39
7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 1/39 8 1 INTRODUÇÃO Este trabalho analisou o filme O exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose  –  EUA  – 2005), dirigido por Scott Derrickson , mais especificamente a hibridação dos gêneros terror e tribunal que é encontrada na obra. O exorcismo, apesar de ser um tema antigo, ainda é polêmico e gera bastante audiência. No cinema isso não é diferente. Desde O exorcista (1973) até a Filha do mal (2012) o assunto não morre e continua a render muitos lucros. O exorcismo de Emily Rose é um dos grandes sucessos da lista de filmes sobre exorcismo. É um filme inspirado em uma história verdadeira, o que já faz com que seja assustador para o espectador, descartando a necessidade do uso dos clichês mais frequentes em obras do gênero, como as deformações físicas exageradas. É um filme que aborda a discussão no mundo contemporâneo, da ciência com a religião, um debate também antigo, que o filme traz de volta de forma intrigante, deixando o próprio espectador na dúvida sobre qual lado deve adotar, qual está certo, se é que existe um. Este, aliás, foi um dos motivos que levou o diretor a realizar o filme, segundo ele próprio admitiu no making-of  que consta nos extras do DVD. Ao analisar as características dos gêneros terror e tribunal apresentadas no filme, a pesquisa é relevante para os que se interessam por cinema, já que, atualmente, poucos livros, artigos e monografias carregam um conteúdo satisfatório sobre os gêneros cinematográficos, principalmente sobre os filmes de tribunal. Analisar O exorcismo de Emily Rose é analisar os gêneros presentes no filme, com suas limitações e potencial. O problema central da pesquisa é: como foi feita a hibridação dos gêneros terror e tribunal no filme O exorcismo de Emily  Rose? Além da análise da hibridação dos gêneros terror e tribunal, os objetivos da pesquisa também foram analisar a estrutura narrativa do filme, as características do realismo e da impressão de realidade, as características do cinema hollywoodiano, identificar os elementos que definem os gêneros do filme como terror e tribunal e conhecer mais sobre o cinema, que é tão amplo e complexo. Todo o processo da pesquisa foi realizado com base em livros, artigos, monografias, sites e por meio do material empírico, que é o filme. Além dos estudos, para a conclusão do tema, da

O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

  • Upload
    lorena

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 1/39

8

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho analisou o filme O exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose  –  

EUA – 2005), dirigido por Scott Derrickson, mais especificamente a hibridação dos gêneros

terror e tribunal que é encontrada na obra.

O exorcismo, apesar de ser um tema antigo, ainda é polêmico e gera bastante audiência. No

cinema isso não é diferente. Desde O exorcista (1973) até a Filha do mal (2012) o assunto

não morre e continua a render muitos lucros. O exorcismo de Emily Rose é um dos grandes

sucessos da lista de filmes sobre exorcismo. É um filme inspirado em uma história verdadeira,

o que já faz com que seja assustador para o espectador, descartando a necessidade do uso dos

clichês mais frequentes em obras do gênero, como as deformações físicas exageradas. É um

filme que aborda a discussão no mundo contemporâneo, da ciência com a religião, um debate

também antigo, que o filme traz de volta de forma intrigante, deixando o próprio espectador

na dúvida sobre qual lado deve adotar, qual está certo, se é que existe um. Este, aliás, foi um

dos motivos que levou o diretor a realizar o filme, segundo ele próprio admitiu no making-of  

que consta nos extras do DVD.

Ao analisar as características dos gêneros terror e tribunal apresentadas no filme, a pesquisa é

relevante para os que se interessam por cinema, já que, atualmente, poucos livros, artigos e

monografias carregam um conteúdo satisfatório sobre os gêneros cinematográficos,

principalmente sobre os filmes de tribunal. Analisar O exorcismo de Emily Rose é analisar os

gêneros presentes no filme, com suas limitações e potencial. O problema central da pesquisa

é: como foi feita a hibridação dos gêneros terror e tribunal no filme O exorcismo de Emily

 Rose?

Além da análise da hibridação dos gêneros terror e tribunal, os objetivos da pesquisa também

foram analisar a estrutura narrativa do filme, as características do realismo e da impressão de

realidade, as características do cinema hollywoodiano, identificar os elementos que definem

os gêneros do filme como terror e tribunal e conhecer mais sobre o cinema, que é tão amplo e

complexo.

Todo o processo da pesquisa foi realizado com base em livros, artigos, monografias, sites epor meio do material empírico, que é o filme. Além dos estudos, para a conclusão do tema, da

Page 2: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 2/39

9

problematização e da conclusão do trabalho, alguns professores especialistas em cinema

foram consultados, para que todo o conteúdo fosse selecionado da maneira mais adequada.

No primeiro capítulo teórico, houve a abordagem do Cinema Clássico Hollywoodiano, comsuas principais características e elementos. Os gêneros cinematográficos terror e tribunal

também foram tratados. O segundo capítulo teórico trata da estrutura da narrativa, desde a

linguagem do cinema, até a estética, os elementos do enredo e a tecnologia.

Por questão de viabilidade da pesquisa, limitações de tempo e espaço, não foi dado o

tratamento sobre a história real de Anneliese Michel, a alemã que morreu jovem e

misteriosamente e cuja vida inspirou o filme. Apesar de que o fato colaborou para que o filmese aproximasse mais da realidade além do realismo natural produzido pelo cinema e, ainda,

causar no espectador uma maior tensão e interesse na narrativa.

Nos anexos estão algumas figuras que representam elementos que caracterizam os gêneros

terror e tribunal no filme, para que facilite a compreensão do leitor sobre o que foi tratado na

pesquisa.

Page 3: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 3/39

10

2 O CINEMA HOLLYWOODIANO

Este capítulo aborda o cinema Hollywoodiano,  particularmente a chamada “narrativa

clássica”, que desde a década de 1910 é predominante no cinema de entretenimento, nãoapenas norteamericano, mas também em outros países. O estudo foi feito com base em

pesquisas sobre suas características, seguido de um aprofundamento em dois gêneros

específicos: os filmes de terror e de tribunais.

2.1 O cinema em Hollywood

Atualmente, o cinema hollywoodiano presente nas grandes produções segue a chamadanarrativa clássica, cujas bases já estavam presentes na obra do pioneiro D. W. Griffith.

Aumont e Marie (2006) explicam que o sentido original do termo “clássico” é de primeira

linha, digno de ser estudado, que tem autoridade, sendo assim uma forma de qualificar

historiadores, filmes e muito mais. O autor cita a definição de Rohmer (1953) que diz: “[...] a

era clássica de uma arte é a que realiza melhor as possibilidades estéticas intrínsecas dessa

arte [...]”. Os autores esclarecem que Rohmer não manteve esta opinião ao afirmar que esta

era não existiu.

Rohmer mudou, em seguida, de opinião, ao constatar que esse período clássico não

havia, de fato, existido realmente. No entanto, o sentido mais corrente, constituído a

 partir da crítica ideológica da década de 1970 e da análise textual, identifica “cinema

clássico” e “cinema clássico hollywoodiano”. (AUMONT; MARIE, 2006, p. 55)

Há muitos anos o cinema de Hollywood é discutido no mundo. Paraire (1994) compara este

cinema americano com o movimento de uma balança, visto que há uma grande variação nos

filmes produzidos, ao mesmo em tempo que são filmes voltados para “pura diversão”,

 produzem, também, obras “fortes e originais”. Paraire (1994) define o cinema de Hollywood

como popular, justificando esta definição pelo fato de que a maior parte dos filmes

representam as situações políticas, culturais e ideológicas do país e da população norte-

americana.

Page 4: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 4/39

11

Ao estudar a narrativa clássica hollywoodiana, David Bordwell pesquisou centenas de filmes

entre 1917 e 1960. Bordwell (2005) apresenta inicialmente, a narrativa, analisando-a em três

aspectos: representação, estrutura e ato. Estes elementos são classificados: a representação “de

que modo se refere ou confere significação a um mundo ou conjunto de ideias. Denominando-

se de ‘semântica’ da narrativa”, a estrutura – o modo como seus elementos se combinam para

criar um todo diferenciado”, ato –  “o processo dinâmico de apresentação de uma história a um

receptor.” 

Outros elementos, encontrados até nos filmes atuais, são apresentados. Um destes elementos é

o modo como os personagens são construídos. Bordwell (2005) explica que os indivíduos já

possuem características bem marcadas, próprias, principalmente os protagonistas. O jeito

destes indivíduos já é definido, os traços, o comportamento. As personalidades deles são

desenvolvidas de um modo que o espectador acaba por se identificar com os personagens,

criando uma determinada empatia. São realizados sobre os personagens apenas ajustes para a

adequação aos diferentes papeis e filmes, mas já existem alguns arquétipos predominantes.

