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Em 1954, o cientista russo que vivia nos EUA, David Kritchevsky, publicou um artigo no Am.J Physiology (Jul-Sept, 1954), onde chamou a atenção dos cientistas para a emergência da epidemia de doença coronária (DC). Nos estudos revelava que o colesterol produzia arteriosclerose no coelho, e que as gorduras polinsaturadas poderiam reduzir os níveis de colesterol, propunha, assim, a redução do consumo de produtos animais. Entretanto, a placa apresentada pelo coelho era completamente diferente da placa do humano. Os coelhos (vegetarianos) eram alimentados com colesterol purificado e oxidado pelo processamento. Em 1954, Ancel Keys levantou a hipótese de que a doença coronária seria provocada pelo acúmulo de gorduras saturadas e colesterol. Usou para tal um cruzamento entre consumo de gorduras saturadas e DC em seis paises. A história dos seis paises que permitiu a Ancel Keys concluir sobre a relação direta entre consumo de gorduras saturadas e DC revela um fato interessante. A OMS diante das evidências do aparecimento da arteriosclerose convocou, em 1954, um comitê de experts (First Expert Committess on Pathogenesis of Atherosclerosis). Participaram do comitê Paul Dudley White de Boston, Gunnar Bjork de Stocolmo, Noboru Kimura do Japão, George Pickering de Oxford e Ancel Keys de Minnesota. Durante uma exposição de Ancel Keys o professor Pickering o interrompeu e fez a seguinte pergunta: “professor Keys would be kind enough to cite for us the principle piece of evidence that you think supports this diet-heart theory of yours? (tradução: professor Keys poderia gentilmente citar para nós a peça principal de evidência que você pensa dar suporte a sua teoria dieta-coração?) O assistente de Keys Henry Blackburn nos conta: “O professor se sentiu muito mal com a pergunta. Ao invés de citar... bem essa teoria está baseada num corpo de evidências que temos percebido na clinica, no laboratório e em grupos populacionais, ele citou uma “peça destruida”. Ele saiu como alguém nocauteado e disse: “I will show those guys”. Selecionou os seis países e publicou como sendo a peça comprobatória.fonte:http://www.arzt.com.br/artigos/o-grande-conto-do-colesterol
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O Grande Conto do Colesterol
Eduardo Almeida, MD, PhD
Em 1954, o cientista russo que vivia nos EUA,
David Kritchevsky, publicou um artigo no Am.J
Physiology (Jul-Sept, 1954), onde chamou a atenção dos
cientistas para a emergência da epidemia de doença
coronária (DC). Nos estudos revelava que o colesterol
produzia arteriosclerose no coelho, e que as gorduras
polinsaturadas poderiam reduzir os níveis de colesterol,
propunha, assim, a redução do consumo de produtos
animais.
Entretanto, a placa apresentada pelo coelho era
completamente diferente da placa do humano. Os coelhos
(vegetarianos) eram alimentados com colesterol
purificado e oxidado pelo processamento.
Em 1954, Ancel Keys levantou a hipótese de que
a doença coronária seria provocada pelo acúmulo de
gorduras saturadas e colesterol. Usou para tal um
cruzamento entre consumo de gorduras saturadas e DC
em seis paises.
A história dos seis paises que permitiu a Ancel
Keys concluir sobre a relação direta entre consumo de
gorduras saturadas e DC revela um fato interessante. A
OMS diante das evidências do aparecimento da
arteriosclerose convocou, em 1954, um comitê de experts
(First Expert Committess on Pathogenesis of
Atherosclerosis). Participaram do comitê Paul Dudley
White de Boston, Gunnar Bjork de Stocolmo, Noboru
Kimura do Japão, George Pickering de Oxford e Ancel
Keys de Minnesota. Durante uma exposição de Ancel
Keys o professor Pickering o interrompeu e fez a seguinte
pergunta: “professor Keys would be kind enough to cite for
us the principle piece of evidence that you think supports
this diet-heart theory of yours? (tradução: professor Keys
poderia gentilmente citar para nós a peça principal de
evidência que você pensa dar suporte a sua teoria dieta-
coração?)
O assistente de Keys Henry Blackburn nos conta:
“O professor se sentiu muito mal com a pergunta. Ao
invés de citar... bem essa teoria está baseada num corpo
de evidências que temos percebido na clinica, no
laboratório e em grupos populacionais, ele citou uma
“peça destruida”. Ele saiu como alguém nocauteado e
disse: “I will show those guys”. Selecionou os seis países
e publicou como sendo a peça comprobatória.
Entretanto, se Ancel Keys tivesse feito esse
mesmo cruzamento entre os 20 paises em que esses
dados estavam disponíveis não encontraria qualquer
relação substantiva. Segundo Kendrick se Keys tivesse
escolhido Finlândia, Israel, Alemanha, Holanda, Suiça e
Suécia os resultados seriam opostos.
Segundo Mary Enig, Ancel Keys declarou certa
vez que o óleo vegetal parcialmente hidrogenado com
seus ácidos graxos trans (AGs trans), eram os
verdadeiros responsáveis pela DC. Isso foi dito em 1958.
A indústria alimentar ficou muito incomodada com tal
afirmação e passou da denúncia da gordura saturada
para a denúncia da carne e da gordura do leite como
responsáveis pela DC.
Em 1956, a American Heart Association (AHA)
comunicou a tese Lipídica em um painel transmitido pelos
três maiores canais de TV. Os panelistas recomendaram
a dieta de Prudent, que orientava para o consumo de
óleos vegetais, margarinas, galinha, ao invés de toucinho,
manteiga e ovos.
O Dr Dudley White, voz discordante nesse painel,
disse textualmente: ”Eu comecei a minha prática como
cardiologista em 1921, e eu nunca vi um infarto do
miocárdio até 1928. Nesse periodo as pessoas
consumiam predominantemente gordura animal, ninguém
havia ouvido falar em óleo de milho até então”.
