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"O "Cyberbullying" pode começar dentro de casa" de Lucas Parisi está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em www.twitter.com/lucasparisi. OBS.: TEXTO NÃO PUBLICADO. ABORDA TEMAS CIENTÍFICOS MAS INICIALMENTE NÃO POSSUI CARÁTER CIENTÍFICO O "Cyberbullying" pode começar dentro de casa Lucas de Castro Horta PARISI 11 Uma pesquisa recente da "University of Michigan C.S. Mott Children’s Hospital" denominada Parents on social media: Likes and dislikes of sharenting (1) revelou o seguinte: mais da metade das mães e um terço dos pais reconhecem que eles compartilham os prós e os contras na criação dos seus filhos, enquanto usam a Internet. Casos de exibição dos problemas rotineiros nos lares estão tomando proporções muito maiores com um tipo de comportamento que especialistas chamam de "oversharenting" (2) ou seja, quando pais usam excessivamente as mídias sociais para exporem questões relacionadas à criação dos seus filhos. Num exemplo prático é mais ou menos assim: a criança faz um vômito, o pai ou mãe fotografa e logo em seguida a foto está na rede social seguida de dúvidas e pedidos de socorro. Neste exemplo, o caso pode parecer uma maluquice e digno de perguntas do tipo: "como pais podem fazer isso com os filhos?". Conforme 1 Lucas Parisi é psicólogo cognitivo com estudos focados em comportamento digital, dependência de internet, infância e família. É também membro do corpo clínico do AMEFI Ambulatório Especial de Acolhimento e Tratamento de Famílias Incestuosas (HC-UFMG) http://lattes.cnpq.br/9743936115450458 revelado na pesquisa não é uma maluquice. É prudente pensar que esta situação é "absurda", mas neste contexto, estamos falando de pais Y com características exageradas e com traços de "Early-Adopters". A pesquisa revela também que eles não estão tão preocupados com as potenciais consequências negativas do "overshareting" e sim em resolver seus problemas. A escassez do tempo e o dia- a-dia corrido dos pais, tem gerado em seus cotidianos comportamentos impulsivos mediados por uma necessidade imediata de resolução de conflitos e problemas e as tecnologias digitais como Facebook, Twitter, Blogs e demais mídias (como os grupos de WhatsApp) tem sido parceiros fortes na compensação e auto-preservação dos pais quando estão diante de uma possível frustração em sua dinâmica familiar. As crianças, com certo medo, estão se distanciando destes tipos de plataformas digitais. Segundo pesquisas do

O Cyberbullying pode começar dentro de casa

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Considerações sobre o Cyberbullying e porque ele pode estar começando dentro de casa.

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"O "Cyberbullying" pode começar dentro de casa" de Lucas Parisi está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em www.twitter.com/lucasparisi.

OBS.: TEXTO NÃO PUBLICADO. ABORDA TEMAS CIENTÍFICOS MAS INICIALMENTE NÃO POSSUI CARÁTER CIENTÍFICO

O "Cyberbullying" pode começar dentro de casa

Lucas de Castro Horta PARISI 11

Uma pesquisa recente da "University of

Michigan C.S. Mott Children’s Hospital"

denominada Parents on social media:

Likes and dislikes of sharenting (1)

revelou o seguinte: mais da metade das

mães e um terço dos pais reconhecem

que eles compartilham os prós e os

contras na criação dos seus filhos,

enquanto usam a Internet.

Casos de exibição dos problemas

rotineiros nos lares estão tomando

proporções muito maiores com um tipo de

comportamento que especialistas

chamam de "oversharenting" (2) ou seja,

quando pais usam excessivamente as

mídias sociais para exporem questões

relacionadas à criação dos seus filhos.

Num exemplo prático é mais ou menos

assim: a criança faz um vômito, o pai ou

mãe fotografa e logo em seguida a foto

está na rede social seguida de dúvidas e

pedidos de socorro. Neste exemplo, o

caso pode parecer uma maluquice e digno

de perguntas do tipo: "como pais podem

fazer isso com os filhos?". Conforme

1 Lucas Parisi é psicólogo cognitivo com estudos focados em comportamento digital,

dependência de internet, infância e família. É também membro do corpo clínico do AMEFI –

Ambulatório Especial de Acolhimento e Tratamento de Famílias Incestuosas (HC-UFMG)

http://lattes.cnpq.br/9743936115450458

revelado na pesquisa não é uma

maluquice. É prudente pensar que esta

situação é "absurda", mas neste contexto,

estamos falando de pais Y com

características exageradas e com traços

de "Early-Adopters".

