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Ano XXX Nº 368 abril de 2020 E nenhum rio é como esse, o rosto magnificente da infância, a pátria imaginada da poesia. Zetho Cunha Gonçalves E m Vento, cavalo do tem po (Ed. Água Viva, SP, 2019), sua mais recente safra po- ética, Wilson Pereira cavalga no dorso da infância e no galope da memória para construir uma obra primorosa formal e tematicamen- te. Nesse caleidoscópio poético está presente não apenas o espíri- to estético de um autor sofisticado em sua oficina criativa (linguagem e lirismo elevados à sua máxima carga sensorial), mas também o apelo, sem exacerbação sentimen- tal, de um tempo psicológico e de um território geográfico e afetivo que têm raízes naquele sentimen- to que o poeta carrega e que é iden- tidade de todo um fazer literário: “O poeta que sou/ foi o menino/ que fui/ quem o criou. Quem acompanha a trajetória literária de Wilson Pereira – na po- esia, na prosa, no infanto-juvenil – percebe uma salutar nostalgia que percorre a sua escritura. Se para Augusto Meyer “a memória da in- fância é uma ilha perdida”, para esse mineiro de Coromandel radi- cado em Patos de Minas e trans- criado em Brasília, mas com um pé fincado naquela universalidade de que nos falava Tolstói (segundo o qual, cantar o próprio quintal é can- tar o mundo), a instância do meni- no nunca se perdeu, é menos um “aislamiento” físico que um des- dembarque nas próprias origens. O seu passado insularizado de pre- sentes é que rege a sua pena e com isso “A palavra que soa/ eclode no ar/ seus lumes/ ou seus gumes” para nos dizer do que é realmente essencial e profundo. Eis um livro que deflagra um inventário existencial, pois Vento, cavalo do tempo, seccionado por campos semânticos que exploram NO RIO HERACLITIANO DO PASSADO Ronaldo Cagiano os vários cenários e olhares do autor (Quânticos Somos, Teias, Canto das Águas, Voos Feridos, Colheita de Poemas, Aromas de Amores, O menino ao Longe e Po- emas Diminutos) transita por diver- sas instâncias – reais ou oníricas – em que referenciais e mitos que habitam o inconsciente do poeta forjam uma narrativa repleta de sig- nos e sutilezas. Na boleia de via- gens que o poeta fez pelo grande sertão existencial, as veredas se bifurcam em planos reais e imagi- nários, espaço em que a criação adquire a plenitude de uma intensa comunicação, muitas vezes de pro- jeções metafísicas. Vale destacar nessa obra o encontro de estilos, em que o au- tor se dá a liberdade de deambular por vertentes que se forjam simbi- oticamente, conferindo ao todo um resultado plástico delicado. Entre poemas mais longos e minimalis- tas, do verso tradicional ao hai-kai, da expressão mais discursiva ao discreto humor, o autor emula vári- os símbolos em sua linguagem nada ortodoxa, mas não se perde em jogos verbais, em contorcionis- mos vãos ou no poema piada, como sói acontecer com certa ge- ração em voga, em que a poesia perde o sentido para o inútil emba- ralhar de palavras. Wilson Pereira dosa sua liberdade de construção poética para dizer e tocar, ainda que na singeleza desta sentença: “A vida ensina/ todo dia/ uma nova lição,/ só as escolas/ é que não.” É um poeta que não necessita de ar- roubos ou contorcionismos verbais para sondar múltiplas atmosferas, pois labora naquela dimensão de que nos falava Ernesto Sabato: “Um bom escritor comunica gran- des coisas com palavras pequenas; ao contrário do mau escritor, que diz coisas insignificantes com pa- lavras grandiosas.” Outra característica a desta- car são as referências, interces- sões, encontros e vasos comuni- cantes que sua poesia traz, na li- nha da intertextualidade, da meta- linguagem, do diálogo com outros autores, do flerte com várias obras, numa rica contamina- ção de processos e que, no fundo, funcionam como homenagem, como em “Imitação de Mário Quintana”; ou nes- te, tão emblemático: “Guimarães Rosa,/ tu me contaminas/ me conta Minas.” Não é demais repe- tir que na poesia wil- sonpereiriana a infância é um elemento primor- dial, é seu cadinho, onde se processa toda uma alquimia poética; e não há de ser diferente, pois é dela que trazemos a nossa bagagem, nossa formação espiritual, afe- tiva, psicológica e cultu- ral: nossos totens, te- mas, fantasias, obses- sões estão ali a nos diri- gir. Uma arte intimamen- te ligada às raízes, aos nossos fluxos sensoriais e à nos- sa plural ancestralidade, o que nos remete ao que já nos dizia com seu farol atento o itabirano Drummond e que Wilson incorpora em todo o seu arcabouço poético: “É o meni- no em nós/ ou fora de nós/ reco- lhendo o mito”. Vento, cavalo do tempo é tam- bém, como título, a composição de um preci(o)so artefato metafórico, nada espelha mais a transitorieda- de existencial, senão essa ideia de velocidade, de imperenidade, de ti- rania do tempo. Estamos sempre subindo e desapeando da vida. No mesmo diapasão, vejo a poesia de WP como uma crônica dos senti- dos, um flagrante do quotidiano e uma lanterna sobre o passado que na crônica e na ficção encontra si- milaridades com o lirismo de um Rubem Braga e João Anzanello Carrascoza, autores em cujo uni- verso capturam cenários que têm muito a ver com o que é o núcleo da expressão poética encontradiça em Vento, cavalo do tempo: a rela- ção com o mundo anterior, com as tensões domésticas, com o vivido e experimentado em nossa vida in- terior (e interiorana). Um livro que nos manda de volta à nossa infância alada, caval- gando no dorso arisco dos tempos, visitando os quintais e rios, os ál- buns de família e os segredos do coração, as saudades e perdas que redigem nossa história pessoal e coletiva, seja em Patos de Minas ou em qualquer lugar do mundo, pois esses poemas falam do que diz respeito a uma humanidade perdida, uma imersão em nossos mundos particulares. divulga ção Ronaldo Cagiano, escritor brasileiro residente em Portugal, autor, dentre outros, de “Eles não moram mais aqui’ (Ed. Patuá, SP/Ed. Gato Bravo, Lisboa”), Prêmio Jabuti 2016. Wilson Pereira

NO RIO HERACLITIANO DO PASSADOcomo sói acontecer com certa ge-ração em voga, em que a poesia perde o sentido para o inútil emba-ralhar de palavras. Wilson Pereira dosa sua liberdade

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Page 1: NO RIO HERACLITIANO DO PASSADOcomo sói acontecer com certa ge-ração em voga, em que a poesia perde o sentido para o inútil emba-ralhar de palavras. Wilson Pereira dosa sua liberdade

Ano XXX Nº 368 abril de 2020

E nenhum rio é como esse,o rosto magnificente da infância,a pátria imaginada da poesia.