Mas, antes disso, a AHA havia negado a tese
lipidica quando comentou: ”a alimentação antigordura e
anti-colesterol é não apenas futil e ingênua, mas traz
consigo também riscos”.
Após um intenso lobby da indústria alimentar a
AHA se rende a tese lipídica que dizia ser a alimentação
rica em gorduras saturadas e colesterol (animal) a
responsável pela DC, hipertensão arterial e derrame.
Prudent era o president da AHA, e enfrentou um racha no
board da AHA, entre os favoráveis e os contrários à tese
lipídica. Ele compunha o primeiro grupo.
Por essa razão a dieta que seguia os princípios da
tese lipídica recebeu o nome de dieta do coração ou dieta
de Prudent. Propunha evitar os alimentos com gorduras
saturadas e colesterol, e estimular o consumo das
gorduras polinsaturadas pobres em colesterol, sem fazer
menção aos carbohidratos e proteinas.
Ironicamente o Dr Prudent participou de um
estudo desenhado entre os membros da AHA. Ele
integrou o grupo que consumiu gorduras polinsaturadas
pobre em colesterol e veio a falecer de DC.
A Dieta Rica em Gorduras Saturadas aumentaria o
Colesterol Sanguíneo?
Em 1920, o Dr Paul Dudley White trouxe o
primeiro aparelho de ECG da Alemanha. Além da
curiosidade se comentou sobre a pouca utilização do
equipamento em virtude da baixa frequência de DC nos
EUA.
Entre 1910-1920, quando se consumia
basicamente gordura saturada, a DC era uma raridade.
Em 1970, a DC já era responsável por 40% das mortes
nos EUA.
Nesse periodo de 50 anos (1920-1970) o consumo
de gordura saturada caiu de 83% para 62%; o consumo
de manteiga caiu de 8Kg para 1,8 kg por pessoa/ano; o
consumo de colesterol aumentou 1%; o consumo de
óleos vegetais aumentou 400%; o consumo de açúcar
aumentou 60%.
Survey realizado em 1990 mostrou que homens
consumidores de manteiga, tiveram a metade do risco
coronário em relação aos que consumiam margarina (Nutr
Week, Mar 22, 1991, 21:12:2-3)
Estudos suecos publicados em 2004 revelaram
que o consumo de manteiga está negativamente
associado à DC. Ou seja, a manteiga protege o
coração (British J. Nutrition, 2004).
Na Índia, as populações do Norte consomem 7
vezes mais gorduras saturadas do que as do Sul. A
população do Norte têm 7 vezes menos DC (Malhotra,
S,Indian Journal of Industrial Medicine, 1968, 14:219)
A França possui alto consumo de gorduras
saturadas, e tem o menor índice de DC do Ocidente (145
mortes/100.000 hab). Na região de Gascony, onde se cria
gansos para produção de patês, a mortalidade é de
80/100.000 hab., enquanto nos EUA a mortalidade é de
315/100.000 hab.
A cidade de Framingham, Massachussetts, tem
sido a grande fonte para estudo prospectivo em relação
às doenças cardiocirculatórias desde 1948. Sua
população atual é de cerca de 67 mil habitantes. Os
diretores desse projeto ganham destaque na produção
científica na área. O Dr Castelli foi um dos primeiros
diretores. O Dr George Mann dirigiu por três anos o
Projeto Framingham, cujas conclusões deu origem ao
livro “Coronary Heart Disease – The Dietary Sense and
Nonsense” (1993), onde afirma de maneira categórica
que as gorduras saturadas não são as responsáveis pela
DC.
Estudo de Framingham num survey de 16 mil
homens saudáveis de meia idade, avaliados 6 anos após
(1981), revelou que aqueles com DC consumiam mais
óleos polinsaturados (vegetais).
São vários os estudos que contestam a tese
lipídica e a dieta de Prudent, mas a tese centrada no
colesterol comete uma “imprudência” ao chamar o
colesterol de gordura. O colesterol não é uma gordura e
sim um esterol (álcool) com estrutura semelhante a
hormônio, que se torna hidrossolúvel quando ganha a
capa de uma lipoproteina. Por esse motivo não adere à
placa ou à rugosidade endotelial. São os triglicérides que
aderem à rugosidade endotelial. O colesterol não está nas
gorduras e sim nas carnes (membrana celular).
É completamente insustentável a história de
colesterol bom (HDL) e ruim (LDL). O primeiro é a forma
de transporte do colesterol das células para o figado, o
segundo do fígado para as células. Ambos têm suas
funções específicas e essenciais. Foi o public relation
(PR) da indústria farmacêutica quem inventou esse conto.
O professor Ancel Keys afirmou textualmente: “In
the adult man the serum cholesterol level is essentially
independent of the cholesterol intake over the whole
range of human diets ... There is no connection
whatsoever between cholesterol in food and cholesterol in
blood. And we have known that all along. Cholesterol in
the diet does not matter at all unless you happen to be a
chicken or a rabbit." (Ancel Keys, Ph.D., professor
emeritus at the University of Minnesota, 1997) (tradução:
no homem adulto o nível de colesterol sérico é
essencialmente independente da ingesta de colesterol....
Não há conexão, portanto, entre colesterol no alimento e
colesterol no sangue. Nós sabemos disso faz tempo.
Colesterol na dieta não importa absolutamente, a menos
que você seja uma galinha ou um coelho).
O colesterol da Dieta responde apenas por cerca
de 30% do colesterol sanguíneo, os outros 70% são
Colesterol endógeno, produzido pelo próprio organismo.
Vários tecidos participam da produção do
colesterol endógeno - o fígado é responsável por 20%,
mas a síntese intestinal de colesterol é muito superior à
hepática.