Vogler (2006) aborda sobre os  Arquétipos nos cinemas, um termo que define exatamente

essas previsibilidades dos personagens, palavra que, segundo Vogler, foi empregado pelo

psicólogo suíço Carl G. Jung. Esta definição se encaixa às características dos personagens dosfilmes de Hollywood.

Assim que entramos no mundo dos contos de fadas e dos mitos, observamos que hátipos recorrentes de personagens e relações: heróis que partem em busca de algumacoisa, arautos que os chamam à aventura, homens e mulheres velhos e sábios que lhesdão certos dons mágicos, guardiões de entrada que parecem bloquear seu caminho,companheiros de viagem que se transformam, mudam de forma e os confundem,vilões nas sombras que tentam destruí-los, brincalhões que perturbam o status quo1e

trazem um alívio cômico. (VOGLER, 2006, p. 48)

Não só os personagens, mas o próprio cinema clássico hollywoodiano é produzido de forma

padronizada. A trama dos filmes é baseada, de acordo com Bordwell (2005), em um “estágio

de equilíbrio, a perturbação, a luta e a eliminação do que perturba”. É como se já existisse um

roteiro para a produção dos filmes, uma espécie de receita, o que é criticado por Bordwell

1- http://www.infoescola.com/curiosidades/status-quo/ 

Significado: Estado atual

Page 5: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 5/39

12

(2005), quando afirma que em cada 100 filmes hollywoodianos, pelo menos 60 deles são

repletos de clichês, com o tradicional final feliz, um casal heterossexual dando um beijo, entre

outros fatores. O autor explica que é um modo de a ‘trama’ dar a sensação de ‘justiça poética’,

que é quando os espectadores sentem que o desejo que eles tinham para o fim foi realizado,

cumprido. Muitos filmes são produzidos como se fossem infantis, o espectador não precisa

raciocinar ou desvendar os próximos acontecimentos. Não há surpresas.

Vernet (2007) também aborda a respeito da previsibilidade nos filmes, ao explicar sobre o

verossímil, que é quando há mais fidelidade à realidade, que é quando a história do filme está

relacionada com o senso comum e/ou com os bons costumes. Muitos filmes seguem os

clichês, pois é o mais conveniente, não há surpresas. Ele exemplifica com um filme western,no qual é comum encontrarmos o “herói” perseguindo o assassino do pai, porque ‘a honra da

família é sagrada’. 

O verossímil é, segundo o autor, um filme exibir para o espectador algo que eles já imaginam,

que já esperam. Filmes que vão contra o senso comum, e não têm esse compromisso com o

real, que não se preocupam em deixar os espectadores confortáveis com o resultado e acabam

surpreendendo quem o assiste, geralmente são considerados inverossímeis. Vernet (2007)exemplifica a afirmativa com um filme de Louis Malle, (Pretty baby, 1978), no qual uma

 jovem ingênua e maliciosa ao mesmo tempo era uma prostituta. 

Bordwell (2005) discute que o final clássico possui, muitas vezes, defeitos. Ele explica que,

com o foco no final feliz dos protagonistas, os diretores acabam por esquecer ou ignorar o

final dos outros personagens, os coadjuvantes. O espectador acaba sem conhecer o desenrolar

de cada um no filme, gerando, às vezes, curiosidade e incômodo.

Nesta relação do espectador com o filme do estilo clássico do cinema hollywoodiano,

percebe-se que, durante todo o filme, quem assiste fica ciente sobre o tempo e espaço,

diferentemente, de outros estilos narrativos  –  por exemplo, filmes da Nouvelle Vague

francesa ou do cinema russo dos anos 20 a 40  – que têm como intenção deixar o espectador

desavisado, apenas na expectativa, para que as situações não fiquem tão óbvias e previsíveis.

Estas características propositais do cinema clássico vão desde as teorias até as questões

técnicas. A cada propósito há uma técnica específica para alcançá-lo, seja na luz, nos

Page 6: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 6/39

13

posicionamentos das câmeras, no lugar, entre outras. O cinema clássico tenta aproximar o

espectador da “realidade”, para que ele tenha a impressão de estar “vivendo a história” e não

se lembrar, a todo momento, de que é tudo uma construção narrativa artificial, como todo

filme.

Bordwell (2005) afirma que o espectador não deve ser tratado como se fosse passivo,

discutindo que as obras clássicas tendem a seguir o senso comum, fazendo com que o

espectador siga uma determinada lógica de acordo com os temas e problemas apresentados e

alega que um espectador que vai assistir a um filme clássico vai “bem preparado”. O filme

clássico, ao seguir essas características de certa forma previsíveis, faz, automaticamente, com

que o espectador já crie hipóteses para o desenrolar das tramas e, na maioria das vezes, eleestá correto.

Bordwell (2005) diferencia o modelo americano dos outros “classicismos” que marcaram o

mundo cinematográfico, explicando, por exemplo, que o “final feliz” está mais ligado ao

sistema de Hollywood do que de outros, além de destacar como um ponto de vantagem para o

filme clássico o fato de o espectador construir o sentido e o espaço conforme o que ele chama

de “processo de conhecimento, memória e inferência”. 

O que é raro, segundo Bordwell (2005), é a utilização da narrativa de um modo que faça com

que o espectador crie hipóteses erradas, narrativas que surpreendem, que não seguem o senso

comum. Mas, o espectador, acostumado com a maior previsibilidade dos acontecimentos na

narrativa clássica hollywoodiana, acaba se decepcionando quando assiste a uma obra que não

segue a “receita”, já que, quase sempre, para o espectador, as expectativas criadas são muito

mais interessantes e coerentes.

Mascarello (2006) também aborda alguns períodos e conceitos do cinema de Hollywood,

como “Nova Hollywood, pós-clássico e  High concept ” que, segundo ele, fazem parte do

estudo do cinema hollywoodiano contemporâneo. Como Nova Hollywood, o autor define

como a evolução neste cinema depois de 1975.

[...] se define pelo abandono progressivo da pujança narrativa típica do filme

hollywoodiano até meados de 1960, e também por assumir a posição de carro-chefe

Page 7: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 7/39

14

absoluto de uma indústria fortemente integrada, daí em diante, à cadeia maior da

produção e do consumo midiáticos (cinema, TV, vídeo, jogos eletrônicos, parques

temáticos, brinquedos etc.). (MASCARELLO, 2006, p. 336).

Já o termo  High concept , - Mascarello (2006) explica que foi usado pelos que defendem o

significado de pós-clássico, como uma forma de classificar os filmes que têm manifestações

do que o autor classifica como ruptura, separando a Velha Hollywood do cinema

hollywoodiano clássico. Mascarello (2006) justifica essa ruptura pela demanda econômica,

colocada em primeiro lugar, antes mesmo da estética.

Tal ruptura, por sua vez, teria como motivação uma pressão inédita, tanto quantitativa como

qualitativa, do econômico sobre o estético  –  isto é, as modificações de estilo, narrativa e

tratamento temático para atender às demandas das novas estratégias de  Marketing e venda ao

longo da cadeia midiática, agora integrada horizontalmente (o circuito exibidor como

mercado primário, o vídeo doméstico e as TVs fechada e aberta como mercado secundário e,

por fim, o incomensurável mercado de negócios conexos). (MASCARELLO, 2006, p. 336).

O cinema clássico hollywoodiano tem forte peso sobre outros estilos cinematográficos, como

destaca Bordwell (2005), afirmando que é uma influência inegável. “Por mais rotineira e

transparente que tenha se tornado a fruição do filme clássico, ela continuará sendo uma

atividade. E qualquer cinema alternativo, ou de oposição, se utilizará da narração para suscitar

tipos distintos de atividade”. (BORDWELL, 2005, p. 301) 

2.2 Gêneros cinematográficos

Buscombe explica que não há algo definido a respeito do que ele significa. Aumont e Marie

(2006) explicam que o termo gênero vem do latim e significa “categoria, agrupamento”. O

autor afirma que: “Desde o século XVII, um emprego mais especializado é: ‘categoria de

obras que têm caracteres comuns (de enredo, de estilo etc.)”. Todos os tipos de arte podem ser 

classificados em gêneros, na música, nos livros, no teatro, entre outros. O mesmo ocorre com

os gêneros cinematográficos. Os autores esclarecem que a classificação de filmes por gênerosé ainda mais forte no cinema clássico hollywoodiano, “[...] reinava uma divisão do trabalho

Page 8: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 8/39

15

particularmente bem organizada (a ponto de certas empresas terem sido, às vezes,

identificadas com a produção de gênero bem preciso, como os filmes de gângsteres da

Warner, na década de 1930).” Um filme não precisa, necessariamente, obedecer a um gênero,

ele pode incluir características de outros gêneros em sua narrativa, podendo ser classificado,

 por exemplo, como ação e comédia. Aumont exemplifica uma “aliança” de gêneros que deu

certo, segundo ele, que é o western e o burlesco.