Zetho Cunha Gonçalves

Em Vento, cavalo do tempo (Ed. Água Viva, SP,

2019), sua mais recente safra po-ética, Wilson Pereira cavalga nodorso da infância e no galope damemória para construir uma obraprimorosa formal e tematicamen-te.

Nesse caleidoscópio poéticoestá presente não apenas o espíri-to estético de um autor sofisticadoem sua oficina criativa (linguageme lirismo elevados à sua máximacarga sensorial), mas também oapelo, sem exacerbação sentimen-tal, de um tempo psicológico e deum território geográfico e afetivoque têm raízes naquele sentimen-to que o poeta carrega e que é iden-tidade de todo um fazer literário: “Opoeta que sou/ foi o menino/ quefui/ quem o criou.

Quem acompanha a trajetórialiterária de Wilson Pereira – na po-esia, na prosa, no infanto-juvenil –percebe uma salutar nostalgia quepercorre a sua escritura. Se paraAugusto Meyer “a memória da in-fância é uma ilha perdida”, paraesse mineiro de Coromandel radi-cado em Patos de Minas e trans-criado em Brasília, mas com um péfincado naquela universalidade deque nos falava Tolstói (segundo oqual, cantar o próprio quintal é can-tar o mundo), a instância do meni-no nunca se perdeu, é menos um“aislamiento” físico que um des-dembarque nas próprias origens. Oseu passado insularizado de pre-sentes é que rege a sua pena e comisso “A palavra que soa/ eclode noar/ seus lumes/ ou seus gumes”para nos dizer do que é realmenteessencial e profundo.

Eis um livro que deflagra uminventário existencial, pois Vento,cavalo do tempo, seccionado porcampos semânticos que exploram

NO RIO HERACLITIANO DO PASSADORonaldo Cagiano os vários cenários e olhares do

autor (Quânticos Somos, Teias,Canto das Águas, Voos Feridos,Colheita de Poemas, Aromas deAmores, O menino ao Longe e Po-emas Diminutos) transita por diver-sas instâncias – reais ou oníricas– em que referenciais e mitos quehabitam o inconsciente do poetaforjam uma narrativa repleta de sig-nos e sutilezas. Na boleia de via-gens que o poeta fez pelo grandesertão existencial, as veredas sebifurcam em planos reais e imagi-nários, espaço em que a criaçãoadquire a plenitude de uma intensacomunicação, muitas vezes de pro-jeções metafísicas.

Vale destacar nessa obra oencontro de estilos, em que o au-tor se dá a liberdade de deambularpor vertentes que se forjam simbi-oticamente, conferindo ao todo umresultado plástico delicado. Entrepoemas mais longos e minimalis-tas, do verso tradicional ao hai-kai,da expressão mais discursiva aodiscreto humor, o autor emula vári-os símbolos em sua linguagemnada ortodoxa, mas não se perdeem jogos verbais, em contorcionis-mos vãos ou no poema piada,como sói acontecer com certa ge-ração em voga, em que a poesiaperde o sentido para o inútil emba-ralhar de palavras. Wilson Pereiradosa sua liberdade de construçãopoética para dizer e tocar, aindaque na singeleza desta sentença:“A vida ensina/ todo dia/ uma novalição,/ só as escolas/ é que não.” Éum poeta que não necessita de ar-roubos ou contorcionismos verbaispara sondar múltiplas atmosferas,pois labora naquela dimensão deque nos falava Ernesto Sabato:“Um bom escritor comunica gran-des coisas com palavras pequenas;ao contrário do mau escritor, quediz coisas insignificantes com pa-lavras grandiosas.”

Outra característica a desta-car são as referências, interces-sões, encontros e vasos comuni-cantes que sua poesia traz, na li-nha da intertextualidade, da meta-

linguagem, do diálogocom outros autores, doflerte com várias obras,numa rica contamina-ção de processos e que,no fundo, funcionamcomo homenagem,como em “Imitação deMário Quintana”; ou nes-te, tão emblemático:“Guimarães Rosa,/ tume contaminas/ meconta Minas.”

Não é demais repe-tir que na poesia wil-sonpereiriana a infânciaé um elemento primor-dial, é seu cadinho, ondese processa toda umaalquimia poética; e nãohá de ser diferente, poisé dela que trazemos anossa bagagem, nossaformação espiritual, afe-tiva, psicológica e cultu-ral: nossos totens, te-mas, fantasias, obses-sões estão ali a nos diri-gir. Uma arte intimamen-te ligada às raízes, aosnossos fluxos sensoriais e à nos-sa plural ancestralidade, o que nosremete ao que já nos dizia com seufarol atento o itabirano Drummonde que Wilson incorpora em todo oseu arcabouço poético: “É o meni-no em nós/ ou fora de nós/ reco-lhendo o mito”.

Vento, cavalo do tempo é tam-bém, como título, a composição deum preci(o)so artefato metafórico,nada espelha mais a transitorieda-de existencial, senão essa ideia develocidade, de imperenidade, de ti-rania do tempo. Estamos sempresubindo e desapeando da vida. Nomesmo diapasão, vejo a poesia deWP como uma crônica dos senti-dos, um flagrante do quotidiano euma lanterna sobre o passado quena crônica e na ficção encontra si-milaridades com o lirismo de umRubem Braga e João AnzanelloCarrascoza, autores em cujo uni-verso capturam cenários que têmmuito a ver com o que é o núcleo

da expressão poética encontradiçaem Vento, cavalo do tempo: a rela-ção com o mundo anterior, com astensões domésticas, com o vividoe experimentado em nossa vida in-terior (e interiorana).

Um livro que nos manda devolta à nossa infância alada, caval-gando no dorso arisco dos tempos,visitando os quintais e rios, os ál-buns de família e os segredos docoração, as saudades e perdas queredigem nossa história pessoal ecoletiva, seja em Patos de Minasou em qualquer lugar do mundo,pois esses poemas falam do quediz respeito a uma humanidadeperdida, uma imersão em nossosmundos particulares.

divulga

ção

Ronaldo Cagiano, escritorbrasileiro residente em

Portugal, autor, dentre outros,de “Eles não moram mais aqui’(Ed. Patuá, SP/Ed. Gato Bravo,Lisboa”), Prêmio Jabuti 2016.

Wilson Pereira

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Periodicidade: mensal - www.linguagemviva.com.brEditores: Adriano Nogueira (1928 - 2004) e Rosani Abou Adal

Rua Herval, 902 - São Paulo - SP - 03062-000Tels.: (11) 2693-0392 - 97358-6255

Distribuição: Encarte em A Tribuna Piracicabana, distribuído aassinantes, bibliotecas, livrarias, entidades, escritores e faculdades.