Segundo Castelli: “Os valores de colesterol e
triglicerídeos séricos não estão positivamente
correlacionados com a seleção de constituintes da dieta
... No estudo de Framingham, Massachusetts, quanto
mais gordura saturada se comia, quanto mais colesterol
se ingeria, quanto mais caloria se comia, menor o nível de
colesterol sérico ... Nós constatamos que o indivíduo
que ingeria mais colesterol, comia mais gordura
saturada, ingeria mais calorias e comumente era
fisicamente mais ativo” (Dr William Castelli, 1992, director
do Framingham study).
Outro estudo populacional importante revelou o
seguinte: a) aqueles com níveis baixos de colesterol
sanguíneo consumiam em média 52g/dia de gordura
saturada; b) aqueles com níveis médios de colesterol
sanguíneo consumiam em média 54g/dia de gordura
saturada; c) aqueles com níveis altos de colesterol
sanguíneo consumiam em média 54g/dia de gordura
saturada (Cholesterol Intake and Blood Lipids - The
Tecumseh Study).
Porque a ingesta de gorduras saturadas não aumenta
o Colesterol?
O fígado não utiliza gorduras, saturadas ou não,
para produzir colesterol; o fígado não produz LDL e sim
VLDL. O LDL é um resíduo metabólico do VLDL; o VLDL
é convertido em LDL através da perda de triglicérides; os
níveis de VLDL e LDL são totalmente não relacionados.
Isso significa que a ingestão de gordura saturada não
afeta os níveis de LDL.
Colesterol e gorduras saturadas são compostos
não relacionados, ou seja, não existe processo químico
que produza colesterol a partir de gordura saturada ou
qualquer outro tipo de gordura.
O aumento do colesterol no sangue é na verdade o
aumento de LDL. O aumento de VLDL é chamado de
hipertrigliceridemia
A única conexão entre gorduras saturadas e
colesterol é que ambos não são hidrossolúveis e por esse
motivo têm que circular sob a forma de lipoproteínas.
Basta observar a estrutura química de um ácido
graxo e a do colesterol para perceber que um não se
transforma no outro.
O colesterol não é um tóxico e sim uma
substância vital ao organismo de todos os mamíferos. O
organismo produz 3 a 4 vezes mais colesterol do que
ingere. Produz diariamente cerca de 2000 mg de
colesterol, e aumenta a produção quando se ingere pouco
colesterol e diminui a produção quando se ingere muito.
A dieta de Prudent não consegue reduzir a taxa de
colesterol além de pequena percentagem.
Vários estudos revelam que o aumento da ingesta
de alimentos ricos em colesterol reduz o colesterol
sanguíneo.
Seria o Colesterol o responsável pelo processo de
Arteriosclerose no Homem?
Indivíduos com Colesterol normal ou baixo
desenvolvem placas do mesmo modo daqueles com
Colesterol alto. Mais da metade (60%) dos indivíduos com
Infarto apresentam nível normal de Colesterol.
Estudos revelaram que o Colesterol baixo
representa um risco cardiovascular muito maior que o
alto, em especial nos idosos (JAMA 272, 1335-1340,
1994). Estudo de Krumholz et al do departamento de
medicina cardiovascular de Yale seguiu durante 4 anos
997 idosos, e revelou que aqueles com colesterol baixo
tiveram uma mortalidade cardiovascular duas vezes maior
comparados com os com colesterol alto (Krumholz HM.
“Lack of association between cholesterol and coronary
heart disease mortality and morbity and all cause mortality
in persons older than 70 years”. JAMA 272, 1335-1340,
1994).
Os estudos de Framingham revelaram que níveis
altos de Colesterol têm efeito protetivo nas pessoas com
mais de 60 anos.
O estudo geral que contempla todas as idades
revelou aumento do risco coronário em pessoas com
colesterol alto apenas para homens adultos entre 29 a 47
anos, mesmo assim numa proporção que não ultrapassou
5%. Caso as pessoas com hipercolesterolemia familiar
fossem retiradas da amostra, não haveria diferença entre
os dois grupos.
A leitura do projeto Framingham que revelou o
aumento da morbidade cardiocirculatória entre homens de
29 a 47 anos, foi publicada no final da década de 50.
Esse estudo foi o grande patrocinador da tese Lipidica.
Entretanto, folllow up do mesmo projeto Framingham feito
16 anos após, revelou quase nenhuma diferença entre os
dois grupos (colesterol normal x alto). Outro follow up feito
30 anos após revelou que nos homens acima de 47 anos
a mortalidade não era alterada pelos níveis de
colesterol. Ainda mais surpreendente foi a revelação no
follow up de 30 anos, em que a diminuição do colesterol
no período, estava associada a um maior risco de morte
do que o incremento.
Estudo publicado recentemente, onde foram
acompanhados durante 30 anos 17 mil adultos que
apresentaram ganho significativo de peso na meia idade,
mas que sempre mantiveram níveis de colesterol dentro
da normalidade, como também nenhum outro fator de
risco, tiveram aumento significativo do risco
cardiocirculatório na ordem de 43% se comparado ao
grupo de peso normal (JAMA, Jan. 11, 2006; 295(2): 190-
198).
Os aborígenes australianos, os índios
americanos, os emigrantes indianos e paquistaneses
e grande porcentagem de homens russos, possuem
alto índice de DC e têm uma coisa em comum –
baixos níveis de LDL.
O indiano é o grupo étnico estudado talvez com
maior índice de DC, apesar de parcela significativa ser
vegetariana. A DC costuma ocorrer precocemente e com
curso maligno, apesar dos fatores de risco ser
significativamente baixos (Enas, Arch. Cardiol, March,
1995).
