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7/25/2019 O Governo Enterrou de Novo o Debate Da Regulação Da Mídia_ — CartaCapital
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IntervozesSociedadeAnálise
O governo enterrou de novo o debate da regulaçãoda mídia?
"Governo vai debater a regulação da mídia. (Podemos tirar, se achar melhor)" poderia ser parte de algum novo documento do governo federal,que voltou a silenciar sobre este tema.
por Coletivo Intervozes — publicado 30/04/2015 16h32, última modificação 30/04/201518h57
Por Pedro Ekman*
No segundo turno da campanha eleitoral do ano passado, Dilma Rousseff sinalizou que,
finalmente, levaria ao debate público o tema da regulação da comunicação. Afirmou,
inclusive, que faria a “regulação econômica da mídia”. Logo no início do novo governo, o
novo ministro da pasta, Ricardo Berzoini, reiterou a proposta e chamou a sociedade civil
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para dialogar . Então, disse que as ações em
torno do tema começariam em março. Mas
parece que o que era um compromisso
político mais uma vez foi abandonado.
Nesta quarta (29/04), o ministro participou
de audiência pública na Comissão de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e
Informática (CCTCI) da Câmara dos
Deputados. Por mais de duas horas,
discursou sobre a agenda do Ministério das
Comunicações. Ao ser questionado sobre a
necessidade de um novo marco regulatório,
o ministro respondeu apenas que a
liberdade de expressão deve ser exercida em equilíbrio com os demais direitos consagrados
na Constituição Federal. Ele não tocou no tema da abertura do debate com a sociedade,
ausência que confirma o que a própria presidenta Dilma havia sinalizado no início deste
mês. Então, em entrevista coletiva a blogueiros, ela afirmou que “não há a menor condição
de abrirmos essa discussão neste momento, por conta de toda a situação”. A frase,
registrada pela jornalista Cynara Menezes, foi seguida pela seguinte pérola: “Me disseram
que vocês estão para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular, que estão colhendo
assinaturas. Não sei como ele é, nunca vi mais gordo, mas acho que pode ser interessante”.
Pelo visto, mais uma vez, o governo abriu mão de travar o debate e promover políticas em
uma área fundamental para qualquer sociedade democrática.
Ao mesmo tempo em que continuaremos cobrando os compromissos firmados
Em audiência na Câmara, Berzoini evitou
falar sobre regulação dos meios de
comunicação. Foto: Marcelo Camargo /
Agência Brasil
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anteriormente pelo governo, seguiremos a pautar a necessidade de regulação da mídia. Isso
porque os meios de comunicação ocupam no sistema democrático, hoje, o lugar importante
do debate sobre temas de interesse público. Em uma sociedade como a em que se vive em
2015, tomar decisões em praça pública com centenas de milhões de pessoas ao mesmo
tempo não é algo factível. A Internet talvez um dia permita isso, mas, com o nível de
exclusão digital que temos, este cenário continua distante. O papel de mediação ainda édesempenhado pelos meios tradicionais, como a televisão.
Aliás, foi para enfrentar o problema da impossibilidade de reunir todos fisicamente em um
espaço público comum que inventamos dois instrumentos: o sistema de representação
política e a comunicação social eletrônica, ambos descritos e definidos na Constituição
Federal. O Congresso Nacional passa a ser o lugar central dos debates, do qual participam
com direito a voto os representantes eleitos da sociedade. Já por meio do rádio e da TV, a
sociedade obtém o conhecimento de informações para tomar suas decisões, como eleger
representantes ou sair às ruas para protestar contra o que percebe estar errado.
Vale notar que tanto o Congresso como os canais de rádio e TV são espaços públicos. A
Constituição Federal fez questão de defini-los assim, pois eles são estruturantes do sistema
democrático representativo. O problema é que a política brasileira privatizou o espaço
público ao longo de sua história, favorecendo os interesses privados em detrimento dos
interesses públicos e republicanos. Os representantes do nosso Parlamento são eleitos comcampanhas milionárias, financiadas por corporações que passam a ter seus interesses
verdadeiramente representados no Congresso. As cédulas de dólares e reais substituem as
de votação em importância, corrompendo a estrutura do sistema. Da mesma forma, os
canais de rádio e TV são entregues a poucas empresas privadas, que definem o debate
político e cultural do país.
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Para termos ideia do impacto da concentração de mercado no debate público, podemos
analisar a discussão que ocorre neste momento sobre a possibilidade da redução da
maioridade penal. Como será a reação de uma sociedade que é bombardeada diariamente
por programas policialescos e telejornais que veiculam crimes cruéis supostamente
cometidos apenas por adolescentes? Com adolescentes condenados na praça pública da
TV, sem sequer ter o direito constitucional da presunção da inocência, a sociedade se vêimpelida a apoiar a redução da maioridade penal, já que esse é o caminho mostrado como
razoável diante dos fatos que foram selecionados para serem levados ao debate.
