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O CULTO ANCESTRAL FEMININO NO BATUQUE DO RS  Rudinei Borba Pesquisador Independente e Autodidata Abril / 2013 RESUMO O objetivo deste texto é demonstrar a sobrevivência do “culto ancestral feminino” no Batuque do Rio Grande do Sul, traçando um paralelo com a religião tradicional iorubá. O trabalho apresenta a visão do Batuque, e como foi capaz de preservar através dos tempos o culto dos antepassados femininos e masculinos no “Balé”, local coletivo de culto ancestral. PALAVRAS CHAVES:  Ìyáàmi, Éégún, Ìgbàlè, Yorùbá, Mãe, Egún, Ancestral, Balé, Batuque. ABSTRACT The aim of our paper is to demonstrate survival "female ancestor worship" in Batuque of Rio Grande do Sul, drawing a parallel with the traditional iorubá religion. The paper presents the vision of Batuque, and how was able to preserve through the ages ancestor worship feminine and masculine in "Balé", collective local to ancestral worship. KEYWORD:  Ìyáàmi, Éégún, Ìgbàlè, Yorùbá , Mother, Egún, Ancestor, Balé, Batuque.

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O CULTO ANCESTRAL FEMININO NO BATUQUE DO RS 

Rudinei Borba

Pesquisador Independente eAutodidataAbril / 2013

RESUMO

O objetivo deste texto é demonstrar a sobrevivência do “culto ancestral

feminino” no Batuque do Rio Grande do Sul, traçando um paralelo com a religião

tradicional iorubá.  O trabalho apresenta a visão do Batuque, e como foi capaz de

preservar através dos tempos o culto dos antepassados femininos e masculinos no

“Balé”, local coletivo de culto ancestral.

PALAVRAS CHAVES:  Ìyáàmi, Éégún, Ìgbàlè, Yorùbá, Mãe, Egún, Ancestral, Balé,

Batuque.

ABSTRACT

The aim of our paper is to demonstrate survival "female ancestor worship" in

Batuque of Rio Grande do Sul, drawing a parallel with the traditional iorubá religion.

The paper presents the vision of Batuque, and how was able to preserve through the

ages ancestor worship feminine and masculine in "Balé", collective local to ancestral

worship.

KEYWORD: Ìyáàmi, Éégún, Ìgbàlè, Yorùbá, Mother, Egún, Ancestor, Balé, Batuque.

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INTRODUÇÃO

Diferente de outras raízes afro-brasileiras, o culto “ancestral feminino” do

Batuque do RS é realizado no “balé”, ao lado do culto aos ancestrais masculinos, e que

tal forma de culto ancestral feminino era, ou ainda é, praticada em alguns lugares de

tradição religiosa iorubá conforme veremos no decorrer do texto1  com as fontes que

apresentaremos, demonstrando que mesmo na simplicidade, o Batuque conservou esta

ritualística através dos tempos.

Para entendermos melhor nosso propósito de estudo, dividiremos o texto em

duas partes, das quais citamos:

•  O Culto Ancestral Feminino na Tradicional Iorubá 

•  O Balé: Local de Culto aos Ancestrais do Batuque do RS 

Após apresentarmos as pesquisas, finalizaremos demonstrando que o Batuque

em sua simplicidade, preservou essa crença e prática religiosa através dos tempos,

aonde vem cultuando sua ancestralidade feminina no mesmo local de culto dos

ancestrais masculinos.

O CULTO ANCESTRAL FEMININO NA TRADICIONAL IORUBÁ 

Dentro da tradição iorubá existe um grande respeito pelos anciões da família,

devido sua experiência e sabedoria adquirida no decorrer de sua existência no ayé .

1.  Agradecemos a Luiz L. Marins, irmão de religião, pela contribuição de fontes e sugestões de texto. Àse!

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.+   '8 ! (

C! & " 

:; (a tradução é nossa).

O autor mencionado vai mais além que Idowu e Verger em seu relato,

registrando que “os primeiros incluem os espíritos dos antepassados mortos, mães,

avôs, avós, bisavôs e bisavós de uma determinada família”.

Sobre o fato de este rito ser realizado diretamente na terra, Abímbólá (1997,

p.71) afirma que ela é o local de descanso dos ancestrais, como segue:

E .+  (

! ( ! ! 7

7 8 +

!