Paraire (1994) afirma que ao longo da evolução do cinema hollywoodiano, houve uma

crescente importância dos gêneros. O autor explica essa distribuição em gêneros com as

características particulares de cada enredo.

[...] Pelos temas abordados, o estilo de direção e de tomadas, o desempenho dos

atores, os tipos de cenários, a intenção fundamental, cada filme definia-se dentro de

um gênero, tanto pela sua semelhança com algumas obras quanto pela distância que a

separava de outras. Assim, aos poucos, o espectador aprendeu a saber de antemão, em

função dos atores, graças ao cartaz e ao título, às vezes vendo o nome do estúdio que

financiou o filme, que gênero de filme deveria esperar assistir. (PARAIRE, 1994, p.

42).

Muitos são os gêneros cinematográficos. Paraire (1994) cita os grandes gêneros como: “filme

cômico, melodrama, drama, filme de aventuras, filme histórico, western, noir clássico,

moderno, fantástico e terror, ficção científica, musical, erótico e pornográfico e desenho

animado.” 

2.2.1 Filmes de Terror

Muitas vezes o terror é considerado gênero, outras ele pode ser classificado subgênero do

gênero fantástico. Aumont e Marie (2006) definem o fantástico como “criado pela fantasia”.

Segundo os autores, a produção do Fantástico é feita em uma obra fictícia, explicando:

“quando um acontecimento inexplicável é relatado ou representado, e quando o destinatário

da obra hesita entre duas interpretações: ou o acontecimento é fruto de uma ilusão e da

imaginação [...] ou o acontecimento ocorre realmente [...].”

Page 9: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 9/39

16

Paraire (1994) classifica o terror como um subgênero do gênero fantástico. O autor afirma que

estes gêneros foram usados de forma abusiva por Hollywood, que acabou gerando uma má

reputação no sentido qualitativo, mas, apesar desta afirmativa, o autor acredita que ainda é

possível a produção de obras primas. Paraire (1994) apresenta características de como ele

define o terror.

[...] utilizando ao máximo a capacidade de as imagens aterrorizarem o espectador.

Sustentadas por uma intriga macabra, as imagens aterrorizantes produzidas pelos

especialistas da maquiagem (a princípio), e os efeitos especiais (a partir dos anos 60)

atingem seu objetivo, o terror: monstros, vampiros, vodu, magia negra, encantamento,

enfeitiçamento, possessão diabólica e parapsicologia são as receitas dos roteiros

levados ao paroxismo pelas técnicas recentes. (PARAIRE, 1994, p.72).

Nogueira (2010), sobre o gênero Terror nos filmes, explica que sua característica marcante é o

incômodo que é provocado no espectador.

Quem assiste ao filme fica deslumbrado por esse “desconforto” que o filme provoca -

diferente do que atrai o espectador em filmes de outros gêneros, como o personagemsimpático, o “happyend ”, entre outros. 

Nos seus mais característicos e mais extremos momentos, estes efeitos e estas experiências

emocionais podem revelar-se quase insuportáveis e levar a diversas manifestações radicais:

fugir com o olhar, sentir náuseas, gritar estridentemente, suar compulsivamente ou mesmo

abandonar a sala de cinema são algumas das reacções possíveis. (NOGUEIRA, 2010, p. 36).

Nogueira (2010) justifica essas sensações e efeitos com o fato de que o terror possui o que ele

chama de agentes do mal, que são os extraterrestres, os monstros, os vampiros e demais

aberrações fictícias ou não. O autor alega que este gênero é o mais inventivo e afirma,

também, que este gênero, desde o início da história do cinema, teve um importante destaque,

futuramente enfatizado nos estúdios de Hollywood, onde teve mais liberdade de criação e

produção, gerando filmes, atuações e personagens relevantes que são lembrados até nos dias

de hoje.

Page 10: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 10/39

Page 11: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 11/39

18

tubarão, Drácula entre outros. Nazário (1998) define os monstros no cinema como uma

‘oposição à humanidade’ 

[...] Ele é o seu inimigo mortal, aquele contra o qual ela só pode reagir pelo

extermínio. No imaginário popular, o Mal é enorme, maciço, assumindo

frequentemente a forma excessiva de um animal antediluviano [...]; [...] Todo monstro

é, materialmente, uma máscara: seu horror é externo, sua representação dá-se por

intermédio da fantasia. Os filmes de terror dizem respeito, em última análise, à força

dramática da aparência [...]. (NAZÁRIO, 1998, p. 11 e 12)

O que, de início, caracteriza um monstro nos filmes, são seus predicados físicos, tamanhos,

deformações etc. Além disso, encontra-se, ainda, os monstros que, às vezes, o espectador

sequer enxerga, como um vírus exterminador, por exemplo.

 Nazário (1998) explica que a maior parte dos monstros são do sexo masculino, “a

feminilidade construiu-se em oposição aos valores da monstruosidade, como no conto

clássico Chapeuzinho Vermelho”. Nazário afirma que por uma questão cultural, o monstro é o

que ele define como exarcebadamente masculino, “Sua forma característica, com seu

princípio ativo e sua presença carnal e viscosa, lembra a de um enorme falo independente,

destinado à violentação simbólica dos corpos.” 

A feminilidade também é fruto de uma construção da cultura. Nazário (1998) explica que “o

grande boom das mulheres-monstros” está relacionada à sua integração no mercado de

trabalho.

[...] Lutando pela sobrevivência em condições de igualdade com os homens, as

mulheres retraíram sua feminilidade, tornando-se agressivas, arrivistas, impudicas.

Masculinizadas e hipersexualizadas, adquiriram algo de monstruoso. Em 1968,

ValerieSolanas teorizou a mais radical libertação das mulheres, via castração de

machos, no S.C.U.M. Manifesto, e tentou liquidar Andy Warhol, atirando nele a

queima-roupa, à falta de alvo melhor. [...] (NAZÁRIO, 1998, p. 125)

Page 12: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 12/39

19

2.3 Os filmes de tribunal

A característica de um filme do gênero tribunal se define pelo simples fato de haver uma

acusação, um julgamento. Não é um gênero tão complexo para análise como vários outros

gêneros. O tribunal pode ser classificado mais como um subgênero do que como um grande

gênero. Mas, apesar de suas limitações, os filmes deste gênero apresentam muitas

características definidas por meio de muitos elementos.

Silva Neto (2007) notou que os filmes de tribunal, em sua maioria, estavam ligados a dois

gêneros, Drama e Suspense, até mesmo pelas características dos mesmos. No caso do

Suspense, por exemplo, que tem como elementos trama envolvente, a tensão proposital etc.que deixam o espectador mais ligado ao que vai acontecer, ao resultado. Silva Neto (2007)

explica que nos EUA, os filmes de tribunal são colocados em outra classe cinematográfica,

são os Courtroommovies. Este nome classifica os filmes que se tratam de julgamento baseado

no Direito, não a qualquer julgamento.

Analisando os filmes de julgamento, em geral, Silva Neto (2007) chega à conclusão de que

eles “são histórias de como são contadas as histórias”.

[...] Os filmes são formas de se contar uma história  –  essa é a premissa maior.Premissa menor: um julgamento é, basicamente, uma forma de se tentar convencer um

 juiz ou jurados de que um fato ocorreu de determinada maneira, portanto, deveráhaver descrição dos fatos por parte dos advogados e promotores, o que nos permitedizer que o andamento de um processo judicial nada mais é do que um meio de secontar uma história. [...] (SILVA NETO, 2007, p. 40)

O autor explica que o drama é muito utilizado nas produções de tribunais. Ele afirma o

espectador se interessa pelo fato de haver um crime, o próprio suspense criado e ainda o

 julgamento, que definirá o destino do réu.

Cumpre ressaltar que a denominação filmes de tribunais também nos parece similar,uma vez que o tribunal é o local onde o julgamento  –  nos ditames da lei daquelasociedade  –  irá ocorrer. Estes filmes apresentaram algumas características comuns,entre eles, sendo a principal a narrativa de um julgamento com base legal. Umasegunda característica seria a presença de papéis actanciais próprios da instância

Page 13: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 13/39

20

 jurídica. Como as figuras do juiz, do advogado, do promotor, dos jurados, do réu, dopromotor, dos jurados, entre outros. Outra similitude é o proferir da sentença como umdos momentos mais tensos do filme, não só pela construção narrativa, mas tambémpor ser comum, neste momento, a utilização própria de uma estratégia discursiva queincite a tensão. (NETO, 2007, p. 40)

Page 14: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 14/39

21

3 A ESTRUTURA DA NARRATIVA 

Este capítulo aborda sobre a estrutura da narrativa incluindo o estudo da linguagem

cinematográfica, a estrutura, o realismo e a impressão de realidade, a tecnologia no cinema e

os efeitos sonoros. Este capítulo é uma continuação do estudo sobre a narrativa clássica

hollywoodiana, porém, focando nos elementos principais que caracterizam esta narrativa e

também as produções do cinema.

