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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BULLYING: A VIOLÊNCIA ESCOLAR E AS CONTRIBUIÇÕES DE PROGRAMAS ANTIBULLYING Por: Anita Segal Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BULLYING: A VIOLÊNCIA ESCOLAR E AS CONTRIBUIÇÕES DE

PROGRAMAS ANTIBULLYING

Por: Anita Segal

Orientador:

Prof. Dr. Vilson Sérgio

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BULLYING: A VIOLÊNCIA ESCOLAR E AS CONTRIBUIÇÕES DE

PROGRAMAS ANTIBULLYING

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica.

Por Anita Segal

Rio de Janeiro

2010

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DEDICATÓRIA

Aos Educadores que acreditam no seu

trabalho, nos seus alunos e na

transformação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por sempre estar comigo;

Ao meu marido, Robert Segal, pelo incentivo incondicional;

Aos amigos, Gustavo, Christiane e Alessandra, pelos momentos alegres e de estudo que passamos;

Ao meu orientador, prof. Vilson Sérgio, que mesmo virtual, esteve presente.

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"Você chama de violentas as águas de um rio

que tudo arrasta, mas não chama de violentas

as margens que o aprisionam."

Berthold Brecht

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RESUMO

A violência escolar é uma realidade que vem crescendo em grande

escala, não só no Brasil, mas em todo mundo. Os noticiários que anunciam

assassinatos e suicídios relacionados ao problema são cada vez mais comuns.

O bullying se caracteriza pela relação de desequilíbrio entre pares, que pode

chegar a apelidos estigmatizantes, intimidações e agressões físicas. O bullying

consiste numa questão ainda pouco percebida, apesar de sua freqüência ser

bastante alta. Atualmente, o papel da escola está longe da preocupação com o

respeito, a amizade e a cidadania, o que fomenta ainda mais a cultura da

violência. A questão aqui abordada é como os programas antibullying nas

escolas poderiam contribuir para a redução dos índices de violência e

intolerância, tão comuns nos dias de hoje, visando trabalhar com toda a

comunidade escolar e familiares dos estudantes. Objetivo foi analisar o bullying

como parte de uma cultura escolar e suas manifestações sob a ótica da

Orientação Educacional . O trabalho se baseou em pesquisa bibliográfica, de

autores como Cleo Fante, Aramis Lopes Neto, Israel Figueira e Lucia Helena

Saavedra, dentre outros. O programa antibullying que dê resultado precisa,

antes de tudo, do engajamento e da participação de todos os atores.

Palavras-chave: bullying, violência, escola.

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METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado através de pesquisa qualitativa, quanto à

sua forma de abordagem; bibliográfica, com relação ao seu procedimento

teórico; e exploratória, no tocante aos seus objetivos.

Durante a fase de pesquisa, foram selecionados livros, capítulos de

livros e artigos que abordam a violência na escola, particularmente aquilo que a

literatura especializada considera como fenômeno bullying.

Além de livros, capítulos de livros e artigos, recorreu-se a

publicações disponíveis na rede mundial de computadores (internet) e a

publicação de jornais de grande circulação.

Após a extração das contribuições dos autores das publicações

sobre o bullying, elaborou-se este trabalho, chegando-se às conclusões com os

respectivos resultados da pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................09

CAPÍTULO I – BULLYING: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA ....................................12

CAPÍTULO II – ATORES E FATORES PREPONDERANTES ........................19

2.1 – Autor de Bullying ......................................................................................19

2.2 – Alvo de Bullying .......................................................................................21

2.3 – Alvo/autor de Bullying ............................................................................. 22

2.4 – Espectador de Bullying ............................................................................23

CAPÍTULO III CONSEQUENCIAS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR .....................25

CAPÍTULO IV – PREVENÇÕES E INTERVENÇÕES .....................................33

CONCLUSÃO ...................................................................................................38

BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................40

WEBIGRAFIA ...................................................................................................42

ANEXO .............................................................................................................43

ÍNDICE ..............................................................................................................47

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INTRODUÇÃO

A criança e o adolescente passam quase um terço de seu período de

vida na escola. É neste espaço que eles têm seus primeiros relacionamentos

com pessoas diferentes do seu ciclo familiar e, por conta disso, é na escola

onde eles experimentam e exercitam suas relações com os outros; como se

comportam diante de uma situação que lhes são apresentados.

Quando se tornam adultos, certamente marcas ficam em suas

memórias; lembranças de alguns momentos e situações inesquecíveis. Para

alguns, estas passagens são recordações saudosas, para outros, traumáticas.

O bullying se refere às mais variadas formas de agressão moral e física

entre pessoas, que vão desde xingamentos e apelidos maldosos até agressões

físicas. Trata-se de uma manifestação que há muito tempo vem acontecendo,

mas que sempre foi vista como um conjunto de atitudes consideradas normais,

entre jovens e crianças.

Já foi constatado que a violência juvenil vem crescendo e envolvendo

crianças com idades cada vez mais precoces. Paralelo a isto, nos dias de hoje,

em nossa cultura, a escola tem como objetivo viabilizar a aprovação de seus

alunos para as faculdades, sendo que, para isso, "deposita" todo o conteúdo

necessário, em todo o tempo em que seus alunos se encontram na instituição.

Valores e princípios de cidadania, tolerância e amizade não são aspectos que

os vestibulares cobram e, desta forma, sequer são trabalhados.

A partir desta cultura de bullying nas escolas, mesmo que indiretamente,

surgiu o interesse neste trabalho, mediante uma pesquisa bibliográfica e

documental sobre esta temática: Bullying, intolerância e violência escolar.

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A partir de contribuições de autores como Aramis Lopes Neto, Cleo

Fante, Israel Figueira e Lucia Helena Saavedra, entre outros, a autora deste

trabalho se preocupou em compreender o fenômeno bullying nas escolas, em

pesquisar como programas antibullying nas escolas poderiam contribuir para a

redução dos índices de violência e intolerância, delimitando seu objeto de

estudo na comunidade escolar, considerando os educadores e os alunos, bem

como os familiares destes últimos.

Cabe ressaltar que este trabalho possui ainda como objetivo a análise

do bullying como parte de uma cultura escolar e suas manifestações,

assumindo como relevância proporcionar aos educadores e a sociedade uma

compreensão do aquele fenômeno e uma visão sobre as alternativas a serem

adotadas na prevenção e redução dos índices de violência na escola.

Este estudo foi dividido em quatro capítulos.

O primeiro capítulo propôs-se a contextualizar o bullying, dando suas

definições, formas de manifestações e seu esboço histórico, no mundo e no

Brasil.

No segundo capítulo, intitulado "Atores e fatores preponderantes"

identificam-se os possíveis fatores que envolvem os atores de bullying, aqui

considerados os autores (ou agressores), alvos (ou vítimas) e espectadores (ou

testemunhas).

O terceiro capítulo se preocupou em identificar as conseqüências que os

atos de bullying podem trazer consigo, tanto em um curto como a longo prazo,

chegando até na vida adulta.

No quarto capítulo deste trabalho teve como intenção orientar os

profissionais da área de educação, alunos e familiares como encarar a questão

da violência escolar e como participar em programas antibullying.

Cada capítulo foi iniciado com uma epígrafe que procura trazer a ótica

da Orientação Educacional à temática abordada.

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Na conclusão, o trabalho procura apontar possíveis mecanismos a

serem desenvolvidos por toda a comunidade escolar (incluindo as famílias dos

educandos), visando a prevenção e a diminuição de práticas agressivas entre

crianças e adolescentes, em idade escolar, buscando ainda aumentar a

construção de valores éticos e cidadãos.

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CAPÍTULO I:

BULLYING: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO

“O tempo da escola se insere no tempo da vida. Não podemos separá-los, mas podemos perceber os seus significados de forma diferente. Mas o sujeito da história será sempre o mesmo.” (GRINSPUN, 2008, p.69)

Bullying é uma palavra de origem inglesa que muitos países, inclusive o

Brasil, já adotaram para designar práticas abusivas e de intimidação com a

intenção de coagir e humilhar a vítima. Entende-se como agressão física, mas

também a verbal, a psicológica, o isolamento e a exclusão social. (FIGUEIRA,

2004).

