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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
MARIO JOSE MISSAGIA JUNIOR
O CONCEITO DE PAZ NA TEORIA POLTICA DE THOMAS HOBBES
NITERI
2008
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MARIO JOSE MISSAGIA JUNIOR
O conceito de Paz na Teoria Poltica de Thomas Hobbes
Dissertao apresentada no curso de mestrado em cincia
poltica do Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica
da Universidade Federal Fluminense.
Orientador: Professor Doutor Claudio de Farias Augusto
Universidade Federal Fluminense
Niteri
Departamento de Cincia Poltica da UFF
2008
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O CONCEITO DE PAZ NA FILOSOFIA POLTICA DE THOMAS HOBBES
Dissertao apresentada no curso de mestrado em cincia
poltica do Programa de Ps-Graduao em Cincia
Poltica da Universidade Federal Fluminense.
Dissertao aprovada em outubro de 2008
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Claudia Augusto
PPGCP-UFF
_____________________________________
Prof. Dr. Ari de Abreu
PPGCP-UFF
____________________________________
Prof. Dr. Yara Frateschi
UNICAMP
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Dedico esta dissertao a minha esposa.
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Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos aqueles que, cada um a sua maneira, acreditaram e
apoiaram esta pesquisa. Meu orientador, Prof. Dr. Cludio Augusto, meus professores nas
disciplinas do mestrado, em especial o Prof. Dr. Thomas Haye, em quem encontrei sempre
um grande incentivo e estmulo, e meus colegas de curso, com os quais compartilhei minhas
dvidas e concluses. No poderia deixar de mencionar minha famlia, que sempre me deu
todo o suporte que precisei para poder me dedicar a minha formao. Agradeo tambm ao
CNPQ, que me concedeu uma bolsa sem a qual no poderia ter me dedicado da forma como
me dediquei ao curso.
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Recinto interno da Ara Pacis, com imagem da deusa Roma e ornamentos.
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Sumrio
Introduo
Primeira parte
Captulo 1: O Humanismo do jovem Hobbes
1.1 - As marcas do Humanismo:
1.1.1 - O tema hobbesiano
1.1.2 - A metodologia hobbesiana
Captulo 2: A maturidade e a filosofia
2.1 - De 1637 a 1640: o incio do sistema hobbesiano
2.2 - O exlio na Frana
2.3 - A boa vida na Inglaterra republicana e a restaurao
2.4 - A representatividade das obras do perodo compreendido entre 1639 a 1651 frente ao
conjunto do sistema filosfico
Segunda parte
Captulo 3: O pressuposto da unidade na argumentao
3.1 - O pressuposto da unidade na pessoa
3.2 - O pressuposto da unidade no mundo
3.3 - A unidade do mundo: criao e liberdade/necessidade
Captulo 4: A questo da paz no pensamento poltico hobbesiano
4.1 - Os estados natural e civil: da guerra e da paz.
4.2 - Guerra e paz, ordem, desordem e a negatividade e positividade dos conceitos.
4.3 - Alma, unidade e paz
Concluso
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Resumo
No presente trabalho investigamos o conceito de paz adotado por Hobbes em
Elementos do Direito Natural e Poltico, Do Cidado e Leviat. Para tal, iniciamos
investigando as influncias e o contexto histrico do autor, para s ento, a partir da idia de
unidade e suas implicaes, abordar o conceito de paz.
Abstract
In this work we had investigate the concept of pace that has being adopted by Hobbes
in The Elementes of Natural Law and Politics, The Cive and Leviat. For this, we had
beginned for a investigation about his influences and the historical contest. After this, we had
aborded the pice concept from the idea of unite and ther implications.
Palavras chave
Paz, unidade, pluralidade e liberdade
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Introduo
Richard Tuck, em seu livro Hobbes1, divide e caracteriza as interpretaes de seu
pensamento em cinco partes: Hobbes como terico do direito natural moderno, Hobbes
como demnio da modernidade, Hobbes como cientista social e Hobbes como
moralista2, o que evidencia a pluralidade das interpretaes. Skinner, em Razo e Retrica
na Filosofia de Hobbes3, aponta para o fato de muitos usarem o pensamento hobbesiano
como um espelho, onde vem as suas questes e interesses refletidos sob a superfcie
particular que a obra deste autor. A esperana de xito na tentativa de se descobrir um
pensamento hobbesiano segundo Hobbes, a partir de uma reconstituio histrica, nos parece
to inalcanvel quanto o prprio passado. Tal reconstituio carregaria as limitaes
inerentes parcialidade da perspectiva, do modo e da posio do observador, alm de som-
las com as limitaes impostas pelo acesso restrito ao objeto, o qual deve ser reconstrudo em
um trabalho tambm arqueolgico, dadas as polmicas a respeito do Hobbes histrico.