( F

( " (a tradução é

nossa). 

Através da fala de Abímbólá, pensamos que o “balé” é o local por onde os

ancestrais partem em jornada até o òrun 3 e de onde continuam se comunicando com os

ancestrais da família, atuando assim como um aláàbò  (protetor). Neste espaço são

depositadas velas, moedas, comidas ritualísticas, bem como, apetrechos que o ancestral

mais gostava em vida.

Sobre o uso do chão, Drewal (1992, p. 209) relata o enterro de um ancestralnativo iorubá, realizado no solo da própria casa, como segue:

- ( '

& 0 '

3. Em iorubá, òrun – espaço abstrato que “coexiste” paralelamente com o ayé  (mundo concreto em quevivemos). O òrun  é o espaço onde habitam os ara-òrun, juntamente aos Orixás e os Egúns(ancestrais). Alguns autores o equivalem ao céu cristão.

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7 % ,

+

24 ,(

! !" (A tradução é nossa). 

Percebemos através da fala da autora que os iorubás enterram seus ancestrais,

independente de homens ou mulheres, em suas casas.Fálàdé (1998, pp. 506-508) informa que na ausência do corpo do morto, pode-se

criar um local de culto:

   7 , .+  

B+   (

(

+ ' +

G ,( ( + B+  

H '

G   & (

+    G )

I+ + " (a tradução é nossa). 

Através do relato de Fálàdé percebemos que ambos, o Batuque e a ReligiãoTradicional Iorubá, podem escolher um local de adoração aos seus ancestrais, onde esta

prática se mantém viva até nossa atualidade.

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a) A Sacralização do Balé no Batuque do RS

Geralmente é cavado um buraco (isà òkú)6  nos fundos do terreno da casa de

religião, o qual terá “aproximadamente” noventa centímetros de comprimento por

setenta centímetros de largura (90 cm x 70 cm) e com uns cinquenta ou sessenta

centímetros de profundidade.

Este buraco é sacralizado com elementos que são utilizados na ritualística de

“Egún”, das quais de uma maneira geral, os elementos poderão ser: Café preto fervido,

óleo de dendê (epo pupa), mel (oyin), nove tipos de bebidas alcoólicas diferentes (otí

eesan), água (omi), etc.

Neste local sacralizado e nomeado como “Balé” será efetuado os ritos de

“Honras ao Egún”, onde será homenageado caso tenha merecimento. É ali neste buraco

(balé) que substitui a cova do morto, que se encontra no cemitério, pois não temos

acesso à tumba do mesmo nas dependências do terreno.

b) O Ritual do Balé no Batuque do RS

É de conhecimento geral dos adeptos do Batuque, que o ritual de desligamento

do morto é aplicado tanto aos filhos de santo da casa, que tenham o merecimento de

culto ancestral, como também ao sacerdote que vier a falecer.

Nossa descrição se aplicará a exemplo de uma possível morte do sacerdote dacasa de religião.

Na noite do sexto dia, após a morte do “pai” ou “mãe” de santo com nível

elevado de idade no culto do Batuque, as primeiras medidas tomadas pelos

descendentes da casa religiosa é o ritual de desligamento do morto. O responsável e

substituto do sacerdócio da casa encarrega-se de preparar o caixão e o corpo do

6. R.C. Abraham , Dictionary of Modern Yoruba, 1962, p. 319.

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Confirmando nosso registro, Simpson (1980, p. 62) informa que no rito fúnebre

de desligamento de um sacerdote, os iorubás possuem um ritual muito semelhante a esterealizado no Batuque:

H !

' H

(    =' @ ( !

R S" (A tradução e a nota são nossas). 

Na noite do sexto dia após o falecimento do morto, conforme nosso aprendizado,

o sacerdote coloca dentro do buraco, posicionado no centro, uma bola feita com batata

inglesa esmagada com casca e colorida com pó de carvão, e nesta geralmente é fixada

uma vela acesa na cor branca, podendo em algumas outras vertentes religiosas

colocarem nas bordas do buraco.

A “maioria” dos adeptos do Batuque efetua a ritualística do “balé” de acordo

com a descrição que faremos a seguir, podendo é claro ter diferenças rituais de uma raizreligiosa para outra.