Na segunda metade do Sec XX observou-se uma
elevação expressiva da mortalidade por DC em homens
russos. O professor Shestov realizou amplo estudo e
descobriu que os baixos níveis de LDL foi o fator de risco
mais importante de mortalidade cardíaca, concluiu
dizendo: “The results disclose a sizeable subset of
hypocholesterolaemics in the population at increased risk
of cardiac death.” (tradução: Os resultados revelam um
subgrupo mensurável de hipocolesterolenêmicos em risco
elevado de morte cardíaca na população)
Quando se aplicou os parâmetros para DC do
“Framingham risk equation” para homens britânicos por
10 anos, observou-se que 84% das doenças cardíacas
ocorreram em homens classificados como de baixo
risco. Entretanto, 75% dos homens classificados em alto
risco estavam ainda livres de ocorrências de DC 10 anos
após (BMJ, 29 Nov. 2003; 327(7426): 1267).
No Japão nos últimos 50 anos os níveis de
colesterol aumentaram 20% e a incidência de acidente
vascular encefálico (AVE) caiu 600%.
O Dr Gregg Fonarow (University of California, Los
Angeles Medical Center ) publicou recentemente artigo
em que revela que cerca de 75% dos pacientes que
tiveram o primeiro evento coronariano tinham LDL abaixo
de 130 mg/dL, e cerca de 50% tinham LDL abaixo 100
mg/dL.
A tese Lipidica já poderia estar sepultada desde
1968, quando foi publicado no J. Lab Investigation o
resultado do “International Atherosclerosis Project”, que
reuniu 14 países, e foram realizadas 22.000 autópsias. O
estudo mostrou grau semelhante de ateroma nos vários
países, independente da dieta ser rica em gordura
saturada ou vegetal. No entanto, foi encontrada muito
mais obstrução arterial nas pessoas com colesterol baixo
comparadas às com o colesterol alto.
Estudos realizados no Canadá “Quebec
Cardiovascular Study”, que acompanhou durante 12 anos,
5.000 homens saudáveis de meia idade, revelou não
haver relação entre níveis de colesterol e DC.
A grande maioria dos estudos populacionais
revelaram que, entre as mulheres, independente da
idade, e mesmo com níveis elevados de colesterol na
ordem de 1000 mg/dL, o colesterol não pode ser
considerado um fator de risco. Pelo contrário, é o
colesterol baixo que consiste em fator de risco para as
mulheres (NHLB Institute; Circulation – 1992).
Estudo feito em Paris mostrou que as mulheres
longevas possuem colesterol elevado (Lancet, 1989).
Um survey conduzido pelo famoso cirurgião
Michael DeBakey na década de 60, não encontrou
relação entre os níveis de colesterol e a incidência de DC
(DeBakey, M, et al, JAMA, 1964, 1 89:655-59).
O professor George Mann, da Vanderbilt
University, ex diretor do Framinghham Project, estudou os
Masais do Quênia. Os Masais consomem
predominantemente leite, carne e sangue. Mann
descobriu que os Masais praticamente não apresentam
DC, e têm níveis baixos de colesterol. Além disso,
realizou 50 autopsias e, para a sua surpresa, encontrou
arteriosclerose em níveis semelhantes ao dos
americanos, mas o tipo de placa que causa obstrução foi
raramente encontrado. Não havia qualquer sinal de
isquemia nos 50 corações estudados (“Diet Heart,
End of an Era”, New England J Med, 297 (1977):
644). Em comentário posterior o professor Mann afirma
sobre a tese Lipídica: “Ela é a diversão pública número
um da saúde pública nesse Século..... O grande
escândalo da história da medicina”.
Em 1992, o professor Mann, organizou uma
conferência para tratar da questão Dieta/DC. Ele teve
dificuldade para arregimentar um número expressivo de
pesquisadores que temiam entrar na lista negra do
financiamento de pesquisas. Disse ele: “ I could show a
list of scientists who said to me, in effect, when I invited
them to participate: "I believe you are jeopardize my perks
and funding… for me, that kind of truth, that the Diet/Heart
hypothesis is wrong, but I cannot join you because that
critical hypothesis would response separates the scientists
from the operators …” (tradução: “Eu poderia mostrar uma
lista de cientistas, que me disseram, na ocasião que eu os
convidei para participar da conferência, o seguinte:’Eu
acredito que isso ameaça meus prestígio e
financiamentos.... para mim, essa espécie de verdade
sintetizada na hipótese dieta/coração está errada, mas eu
não posso juntar-me a você porque essa hipótese crítica
promoveria a separação dos cientistas dos operadores...
[financiadores].
Em 1967, o Dr SL Malhotra publicou estudo
envolvendo os trabalhadores da estrada de ferro na India.
Ele revelou que a DC era 7 vezes mais comum entre os
trabalhadores em Madras, comparados aos de Punjab.
Os trabalhadores de Punjab consomem 7 a 10 vezes
mais gorduras, fumam 8 vezes mais que os de Madras, e
vivem 20 anos mais que os predominantemente
vegetarianos de Madras (British Heart Journal, 1967).
Um estudo multicêntrico (Multiple Risk Factor Trial
(MRFIT) desenhado para demonstrar que o controle da
pressão arterial (PA), do colesterol e do tabagismo
diminuiria a mortalidade coronariana. Após screening de
350 mil homens de meia idade, selecionou-se 13 mil.
Esses últimos foram divididos em dois grupos, um
recebeu tratamento para os fatores de risco (PA<140/90),
outro recebeu medidas usuais (conservadoras). Após 10
anos e um gasto de 115 milhões de US$, não foi notado
qualquer diferença significativa entre os grupos. Pelo
contrário, a mortalidade no subgrupo hipertenso tomando
diurético foi maior (JAMA, 248 (1982):1465-1477)
O Prof Olson foi contratado para rever a literatura
sobre os efeitos tóxicos da alimentação rica em colesterol
pela American Research Agency. Concluiu que não havia
evidências para desaconselhar o uso das gorduras
saturadas (“Towards Healthful Diets”. Report to the US
Acad of Science, April, 1980).
