundado edirigido por ele, deve custar en-tre US$ 0,05 e US$ 0,10 a dose.Há cerca de 40 vacinas anti-Aidsem fase de testes, mas nenhumacom previsão de custo tão baixo.A nova tecnologia usa a salmo-nela como uma espécie de míssilteleguiado, capaz de transportarum pedaço de material genéticodo HIV, o vírus da Aids. A vaci-na é baseada na pesquisa deAndrew McMichael e seus cole-gas da Universidade de Oxford,na Grã-Bretanha. McMichael

identificou um grupo de prosti-tutas do Quênia, aparentementeimunes à Aids. Ele descobriu, en-tão, que os organismos delasapresentavam uma forte reaçãoimunológica detonada por célu-las chamadas de linfócitos-Tcitotóxicos (CTLs). A vacina, de-senvolvida pelo pesquisador bri-tânico, usa um pedaço do mate-rial genético do revestimento ex-terno do vírus e mais uma sériede “minigenes” destinados a es-timular a produção de CTLs.Toda a pesquisa está sendo finan-ciada pelo International AidsVaccine Iniciative (IAVI). A sal-monela foi escolhida para ser o“transportador” da vacina porcausa de sua afinidade com amucosa intestinal. O DNA dasalmonela é modificado para nãoser infeccioso e nela são introdu-zidos o material genético do HIVe os minigenes. Administradaspor via oral, as bactérias da vaci-na vão se alojar nos intestinos.Dentro das células intestinais, abactéria é morta e seu materialgenético infecta a célula hospe-deira, que será, então, identi-ficada e morta pelos fagócitos, cé-lulas do sistema imunológico.

A expectativa é que, assim,seja estimulada a produção deCTLs. O organismo deve desen-volver a chamada imunidade damucosa. É através das mucosas –o tecido que reveste boca, vaginae sistema digestivo – que o HIV

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viral, até 50.000 cópias/ml. Es-ses resultados são muito rele-vantes para as estratégias devacinas. Sugerem que as vaci-nas que diminuem a cargaviral sem prevenir a infecçãopodem estar relacionadas coma transmissão. Também foi ob-servado que as pessoas maisvelhas transmitiam o HIV me-nos freqüentemente. Uma dasconclusões foi de que os casaismais jovens, com altas cargasvirais, estão em maior risco.Num total de 100 casais discor-dantes, 35 infecções por anointegram essa população. Oshomens circuncisados (que ti-veram o prepúcio removido, apele que assegura a glande dopênis, hábito comum entre osjudeus) foram levemente me-nos infectados e menos infec-tantes (ou seja, infectaram me-nos outras pessoas). Quanto àstaxas de transmissão de mu-lher para homem, se compa-radas às de homem para mu-lher, não apresentaram dife-rença significativa dentro deum mesmo nível de cargaviral.

Este estudo provocou dis-cussões acaloradas sobre aspec-tos éticos. Os maiores benefi-ciados são as pessoas que po-dem controlar sua carga viral.Por exemplo, as que têm aces-

entra no organismo. Se as célulasimunológicas forem ativadas, coma vacina o organismo terá maio-res chances de combater o HIVquando a ele for exposto sexual-mente. “Não é uma resposta defi-nitiva para a Aids, mas é um pas-so importante”, afirmou Gallo. Aidéia do instituto é ceder a paten-te da vacina a um grande labora-tório, na condição de que ela sejaproduzida a um preço acessívelpara governos de países pobres.

A África subsaariana concen-tra hoje 70% dos casos de Aids detodo o mundo e em alguns paísesa incidência alcança os 25% dapopulação.

Fonte: Agência Estado

CORRELATOSDE IMUNIDADEQuais fatores determinam seuma pessoa com HIV transmi-tirá o vírus através de relaçõesheterossexuais? Tom Quinn, daUniversidade Johns Hopkins,apresentou um estudo com 415casais sorodiscordantes (um ésoropositivo e outro sorone-gativo para o HIV), em Rakai,Uganda. Os pesquisadores nãoregistraram transmissão daspessoas com carga viral inferiora 1.500 cópias/ml. No entanto,a probabilidade de transmissãoaumentava 2,45 vezes a cadaaumento de 10 vezes na carga

so a anti-retrovirais, geralmen-te nos países desenvolvidos. Noentanto, os voluntários africa-nos não tiveram acesso a essamedicação. Teria sido realizadoestudo idêntico em países de-senvolvidos?

COMPORTAMENTODE RISCOPesquisadores do CDC, dos EUA,apresentaram resultados de umaenquete com populações potenci-almente expostas ao risco de in-fecção pelo HIV. Foram avaliadasas práticas de risco e o nível depreocupação quanto a uma possí-vel infecção. Participaram do es-tudo cerca de 300 indivíduos dealto risco; um terço de gays mas-culinos (HSH); um terço de usuá-rios de drogas injetáveis (UDI) eum terço de heterossexuais recru-tados de clínicas de DSTs. Aotodo, 31 % disseram que tinhampoucas preocupações sobre a in-fecção (variando de 25% a 41%,sendo número inferior para HSHe superior para UDI). Enquantoisso, 17% informaram um relaxa-mento na prevenção (de 13% a25% relataram comportamento derisco, mais alto em hispânicos eafro-americanos).

Os pesquisadores tambémnotaram que o interesse em par-ticipar de ensaios de vacinas anti-HIV foi semelhante nos três gru-

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pos. As razões mais citadas paraparticipar foram os benefícios pes-soais e a contribuição no controleda epidemia de Aids. As preocu-pações mais citadas foram os po-tenciais efeitos colaterais da vaci-na, medo de contrair o HIV apartir da vacina e a estigmatizaçãosocial pela participação no ensaio.O risco, segundo eles, seria com-pensado pela futura disponibilida-de de uma vacina para sua comu-nidade. Também acreditavam es-tar recebendo informações con-fiáveis e precisas sobre o ensaio eo produto a ser testado.

REFORÇODe acordo com Dr. Gary Nabel,diretor do Centro dos InstitutosNacionais de Saúde recente-mente (NIH), dos Estados Uni-dos, em breve será estabelecidoo centro de vacinas do órgão,que contribuirá para acelerar apesquisa de uma vacina anti-HIV. Qualquer conhecimentoconquistado neste programa ex-pandido de vacina anti-HIV se-ria aplicado, provavelmente, nodesenvolvimento de vacinascontra outros patôgenos huma-nos, de origem viral, bacteriana,e parasitária. Em curto prazo oCentro de Pesquisa de Vacinasplaneja reunir entre dez a 12cientistas sêniors, além de pes-soal de laboratório.

CANDIDATAPesquisadores norte-americanosapresentaram dados de estudos deFase I com a vacina gag-pol. Osvoluntários foram imunizados comdiferentes doses da vacina ouplacebo (substância inócua). De-pois de quatro imunizações, ne-nhum dos 31 voluntários mostrouuma resposta específica de CTLpara HIV, mas alguns voluntáriosmostraram uma resposta específi-ca de células T auxiliares para oHIV. Outros voluntários estão re-cebendo agora reforços com aALVAC vCP205 com o vírus davaríola dos canários. Este é o pri-meiro estudo de vacinas combina-das que enfoca a resposta celular.Ao todo, 18 pacientes receberamuma imunização adicional de va-cina de DNA e dois reforços deALVAC. Foram observadas res-postas específicas para o gag em8% dos pacientes antes do uso daALVAC e 40% depois do uso. Ape-sar disto, a resposta foi baixa edesapontadora. Estudos futurosincluirão a dose mais alta de DNA(3mg) e o ALVAC vCP1452.