Figueira (idem) se refere à prática de bullying como uma "assimetria de

poder" onde o agressor supõe ter mais força física do que as vítimas

dificultando esta de se defender.

As ações que são entendidas como atos de Bullying são: apelidar,

ofender, zoar, gozar, sacanear, humilhar, intimidar, encarnar, aterrorizar,

amedrontar, tiranizar, dominar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar,

dar um gelo, perseguir, assediar, ameaçar, agredir, bater, chutar, empurrar,

derrubar, ferir, quebrar pertences, furtar e roubar.

O significado do bullying se popularizou como: "implicar com as

pessoas, geralmente alguém mais fraco ou mais novo do que o próprio."

(FIGUEIRA, idem, p. 132).

A agressão e/ou intimidação acontecem de forma intencional e

repetidas, sem motivação aparente, e pode ser estimulada quando o estudante

agressor encontra-se em grupo, ou sozinho quando se julga superior às suas

vítimas. O termo mobbing também pode ser usado quando se está em grupo.

No Brasil, se usa apenas o nome bullying para ambos os casos. Acontece

principalmente na sala de aula e durante o recreio, geralmente longe da

presença de um adulto.

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O bullying entre os estudantes podem ser encontrado em todas as

escolas, independente das características sociais, culturais e econômicas dos

atores envolvidos. Este pode ser encontrado em qualquer escola, sendo assim,

um problema mundial.

O bullying pode ser classificado como direto ou indireto. O bullying direto

é subdividido em físicas quando as ações são bater e tomar pertencer, por

exemplo; e verbais, com apelidos, ofensas, atitudes preconceituosas. No

bullying indireto são percebidas atitudes de indiferença, banimento, isolamento

e difamação. Segundo Neto (2004), o bullying indireto seria mais praticado por

meninas, enquanto a sua modalidade direta, mais praticada por meninos. Fante

(2005) salienta que o bullying indireto seja talvez o que traga mais prejuízo por

sua característica de exclusão e desqualificação do alvo.

Nos últimos tempos, além do bullying em suas formas direta e indireta,

verifica-se o cyberbullying com uma freqüência cada vez maior, em decorrência

da consolidação da era tecnológica, em que crianças e adolescentes desde

cedo já desenvolvem suas habilidades com o auxílio da informática. Através de

mensagens eletrônicas (e-mails), em listas de bate-papo na rede mundial de

computadores (internet), tais como MSN e sites de relacionamentos e até

mesmo perseguições em jogos online, são expostos textos e imagens que

servem para humilhar e agredir a vítima.

O que torna o cyberbullying mais devastador é o fato de que as calúnias

e insultos são disseminados de forma mais rápida, chegando a um número

maior de pessoas em um espaço menor de tempo.

O que encoraja estes agressores em dedicar seu tempo a exibir

fotografias ou vídeos sem consentimento ou forjar imagens da vítima é o

anonimato que a internet possibilita.

Além das características mencionadas acima, Pérez et al. (s/d) colocam

o cyberbullying uma violência mais invasiva, pois ameaçam os estudantes

mesmo fora da escola, em qualquer lugar e em qual quer momento, não sendo

a sua casa um lugar de refúgio. Também é perene, ou seja, seu conteúdo fica

armazenado e não se perde; e a força física ou o tamanho não afetam,

lembrando que estão resguardados pelo anonimato.

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Segundo matéria veiculada na revista Veja, Weinberg (2006) coloca uma

pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que 20% dos estudantes do

ensino Fundamental são vítimas do cyberbullying. Já em outra pesquisa, esta

na Inglaterra, contabilizou que 25% das meninas são alvo de agressões por

celular. E estes números vem crescendo progressivamente.

Em 2007, uma pesquisa realizada pela Pew Research revelou que 32%

dos adolescentes já tinham sido vítimas do cyberbullying. Infelizmente, ainda

não temos dados mais específicos realizados no Brasil sobre o cyberbullying.

Também neste país parece sempre existiu a cultura do "valentão" (bullie)

que "tira sarro da cara" de um colega; um menino de um ano mais adiantado,

que intimida outro de um ano inferior; que dentro da sala de aula tem uma

menina que a maioria da turma zomba, entre tantos outros exemplos reais que

sempre aconteceram e continuam acontecendo.

O pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, Noruega, foi

um dos primeiros a realizar pesquisas sobre o bullying e diferenciá-lo das

brincadeiras e gozações que as crianças fazem, consideradas como normais,

fazendo parte do processo de amadurecimento e construção de suas

personalidades, quando praticados por iguais, sem que se verifique, portanto,

assimetria de poder e repetição de atos.

As pesquisas de Olweus aconteceram a partir do início década de 80, na

Noruega, em decorrência do suicídio de três jovens, após indícios de que

haveriam sido vítimas da prática do bullying. Nela foi constatada que de cada

sete alunos, um estaria envolvido em casos de bullying. Diante desta realidade

se iniciou uma campanha nacional, com o apoio do governo norueguês, e que

se obteve a redução em 50% de incidências de bullying em escolas naquele

país.

“O programa de intervenção proposto por Olweus tinha como características: desenvolver regras claras contra o bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte dos professores e dos pais, aumentar a conscientização do problema para eliminar mitos sobre o bullying e prover apoio e proteção para as vítimas.” (FANTE, 2005, p. 45)

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A partir daquele momento, muitos países como Suécia, Finlândia,

Inglaterra, Estados Unidos, Japão, entre outros, começaram a se preocupar

com o bullying e, com dados coletados, pôde-se constatar que o bullying

acontece em todas as escolas do mundo.

Com a realização de estudos sobre o bullying pelo mundo, vários países

adotaram seus próprios termos para expressar esta prática agressiva ou

antissocial. Mobbing é o termo usado na Noruega, Dinamarca, Suécia e na

Finlândia. Na França, harcèlement quotidién; na Itália, de prepotenza ou

bullismo; no Japão, yjime; na Alemanha, agressionen unter shülern; na

Espanha, acoso y amenaza entre escolares; em Portugal, maus-tratos entre

pares. (FANTE, 2005)

No Brasil, esta preocupação em estudar o bullying somente aconteceu

por volta do ano 2000, por intermédio de Israel Figueira e Aramis Neto, os

quais realizaram uma pesquisa estruturada e adaptada do modelo europeu

para maiores comparações acadêmicas. Como instrumento de avaliação, o

questionário usado para coleta de dados sobre o bullying modelo TMR

(Training and Mobility of Researchs), embasado no questionário original do

professor Dan Olweus.

Foram entrevistados cerca de 490 alunos matriculados na rede

municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro, com idades entre 11 e 17

anos, e que cursavam da 5ª a 8ª série do ensino fundamental. A pesquisa

trazia como objetivos:

• Diagnosticar os níveis de agressão e vitimização na escola, tais como

quantidade, periodicidade e persistência do bullying;

• Verificar a influência de fatores determinantes das práticas de agressão e

vitimização;

• Identificar os tipos de bullying e os locais onde mais ocorrem.

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Com base nos resultados da pesquisa de Aramis Neto e Israel Figueira,

constatou-se que 16,2% dos alunos estariam envolvidos em casos de bullying.

Os meninos estariam em maior número como agressores (67,5%) e como

vítimas (66,7%). A idade em que mais aconteceria o bullying se refere à faixa

etária dos 15 anos (36,1%), com alunos cursando a 5ª e a 6ª séries do ensino

fundamental. Quanto ao tipo de agressão, as físicas apareceram na 8ª série

(70,6%), as ameaças na 5ª série (48,3%) e as mentiras pelas as meninas na 5ª

série (34%). (FIGUEIRA, 2004, p. 135)

Em 2003 a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância

e à Adolescência (ABRAPIA), sob a coordenação de Lopes Neto e Saavedra,

desenvolveu um programa de redução do comportamento agressivo entre

estudantes de 5ª a 8ª série do ensino fundamental, com um total de 5.590

alunos, com o objetivo de criar estratégias de intervenção para a prevenção da

ocorrência do bullying.

