Upload
others
View
5
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Roberta Queli Raimundo de Souza
O ENSINO DE EVOLUÇÃO: A SELEÇÃO SEXUAL NOS
LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO
São Paulo
2015
ROBERTA QUELI RAIMUNDO DE SOUZA
O Ensino De Evolução: A Seleção Sexual Nos Livros Didáticos
De Biologia no Ensino Médio
Trabalho de Conclusão de Curso
(Monografia) apresentado ao Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde, da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
como parte dos requisitos exigidos para a
conclusão do Curso de Ciências
Biológicas, Licenciatura.
Orientadora: Profª. Drª. Mônica Ponz Louro
São Paulo
2015
Nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução
Theodosius Dobzhansky
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Universidade Presbiteriana Mackenzie (Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde – CCBS - UPM) pela oportunidade de aprimorar meus
conhecimentos e pela base profissional que me foi concedida.
À minha orientadora, Profª. Drª.Mônica Ponz Louro, por aceitar fazer parte deste
trabalho e me apoiar durante todo o andamento desse trabalho, ora suscitando dúvidas,
ora esclarecendo-as. Obrigada pela oportunidade e especialmente pela paciência.
Aos professores da UPM, que durante estes longos anos de formação fizeram
parte da minha rotina e que me ajudaram durante todo o processo de ensino-
aprendizagem.
À minha família, por todo amor, apoio, carinho e acolhimento em todas as
dificuldades e por sempre acreditarem no meu sucesso. À minha mãe, Maria Luiza, pelo
carinho e por sempre estar comigo. A Daniela, Sabrina e Cesar, meus irmãos amados. A
Daniel Cardoso, companheiro e amigo, em todas as circunstâncias.
A todos os meus amigos e colegas, pelas palavras de incentivo.
RESUMO
O livro didático assume papel de destaque no processo de ensino-aprendizagem,
visto que influencia a prática da maioria dos professores bem como a aprendizagem dos
alunos. A Evolução Biológica é tratada como uma temática da Biologia ao invés de
integrar as diferentes áreas de conhecimento e ser o eixo unificador das ciências
biológicas e sua presença em livros didáticos de Biologia do Ensino Médio é por vezes
suprimida e superficial, além de conter erros conceituais. Considerando que o ensino de
Evolução centra-se na teoria da Seleção Natural de Darwin, outros aspectos referentes a
essa temática são por vezes negligenciados ou sequer mencionados. A Seleção Sexual é
um processo que está relacionado com a vantagem que certos indivíduos possuem sobre
os outros do mesmo sexo. Assim, a Seleção Sexual pode acarretar na competição por
parceiros entre indivíduos de uma população, resultando no sucesso reprodutivo. O
objetivo desse estudo foi identificar a presença do conceito de Seleção Sexual em livros
didáticos de Biologia do Ensino Médio indicados no Plano Nacional do Livro Didático
(PNLD) 2015. Dos nove livros indicados no plano, quatro foram passíveis de análise e
em apenas uma obra há menção à Seleção Sexual, sendo que tal obra refere-se a Seleção
Sexual como parte da Seleção Natural e não um processo evolutivo à parte. Desse
modo, são necessários maiores estudos acerca dessa temática, visto que na Literatura,
foram encontrados poucos estudos referentes à inserção do processo de Seleção Sexual
nos livros didáticos, além do fato da Evolução ocupar pouco espaço nas obras didáticas.
Palavras chaves: Seleção Sexual; Ensino de Evolução; Livro Didático.
ABSTRACT
The textbook takes prominent role in the teaching-learning process, as it
influences the practice of most teachers and student learning. The Biological Evolution
is treated as an issue of biology rather than integrate different areas of knowledge and
be the unifying axis of the biological sciences and their presence in textbooks high
school biology is sometimes suppressed and superficial, and contain conceptual errors.
Whereas the evolution of teaching focuses on the theory of Natural Selection Darwin,
other aspects related to this theme are sometimes overlooked or even mentioned. Sexual
selection is a process that is related to the advantage which certain individuals have over
others of the same sex. Thus, the Sexual selection can result in the competition for
partners among individuals in a population, resulting in reproductive success. The
objective of this study was to identify the presence of the concept of Sexual Selection in
textbooks high school biology indicated in the National Textbook Plan (PNLD) 2015.
Of the nine books listed in the plan, four were subject to analysis and only one work
there is mention of Sexual Selection, and such work refers to sexual selection as part of
natural selection and not an evolutionary process apart. Thus, larger studies are needed
on this theme, as in literature, found few studies concerning the insertion of Sexual
Selection process in textbooks, and the fact of evolution take up little space in the
textbooks.
Keywords: Sexual selection; Evolution of education; Textbook.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO _______________________ 1
2. REFERENCIAL TEÓRICO _______________________ 2
2.1. O Livro Didático _______________________ 4
2.2. Ensino de Evolução _______________________ 7
2.3. Darwinismo e Seleção Sexual _______________________ 9
3. MATERIAL E MÉTODOS _______________________ 13
4. RESULTADOS _______________________ 16
5. DISCUSSÃO _______________________ 21
6. CONCLUSÃO _______________________ 25
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______________________ 26
1
1. Introdução
Apesar de a teoria da Evolução ser considerada comumente como o
eixo das Ciências Biológicas, por vezes não é abordada corretamente e por tal
motivo é importante a desmistificação dessa temática por meio da
desconstrução de conceitos errôneos difundidos pelo senso comum, como
também desvincular essa teoria de dogmas religiosos. Para tanto, é necessário
primariamente que o ensino contemple conceitos e termos corretos e também
que o material utilizado seja adequado. Nesse ínterim, o livro didático, por ser
frequentemente adotado como um dos principais recursos didáticos deve
abordar a teoria da Evolução de forma coerente. O objetivo do trabalho é
analisar o conteúdo de Seleção Sexual presente nos livros didáticos de
Biologia de Ensino Médio, visando à abrangência desse tema, bem como se
este é descrito corretamente.
Desse modo, o trabalho consiste no Referencial Teórico, item no qual é
discutido o histórico do livro didático ao longo do tempo, o ensino de Evolução
bem como o Darwinismo e a Seleção Sexual, mediante informações que
constam na literatura, a fim de apresentar os principais aspectos teóricos
relacionados com o modo como a teoria da Seleção Sexual é abordada nos
livros didáticos de Biologia do Ensino Médio. Assim, com o referencial teórico
pretende-se traçar um panorama geral acerca da temática trabalhada,
utilizando conceitos encontrados na literatura.