3.1 A linguagem cinematográfica 

Muitos estudiosos analisaram e analisam a linguagem do cinema. Carrieré (2006) explica que,depois da Primeira Guerra Mundial, ocorriam sessões de cinema na África, que eram

organizadas por administradores coloniais da Franca.

[...] O cinema, invenção recente dentre muitas do Ocidente industrializado, era oproduto de um encontro histórico entre teatro, vaudeville, musichall, pintura,fotografia e toda uma série de progressos técnicos. Assim, ajudava a exaltar asqualidades da civilização branca de classe média que lhe deu origem. Estendia-se umlençol entre duas estacas, preparava-se cuidadosamente o misterioso aparelho e, de

repente, na noite seca da selva africana, surgiam figuras em movimento. (CARRIERE,2006, p. 11)

Muitos dos que assistiam aos filmes não conseguiam entender o que se passava, o que era

transmitido pelas cenas. Eles identificaram muitos elementos que já tinham encontrado

durante a vida, mas a sequência das imagens, em si, eles, muitas vezes, não entendiam e não

interpretavam. Era necessária a presença de um assistente, para explicá-los o que estava

acontecendo no filme.

3.2 A estrutura narrativa O cinema é narrativo na medida em que existe para contar uma história. Mas não foi sempre

assim. A definição de cinema narrativo ocorreu com o tempo. “Fora concebido como um

meio de registro, que não tinha a vocação de contar histórias por procedimentos es pecíficos.”

(VERNET, 2007, p. 89)

Page 15: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 15/39

22

Vernet (2007) explica que a ligação da narração com o cinema deu-se por diversas razões,

dentre as quais destacam-se três: a imagem figurativa em movimento, a imagem em

movimento e a busca de legitimidade. A primeira designa o cinema na representação de algo:

a partir do momento que o algo está representado, ele não é apenas o algo por si só, mas tem

um significado a mais que quem o representa quer passar para quem assiste. A segunda

aborda o movimento da imagem, a ligação de uma parte para outra, a transformação, mesmo

que sejam imagens “estáticas”. A terceira caracteriza-se pela mudança de valores e busca de

modificação da imagem do próprio cinema, de como ele era visto. Daí, o cinema foi se

encontrando com a narrativa, deixou de ser apenas uma “atração de feira” passageira, como

explica o autor.

O cinema e/ou filme não-narrativo também existe, mas é raro e de difícil caracterização. Para

que seja definido assim, é preciso, de acordo com Vernet (2007), que o filme não represente

alguma coisa, que o tempo, as imagens e os elementos não fossem identificados e

compreendidos.

Howard e Mabley (1999) dividem o filme em três atos, apesar de que o cinema,

diferentemente do teatro, não deixa explícita esta divisão, já que não tem sinais e as “cortinas”

não se fecham, como alegam os autores. Afirma ainda que, dividindo a narrativa em três atos,é mais simples o entendimento. O primeiro ato é definido como o momento em que o

espectador é envolvido pelos personagens e pela história; o segundo é o que faz com que esse

envolvimento seja mantido; e o terceiro é o que leva o espectador se agradar com o final. Os

autores explicam que essa divisão é uma forma de orientar os escritores na produção de uma

história. Howard e Mabley (1999) discutem que cada filme produzido tem suas

características, ambientes e mundos próprios.

Vernet (2007) ao destacar a respeito dos filmes, assegura que qualquer um é de ficção, e

 justifica esta afirmativa alegando que o que caracteriza uma ficção é o fato de representar uma

história, um imaginário. E não só pelo que é representado, mas como foi representado.

Segundo Vernet (2007), a partir do momento em que um filme é uma gravação de alguma

coisa, mesmo real, ela já é fictícia. Primeiro, porque foi transformada em imagem; segundo,

por já estar no passado; terceiro, por estar em uma tela, as pessoas veem o fato, não é algo

palpável.

Page 16: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 16/39

23

Howard e Mabley (1999) apresentam os elementos que uma narrativa de um filme precisa ter

para que ela seja bem contada. O primeiro apresentado é o personagem central, que é

essencial em um filme e que influencia diretamente para que o público goste ou não do

enredo. Os autores explicam que o personagem precisa ter dificuldades, precisa enfrentar

alguma situação, que não pode alcançar o que deseja sem obstáculos, é preciso que seja

difícil. O personagem precisa fazer algo, não pode ficar parado, acomodado. Ele não precisa

ter todos os atrativos para causar empatia do público, mas também, não pode ser neutro

demais. “Se for fácil salvar a pessoa, ganhar a corrida ou pintar o quadro, o público dirá: e

daí? O desinteresse do público é resultado da falta de dificuldade na circunstância.”

(HOWARD; MABLEY, 1999, p. 50)

Personagem  –  A etimologia grega do termo latino  persona designava a máscara, ouseja, o papel interpretado pelo ator. Este era claramente destacado de sua‘personagem’ da qual era apenas o executante e não a encarnação. A evolução doteatro ocidental é marcada por uma inversão completa dessa perspectiva, identificandoa personagem cada vez mais com o ator que a encarna, e transformando-o em umaentidade psicológica e moral, encarregada de produzir no espectador em efeito deidentificação. (AUMONT; MARIE, 2006, p. 226)

Os autores abordam sobre qual o papel de cada elemento da história. Definem o antagonistacomo o opositor do protagonista, é o obstáculo, é o que dificulta o caminho, logo, é o que

deixa o protagonista ser “simpático” aos olhos do espectador. Na maioria das vezes, fica claro

qual é o protagonista e o antagonista da narrativa, mas os autores explicam que, outras vezes,

o próprio protagonista é o seu antagonista, com conflitos e/ou facilidades que o personagem

desenvolve para si mesmo.

O segundo elemento apresentado por Howard e Mabley (1999), que coopera na qualidade dahistória e de como é contada, é o modo como o espectador vivencia o que essa narrativa

apresenta. É como se ele participasse do filme: quando ele descobre algo que alguns

personagens ainda não sabem, quando ele também é surpreendido, entre outros momentos. Os

autores criticam os escritores iniciantes, afirmando que alguns não acham importante pensar

no impacto que a obra vai causar no público, se preocupando apenas com o que ele quer

contar.

Page 17: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 17/39

24

Howard e Mabley (1999) explicam que é como uma pessoa desenhar roupas sem pensar em

quem vai usar, fazer uma roupa com três mangas, sem pernas etc. São cinco, de acordo com

os autores, os elementos necessários para “uma boa história bem contada”:

A história é a respeito de alguém por quem sentimos empatia; Esse alguém querdesesperadamente alguma coisa; Essa coisa é difícil, mas possível de obter oualcançar; A história é contada tendo em vista o máximo de impacto emocional e aparticipação do público nos acontecimentos; A história tem de chegar a um fimsatisfatório (o que não significa necessariamente um final feliz).(HOWARD EMABLEY, 1999, p. 52)

Howard e Mabley (1999) discutem a respeito dos tempos cinematográficos, que são três:

tempo real, fílmico e moldura temporal. O tempo real, segundo os autores, é o que uma ação

demora para se tornar completa, o fílmico é o tempo levado pra mostrar esta ação para o

espectador e a moldura temporal é o “prazo de conclusão”, o que o espectador consegue

prever para o fim.

Howard e Mabley (1999) abordam sobre o desafio dos roteiristas de transmitir ao público oque está dentro dos personagens, os conflitos internos. Os autores alegam que muitos

roteiristas que iniciam no cinema tentam utilizar dos diálogos como uma alternativa, mas isso

nem sempre resolve o “problema”. Para Howard e Mabley (1999) o que é interno deve se

tornar externo através de ações e os roteiristas devem encontrá-las.

Howard e Mabley (1999) explicam que, para o cineasta conseguir o que ele deseja, ele deve

manter o público “ligado” à história, ao filme. Só o fato de conseguir com que o espectador

mantenha a atenção sobre o filme até o final já é um desafio grande. É preciso que o público

se envolva e participe do filme, que, apesar de todas as “dicas” para que este envolvimento

seja possível, não significa que é simples e fácil. O espectador não se contenta, apenas, com

um filme que mostra emoções, ele precisa causar emoções no público, emoções que agradem

e que façam com que o espectador queira saber o que vem em seguida, como se os

acontecimentos futuros fossem influenciar na vida de quem assiste à obra.