Geralmente ao redor do buraco são colocadas as comidas preparadas

ritualisticamente, das quais podemos citar algumas mais utilizadas:

1.  Cozido de legumes regionais (batata, moranga, cenoura, mandioca, etc.);

2. 

Cangica branca cozida e refogada com feijão miúdo10

 e cebola picada;

9. Camwood (Baphia nitida) é uma árvore africana. Sua madeira é comumente usada para fazer umcorante vermelho. Nomes Iorubá:  Igiòsùn, Ìròsùn, Àwèwí, Òwìwí, Àràse, Ajoláwò Ìròsùn  (Verger,Ewé , 1995, p. 637)

10. O feijão-miúdo (Vigna unguiculata), também é conhecido como feijão-fradinho, feijão-macassar,caupi, feijão-de-chicote, feijão-de-corda, feijão-de-vaca, feijão-da-china, feijão-da-praia, feijão-demacassar, fava-de-vaca, ervilha-de-vaca, feijão-de-olho-preto, feijãozinho-da-índia. Fonte: Embrapa,Pelotas – RS. Nomes Iorubá: Èwà (funfun, dudu, erewe), Erèé ahun, Ewe. (Verger, Ewé , 1995, p.735).

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3.  Cangica branca cozida e refogada com amendoim e cebola picada;

4. 

Cangica branca cozida e refogada com óleo de dendê e cebola picada;

5.  Cangica branca cozida e refogada com amendoim, óleo de dendê e cebola

picada;

6.  Cangica amarela cozida e refogada com feijão miúdo e cebola picada;

7.  Cangica amarela cozida e refogada com amendoim e cebola picada;

8.  Cangica amarela cozida e refogada com óleo de dendê e cebola picada;

9.  Cangica amarela refogada com óleo de dendê, amendoim e cebola picada;

10. Mingau feito com amido de milho e coco ralada, adicionadas pipocas untadas

com óleo de dendê.

11. Comidas que a pessoa mais gostava

12. Bebidas que a pessoa mais gostava;

13. Erva mate (devido ser tradição regional o chimarrão gaúcho);

14. Caso pessoa fosse tabagista: Charutos, cigarros, cigarrilhas, fumo em corda,

cachimbos, etc.

 Flores; 

 Velas de sebo brancas; 

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Foto: Bàbá Osvaldo Omotobàtálá – Montevidéu (Uruguai).

Dando sequencia no ritual, o sacerdote sacrifica aves no “balé” (galos e

galinhas) e quando necessário, um animal quadrúpede, deixando cair o sangue dentro do

buraco para após este processo, serem acomodados às cabeças dos mesmos ao redor da

bola de batata inglesa esmagada (com casca e com carvão moído), com a vela cravada

na mesma, dentro do buraco.

No geral os animais são levados à cozinha para serem preparados

religiosamente. Aprendemos na nossa raiz religiosa que as patas e pontas das asas são

cozidas e preparadas para serem adicionadas em cima de um pirão feito com farinha de

mandioca e refogada com repolho roxo. Este pirão será colocado de oferenda na

cabeceira, em volta do “balé”.O sacerdote ou uma pessoa encarregada, geralmente prepara as partes esquerdas

dos galos e suas vísceras internas (coração, moela, fígado) com arroz que será

depositado como oferenda no “balé”. Das partes direitas, aprendemos que são feitas da

mesma forma para os participantes comerem no outro dia.

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Tamboreiro: Egún alá bélauô, alá Egún bélauô

Resposta: Auilê bamba, alá Egún bélauô.

Por não ser o foco do nosso trabalho, não iremos relatar o preparo dos sacos

contendo o carrego do morto, onde geralmente são levados para o mato, rio e praia.