O item Material e Métodos relaciona o material usado na elaboração do
trabalho e os métodos aplicados juntamente com os instrumentos e
procedimentos adotados, com a finalidade de atingir os objetivos propostos.
Após a análise do material utilizado, os resultados obtidos são analisados e
discutidos tendo como base autores que fundamentem tais resultados.
Por fim, o item Conclusão expõe as principais considerações que o
estudo acarretou, além de contar com propostas para solucionar os problemas
expostos. Todas as referências bibliográficas utilizadas constam no final do
trabalho.
2
2. Referencial Teórico
Ensinar e aprender são fenômenos presentes nas relações entre
professor e aluno, sendo processos que sofrem constante transformação,
assim como qualquer outro aspecto característico do modo de vida construído
e adotado pelo ser humano em seu processo histórico. Nessa perspectiva, a
educação é componente fundamental de qualquer política de desenvolvimento,
sendo um instrumento eficaz para o exercício da cidadania, sendo necessário
buscar alternativas para desenvolver atividades que visem o exercício pleno
desse processo (DIAS; BORTOLOZZI, 2009).
A ciência diz respeito ao conhecimento e ao entendimento, mas também
está relacionada à progressão em adquirir habilidades e desenvolver
procedimentos e, por conseguinte, o ensino de ciências deve ser cíclico para
que ocorra o desenvolvimento da aprendizagem desde que não haja repetição
sem contexto e ou conexão (WARD, 2010).
A aprendizagem pode ocorrer de diferentes formas. Pozo e Echeverría
(2001) descrevem três teorias distintas acerca da aprendizagem: a teoria
direta, a teoria interpretativa e a teoria construtiva. Na teoria direta, a
aprendizagem é a cópia fiel da realidade, sendo que a aprendizagem é um
processo de associação de conteúdos sob a forma de reprodução. Na teoria
interpretativa, a atividade pessoal do aluno resulta de processos cognitivos, tais
como motivação, atenção, aprendizagem e memória, sendo o objetivo da
aprendizagem ser uma cópia aproximada da realidade, fazendo com que o
aluno use desenvolva sua atividade mental e assim possa assimilar conteúdos.
Por fim, a teoria construtiva requer que o aluno conceba o conhecimento como
uma realidade já existente, sendo estimulado a recriá-la ao invés de produzir
cópias. Mauri (2006) relata que a teoria construtivista objetiva a construção do
conhecimento através de um processo que vise à exploração do meio físico e
social pelo aluno, além da participação ativa deste por meio de uma elaboração
pessoal do conteúdo.
Se a aprendizagem é criada por cada aluno, não é passível de
catalogação. Portanto, não há uma receita pronta em que os passos do
processo de ensino-aprendizagem são explicados e seguidos à risca. De
3
acordo com Coll e Solé (2006), a teoria construtivista não é método nem
técnica e sim um referencial explicativo, tem como pressuposto que o aluno
deve aprender independente dos métodos ou da bagagem hereditária, sendo o
professor o mediador desse processo.
Mizukami (1986) fala em cinco abordagens do processo de ensino distintas:
a tradicional, a comportamentalista, a humanista, a cognitivista e a
sociocultural. Segundo a autora, na abordagem tradicional o professor é tido
como o centro do processo de ensino-aprendizagem, pois o aluno é uma
espécie de “tabula rasa” que precisa ser conduzido pelo professor, sendo que o
resultado desejado é a fixação de conceitos e posterior memorização. Na
abordagem comportamentalista, o aluno é considerado um recipiente de
informações e reflexões e cabe ao professor assegurar à aquisição do
comportamento; assim sendo, o aluno incorporaria o conhecimento mediante
reforço do mesmo podendo alcançar o objetivo visado, que é a maximização do
seu desempenho.
Já a abordagem humanista atribui ao aluno papel central na elaboração e
criação do seu conhecimento, sendo que o ensino é centrado no aluno e o
professor é tido como um facilitador da aprendizagem, que é baseada na
autoconstrução do conhecimento pelo aluno. Na abordagem cognitivista, a
aprendizagem é capacidade que o aluno tem em integrar informações e
processá-las, tornando o conhecimento uma construção contínua e que
propicia meios para o aluno adquirir uma autonomia intelectual; é o aluno quem
tem um papel ativo, enquanto o professor o orienta sem conceder respostas,
propondo desafios como alternativa à padronização e repetição de respostas,
visto que o ensino deve ser baseado no ensaio e no erro, na pesquisa, na
investigação e na solução de problemas pelo aluno, de acordo com a teoria de
Piaget (MIZUKAMI, 1986).
Por fim, na abordagem sociocultural (sendo Paulo Freire o principal
representante), o aluno durante o processo de ensino-aprendizagem deve
superar a relação de opressor-oprimido por meio de uma educação
problematizadora que deve assumir um significado amplo através da
conscientização de si mesmo e do mundo que o cerca (MIZUKAMI, 1986).
4
Nesse ínterim, o livro didático é utilizado de diferentes formas, de acordo
com a abordagem adotada. Nas abordagens tradicional e comportamentalista,
o livro didático é utilizado constantemente, sendo uma espécie de manual do
professor, e por tal motivo apresenta-se como tarefeiro. Já nas abordagens
humanista e cognitivista, o livro didático é um recurso a ser utilizado pelo aluno
para consultas e pesquisa e não como reprodução. A abordagem sociocultural
salienta a utilização do livro como um recurso que propicia ao aluno um maior
entendimento de problemas e por isso pode ser utilizado ou não, cabendo ao
aluno escolher e ao professor mediar.
2.1. O Livro Didático
Os primeiros livros chegaram ao Brasil na época da colonização com os
padres jesuítas, sendo que a primeira impressora chegou ao Brasil com a
família real portuguesa, dando inicio a produção de livros impressos no país
(HALLEWELL, 1985).
Livros didáticos são livros voltados para a área da educação e
compreende o livro propriamente dito e por vezes o manual do professor, o
caderno de atividades e demais anexos (MUNAKATA, 1997).
Dada a importância do livro didático como recurso no ensino, houve um
aumento no número de pesquisas acadêmicas tendo como objetivo o estudo
desse material, sendo que a maioria dos estudos realizados no Brasil sobre
esse tema tem como enfoque a análise do conteúdo. Porém, em meados de
1985 surgiram alguns estudos cujo intuito era o uso do livro didático pelo
professor (MÁSCULO, 2008).