Com esse estudo, foi constatado que o número de vítimas varia de 8 a

46%, ao passo que de agressores, de 5 a 30%; mais freqüente em meninos

entre 11 e 13 anos. Dos agressores, 51,8% admitiram não terem sido

advertidos e 41,6% das vítimas não falaram a ninguém sobre o seu sofrimento.

Há alguns casos onde o bullying desempenhou conseqüências

catastróficas, sendo o caso mais famoso mundialmente o ocorrido no ano de

1999, na pequena cidade de Littleton, no estado americano do Colorado,

Estados Unidos. Dois adolescentes de 17 e 18 anos, assassinaram 12 alunos

na escola em que também estudavam, mediante o emprego de armas de fogo

e explosivos. Este caso ficou conhecido como o "Massacre de Columbine".

Após atentarem contra a vida dos alunos e professores, os dois estudantes

cometeram o suicídio, enquanto a polícia ingressava nas dependências da

escola. Mais tarde, descobriu-se que este ataque era uma vingança de alunos

que foram alvos de bullying sem receberem nenhum ajuda e atenção.

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Conforme relata Fante (idem), em 28 de setembro de 2004, um pouco

antes das 08h00min, na escola Islas Malvinas, localizada em Carmen de

Patagones, província de Buenos Aires, Argentina, um jovem de nome Rafael,

de 15 anos de idade, sacou de sua mochila uma pistola e a disparou contra

seus colegas de sala de aula, matando três deles e ferindo cinco. O ato teria

motivação em vingança contra as agressões e humilhações sofridas pelo jovem

Rafael.

O caso teve uma repercussão tão significativa na Argentina, que o

bullying – hostigamiento entre pares ou acoso escolar – passou a ser tratado

com mais atenção pelas autoridades e pela comunidade.

No Brasil, dois casos ficaram conhecidos através dos meios de

comunicação. Em 2003, na cidade de Taiúva, interior do Estado de São Paulo,

um jovem de 18 anos voltou a sua ex-escola, ferindo a tiros seis alunos e dois

funcionários. Assim como em Columbine, o jovem também se suicidou.

Durante onze anos teria sido alvo de "brincadeiras" e apelidos por conta de sua

obesidade.

Destaca a autora:

"... era um garoto passivo, retraído, com poucos amigos e apresentava grandes dificuldades de se impor perante o grupo. Durante vários anos, vinha sendo maltratado por seus colegas de escola, por meio de apelidos que o constrangiam e humilhavam, sem nunca ter reagido, revidado ou denunciado seus agressores. Na escola, nunca apresentou qualquer tipo de comportamento agressivo ou violento. Era um aluno considerado 'normal'." (2005, p. 40)

O segundo caso aconteceu em 2004, na cidade de Remanso, interior da

Bahia, onde um adolescente de 17 anos atirou e matou um aluno de 13 anos,

que seria seu agressor, a secretária do curso de informática, além de ferir mais

três pessoas. O suicídio somente não se concretizou devido ao ato de terceiros

terem conseguido desarmá-lo a tempo.

Um caso mais recente foi do jovem Samuel Teles da Conceição, um

jovem de 17 anos da cidade de Silva Jardim, município do Rio de Janeiro, que

foi espancado por conta de seu novo corte de cabelo.

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No dia 20 de agosto de 2008, Samuel vai a sua escola de visual novo, e

acaba sendo alvo de “brincadeiras” como socos e tapas dadas pelos colegas.

Segundo os relatos, esse episódio teria acontecido em sala de aula, na

ausência da professora. Samuel só comunicou sua família, quase uma semana

depois por medo de represálias; e com fortes dores de cabeça e febre, foi

internado. O jovem não resistiu e faleceu pelos traumas ocasionados no crânio.

Como que “brincadeiras” entre colegas podem levar a morte, sendo

“jovens de família.”? Identificar seus comportamentos e o que levam a isso e o

que será tratado no capítulo a seguir.

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CAPÍTULO II:

ATORES E FATORES PREPONDERANTES

“O orientador está comprometido com a formação da cidadania dos alunos, considerando em especial, o caráter da formação da subjetividade.” (GRINSPUN, 2008, p.31)

Os atores envolvidos no bullying escolar podem ser divididos em autores

de bullying, alvos de bullying, alvos/autores de bullying e espectadores de

bullying. Esta classificação vem atualmente sendo adotada com a finalidade de

não mais se usar as nomenclaturas agressores e vítimas, evitando-se assim a

criação rótulos, prevenindo-se a estigmatização dentro das escolas.

2.1. Autor de bullying

Pode ser definido como aquele tipicamente popular ou por suas

"gracinhas", ou ainda por ser temido na comunidade escolar em que se

encontra inserido. Desta forma, entendendo sua agressividade como

qualidade, o autor de bullying costuma objetivar ganhos de ordem social e

material. Há autores que abordam também que pode ser encontrado o autor

que não é popular, menos seguro, com pouca capacidade de concentração

(STEPHENSON e SMITH apud NETO e SAAVEDRA, 2003)

São pessoas com comportamentos agressivos e hostis em face de

outras tidas como diferentes. Com baixa capacidade de tolerância, problemas

de atenção, impulsividade e desempenho escolar deficiente, os autores de

bullying acreditam na impunidade de seus atos e, ainda que aparentemente se

julguem superiores aos outros, "sentem prazer e satisfação em dominar,

controlar e causar danos e sofrimento a outros" (NETO, 2005).

Geralmente apresentam comportamentos anti-sociais, dentro e fora da

escola; tendem a ser agressivos até mesmo com adultos. São mais propensos

à evasão escolar e à assumir comportamento de risco, como, por exemplo, o

uso de bebidas alcoólicas, cigarro e/ou outras drogas e porte de armas.

Segundo Ballone (2005):

“Há fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o Bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com

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comportamentos anti-sociais, psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinqüentes ou criminosos. Normalmente o agressor acha que todos devem atender seus desejos de imediato e demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro.”

Por sua popularidade, geralmente andam em pequenos grupos, com

seguidores que acabam dando-lhes mais confiança em agredir seus alvos. Os

membros do grupo raramente tomam a iniciativa em agredir. Eles acabam

sendo subordinados à liderança do autor, dividindo a responsabilidade dos atos

cometidos. Estes assistentes se sentem fortes e protegidos por estarem

andando com pessoas que eles julgam tão fortes e tão temidas.

Muitas vezes, crianças e adolescentes autores de bullying, inseridos em

famílias desestruturadas, são obrigados a conviver com pessoas agressivas,

que os humilhem frequentemente, opressoras e violentas; Da mesma forma,

famílias que exercem supervisão deficitária e/ou demonstram pouca ou

nenhuma afetividade também contribuem para a prática de bullying.

De acordo com Fante (2005):

“As causas desse tipo de comportamento, segundo especialistas, devem-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação do poder dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas.” (p. 61)

Além de causas familiares, pode-se atribuir a prática do bullying a

causas individuais, o associado a transtornos comportamentais, como

transtornos disruptivos (transtorno desafiador opositivo e transtorno de

conduta, por exemplo), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

(TDAH) e transtorno bipolar do humor (TEIXEIRA, 2006, p. 13).

Ainda sobre os autores de bullying, cabe assinalar que, em que pese

serem compreendidos como malvados ou pessoas dotadas de maucaráter, na

verdade, também podem ser considerados como vítimas, principalmente pela

negligência de seus responsáveis. Diante do quadro de abandono a que são

submetidos, os autores de bullying pretendem estabelecer um status quo que

não desfrutam em casa, buscando alcançar visibilidade na escola. A atenção

dos familiares é substituída pela visibilidade de seus pares.

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2.2. Alvo de bullying

Os alvos de bullying são crianças e adolescentes que sofrem as

agressões, direta ou indiretamente, e que geralmente não têm habilidade e

auto-estima suficientes para reagir ou cessar tais agressões. São notadamente

poucos sociáveis, inseguros e tímidos.

Apresentar resistência em ir à escola e/ou pedir para trocar de escola,

demonstrações de tristeza ou insegurança, voltar da escola, repetidamente,

com roupas ou livros rasgados, atos de auto-agressão, torna-se uma pessoa

fechada e arredia, “perder”, repetidas vezes, seus pertences seu dinheiro e

pedir mais dinheiro ou começar a tirar dinheiro da família podem ser indícios

que estes estão sendo alvo bullying.