Page 18: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 18/39

25

3.3 O realismo e a impressão de realidade

Carriere (2006) conta que o diretor de cinema Argelino Ahmed Rachedi, ao dirigir um filme

nas montanhas de Cabília, convidou uma mulher mais velha pra fazer a personagem de mãe

de um garoto, que morria na história. O autor explica que o Angelino, assim, pediu para que

ela demonstrasse muita emoção quando a morte acontecesse, assim ela fez com uma

performance muito realista. A cena precisou ser regravada no dia posterior, então o diretor

explicou pra ela que deveria fazer como da outra vez, que o filho fictício morreria novamente

e ela teria que demonstrar emoção. Mas a mulher estranhou o pedido de Rachedi, pois

acreditava que o rapaz teria morrido de fato no dia anterior, pela grandeza da realidade em

que a cena foi feita e o sangue realista que saiu do ator. Foi preciso que levassem o homematé ela para que a cena fosse gravada como antes.

Essa pequena história poderia surpreender muitos, nos dias atuais, já acostumados com o

cinema e com a tecnologia. Mas pra época, o fato não causa surpresa, visto que as reações dos

espectadores eram assim. Como a primeira exibição de um filme no mundo, em que as

pessoas, ao assistirem a imagem de um trem em movimento, chegando na direção deles,

acharam que seriam atropelados pelo trem, como se ele fosse sair da tela, causando umverdadeiro pânico. A realidade cinematográfica sempre foi uma característica marcante,

impactante e clássica. E a cada dia, esta realidade e impressão da realidade se aperfeiçoa mais

e mais.

[...] Certas mulheres pulam, gritam, escondem o rosto quando uma cobra, de repente,

percorre a tela  –  mulheres e alguns homens também. Os vampiros aterrorizam, as

alturas provocam vertigens, os filmes pornográficos incomodam os pudicos. Conheci

até um asmático que tossia quando algum ator fumava na tela. (CARRIERE, 2006, p.

50)

3.3.1 Os fenômenos sonoros O cinema é capaz de reproduzir efeitos sonoros e visuais impressionantes, a reprodução de um

filme, dependendo de como foi produzido, consegue fazer com que o espectador tenha umgrande alcance à realidade, pela riqueza de detalhes, pela produção e pela história. Alguns

Page 19: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 19/39

26

filmes conseguem se aproximar do real ainda mais que outros, seja esse realismo causado

pelos materiais de expressão (imagens e sons), ou pelo próprio tema tratado no filme, como

explica Vernet (2007).

Mesmo antigamente, nos anos 10 e anos 20, quando os filmes eram em preto e branco e

quando havia o cinema mudo, o realismo já era possível, mas ele foi evoluindo com o tempo,

com os avanços tecnológicos. A exibição de imagens em uma tela, com pessoas, movimentos,

uma representação do que era vivido na “vida real”, era surpreendente e ainda é.

Ora, a cada etapa (mudo, preto e branco, colorido), o cinema não cessou de ser

considerado realista. [...] Esse ganho, porém, é infinitamente renovável, em

conseqüência das inovações técnicas, mas também porque a própria realidade jamais é

atingida. (VERNET, 2007, p. 135).

3.3.2 A tecnologia e o cinema digital 

Felinto (2006) faz uma análise crítica da evolução tecnológica no cinema, afirmando queLouis Lumière acertou na previsão ao dizer que "o cinema é uma invenção sem futuro". O

autor justifica sua opinião ao comparar o modo antigo de ‘fazer cinema’ ao modo atual, que é

construído de imagens que ele chama de “imateriais”. O autor, apesar de perceber essas

mudanças no mundo cinematográfico com um olhar nostálgico, as vê, também, como uma

nova oportunidade. “A introdução das tecnologias digitais facilitou imensamente os processos

do cinema industrial e massivo, ao mesmo tempo em que ampliou possibilidades estéticas e

abriu novos caminhos aos realizadores independentes.” (FELINTO, 2006, p.414). 

Ao discutir sobre a introdução das novas tecnologias no cinema hollywoodiano, Felinto

(2006) explica que esse avanço cooperou na produção dos filmes, aumentando a sensação de

realidade da narrativa. Segundo o autor, mesmo quando o filme é fantasioso, essa sensação,

essa proximidade com a realidade é possível. Ele afirma que, nos dias atuais, o espectador não

se contenta apenas com as imagens exibidas, o público quer mais, ele quer “viver” o filme,

participar, sentir. Felinto (2006) exemplifica a concretização do desejo do espectador com oCinematrix Smart Theater, em Israel, que é uma sala de cinema usada para testes,

Page 20: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 20/39

27

experiências. Lá as imagens são em 3D e o espectador tem acesso a controles digitais

interativos, em que as poltronas se movem, lançam jatos de água, odores etc. Esse é

classificado como 4D, no qual se usa quatro sentidos.

Felinto (2006) percebe o cinema atual como uma oportunidade para os produtores

independentes e coloca a internet como uma grande parceira deles e também de produtores de

cinema em geral, visto que a internet pode ser usada com diversas finalidades.

Como forma de divulgação da produção cinematográfica contemporânea, a Internet

tem sido utilizada também extensamente pelas grandes produtoras, que exploram, deoutros modos igualmente inovadores, o potencial dos recursos da rede. Em muitos

casos, o website de um filme funciona como uma espécie de complementação

narrativa da diegese fílmica. Os sites não apenas anunciam o lançamento de novas

películas, mas envolvem o explorador desse novo espaço digital em mecanismos por

meio dos quais ele se sente "partícipe" do desenvolvimento narrativo. Novos

elementos narrativos são acrescentados nos sites, exploráveis pelos internautas na

forma de jogos interativos. (FELINTO, 2006, p. 419).

Por meio do mundo virtual, as pessoas podem produzir e divulgar os trabalhos, além de ter

acesso aos aplicativos que ajudam na elaboração dos mesmos. A internet é usada, também,

como um meio comercial, com propagandas virtuais para chamar atenção do espectador para

uma novidade no cinema, com trailers em alta qualidade que são acessados por milhões de

pessoas em todo o mundo.

O abandono da película e a possibilidade de uma pessoa “carregar” em seu computador um

filme que baixou em algum programa de compartilhamento; salvar um filme em um pen-

drive, ter um filme “em suas mãos”; Evoluções radicais, em uma velocidade acelerada,

abrindo possibilidades antes inimagináveis ou consideradas impossíveis. Essa é a relação do

cinema com as tecnologias digitais.

Com tamanha mudança no cinema com a chegada do universo digital, Felinto (2006) explica

sobre o desejo gerado por essa evolução, de misturar “Arte e vida e/ou ficção de realidade”,

Page 21: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 21/39

28

com o desenvolvimento e a utilização de toda a interatividade, expansão e participação do

espectador com os filmes e com o cinema, em geral.

Page 22: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 22/39

29

4 ANÁLISE

4.1 Universo de análise - O filme O exorcismo de Emily Rose 

O filme O exorcismo de Emily Rose (The exorcism of Emily Rose  –  EUA  –  2005), uma

direção de Scott Derrickson, tem aproximadamente 119 minutos e classificação indicativa de

14 anos, por conter cenas de violência. Ele se encaixa nos gêneros terror e tribunal. No elenco

estão Jennifer Carpenter que fez  As branquelas (2004), Campbell Scott, Colm Feore, Laura

Linney, que foi indicada ao Oscar como melhor atriz no filme Conta comigo (2000) e Tom

Wilkinson, indicado ao Oscar pelo filme Entre quatro paredes (2001).

O filme O exorcismo de Emily Rose (The exorcism of Emily Rose  – EUA  – 2005) conta a

história de uma jovem, Emily Rose (Jennifer Carpenter), que morava em uma casa no interior

com os pais e acabou de passar no vestibular, então, ela se muda para a cidade e inicia a

faculdade. A partir daí, ela começa a ter visões “demoníacas”, além de alterações no

comportamento. Os pais de Emily e o padre Richard Moore (Tom Wilkinson), amigo da

família, estão convencidos de que ela está possuída pelo demônio e decidem, então, fazer um

ritual de exorcismo. A ação foi sem sucesso e Emily morreu.

Com isso, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson) foi julgado por assassinato. Deste

momento em diante, a ciência enfrenta a religião no tribunal, discutindo se, realmente, o padre

levou Emily à morte, para que suas consequências sejam impostas pelo júri. O longa foi

inspirado na história real de Anneliese Michel, da Alemanha, que, durante um ritual de

exorcismo em 1976 acabou morrendo, misteriosamente, sendo o padre, então, julgado.