SUPERINFECÇÃOUma notícia preocupante: foiconfirmado nos Estados Uni-dos um caso de indivíduo HIV-positivo assintomático duranteoito anos, que tornou-se “su-perinfectado” com uma segun-

da cepa (outro tipo de HIV),adquirida em recente relaçãosexual desprotegida. Este acha-do indica que as respostasimunitárias geradas pela infec-ção com HIV, pelo menos nes-te indivíduo, foram ineficazespara bloquear uma infecçãonova. Isso é inquietante, poisum dos conceitos de vacinaanti-HIV, a que utiliza o vírusvivo atenuado (enfraquecido),busca justamente imitar a res-posta que ocorre no organismodas pessoas que têm o vírus hámuito tempo e permanecemassintomáticas, não desenvol-vendo a doença. Antes já havi-am sido identificados pacientesduplamente infectados. Este éo primeiro relato que demons-tra que a segunda infecçãopode acontecer bem depois dainfecção inicial. Os dados apre-sentados são preliminares. (Verpágina 10: “Previsão para 2007”)

PROFISSIONAISDO SEXOPesquisadores da Universidade deNairóbi, no Quênia, descreveramuma população de mulheres pro-fissionais do sexo que, apesar daintensa exposição ao HIV, tinhampermanecido soronegativas pormuitos anos e eram consideradasresistentes à infecção. Foram regis-tradas seis soroconversões neste

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objetivos”, expressa Lita Niel-sen, diretora dos escritório detecnologia de licenciamentodo Instituto de Tecnologia deMassachusetts (MIT) e princi-pal assessor da IAVI em ques-tões de propriedade intele-ctual. A maior experiênciapara o desenvolvimento devacinas é das companhias comfins lucrativos.

O IAVI e seus parceirostentaram criar uma situaçãomutuamente vantajosa paraatrair a experiência do setorprivado, assegurar que o de-senvolvimento avance rápidoe que as questões relativas aoacesso sejam consideradaslogo de início.

“Hoje as vacinas são desen-volvidas no mundo industriali-zado e vendidas exclusivamen-te por preços altos, durante 10,15 anos. Isso para recuperarcustos de pesquisa e desenvol-vimento. Esta não é uma situa-ção aceitável para vacina algu-ma, tampouco para a Aids”acrescenta Seth Berkley, daIAVI. “Nosso alvo é lançarsimultâneamente uma vacinade sucesso no Norte e no Sul.”A IAVI tem buscado em seusacordos, os direitos de PI paraproduzir vacinas para paísesem desenvolvimento. Além dis-to, poderia receber os royalties

grupo desde 1996, todas entremulheres que reduziram o núme-ro de clientes ou pararam de tra-balhar por dois meses ou mais. Ostestes revelaram que as infecçõesocorreram, apesar da presença deCTLs específicos para o HIV (poraté 15-18 meses antes da infecção).A cepa não era um mutante quepudesse evadir estes CTLs. Estesachados sugerem que a exposiçãocontínua ao antígeno é necessáriapara manter a imunidade nas mu-lheres “resistentes”. As conse-quências para a pesquisa de vaci-nas ainda não estão claras.

PROPRIEDADEINTELECTUALAo lançar suas duas primei-

ras parcerias para desenvolvi-mento de vacinas, a IAVI (Ini-ciativa Internacional por umaVacina contra a Aids) realizouacordos de propriedade intelec-tual (PI) e de transferência detecnologia que ajudarão a tor-nar acessível a preços razoáveisuma vacina eficaz em países emdesenvolvimento. Como con-trapartida, o investimento daIAVI aumentará o valor da PIdos seus parceiros, sem inter-ferir nos seus mercados mais lu-crativos. “Estamos combinan-do os melhores mecanismosdos setores com e sem fins lu-crativos para alcançar nossos

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das vendas nos países industri-alizados. Para o IAVI, os direi-tos de PI devem assegurar oacesso, e não o lucro.

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RIO DE JANEIROA equipe de pesquisadores

liderada pelo infectologistaMauro Schechter, da Universi-dade Federal do Rio de Janei-ro, apresentou recentementedados a serem levados em con-ta durante uma futura pesquisade vacinas no Brasil. Foram tes-tadas 1.050 amostras de sanguede pacientes de um centro detestagem do Rio de Janeiro.Através de exames sensíveis,foram encontradas evidênciasde infecção recente pelo HIVem 84 amostras. Com essesnúmeros, os pesquisadores es-timaram a seguinte soroinci-dência do HIV nesta popula-ção: 1.9 % pessoas/ano, entremulheres heterossexuais e 2.8%entre homens heterossexuais.Além disto, 55% dos entrevis-tados afirmaram que certamen-te participariam de um teste devacina anti-HIV controladopor placebo.

Outro estudo concluídopela equipe de Schechter diz

respeito à incidência do HIV eo uso da Profilaxia Pós-Exposi-ção (PPE) entre homossexuaismasculinos no Rio de Janeiro.No grupo acompanhado foi re-gistrada uma incidência de3.2% pessoas/ano. Um total de202 indivíduos foram recruta-dos e aconselhados sobre o usode drogas anti-retrovirais apósexposição ao risco de infecçãopelo HIV. Destes, 62% relata-ram sexo anal receptivo nosseis meses anteriores. O regimede PPE foi usado 36 vezes. Ospesquisadores concluíram quea demanda pela PPE neste tipode população foi substancial.Isto poderia ter um impacto sig-nificativo nos ensaios de vaci-nas anti-HIV no Brasil.

Também foi aprovado no fi-nal de 1999 pela Comissão Na-cional de Ética em Pesquisa(Conep) mais um estudo a sercoordenado por Mauro Sche-chter. Trata-se do projeto de FaseII da vacina Alvac, que terá iní-cio em breve.

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Em outubro deste ano a Associa-ção Médica Mundial reúne-se paradiscutir, entre outros temas, possí-veis mudanças na Declaração deHelsinque. A Associação MédicaBrasileira (AMB) representará oBrasil no encontro.

A Declaração, redigida pelaAssociação Médica Mundial em1964 e atualizada pela última vezem 1996, estabelece as diretrizeséticas que devem ser seguidas pelapesquisa médica em seres huma-nos. É um documento amplamen-te difundido e respeitado no mun-do. Antes dela, já havia o Códigode Nuremberg, redigido após o jul-gamento das atrocidades cometi-das pelos médicos nazistas duran-te a Segunda Guerra.

O documento assinado emHelsinque reconhece que podemser feitos experimentos com sereshumanos em benefício do pacien-te e da ciência. Mas além da ne-cessidade de consentimento livree esclarecido dos voluntários dapesquisa, prevê que os melhoresmétodos de diagnóstico e trata-mento do momento devem estardisponíveis para todos os pesqui-sados. Ou seja, ninguém pode sersubmetido a tratamento pior doque aquilo que já foi aprovado pelomeio médico e científico.

É justamente este ponto quepromete ser a grande polêmica dareunião de outubro, que provocouo adiamento da decisão no ano pas-sado. Com a justificativa de que os

países pobres, sobretudo do conti-nente africano, não têm acesso aostratamentos ideais, muitos pesqui-sadores, principalmente os norte-americanos, defendem a mudançada Declaração de Helsinque. Paraeles, estão justificadas, por exemplo,pesquisas comparando uma drogacom placebo (substância inócua)para HIV-positivos onde não háacesso algum a medicamentos.

A opinião, considerada umaatrocidade por muitos, já foi regis-trada nas revistas Lancet e Science.

Qual é a mudança proposta?Na primeira reunião, queriam

substituir um trecho da Declaraçãode Helsinque que propõe o “melhormétodo comprovado” pelo vagoconceito de “melhor método alcan-çável” (“attainable”, em inglês) . Ouseja, os sujeitos da pesquisa teriamdireito apenas ao melhor tratamen-to que, de outra forma, teriam aces-so, mesmo se estivessem fora doensaio. Se no país de origem nãotivessem acesso a nenhum trata-mento, poderiam nada receber. Issoabre a possibilidade de realizaçãode estudos com placebo. Mesmoque não causem morte ou incapa-cidade permanente, esses estudospodem significar grande sofrimen-to para os voluntários.