A natureza da literatura escolar é considerada complexa, pois abrange
três gêneros distintos. Primeiramente, a literatura religiosa, que deu origem à
literatura escolar, por meio dos livros escolares laicos que retomam o método e
a estrutura familiar aos catecismos; segundo, a literatura didática, técnica ou
profissional surgida entre os anos 1760 e 1830 na Europa; e por último, a
literatura de lazer, que possui caráter recreativo (CHOPPIN, 2004).
5
O setor escolar assume um papel considerável na economia editorial,
especialmente nos dois últimos séculos, visto que no início do século XX, no
Brasil, os livros didáticos correspondiam a dois terços dos livros publicados
(CHOPPIN, 2004). Os livros didáticos constituem atualmente o maior segmento
do mercado editorial, responsável por mais de 50% das unidades
comercializadas e do faturamento do setor, considerando que o setor editorial
brasileiro é tradicionalmente dividido em quatro principais segmentos: obras
gerais, livros didáticos, científicos, técnicos e profissionais e religiosos (quadro
1). Assim, o segmento de livros didáticos é representado pelo governo federal,
cuja demanda atende a rede pública de ensino fundamental e médio, por meio
do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), sendo que as obras didáticas
devem ser aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC) e as obras
aprovadas estão aptas a competir no mercado governamental do PNLD e
passam a ser divulgadas e apresentadas aos docentes das escolas públicas do
Ensino Fundamental e do Ensino Médio de todo o país. Por fim, as
preferências eleitas em cada escola são encaminhadas ao MEC, que
administra a compra em grande escala e, depois de negociar o preço com as
editoras, efetua a encomenda (MELLO, 2012).
Segundo Munakata (1997), um livro didático demora cerca de 135 a 240
dias para ser composto e impresso, visto que os primeiros 30 a 60 dias são
destinados aos consultores que avaliam a obra e cerca de 30 a 60 dias são
destinados para a editoração. Durante o processo de editoração ocorre revisão
gramatical, do estilo, marcações tipológicas, divisões capitulares, digitação,
confecção de sumário, índice, uniformização das legendas de quadros, tabelas,
figuras, ilustrações, gráficos e normalização bibliográfica e de notas de rodapé
que compõem a obra. Mais 75 a 120 dias são necessários para a conclusão do
livro didático, sendo que no período final um supervisor de produção com uma
equipe encarrega-se de realizar a diagramação da obra e também a revisão
final do livro. Desse modo, desde sua concepção até a sua utilização em sala
de aula, o livro didático passa por um longo processo.
6
Tendo um papel fundamental para os processos de ensino e
aprendizagem em qualquer área, o livro didático apresenta-se como mediador
cultural e pedagógico que pode auxiliar para que as diferentes áreas da
Biologia sejam trabalhadas pedagogicamente de modo que as discussões
dessas temáticas contemporâneas estejam presentes nos currículos das
escolas brasileiras (BRASIL, 2014).
Quadro 1: Características dos segmentos do setor editorial. Fonte: Mello (2012).
Na sala de aula, quando os professores por meio do livro didático
adequam os conhecimentos e os argumentos científicos aos estudantes, há
uma reconstrução do saber produzido pelos cientistas, fazendo com que o
professor faça uso de metáforas. Assim, se o tema abordado for complexo ou
distante, o professor e os livros didáticos afastam-se dos conceitos originais, o
7
que pode produzir uma metaforização excessiva como estratégia pedagógica,
acarretando na memorização dos conteúdos, visto que os temas científicos
ficam distantes da realidade dos alunos (BELLINI, 2006).
2.2. Ensino de Evolução
A escola é o espaço onde ocorre o encontro entre professores e alunos,
entre currículos, materiais de ensino e processos formativos que acarretam em
transformações dos conhecimentos biológicos em conhecimentos mais
diretamente relacionados às finalidades de ensino e significação de conteúdos.
Esse processo propicia a compreensão de como as práticas de ensino de
Biologia são articuladas com os diferentes elementos sócio-históricos. Nesse
ínterim, o ensino de Evolução deve transpor a superficialidade e integrar os
conhecimentos das diversas áreas da Biologia (MARANDINO et al., 2009;
TIDON; VIEIRA, 2009).
A Evolução Biológica comumente é tratada como uma temática da
Biologia, ao invés de assumir um papel central, já que há muito se considera as
ideias evolutivas abrangem diversas áreas das ciências biológicas, podendo
assumir um caráter transversal (MEYER; EL-HANI, 2005).
Nesse sentido, a concepção de Evolução Biológica deve ser a de eixo
unificador das ciências biológicas, possibilitando a interpretação dos diferentes
cenários que se formaram desde a origem da vida até a atualidade, além de
contextualizar a construção científica como um processo sócio-cultural
(MEGLHIORATTI et al., 2006; CÔRREA et al., 2010).
O ensino de Evolução centra-se na teoria da Seleção Natural de Darwin
e pode ser definida como o processo que atua selecionando as pequenas
variações entre os indivíduos de uma população e que possuem características
que facilitam sua sobrevivência e contribuam para que esse indivíduo consiga
chegar à idade reprodutiva, sendo que essas características tendem a passar
aos descendentes (NICOLINI et al., 2012).
8
Apesar da importância da Evolução Biológica perante as outras áreas da
Biologia podem ser encontrados erros conceituais e históricos acerca desse
tema nos livros didáticos, considerando que apenas duas teorias são
mencionadas frequentemente, a de Lamarck e de Darwin sendo que Wallace
normalmente não é citado (CARMO et al., 2009). Nos séculos XVIII e XIX,
intensificaram-se os estudos referentes ao processo de diversificação dos
seres vivos, e entre os pesquisadores que contribuíram para ordenar o
pensamento evolutivo pode-se citar Lamarck, Darwin, Spencer e Haeckel,
sendo que esses últimos são conhecidos por seus estudos de sistemática
(MEGLHIORATTI et al., 2006).
A abordagem tradicional nas escolas brasileiras muitas vezes não trata
os temas evolutivos de maneira adequada, especialmente quando restringe
seus conteúdos a uma visão limitada e descontextualizada tanto em termos
históricos quanto conceituais. O estudo da Evolução acaba se restringindo à
contraposição Darwin versus Lamarck e a aproximações grosseiras de suas
principais ideias (SANTOS; CALOR, 2007a).