O diretor do filme, Scott Derrickson também é produtor e roteirista, realizou sua graduação na

 Biola University, em Produção cinematográfica, na Califórnia. Derrickson ainda fez o

mestrado na USC Film School, em Cinema. Além do sucesso que garantiu com O exorcismo

de Emily Rose, ele dirigiu A entidade (2012), O dia em que a terra parou (2009), foi co-

produtor em O visitante (2006), roteirista em Medo e obsessão (2003) e em Lenda Urbana 2

(2000).

Page 23: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 23/39

30

4.2 Roteiro de análise

Entre as diversas questões que poderiam ser abordadas neste estudo, foram privilegiadas

aquelas citadas nos capítulos teóricos. Sendo assim, a análise será norteada pelo seguinte

roteiro:

- Análise da estrutura narrativa do filme

- As características do realismo e da impressão de realidade

- As características do cinema hollywoodiano

- Elementos que definem os gêneros como terror e tribunal

4.3 Análise

4.3.1 - O terror e o tribunal no filme

Em relação aos elementos cinematográficos estéticos, o filme foi realizado com um grande

investimento nos cenários, nos figurinos, na maquiagem e nos efeitos especiais, tanto para

caracterizar os ambientes de terror e tribunal quanto para dar mais vida e realismo nashistórias que são mais ligadas a cada gênero.

Figura 1 – Jennifer Carpenter stars as Emily (Crédito: Diyah Pera)

Page 24: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 24/39

31

No caso do gênero tribunal, foi utilizado o ambiente tradicional de um tribunal, composto

pelo júri, pelos advogados, pelas testemunhas, pela juíza e o principal, o julgamento. Além

disso, foram utilizados cenários que representam o ambiente de trabalho da advogada que

defende o réu, a biblioteca que ela utiliza, a prisão onde o réu se encontra e onde sua

advogada o visita frequentemente.

Figura 2 – Jennifer Carpenter stars as Emily Rose (Crédito: Diyah Pera)

Compondo os cenários que colaboraram mais na construção do gênero terror no filme estão: a

casa onde Emily Rose morava com a família, que fica no meio de um local deserto, em um

ambiente de constante neblina, uma casa escura, grande, com muitos objetos religiosos; a

igreja que recebeu situações de horror vividas por Emily; a universidade onde estudava e o

quarto onde dormia, sempre com pouca luminosidade, muito silêncio e muitas vezes, chuva,

onde teve o início do ritual fracassado de exorcismo e o estábulo onde foi dada a continuidade

do ritual. Todos estes cenários e os objetos que os compõem, o nível de luz, a presença de

chuva, são fatores que influenciam diretamente na produção de um filme de terror, além de

proporcionar no espectador o medo.

Page 25: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 25/39

32

Figura 3 – Tom Wilkinson as father Richard Moore and Duncan Fraser as Dr. Cart Wright (Crédito: Diyah Pera)

No caso dos figurinos que caracterizam o gênero tribunal, estão as vestimentas sociais como

calças e ternos, ambos formais e de tonalidade escura, levando ao espectador um tom de

seriedade e de profissionalismo. Nos figurinos que caracterizam o gênero terror estão a

camisola de Emily, utilizada no ritual e na cena do campo, onde ela está sozinha e que,

inclusive, foi fotografada para a produção do cartaz do filme.

Figura 4 – Jennifer Carpenter on the set (Crédito: Diyah Pera)

Page 26: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 26/39

33

As maquiagens e os efeitos especiais foram fatores que contribuíram para algumas cenas de

terror, como quando eram exibidas as imagens que Emily via quando estava em estado de

crise, as ilusões no hospital, na faculdade e a maquiagem principal do filme no rosto de Emily

Rose, desfigurado após o ritual. Os efeitos especiais também entraram no gênero tribunal no

filme, como quando a advogada de defesa está em sua casa e a porta se abre sozinha, o seu

relógio que começou a parar diariamente às três da manha, o gravador que ligou sozinho, com

o áudio do ritual de exorcismo, no momento em que Emily contava quantos demônios

estavam dentro dela.

Os efeitos sonoros foram os mais utilizados no filme, com muita intensidade, com o objetivo

de deixar o filme mais aterrorizante. Os principais efeitos sonoros foram utilizados nosmomentos de crise de Emily e no ritual. As constantes orações de Emily e o padre Moore, os

gritos frequentes dela, os ruídos do quarto e do estábulo, os barulhos de quando Emily

arranhava as paredes com suas unhas, a voz dupla que saía ao mesmo tempo de sua boca, as

frases gritadas em diferentes idiomas.

Figura 5 – Campbell Scott as Ethan Thomas (Crédito: Diyah Pera)

4.3.2 Análise da hibridação dos gêneros terror e tribunal no filme

Page 27: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 27/39

34

A hibridação dos gêneros terror e tribunal no filme acontece do início ao fim. Nos primeiros

momentos do filme já aparecem características do terror. Primeiramente, quando as imagens

assustadoras que serão mostradas no filme se passam rapidamente e, em seguida, quando é

transmitida ao espectador a informação de que o filme foi inspirado em uma história real.

O filme tem um formato apresentado em duas divisões. São dois tempos apresentados:

presente e passado. São dois gêneros principais: terror e tribunal e são duas histórias

abordadas. O filme começa do tempo presente, quando Emily já está morta e o padre já passa

a ser julgado. O tempo passado é representado com flashbacks ao longo do filme, quando os

personagens, seja no tribunal, ou fora dele, contam a história de Emily e as versões que

possuem a respeito dos sintomas, comportamento e morte dela, para que o caso seja

esclarecido e o padre condenado ou não. No presente do filme, o gênero de destaque é o

tribunal. No passado do filme, o gênero predominante é o terror.

Apesar de todos os acontecimentos do filme estarem ligados a Emily Rose, pode-se dizer que

são duas histórias principais apresentadas no filme. No presente, os protagonistas são o Padre

e a Advogada, que enfrentam as dificuldades no tribunal, já que defendem o lado da religião,

para que o padre seja inocentado. Eles enfrentam o antagonista, que é a ciência, representado

pelo advogado e pelas testemunhas que tentam provar que o padre é culpado. O desafio dos

protagonistas persiste até o fim da história, para que o espectador se envolva na trama, criando

uma tensão e somente no final saiba o resultado. Já no passado, a história é de Emily, que

enfrenta o antagonista “demônio” e/ou o problema psíquico. O espectador acompanha todos

os processos, desde quando Emily estava saudável até o fracassado ritual de exorcismo.

O realismo no cinema e a impressão de realidade no mundo cinematográfico são assuntos

discutidos desde o início da trajetória do cinema. No O exorcismo de Emily Rose estes

elementos são bem nítidos, já pelo fato de ser inspirado em uma história real, até por fatores

técnicos, com todo o avanço tecnológico disponibilizado ao cinema, dando aos produtores

mais possibilidades de exploração. Com isso, é importante que o debate a respeito do realismo

e impressão de realidade seja sempre retomado.

A relação dos gêneros e o modo que ocorre a hibridação de um gênero para outro no filmeforam desenvolvidos de um jeito diferente, com a utilização de Flashbacks. Esta hibridação

Page 28: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 28/39

35

não foi produzida como em muitos filmes que têm um gênero específico, mas que pode-se

encontrar características de outros gêneros nele. Esta hibridação foi produzida de uma forma

que os dois gêneros tenham se destacado, classificando o filme como gênero terror e tribunal.

Este diferencial é uma das características que deixa o filme mais original, o que faz com que

deste diferencial origine uma análise.

Duas cenas do filme O exorcismo de Emily Rose foram selecionadas para a análise, a primeira

retrata o momento em que a advogada Erin Bruner (Laura Linney) decide defender, no

tribunal, a teoria de que Emily Rose (Jennifer Carpenter) estava possuída. É uma fase

importante do filme, já que dá início a uma disputa polêmica que é destacada até o fim do

longa, a da ciência contra a religião. Nesta cena, Erin está conversando com seu assistente docaso, Ray (JR Bourne) depois de um dia complicado na fase de julgamento, já que estava

sendo derrotada pela oposição. Esta cena é essencial para análise, pois a hibridação dos

gêneros se torna mais evidente.

Erin  – Estou lendo um livro de uma antropóloga. É sobre casos contemporâneos depossessão, especialmente, no terceiro mundo.