Este conceito dependeria, as-sim, da situação econômica e po-deria ser estabelecido por cadapaís, a cada novo ensaio. Isto é,suprime o caráter internacional da

diretriz e subestima a acessibilida-de ao melhor tratamento como umdireito do ser humano.

O caso da AidsConcretamente, o que preten-

de-se alterar na Declaração é oparágrafo II.3, que diz: “Em qual-quer estudo médico, a todo pa-ciente – incluídos aqueles dos gru-pos de controle, se houver – deveser assegurado o melhor métodode diagnóstico e terapêutico com-provados.”

No caso da Aids, o desrespeitoà Declaração de Helsinque podeser observado em pelo menos duassituações:

1) Nas pesquisas com vacinaspreventivas ou com microbicidas:há quem defenda a negação doacesso a tratamento com anti-retrovirais às pessoas soronegativasque se infectaram durante o ensaio.O que está por trás disso é o fatode que o uso de anti-retrovirais nes-tes ensaios pressionaria os paísespara ampliar este acesso tambémàqueles que estão fora do ensaio.

2) Nos estudos com mulheressoropositivas grávidas: para avaliara diminuição da transmissão doHIV da mãe para o feto, há quemdefenda não fornecer tratamentoalgum (administração de placebo)para um grupo controle contra ofornecimento do suposto tratamen-to ideal para outro grupo. Tambémneste caso, não respondem o quedeve ser dado aos bebês infectados.

REPÚDIO ÀS MUDANÇAS NADECLARAÇÃO DE HELSINQUE

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ÉTICADIRETRIZES

Pesquisadores querem mudar documento internacional que estabelece princípios éticos para experimentos em

seres humanos

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Em 4 de maio de 2000 foilançada a segunda versão prelimi-nar. O texto defende o fornecimen-to de um tratamento comprovado(qualquer um) a ser comparadocom o melhor tratamento compro-vado existente no mundo.

Diretrizes da UnaidsA Unaids (órgão das Nações

Unidas para controle da Aids) ela-borou um documento sobre dire-trizes éticas para ensaios clínicos devacinas anti-HIV. A Unaids reali-zou várias reuniões em países de-senvolvidos e em desenvolvimen-to para tentar obter diretrizes con-sensuais, mas isso não foi totalmentepossível. Dentre os pontos consen-suais do documento, destacamos:esforço mundial para o desenvol-vimento precoce e ético de vacinasefetivas; no caso de uma vacina efi-caz, acesso imediato aos participan-tes dos ensaios nas quais foi testa-da, como também para outras po-pulações em risco alto de infecçãopelo HIV; para assegurar a quali-dade ética e científica da pesquisa,os representantes das comunidadesdevem ser envolvidos em todo oprocesso; os ensaios de vacinas pre-ventivas anti-HIV só devem ser rea-lizados em países e comunidadesque têm capacidade apropriada derealizar uma revisão científica e éti-ca independente e competente; ge-ralmente, as fases clínicas iniciais dapesquisa deveriam ser desenvolvi-das em comunidades menos vulne-

ráveis a danos ou exploração, nor-malmente dentro do país do patro-cinador; todos os possíveis danos etambém os benefícios esperados daparticipação num ensaio de vacinapreventiva anti-HIV devem serespecificadas no protocolo da pes-quisa e esclarecidas ao sujeito dapesquisa, que deve assinar indivi-dualmente o consentimento; nomomento em que não há nenhu-ma vacina preventiva anti-HIV efe-tiva conhecida, um braço de con-trole de placebo deve ser conside-rado eticamente aceitável num en-saio de fase III.

PolêmicaApesar de ter avançado em re-

lação à versão preliminar, o docu-mento da Unaids mantém o con-ceito de “mais alto nível atingível”ao referir-se ao tratamento a serdisponibilizado ao sujeito que seinfectar durante a pesquisa de va-cina preventiva. Sem ufanismos,podemos afirmar que coube aosbrasileiros presentes na reunião daUnaids em 1998, o papel de linhade frente na defesa do “melhormétodo comprovado”, sob o riscode significar uma real diminuiçãodos padrões éticos atuais minima-mente aceitáveis.

Existem críticas ainda mais du-ras às diretrizes éticas da Unaids:“este documento está claro e articu-la princípios éticos importantes. Masdeixa espaço suficiente para muitos,se não a maioria, dos pesquisadores

procederem como eles sempre pa-recem ter pretendido: negar trata-mentos efetivos conhecidos basea-dos em pobreza, continuando a for-necer placebo. Isso mesmo depoisque uma vacina anti-HIV efetiva sejaidentificada e fazendo fracos esfor-ços de boa fé para assegurar a dis-ponibilidade pós-ensaio de uma va-cina efetiva. Este documento podesoar bom a alguns, mas quando vocêsabe que os pacientes serão tratadosinadequadamente, você avançoumuito pouco”, escreveram à Unaidsos pesquisadores Peter Lurie eSidney M. Wolfe.

Brasil é contra mudançasFoi intensa no Brasil a mobi-

lização de cientistas, especialistasem Bioética e representantes dacomunidade, movimento que deuorigem a dois importantes docu-mentos. A “Carta de Brasília” é oresultado das discussões do ForumNacional Declaração de Helsinque:Perspectivas da Sociedade Brasileira,que aconteceu no dia 8 de feverei-ro, na sede do Conselho Federalde Medicina, em Brasília.

O outro documento foi apre-sentado pela Comissão Nacionalde Ética em Pesquisa (Conep) aoConselho Nacional de Saúde, queaprovou Resolução também con-trária à mudança da Declaração deHelsinque.

Outros países como Austrália,Noruega e Tailândia também fo-ram contra as mudanças.

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O Forum Nacional Declaração deHelsinque: Perspectivas da Socieda-de Brasileira apresenta à Associa-ção Médica Brasileira sua posiçãoreferente às propostas de modifi-cação da Declaração de Helsin-que:

1. A Declaração de Helsinquedeve se manter como um conjun-to geral de princípios concisos;

2. Mesmo sendo um documen-to de responsabilidade da Asso-ciação Médica Mundial, a Decla-ração de Helsinque deve ser con-siderada propriedade de toda ahumanidade;

3. A proteção, a segurança e aresponsabilidade aos sujeitos en-volvidos na pesquisa devem sermantidas, buscando-se a interaçãoentre pesquisador e sujeito de pes-quisa;

4. Que a inclusão de pessoasou grupos em situação de vulnera-bilidade, que por sua condição degênero, etnia, classe social, priva-ção de liberdade, ou por quais-quer outros critérios consen-sualmente considerados, recebacuidados particulares;

4.1 Este artigo deverá ser in-cluído na Introdução da Declara-

ção de Helsinque, como parte doacervo de princípios gerais dodocumento;

5. Deve ser sempre utilizadoo melhor método diagnóstico eterapêutico comprovado comoelemento de comparação nos en-saios clínicos. Não há justificativapara o uso de placebo como mé-todo comparativo, em casos de te-rapêuticas comprovadas. Consi-deramos que o artigo 24 não devaser alterado;

6. A proposta de modificaçãoda Declaração de Helsinque nãose justifica em função do progres-so da ciência em países subdesen-volvidos;

7. É preciso haver a diferencia-ção entre pesquisa com fins tera-pêuticos ou não terapêuticos e con-tudo, o consentimento livre e es-clarecido será sempre necessário.