A nosso ver, Hobbes era um homem de seu tempo. Sua formao foi a formao tpica
de um intelectual nascido no final do sculo XVI, exerceu durante grande parte de sua vida
funes de secretrio e algo que poderamos chamar hoje de assessor, o que tambm
bastante tpico de sua poca. Se poderia dizer que nosso autor foi um pioneiro da cincia
moderna, mas poderamos perguntar de qual cincia Hobbes foi pioneiro? Seu ceticismo a
respeito dos experimentos, revelado em sua polmica com Boyle, sua humildade em relao
s possibilidades de se conhecer o mundo tal qual ele e, acima de tudo, a forte influncia do
humanismo, da qual oriunda a expresso cincia civil em seu vocabulrio4, permitem
contestar este papel que muitos atribuem a ele.
1 TUCK, 2001. 2 Existe uma outra parte do terceiro captulo do livro de Tuck (2001) denominada Hobbes hoje, esta dedicada a traar um panorama das tendncias contemporneas das interpretaes do pensamento de Hobbes. 3 SKINNER, 1997, p. 30. 4 O fato de Hobbes resignificar a expresso cincia civil, que chega a ele pela leitura dos clssicos (SKINNER, 1997, p. 23), nos mostra que no uma questo de pioneirismo, mas, sim, de inscrever-se, com uma viso bastante original, em um debate iniciado na antiguidade clssica.
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Skinner5 nos mostra como as questes metodolgicas colocadas a partir da
necessidade de reinterpretar o passado clssico so fundamentais para que se venha a
vislumbrar a possibilidade de construir um mtodo alienado e por isto mesmo universal. Tal
mtodo pressupe uma ruptura drstica com um pressuposto at ento vigente, o qual partia
da existncia de diferentes tipos de certeza, tpicos a cada um dos campos do saber. Em lugar
deste mundo partido se coloca um mundo unitrio, total e necessariamente coerente, o qual
permitiria a construo de verdades de uma outra ordem.
Hobbes foi um pioneiro desta epistemologia nascente oriunda do humanismo, na
medida em que a necessidade de erigir uma perspectiva no aristotlica estava na ordem do
dia de seu tempo. O pioneirismo era o po dirio em um mundo que cada vez cabia menos nas
interpretaes dominantes das explicaes clssicas6. As questes colocadas por autores
cticos haviam aberto feridas profundas nas crenas que sustentavam a velha ordem, a isto
podemos somar as grandes transformaes que estavam ocorrendo; com as novas invenes, o
crescimento do comrcio e as reformas protestantes, no s as crenas no sustentavam mais a
ordem, mas tambm a ordem no sustentava mais as crenas.
A forma com que Hobbes lidou com estas questes, apesar de criativa e inventiva, no
, em nosso entender, nem destacada do humanismo, nem livre de alguns elementos tpicos do
pensamento medieval. De um lado, o direito natural, a garantia da vida e um Deus ordenador
do mundo, que so parte de um iderio definitivamente familiar a teorias da idade mdia. De
outro, o estudo da histria e da lngua como forma de contestar e afirmar significados, a busca
de uma jurisprudncia universal7 e a retomada da noo clssica de comunidade poltica8, a
qual subordina a sociedade ao ato poltico, idia que de Locke em diante no ser mais vista
na Inglaterra9.
Apesar destas semelhanas, no lemos a obra hobbesiana como mais do mesmo. A sua
forma de lidar e combinar estes elementos, assim como sua conceituao para estas noes,
faz de seus escritos a vanguarda de seu tempo. A natureza humana, que Hobbes diz conhecer
pela experincia no incio da terceira parte do Leviat, a natureza de um homem no
medieval e no renascentista. O estado que descrito em seus textos no deixa de ser the
state as a work of art, na medida em que um artifcio humano, porm, ao mesmo tempo,
5 SKINNER, 1996. 6 Estamos fazendo meno a descobertas como, por exemplo, o heliocentrismo. 7 Como discutiremos, com base em Skinner (1996), no primeiro captulo. 8 Cidade para os antigos e commonwealth para os contemporneos de Hobbes. 9 WOLIN, 1988 p. 327.
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sobre tudo, uma pessoa artificial dotada de um querer autnomo, uma razo prpria; no por
coincidncia que Westfalia se da em 1648.
Nada disso deve surpreender, Hobbes, como todos ns, s conhecia o passado, o
futuro estava por vir. O mundo se transforma, no se sabe para onde ele vai, tudo que se pode
fazer buscar interpret-lo luz do passado, do que j se sabe, o que - dado que no h
garantia da constncia, de que o que foi ontem ser amanh - nos deixa sempre com recursos
interpretativos ultrapassados. Piaget nos ensina que s podemos conhecer a partir do que j
conhecemo