Tendo eles algumas características físicas, comportamentais ou

emocionais que diferem ou chamem a atenção das demais crianças e

adolescentes, podem torná-los alvos em potencial.

Segundo Neto (2005):

"A rejeição às diferenças é um fato descrito como de grande importância na ocorrência de bullying. No entanto, é provável que os autores escolham e utilizem possíveis diferenças como motivação para as agressões, sem que elas sejam, efetivamente, as causas do assédio." (p. 5)

A família pode favorecer, através da sua criação, que uma criança e/ou

adolescente sejam alvos de bullying, pois segundo Figueira (2004):

"Ambiente hiperprotetor, não favorecendo o desenvolvimento da autonomia e independência, gerando dificuldade para que o indivíduo se defenda nas adversidades; tratamento infantilizado, causando desenvolvimento psíquico e emocional aquém do aceito pelo grupo; e o papel de "bode expiatório" da família, sofrendo críticas sistemáticas e sendo responsabilizado pelas frustrações dos pais." (p. 131-132)

Segundo Fante (idem), a alvo pode apresentar característica

provocadora atraindo reações agressivas, porém não sabendo lidar da melhor

forma: “Poder ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora; é, de modo geral,

tola, imatura, de costumes irritantes, e quase sempre é responsável por causar

tensões no ambiente em que se encontra.” (p. 72)

O alvo de bullying dificilmente fala que esta sendo vítima por conta das

suas características psíquicas como retraimento, insegurança, mas também

por medo de retaliações, que achem que ele é fraco ou, até mesmo, por achar

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que não vai adiantar nada falar com um adulto. Pode chegar a ter depressão e

ansiedade por conta das experiências vividas. Com os ataques sofridos de toda

a natureza, esses alunos vão ficando cada vez, mas retraídos e se isolando do

grupo, o que pode, em muitos casos, aumentar as agressões.

“Muitas crianças, vítimas de Bullying, desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo dessa violência. Outras crianças que sofrem Bullying, dependendo das características de sua personalidade e das relações com os meios onde vivem, em especial entre suas famílias, poderão não superar totalmente os traumas sofridos na escola. Elas poderão crescer com sentimentos negativos e com baixa autoestima, apresentando sérios problemas de relacionamento no futuro. Poderão, outrossim, assumir um comportamento agressivo, vindo a praticar o Bullying no ambiente sócio-cupacional adulto e em casos extremos, poderão tentar ou a cometer suicídio.” (BALLONE, 2005)

2.3. Alvo / Autor de bullying

É aquele que reproduz as agressões em outros alvos, menores e mais

frágeis que ele, transferindo sua raiva e frustrações a outros que nada tem

haver e que como ele, também, não sabe como se defender e reagir.

Segundo Fante (2005) essa tendência acaba se transformando numa

dinâmica expansiva aumentando cada vez mais o número de vítimas.

De acordo com Neto (2004) 20% dos alunos autores também sofrem

com o bullying:

"A combinação de baixa auto-estima e atitudes agressivas e provocativas é indicativa de uma criança ou adolescente que tem, como razão para a prática de bullying, prováveis alterações psicológicas, devendo merecer atenção especial. Podem ser depressivos, inseguros e inoportunos, procurando humilhar os colegas para encobrir suas limitações. Diferenciam-se dos alvos típicos por serem impopulares e pelo alto índice de rejeição entre seus colegas e, por vezes, pela turma toda. Sintomas depressivos, pensamentos suicidas e distúrbios psiquiátricos são mais freqüentes nesse grupo." (p. 06)

Como pode ser percebido, tanto nos autores quanto nos alvos de

bullying, famílias desestruturadas contribuem para ambos os casos. Famílias

sem limites e valores sociais, famílias autoritárias que não toleram as

diferenças, famílias violentas que empregam maus tratos, todos eles já incitam

a prática do bullying muito antes de sua ocorrência quando não praticam a

tolerância, solidariedade e o respeito ao outro.

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Conforme Fante (idem), em estudos realizados no exterior, o bullying

ocorre mais significativamente na hora do recreio. Já no Brasil, sua freqüência

é maior na sala de aula. Esse dado revela o despreparo dos professores em

lidar e distinguir um ato de bullying de uma brincadeira típica da idade. Muitos

desses professores acabam também sendo autores quando intimidam um

aluno ou lhe dá apelidos depreciativos na frente da turma, o que pode acabar

incitando-os a ridicularizá-los outras vezes.

Tognetta (apud GALLO NETTO, 2009) com sua pesquisa mostra que

sua hipótese vem se confirmando, tanto autor quanto alvo se comportam em

razão da imagem que têm de si.

“O jovem não é vítima do bullying porque é baixinho, mas porque é baixinho e se considera baixinho a ponto de achar a diferença incômoda. Considera-se desqualificado em relação ao grupo e fora dele. Sente-se e por isso é. Os sentimentos dos alvos são de negação, de apatia, de tristeza, de angústia, de ansiedade. São meninos e meninas que não dão conta de se superar e de superar os problemas decorrentes de não se sentirem pertencentes ao grupo.” (p.11)

2.4. Espectadores de bullying

Os espectadores de bullying são alunos que não são enquadrados alvos

nem como autores e, que normalmente, se calam por medo de se tornarem os

próximos alvos, assim como por desacreditarem que o colégio vá tomar alguma

providência e, portanto, que nada pode ser feito. Por não reagirem, acabam

acobertando a prática do bullying e consolidando o poder dos autores, fazendo

parecer ao colégio que está tudo dentro da normalidade.

A presença destes espectadores, segundo Tognetta (apud GALLO

NETTO 2009) constitui uma característica do bullying. “Tem bullying quando

tem público.” Apesar de sua ocorrência se manifestar longe dos olhares dos

adultos “sua manifestação tem expectadores atentos a ações dos líderes e às

confirmações das vítimas, legitimando e validando a ação do autor por medo se

tornarem à próxima vítima.”(p.11)

Muitos espectadores sentem simpatia pelos alvos e condenam a ação

dos autores. Porém, outras, pela popularidade que muitos autores gozam,

ficam seduzidas por este status social dentro do grupo, podendo até chegar a

se tornarem autores de bullying.

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Os espectadores sofrem tanto quanto os alvos e os autores, apesar de

não atuarem diretamente na prática do bullying. Algumas podem ter prejuízo no

aprendizado; têm medo de se tornarem alvo a qualquer momento, gerando

ansiedade e, por isso, podem aderir ao bullying por pressão dos colegas.

Cabe ressaltar que o contexto social em que nossas crianças estão

inseridas propicia, atitudes mais intolerantes, individualistas e violentas, que

favorecem o bullying. Os meios de comunicação propagam a violência, seja

através dos noticiários, por desenhos ou jogos interativos, banalizando e até

mesmo instigando a violência. E a família diante desta realidade, muitas vezes

superprotege seus filhos e/ou, inconscientemente, transmite valores através de

atos e ações que muito se assemelha ao bullying ocorrido dentro da escola.

No próximo capítulo, serão aprofundadas as consequências que a

bullying acarreta tanto nos autores, alvos e expectadores.

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CAPÍTULO III:

CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

“Hoje a importância da Orientação se dá pelo viés de termos na escola um profissional de Educação, um especialista capaz de ajudar o aluno na sua formação o melhor possível, que não se esgota apenas no racional, mas que engloba o sensível e o emocional.” (GRINSPUN, 2008, p. 173)

A ocorrência do bullying nas escolas tem repercussões pedagógicas,

psicológicas, sociais e até legais que podem ser encontradas tanto nas vítimas,

nos agressores e até mesmo nos expectadores e seus familiares.

Aqui serão colocadas algumas conseqüências que vão se manifestando

a pequeno e longo prazos nos atores do bullying, considerado o impacto na

saúde e no desenvolvimento da criança e do adolescente.