O ensino da Evolução Biológica no Ensino Médio pode possibilitar o
estabelecimento de diversas relações com os conteúdos abordados e assim
permitir o entendimento de processos complexos em diferentes campos,
podendo explicar conceitos de genética, zoologia e botânica bem como integrar
tais áreas sob uma mesma ótica. Para tanto, é necessário desenvolver o
ensino de Biologia tendo como eixo norteador a Evolução, atentando-se a erros
conceituais presentes nos livros didáticos, que constituem o principal material
utilizado em sala de aula (NICOLINI et al., 2012).
Deve-se considerar que apesar de ser fundamental para explicar outros
processos, o conceito de Evolução Biológica é de difícil compreensão e
aceitação, podendo ser influenciado por valores culturais e pelo entendimento
da natureza do caráter científico (MEGLHIORATTI et al., 2006).
A pouca ênfase dada ao ensino de Evolução Biológica pode dificultar o
entendimento de noções-chave das ciências, conceitos que são essenciais
9
para compreender os seres vivos e suas relações (OLIVEIRA, 2009). Assim
sendo, tem-se uma possível resistência em aceitar o Evolucionismo devido ao
fato dessa teoria colocar a espécie humana ao nível animal, por vezes o ensino
de Evolução torna-se um desafio devido à influência da religião e da família.
Todavia, o ensino dessa teoria é importante visto que colabora para que os
alunos possam criar suas visões do mundo como sendo indivíduos inseridos
em uma relação mútua com o mundo (REIS et al., 2009).
De acordo com Oliveira (2009), há fatores religiosos e não religiosos
para a rejeição da teoria evolutiva, o que denota que a não aceitação não está
necessariamente atrelada ao Criacionismo. Os fatores de cunho religioso tem
como fundamento a Bíblia, que indica que Deus criou tudo, sendo que o livro
Gênesis é interpretado literalmente. Referente a razões não religiosos para a
rejeição da teoria evolutiva, fatos não científicos que são ensinados
informalmente por vezes deturpam a Evolução, como por exemplo a ideia de
que humanos e dinossauros viveram no mesmo período. Por fim, a ideia de
que a Evolução não é comprovada cientificamente, tratando-se de uma teoria e
não uma lei.
2.3. Darwinismo e Seleção Sexual
O conceito de Seleção Natural é tido como um dos pilares das Ciências
Biológicas, sendo comumente mal compreendido, pois se pensa que a Seleção
Natural explica todas as características exibidas da imensa variedade de
espécies de seres vivos. Porém, a Seleção Natural não explica algumas
características, como por exemplo, a cauda grande e colorida do pavão, o
canto chamativo dos pássaros, entre outras, pois essas características são
custosas e chamam a atenção de predadores e o que não favorece a
sobrevivência dos indivíduos (NICOLINI et al., 2012).
A existência de características chamativas, que são por vezes
dispendiosas para a sobrevivência de um indivíduo pode ser explicada pela
evolução, por meio da seleção sexual. Segundo Mayr (2005), a seleção sexual
10
acarreta no sucesso evolutivo decorrente da competição com integrantes da
mesma espécie.
Apesar de ser o alicerce da teoria evolutiva de Darwin, a Seleção Natural
não é capaz de explicar fenômenos microevolutivos e ou macroevolutivos,
sendo que o conceito de Seleção Natural nem sempre é suficiente para
explicar a Evolução como um todo (NICOLINI; WAIZBORT, 2013). A
macroevolução caracteriza-se por processos evolutivos em larga escala em
nível de pool gênico, isto é, ocorre de nível de espécie ou acima, como grupos
maiores e implica no total de genes. Já a microevolução caracteriza-se por
alterações genéticas nos alelos e ocorre de forma gradual e em menor escala,
dentro de uma única população.
De acordo com Ridley (2006), a seleção sexual pode ser definida como
um fator que influi no acasalamento e que pode ocorrer por meio da
competição entre os membros do mesmo sexo ou por meio da escolha
mediante características específicas, sendo que os indivíduos são favorecidos
por sua aptidão em relação aos membros do mesmo sexo. Considerando que a
seleção sexual ocorre quando há competição por parceiros sexuais, obtêm-se
diferentes sucessos reprodutivos entre indivíduos de uma população e para
tanto, é necessário que os recursos, no caso parceiros sexuais, sejam
escassos e que haja uma variação fenotípica e genotípica associada a
benefícios diferenciais (WOGEL; POMBAL JR, 2007).
De acordo com Carmo et al. (2006), Darwin argumentou que a Seleção
Sexual estava relacionada com a vantagem que certos indivíduos possuíam
sobre os outros do mesmo sexo e da mesma espécie, somente naquilo que
concernia à reprodução. Assim, segundo o naturalista, geralmente quando os
machos e fêmeas de qualquer espécie animal apresentam os mesmos hábitos
de vida, diferindo apenas sob o ponto de vista da estrutura, cor ou
ornamentação, estas diferenças são devidas quase que unicamente a seleção
sexual, considerando que estas vantagens são transmitidas de macho para
macho (CARMO et al., 2006).
11
A Seleção Sexual se distingue da Seleção Natural porque não depende
da luta pela sobrevivência, mas sim da "luta travada pelos machos pela posse
das fêmeas", sendo que a Seleção Sexual pode ser considerada menos
rigorosa que a Seleção Natural (DARWIN, 2004a).
Na obra “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”, Darwin (2004b)
relata que as fêmeas diferem dos machos no que se refere aos órgãos
destinados à alimentação ou à proteção dos filhotes, como é o caso das bolsas
abdominais dos marsupiais. Porém, quando eventualmente tal tipo de órgão é
encontrado nos machos, é tido como um diferencial. Contudo, como é o macho
que tem que procurar a fêmea, este necessita de órgãos sensórios e
locomotores bem desenvolvidos:
Há muitas outras estruturas e instintos que devem ter sido
desenvolvidos através da seleção sexual, tais como as armas de
ataque e meios de defesa dos quais os machos são dotados com a
finalidade de lutar e afugentar seus rivais, a sua coragem e
combatividade, os seus diversificados ornamentos, os órgãos que os
capacitam a cantar e produzir diversos sons, e as glândulas para
emitir odores, sendo de se lembrar que a maior parte dessas últimas
estruturas não serve senão para atrair a fêmea ou deixá-la excitada.
(DARWIN, 2004b, p. 170)
Variações na expressão de características sexuais secundárias são
comuns em machos de muitas espécies e frequentemente se apresentam de
forma descontínua, resultando na ocorrência de dois ou mais morfotipos. Em
geral, a presença de dimorfismos resulta em vantagem para algum dos machos
nas disputas por parceiras, em espécies que apresentam dois morfotipos
distintos encontram-se também estratégias alternativas para obtenção de
cópulas (SOBRAL, 2010).