Impresso em A Tribuna Piracicabana -Rua Tiradentes, 647 - Piracicaba - SP - 13400-760

Selos e logo de Xavier - www.xavierdelima1.wix.com/xaviArtigos e poemas assinados são de responsabilidade dos autoresO conteúdo dos anúncios é de responsabilidade das empresas.

Página 2 - abril de 2020

Assinatura Anual: R$ 140,00

Semestral: R$ 70,00

Depósito em conta 19081-0

- agência 0719-6 - Banco do Brasil

Envio de comprovante, com endereço completo,

para [email protected]

Tels.: (11) 2693-0392 - 97358-6255

O tempo passa. Mas ainefável relação estabelecida entre mes-

tres e alunos continua existindo nomundo das lembranças de cadaum.

Chega-se ao fim do curso comtodas aquelas solenidades - cola-ção de grau, ato religioso, jantar, oinesquecível baile, a valsa vienen-se, a emoção... (ainda é assimhoje?) – e aí acontece a diáspora.

Cada uma vai para um ladoem busca de realização profissio-nal e social. Alguns namoros che-gam ao fim. Há um desfraudar debandeiras de sonhos, esperançase ilusões.

Sucede que a vida vai impon-do desencontros, desvios e altera-ções de entendimentos sobre li-ções ministradas com seriedadeno sagrado ambiente da sala deaula.

Ex-aluno contraria o antigomestre numa intrigante, estranha ecuriosa dialética...

Vejam esse chocante exem-plo que encontrei quando li, hámuito tempo, “A Folha Dobrada” dosaudoso mestre Goffredo TellesJúnior (Editora Nova Fronteira,pags.809/10):

O MESTRE E O ALUNORaymundo Farias de Oliveira “No dia 1º de abril, (1964) João

Goulart, presidente da República,já não contava com nenhum apoiomilitar em Brasília. Voou para Por-to Alegre no dia seguinte.

Ipso Facto, Auro de Moura An-drade, presidente do CongressoNacional, convocou Câmara e Se-nado para uma sessão extraordi-nária naquela mesma noite e de-clarou vago o cargo de Presidenteda República. Às três horas e qua-renta e cinco minutos da madruga-da do dia 2 de abril, empossou naPresidência da República o depu-tado Raniere Mazzilli, que era Pre-sidente da Câmara.

Estes atos de meu antigo alu-no Auro eram flagrantementes in-constitucionais. João Goulart nãose exonerara, não morrera e esta-va em território nacional. Não severificara, pois, a vacância do car-go de Presidente da República...Ignorando Raniere Mazzilli, comose ele não existisse, três generais,no dia 9 de abril, se apossaram doGoverno!

Estava instalada a ditadura noBrasil”

Raymundo Farias de Oliveira éescritor, poeta, contista,

cronista, novelista eProcurador do Estado

aposentado.

O escritor, educador,desenhista, artistaplástico e compositor

Daniel Azulay faleceu no dia 20 demarço, no Rio de Janeiro, de com-plicações com o Covid-19. A edi-ção é dedicada ao amigo que dei-xa saudade a todas as gerações.

Nasceu em 30 de maio de1947 no Rio de Janeiro. Estreouprofissionalmente no Jornal dosSports. Colaborou nas revistasQuerida, Garotas, O Cruzeiro,Jóia e Manchete.

A Turma do Lambe Lambe,lançada em 1975, ficou no ar du-rante 15 anos na TV Bandeiran-tes e Educativa. Ensinou vídeospara o site UOL e apresentouAzuela do Azulay no Canal Futu-ra.

Foi homenageado, em 2018, como Grande-mestre pelo Troféu HQMix. Mantinha o projeto social Crescer com Arte - Desenhando com Da-niel Azulay. www.danielazulay.com.br

Artista completo: Escritor, compositor, artista plástico, apresenta-dor de programas de TV, desenhista, ilustrador, educador e músico. Fa-zia mágicas e andava até de monociclo.

Trabalhei na Polyjunior, selo infantil da Polygram criado por GeraldoLowemberg, como divulgadora, na década de 80, para fazer a divulga-ção do Daniel Azulay, em São Paulo, entre outros artistas.

Tive o imenso prazer de acompanhá-lo em gravações de progra-mas de rádio e televisão para divulgação do LP A Turma do Lambe Lam-be e também participei fazendo a personagem Chicória, juntamente comsua esposa Beth que interpretava a Damiana.

Autor de Viagem à Jerusalém, Bufunfa no Mundo das Cores, A POR-TA - THE DOOR, entre outras livros. Tenho o privilégio de ter exemplarde As Aventuras da Turma do Lambe Lambe (3 volumes), autografado,fevereiro de 1984: “Em grande abraço e algodão doce do amigo DanielAzulay.”

Ele andava com uma bolsa lotada de brindes para dar às crianças enunca negou um autógrafo.

Na minha memória, guardo essas lembranças. Deixo meu abraçoe um algodão doce para você, Daniel Azulay.

Coronavírus faz Azulay virar memória

Rosani Abou Adal

Rosani Abou Adal é jornalista, poeta, publicitária, membro daAcademia de Letras de Campos do Jordão e vice-presidente do

Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo. Autora deManchetes em Versos. www.poetarosani.com.br

divulga

ção

Daniel Azulay

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Página 3 - abril de 2020

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Estado alfa,pensar em nada,comer amorase frutas silvestres,jogar bolinha de gude,brincar de amarelinha.Pôr do sol em silêncio,paisagem em off.A noite não nasce,o dia não envelhece.O tom lilás aquece,tudo apetece.Devoro framboesaspara ficar sem rimas,almejo sonhosna escala de Dó Maior.Sou felina a vagarpelos telhados,escuto gatase seus poemas individuais.O final da tarde no cio.Em uníssono cantamosa mesma nota,ficamos horas em vigíliaà espera do Querubim.Anjo sem vestesdescongela a cena,comanda o ritmoe acolhe os sonhos.A noite devora a quietude,acalenta sustenidos e bemóis.Um miado serenofaz a noite adormecer.

Sem VestesRosani Abou Adal

Rosani Abou Adal é jornalista,poeta, publicitária, membro daAcademia de Letras de Campos

do Jordão e vice-presidentedo Sindicato dos Escritores doEstado de São Paulo. Autora

de Manchetes em Versos.www.poetarosani.com.br

Anotações Sobre O Louco e o Estado

O autor de O Louco e oEstado, Marcos Antônio Abreu, pontua que

qualquer semelhança de suas per-sonagens de ficção com a vida dealgum leitor será mera coincidência.Tem consciência, portanto, de quesua criação literária é umobjeto artístico e cultural,fruto de sua inteligência ede sua conexão com a rea-lidade, mas que não se tra-ta de uma reportagem so-bre a vida de um grupo oude uma comunidade deter-minada.