A pesquisa revela também que eles não

estão tão preocupados com as potenciais

consequências negativas do

"overshareting" e sim em resolver seus

problemas. A escassez do tempo e o dia-

a-dia corrido dos pais, tem gerado em

seus cotidianos comportamentos

impulsivos mediados por uma

necessidade imediata de resolução de

conflitos e problemas e as tecnologias

digitais como Facebook, Twitter, Blogs e

demais mídias (como os grupos de

WhatsApp) tem sido parceiros fortes na

compensação e auto-preservação dos

pais quando estão diante de uma possível

frustração em sua dinâmica familiar.

As crianças, com certo medo, estão se

distanciando destes tipos de plataformas

digitais. Segundo pesquisas do

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comportamento infantil na Internet, as

crianças de até 11 anos, já começam a

sair das redes, onde seus pais estão

infiltrados, alegando principalmente que a

identidade digital (3) deles -

compartilhadas por seus pais -, não estão

de acordo com o que eles acham ou

pensam de si mesmos. Logo é prudente

pensar que os riscos de privacidade e

segurança dos filhos estão neste sentido,

ficando comprometidos.

A pediatra Sarah J. Clark, pesquisadora

associada do Departamento de Pediatria

da Universidade de Michigan destaca que

"compartilhar as alegrias e os desafios da

paternidade e da maternidade

documentando a vida das crianças

publicamente, tornou-se uma norma

social, com efeitos positivos e negativos.".

Quando pensamos em norma social, a

pesquisa deixa claro que os pais estão

muito dispostos a convidar outros pais

para o over-share online e isso os deixa

mais tranquilos, e segundo eles, aptos a

compartilharem com segurança as suas

vivências em família, trocando

experiências muitas vezes comuns. Mais

da metade dos pais, precisamente três

quartos deles, dizem que conhecem

alguém que partilha informações sobre

seu filho e que portanto, poderia ser apto

em auxiliá-lo em tomadas de decisões

mais prudentes.

Aqui se vê um tipo de equivalência de

padrão que pode ser drástico.

Mas, e então, se algo pode ir para a rede,

o que de fato pode ser mais prudente

quando pais compartilham situações

sobre seus filhos? Casos como

comentários tipo "hummm, que delícia

comendo o bolo da vovó!" ou "tomando

banho de mangueira no jardim!" (a criança

não precisa estar nua) seguido de fotos,

podem ser situações muito agradáveis ao

convívio social da criança.

Entregar a privacidade dos filhos na

Internet é o grande problema. O mais

prudente é sempre a conversa, o diálogo

e a aceitação dos limites que a criança

pede e requer, quanto à exposição de sua

imagem. Talvez isso possa parecer

incompreensível, o fato da criança aceitar

ou não a exposição de suas fotos, mas

certamente não é. Imagine a criança

chegando na escola e os coleguinhas

comentando a foto que circulou na

internet, enquanto ela vomitava? Não

podemos pensar que os limites da

privacidade da criança existem somente

depois que ela atinge uma idade X ou Y

ou seja capaz de escolher. As teorias

psicológicas do desenvolvimento

explicam que a partir dos 6 anos, qualquer

criança já compreende satisfatoriamente

a maioria das regras das relações sociais

e percebe quando alguém pode ou não

estar quebrando uma dessas regras.

A Internet não pode ser um assombro

para os filhos e nem tampouco um motivo

de desajuste entre as famílias. Seu

propósito não é este.

Assim pais, fiquem atentos. Nem tudo

precisa ir para Internet. Estejam atentos

aos seus filhos. Na dúvida, dialogue com

eles e sempre crie momentos para a

manifestação do pensamento e dos

sentimentos.

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(1) - Link para a íntegra da pesquisa: http://bit.ly/lucas_oversharenting

(2) - uma das palavras mais citadas na web em 2013 e conforme tudo indica, cunhada pelo

jornal Wall Street Journal.

(3) - Múltiplas identidades é uma característica muito pertinente quando falamos de

Nativos Digitais.