Não à toa, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discute a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 171/93, que propõe a redução da maioridade penal de 18
para 16 anos, aprovou esta semana a convocação dos jornalistas Marcelo Rezende (TV
Record), José Luiz Datena (Bandeirantes), Rachel Sheherazade (SBT) e Caco Barcellos
(Globo) para uma audiência pública sobre o tema. Os três primeiros são recorrentes
defensores da mudança e usam a televisão para divulgar suas ideias com veemência. Isso
sem que o Ministério das Comunicações, por exemplo, os puna por, entre outros casos,
incitar à violência, como feito por Sheherazade ao comentar ação de “justiceiros”, no ano
passado. A falta de vontade política do governo, aliás, se dá não apenas quando ele se
nega a travar o debate estrutural da comunicação, mas também quando se nega a fazer o
que deveria e já pode ser feito com as leis existentes no país.
Diante desse cenário, a democracia existe no papel, mas não se realiza na prática. O artigo
220 da Constituição define que não pode haver monopólio ou oligopólio na comunicação
social eletrônica. A Globo, no entanto, controla 70% do mercado, faturando sozinha mais do
que todas as demais empresas de comunicação. Isso acontece porque o Congresso
Nacional nunca elaborou leis definindo mecanismos que impedissem a formação de
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monopólio. Por que o Congresso tem sido omisso nas suas obrigações? O artigo 54 da
mesma Carta Magna determina que deputados e senadores não podem ser donos de
concessionárias de serviço público (o que inclui canais de rádio e TV). No entanto, a família
Sarney, os senadores Fernando Collor, Aécio Neves, Agripino Maia e Edson Lobão Filho
são apenas exemplos das dezenas parlamentares que controlam inúmeras emissoras em
seus estados.
Criar leis que tornem viáveis os objetivos constitucionais é justamente o que se chama de
regulamentar a Constituição, um passo fundamental para a regulação do sistema de
comunicações do país, para que o jogo democrático possa ser justo e equilibrado. No
entanto, congressistas e grandes emissoras de TV definem a regulação da mídia como
cerceamento da liberdade de expressão e como um ataque de um suposto governo
autoritário, que quer impedir críticas à sua gestão. Isso acontece porque as corporações de
mídia, ao reconhecerem a possibilidade de um cenário em que terão que dividir o bolo que
sempre comeram sozinhas, atacam a proposta e provocam medo na sociedade, para que
ela também reaja contra a medida.
“Podemos tirar, se achar melhor”
Muitas vezes, o mais importante não é o que se comunica, mas aquilo que se deixa de
comunicar. Recentemente, as redes sociais foram surpreendidas por uma notícia que foi ao
ar com uma nota do jornalista ao editor que dizia: “Podemos tirar, se achar melhor ”. A frase
estava inserida após um trecho da reportagem que ligava o esquema de corrupção da
Petrobras ao governo FHC. O diálogo entre um jornalista e um editor é algo absolutamente
trivial mas, ao expor a preferência de se levar ao debate público algumas informações e não
outras, ele provocou a reflexão sobre quantas notas não foram tornadas públicas e quantas
informações foram simplesmente retiradas do debate. O fato de que a mídia tem lado,
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posicionamento e opinião contraria o discurso corrente de que os meios são técnicos e
sempre optam pela melhor forma de informar. Tendo isso claro, fica fácil perceber que um
cenário de mercado altamente concentrado, onde apenas poucos empresários decidem o
que toda a sociedade vai debater, é algo mortal para uma sociedade que se pretende
democrática.
Regular a mídia não é censura e nem coisa de comunista. Países não comunistas como a
Inglaterra, a França, a Alemanha e até os Estados Unidos regulam as comunicações de
maneira mais determinada que o Brasil. Enquanto os donos do The New York Times não
podem ser os mesmos donos de uma emissora de TV, em Nova York, porque a regulação
americana coloca limites à propriedade cruzada dos meios de comunicação, aqui os donos
da Globo podem ter canais de TV, rádio, jornais, editoras, gravadoras e outros tantos
veículos, sem qualquer limite. Se, no Brasil, as emissoras de TV questionam na Justiça a
Classificação Indicativa (mecanismo de regulação de conteúdo para proteger as crianças de
cenas impróprias), na Suécia a publicidade infantil é absolutamente proibida. Estados
Unidos e Suécia estão longe do projeto comunista e nem por isso definem regulação como
censura.
Entendendo que a solução para esse problema não virá espontaneamente do Congresso
Nacional e cansada de esperar por um governo que decida enfrentar a questão de fato, a
sociedade civil brasileira elaborou e colhe assinaturas para o Projeto de Lei da MídiaDemocrática (aquele que a Presidenta disse desconhecer). Vários meios alternativos e
outras iniciativas de comunicação, além de ações diversas das organizações sociais,
buscam fomentar esse debate. Se, com todo o esforço da sociedade em pautar o assunto,
ele não aparece na TV e no rádio, é porque certamente alguém achou melhor tirar. E isso
sim é praticar censura.
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* Pedro Ekman é membro da Coordenação Executiva do Intervozes.
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