No Brasil, inúmeros ni-chos de miseráveis e des-validos estão à margem daSociedade e do Estado, de-samparados e desassisti-dos, violentados em sua in-tegridade e na fruição deseus direitos e de sua dig-nidade, vivendo como pári-as sociais que incomodam a perver-são das nossas elites e dos seusaparelhos de repressão.

Marcos Antônio de Abreu é po-eta, cronista, contista, romancista ecordelista, destacando-se, também,como músico e interprete de can-ções da MPB, dentre outros gêne-ros musicais. Foi fundador do pro-jeto social O Sorriso da Poesia – po-emas vendidos em toda a cidade deFortaleza, com grupos fantasiadosde super-heróis, e da ONG – Fra-ternidade, Arte e Cultura.

Integrante do projeto Rodas dePoesias, Marcos nasceu em Forta-leza (aos 15/02/1969), e o espaçodessa metrópole tem sido o palcode sua atuação como ator e escri-tor, declamador e agente social quebusca a transformação da consci-ência das pessoas, especialmente,daqueles que vivem em condiçõesabjetas.

Sua performance de poeta vaida Praça do Ferreira, onde o conhe-ci ainda na década de 1980, até osrincões da nossa maltratada perife-ria, sendo de sua autoria, Poesiasde um Poeta Louco (Fortaleza,1995), Nas Teias da Poesia (Reci-fe: Editora Passárgada, 1997) e Re-talhos Poéticos, poemas livres e in-dependentes, editados e distri-buiídos pelo autor.

É integrante das antologiasAmor, Música e Poesia, organizadapor Antônio Pompeu; Poetas da Pra-

Dimas Macedo ça do Ferreira, confeccionada porMárcio Catunda; e 100 Sonetos 100Poetas, produzida por Luciano Dí-dimo, destacando-se pelos arranjospoéticos que aí são veiculados.

Cordelista de grande inspira-ção, é autor de A Cigarra e a Formi-ga (2009), A Revolução Humana(2011), A Estória de José Ribamar e

o Surgimento doBoteco Jangadeiro(2012), A Coisifica-ção da Sociedadena Pós-Moderni-dade (2017), Ver-sos de Ouro(2017), O Rouxinole Rosa (2017) eColégio ErnestoGurgel: Tradição eEficiência na Artede Educar (2017).

Seus cordéisforam publicadosde forma indepen-dente, cinco saí-ram com o selo da

ONG – Fraternidade, Arte e Culturae outros foram editados pela Cor-delaria Flor da Serra, mostrando-nos o autor a sua versatilidade comopoeta e como produtor de folhetosde cordel.

Fundador da Escola Bíblica Sis-temática, Marcos Antônio Abreu éum humanista dos mais qualifica-dos. Culto, conversador e erudito,ele sempre pôs o seu coração a ser-viço do bem, ensinando, em suasresidências, àqueles que precisam,o Evangelho de Jesus.

Marcos é um cristão com tra-ços budistas bem acentuados, e dosespíritas ele herdou o gosto pelaFraternidade e a partilha do pão Es-piritual, atividades a que se dedicacom profissão de fé e amor ao de-sapego, sendo, por isso mesmo, umpoeta e um criador da comunhãouniversal.

A sua atuação faz lembrar asfiguras de Aírton Maranhão, MárioGomes, Márcio Catunda, José Alci-des Pinto e Guaracy Rodrigues,seres de luz e de talento que enri-quecem a cultura cearense com aexpressão de sua arte literária e osopro de suas criações livres e po-voadas de grande liberdade.

Identifico-me com muitos traçosde sua personalidade e com os fru-tos da sua pregação política e ide-ológica, sendo ele, além de escri-tor, um dos nossos intelectuais maisconsistentes.

O romance O Louco e o Esta-do (Fortaleza: Expressão Gráfica,2019) constitui uma prova de suaintuição e do domínio da linguagempoética com a qual o autor anima ocenário social onde tecemos as re-lações com a vida.

Marcos tem o dom da palavrae é dotado de uma lucidez que nosespanta, e que nos aproxima da nos-sa unidade cosmológica. Sabe queas convenções sociais constituemuma grande mentira e que a Políti-ca e o Direito escondem uma vio-lência e uma injustiça contra a Li-berdade.

No caso de O Louco e o Esta-do estamos diante de um ficcionistamaduro, carpido com o sangue dasruas e das praças, lugares onde ocotidiano das pessoas expõe o seuavesso e o espelho de suas neces-sidades. O sistema político e finan-ceiro, social e religioso, e os apare-lhos da Segurança e da Justiça sãotratados pelo autor como instrumen-tos de coação e de patrulhamento.

Mais do que um romance detese, o que vemos na ficção de Mar-cos Antônio Abreu é um corte de na-tureza filosófica aberto no coraçãoda linguagem literária, cujos mode-los pagam tributo às formas da gra-mática e não às formas do estilo eda realidade.

A busca de uma nova aurorapara o homem e de sentidos para avida em sua comunhão com o Unoestão no cerne de O Louco e o Es-tado, e com certeza irão deslumbraros leitores e servir de orgulho paraaqueles que admiram esse corde-lista, poeta e romancista chamadoMarcos Abreu, escritor e intelectuala quem devemos respeitar.

Dimas Macedo é professor,escritor, jurista e membro da

Academia Cearense de Letras.

divulga

ção

Marcos Antônio Abreu

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Capa e o projeto gráfico de Xavier

Prefácio de

Raquel Naveira

Sebo Brandão: https://www.estantevirtual.com.br/brandaojr/rosani-abou-adal-manchetes-em-versos-1920679020

Manchetes em versos

Rosani Abou Adal

Orlando da Costa, o escritor perseguidoAdelto Gonçalves

IQuem quiser saber a fundo o

que foi o reino de trevas do regimesalazarista (1933-1974) não podedeixar de conhecer a obra do ro-mancista, teatrólogo e poeta Orlan-do da Costa (1929-2006), que, nas-cido na antiga Lourenço Marques,hoje Maputo, em Moçambique,numa família goesa de brâmanescatólicos, e criado em Margão, naÍndia, viveu em Lisboa desde os 18anos de idade, tendo exercido aprofissão de redator publicitário. Eque ainda hoje tem o seu nome li-gado à história de Portugal, pois éseu filho António Costa, primeiro-ministro do governo português des-de 2015 e secretário-geral do Par-tido Socialista desde 2014.