Geralmente os machos fazem a corte, enquanto as fêmeas fazem a
escolha, já que é comum que machos acasalem com muitas fêmeas (ALCOCK,
2011). Desse modo, em um sistema monogâmico o indivíduo possui apenas
um parceiro e não necessita fazer corte Portanto, quando o esforço parental é
igual entre os sexos, a seleção sexual é menos intensa.
12
Por fim, a teoria da Seleção Sexual pode esclarecer áreas do conflito
social tal como a divisão de gênero feminino e masculino, não sendo uma
resposta definitiva para os problemas que permeiam os conflitos entre
mulheres e homens, mas ao menos sensibilizar as decisões inerentes a essa
problemática, e por essa razão, o ensino de Evolução pode ser uma importante
ferramenta para elucidar os erros construídos ao longo do tempo (NICOLINI;
WAIZBORT, 2013).
13
3. Material e Métodos
Para o levantamento bibliográfico foram utilizados artigos de periódicos
encontrados por meio de plataformas de pesquisa como o Google Acadêmico,
Scielo, CAPES, banco de teses e consulta local nas bibliotecas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
As principais palavras chaves utilizadas nas pesquisas on-line foram:
ensino de Evolução, livros didáticos, livros didáticos de Biologia, Seleção
Sexual, Seleção Sexual nos livros didáticos. A busca teve como foco obras
nacionais ou em língua portuguesa.
Após essa pesquisa, o material obtido passou por uma triagem, a fim de
verificar as informações pertinentes para o trabalho e para tanto, os resumos
dos trabalhos selecionados serviram para escolher os mais adequados.
Além do levantamento bibliográfico acerca da relevância do ensino de
Evolução, e mais especificamente, a abordagem do tema seleção sexual no
panorama do Ensino de Evolução, foi feita a análise de livros didáticos.
Os livros escolhidos como materiais didáticos a serem estudados nesse
trabalho foram selecionados com base nas recomendações do Plano Nacional
do Livro Didático 2015 (PNLD) de Biologia (BRASIL, 2014), que lista nove
coleções de livros didáticos de Biologia de Ensino Médio (quadro 2), a serem
adotadas por professores e escolas de acordo com critérios estabelecidos para
o componente curricular de Biologia.
Para cada livro analisado, foi contatada sua respectiva editora por
telefone e e-mail e também visita ao local para verificar a disponibilidade para
doação do livro em questão ou então a permissão para consultá-los. Das cinco
editoras, três aceitaram fazer doação dos livros, AJS, Ática e Moderna. A
editora SM não fez doação nem permitiu consulta por não ter o material
disponível, pois após a impressão dos livros do PNLD, os mesmos são
distribuídos às escolas. Já a editora Saraiva não respondeu ao contato e em
visita a sede, foi informado que não é possível fazer consulta dos livros.
14
Quadro 2. Informações sobre as obras utilizadas na análise de livros didáticos. Nome da obra,
autoria e editora.
Nome da Coleção Autores Editora
Bio Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes
Sergio Rosso
Saraiva
Biologia Vivian Lavander Mendonça AJS
Biologia César da Silva Júnior
Sezar Sasson
Nelson Caldini Júnior
Saraiva
Biologia em Contexto
José Mariano Amabis
Gilberto Rodrigues Martho
Moderna
Biologia Hoje Sérgio de Vasconcelos Linhares
Fernando Gewandsznadjer
Ática
Biologia Unidade e Diversidade
José Arnaldo Favaretto Saraiva
Conexões com a Biologia
Rita Helena Bröckelmann Moderna
Novas Bases da Biologia
Nélio Marco Vincenzo Bizzo Ática
Ser Protagonista – Biologia
Márcia Regina Takeuchi Tereza Costa Osorio
SM
Também foi verificado no acervo da Biblioteca Municipal Mário de
Andrade e no acervo de outras bibliotecas públicas a disponibilidade dos livros,
porém as edições constantes das obras são anteriores a 2013. Por se tratar de
coleções de livros, o volume escolhido para análise foi aquele que retrata a
teoria evolutiva, dispensando assim a aquisição/consulta de todos os livros.
Porém, as editoras doaram a coleção toda.
15
A leitura dos livros teve como foco os capítulos que continham
informações pertinentes à temática do Ensino de Evolução, com ênfase na
Teoria de Seleção Sexual, sendo que tanto o texto base quanto os exercícios e
o livro do professor foram analisados, com o intuito de constatar a abordagem
do tema e também encontrar erros conceituais.
O cálculo da quantidade de texto dedicada a Seleção Sexual foi
realizado utilizando o número de palavras constantes nos textos referentes à
seleção sexual. Assim, por meio da estimativa do número de palavras poder-
se-á traçar o espaço dado a esse tema nos livros didáticos de Biologia.
Também foram analisadas a presença e a quantidade de imagens
acerca da Seleção Sexual a fim de ilustrar e exemplificar conceitos e se estas
imagens são pertinentes ao texto, contextualizando-o ou então estão dispersas.
Desse modo, foi feito um comparativo, sendo que a análise foi qualitativa e
quantitativa.
16
4. Resultados
O quadro 3 fornece informações sobre as obras didáticas estudadas. Dos
nove livros constantes do PNLD 2015, quatro foram analisados, devido à
disponibilidade das obras nas editoras. Vale ressaltar que todos os livros
consultados foram exemplares do professor, doados pelas suas respectivas
editoras.
Quadro 3. Dados sobre os livros do PNLD 2015 analisados. Nome da obra, autoria, editora,
ano de publicação e volume.
Nome da
Coleção
Autores Editora Ano de
Publicação
Volume
Biologia Vivian Lavander Mendonça
AJS 2013 3
Biologia em Contexto
José Mariano Amabis
Gilberto Rodrigues Martho
Moderna 2013 2
Biologia Hoje
Sérgio de Vasconcelos Linhares
Fernando Gewandsznadjer
Ática 2012 3
Novas Bases da Biologia
Nélio Marco Vincenzo Bizzo
Ática 2011 3
4.1. Em Mendonça (2013) - Livro 1
A temática de Evolução é retratada no volume 3 (296 páginas) da coleção,
unidade 3, capítulos 12 e 13, totalizando 43 páginas.