As conseqüências do bullying nas escolas, embora atinjam a todos os

envolvidos, direta ou indiretamente, não se dão de maneira uniforme. Além da

estrutura emocional de cada indivíduo, Neto (2005) ressalta que "existe uma

relação direta com a freqüência, duração e severidade dos atos de bullying" (p.

7). Deve-se também levar em consideração a idade em que a criança sofreu

bullying, pois, quanto mais cedo, maiores as chances de apresentar

comportamentos anti-sociais quando adulta.

Fante (2005) aponta o Transtorno de Personalidade Limítrofe, de ordem

psiquiátrica, que pode ser desencadeado quando crianças sofrem o bullying, e

é caracterizado por explosões de cólera e episódios transitórios de paranóia e

psicose. Este transtorno pode ser irreversível no desenvolvimento da criança.

Figueira (2004) também ressalta:

“Na infância, esses maus-tratos podem desencadear uma condição psiquiátrica, caracterizada por explosões de cólera e episódios transitórios de paranóia ou psicose conhecidos como distúrbios de personalidade limítrofe, alterando o desenvolvimento dos sistemas límbicos. Tais alterações afetam a regulagem da emoção e da memória pelo hipocampo e pela amígdala, localizados abaixo do córtex, no, logo temporal. Infelizmente estes distúrbios são irreversíveis no desenvolvimento da criança.” (p.140)

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Crianças e adolescentes que sofrem bullying podem apresentar

transtornos psiquiátricos como pânico e fobias; estresse pós-traumático;

dificuldade de relacionamento social. Sintomas psicossomáticos como enurese,

taquicardia, sudorese, insônia, cefaléia, bloqueio dos pensamentos e

raciocínio, ansiedade e estresse; dificuldade de aprendizagem e baixa auto-

estima; podem também se manifestar nos expectadores. Com um grande pavor

que um dia elas possam se tornar alvo de bullying, na maioria das vezes, os

expectadores apresentam alguns destes sintomas. (NETO, 2005).

Alunos que participam das aulas com perguntas e até os que têm um

desempenho acima da média podem deixar de tirar suas dúvidas ou se

desinteressarem pelos estudos temendo ser ridicularizados ou rotulados pela

turma. Neto (2005) acrescenta: “O medo, a tensão e a preocupação com sua

imagem podem comprometer o desenvolvimento acadêmico, além de aumentar

a ansiedade, insegurança e o conceito negativo de si mesmo.” (p.5)

Lemos (2007) traz para a discussão o olhar da psicopedagogia:

“De acordo com a teoria psicopedagógica, o bullying é considerado um dos atuais causadores de problemas de aprendizagem, visto ser capaz de desarmonizar as dimensões cognitiva, simbólica, orgânica e corporal. A aprendizagem (...) necessita de motivação como componente inerente ao processo, visto estar sempre presente como desencadeadora da ação. (...) os afetos determinam a relação entre percepção e cognição, e servem para explicar comportamentos e acontecimentos psicológicos. Natural, então, que o objeto de aprendizagem deixe de ser objeto de desejo e passe a ser considerado objeto de repulsa, acarretando, portanto, o não-aprender.” (p. 73)

Lisboa, Braga, Ebert (2009) trazem a importância dos relacionamentos

interpessoais positivos durante esta fase da infância e adolescência par a

aprendizagem, uma melhor auto-estima e nas suas habilidades sociais.

“As interações no grupo de pares podem favorecer a delimitação da identidade e do papel social, proporcionando não somente a aprendizagem de conteúdos acadêmicos e formais, como também a aprendizagem de habilidades e competências sociais, mediante relações positivas de amizade. (p. 66)

De acordo com Neto e Saavedra (2004): "Sua auto-estima pode estar

tão comprometida que, alguns deles acreditam que são merecedores dos maus

tratos sofridos. Podem tentar evitar a escola e o convívio social para

prevenirem-se contra novas agressões." (p. 18)

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Adolescentes que sofrem bullying podem cometer suicídio e até mesmo

assassinato dos agressores, expectadores e de muitos membros da

comunidade escolar, sendo estas as conseqüências que realmente

demonstram todo o sofrimento de uma pessoa e até que ponto se pode chegar

com o bullying.

Em 8 de janeiro de 1991, Jeremy Wade Delle, um estudante de 15 anos

de uma escola na cidade texana de Dallas, Estados Unidos, retirou um revólver

calibre 357 de sua mochila, na sala de aula, colocou-a com o cano dentro de

sua boca e apertou o gatilho, na presença de sua professora de inglês e de

seus trinta companheiros de turma. Não teria suportado ser alvo de

comportamentos agressivos por parte de seus colegas de escola e de maus-

tratos de professores (PT.WIKIPEDIA, 2010).

A morte do jovem estudante serviu de inspiração para a música Jeremy,

interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda norte-americana Pearl Jam

(letra e tradução em anexo).

No dia 21 de março de 1993, um aluno de uma escola secundária do

estado de Iowa, Estados Unidos, chamado Curtis Taylor, tendo sido vítimas de

bullying por três anos seguidos, se suicidou, concretizando aquilo que alguns

especialistas definem como bullycídio. Não teria agüentado os apelidos

jocosos, os espancamentos no vestiário da escola e os freqüentes danos

causados aos seus pertences (PT. WIKIPEDIA, idem).

Em um sábado de 1997, Vjay Singh Shahi, de 13 anos de idade, foi

encontrado morto, enforcado num cachecol, em sua casa, na cidade inglesa de

Manchester.

Encontraram um bilhete escrito pelo jovem, dando conta dos maus-tratos

a que vinha sendo submetido.

Vijay Singh escreveu em seu diário: Segunda-feira, lanche e dinheiro tomados à paulada. Terça, bicha e chinês. Quarta, uniforme retalhado à faca. Quinta, sangue a jorros do nariz. Sexta, nada. Sábado, liberdade. Sábado fora o dia em que o estudante se enforcara em casa com um lenço de seda. (CHALITA apud SANTOS, 2009, p.28).

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No dia 24 de abril de 2007, o estudante sul-coreano Seung-Hui Cho, de

23 anos de idade, efetuou diversos disparos de arma de fogo no campus da

Universidade Técnica de Virgínia – Virginia Tech –, nos Estados Unidos,

matando trinta e duas pessoas, entre elas o professor Liviu Librescu de 76

anos, sobrevivente das atrocidades da Europa nazista. O professor de origem

romena morreu enquanto tentava travar a entrada do aluno sul-coreano numa

sala de aula onde se encontravam vários outros alunos. (PT. WIKIPEDIA,

idem).

Seung-Hui Cho era ridicularizado pelos colegas de universidade, devido

ao seu “jeito estranho de falar”.

A longo prazo, em suas vidas adultas, crianças e jovens que sofreram

bullying podem ter prejuízos em suas relações com o trabalho, em seu meio

social e até mesmo na criação de seus filhos. Depressão e baixa auto-estima

ainda podem se manifestar.

Os autores de bullying são tão vítimas quanto as crianças e jovens que

sofrem bullying. As conseqüências em suas vidas também podem ser

devastadoras. Em geral, os autores não apresentam um bom desempenho

acadêmico, podendo chegar à evasão escolar. São inseguros, se expressando

pela sua agressividade, e podem desenvolver uma personalidade anti-social.

Têm grandes chances de consumir drogas, álcool e adotar comportamentos

delinqüentes como o porte ilegal de armas. A baixa auto-estima, que se pode

ver nas vítimas e nos expectadores de bullying, também é encontrada nos

autores.

Fante (idem) ressalta que o autor de bullying ao consolidar suas

condutas autoritárias acaba gerando com resultado a supervalorização da

violência como forma de obtenção de poder e tornando-se uma pessoa de

difícil convivência nas diversas áreas da sua vida, como a pessoal, profissional

e social.

A criança e o adolescente poderão desenvolver uma personalidade anti-

social quando adulta, se não houver, o quanto antes, uma ação em suas

manifestações de extrema agressividade.

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As famílias tendem a sofrer emocionalmente ao saber tanto que seu

filho(a) vem sendo vítima de bullying (e nunca perceberam), quanto ao

descobrir que seu filho(a) é autor(a) de bullying. Tais descobertas podem trazer

prejuízos ainda maiores ao se procurar culpados, ocasionando mais brigas

familiares, ao baixo rendimento profissional e social, já que podem ter

depressão e perda financeira por seu filho (a) vir a necessitar de atendimentos

médicos e/ou terapêuticos.