Militante comunista desde osanos da juventude, sua produçãocomo literato sempre esteve liga-da umbilicalmente àquela ideolo-gia, embora seus versos, roman-ces e peças de teatro arte e ideo-logia “resolvam-se num corpo úni-co, harmônico”, parafraseando-seaqui uma observação da ensaístabrasileira Maria Lúcia Lepecki(1940-2011), professora universitá-ria radicada por muitos anos emPortugal, sobre o seu fazer poéti-co.

Para homenagear o que seriao 90º aniversário desse notável es-critor, a Revista Vértice, de Lisboa,publicou, em seu número 192, dejulho-agosto-setembro de 2019, um dossier sobre a vida e a obrade Orlando da Costa, reunindo seisensaios e sete prefácios e posfá-cios às obras do escritor, além deuma entrevista (pouco conhecida)dada por escrito ao padre goês Eu-femiano de Jesus Miranda em1988 e que veio a ser publicada emOriente e Ocidente na LiteraturaGoesa: Realidade, Ficção, Histó-ria e Imaginação (Goa, 2012).

Como introdução há o texto“Podem chamar-lhe Orlando”, doinvestigador brasileiro Everton V.Machado, doutor em LiteraturaComparada pela Universidade deParis-Sorbonne/Paris IV (2008) eprofessor auxiliar da Faculdade deCiências Humanas da Universida-de Católica Portuguesa, profundoconhecedor da literatura indo-por-

tuguesa, que faz uma apresenta-ção dos demais textos.

IIEm 1961, Orlando da Costa

publicou o seu primeiro romance,O Signo da Ira, que recebeu o Prê-mio Ricardo Malheiros da Acade-mia das Ciências de Lisboa. À épo-ca, os exemplares foram apreen-didos pela Polícia Internacional e deDefesa do Estado (Pide), organis-mo estatal de inspiração fascistado regime salazarista, tal como ti-nha acontecido com três livros depoesia anteriores: A Estrada e a Voz(1951), Os Olhos sem Fronteira(1953) e Sete Odes do Canto Co-mum (1955), reunidos depois emCanto Civil (1979). De Signo da Ira,Maria Alzira Seixo, professora ca-tedrática da Faculdade de Letrasda Universidade de Lisboa, diz, emseu ensaio “A ficção de Orlando daCosta: inscrições narrativas da ter-ra e do humano”, que este é talvezo grande romance da ex-Índia por-tuguesa na História literária portu-guesa. “É um romance de amor àterra e de amores na terra, cantan-do a juventude e a inocência, de-plorando o agro perdido e o vigorda criação estiolada, devido ao so-frimento e à maldade gananciosa”,diz.

Como observa Hélder Gar-mes, professor livre-docente daUniversidade de São Paulo, no en-saio “Colonialismo e conflito cultu-ral em O Signo da Ira de Orlandoda Costa”, o romance trata doscurumbins, que, em termos de cas-tas, equivaleria aos sudras, isto é,uma casta que se caracteriza porexecutar trabalhos braçais pesadosna lavoura, trabalhos de limpeza,entre outras atividades pouco pres-tigiadas socialmente”.

IIIO mesmo trágico destino vi-

ria a ter o romance Podem Cha-mar-me Eurídice, concluído em1963 e publicado em 1964, apre-endido pela Pide dois meses de-pois de lançado. O livro, que refle-te a experiência de vida do autor nadécada de 1950, seu tempo na uni-versidade, constitui “o retrato deuma situação típica dos anos 60, arepressão contra a chamada sub-versão universitária, levada até àviolência extrema do assassinatopelos agentes da Pide”, como ob-

servou o crítico e historiador Ale-xandre Pinheiro Torres (1923-1999)no ensaio “Os imprescindíveis ne-xos “mito-realidade” e “morte-trans-figura& ccedil; & atilde; o” num no-tável romance do underground an-tifascista português”, publicado àguisa de prefácio na terceira edi-ção do livro (1985) e reproduzidono dossier de Vértice.

O terceiro romance de Orlan-do da Costa, Os Netos de Norton(1994), igualmente reconstitui aslutas políticas em Lisboa, desta vezabordando a geração que lutou con-tra os estertores salazaristas dacampanha de Humberto Delgado(1906-1965), o “general semmedo”, que foi derrotado nas urnasem 1958 num processo eleitoralconsiderado fraudulento, passandopela “primavera marcelista”, lidera-da por Marcello Caetano (1906-1980), último presidente do regimesalazarista, até o 25 de Abril, movi-mento que derrubou o EstadoNovo, vigente desde 1933. Este li-vro lhe valeu o Prémio Eça de Quei-roz, da Câmara Municipal de Lis-boa.

Para Maria Alzira Seixo, estesromances já seriam suficientespara consagrar Orlando da Costa,mas o autor publicou ainda O Últi-mo Olhar de Manú Miranda (2000),que “exibe elevado grau de com-plexidade narrativa-descritiva (emsimultâneo) que não tem sido as-sim tão frequente na ficção portu-guesa”. É um livro que narra a vidade Manú Miranda, que seria um al-ter ego do autor, mostrando comoviviam e se relacionavam goesese visitantes, a partir de uma saga

familiar que passa pela colonizaçãobritânica, pela luta do líder indianoMahatma Gandhi (1869-1948) e aSegunda Guerra Mundial, seus cos-tumes, crenças e idiossincrasias epreconceitos, como observa MariaAlzira Seixo, para quem a obra podeser considerada uma espécie dePeregrinação, de Fernão MendesPinto (1509-1583), o livro de via-gens português mais conhecido nomundo.

IVFilho do goês Luís Afonso Ma-

ria da Costa e de Amélia MariaFréchaut Fernandes, nascida emMoçambique de mãe francesa, Or-lando casou-se primeira vez coma jornalista Maria Antónia de Assisdos Santos, com quem teve umafilha, Isabel dos Santos da Costa(1957-1960), que morreu num aci-dente de viação, e um filho, o políti-co António Costa. Divorciaram-seem 1962. Orlando casou-se segun-da vez com Inácia Martins Rama-lho de Paiva, da qual teve um filho,o jornalista Ricardo Costa.

Licenciado em Ciências His-tórico-Filosóficas pela Faculdadede Letras da Universidade de Lis-boa, não conseguiu estabelecer-secomo professor porque a Pideemitiu parecer negativo. Como pu-blicitário, integrou durante váriosanos a agência Marca, onde che-gou a diretor-geral. Trabalhou, en-tre outras marcas, com a Ford,Volkswagen, Nestlé e Páginas Ama-relas.