8. Não é vedado ao médico ouso de novos métodos diagnósti-cos ou terapêuticos no tratamen-to de pessoas com doença pro-gressiva, incapacitante ou poten-cialmente fatal, para a qual o tra-tamento inexiste ou não é curati-vo, desde que seja submetido àavaliação ética.

CARTA DE BRASÍLIA

Participaram da elaboração dacarta de Brasília: Anis: Institutode Bioética, Direitos Humanose Gênero (Debora Diniz, DirceGuilhem, Erli Gonçalves e Ma-ria Liz Oliveira), AssociaçãoMédica Brasileira (Cesar PereiraLima), Comissão Nacional deÉtica em Pesquisa (GabrielOselka), Conselho Federal deMedicina (Luis Salvador deMiranda Sá Júnior e Patrícia Ál-vares), Conselho Regional deMedicina do Rio Grande do Sul(Isaías Levy), Coordenação Na-cional de DST/Aids, FederaçãoBrasileira das Sociedades de Gi-necologia e Obstetrícia ( JacobArkader), Fundação OswaldoCruz ( Juan Llerena Jr., MárciaCassimiro, Marilena Corrêa, Re-nato Cordeiro e Suely Des-landes), Grupo de Incentivo àVida ( Jorge Beloqui), Movimen-to de Reintegração das PessoasAtingidas pela Hanseníase (ArturCustódio), Universidade deBrasília (Volnei Garrafa) e Uni-versidade Federal de Minas Ge-rais (Dirceu Greco).

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O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua NonagésimaQuinta Reunião Ordinária, realizada nos dias 15 e 16 de março de2000, no uso de suas competências regimentais e atribuiçõesconferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Leinº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, e considerando,

✔ a responsabilidade do CNS na proteção da integridade dossujeitos de pesquisa, tendo constituído a Comissão Nacional de Éticaem Pesquisa - CONEP;

✔ as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envol-vendo Seres Humanos, Resoluções CNS 196/96, 251/87 e 292/99;

✔ a discussão de propostas de modificação da Declaração de Hel-sinque, pautada para a Assembléia Geral da Associação Médica Mun-dial, a realizar-se em outubro/2000 em Edinburgo;

✔ a representação da Associação Médica Brasileira na referidaAssembléia;

Resolve:1 - Que se mantenha inalterado o Item II.3 da referida Declara-

ção de Helsinque: “Em qualquer estudo médico, a todos os pa-cientes, incluindo àqueles do grupo controle, se houver, deverá serassegurado o melhor tratamento diagnóstico ou terapêutico com-provado”.

2 - Manifestar-se contrariamente às alterações propostas, sobre-tudo a referente ao uso de placebo diante da existência de métodosdiagnósticos e terapêuticos comprovados.

3 - Instar à Associação Médica Brasileira que este posicionamentoseja remetido com a presteza necessária aos organizadores da As-sembléia Geral da Associação Médica Mundial.

José SerraPresidente do Conselho Nacional de Saúde

Homologo a Resolução CNS nº 301, de 16 de março de 2000,nos termos do Decreto de Delegação de Competência de 12 de no-vembro de 1991.

José SerraMinistro de Estado da Saúde

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDEResolução nº 301, de 16 março de 2000

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No final do século XIV, era atécomum que metade das tripula-ções morresse em decorrência doescorbuto – doença resultante dafalta de vitamina C, caracterizadapela tendência à hemorragias. Alegendária tripulação de Vasco daGama, que em 1497 dobrou oCabo da Boa Esperança, porexemplo, perdeu para o escorbutocem dos seus 160 homens. Nestaépoca, não se conhecia o “agen-te” e nem se imaginava qual era aforma de “transmissão” do mal.

Talvez de maneira até instinti-va, James Lancaster, comandan-te da esquadra inglesa com desti-no às Índias, decidiu recomendara todos os marinheiros que viaja-vam no maior dos cinco naviosque tomassem três colheres desuco de limão, com o objetivo deprevenir a doença. Resultado: oshomens dos navios menores fica-vam doentes. Os outros, não. Masas conclusões positivas do uso dolimão como “vacina” contra oescorbuto só foram confirmadasquase trezentos anos depois,quando chupar a fruta virou roti-na nas embarcações britânicas.

É lógico que essa confusão en-tre carência vitamínica e doençatransmissível, confirmada apóscura do escorbuto, serve apenascomo curiosidade dentro da traje-tória da descoberta das vacinas:séculos mais tarde, os mecanismosde agentes e de doenças que trou-xeram muito sofrimento para o ser

ESCORBUTO, FEBRE AMARELAE FEBRE TIFÓIDE

humano, como a febre amarela ea poliomielite, foram entendidospelos estudiosos. Mantiveram-se,claro, o uso de “cobaias humanas”nos experimentos e boa dose deintuição, mas o embasamento ci-entífico tornou-se mais elaborado.

Febre amarelaO desenvolvimento da primei-

ra vacina contra a febre amarelaaconteceu no ano de 1931, na Fun-dação Rockefeller, em Nova Iorquee, em 1933, o soro foi aplicado em34 voluntários brasileiros, já que nopaís existiam várias regiões endê-micas. A primeira vacina ampla-mente utilizada foi produzida coma cepa de vírus 17E de soro hiper-imune de cabra, criada em 1935 porLloyd, Theiler e Ricci.

Como os resultados destes tes-tes foram considerados desani-madores, na tentativa de brecar osurto instalado em várias localida-des do país adotou-se a cepa 17Ecom soro hiperimune de macaco,que imunizou apenas 65% dos va-cinados. Como alternativa, oscientistas Theiler e Smith, da Fun-dação Rockefeller propuseram,então, o emprego da cepa 17Dque, depois de várias adaptações,obteve sucesso e é utilizada atéhoje. Antes disso, entretanto, umlongo caminho foi percorrido pe-los estudiosos até conseguiremconclusões importantes a respei-to do Stegomya Fasciata, agentetransmissor da febre amarela.

Pouca gente deu importânciaquando o cientista cubano CarlosJuan Finlay apresentou à Acade-mia de Ciências Médicas, Físicase Naturais de Havana, em agostode 1881, seu estudo intitulado Omosquito hipoteticamente consideradoo agente transmissor da febre amare-la. Para a realização do trabalho,Finlay persuadiu 102 voluntáriosa se deixarem picar por mosqui-tos que – provavelmente – carre-gavam o agente. Só que boa par-te destas pessoas não se infec-taram, pois entraram em contatocom os insetos entre três e quatrodias após estes terem sido alimen-tados com sangue contaminado:sabe-se, hoje, que o período deincubação do vírus no vetorcorresponde a duas semanas.

Alguns anos mais tarde, em1900, preocupado com o númerode soldados americanos que mor-riam devido à febre amarela, ogoverno americano resolveu man-dar uma comissão médica à Cubapara respaldar às idéias do médi-co Finlay. Na intenção de darexemplo aos soldados para queparticipassem das experiências,pesquisadores como Walter Reede James Carrol deixaram-se picarpor vetores. A ironia é que o úni-co a morrer devido a febre ama-rela foi outro membro da equipe,o dr. Jesse Lazear, que adquiriu ovírus acidentalmente, picado en-quanto alimentava mosquitos comsangue de doentes.

HISTÓRIADAS VACINASCuriosidades, intuição, mártires e atrocidades éticas marcam o desenvolvimento de vacinas

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Entusiasmado com os traba-lhos elaborados em Cuba, EmílioRibas iniciou, em 1901, a primeiracampanha para a erradicação demosquitos em Sorocaba, interiorde São Paulo – cidade onde havi-am sido notificados 2.322 casos emmenos de seis meses – além de es-crever um modesto livreto intitu-lado O mosquito considerado comoagente da propagação da febre amare-la. Ao lado de mais quatro volun-tários, Ribas e Adolfo Lutz, inclu-sive, deixaram-se picar por mos-quitos contaminados, só que nãotiveram febre amarela pela imuni-dade adquirida após anos de con-tato freqüente com a doença.