Guimarães (2009), dando um enfoque jurídico, ressalta a

responsabilidades dos pais pelos abusos e atitudes violentas praticadas pelos

seus filhos, já que é no meio familiar a construção dos primeiros conceitos de

moralidade e ética.

Segal e Moura (2006) acrescentam que o bullying viola princípios

fundamentais da pessoa humana contidos na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, sobretudo o direito à cidadania plena, à

dignidade e à honra (artigos 1º, incisos II e II; 3º, inciso I, III e IV; e 5º, inciso X),

sendo assim um ato infracional (quando praticado por criança e adolescente),

sendo o autor e seus pais suscetíveis de responder nas penas contidas na Lei

n° 8.069/1990 – Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) – e no Código Penal,

por exemplo.

Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidade e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e da dignidade. Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Em alguns Estados e municípios já adotam medidas ao combate do

Bullying. A Câmara Municipal de João pessoa aprovou projeto de lei que deu

origem à Lei municipal n° 11.381/2008 depois do caso abaixo.

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Na Paraíba, no dia 26 de fevereiro de 2008, um jovem de 18 anos

encharcou seu próprio corpo com gasolina e forjou o próprio seqüestro, com o

intuito de chamar a atenção das autoridades para o fato de estar sendo vítima

de bullying na escola (seu apelido era chupeta de baleia). O caso foi

investigado pelo 10° Distrito Policial de João Pessoa, na Paraíba, e o jovem

acabou sendo denunciado pelo Ministério Público pelo crime de falsa

comunicação de crime ou de contravenção, delito tipificado no art. 340 do

Código Penal brasileiro.

Há algum tempo antes, este mesmo jovem havia posto em seu perfil em

uma página (site) de relacionamentos na rede mundial de computadores

(internet), conhecida como Orkut, uma foto empunhando uma arma de fogo de

grosso calibre e vestindo um capuz, com uma mensagem, ameaçado a escola

onde estava matriculado, culpando à direção desta pela ausência de iniciativas

para solucionar o problema.

Segundo o promotor da Infância e da Juventude Alley Borges Scorel o

estudante está com sequelas pelo bullying que sofre em sua escola, porém não

acha que precisa de tratamento. "Ele precisa querer se tratar. E com ele não

está acontecendo isso. Ele quer chamar a atenção da sociedade porque ele

sofreu medidas socioeducativas no ano passado e quem praticou o bullying

contra ele não sofreu nada. Na cabeça dele, isso ainda não acabou"

(BASSETTE e HAIDAR, 2008)

O Governador do Estado de Santa Catarina sancionou a Lei estadual

14.651/2009 para instituição do programa de combate ao bullying, nas escolas

públicas e privadas do Estado. Nos estados Do Rio de Janeiro e São Paulo

estão sendo analisados pelo Poder Legislativo os projetos de Lei n° 683/2007 e

350/2007, respectivamente (GUIMARÃES, idem).

As consequências legais também podem recair na escola, com mostra

Guimarães (2009):

“Importante considerar que a entidade de ensino é investida no dever de guarda e preservação da integridade física e psicológica do aluno, com a obrigação de empregar a mais diligente vigilância, objetivando prevenir e evitar qualquer ofensa ou dano decorrente do convívio escolar.”

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Esta responsabilidade civil da escola assegura-se nos termos do art. 14

da Lei n° 8.078/1990, conhecida como Código de Defesa do Consumidos, por

defeito na prestação de serviço e até dano moral, acarretando uma

indenização.

A primeira vez que uma escola precisou indenizar um aluno agredido

pelos colegas foi no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, como demonstra a

ementa abaixo transcrita.

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ABALOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA ESCOLAR. BULLYING. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA. SENTENÇA REFORMADA. CONDENAÇÃO DO COLÉGIO. VALOR MÓDICO ATENDENDO-SE ÀS PECULIARIDADES DO CASO.

(...) Na espécie, restou demonstrado nos autos que o recorrente sofreu agressões físicas e verbais de alguns colegas de turma que iam muito além de pequenos atritos entre crianças daquela idade, no interior do estabelecimento réu, durante todo o ano letivo de 2005. É certo que tais agressões, por si só, configuram dano moral cuja responsabilidade de indenização seria do Colégio em razão de sua responsabilidade objetiva. Com efeito, o Colégio réu tomou algumas medidas na tentativa de contornar a situação, contudo, tais providências foram inócuas para solucionar o problema, tendo em vista que as agressões se perpetuaram pelo ano letivo. Talvez porque o estabelecimento de ensino apelado não atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão social, sobretudo no caso de crianças tidas como “diferentes”. Nesse ponto, vale registrar que o ingresso no mundo adulto requer a apropriação de conhecimentos socialmente produzidos. A interiorização de tais conhecimentos e experiências vividas se processa, primeiro, no interior da família e do grupo em que este indivíduo se insere, e, depois, em instituições como a escola. No dizer de Helder Baruffi, “Neste processo de socialização ou de inserção do indivíduo na sociedade, a educação tem papel estratégico, principalmente na construção da cidadania.” (TJ-DF – Ap. Civ. 2006.03.1.008331-2 – Rel.Des. Waldir Leônico Júnior – Julg. em 7-8-2008)

A escola condenada pelo TJ-DF foi o Centro de Ensino de 1º Grau

Oswaldo Cruz, de Ceilândia, que terá de pagar R$ 3.000 à vítima de bullying

(RABELO, 2009)

A superação dos traumas, segundo Fante (idem) pode ou não ocorrer,

dependendo das características individuais de cada indivíduo desenvolvidas

através das suas primeiras aprendizagens junto a sua família.

Fante (idem) ressalta ainda:

"A não-superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento para evitar novos traumas do que para buscar sua auto-superação." (p. 79)

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Neto e Saavedra (2003) abordam que, segundo alguns autores, as

sequelas do bullying podem ser encontradas nos alvos, espectadores como

também nos autores.

O bullying passou a ser visto como um problema de saúde pública uma

vez que suas conseqüências trazem danos físicos e psicológicos aos

envolvidos que vão além dos muros da escola, chegando assim, até a fase

adulta.

Sob a ótica da Orientação Educacional, a seguir, serão expostas quais

medidas podem ser tomadas diante um caso de bullying na escola, o que pode

ser feito dentro de uma visão antibullying, onde sejam sensibilizados os atores

do bullying, comunidade escolar e familiares.

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Capítulo IV:

PREVENÇÕES E INTERVENÇÕES

“A formação ética é uma das alternativas e uma das respostas possíveis de educação aos apelos do tempo atual. Essa resposta insere-se no princípio da liberdade de escolhas do ser humano para uma vida pessoal e social de melhor qualidade. A formação ética é, então, parte da educação para a consciência de limites, que definem valores e parâmetros de condutas. (RANGEL apud GRINSPUN, 2006, p. 119)

O bullying revela-se uma agressão a todos os envolvidos não somente

aos alvos e espectadores, mas também aos próprios autores. Também gera

conseqüências aos que estão indiretamente ligados à sua prática, como a

família e a escola.

Quando falamos em violência, contra crianças e adolescentes, não se

imagina que isso possa estar acontecendo na escola por pensar que este é um

local seguro. Muitos dissociam o bullying como um ato de violência, embora

Neto e Saavedra (2003) já o tenham colocado como um problema de saúde

pública quando "... as origens de suas causas e seus efeitos fossem

identificados, também, fora da escola." (p. 25)

Comportamentos agressivos, antissociais, danos ao patrimônio, atos

criminosos, entre outros, são vistos como violência escolar. Segundo Neto

(2005), é sabido que quando a violência chega à escola, esta é reflexo do

mundo externo; o ambiente que estes alunos estão inseridos e pouco tem a

escola para intervir diretamente.

“Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino. Porém, um sem número delas é decorrente do próprio ambiente escolar, um núcleo social fechado, onde convivem pessoas que naturalmente interagem gerando conflitos que podem e devem, ali mesmo, ser sanados.” (NETO, SAAVEDRA, 2003, p.16)

Os programas antibullying devem ser pensados a partir do ambiente em

que a escola se encontra. Quem são seus alunos, quais as famílias a que

pertencem, quem são os profissionais que atuam nesta instituição;

considerando assim características sociais, culturais e econômicas; as ações e

diretrizes pensadas, tornando estas coerentes e possíveis. Desta forma, um

programa antibullying que tenha funcionado em uma escola não

necessariamente vai funcionar em outra.

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Além de se pensar para onde esse programa antibullying esta sendo (ou

será) desenvolvido, se torna imprescindível o envolvimento de toda a

comunidade escolar, como alunos, professores, funcionários e pais. Este

envolvimento torna-se real quando todos estes atores podem contribuir com

suas idéias, sendo efetivamente atuantes neste programa. Neto e Saavedra

(idem) mencionam que a taxa de redução do bullying varia em torno de 20% a

80% quando envolve a participação ativa dos alunos, professores, funcionários

e pais como o fator diferencial.

A partir desse diálogo, dessa troca, é que se dará início às medidas a

serem tomadas, como cada um vai atuar, como acontecerá essa

conscientização do que constitui o bullying, como se prevenir, o que se deve

fazer quando presenciar um ato desse, com quem se deve falar, etc.

Para abranger esta gama de informações, será necessário o

desenvolvimento de materiais informativos, como cartazes a serem espalhados

na escola, folhetos a serem entregues aos pais, debates organizados pela

coordenação.

Nesses materiais podem conter orientações aos adultos de como eles

deverão agir quando procurados por alunos, ou seus filhos, que estão sendo

alvo de bullying: evitar locais de risco, fazer amizade com colegas não

agressivos, ignorar os apelidos, etc.

Como foi visto, muitos professores não sabem como agir diante do

bullying e acabam fomentando esta prática quando colocam apelidos e

intimidam seus alunos, ensinando assim, além de sua matéria, condutas

agressivas.

Ao debater o tema com outros professores e levar essa discussão para

dentro das salas de aula, o professor não estará trabalhando somente com

seus alunos, mas com ele mesmo, em sua postura de educador.

Neto e Saavedra (idem) citam a necessidade de "preparar o aluno

mediador" (p. 52) como uma das ações preventivas. Segundo a pesquisa da

ABRAPIA, a maioria dos alvos de bullying pede ajuda aos colegas da turma,

tornando-os importantes para intervir quando estiver acontecendo o bullying.

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Como já foi mencionado, é no interior da sala de aula onde mais se

verifica a prática do bullying no Brasil. Deve-se dar ao aluno a oportunidade de

criar as regras da sua turma e pensar o que poderia ser feito em casos de

bullying. Com isso, o professor tem a chance de trabalhar com a turma o

preconceito com relação ao indivíduo considerado como diferente. Com os

alunos de uma turma mais conscientes, o que antes era engraçado, por verem

um colega ridicularizado, torna-se falta de respeito e consideração, deixando os

autores da "brincadeira" com menos poder e incentivo para suas práticas

agressivas.

Um programa antibullying não se limita apenas a abordar o tema bullying

e como se prevenir. O programa se amplia quando se busca colocar o aluno

em contato com temas como a generosidade, através de ações sociais que

eles possam desenvolver e discutir a respeito; cidadania, quando se propõe

uma pesquisa e um debate sobre ela; quando se trabalha em equipe, onde

cada um pode ajudar de alguma forma com suas habilidades.

Não se pode trabalhar o bullying apenas nas séries onde se tem

ocorrência deste fato. Esta proposta deve ser incluída desde as séries iniciais,

para que se desenvolva desde cedo um respeito às diferenças e que se

construa uma cultura de "não violência".

Segundo Neto e Saavedra (idem):

"Os programas que enfatizam as capacidades sociais e a aquisição de competências parecem estar as estratégias mais eficazes de prevenção contra a violência juvenil. Eles parecem ser também mais efetivos quando são apresentados às crianças em ambiente de pré-escola e escola primária, do que quando são apresentados para alunos do ensino médio. " (p. 20)

Um programa antibullying deve também ter um enfoque na intervenção

já que, muito provavelmente, o bullying já esteja fazendo parte da realidade de

muitos alunos, em diversas séries e, com isso, algo deve ser feito de imediato

em relação aos envolvidos.

Segundo Neto (2005):

“O tratamento indicado para o autor de bullying deve ser o de habilitá-lo para que controle sua irritabilidade, expresse sua raiva e frustração de forma apropriada, seja responsável por suas ações e aceite as conseqüências de seus atos." (p. 8)

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Cabe a escola identificar os autores de bullying, mas não com a intenção

de puni-los e deixá-los marginalizados, mas identificá-los para poder ouvi-los

em suas necessidades, seja com um atendimento médico, terapêutico ou como

intermediário entre eles e seus familiares.

Como já foi colocado, muitos autores do bullying iniciam nesta prática

por se achar superior ao outro, ao vê-lo diferente e sem valor. Com forma de

sensibilizar os alunos a lidar com as diferenças, a promoção dos debates, onde

no confronto de idéias se faz a construção de seus valores morais e éticos.

A família é outro ponto muito importante dessa ação. Deve ser colocado

em face dela o que é o bullying e suas conseqüências, tanto para seu(s)

filho(s), sejam estes autor(es) ou alvo(s). Através de folhetos e palestras

destinados a família, há que se mostrar, através de exemplos, como se pode

identificar algumas características que seu(s) filho(s) pode(m) apresentar, caso

seja(m) alvo(s) ou autor(es) e como ajudá-lo(s).

Figueira (2004) nos faz lembrar:

"Os fatores que tendem a desencadear problemas de vitimização estão por vezes bem fortes e presentes em torno da escola. As crianças com problemas familiares (pais separados, doenças, vícios), infância mais pobres, criadas sem amor, sem regras, sem limites, transportam para a escola todos os seus problemas e frustrações." (p. 141)

Por isso, há a necessidade de se buscar entender o aluno autor de

bullying e procurar resgatar sua família dessa condição, seja por intermédio de

algum encaminhamento fora da escola, seja com uma palavra de orientação e

acolhimento. Cabe também lembrar que, as dificuldades encontradas em

determinada família não significam que não tenham amor pelos seus filhos e

não querem o melhor para eles. Muitas, nem têm a consciência de como estão

levando suas vidas e o que isso está gerando.

Uma escola que realmente busca uma iniciativa a não violência através

do diálogo entre os membros de sua comunidade e com a participação ativa

destes, deve repensar seu papel junto a estas crianças e adolescentes.

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Hoje, o mais comum entre as escolas é a preocupação com o conteúdo

acadêmico, notas altas nas provas, e garantir que seu aluno passe no

vestibular. Este é um pensamento não só das escolas, mas também dos pais

que acreditam que, desta forma, se vai garantir o futuro do seu filho através de

um bom emprego.

Neto e Saavedra, (idem) destacam o papel inverso desta escola:

"Estimular a participação, a iniciativa e a criatividade dos estudantes faz parte de uma filosofia educacional que favorece a não instalação de bullying. Quando uma criança vem de uma situação familiar conturbada e encontra na escola um contexto diferente, onde a solidariedade e a colaboração são incentivadas, isso neutraliza aquele potencial de agressividade trazido de casa e ajuda no sentido de incentivar um novo modo de ser e de agir. Nesse caso, a escola passa a oferecer um novo padrão de comportamento, que para ela é uma novidade a ser imitada, e que ajuda a criança a descobrir e a procurar estabelecer relacionamentos pautados nesse novo modelo." (p. 33)

A preocupação excessiva nos conteúdos acadêmicos, além de gerar

uma competição e ansiedade desmedida, acontece em detrimento de outros

conteúdos como a tolerância, respeito e cooperação que são imprescindíveis

numa ação antibullying.