Durante a ditadura, chegou aapoiar a candidatura do generalNorton de Matos (1867-1955) em1949, mas desistiu antes das elei-

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ções em razão da falta de liberda-de e de possíveis fraudes eleito-rais. Por sua militância, foi presotrês vezes pela Pide, tendo perma-necido, na última vez, na cadeia deCaxias durante cinco meses. Mili-tou no Movimento de Unidade De-mocrática (MUD) Juvenil e no Par-tido Comunista Português, organis-mo que serviu de 1954 até a datade sua morte.

Poucos dias antes de falecer,a 5 de janeiro de 2006, recebeu dasmãos do presidente Jorge Sampaioo grau de Comendador da Ordemda Liberdade. É autor ainda daspeças de teatro A como estão oscravos hoje? (1984) e Sem Floresnem Coroas (1971). Esta últimapeça igualmente remete para asmemórias da presença colonial por-tuguesa no Estado da Índia, comoobserva Filomena Gomes Rodri-gues, doutora em Estudos Portu-gueses pela Universidade Abertaem ensaio também publicado nes-te número especial de Vértice. Odossier inclui ainda textos de Máriode Carvalho, Daniela Spina, José

Adelto Gonçalves é doutor emLetras na área de Literatura

Portuguesa pela Universidadede São Paulo e autor de

Gonzaga, um Poeta doIluminismo, Barcelona

Brasileira, Bocage – o PerfilPerdido, Tomás Antônio

Gonzaga, Direito e Justiça emTerras d´El-Rei na São Paulo

Colonial, Os Vira-latas daMadrugada e O Reino, a Colôniae o Poder: o governo Lorena na

capitania de São Paulo 1788-1797, entre outros.

[email protected]

Manuel Mendes, Luiz FranciscoRebello, Gon&ccedi l; alo M. Tava-res, Rosa Maria Peres e Ana Mar-garida de Carvalho, além de umposfácio do próprio Orlando deCarvalho para o seu livro PodemChamar-me Eurídice (1974).

Revista Vértice, Lisboa, sé-rie II, nº 192, julho-setembro de2019, 144 páginas, 8,50 [email protected]: www.paginaapagina.pt

Orlando da Costa

AquariusRoseli Batista de Camargo

divulga

ção

Tudo é.

Aparência e EssênciaCoexistindono mundo em paz!!A água se espraiadissolvendo o que é turvo.Alma em expansão.O sopro divinoDá vida e purifica o ar.Tudo existe.E flui ao infinito.Tudo comunga.A fraternidade imperaNegativo e positivo traçamapontede seu encontro ideal.Na TerraHá solidariedade.Do humano profundoemana a melodiada felicidade universalTudo é.Luz raio e conjunção.Em movimento Saturno-UranoAo Absoluto trazemConsciênciaLiberdadee Transmutação.

Roseli Batista de Camargo éescritora, professora,

coordenadora do Curso deLetras - FESL Jaboticabal/ SP -e diretora do Núcleo Docente

Estruturante. Mestra em Letrasna área de Estudos Literários edoutora em Estudos Literários,

pela UNESP- Araraquara.

Maria Thereza Cavalheiro

HAICAISGUILHERMINOS

Como dona dela,a lagartixa se fixana minha janela.

Às vezes se esconde,uma cobra se desdobra,se enrosca na fronde.

Formiga: incessantetrabalha, não se atrapalhaem nenhum instante.

Um verde pelo ar.Maritaca se destacana tarde solar.

Descanso um momento.Bica-me o pato o sapato.Quanto atrevimento!

Maria Thereza Cavalheiro(25 de janeiro de 1929 - 2 de

setembro de 2018), escritora,contista, jornalista, advogada,poeta, tradutora e ecologista.Foi co-fundadora e a primeira

presidente da UBT - UniãoBrasileira deTrovadores, seçãoSão Paulo, em 11.09.1969, que

dirigiu até 1976.

Oh! Musa insensível,que tão-só me admirado altivo Parnaso!

Meu corpo é uma pirade fogo invisível,ardendo ao acaso...

Rabisco estes traços,sombrios, sem luz,que o amor não anima.

Joga-te em meus braços,abertos em cruz,à espera da rima!

Amaryllis Schloenbach

EXORTAÇÃO

Amaryllis Schloenbach éescritora, jornalista, advogada,

tradutora, poeta e cronista.Graduada em Letras. Autora de

Pelos Meandros do Tempo,Girândola, entre outras obras.

...depois de escalavraratalhos e perdas

nas paredes em jarroda casa de água

ela não podia maisacordar na flor...

FRUTOErnani Fraga

Ernani Fraga é escritor, poeta,advogado, ator e teatrólogo.Autor de Ponte Necessária eVermelho (poesia) e O Caos

das Coisas (peça teatral).

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Cel.: (11) 97382-6294 - [email protected]

Revisão -

Aulas Particulares

Profa. Sonia Adal da Costa

Acordo em meio aos meus sonhosO velho mundo, mudouDesperto pro pesadeloO que é normal acabou

Mesmo de olhos abertosUm filme teima em passar

Na tela da minha mentePura ficção

É invisível invasãoDistância, separação

Virando a vida do avessoMexendo na pulsação

Sinais verdes se apagaramE no vagar das horas desacelero

Desligo o automático, com baixa gravidadeO rítmo é lunático

Na queima lenta do pavioFaço, desfaço, refaço

outra vezMundo assustado com o que não fez

O jeito agora é tentar outra vez

Tecnologias de ponta não substituemO afeto de um abraço o carinho de um beijo

O calor pulsante do desejo

A terra segue anestesiadaDoses homeopáticas, morfina na veia

Na queima lenta do pavioAcelerar é suicídio

Na queima lenta do pavioMorfina na veia, doses homeopáticas

Acelerar é suicídioAcelerar é suicídio

que ameaça está coroando este viverque pôs o medo em nosso peito?

um halo de morte e de silêncioespalha na cidade o seu dissídio.

que indecisa solidão emergecomo negro orvalho que oculta

a glória da manhã que teima ainda?

o dia parece um beduíno amarradono meio de um deserto em chamas.

que esperança é 'inda possívelse pigmeus derrotam gigantes

na batalha sombria que trepa p'lo ar?

uma orgia funesta vem dos interstíciose tudo desmorona com seu bafo.

o pensamento torna-se um sussurroe, dos passeios, evaporam-se passadas.

a verdade é um garatujo à deriva,errando como sangue vagabundo.

onde pararão os humanos, então,se desconfiam da sua própria sombra?

ei-los suspensos de um soproporque se torna difícil respirarà beira das falésias indizíveis.

e, no entanto, ó meus amigos caros,é só a Natureza-Mãe que se apressa

a limpar a nossa casa imunda.