Febre tifóideNão é novidade para nin-

guém que durante a segunda

guerra mundial foram cometidasinúmeras atrocidades contra oser humano, em nome da ciên-cia. A área das vacinas não pas-sou imune a estas experiências:visando a estudar a eficiência devárias substâncias contra a febretifóide, entre 1941 e 1945, cen-tenas de judeus aprisionadas noscampos de Buchenwald e Natz-wille foram deliberadamenteinoculados com a bactéria cau-sadora da doença, apenas paramantê-la viva. Com o objetivode comparar-se a eficiência dassubstâncias, administrava-se,para 75% do total de “seleciona-dos”, uma possível vacina. Orestante das pessoas era usadocomo controle. Mais de 90% dasvítimas morreram em conse-qüência das inoculações.

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Com o objetivo de desenvolversoros, vacinas e apoiar as campa-nhas de saneamento de OswaldoCruz, foi criado em 1900, o Insti-tuto Soroterápico Federal. Hoje,Fundação Oswaldo Cruz - Fio-cruz, localizada no Rio de Janei-ro, em Manguinhos, onde váriasatividades são desenvolvidas vi-sando ao atendimento das neces-sidades do Brasil no campo daSaúde Pública. Em 1976, no âm-bito da Fiocruz, foi criado o Insti-tuto de Tecnologia em Imunobio-lógicos, Bio-Manguinhos, paradesenvolver vacinas e reativos,destinados principalmente à redepública de saúde.

Recentes investimentos têmsido realizados, destacando-se aconstrução da Unidade de Produ-ção de Vacinas Bacterianas, já nafase final de instalação de equipa-mentos, e do Centro de Proces-samento Final de Imunobiológicos,que ainda opera parcialmente.

Estes dois empreendimentos,juntamente com a nova Unidadede Vacinas Virais e o Controle deQualidade, constituirão um Com-plexo Tecnológico de Vacinas,cujo potencial oferece condiçõesao Bio-Manguinhos de tornar opaís auto-suficiente neste setor.Serão 7.000 metros quadrados deárea, abrigando quatro prédiosprincipais: a Unidade de Produ-ção de Vacinas Bacterianas, oCentro de Processamento Final, aUnidade de Produção de Vacinas

FIOCRUZ FAZ CEM ANOSE INVESTE EM VACINAS

Virais e o Controle de Qualida-de, os dois últimos ainda a sereminiciados.

Trata-se de estrutura funda-mental para uma possível produ-ção futura de vacina contra a Aids.

AtualproduçãoHoje, o Bio-Manguinhos pro-

duz 60 milhões de doses/ano, oque equivale a 60% da produçãonacional, atendendo a 23% dademanda nacional.

Entre as vacinas virais produ-zidas, destacam-se:

Contra a Febre Amarela -Vem sendo produzida em Man-guinhos há cerca de 60 anos. Atual-mente, a capacidade de produçãoinstalada atende plenamente à de-manda do país, situada em tornode 30 milhões de doses/ano.

Contra o Sarampo - Produ-zida, desde 1982, empregandotecnologia fornecida pelo Institu-to Biken, mediante acordo de co-operação técnica com o governodo Japão. A produção atual, quegira em torno de 10 milhões do-ses/ano, tem atendido parcial-mente à necessidade nacional. Apartir deste ano, será produzidaem Bio-Manguinhos a totalidadedas vacinas a serem consumidasnas campanhas de vacinação.

Contra a Poliomielite - A Po-liomielite foi erradicada do Brasil

devido à intensa utilização da va-cina. Apesar disso, ainda se faznecessário manter programas decontrole desta doença e, para tan-to, Bio-Manguinhos continua pro-cessando concentrados virais im-portados e produzindo a vacina naquantidade demandada pelo Go-verno, hoje em torno de 47 mi-lhões de doses/ano.

Tríplice viral MMR (contraRubéola, Caxumba e Sarampo)- Este ano, começará a ser produ-zida a partir da importação de ma-téria-prima. Ao final de três anos,está prevista a produção integraldeste imunobiológico dentro dosquantitativos exigidos pelo Gover-no, cerca de 20 milhões doses/ano. Esta vacina substituirá, pau-latinamente, a vacina de sarampo.

Dentre as vacinas bacterianas,destacam-se:

Contra Meningite Menin-gocócica dos sorogrupos A e C- Esta produção foi iniciada em1976 a partir de um acordo de coo-peração com o Instituto Merieux,da França. Ultimamente apenas avacina do sorogrupo C tem sidoproduzida por orientação do Mi-nistério da Saúde, totalizando 7,6milhões de doses/ano.

E ainda: Vacinas contra a do-ença Meningocócica por Hae-mophilus influenzae; Vacinasconjugadas contra Meningococose contra Pneumococos.

BRASILPRODUÇÃO

Fonte: Site www.fiocruz.gov.br

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Em 1898, uma equipe da Saúdeda qual participava Vital Brazil,identificou um surto epidêmico depeste bubônica no porto de San-tos que ameaçava alastrar-se. Anecessidade de soro levou o Esta-do a instalar a sua produção emlocal distante do centro da cida-de, tendo sido escolhida a Fazen-da Butantan. Em fevereiro de1901 foi oficialmente criado o Ins-tituto Serumtherapico, posterior-mente chamado Butantan.

Treze anos mais tarde, o Insti-tuto ganhava prestígio e importân-cia e sua ampliação era emergen-te. Inaugurou-se, então, o PrédioCentral do Instituto, o primeiro aser construído para instalar pro-

INSTITUTO BUTANTAN PRODUZVACINAS BOAS E BARATAS

priamente muitos laboratórios.O Butantan produz hoje vaci-

nas contra tétano, difteria, coque-luche, tuberculose, raiva e influenza.Além de vacinas, o Butantan fabri-ca soros específicos usados no tra-tamento de doenças como a difte-ria, tétano e botulismo e tambémpara casos de envenenamento poranimais peçonhentos. Os soros,ao invés de induzir a formação deanticorpos no organismo, já con-têm anticorpos previamente pro-duzidos.

O Ministério da Saúde man-tém soros disponíveis em todo oterritório nacional e a produção deum milhão de ampolas de soroatende também às necessidades

dos demais países da AméricaLatina.

O Instituto Butantan produzdesde 1996 a vacina contra a he-patite B, suficiente para atender atoda a demanda nacional. “A com-posição final da vacina nacional ésimilar à da importada, embora atecnologia utilizada em sua con-fecção seja diferente”, explica odiretor do instituto, Isaías Raw.

Para o Butantan, o custo decada vacina chegava a U$ 8,00 -hoje este custo baixou para 80centavos. Com os resultados des-tas vacinas, a meta para este anoserá a realização do soro anti-he-pático. A vacina para a hepatite Bserá gratuita para a população.

Fonte: Site www.saude.sp.gov.br

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A participação do Brasil no esfor-ço mundial de pesquisas com va-cinas em HIV/Aids teve início em1991, quando o país foi escolhidopela Organização Mundial deSaúde, juntamente com Ruanda,Tailândia e Uganda, como poten-cial realizador de estudos e testes.