17
O capitulo 12, denominado "Evolução: conceito e evidências" trabalha as
relações de parentesco, fósseis, cladogramas, teorias evolutivas (Lamarck,
Darwin e Wallace), seleção natural, irradiação adaptativa e evolução
convergente, potencial biótico e resistência do meio, deriva genética.
O capítulo 13, intitulado "Teoria sintética da evolução, especiação e
genética de populações", retrata a variabilidade dentro de uma população,
sendo que se baseia no neodarwinismo. Conceitos como mutação gênica,
recombinação gênica, migração, seleção natural, genética de populações,
especiação, anagênese, cladogênese fazem parte desse capítulo.
Desse modo, nessa obra não há referência à Seleção Sexual.
4.2. Em Amabis e Matho (2013) - Livro 2
A temática de Evolução é retratada no volume 2 da coleção (320 páginas),
no Módulo 4, denominado "A evolução biológica", dividido em 3 capítulos,
totalizando 105 páginas.
O capítulo 9, "Os fundamentos da evolução biológica", aborda mitos de
criação, pensamento evolucionista, ideias evolucionistas de Lamarck e Darwin,
seleção natural, evidências da evolução, fósseis e anatomia comparada, teoria
sintética da evolução, mutação gênica, recombinação gênica, adaptação e
evolução, melanismo, camuflagem e mimetismo.
O capítulo 10, "A origem de novas espécies e dos grandes grupos de seres
vivos", retrata o processo evolutivo e a diversificação da vida, árvore
filogenética, anagênese e cladogênese, espécie biológica, especiação,
isolamento reprodutivo, origem dos grandes grupos de seres vivos, deriva
continental.
O capítulo 11, "Evolução humana", discorre sobre o parentesco evolutivo do
ser humano com os grandes primatas, história evolutiva dos primatas e
ancestralidade humana.
18
Nessa obra não há menção acerca da Seleção Sexual.
4.3. Em Linhares e Gewandsznadjer (2012) - Livro 3
O conteúdo de Evolução consta no volume 3 da coleção (432 páginas),
unidade 2, capítulos 9, 10, 11, 12 e 13, totalizando 95 páginas referentes a
essa temática.
O capitulo 9, "Evolução: as primeiras teorias" discorre acerca das ideias de
Lamarck, Darwin e Wallace.
O capítulo 10, "A teoria sintética: variedade genética e seleção natural" é
sobre a história do neodarwinismo, mutações, variedade genética, reprodução
sexuada, seleção natural, seleção sexual.
O capitulo 11, “A teoria sintética: genética das populações e formação de
novas espécies” trata da mudança na frequência de alelos da população, lei de
Hardy-Weinberg, deriva genética, formação de novas espécies, isolamento
geográfico e reprodutivo, especiação sem isolamento geográfico.
O capitulo 12, “Evolução: métodos de estudo”, retrata a utilização de fósseis
para o estudo da evolução, relações de embriologia e anatomia comparadas e
semelhanças embrionárias e moleculares.
O capitulo 13, “A história dos seres vivos”, refere-se à origem e evolução
dos primeiros seres vivos, teorias sobre a origem da vida, evolução dos
animais e das plantas, evolução da espécie humana.
O conteúdo sobre seleção sexual está localizado na página 181, tendo 4
parágrafos, 265 palavras e uma imagem (figura 1).
19
Figura 1: Conteúdo de Seleção Sexual presente no livro 3. Página inteira.
20
4.4. Em Bizzo (2011) - Livro 4
O conteúdo de Evolução consta no volume 3 da coleção (262 páginas),
unidade 3, 'Evolução Biológica", capítulos 6 e 7, sendo destinado a essa
temática 79 páginas.
O capitulo 6, "Biologia molecular e biotecnologia" trata da genética
relacionada com a evolução, tendo como base a expressão gênica, mutação,
epigenética, biotecnologia e organismos geneticamente modificados.
O capítulo 7, "Pensamento evolutivo" discorre sobre as teorias evolutivas de
Lamarck e Darwin, neolamarquismo e neodarwinismo, origem da variabilidade,
evolução humana.
Não há menção à Seleção Sexual.
21
5. Discussão
Os resultados mostraram que apenas um, entre quatro livros analisados,
apresenta em seu conteúdo sobre Evolução, o tema da Seleção Sexual.
Apesar da pequena amostragem, pode-se constatar que o ensino sobre a
evolução biológica, baseado no conteúdo de livros didáticos recomendados no
Plano Nacional do Livro Didático 2015 (PNLD) de Biologia (BRASIL, 2014), se
faz de forma pouco abrangente. Vale ressaltar que os livros constantes no
PNLD são distribuídos gratuitamente nas escolas e não podem ser vendidos.
Tendo em vista que os livros didáticos influenciam fortemente a prática da
maioria dos professores e a aprendizagem dos estudantes, representando
frequentemente um dos principais determinantes do currículo em ação, deve-se
considerar que além de acessível, os livros didáticos precisam ser estruturados
com conteúdos corretos e de fácil assimilação, sendo por vezes tidos como
mediadores do conhecimento presente na ciência escolar (BITTENCOURT-
DOS-SANTOS; EL-HANI, 2013).
Segundo Cicillini (1991 apud DIAS; BORTOLOZZI, 2009), os livros didáticos
de Biologia seguem geralmente a mesma sequência, com poucas variações,
iniciando-se com o estudo da célula, seguido de conteúdos acerca de tecidos,
seres vivos e por fim os tópicos de Genética, Evolução e Ecologia.
Nicolini e Waizbort (2013), em um estudo sobre Seleção Sexual no qual
analisaram sete de nove livros indicados pelo PNLEM 2009, chegaram aos
seguintes resultados: todos os livros analisados dedicavam menos de 10% de
seu conteúdo para a Unidade de Evolução, enquanto que em quatro livros o
conceito de Seleção Sexual não é citado e nos demais é tratado como um tipo
especial de Seleção Natural, sendo que seu mecanismo de ação não é
explicado adequadamente.
Mesmo quando considerados os resultados obtidos mediante análise do
Livro 3, Biologia Hoje (LINHARES; GEWANDSZNADJER, 2012), pode-se dizer
que os exemplos biológicos citados pelos autores a fim de explicar os
mecanismos da Seleção Sexual são restritos. Nessa obra, cita-se que as
22
“características como a cauda do pavão e o colorido das penas de muitos
pássaros", são características escolhidas pelas fêmeas no que se refere a um
parceiro saudável.