O professor suiço Hans Mohles chegou a mesma
conclusão de Olsen e escreveu o livro: Cholesterin
Neurose. Frankfurt: Oto Sale Vlg, 1978. Outro estudo
publicado no JAMA mostrou que não há relação entre o
consumo de ovos e DC (JAMA, 281 (1999): 1387-94).
Em Maio de 1999, o Dr Walter Willet, professor
titular do departamento de nutrição de Harvard, deu um
seminário no National Institute of Health (NIH), Bethesda,
com o título: “Diet and Heart Disease: Have we misled the
Nation”? (Dieta e Doença cardíaca: Temos enganado a
Nação?). Concluiu na ocasião que os dados até hoje
disponíveis não dão suporte à tese de que “gorduras são
ruins para nós”. Aponta, pelo contrário, para os
carbohidratos com alto índice glicêmico como os reais
vilões.
Estudo recente comprova a tese de
Willet. Investigou-se o hábito alimentar de 48 mil pessoas
e se conclui que aquelas que consumiam mais
carbohidratos refinados tinham o dobro de risco de
apresentar DC (Archives of Internal Medicine, April 12,
2010;170(7):640-7).
O professor de patologia de Harvard Kilmer
McCully publicou os resultados de 194 autopsias
consecutivas em homens veteranos de guerra com
severa arteriosclerose, e encontrou uma porcentagem de
apenas 8% com colesterol acima de 250 mg/dL. A média
de colesterol entre eles era de 186 mg/dL (Am. J Med
Science, 299:217221,1990).
Recentemente a European Society of Cardiology
divulgou os resultados de um estudo extensivo
(EUROASPIRE) em toda a Europa para avaliar fatores de
risco cardiovascular. Na conclusão do relatório está
escrito: “ ...o tabagismo, DC prévia e o diabetes são
fatores risco significantes. Obesidade, baixa escolaridade,
hipertensão arterial, colesterol total alto, HDL baixo,
entretanto, não foram significantes no aumento da
mortalidade.
A tese Lipídica diz que a gordura saturada
degenera a estrutura arterial por deposição. A seguir
vamos mostrar a composição da parede arterial e a
composição da placa
Parede Arterial Normal
Fibras Colágenas 25 a 30%
Fibras de Elastina 30 a 40%
Musculatura e subst. fundamental 30 a 40 %
A subst. fundamental é composta de mucopolissacarídeos
que ficam entre as fibras colágenas e a elastinas
Composição da Placa de Ateroma
Ácidos graxos saturados em éster de colesterol: 26%
Ácidos graxos insaturados: 74% (38% Polinsaturados;
36% Monosaturados)
Fonte: Lancet,344:1195-1196,1994
O que os estudiosos centrados na tese Lipídica
não conseguem perceber, é que a doença
arteriosclerótica é um processo de degeneração da
artéria, e certamente os processos de degeneração do
organismo não ocorrem pela ingestão de gorduras
saturadas. Os processos de degeneração no organismo
ocorrem pelos vários tipos de stress/sobrecarga. O
organismo responde aos vários tipos de stress de uma
mesma forma, como nos mostrou Selye. Essa adaptação
envolve alterações hormonais que afetam o metabolismo
celular básico, mais especificamente, desvia o
metabolismo celular para o padrão catabólico –
dominância dos hormônios catabólicos (cortisol, tiroxina)
e baixa dos anabólicos (GH, hormônios sexuais). Por
esse motivo é que os estudos não comprometidos com a
tese lipídica têm sido claros em revelar que o consumo de
carbohidratos refinados (provocam alteração hormonal
com desvio catabólico) são os verdadeiros vilões da
alimentação moderna.
A medicina deveria ser avessa ao exotismo das
teses não sustentadas pelas leis e processos que regem
o funcionamento do organismo. Se assim procedesse,
não cairia tão fácil no conto do colesterol. O colesterol é
uma das substâncias mais importantes no funcionamento
do organismo. Como pode essa substância dar vida e ao
mesmo tempo degenerar esse organismo?
Vejamos algumas das principais funções do
colesterol:
a) Integridade estrutural da membrana celular
b) Precursor dos esteróides (cortisol e hormônios
sexuais) e Vitamina D
c) Produção dos sais biliares
d) Antioxidante poderoso
e) Sensibiliza os receptores serotonínicos e é
estratégico na ativação sináptica cerebral
f) Protege a mucosa intestinal
g) Leite materno é riquíssimo em Colesterol
Por que e para que baixar o Colesterol?
Vejamos como ocorre a síntese do colesterol. Três
moléculas de acetilcoenzima A (2 carbonos) se combinam
para formar o ácido hidroximetilglutárico (HMG – 6
carbonos). Em seguida, através da enzima HMG-CoA-
redutase, chega-se à cadeia do Mevalonato. Ao se
bloquear essa enzima, bloqueamos a formação não só do
colesterol, mas de pelo menos cinco substâncias
fundamentais além do colesterol, como mostra o quadro
abaixo.
A Coenzima Q10 é fundamental na respiração
celular e na biossíntese mitocondrial. Participa da
produção de ATP como carreador de eletrons para a
citocromoxidase. O coração demanda grande quantidade
de Coenzima Q10. Uma forma da Coenzima Q10 - a
ubiquinona - é encontrada em todas as membranas
celulares, e é de grande importância na manutenção da
condução nervosa e integridade muscular. A Coenzima
Q10 participa na formação do colágeno e da elastina, daí
o aumento da ruptura ligamentar em quem usa estatina.
No Canada o Liptor vem com uma advertência na
caixa de que a droga reduz os níveis de Coenz Q10 e L-
Carnitina.