Ray – As pessoas lá são primitivas e supersticiosas.Erin  – Talvez. Talvez encarem a possessão pelo que é mesmo. Talvez nós nãoqueiramos ver.Ray – Então, acredita nisso?Erin  –  Não. Talvez não devêssemos tentar invalidar o caso da promotoria sóencontrando buracos na abordagem médica. Talvez também fosse bom validar aalternativa.Ray – Provar uma possessão em um júri?Erin – Sim. (O EXORCISMO DE EMILY ROSE, 2005).

Esta cena representa a “quebra” do comum, do que é previsível, chamando a atenção doespectador. Esta cena apresenta vários elementos da linguagem cinematográfica. A

iluminação é escura, passando uma ideia de que já é muito tarde e eles ficaram durante muito

tempo trabalhando sobre o caso, além de ajudar a manter o clima de tensão do filme.

O diálogo dos personagens também é um fator, já que é a respeito da mudança de estratégia

para continuarem no processo. Alguns intervalos na conversa com o silêncio foram usados pra

criar uma expectativa no espectador sobre o que virá. O cenário é realista, se parece com uma

biblioteca, pra demonstrar que estão procurando conteúdos sobre possessão com o objetivo de

ter uma orientação sobre o que irá defender. Já a situação de Erin, que é um dos personagens

Page 29: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 29/39

36

principais, mostra um obstáculo que ela deve enfrentar, o que aborda sobre o elemento de que

o herói precisa de um obstáculo e fazer algo a respeito para que ele seja interessante aos olhos

do público.

A segunda cena selecionada para análise mostra a hibridação dos gêneros terror e tribunal no

filme, tem o uso de flashbacks que caracterizam o filme do início ao fim e que organizam, de

uma certa forma, o modo que estes gêneros são apresentados, que é o tempo passado com o

terror e o tempo presente com o tribunal. O que caracteriza a montagem paralela, que faz essa

mudança entre uma situação e outra. Esta cena foi exibida quando se aproxima o final do

filme, quando o Padre Richard Moore (Tom Wilkinson) é o próximo a testemunhar sobre o

ritual de exorcismo. A cena representa um momento de destaque de todo o filme, que équando os espectadores ficam sabendo como foi exatamente a situação que levou a morte de

Emily Rose e ao julgamento do padre Richard Moore. Na cena, a advogada Erin faz algumas

perguntas ao padre, apresentando como prova no tribunal um gravador utilizado no dia do

ritual. Erin coloca em frente ao padre o gravador, dizendo: “padre Moore, pode reproduzir a

fita para nós?”. Em silêncio o padre liga, quando começa o áudio do gravador, já acontece o

flashback e o início do ritual é mostrado.

Padre Moore ao gravador: “Este é o exorcismo de Emily Rose. Estão presentes eu, padre

Richard Moore, Nathaniel, pai de Emily, Jason, seu amigo, um médico que veio monitorar

Emily durante o ritual e a própria Emily que deu sua permissão para o ritual ser feito.”

Neste ambiente descrito na cena, todos estão no quarto de Emily, que é um quarto com cores

mais escuras, além disso, foi usado o contraponto da luz e da sombra para dar uma maior

sensação de medo. Nesta cena foram utilizados não só elementos de cenário, mas também defigurino e maquiagem. Emily já está com o corpo um pouco debilitado por causa de todo

transtorno causado por causa da possível possessão ou doença psíquica, como ficar sem

comer, ter visões demoníacas, entre outros. As roupas escolhidas para Emily e para o padre

contribuíram na construção de uma cena de terror. O padre todo de preto e Emily com uma

camisola simples. Padre Moore começa o ritual enquanto o pai e o amigo ajudam a contê-la,

mas Emily com seu problema espiritual ou psíquico dá muito trabalho. Os efeitos sonoros

foram os mais usados na maior parte da cena. Emily começa a gritar, fica violenta, fala outros

idiomas, enquanto o padre continua o ritual. Emily também chora e emite sons não usuais.

Page 30: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 30/39

37

Assim, volta a imagem para o tribunal, com o padre Richard Moore contando cada etapa do

ritual, seguido dos flashbacks correspondentes aos fatos. O demônio ou a doença de Emily

são os vilões que a protagonista (herói) teve que enfrentar. O modo que ela e que os outros

reagiram com esta situação fez com que ficasse mais interessante para o espectador a figura

de Emily e tudo o que ela viveu.

Emily morreu, mas ainda assim o filme usa o happy end. Mesmo o padre Richard Moore

sendo considerado culpado, uma decisão do júri de que ele já pagou pelo erro foi considerada

pela juíza, dando a ele liberdade. O Happyend , uma característica clichê de um filme clássico

hollywoodiano, faz com o que o espectador se sinta satisfeito com o final, ele é um dos fatores

positivos, neste filme, para ser um sucesso de público.

4.3.3 O terror e o tribunal em oposição

O terror e o tribunal se relacionam na maior parte do filme como oposições, o terror é a

emoção, o tribunal a razão, no terror a religião, no tribunal a ciência, no terror a possessão

demoníaca, no tribunal a loucura. No lado da emoção estão Emily Rose, sua família e o padre

Richard Moore. Todos acreditam que Emily está realmente possuída por espíritos malignos eque precisa de ajuda espiritual e de um ritual de exorcismo. Todos são muito religiosos,

inclusive Emily. Eles acreditam que sua possessão foi a causa da morte da garota. Na razão

encontram-se os advogados e os componentes do tribunal. Eles acreditam que Emily tinha

problemas psiquiátricos, que estava louca e que o padre Moore a matou com o ritual, ou que

pelo menos colaborou com sua morte por omissão  –  por negar o uso dos medicamentos.

Ambos os lados mostrados através da montagem paralela, passado e presente, alternando em

duas situações, dois ambientes etc. Durante todo o julgamento, o advogado de acusação tentaexplicar utilizando as teorias científicas o que aconteceu com a jovem, com depoimentos de

médicos especialistas. Enquanto a defesa tem como testemunhas o padre Moore, a família de

Emily, um amigo dela que acompanhou todo o ritual e apenas uma especialista em possessão.

O filme propõe aos telespectadores esta discussão, colocando em questão a fé, Deus, o diabo,

fazendo com que se questionem sobre o tema. A oposição entre o gênero terror e tribunal não

é apenas uma parte do roteiro do filme, como também uma estratégia proposital para que o

público se atraia ainda mais sobre a trama, causando esta oposição sobre a mente das pessoas

e dividindo opiniões e, por mais que o espectador não seja religioso, ele fica assustado e

Page 31: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 31/39

38

desconfiado sobre as explicações médicas e racionais sobre o caso. O filme alterna os planos

utilizados, mas nas situações de terror o primeiro plano é muito utilizado, focando no rosto de

Emily e também o plano americano, estratégias utilizadas para que o espectador tenha uma

sensação de proximidade com o personagem e com a história, causando maior sensação de

terror.

4.3.4 O terror e o tribunal juntos

Relacionar dois gêneros principais em um mesmo filme, especialmente os gêneros terror e o

tribunal no filme O exorcismo de Emily Rose, tem vários propósitos por parte de seus

produtores. Além de deixar a história mais realista e interessante aos olhos do espectador, étambém uma estratégia de marketing.

Ao unir dois gêneros ou mais, o filme consegue alcançar um público maior,

consequentemente lucrar mais. Neste caso, o filme atraiu a atenção dos admiradores de filmes

de terror e de filmes de tribunal, mulheres e homens, pessoas religiosas ou que não têm fé. Os

dois gêneros receberam destaque durante todo o filme, um não ofuscou o outro. Os produtores

usufruíram de muitos elementos que caracterizam e impactam ambos os gêneros. A uniãodestes gêneros, além de interessante e atraente, foi criativa e rara, pois não se encontram

grandes produções que fizeram o terror e o tribunal se relacionarem. Esta união não é comum

como a da comédia com o romance, o terror e o suspense, o romance e o drama, a ação e o

policial, por exemplo.

Page 32: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 32/39

39

Figura 6 - Dados e fotos do site :http://www.boxofficemojo.com

Os dados mostram os lucros recebidos pelo filme em questão.

4.3.5 Quando os gêneros se confundem e o uso dos flashbacks

Na maior parte da história, os gêneros, apesar de juntos em um mesmo filme, ficam

claramente separados. É nítido para o espectador o momento do tribunal e o momento do

terror. O momento da razão e o da emoção. Mas, quando a advogada de defesa começa a se

envolver ainda mais com o caso e se sensibilizar com a história de Emily e com os relatos do

padre que defende, os gêneros começam a se misturar, não ficando mais claro e separado o

terror do tribunal. Situações supostamente sobrenaturais começam a acontecer com aadvogada, como os já citados, ver a porta do apartamento de abrir sozinha, acordar às três da

Page 33: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 33/39

40

manhã diariamente, ouvir o som do gravador com o ritual de Emily, que ligou sozinho e o

estranho fato de ter achado, na rua, um medalhão com as iniciais de seu nome, que nunca

tinha visto antes. O padre também passa a ver frequentemente uma sombra negra e o seu

amigo médico, testemunha ocular, que daria depoimento em favor da defesa, acaba morrendo

atropelado, depois de ter visões.