O grupo das aves é o grupo no qual os efeitos da Seleção Sexual são mais
notórios, devido ao desenvolvimento tanto de penas coloridas e cantos
agradáveis, como comportamentos excepcionais (NICOLINI; WAIZBORT,
2013). Muitas vezes, o grupo das aves é usado como exemplo da Seleção
Sexual, porém, enquanto é comum encontrar menções sobre a coloração
diferenciada de penas, informações sobre o canto, que também representa
uma função adaptativa no que se refere à atração e à cópula, são pouco
exploradas. De acordo com Dias (2009), as aves são conhecidas pelo uso
proeminente de sinais acústicos utilizados na comunicação, denominados de
cantos ou vocalizações, tendo diversas funções, incluindo atração de parceiros.
Assim, a Seleção Sexual nas aves não se restringe apenas à coloração das
plumas, já que as variações vocais são esperadas dentro de uma mesma
espécie.
Outros grupos de animais podem ser usados como exemplo da Seleção
Sexual, tal como peixes, mamíferos e insetos, nos quais os machos
comportam-se agressivamente em relação a outro membro do mesmo sexo,
visto que machos de animais desenvolveram armas na forma de cornos,
presas, chifres, caudas claviformes e pernas grandes e espinhosas que eles
usam em lutas com outros machos pelas fêmeas (ALCOCK, 2011). Desse
modo, é possível utilizar distintos grupos para exemplificar o processo de
Seleção Sexual.
Sob outro ponto de vista, no livro de Linhares e Gewandsznadjer (2012),
comenta-se que “a Seleção Sexual pode ser considerada um caso especial do
conceito mais amplo de Seleção Natural”. Dessa forma, constata-se a ideia de
que a Seleção Natural é passível de explicar todas as características físicas e
comportamentais adaptativas de todas as espécies (NICOLINI; WAIZBORT,
2013).
23
Darwin detalhou suas ideias sobre a origem e modificação das espécies ao
longo do tempo através do processo de Seleção Natural, porém, dadas
características (como a cauda do pavão, canto dos pássaros e cores brilhantes
em insetos, por exemplo), não são características que favorecem a
sobrevivência dos indivíduos. A Seleção Natural é incapaz de explicar por si só
os dimorfismos sexuais secundários, ou seja, as eventuais diferenças
fenotípicas e comportamentais entre machos e fêmeas, diferenças essas não
diretamente associadas aos órgãos genitais (NICOLINI et al., 2012).
Uma vez que a Seleção Natural é responsável por formas produzidas pelos
processos desenvolvimentais, a evolução e o desenvolvimento se influenciam
mutuamente, embora representem processos distintos que atuam em níveis de
organização e escalas temporais diferentes (BITTENCOURT-DOS-SANTOS;
EL-HANI, 2013). Desse modo, há características que não favorecem a
sobrevivência, e, portanto, não são resultados da Seleção Natural causando
maior vulnerabilidade a predadores e custos no desenvolvimento, mas que
podem ser explicadas pela Seleção Sexual (ALCOCK, 2011).
Nesse interim, o estudo da Seleção Sexual e sua abordagem nos livros
didáticos de Biologia se faz necessário devido ao fato de a Seleção Sexual ser
considerada como uma força seletiva fundamental na evolução do
comportamento social, pois ela é capaz de afetar uma série de fenômenos
biológicos como o grau de cuidado parental e de dimorfismo sexual, o tipo de
sistema de acasalamento, a idade para a maturação sexual, a variação na
proporção sexual, dentre outros (WOGEL; POMBAL JR, 2007).
Santos e Calor (2007b) propõem a utilização da sistemática filogenética no
Ensino de Evolução, já que a idéia da Evolução como transformação linear de
um grupo mais simples em outro com maior grau de complexidade contraria as
proposições originais de Darwin e Wallace, porém está arraigada no senso
comum. Logo. tendo por base o conceito de Evolução como descendência com
modificação a partir de um ancestral comum, isto é, ramificação no tempo,
pode-se começar a repensar o Ensino de Biologia dentro de um arcabouço
evolutivo. Uma prova da ideia de progresso relacionada com a teoria evolutiva
24
é o exemplo da fila indiana da evolução humana, o que comprova a
permanência de falsas concepções científicas e contribui para a disseminação
de equívocos relacionados a teoria da Evolução. Isto posto, é possível eliminar
do senso comum exemplos errôneos usando cladogramas, modelos de
relações filogenéticas.
Por fim, o livro didático de Biologia, dado seu papel na seleção e sequência
de conteúdos, atividades de aprendizagem, abordagens de avaliação, deve
contemplar não apenas os conteúdos conceituais a priori, pois a Biologia é
parte do cotidiano da população, mas o ensino desta encontra-se distanciado
da realidade, impossibilitando que se façam relações entre o que é estudado e
o que é vivenciado (DIAS; BORTOLOZZI, 2009; BITTENCOURT-DOS-
SANTOS; EL-HANI, 2013).
25
6. Conclusão
O presente estudo mostrou que a maior parte dos livros didáticos de Ensino
Médio de Biologia recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) 2015 que foram analisados não abordam o tema da Seleção Sexual.
De nove livros indicados no PNLD 2015, quatro foram analisados e apenas
uma continha o conceito essa temática. Desse modo, mesmo quando os livros
abordam o assunto, são poucos os poucos exemplos biológicos utilizados,
sendo esses os mais evidentes e comumente conhecidos e os conceitos são
simplificados.
A fim de solucionar esse problema, fazem-se necessários outros estudos
referentes à presença da Seleção Sexual em obras didáticas, que mostrem a
partir de um maior número de obras analisadas, a situação crítica sobre o
assunto. Essa seria uma forma de sensibilizar os educadores, os programas
governamentais, os autores e as editoras, de forma ampla, sendo estes os
agentes responsáveis por mudanças necessárias neste sentido.
26
7. Referências Bibliográficas
ALCOCK, J. Comportamento Animal: uma abordagem evolutiva. 9. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2011. 606 p.
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia em Contexto. v. 2. .São Paulo:
Moderna, 2013. 320 p.
BELLINI, L. M. Avaliação do Conceito de Evolução nos Livros Didáticos.
Revista Estudos em Avaliação Educacional, v. 17, n. 33, p. 7-28, 2006.
BITTENCOURT-DOS-SANTOS, W.; EL-HANI, C. N. A abordagem do
pluralismo de processos e da Evo-devo em livros didáticos de Biologia
Evolutiva e Zoologia de Vertebrados. Revista Ensaio, v. 15, n. 3, p. 199-216,
2013.