Tendo em vista as afirmaçõesdo Ministro da Saúde da época,que dizia que “o Brasil não seriacobaia do primeiro mundo” o di-álogo foi interrompido e retoma-do em abril de 1992, quando foicriado o Comitê Nacional de Va-cinas Anti-HIV, ligado ao Progra-ma Nacional de DST/Aids. Nomesmo ano foi redigido o Primei-ro Plano Nacional de VacinasAnti-HIV/Aids, no qual o gover-no brasileiro assumia compromis-sos e estabelecia critérios para pre-paração de terreno e implemen-tação de pesquisas com vacinascandidatas, com apoio logístico efinanciamento da OrganizaçãoMundial da Saúde. Desde então,foram realizadas diversas ativida-des no país: estabelecida rede na-cional de isolamento e caracteri-zação de cepas (tipos) de HIV quecirculam no Brasil; definidos trêscentros nacionais de vacinas anti-HIV: Belo Horizonte, Rio de Ja-neiro e São Paulo; pesquisa de faseI/II de candidata a vacina forne-cida pela United Biomedical comseis voluntários, em 1995 e 1996,na UFMG (Belo Horizonte) e naFiocruz (Rio de Janeiro) dos Esta-

BRASIL TEM NOVO PLANODE VACINAS ANTI HIV/AIDS

dos Unidos; acompanhamento dequatro coortes (grupos) de homos-sexuais e bissexuais masculinos,soronegativos, para estudos com-portamentais e discussão sobrepossível participação em futurapesquisa de vacina anti-HIV.

Para acessar o Plano Nacional de Vacinas na íntegra na Internet: www.aids.gov.br

O atual Plano Nacional de Va-cinas Anti-HIV, elaborado peloMinistério da Saúde, pelo Comi-tê Nacional de Vacinas da Coor-denação Nacional de DST/AIDScompreende as seguinte fases eestudos:

ESTUDOSTRAJETÓRIA

ESTUDOS

VIROLÓGICOS EIMUNOLÓGICOS

➜ Isolamento ecaracterização doHIV

➜ CTL

➜ Anticorposneutralizantes

ESTUDOS

CLÍNICOS EEPIDEMIOLÓGICOs

➜ Estabelecimentosde coortes(soropositivos,soronegativos,perinatal)

➜ Estudos deincidência do HIV

➜ Estudos defatores de riscos

➜ Ensaios FaseI/II(segurança eimunogenecidade)

➜ Ensaios Fase III(eficácia)

➜ Acompanhamentoa longo prazo departicipantes doestudo

ESTUDOS

SÓCIO

COMPORTAMENTAL

➜ Estudos devulnerabilidade

➜ Avaliação demedidas deprevenção nãovacinal

➜ Estudo dadinâmica social daepidemia

DESENVOLVIMENTO

E PRODUÇÃO DE

INSUMOS E VACINAS

➜ Disponibilizaçãodos produtos

➜ Propriedadeintelectual

➜ Transferência detecnologia

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A participação do Brasil em ní-vel mundial nas discussões, pes-quisas e aspectos éticos sobre va-cinas anti-HIV/Aids guarda umapeculiaridade: a atuação enga-jada das pessoas vivendo comAids e das organizações não go-vernamentais. Um ativista que sededicou à questão foi RonaldoMussauer de Lima, ex-presiden-te do Grupo Pela Vidda/RJ. Ape-sar de atualmente não mais inte-grar o movimento comunitário –Ronaldo trabalha como AssessorResponsável pela Unidade deInformática da CN-DST/Aids –foi durante muito tempo repre-sentante das ONGs/Aids no Co-mitê Nacional de Vacinas.

Boletim Vacinas - O cenárioatual de desenvolvimento de vacinasanti-HIV é realmente promissor? Ouhá mais propaganda e marketing doque avanços concretos?

Ronaldo Mussauer: Na mi-nha opinião é realmente possívelpensarmos em uma vacina con-tra Aids, até mesmo porque já foidivulgado pela comunidade cien-tífica que uma vacina anti-HIV écientificamente viável, o que an-tes não se tinha certeza. Se eu nãoacreditasse que o cenário é pro-missor, eu não conseguiria serativista neste campo. Ao mesmotempo, tenho a consciência de queexiste muito trabalho pela frentee que uma vacina anti-HIV comalto percentual de eficácia não

estará disponível antes de 2007. Apropaganda e marketing que cer-ca o assunto de vacinas vem mui-to mais da imprensa do que dacomunidade científica, até mesmopela expectativa e mito que existeem torno da “cura” da Aids. Osavanços no campo de vacinas sãobem mais lentos comparados aosavanços que tivemos no campo demedicamentos para Aids. Recente-mente, em uma Conferência, ouvido Dr. José Esparza, o líder da Equi-pe de Vacinas da Unaids, que quan-do ele foi questionado se as vacinastinham falhado, ele respondeu queos que falharam foram os “vaci-nólogos”. Isso pode nos levar apensar que os caminhos que sãotomados hoje na direção de se ob-ter uma vacina eficaz contra o HIVnão são os mais corretos ou pro-missores. Por outro lado, a únicaforma de conseguirmos provar seos atuais produtos candidatos àvacina são realmente eficazes é rea-lizando testes com esses produtos,especialmente os de larga escala.

BV - Comente o interesse dos se-guintes segmentos pelas vacinas: 1) ór-gãos oficiais internacionais 2) Gover-no brasileiro 3) Movimento de luta con-tra a Aids daqui e de fora do país. 4)Setor privado e indústria farmacêutica

Ronaldo Mussauer: Tenhopercebido que o interesse dos ór-gãos oficiais internacionais em in-vestir em vacinas tem crescido. AUnaids tem uma equipe específi-

ca de vacinas, que promove e fi-nancia pesquisas nessa área. Aomesmo tempo, por ser um órgãointer-governamental, a atuaçãoefetiva nos governos dos países noque se refere ao incentivo à pes-quisa, desenvolvimento e testes devacinas, é limitada. O BancoMundial criou em 1998 uma For-ça-Tarefa específica para vacinasanti-HIV para identificar como ainstituição poderia acelerar o de-senvolvimento de uma vacinapara os países em desenvolvimen-to. A partir disto, foram promovi-dos diferentes workshops em paí-ses em desenvolvimento, inclusi-ve no Brasil em 1999, incluindo aparticipação de representantes dacomunidade, e foi produzido umdocumento de recomendaçõespara o Banco Mundial, datado defevereiro de 2000. A expectativaé o quanto estas recomendaçõesirão contribuir efetivamente parase atingir os objetivos propostos.Em relação ao governo brasilei-ro, considero que, comparado aosgovernos de outros países, espe-cialmente os em desenvolvimen-to (mas não somente), muito temsido feito em relação a vacinas, es-pecialmente a integração entrepesquisadores, universidades e aárea comunitária. É importantelembrar que desde 1992 existe oComitê Nacional de Vacinas, oqual inclui a representação de cin-co ONGs, que, dentre outras atri-buições, avalia propostas de pro-

“ESTAMOS DIANTE DEUM CENÁRIO PROMISSOR”

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ENTREVISTARONALDO MUSSAUER

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tocolos de vacinas a serem imple-mentados no Brasil. Ainda nomesmo ano, esse Comitê elabo-rou seu primeiro Plano Nacionalde Vacinas Anti-HIV. Em 1999foi lançado o Plano revisto e atua-lizado, o qual teve uma partici-pação efetiva das ONGs repre-sentantes. No que se refere aomovimento de luta contra Aidsno Brasil, considerando o gran-de número de ONGs e ativistas,o envolvimento e interesse ain-da é muito tímido. Existem pou-cas ONGs e ativistas envolvidosefetivamente, os quais, no entan-to, trazem uma contribuição sig-nificativa. Vale lembrar a realiza-ção de três jornadas nacionais devacinas, diversas jornadas regio-nais e oficinas, Workshops, publi-cação de boletins, dentre outros.No exterior, essa situação nãodifere muito. Há uma falta deativistas em vacinas no mundotodo. Para muitos já envolvidosna luta contra Aids e para os pró-prios soropositivos, a questão devacinas se apresenta como algointangível, seja do ponto de vistatécnico-científico, seja pela nãoobtenção de resultados concretosem curto prazo. Em relação aosetor privado e indústria farma-cêutica, por um longo períodonão pareceu ser um bom “negó-cio” investir em vacinas, especi-almente nos países em desenvol-vimento, principalmente quandose levava em conta a relação cus-

to/benefício, comparada a dosanti-retrovirais. Há alguns anosfoi despertado novamente o inte-resse em vacinas pelas indústriasfarmacêuticas, incluindo os paísesem desenvolvimento. Uma possí-vel resposta para esse interessepodem advir da necessidade derealização de testes em larga es-cala e considerando diferentessub-tipos do HIV para se provara eficácia de um produto, aliadoao fato de que 95% dos casos deAids se encontrarem nos paísesem desenvolvimento. A difícilequação a ser solucionada diz res-peito ao acesso ao produto vacinalapós ser provada sua eficácia.