RÁDIO QUARENTENA MUSICAL

MÚSICA: ACELERAR É SUICÍDIODE: FERNANDO REIS E LUIS TURIBA

CORONA VÍRUS - 19(retrato à la minute)

Adalberto Alves

Adalberto Alves, escritor, jurista, crítico, tradutor e ensaístaportuguês (Lisboa, 1939), autor, dentre outros de O gume e otempo, Meu coração é árabe, História breve da advocacia em

Portugal, Portugal e o Islão Iniciátifco e Dicionário de Árabismos daLíngua Portuguesa, está comemorando 40 anos de vida literária.

Luis Turiba é escritor, poeta, jornalista, compositor, sambista eagente cultural. Autor de Descacontecimentos, Bala, entre outros.

Fernando Reis é músico e professor de educação física.

Filmagens, edições devídeo, clips e produção dedvds poéticos e musicais.

[email protected] - (11) 99949-9652http://tvartmultcultural.com.br/

TV ArtMult Cultural9 anos com você

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LivrosPoemas Portugueses

Minha querida amiga e confreira, Mestre Raquel Na-

veira, é sempre um momento pra-zeroso e de lúdico embevecimentoa leitura de seus poemas e crôni-cas. Assim, não foi diferente com oseu “Poemas Portugueses”. Dele, àmedida que fui saboreando as pai-sagens, pelo tempo e momentos desua colheita de lembranças de seupassado e de suas origens, fui, tam-bém, colhendo palavras que melhorexplicassem este meu reconheci-mento.

E nele (Poemas Portugueses)está claro que sua voz nasce noclaustro do próprio silêncio – tem-plo das melhores criações – para al-cançar, no topo das torres, o bada-lar dos sinos e daí, retumbar nosmontes e nos ouvidos das Parcas,de Diana e de Apolo e, principalmen-te, de Euterpe, a musa patrocina-dora da música e da poesia. Isso,simplesmente, porque sua voz levaemoção à sensibilidade dos deuses.E, porque não, àquela sua casta esublimada Margarida... fada ouanjo! Pois que, ainda quando, mor-rendo de amor e alavancando qui-meras pela poesia de Florbela, suaprópria poesia mostra-se espetácu-lo certeiro, carregado de notas su-tis, plenas de eternidade à agudasensibilidade do eterno Bocage. Notrato da Língua Portuguesa, você,certamente, já se tornou águia, arevoar, soberana, os domínios deCamões que não mais lhe escondeos segredos das palavras. Palavrasembevecidas pelo sabor dos sele-tos vinhos portugueses .

Reinaldo Bressani Com certeza, os deuses doMonte Olimpo, mesmo durante asbrumas da sua existência, as tem-pestades e o mar revolto a soprarnoites de agonias, invocarão asParcas para tecerem com robustosfios de prata, de ouro e de eterni-dade, sua vida e sua poesia. Tudoporque, você traz na alma ingênita,a própria chama da beleza e do es-pírito do poeta. Porque, você, comopoucos, nutre, com maestria, suaspalavras, sua voz e seus versos,com o perfume do encantamento. Eo faz, bem ao feitio dos grandes va-tes que nos precederam e inspira-ram, legando-nos esta grata e sa-borosa arte do poetar... do lirismo!

Dentro deste contexto, você ésim uma Tágide... Ninfa do Tejo. Nin-fa de lá e de cá. De Portugal e doBrasil. De Campo Grande e de SãoPaulo. Dos cerrados que alimentamsua alma que nos alimenta com seusversos.

Enfim, você é as asas daque-les pássaros gigantes que sobrevo-avam e ainda sobrevoam as sagra-das figueiras da Foz, os estuáriosdo Cabo, da Boa Esperança, doCabo Verde e do Cabo Não, sobreos quais você segue lançando, comsua verve poética apurada, o chei-ro da murta e do eucalipto, assimcomo o fez, Camões.

Deixo aqui, com a supremapompa do Mosteiro dos Jerônimos,um brinde ao seu talento, com obom vinho português servido emdouradas taças, ainda que, tontosfiquemos... de uva e de encantos.

Reinaldo Bressani é poeta,jornalista e membro da

Academia Cristã de Letras.

Rumo a Noroeste, de Francisco deSouza, Scortecci Editora, São Paulo, 309páginas. ISBN:978-85-966-5817-9.

Imagem da capa: Mapa da FerroviaNoroeste do acervo do estado de São Paulo.

A arte final da capa é de Daniela Jacinto.O autor é escritor, advogado, sociólogo,

professor universitário, doutor em Direito Civile especialista em Direito Internacional pelaUniversidade de São Paulo. Fundou o Institutode Ensino Superior de Graça e criou epresidiu a Missão Ecumênica do Brasil.

O livro retrata a emigração, imigração,migração, a navegação marítima, a questãoracial e o índio brasileiro.

O autor apresenta o surgimento doestado, as histórias suíça e brasileira, olatifúndio, a produção agrícola, o noroestepaulista, a função social da propriedade, a

religiosidade dos envolvidos e o respeito à religião de terceiros.Scortecci Editora: www.scortecci.com.br

Débora Novaes de Castro

Antologias:

Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Poemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL -MOMENTOS - CATAVENTO - SINFONIA DO INFINITO -

COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Opções de compra: 1.www.deboranovaesdecastro.com.br, LIVROS.2. E-mail: [email protected] 3. Correio: Rua Ática, 119

- ap. 122 - Jd. Brasil - São Paulo - SP - Cep 04634-040.

Nostalgia de Comunhão (Diário da Es-crita IV), de Nelson Hoffmann, FuRi, Cultuar-te, Florianópolis (SC), 174 páginas. ISBN: 978-85-7223-511-2.

A capa é de Tony Hoffmann.O autor é escritor, editor, ficcionista, cro-

nista, novelista, romancista, ensaísta, Tem tra-balhos publicados na França, Espanha, Itália,Estados Unidos, Portugal, Uruguai, Coreia doSul, Japão e Austrália. Foi homenageado, porlei, com a denominação da Casa de CulturaNelson Hoffmann.

A obra reúne cartas e correspondênciaseletrônicas recebidas e as enviadas pelo au-tor durante o mês de outubro de 2000.

Segundo o autor, “Aqui, nesta minha se-quência do Diário da Escrita, a palavra eletrônica carrega seu peso desolidão de indivíduos carentes do outro.”