“A escola deve ser grande nos seus propósitos, pois grande é a sua responsabilidade com seus alunos, (in)formando-os para a leitura crítica e a transformação do mundo vivido. A escola não contém só os conhecimentos, os saberes, a instrução, ela de vê estar preocupada com valores, atitudes e conhecimentos que contribuam com a sociedade inclusiva, solidária e participativa que queremos construir.” (GRINSPUN, 2008, p. 178)

Lisboa, Braga e Ebert (2009) completam este olhar com a necessidade

em uma educação de sentimentos, na expressão e manejo desses:

“Devido ao seu poder propagador e multiplicador, espera-se que a escola ensine às pessoas que ali estudam a lidar com suas emoções e com suas dificuldades, a respeitar as diferenças, a prender a conviver, a socializar, a dividir, a compartilhar, a canalizar sua agressividade, enfim, a se relacionar de forma saudável.” (p. 68)

De acordo com os autores mencionados acima, a escola é o espaço

onde este(a) aluno(a) vai poder (re)significar sua visão e ação diante da sua

realidade afetiva, relacional, social e racional que fará deste(a) aluno(a) um

cidadão crítico e participativo.

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CONCLUSÃO

Este trabalho procurou compreender o fenômeno bullying e investigar se

os programas antibullying nas escolas poderiam contribuir para a prevenção e

redução dos índices de violência e intolerância.

Pelos teóricos consultados, pode-se compreender o bullying um

fenômeno relacionado comportamentos antissociais e/ou agressivos entre

pares, sem motivação aparente, de modo reiterado e com o intuito de casar

dano a outrem.

O bullying pode dar-se de forma direta ou indireta. O bullying direto

ocorre com agressões físicas, verbais ou mediante danos patrimoniais, como

roubo, quebra de pertences, etc. Já o bullying indireto acontece quando se tem

um isolamento, difamações ou apelidos pré-conceituosos.

Dentre os atores envolvidos no bullying podem-se destacar: os autores –

aqueles que praticam o bullying; os alvos – aqueles que sofrem as agressões

direta ou indiretamente; alvos/autores – estes, em algumas situações, praticam

o bullying, porém em outras, sofrem com ele; espectadores – os que não estão

envolvidos diretamente, mas assistem, e até incentivam o autor, tirando o foco

de si ou, mesmo simpatizantes dos alvos, se calam por medo de se tornarem

os próximos alvos de bullying.

Foi percebido que o papel da família, na criação, educação e valores,

contribui tanto para a construção de autores quanto de alvos de bullying, o que

reforça a necessidade de uma orientação, acolhimento e parceria entre família

e escola.

As consequências do bullying atingem os atores mencionados, incluindo

espectadores, suas famílias e a escola, podendo trazer problemas de ordem

psicológica, pedagógica, sociais, patrimonial e legal.

Se através da prevenção e da promoção de ações conscientizadoras

sobre o que é o bullying, “o que” e “como” fazer em casos de bullying, bem

como acerca de suas conseqüências, entre outros, desde as séries iniciais,

resta saber o que poderia ser feito para diminuir a incidência desta prática tão

comum nas escolas de todo mundo, inclusive no Brasil.

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A pesquisa demonstra que realmente é possível diminuir a incidência de

bullying na escola mediante a implementação de programas antibullying, e que

este índice pode cair ainda mais quando se tem um engajamento de toda a

comunidade escolar, considerando-se os educadores, os alunos e seus

familiares.

Merece ressaltar que um programa antibullying não requer grandes

gastos financeiros, sendo viável em qualquer instituição de ensino, seja pública

ou privada.

Uma ação como esta visa não somente a prevenção e erradicação da

violência escolar, mas, acima de tudo, busca o desenvolvimento do ser

humano no que ele tem de melhor.

Com a pesquisa que orientou este trabalho, surgiu o interesse em saber

como acontece o bullying, em sua forma direta, principalmente entre meninas,

em idade escolar, e se esta porcentagem teria aumentado, desde a última

pesquisa feita pela ABRAPIA, no ano de 2002. Talvez antes mesmo do

aprofundamento sobre a ação feminina no bullying, seja necessário uma outra

pesquisa como a da ABRAPIA para uma comparação mais precisa, levando

em consideração outras manifestações agressivas e/ou antissociais, como o

cyberbullying.

O aprofundamento deste estudo, não se propõe apenas a diminuição

dos índices de violência escolar; não busca somente um desenvolvimento

saudável da vida escolar de jovens e adultos; nem tão pouco a intenção de só

deixar os alunos mais próximos de valores morais e éticos. Vai além disso.

Através de um estudo científico e de uma ação comprometida com a

dignidade humana que considera a criança e o jovem como células, onde se

encontra a vida, a história e sua continuação, estará pensando na sociedade,

não a do futuro, mas a do momento; (re) significando seus passos, seu olhar e

seu destino.

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ANEXO

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Anexo I

Jeremy

Pearl Jam

At home

Drawing pictures of mountain tops

With him on top, lemon yellow sun

Arms raised in a V

The dead lay in pools of maroon below

Daddy didn't give attention

To the fact that mommy didn't care

King Jeremy the wicked

Oh, ruled his world

Jeremy spoke in class today

Jeremy spoke in class today

Clearly I remember

Picking on the boy

Seemed a harmless little fuck

Oh, but we unleashed a lion

Gnashed his teeth

And bit the recess lady's breast

How could I forget?

And he hit me with a surprise left

My jaw left hurting

Oh, dropped wide open

Just like the day

Oh, like the day I heard

Daddy didn't give affection, no

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And the boy was something

That mommy wouldn't wear

King Jeremy the wicked

Oh, ruled his world

Jeremy spoke in class today

Jeremy spoke in class today

Jeremy spoke in class today

Try to forget this... (try to forget this)

Try to erase this... (try to erase this)

From the blackboard

Jeremy spoke in class today

Jeremy spoke in class today

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Anexo II

Jeremy (Tradução)

Peal Jam

Em casa

Desenhando figuras

De topos de montanhas

Com ele no topo

Sol amarelo limão

Braços erguidos em V

Os mortos estendidos em poças de cor marron embaixo deles

Papai não deu atenção

Para o fato de que a mamãe não se importava

Rei Jeremy, o perverso

Governou seu mundo

Jeremy falou na aula de hoje

Me lembro claramente

Perseguindo o garoto

Parecia uma sacanagem inofensiva

Mas nós libertamos um leão

Que rangeu os dentes

e mordeu os seios da menina na hora do intervalo

Como eu poderia esquecer

E me acertou com um soco de esquerda de surpresa

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Meu maxilar ficou machucado

Deslocado e aberto

Assim como no dia

Como dia em que ouvi

papai não dava carinho

e o garoto era algo que mamãe não aceitaria

Rei Jeremy, o perverso

Governou seu mundo

Jeremy falou na sala de aula hoje (3x)

Woo (14x)

Tente esquecer isto

Tente apagar isto

Do quadro negro

Jeremy falou na sala de aula hoje (2x)

Woo (29x)

Woooooohhh

Falou na, falou na

Woooooohhh

Uh huh, uh huh...

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................ 02

DEDICATÓRIA ................................................................................................ 03

AGRADECIMENTOS ...................................................................................... 04

EPÍGRAFE ....................................................................................................... 05

RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA ............................................................ 06

METODOLOGIA .............................................................................................. 07

SUMÁRIO ........................................................................................................ 08

INTRODUÇÃO ..................................................................................................09

CAPÍTULO I – BULLYING: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA ....................................12

CAPÍTULO II – ATORES E FATORES PREPONDERANTES ........................19

2.1 – Autor de Bullying ......................................................................................19

2.2 – Alvo de Bullying .......................................................................................21

2.3 – Alvo/autor de Bullying ............................................................................. 22

2.4 – Espectador de Bullying ............................................................................23

CAPÍTULO III CONSEQUENCIAS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR .....................25

CAPÍTULO IV – PREVENÇÕES E INTERVENÇÕES .....................................33

CONCLUSÃO ...................................................................................................38

BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................40

WEBIGRAFIA ...................................................................................................42

ANEXO .............................................................................................................43

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Anexo I ............................................................................................................ 44

Anexo II ............................................................................................................ 46

ÍNDICE ..............................................................................................................48

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Bullying: a violência escolar e as contribuições

de programas antibullying

Autor: Anita Bernardo de Melo Segal

Data de entrega: 28/02/2010

Avaliado por:

Conceito: _________.