BV - Por que e como você se inte-ressou pela questão das vacinas? Nãoé angustiante militar em causas cujosresultados não são visíveis em curtoprazo? Na condição de soropositivo,como é perceber que as vacinas pre-ventivas são mais pesquisadas e teo-ricamente mais viáveis que as vaci-nas terapêuticas?

Ronaldo Mussauer: O meuinteresse em vacinas nasceu den-tro do meu ativismo no PelaVidda. Como o Pela Vidda estáenvolvido desde o início, incluin-do a representação no Comitê deVacinas, eu estive, mesmo que ini-cialmente de forma indireta, igual-mente envolvido. No início de1998 eu passei a ser o represen-tante do Pela Vidda/RJ no Comi-tê e, com isso, o completo envol-

vimento foi inevitável. Não con-sidero angustiante pelo fato dosresultados não serem visíveis acurto prazo, pois isso faz parte dequalquer militância. O que podenão chegar para mim, poderá che-gar para a próxima geração. Oangustiante é ver que ainda existeuma quantidade muito pequenade pessoas envolvidas e capacita-das para ao ativismo em vacinas.É fato que as vacinas preventivassão mais pesquisadas do que asterapêuticas, mas em relação amaior viabilidade em relação àsterapêuticas, na realidade, não te-mos respostas concretas para isso.Por enquanto, apenas suposições.Existe até a possibilidade de umavacina preventiva também servircomo terapêutica. Em relação aofato de eu ser soropositivo e serativista de “vacinas preventivas”,na realidade isso faz parte do con-junto global da luta contra Aids.Estamos lutando contra uma epi-demia, contra a discriminação,pelos direitos humanos, enfim,pelo coletivo e não por uma cau-sa pessoal.

BV - Na sua última viagem in-ternacional para acompanhar discus-sões sobre vacinas, o que foi dito denovidade? Como o Brasil é visto láfora pela participação nas discussões epesquisas de vacinas?

Ronaldo Mussauer: Eu fuiconvidado para participar comoexpositor na III Conferência Eu-

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ropéia sobre Métodos e Resultadosde Pesquisas Sociais e Compor-tamentais em Aids, que aconteceuem Amsterdam, em fevereiro de2000. Eles promoveram uma mesaredonda sobre vacinas e me pro-puseram para falar sobre ativismoem vacinas no Brasil, a partir daminha experiência dos últimos anosnesta área. Apesar da conferênciaser européia e ter focado mais o“Norte” (como eles definiram), elestambém quiseram contemplar algu-mas realidades do “Sul”. A Mesa,então, foi composta por um repre-sentante da Unaids, um do IAVI(Iniciativa Internacional em VacinasAnti-HIV), um do AVAC (Coalizãode Ativismo em Vacinas Anti-HIV),dos Estados Unidos e dois repre-sentantes da comunidade, um daHolanda e um do Brasil. No que serefere às novidades, eu diria quenão teve quase nenhuma em rela-ção às que já temos conhecimentono Brasil. Foi feita uma apresenta-ção geral pelo representante daUnaids sobre as pesquisas e desen-volvimento de produtos vacinaisno mundo; o representante doIAVI apresentou as estratégias deação para se testar e atingir umavacina eficaz e os investimentosdos EUA neste campo; o repre-sentante do AVAC falou sobreativismo em vacinas de uma for-ma mais ampla e as diferentes pos-sibilidades de envolvimento e atu-ação das pessoas e organizações.O maior enfoque foi dado aos

representantes comunitários. AHolanda estava representada, poiseles estão participando de um pro-tocolo de Fase III, que está sendorealizado de forma distribuída emdiferentes países. O Brasil, por seuenvolvimento de vários anos e pelaperspectiva de um teste de Fase Ie II para este ano. Ficou nítida afalta de tradição e experiência dacomunidade holandesa na questãode vacinas. Apesar da Holanda serum país desenvolvido, com conhe-cida tolerância e tradição no res-peito aos direitos humanos, alémda significativa atuação na luta con-tra Aids, o nível de participação co-munitária no protocolo que estásendo implementado lá é de longediferente do envolvimento dos ati-vistas brasileiros, que já discutemas questões específicas de vacinashá muitos anos. Como eu estavarepresentando o Comitê Nacionalde Vacinas, pude abordar na mi-nha apresentação as diferentes ediversas iniciativas governamen-tais e comunitárias em vacinas noBrasil. Vale ressaltar que em ne-nhum outro lugar do mundo asONGs organizaram um EncontroNacional de Vacinas reunindomais de 600 participantes. Semdúvida alguma, a iniciativa brasi-leira no campo de vacinas e, emespecial, o significativo envol-vimento comunitário, mostrouque os países em desenvolvimen-to têm muito a realizar e a contri-buir neste campo.

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O vírus da imunodeficiência hu-mana (HIV) é o patógeno emer-gente de maior impacto neste sé-culo. Desde a descrição dos pri-meiros casos de Aids nos EstadosUnidos, no início da década de 80,a epidemia vem crescendo e sedisseminando para diferentes par-tes do mundo, principalmente nospaíses do terceiro mundo. No Bra-sil, cerca de 179.541 casos de Aidsjá foram notificados ao Ministérioda Saúde até novembro de 1999e estima-se que cerca de 540 milpessoas estejam infectadas peloHIV-1.

Dois tipos de HIV são reco-nhecidos, o HIV-1, responsávelpela pandemia da Aids, e o HIV-2, de freqüência bem menor, maisrestrito ao continente africano,com descrições de casos isoladosem outras regiões. O HIV é alta-mente polimórfico, com uma taxaestimada de mutação de 1% aoano, fazendo com que distintasvariantes virais convivam no mes-mo indivíduo infectado (quais es-pécies), assim como subpopu-lações virais, denominadas desubtipos, estejam distribuídas emdiferentes partes do mundo.

O estudo da diversidade viralavançou muito nos últimos anos,tendo-se já descrito cerca de 9subtipos virais (A, B, C, D, F, G,H, J, K) pertencentes ao grupo M(majoritário), assim como identi-ficados o grupo O (outliers),onde estão incluídas variantes

ainda mais divergentes do HIV-1. Recentemente, uma varianteainda mais divergente foi iden-tificada em uma mulher dos Ca-marões, apresentando algumasregiões de homologia com o gru-po M do HIV-1, enquanto queoutras mostravam-se intermedi-árias entre o grupo M do HIV-1e o SIVcpz, sugerindo tratar-sede um novo grupo, denominadoN. Em relação aos subtipos deHIV-1, é interessante ressaltarque alguns deles são, na verda-de, vírus recombinantes, origina-dos a partir de eventos de recom-binação entre subtipos conheci-dos ou näo. Assim, formas re-combinantes circulantes A/E(descrito anteriormente comosubtipo E), A/G, B/F, A/G/I,foram descritas em diferentes re-giões a partir da análise degenomas virais completos. Estesdados reforçam a importância dese monitorar continuamente a di-versidade do HIV e estudar suasimplicações em diferentes aspec-tos da epidemia.