O Dolichol participa da síntese protéica
intermediando as informações do DNA (auxilia a
transcriptação do DNA). É fundamental na síntese de
neuropeptideos. Dai os vários sintomas neuropsiquiátricos
nos usuários de estatina.
O Esqualeno é um precursor imediato do
Colesterol e tem reconhecida ação antineoplásica (Óleo e
Cartilagem de Tubarão).
O NFkappaB é uma citoquina proinflamatória.
Talvez aqui resida o pequeno efeito terapêutica das
estatinas – antinflamação. Mas, seria razoável usar uma
droga tóxica e cara simplesmente como um
antiinflamatório???
O filão das estatinas
O grupo farmacêutico das estatinas envolve
algumas substâncias semelhantes e outros tantos
medicamentos de marca como Liptor, Crestor,
Sinvastatina, Zocor, etc. A estatina é uma toxina de um
fungo do arroz vermelho chinês. Possui potente ação de
bloqueio da enzima HMG-coA-redutase e com isso reduz
drasticamente o colesterol e demais substâncias do ciclo
do mevalonato (vide acima).
Embora se consiga reduções drásticas nos níveis
do colesterol, os resultados na prevenção e regressão da
placa ateromatosa e doença arteriosclerótica são
modestos ou inexistentes, principalmente quando
analisado a médio e longo prazo.
Vamos analisar alguns dos principais estudos que
avaliaram a eficácia das estatinas. Comecemos pelos
estudos que mostram claramente o efeito protetivo do
colesterol em pessoas com mais de 56 anos.
O estudo conhecido como Honolulu Heart
Program com 20 anos de duração concluiu: “Nossos
dados são semelhantes aos de estudos prévios que
revelaram um aumento de mortalidade em pessoas
idosas com colesterol baixo, bem como mostraram que os
niveis persistentemente baixos de colesterol por longo
tempo aumentam o risco de morte. Assim, quanto maior o
tempo de vigência de colesterol baixo, maior o risco de
morte.”
O estudo “antihypertensive and lipid-lowering
treatment to prevent heart attack trial” (ALLHAT,
2002). Talvez o maior estudo nos EUA sobre os efeitos do
Lipitor, revelou a mortalidade após 3 e 6 anos de
tratamento (10.000 participantes). Conclusões: “Of the
5170 subjects in the group that received statin drugs, 28
percent lowered their LDL cholesterol significantly. And of
the 5185 usual-care subjects, about 11 percent had a
similar drop in LDL. But both groups showed the same
rates of death, heart attack and heart disease”.
O “prospective study of pravastatin in the elderly at
risk” (PROSPER, 2002), estudou o efeito da Pravastatina
em grupos de idosos: 56% sem episódios prévios de DC
sintomática, e 44% com episódios
prévios. Conclusões: “The Pravastatin did not reduce total
myocardial infarction or total stroke in the primary
prevention population, but did so in the secondary.
However, measures of overall health impact in the
combined populations, total mortality and total serious
adverse events were unchanged by pravastatin as
compared to the placebo and those in the treatment group
had increased cancer”.
O “Japanese lipid intervention trial” (J_LIT, 2002)
estudo Japonês de 6 anos, envolvendo 47.294 pacientes
tratados com a mesma dose de Sinvastatina,
concluiu: “No correlation between the amount of LDL
lowering and death rate at five years. Those with LDL
cholesterol lower than 80 had a death rate of just over 3.5
at five years; those whose LDL was over 200 had a death
rate of just over 3.5 at five years”.
O “Anglo-Scandinavian cardiac outcomes trial -
lipid lowering arm” (ASCOT-LLA 2003), avaliou o efeito da
atorvastatina (Lipitor) versus placebo em mulheres
hipertensas e com outros fatores de risco coronariano. O
estudo foi inicialmente desenhado para 5 anos, mas foi
interrompido em 3,3 anos devido a significativa redução
dos eventos cardíacos. No entanto, não houve qualquer
diferença em relação à mortalidade. As mulheres
apresentaram muitos efeitos colaterais (Sever PS and
others. Lancet 2003;361:1149-1158).
O que os leitores não sabem é como foi calculado
o índice de 27% na redução de AVE; 2,4% do grupo sem
estatina tiveram AVE; 1,7 % do grupo com estatina
tiveram AVE, ou seja, uma diferença de 0,7 pontos que
corresponderia a um índice projetado de 27%......
O “PRavastatin or AtorVastatin evaluation and
infection study” (PROVE-IT, 2004), foi uma pesquisa
realizada na Harvard University Medical School, que
obteve ampla divulgação na mídia. Veja a matéria de
alguns jornais.
"Study of Two Cholesterol Drugs Finds One Halts Heart
Disease" (N Y Times, November 13, 2003)
Editorial: "Extra-Low Cholesterol“ (New York Times,
March 10, 2003)
“Striking Benefits Found in Ultra-Low
Cholesterol” (Washington Post, March, 9, 2004)
O PROVE-IT introduziu uma nova questão na
prevenção da DC pela redução do cholesterol - o fim do
enfoque quantitativo na análise do colesterol. Ou seja,
não existe mais nível normal de colesterol, quanto mais
baixo melhor. Como foi dito na matéria da revista Veja na
época: “o chão é o limite”
Imediatamente, os médicos passaram a adotar a
conduta de aumentar a dose das estatina para quem já a
usava, e se sentiram à vontade para fazer a prevenção
com a estatina nas pessoas sem qualquer evento prévio
de DC.
Qual foi o resultado desse estudo para gerar
tamanho frisson? O estudo comparou duas drogas: Lipitor
(Pfizer) e Pravachol (Bristol Myers-Squibb - BMS). Este
último foi quem financiou a pesquisa. Investigou-se 4.162
pacientes que eram acompanhados por infarto ou angina
instável. Metade tomou Liptor e metade tomou Pravachol.