Nelson Hoffman: Rua Padre Anchieta, 439 - Roque Gonzales - RS- 97970-000 - [email protected]

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Notícias

R. Major Basílio, 441 - Cjs. 10 e 11 - Mooca - São PauloTel.: (11) 2601-2200 - [email protected]

Trabalhista - Cível - Família

Roberto Scarano

OAB - SP 47239

Advogado

Tânia Diniz, escritora e idea-lizadora do mural poético MulheresEmergentes em 1989, faleceu nodia 3 de abril, em Belo Horizonte(MG). Nasceu em 20 de maio de1949 em Dores do Indaiá (MG). Po-eta, haicaísta, contista, professorade português, francês, espanhol eitaliano e promotora cultural. Parti-cipou de várias antologias. É cita-da no Dicionário de Escritoras deNelly Novaes Coelho (USP) e noDicionário de Mulheres de Hilda Ag-nes Hübner Flores. Autora de OMágico de Nós e Rituais (contos),Mulher EmBalada (poemas),Bashô em Nós (co-autoria, MençãoEspecial Prêmio Ribeiro Couto/UBE-RJ), Relato de Viagem à Mar-melada e Flor do Quiabo (Haicais).O Mulheres Emergentes, de publi-cação trimestral, tem como objeti-vo enfatizar o feminino nas Artes.

Prêmio Jabuti, promovidopela Câmara Brasileira do Livro,está com inscrições abertas, até odia 30 de abril, para obras publica-das em língua portuguesa no Bra-sil, em primeira edição, entre 1 dejaneiro e 31 de dezembro de 2019.A impressão da mesma poderá tersido feita fora do País. Inscrições:https://www.premiojabuti.com.br/

João Pedro Bara Filho, jor-nalista especializado em Tecnolo-gia da Informação, lançou Memó-rias Irrisórias - Revelações de umaesquecida “Caixa Preta”, pela Edi-tora Chiado. A obra tem como pon-to de partida as anotações exuma-das de uma “Caixa Preta”, aban-donada no arquivo morto de ummaleiro há quase meio século.

divu

lga

ção

O 13º Festival de Poesia,promovido pela Ong Usina dosSonhos, que seria realizado nosdias 8, 9 e 10 de maio, na cidadede Dois Córregos (SP), foi cance-lado em decorrência da Covid-19.Ainda não tem data marcada paraacontecer. Serão homenageadospoetas Luiza Galvão Lessa (Acre),João Gomes de Sá (Alagoas), JoãoGomes (Amapá), Dori Carvalho(Amazonas), José Inácio Vieira deMello (Bahia), Luciana Martins (Dis-trito Federal), Renata Bomfim (Es-pírito Santo), Alice Spíndola (Goiás),Daniel Blume (Maranhão), RaquelNaveira (Mato Grosso do Sul), Lu-cinda Nogueira Persona (MatoGrosso), Aroldo Pereira (MinasGerais), Airton Souza (Pará), Ricar-do Bezerra (Paraíba), DinovaldoGilioti (Paraná), Maciel Melo (Per-nambuco), Diego Mendes Sousa(Piauí), Nildinha Freitas (Rio Gran-de do Norte), Oscar H. MarquesCardoso (Rio Grande do Sul), Eli-zeu Braga (Rondônia), Eliakin Ru-fino (Roraima), Marcelo Steil (San-ta Catarina), Rosani Abou Adal (SãoPaulo), Ivanildo Souza (Sergipe),Eliosmar (Tocantins) e EduardoTornaghi (Rio de Janeiro).

Waldir De Pinho Veloso lan-çou Direito Notarial e Registral: atanotarial pela Editora Juruá. É o maiscompleto e atual livro sobre atanotarial do Brasil.

A Câmara Brasileira do Livroestá com promoção, até o dia 31de maio, para a ficha catalográfica(sócios R$ 30 e não sócios R$ 60).A carta de exclusividade para ossócios está isenta de taxas.

A Memória e o Guardião, dojornalista Juremir Machado, Edito-ra Civilização Brasileira, abriga pre-cioso acervo de cartas recebidaspor João Goulart, no período emque ocupou a presidência da Re-pública, que revelam como traido-res de Jango se portaram duranteseu governo e como o golpe que odepôs da presidência da Repúbli-ca foi sendo armado. O referidoacervo, que ficou guardado emduas malas por cinco décadas de-pois do golpe de 1964, revela a con-duta de traidores. Entre os reme-tentes estão a atriz Janet Leigh,estrela de Psicose, e políticoscomo os presidentes John Kenne-dy e Juscelino Kubitschek.

A Ubook, plataforma de audi-otainment por streaming, disponi-biliza 218 títulos de audiolivros, deliteratura infantil, brasileira e univer-sal para serem acessados gratui-tamente. www.ubook.com

A Banca Tatuí, livraria de pu-blicações independentes localiza-da na Rua Barão de Tatuí, 275, emSão Paulo, foi arrombada no dia 8de abril. A banca é dos editores daLote 42 João Varella e Cecília Ar-bolave. www.bancatatui.com.br/

Francisco Carlos Duarte lan-çou Canto quase coro sambaquia-no, pela Kotter Editorial. A obra abri-ga texto e imagens que têm comocenário um vilarejo onde é achadaa ossada de um sambaqui.

O Centro Literário de Pira-cicaba e o Grupo Literário de Pira-cicaba, em decorrência do Covid-19, estão com as reuniões mensaiscanceladas. Conforme determina-ção do governo estadual e da pre-feitura municipal, estão suspensastodas as atividades da BibliotecaMunicipal até segunda ordem.

Heroínas desta História -Mulheres em busca de justiçapor familiares mortos pela dita-dura, organizada por Carla Borgese Tatiana Merlino, foi lançada pelaEditora Instituto Vladmir Herzog. Aobra apresenta a trajetória e histó-rias de luta de 15 mulheres queperderam familiares durante a di-tadura militar no Brasil (1964-1985). Clarice Herzog, ElizabethTeixeira, Eunice Paiva, Clara Charf,a cacica xavante Carolina Rewap-tu e Elzita Santa Cruz - falecidaaos 105 anos - são algumas dasmulheres retratadas.

O Programa Banco do Bra-sil de Patrocínio 2021/2022 - Edi-tal Centro Cultural Banco do Brasil(CCBB) - está com inscrições aber-tas, até cinco de junho, para sele-cionar projetos para compor a pro-gramação dos CCBBs de BeloHorizonte (MG), Brasília (DF), Riode Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).Os interessados (pessoa física oujurídica) poderão inscrever projetosde Artes Cênicas, Cinema, Expo-sição, Ideias, Música e ProgramaEducativo. www.bb.com.br/patroci-nios

Noélia Ribeiro, em parceriacom Aroldo Pereira, após a pande-mia, retornam com turnê poéticapelo Brasil.

Aroldo Pereira participa doSarau Poesia Leberta 2, apresen-tado por Sóter José, no YouTube,edição Sarau da Pandemia.

Leonardo de Souza Cha-ves, Procurador de Justiça e pro-fessor da PUC-RJ, lançou o ro-mance Desordem, pela ChiadoBooks. O livro tem como cenáriosa experiência do autor como mem-bro do Ministério Público vinculadoà defesa dos direitos humanos.

Maria Lima Delboni Lima e Tânia Diniz