Os subtipos virais do HIV-1têm zonas de ocorrência definidasem diferentes partes do mundo ediferem entre si por modificaçõesgenéticas e, conseqüentemente,antigênicas, representando umalimitação potencial tanto para odesenvolvimento de moléculascandidatas a vacinas, como tendoimplicações potenciais na sensi-bililidade e especificidade dos

métodos correntes de diagnósticosorológico e de detecção e quanti-ficação viral. Além disso, tem sediscutido também as implicaçõesdesta diversidade na patogênesee na resposta aos antiretrovirais edesencadeamento de variantesresistentes nos indivíduos infec-tados pelo HIV-1, assim como naprópria dinâmica da epidemia nasdiferentes localidades onde estessubtipos ocorrem.

No Brasil, uma série de estu-dos vêm sendo realizados nos úl-timos anos por diversos grupos depesquisa, visando a avaliar o poli-morfismo genético e antigênicodas amostras brasileiras de HIV-1, principalmente no contexto degerar informações sobre a diver-sidade deste vírus em nosso meioe suas potenciais implicações naeficácia de vacinas anti-HIV/Aidse, mais recentemente, na resistên-cia e susceptibilidade aos anti-retrovirais.

Assim, baseado na análise dopolimorfismo genético do HIV-1em diferentes regiões do Brasil, foipossível identificar um predomí-nio do subtipo B na maioria dasregiões analisadas, assim como apresença importante dos subtiposF E C, cujas frequências variamde uma região a outra, e descri-ções isoladas dos subtipos D e A.Além disso, a presença de vírusrecombinantes B/F e B/C temsido também ralatada em diferen-tes regiões do País.

A DIVERSIDADE DO HIVNA AMÉRICA DO SUL

Pesquisadora Titular do Laboratório de Aids & Imunologia Molecular do Departamento de Imunologia - InstitutoOswaldo Cruz da Fiocruz e Membro Titular do Comitê Nacional de Vacinas e da Comissão Nacional de Aids -CN-DST/Aids, Ministério da Saúde.

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IMUNOLOGIAMARIZA G. MORGADO

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Acompanhando o perfil mo-lecular do HIV-1 no Brasil, estu-dos realizados em diferentes paí-ses da América do Sul têm tambémmostrado um predomínio dosubtipo B em todos os países estu-dados, assim como a presença adi-cional de subtipos não-B, mesmoem países onde a prevalência dainfecção pelo HIV é ainda muitobaixa. De fato, o subtipo F já foiidentificado na Argentina, Bolíviae Venezuela, enquanto que ossubtipos C, A e E foram identifica-dos respectivamente na Argentina,Chile e Uruguai. Em relação a pre-sença do subtipo E, é interessanteressaltar que os casos de infecçãopor este subtipo, na verdade umaforma recombinante A/E preva-lente no sudeste asiático, foram

contraídos durante uma missão deajuda militar àquela região por sol-dados uruguaios. Este fato é umexemplo claro de como estessubtipos virais são transportados ese estabelecem em novas regiões.

No seu conjunto, os dadosapresentados mostram a situaçãoatual de distribuição dos subtiposde HIV-1 no Brasil e em outrospaíses da América do Sul. Diantepossibilidade de introdução denovos subtipos e das potenciaisimplicações desta diversidade naquestão do desenvolvimento etestagem de vacinas anti-HIV-1 ena sensibilidade e especificidadedos métodos de detecção e quan-tificação viral, justifica-se que osestudos nesta área continuem a serestimulados.

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Obs.: As referências bibliográficas de autores nacionais e estrangeiros utilizados pelaautora estão disponíveis com os editores do Boletim Vacinas.

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ANEXOGENES E PROTEÍNAS

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Antígeno grupo-específico Proteínas do cerne e da matriz

PolImerase Enzimas transcriptase reversa, protease e integrase

Envelope Glicoproteínas transmembrana. A gp120 liga-se ao CD4 eCCR5; a gp41 é necessária para a internalização do vírus

Transativador Regulador positivo da transcrição

Regulador da expressão viral Permite a exportação de transcritosnão processados do núcleo

Infectividade viral Afeta a infectividade da partícula

Proteína viral R Transporte do DNA para o núcleo. Aumenta a produçãode vírion. Parada do ciclo celular.

Proteína viral U Exclusiva do HIV-1. Regula o CD4 negativamente

Fator de regulação negativa Aumenta a replicação viral in vivo e in vitro.Regula o CD4 negativamente

GENES DO HIV PRODUTO GÊNICO/FUNÇÃO

Conforme já foi abordado nes-ta edição, a maioria dos estudos deprodutos candidatos a vacinas anti-HIV utiliza diversas partes do ví-rus para ativar o sistema imunitário.

O HIV é um retrovírus comenvelope. Ou seja, seu materialgenético é expresso em RNA (áci-do ribonucléico). Isso o faz dife-rente da maioria dos organismosvivos, que têm seu material gené-tico expresso em DNA (ácido

desoxirribonucléico).O envelope do HIV contem,

entre outros elementos, as proteí-nas gp120 e gp 41. A proteína gp120 é utilizada para ligar o HIV àcélula. Algumas candidatas a va-cina usam proteínas gp120 sinté-ticas.

Como a pesquisa de vacinas estálevando em conta cada vez mais aestrutura de genes do vírus HIV,apresentamos a seguir a lista desses

genes e suas respectivas funções.A partir dos genes os cientis-

tas já chegaram a algumas conclu-sões. Por exemplo: alguns vírusHIV que não têm o gene nef sãoatenuados, isto é, as pessoasinfectadas com esse tipo de vírusnão progridem para Aids ou en-tão progridem lentamente. Já ogene tat está sendo usado por al-gumas candidatas a vacina tantopreventiva quanto terapêutica.

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Bolem Vacina Anti-HIV/AidsJunho de 2000

Esta publicação é uma iniciativa do Grupo de In-centivo à Vida (GIV), produzida em parceria como Grupo Pela Vidda/SP.

O GIV é um grupo de ajuda mútua para pessoascom sorologia positiva para o HIV e dirigido tam-bém por portadores(as). Não temos finalidadeslucrativas e somos destituídos de quaisquer pre-conceitos ou vinculações de natureza político-partidária ou religiosa.

Coordenador do projetoJosé Araújo Lima Filho

EditorJorge Beloqui

Editores assistentesMário Scheffer e Concília Ortona Vicentini

Conselho EditorialGilvane C. da Silva, Harley Henriques, RobertoChateaubriand, Ronaldo Mussauer e Sandra Perin.

Presidente do GIVCláudio Pereira

ArteJosé Humberto de Souza Santos

Impressão e acabamento: Hammer

Tiragem: 7.000 exemplares

FinanciamentoEsta edição foi financiada pela Coordenação Na-cional de DST/Aids do Ministério da Saúde emconvênio com a Unesco.

Grupos representantes das ONGs/Aids noComitê Nacional de Vacinas Anti-HIV/Aids:GIV, Pela Vidda/RJ, GAPA/RS, GAPA/MGe GAPA/BA

GIV - Grupo de Incentivo à VidaRua Capitão Cavalcantis, 145. Vila MarianaCEP 04017-000. São Paulo - SPFone-fax (11) 5084-0255e-mail: [email protected]

This Bulletin is a community initiative developed byGIV and other Brazilian NGOs, and funded by theCNDST-AIDS, M. of Health.Address: Rua Capitão Cavalcanti 145

(04017-000) São Paulo SPBrasil

e-mail: [email protected]