Os que tomaram Liptor tiveram uma redução maior do
LDL (62 contra 95). No grupo Liptor houve uma redução
de 32% no LDL e 16% em todas as causas de
mortalidade. Mas, os tais 16% foram uma redução do
risco relativo e não risco real. A redução absoluta da taxa
de mortalidade em ambos os grupos foi de 1% - uma
queda de 3,2% para 2,2% em dois anos. Ou seja 0,5% ao
ano. Portanto, foi a redução do risco absoluto de morte
em 0,5% ao ano que gerou a massiva campanha na
mídia, que usou a taxa de 16% que é uma taxa
projetada/relativa
A mídia não falou dos efeitos colaterais do estudo:
alteração das enzimas hepáticas: 3,3%; descontinuação
do tratamento durante a pesquisa por efeitos colaterais:
33%.
O estudo J-LIT publicado em 2002, com um
desenho muito mais sólido, envolvendo 10 vezes mais
pessoas, e três vezes maior em duração, não encontrou
qualquer relação entre o nível de queda do LDL e taxa de
mortalidade. Não é de se estranhar que esse estudo não
tenha encontrado qualquer repercussão na mídia
Pesquisadores do Beth Israel Medical Center in
New York City, em 2003, examinaram a placa
coronariana em 182 pacientes que tomavam estatina. Um
grupo usava doses altas (mais de 80 mg), enquanto outro
grupo usava doses habituais. Através do “Electron Beam
Tomography” avaliou-se o tamanho das placas antes e
depois do tratamento. Apesar da redução do LDL
colesterol, não houve diferença entre os grupos. Ao
contrário, houve um incremento na ordem de 9,2% no
aumento da placa em ambos os grupos (Hecht HS and
others. Am J Cardiol, 2003;92:334-336).
Num estudo feito na Cleveland Clinic
(REVERSAL, 2004), pacientes receberam Lipitor ou
Pravachol. Os que receberam Liptor tiveram uma queda
maior de LDL e mostraram uma “reversão” na agregação
da placa coronária, avaliada pelo ultrassom intravascular
na ordem de 0,4% a partir de 18 meses. O Dr. Eric Topol
da Cleveland Clinic como um animador de plateia disse
ser tais resultados espetaculares: "Herald a shake-up in
the field of cardiovascular prevention ... the implications of
this turning point - that is, of the new era of intensive statin
therapy - are profound. Even today, only a fraction of the
patients who should be treated with a statin are actually
receiving such therapy ... More than 200 million people
worldwide meet the criteria for treatment, but fewer than
25 million take statins". Esse tipo de espectativa,
absolutamente infundada, tem levado alguns especialistas
a sugerirem colocar estatinas nos reservatórios de água
potável das cidades. Já ouvi isso de mais de um
cardiologista. Certamente eles estavam ecoando
perspectivas como as do Dr Eric Topol. Não devemos
mais nos espantar com o delírio intervencionista da
medicina da química e da indústria farmacêutica. A
criatividade em propor o bloqueio do organism não tem
limites.
Em 2004 a Merck Schering-Plough antecipando-
se à perda do direito de patente do Zocor (Simvastatina),
começou a desenvolver o posicionamento do Vytorin
(Simvastatina+Ezetimibe). Para tal encomendou um
estudo esperando provar a eficácia da associação em
relação à formação de placa. Usou-se para esse fim a
avaliação de placa na carótida. Acompanhou 750
pacientes e o estudo terminou em 2006, e nada de
publicação dos resultados. O NY Times moveu uma
campanha para pressionar a Merck a divulgar os
resultados. Algumas pessoas entraram com ações na
Justiça. Finalmente, em Janeiro de 2008 os resultados
foram divulgados.Mas, para o desapontamento da Merck
o estudo revelou que o Vytorin além de ineficaz produziu
o dobro de crescimento da placa
carotídea(http://www.merck.com/newsroom/press_release
s/product/2008_0114.html)
O New York Times publicou em 14 de janeiro de
2008 matéria sobre o tema. Eis um trecho da material:
“Zetia, uma droga para baixar o colesterol prescrita para
cerca de 1 milhão de americanos a cada semana não
apresentou benefícios médicos de acordo com estudos
realizados pela própria indústria Merck e Schering-
Plough. Embora a droga tenha baixado o colesterol em 15
a 20%, os estudos não mostraram que o Zetia reduz
ataque cardíaco ou derrame, ou mesmo reduz as placas
nas artérias. Esse teste clínico que estudou se o Zetia
poderia reduzir o crescimento da placa, na verdade
revelou que as placas cresceram quase duas vezes mais
rápido naqueles tomando Zetia e Zocor do que naqueles
que tomaram apenas Zocor. Os pacientes que tomaram
Zetia mais Zocor receberam o medicamento chamado
Vytorin que é a combinação deles. Especialistas
classificaram os resultados como “chocantes” afirmando
que o Zetia só poderia ser prescrito caso outras drogas
falhassem. Esses resultados vieram agravar a
controvérsia em torno do atraso na divulgação desses
dados pela Merck e Schering-Plough. O estudo foi
concluido em Abril de 2006, com previsão de divulgação
dos resultados em Março de 2007. Entretanto, a
companhia não cumpriu os vários prazos assumidos, e só
concordou em divugá-los depois que a mídia passou a
cobrar os atrasos. Zetia and Vytorin respondem por 20%
do mercado de drogas para o colesterol no mercado
americano”.
O jornal O Globo transcreve a matéria do NYT em
15 de Janeiro de 2008 que diz: “estudo, realizado pelos
próprios laboratórios, acompanhou, por um período de
dois anos, 720 pessoas com problemas genéticos de alta
produção de colesterol. Um grupo tomou apenas uma
substância, a simvastatina (Zocor). O segundo grupo foi
medicado com as duas substâncias: ezetimibe e
simvastatina (Vytorin). O estudo concluiu que o grupo que
tomou os dois princípios ativos teve uma redução maior
no nível de colesterol, mas não houve diferença no
tamanho da placa.”