O principal meio de relacionar o terror ao tribunal e realizar a hibridação dos gêneros foi o

uso de flashbacks. Durante o julgamento enquanto as testemunhas davam seus depoimentos,

aparecia o flashback da situação relata por elas. Por exemplo, quando o padre Richard Moore

relatou sobre o fracassado ritual de exorcismo, foi exibido o flashback do mesmo, voltando

para a situação e mostrando para os espectadores como exatamente tudo aconteceu, e trazendoao filme de tribunal, o terror. Este mecanismo foi utilizado do início ao fim do longa,

Page 34: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 34/39

41

CONCLUSÃO

Este trabalho analisou a hibridação dos gêneros terror e tribunal no filme O exorcismo de

 Emily Rose (The exorcism of Emily Rose – EUA – 2005).

Pode-se concluir que o filme possui efetivamente dois gêneros principais, terror e tribunal,

cujos elementos e características estéticas, de linguagem e de enredo foram estudados

primeiramente na teoria e em seguida analisados no filme em questão.

Pode-se concluir que estes gêneros se relacionam de vários modos no filme, inclusive unindo-

se a ponto de parecerem um só. O filme utilizou diversos recursos cinematográficos paraproduzirem esta hibridação: os flashbacks, a montagem paralela entre os momentos presentes

(onde predominou o gênero tribunal) e os momentos passados (onde predominou o terror), os

efeitos especiais visuais e sonoros e a própria história do julgamento e da morte de Emily

Rose. Além da análise sobre estes elementos, no filme outros fatores foram identificados.

O filme segue a linha da narrativa clássica hollywoodiana, pode-se identificar isto com base

no conteúdo do enredo e como ele foi exibido ao público. Ele contém personagens marcantesenvoltos em um dilema que pode mudar sua vida, apresenta o clichê do happy end  – no caso,

o fato de o padre não precisar cumprir mais nenhum tempo de pena, apenas o tempo que já

ficara detido  – , apresenta uma série de obstáculos aos protagonistas para torná-los mais

interessantes e tornar a história mais envolvente. Possui ainda um tema que já foi muito

tratado nos filmes, que é a possessão demoníaca e o exorcismo, que têm levado aos estúdios

cinematográficos muitos lucros. E, finalmente, ele conta com a participação de um elenco já

famoso por filmes conhecidos, bastante premiados, e que já são destacados desde o cartaz eem toda a campanha promocional.

O exorcismo de Emily Rose é um filme que conseguiu mesclar elementos inovadores

(sobretudo a mescla dos gêneros tão distintos) e elementos já tradicionais e conhecidos do

espectador. Apesar de fazer parte da massa de produções com a narrativa clássica de

Hollywood, teve a criatividade de inovar exatamente pela hibridação entre os gêneros terror e

tribunal, o que é raro no mundo do cinema, não só o hollywoodiano.

Page 35: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 35/39

42

Finalmente, vale observar que uma monografia como esta pode ser útil para futuros alunos do

curso de jornalismo ou de comunicação social que desejem realizar pesquisas no campo do

cinema, mais especificamente no campo dos filmes de gênero, com o terror e o filme de

tribunal. Mas as conclusões não podem ser aplicadas automaticamente a outros filmes que

utilizem a mescla de gêneros.

A análise foi importante para reforçar o conhecimento sobre o cinema, especificamente a

narrativa clássica hollywoodiana, e sobre os gêneros terror e tribunal. Além disso, reforçar a

capacidade de apurar informações, interpretar textos, escrever e ampliar os horizontes sobre a

cultura.

A análise se referiu ao filme, que é um material específico, sendo assim, ela não resulta em

um estudo e em uma explicação sobre os conceitos gerais de arte e cinema, apenas sobre o

que foi realmente analisado, que é a hibridação dos gêneros que classificam o filme.

Esta pesquisa abre perspectivas para o estudo sobre o gênero tribunal no cinema, que é menos

comum que o estudo sobre o gênero terror. Abre perspectivas para possíveis análises sobre

hibridação de gêneros cinematográficos, sobre filmes que foram inspirados em histórias reaise sobre o cinema de Hollywood.

Sobre a prática jornalística, o trabalho contribuiu para que fosse ampliada a noção sobre o

mundo cinematográfico, que é uma parte entre tantas outras no meio da arte com que o

Jornalismo Cultural trabalha. Um tema muito complexo, difícil e amplo, sendo necessário um

estudo contínuo para que seja aperfeiçoado.

Page 36: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 36/39

43

REFERÊNCIAS

AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. Tradução deEloisa Araújo Ribeiro. 2. ed. Campinas: Papirus, 2006.

BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa: pesquisas semiológicas. Tradução Maria Zélia Barbosa Pinto. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973.

BETTON, Gérard. Estética do cinema. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: MartinsFontes, 1987.

BORDWELL, David. O cinema clássico hollywoodiano normas e princípios narrativos. In:RAMOS, Fernão Pessoa (org.). Teoria Contemporânea de cinema. São Paulo: Senac, 2005.(Vol II)

CÂNDIDO, Antônio et al.  A personagem de ficção. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

CARRIÈRE, Jean-Claude.  A linguagem secreta do cinema. Tradução de Fernando Albagli eBenjamim Albagli. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

CODATO, Henrique. Identidade e representação: um estudo de gênero no cinema deHollywood. Universitas/Comunicação , v. 2, n. 2 , p. 191-208, ago, 2004.

CORDEIRO, Paula. A definição do sujeito no cinema. Os Dias Estranhos do Cinema ou ainconstância do eu e do outro nas personagens e no encontro entre o mundo real e a ficção.

 BOCC- Biblioteca online de Ciências da Comunicação, 2001. Disponível em<http://www.bocc.ubi.pt/pag/cordeiro-paula-sujeito-cinema.pdf. > Acesso em: 22 mar. 2012.

COSTA, Antônio. Compreender o cinema. Tradução de Nilson Moulin Louzada. 2. ed. SãoPaulo: Globo, 1989.

FELINTO, Erick. Cinema e tecnologias digitais. In: MASCARELLO, Fernando(Org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006.

Page 37: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 37/39

44

HOWARD, David; MABLEY, Edward. Teoria e prática do roteiro: um guia para escritoresde cinema e televisão, com análises de 16 filmes famosos. Tradução de Beth Vieira. 2. ed. SãoPaulo: Globo, 1999.

MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. Tradução de Paulo Neves. São Paulo:Brasiliense, 2007.

MASCARELLO, Fernando (org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006.

___________. Cinema hollywoodiano contemporâneo. In: MASCARELLO, Fernando(Org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006.

METZ, Christian. A significação no cinema. Tradução de Jean-Claude Bernardet. 2. ed. SãoPaulo: Perspectiva, 1977.

NOGUEIRA, Luís. Gêneros clássicos. In: NOGUEIRA, Luís. Manuais de cinema II. Gêneros

cinematográficos. Covilhã, Portugal: LabComBooks, 2010.

SILVA NETO, Artur Marques da. Sombras da justiça no cinema hollywoodiano. São Paulo,2007. Dissertação (especialização em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo, PUC/SP.

STABOLITO JUNIOR, Ricardo. O horror no cinema: a construção da sensação de medo em“O exorcista”. BOCC- Biblioteca online de Ciências da Comunicação, 2012. Disponível em:<http://www.bocc.ubi.pt/pag/junior-amado-o-horror-no-cinema.pdf.> Acesso em: 22 mar.2012.

TRUFFAUT, F. Hitchcock-Truffaut: entrevistas. Tradução de Maria Lúcia Machado.SãoPaulo: Brasiliense, 1986.

VERNET, Marc. Cinema e narração. In: AUMONT, Jacques et al. A estética do

 filme. Tradução de Marina Appenzeller.5. ed. Campinas: Papirus, 2007.

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor : estruturas míticas para escritores. Tradução deAna Maria Machado. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

Page 38: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 38/39

45

ANEXOS

Figura 7 – Anneliese Michel

Figura 8 – Anneliese Michel

Page 39: O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

7/29/2019 O exorcismo de Emily Rose - Análise da hibridação de gêneros terros e tribunal

http://slidepdf.com/reader/full/o-exorcismo-de-emily-rose-analise-da-hibridacao-de-generos-terros-e-tribunal 39/39

46

Figura 9 – Anneliese Michel

Fotos de Anneliese Michel – O filme foi inspirado em sua história (imagens da internet)