BIZZO, N. M. V. Novas Bases da Biologia. 1. ed., v. 3. São Paulo: Ática,
2011. 262 p.
BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros Didáticos - PNLD 2015 -
Biologia. Brasília, 2014
BRÖCKELMANN, R. H. Conexões com a Biologia. v. 3. São Paulo: Moderna,
2013. 303 p.
CARMO, V. A.; BIZZO, N.; MARTINS, L. A. P. Alfred Russel Wallace e o
princípio de Seleção Natural. Filosofia e História da Biologia, v. 4, p. 209-
233, 2009.
CHOPPIN, A. História dos livros didáticos e das edições didáticas: sobre o
estado da arte. Educação e Pesquisa, v. 30, n. 3, p. 549-566, 2004.
COLL, C.; SOLÉ, I. Os professores e a concepção construtivista. In: COLL, C.,
et al. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 2006. p.
09-28.
CÔRREA, A. L.; ARAÚJO, E. N. N.; MEGLHIORATTI, F. A.; CALDEIRA, A. M.
A. História e Filosofia da Biologia como ferramenta no Ensino de Evolução na
formação inicial de professores de Biologia. Filosofia e História da Biologia,
v. 5, n. 2, p. 217-237, 2010.
DARWIN, C. A origem das espécies. São Paulo: Martin Claret, 2004. 553 p.
DARWIN, C. A origem do homem e a seleção sexual. Belo Horizonte: Editora
Itatiaia, 2004. 547 p.
27
DIAS, A. F. S. Comparação e descrição de parâmetros acústicos do canto
de Volatinia Jacarina (Aves: Emberizidae) no contexto de seleção sexual.
2009. 70 f. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Instituto de Biologia,
Universidade de Brasília, Brasília.
DIAS, F. M. G.; BORTOLOZZI, J. Como a Evolução Biológica é tratada nos
livros didáticos do Ensino Médio. In: Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação em Ciências, 7, 2009, Florianópolis. Anais... Belo Horizonte:
ABRAPEC, 2009. 12 p.
FAVARETTO, J. A. Biologia Unidade e Diversidade. v. 3. São Paulo: Saraiva,
2013. 320 p.
HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Queiroz/Edusp,
1985.
LINHARES, S. V.; GEWANDSZNADJER, F. Biologia Hoje. 2. ed., v. 3. São
Paulo: Ática, 2013. 320 p.
LOPES, S. G. B. C.; ROSSO, S. Bio. 2 ed., v.2. São Paulo: Saraiva. 2013. 320
p.
MARANDINO, M.; SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Ensino de Biologia:
histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez,
2009. 215 p.
MÁSCULO, J. C. A coleção Sérgio Buarque de Hollanda: livros didáticos e
ensino de História. 2008. 238 f. Tese (Doutorado em Educação). Pontifícia
Universidade Católica, São Paulo.
MAURI, T. O que faz com que o aluno e a aluna aprendam os conteúdos
escolares? In: COLL, C. et al. O construtivismo em sala de aula. São Paulo:
Editora Ática, 2006. p. 79-121.
MAYR, E. Biologia, ciência única: reflexões sobre a autonomia de uma
disciplina científica. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 272 p.
MELLO, G. Desafios para o setor editorial brasileiro de livros na era digital.
BNDES Setorial, v. 36, p. 429-473, 2012.
MENDONÇA, V. L. Biologia. 2. ed., v 3. São Paulo: AJS, 2013. 296 p.
MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução: o sentido da vida. São Paulo: Editora
Unesp, 2005. 132 p..
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo, EPU,
1986. 119 p.
28
MUNAKATA, K. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. 1997. 223 f.
Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação) - Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo.
NICOLINI, L. B.; COSTA, O. L.; WAIZBORT, R. F. A necessidade de inserção
do processo de Seleção Sexual nos livros didáticos do Ensino Médio.
Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.5, n.3, p.181-
193, 2012.
NICOLINI, L. B.; WAIZBORT, R. F. Plumas, cantos e mentes: Darwin, a
Seleção Sexual e o ensino da teoria da Evolução. Revista Brasileira de
Pesquisa em Educação em Ciências, v. 13, n. 2, p. 183-205, 2013.
OLIVEIRA, G. S. Aceitação/rejeição da Evolução Biológica: atitudes de
alunos de Educação básica. 2009. 162 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo, São Paulo.
POZO, J. I.; ECHEVERRÍA, M.l P.P. As concepções dos professores sobre a
aprendizagem. Rumo a uma nova cultura educacional. Pátio Revista
Pedagógica, n. 6, p. 19-23, 2001.
RIDLEY, M. Evolução. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 752 p.
SANTOS, C. M. D.; CALOR, A. R. Ensino de biologia evolutiva utilizando a
estrutura conceitual da sistemática filogenética – I. Ciência e Ensino, v. 1, n. 2,
2007a.
SANTOS, C. M. D.; CALOR, A. R. Ensino de biologia evolutiva utilizando a
estrutura conceitual da sistemática filogenética – I. Ciência e Ensino, v. 1, n. 2,
2007b.
SILVA-JÚNIOR, C.; SASSON, S.; CALDINI-JÚNIOR, N. Biologia. 11 ed., v. 3.
São Paulo: Saraiva, 2013, 320 p.
SOBRAL, M. Análise morfológica e morfométrica do trato reprodutor
feminino e masculino de duas espécies de Serracutisoma (Arachnida:
Opiliones: Gonyleptidae): evidências de seleção sexual em machos. 2010.
135 f. Tese (Doutorado em Zoologia) - Instituto de Biociências, Universidade de
São Paulo, São Paulo.
TAKEUCHI, M. R.; OSORIO, T. C. Ser Protagonista - Biologia. 2. ed., v. 3.
São Paulo: SM, 2013. 311 p.
TIDON, R.; VIEIRA, E. O ensino da Evolução Biológica: um desafio para o
século XXI. Com Ciência, n. 107, 2009
29
WARD, H. Planejamento e avaliação da aprendizagem. In: WARD, H.; RODEN,
J.; HEWLETT, C.; FOREMAN, J. Ensino de Ciências. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010. p. 104-124.
WOGEL, H.; POMBAL JR., J. P. Comportamento reprodutivo e seleção sexual
em Dendropsophus Bipunctatus (Spix, 1824) (Anura, Hylidae). Papéis Avulsos
de Zoologia, v. 47, n. 13, p. 165-174, 2007.