É interessante notar que a Merck e Schering-
Plough escolheram uma data estratégica para a
divulgação de dados desfavoráveis – o inicio do ano
quando a maioria das pessoas está em recesso de fim de
ano.
Os efeitos colaterais das estatinas são muito
freqüentes. Muitos estudiosos admitem que 100% dos
usuários têm algum tipo de efeito colateral, pois a maioria
deles seria oculto (assintomático). Dentre os efeitos
aparentes mais freqüentes temos: perda de memória e
perda cognitiva; dor e disfunção muscular; insuficiência
cardíaca; fadiga; neuropatia, anemia; acidose; febre
freqüente; cataratas; disfunção sexual (American J.
Cardiovascular Drugs, 2008;8(6):373-418).
O pesquisador alemão Pfrieger mostrou que a
falta de colesterol no cérebro provoca bloqueio
sináptico. O colesterol é uma molécula que não
ultrapassa a barreira hematoencefálica. O cérebro
depende essencialmente da produção de colesterol pelas
células da glia que são muito sensíveis às
estatinas (Pfrieger F. Science, 9 November, 2001).
David Gaist acompanhou cerca de 116 pacientes
em uso de estatina e comprovou um risco de
polineuropatia de 16 vezes maior. Esse risco é mais
intenso no diabético (Gaist, David. Neurology, 58:1333-
1337, 2002)
Dentre os efeitos colaterais menos
freqüentes temos: risco aumentado de câncer; supressão
do sistema imune; pancreatite, disfunção hepática,
rabidomiólise (destruição do músculo estriado) (American
J. Cardiovascular Drugs, 2008;8(6):373-418)
Poderíamos classificar, em termos didáticos, os
efeitos colaterais de acordo com a substância bloqueada
pela estatina, mas geralmente os efeitos tóxicos envolvem
vários mecanismos.
Baixa de Esteroides: perda da libido, disfunção erétil,
osteoporose, perda de cabelo
Inibição Glial: amnésia focal e global, confusão mental,
desorientação, senilidade
Baixa da Coenz Q10:
Baixa produção de energia: fadiga crônica,
insuficiência cardíaca, retenção de liquidos, dispnéia
Perda da integridade de membrana: hepatite,
pancreatite, miopatia, neuropatia, rabidomiólise
Excessiva Oxidação: danos mitocondrial,
mitocondriopatia adquirida, neuropatia permanente,
miopatia permanente, neurodegeneração
Baixa de Dolicol:
Disfunção de neuropeptídeos: agressividade,
hostilidade, irritabilidade, comportamento homicida,
depressão, suicídio.
Alteração da síntese de glicoproteinas:
Disfunção em vários processos celulares:
identificação alterada da célula, alteração da mensagem
celular, defesa imune alterada
Bloqueio da Selenoproteina: neuropatia, deficit cognitivo
Calcula-se o custo do tratamento com estatinas,
em doses habituais, entre 900 and 1.400 US$ por ano. As
estatinas já são a categoria de medicamento mais
vendida no mundo (6,5%); significa um faturamento US$
12,5 bilhões/ano (2004). O uso de estatinas aumentou
156% entre 2000 e 2005. O número de usuários passou
de 15,8 milhões para 29,7 milhões . O gasto passou de
7,7 bilhões de US$ para 19,7 bilhões de US$, embora
mais de 900 estudos tenham sido publicados mostrando a
toxidade dessa droga e sua baixíssima eficácia.
No melhor resultado pró estatina até hoje
publicado o “WOSCOP clinical trial”, patrocinado pela
indústria farmacêutica, a redução do LDL significou uma
redução da taxa de mortalidade em 5 anos de 0,6%, ou
seja, 165 pessoas saudáveis deveriam ser tratadas por
cinco anos para se estender a vida de apenas uma
pessoa por outros 5 anos. O custo dessa vida seria por
volta de US$ 1,2 milhões. Num cálculo otimista, o custo
para salvar um ano de vida de uma pessoa com DC seria
de cerca de US$ 10 mil.
Em suma, a estatina, pelo seu potencial tóxico e
pela sua baixa eficácia, é talvez uma das drogas
mais non sense do arsenal terapêutico da medicina atual.
Ao invés de ser deixada de lado pelos médicos, tornou-se
a droga mais vendida e a categoria farmacêutica de maior
faturamento. Como se pode notar há algo de muito errado
com essa medicina.
A insistência na tese lipídica ao longo de mais de
60 anos não conseguiu convencer os estudiosos éticos da
alimentação humana. A medicina centrada na doença que
pouco sabe sobre a alimentação e sobre os grandes
processos que mantêm a vida no organismo, tornou-se
uma presa fácil do public relation da indústria
farmacêutica. Estamos diante de um grande “conto do
vigário” que repetido a exaustão ilude o ouvinte e passa a
ser real. O colesterol deixa de ser a substância
estratégica para o funcionamento do organimo e passa a
ser o grande vilão do adoecimento humano. Você acredita
nesse conto?
Referências:
1. Ravnskov, U : "The Cholesterol Myths"
2. Colpo, A : "The Great Cholesterol Con" . 2007
3. Hartenbach W: "Die Cholesterin-Luege" 2006
4. Kendrick, M. “The Great Cholesterol Con”. 2007
5. Ellison, Shane. “Hidden Truth about Cholesterol-
Lowering Drugs”
6. Graveline, Duane. “Lipitor: Thief of Memory and
Statin Drugs”. 2006
7. Graveline, Duane. Statin Damage Crisis. 2009