Por ser o “balé” um local sagrado, jamais poderá ser objeto do uso de feitiços

como fazem alguns religiosos mal informados e mal intencionados, e isto constitui um

sacrilégio, pois é neste local onde respondem aqueles que, após a morte, julgam nossoscomportamentos. A prática de feitiçaria neste local seria o mesmo que fazer algo errado,

e ser castigado imediatamente pelo ancestral ali invocado, pois através do “balé”, os

“egúns” guardam a casa de religião contra espíritos maléficos e escurecidos.

c) O Culto Ancestral Feminino no Batuque do RS

O Batuque do Rio Grande do Sul possui a prática de culto ancestral no mesmo

local, independente do sexo do defunto. Como a proposta do nosso trabalho é focar na

reverencia a ancestralidade feminina, pensamos que esta é a forma de manter viva nossa

ancestralidade, pois sem a presença de  Ìyá mi  (Minha Mãe) não seríamos nada, não

teríamos vivido, e acreditamos que as mesmas merecem o devido respeito no culto.

Quando uma sacerdotisa com idade avançada da comunidade do Batuque vem a

falecer, esta geralmente será reverenciada e cultuada através do “balé”.

Segundo a Ialorixá Iara Pontes13 de “Bara Adague” da raiz religiosa do “Oió” no

Batuque do Rio Grande do Sul, relata14 em contribuição ao nosso estudo que:

13. Ialorixá iniciada há mais de 70 anos no culto do Batuque, sendo ela de Bara Adage e herdeira religiosada casa da Saudosa Laudelina Pontes de Bara Ìjelú. Ambas do lado religioso do Òyó no Batuque edescendentes da casa de Mãe Moça da Oxum. Atualmente Dona Iara mora em Viamão – RS.

14. Diálogo realizado na cidade de Viamão – Rio Grande do Sul, em Dezembro de 2012.

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" (informação pessoal) A nota é nossa. 

Através da fala da experiente sacerdotisa do Batuque, podemos comprovar a

presença do culto ancestral feminino no mesmo local praticado o masculino.

Acreditamos que realmente existe a necessidade de preservarmos esta prática

ritual, onde coloca a ancestralidade numa posição mais viva e presente e num patamar

digno, sem falsos dogmas, sincretismos e misticismos.

d) Culto de Ìyáàmi Òsòròngà 

Diferente de outras religiões afro-brasileiras, o culto à ancestralidade feminina

no Batuque do R.S. não está aglutinada a nenhuma representação coletiva do culto de

 Ìyáàmi Òsòròngà  (Elbein dos Santos, 1998, p. 114), pois tal culto não existe no

Batuque. Sobre isso, é importante o depoimento do Chief Ifawole16  criticando17 

iniciações que vem sendo feitas para essas entidades.

15. Forma carinhosa e pessoal que Sr Iara Pontes se refere à Saudosa Laudelina Pontes de Bara Ijelú, estaque era sua tia.

16. Chief Ifawole Idowu Awominure nasceu e foi criado em  Ilé-Ifè, originário de Agesinyowa. Criado emuma família de bàbáláwo  altamente respeitados. É especializado em  Ifá  e é membro ativo dacomunidade de Obàtálá. Ele tem muitos omo-awo e possui o título de  Lisa, segundo para Oluwa naFraternidade Ogboni.

17. INTERNET, disponível em: <http://culturayoruba.wordpress.com/iyaami-aje-e-oso/ >

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CONCLUSÃO

Entendemos que o Batuque, tal quais os iorubás, conforme ficou demonstrado,

pratica o culto de nossas mães ancestrais Ìyá Mi, e tal culto nada tem a ver com o culto

de Ìyáàmi Òsòròngà praticado por outras religiões afro-brasileiras.

Concluímos que o Batuque, no Estado do Rio Grande do Sul, mantém ainda vivo

o culto “ancestral feminino” semelhante ao praticado pelos iorubás não aculturados, ou

seja, junto aos “ancestrais masculinos”. Entendemos que, independente do sexo do

morto, ambos são reverenciados dentro de o culto éégún, onde o sexo masculino temsua supremacia sacerdotal.

Pensamos que devemos continuar cultuando nossa ancestralidade feminina no

“balé” do Batuque, assim preservando o rito realinhado com a tradição iorubá.

Deixamos registrado aqui um pedido para os futuros sacerdotes e escritores da

nossa diáspora afro-gaúcha, que não busquem informações e explicações da nossa

ritualística do Batuque nas outras religiões afro-brasileiras, pois temos as nossas

preservadas através e aqui fundadas há quase dois séculos.

“Acreditamos que o Batuque não deva ser modificado e sim melhor entendido!”

 Àse!

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